O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais

2
 O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais Betina von Staa (http://blog.educacional.com.br) 12/04/2010 "Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades." (Stan Lee, em Homem-Aranha) Qualquer adulto nascido antes de 1980 se surpreende ao ver a naturalidade com que os jovens (e as crianças) de hoje lidam com tecnologia. Eles mal pegam em um celular e já sabem mudar o tema, o lugar dos botões, enviar mensagem com fotos (e baixar e armazenar as fotos, evidentemente!) enquanto ficamos zonzos tentando descobrir onde estão os botões que fazem tudo isso. São os nativos digitais (Prensky, 2001). Verdade seja dita, muitos de nós, pré-1980, verdadeiros imigrantes digitais com maior ou menor fluência nessa nova cultura, também nos perguntamos qual é a necessidade de mudar tanto botão de lugar ou de se preocupar com o fundo de tela — até que aprendemos a fazer isso e também saímos em busca de uma imagem que nos agrade. Evidentemente, não é só isso que os nativos digitais sabem: eles aparentemente conseguem ler na tela, seja ela grande ou pequena, ouvir música, participar de trocas de mensagens instantâneas, fazer pesquisas ou uma compra, tudo ao mesmo tempo. Eles marcam seus encontros pelos sites de relacionamento com todos os amigos, colegas e desconhecidos interessantes simultaneamente, e partilham suas emoções e fotos de forma coletiva. Eles pensam e processam informação de maneira diferente de nós, imigrantes digitais com sotaque mais forte ou menos perceptível. Os nativos digitais lidam com informação demais para quem já assistiu a uma Copa do Mundo em TV preto e branco com chuvisco (ou, quem sabe, a acompanhou por rádio), para quem esperava ansiosamente o telefone fixo voltar a funcionar para poder falar com os amigos (um de cada vez, se o seu telefone não estivesse ocupado), para quem já levou a agendinha em papel para usar um orelhão de ficha, para quem ouviu música em vinil, fita K7 ou CD, ou para quem se maravilhou com o avanço tecnológico que a fotocópia representou perante o mimeógrafo. Mesmo assim, não precisamos ficar estarrecidos diante dessa geração, achando que não temos mais nada a lhe ensinar. Prensky pode defender com bastante propriedade que é dif ícil atrair a atenção de nativos digitais, mas há conteúdos, conceitos, posturas e habilidades que ainda precisam ser desenvolvidos entre muitos nativos digitais. Não há porque nos intimidarmos diante da velocidade do mundo atual e confundirmos isso com uma noção de que não há mais nada a ensinar. Vejamos alguns conceitos que ainda podemos discutir e desenvolver junto a essa geração: 1. Que copiar e colar é a primeira etapa de um trabalho de pesquisa, mas que, para se fazer pesquisa de fato, é necessário saber de onde se retirou o material, analisar, comparar, sintetizar e, realmente, elaborar os próprios trabalhos. 2. Que não é qualquer fonte que é confiável. Se o jovem copiou e colou, tem de saber de quem, de onde, o que essa pessoa/instituição escreveu e com que objetivo. 3. Que linguagem de Internet com abreviações é excelente para ser usada na Internet, com os amigos, mas linguagem formal e escrita é outra coisa e também merece ser aprendida. 4. Se é tão fácil digitar e editar textos, por que não reescrevê-los até ficarem claros, coerentes, de acordo com a norma culta da língua e eficazes perante o seu público-alvo? 5. Que, para realizar algumas tarefas, é importante se concentrar. Em al guns momentos, é preciso desligar o MSN ou a música. 6. Que nem tudo na vida é fácil e rápido, às vezes temos de enfrentar certas dif iculdades e insistir um pouco para resolver problemas. 7. Que todas as fotos colocadas na Internet ficam lá para sempre: é melhor pensar na imagem de si que estão deixando para o mundo. 8. Que não se deve di vulgar as próprias senhas nem para os melhores ami gos. 9. Que certas informações — nome completo, endereço, telefone, local em que se estuda — não devem ser fornecidas em perfis públicos na Internet. 10.Que é preciso dormir, comer, falar com as pessoas à sua volta, responder e interagir quando é chamado — e entender que imigrantes também têm histórias para contar... Como vemos, trata-se de ensinamentos que não exigem que se tenha total domínio da tecnologia. São orientações necessárias a muitos jovens e crianças que têm tantas habilidades mas ainda não têm experiência suficiente para compreender as consequências de algumas de suas atitudes. Não é à toa que o próprio Prensky cita ética, política, sociologia e línguas como temas "do futuro", com os quais os nativos digitais terão de lidar muito e bem. Referências bibliográficas PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, MCB University Press, v.9, n.5, out. 2001. Disponível em: http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdf Acesso em: 05 abr. 2010.

description

Artigo de Betina von Sta.

Transcript of O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais

Page 1: O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais

5/11/2018 O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/o-que-ainda-podemos-ensinar-aos-nativos-digitais 1/2

 

O que ainda podemos ensinar aos nativos digitaisBetina von Staa (http://blog.educacional.com.br)12/04/2010

"Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades." (Stan Lee, em Homem-Aranha)

Qualquer adulto nascido antes de 1980 se surpreende ao ver a naturalidade com que os jovens (e as crianças) de hojelidam com tecnologia. Eles mal pegam em um celular e já sabem mudar o tema, o lugar dos botões, enviar mensagem com

fotos (e baixar e armazenar as fotos, evidentemente!) enquanto ficamos zonzos tentando descobrir onde estão os botões quefazem tudo isso. São os nativos digitais (Prensky, 2001). Verdade seja dita, muitos de nós, pré-1980, verdadeiros imigrantesdigitais com maior ou menor fluência nessa nova cultura, também nos perguntamos qual é a necessidade de mudar tantobotão de lugar ou de se preocupar com o fundo de tela — até que aprendemos a fazer isso e também saímos em busca deuma imagem que nos agrade.

Evidentemente, não é só isso que os nativos digitais sabem: eles aparentemente conseguem ler na tela, seja elagrande ou pequena, ouvir música, participar de trocas de mensagens instantâneas, fazer pesquisas ou uma compra, tudo aomesmo tempo. Eles marcam seus encontros pelos sites de relacionamento com todos os amigos, colegas e desconhecidosinteressantes simultaneamente, e partilham suas emoções e fotos de forma coletiva. Eles pensam e processam informaçãode maneira diferente de nós, imigrantes digitais com sotaque mais forte ou menos perceptível.

Os nativos digitais lidam com informação demais para quem já assistiu a uma Copa do Mundo em TV preto e brancocom chuvisco (ou, quem sabe, a acompanhou por rádio), para quem esperava ansiosamente o telefone fixo voltar a funcionarpara poder falar com os amigos (um de cada vez, se o seu telefone não estivesse ocupado), para quem já levou a agendinha

em papel para usar um orelhão de ficha, para quem ouviu música em vinil, fita K7 ou CD, ou para quem se maravilhou com oavanço tecnológico que a fotocópia representou perante o mimeógrafo.

Mesmo assim, não precisamos ficar estarrecidos diante dessa geração, achando que não temos mais nada a lheensinar. Prensky pode defender com bastante propriedade que é dif ícil atrair a atenção de nativos digitais, mas há conteúdos,conceitos, posturas e habilidades que ainda precisam ser desenvolvidos entre muitos nativos digitais. Não há porque nosintimidarmos diante da velocidade do mundo atual e confundirmos isso com uma noção de que não há mais nada a ensinar.Vejamos alguns conceitos que ainda podemos discutir e desenvolver junto a essa geração:

1.Que copiar e colar é a primeira etapa de um trabalho de pesquisa, mas que, para se fazer pesquisa de fato, énecessário saber de onde se retirou o material, analisar, comparar, sintetizar e, realmente, elaborar os própriostrabalhos.

2.Que não é qualquer fonte que é confiável. Se o jovem copiou e colou, tem de saber de quem, de onde, o queessa pessoa/instituição escreveu e com que objetivo.

3.Que linguagem de Internet com abreviações é excelente para ser usada na Internet, com os amigos, mas

linguagem formal e escrita é outra coisa e também merece ser aprendida.4.Se é tão fácil digitar e editar textos, por que não reescrevê-los até ficarem claros, coerentes, de acordo com a

norma culta da língua e eficazes perante o seu público-alvo?

5.Que, para realizar algumas tarefas, é importante se concentrar. Em alguns momentos, é preciso desligar o MSNou a música.

6.Que nem tudo na vida é fácil e rápido, às vezes temos de enfrentar certas dificuldades e insistir um pouco pararesolver problemas.

7.Que todas as fotos colocadas na Internet ficam lá para sempre: é melhor pensar na imagem de si que estãodeixando para o mundo.

8.Que não se deve divulgar as próprias senhas nem para os melhores amigos.

9.Que certas informações — nome completo, endereço, telefone, local em que se estuda — não devem serfornecidas em perfis públicos na Internet.

10.Que é preciso dormir, comer, falar com as pessoas à sua volta, responder e interagir quando é chamado — e

entender que imigrantes também têm histórias para contar...

Como vemos, trata-se de ensinamentos que não exigem que se tenha total domínio da tecnologia. São orientaçõesnecessárias a muitos jovens e crianças que têm tantas habilidades mas ainda não têm experiência suficiente paracompreender as consequências de algumas de suas atitudes. Não é à toa que o próprio Prensky cita ética, política, sociologiae línguas como temas "do futuro", com os quais os nativos digitais terão de lidar muito e bem.

Referências bibliográficas

PRENSKY, Marc. Digital natives, digital immigrants. On the Horizon, MCB University Press, v.9, n.5, out. 2001. Disponível em:http://www.marcprensky.com/writing/Prensky%20-%20Digital%20Natives,%20Digital%20Immigrants%20-%20Part1.pdfAcesso em: 05 abr. 2010.

Page 2: O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais

5/11/2018 O que ainda podemos ensinar aos nativos digitais - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/o-que-ainda-podemos-ensinar-aos-nativos-digitais 2/2