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»« ¦:-l%. ! W$$ÊÊk ASSÍGNATURA ANNUAL 7-|;. Brazil ¦ mV 5$000 PAGAMENTO ADIANTADO PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 1B DE CADA MEZ ÓRGÃO FEDERAÇÃO SPIRITA BRAZILEIRA ASSÍGNATURA ANNUAL Extrangeiro 6$G00 PAGAMENTO ADIANTADO PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 15 DE CADA MEZ "fi. Toda correspondência deve ser dirigida a ALFREDO PEREIRA Rua da Alfândega n. 342. laeumsasaresB gHHBBBgBW*rr;?-^*: Anno HBi-azil ii&íís de Janeiro —* &$*MI Jaalfii;» fi.» t*. *';!?. União dos spiritas «Felizes os que disserem a seus ir- mãos : trabalhemos juntos, unamos nos- sos esforços para que o Mestre, quan- do chegar, encontre a obra acabada» (O Espirito da Verdade). A obra a que se refere este texto é a propagação da doutrina spirita, e a doutrina spirita é a interpretação, em espirito e verdade, da palavra do Ver- bo incarnado, existente sob o véo da lettra no Evangelho. O Evangelho, pois, é a sciencia da vida eterna, e seu conhecimento e sua pratica são a obra que o Mestre con- fiou á humanidade. Na comprehensão e na pratica do Evangelho estão a vida e a felicidade dos espíritos. Os spirààs são os "trabalhadores da ultima hora ; mas para que a obra seja conhecida, para quando vier o Mestre,| é preciso que os trabalhadores concor- ram harmonicamente com seu esforço. ' A união tão recoinmendada não é, pois, um simples dizer ; é condição es- sencial para ser levada a seu termo a obra divina que coube aos spiritas a missão de realizar. União dos trabalhadores é lei divina para que seja feita na terra a vontade do Pae, que é o bem de todos os filhos. Ora, se a obra é o bem de todos, e se ella foi confiada aos spiritas, é cia- ro que dupla é a missão do christão spirita: comprehender e ensinar o Evangelho em espirito e verdade. ..' Comprehender isoladamente, impôs- sivel. Ensinar isoladamente ao mundos im- possivel". a congregação de esforços, quer para-fona, quer para outra coisa, pode- realizar a obra. Mas essa congregação de esforços não pode dar-se senão entre os que abraçarem a mesma spirita, consubs- ' tanciada na unidade de crença, quer dizer, unidade de pensamento e de acção. O que considera o spiritismo um pas- sa-tempo ou sciencia divertida, pelas maravilhas que produz, e que faz um trabalho spirita, como faria um diver- timento qualquer, embora com maestria de arrancar applausos dos ouvintes, nem compreheuderá, nem exemplifica- rá, nem portanto ensinará. Este poderá adornar-se com o nome de spirita ; mas seu esforço não concor- rérá para a execução da obra do Mes- tre. Para a execução da obra do Mestre concorrem os que considerando o spiritismo obra do amor do Pae, como a revelação messiânica trabalharem por aproveitar os ensinos, para transmittil- os a seus irmãos, com respeitosa atten- ção, com humilde recolhimento, com desejo serio de aprender para ensinar. Estes não podem trabalhar com os outros, porque sua é muito differente da d'elles, e não fazem liga de pensa- mento e de acção. Quem considera a Jesus irmão, sal- vador e senhor, não pode trabalhar em commum com o que se considera egual, tão bom como tão bom em relação ao que desceu das maiores alturas para trazer a luz->á terra.-* a :i#V- ^;* a Não é censura a ninguém, que mal podemos com a cruz dos nossos erros ; é sim apreciação do que é realmente spirita e do que não o é senão nomiual- mente. E fazemos esta apreciação, não', por malevolencia, que não existe em nosso coração, mas por esclarecermos quan- to nos é dado quaes os que devem reunir seus esforços para concluirem a obra antes da chegada do Mestre. E n'este empenho diremos : àquelles que animam o trabalho vão, feito em nome do spiritismo, por mais puro que seja seu movei, concorrem com seu esforço, não para a obra do Mestre mas para escândalo ao Mestre. A união recommeáídada é, pois, a dos trabalhadoreslqüe não se constran- gem em proclamar a Jesus como Irmão e Pae, como Mestre e Senhor ; é o dos que cultivam com o mais reverente re- colhimento a palavra sagrada do Se- uhor, pelo Evangelho" em*síia revelarão spirita. A estes, em nome do seu maior de- ver e em bem de sua felicidade, convi- damos a se unir, em pensamento e acção, para fazerem a obra antes qtte venha o Mestre. * Ç- 7 Presentimentos spiritas lobrigavam as claridades spiritas, começaremos por Carlos Bonnet, o emi- nénte Bonnet, que melhor comprehen- deu a grandeza do universo e accen- tiiou em varias passagens o dogma spirita. «O grau de perfeição a que o homem ser a semente da frondosa arvore do faturo, que é o dia de nossa existência. Não menos surprehendente é a noção precisa, que elle revela, de ter sido o espirito creado com todos os sentidos e faculdades precisas para sua evolução, no desenvolvimento de sua perfectibi- pode chegar, diz elle, está em relação lidade, ficando, porem, latentes, para com os meios què lhe são dados, e estes com o mundo què elle habita. «Urn estado mais desenvolvido das faculdades humanas não pode, pois, harmonizar-se com o mundo cm qne. o homem deve passar os primeiros tempos de sua existência (espiritual). «Essas faculdades são indefinida- mente perfectiveis, e, pois, os meios que aperfeiçoai-as-hão um dia exis- tem no homem. «Os novos sentidos, latentes na alma, guardam relação com o futuro mundo, ' nossa verdadeira pátria, e podem ter relações particulares com outros mundos que nos seja permittido visitar, e onde tolheremos novos conhecimentos. «De que sentimentos não será imm- dada nossa alma quando, depois de ter estudado a economia de um mundo, voar a outro e comparar os dois ?! «O progresso que tivermos feito aqui quer em conhecimentos, quer em virtu- des, determinará o ponto inicial da neva existência. «Haverá, pois, um fluxo perpetuo de todos os membros da humanidade, para unia maior perfeição ou maior felicida- de, porque ura grau de perfeição ad- ípiirida conduzirá a outro, e porque a distancia do creado ao Increado, do íinito ao Infinito, é infinita, e elles ten- dbrão continuamente para a suprema perfeição, sem jamais attingil-a.» ; Bonnet teve o presen ti mento do spi- ritismo, e suas idéas eram tão adian- tidas, relativamente a seu tempo, como ai de Lavater e de outros grandes plii- lqsophos, cujas obras iremos compiil- sindo. [á^rfeTçf<^ noral, è infinita, e o espirito vá! sii- lindo na .-escala, passando de mundos iiíérioreS a mundos superiores. i Isto é tanto mais para admirar qnaflf-' to no tempo do eminente pliilosoplio1 dominava a crença da vida tnica n'este ruindo, e das penas eternas, como des- tino final dos que não iam á Gloria, também o tenho de toda a perfeição. Onde foi Bonnet colher taes idéas, completamente ignoradas no meio em que viveu e, pode-se dizer, em toda a humanidade terrestre ? I Evidentemente o grande homem foi médium, e como tal recebeu do mundo desabrochárem á medida que o progres- so adquirido requer novos instrumen- tos. Um século depois desce á terra a luz do spiritismo, e aquellas idéas de Bonnet recebem sagração da nova revê- laçao ! Meditemos e comprehendamos. demos os de Cyrauo de Bergerac e os de Delormel; hoje, proseguindo n'e3te estudo demonstrativo de que os maiores pensadores do passado século \ espiritual conhecimentos, que deviam NOTICIAS Começamos hoje a publicação, sob a mesma epigraphe do original—Animis- mo e dynamismo—, de um longo artigo que encontramos no La Lumière, de 27 de Março—Abril, para o que espe- ramos que o collega nos não recusará bondosa venia, tanto mais que não é a primeira vez que nos soecorremos de suas sempre interessantes columnas. Firma esse artigo o nome respeita- vel do Dr. Lux, que os leitores estão naturalmente habituados a acolher com admiração e respeito, graças a outros valiosos trabalhos de sua lavra que aqui mesmo temos publicado. E como está dividido em capítulos, facilita-nos a tarefa de repartil-o por alguns números da nossa folha. Julgamos ocioso recommendar á at- tenção dos nossos confrades a leitura d'esse interessante artigo. Por nos parecer digno de estudo tra- duzimps o facto seguinte do Banner of Light, de 4 de Abril,ultimo. A familia do Sr. N., composta d?elle, sua mulher, uma filha e um filho, joven official da marinha de guerra russa, estava passando o verão em Paolovsk, perto de S. Petersburgo.^ . ; Desde a mais tenra infância os oois irmãos se votavam uma amizade que tocava ás raias 'da idolatria, % 4„ -rSÜW$rt»—*ò -iaewtoofecr^ tio 'jp||'. pneaPra* u*m mez serviço a Bordo ; e ao despe- dir-se de sua familia que foi léyal-o ao bota-íora, disse á irman : —Não te esqueças de mim. Chamas- Vera, que na língua russa quer dizer fé. Pensa em mim, e tudo irá bem. —Não receies, respondeu-lhe ella ; eu te acompanharei com o meu pensa- mento. Nunca te exponhas ao perige sem necessidade. O mar é uma coisa terrivel. —Estás te tornando um perfeito ma- rihlíeirò, cheio de abusões e supersti- ções, disse o Sr. N., com o fira de des- viar o pensamento das magoas da se- paração. Correu o tempo ; freqüentes cartas do joven chegavam e o dia da volta se approximmava. -**' $#• ~"*7."W~ 0M

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    !W$$ÊÊk

    ASSÍGNATURA ANNUAL

    7-|;. Brazil¦ mV

    5$000PAGAMENTO ADIANTADO

    PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 1B DECADA MEZ

    ÓRGÃO DÂ FEDERAÇÃO SPIRITA BRAZILEIRA

    ASSÍGNATURA ANNUALExtrangeiro 6$G00

    PAGAMENTO ADIANTADO

    PUBLICA-SE NOS DIAS 1 E 15 DECADA MEZ

    "fi.

    Toda correspondência deve ser dirigida a ALFREDO PEREIRA — Rua da Alfândega n. 342.

    laeumsasaresB gHHBBBgBW *rr;?-^*:

    Anno HBi-azil — ii&íís de Janeiro —* &$*MI — Jaalfii;» fi.»

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    União dos spiritas

    «Felizes os que disserem a seus ir-mãos : trabalhemos juntos, unamos nos-sos esforços para que o Mestre, quan-do chegar, encontre a obra acabada»

    (O Espirito da Verdade).A obra a que se refere este texto é

    a propagação da doutrina spirita, e adoutrina spirita é a interpretação, emespirito e verdade, da palavra do Ver-bo incarnado, existente sob o véo dalettra no Evangelho.

    O Evangelho, pois, é a sciencia davida eterna, e seu conhecimento e sua

    pratica são a obra que o Mestre con-fiou á humanidade.

    Na comprehensão e na pratica doEvangelho estão a vida e a felicidadedos espíritos.

    Os spirààs são os "trabalhadores da

    ultima hora ; mas para que a obra sejaconhecida, para quando vier o Mestre,|é preciso que os trabalhadores concor-ram harmonicamente com seu esforço.

    ' A união tão recoinmendada não é,pois, um simples dizer ; é condição es-sencial para ser levada a seu termo aobra divina que coube aos spiritas amissão de realizar.

    União dos trabalhadores é lei divinapara que seja feita na terra a vontadedo Pae, que é o bem de todos os filhos.

    Ora, se a obra é o bem de todos, ese ella foi confiada aos spiritas, é cia-ro que dupla é a missão do christãospirita: comprehender e ensinar oEvangelho em espirito e verdade. ..'

    Comprehender isoladamente, impôs-sivel.

    Ensinar isoladamente ao mundos im-possivel".

    Só a congregação de esforços, querpara-fona, quer para outra coisa, pode-rá realizar a obra.

    Mas essa congregação de esforçosnão pode dar-se senão entre os queabraçarem a mesma fé spirita, consubs-' tanciada na unidade de crença, querdizer, unidade de pensamento e deacção.

    O que considera o spiritismo um pas-sa-tempo ou sciencia divertida, pelasmaravilhas que produz, e que faz umtrabalho spirita, como faria um diver-timento qualquer, embora com maestriade arrancar applausos dos ouvintes,nem compreheuderá, nem exemplifica-rá, nem portanto ensinará.

    Este poderá adornar-se com o nomede spirita ; mas seu esforço não concor-rérá para a execução da obra do Mes-tre.

    Para a execução da obra do Mestresó concorrem os que considerando ospiritismo obra do amor do Pae, comoa revelação messiânica trabalharem poraproveitar os ensinos, para transmittil-os a seus irmãos, com respeitosa atten-ção, com humilde recolhimento, comdesejo serio de aprender para ensinar.

    Estes não podem trabalhar com osoutros, porque sua fé é muito differenteda d'elles, e não fazem liga de pensa-mento e de acção.

    Quem considera a Jesus irmão, sal-vador e senhor, não pode trabalhar emcommum com o que se considera egual,tão bom como tão bom em relação aoque desceu das maiores alturas paratrazer a luz->á terra.-* a :i#V- ^;* a

    Não é censura a ninguém, que malpodemos com a cruz dos nossos erros ;é sim apreciação do que é realmentespirita e do que não o é senão nomiual-mente.

    E fazemos esta apreciação, não', pormalevolencia, que não existe em nossocoração, mas por esclarecermos quan-to nos é dado quaes os que devemreunir seus esforços para concluirema obra antes da chegada do Mestre.

    E n'este empenho diremos : àquellesque animam o trabalho vão, feito emnome do spiritismo, por mais puro queseja seu movei, concorrem com seuesforço, não para a obra do Mestremas para escândalo ao Mestre.

    A união recommeáídada é, pois, ados trabalhadoreslqüe não se constran-gem em proclamar a Jesus como Irmãoe Pae, como Mestre e Senhor ; é o dosque cultivam com o mais reverente re-colhimento a palavra sagrada do Se-uhor, pelo Evangelho" em*síia revelarãospirita.

    A estes, em nome do seu maior de-ver e em bem de sua felicidade, convi-damos a se unir, em pensamento eacção, para fazerem a obra antes qttevenha o Mestre. * Ç-

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    Presentimentos spiritas

    já lobrigavam as claridades spiritas,começaremos por Carlos Bonnet, o emi-nénte Bonnet, que melhor comprehen-deu a grandeza do universo e accen-tiiou em varias passagens o dogmaspirita.

    «O grau de perfeição a que o homem

    ser a semente da frondosa arvore dofaturo, que é o dia de nossa existência.

    Não menos surprehendente é a noçãoprecisa, que elle revela, de ter sido oespirito creado com todos os sentidos efaculdades precisas para sua evolução,no desenvolvimento de sua perfectibi-

    pode chegar, diz elle, está em relação lidade, ficando, porem, latentes, paracom os meios què lhe são dados, eestes com o mundo què elle habita.

    «Urn estado mais desenvolvido dasfaculdades humanas não pode, pois,harmonizar-se com o mundo cm qne. ohomem deve passar os primeiros temposde sua existência (espiritual).

    «Essas faculdades são indefinida-mente perfectiveis, e, pois, os meiosque aperfeiçoai-as-hão um dia já exis-tem no homem.

    «Os novos sentidos, latentes na alma,guardam relação com o futuro mundo,' nossa verdadeira pátria, e podem terrelações particulares com outros mundosque nos seja permittido visitar, e ondetolheremos novos conhecimentos.

    «De que sentimentos não será imm-dada nossa alma quando, depois de terestudado a economia de um mundo,voar a outro e comparar os dois ?!

    «O progresso que tivermos feito aquiquer em conhecimentos, quer em virtu-des, determinará o ponto inicial daneva existência.

    «Haverá, pois, um fluxo perpetuo detodos os membros da humanidade, paraunia maior perfeição ou maior felicida-de, porque ura grau de perfeição ad-ípiirida conduzirá a outro, e porque adistancia do creado ao Increado, doíinito ao Infinito, é infinita, e elles ten-dbrão continuamente para a supremaperfeição, sem jamais attingil-a.»

    ; Bonnet teve o presen ti mento do spi-ritismo, e suas idéas eram tão adian-tidas, relativamente a seu tempo, comoai de Lavater e de outros grandes plii-lqsophos, cujas obras iremos compiil-sindo.[á^rfeTçf

  • 3

    De repente, porem, o tempo, até ahicalmo, transtornou-.se, manifestando-seviolenta tempestade acompanhada demuita chuva, que se prolongou por al-guns dias. Um dia, a tormenta era foi'-midavel, e Vera se mostrava tão agi-tada que nada podia acalmal-a. Eilasó falava no irmão, e a idéa do perigoque elle corria a enchia de terror. Souincominodo cresceu e ella teve de reco-lher-se mais cedo do que costumava.

    A' meia noite, estando todos accom-modados, ouviram um grito de angustiapartido do quarto da moça, e correndopara lá, encontraram-n'a entregue ahorríveis convulsões. Quando cila pou-de dominar-se contou ter tido uma,visão, estando acordada. A principiotudo se lhe mostrava envolto em me-donhas sombras, a" tempestade cerca-va-a e seu bramido a ensurdecia. A' luzde um relâmpago illuminando o marrevolvido e coberto de eseumas eilaviu no seio das ondas .-aca irmão. Tu.Iode novo tornou-se negro ; depois umraio de luz rompeu as nuvens e fez-lhevel-o ainda estendido n'uma praia, coma cabeça ensangüentada. Foi a essavista que ella deu um grito de terror eperdeu os sentidos. Na manhan seguinteo Sr. N. recebeu do Kronstadt o se-guinte despacho telegraphico: «Estouvivo e são, graças á Vera. Amauhansigo para ahi. Vosso filho X.»'

    Ninguém ponde comprehender essedespacho, mas depois tudo se aclarou.

    Dando os jornaes da manhan circum-stanciada noticia do naufrágio do navioem que seu filho servia, o Sr. N. im-mediàtãmente partiu para Kronstadt,onde foL-etieoiitral-o vivo, porém comum serio ferimento na cabeça.

    Agora eis a historia contada pelojoven :

    « N'áquelle infausto dia estava onosso navio junto da ilha Alãiid. Ovento começou de repente a soprar fu-rioso e fomos assaltados por furacão.Terminada a minha ronda, desci aomeu camarote para aquecer-me toinàh-do uma chavena de chá; e depois nãosó para seccar a minha roupa, comopara observar a tempestade, subi parao tombkdillio. O navio se tinha tor-nado ingovernável e ficara á mercê dasondas e do vento.

    «Pensei então em todos vós e espe-çialmente em Vera, a quem pedi men-talmente orasse por mim e me salvasse,como a toda aquella gente, de uni de-sastre que me parecia inevitável. Nòmeio do bramido das ondas e do ventoouvimos e sentimos o choque do naviosobre a rocha, choque tão violento queeu e outros fomos lançados ao mar.

    « Quando eu luetava com- as ondasbuscando o navio, vi o clarão e ouvi oestampido do tiro ainiunciando navioem perigo. Perdi a esperança de voltarpara bordo, e resignado á vontade deDeus procurei esperar, boiando, o soe-corro que viesse.

    « Pensando em Vera, eu descobrieutão alguma coisa que se approxi-mava. semelhante a uma nuvem lúmi-nosa, que assumiu depois a forma deum ser Jitini ino, com as feições de mi-nha irman Ver.a, que sorrindo estendeuseu braço müicanao a tfifecçãoí^qlie eudevia seguir.

    « Ella caminhou e eu segui-a. Denada mais me lembro.

    «No dia seguinte alguns pescadoresme encontraram sobre uma praia, semsentidos, com um ferimento na cabeça,a 10 milhas do ponto onde o navio foraa pique.»

    a&!

  • marchar e vendo o velho morrer »,diz Salom-Hermés era sua sétima cartaintitulada O laço divino ( La Lumièren? 155, 27 Setembro 1893).

    E' sabido que os progressos da sei-encia, por muito consideráveis e rapi-dos que tenham sido, fazendo recuar olimite do que muitos chamam o incoq-noscivel e que mejhormente se deveriachamar o imcomprehensivel, ou o mys-terio, não nos forneceram ainda nenhumdado certo sobre a origem da vida noglobo, sobre o problema da vida con-siderada em si mesma e sobre os des-tinos do homem.

    Lord Salisbury constatou-o no seunotável discurso presidencial proferidoem 8 de Agosto de 1894 diante daBritish Association, e não é elle oúnico.

    Por muito longe que remontemos nahistoria da antigüidade, vemos semprea humanidade interessar-se pelo pro-blema da vida. Elle apaixonou os pri-meiros philosophos, e permanece maisdo que nunca na ordem do dia, aguar-dando sempre uma solução que nenhumsystema philosophico conseguiu dar-lheainda.

    A palavra animismo, que tomamospor titulo, vem de anima, alma, e in-dica uma concepção espiritualista ;adoptaremos provisoriamente a defini-çãoqued'ella dão os tratados de phi-losophia : « o animismo é a doutrinaque proclama a vida como dependentede um principio vital que no homemconfunde-se com o principio do pensa-mento sob o nome de alma. >

    Esta questão foi já tratada magistral-mente,nos annos 1892—93 da Lumière,pelo nosso collaborador Zrileus, sobesta epigraphe : o principio vital dif-

    fere, no composto humano, do principioformal oú alma ?, epigraphe que paralogo indica que o auctor examinou aquestão á luz da philosophia peripá-tetica.

    ttura macula a alma, que éIn re do castigo pelo perdão, mas oe Icisa lavar-se d'ellas para poder «E wSos eleitos do Senhor. lr at6—Kntao ?....-I-hitao, tens de incarnar, vais incarnaroutra|vez, para confessares a Deus ouenegaste, para confessares a vida eten a¦ m r. Ej se levares tuas dores com resig-naçap por amor de Deus, toras por prêmioa felicidade eterna. ' ""°-Juro-te que nao vacillarei, lembrando-me de quanto soílVi par „ao fa.er Isto-Deus o permitia ; mas, incarnando,

    poises a lembrança do que foste, parateres plena liberdade de acçao, afim £que possas lazer mérito ou demérito~E se eu me esquecer de minha missãoe reincidir no mal °-Em vez do prêmio, receberás o casti-g»; porem só se esquece a este ponto oque nao leva uma vontade firme, que valepor uma força intima, a guiar ò homempelo caminho por elle traçado anter de¦noarnar. Os de tibia resolução, pôr n&oterem verdadeira convicção de >eüs deve"res, podem deixar-se arrastar pelas tenta-çoes; aquelles, porem, vencem-n'ís-Oh ! eu tenho est: convicção e esta

    —Mas tu, bom amigo, que tanto bemme fizeste, quem Cs, e porque me appare-oeste no meio das trevas que me envol-

    resolução !-Pois alli esbt um corpo, que se íreranas condições apropriada a'tul expiadoo it,", /

    G' G °U te aJuda^i nas Iuctas,e iJeus te abençoará. 'o„yU\a

    af0niai peor que a da «áprfé, por-que acicatava-ine o temor de falhar, foi-seappa«ando de mim, e crescendo á medidaqne meu perispirito se lifava ao meu íuturo corpo, atõ que a ligaç-ao foi eoinpleu.mta^AaA™ "U "mÍB°- -Bot"' «»*

    (Continuei)

    iümmmtíük

  • ItlSFOnilAIfcOBft —18f»«- «Iiiih» s&

    rejeita a concepção de Platão, segundoa qual a idéa (archetypo) tinha umaexistência independente da matéria oude suas representações materiaes. Paraelle a idéa ou a, forma não se pode con-ceber separada da matéria, nem a ma-teria da forma, uma e outra constituiu-do os dois princípios substanciaes queconcorrem, sem intermediário, para aformação dos corpos, com a differençade que a matéria è passiva e a fonte daextensão dos corpos, e a forma é a fon-te da actividade.

    A forma encerra a matéria em umaespécie (água, pedra, etc.,) e dk es-aencia ao composto ; ella é muitas vezesn'este caso chamada forma substancial,ou ainda acto primário da matéria. Asformas accidentaes não aeerescentamsenão certos modos á essência consti-tuida. Sendo o acto próprio da matéria,a forma distingue-se das substanciasseparadas ou dos anjos que são actossem matéria. Uma coisa começa a exis-tir ou porque é tirada do nada (creação)ou porque a forma extrai-se da matériaque era potente em relação a essa for-ma (geração). As coisas operam-se portransformação, isto é. pela passagemde uma forma á outra, e essa passagemdá-se em virtude de um principio (pieé a privação da forma que uma coisanão tem mas á cuja posse está natural-mente disposta graças a uma aptidãoespecial.

    Deus, o primeiro motor immovel, éao mesmo tempo a causa motora e ge-radora, o termo final de todas as coi-sas ; verdade primeira, bem supremo,elle age sobre todos os seres por attrae-ção.

    Segundo S. Tliomaz, todo ser é attra-hido para o seu próprio fim que é a per-feição da sua espécie ; mas a espécie éinvariável: nenhum ser pode exceder-lhe os limites. Os neothomistas, paraconciliar a doutrina tradicional com ascieneia, explicam diversamente a t.én-dencia ou o desejo que Deus poz namatéria. S. Tliomaz diz bem que a na-tureza é uma hierarchia em que cadaordem é a forma da ordem inferior e amatéria da ordem superior. Mas porahi não entende elle que o mineral de-seje participar da vida vegetativa, queo vegetal queira gosar da vida animal,o animal ser elevado á vida racional,etc, como o interpreta o padre Fargesem seu notável livro Matéria e forma.

    Como quer que seja, o desejo de per-feição que é motor d essa evolução, li-mitada segundo S. Tliomaz, mais oumenos illimitada segundo os neothomis-tas, tem em Deus sua primitiva fonte :é elle que imprime essa direcção áma-teria.

    Esse systema de evolução passivaapresenta, segundo a doutrina, umaexcepção para a alma humana que éuma forma subsistente, pelo menos porsuas faculdades superiores, pois queella é directamente creada por Deus.No momento da morte a alma, formaespiritual ao mesmo tempo que subs-tancial, destaca-se do composto, con-servando em estado latente e virtualsuas potências inferiores e subsistindodesde então sem a matéria, em virtudede uma lei divina que nos é desconhe-cida.

    Segundo o dogma da egreja. a alma,recuperando uni corpo no dia da resnr-reição, recobrará egualmente suas fa-culdades sensiveis e vegetativas,—seé, todavia, que é preciso tomar a pala-vra resurreição ao pé da lettra.

    Como se vê, para a doutrina peripa-tetica a alma e o principio vital sãouma e a mesma coisa. A mesma escho-Ia explica muito bem a inconscienciadas operações vilães, uma poderosa dif-ficuldade que temos encontrado ao tra-tar do vitalismo,—mas é sob a condi-ção de que se acceite o seu ponto departida.

    Aqui está o que diz o padre Farges,em seu excellente volume, sobre a vida:«O principio de vida é uma, formal subs-

    tancial. Porque não tem a alma vegeta-tivà nenhuma consciência de suas ope-rações vitaes ? Nada mais simples. Nãosendo a matéria e a forma senão osdois co-principios de uma única e mes-ma substancia as operações tfessa subs-tancia não poderiam pertencer exclusi-vãmente nem a uma uera á outra, massim ao composto. D'ahi, como terá aalma vegetativa consciência de opera-ções que lhe não pertencem ? Não éella, é o composto (o órgão animado)que poderá conhecer as operações docomposto. Eis ahi porque, para expe-rimentar as sensações da vista, do ou-vido, do tacto, etc;, e d'ellas ter cons-ciência, somos munidos de um órgãocentral tio cérebro. E como o Creadornão julgou a propósito prover-nos de umórgão central análogo para as operaçõesnutritivas, seremos para sempre priva-dos de uma consciência alem de tudoinútil e muito desagradável.»

    Ha, de resto, uma razão physiologi-ca : o systema do grande sympathico,com os seus gânglios, é verdadeiramen-te o centro das operações nutritivas,mas elle não tem com o cérebro rela-ções bastante directa-; para permittir-nos ter outra coisa mais do que umavaga percepção do que se passa em nos-sos órgãos internos. Não nos lastime-mos por isso.

    (Continua)

    0 SPIRITISfflO ANTE A RAZÃO

    POR

    Valéritin Tourmci'

    PRIMEIRA PARTEOS FACTOS

    IIContinuação

    MAS 0 PHENOMENO É REAL ?

    Os jornaes de Paris e dos departa-mentos têm citado muitos outros factosque seria demasiado iongo enumeraraqui. Demais poucas pessoas os igno-ram.

    Não posso, entretanto, esquivar-mea dizer uma palavra das maravilhosascuras operadas pelo ziíavo Jacob, que,muito recentemente ainda, tanto eme-cionaram a opinião publica. Sabe-seque este simples musico dos zuavos daguarda não emprega remédio algumpara curar moléstias reputadas incu-raveis : uma só palavra, um unico olharordinariamente são suficientes.

    Esses factos, a despeito de algunsnegadores obstinados e cegos, perma-necem incontestáveis.

    Uma multidão de tal modo conside-ravel não o iria procurar se elle nãotivesse curado ninguém ; e eu prefiroreportar-me ao publico testemunho dehomens honrados que por elle foramcurados, do que ás affirmações contra-rias e eivadas de parti, pris de pessoasque nada viram.

    Mas—dir-se-ha—elle não cura toda agente.—De accordo. .Vias a única con-seqüência razoável a tirar d'isso é quesua faculdade é limitada e não se exer-ce todas as vezes que elle o quer, eque não depende d'elle. De resto, é oque elle próprio diz. E isso acontecetodos os dias a outros, tem acontecidoem todos os tempos e com outros maio-res do que elle, ao Christo, por exem-pio.—«58. E elle não fez alli muitosmilagres por causa da incredulidaded>cllcs.» (8. Matheus. cap. XIII). «5.E elle não ponde alli lazer nenhum mi-lagre senão o de curar um pequeno nu-mero de doentes impondo-lhes as mãos.»«6. De sorte que elle admirava-lhes aincredulidade.» (S. Marcos, cap. VI).

    Porque razão a i icredulidade, asdisposições malévolas dos assistentessão geralmente um obstáculo ao exerci-cio das faculdades mediumnicas ?—E'senfduvida uma questão de fluidos que

    os physiologistas, os médicos, deveriamestudar. Mas ha também muitas vezesuma causa mais elevada : a intervençãode uma vontade superior diante daqual todo homem sensato inclina-se r«s-pcitoso e resignado.

    Alem dos mediums curadores ha osque servem de instrumento aos espiri-tos para darem consultas.

    Eis aqui o que em 20 de Maio de1863 escrevia-me um dos mais honra-dos médicos, um velho venerado porsua inexgotavel caridade, o doutor De-meure d'Albi, (pie desgraçadamentepara os pobres d'esta cidade não émais (Peste mundo : «a Sra. Ii.... vosfez um pouco incorrer em erro na quês-tão de médium curador. Nós não temosmédium curador, mas sim um espiritomedico que tem a bondade de acudir aonosso appello e que é homceòpatlia por-que eu sou homceopatha, talvez. Esseespirito me tem prestado verdadeirosserviços, quer quanto a mim, (píer qüan-to a outros doentes. Comprehendeis queeu não abuso d'elle e que não o consultosenão para casos rebeldes á medicina.»

    O médium que servia de instrumentoa esse espirito era a mulher de um altofunecionario.

    Volto á brochura do marquez deRoys, e ahi leio a pgs. 67 : «um factomuito notável é (pie, no meio de tantasrevelações enganadoras, elles não te-nliam dado ensinos positivos acerca dassciencias naturaes. Em uma única cir-cumstancia, nas reuniões (pie tinhamlogar no museu de artilharia, em 1864,o senhor barão B...., antigo conselhei-ro de Estado, perguntou se podiamesclarecer-lhe a theoria muito confusaainda da luz polarizada. «Certamente,respondeu a mesa ; mas devendo o ho-mem ahi chegar por suas próprias in-vestigações, nada temos que dizer-lhea esse respeito.»

    Podem essas palavras ser razoável-mente attribuidas a um mau espirito ?—E entretanto o Sr. ínarquez de Roys,como o mostrarei mais adiante, é umdos que sustentam que só o demônio secommunica.

    (Continua)

    0 SPíRITISíílô ANTE A SCÍENCIAPOR

    TERCEIRA PARTE

    CAPITULO IIIAS OBJJCCÇÕES

    Na experiência tão notável referidapor M. Crookes, onde se prova que aintelligencia que se manifesta é capazde ler uma palavra desconhecida pelomédium e pelo experimentador, nota-sea phrase seguinte : «uma senhora es-crevia automaticamente por meio deuma prancheta.» Expliquemos esse no-vo gênero de mediumidade.

    Como dissemos, as primeiras mani-festações tiveram logar em Hydesvillepor pancadas dadas nas paredes ; de-pois passou-se ao emprego da mesa,

    Os espíritos, em vez de so serviremda mesa e responder, quer por pança-das, quer levantando um dos pés,actuavam directamente sobre a cestapor meio do fluido fornecido pelo ope-rador.

    Este processo foi rapidamente aper-feiçoado ; reconheceu-se que a cesta nãoera mais do que um instrumento cujanatureza e forma »ram indifíerentes, econstruiu-se a prancheta, isto é, umpequeno prato de madeira sobre trêspés em um dos quaes se fixa um lápis.

    Praticando-se assim foram obtidasverdadeiras cartas dictadas pelos es-piritos, e com uma rapidez tal como seos invisiveis escrevessem por si nies-mos. Mais tarde verificou-se que a cestaou prancheta uão eram senão accesso-rios, inúteis appendices, e o médiumtomando directamente o lápis escreveumeclianicamente sob a influencia dosespíritos. Essa faculdade de escreverinconscientemente sobre assumptos osmais variados, scieneia, philosophia,litteratura, empregando línguas muitasvezes desconhecidas do médium, cha-moü-sé «mediumuidade mechanica».

    Por esse novo methodo as communi-cações entre o mundo espiritual e onosso tornaram-se mais fáceis e promp-tas ; mas as pessoas dotadas d'esse po-der se encontram mais raramente queas que as obtêm pela mesa. Com o exer-cicio viu-se que todos os sentidos po-dem dar logar a manifestações d'alemtúmulo e em breve contou-se mediumsvidentes, auditivos, sensitivos, etc.

    Para um incrédulo é incontestávelque a mediumnidade mechanica estásu-jeita ás mais graves objecções.

    Desviando toda idéa de fraude, ellepode no entretanto suppôr que esta ac-ção de escrever automaticamente édevida a um modo de acção particulardo systema nervoso, á uma sorte deacção reflexa da intelligencia do me-dium exercendo-se sem o exame daconsciência. E' verdade que isto émuito hypothetico, mas esta theoria jábastante difficil de conceber tornou-seinútil e inacceitavel pela experiênciade M. Crookes já referida. O médiumescrevente não podia ver a palavra do«Times» oceulta pelo dedo ao illustrechimico, este não podia transmittir seupensamento aquella senhora, pois queelle ignorava a palavra indicada ; logo,a intervenção de uma intelligencia ex-tranha manifestando-se por Mlle Fox «a única explicação plausível.

    O cavalheiro des Mosseaux conta quouma tarde, achando-se em uma familiaonde tinha o habito de passar a tarde,fez-se spiritisrno em presença de mui-tos sábios lingüistas. N'aquella epochanão se conheciam senão as communica-

    mas esse meio de communicação eralongo e incominodo, de sorte que os espi-ritos indicaram um outro. Um dia emque se faziam experiências, um dos,seres invisiveis que produzia a mani-festação ordenou ao médium tomar umacesta, fixar n'ella uma lápis, collocan-do-a sobre uma folha de papel em bran-co, e collocar as mãos sobre a cesta semfazer pressão. Estas recomniendaçõesforam seguidas, e com grande pasmodos assistentes obteve-se algumas li-nhas de escripta indecisa. O phenoaie-no reproduziu-se muitas vezes e embreve espalhou-se por toda parte.

    çoes pela mesa ; o resultado não foimenos convincente. Obteve-se por esseprocesso um dictado em lingua hebrai-co-syriaca que ninguém conhecia masque levado á eschola de línguas ex-trangeiras, foi reconhecido como dia-lecto phenicio que se empregava hamais de 2.000 annos nas visinhançasde Tyro. M. des Mosseaux, muito scep-tico a principio declarou-se convencidoda intervenção de uma intelligencia ex-tranha á dos assistentes mas concluiuattribuindo ao diabosas manifestações.

    essas maravilho-

    ( Continua )

    V