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V.

O U R I N H O S

W

/ U L H OS A L V E 9 D

por .

Constcmtinó A. Molina

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O que houve no Brasil

I PANORAMA RETROSPECTIVO

Nunca nos tempo,s historicos, a demo­cracia conquistou tanta evolução expansiva co­mo na actualidade. No decorrer dos séculos, ruiram-se impérios e abalaram-se thrônos, so­lidamente implantados, seguindo-se o regime republicano desde a memorável revolução fran- ceza que proclamou altamente os «Direitos do homem». Esses princípios irrefutáveis que os eminentes philosophos encyclopedistas Rous- seau, Woltaire e Didenoit ensinaram a grande potência europea, foram acatados pelos ardo­rosos demagogos e libertadores, norte-am eri­canos, argentinos, bolivianos, chilenos e outros que se declararam independentes do sceptro britannico-hespanhol. O poderoso império alle- mão que ambicionava a conquista do mundo inteiro, confiante nas suas arm as de guerra e na technica e argúcia de seus genios, serviu de exemplo para o,s magnatas de outras nações, demonstrando a eficiencia do povo e a fragi­lidade da vara do poder que não repousa nos hombros robustos desta massa trabalhadora.

Quem observa a psychologia das m ulti­dões através dos grandes acontecimentos so- ciaes, verifica que os maiorys factores das dis­córdias e rivalidades existentes entre as nações e os partidos, são o exaggero no abuso do poder dos depositários da autoridade e as grandes injustiças humanas que estes praticam com os seus subordinados. Devem os mesmos lembrar-se, de que todos estamos baseados nos princípios da egualdade e nascemos como parte integrante da grande organização que cham a­mos Humanidade. As conseqüências lógicas deste despotismo e assenhoreada arrogancia, deu origem como já falei, á causa da Revo­lução franceza com a tomada da Bastilha; a grande guerra que avassalou o mundo na ne- vrose de sangue e de pavor, á oppressão e a fome que deram causa ao oommunismo.

Os dirigentes das nações devem lembrar- se que o povo é o docil cordeiro que obe­dece a tudo, quando se lhe am para os direitos da-se-lhe pão no trabalho e garante-se-lhe a lei; mas este manso animal, torna-se terrivel felino, armado de poderosas garras, quando não se lhe faz justiça, ou a lei não protege sua família, sua propriedade e a sua posição, equiparada a de um estadista ou de um m a­gistrado. O povo moderno não é aquelle da antiguidade ou feudal, afastado das regalias e privilégios da burguezia, reduzido á simples condição de animal racional, privado do que

temos de mais sagrado: a iliberdade; Não. Hoje, o boi que resignadamente, sem levantar a ca­beça, puxava a carroça amedrontado pelo agui­lhão da tyrannia, ergueu-se magestosamente e concentrando as forças da sua m usculatura rija, metamorphoseu-se, passando da escravidão á soberania.

O povo, reconhecendo suas capacidades intellectuaes e moraes e o papel preponde­rante que exerce na humanidade, pensou na sua intelligencia que aberradam ente ,estivera até aqui mergulhado nos labyrinthos obscuros do ostracismo e da letalidade, deixando-se m a­nipular como pedra prim a nas mãos dos seus artífices. Mas agora que o raio da civilização moderna invadiu nas penumbras da caverna em que jazia, confundido com a terra, seus olhos abriram-se e m aravilhado da riqueza que incorporava, do brilho seductor que irradiava seus prismas e da dureza diam antina de suas arestas, sacudiu indomito o jugo que o ty- rannizava; e segregando-se do minério pesado e amorphe que o, circumdava, declarou-se in­dependente escalando-se na cathegoria das pe­dras preciosas, symboJizadas com as differen- tes classes sociaes.

Reintegrado na sua posição^ tra tou de aquilatar o seu valor, com a producção do seu trabalho. Afoito e tenaz, rasgou essas ter­ras uberrim as dos nossos sertões e florestas deixando em breve a sua superfície alfombrada de polychrom as mêsses que constituem a fonte principal de renda do nosso paiz, e por con­seguinte base da nossa evolução financeira e oommercial.

II UMA MIRAGEM

Lançado um olhár retrospectivo no sce- nario mundial, destacando o nobre relevo da democracia nos acontecimentos actuaes, va­mos agora descortinar aos nossos leitores, um pouco ao longe, a miragem deste ultimo trien- nio tão convulsionado na nossa historia na­cional.

Fenecia a carreira presidencial da Repu­blica, o Dr. W ashington Luiz em 1929. O povo brasileiro levava ás urnas as candida­turas Julio Prestes e Getulio Vargas. Os tra ­balhos das eleições decorriam na m aior ani­mosidade, nos municípios c cidades, quando na apuração final, o presidente paulista levava grande vantagem sobre o seu rival Getulio Vargas. Esta derrota eleitoral, atribuída a in-

, famia dos usurpadores do poder, não foi bem

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julgada pelos pnoceres liberaes de Minas, Rio Grande do Sul e Parahyba. Vendo em jogo a causa constitucional, os tres Estados irm ana­dos nos mesmos ideaes libertadores e visando o mesmo fim, a restauração do Brasil, uniram as suas forças e levantando-se em armas, vi­ram-se alastrando denodadamente pelo terri­tório nacional em conquista dos seus planos. Através penosas jornadas e renhidos combates com os legalistas, conseguiram entrar victorio- sos na Capital de São Paulo em 24 de Outubro. Todos nesse memorável dia eram revolucio­nários. Indiscutivelmente, o paulista como o carioca, o gaúcho como o mineiro, ostentavam no pescoço o lenço vermelhoi emblema da Re­volução. Todos ansiavam a mudança de go­verno. O Exercioo e a Marinha que tão al­tamente oomprehendiam a situação precaria em que o paiz estava immerso, não offerece- ram resistência alguma para o completo vxito da campanha liberal e para a prom pta vinda ao Cattete, do Chefe Supremo da Revolução. Estava pois term inada a gloriosa etapa, a grande jornada do memorável dia 3 de Ou­tubro, data em que irrom peu a Revolução Redemptora que o povo tanto almejava. O idolo popular, Getulio Vargas, assumia o go­verno da Republica no dia 3 de Novembro do mesmo anno, em meio de um delirio fre­nético, na Capital Federal, emquanto o Pre­sidente depostoi pagava seus actos com o exodo para Europa. Cercado no palacio de homens eminentes consagrados pelas armas e pelos relevantes serviços prestados á Nação, iniciou o novo Presidente a obra reconstructora do Brasil.

Novo ambiente parecia assenhorear-se na atmosphera tempestuoisa. Os cirrus plúmbeos, prenhes de raios prestes a desencadear-se so­bre nós, dissiparam-se, deixando transparecer no horizonte nebuloso, os luores de uma nova aurora, rutilante de luz e promissora de es­peranças. Este era o soberbo painel que se delineava na intelligencia colorida daquelles, que esposaram os anseios e ideaes novos da Alliança Liberal.

III DYNAMISMO e INÉRCIA

Galgando o Presidente o maximo degrau da hierarchia politica e detentor do poder publico e das forças armadas, tinha elle por indeclinável dever garantir a segurança do povo. e tom ar para isso providencias energicas. Parece que o lemma de nosso pavilhão «Or­dem e progresso» estava gravado na mente do Dr. Getulio Vargas. O novo Presidente, sciente dos serios compromissos que pesavam nos seus hombnos, traça nova etapa nos fastos

gloriosos da nossa historia. A paz no Brasil parecia estar assegurada, si elle seguisse a risco, todos os itens da magnífica plataform a que ideou no tempo da sua candidatura. O principal escôpo que era a reconstrucção do paiz de accordo com os moldes revolucioná­rios, seria o maximo expoente da sua brilhante carreira presidencial. Mas infelizmente o plano revolucionário, foi perdendo lentamente suas directrizes, rumando para o. abysmo. O povo que corajosamente auxiliou ao trium pho da resolução, esperando m elhores dias, foi illu- dido com vãos galanteios e acariciado com rei­teradas promessas. A oppressão esmagadora em que estavamos, tornou-se mais estreita e esmagadora com o regime dos novos lycurgos. A corrente dynamica que parecia reavivar as veias exangues da nação, foi decrescendo e extinguindo-se até as raias da mais absoluta inércia. A terri^el crise soffrida com o abalo do café, seguiu-se a crise politica e financeira. O considerável augmento nos impostos e as elevadas tarifas aduaneiras, constituíram uma m uralha refractaria á nossa evolução commer- cial, tornando a vida do cidadão em precaris- sinuo estado. Peiorou ainda a situação politica, nomeando o Chefe do Governo Provisorio para Interventores dos Estados, a invicta phalange dos coripheus revolucionários que junto com elle enfrentaram destemidamente os perigos da campanha liberal; entrando o> povo brasileiro sob o dominio absoluto do militarismo. Estes por sua vez, homens guerreiros, distinctos o-ffi- ciaes, de bravura inexcedivel no m anejo das armas, porem, desconhecendo o ambiente e os princípios políticos dos grandes estadistas e heterogeneos ao caracter e hábitos do povo da sua jurisdição, tornaram-se déspotas go­vernando e administrando como militares e não como estadistas.

Consequentemente, antipathias, rivalida­des, rixas e desavenças reinavam entre esta- doanos e Interventores, os quaes abafavam qualquer rebellião com a força. Era o re-

. gime da tyrannia e da oppressão em todas as classes sociaes. Represálias de um lado, rompimentos de outro, m antinham os Estados em convulsões intestinas. Temendo- os dirigen­tes de um momento para outro, o rompimento das hostilidades, fundaram no Rio o famoso «Club 3 de Outubro» appellidado dos «Tenen­tes» ao qual pertenciam como socios ois prin- cipaes elementos da Revolução trium phante. Nas reuniões que elles organizavam, debatiam em palestras, conferências e discursos, pontos collectivos de interesse revolucionário, sem preoccupar-se das directrizes prim ordiaes da Nação taes como a protecção da agricultura, industria, commercio, viação, e obras publicas, que estavam no m aior abandono. Elles oon-

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Toai 6o% o 43 5 5centrados na oratoria e cultivadores da bella arte da rhetorica, lá estavam n’aquelle am­biente philosophico, fortalecendo o espirito re­volucionário que parecia perder seus traços indeleveis e a força e prestigio moral que de cabia por terra. Para este fim organizaram o «Club 3 de Outubro». Para prestigiar as autoridades revolucionárias, civis como milita­res; para interpretar fielmente o programma elaborado pelos Chefes da revolução e para orientar de acoordo com o programma revo­lucionário, todas as classes e camadas sociaes. Paulatinamente o militarismo foi ganhando adeptos de todos os recantos do territorio na­cional. Os «tenentes» desde o Norte até ao Sul, eram os portavozes das vontades supre­mas.

No entretanto a obra reconstructora na­cional não transpirava os seus effeitos. As massas encephalicas e glandulosas segregavam trabalho e esforço, mas os canaes e orifícios estavam obstruídos pelo partidarism o e egoís­mo fatal que enfraquece qualquer entidade por mais solida que seja. Esta força apparente- mente dynamica, atrophiou-se gerando a mais completa inércia.

IV O «CASO PAULISTA» E AS «FRENTES UNICAS»

A indesditosa nomeação do Cel. João Alberto para a Interventoria do Estado de São Paulo, deu origem ao celebre «caso pau­lista». Filho dos pampas sulares, totalmente antagônica ao caracter do pujante Estado e incongruente ao genío bandeirante, julgava ad­m inistrar efficazmente sob a pressãoi do mili­tarismo. Logo no começo surgiram ao encon­tro, serias difíiculdades da parte dos democrá­ticos e dos pnoprios legionarios. O povo pau­lista descontente da sua actuação, appellou immediatamente ao poder central pedindo a exoneração do cargo que exercia. Elles que­riam um homem civil, genuinamente paulista, de real destaque na politica neutra, e escolhido pelo povo. O Chefe do Governo Provisorio, vacilou um momento antes de attender ao brado geral que partia das terras de Pirati- ninga; mas o fulminante rompimento do Par­tido Democrático com o Interventor, accelerou o seu prompto afastamento, nomeando* como seu successor ao integro magistrado Dr. Laudo de Camargo. Esta nomeação irritou aos socios do «Club 3 de Outubro» os quaes ameaçavam desligar-se dos seus postos, caso o Presidente não mudasse de resolução. Depositário dos dictames dos seus conselheiros, hostil e re- fractario para o povo, fazia e desfazia de ac­oordo com suas vontades sem considerar as

tristes conseqüências dos seus actos, que mais tarde affluiriam directa ou indirectamente na queda da presidência. Emquanto o tenentismo apoiava a obra do Presidente, o povo pau­lista por outro lado unia-se analysando sua administração e censurando muitos dos seus actos. Sem distincção de credos políticos, os partidos republicano e democrático, respeitan­do sua autonomia, fundiram-se num só bloco, coheso e homogeneo, form ando a «Frente Úni­ca» que faria frente aos partidários do «Club 3 de Outubro q no raio da justiça e do direito.

A campanha liberal trium phou, graças as forças arm adas e ao povo; era justo que Getulio Vargas, desse ouvidos aos problemas palpitantes pelos quaes elles se bateram em lutas fralricidas, e não a um grupo seleccio- nado de partidários. A «frente unica» paulista, precedéu em idênticas condições as frentes mineiras e riograndenses, terminando por um contracto assignado pelo triumviro Francisco Mo rato, A rthur Bernardes e Raul Püla. Dois grandes partidos sulcaram o Brasil in te iro :Getulio Vargas com os elementos revolucioná­rios de um lado, e as «Frentes Unicas» com o povo, de outro. O prim eiro reivindica pelos compromissos revolucionários e o segundo pela Constituinte. Inicia-se uma reacção de parte a parte, na etapa apologetica dos manifestos.Cada partido esboça em relatorios vibrantes de patriotismo e tribunas de eloquencia, o es­tado actual da nação julgada pelos differentes prismas eoonomico-financeiros. Desses mani­festos, seguiu-se uma certa hostilidade entre ambos partidos. Tornava-se necessário para tranqüilizar o Paiz, elaborar uma Constitui­ção baseada na Constituição do 24 de Feve­reiro de 1891, liberal na egualdade dos direi­tos sociaes, e convocar immediatamente as eleições. Quanto ao primeiro passo já foi dado nomeando uma Commissão de homens illustres e destacados vultos políticos que a estudaram e redigiram da forma mais conve­niente. O segundo passo, porém1, parecia estar indeciso. Esta indecisão e perplexidade na convocação da constituinte, devia resolver-se , com a maior brevidade, por ser o escopo vi­sual de toda revolução bem organizada. Urgia que em problema tão palpitante, o Chefe do Governo Provisorio, se definisse, elevando-se acima dos interesses mesquinhos, aos gran­des e magnanimos de uma nação. O momento não era para hesitar nem para illudir com • nebulosas enredadoras e sophisticas; era tem­po de decidir-se, antes que outra rajada re­volucionaria, abalasse o paiz. O Presidente, receiando que o povo se levantasse em armas, abaixou antes de lançar o seu manifesto á Nação, o decreto da convocação da Consti­tuinte para o dia 3 de Maio de 1933. Mais

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tarde, em nova reunião ministerial, adiou o dia para 9 de Julho. Esse praz-o, os liberaes o julgaram indefinido e muito longo. Um movimento frenetico estabeleceu-se nos Esta­dos da Alliança Liberal. Em signal de pro­testo, exoneraram-se diversos elementos do Ministério, do Exercito e da Marinha, dei­xando ao dictador em critico estado. Os pro- prios chefes liberaes das «Frentes Unicas» rom ­peram uma tras outra com1 o Governo Federal. T rataram ao mesmo tempo de organizar um ministério de concentração nacional, que hou­vesse de ser a expressão dos novos rumos políticos capazes de tranquillizar a nação e de servir de garantia definitiva para o seu prom pto e seguro regresso ao regime cons­titucional. Era esta a aspiração de todos os brasileiros de bôa vontade. As «Frentes Uni­cas» cuja orientação contava com o sufrágio da immensa maioria da opinião publica, em todos os Estados da Federação e que defen­diam os nobres interesses das gloriosas for­ças armadas do paiz, alegraram-se de ter en­viado todos os seus esforços no sentido de ser restituida a confiança da nação no Go­verno Provisorio. Naufragados os seus patrió­ticos empenhos, retiraram -se com serenidade de animo para as posições primitivas que occupavam antes das tentativas de recomposi­ção com. o Governo Provisorio, esperando orumo a seguir.

Sob o impulso de dignos patriotas, o r­ganizou-se nesta retirada silencioisa a Cruzada Pro-Constituinte, tratando por todos os meios adiantar a constituinte, unica esperança da Na­ção que restituiria a paz nas famílias. Oseu programma bem traçado-, consistia em con­ferências vibrantes, festas civicas e comícios

O que h o uv e

A REVOLUÇÃO

I

Julho! 22 de Julho! 4 de Julho! 9 de Julho! Datas evocadoras que surgem fulgen­tes na imaginação paulista! Esta linha ecli- ptica representada pelo signal zodiaco de Cân­cer torna-se ephemeride celebre na historia aurea de São Paulo. Tempos atraz, cahiam no Rio, fulminados por uma saraivada de balas os 18 fortes de «Copacabana» m artyres da nova phase republicana. O sangue vertido por esses heroes já consagrados pelo povo, fertilizou por influencia o solo bandeirante,

m onstros que eram levados enlhusiasticamcnte nas capitaes da Federação, principalmente em São Paulo, Bello Horizonte e Porto Alegre. Caravanas de oradores percorriam o interior dos Estados empolgando as populações com a sua labia suggestiva e captivante. Por toda a parte as ideas liberaes calavam nas cons­ciências, gozando antecipadamente da doce ambrosia que traria a Constituinte para o paiz.

V MOLAS DA REVOLUÇÃO

A prensa brasileira, vinha diariamente m ostrando as lacunas do programma revo­lucionário,, ao que o dictador mostrava-se pu- sillanime e imperioso,. O povo cada vez mais agitado, demonstrava franca antipathia para o Governo Provisorio. Muitos dos seus actos feriam directamente a democracia brasileira.

O apoio e força moral que emprestava ao «Club 3 de Outubro», então já transfor­mado em partido político, que governava mais do que o proprio dictador; o pouco caso que fazia ás manifestações espontâneas das «Fren­tes Unicas»; as arbitrariedades commettidas, como sejam o barbaro attentado de diversos jornaes, particularm ente do «Diario Carioca»; o rompimento do Partido Democrático com o Interventor João Alberto; o paroxismo para o feliz desfecho do «caso paulista» que in­teressava não somente a São Paulo como a todo o Brasil; as prisões injustas de diversos officiaes, particularm ente a do bravo Cel. Theo- pompo de Vasconcellos, accusado como chefe responsável do levante de Quitaúna; a lenta convocação da constituinte, eis ahi em syn- these as molas que movimentaram a nova revolução paulista do dia 9 de Julho de 1932.

em S ã o Paulo

germinando na actualidade, não uma phalange de dezoito fortes, mas sim uma legião de ho­mens intrépidos que pugnando pelas mesmas aspirações liberaes, levantam-se corajosamente em armas para salvar o Brasil cercado^ de polvos insaciáveis. São Paulo a terra abençoa­da de Piratininga sempre deu exemplo perenne do seu heroísmo, á nação, desde os mais re­motos tempos coloniaes, até hoje. São Paulo, berço de estadistas e homens illustres, sempre representou um papel saliente nos destinos do Brasil. E’ o Estadoi que synthetiza todos os demais Estados da Federa çãoi, no qual se re- flectem todos os ramos da actividade humana.

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nJ - T o / W . <91355Coração deste gigante Cyclope que é o Brasil, suas fortes pulsações repercutem nos recan­tos mais afastados e sua larga artéria que é o porto de Santos, manda a sua riqueza e dynamismo, alem dos mares, para o exlran- geiro.

Falar de São Paulo é falar do Brasil. O caso que São Paulo reivindica, devem to-

Dr. Pedro d e T oledo , em cujo g overn o irrom peu o m ovim ento revolu cion ário em S ão Paulo.

dos os brasileiros reivindicar, entre£ando-se totalmente as aspirações piratininganas, con­fiantes em que os guiará pelos caminhos roseos da victoria e do exito. Si a missão que São Paulo exerceu nos levantes do 24 e do 30, foi magestoso e patriotico, a missão que de­sempenha na revolução actual, dirigida pelos caudilhos Isidoro Lopes e Bertholdo Klinger, é mirifica, super-excelsa e idealogica, pois agora não defende um partido; defende ao Brasil, defende a nação.

II

Encerravam-se os trabalhos do 8.o Con­gresso do Partido Democrático, as 11 horas da noite, do. memorável dia 9 de Julho, quan­do a uma hora da madrugada, irrom peu na Capital Paulista o movimento revolucionário constitucional, assumindo as supremas respon­sabilidades das forças empenhadas na luta pela immediata constitueionalização do paiz, o Ge­neral Isidoro Dias Lopes, secundado no dia seguinte, pelo General Bertholdo Klinger. Gom- mandante da Circumscripção de Matto Grosso, e o Coronel Euclydes de Figueiredo que assu­mia, de accordo com os rebellados o comman- do da 2.a Região Militar. Logo que irrompeu o movimento, o povo em massa, fremente de enthusiasmo, invadiu as casas de armas e os

quartéis, pedindo munições para lu tar contra os dictatoriaes. As tropas regulares já estavam prevenidas para o ataque e levante immediata. Por isso, sem difficuldade nenhuma, foram adherindo ao movimento redemptor, as tropas do 4.o Batalhão B. C. aquarteladas em San­ta Anna e a guarnição de Quitauna. Os Che­fes do movimento ao dar o signal do levante, já tinham tudo combinado para o ataque. Ordens immediatas foram expedidas ao Com- mandante da Força Publica Cel. Julio Mar­condes Salgado, para que fornecesse as me­tralhadoras necessárias para guarnecer a Es­tação do Norte, Correios, Telegraphos e as sociedades da Radio Educadora, a Paulista e outros logares; emquanto outras concentrações de civis armados guarneciam diversos pontos da cidade como a Praça Buenos Aires, Avenida Paulista, Largo das Perdizes, Praça da Sé e Cambucy, concentrando-se mais tarde no Largo São Francisco. Este Largo, era tal a massa do povo que se avolumava que estava quasi interrompido. Nessas mesmas horas da m a­drugada, officiaes da Força Publica e do Exer­cito, com alguns estudantes, prendiam o Coro­nel Mendonça Lima, Chefe do Estado Maior da Região Militar, Capitão Eduardo Campello e tenente Pagé Carvalho, ambos officiaes de ordens do Cel. Manoel Rabello. Despontavam os prim eiros raios do sol, beijando as siluetas dos aranha-céos, quando o movimento, já era intenso em todas as ruas da Capital. Caminhões cheios de soldados do Exercito, dirigiram-se ao Quartel General, entrando imniedi itamente na

O id o lo d o p ovo , Gai. Isidoro D ias Lopes, q u e assum iu as re sp o n sa b ilid a d es d as

forças em p en h a d a s na luta.

Chacara do Carvalho pelo portão principal, emquanto outros da Prefeitura, carregados de e munições, atravessavam a toda velocidade o Viaducto do. Chá, em demanda ao Largo São Francisco. O formidável movimento das pri­meiras horas, attingiu agora a organização definitiva. São Paulo, todo unido e coheso, age no sentido de ser estabelecida a mais com­pleta harm onia estratégica, levantando em pou­

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cos instantes cem mil homens em pé de guerra, victoria que a guerra europea não registrou.

A mocidade paulista já estava de posse de todos os recursos e de todas as instruc- ções necessárias, aguardava apenas ordens, ü numero de reservistas e de voluntários cresceu num rythm o que empolga e que afirma o ani­mo forte que se a posou da nossa mocidade. Foi deveras impressionante o alistamento ve­rificado nas differentes circumsçripções mili­tares. De momento a momento surgiam ra­pazes e mais rapazes de physionomia alegre e risonha, demonstrando no seu semblante a a real intenção de combater-se até o fim, pela autonomia de São Paulo e pela constituciona- lização. Elles correm presurosos alistar-se dan­do os nomes e residências e recebendo o res­pectivo armamento. Depois de um fulminante e curto dialogo, eram informados do local e da hora onde deveriam comparecer para -as immediatas instrucções. Em todos os sectores de alistamento reinava o mesmo enthusiasmo.

O b ravo Gai. B ertholdo Klinger, q u e com a sua icircunscripçâo d e M afto G rosso,

com m um garam d a s id éa s lib ertad oras paulistas.

Por Ioda a parte homens de 18, 30 e 50 an- nos. Nunca se viu na historia tanta resolução e tanta attitude desprendida e abnegada por um ideal. São Pauto em peso levantou-se em armas, collaborando para a victoria e para a prompta integralização do paiz ao regime cons­titucional. Todas as classes sociaes, sem dis- tineção de raças e de partidos, arregimentaram- se constituindo batalhões e companhias. Não ha um paulista, que neste momento fique inerte ou sceptioo, ante o gladio tra idor que vem fe­rir-lhe seu caracter, seus brios e suas glorio sas tradicções passadas. São militares, operá­rios, trabalhadores, alumnos de Escolas de Commercio e de Direito, professores, médicos, engenheiros, advogados, funccionarios públicos, todos querem concorrer com as suas capaci­dades para ó exito de alevantada causa. Moças, senhoras e senhoritas da sociedade paulistana, possuídas do mais sincero patriotismo oolla-

boram de diversas form as; seja confeccionan­do fardas para os soldados voluntários; seja angariando donativos ou organizando assistên­cias para a «Cruz Vermelha», intervindo mais tarde nos soccorros de hospitaes de emergen- cia que foram installados nos differentes secto­res, onde se bateriam as forças constituciona- listas. São Pauto offereceu-nos nesta hora his­tórica o espactaculo soberbo de uma nação forte e admiravelmente organizada, que se pre­para para uma longa e dura guerra. Esta col- meia gigantesca que se poz em acção, que se movimenta febrilmente, que pensa, que vive, que se agita nos seus multiplicados esforços, pela constituição, pela terra bandeirante e peto Brasil, não esmorece, não desfallece na sua campanha. Nesse movimento que innunda as artérias da cidade é essencialmente espontâneo e voluntário. Não houve recrutamento força­do como na Revolução anterior, porque desta vez todos os piratininganos comprehenderam sem hesitação, que lutar por São Pauto neste transe é mais do que um dever, uma honra insuperável. São Pauto soergueu-se para de­sagravar-se das iniquidades que soffreu, para reatar as suas tradições de valentia e pugna- cidade e mais do que tudo para restituir aos brasileiros o seu direito de cidadania, outor­gando-lhes a Constituição que almejam. «A es­pada desembainhada num lampejo fulgurante faz continência a lei e esse gladio que as­sim lampeja e rebrilha, esse gladio invencível é o gladio de São Paulo. São Pauto é hoje um soldado só, de pé e em armas, m archando para frente, não pleiteando uma cousa mas sim defendendo uma cousa como falou o Dr. Ibra- him Nobre.

III

Dominada de prompto a situação m ilitar da Região, na noite memorável de 9 de Ju­lho, não foram necessárias muitas horas para que começassem a seguir para as raias do Es­tado os primeiros contingentes da valiosa força paulista, enviadas contra a Dictadura. Cami­nhões cruzavam incessantemente as ruas, pe­jados de voluntários em direcção aos quartéis, emquanto outros batalhões impeccavelmente equipados desfilavam pela cidade a caminho das estações de embarque e dos campos de batalha. A todo momento nas Estações da Sorocabana, Central e Paulista chegavam e saiam comboios conduzindo tropas do Exer­cito e da Força Publica. A multidão enthu- siasmada, postada a estação, sequiosa, accom- panhava todo o movimento que se desenvolvia para a grande luta que se frisava, applaudindo longamente as tropas libertadoras. O primeiro contingente que rompeu a m archa foi o 7 .o

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B. C. da Força Publica com direcção a Cam­pinas, sob o commando do Tenente Coronel João Dias de Campos. Magnífica era a moral de toda a tropa partindo entoando hymnos patrióticos confundidos com fârtos vivas a São Paulo, a Força Publica e ao Embaixador Pedro de Toledo. Chegam depois na mesma noite na Estação da Luz, o grupo de m etra­lhadoras Pesadas aquartcladas em Itú, em bar­cando na mesma noite para Cruzeiro, onde tomaram posição ao lado das forças ali acam­padas. O mesmo movimento reinava nas de­mais estações ferroviárias. Batalhões armados divergiam para todas as fronteiras do Estado. Na Central do Brasil, seguia para Cruzeiro o Regimento de Cavallaria do 2. o R. D. de Pi- rassununga, commandado pelo Cap. Oswaldo Pereira, revolucionário de 1924, precedido pe­los l . o e 2.o Batalhões da Força Publica que embarcaram horas antes para o campo de ope­rações. Na São Paulo Railway seguiram com direcção a Santos o 6.o Batalhão da Força Publica, risonhos e alegres. Em poucos dias as regiões de Cruzeiro, Rezende, Cunha, Tun- nel, Itararé, Ribeira e Ourinhos, já possuía mais de 100.000 homens paulistas.

IV

0 movimento da revolução constitucional é essencialmente paulista. São Paulo sozinho ou acompanhado irá na lula com a arm a na mão e a alma no peito. Si os irmãos o aban­donarem, seguirá sozinho até ao fim. Que im­porta? Maior é a gloria quanto mais rude é o Calvario. Tudo pode falhar, mas São Paulo nunca irá contra as suas tradições. Os chefes e dirigentes da Campanha, mantem-se nos seus postos de commando firmes e resolutos. O Quartel General da 2.» Região, entra agora num período de relativa calma, depois de to­madas todas as providencias que se impunham logo após a installação do commando. Confra­ternizadas as tropas do Exercito e da Força Publica do Estado, mostram mais uma vez a evidencia de seu elevado patriotismo, disci­plina e sentimentos das respqnsabilidades que pesam nos hombros dos que se propuzeram a construir uma Patria mais feliz. A presteza maxima com que foram executadas as ordens emanadas através os diversos orgãos do Es­tado Maior são devidas ao apreciavel concurso do Commandante Coronel Julio Salgado e Co­ronel Euclydes de Figueiredo.

Por esse tempo corria insistentemente a noticia de que o General Bertholdo Klinger, Commandante da guarnição de Matto Grosso, adherira ao movimento revolucionário. Essa noticia vehiculada confirmou-se logo com a conferência radiotelegraphica que houve entre

o Commandante da 2. ' Região e o General Bertholdo Klinger, tendo sido o mesmo intei­rado minuciosamente da situação de São Paulo e das deliberações de ordem m ilitar já tomadas Por esta occasiâo o General Bertholdo Klinger communicou ao Coronel Euclydes de Figuei­redo que chegaria a São Paulo nesse mesmo dia alliar-se á Cruzada Paulista. Partindo de Matto Grosso, tratou de mover todas as tropas da sua Região. A sua recepção com suas hostes em São Paulo, uo dia 12 de Julho, constituiu uma apotheose. Entrando logo cm contacto com a nova missão a desempenhar, lançou um vehemente appello aos seus camaradas. Outras mensagens foram lançadas a Minas Geraes, Rio Grande e Paraná.

V

Alem das numerosas irradiações lançadas por homens eminentes e conhecidos escripto- res, lançaram-se vibrantes manifestos por to­das as corporações paulistas, mas destes pre­tendo inserir apenas os manifestos dos Chefes do movimento revolucionário constitucional, co­mo documentos perpétuos que passam aos ar chi vos da fulgurante historia paulista. Im- mediatamente que irrom peu o movimento, lan­çou-se ao publico a seguinte mensagem;

AO POVO PAULISTA

Neste momento, assumimos as supremas responsabilidades do commando das forças re­volucionárias empenhadas na luta pela imme­diata constitucionalização do paiz. Para que nos seja dado desempenhar, com cfficiencia a delicada missão de que nos investiu o illustre governo paulista, lançamos um vehemente ap­pello ao povo de São Paulo, para que nos secunde na acção primacial de m anter a mais perfeita ordem e disciplina em todo o Estado, abstendo-se e im pedindo a pratica de qualquer acto atentatório dos direitos dos cidadãos, seja qual fôr o credo poli tico que professem. No decurso dos acontecimentos que se seguirão não encontrará a população m elhor maneira de collaborar para a grande causa que nos congrega, do que dando na delicada hora que o paiz atravessa, mais um exemplo de ordem, serenidade e disciplina, característicos funda- mentaes, da nobre gente de São Paulo.

General Isidoro Dias Lopes.Coronel Euclydes de Figueiredo.

MENSAGEM DA FRENTE UNICA AO POVO BRASILEIRO

Pelo m icrophone da P. R. A. R. o Dr. Fran- I cisco Morato, lançou em nom e da Frente Vni-

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ca, lançou a seguinte mensagem ao povo bra­sileiro.

«Senhores; Perm itti que eu vos fale em nome da Frente Unica Paulista, acerca dos successos que prendem nesta hora a attenção geral, de nossos compatriotas. E’ um dos mais bellos episodios que se registam nos factos e esplendores da historia politica de São Paulo, o movimento que irrom peu hontem a noite e avassalou em breves instantes todos os espíri­tos, ainda mesmo os do que, por tendencia ou educação, flucluam continuamente entre tími­dos e ir resoluto s. Bello pelo acolhimento una­nime com que foi recebido c patrocinado não só da população civil sinão lambem das classes armadas, federaes e estadoaes, onde não houve uma só resistência, uma só hesitação, uma só voz que quebrasse a harm onia com que a alma de Piratininga revive gloriosa nas festas da civilisação. Bello pelo motivo que o dictou e pelo desencadeamento de potências qué és- tuavam incohersiveis no animo de nossos pa­trícios, a espera de apportunidade para teste­m unhar, perante Deus e perante os homens, que não pode viver contente e prosperado, fora da orbita, das garantias constitucionaes, um povo que foi educado nas doçuras da liber­dade e edificou a sua grandeza nas vigas mes­tras da democracia. E’ lamentavel que a dicta- dura por sua politica de recuos, de vae-vens e de repudio aos princípios liberaes da campa­nha que a gerou, tenha forçado o passo extre­mo que entra rutilante para a data de 10 de Julho, do anno da graça de 1932. E’ debalde que se pretende m arcar e deprim ir o formoso gesto com a accusação de que se trata de um golpe separatista. A campanha de São Paulo é profundamente nacionalista e civili- zadora, nella não ha de parar siquer vislum­bre ou pensamentos indirectos de regionalismoi. O sihiples facto da nossa entrada nessa pugna alliados com o Rio Grande do Sul, com Matto Grosso, com Minas Gera es, com as correntes constitucionalistas de varias unidades da fede­ração e com as forças arm adas de todo o paiz, repelle de si só, incondicionalmente esta balela e invencionice de separatismo. Moveu-nos de começo a reconquista de nossa autonomia e a organização de um governo, seguindo os nos­sos desejos. Mas, isso foi apenas o prologo do drama palpitante que se desenrola no scenario nacional. São Paulo volve hoje suas forças para o problema da reconstitucionalização, da autonomia dos demais Estados e do bem estar geral dos brasileiros. Satisfeito em parte, não lhe é licito eximir-se ao dever de collaborar com seus patrícios, na mais intima e fraternal das solidariedades, na mais sincera e dedicadas das affeições, na mais consciente e desejada das comm unicações de vista neste lance civico

de defender a cultura de nossà nacionalidade e união abençoada dos filhos de Santa Cruz e a integridade elhnica e geographica do, territorio nacional, base da hegemonia do Brasil, no equi­líbrio continental da America do Sul, monu­mento atteslatorio da clarividência e braço for­te com que a distenderam, e consolidaram os nossos antepassados. Excusado é em vão todo o esforço para nos confundir e intrigar. São Paulo ergue-se redimido e impávido das es- curidões e lateamentos da dictadura, onde pre­tenderam acorrental-o; ergue-se com seus al­liados, nas luminosidades de sacratissimo apos- tolado, para salvar o patrimonio de nossas grandezas moraes, políticas e economicas. A luta não é pela separação; a luta é para que o Brasil retome o fio de sua m archa ascen- cional á sombra bemfajeza da Constituição e pela voz de seus legítimos representantes.»

A’ NAÇÃO

«O movimento que se desencadeou na noite de 9 para 10 deste mez e dominou in- eontinenti o Estado de São Paulo, na mais perfeita harm onia e solidariedade de civis e militares, sem lutas nem vozes discrepantes, não tem outros intuitos senão reintegrar o paiz na ordem legal e restituir aos brasileiros o gozo dos direitos e franquias que são o apa- nagio de nossa civilização. Como a Dictadura se tenha incompatibilizado com esses ideaes, quebrando os compromissos da alliança libe­ral e exercitando uma politicaj indigna de um povo culto que se desenvolve e prospera sob a cupola da democracia constitucional repre­sentativa, cumpre reduzil-a e removel-a do posto em que pretende perpetuar-se é sobré- pôr seus proprios commodos ás aspirações da Nação. Pelo que, o povo, a guarnição federal e a Força Publica de São Paulo, fraternizados com os civis e militares de Matto Grosso e em estreita cooperação com as correntes po­líticas e milicias do Rio Grande do Sul, Minas Geraes e outros Estados, pedem se tranqüilizem seus compatriotas e annuncia-lhes que o mo­vimento ha de generalizar-se a proseguir vi- ctorioso com o duplo e fundamental intento de entregar o Governo Federal a uma Junta que, dentro do prazo estrictamente indispensável para o prepano e funccionamento da assemblea constituinte, leve o paiz ao regime constitucio- e de pôr em vigor immediatamente a Consti­tuição de 24 de fevereiro de 1891, salvo nos topioos atinentes ao poder legislativo e em outros inconciliáveis com as necessárias pro- rogativas do poder-supremo, na situação efe- mera em que nos achamos. A Junta Gover­nativa Nacional compor-se-ha de cinco mem­bros; um do Rio Grande do Sul, um de São

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Paulo, um de Minas Geraes, um do Districto Federal e um do Norte, e elegerá dentre eF les um para o seu presidente.

Tudo pela união, felicidade e grandeza do Brasil.

Assignado.Pedro de Toledo.

Geri. Isidoro Dias Lopes. Gen. Klinger.

Francisco Morato. A. de Padua Sales.

UM APPELLO DO GENERAL KLINGER

Camaradas, Civis e Militares.A gloriosa insurreição paulista contra a

dictadura, foi uma realização irresiistivel, im- mediatamente consumada, sem um tiro,, pela manifesta solidariedade das guarnições federal, esta doai, organizações militares de civis e toda a população,. O longinquo Matto Grosso, sabe­dor do acontecido, na madrugada de domingo, immediatamenle essa nobre attitude e m plena paz e ordem, estabeleceu novo governo e se declarou unanime prompto para o chamamento ás armas. Só a falta de informações sobre a verdade, falta a imagem dos velhos methodos supprimidas pela mentira, é que nos Estados ainda não redemptos, civis e militares, ainda não pronunciaram sua adhesão, a essa causa da mais genuina brasilidade, a esse surto irre­primível da mais acrisolada dignidade nacional. Agora, porém, que a verdade nos chega, que esperaes? Quanto antes, mais patriotioo! Fazei cada qual em seu recanto, em convergência com todos os corações, todos os pensamentos, todos os braços e todos os brasileiros, em cada Estado, o ([ue no seu torrão fizeram os pau­listas, nunca jamais tão brasileiros! Cariocas que esperaes? Estamos em m archa, em vosso auxilio, mas muito mais formoso para vós e para nós, será que não espereis! Não ha ne­cessidades de complicadas organizações previas, entendimentos meticulosos; tudo está feito, no

O que ho uv e

Dia 10

AS PRIMEIRAS NOTICIAS — EMBARQUE DO DESTACAMENTO LOCAL

As primeiras lufadas do movimento re­volucionário que irrompeu em São Paulo na noite do sabbado sacudiram a população local, nas primeiras horas da m adrugada do domin- |

consenso fundamental das ide as da liberdade, unidade, paz e trabalho. O povo, sem armas, pronuncie sua vontade. Seus irm ãos armados, que não são mercenários, pois que as forças armadas brasileiras, são nacionaes, não laven- tarão suas armas contra a vontade do povo. Camaradas do Exercito! Quem vos fala pela logica de uma oonducta, jamais descontinuada através de sua vida feita só no Exercito, a serviço do Brasil, é o porta-bandeira do pro- prio Exercito, unido, disciplinado e honesto, digno de uma nação digna.

Fitae esta bandeira! Juntae-vos a ella!(a) General Klinger.

A’ NAÇÃO

Emquanto não se organiza e empossa a Junta Governativa Nacional de que deu noticia a nossa proclamação anterior, entre­gamos a direcção executiva superior do mo­vimento revolucionário nacional aos generaes Isidiro Dias Lopes e Klinger.

São Paulo, 12-VII-32.Pedro de Toledo.Francisco Morato. \A. de Padua Sales.

Em consequencia, solicitamos e alcança­mos a collaboração dos Srs. Francisco Morato e A. de Padua Sales, na direcção executiva superior do movimento revolucionário nacio­nal.

São Paulo, 12-VI1-32.Gen. Isidoro Dias Lopes.Gen. Klinger.

Investimos da suprema direcção m ilitar da revolução e commando da II.a Região Mi­litar o General Bertholdo Klinger.

São Paulo, 12-VI1-32.Gen. Isidoro Dias Ijopes.Francisco Morato.A. de Padua Sales.

em Our i nhos

go, pelos telegrammas do Commandante da Força Publica dirigidos ao delegado local, Dr. Ribeiro Cruz e Prefeito Municipal, Dr. Theo- dureto Ferreira Gomes. Ordem urgente, re- e cebeu a prim eira autoridade para que o des­tacamento local, seguisse para as linhas do «front» no primeiro comboio, que partisse. Por toda parte viam-se nesse dia grupos que

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commentavam a noticia do levante. A revo­lução era o assumpto de conversa na praça, esquinas, bares e logradouros públicos. O m o­vimento intensificou-se lá para as 10 horas do dia, hora da chegada do trem de São Paulo. Ao primeiro apito na pedreira, massas de curio­sos corriam em direcção a estação, saciar sua tendencia na leitura dos jornaes «Diário da Noite , «Folha da N oite> e «Gazeta». Os ven­dedores das folhas, viam-se bem embaraçados para a sua distribuição. Foi preciso que ura cordão de fortes cercassem elles isolando lhes dos assaltos por parte dos mais fanaticos. Mes­mo aproveitando-se desta opportunidade para vender os jornaes a preços excepcionaes, a população comprimia-se em roda delles, dispu­tando-se o impresso. Na mesma plataforma muitos liam o jornal duas, tres, quatro vezes, tirando conclusões e deduzindo factos que ser­viram de assumpto para o resto do dia. Aquel- les que ainda não conseguiram decifrar os caracteres do alphabeto por falta de mestres, lamentavam a sua sorte, apressando-se ávidos como o atheniense Cleanthes em roda de um Zenon para que lhes orientasse pela geogra- phia a m archa do movimento.

Antes das 4 horas, a população em massa, se comprimia no vasto hall da estação. As autoridades lá estavam presentes. Echoavam momentos depois as notas acordes da Banda Municipal que em côro, sahia do jardim acom­panhando o destacamento local, entre hymnos marciaes e patrióticos. E ra o embarque do nosso valoroso destacamento que ao appello dos seus irmãos da Capital, iam unir-se a elles para a conquista dos mesmos ideaes, deixando aqui grande numero de amigos, adm iradores e particularm ente o que mais amavam: suas esposas. Lá estavam ellas, impavidas, choro­sas e afflictas, m a s . . . altaneiras e orgulhosas como a heróica mãe dos Grachos. Entre as des­pedidas, abraços e beijos, o sargento Affonso de Paula e Silva, emocionado, saudou com fe­

ridos lances á população de Ourinhos, salien­tando os progressos do pequeno município em cuja curta estadia, conquistou amizades im- m orredouras. Respondeu ao discurso do sar­gento o Sr. Amazonas Sampaio, director do Grupo Escolar, em termos incentivados de patriotismo. Entre applausos e vivas, o com­boio partiu.

Dia 11 e 12

VOLUNTÁRIOS — DONATIVOS — COLO- NIA SYRIA

De acoordo com as instrucções recebidas em circular expedida a todas as Prefeituras, o Dr. Theodureto F. Gomes, entrou em enten­dimento com o Delegado Dr. Ribeiro Cruz e mais alguns destacados elementos para a arregimentação de um corpo de voluntários. Immediatamente na Praça João Pessôa, arvora­vam-se no portão da antiga «Agencia Ford», as bandeiras nacional e do Estado, estabele­cendo-se lá até nova ordem o quartel do «Ba­talhão Cel. Theopompo de Vasooncellos» for­mado pelos voluntários da mocidade local. No frontispicio estava o placa, em caracteres

rubros sobre fundo alvo: «Batalhão Cel. Theopompo Vasconcellos». E na mes­ma em caracteres menores: «Defender São Paulo é dever de seus filhos». Não foi necessário dar muitos passos aos organizadores. Espontaneamente e com toda a liberdade, inscreveram-se 130 jo­vens frementes de patriotismo e de en- thusiasmo. Subordinados a um novo, re­gime de disciplina, lá estavam elles, no pateo da Delegacia, physionomia alegre e vontade resoluta, sob a direcção do instruetor Eduardo Sandano, escrivão da Policia, amestrando-se na ins-

trucção militar. Por estes dias organizaram- se diversas commissões de senhoras e senho- ritas da nossa elite social com o fim de an­gariar donativos para os soldados constitu- cionalistas. As tres commissões estavam da seguinte forma representadas :

P residente: Rdo. Pe. Victor Moreno.Secretario: Prof. Joaquim Pedroso F.oThesoureiro: Raphael Papa.

1.a CoiTiimissão :Sra. Annita Amazonas.

» Maria Gomes Leão.» Zizi Coccapieller.» M ariquinha Pedroso.

Sta. Cecilia Pinto Ferraz.» Mariinha Mano F.o» Maria Alonso.» Annita Mori.

V ista p anoram ica d e O urinhos.

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2.a Coirãnissâo :Sra. Nenê Sassi.» Valentina Queiroz.» Adelia Koury.

Sta. Bugelli.» Tocalino.» La ura e Idalina Campos.» Diva e Ziza Milani.» Laurita Ivoury.

3.a Commissão:Sra. Izabel Ferraz Barbosa.

Adelaide Pedroso.» Benedicta Azevedo.

Sta. Matachana.» Oslavia Braz.» Maria Cury.» Lurdes Pinto Ferraz.

Seus esforçoiS e abnegação, foram lau­readas de exito, pois conseguiram receber cm donativos 3:500$000. Sendo como é um acto philanthropico, nobre e civico, merece que mencionemos a lista dos que concorreram paraa sua formação. São elles:

Dr. H a m ilto n ................................................. 150S000Dr. Ribeiro Cruz . . . . . . . 100$000Pe. Victor Moreno . . . . . . 100$000Miguel C u r y ..............................................100$000Henrique T o c a l in o .................................100$ 000Herminio S o s s i ...........................................100S000Alvaro Ferreira de Moraes . . . 100$000Oswaldo Pare t o ....................................... 50$ 000Dona to S a s s i ....................................... 50$000Amazonas S a m p a io .................................50$000Alvaro R o lim ..............................................50$000Dr. Armando Moraes e Mello . . . 50$000Graciano Raccaneli .......................... 50$000Silas Ferreira e S á .................................50$000M. S e r r a ......................................................... 50$000Nicolau de M a r c o .................................50$000Arietta & Cia. . . . . . . . 50$000Ricardo Zanotto & Cia..............................50$000Andrés C a s ti lh o ....................................... 50$000Celestino Antonacci . . . . . 50$ 000A. M a c h a d o .................................................. 50$000Carlos A m a r a l ....................................... 50$000Olavo Ferreira de S á .......................... 50$000Julio M o r i ..............................................50$ 000Antonio P e n t e a d o .................................50$ 000Hercilio C. de A v i l a .......................... 20$000Joaquim P e d r o s o .................................50$000K. O l e a r o ...................................................50$000XVallace A. Morton . . . . . . 50S000G. L. S m i t h .......................................50$000Raphael P a p a ................................ . 50$ 000Anonymo ..............................................50$ 000H. Beltrami ................................30$000Rodopia no L e o n i s .................................50$ 000Serafim Rodrigues de Souza . . . 50$000

Hermenegildo Z a n o t to ..........30$000Adolpho A l o n s o .................................30$ 000Alberto G r i l l o ...............................20$ 000José Ferreira Leite . . . . . . 20$000J. Gomes Guerra . . . . . . . 20$000José de A n d r a d e ................ 20$000F. Silva .................................20$ 000João Baptista F id r i t lo ..........20$000Joaquim Luiz da Costa . . . . 20$ 000Narciso M i g l i a r i .................................20$ 000José de Freitas . . . . . . . 20$000Ada Lehmann . . . . . . . 20$000Jasi T e ix e ira * . . 10$000Vasco Fernandes Grillo . . . . 10$000Humberto de Tonni . . . . . . 10$000João de la T o r r e .................10$000Antonio Nicomedes Peixe . . . . 10$000F. B o r g h i ............................. 10$ 000Manoel G o m e s ...............................10$ 000Constantino A. Molina . . . . . 10$000Adelino de O l i v e i r a ................................10$000Hercilia B u g e ll i .......................10$000Julio Campos R o c h a ..........10$000Antonio J. Ferreira . . . . . . 10$000Antonio A. G o n ç a lv e s ......................... 10$000Boris M e i c h r f ...............................10$ 000Plinio F r a n c o .......................10$000Marcos T r e n c h ......................................10$000Um1 B o tu c a tu e n s e .................................10$ 000A rthur Germani . \ . . 10$000João Lopes M a rtin s ................ 10$000Carlos R o d r i g u e s ................ 10$000Manoel Mano ....................................... 5$000Francisco L. S o u z a .................5$000Antonio T o n d i n i ........................................ 3$000Octavio R ib e i r o ...................................... $500

Em generos :

Casas Pernambucanas, 8 m. de loiia; Bazar Nacional, 1 m ala; Casa Meia Lua, 1 mala; Casa Nortista, 10 sabonetes; Casa Sal­gueiro, 3 pacotes de phosphorçis; Francisco Fragão, 7 maços de cigarros; Pedro Celestini, 2 maços de cigarros; Francisco Pechi, 1 par de botinas; Casa Toni & Cia., 1 maço de phosphoros; Antonio Serralvo, 1 maço. de phosphoros; Manoel Blanco, 1 lata de bola­chas; Hermenegildo Zanotto, 1 sacco de feijão; Antonio x M. Peixe, 1 par de botinas; Bar Commercial, 1 lata de bolachas; Ectore Qua- glio, 1 maço de phosphoros e 2 sabonetes; Arquipo Matachana, 1 valiza; João Alves de Oliveira, 5 maços de velas; Antonio Romeiro, 8 maços de cigarros; Manoel Teixeira, 1/2 arroba de café mo ido ; Anonymo, 2 maços de cigarros; Suyama, 1 caixa de cigarro, s; Antonio N. Peixe, 1/2 hora de serviço para concertos; João Rocha, 3 barbas e 3 cabellos por dia; Rufino A. Manoel, serviço de 1 hora

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de barbearia ; Sebastião Moreira, serviço de 1 hora de barbearia; Alfredo Moraes, serviços de sapateiro ; A rthur P. de Mello, serviço de Barbearia; José F. González, 2 horas de al­faiate ; Luiz Forte, 1/2 hora de serviço de tin turaria; Antonia Maria de Souza, 1/2 hora de serviço de costura; Raphael Fio- rillo, serviço para os soldados de bar­bearia, das 8 horas em diante.

O utra commissão de abnegadas Se­nhoras e Senhoritas confeccionaram ca­misas e ceroulas para todos os soldados aqui aquartelados.

Dentre os grandes bcmfeitores, me­rece salientar a colonia syria, pelo altruís­mo manifestado em favor da causa cons- titucionalista. Deixando de um lado o bairrism o e o partidarism o, os syrios não ficaram impassíveis e immoveis ante as lamentáveis e dolorosas conseqüências do movimento armado. Unidos e estreita­dos pelos vinculos inquebrantaveis de na­cionalidade e parentesco, conseguiram form ar em poucas horas um fundo disponível de Rs. 1 :267$000, assim especificado:Abuassali A b u j a m r a .......................... 2001000Salim A b u ja m ra ........................................... 100S000W adih C h a d d a d .......................................100$000Dr. Nagib K o u r y ......................................100S000Chehadi J o r g e ............................................. 100$000Ayub A b u j a m r a ..................................... 1001000Miguel C u r y .................................................. 100S000José A b u ja m ra ...................................... 50$000Assad A b u ja m ra ............................................ 50S000Jorge A b s i .............................................. 5S000Fufih Miguel Abujamra . . . . õOSOOOJamil A b u j a m r a ................................ 50$000Theophilo A b u ja m ra .................................. 10$ 000Salim N. A b u ja m r a 50$ 000Antonio Tuffy Kaki ..................................50$000Abílio S a lo m ã o .............................................. 50$000Mansur Abumasser & Irmão . . 50$000Abrahim D a b u s ......................................50$000Miguel T a c l a ........................................ 2$000

Magnífico exemplo de generosidade e no­breza para as outras oolonias radicadas no Brasil! Isto não exclue absolutamente a pres­teza dos extrangeiros de outras nacionalidades que arregimentados sob o mesmo pen,dão con­correram com seus serviços e donativos es­pontâneos para o exito das forças constitucio- nalistas, irm anados com o povo paulista.

Dia 13.

CHEGADA DA FORÇA PUBLICA — CAMPO DE AVIAÇÃO

A cidade de Ourinhos recebeu neste dia com o mais vivo jubilo, os bravos soldados

do 9 .o B . C. da Força Publica commandados pelo capitão Ferreira e tenente m ilitar Gusmão. Já de madrugada, noticias corriam de que a tropa estava para chegar. O considerável atrazo do trem de passageiros, a justificou. Ao meio

dia, sob um sol causticante, grande era o nu­mero de populares que ansiosos esperavam a chegada do Batalhão-. Finalmente a 1 hora 'da tarde, o comboio m ilitar deu entrada na gare entre vivas e acclamações. Ao desembarque foi a officialidade cumprimentada pelas autorida­des civis e militares que lá estiveram presen­tes. Immediatamente em forma foram aquar­telar-se na séde provisoria do «Batalhão Tneo- pompo». Logo iniciaram os serviços de ins- pecção na Ponte do Paranapanema, abrindo trincheiras e collocando as m etralhadoras nos pontos mais estratégicos. As occupações aiarias do 9 .o B. C ., tornou-se desde a sua chegada notoriamente efficiente, guarnecendo dia e noite o percurso do rio comprehendido entre Irapê e Salto Grande, fechando as communicaç3es com o Paraná definitivamente, no clia em que a Cia. Ferroviária S. P. P. suspendeu o tra­fego com o vizinho Estada embarcando todo o m aterial rodante para Ourinhos.

Emquanto o-s militares occupavam-se as operações bellicas, uma turm a de 40 a 50 ope­rários decididos embarcavam em caminhões, dirigindo-se a um ponto determinado nas m ar­gens do Paranapanema, municiados de enxa­das, machados, foices e pás. O conjuncto as­semelhava-se a um grupo de barbaras da Eda- de Media; com a differença de que estes guer­reiros são civilizados e as manobras selváti­cas não visavam uma tribu inimiga mas sim um campo amigo. Tratava-se de transform ar um vasto capinzal de 500 metros de lado, num magnífico aerodromo. Logo depois de consumada a revolução do 30, foi idea do go­verno estadoal, doar a Ourinhos um campo de aviação, pela sua posição estratégica com o

Uma Cia. d e cozin heiros do 9 .° B. C. da Força Publica.

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Paraná. Aquella concepção que declinou mais tarde no esquecimento, veiu agora ser uma realidade. A posição topographica da margem direita do Rio Paranapanema, para campo de aterro, é admiravel. Diversos seriam os pontos j que nessa bacia poderiam escolher-se para tal fim. Acredito que dos 44 campos, que nesta emergencia foram levantados, no territorio pau­lista, o de Ourinhos, traçado de accordo com as indicações de engenheiros technicois, des­taca-se dos outros pela sua posição, area e elevação. Dista apenas da Ponte Metallica, um kilometro e acha-se sobre um planalto elevado de cujo ponto de mira, avistam-se as estradas de rodagem e ferroviária da São Paulo— Paraná, que serpenteiam as beiras do rio.

Dia 15.

EMBARQUE DE VOLUNTÁRIOS

Proseguia com a m aior animação nos exercicios militares, o batalhão de voluntários, quando uma ordem emanada do delegado local, veiu incentivar as suas faces. Era a ordem marcial de seguir para as linhas do «front». Radiantes de alegria e cheios de enthusiasmo, por ter chegado a hora de dar a Patria um dia de gloria, foram cada qual em suas casas aprom plar as suas malas, até a hora do em­barque. A’ partida dos bravos rapazes de Ourinhos, a m aior parte da população, achava- se na estação, lançando acclamações frenéti­cas ao Brasil, a São Paulo e as forças cons- titucionalistas. Felicitou a caravana pioneira, o Sr. Amazonas Sampaio, elogiando ao povo bandeirante que neste momento se batia pelos mais alevantados ideaes, quaes são,, a sua au­tonomia e conslitucionalização. Em nome do batalhão, respondeu da sacada do trem, num eloqüente imprevisto, o jovem acadêmico pa­ranaense Trigueirinho Lins o qual com voz argentina e energica, repudiou a infame di- ctadura que comparou a um vulcão em acti- vidade cujas lavas eruptivas se alastram pelo territorio incendiando as paragens ferteis e luxurientas reduzindo tudo a um montão iner- me de detritos pyricos. Pois bem, accresccntou elle para finalizar. «Nós iremos até as entra­nhas desse monstro, até ao Cattete si é pre­ciso para interceptar essa corrente sismica, an­

tes que abale o Brasil inteiro». — Exprimia- se o jovem orador com tanta vivacidade, que extorquia applausos espontâneos dos que ali estavam presentes.

Desta enthusiastica manifestação presta­da ao primeiro contingente de voluntários, de- duz-se de quanto o povo culto de Ourinhos, está integrado na causa que São Paulo iniciou em pról da volta immediata do paiz ao re­gime legal. Este arranque civico de seus filhos, foi exemplo de outros arranques idênticos nas cidades do norte do Paraná, particularm ente em Cambará e Jacarezinho.

Dia 16.COMÍCIO MONSTRO

Na m anhã orvalnada deste dia, os postes tele-graphicois e telephonicos da cidade, amanheceram co­bertos por uma faixa de papel impressa, no qual se lia o seguinte appello do nosso zeloso vigário Pe.Victor M oreno:

Ourinhenses!A* postos — E' a religião que vos charrta!

No Evangelho da missa do proximo do­mingo, temos occasião de ver a Jesus claman­do sobre Jerusalem. Si como Deus profetiza a destruição da cidade dicida, como homem ti­n ha a sua patria, que era a judaica. Eis o inn»- tivo de suas lagrimas, o seu patriotismo. Nós tambem temos a nossa patria. A Egreja de­fensora e executora das doutrinas de Christo, vos chama para defendel-a. Não pede a nossas lagrimas por inecessarias, pois a nossa victo­ria é certa. Não esqueçaes entretanto que abri­ga essa certeza confiada no* patriotism o activo de seus filhos. Si ha algum retardatario, si existe alguem que ainda não se compenetrou da causa que defendemos, venha, hoje, sabba- do, ao grande comicio que as 9 horas realizar- se-ha no Largo desta cidade, onde terão oc­casião de ouvir varios oradores que com pala­vras repassadas de patriotismo, vos demons­trarão que defendemos a causa da lei e da justiça. Vó^ tambem cujo patriotismo e cnthu- siasmo é de todos conhecido, vinde para avi- val-os m ais e mais. Entre os oradores, terão occasião de ouvir a palavra eloqüente do I). D. Vigário de Ipaussú, Pe. Gasparrino Dantas, que hontem conseguiu inflam ar o patriotismo dos Santacruzenses. Todos, pois ao comicio. Não é só o cidadão Pe. Victor Moreno, é a Autoridade Diocesana, é a Egreja que vos chama e convida, servindo-se do seu indigno

Vigário: Pe. Victor Moreno.

Turma d e d ir igen tes e trab a lh ad ores q u e tom aram p arte no cam p o d e A v iação .

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Este appello serviu de convite para a população enthusiasta de Ourinhos que nessas horas delirava de patriotismo. Pouco antes das 9 horas, compacta multidão se comprimia no Largo João Pessôa, em roda do coreto, lo~ gar onde devia realizar-se o comicio monstro de exaltação á causa da constitucionalização do paiz. O comicio esteve animadíssimo e a m ultidão tomada de grande jubilo, applaudiu delirantemente a caravana de oradores, quan­do se dirigiram para o coreto acompanhados pelo Pe. Victor Moreno, e outras autoridades. A’s 19 horas perante a volumosa massa popu­la r e entre acclamações successivas, falou p ri­meiramente o Vigário. da localidade, concitan- do aos extrangeiros a coadjuvar no movimento liberal, dizendo que si a Patria é o logar onde nascemos, nossa segunda Patria é aquel- la dos noissos filhos, a cujas leis e autorida­des devemos obedecer. Sendo este movimento paulista a vibração nacional, baseado nos prin­cípios de um povo livre e civilizado, é nosso dever como extrangeiro, pelejar por este ideal com o mesmo ardor que o defenderíamos em praias de alem-mar». Foi muito, applaudido. Secundou-lhe na palavra o Pe. Faia, Vigário de Ghavantes, empolgando a assistência sobre os objectivos que justificam o movimento revo­lucionário.. As acclamações echoaram ainda no Largo, quando, rompe os espaços a voz vi­brante, solida e cheia do Pe. Gasparino Dan­tas. Em bello estylo oratorio, o vigário de Ipaussú inicia sua oração com phrases embe­bidas de enthusiasmo, enoomiando o movimen­to paulista em relação, ao seu profundo espi­rito nacionalista. O Estado de São Paulo, de­clarou elle, não. quer separatismo nem coin- munismo; quer a sua autonomia e prom pta

constitucionalização. Appellando para o ardor e virilidade da mocidade, concluiu o seu signi­ficativo eloquio com estas palavras: «Ou m or­reremos ou iremos ao Cattete». Palmas e vi­vas prolongados abafaram seus últimos ter­mos. Seguiu-lhe na tribuna, o Dr. Ribeiro Cruz, provecto delegado local, em cujas phra­ses pungentes, cortadas e inflammantes, es­boçou a obra infame da dictadura, salientando o heroísmo dos organizadores do movimento redemptor. Suas palavras foram um florilegio de brados energicos de um soldado em linhas de combate. Outros oradores como o Dr. Odi­lon Bueno advogado de Santa Cruz,Francisco Caccapieller, Gerente do Banco Com- mercial desta cidade, Amazonas Sampaio,, di- rector do Grupo Escolar, Julio Bernardes, re- dactor da «A Voz do Povo», foram todos muito ovacionados.

Terminou o, comicio, com a execução ma­gistral do hymno nacional e com o desfile pelo jardim do valoroso Batalhão 9.o B. C. da Força Publica, entre uma chuvarada de applausosda multidão.

Dia 17.

INSTALLAÇÃO DA «CRUZ VERMELHA». «BATALHÃO CEL. THEOPOMPO».

Por iniciativa de uma commissão bem representada, fundou-se no. prédio do «Gremio Recreativo» gentilmente cedido pela directoria, o hospital de emergencia «Cruz Vermelha».Em reunião foram nomeados os seguintes mem­bros de d irecção: Pe. Victor Moreno, Sr. Fran­cisco Coccapieller, Dr. Armando de Moraes Mello e Prof. Joaquim Pedroso F.o. Os mé­

dicos todos da localidade, prestaram seus serviços além dos que vieram com o ba­talhão de Presidente Pru­dente, entre os quaes cons­tam os Drs. Lauro, Cleto, Domingos Ceravulo Araiijo, Antenor Barbosa e Areias. Foram tambem diversas as enfermeiras que prestaram seus auxilios aos soldados que se achavam no hos­pital com leves enfermida­des e outros que recebiam curativos cirúrgicos diários. Faziam parte do corpo de enfermeiras as S tas.: La ura Jamal, Adalgisa Tocalino, Maria Alonso, Alice Pedro­so, Cecilia Ferraz, Marinha Mano, Ida Zacchi, Zizi Coc-M edicos e en ferm eiras q u e trab alh aram na "Cruz V erm elha

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Uma C ia. d o B atalh ão Ibrahim N o b re .

T ° z n e > o : 0 1 3 5 5capieller, Olinda Zanotto, Euridice Ma- dureira, Maria Braz, Ercilia Bugeli e Dna. Annita Amazonas, que depois de muito ter concorrido a «Cruz Vermelha», deixou seu cargo de enfermeira chefe, afim de seguir para São Paulo. Mais tarde vieram incorporar-se os médicos Drs. Eugênio Salermo e Alvaro Sá; aca­dêmicos João Lopes Cassali e José Go­mes da Silva e o enfermeiro Odim Arru­da, exclusivamente nomeados pela Di­recto ria Geral do Serviço Sanitario, para trabalhar na organização medico cirúr­gica de Campanha.

Pelas mesmas Stas. e outras mais, foi offerecido neste dia aos soldados aqui estaciona­dos um «lunch» e distribuídos com profusão cigarros e phosphoros na sede da «Cruz Ver­melha» e 11a Ponte do Paranapanema, onde outros defensores da Constituição já se acha­vam em postos. Por outro lado concorreram efficazmente as pharm acias enviando medica­mentos a «Cruz Vermelha». O Dr. Nagib Kou­ry, e Sr. José Phelippe Amaral, tambem pres­taram seus valiosos serviços, cd9&d rienSisíss aos nossos soldados aqui aquartelados.

Esta benemerila associação, recebeu al­guns dias de installada, a visita da «Cruz Ver­melha» da vizinha cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, representada por uma commissão de se­nhoras e senhoritas, na qual tomaram parte D. Maria Lidia Vieira, directora e senhora do tenente coronel Leonidas Vieira. Trouxeram para os nossos praças 2.100 cigarros, 204 ata- duras, 10 maços de phosphoros, meias, co­bertores, lenços, papel, enveloppes, etc.

Ao declinar o sol no oecaso, do mesmo dia, distribuiu-se ao publico um vibrante ap­pello á mocidade local, assigqado por um grupo de jovens, convidando-a, a comparecer no Quartel as 7 l / 2 para iniciar o alistamento de voluntários. Perante nossas autoridades lo- caes e a presença do Cap. Ferreira e Tenente

Gusmão, cum priram este honroso dever, mais de 30 moços da nossa m elhor sociedade e do commercio em geral. Este numero foi engros­sando paulatinamente até constituir um bri­lhante e luzido batalhão composto de 90 ho­mens, com o nome de «Cel. Theopompo de Vaso^ncelLos». A partir desse dia, todas as noi­tes desfilavam pelo Largo, sob o commando de oíficiaes da. Fovça Publica aprendendo a instrucção militar. O povo enthusiasmado ac- oompanhava de perto os exercicios de marcha.

Logo que as tropas regulares e constitu- cionalistas deslocaram-se para o Paraná' e cida­des do ramal da Soro cabana, o nucleo «Cel. Theopompo» tomava apparencia e aspecto de um batalhão perfeitamente organizado. Na maior harm onia e espirito disciplinar, proce- deu-se a creação de uma officialidade entre aquelles que mostravam m aior competência e aptidão para assum ir o commando. Esta officialidade estava assim constituída: Capitão de Commando., sr. Francisco Coccapieller, e Dr. Ribeiro Cruz; Sargentos: Bene-dicto Camargo, Carlos Amaral, Telesphoro Tu- pina, João Petronilho Ribeiro, José Leme, H er­menegildo Simonassi, Oswaldo Pareto e Eduar­do Sandano.

Faltava apenas para completar o regi­mento, a farda que os uniformizasse e o res­pectivo armamento. Estas lacunas prehenche- ram-se totalmente no. dia 31 de Julho, rece­bendo cáda recruta o equipamento completo

e incorporando-se 110 quartel, que lhes foi designado a Rua Minas Geraes, obe­decendo a um Regulamento de campa­nha. Sem esquivar-se dos exercicios bellicos de m archa e de tiro ao alvo, offereceram seus serviços ás forças re­gulares aquarteladas na praça. Na fal­ta dellas, eram os neophitos da co- lumna «Cel. Theopompo que guar­neciam a Ponte do Paranapanem aO lu zido " B ata lh ão CeJ. T h eop om po" na m issa cam p al no acto d e ser

e n treg u e a b an d eira d o b a ta lh ã o .

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noite e dia soff rendo os mesmos rigores e privações do que os veteranos mais afoitos nas armas. Estas manobras de prevenção, bem como o policiamento da cidade e o levantamen­to das trincheiras da Revolução do 30, e ou­tras tornaram-se exercicios familiares que os bravos rapazes desempenharam com a m aior ef f iciencia.

Dia 23.«BATALHÃO IBRAHIM NOBRE».

O Dr. Ibrahim Nobre, reputadoi Prom otor Publico de São Paulo, e mola organica deste movimento revolucionário, possuído do maior civismo, organizou nas sociedades de elite, da indomita paulicéa, dois valorosos batalhões, chegando o prim eiro nesta cidade a 1 hora da tarde. Garboso conjuncto de mocidade em flor, formado exclusivamente entre amigos e admiradores doi caudilho Ibrahim Nobre. Uma característica especial, distingue este batalhão dos outros congeneres. Não existe official ne­nhum ; todos elles são soldados rasos; anesar de esconder em baixo da farda, títulos de pro­fessores, médicos, pharmaceuticos, engenhei­ros, acadêmicos. No dia seguinte de sua che­gada, começaram os serviços na guarnição do Rio Paranapanem a. Em certos dias de descan­ço, offereceram á população brilhantes festas civicas e recreativas, tudo num am­biente de enthusiasmo e distincção.Nas noites dos dias 24 e 27, tive­mos opportunidade de ouvir no Casino, a palavra commovente desse eloqüente orador que São Paulo applaudia na che­gada do Gal. Bertholdo Klinger, do nobre Ibrahim Nobre.

Outros trabalhos não menos im­portantes apreciamos, da alegre rapazia­da, na execução de diversas peças cômi­cas e dram aticas que interpretaram com a m aior perfeição. De uma bonhomia encantadora, offereceram á Sociedade Ou- rinhense, attrahente e variado festival no Hotel Internacional, cujo programma /óbe- deceu ao seguinte. /

FESTIVAL DE EMERGENCIA.Ménu de Champagne.

Hors d’cevres.I - Ouverture — pela orquestra do Batalhão

Presidente Prudente.II - Discurso — pelo Totó Salles.

— ENTRÉE —III - Poesia de Fabio — (Corrêa Junior).

IV - Baby Lou — syncopated pelo Reggic.V - Solo de gaita — pelo «Mumiá ».

— POISSON D’AUJOURD’HUI —

VI -Rapsódia Revolucionaria — pelo Dr. Sar­gento Leonidas (El terrible).

— ROTI —VII - Salada poética — pelo Dr. Cabo Carva­

lho (El victima).VIII - Salomé, pelo arquiteto «El Caréca».

IX - Córos Ukranianos — pelo grupo de ba-traquios.

X - (cortado pela cencura).

— BESSERT. —

XI - Miscelanea.Cigares toscains «Sabratti», cigaretes «Cha- telanis», «Trocadêre» e «Nine Panche>.

A seguir, sarau dansante no salão«oouleur de rose». *

Ordens do dia; O festival gosará da radiosa presença de S.Excia. o Snr. Barão de Itararé.E’ proibido aplaudir com batatas, ovos e

outros legumes.

ó.o F. S. P. C. - Da d ireita para a e s q u e r d a : C aetan o B ozzani, João S ou za , Joaquim A. Rosário e M ario Eloy.

Incorporados a uma secção das forças regulares, vieram de São Paulo, especialmente nomeados para este sector com séde em Ou­rinhos os membros da 6.a Formação Saniía- ria de Prophylaxia de Campanha que se aquar- telaram no 2.o Andar do Sobrado a Rua São

I Paulo.

Dia 24.

6.a FORMAÇÃO SANITARIA DE PROPHYLA­XIA DE CAMPANHA.

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Estas formações sanitarias foram criadas no intuito de acautelar as tro ­pas concentradas no.s diversos seclò- res belligerantes contra a possibilidade de qualquer surto epidemico, estando apparelhadas para cercear o mal no caso de sua irrupção. Cebe-lhes pro­mover para esse fim todas as medi­das prophylatic, s aconsel mveis, laes como o isolamento, vigilancia. imme- nização, desinfecção., etc.

A 6.a Formação vinha chefiada pelo Dr. Moura Albuquerque, secun­dado pelos Drs. Luiz de Araújo Cintra e Gentil Marcondes de Moura. Auxi­liam o serviço quatro desinfectadores. to Sr. Caetano Bozzani, Mario Eloy,Joaquim do Rosário e João de Souza.

Devido ao grande movimento de tropas, a 6.a Formação tem estado em constante tra ­balho de desinfecção e expurgo de alojamen­tos, e de vaceinação preventiva. Percorreram prestando estes serviços, alguns sectores como a balsa, a ponte metallica do Rio Paranapáne- ma, Cambará, Jacarezinho, Santo Antonio de Platina e outros.

Outras medidas não foram ainda postas em praclica dado o excellente estado sanitario das tropas aquarteladas 11a cidade. A 6.a For­mação foi ha pouco elogiada em ordem do dia, do Commando Geral do Sector. pela uti­lidade e presteza dos seus serviços.

Dia 55.

CHEGADA DO BATALHÃO PRUDENTINO

«CAFE’ SOLDADO».

Ourinhos aos poucos toma feição de uma praça de guerra. Aos trezentos combatentes áquartelados, formados pelas forças regulares,

granadeiros, de Ibrahim Nobre e «Cel. Theo- pompoi», vieram engrossar o effcctivo. o ba­talhão «Prudentino de Presidente Prudente, commandados pelo tenente coronel Miguel Bri- solla de Oliveira. Com razão esta progressista cidade da Alta Sorocabana, deveria cognomi- nar-se «Esparta Paulista pelo elevado numero de mancebos guerreiros enviados para as li­nhas do « fro n t. O numero parece oscillar en­tre 700 a 800, dentre os quaes a metade foram nossos hospedes, durante os primeiros prepa­rativos de campanha. Bem municiados e equi­pados, 0 valoroso destacamento, estava per­feitamente organizado: O commando com sua brilhante officialidade; um corpo escolhido de médicos e enfermeiros para a Cruz Verme­lha ; um carro ambulancia completamente equi­pado, doado pela colonia italiana por interme- medio do Agente Consular sr. Cario Cómbi; um grupo de espertos escoteiros, emissários da officialidade e uma banda de musica que enthusiasmou a população com seu variado repertório.

Amestrados, a uma rigorosa dis­ciplina, iniciaram irhmediatamente seus serviços collocando-se á disposição do Commando Geral, auxiliando á Força Publica.

Emquanto a milieia entregava-se ás diversas manobras bellicas e as commissões da «Cruz Vermelha» em tra tar dos doentes, outra iniciativa ideal, tomava corpo junto aos nossos solda­dos. Tratava-se de organizar um postoB atalhão constitucionalista d e P resid en te Prudente.

G rupo d e Srtas. o rg a n iz a d o r a s d o " C afé S o ld a d o " - Da d ireita para a esq u erd a D ona A lzira N ico losi, Emilia T ocalnio, Em ilieta Sossi,

C hiquinha M ano e A lzira S antos Pereira

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C om boio d e trop as paulistas a n te s d e segu ir para o Paraná

de Café emergencia que fornecesse a bebida estimulante durante todo o dia; e o serviço feito gratuitamente. Esta suggestão lançada por um grupo de distinctas senhoras, mereceu especiaes sympathias do Tte. Cel. Miguel Brisso- la que elogiou a sua abnegação e ca­ridade christã.

Unicamente m ulheres fortes e de en­vergadura civica, poderiam levar avan­te essa obra de misericórdia corporal.A commissão organizadora do «Café Soldado», installada com todas as commodidades num dos quintaes do Sr. Henrique Tocalino, foi composta das seguintes damas: Sras. Emilia Tocalino, Alzira Santos Pereira, e Chiquinha Mano. Gom uma paciên­cia e resignação admiraveis, lá èstavam no seu posto desde as 5 horas da m adrugada até as 10 horas da noite distribuindo café numa me­dia de 400 litros diários.

Dia 31.

MOVIMENTO DE TROPAS — INVASÃO NO PARANA’

Domingo! A vida m ilitar rompe a sua monotonia. Annunciam-se im portantes acon­tecimentos para este dia. Chegam as 3 da madrugada num especial, novo contingente de 120 voluntários de Presidente Prudente que vem incorporar-se aos seus collegas. Com- mandava esta Companhia o Major Tenente Fe- licio Tabarai. Ao raiar da aurora, correm boatos confirmados de que uma columna dicta- torial do Estado norte do Paraná, parece avan­çar. Uma ordem fulminante expedida pelo Commandante Geral Pedro Dias de Campos, desloca algumas tropas, pondo-as de prompti- dão. Para neutralizar a acção offensiva inimiga e cercal-a no sector Ourinhos-Itararé, resolve penetrar 110 territorio do Paraná. Sua palavra é cathegorica e decisiva. Alenta es|4 resolu­ção o comparecimento na sua prekeqça dos Chefes Políticos de Cambará, escoltados por um piquete de quatro praças da Força Pu­blica. As 10 horas sahem com destino a Léoflora e Cambará o l.o batalhão de Gra­nadeiros commandados pelo tenente Silveira. Apenas sahe da plataform a o primeiro com­boio entre urrhas e vivas, forma-se immedia- tamente um trem composto de 9 carros, den­tre os quaes 2, para as munições, 3 destina­

dos para as tropas, 1 para o corpo medico e 3 gondolas para 0 transporte de caminhões. Procede-se logo ao embarque do material bel- lico e de 5 caminhões, chegados de São Paulo, emquanto uma Companhia do «Batalhão Pru­dentino» commandada pelo tenente coronel Miguel Brisolla tomava assento nos carros reservados. Incorporaram-se tambem, o corpo medico do mesmo batalhão, rumando na mes­ma direcção dos Granadeiros que lhes pre­cederam. Na mesma hora, pela estrada de rodagem, seguiam em caminhões para o Pa­raná os rapazes do Batalhão Ibrahim Nobre. Sem resistência alguma, Cambará estava em poder das forças constitucionalistas.

Abrindo o trafego da Cia. Ferroviária São Paulo-Paraná, começaram desde esse dia a circular os trens passageiros Ourinhos-Cam- bará, porém obedecendo a um novo horário.

A falta de luz na cidade d ’aquella noite tempestuosa, não se ligava em nada ás ope­rações militares; foi unicamente á queima de um fuzil na inslallação da Fazenda «Marcon- dinha» situada nas immediações de Fortuna.

Dia 2.

MOVIMENTO DE VEHICULOS — UM

ALARME

As requisições foram esta vez muito bem planejadas. O Major Edgar M. Warnek, dele­gado technico, antes de requisitar automóveis ou caminhões de aluguel ou particulares, no­meou uma commissão technica, composta dos Srs. Graciano Raccanelli e João Duarte de Medeiros auxiliados peto Sr. Randolph Hey- ness, para avaliar o movei no seu justo valor.

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antes da reqnisiçã-o. Um edital abaixado pelo mesmo delegado, neste dia, prohibe o uso de quaesquer m achinas sem previa autoriza­ção e suspende a venda de gazolina. Foi a revolução dos caminhões. Dos 50 caminhões que foram requisitados ern São Manoel do Paraizo, chegaram' 9 de m anhã cedo. De tarde, um trem de carga, transportava outros x9 pro­cedentes de Agudos e Lençóes. Emquanto> ope­rava-se ao desembarque delles, appareciam pela estrada de rodagem de Chavantes, nova caravana de «Fords» e «Chevrolets» enfileira- dos, com as chapas de Santa Cruz, Pedernei­ras e Gallia.

Para as linhas do «front» seguiram uma Companhia da Força Publica e outra do ba­talhão «Presidente Prudente». Incorporou-se a uma dellas, o Snr. João Fernandes Nobrega, agente da Cia. «Força & Luz» para ligar a linha telefônica que neste dia estava inter­rompida com Jacarezinho.

A uma hora da madrugada o Comman­do Geral recebia um telegramma urgente, so­licitando forças para Porto Leite, perto de Fartura. Por um equivoco ou um mal en­tendido, certas famílias do centro da cidade, alarmaram-se ante o movimento frenetico das tropas e do.s estratos dos motores dos cami­nhões que partiam do Largo a toda veloci­dade, pejados de soldados. Equipados e m uni­ciados seguiram incontinenti para o local, um destacamento da Força Publica e do Ibrahim Nobre, commandados pelo tenente Gusmão. O pânico estabelecido attribue-se a uma de­ficiente comprehensão do telegramma ou a uma interpretação ridícula. Alguns ouvindo referencias de Leite pensaram que fosse da fazenda do Sr. Antonio Leite em Lageadinho; outros interpretaram Fartura por Fortuna, am­

Banda d e M usica d o B. C. P. P.

bos logares situados nas immediações de Ou­rinhos. Mais tarde soubemos que ficaram em Pirajú, voltando no dia seguinte para Ouri­nhos.

Dia 4.

OS COMBATES NO RIO JACARÉ’ — AVIÃO INIMIGO

Como se desenrolaram, de facto, os encon­tros entre as Forças Constitucionalistas e a tropa do General João Francisco, em Jacare­

zinho, no norte do Paraná.Em virtude das varias noticias, todas

divergentes, fornecidas por vários entrevistados, resolvemos ouvir, por nosso intermedk>, aos officiaes do Batalhão Constitucionalista de Pre­sidente Prudente, e da Força Publica de São Paulo, acantonados em Ourinhos. E eis o que de facto e verdadeiro se passou: —

«O Batalhão Constitucionalista de Pre­sidente Prudente, que é oommandado pelo bra­vo Tenente Coronel Miguel Brisolla de Oli­veira, teve ordem para occupar varias localida­des do Norte do Paraná, excepto Ribeirão Claro que deveria ser occupado, corno de facto foi, por parte do 9.o Batalhão da Força Publica de S. Paulo, sob o commando do Tenente Naul de Azevedo.

Cambará foi occupada pelo pelotão vo­lante do Batalhão Constitucionaliista, sob o Commando do Capitão José Cândido Teixeira. Depois de feita essa occupação, seguiu para Cambará a Companhia de Granadeiros Mare­chal Floriano, recebendo a cidade das mãos do Capitão José Cândido, o qual regressou só a Ourinhos, reunindo-se ao Commando do seu Batalhão.

No dia seguinte, 31 de Julho, o Tte. Cel. Miguel Brisolla, commandando pessoalmente 80 homens do< Batalhão Constituciona- Ustas dirigiu a occupação, de Jacarezi- n% , o que se deu na mais perfeita or- deili, ás prim eiras horas da noite. Im- mediatas providencias foram tomadas sendo a cidade toda guarnecida, bem como as sahidas das estradas de ro­dagem; partiu em seguida a prim eira força, para occupação da ponte da estrada de ferro sobre o Rio Jaca­ré, commandada pelo Capitão One-

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P onte m eta liica sobre o Rio P aran ap an em a .

sio Gosta e outra força para a ponte da es­trada de rodagem, sob o commando do Te­nente Dorival Franco, de Godoy, pontes essas distantes 8 kilometros da cidade de Jacare- zinho. Foi logo iniciado o entrincheiramenlo rias referidas pontes.

Na m adrugada de primeiro de Agosto seguiram para reforço, das posições occupadas o pelotão do Capitão José Cândido e 2 con­tingentes do 9.o Batalhão da Força Publica, sob o commando dos Tenentes Gusmão e Ribeiro, reforçando o primeiro a ponte da estrada de ferro e o. segundo a da estrada de rodagem. Na ponte da Estrada de Ferro, sob um morro visinho, foi collocada uma M. P. destinada a proteger as tropas vocu­pantes da vanguarda. O pelotão volante do Capitão José Cândido teve a sua actuação en­tre as duas forças das pontes e no prim eiro reconhecimento, entrou em fogo com os ini­migos, tendo sido ferido o voluntário Pedro Alves de Oliveira.

Installaram-se a seguir os telephones, fi­cando estabelecida ligação, directa co/n o P. C., serviço esse feito, pelo Tenente João Alberto de Oliveira. Ás 15 horas desse mesmo, dia o Tte. Cel. Brisolla fez um reconhecimento até proximo á estação de Guimarães Carneiro, onde verificou o movimento da cavallaria ini­miga, regressando ás trincheiras afim de dar ordens. Mal havia posto o pé em nossas trin ­cheiras, seriam precisamente 17 horas, quando o adversaria iniciou o fogo. Depois de vio­

lento tiroteio, que durou cerca de quatro horas, verificámos satisfeitos não haver feridos de nosso lado.

Pequenas escaramuças foram travadasno decorrer do dia seguinte, nas duas pontes.

Pelo Tte. Cel. Brisclla foi determinadoum reconhecimento, o qual foi feito pelo 2.o 1 enente João Alberto de Oliveira, que precisou a posição das forças inimigas, acam­padas na fralda do morro das Araras e na Estação de Guimarães Carneiro.. Esse reco­nhecimento de perto, de 20 kilometros nos certificou da posição das forças inimigas e as medidas necessárias foram tomadas, pois nos trouxe a certeza de que sério combate seria travado. ^ «•

As duas pontes, a da estrada de ferro e a da estrada de rodagem, iam ser disputadas pelas armas. Esta vamos de promptidão, aguar­dando a ordem de fogo. Pelas 17 horas o Tenente Naul de Azevedo veiu de Ribeirão Claro conduzindo uma M. P. e tomou posição em um m orro proximo á ponte da estrada de rodagem, protegendo as forças sob o Com­mando do Capitão Onesio Costa, Tenente Ri­beiro da Força Publica e pelotão volante do Capitão José Cândido Teixeira. Seriam 18 ho­ras quando o inimigo iniciou o ataque e con­tinuamos aguardando de fuzil na ição a sua aproximação. Distanciados agora do inimigo apenas 200 metros, á ordem de fogo inicia­mos um tiroteio cerrado, o qual durou toda a noite. Verificou-se então que o inimigo, com força numérica muito superior, pois ia além de mil homens, procurava cortar a nossa retaguarda. Durante a noite chegou de Ou­rinhos um contingente do 9 .o Batalhão da Força Publica sob o Commando do Capitão Benedicto Ferreira e o dstacamento Ibrahim Nobre, sob o Commando do Tenente Octa- viano.

As 5 horas da m anhã do dia 4, o Tenente Naul Azevedo, retirando a M. P. do m orro onde se achava localisada, collocou-a sobre um caminhão com fardos de alfafa, onde depois de dar a prim eira descarga, ten­do a mesma se dcsarranjado, partiu para Jacaresinho e dahi para Ribeirão. Claro. Ás seis e meia da manhã, de Jacaresinho, partiu então um contingente do 9 .o Batalhão da Força Publica sob o Commando do Capitão Bene­dicto Ferreira e o destacamento Ibrahim No-

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Aj p O v) ô w bre sob o Commando do Tenente Octaviano.Serviu de guia até a encruzilhada das duas pontes o 2 .o Tenente João Alberto de Oli­veira a quem então foi entregue o commando de um grupo mixto da Força Publica e vo­luntários do Batalhão Constitucionalista, que seguiu rumo á ponte da estrada de ferro. Partiu em seguida sob o Commando d" Te­nente Ferraz o 2.o grupo, composto de praças do 9 .o B. C . P. e voluntários do destacamento Ibrahim Nobre, que m archaram pela estrada do Monjolinho. Na rectaguarda ficou o res­tante da força Ibrahim , commandada pelo Tenente Octaviano. Renhido combate foi tra­vado por nossos grupos contra as forças dicta- toriaes, conseguindo depois de duas horas de fogo ininterrupto rom per o cerco que dentro em pouco envolveria as nossas vanguardas. O grupo commandado pelo Tenente João Al­berto de Oliveira divisou um soldado oons- titucionalista que, de gatinhas, entre o fogo cruzado, procurava estabelecer uma ligação, pois o telephoíle havia sido cortado. Imme- diatamente seguiu em sua direcção o. Tenente João Alberto de Oliveira, sendo informado de que a tropa da ponte estava sem munição para continuar o combate e precisava obtel-a com urgência, o qual partiu para Jacarezinho, com o soldado José Coelho, em busca de munição, tendo feito perto de um kilometro deitádos para fugir ao fogo inimigo. Chega­dos a Jacarezinho e havendo falta absoluta de. munições, o Tte. Cél. Brisolla, de accôrdo com o Capitão Benedicto Ferreira resolveram retirar.

Por habil estrategia do nosso comman­do evacuamos as posições occupadas, evitando, assim, um fracasso depois de tão brilhante feito. Foi uma retirada disciplinada e glo­riosa para nós. Desse fogo sustentado du­rante 16 horas não tivemos uma só baixae apenas cinco feridos, sendo um gravemente que aqui chegaram no carro ambulancia para serem tratados.

A ordem de re tirar levada ao conheci­mento do Capitão Onesio Gosta e Tenentes Gusmão e Ribeiro, foi levada pelo bravo l . o

Sargento João Lourenço de Campos Netto e Capitão José Cândido Teixeira. Fecharam a retirada o Capitão Onesio Costa e Ttes. Gus­mão e Ribeiro, os últimos a chegar em Ou­rinhos.

A retirada foi feita com tal ordem, que pessoas chegadas horas depois a Ourinhos e que vinham se jun tar * aos nossos, inform a­ram que durante 4 longas horas, apoz termos abandonado completamente a cidade de Ja­carezinho, o fogo continuava entre os pro- prios diclariaes, certos de que atiravam con­tra nossas fo rças!

Por pessoas foragidas de Guimarães Car­neiro soubemos que as baixas entre os dicla- toriaes se elevaram a 142 m ortos e 83 feridos.

Não seria justo deixar de destacar o valor inconteste do Capitão Onesio Costa, José Cân­dido Teixeira, Tenente Gusmão, e Tenente Ri­beiro, bem como a abnegação do soldado Co- riolano Gomes Palm eira que auxiliando o Tte. José Lemois de Miranda no fornecimento ás

trincheiras, se expoz sempre ás balas inimigas para fazer chegar aos seus companheiros os recursos necessários.

Os officiaes do Corpo Medico Ma­jor Dr. Domingos Ceravolo e Capitão Dr. José Foz, iam ás trincheiras de­baixo de todo o tiroteio, para cuidar e . transportar os feridos, juntamente co: i o Capitão Luiz Roncali que muito traf ilhou não só no Serviço de am­bulancia como no de installação de de telephones.

Não podemos deixar finalmente de externar o nosso grande reconhe­cimento á maneira brilhante e com­petente com que fomos conduzidos pelos nossos valorosos commandantes Tenente Coronel Brisolla de OliveiraRio Jacaré d istan te d e 8 Km. d e Jacarezin h o - Logar o n d e se travou

o terrível com b ate nos d ia s 2 , 3 e 4 d e A gosto .

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O p assaro d e a ço q u e evoluiu sob re n ossas c a b eç a s na tard e dogdia 4 .

e Capitão Benedicto Ferreira.Seriam 3 da tarde quando re­

gressaram os ultimo-s combatentes do campo da batalha. Vinham os caminhões enlamados até o parabri- sa e os invictos soldados ennegre- cidos pela polvora. Grupos disper­sos perambulavam aqui e acolá re­latando e ouvindo episodios epicosdo combate que tinha-se travado, quando lá no horizonte, sob um ceu límpido., avistava-se a grande altura um avião que parecia seguir o leito da Linha Sorocabana. Nos­sa prim eira impressão foi de que se tratava de um apparelho oons- tituçionalista. Todas as m iradas con­fiantes, convergiam na mais temivel arma de guerra. Depois de diversas evoluções pela cidade, deixou cah irno espaço ura pequeno embrulho rumando cm direcção ao campo deaviação. La alguns populares e militares, ace­navam bandeiras brancas. O grande passaro de aço desceu um pouco parecendo que dese­java aterrisar. Mas a resposta que deu aos signaes de paz, foi arrem essar tres bombas no campo, uma das quaes na Ponte do Pa­ranapanema. Felizmente não houve victiina nem prejuizo a lamentar. O avião era da dictadura, que as tropas de Itararé nos ti­nham enviado. No entanto o embrulho foi encontrado mais tarde no meio de um cafezal. Era uma simples caixinha de alumínio, her- meticamente fechada e coberta por üm panno bem am arrado dentro da qual estava tres- dobrado um papel escripto a lapis com os seguintes dizeres:

«Exmo. Snr. Commandante Pedro Dias de Campos. Rio Grande do Sul, segue para Itapetininga. Vocês estão illudidos.»

Mas como nós sabemos pybfeitamente que a arm a dictatorial é o ludiPrio e o en­gano, ninguém ligou importancià ao facto.

Dia 10.

ESCOTEIROS

Da esplanada do Hotel Internacional, vi­mos desembarcar pelo passageiro das 10 ho­

ras uma turma de jovens que pareciam mili­tantes pelo seu aspecto. Approximamo-nos e pelo equipamento notamos que se tratava de uma phalange de escoteiros. Os rapazes, de physionomia alegre, conversavam animadamen­te na plataform a até a chegada do comman­dante Sr. Affonso Freitas. A um signal dado, todos se am otinaram em roda delle, como doceis cordeiros em roda do pastor, para ou­vir de perto seus conselhos e indicações uteis, rumando enseguida para o Commando Geral. São 12 escoteiros especializados de Campanha que foram nomeados pela «Cruzada de Esco­teiros» de São Paulo, para este sector. Deste grupo, oito foram destacados para P irajú e Bernardino de Campos, ficando os restantes nesta cidade a disposição do Comte. Geral Pedro Dias de Campos. São elles os Srs. Af­fonso Freitas, Wilson Fernandes, Altamiro B. Mello e Ovidio Bastos. O primeiro, comman­dante do batalhão, já prestou seus serviços nos sectores de fogo, Cunha, Piquette e Tun- nel; voltando a chamado de uma ordem da «Cruzada», para São Paulo. Lá confiaram-lhe este destacamento que prestou inúmeros e as- signalados serviços ás forças consíitucion alis­tas; entre os quaes podemos destacar a ligação das linhas telephonicas installadas nas trinchei­ras, a construcção de pontes pelos sapadores, a administração do Centro Telephonico, na cilr- ta ausência da telephonista e mais outros tra-

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M -T O /V 7B O , c M 3 6 5balhos n,o Correio Militar e Delegacias Techni- cas, como correspondentes e mensageiros.

Dia 10.S

MISSÃO DO SR. EMÍLIO LEÃO

Antes de finalizar nossa humilde v jjra, não podemos por menos de salientar a empol­gante figura do Sr. Emilio Leão, e a acção dos democráticos em geral, que desde o p ri­meiro dia que irrom peu o movimento revo­lucionário, aggremiaram-se sob as ordens do seu chefe, para labutar no campo de aviação e no entrincheiram ento da ponte, cujo perí­metro comprehendido entre os portos Gi, abai­xo de Chavantes, e Santa Emilia, abaixo de Salto Grande, foi elogiado unanimemente pelos Commandantes do sector que o visitaram, le­vando todos uma impressão optima da techni- ca patenteada do engenheiro Major Fernando

Eduardo Lée, bem como dos serviços realisa- dos pela turm a incançavel de sapadores do Sr. Emilio.

O Sr. Emilio Leãoi, tem sido neste mo­vimento redemptor, mais do que um soldado, um bravo, um heroe que tem exposto a sua vida por diversas vezes no campo inimigo, até entrar em contacto immediato com os chefes rebeldes. Incumbido pelo Commando Geral des­ta missão espinhosa e cheia de perigos, de­sempenhou-a com a m aior diplomacia e sen­satez, enfrentando corajosamente o gladio pér­fido e trahidor, e sahindo illeso de qualquer alevosia ou attentado.

No proximo numero offereceremos aos nossos leitores, interessantes detalhes da im­portante missão, do Sr. Emilio e Rodopiano Leonis, missão aliás, que actualmentc não po­demos revelar.

Finalizando é minha obrigação externar meus agradecimentos a todas as pes­soas que se interessaram pela presente, particularmente dos D. D. COMMANDANTES: PEDRO DIAS DE CAMPOS e MIGUEL BRISOLA DE OLIVEIRA, que com toda pres­teza me attendiam no commando, como tambem do amigo Sr. JOÃO NEVES que es­pontaneamente collaborou em parte com o seu pecúlio.

O AUTOR.

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