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    O LADO OPOSTO E OUTROS LADOSSérgio Buarque de Holanda

    Qualquer pessoa que compare o Brasil intelectual de o!e como de de" anos atr#s n$o pode dei%ar de o&ser'ar uma

    di'erg(ncia apreci#'el entre os dois momentos) n$o s* nospontos de 'ista que os condu"em como ainda mesmo nosindi'+duos que os e%primem, -$o quero insistir nacaracteri"a.$o dessa di'erg(ncia) que me parece pro/unda)nem 'e!o em que poderia ser 0til mostrando o moti'o que mele'a a pre/erir um ao outro,Est# 'isto que pra mim os que e%primem o momento atualneste ano de 1234 contam muito mais do que os de 1214, Agente de o!e a&oliu escandalosamente) gra.as a Deus) aqueleceptismo &oc*) o idealismo impreciso e desa!eitado) a poesia

    5&i&el67) a ret*rica 'a"ia) todos os +dolos danossa intelligentsia) e ainda n$o é muito o que /e", Limita.8esde todos os lados impediam e impedem uma a.$odesem&ara.ada e até mesmo dentro do mo'imento quesuscitou esses milagres t(m surgido germens de atro/ia queos mais /ortes !# come.am a com&ater sem tréguas,9 indispens#'el para esse e/eito romper com todas asdiplomacias noci'as) mandar pro dia&o qualquer /orma deipocrisia) suprimir as pol+ticas liter#rias e conquistar umapro/unda sinceridade pra com os outros e pra consigo mesmo,

    A con'ic.$o dessa urg(ncia /oi pra mim a melor conquistaaté o!e do mo'imento que camam de 5modernismo7, :oi elaque nos permitiu a intui.$o de que carecemos) so& pena demorte) de procurar uma arte de e%press$o nacional,-$o se trata de com&ater o que !# se e%tinguiu) e é a&surdoque muitos cometem, ;esmo em literatura os /antasmas !#n$o pregam medo em ninguém, O academismo) por e%emplo)em todas as suas '#rias modalidades < mesmo o academismodo grupo =ra.a Arana>Ronald>Renato Almeida) mesmo oacademismo de =uilerme de Almeida < !# n$o é mais um

    inimigo) porque ele se agita num 'a"io e 'i'e ? custa deeran.as, As /iguras mais representati'as desse esp+ritoacad(mico e mesmo as melores @como é o caso dos nomesque citei /alam uma linguagem que a gera.$o dos que 'i'emesqueceu # muito tempo,Alguns de seus representantes < re/iro>me so&retudo a=uilerme de Almeida e a Ronald de ar'alo

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    poesia principalmente &rilante isso pro'a que su!eitaramapenas uma matéria po&re e sem densidade, De certo modocontinuaram a tradi.$o da poesia) da literatura 5&i&el67) quen*s detestamos, S$o autores que se acam situadospositi'amente do lado oposto e que /a"em todo o poss+'el

    para sentirem um pouco da inquieta.$o da gente da'anguarda, Donde essa /ei.$o de o&ra tra&alada con/ormeesquemas premeditados) essa aus(ncia de a&andono e de'irgindade que denunciam os seus li'ros, Toda aAmérica e Ra.a seriam tal'e" &em mais signi/icati'os para agente se n$o /osse 'is+'el a todo o momento a inten.$o dosseus autores de criarem dois poemas geniais, Essa inten.$o éso&retudo mani/esta em Toda a América, 9 um dos aspectosque tornam mais lament#'el e pretensioso o mo'imentoinaugurado pelos nossos acad(micos 5moderni"antes7, Hou'e

    um tempo em esses autores /oram tudo quanto a'ia de &omna literatura &rasileira, -o ponto em que estamos o!e elesn$o signi/icam mais nada para n*s,Penso naturalmente que poderemos ter em pouco tempo) queteremos com certe"a) uma arte de e%press$o nacional, Ela n$osurgir#) é mais que e'idente) de nossa 'ontade) nascer# muitomais pro'a'elmente de nossa indi/eren.a, sso n$o quer di"erque nossa indi/eren.a) so&retudo nossa indi/eren.a a&soluta)'# /lorescer por /or.a nessa e%press$o nacional quecorresponde ? aspira.$o de todos, Somente me re'olto contra

    muitos que acreditam possuir ela desde !# no cére&ro tal equal de'e ser) di"em conecer de cor todas as suas regi8es) assuas rique"as incalcul#'eis e até mesmo os seus limites e nosquerem o/erecer essa so&ra em 'e" da realidade quepoder+amos esperar deles, Pedimos um aumento de nossoimpério e eles nos o/erecem uma amputa.$o, @-$o care.o decitar aqui o nome de Trist$o de AtaFde) incontesta'elmente oescritor mais representati'o dessa tend(ncia) que tem pontosde contato &em 'is+'eis com a dos acad(micos5moderni"antesG que citei) em&ora se!a mais consider#'el,

    O que ideali"am) em suma) é a cria.$o de uma elite deomens) inteligentes e s#&ios) em&ora sem grande contatocom a terra e o po'o < é o que concluo por mina conta n$osei de outro !eito de se interpretar claramente o sentido deseus discursos intencionada e que este!a dequalquer modo ? altura de nos impor uma ierarquia) umaordem) uma e%peri(ncia que estrangulem de 'e" esse nossomaldito estou'amento de po'o mo.o e sem !u+"o, arecemosde uma arte) de uma literatura) de um pensamento en/im) quetradu"am um anseio qualquer de constru.$o) di"em, Einsistem so&retudo nessa panacéia a&omin#'el da constru.$o,Porque para eles) por enquanto) n*s nos agitamos no caos e

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    nos compra"emos na desordem, Desordem do qu(I 9indispens#'el essa pergunta) porquanto a ordem pertur&adaentre n*s n$o é decerto) n$o pode ser a nossa ordem # deser uma coisa /ict+cia e estrana a n*s) uma lei morta) queimportamos) sen$o do outro mundo) pelo menos do Jelo

    ;undo, 9 preciso mandar &uscar esses espartilos pra que agente aprenda a se /a"er apresent#'el e &onito ? 'ista dosoutros, O erro deles est# nisso de quererem escamotear anossa li&erdade que é) por enquanto pelo menos) o que temosde mais consider#'el) em pro'eito de uma detest#'ela&stra.$o inteiramente inoportuna e 'a"ia de sentido, -$o melem&ro mais como é a /rase que li num ensaio do /ranc(s KeanRicard Bloc e em que ele lamenta'a n$o ter nascido numpa+s no'o) sem tradi.8es) onde todas as e%peri(ncias ti'essemuma ra"$o de ser e onde uma e%press$o art+stica li're de

    compromissos n$o /osse uma ousadia inquali/ic#'el, Aqui #muita gente que parece lamentar n$o sermos precisamenteum pa+s 'elo e ceio de eran.as onde se pudesse criar umaarte su!eita a regras e a ideias pre/i%ados,-$o é para nos /elicitarmos que esse modo de 'er importadodiretamente da :ran.a) da gente da Action :ran.aise eso&retudo de ;aritain) de ;assis) de Benda tal'e" e até danglaterra do norte>americano T, S, Elliot comece a ter apoioem muitos pontos do espl(ndido grupo modernista mineirode A Re'ista e até mesmo de ;#rio de Andrade) cu!as

    reali"a.8es apesar de tudo me parecem sempre admir#'eis, Eugostaria de /alar mais longamente so&re a personalidade dopoeta que escre'eu o -oturno de Belo Hori"onte e como s*assim teria !eito pra di"er o que penso dele mais ? 'ontade)pra di"er o que me parece &om e o que me parece mau em suao&ra < mau e sempre admir#'el) n$o # contradi.$o aqui me a di"er o indispens#'el que ospontos /racos nas suas teorias est$o quase todos onde elascoincidem com as idéias de Trist$o de AtaFde, Essa /ala temuma compensa.$o nas estupendas tentati'as para a

    no&ilita.$o da /ala &rasileira, Repito entretanto que a suaatual atitude intelectualista me desagrada,-esse ponto pre/iro omens como Osald de Andrade) que éum dos su!eitos mais e%traordin#rios do modernismo&rasileiro como Prudente de ;oraes -eto outo de Barros eAnt6nio de AlcCntara ;acado, Aco que esses so&retudorepresentam o ponto de resist(ncia necess#rio) indispens#'elcontra as ideologias do construti'ismo, Esses e alguns outros,;anuel Bandeira) por e%emplo) que seria para mim o melorpoeta &rasileiro se n$o e%istisse ;#rio de Andrade, E Ri&eiroouto que com Um omem na multid$o aca&a de pu&licar um

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    dos tr(s mais &elos li'ros do modernismo &rasileiro, Os outrosdois s$o Losango c#qui e Pau>Brasil,

    Re'ista do Brasil) 1MN1N1234) p,2>1,

    HOLA-DA) Sérgio Buarque de, O esp+rito e a letra, Estudos decr+tica liter#ria ) 123>12, Organi"a.$o) introdu.$o e notasAntonio Arnoni Prado, S$o Paulo ompania das Letras) 1224)p, 33>33,