O Trecheiro - junho e julho 2014 #226

4
IMPRESSO Notícias do Povo da Rua Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - [email protected] Ano XXII Junho/Julho de 2014 - Nº 226 Fabiano Viana Alderon Costa/Rede Rua A Copa da vergonha No dia 8 de julho, durante a semifinal da Copa da FIFA, os torcedores brasileiros se ver- gonharam diante da maneira pela qual a seleção de futebol do país, dentro da sua própria casa, foi eliminada do mundial. Mas, mesmo antes desse cam- peonato começar, os comitês populares das cidades sedes da Copa, já se envergonhavam e denunciavam a forma de como a “seleção dos empobrecidos” do país também estava sendo eliminada dentro da sua “pró- pria casa”, a fim de dar passa- gem às construções dos está- dios e das instalações das FIFA Fan Fest. O placar marcava uma “hu- milhação” de bem mais que os 7x1. O resultado apontava: violação de Direitos Humanos, criminalização dos movimen- tos sociais e ativistas, desocu- pações de moradias, proibição de ambulantes e, entre elas, a higienização da população de rua dos centros das cidades. Foi uma derrota sofrida pela “goleada” do adversário. Mes- mo assim, não faltou garra e luta em campo para enfrentar o jogo difícil e duro contra o Es- tado, que – infelizmente gerou os primeiros eliminados, mes- mo antes de a copa começar, no dia 12 de junho – perdurou durante a realização desse me- gaevento e ainda deve conti- nuar após a copa. “Povo de Rua: O primeiro eliminado da copa” Esse slogan criado pela Pastoral do Povo da Rua serviu para dar visibilidade e denun- ciar a violação do direito de ir e vir das pessoas em situação de rua por causa das festas da FIFA e do turismo. O morador de rua, Leandro Marques de Moura, relatou que presenciou, muitas vezes, mesmo antes de começar a Copa, policiais do Comando de Policiamento para a Copa (CPCopa), expulsando mora- dores de rua do gramado do Vale do Anhangabaú, no cen- tro de São Paulo. “Os morado- res de rua estavam tomando a ‘barrigudinha’ e quando o po- licial chegava, pedia para sair. O morador falava que não ia se retirar e eles começavam a descer o cassetete e jogavam spray de pimenta”, contou. Leandro considerou que essa higienização era para mostrar que a cidade não tem problemas sociais. “Eles não queriam que os gringos vis- sem a realidade da cidade. Na verdade, a cidade é aquilo ali. Por exemplo, o cara esta- va tocando violão no Vale do Anhangabaú eles queriam que ele se retirasse e o chamavam de vagabundo. O cara saía de um gramado e ia para o outro, eles iam atrás. Eles falavam que podiam chamar Direitos Humanos, Pastoral, Eduardo Suplicy, etc. Eu presenciei isso todos os dias”. Para o coordenador da Pas- toral do Povo da Rua da Ar- quidiocese de São Paulo, padre Júlio Lancellotti, as pessoas em situação de rua foram os “pri- meiros eliminados da Copa” porque foram “varridos e so- freram uma repressão contínua, como também, uma ausência de possiblidade. Esta foi uma Copa da crueldade”, considerou. Dias antes de começar a Copa, em um debate em São Paulo, o ministro-chefe da Se- cretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ao ser questionado sobre a hi- gienização da população de rua nas cidades-sedes, justificou: “A Copa não é culpada por uma política sem-vergonha e higie- nista que muitos prefeitos fa- zem e não tem nada a ver com ela. Eles sempre fizeram isso. É culpa do capitalismo e de uma visão equivocada de um gover- no excludente que tira o catador e expulsa o morador de rua; tem a ver com as mazelas do país”. A eliminação pelas cidades-sedes Em São Paulo, treze dias para iniciar a Copa da FIFA, moradores de rua, entre eles, famílias com crianças de colo, foram surpreendidas com a re- tirada dos seus pertences e bar- racos que ficavam debaixo do viaduto Alcântara Machado, na Radial Leste, caminho do Ita- querão. Ao reagirem à remo- ção, foram agredidos pela PM com bombas de efeito moral. Alguns ficaram feridos. Em Belo Horizonte (MG), durante o protesto de abertura da Copa, moradores de rua que nem participavam do ato foram presos juntos com manifestan- tes e acusados de vandalismo, um deles apareceu nos noticiá- rios sendo arrastado pela PM. (Matéria publicada na Revista Fórum, 24/06/2014). No Rio de Janeiro, o Mi- nistério Público denunciou a superlotação de abrigo, no bairro da Piedade. De acordo com o relatório, os morado- res de rua, que ocupavam os bairros de Copacabana, Lapa, Centro e Maracanã, foram re- tirados, alguns com violência e levados para o abrigo muni- cipal Rio Acolhedor, em Pa- ciência, Zona Oeste. (Matéria publicada no jornal O Dia, 10/ 06/2014). Em Salvador (BA), de acor- do com a defensora Fabiana Miranda, os órgãos públicos estavam jogando jatos d’água nos moradores de rua, reco- lhendo seus pertences e joga- dos em caminhões feito lixo, além de levar as pessoas para abrigos não reconhecidos pelo Ministério do Desenvolvimen- to Social e Combate à Fome (publicado no Blog JusBrasil Jun/2014). “Tenda dos refugiados” Enquanto as pessoas tor- ciam eufóricas pelas ruas de SP, o morador de rua, Leandro Marques, contou que restavam às pessoas em situação de rua as tendas dos bairros da Bela e do Parque D. Pedro, até mesmo porque elas recebiam a ordem dos PMs para se refugiarem lá. “Eu adoro futebol, adoro copa do mundo, mas dessa forma que foi feita no Brasil, com tan- to dinheiro gasto diante da edu- cação como está, da saúde e os problemas da cidade, eu pensei que essa copa ia trazer sinais positivos”, concluiu Lendro. Alderon Costa/Rede Rua Fabiano Viana/Rede Rua

description

jornal da Associação Rede Rua

Transcript of O Trecheiro - junho e julho 2014 #226

Page 1: O Trecheiro - junho e julho 2014 #226

IMPRESSO

Notícias do Povo da Rua Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - [email protected]

Ano XXII Junho/Julho de 2014 - Nº 226

Fabiano Viana Alderon Costa/Rede Rua

A Copa da vergonha No dia 8 de julho, durante a

semifi nal da Copa da FIFA, os torcedores brasileiros se ver-gonharam diante da maneira pela qual a seleção de futebol do país, dentro da sua própria casa, foi eliminada do mundial. Mas, mesmo antes desse cam-peonato começar, os comitês populares das cidades sedes da Copa, já se envergonhavam e denunciavam a forma de como a “seleção dos empobrecidos” do país também estava sendo eliminada dentro da sua “pró-pria casa”, a fi m de dar passa-gem às construções dos está-dios e das instalações das FIFA Fan Fest.

O placar marcava uma “hu-milhação” de bem mais que os 7x1. O resultado apontava: violação de Direitos Humanos, criminalização dos movimen-tos sociais e ativistas, desocu-pações de moradias, proibição de ambulantes e, entre elas, a higienização da população de rua dos centros das cidades. Foi uma derrota sofrida pela “goleada” do adversário. Mes-mo assim, não faltou garra e luta em campo para enfrentar o jogo difícil e duro contra o Es-tado, que – infelizmente gerou os primeiros eliminados, mes-mo antes de a copa começar, no dia 12 de junho – perdurou durante a realização desse me-gaevento e ainda deve conti-nuar após a copa.

“Povo de Rua: O primeiro eliminado da copa”

Esse slogan criado pela Pastoral do Povo da Rua serviu para dar visibilidade e denun-ciar a violação do direito de ir e vir das pessoas em situação de rua por causa das festas da FIFA e do turismo.

O morador de rua, Leandro Marques de Moura, relatou que presenciou, muitas vezes, mesmo antes de começar a Copa, policiais do Comando de Policiamento para a Copa (CPCopa), expulsando mora-dores de rua do gramado do Vale do Anhangabaú, no cen-tro de São Paulo. “Os morado-res de rua estavam tomando a ‘barrigudinha’ e quando o po-licial chegava, pedia para sair. O morador falava que não ia se retirar e eles começavam a

descer o cassetete e jogavam spray de pimenta”, contou.

Leandro considerou que essa higienização era para mostrar que a cidade não tem problemas sociais. “Eles não queriam que os gringos vis-sem a realidade da cidade. Na verdade, a cidade é aquilo ali. Por exemplo, o cara esta-va tocando violão no Vale do Anhangabaú eles queriam que ele se retirasse e o chamavam de vagabundo. O cara saía de um gramado e ia para o outro, eles iam atrás. Eles falavam que podiam chamar Direitos Humanos, Pastoral, Eduardo Suplicy, etc. Eu presenciei isso todos os dias”.

Para o coordenador da Pas-toral do Povo da Rua da Ar-

quidiocese de São Paulo, padre Júlio Lancellotti, as pessoas em situação de rua foram os “pri-meiros eliminados da Copa” porque foram “varridos e so-freram uma repressão contínua, como também, uma ausência de possiblidade. Esta foi uma Copa da crueldade”, considerou.

Dias antes de começar a Copa, em um debate em São Paulo, o ministro-chefe da Se-cretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, ao ser questionado sobre a hi-gienização da população de rua nas cidades-sedes, justifi cou: “A Copa não é culpada por uma política sem-vergonha e higie-nista que muitos prefeitos fa-zem e não tem nada a ver com ela. Eles sempre fi zeram isso. É culpa do capitalismo e de uma visão equivocada de um gover-no excludente que tira o catador e expulsa o morador de rua; tem a ver com as mazelas do país”.

A eliminação pelas cidades-sedes

Em São Paulo, treze dias para iniciar a Copa da FIFA, moradores de rua, entre eles, famílias com crianças de colo, foram surpreendidas com a re-tirada dos seus pertences e bar-racos que fi cavam debaixo do viaduto Alcântara Machado, na Radial Leste, caminho do Ita-querão. Ao reagirem à remo-ção, foram agredidos pela PM com bombas de efeito moral. Alguns fi caram feridos.

Em Belo Horizonte (MG), durante o protesto de abertura da Copa, moradores de rua que nem participavam do ato foram

presos juntos com manifestan-tes e acusados de vandalismo, um deles apareceu nos noticiá-rios sendo arrastado pela PM. (Matéria publicada na Revista Fórum, 24/06/2014).

No Rio de Janeiro, o Mi-nistério Público denunciou a superlotação de abrigo, no bairro da Piedade. De acordo com o relatório, os morado-res de rua, que ocupavam os bairros de Copacabana, Lapa, Centro e Maracanã, foram re-tirados, alguns com violência e levados para o abrigo muni-cipal Rio Acolhedor, em Pa-ciência, Zona Oeste. (Matéria publicada no jornal O Dia, 10/ 06/2014).

Em Salvador (BA), de acor-do com a defensora Fabiana Miranda, os órgãos públicos estavam jogando jatos d’água nos moradores de rua, reco-lhendo seus pertences e joga-dos em caminhões feito lixo,

além de levar as pessoas para abrigos não reconhecidos pelo Ministério do Desenvolvimen-to Social e Combate à Fome (publicado no Blog JusBrasil Jun/2014).

“Tenda dos refugiados”

Enquanto as pessoas tor-ciam eufóricas pelas ruas de SP, o morador de rua, Leandro Marques, contou que restavam às pessoas em situação de rua as tendas dos bairros da Bela e do Parque D. Pedro, até mesmo porque elas recebiam a ordem dos PMs para se refugiarem lá. “Eu adoro futebol, adoro copa do mundo, mas dessa forma que foi feita no Brasil, com tan-to dinheiro gasto diante da edu-cação como está, da saúde e os problemas da cidade, eu pensei que essa copa ia trazer sinais positivos”, concluiu Lendro.

Alderon Costa/Rede Rua

Fab

iano

Via

na/R

ede

Rua

Page 2: O Trecheiro - junho e julho 2014 #226

O Trecheiro página 2 Junho/Julho de 2014

Rua Sampaio Moreira,110 - Casa 9 - Brás - 03008-010 - São Paulo - SP - Fone: (11) 3227-8683 3311-6642 - Fax: 3313-5735 - www.rederua.org.br - E-mail: [email protected]

CONSELHO EDITORIAL:Arlindo DiasEDITORIAL Produção Coletiva

Jornalista ResponsávelDavi AmorimMTB: MTB 48.215/SP

EQUIPE DE REDAÇÃO: Alderon CostaCleisa RosaDavi AmorimFabiano Viana Otávio Silva Pereira

REVISÃO Cleisa Rosa

FOTOGRAFIA: Alderon Costa DIAGRAMAÇÃO: Fabiano Viana

ApoioAndreza do CarmoAna Clara FernandesFelipe MoraesJoão M. de Oliveira

IMPRESSÃO: Forma Certa5 mil exemplares

É bom destacar que essas duas questões, apesar de tão diversas, são atualmente tratadas em São Paulo de forma muito parecida, porque pautadas no des-respeito, na remoção (os primeiros eliminados da Copa!) e na violência. Não há planos consistentes para enfrentamento do frio, período do ano tão difícil para quem mora nas ruas e nos albergues! É um momento no qual as ações paliativas se impõem: abrigos emergenciais, colchões, e cobertores. Ano após ano, essa situação se repete. É isso que queremos? Ora Operação Inver-no, ora Frentes Frias, os nomes se alternam, mas as ações são as mesmas e quase sempre chegam atra-sadas e com morte! Quer violência maior que essa?

Pensando na questão da Saúde, segundo historiadores, os cui-dados paliativos estão presentes desde a Antiguidade, com as primeiras defi nições sobre o cuidar. Na Idade Média, durante as Cruzadas, era comum achar hospedarias em monastérios, que abrigavam não somente os doentes e moribundos, mas também os famintos, mulheres em trabalho de parto, pobres, órfãos e leprosos. Essa forma de hospitalidade tinha como ca-racterística o acolhimento, a proteção, o alívio do sofrimento, mais do que a busca pela cura. No século XVII, um jovem padre francês chamado São Vicente de Paula fundou a Ordem das Irmãs da Caridade em Paris e abriu várias casas para órfãos, pobres, doentes e moribundos (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). É esse o modelo vigente? Até hoje, a questão do frio é tratada assim: atendimento às necessidades de proteção às intempéries do tempo de um de-terminado período do ano do qual não há legado nenhum! To-dos os anos é a mesma coisa. Não sobra nem mesmo refl exão a respeito da ausência de políticas públicas permanentes, em particular, propostas de habitação popular compatíveis com as condições de vida, como, por exemplo, as experiências de locação social. A que se pensar no conjunto de políticas públi-cas para garantir direitos, que além da habitação articule as áreas da saúde, do trabalho pensando em uma vida digna. Os velhos albergues, criados emergencialmente, hoje estão defi ni-tivamente estruturados como proposta central de atendimento. É preciso aumentar a força de pressão das diversas instâncias participativas da sociedade civil, dos movimentos sociais or-ganizados infl uenciando essa política pública. A pergunta que fi ca é: o que queremos nesse período de inverno?

Qual a Copa que queremos. Ou melhor, qual o país que queremos

Defendemos um país democrático, participativo, com igualda-de social, distribuição equilibrada de riquezas e propriedades e modo de vida justo. Essa é a nossa utopia! O nosso legado!No entanto, vê-se que as cidades-sedes estão cada vez mais militarizadas, nas quais a violência ocupa o lugar antes re-servado à cidadania, à transparência nas contas públicas, às decisões coletivas: participação social tão festejada após os anos de chumbo da ditadura militar. Apesar de passados esses 40 anos, temos ainda muitos dilemas ainda a enfrentar, como as imensas desigualdades sociais e a criminalização da po-breza. Por fi m, queremos parabenizar Alderon Costa por essa mere-cida nova tarefa de Ouvidor Geral da Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Perdemos nosso editor para uma boa e justa causa (na realidade demos a ele uma licença de dois anos apenas!): Alderon é um ferrenho defensor dos direitos humanos! Na falta imensurável desse companheiro, decidimos iniciar uma experiência coletiva de defi nição de pauta, divisão das matérias e editorial elaborado conjuntamente pelos cola-boradores do jornal.

ViDA No tReiCHoE

dito

rial

APOIO:

O Trecheiro Notícias do Povo da Rua

Frio e Copa no cotidiano da população de rua!

Arquivo Refeitório Povo da Rua

otávio Silva Pereira

“São frios, são glaciais os ventos da solidão”

Defi nitivamente, não será o frio, nem a Copa que marcarão o ano de d. Maria de Fátima (41 anos), mas sim uma perda inestimável.

Nasceu em Diadema (SP) e, ainda criança, lidou com a perda do pai, Car-los Marcelino, que faleceu de complicação cardíaca, agravada pelo uso exage-rado de álcool. A partir de então, a mãe, Terezinha dos Santos, cuidou sozi-nha dela e de sua irmã mais nova, Maria Izabel.

Contudo, após a mãe ter sofrido um grave atropela-mento, Fátima foi separa-da da irmã e encaminhada para a casa da avó paterna, fato que lamenta muito por não saber, até hoje, o para-deiro de nenhuma das duas.

Decidiu fugir da casa dos parentes, devido aos maus-tratos que sofria, quando se negava a pedir dinheiro nas ruas e porque essa moradia já não dispu-nha de condições dignas para se viver. Segundo Ma-ria de Fátima, tratava-se de “um barraco em madeira próximo ao córrego da Pe-dreira/Olaria em São Paulo. O banho era de caneca com água fria e, no inverno, pe-gavam lenha para ferver a água”. E completou que “somente quando meu tio e minha avó fi cavam sem be-ber, eu tinha um ambiente bom e de paz”.

Em sua ida pra rua, aca-bou saindo só com a roupa do corpo, sem destino cer-to, a não ser o de perma-necer na região do Largo Treze, já que havia velhos colegas de “mangue”. A partir daí, Fátima contou com a solidariedade de pessoas, incluídas as que viviam nas ruas. Entre elas, “uma senhora, que também pedia dinheiro, comparti-lhava o pouco que tinha, e

não me deixou passar fome!” Na madrugada, tomava café com bolo na barraquinha de um vendedor ambulante e, à noite, forrava o chão com pa-pelão para dormir, próximo de uma guarita policial, onde se sentia protegida.

Curiosamente, Fátima dis-se não ter passado sufoco, nem fome, encontrou pessoas dispostas a conversar e se sentiu mais respeitada do que no tempo em que esteve fora das ruas. Foi quando decidiu ir para o Centro e encontrou pela primeira vez José Lobo Jr. (Deco), trabalhando como “plaqueiro”, e afi rmou ter sido “uma paixão tão forte e avassaladora, que nem a rua conseguiu impedir” e, daí por diante, permaneceram insepa-ráveis.

Juntos adquiriram uma carroça na Igreja São Fran-cisco e começaram a ter ren-da como catadores de pa-pelão. Entretanto, sofreram um atropelamento, enquanto trabalhavam, fi cando ambos impedidos de realizar essa atividade durante certo tem-po até se recuperarem. Des-se modo, deram um jeitinho para sobreviver! Pediam para cozinhar macarrão na casa de uma moradora, em Santa Cecília, desfrutavam da sopa servida por um grupo espírita, no mesmo bairro. Na Praça Princesa Isabel, todos os dias, jantavam arroz, feijão, carne moída, de tempero muito sa-boroso e bem preparado.

Após longo tempo de na-moro, casaram de papel pas-sado, em dezembro de 2006. Vestida de véu e grinalda, Fátima viu o esposo chorar, como nunca, na cerimônia organizada pelos pastores Frederico e Janete da Igreja Evangélica de Confi ssão Lu-terana no Brasil.

Com o casamento, os noi-vos realizaram também o “sonho da casa própria”, um

presente de amigos. “Para mim, foi como estar vivendo um conto de fadas!” Fátima acrescentou que, no último aniversário, usou o vestido de noiva que despontava como a melhor roupa de seu armário! Contudo, esse conto de fa-das seguirá sem seu generoso príncipe e cavalheiro.

Já há algum tempo, Deco realizava acompanhamento de saúde por problemas na prós-tata e uso de sonda urinária. Desde o início de 2014, hos-pitalizado, foi transferido duas vezes de hospitais da Zona Norte, por não terem sonda para troca, em estoque. Em uma dessas ocasiões, tendo re-cebido alta, já de madrugada, o casal sem condições dormiu em bancos do ponto de ônibus, conseguindo chegar em casa só ao amanhecer.

Os problemas de saúde agravaram-se pois, além da contenção urinária, um va-zamento de sangue pelo ca-nal da bexiga conduziu Deco novamente ao hospital, onde permaneceu em observação por mais um mês. No decorrer desse período, ao contrário do que de costume, permaneceu menos falante e pouco brin-calhão, tomando pouca água e com quadro febril, teve agra-vado o estado de saúde, se-guido por um ataque cardíaco. Mesmo com cuidados na UTI, acabou não resistindo. Seu en-terro foi no dia doze de abril de 2014.

Quando perguntada sobre qual recado poderia deixar aos leitores do jornal O Trecheiro, Fátima, com um olhar distan-te, preferiu o silêncio, permi-tindo-se apenas não falar so-bre a saudade no seu coração. Esse simples e profundo ges-to fez-me lembrar da canção “Glaciais”, do artista paraiba-no e sua banda Totonho & Os Cabra, que diz: “São frios, são glaciais os ventos da solidão”.

Cores da RuaA educadora Rute B. de Oliveira do Refeitório Penaforte

perguntou aos conviventes se eles gostariam de enfeitar o lo-cal com as cores da bandeira brasileira e quais seriam as da bandeira de luta. As respostas foram sintetizadas pela Rute da seguinte forma.

“Mesmo sendo excluído da Copa do Mundo e expulso do centro da cidade de São Paulo, meu coração continua em festa. Com a rua e o Refeitório Penaforte enfeitados com as cores verde, amarelo, azul e branco, sinto a ale-gria de ser brasileiro! Em meio às lutas e às difi culdades

também trago as cores que são as bandeiras de luta do morador em situação de rua: preto, porque ainda o massacre continua presente entre nós, e há muitos moradores de rua sendo excluídos pela política higienista e hostil da cidade, o vermelho, que é a cor do sangue de tantos mártires e que há de fazer a semente se espalhar na conquista de moradia, saúde, educação, transporte, alimentação e dignidade. Contudo, encontro saídas para buscar o equi-líbrio, harmonia, e jamais perder a paz, a alegria e a esperança!”

Redação

Page 3: O Trecheiro - junho e julho 2014 #226

O Trecheiro página 3 Junho/Julho de 2014

Redação

Condenado a cinco anos de prisão Rafael Braga Vieira, de 25 anos, completou no dia 20 de junho um ano de prisão. Sua detenção ocor-reu nas manifestações de junho de 2013, no Rio de Janeiro, porque carregava um frasco de desinfetante Pinho Sol e outro de água sanitária.

Depoimento de Vieira ‘Moleque’Em seu depoimento, Vieira disse que estava a camin-ho de encontrar uma tia quando teria sido abordado por dez policiais. A abordagem, segundo ele, teria ocorrido assim:“Vêm cá, ô moleque. Aí neguinho... ô moleque. O que você tem aí? Ah, cara, você tá com coquetel mo-lotov? Você tá ferrado, neguinho”. Vieira diz ter re-spondido que não sabia o que era coquetel molotov. Na sequência, afirma ter sido agredido no estaciona-mento da delegacia.

Conviventes do Pousada da Esperança em Santo Amaro são HEXA!

A festa do sexto ano dos Alcoólicos Anôni-mos no espaço aconteceu no dia 7 de junho. Foi um momento emocionante para comemo-rar os que estão sóbrios “só por hoje”, e lem-brar todos aqueles que morreram, nesses seis anos, e lutaram bravamente contra a doença.

Tre

chei

rinh

as

Cleisa Rosa e Maria Nazareth Cupertino

Arraiá World Cup 2014

Alderon Costa

Jean-Pierre Gingold

DiReto DA RuA

Mês de junho é bão! Tem festa junina no Brasil Puxa o fole sanfoneiro, é festa no arraiá!Mas esse ano, a Copa do Mundo é aquiBão, também, sorta o ingresso aí ô da Fifa!Vai começar "a grande roda"o turista recebido de braços abertos e o mendigo na calçada manguea a moedaPra inteira da pinga pra quentar o frioO comitê não gosta, tira da reta, desce a borrachabeber na rua não pode, só pode no estádio, na quer-messe.Torcedor bebe cerveja oficial do patrocinador da copana barraquinha, tem quentão, vinho quente, poncheo morador de rua espera o carro da sopa, sonha com o cobertoro torcedor esperançoso come pipoca, sonhando com o golo caipira espia a cadente, comendo batata-doce, can-jica, paçocaOlha a fila? Uh! É mentira, eh! Olha a bomba? Uh! É mentira, eh!A polícia revista a fila da entrada na arena, ingresso na mão Lá fora a tropa de choque dispersa os manifestantesO estádio novo tá lindo. A televisão mostra tudoLá no Centro, os sem-teto ocupam prédios vaziosE lá vem mais protesto, são os grevistas pedindo au-mentoO povo quer é mais, saúde, educação, moradia, cultu-ra, segurançaAtenção! Liga o rádio, vai formar o "Grande Túnel"dois em dois, vão passando, atenção tem eleiçãotroca de casais, troca de políticos, voltam os paresPula a fogueira Iaiá, pula fogueira Ioiô, cuidado para não se queimarAnarriê! Tem foguete pra todo lado, vai ferverOlha os black bloc? Uh! Sai daí caipira, é já! Olha a chuva? Uh! Olha a seleção! Eh!É goooooolllll do Brasil!

Esclarecimento: “O Brasil dos fuzis e das chuteiras”, publicado no Direto da Rua na edição anterior (nº 225, abr./mai. 2014) é de autoria de Tião Nicomedes. Nossas desculpas.

Compromisso com os mais vulneráveis

Na manhã de 6 de junho de 2014, aconteceu no prédio da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, em sessão do Conselho Superior, a posse do Ouvidor-Geral, Alderon Costa e de cinco defensores públi-cos, Felipe Busnello, Felipe Pereira Magalhães, Felipe Pe-res Penteado, Pedro Cavenag-ni e Rita de Cássia. Todos se manifestaram declarando ade-são e compromisso diante das responsabilidades inerentes às funções de ouvidor-geral e de-

MNPR avança na organização

A poucos dias do início da Copa do Mundo FIFA 2014, na semana de “Mobilização Na-cional em Defesa das Pessoas em Situação de Rua”, promovi-da pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), de 26 a 30 de maio, várias pessoas em situação de rua, lideranças locais, apoiadores e gestores públicos participaram do II Congresso Nacional da População de Rua em Curitiba (PR).

Este evento aconteceu de 27 a 30 de maio com o lema “O di-reito de ter direitos”. Segundo Maria Lúcia Santos, coordena-dora do MNPR-BA, este Con-gresso dá continuidade ao que foi discutido no 1º Congresso "Protagonizando histórias e garantindo direitos". realizado, em Salvador, entre os dias 19 e 21 de março de 2012. Além da participação especial do Mi-nistério Público de Curitiba, grande parceiro do MNPR--PR, estiveram presentes várias autoridades do governo local de Curitiba, representantes do governo federal, parceiros e apoiadores do MNPR, com

aproximadamente 350 pessoas. Para Leonildo, José Mon-

teiro Filho, coordenador do MNPR-PR, o importante des-ses encontros é possibilitar o crescimento e o avanço do MNPR. “Além da visibilidade, sabemos que esses encontros fomentam a organização do movimento em outras cidades para defesa de seus direitos”, declarou Leonildo.

Para José Vanilson Torres da Silva, 42 anos de idade e 27 nas ruas, de Natal (RN), esse congresso é uma oportunidade fundamental para que as pes-soas possam trocar conheci-mentos e estratégias de ação com o objetivo de coibir todo tipo de violação de direitos, preconceito e discriminação contra essa população já mar-ginalizada pelo sistema políti-co. “A situação das pessoas de rua de Natal é triste, existem duas mil pessoas em situação de rua e só um albergue para 55 pessoas. Nesse sentido, nossa expectativa é a de que possamos nos unir nessa luta de ter direitos. Eu tenho di-reito de ter direitos”, concluiu Vanilson.

O encontro teve apresenta-ções, debates, grupos de refle-xão e plenárias para tratar dos direitos na área da Saúde, As-sistência Social, Previdência, Segurança Pública, Habitação, Meio Ambiente, Trabalho, Cultura, Esporte, Lazer, Direi-tos Humanos e Educação.

Para Samuel Rodrigues, co-ordenador do MNPR de Belo Horizonte, o Congresso nasceu para ser a instância máxima do movimento, em que se pode escutar a base, além de ser um espaço de proposição de polí-ticas públicas e de bandeiras de lutas. “Esse Congresso é a bússola que vai dizer a direção desse movimento, a partir da unificação de bandeiras como, lutar contra a internação com-pulsória, conquistar a inclusão das pessoas em situação de rua no censo demográfico do IBGE e ter como prioridade a luta por habitação, por exemplo”, afir-mou Samuel.

Todas as propostas dos gru-pos para o Plano de Ação estão no site da www.rederua.org.br)

Ana Clara Fernandes

Alderon Costa/Rede Rua

Sebastião Nicomedes

fensores públicos com a pro-messa de defesa intransigen-te dos direitos humanos dos grupos mais vulneráveis da sociedade, dos mais pobres, e deram ênfase à necessidade de atendimento de quem mais precisa e ao dever de exercer essa função com dedicação e seriedade.

Alderon Costa, eleito pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Huma-na (Condepe), representando a sociedade civil, assume por dois anos a Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública do Es-

tado de São Paulo. Na posse, Alderon destacou que a Ou-vidoria-Geral é um dos me-canismos de participação que a sociedade deve se apropriar para interferir na construção e avaliação dos serviços pres-tados pela Defensoria. Além disso, considerou que é fun-damental enfrentar o sistema de justiça brasileiro, profun-damente conservador, e escla-receu que mais do que mapear os problemas, o ouvidor-geral deve estar atento, sobretudo, às propostas que melhorem o atendimento.

Page 4: O Trecheiro - junho e julho 2014 #226

O Trecheiro página 4 Junho/Julho de 2014

Davi Amorim

Catadores cariocas comemoram vitórias alcançadas depois de batalhar por direitos

Do lixão para a Copa: só a luta muda a vida

Só hoje os catadores do Lixão Gericinó, na cidade do Rio de Janeiro, podem respi-rar aliviados, foram momen-tos de intensa luta e desespero com o iminente fechamen-to do lixão, a única fonte de renda para as 108 famílias de catadores de materiais reci-cláveis. “Houve períodos em que os caminhões da coleta não chegavam mais no lixão e corríamos o risco de passar fome”, conta o catador Custó-

dio da Silva Chaves, represen-tante do MNCR.

Hoje, porém, os catadores tiveram seu direito ao trabalho reconhecido, e vão realizar a coleta de materiais recicláveis dentro do Estádio do Maraca-nã, durante a Copa do Mundo, e receber de maneira justa por esse serviço.

Após o fechamento defi ni-tivo do lixão, todos os cata-dores receberam indenização de R$ 13.000, em virtude dos anos que deram vida útil ao li-xão. A negociação entre cata-

dores e a Prefeitura do Rio de Janeiro garantiu também que todos possam retornar à cata-ção, se assim quiserem. Para isso, está sendo construído um galpão que terá infraestru-tura necessária para a geração de renda dos 108 cooperados, fruto de um investimento do BNDES, que incluiu equipa-mentos, caminhões e capaci-tação.

“O galpão precisa garantir R$ 1.200 mensais para cada catador com a comercializa-ção dos materiais; caso não

se atinja esse patamar a pre-feitura do Rio destinará um salário-mínimo até a situação se normalizar. Ainda há um índice muito grande de rejeito (lixo), que vem nos caminhões da coleta seletiva municipal”, comenta Custódio sobre o Termo de Ajuste de Conduta (TAC), assinado no Ministé-rio Público do Trabalho. “Se a Prefeitura não cumprir o acor-do, serão as multas pagas por ela que garantirão o pagamen-to dos catadores”, frisou.

Há outros lixões em pro-

cesso de fechamento no es-tado do Rio de Janeiro, e a intenção é que o caso de Ge-ricinó represente um modelo a outras situações semelhantes, no sentido de inclusão social dos catadores. “Apresentamos na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro um projeto de lei para que a comercialização do metano recuperado nos lixões seja re-vertida para o pagamento dos catadores de materiais reciclá-veis”, completou Custódio.

Davi Amorim

Dentro e fora da Copa do MundoCatadores participam do mundial, mas continuam na luta por mais direitos

As organizações dos cata-dores de materiais recicláveis mostram, mais uma vez, o resultado de um esforço na-cional de luta e de organiza-ção da categoria com a par-ticipação ofi cial na prestação de serviços durante a Copa do Mundo. Cerca de 840 catadores organizados em cooperativas e em redes de cooperativas farão parte do time de coleta seletiva dentro dos doze estádios, palcos do mundial, além de eventos ofi -ciais.

A ação é fruto de parceria do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Re-cicláveis (MNCR), a Coca--Cola Brasil e a FIFA, que contrataram redes de coope-rativas nas cidades-sedes que se responsabilizarão pelo pa-gamento dos catadores pelo serviço de destinação, como sempre correta, dos resíduos gerados nos eventos, incluí-dos uniformes e capacitação.

Cada catador envolvido re-ceberá R$ 80 por dia de traba-lho, mais transporte e alimen-tação. Nos jogos na cidade de São Paulo, são 70 catadores na coleta dentro dos estádios, e outros 30 na triagem dos ma-teriais recicláveis no Galpão da Rede Cata Sampa que re-presenta outro complemento na renda das cooperativas li-gadas à Rede. Nos 64 jogos da Copa do Mundo da FIFA 2014, foram coletados cerca de 400 toneladas de materiais reciclá-veis, 40 toneladas apenas no Estádio de Itaquerão.

A reivindicação para serem incluídos em grandes eventos é antiga, e já houve experiências desse tipo na Copa das Confe-derações, em que catadores ca-riocas prestaram esse mesmo serviço, de forma exitosa.

“É um desafi o, mas é um desafi o muito importante que mostra que nós estamos pron-tos para fazer a coleta não ape-nas em uma Copa do Mundo, mas fazer a prestação de ser-

viços nos municípios, e em grandes eventos”, avaliou o catador Eduardo Ferreira de Paulo, representante do MNCR e um dos seleciona-dos a trabalhar dentro do Ita-querão.

Filhos de catadores tam-bém foram convidados para entrar no gramado seguran-do a bandeira do Brasil nos jogos. Mariana Gregório de Paula, 14 anos, fi lha de Edu-ardo, foi uma das seleciona-das e entrou em campo no jogo de abertura segurando a bandeira da Croácia. “Eu senti um aperto no coração”, declarou emocionada com o momento, e agradeceu ao pai por lhe oferecer essa oportu-nidade.

Comitê Popular da Copa

O MNCR participa do Co-mitê Popular da Copa, é soli-dário aos movimentos sociais e luta por direitos durante a Copa do Mundo. “A reivindicação é uma causa justa e correta, tem que reivindicar, antes ou de-pois da Copa, mas nós espera-mos que não haja violência na cidade de São Paulo”, declarou Eduardo, frisando que o MNCR está observando qualquer ação de repressão aos catadores não organizados, a exemplo de ou-tras cidades, como Curitiba e Manaus. Apesar de estar traba-lhando nos estádios, o MNCR saiu às ruas denunciando ações de violação dos direitos dos ca-tadores e ausência de parcerias concretas com o poder público nas cidades-sedes.

No entorno das arenas

O Ministério do Meio Am-biente (MMA) abriu uma linha de apoio às cidades-sedes da Copa do Mundo para a inclu-são de catadores de material reciclável e seis localidades (Belo Horizonte, São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Manaus e Natal) foram contempladas com R$ 2,3 milhões. Com o investimento, as prefeituras lo-cais estão sendo incentivadas a contratar cooperativas para fazer a coleta seletiva no entor-no das arenas, onde serão dis-putados os jogos, e em festas ofi ciais para as torcidas. Todo o material recolhido será destina-do às cooperativas de recicla-gem. Nas cidades com projetos aprovados, os catadores estão sendo capacitados e serão re-munerados pelo trabalho.

Os recursos serão utilizados para a capacitação, aquisição de uniformes e equipamentos de proteção individual, logísti-

ca do material coletado, além da comunicação e divulgação das ações de coleta seletiva.

Fora da Copa

Apesar da grande vitória em participar de um evento dessa magnitude, há também aqueles que fi caram de fora. A cidade de São Paulo soma 20 mil catadores em atividade que não trabalham em coope-rativas ou redes.

“Houve uma seleção dos catadores, infelizmente, não dá para colocar todo mundo, mas acredito que os catadores selecionados vão representar bem a categoria e elevar a au-toestima de todos”, declarou Eduardo. “Temos um desafi o de organizar toda a categoria, pois quanto mais organizado, mais forte fi ca principalmen-te para reivindicar os direitos. Queremos ser reconhecidos mundialmente por esse traba-lho”, completou.

Davi Amorim

Gilberto Warley Chagas/MNCR

Arquivo/MNCR