Os Pilares da Pansofia

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Entrando na senda da Filosofia Perene

Transcript of Os Pilares da Pansofia

  • OS PILARES DA PANSOFIA

    Enciclopdia de Sabedoria Antiga

    Volumen I

    Phileas del Montesexto

    ASSOCIAO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA INITITICA

  • editado Por oPus PhilosoPhicae initiationis internacional

    [email protected]

    www.initiationis.org

    desenho da caPa: adri Volta

    desenhos interiores: csar fernndez (a lPis, branco e negro) y

    adri Volt (iMagens dos Veculos do ser huMano, a cor)

    esqueMa da escala inicitica: hctor fabin Perea

    traduo Para a lngua Portuguesa (brasil): awMergin

    edio Para a web cedida Pelo autor

    todos os direitos reserVados. Maro 2012

  • Contedo

    Prlogo do autor ............................................................................. 7

    A Filosofia Perene como alternativa .............................................. 9

    Mtodo de estudo ......................................................................... 11

    O Templo da Pansofia ................................................................. 13

    Um advertncia inicial ................................................................. 14

    Os trs pedreiros .......................................................................... 16

    O umbral do Templo ................................................................... 20

    A Sala Preliminar ......................................................................... 28

    Comea a viver teus ideais ........................................................... 35

    Conto: Os pocinhos e o poo ...................................................... 36

    A Sala do Sonho ........................................................................... 38

    As coisas que no te correspondem.............................................. 49

    Conto: At quando adormecido? ................................................. 50

    A Sala do Oriente e Ocidente ...................................................... 54

    Conto: O espelho da deusa .......................................................... 65

    A Sala do Autoconhecimento ...................................................... 68

    O exemplo da carruagem ............................................................. 78

  • Conto: Quem s? ......................................................................... 79

    A Sala dos Quatro Elementos ...................................................... 90

    Conto: O bote de Nassrudin ....................................................... 98

    A Sala da Lei .............................................................................. 100

    A Sala da Vida e da Morte ........................................................ 108

    Conto: A histria da humanidade ............................................. 119

    As perguntas de Sogyal Rimpoche ............................................ 121

    A Sala do Absoluto ..................................................................... 122

    Deus perto de ti .......................................................................... 128

    A Sala do Trabalho ..................................................................... 130

    A Sala da Unidade ...................................................................... 139

    Mantra da Unificao ................................................................ 143

    Conto: Sou tu ............................................................................. 144

    A Sala da Virtude ........................................................................ 145

    A Sala dos Mistrios ................................................................... 151

    Glossrio de termos .................................................................... 157

    Referncias bibliogrficas e notas .............................................. 165

    O Programa OPI ....................................................................... 166

  • Para que servem os culos e as velas se no se quer ver?

    (Obra de Cornelis Bloemaert, British Museum)

  • Prlogo del autor

    Eu unicamente transmito; no posso criar coisas no-vas. Creio nos antigos, e portanto, os amo. (Confcio)

    Nas seguintes pginas tratamos de sintetizar os ensina-mentos fundamentaiss da Filosofia Perene em um s volu-me, de acordo com a metodologia que prope nossa Asso-ciao Internacional de Filosofia Inicitica OPI. O leitor entender melhor e tirar maior proveito destas lies se levar em conta que as mesmas formam parte de um Progra-ma de estudos muito mais amplo e que os temas apresenta-dos nesta obra so desenvolvidos em outros livros.

    A apresentao desta srie de livros reunidos sob o t-tulo Enciclopdia de Sabedoria Antiga est inspirada no antigo axioma Ad dissipata colligenda (Reunir o disperso), pois parte da necessidade de contrapor-se sobredose de informao existente em nossos dias, onde o principiante no sabe por onde comear e o que pior carece de elementos necessrios para diferenciar os ensinamentos au-tnticos da Tradio Primordial das fices comerciais da New Age.

    Os estudos que damos esto estruturados gradualmente e so um convite para que o leitor se familiarize com os conceitos gerais da Sabedoria Antiga, mesmo que ao lon-go de nossos escritos advirtamos uma e outra vez que

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  • absolutamente indispensvel acompanhar a leitura com a colocao em prtica dos ensinamentos.

    Neste primeiro livro propomos um percurso imaginrio pelas 12 salas do Templo da Pansofia(*), um edifcio mo-numental onde se conservaram os principais ensinamentos da filosofia sapiencial dos antigos. Caminhando por seus enigmticos sales, o leitor poder encontrar respostas a al-gumas de suas perguntas existenciais e imaginar assim sua prpria peregrinao pelo Sendeiro Inicitico, repleto de smbolos, provas e desafios, at chegar ao recinto mais sa-grado de todos: o Sancta Sanctorum.

    importante esclarecer que ao longo do relato repetire-mos deliberadamente alguns conceitos uma e outra vez sob pena de parecer insistentes. Estas reiteraes no respon-dem a um lapso nosso, mas a uma utilizao de um recurso muito comum na transmisso do conhecimento filosfico.

    O leitor sagaz poder perceber que com cada repetio se iro agregando novos elementos e correspondncias para que se possa compreender mais profundamente os ensina-mentos como um todo harmnico e coerente.

    Phileas del Montesexto

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    (*) O termo Pansofia significa Saber total (Pan =Todo e Sofa = Sabedoria)

  • A Filosofia Perene como alternativa

    Muitos leitores seguramente se perguntaro: por que deveramos iniciar este caminho de autoconhecimento? Ou dito de outro modo em que nos beneficia empreender estudos filosficos?

    O objetivo fundamental a que nos propusemos dar

    ao estudante as ferramentas necessrias para potencializar uma profunda transformao interior, que desperte suas faculdades latentes e revolucione sua conscincia a fim de alcanar a autorrealizao.

    A sociedade moderna trata de convencer-nos, median-te o bombardeio publicitrio, de que a felicidade consiste na satisfao dos desejos, consumindo mais e tendo mais e mais coisas. Sem embargo, essa suposta felicidade no duradoura quando o desejo foi satisfeito, o ser humano se sente frustrado pois a felicidade escapou das mos, sentin-do a necessidade de satisfazer novos desejos que o levam a um carrossel que no tem fim.

    Segundo os antigos a felicidade permanente no pro-vem da satisfao de nossos desejos, mas de viver uma vida plena e consciente, descobrindo intimamente quem somos e porque nascemos neste planeta. No obstante, para al-canar esta felicidade autntica faz-se necessrio uma mu-dana radical em nossa forma de pensar e de sentir.

    Esta transformao implica em uma reeducao, uma

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  • nova forma de interpretar o mundo e codificar os sinais que chegam nossa mente atravs dos sentidos.

    No podemos esperar que as mudanas venham de fora. Para mudar o mundo, primeiro devemos mudar a ns interiormente. Se quisermos um mundo mais justo, mais virtuoso, menos corrupto, menos violento, ns mesmos de-vemos ser justos, virtuosos, erradicando de nossa vida toda conduta corrupta e violenta.

    A vida sem rumo que nos prope a sociedade de consu-

    mo estruturada em torno do materialismo e da ignorn-cia converteu-nos em marionetes das circunstncias e escravos de nossos desejos. A Filosofia Perene uma alter-nativa que se contrape sensibilidade predominante no mundo moderno e nos convida a tomar o controle de nossa existncia, formando-nos integralmente a fim de alcanar uma vida plena.

    Vale a pena viver de uma maneira mais digna e cons-ciente e atrever-se a transitar a senda dos antigos, ainda quando o mundo inteiro parece estar indo na direo con-trria.

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  • Mtodo de estudo

    O mtodo de estudo que apresentaremos em nossos es-critos fundamenta-se no esforo pessoal e na diferenciao entre ler e estudar, pois ainda que a leitura possa abrir os nossos olhos impossvel alcanar a iluminao ou iniciar-se simplesmente acumulando dados e informao.

    Os alquimistas diziam: Rumpite libros ne corda rum-

    pantur (Despedaai os livros, a no ser que despedacem vosso corao), que em seu sentido profundo significa que os livros como um fim em si mesmo, e no como um meio para algo superior, podem ser mais nocivos que benficos.

    Os que prefiram simplesmente ler poderiam INFOR-MAR-SE de uma grande variedade de temas, mas aqueles que realmente prefiram estudar teriam a oportunidade de FORMAR-SE, atendendo a nosso mtodo prtico e gra-dual, baseado na mxima APRENDER FAZENDO.

    O mtodo educativo a que estamos acostumados pode descrever-se da seguinte maneira:

    Ns temos o conhecimento e VOC no tem, por isso lhe daremos uma aula acerca das coisas que deveria conhe-cer e em pouco tempo lhe perguntaremos (mediante um exame ou prova) se conserva em sua memria as coisas que contamos.

    Sem embargo, este enunciado est bastante distante do

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  • esprito de nossos estudos, j que declaramos estar em con-sonncia com duas ideias capitais ensinadas pelos antigos:

    1) Plato disse: Todo conhecimento recordao, pelo qual os instrutores e facilitadores devem facilitar o caminho para que o estudante recorde o que j sabe inte-riormente.

    2) Aristteles agregou: O que temos que aprender, aprendemo-lo fazendo. O que se memoriza se esquece e sobretudo, se o que se aprende no provm da prpria ex-perincia, no se aprende e se esquece rapidamente.

    Tendo isso em conta, o modelo que apresentamos em nossas obras o seguinte: Ns lhe facilitaremos isto, o modelo que apresentamos em nossas obras o seguinte: nveis de conscincia e recordar. VOC, seja disciplinado e constante, levando prtica o aprendido e no se limite a acumular informao.

    Faz algo mais que existir, VIVE.

    Faz algo mais que olhar, OBSERVA.

    Faz algo mais que ler, ASSIMILA.

    Faz algo mais que ouvir, ESCUTA.

    Faz algo mais que escutar, COMPREENDE.

    Faz algo mais que falar, DIZ ALGO TIL.

    Faz algo mais que propor, ATA!

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  • O Templo da Pansofia

    Caminhante: s bem-vindo a esta paragem sagrada! Tua incessante busca de respostas tua intrpida peregrinao por diferentes caminhos te trouxe a esta fabulosa construo de mrmore que se encontra diante de ti, o santurio mais importante da Tradio Primordial: o Templo da Pansofia.

    Nas salas interiores deste monumental recinto, os dis-cpulos e iniciados conservaram zelosamente todos os en-sinamentos transcendentes da humanidade, legadas desde tempos imemoriais pelos grandes Mestres e Instrutores que tiveram a lucidez necessria para adaptar a mensagem uni-versal da Sabedoria Antiga s mentalidades das diferentes pocas e dos diversos entornos geogrficos.

    Esta construo pansfica o refgio dos filsofos, uma rplica dos edifcios das Escolas de Mistrios da antigui-dade, que eram o mbito propcio para que os grandes s-bios e legisladores se formassem integralmente e utilizassem mais tarde os ensinamentos recebidos para o benefcio de seus semelhantes.

    Se tu, caminhante, ests absolutamente decidido a trans-formar positivamente tua vida, abandonando as iluses de uma sociedade insana, podes comear a transitar a senda de aperfeioamento que propomos a fim de encontrar o senti-do de tua vida. No duvides mais. Avana e d o primeiro passo. S bem-vindo ao Templo da Pansofia.

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  • Uma advertncia inicial

    No Templo da Pansofia transmitem-se ensinamentos filosficos e iniciticos. Sem embargo, estas duas palavras no deveriam entender-se maneira habitual. Em nossos dias, a Filosofia considerada um conjunto de conceitos tericos sem nenhuma aplicao vivencial, um saber abstra-to e especulativo, manejado por uma elite intelectual com os mesmos problemas, angstias e dvidas existenciais que da maior parte da humanidade.

    Por outro lado, a Iniciao geralmente entendida como

    um rito, uma cerimnia mais ou menos secreta atravs da qual um indivduo passa a formar parte de uma confraria ou ordem com usos e costumes que dizem remontarem-se h tempos pretritos.

    Contudo, o significado mais profundo destes termos ensinado neste recinto pansfico absolutamente diferente de sua acepo popular.

    Sendo assim, a Filosofia deve ser entendida como amor sabedoria, um conhecimento profundo que pode ser aplicado perfeitamente em nossa vida cotidiana para que esta seja mais luminosa e sejamos mais conscientes. O Filsofo, como enamorado da verdade, segue o exemplo dos antigos em sua busca do veraz, do justo e do bom, do belo, e rechaando seus contrrios: o falso, o injusto, o mal, o grotesco.

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  • Por outro lado, neste lugar a Iniciao deve-se com-preender, no simplesmente como um rito, prtica ou cerimnia, mas como um estado de conscincia que se alcana aps uma esforada peregrinao por um camin-ho de aperfeioamento que se denomina tradicionalmente Sendeiro Inicitico.

    No frontispcio deste grande santurio pansfico pode-se apreciar uma placa de granito onde est inscrita prolixa-mente uma velha mxima latina a modo de advertncia: Procul hinc, procul ite prophani (Longe daqui, distan-ciai-vos profanos!). Esta frase um aviso muito claro diri-gido aos curiosos e queles que no tem o mrito suficiente para ingressar no Templo, que no jargo filosfico recebem o nome de profanos. O caminho da sabedoria est aberto a todos e todos so convidados a trilh-lo, ainda que verda-deiramente nem todos estejam dispostos a percorr-lo. Por esta razo, alguns instrutores espirituais preferiram dedicar suas inspiradas obras aos poucos (1), ou seja, quelas pes-soas valentes que ante o chamado de seu Mestre Interior, chegam a ele e decidem remar contra a corrente.

    Porm, quem so realmente os profanos? Em uma pri-

    meira aproximao e seguindo a etimologia da palavra, po-demos dizer que so aqueles que preferem ficar fora do Templo e que esto sujeitos aparncia puramente exte-rior das coisas. Enquanto que os profanos fundamentam suas vidas na matria, na iluso e na ignorncia, distancia-dos de qualquer pensamento transcendente (o qual incen-tivado pela nossa atual sociedade de consumo), os iniciados

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  • e os discpulos por sua vez vivem em comunho per-manente com o transcendente, convertendo sua profisso, atividade ou ofcio em um sacrifcio (ofcio sagrado). O tema da Ordem Templria Non Nobis, no nobis, Domine Sed nomini tuo da gloriam (Nada para ns, Senhor, nada para ns, mas para a glria de Teu nome) evidncia desta oferenda desinteressada a Deus, prpria daqueles homens despertos que avanaram no Sendeiro.

    Os trs pedreirosEm uma ocasio, um caminhante encontrou-se com um

    grupo de pedreiros, ocupados na construo de um edifcio e quis saber em que obra estavam trabalhando.

    Perguntou ao primeiro obreiro e este lhe respondeu: No vs? Quebro pedra.

    No conformado com a resposta, interrogou ao segun-do alveneiro e este disse com sinceridade: Ganho o meu po.

    Por ltimo, decidiu perguntar ao terceiro trabalhador e este disse com orgulho: Construo uma catedral.

    Como podemos apreciar nesta reveladora estria, o pri-meiro pedreiro no tinha ideia do que estava fazendo, mas o fazia porque assim se o havia ordenado, mesmo sem sa-ber qual seria o resultado final de seu trabalho. O segundo mantinha uma postura egosta e pensava em seu prprio proveito: ganhar dinheiro atravs de seu trabalho. O tercei-ro era um obreiro consciente de seu labor, pois sabia que

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  • com seu granito de areia estava colaborando na construo de algo monumental. Isto importante destacar: o obreiro consciente sabe que transformando sua vida pode transfor-mar o mundo, pois com um aporte mnimo pode mud-lo todo.

    Nosso Programa de estudos foi elaborado para que o estudante obtenha os conhecimentos necessrios a fim de despertar sua conscincia e converter-se em obreiro na construo de algo maior. Por esta razo nossa associao foi chamada Opus Philosophicae Initiationis, pois implica na consolidao de uma Grande Obra (Opus) que no outra coisa que a formao de melhores seres humanos que encontrem o sentido da vida e que colaborem na cons-truo de uma sociedade melhor.

    No h nada de novo no que ensinamos. Nosso intento limita-se a apresentar vinho velho em odres novos, tra-tando de faz-lo da melhor maneira e sendo fiis aos ensina-mentos sagrados que os Mestres de Sabedoria transmitiram humanidade.

    Nas palavras de Erich Fromm: A revoluo de nossos coraes no exige uma sabedoria nova, mas uma seriedade e uma dedicao novas.

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  • O umbral do Templo

    Ao atravessares o umbral do Templo da Pansofia, um verdadeiro osis no deserto de uma sociedade hostil a qual-quer pensamento elevado, ests ingressando verdadeira-mente em outra dimenso, deixando para trs as celerida-des e iluses do mundo profano. No vestbulo deste recinto luminoso, pode-se observar a majestosidade da construo, e se nota que cada detalhe arquitetnico no est colocado ao acaso, mas que corresponde aos padres geomtricos sa-grados. Todas as decoraes, esttuas e fontes simblicas tem um propsito bem claro: enviar sinais a tua conscincia para que despertes de teu letargo.

    Esta transmisso premeditada de conhecimentos me-diante smbolos e signos esotricos, fica evidenciada j no umbral do Templo, onde poders observar quatro coluna-tas corntias que flanqueiam a entrada, duas de cada lado, e em cada uma delas uma inscrio latina, a saber: Scientia (Cincia), Ars (Arte), Civilitas (Poltica) e Religio (Reli-gio).

    Em seu capitel, as colunas foram decoradas com folhas de acanto, uma caracterstica usual desta ordem arquite-tnica clssica. Tais folhas representam as dificuldades e os obstculos do Sendeiro Inicitico e so uma aluso ao triunfo dos discpulos, ainda advertindo que este somente se concretizar mediante o esforo constante e dedicao. Dito de outro modo: o discpulo tem o xito assegurado, mas este xito depende unicamente de sua disciplina e constncia.

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  • As inscries dos quatro pilares fazem referncia ca-racterstica omniabartante da Sabedoria Antiga, pois seu objeto de estudo no se limita a um conhecimento espe-culativo, mas parte essencial da prpria vida e, portanto, nenhuma disciplina, ofcio, profisso ou aspecto vinculado com o ser humano lhe alheio. De acordo com os ensina-mentos clssicos, todo o templo dedicado ao conhecimento transcendente do ser humano deve estar sustentado por es-tes quatro pilares fundamentais: a Cincia, a Arte, a Pol-tica e a Religio, destacando estes quatro aspectos como os conhecimentos da Filosofia Perene. Em algumas ocasies, substitui-se Poltica por Filosofia, ainda que suponha-mos que esta substituio ocasionada pela incapacidade de encontrar na poltica algo transcendente (o qual certo se nos ativermos corrompida poltica contempornea).

    Por outro lado, a separao da Filosofia como uma disciplina separada e independente tambm cremos que um equvoco, j que nenhuma atividade humana pode es-tar divorciada da Filosofia, pois todo fazer humano pode e deve estar impregnado por esta, entendendo-a em sua ace-po arcaica de amor sabedoria e no como um entrete-nimento especulativo para distrair a mente.

    Estas quatro vias, que tentam ser um resumo das ml-tiplas vias de desenvolvimento humano, em ocasies so representadas mediante uma matriz piramidal, na qual se identificam com as quatro faces da pirmide, as quais se mostram bem separadas na base, mas, medida que as-cendemos ao vrtice, as mesmas vo-se aproximando at alcanar a unio na cspide. Deste modo fica explicado,

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  • com um exemplo simples, que a Verdade suprema se pode alcanar por diferentes caminhos, cada um deles adequado a diferentes tipos de homens.

    A coluna Religo, isto : re-ligio, implica em tornar a unir algo que primordialmente foi a mesma coisa. Desde esta perspectiva, a Filosofia Perene fala de um cosmos em miniatura ou microcosmos (o ser humano) que reflexo de um Macrocosmos (a divindade) a qual estava unido origi-nalmente, estabelecendo uma srie de instrues, rituais e tcnicas para re-integrar esse ser finito com o Absoluto. Em todos os casos, o principal objetivo da Religio descobrir nossa verdadeira natureza, que os orientais resumem nesta consigna: Faz-te o que s.

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  • Desde uma perspectiva inicitica, Religio significa REINTEGRAR.

    A coluna Civilitas no se refere poltica inconsciente e corrupta, a que estamos tristemente acostumados, mas a uma nova poltica que deve surgir da conscincia. Assim como o ser humano possui uma natureza e propsito trans-cendente, do mesmo modo a sociedade (que a reunio de homens) tambm deve ser considerada desde uma tica superior.

    Os antigos faziam aluso a uma mtica sociedade pri-mordial (Atlntida, Hiperbrea, etc.) onde cada ofcio e profisso era uma parte de um complexo mosaico que dava forma a uma civilizao integrada e harmnica. Em nos-sos dias, enquanto o ser humano espectador da paulatina desintegrao social e corrupo moral do mundo contem-porneo em torno de uma globalizao avassaladora, as organizaes polticas no tem ideia de como resolver os males do mundo sem renunciar a seus privilgios e a um suposto progresso que alcanou a sociedade de consumo.

    necessria a irrupo neste mundo catico de uma nova poltica que parta da conscincia, que seja autenti-camente revolucionria (no reformista) e que erradique os interesses egostas (econmicos, nacionais, etc.), tendo como objetivo final a reconstruo de um modelo clssico da sociedade onde reinem a justia, a ordem e a paz ente os homens.

    Desde uma perspectiva inicitica Poltica significa RESTAURAR.

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  • A Coluna Scientia baseia-se no conhecimento cientfico das leis universais (no somente fsicas, mas tambm me-tafsicas) e tem como ponto de partida uma nova Cincia, verdadeiramente til ao desenvolvimento da conscincia e absolutamente compatvel com a vida espiritual. O fsico Albert Einstein o declara abertamente: A Cincia sem Re-ligio est coxa; e a Religio sem Cincia, cega.

    Ainda que nossa Cincia contaminada do positivismo seja hostil a qualquer intento de demonstrar as leis e prin-cpios espirituais, paulatinamente apareceram cientistas pioneiros que tem reagido s posturas ateias dos ltimos sculos, propondo atrevidas teorias que servem de ponte entre cincia e a espiritualidade. Sendo assim, cremos que no sculo XXI avanar-se- no redescobrimento dos princ-pios transcendentes que conheciam os cientistas da antigui-dade e que hoje so ignorados totalmente pelos cientistas materialistas.

    Desde uma perspectiva inicitica, Cincia significa REDESCOBRIR.

    A coluna Ars alude a um conhecimento superior atra-vs da beleza, a concretizao criativa dos arqutipos e da natureza da Alma espiritual, que se manifesta em oposio arte profana, fundamentada nas baixas emoes e no caos da mente de desejos. O divino Plato manifestava que a contemplao do belo pe-nos em contato com nossa be-leza interior, a qual est ligada a nossa chispa divina, ou seja, nossa natureza transcendente. Por esta razo a arte sa-grada (2) fundamenta-se na representao fsica de concei-tos metafsicos vinculados ao bom, ao verdadeiro, ao justo,

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  • instando-nos a ser melhores e ajudando-nos a despertar a conscincia.

    Desde uma perspectiva inicitica, Arte significa CONTEMPLAR (olhar longe ou ver alm).

    O problema principal da Cincia, da Arte, da Religio e da Poltica em sua representao moderna radica em seu profundo desconhecimento da natureza humana. Enquan-to que o cientista materialista pretende convencer-nos de que somos uma espcie de mquina orgnica que se move por impulsos eletroqumicos, o religioso costuma perder-se em teorias, argumentaes incoerentes e discusses teo-lgicas estries que nada contribuem ao desenvolvimento interno e ao trabalho cotidiano no aqui e agora. Por sua vez, enquanto o artista ignorar sua funo de pontfice da beleza, ou seja, uma ponte entre a harmonia universal e a conscincia humana, sua arte continuar sendo insig-nificante. Do mesmo modo, o poltico que no tenha em mente a constituio de uma sociedade nova e arquetpica, baseada em valores ticos atemporais e ensinamentos tra-dicionais, em torno da Justia, ter de se contentar com seguir mantendo um sistema cada vez mais insustentvel.

    Deste modo, antes de entrar no Templo da Pansofia, deves entender que se pode alcanar a transcendncia atra-vs de mltiplas vias, sempre e quando possamos conectar-nos conscientemente com a essncia de cada uma delas, atentando s concepes tradicionais de Cincia, de Arte, de Religio e de Poltica, e no s verses deterioradas que conhecemos as que lamentavelmente nos acostumamos.

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  • De certa forma, a Cincia, a Arte, a Religio e a Poltica so uma sntese de muitas outra disciplinas que concernem ao ser humano e, ento, desde uma perspectiva tradicio-nal qualquer delas pode ser veculo de conscincia, o que tambm pode aplicar-se ao mais humilde dos ofcios. Um mundo novo e melhor necessita de seres humanos novos e melhores em todos os mbitos que pratiquem desde a conscincia ofcios e profisses acordes a essa nova socie-dade.

    Tendo em conta estas ideias preliminares, que formam parte de ensinamentos capitais da Filosofia Perene, podes lanar um ltimo olhar ao vestbulo deste Templo sagrado e, quando estejas pronto, ascender os nove degraus que te separam da sala preliminar.

    Resumo do umbral

    * A Verdade e a autorrealizao individual podem ser alcanadas por diferentes caminhos, cada um deles adequa-do aos diferentes tipos de homens.

    * A Cincia, a Arte, a Poltica e a Religio so um resu-mo das mltiplas vias de desenvolvimento humano.

    * Devemos interpretar a Cincia, a Arte, a Religio e a Poltica de acordo s pautas tradicionais e com um objeti-vo comum, deixando de lado verses deterioradas contem-porneas.

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  • A Sala Preliminar(Primero aposento)

    Se o gro de trigo cai na terra e morre, fica s. Mas, se morre, produz muito fruto. (Joo 12:24)

    A sorte est lanada

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  • Ao subir o ltimo degrau da escada do vestbulo, deve-rs ter em conta que ests a ponto de dar o primeiro passo, talvez o mais importante, o primeiro de muitos nesta senda fascinante da Sabedoria Primordial, repleta de desafios e aventuras. Ao abrir a pesada porta de dobradias estriden-tes, entrars em um aposento obscuro e mido, ilumina-do debilmente por uma nica vela, onde poders observar uma impactante lousa acinzentada com a inscrio gravada: Alea jacta Est (A sorte est lanada), um convite a que reflitas sobre o importante passo que te atreveste a dar. Na placa tambm aparece desenhado um corvo negro e uma caveira, que certamente no destoam com o ambiente l-gubre deste lugar. Nele, tudo nos recorda que uma parte de ns tem que ser sacrificada e morrer, para que em nosso interior nasa algo melhor. Para que a planta nasa e cresa, deve morrer a semente.

    Se deste o primeiro passo, motivado por simples cu-riosidade ou af por conhecimentos exticos, talvez seja melhor que voltes atrs, porque o caminho inicitico no para os tbios, nem para aqueles que buscam incorporar elementos fantasiosos a uma vida montona e sem desafios. Esta senda de aperfeioamento tampouco um passatem-po nem uma moda, pois implica uma mudana radical de tua vida, a aniquilao do velho eu para que nasa um novo ser. Resumindo: para avanar, deves estar seriamente disposto a mudar tua existncia, ter pureza de intenes e comprometer-te seriamente contigo mesmo.

    O primeiro passo para comear a transitar o sendeiro da Pansofia consiste em tomar conscincia de nossa situao

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  • atual, de nosso distanciamento da essncia divina e de nos-sa necessidade de encontrar um conhecimento filosfico vivencial, que d respostas s nossas perguntas, outorgan-do-nos ferramentas poderosas para trabalhar interiormen-te. Isto significa que neste primeiro aposento devemos dar-nos conta de que a sociedade dessacralizada costuma arrastar-nos a uma situao insustentvel, fazendo-nos es-quecer de nossa verdadeira natureza, pelo que se faz im-periosamente necessrio encontrar um mtodo de treina-mento interior confivel, que nos libere desta iluso e que revolucione nossa conscincia.

    Os homens que chegam a este ponto crucial do sendei-ro e desejam mudar, geralmente adotam uma destas trs posturas:

    a) O valente: aquele indivduo que decide sem va-cilar dar uma mudana radical em sua existncia, anali-sando e modificando seus comportamentos viciosos para poder transitar autorrealizao.

    Esta opo implica muito sacrifcio, dedicao e trabal-ho, mas com um mtodo gradual e ordenado, inspirado nos ensinamentos primordiais, o xito est assegurado.

    b) O covarde: aquele indivduo que mesmo sabendo que deve mudar no move um dedo para sair de sua tris-te situao. Os covardes e timoratos que anelam mudar sem mudar, querem obter resultados diferentes fazendo o mesmo de sempre, e vo passando de organizao em or-ganizao, de igreja em igreja, de seita a seita, sem praticar nem interiorizar nenhum dos ensinamentos que se lhes d.

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  • Muitas vezes, estas pessoas convencidas da validade do Sendeiro Inicitico mas sem fora de vontade para trilh-lo baixam os braos e se resignam a continuar vivendo da mesma maneira de sempre, ainda que adotando uma postura espiritualista, enchendo sua casa de objetos ms-ticos, praticando alguns exerccios isolados sem uma me-todologia apropriada e inclusive, usando palavras exticas, conformando deste modo uma espcie de mscara espi-ritual que ao carecer de uma base slida desfaz-se com muita facilidade. O covarde tem um grande problema: no tem a constncia necessria para passar da teoria prtica.

    c) O indiferente: aquele indivduo que sabe que deve modificar profundamente sua vida, mas que perante di-ficuldades do sendeiro prefere optar pela comodidade burguesa que lhe oferece a sociedade de consumo. Entre a aventura e o sof, o indiferente elege o conforto do sof.

    Em ocasies, estas pessoas vo a conferncias, cursos e aulas sobre temas espirituais, mas quando chega o mo-mento de comprometer-se, retornam s suas casas, pegam o controle remoto da televiso e se esquecem do tema.

    O indiferente no s no tem constncia e vontade para passar da teoria prtica, mas que engana a si mesmo, cren-do que somente a leitura de livros esotricos e espirituais pode ajud-lo magicamente a avanar no sendeiro. Deste modo, o indiferente pode saber muitssimo sobre filosofia esotrica e converter-se em um erudito, mas sua vida no tem diferena significativa em relao ao homem profano que ignora tudo.

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  • O futuro tem muitos nomes:

    Para o dbil o inalcanvel.

    Para o medroso, o desconhecido.

    Para o valente, a oportunidade.

    (Victor Hugo)

    Digamo-lo claramente: a mudana de vida que prope a Filosofia Perene radical (do latim radix, ir raiz) e por isso os Mestres sempre insistiram em que o caminho no para os tbios. Abandona tua vida se queres viver, diziam os antigos tibetanos e isso justamente o que significa este primeiro passo: Morrer.

    Assim, pois, modificar desde a raiz a nossa existncia im-plica matar o homem velho (palaios anthropos) para que nasa o homem novo (neos anthropos) em consonncia com o antigo chamado bblico: Despojai-vos do homem velho, que est viciado conforme as concupiscncias enga-nosas (...) e revesti-vos do homem novo. (Efsios 4:24-22)

    Esta morte mstica est demarcada por uma conver-so ou ruptura de nvel (tal como chama Mircea Eliade), uma ruptura com a vida ordinria e profana para ingressar numa nova existncia regida por princpios transcendentes e por uma comunho ntima com a divindade. Esta ruptura s vezes chamada metanoia (meta, alm e nia, pen-

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  • samento) e alude a um salto qualitativo em nossa forma de ser. A metanoia um marco em nossa vida, por isso deve ser radical, um ponto de reflexo, pois a partir desse momento nossa forma de observar e interpretar o mundo no seguir sendo a de antes.

    Esta ruptura necessariamente tem tambm como consequncia uma modificao de nossos hbitos e uma transformao de nossa conduta, o que significa que pe-rante os mesmos estmulos externos nossa reao dever ser diferente. Obviamente, esta metanoia ou ruptura simplesmente um primeiro passo j que para poder atuar com total coerncia com estes ideais elevados, deveremos realizar um rduo trabalho de purificao interna, como veremos adiante.

    Metanoia no significa reformar ou fazer peque-nos ajustes, nem tampouco arrepender-nos (3), mas revo-lucionar nossa existncia e tornarmo-nos mais conscientes.

    Este abandono do mundo no implica, necessaria-mente, isolar-se da sociedade mas adotar uma nova pers-pectiva, o qual se traduz em um dos primeiros desafios do nefito: IMITAR AS SALAMANDAS, esses seres elemen-tais lendrios que conseguiam viver no fogo sem ser afeta-dos pelas chamas.

    muito possvel que os aspirantes sejam arrasta-dos vrias vezes por suas velhas amizades e a seus velhos vcios, mas se isto segue ocorrendo durante muitos anos de forma reiterada, seria bom perguntar-se seriamente se h uma disposio real a mudar ou se pelo contrrio elegeu

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  • inconscientemente a postura cmoda e sem compromissos do covarde, aquele que carece de constncia e vontade ne-cessria para avanar a passos firmes pelo grande sendeiro.

    Resumo da Sala Preliminar

    * Uma mudana autntica e consciente implica em sa-crifcio. Para que a planta nasa e cresa, deve morrer a semente.

    * Para que nasa o homem novo (neos anthropos) deve morrer o homem velho (palaios anthropos).

    * A mudana de vida que prope a Filosofia Perene radical, uma verdadeira revoluo de nossa existncia e uma ruptura com nosso estilo de vida anterior.

    * O Sendeiro Inicitico no implica isolamento nem abandono da sociedade. Por isso se pede ao nefito que seja como as salamandras, ou seja, que viva no fogo sem queimar-se.

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  • Comea a viver teus ideaisEpicteto

    Chegou o momento de que leves a srio viver teus ideais. Uma vez que tenhas determinado os princpios espirituais que queres seguir, acata essas regras como se fossem leis, como se de fato fosse pecaminoso no cumpri-las.

    No deve importar-te que os demais no compartilhem tuas convices. Quanto mais tempo vais ser capaz de adiar o que realmente queres ser? Teu eu mais nobre no pode seguir esperando.

    Pe em prtica teus princpios, agora. Basta de desculpas e dilaes. Esta tua vida! J no s criana. Quanto an-tes empreendas teu programa espiritual, mais feliz sers. Quanto mais esperares, mais vulnervel sers perante a me-diocridade e te sentirs cheio de vergonha e arrependimen-to, porque sabes que s capaz de mais.

    A partir de agora, promete que deixars de enganar-te a ti mesmo. Separa-te da multido. Decide ser extraordinrio e faz o que tenhas que fazer. Agora. (4)

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  • Conto: Os pocinhos e o poo

    H muitas classes de promiscuidade e uma delas a es-piritual. Era um discpulo que sempre estava experimenta-do com umas e outras vias de liberao, com umas e outras tcnicas de evoluo espiritual. Assim levava anos: tateando e tateando. O mestre j lhe havia dito:

    Necessitarias cem vidas para provar todas as vias e m-todos e tcnicas. Seleciona um pouco mais e aprofunda.

    Mas cedia a sua tendncia promscua de mudar de sis-tema espiritual, de doutrina e de mtodo. Qui ningum conhecia tantos mtodos como ele, mas sua mente apenas se havia modificado. Um dia, ele mesmo se deu conta de que no havia evoludo praticamente nada. Lamentou-se ante o mestre:

    Estou triste. Quo pouco avancei!

    Ento o mestre sentiu que pela primeira vez podia re-mover seus fossilizados parmetros mentais e lhe disse:

    Amigo meu, foste um nscio. Agora posso te dizer, porque parece que comeas a entender porque no com-preendias. Sabes como procedeste? Como a pessoa que quer encontrar gua e comea a fazer pocinhos e mais pocinhos, mas de to escassa profundidade que no pode encontrar gua. Porm, se esse esforo tivesse sido feito em fazer um s poo, haverias achado muita gua. Vejamos agora se te corriges e fazes um poo que valha a pena. (5)

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  • A Sala do Sonho

    (Segundo aposento)

    Nosso grau ordinrio de conscincia algo comparvel a um estado de sonho, e toda nossa vida, toda nossa carrei-ra, profisso, todas as nossas aes, pensamentos etc., so como sonhos. Vivemos em uma espcie de sonho do qual no possvel despertar. E, preciso que advirtamos nova-mente neste ponto, o despertar deste sonho est conectado a outro sentido do tempo. (Maurice Nicoll)

    A vida sonho

  • Aps abandonar a sala preliminar, encontrars um lar-go corredor que te conduzir at uma porta de madeira rstica. Ao abri-la, aparecer perante teus olhos a Sala do Sonho, iluminada tenuemente por nove velas distribudas em trs candelabros de trs braos. No centro do quarto destaca-se uma cama que te convida ao descanso e junto a ela, um grande espelho que mostra nossa imagem defor-mada. Em uma das paredes, uma lousa simblica destaca a mxima latina: Vitae Somno Est (A Vida Sonho).

    A vida sonho! Sob a sugestiva placa onde est desen-hado um galo em uma escada de cinco degraus, encontra-rs um velho pergaminho onde se reproduziram os versos imortais de Caldern de La Barca:

    Eu sonho que estou aqui,

    Destas prises carregado;

    E sonhei que em outro estado

    Mas lisonjeiro me vi.

    Que a vida? Um frenesi.

    Que a vida? Uma iluso,

    Uma sombra, uma fico,

    E um maior bem pequeno;

    Que toda a vida sonho,

    E os sonhos, sonhos so.

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  • A Filosofia Perene repete uma e outra vez que os homens esto adormecidos ou melhor dito que sua conscincia est profundamente adormecida e por isso no pode desco-brir a realidade. O primeiro ponto a ter em conta sobre esta realidade conhecer a forma que temos os seres humanos para conhec-la e interpret-la.

    O processo de recepo das impresses externas se cha-ma sensao, e consiste em detectar estmulos do meio ambiente para codific-los em sinais do tipo nervoso que chegam ao crebro, o qual atua como ponte entre o corpo fsico e os veculos sutis.

    A sensao procede dos rgos de nossos cinco sentidos, os quais detectam diferentes tipos de estmulos. A seleo, organizao e interpretao dessas sensaes em base ex-perincia e as recordaes se chama percepo.

    Todavia, os sentidos no so uma fonte totalmente fivel de conhecimento, j que estes so limitados e no captam uma enorme gama de cores, sabores e sons que podem captar outros seres vivos. A serpente cascavel por exemplo pode ver calor infravermelho na obscuridade e tambm conhecida a capacidade dos ces para escutar sons inaudveis aos nossos ouvidos.

    Que quer dizer isto? Que a percepo no a realida-de, mas uma concluso a que chegamos atentando a nossos rgos sensoriais. Deste modo, uma mente ingnua pode chegar a crer que as sensaes que recebe atravs de seus rgos so a nica realidade, o qual uma iluso e uma falcia que os materialistas empenham-se em perpetuar. A

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  • isto se refere a Sabedoria Arcaica quando fala do mundo da iluso.

    Nas palavras de Plutarco: Nossos sentidos, que igno-ram a Realidade, dizem-nos falsamente que o que parece ser, . (6)

    Como advertimos, a principal funo da mente in-terpretar as sensaes provenientes do meio circundante e convert-las em percepes, as quais so combinadas e ar-mazenadas em nossa memria. Deste modo, a memria nos ajuda identificar objetos e circunstncias, as quais tingidas pelo desejo se convertem em desejveis (atrao), indis-pensveis (repulso) ou neutras.

    A confuso entre a realidade e a iluso foi relatada por Plato faz milhares de anos em sua importante obra A Re-pblica na qual nos apresenta a alegoria da caverna:

    Imagine umas pessoas que habitam numa caverna sub-terrnea. Esto sentadas de costas para a entrada, atadas pelos ps e pelas mos, de modo que s podem olhar para a parede da caverna. Detrs delas, h um muro alto, e por detrs do muro caminham uns seres que se assemelham s pessoas.

    Levam diversas figuras sobre a borda do muro. Detrs destas figuras, arde uma fogueira, pelo que desenham-se sombras flamejantes contra a parede da caverna. Unica-mente podem ver esses habitantes da caverna , portanto, esse teatro de sombras.

    Estiveram sentados na mesma postura desde que nas-

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  • ceram, e creem por isso, que as sombras so a nica reali-dade que existe.

    Imagine agora que um dos habitantes da caverna co-mea a perguntar-se de onde vem todas essas sombras da parede da caverna e, por conseguinte, consegue soltar-se. Que crs que ocorre quando se volta s figuras que so sus-tentadas por detrs do muro?

    Evidentemente, o primeiro que ocorrer que a fonte de luz lhe cegar. Tambm lhe cegaro as figuras ntidas, j que, at esse momento, s havia visto as sombras das mesmas. Se conseguisse atravessar o muro e o fogo, e sair natureza, fora da caverna, a luz lhe cegaria ainda mais. Mas, depois de haver-se adaptado os olhos, haver-se-ia dado con-ta da beleza de tudo. Pela primeira vez, veria cores e silhue-tas ntidas, veria verdadeiros animais e flores, dos quais as figuras da caverna s eram ms cpias. Porm, tambm se perguntaria a si mesmo de onde vm todos os animais e as flores.

    Ento veria o sol no cu, e compreenderia que o sol o que d a vida s flores e animais da natureza, da mesma maneira que poderia ver as sombras na caverna graas fogueira.

    Agora, o feliz morador da caverna poderia ter ido co-rrendo natureza, celebrando sua liberdade recm-con-quistada. Mas, recorda-se dos que ficam abaixo, na caverna. Por isso volta a descer. De novo em baixo, tenta convencer aos demais moradores da caverna que as imagens da parede so s cpias cintilantes das coisas reais. Mas ningum lhe

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  • acredita. Apontam para a parede da caverna dizendo que o que ali veem tudo o que h. (7)

    Esta histria (que tem seu equivalente cinematogrfico em Matrix) afim afirmao dos Mestres de Sabedo-ria que asseguram que a maioria dos seres humanos ain-da crendo que estejam despertos vivem suas vidas em um estado que se assemelha ao sonho. Mas, que o que est adormecido? A conscincia. E para despertar dessa letar-gia caverncola necessrio em primeiro lugar ser cons-cientes de nossa sonolncia. No obstante, o despertar da conscincia costuma ter vrias etapas, que tem sua co-rrespondncia nos diferentes graus ou etapas do Sendeiro Inicitico.

    No degrau mais baixo podemos localizar o vulgo pro-fano, ou seja, aquelas pessoas que esto adormecidas e que no lhes interessa que as despertem de seu sonho descar-tando de todo qualquer pensamento elevado que implique certa transcendncia. Os indivduos que integram o vulgo profano normalmente no so ms pessoas, mas vivem na ignorncia da inconscincia do sonho. Inclusive podem al-canar certo grau de felicidade ao observarem as sombras nas paredes da caverna, mas esta felicidade ilusria, fruto da ignorncia. Estas pessoas costumam manter-se mar-gem de qualquer conhecimento espiritual porque seu inte-resse centra-se em comer, entreter-se, reproduzir-se, trabal-har e descansar. E em nossa sociedade moderna, consumir, consumir e consumir.

    Quando um ser humano no se contenta com a superfi-cialidade reinante no mundo e comea a buscar respostas

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  • a suas perguntas existenciais, converte-se em um busca-dor. Mesmo que na maioria das vezes no saiba exatamen-te o que que busca, o buscador sente um chamado interno que o impulsiona ao e a emacipar-se do vulgo profano. Estes indivduos, ainda que sigam sendo profanos, conse-guem sentir uma inquietude que, bem canalizada, pode lev-los diretamente a uma vida superior.

    Quando os buscadores encontram algo que os satis-faa e que responda a algumas de suas interrogaes, deixam de buscar e aderem a um ideal que preenche (ao menos momentaneamente) seu vazio. Muitas vezes, estas pessoas passam a formar parte de uma organizao, fraternidade ou sociedade, convertendo-se em idealistas. Estes ideais no necessariamente so de natureza espiritual, mas de toda forma implicam em um avano com respeito indiferena da maioria. Alguns idealistas chegam a perceber que mes-mo sendo a atividade que desenvolvem seja benfica para eles e para outras pessoas tem que existir algo mais que ainda no encontraram e cedo ou tarde tornam a sen-tir uma necessidade de seguir buscando para preencher essa necessidade interna. Como norma geral, uma neces-sidade de seguir buscando para preencher essa necessidade interna. Como norma geral, a maior parte das atividades dos idealistas esto voltadas para fora, mas quando estes descobrem que o sendeiro verdadeira felicidade para dentro passam a converter-se em verdadeiros aspirantes ou nefitos atravs de uma escola, ordem ou simplesmente em comunho com se Eu interno.

    Os aspirantes so aquelas pessoas que se encontram no

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  • incio do caminho, no pronaos do Templo, e que recebem as primeiras impresses sobre a senda espiritual. Mesmo sendo conscientes de que o caminho lhes trar muitas sa-tisfaes, tambm sabem que devero renunciar a muitas coisas efmeras que do uma ilusria satisfao em seu co-tidiano mundano.

    Quando os aspirantes decidem-se finalmente a dar o primeiro passo e avanar com segurana no Sendeiro, de-vem passar por um perodo de prova chamado provacio-nismo. Os provacionistas encontram-se a meio caminho entre o aspirantado e o discipulado. Esto comprometidos com o Sendeiro e iniciaram tarefas de purificao pessoal mediante uma ascese que j os diferencia dos profanos.

    A ascese (no Oriente sdhana) um mtodo pro-gressivo de aperfeioamento interno que consta de diver-sos exerccios introspectivos, assim como provas e desafios pessoais que devem superar antes de alcanar a iluminao.

    Ainda que os provacionistas ainda no sejam estrita-mente discpulos aceitos ou iniciados, de todo modo devero passar por certas provas iniciticas (fsicas, vitais, emocionais, mentais e espirituais) relacionadas simbolica-mente com os cinco elementos a fim de se prepararem para o caminho discipular que se transitar mais adiante.

    Aps passar por cinco iniciaes simblicas (Terra-gua-Ar-Fogo-ter), que so cinco escales de purificao interna e que aparecem de uma ou outra forma em todas as escolas esotricas, os provacionistas transcendem final-mente sua condio e se convertem em discpulos aceitos,

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  • encontrando-se em condies timas para alcanar as cinco iniciaes maiores. importante diferenciar as iniciaes menores (simblicas e que esto presentes em diversas or-dens e fraternidades tradicionais) das Iniciaes Maiores (internas, da Alma espiritual). As primeiras correspondem Arte Real (Mistrios Menores) e as segundas Arte Sacerdotal (Mistrios Maiores), como estudaremos em outros volumes desta coleo.

    O caminho inicitico culmina no Adeptado, quando o peregrino espiritual logrou despertar, alcanando a Mestria, simbolizada no Tarot pelo arcano do Eremita, o ancio s-bio que guia com seu farol os intrpidos caminhantes que se aventuram a ascender as montanhas.

    As religies e os cultos exotricos geralmente capacitam a seus membros para o aspirantado e em contadas ocasies para o provacionismo. As escolas filosficas e as socieda-des espiritualistas, por sua vez, tentam guiar o aspirante ao provacionismo, enquanto que as Escolas de Mistrios Me-nores prope um sistema de trabalho inicitico baseado na purificao interna a fim de guiar os provacionistas porta do discipulado. Por fim, as Escolas de Mistrios Maiores encarregam-se de dar aos discpulos ferramentas necessrias para alcanar o Adeptado.

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  • Resumo da Sala do Sonho

    * A sensao consiste em detectar estmulos do meio ambiente para codific-los em sinais que chegam ao cre-bro. A seleo, organizao e interpretao dessas sensaes chama-se percepo.

    * Os sentidos tem limites e no so uma fonte confivel de conhecimento.

    * O caminho inicitico tem vrias etapas relacionadas com diferentes estados de conscincia que vo desde o vul-go profano ao Adeptado.

    * A ascese um mtodo progressivo de aperfeioamento interno que consta de diversos exerccios, provas e desafios pessoais.

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  • As coisas que no te correspondemEpicteto

    O progresso espiritual exige-nos dar ateno ao essen-cial e fazer caso omisso de todo o resto, j que s se trata de trivialidades que no merecem nossa ateno. Ademais, em verdade bom que nos considerem estpidos e ingnuos em relao aos os assuntos que no nos correspondem. No te preocupes com a impresso que causes nos demais. Esto deslumbrados e enganados pelas aparncias. S fiel a teu objetivo. Assim reforars a tua vontade e dars coerncia tua vida.

    Abstm-te de tentar granjear a aprovao e a admirao dos demais. Teu caminho vai para cima. No desejes que te considerem sofisticado, nico ou sbio. De fato, deves recear quando os demais te vejam como algum especial. Pe-te em guarda contra a presuno e a vaidade.

    Manter a vontade em harmonia com a verdade e preocupar-se com o que escapa ao prprio controle so aes que se excluem mutuamente. Quando estiveres ab-sorto em uma, descuidars da outra. (8)

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  • Conto: at quando adormecido?

    Era um povoado da ndia prximo de uma rota prin-cipal de comerciantes e viajantes. Costumava passar muita gente pela localidade. Mas o povo se havia tornado clebre pelo acontecimento inslito: havia um homem que esta-va ininterruptamente adormecido mais de um quarto de sculo. Ningum conhecia a razo. Que estranho aconte-cimento! As pessoas passavam pelo povoado e sempre se detinha para contemplar o adormecido.

    Mas, a que se deve este fenmeno? perguntavam-se os visitantes. Nas cercanias da localidade vivia um eremita. Era um homem insocivel, que passava o dia em profunda contemplao e no queria ser molestado. Porm, havia ad-quirido a fama de saber ler os pensamentos alheios.

    O prprio alcaide foi visit-lo e lhe pediu que fosse ver o adormecido para ver se lograva saber a causa de to longo e profundo sono. O eremita era um nobre e, apesar de sua aparente velhice, prestou-se a tratar de colaborar com o es-clarecimento do fato. Foi ao povoado e se sentou junto ao adormecido. Concentrou-se profundamente e comeou a conduzir sua mente s regies clarividentes da conscincia. Introduziu sua energia mental no crebro do adormecido e se conectou com ele. Minutos depois, o eremita voltava a seu estado ordinrio de conscincia. Todo o povoado se havia reunido para escut-lo. Com voz pausada, explicou:

    Amigos. Cheguei, sim, at a concavidade central do crebro deste homem que est dormindo h mais de um

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  • quarto de sculo. Tambm penetrei no tabernculo de seu corao. Busquei a causa. E, para vossa satisfao, devo di-zer-lhes que a encontrei. Este homem sonha continuamen-te que est desperto e, portanto, no se prope a despertar. (9)

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  • No sendeiro Inicitico o discpulo ter que enfrentar-se com quatro drages: o basi-lisco (terra), a serpente escamosa (gua), o drago alado (ar) e a besta de fogo (fogo). Simbolicamente deve mat-los e como Sigfrido banhar-se com seu sangue para ad-quirir o domnio de cada elemento, convertendo-se finalmente no Mestre dos Quatro Elementos.

    Na tradio oriental do Mahabhrata, a guerra interior representada pelo campo de batalha de Kurukshetra, onde Krishna instrui a seu discpulo Arjna.

  • A Sala do Oriente e do Ocidente(Terceiro aposento)

    No mundo abundam as distintas religies, cada uma diri-gida a diferentes pessoas e pocas. A palavra religio deri-va de um termo latino, cujo significado radical re-unir. Deste modo, as diferentes religies re-unem, de diversas formas, seus seguidores com a fonte nica de vida, como queira que a chamamemos: o Absoluto, Deus, a Realidade Divina, ou nomes similares. (John Algeo)

    Reunir o disperso

  • Ao ingressar no seguinte aposento do santurio pans-fico, encontrars uma nova placa de pedra onde se encon-tra inscrito o antigo axioma Ad dissipata coligenda, isto : reunir o disperso. Uma guia bicfala preside a cena, enquanto que o deus romano Jano mostra suas duas faces, dois aspectos de uma mesma realidade.

    Nas culturas primordiais, reunidas em torno ao centro sagrado, toda disciplina, todo ofcio, toda a ativida-de humana se manifestava como uma imitao das condu-tas divinas. Dito de outro modo, nas sociedades mticas de tempos pretritos, todos os homens desempenhavam pa-pis sociais complementares de acordo com suas aptides, sentindo-se parte de um todo integral harmnico, o qual dava um sentido transcendente s suas vidas. O ser huma-no, ao distanciar-se progressivamente desse centro pri-mordial foi esquecendo-se de sua origem sagrada e se foi enterrando cada vez mais no materialismo, dispersando-se e estabelecendo barreiras que lhe foram distanciando desse ncleo espiritual.

    Enquanto a humanidade protagonizava esse distan-ciamento que em linguagem judaico-crist denomina-se queda um conjunto de homens sbios tratou de manter viva a chama da sabedoria tradicional, um conhecimento ancestral e profundo, uma Filosofia Perene e atemporal: uma Pansofia.

    Segundo a tradio esotrica, existe uma Doutrina-Me, uma cincia sagrada primordial, conhecida tambm como Brahma Vidya, Gnosis, Filosofia Perene ou Teosofia, que remonta suas origens a estes tempos primordiais ime-

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  • moriais em que o homem e a mulher estava em comunho com os deuses. Esta cincia inicitica tradicional, que se apresentou de diferentes maneiras aos seres humanos de-pendendo do momento histrico e cultural, possui as cha-ves necessrias para que o homem desperte de sua letargia, tome conscincia de seu exlio e descida, de uma vez por todas, regressar ao ponto de origem e re-integrar-se.

    A Doutrina-Me reconcilia todas as diferenas apa-rentes entre as diversas religies e filosofias, encontrando A Unidade na Diversidade. Sendo assim, e entendendo que existe uma cincia arcana e primordial, podemos com-preender tambm que os grandes Mestres da humanidade, desde Buddha a Cristo, passando por Krishna, Maom, Quetzalcoatl, Zoroatro, Orfeu, Shankara, Guru Nanak, Bahaullah ou Lao-ts, foram os mensageiros dos ensina-mentos tradicionais da Sabedoria Antiga, adequando-as s diferentes culturas e perodos histricos.

    Ao enfrentar-se com uma doutrina espiritual tra-dicional, o estudante deve considerar que a mesma sempre possui dois aspectos que so inseparveis e que aparecem como opostos e, por sua vez, complementares. Estes dois aspectos recebem o nome de exotrico e esotrico.

    O esotrico interno, invisvel e essencial, enquan-to que o exotrico externo, visvel e superficial, por isso se diz que o verdadeiro filsofo sabe ver alm do eviden-te, transpassando a barreira ilusria da casca. Se lograrmos educar a aperfeioar esta viso profunda dos smbolos, das cerimnias e dos ensinamentos, estaremos bebendo di-

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  • retamente da fonte e compreenderemos a essncia e o sen-tido profundo das mesmas.

    O esotrico d validade e sentido ao exterior e vis-vel. Uma cerimnia religiosa onde o oficiante e os partici-pantes desconhecem o valor interno da mesma poder ser esteticamente muito vistosa e inclusive emocionante, mas no fundo no deixar de ser uma pardia intranscendente, um espetculo oco para homens adormecidos.

    Se queres o tutano, deves romper a casca. (Eckhart)

    Enquanto que o exotrico pode mudar dependendo do lugar e do momento, o esotrico permanece imutvel. En-quanto que o ensinamento primordial da Filosofia Perene muito antigo e se mantm sem alteraes, a apresentao do mesmo se adapta de variadas formas s diversas culturas e perodos de tempo. Por esta razo, mesmo que os smbo-los tenham muitssimas formas de apresentao, o conte-do tem a mesma base e sempre nos leva unidade.

    Federico Gonzlez diz que enquanto o exotrico nos mostra o mltiplo e cambiante, o esotrico nos leva ao nico e imutvel (10), enquanto que Fritjof Schuon afir-ma que o esoterismo no v as coisas tal e como aparecem segundo uma certa perspectiva, mas tal e como so: ele se importa com o que essencial e, portanto, invarivel sob o vu das diversas formulaes religiosas, uma vez que toma

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  • necessariamente seu ponto de partida em uma determinada formulao. (11)

    Ento, devemos considerar o esoterismo como um a pedra de toque que reconcilia os opostos supostamente incompatveis, semelhante vara com que Apolo presen-teou ao deus Mercrio (o caduceu), que tinha o maravilho-so poder de por fim a todas as disputas.

    Em nossos dias podemos ter acesso, com certa faci-lidade, a milhares de documentos esotricos e pseudo-esotricos, todavia ainda na sobredose informativa mo-derna a Sabedoria Arcaica permanece oculta queles que no sabem ver alm do evidente e que no so dignos de trilhar o Sendeiro, j que um estilo de vida incompatvel com o Sendeiro Inicitico lhes impossibilita de qualquer avano.

    No passado, e desde uma perspectiva eurocntrica, o mundo costumava ser didivido em tuas metades: Oriente e Ocidente. Enquanto que os romanos saudavam o sol com a clssica expresso Ex Oriente Lux, iniciando a tradio pela qual A Luz vem do Oriente, os cristos primitivos interpretaram esta mesma ideia focalizando-se na origem oriental de Cristo, orientando-se Jerusalm para rezar. (12)

    Esta origem conceitual de duas vertentes do eso-terismo: um ocidental e outro oriental, representados por Cristo (o ungido), que representa o arqutipo espiritual do Ocidente e por Buddha (o iluminado), que simboliza o arqutipo espiritual oriental. Ambos os mestres so a as-

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  • pirao mxima, o modelo a seguir e desde uma perspec-tiva interna representam o mesmo.

    O mesmo conceito transmitido atravs do simbolis-mo, onde se estabelece uma correspondncia da rosa e do ltus com o sendeiro crstico e bddhico respectivamente:

    O ltus oriental uma planta que finca suas razes no lodo, na obscuridade do lago, mas abre caminho e se des-envolve at a luz, ascendendo superfcie da gua e abrindo suas formosas ptalas ao sol.

    Este processo representa o sendeiro espiritual, ou seja, a pureza que surge dentre a imundcie, desde a matria mais grosseira luz mais excelsa.

    Deste modo, o homem com uma existncia material e incorruptvel, pode imitar o ltus e elevar-se transcen-dncia. Nas antigas escrituras da ndia expressava-se esta ideia com a orao: Da obscuridade, conduze-me luz. Da morte, levai-me imortalidade. (13)

    A Rosa ocidental tambm se apresenta como uma ale-goria do caminho espiritual, com um talo longo coberto de espinhos (smbolo das dificuldades do sendeiro) at lograr uma magnfica flor vermelha, que abre suas ptalas luz. Tanto os espinhos como a cor vermelha aludem ao sacrif-cio e ao sangue, relacionados com o Cristo.

    Os aspirantes e discpulos que seguem as sendas de Cristo ou de Buddha so conscientes de que a nica for-ma de alcanar a transcendncia sintonizando-se com o arqutipo divino, fazendo-se uno com ele, isto : fazendo

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  • nascer o Mestre em seu prprio corao. Esta sintonia se logra atravs do trabalho interior, construindo uma pon-te simblica com duas vias complementares de conexo: a Meditao e a Orao.

    Enquanto que atravs da Meditao ns calamos e Deus nos fala, na Orao, pelo contrrio, Deus cala e ns falamos.

    Certamente, utilizando estas vias podemos entrar em comunicao direta com nosso Mestre, e as duas so efetivas se se realizam de forma consciente e em silncio. Neste sentido vale a pena esclarecer que orar no digni-fica pedir e que meditar no significa evadir-nos da realidade.

    Estas duas vias (a orao e a meditao) so medu-lares em todas as tradies espirituais e se complementam com uma terceira: o estudo dos textos sagrados. Neste sen-tido, temos que:

    Deus fala-nos mediante a MEDITAO

    Deus escuta-nos mediante a ORAO

    Deus escreve-nos mediante seus TEXTOS SAGRADOS

    Se Jesus nascesse mil vezes em Belm, mas no nascer em teu corao, de nada te servir. (Angelus Silesius)

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  • Resumo da Sala do Oriente e Ocidente

    * Existe uma Doutrina-Me que reconcilia todas as diferenas aparentes entre as diversas religies e filosofias, transmitida de gerao em gerao por mestres e instruto-res.

    * Toda doutrina espiritual tradicional possui dois as-pectos que so inseparveis e que aparecem como opostos e, por sua vez, complementares: o exotrico e o esotri-co.

    * O esotrico interno, invisvel e essencial, enquanto que o exotrico externo, visvel e superficial. O esotrico d validade e sentido ao exterior e visvel.

    * A comunicao com nosso Mestre Interno logra-da atravs de duas vias complementares: a meditao e a orao.

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  • A unio dos Mistrios Menores (Arte Real) com os Mistrios Maiores (Arte Sacerdo-tal) se representa tradicionalmente com a figura de um Rei-Sacerdote, sendo Melqui-sedec um dos referentes histricos mais antigos. Em Camelot, esta funo compar-tilhada por Artur como Rei e Merlin como Sacerdote.

    O Cristo como arqutipo espiritual do Ocidente. (Fonte: The Peace is Coming, Jon McNaughton).

    O Buddha como arqutipo espiritual do Oriente. (pgina oposta)

  • Conto: O Espelho da deusa

    Conta-se que a deusa Vnus tinha um espelho onde se observava e estudava todas as suas caractersticas; mas um dia ele caiu de suas mos e partiu-se em muitos pedaos. O rudo que o espelho produziu em sua queda chamou a ateno das ninfas da deusa, tomando, cada uma delas, um pedao do espelho partido. Ao cabo de um tempo, as irms serventes de Vnus dispersaram-se pelo mundo, cada qual se vangloriando de possuir o espelho da deusa. Mas um sbio que havia percorrido muitas paragens ficou maravil-hado ante a possibilidade de que houvesse tantos espelhos como ninfas da deusa Vnus. E para saber da verdade inte-rrogou a uma delas:

    Diga-me, ninfa encantadora, verdade que possuis o espelho da deusa Vnus?

    Sim respondeu-lhe a donzela.

    E quantos espelhos tinha tua senhora? objetou de novo o sbio altamente surpreendido.

    Um s.

    E, como se explica que sejam muitas as ninfas que se vangloriam de ter o espelho da deusa Vnus?

    No. O espelho de nossa senhora fez-se em pedaos certo dia ao cair no cho e, ns, desejosas de possuir algo dela, tomamos cada qual um pedao do espelho partido respondeu a formosa jovem.

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    Assim, pois, o que vs possus um pedao do espelho partido e no um espelho cada uma? No ?

    Assim respondeu a ninfa um tanto envergonhada. Ento, o sbio compreendeu o elevado ensinamento que guardava a lenda, pois lhe fez ver a clara verdade das coisas. (14)

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  • A Sala do Autoconhecimento(Quarto aposento)

    Para ser livre, uma pessoa deve conhecer-se a si mesma. O conhecimento prprio o princpio da sabedoria; e sem conhecimento prprio no pode haver sabedoria. Pode ha-ver conhecimento, sensao; mas a sensao tediosa e pe-sada, enquanto que a sabedoria, que eterna, nunca decai nem pode ter fim. (Jiddu Krishnamurti)

    Conhece-te a ti mesmo

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  • Para ingressar no seguinte aposento, ters que abrir a porta de bronze onde se encontra gravada a frase Nosce-te Ipsum, a mesma que podia ser lida no frontispcio do Templo de Apolo, em Delfos: Homem: conhece-te a ti mesmo e conhecers o Universo e os Deuses.

    Dentro deste recinto, encontrars um enorme espelho que te mostra tal como s, sem os condicionamentos dos sentidos. De um lado encontrars uma nova lousa grava-da onde voltar a aparecer a frase Noscete Ipsum, acom-panhada do desenho de um homem com os braos abertos e um cisne branco. Em uma das paredes poders apreciar um misterioso esquema esotrico intitulado A rvore da Pansofia, a qual apareceu pela primeira vez em um antigo tratado alqumico-rosacruz do sculo XVII.

    A tradio hermtica ensina que o ser humano um mi-crocosmos feito imagem e semelhana do Macrocosmo, e esta correspondncia o ponto de partida da Filosofia Pe-rene em seu estudo integral da constituio do ser humano.

    Para os materialistas, ou seja, aqueles que negam qual-quer tipo de transcendncia ou natureza espiritual, o ho-mem no outra coisa que carne e ossos, o qual por meio de complicados processos eletroqumicos pensa, sente e se move. Esta viso do homem como uma mqui-na fsica, produto de uma srie de causalidades prpria da cincia profana, filha do iluminismo. Desde esta tica, nada sagrado e qualquer fenmeno transcendente con-siderado produto da imaginao ou uma simples mentira.

    Os espiritualistas, por sua vez, consideram o homem

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  • como algo mais que carne e ossos, e com esta ideia em mente tentaram ir alm do evidente e entender a consti-tuio essencial do ser humano, identificando os processos e os mecanismos internos que fazem possvel sua existncia.

    A postura mais elementar (se excluirmos as posies materialistas externas) estabelece uma diferena entre cor-po (corruptvel) e uma Alma espiritual (imortal), a qual, aps a morte passa a outro plano de existncia mais sutil. Esta viso ao estabelecer uma dicotomia entre duas par-tes recebe o nome de dicotomita.

    Esta viso similar, ensinada nos evangelhos, conside-ra uma natureza humana tripla, ou seja: Corpo, Mente e Alma espiritual, ou melhor, Corpo, Alma animal e Alma espiritual (Esprito). Esta postura recebe o nome de trico-tomita.

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  • As doutrinas orientais referem-se em ocasies a uma constituio quinria (exemplo: os koshas da tradio in-diana como envolturas da chispa divina) e em outras a uma constituio setenria.

    Nesta diviso de sete veculos aparece em vrias co-rrentes esotricas tradicionais e fundamenta este nmero na matriz harmnica da Natureza que costuma ser conce-bida de forma setenria (exemplo: as sete notas musicais, as sete cores do arco-ris etc.). Desta maneira, o ser humano como parte integrante da Natureza e interpretado, em si mesmo, como uma unidade harmnica interpreta-se, en-to, como uma realidade stupla.

    Sendo assim, mesmo os principais divulgadores do sis-tema setenrio aceitam tambm que o sistema setenrio deriva do ternrio, ou seja, que a adoo de um ou outro depende de enfoques particulares, pois em sua essncia o ser humano no ternrio nem setenrio, mas um indiv-duo, que etimologicamente deriva do indiviso, ou seja, uma unidade indivisvel que utiliza diferentes veculos para atuar nos diversos planos.

    Sendo assim, devemos esclarecer que a adoo de um sistema setenrio responde mais que tudo a motivos peda-ggicos. Inclusive, ao longo de todos nossos escritos, em mais de uma ocasio sintetizaremos este esquema em cinco partes, em especial ao nos referirmos ao sistema inicitico tradicional inspirado nos cinco elementos (Terragua-Ar-Fogo-ter) que correspondem ao corpo fsico, ao corpo vital, ao corpo emocional, mente de desejos e Alma espiritual.

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  • Referindo-nos ao clssico esquema setenrio, sabemos que as sete partes que constituem o Ser Humano so:

    1) Corpo tero-fsico, com uma parte fsica (slidos, l-quidos, gasosos) e uma parte etrea (com quatro teres que regulam algumas funes internas e involuntrias do corpo humano).

    2) Corpo prnico ou vital, que a contraparte do cor-po tero-fsico e onde reside a vitalidade do mesmo. Sobre este corpo atuam a maioria dos medicamentos alopticos e homeopticos, sendo tambm o campo de ao de outras disciplinas teraputicas tradicionais (acupuntura, reiki, di-gitopuntura etc.). Atravs do veculo vital, o corpo fsico pode viver.

    3) Corpo emocional ou astral, que veculo onde se manifestam as paixes, as emoes e os sentimentos. Com as tcnicas avanadas, os praticantes podem separar o corpo astral do fsico mediante um desdobramento ou viagem astral.

    4) Corpo mental inferior, que tem como funo princi-pal a interpretao das sensaes provenientes do meio cir-cundante e convert-las em percepes, as quais so com-binadas e armazenadas em nossa memria. Deste modo, a memria ajuda-nos a identificar objetos e circunstncias, as quais tingidas pelo desejo convertem-se em desejveis (atrao), indesejveis (repulso) ou neutras.

    O quaternrio (mortal) tem um complemento trans-cendente tambm chamado Eu superior ou Trade (em

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  • algumas ocasies denominado simplesmente Alma espiri-tual), de natureza imortal e constituda por:

    5) Manas (Mente Superior), o canal orgnico para o pensamento abstrato e onde se armazenam os frutos da ex-perincia humana atravs de mltiplas encarnaes.

    6) Buddhi (Corpo intuitivo), a inteligncia para alm do intelecto e da compreenso atravs da intuio.

    7) Atma (Vontade Pura), que a parte mais elevada de nosso Ser e da mesma natureza do Absoluto, por isso tambm costuma ser chamado Deus em ns.

    De acordo com este esquema, existe uma anatomia vi-svel e evidente, semelhantes a outra invisvel e impercept-vel. Neste homem invisvel existem uma srie de rgos e centros sutis de natureza energtica onde podem ser encon-tradas as principais causas de nossas enfermidades fsicas e psquicas, assim como de outros fenmenos que se mani-festam no organismo fsico.

    Acepo Moderna Snscrito Tradicional Elemento Divisin

    tero-fsico Sthula Sharira Soma(Corpo)

    TerraQuaternrio Inferior

    Vital ou prnico Prana sharira gua

    Emocional ou Astral Linga Sharira Psych(Alma animal)

    Ar

    Mente de desejos Kama Manas Fogo

    Mente pura Manas Pneuma(Alma espiritual)

    ter Trade Superior

    Intuitivo ou bddhico Buddhi

    Vontade ou mnada Atma

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  • Os sete centros mais importantes da anatomia sutil do ser humano esto dispostos ao longo da coluna vertebral e recebem o nome de chakras (rodas), a saber:

    Os chakras so pontos de conexo ou de enlace pelos quais flui a energia de um a outro veculo do homem. Estes centros sutis podem harmonizar-se, alinhar-se e ativar-se atravs de diversas tcnicas que vo desde a meditao e a acupuntura.

    Um chakra pode estar:

    a) Bloqueado: quando gira muito lentamente, est deti-do ou o faz em sentido contrrio.

    b) Acelerado: quando gira muito rapidamente.

    c) Equilibrado: quando gira em velocidade vibratria correta.

    Em outros volumes desta coleo estudaremos com ateno estes corpos invisveis onde se situam os chakras e

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    Snscrito Significado Nome Localizao.

    Muladhara Fundao Raiz Genital-urinrio

    Swadisthana Lugar onde mora o Ser Genital Raiz dos genitais

    Manipura Cidade das Gemas Plexo Plexo solar

    Anahata No golpeado Cardaco Corao

    Vishudda Puro Larngeo Garganta

    Ajna Autoridade, mando Sobrance-lhas

    Sobrancelhas

    Sahasrara Mil ptalas Coronrio Coroa da cabea

  • os canais sutis (nadis) por onde flui a energia vital (prna) assim como a energia serpentina conhecida como Kunda-lin.

    Resumo da Sala do Autoconhecimento

    * A tradio esotrica ensina que o ser humano um microcosmos feito imagem e semelhana do Macrocos-mos.

    * A constituio setenria do ser humano est em con-sonncia com os ensinamentos esotricos tradicionais e fala de um quaternrio inferior composto de: corpo fsico, corpo vital, corpo emocional e mente de desejos, e uma trade superior composto pela mente superior (Manas), o corpo intuitivo (Buddhi) e a vontade pura (Atma).

    * Nestes nossos corpos invisveis existem uma srie de rgos e centros sutis da natureza energtica conhecidos como chakras.

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  • 77

  • O exemplo da carruagem

    A tradio oriental compara a constituio do homem com uma carruagem. Nesta analogia, o corpo tero-fsico o carro e os cavalos so os cinco sentidos. Quando o con-dutor Buddhi (a intuio ou verdadeira inteligncia) o carro est bem dirigido, usando a rdea de Manas (a mente superior), que logra controlar os corcis e usando o ltego da vontade. No carro viaja comodamente Atma, a divin-dade que reside em ns. Com Buddhi como condutor da carruagem lograr ir pelo caminho preciso, avanando sem contratempos pela senda do Dharma.

    Lamentavelmente, na maioria das vezes dois condutores imprudentes (o corpo emocional e a mente inferior, Kama-manas) conseguem tomar o controle do carro, atando as mos de Buddhi e manejando bruscamente por caminhos pouco seguros. O efetivo ltego da vontade deixado de lado e substitudo pelo ltego do desejo. E assim, aoitados pelo insacivel desejo, os cavalos facilmente descontrolam-se e se corre o risco de protagonizar um lamentvel aciden-te.

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  • Conto: Quem s?

    Uma mulher estava agonizando. Prontamente, teve uma sensao de que era levada ao cu e apresentada pe-rante um Tribunal.

    Quem s? - disse uma Voz.

    Sou a mulher do alcaide. - respondeu ela.

    Perguntei-te quem s, no com quem ests casada.

    Sou a me de quatro filhos.

    Eu te perguntei quem s, no quantos filhos tens.

    Sou uma professora de escola.

    Eu te perguntei quem s, no qual tua profisso.

    E assim sucessivamente. Respondesse o que respon-desse, no parecia poder dar uma resposta satisfatria pergunta: Quem s?

    Sou uma crist.

    Eu te perguntei quem s, no qual a tua religio.

    Sou uma pessoa que ia todos os dias igreja e ajuda-va aos pobres e necessitados.

    Eu te perguntei quem s, no o que fazias.

    Evidentemente, no conseguiu passar no teste, por isso foi enviada novamente terra.

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  • Quando se recuperou de sua enfermidade, tomou uma determinao de averiguar quem era. E tudo foi diferente.

    Tua obrigao ser. No ser um personagem nem ser um Z Ningum porque a h muito de cobia e am-bio nem, ser isto ou aquilo porque isto condiciona muito mas, simplesmente ser. (15)

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  • Constituio setenria

    Os Koshas como envolturas segundo a Vedanta

  • CORPO FSICO CONTRAPARTE ETRICA

  • CONTRAPARTE ETRICA

  • CORPO VITAL

  • CORPO EMOCIONAL

  • MENTE DE DESEJOS (KAMA-MANAS)

  • MENTE SUPERIOR (MANAS)

  • CORPO INTUITIVO (BUDDHI) VONTADE PURA (ATMA)

  • VONTADE PURA (ATMA)

  • A Sala dos Quatro Elementos

    (Quinto aposento)

    Aquela teoria que no encontrar aplicao prtica na vida, uma acrobacia do pensamento. (Swami Vivekananda)

    Os ps na terra, o olhar no cu

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  • Aps atravessar um jardim interior decorado com belos arbustos, flores frondosas e fontes decoradas com motivos mtico-hermticos, devers subir uma antiga escadaria de mrmore de quatro degraus onde esto gravados os smbo-los alqumicos dos quatro elementos, a qual te conduzir a uma porta de carvalho onde se talhou uma estrela de seis pontas. Ao empurrar a pesada porta, poders seguir passo a um pequeno quarto onde encontrars a seguinte lousa alegrica. A mesma tem gravada a seguinte inscrio: Pedes in terra ad sidera visus, que quer dizer Os ps na terra, o olhar no cu. Em seguida compreenders a necessidade imperiosa de ter em conta esta mxima para poder avanar no Sendeiro.

    Lamentavelmente, muitos espiritualistas, seguidores de correntes new age ou conectores preferem viver em um mundo de fantasia, empenhando-se em seguir um caminho que no leva a lugar algum, antes de adotar e levar prtica um estilo de vida que revolucione a conscincia, baseado nos ensinamentos atemporais dos grandes Mestres e no nas elucubraes fantsticas dos autores de moda. Estas doutrinas light, surgidas principalmente no sculo passa-do, muitas vezes no passam de uma simples droga, muito til para evadir-nos de uma existncia insatisfatria, mas totalmente ineficaz para alcanar a transcendncia.

    Certamente, nem tudo o que reluz ouro e nem todos os expositores que falam acerca dos Mestres, de realidades transcendentes e de um caminho espiritual esto falando a mesma linguagem da Tradio Primordial. Muitos destes ensinamentos e novas revelaes costumam ser um desvio

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  • do tronco original, um caminho fcil e ilusrio que prome-te grandes poderes e revelaes quase sem esforo.

    O mesmo pode dizer-se dos livros. Um bom discpu-lo selecionar cuidadosamente suas leituras, preferindo os clssicos e as obras monumentais da tradio sagrada, tanto do Oriente como do Ocidente, e descartando as obras bara-tas de correntes esotricas de moda. Tendo isto em mente, retornemos inscrio da lousa: Pedes in terra ad sidera visus. Este axioma exorta-nos a trabalhar aqui e agora, no presente que nos toca viver e com os quatro elementos que temos a mo, deixando de lado as frustraes do passado e as fantasias do futuro. E, justamente, o que temos mais a mo e com o que devemos comear por ns mesmos. Trabalhar internamente e purificar-nos a fim de despertar a conscincia.

    Como dissemos antes, os quatro corpos da personalida-de constituem o quaternrio inferior e ento, desde uma perspectiva inicitica, o primeiro labor deve centrar-se na purificao sobre estes veculos. Simbolicamente, estes cos-tumam relacionar-se com os quatro elementos da antigui-dade e com as etapas da Alquimia, a saber:

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    Fsico Terra Nigredo Negro Corvo Caverna

    Vital gua Albedo Branco Cisne Lago

    Emocional Ar Citrinitas Amarelo guia Montanha

    Mental Fogo Rubedo Vermelho Pelicano Vulco

  • A este labor de ordenar e purificar estes quatro ve-culos chama-se de alinhamento e consiste em converter cada veculo da personalidade em um instrumento eficaz s ordens do Eu Superior.

    Deste modo, alinhando corretamente os quatro ve-culos, poderemos avanar diretamente porta da Iniciao que nos conduzir reintegrao. A modo de comparao, podemos imaginar os veculos do quaternrio como quatro cristais sujos que esto sobrepostos e alinhados um sobre o outro. Nossa tarefa consiste em limp-los um a um, dis-ciplinadamente, at que os raios do Sol (ou seja, a luz da Alma espiritual) possam transpass-los e cheguem at ns dando-nos sua luz e calor.

    Existem pessoas que trabalham com verdadeira eficcia sobre seu veculo fsico: fazem exerccio, alimentam-se de forma balanceada, controlam o estresse, respiram correta-mente, etc. Entretanto, o domnio deste corpo denso no as faz melhores pessoas porque seu trabalho costuma ser superficial e no integral, do mesmo modo que um homem que desenvolveu grande musculatura em um s brao, mas que mantm suas outras extremidades flcidas e sem trei-namento.

    Fazendo correspondncia dos quatro veculos de nos-so quaternrio com os elementos, podemos considerar pedagogicamente a Trade Superior como um conjunto (a Alma espiritual) constituindo desta maneira o quinto elemento ou quintessncia, o passo final no Sendeiro Inicitico.

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  • Desde um ponto de vista interno, cada degrau corres-ponde a um diferente estado de conscincia. Isto significa que com cada passo que damos no sendeiro interior torna-mo-nos mais e mais conscientes. Mas conscientes de qu? Em primeiro lugar, devemos advertir que a conscincia implica compreenso, isto uma compreenso ntima de quem somos, aonde vamos, qual a nossa natureza e qual a nossa misso nesta vida. Sendo assim, um indivduo cons-ciente est desperto pois compreende a realidade da natu-reza divina, sua misso com os demais seres e seu propsito na vida, em sntese: o ser humano consciente conhece-se a si mesmo.

    No lado oposto temos o homem adormecido, que vive uma existncia superficial, sem saber de onde vem e aonde vai, cacarejando acerca de uma liberdade e uma felicidade que nunca entender plenamente. Entre o sonho extremo e a viglia absoluta existem muitos estados de conscincia que citamos anteriormente ao referir-nos aos graus do Sendeiro Inicitico.

    Pedes in terra ad sidera visus implica trabalhar no aqui e agora com eficincia, recordando da frase que a mestra Helena Petrovna Blavatsky repetia uma e outra vez a seus discpulos: Honrai as verdades com a prtica.

    Esta valiosa advertncia est presente em todos os en-sinamentos filosfico-iniciticos que sempre antepe a prtica teoria. H muitssimos estudantes curiosos que se dedicam a ler diversos textos de filosofia esotrica, che-gando a conhecer de memria todas as diferentes doutrinas do Oriente e Ocidente, mas lamentavelmente mui poucos

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  • esto dispostos a atuar segundo o aprendido e passar da teoria prtica.

    Em verdade, absolutamente certo que se bem que a leitura possa abrir os olhos e ajudar-nos a descobrir o caminho espiritual impossvel alcanar a iluminao ou iniciar-se assimilando informao. Por esta razo, indis-pensvel atuar segundo o aprendido atravs da ao, do au-toconhecimento e do servio.

    Os velhos alquimistas diziam: Ora, lege, lege, relege; labora et invenies (Ora, l, l, l e rel; trabalha e encon-tra), fazendo referncia a uma frase que encontraremos em outra Sala: Ora et labora. O convite a ler, ler, ler e reler no quer dizer que nos convertamos em ratos de biblioteca, mas que descubramos o sentido oculto das palavras, a ver-dadeira inteno do autor e sua implicao prtica.

    Repetiremos uma vez mais: os livros so um meio, no um fim; e o esoterismo intelectual no leva a nenhuma parte, e simplesmente serve para encher nossa mente com dados e informao. Toms de Kempis dizia: Quem mui-to sabe e l, se no obra segundo o aprendido e sabido, como se convidado a uma mesa farta e abundante, levanta-se dela vazio e faminto..

    Os extremos so maus e, neste sentido, aqueles que in-tentam praticar, praticar, praticar qualquer tipo de exer-ccio sem ter em conta que a ascese deve ser metdica, gradual e, sobretudo, deve ser coerente, tampouco chegar a lugar algum. A prtica no pode consistir em uma mescla

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  • catica de tcnicas orientais e ocidentais a la carta. Aden-trar no Sendeiro Inicitico implica uma estratgia, do mes-mo modo que um alpinista deve traar um plano de ataque para escalar uma montanha. A busca de poderes psquicos e a prtica indiscriminada de exerccios exticos no nos levar de nenhum modo autorrealizao, mas sim a um triste destino onde seguramente encontraremos a outros buscadores fracassados que elegeram desenvolver poderes psquicos para diferenciar-se dos demais antes de trabalhar seriamente.

    Resumo da Sala dos Quatro Elementos

    * O estudante que comea a transitar o caminho espi-ritual deve ter os ps na terra e manter um esprito crtico, fugindo das escolas new age de moda.

    * A leitura deve ser de ajuda, no um fim em si mesmo. Os ensinamentos antigos sempre antepe a prtica teoria.

    * O primeiro labor deve centrar-se no alinhamento dos veculos do quaternrio inferior, cada um deles rela-cionado simbolicamente com uma etapa da alquimia e um elemento da antiguidade.

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  • Conto: O bote de Nasrudin

    s vezes Nasrudin transladava passageiros em seu bote. Um dia, um erudito exigente contratou seus servios para que o transportasse margem oposta de um caudaloso rio.

    Ao comear a cruz-lo, o intelectual perguntou-lhe se a

    viagem seria muito movimentada.

    No me perguntes nada sobre isso respondeu-lhe Nasrudin.

    E, nunca aprendeste gramtica?

    No disse o Mul.

    Nesse caso, desperdiaste a metade de tua vida.

    O Mul no respondeu. Em pouco tempo abateu-se uma terrvel tormenta e o precrio bote de Nasrudin co-meou a encher-se de gua.

    Nasrudin inclinou-se at seu acompanhante.

    Aprendeste a alguma vez a nadar?

    No respondeu-lhe o pedante.

    Neste caso perdeste TODA tua vida, pois estamos afundando.

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  • A Sala da Lei(Sexto aposento)

    Devemos conhecer as leis da vida superior se quisermos viver nela. Conhecei-as e vos elevaro meta; porm se as ignorais, frustrar-vos-o vossos esforos e nenhum resulta-do obtereis de vossa obra. (Annie Besant)

    A Lei dura, mas Lei

  • Uma escadaria de sete degraus te conduzir a uma pe-quena porta onde h uma gravura onde se destacam um bumerangue e uma balana. Ao abri-la, entrars em uma enorme biblioteca iluminada pelos raios solares que se fil-tram por uma esplndida claraboia localizada no teto.

    A placa central da sala tem a inscrio Dura Lex, Sed Lex (A Lei dura, mas Lei) e faz referncia s leis que ligam o homem ao Universo, resumidas a princpios do sculo XX pelos Trs Iniciados em uma declarao de sete princpios resgatados dos ensinamentos atemporais de Hermes Trismegisto, o trs vezes grande:

    1. Princpio do Mentalismo2. Princpio de Correspondncia3. Princpio de Vibrao4. Princpio de Polaridade5. Princpio de Ritmo6. Princpio de Causa e Efeito7. Princpio de Gerao

    Em grande parte, o xito em nosso peregrinar espiritual est subordinado ao conhecimento e sua prtica cotidiana destes sete princpios hermticos:

    1) O Princpio do Mentalismo: O Todo Mente; o universo mental.

    O Universo em sua totalidade uma criao mental do Absoluto, do Uno sem segundo. Dito de outro modo,

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  • a materializao dos pensamentos desse Absoluto, o Brah-man dos hindus. O ser humano como microcosmos desse Ser macrocsmico ( imagem e semelhana) possui em potncia essa mesma fora criadora. Sendo assim, a filosofia primordial afirma que cada pessoa cria mentalmente seu entorno e atrai o bom ou o mal a seu redor. Se tivermos um pensamento positivo, nossa realidade ser positiva, e do mesmo modo se nosso pensamento negativo, atrairemos negatividade ao nosso redor.

    Esta em sntese a Lei de Atrao que, mesmo que tenha sido trivializada pelos documentrios da moda, um dos ensinamentos mais antigos e poderosos da Sabedoria Antiga.

    2) O Princpio de Correspondncia: Como acima, em baixo; como em baixo, em cima.

    A relao microcsmica-macrocsmica entre o ser hu-mano e a Divindade fundamenta-se em que o ser humano uma chispa divina (Mnada) emanada dessa Divindade e que cedo ou tarde dever regressar sua origem e re-integrar-se.

    Deste modo, podemos entender que dentro de cada in-divduo encontra-se representada a totalidade do Cosmos. Este ensinamento, que a simples vista parece simples, a base fundamental de todo o conhecimento inicitico, j que se Assim como em cima em baixo, conhecendo-nos a ns mesmos poderemos conhecer a Deus e descobrir que somos deuses em estado de crislida.

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  • 3) O Princpio de Vibrao: Nada est parado; tudo se move; tudo vibra.

    De acordo com este princpio, no h nada morto no Universo, tudo est vivo e em movimento, em contnua vibrao, um conceito filosfico antiqussimo que foi con-firmado pela cincia moderna.

    Isto significa que as diferentes manifestaes so o re-sultado de diferentes estados vibratrios. De acordo com o Caibalion: Desde o Todo, que puro esprito, at a mais grosseira forma de matria, tudo est em vibrao: quanto mais alta esta, tanto mais elevada sua posio na escala. A vibrao do esprito de uma intensidade infinita; tanto, que praticamente pode considerar-se como se estivesse em repouso, semelhante a uma roda que gira to rpido que parece que est sem movimento. Em outro extremo da es-cala h formas de matria densssimas, cuja vibrao to dbil que parecem tambm estar em repouso. Entre ambos os polos h milhes e milhes de graus de intensidade vi-bratria. (16)

    Os ensinamentos alqumicos referidos transmutao baseiam-se neste princpio.

    4) O Princpio de Polaridade: Tudo duplo, tudo tem dois plos; tudo tem seu par de opostos: os semelhan-tes e os antagnicos so o mesmo; os opostos so idnticos em natureza, mas diferentes em grau.

    Toda manifestao no universo dual, ou seja, tem um

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  • polo positivo e um negativo, o qual, no reino humano, se manifesta como masculino e feminino.

    Um dos labores fundamentais dos provacionistas e dis-cpulos, harmonizar os opostos, transcend-los e encon-trar o justo meio para descobrir a Unidade. Os orientais re-presentam perfeitamente este princpio no smbolo arcaico do Yin e Yang.

    5) O Princpio do Ritmo: Tudo flui reflui; tudo tem seus perodos de avano e retrocesso, tudo ascende e des-cende; tudo se move como um pndulo; a medida de seu movimento direita, a mesma de seu movimento es-querda; o ritmo a compensao.

    O ritmo uma lei essencial da Natureza, a qual pode ser observda sem muitas dificuldades em nossa prpria vida. O conhecimento ntimo deste princpio nos levar compreenso de alguns fenmenos naturais que nos afetam diretamente com a morte e o nascimento, assim como a compreender a necessidade de vol