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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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A CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA A ESTUDANTES COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS

ESPECIAIS

Magda Aparecida Moreira Barbaresco1 Claudia Priori 2

Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados obtidos na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE -, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), aplicado na Escola Especial Marcelo Aparecido da Silva, no município de Janiópolis. A intervenção pedagógica foi realizada com a turma de Educação de Jovens e Adultos - EJA, em que abordamos as temáticas dispostas na Lei nº 10.639/03 que trata da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira, com o objetivo de discutir o preconceito e a discriminação vividos pelos alunos e alunas, levando-os a conhecer outras histórias e culturas, a respeitar a diversidade e garantir os direitos a todas as pessoas indistintamente. Além disso, tivemos o intento também de discutir a importância e participação da história e cultura negra na formação da sociedade brasileira, e ainda, de aprofundar o conhecimento sobre a história e cultura africana. Como resultados, constatamos que ainda há muito para ensinar e discutir, para que possamos eliminar o preconceito e discriminação às pessoas negras, que apesar das leis existentes, ainda insistem em perdurar no ambiente escolar e na sociedade.

Palavras- chave: Diversidade; Discriminação; Cultura Africana e Afro-brasileira; Ensino

de História.

INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado das análises e reflexões realizadas durante o

desenvolvimento do projeto de intervenção pedagógica em que tratamos sobre as

formas de discriminação e do preconceito, bem como abordamos a criação da Lei nº

10.639 de 2003 que alterou a Lei nº 9.394 de 1996 – Lei de Diretrizes e Base (LDB)

tornando obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana no ensino

básico de escolas públicas e particulares da federação. Tal temática deve ser trabalhada

no âmbito de todo o currículo escolar, mas preferencialmente, nas disciplinas de

História, Literatura e Educação Artística. A lei também institui a data de 20 de novembro

no calendário escolar como o “dia nacional da Consciência Negra”.

1Professora da Rede Pública do Estado do Paraná, na disciplina de Educação Especial. Endereço eletrônico:

[email protected] 2 Profª Adjunta no Colegiado de História – Universidade Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão. Endereço

eletrônico: [email protected]

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O percurso de normatização decorrente da aprovação da Lei nº 10.639/03 deveria

ser mais conhecido pelos educadores e educadoras das escolas públicas e privadas do

país, pois são essas pessoas que exercem importante papel na escola no processo de

combate e luta contra o preconceito e a discriminação racial no Brasil, pois o objetivo é

buscar um novo olhar sobre a história e cultura afro-brasileira e africana e suas relações

com o percurso histórico brasileiro.

Segundo SANTOS (2007, p. 23) a lei nº 10.639/03 é um instrumento para

reposicionar as pessoas negras no mundo da Educação. Pois diante de muitas lutas e

de alguns resultados conquistados, a causa negra adquire mais força a partir dos anos

2000, finalizando com a promulgação, em 2003, da referida lei. Também segundo Souza

(2007, p. 21), a lei vem valorizar a diversidade cultural, que é uma das principais

características de nosso país.

Nossa proposta de trabalho buscou elucidar, ampliar e contribuir para o

cumprimento do disposto na referida lei, principalmente no que diz respeito à aprovação

de novos saberes sobre a história e cultura afro-brasileira e africana na escola de

Educação Especial Marcelo Aparecido da Silva, no município de Janiópolis/Pr.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A década de 1930, com o movimento dos Annales, também conhecida como

Escola dos Annales, trouxe várias mudanças para a disciplina e pesquisa históricas. Foi

um período de alargamento temático, de novos campos e abordagens, além de várias

inovações, como a ampliação do conceito de fontes históricas, o diálogo com outras

disciplinas, e principalmente a valorização de novos sujeitos e de uma série de aspectos

que ainda não tinham sido estudados pela história.

Com a criação da revista dos Annales, em 1929, na França, surgiu o que hoje

chamamos de “Nova História”. Até então, a história era basicamente positivista e

consistia na exaltação de grandes homens, grandes feitos, uma história política que em

muitos casos era uma forma de legitimação social. Outras abordagens históricas,

quando tentadas, não recebiam o devido interesse. Aos poucos, essa história positivista

que recebia influência das ciências naturais, passa a ser duramente criticada,

especialmente pelos seguidores de Durkheim. Foi então que Lucien Febvre e Marc

Bloch criaram a já citada revista. Sua metodologia estabeleceu-se como nova forma de

abordagem histórica, de produção historiográfica que buscava abrir caminho para a

interdisciplinaridade entre a história e as ciências sociais, aos poucos estendendo esta

conexão às demais disciplinas como a geografia, antropologia e a psicologia.

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A história tradicional, narrativa, de cronologia definida, escrita de forma linear,

pautada em documentos oficiais, era evolucionista e privilegiava fatos estritamente

políticos. A oposição por parte do grupo dos Annales a esse tipo de história factual,

meramente política, vai abrindo espaço para o estudo de temas do cotidiano, e

abordando uma história-problema, trazendo novas temáticas, fontes e sujeitos.

O movimento dos Annales se dividiu em três gerações: a primeira liderada por

Marc Bloch e Lucien Febvre, que defendia a história-problema, o uso de fontes não

documentais e o diálogo da história com outras disciplinas.

A segunda geração foi representada por Fernand Braudel, que trouxe a

concepção de múltiplas temporalidades, a curta, média e longa duração. A curta duração

pode ser traduzida, fazendo uma analogia com as notícias vistas diariamente nos

jornais. As conjunturas sociais e econômicas podem ser entendidas na média duração e

por fim, a história de longa duração é aquela que para Braudel importava, as estruturas.

A terceira geração revelou nomes como Jacques Le Goff, Georges Duby, Emmanuel le

Roy Ladurie, e historiadoras como Michelle Perrot, Mona Ozouf, Christiane Klapisch,

entre outras que buscavam estudar as formas de pensar e de sentir, ou seja, abordar os

aspectos culturais, a “história das mentalidades”.

De acordo com Burke (1992, p. 12), os Annales foi um movimento dividido em três

fases: a primeira apresenta a oposição contra a história tradicional, a história política e a

história dos eventos; na segunda, o movimento aproxima-se verdadeiramente de uma

“escola”, com conceitos (estrutura e conjuntura) e novos métodos (história serial das

mudanças na longa duração) dominada pela presença de Fernand Braudel (1946-69); a

terceira geração se inicia por volta de 1968, traz uma fase marcada pela ampliação

temática, aberta ao estudo cultural, bem como amplitude de fontes e objetos de estudo.

A partir da década de 1970, o termo “Nova História” é utilizado para fazer

referência à nova história cultural, que recorre à palavra “nova” para distinguir estas

produções historiográficas das formas anteriores.

O conhecimento histórico ajuda na compreensão de homens e mulheres

enquanto sujeitos que constroem seu tempo, no contato com outros grupos sociais, que

viveram em espaços e tempos diferentes do nosso. A história nos permite apreendermos

as formas de vivência, de sociabilidades, as práticas e representações socioculturais de

grupos variados nos mais diversos contextos.

A percepção do “outro” (diferente) e do “eu” (semelhante) é diversa em cada

cultura e no tempo. Ela depende de informações e de valores sociais historicamente

construídos, mediada por comportamentos e experiências pessoais e da sociedade em

que se vive. Em diferentes momentos da História, indivíduos, grupos e povos

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conheceram as desigualdades, as igualdades, as identidades, as diferenças, os

consensos e os conflitos, seja na convivência social, espacial, política, econômica,

cultural e religiosa, seja na convivência entre classes, raças/etnias, gêneros e gerações.

Esses convívios mantiveram relações com valores, padrões de comportamentos e

atitudes de identificação, distinção, equiparação, segregação, submissão, dominação,

luta ou resignação, entre aqueles que se consideravam iguais, inferiores ou superiores,

próximos ou distantes, conhecidos ou desconhecidos, compatriotas ou estrangeiros.

(BRASIL, 1998, p. 35).

No debate educacional na década de 1930, tornou-se predominante a tese da

“democracia racial” expressa em programas e livros didáticos de ensino de História. Por

esta tese, na constituição do povo brasileiro predominavam a miscigenação e a total

ausência de preconceitos raciais e étnicos. O povo brasileiro era estudado como

descendente de brancos portugueses, índios e negros, e, a partir dessa tríade, de

mestiços. Nessa perspectiva, todos conviviam harmonicamente em uma sociedade

multirracial e caracterizada pela ausência de conflitos. Cada etnia colaborava, com seu

heroísmo ou com seu trabalho, para a grandeza e riqueza do país. (BRASIL, 1998, p

22).

Entretanto, o Brasil, conforme consta no Relatório Anual das Desigualdades

Raciais no Brasil (2007-2008)3 tem uma população de 49,7% de pessoas brancas,

49,5% de pessoas pardas e pretas, 0,5% de amarelas (de origem oriental) e 0,3% de

indígenas (PAIXÃO & CARVANO, 2008). Essa diversidade étnico-racial na população

brasileira, representada por meio de números, não se traduz em igualdade de condições

para os vários segmentos que compõem a população do país, fenômeno constatado por

muitos estudiosos e estudiosas, em suas distintas formas de manifestação. Segundo

dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2009, a população negra

representa 51% do contingente populacional do país. Contudo, a identidade do negro e

da negra no Brasil sempre foi negada. Conforme Santos (2008), identidade anulada por

um discurso dominante com visão eurocêntrica e excludente, e um dos caminhos

escolhidos para a difusão desse pensamento foi o da educação.

Analisando livros didáticos, percebemos a manutenção de uma postura voltada

para uma cultura branca e europeia-cristã predominante, desde que os primeiros

portugueses desembarcaram em nossos solos. Esse fato dificulta muitas vezes o

trabalho de desconstrução da imagem negativa do/ negro/a, uma vez que sua cultura

3 PAIXÃO, Marcelo & CARVANO, Luis M. Relatório Anual das Desigualdades Raciais no Brasil. Disponível em:

http://pt.slideshare.net/laeserieufrj/rdr-2007-2008pt-11890611. Acessado em 20/11/2015.

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não tem espaço considerável nas páginas do livro didático (BITTENCOURT, 2004, p.

296).

A população negra construiu sua história e sua cultura por meio de participação

social, manifestações culturais, religiosas e simbólicas. Entretanto, o discurso histórico

presente na historiografia ao longo dos séculos e também nos livros didáticos, não

menciona as pessoas negras, optando por um silenciamento da existência desse povo,

e quando mencionados, aparecem de forma simplista e equivocada, não as retratando

como sujeitos da história, nem sua cultura e manifestações sociais.

Diante disso, políticas públicas têm sido criadas para tentar amenizar a

perpetuação dessa visão discriminatória nos espaços escolares e na própria sociedade.

Nas últimas décadas, a conjuntura socioeconômica brasileira, aliada à pressão

internacional pela melhoria dos índices sociais do país, observada principalmente após o

processo de redemocratização, levou à criação de um ambiente político propício à

adoção, pelo Governo Federal, de ações afirmativas, ou seja,

[...] medidas que visam criar igualdade de oportunidades para grupos sociais e populações socialmente excluídas. Essas ações prevêem um tratamento diferenciado na sua execução, objetivando uma maior inserção na educação, no sistema de saúde, e no mercado de trabalho (SANTOS, 2006, p.1).

A criação e implementação da Lei 10.639/2003 e outros dispositivos legais são

exemplos disso. A obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira e

Africana, como conteúdo a serem inseridos em todas as disciplinas do Currículo escolar,

é um passo importante para a discussão da diversidade nos currículos, buscando

desconstruir os estereótipos sociais e garantindo a reflexão da alteridade e da diferença.

Oliva (2003) afirma que devemos reconhecer a importante participação de

homens e mulheres afro-brasileiros na História do nosso país tanto quanto estudamos a

presença europeia.

A história e a cultura afro-brasileira e africana fora pouco considerada por nossa

tradição historiográfica, exceto nos estudos sobre o tráfico e a escravidão. Quando não

há informação adequada, o passado escravocrata insiste em não arredar pé do

ambiente escolar.

Nega-se ao negro a participação na construção da história brasileira, embora tenha sido ele a mão de obra predominante na produção da riqueza nacional, trabalhando na cultura canavieira, na extração aurífera no desenvolvimento da pecuária e no cultivo do café, em diferentes momentos do nosso processo histórico. (FERNANDES, 2005, p. 380).

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Se junta a isso, importância que tiveram no início da economia brasileira, a

grande contribuição cultural que trouxeram de sua terra, que foi sendo mesclada com as

já existentes e que chegaram depois. Seus modos de vestir, sua alimentação, sua

música, canto e dança, e, principalmente, suas crenças religiosas.

Segundo as DCNs,

A História, como em muitas outras áreas de conhecimento, é um campo de pesquisa e produção de saber em permanente debate que está longe de apontar para um consenso. Novas abordagens iluminam as análises políticas de instituições, de líderes governamentais, de partidos, de lutas sociais e de políticas públicas. Ao mesmo tempo, novos temas sociais e culturais ganham relevância, o caso de pesquisas destinadas a aprofundar e revelar as dimensões da vida cotidiana de trabalhadores, mulheres, crianças, grupos étnicos (BRASIL, 2005, p.30,).

Gomes (2007) elabora uma abordagem pertinente no que se refere à

implementação da Lei 10.639/03, quando nos adverte que não se pode pensar a

cidadania e a democracia sem se considerar a diversidade, elucidando o tratamento

desigual que, ao longo da história, tem-se imposto aos diferentes grupos sociais e

étnico-raciais.

Desse modo, a intenção da Lei nº 10.639/03 é um instrumento que vem contribuir

na luta contra os preconceitos e atitudes discriminatórias, ao promover por meio de

práticas pedagógicas de qualidade a valorização e respeito à diversidade étnico-racial

presente em nossa sociedade.

3- COLETA DE DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

Neste relato da intervenção pedagógica buscamos explicitar sobre o

desenvolvimento do projeto implementado na Escola de Educação Especial Marcelo

Aparecido da Silva, na qual tivemos a participação de alunos e alunas da Educação de

Jovens e Adultos (EJA), nível de terceiro ano do ensino fundamental.

Partindo da discussão da temática - história e cultura afro-brasileira e africana –

realizada durante as aulas de história a estudantes com necessidades educacionais

especiais, foi organizado um cronograma de aplicação com 32 horas para o

desenvolvimento das atividades e práticas pedagógicas. Foram 8 dias de regência com

4 horas diárias, e o último dia foi reservado para a apresentação do grupo de samba

“Samba Atual” existente no município de Janiópolis/Pr.

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A proposta, como já mencionado, foi realizada com alunos e alunas com

deficiência intelectual e dificuldades de aprendizagem, pois se trata de uma turma de

Educação de Jovens e Adultos (EJA), do período vespertino, que é composta por dez

estudantes, sendo seis do sexo feminino e quatro do masculino, com idade que varia de

17 a 45 anos. São, na maioria, oriundos de famílias de classes desfavorecidas, com

baixo poder aquisitivo e instrucional. Na grande maioria sobrevivem de benefícios

governamentais ou aposentadorias/benefícios próprios ou de familiares idosos. Devido

as suas deficiências são considerados não aptas a trabalhos remunerados, com

raríssimas exceções. Sendo que nessa turma temos 7 (sete) estudantes negros, sendo

6 (seis) meninas e apenas 1 (um) menino e, o que demonstra a pertinência do trabalho e

da visibilidade que esse grupo terá como consequência das discussões.

As atividades foram trabalhadas por meio de uma metodologia diferenciada,

bastante variada e com recursos pedagógicos que contribuíram para o aprendizado. O

intuito foi promover uma aprendizagem significativa e despertar na turma de estudantes

o interesse para a história e cultura afro-brasileira e africana, bem como para a

implementação da Lei nº 10.639/03, e para as questões raciais e discriminação no

âmbito social e especialmente no escolar.

Como procedimentos metodológicos realizamos palestras, leituras, debates e

reflexões com base nos textos informativos e documentos; desenvolvemos atividades

de pesquisa e produção de material mediante o uso de recortes e colagens; e foi

também realizado confecção de mapas, palavras cruzadas, mural, acróstico, reescrita e

ilustração de história e diagramas; e desenvolvemos ainda atividades lúdicas como:

rodas de conversas, dramatização, apresentações de grupo de capoeira e de grupo de

samba. Para a realização das atividades foi utilizado vários materiais como vídeos e

documentários variados.

As atividades desenvolvidas são diferentes daquelas as quais a turma de

estudantes estava familiarizada, portanto, proporcionou espaço para a criatividade e

reflexão entre alunos e alunas. Primeiramente, foi realizado com a comunidade escolar,

professores (as), direção e demais agentes educacionais a apresentação do projeto a

ser implementado. Discutimos a importância da história cultura afro-brasileira e africana

amparada pela Lei nº 10.639/03, e também a instituição da data de 20 de novembro no

calendário escolar como o Dia Nacional da Consciência Negra.

Após leitura, discussão e reflexão da temática, foi possível compreender melhor

sobre o racismo e preconceito e conhecer a respeito da lei. Compreendeu-se a urgência

em estudar e refletir mais sobre a diversidade, para que possamos promover atitudes e

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práticas pedagógicas que prezam pelo respeito e aceitação da diversidade no ambiente

escolar.

Em seguida, num segundo momento, iniciamos o desenvolvimento do projeto em

sala de aula, trabalhando com a turma a questão social e suas influências na cultura

brasileira e a Lei nº 10.639/03. Com depoimentos de cada aluno e aluna, por meio de

rodas de conversa, questionamentos e reflexões que abordaram: qual a diferença entre

racismo e preconceito? Quem é mais valorizado na sociedade?

Durante as aulas, utilizamos recursos como: texto sobre racismo e discriminação,

questionamento sobre o tema, esclarecimento de palavras desconhecidas. Ocorreu

também, uma sondagem junto à turma para averiguar o que pensam e que ideias e

opiniões têm sobre o assunto, procurando sempre valorizar o conhecimento e saber dos

(as) estudantes. Na sequência, produziram um diagrama para encontrar palavras

relacionadas aos textos explorados.

Ao finalizar esse primeiro encontro com a turma, ficou evidente que alunos e

alunas não tinham muito entendimento a respeito do tema trabalhado. Percebemos que

ocorreu um bom entrosamento e interação, ocorrendo uma aprendizagem a contento, se

considerarmos o nível e a especificidade da turma (nível de terceira série do ensino

fundamental com deficiência intelectual).

Na terceira etapa da intervenção pedagógica ocorreu a palestra sobre racismo,

ministrada pela professora/pedagoga Geralda Magela Rosa. A mesma apresentou-se

como sendo aposentada na profissão e afrodescendente. Abordou a temática em forma

de relato de sua própria história, sua trajetória e experiência de vida. Colocou ser filha de

pai branco e mãe negra e que em função de sua cor sempre foi tratada de maneira

diferente desde criança por ser afrodescendente e mulher, foi muito discriminada por

colegas de escola e na sociedade, sofreu bullying de todas as formas desde pequena.

Encorajou a turma a prosseguir estudando e aprender a lidar com a situação do

racismo, no caso de estudantes negros (as), e exigir respeito e não aceitar situações de

humilhação, e sempre que possível denunciar atitudes de discriminação.

Ao fim da palestra, abriu-se espaço para debate e esclarecimentos, ou ainda para

sanar dúvidas ou curiosidades da turma, dando oportunidade para quem quisesse

comentar sobre preconceitos sofridos no convívio social e escolar. A participação da

turma foi muito boa, alguns relataram os preconceitos sofridos no convívio social ou

escolar. Teve uma aluna negra que relatou que por ter os cabelos encaracolados, com

muito volume, ouviu ao longo da vida, uma série de adjetivos pejorativos que a

magoaram bastante, portanto, pede sempre para mãe fazer escova progressiva e

chapinha nos cabelos para ficar liso. Outra aluna afirmou que sempre sofreu na escola

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pelo mesmo motivo, por colegas de turma, que xingavam, colocavam apelidos

grosseiros, sendo que um deles é ser chamada de macaca. Uma terceira aluna também

relatou que em uma ocasião entrou numa loja de calçados e mesmo vazia as

vendedoras fingiram que não a viram, apenas porque era pobre e negra e disse que

ficaram olhando de cima a baixo e simplesmente a ignoraram.

Esses alunos e alunas referendados são pessoas com deficiência intelectual e

não tem muita habilidade emocional para lidar com as agressões e violências, pois

possuem maneiras diferenciadas de percepção social. Ficou evidente ao término da

palestra que alunos e alunas se mostraram bastante críticos e dispostos a continuar

enfrentando o preconceito e a discriminação, buscando compreender seus valores e

lutas e despertando o orgulho de sua origem negra.

Dando continuidade à aplicação da quarta etapa, é importante destacar que

realizamos atividades equivalentes a 4 horas. O tema trabalhado diz respeito à obra de

Ana Maria Machado, “Menina Bonita do Laço de Fita”. O objetivo era valorizar a

oralidade e questionar a história de uma bonita menina de pele escura, que morava ao

lado de sua casa um coelhinho que achava a menina mais bonita que já tinha visto na

vida por causa da sua pele negra, e daí por diante ele também quer ter a pele da mesma

cor. Durante a leitura da obra a turma realizou a dramatização das cenas descritas no

livro, por meio de fantoches confeccionados, em que cada aluno e aluna representaram

diferentes personagens. À medida que o texto era lido a personagem era apresentada. A

intenção dessa atividade foi aguçar o senso crítico da turma em relação à temática e

fazer perceber e respeitar as diferenças no meio escolar e na sociedade.

Em seguida, realizamos a reflexão da capa do livro, destacando as ideias que a

turma obteve através de discussão da temática. E por fim confeccionaram um livrinho

com elaboração e ilustração da capa e redação da história. Após essa apresentação foi

feito questionamentos sobre a ilustração, a cor da pele das personagens, o cabelo da

menina, os lábios, a estrutura física dela e dos demais componentes da história.

Complementou-se comentando o quanto herdamos características da cultura africana

que compõem a nossa população. Constatamos com o desenvolver dessa atividade que

ainda há discriminação e desconhecimento da história e cultura afro-brasileira e africana

e que muito ainda temos que trabalhar para superar esse estigma na sociedade.

O ilustrador da obra Claudius usa de muita criatividade em cada cena, o que

permite abertura à interpretação, portanto, após ter discutido sobre a capa do livro, lido a

imagem da capa com a turma, perguntando sobre a ilustração, a cor da pele da menina,

do coelho e o cabelo da menina, entregamos uma folha de sulfite dobrada ao meio e

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solicitamos que fizessem o desenho da capa do livro, onde aparece a menina bonita e o

coelho branco.

Enquanto os (as) estudantes desenhavam notamos que estavam entusiasmados

e que a autoestima dos alunos e alunas negras que se viram representados e se

identificaram com a menina heroína que, além de bonita, era muito criativa, ficou nítido o

quanto a literatura infantil pode contribuir para desconstrução dos discursos

preconceituosos e colaborar para práticas que valorizem os sujeitos como são. A partir

desta história com a dramatização, e ilustração, a turma aprendeu um pouco mais a

vencer dificuldades, superar seus limites, conhecer e respeitar outras histórias, outros

sujeitos e outras culturas, bem como se viram representados.

Por meio da metodologia aplicada, percebemos a integração da turma,

despertando outros olhares, acreditando um pouco mais na igualdade e na diversidade.

As atividades propostas foram desenvolvidas por todos os alunos e alunas, e tiveram o

auxílio da professora quando necessário.

Na etapa subsequente ocorreu a continuação do trabalho com o livro “Menina

Bonita do Laço de Fita”, em que a turma pode confeccionar os mapas do Brasil, África e

do Paraná, utilizando-se de recortes e colagem de rostos de pessoas das mais diversas

identidades étnicas, produzindo também frases e pequenos textos, como pode ser

observado nas figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6, abaixo relacionadas.

Figura 1- Trabalhando com recortes de revistas e colagens

Fonte: Arquivo pessoal

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Figura 2- Trabalhando com recortes de revistas e colagem

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 3 – Mapa do Brasil confeccionado pela turma utilizando recortes e colagem

Fonte: Arquivo pessoal

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Figura 4 – Mapa da África confeccionado pela turma utilizando recortes e colagem

Fonte: Arquivo pessoal

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Figura 5 – Mapa do Paraná confeccionado pela turma com recortes e colagem

Fonte: Arquivo pessoal

Para o desenvolvimento das atividades de confecção dos mapas a turma foi

dividida em grupos para pesquisar e recortar as figuras e a colagem foi realizada

coletivamente. Iniciou-se com a confecção do mapa do Brasil (figura 3) em que foi

solicitado à turma para recortar e colar no mapa figuras de várias raças, procurando

valorizar as características de origem africana. Num outro momento confeccionaram o

mapa da África (figura 4) com imagens de pessoas que vivem no continente,

destacando a variedade de povos africanos e seus modos de vida e sua cultura.

Em relação à confecção do mapa do Paraná (figura 5) foi orientado que

recortassem imagens de diferentes culturas que vivam no estado, independente de ser

atividades de lazer ou trabalho, desde que envolvesse várias culturas. Recortaram

figuras de revistas e trouxeram algumas fotos de pessoas que viveram e vivem no

estado e suas culturas. Foi possível constatar que por meio dessas atividades houve

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maior interação social entre os alunos e alunas e que estavam estimulados a

conversação sobre as diferenças (cor da pele, cabelo, altura etc.).

Apesar de várias orientações, constatamos também que alguns (mas) estudantes

demonstraram um pouco de dificuldade na escolha das imagens, mas conseguiram

concluir a tarefa. Percebemos ainda que conseguiram identificar as diferenças na

cultura presente na sociedade em que vivemos, com destaque para a variedade de

povos africanos e seu modo de vida, como danças, vestimentas, alimentação entre

outras.

Na sequência, foi elaborado um mural de fotos das mais variadas pessoas, em

situações cotidianas como trabalho, cultura, diversão e lazer, como se verifica na figura

06 abaixo. Para a elaboração dessa atividade utilizaram revistas onde cada estudante

buscou recortar fotos de pessoas - com destaque para o rosto - de várias culturas/raças,

para ser colado no mapa do Brasil, procurando valorizar as características de origem

africana. Nessa atividade houve algumas dificuldades de identificar ou de encontrar

imagens de pessoas negras (como descrito por alguns(mas) estudantes), o que

evidencia como, geralmente, as revistas veiculam apenas imagens de pessoas brancas,

reproduzindo padrões estereotipados, e excluindo a diversidade étnico-racial.

Figura 6 - Mural elaborado pela turma com recortes e colagem

Fonte: Arquivo pessoal

Os recortes e colagem feita nas atividades revelam a visão seletiva que as

revistas veiculam acerca das imagens de pessoas, mas também denotam como a

própria turma de estudantes possui uma visão estereotipada do belo associado à figura

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do não-branco e da cultura embranquecida presente em nossa sociedade, pois

raramente tiveram contato com outras imagens, com a cultura afro-brasileira e africana

bem como poucas vezes viram o negro e a negra representados nas revistas e livros

que tiveram acesso.

A implementação deste projeto, nos revelou que precisamos procurar conhecer

cada vez mais sobre os povos, história e cultura afro-brasileira e africana, e que até os

dias atuais, ainda é tão desvalorizada e discriminada em nosso meio. Essa temática nos

mostra o quanto se faz necessário que alunos e alunas compreendam a real importância

que tiveram e tem a presença da população negra na sociedade brasileira, para que,

conhecendo a história e a cultura dos mesmos, possa existir uma sociedade menos

preconceituosa ocorrendo a valorização dos grupos étnicos-raciais.

Concluímos que o objetivo da atividade proposta foi alcançado, pois despertou a

participação e entusiasmo da turma. Ocorreram dificuldades de alguns alunos e alunas

para realizar as atividades, mas com o suporte da professora o aproveitamento foi

prazeroso, com estímulos para desenvolver suas potencialidades e mudança de postura

em nossa sociedade, já que no decorrer da implementação, a metodologia e o conteúdo

trabalhado foi sugerido pela professora de acordo com a necessidade de aprendizado de

estudantes com deficiência intelectual, valorizando seus saberes a respeito da história e

cultura afro-brasileira e africana.

Outra etapa da intervenção pedagógica realizada ocorreu com a discussão da

temática da capoeira, e que teve a duração de 4 horas, e foi desenvolvido um trabalho

com textos informativos sobre a capoeira e o histórico do berimbau. A partir do tema

proposto ocorreu rodas de conversa, atividades lúdicas, desenho livre sobre o tema, dos

instrumentos que foram utilizados e o que mais gostaram na dança.

Num outro momento, a turma foi convidada a assistir uma apresentação da dança

da capoeira na escola pelo grupo de capoeira do município de Janiópolis. Após a

apresentação, foram conduzidos à sala de aula e estimulados pela professora a ilustrar

uma roda de capoeira, que haviam presenciado, ocorrendo até a participação na dança

de alguns (mas) estudantes da turma. Por fim, a turma toda desenhou, cada um a sua

maneira, a roda de capoeira com capoeiristas e os instrumentos manuseados na roda

pelo grupo que são: berimbau, pandeiro, agogô, atabaque e o reco-reco e mais alguns

detalhes que observaram no decorrer da apresentação.

Ocorreu uma grande participação por parte de todas as pessoas envolvidas,

mostraram-se produtivas, ficaram bem à vontade para construir conhecimento de forma

significativa e prazerosa. Com isso, buscamos com essa atividade fazer com que os

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alunos e alunas possam ser mais livres de preconceitos e mais respeitosos com as

diferenças.

Em seguida, desenvolvemos a etapa da implementação que trata sobre a história

do samba: “O que é o samba”? Após momentos de leitura e reflexão, surgiram alguns

questionamento por parte da professora como: Quem aqui gosta de samba? Alguém

sabe o que significa a palavra samba? Os pais de vocês costumam escutar samba em

casa? Vocês poderiam falar alguns nomes de cantores de samba? Quem sabe sambar?

Vocês conhecem a origem do samba? Foi explicado que a origem do samba que é um

gênero musical, de raízes africanas, do qual deriva de um tipo de dança,

nascido no Brasil e é tido como uma das principais manifestações culturais

populares brasileiras. Entre suas características originais está uma forma de

dança que é acompanhada por pequenas frases melódicas e refrãos de

criação anônima, alicerces do samba de roda nascido no Recôncavo Baiano e

levado, na segunda metade do século XIX, para a cidade do Rio de Janeiro

pela população negra trazida da África. Nessa música, a harmonia é feita pelos

instrumentos de corda, como o cavaquinho e o violão. Já o ritmo é dado, por exemplo,

pelo surdo ou pelo pandeiro.

Foi apresentado também um vídeo sobre a história do samba com discussão e

algumas questões para que a turma respondesse por escrito: qual mensagem o vídeo

transmitiu para vocês? Quem poderia dizer como o samba começou? Qual mesmo é o

significado da palavra samba? Isso com o intuito de melhorar a fixação do tema.

E para finalizar a implementação ocorreu uma apresentação do grupo “Samba

Atual”, do município de Janiópolis, para melhor destacar a música trazida por pessoas

africanas e tão presentes na nossa cultura. Diante disso, percebemos que houve

participação ativa de todos os alunos e alunas, pois realizaram prontamente as

atividades propostas, bem como da apresentação com euforia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realidade apresentada por meio da implementação deste projeto, mostrou que a

discussão das relações étnicos-raciais e da diversidade, bem como a abordagem de

temas como o racismo, o preconceito e discriminação são ainda temas carentes de

debates, em que se faz urgente a análise do meio social em que convivemos, para

percebermos que nossa sociedade e cultura é composta de diferentes visões de mundo

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e que todas precisam ser valorizadas. Então, educar para a igualdade e respeito à

diversidade, diz respeito a todas as pessoas.

É sabido que ainda temos muito que progredir, na busca de uma sociedade sem

discriminação, consolidada no respeito; sabemos que os desafios são incalculáveis, no

entanto, o intenso trabalho desenvolvido na Escola de Educação Especial Marcelo

Aparecido da Silva, no município de Janiópolis/PR, referente à história e cultura afro-

brasileira e africana, bem como a implementação da Lei n. 10.639/03, mostra que a

mudança é possível à medida que a discussão da diversidade étnico- racial começa a

fazer parte do cotidiano da escola, as resistências estão sendo rompidas, tornando o

tema mais presente nos espaços escolares. Acreditamos que esse projeto atingiu os

objetivos esperados e que deve ser levado adiante. Constatamos que as discussões

devem ser mais intensas, e que muitas vezes falta conhecimento e compreensão para o

combate ao racismo existente nas escolas e no meio social.

Tratando se da modalidade de educação especial, notamos a necessidade da

escola em se preocupar com o problema do racismo e da discriminação, trabalhar pelo

fim da desigualdade social e racial e lutar com informação e atitudes que minimizam as

discriminações ainda existentes. Sempre procurando evidenciar as capacidades de

educandos e educandas oferecendo atividades que estejam de acordo com o potencial

individual, para que possam entender e desenvolver seu próprio ritmo. Entendemos que

a educação para todas as pessoas requer um enfoque diferenciado, principalmente aos

alunos e alunas que apresentam algum déficit mental.

O projeto e a produção didático-pedagógica foram elaborados tendo em vista as

particularidades de estudantes de idades variadas com deficiência intelectual. Buscamos

desenvolver atividades que fossem dinâmicas, interessantes e motivadoras por meio de

práticas dirigidas. Cada aluno e aluna se expressaram em um conjunto de estratégias

cognitivas, que atuam no processo de aprendizagem, construindo e apreendendo

conhecimentos de acordo com seu próprio ritmo.

As atividades foram organizadas e planejadas com objetivo de despertar na turma

de estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA), prazer e melhora das

dificuldades encontradas no processo de ensino-aprendizagem. Ficou evidente a

expressão de entusiasmo e envolvimento que a turma teve durante a intervenção nas

aulas da disciplina de história, e também o quanto isso contribuiu para as outras

disciplinas.

Desse modo, profissionais da educação das mais diferentes disciplinas, que

trabalham ou não com a educação especial, podem utilizar essas atividades como

instrumento pedagógico para contribuir na inserção educacional e no convívio social

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desses sujeitos. Ficou perceptível como as atividades trabalhadas foram importantes

para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da personalidade e do rendimento escolar da

turma em geral.

Os resultados da implementação foram extremamente positivos. Constatamos um

avanço do conhecimento sobre a história e cultura afro-brasileira e africana, bem como

da Lei Nº 10.639/03; interação crescente entre alunos e alunas no convívio escolar e

social; mudanças significativas de postura e atitude na maioria dos (as) estudantes da

turma. Além disso, é perceptível o desenvolvimento da oralidade e da escrita,

conseguindo narrar pequenos fatos de discriminação, demonstrando satisfação e

criatividade em confeccionar os materiais utilizados nas aulas.

Enfim, os objetivos deste projeto foi o de proporcionar aos (as) estudantes o

entendimento da diversidade étnico racial no âmbito escolar e no convívio social e

aproximá-los da história e cultura afro-brasileira e africana, e também colaborar para a

implementação da Lei n. 10.639/03, que deve ser uma prática constante no currículo

escolar. As expectativas foram superadas na medida em que todos os alunos e alunas

participaram ativamente das discussões e do desenvolvimento da temática em sala de

aula.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico- raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileiro e Africano. Brasília, MEC/SEPPIR/SECAD, 2004. ________.Lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003 -“História e Cultura Afro-Brasileira” - Brasília, 2003. ________.SECAD. Orientações e ações para a educação das relações Étnico-Raciais. Brasília: SECAD, 2006. ________. Lei n. 9.394 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.

________. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais:

Geografia/História. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998. ________. Parecer 003/2004, 10 de março de 2004. M1989): a revolução Francesa da Historiografia. Tradução Nilo Odalia. São Paulo: Un inistério da Educação.

________ .Parecer CNE/CP 003/04. Brasília: MEC/CNE, 2003

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BURKE, Peter. A Escola dos Annales (1929-1989): a Revolução Francesa da

historiografia. São Paulo: Unesp, 1997.

FERNANDES, José Ricardo Oriá. Ensino de História e diversidade cultural: desafios e possibilidades. Cad. Cedes, Campinas- SP, vol. 25, n 67, p. 378-388, set/dez, 2005. GOMES, Nilma Lino. Descolonizar os currículos: um desafio para as pesquisas que articulem a diversidade étnico-racial e a formação de professores. In Trajetorias e processos de ensinar e aprender: sujeitos, currículos e culturas – XIV ENDIPE; Porto Alegre – RS: Edipucrs, 2008. OLIVA, Anderson Ribeiro. A História da África nos bancos escolares: representações e imprecisões na literatura didática. Revista Estudos Afro-Asiáticos, ano 25, n° 3, set./dez. 2003, pp. 421-462. PAIXÃO, Marcelo, CARVANO, Luiz M. (Orgs.). Relatório anual das desigualdades raciais no Brasil - 2007-2008. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná. Secretaria de Estado da Educação Básica do Paraná,

Superintendência da Educação. Curitiba, 2008. SANTOS, Renato Emerson dos. O Ensino de Geografia do Brasil e as Relações raciais: reflexões a partir da Lei Nº 10.639/03. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

SILVA, Thomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: Silva Tadeu da. (Org). Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2009.

ANEXOS

Anexo 01- Trabalhando com fantoches

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Fonte: Arquivo pessoal

Anexo 02 – Trabalhando com fantoches

Fonte: Arquivo pessoal

Anexo 03 – Ilustração de História

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Fonte: Arquivo pessoal

Anexo 04 - Ilustração de História

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Fonte: Arquivo pessoal