O Xadrez Do the House of Cards
-
Upload
rui-kureda -
Category
Documents
-
view
214 -
download
1
description
Transcript of O Xadrez Do the House of Cards
O xadrez do The House of Cards
qua, 13/04/2016 - 09:24
Atualizado em 13/04/2016 - 11:07
Luis Nassif
O que seria o dia seguinte ao impeachment? O jogo não está decidido. Nenhum dos dois
lados conseguiu o número mínimo para apregoar vitória. Mas vale como exercício.
Não é necessário muita imaginação para supor.
O novo jogo teria os seguintes personagens:
1. O novo governo, controlando o Executivo e o Congresso..
2. O Supremo Tribunal Federal
3. O Procurador Geral da República/Lava Jato
4. A mídia
5. A frente anti-impeachment
6. A frente pró-impeachment.
Vamos a um pequeno exercício de fórmulas para ver como eles se interagem.
Consolidação do poder
No dia seguinte à tomada do poder, a estratégia do novo grupo será a consolidação
definitiva do poder. Assume em uma posição precária, ilegítima, tendo atrás de si a Lava
Jato e a desconfiança geral e à frente às eleições de 2018.
Suas armas são temíveis: controle do Executivo e do Congresso, das leis e da caneta.
Usarão como puderem para enfrentar as seguintes frentes:
Lava Jato.
Crise econômica.
Eleições de 2018, logo ali.
A estratégia de sobrevivência contemplará algumas linhas básicas visando estender o
poder conquistado.:
1. Ampliação do arco de alianças.
O Congresso será utilizado para a aprovação de leis de interesse dos grandes grupos. O
balcão de negócios será transformado em um hipermercado.
O maior negócio será a alteração na lei do petróleo. Mas há uma enorme agenda a ser
manobrada por Eduardo Cunha, inclusive como forma de consolidar o golpe. Aí se entra
em um campo em que ele é senhor absoluto, o grande especialista em negócios do
Congresso. Obviamente todas essas faturas impactarão o orçamento e a política
econômica.
2. Mudanças estruturais que permitam a consolidação do poder.
O grupo não tomará o poder para entregá-lo em 2018. É evidente. A consolidação do
poder passará por mudanças políticas que excluam o voto direto para presidente, talvez
com a introdução do parlamentarismo, podendo chegar ao adiamento das eleições de
2018.
3. Enquadramento do Ministério Público Federal e da Lava Jato.
Ou alguém tem dúvida de qual foi a moeda de troca com o PP?
Tentarão se valer da euforia com o fim do governo para tomar medidas que restrinjam o
poder do MPF. O Executivo tem a chave do cofre. O Congresso, a chave das leis e das
nomeações e destituições de Ministros do Supremo. Em vez de um governo ingênuo e
desarmado, o MPF e a Polícia Federal enfrentarão agora o poder de fato, nas mãos de
uma organização que sabe manobrar as ferramentas do poder, e que estará travando uma
guerra de vida ou morte, já que a derrota implicará até em sua prisão.
4. Administração de uma economia em crise.
O orçamento é um só.
Numa ponta, será pressionado pelas demandas do grupo. Na outra, exigirá aumento de
tributos, uma CPMF. Só que a base de apoio do grupo são lideranças empresariais que
agitaram o país nos últimos anos levantando a bandeira da redução de impostos.
O caminho óbvio será o dos cortes nas áreas sociais, programas sociais, educação, saúde,
ampliando ainda mais a revolta das ruas em um quadro de aprofundamento da crise.
A busca do inimigo interno
Em um primeiro momento, haverá uma falsa euforia do mercado, com valorização de
ativos e queda do dólar. Durará pouco. É uma crise de demanda que não será resolvida
pela mera melhoria do índice Bovespa, ainda mais tendo em conta o custo da fatura para
a montagem de alianças.
Haverá uma ampliação geométrica das manifestações de rua.
Como superar o quadro de crise econômica + falta de legitimidade + manifestações de
rua? Nem é preciso ser um grande visionário para perceber o lance seguinte: o
macarthismo.
Além da ilegitimidade original, o novo governo ampliará as reações dos movimentos
sociais com os cortes de políticas sociais. A reação das ruas fornecerá o alibi do inimigo
interno e O novo governo se escudará cada vez mais na ultradireita da opinião pública e
nas bancadas religiosas. A ameaça bolivariana e a dissolução moral são os elos que unem
tudo, a ultradireita na rua, os jovens turcos do Ministério Público, o conservadorismo do
Judiciário e a classe média, os grupos religiosos.
Os desdobramentos
É impossível saber os vencedores dessa disputa. Seja qual for o resultado, haverá uma
grande noite caótica pela frente, um atraso histórico nos avanços sociais e econômicos e
uma ameaça direta à democracia e à economia.
Não fosse o custo a ser pago pelo país, especialmente pelos mais vulneráveis, seria uma
boa lição a esses aprendizes de feiticeiro que resolveram abrir a caixa de Pandora e
colocar em risco a democracia apenas para exercitar os músculos.