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2 HISTÓRICO Os primeiros conhecimentos geológicos obtidos na área da Bacia do Parnaíba são devidos ao conde Francis de Castelnau que, em 1846, realizou uma via- gem pelo rio Araguaia, colhendo algumas informa- ções litológicas. Posteriormente, a designação da Bacia do Parnaíba foi proposta por Derby (1884). O interesse pela Bacia ocorreu a partir do início do século, com a procura de bens de natureza eco- nômica como combustíveis – carvão e petróleo, e águas subterrâneas. Em 1909, Arrojado Lisboa e o topógrafo Hans Baumann, do Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil realizaram um reconhecimento geológico no Norte e Nordeste, para verificar ocorrências de ma- deiras silicificadas referidas ao gênero Psaronius. As formações foram nomeadas nos registros de Lisboa (1914) e publicado um esboço geológico do Piauí e Maranhão. Small (1913 e 1914) realizou es- tudos geológicos para águas subterrâneas no Cea- rá e Piauí. Nas localidades fossilíferas do Maranhão, des- critas por Gonzaga de Campos, foram estabeleci- das as distinções entre os sedimentos com Psaro- nius e os do Cretáceo. Pela primeira vez, são men- cionadas, as ocorrências de folhelhos fossilíferos, próximo a Floriano, Piauí, e considerados mesozói- cos (Campos 1925). Reconhecimentos geológicos foram realiza- dos nos rios Araguaia e Tocantins (Moraes Rego, 1931 e 1933; Loefgren, 1936) e verificadas as possibilidades de ocorrências de carvão nos va- les dos rios Parnaíba e Tocantins. Com a revela- ção das floras do Carbonífero, começaram os tra- balhos pela procura de carvão no Piauí (Paiva & Miranda, 1937). Barbosa & Gomes (1957) realizaram estudos so- bre o carvão mineral na Bacia Tocantins-Araguaia, nas proximidades de Carolina, sugerindo modifica- ções na coluna estratigráfica. Pioneiro nas pesquisas paleontológicas, com inúmeros trabalhos de campo na bacia, L. I. Price (Figura 2.1) dedicou-se ao estudo dos vertebrados. Registrou fósseis de dinossauros nas rochas cretá- ceas da ilha do Livramento, litoral do Maranhão e descreveu o primeiro anfíbio fóssil do Brasil, de ida- de permiana (Price, 1947 e 1948). Colaborou com o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) em reconhe- cimentos e mapeamentos geológicos, quando fo- ram delineadas as relações entre novas unidades da Bacia (Campbell, 1949 e 1950; Campbell et al., 1948 e 1949a, b; Plummer et al., 1948). Com a descoberta de fósseis devonianos, Price e Kenneth Caster, da Universidade de Cincinnati, fi- zeram campanhas de campo na região de Picos, –4– Paleontologia das Bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luís

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    HISTRICO

    Os primeiros conhecimentos geolgicos obtidosna rea da Bacia do Parnaba so devidos ao condeFrancis de Castelnau que, em 1846, realizou uma via-gem pelo rio Araguaia, colhendo algumas informa-es litolgicas. Posteriormente, a designao daBacia do Parnaba foi proposta por Derby (1884).

    O interesse pela Bacia ocorreu a partir do inciodo sculo, com a procura de bens de natureza eco-nmica como combustveis carvo e petrleo, eguas subterrneas.

    Em 1909, Arrojado Lisboa e o topgrafo HansBaumann, do Servio Geolgico e Mineralgico doBrasil realizaram um reconhecimento geolgico noNorte e Nordeste, para verificar ocorrncias de ma-deiras silicificadas referidas ao gnero Psaronius.As formaes foram nomeadas nos registros deLisboa (1914) e publicado um esboo geolgico doPiau e Maranho. Small (1913 e 1914) realizou es-tudos geolgicos para guas subterrneas no Cea-r e Piau.

    Nas localidades fossilferas do Maranho, des-critas por Gonzaga de Campos, foram estabeleci-das as distines entre os sedimentos com Psaro-nius e os do Cretceo. Pela primeira vez, so men-cionadas, as ocorrncias de folhelhos fossilferos,prximo a Floriano, Piau, e considerados mesozi-cos (Campos 1925).

    Reconhecimentos geolgicos foram realiza-dos nos rios Araguaia e Tocantins (Moraes Rego,1931 e 1933; Loefgren, 1936) e verificadas aspossibilidades de ocorrncias de carvo nos va-les dos rios Parnaba e Tocantins. Com a revela-o das floras do Carbonfero, comearam os tra-balhos pela procura de carvo no Piau (Paiva &Miranda, 1937).

    Barbosa & Gomes (1957) realizaram estudos so-bre o carvo mineral na Bacia Tocantins-Araguaia,nas proximidades de Carolina, sugerindo modifica-es na coluna estratigrfica.

    Pioneiro nas pesquisas paleontolgicas, cominmeros trabalhos de campo na bacia, L. I. Price(Figura 2.1) dedicou-se ao estudo dos vertebrados.Registrou fsseis de dinossauros nas rochas cret-ceas da ilha do Livramento, litoral do Maranho edescreveu o primeiro anfbio fssil do Brasil, de ida-de permiana (Price, 1947 e 1948). Colaborou com oConselho Nacional do Petrleo (CNP) em reconhe-cimentos e mapeamentos geolgicos, quando fo-ram delineadas as relaes entre novas unidadesda Bacia (Campbell, 1949 e 1950; Campbell et al.,1948 e 1949a, b; Plummer et al., 1948).

    Com a descoberta de fsseis devonianos, Pricee Kenneth Caster, da Universidade de Cincinnati, fi-zeram campanhas de campo na regio de Picos,

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    Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus

  • no Piau, coletando fsseis e descrevendo a geolo-gia local (Caster, 1948).

    Em uma fase mais avanada de pesquisa doCNP, foram efetuadas duas sondagens na regiode Balsas-Carolina. A anlise dos testemunhos deCarolina foi realizada por Kegel (1953) que deucontinuidade aos estudos do Devoniano e de ou-tras idades do Paleozico (Kegel, 1951, 1952,1954, 1955, 1956, 1957, 1961, 1965, 1966 e Kegel& Costa, 1951).

    O trabalho de Wilhem Kegel (Figura 2.2) sobre ageologia do Devoniano, uma importante refernciaat a data atual. Foi realizado no sudeste do Piau,compreendendo os arredores das cidades de Pi-cos, Oeiras e Valena do Piau, em rea de impor-tncia histrica. Oeiras foi a primeira rea coloniza-da, com fazendas de gado estabelecidas no inciodo sculo 18. A populao cresceu em torno da ca-pela, mais tarde matriz de Nossa Senhora da Vit-ria, datada de 1733 (Figura 2.3) e o povoado, quan-do elevado cidade, foi a primeira capital do Piau.A denominao Oeiras est ligada ao vocabulriogeolgico, pois Kegel atribuiu este nome a ummembro da Formao Cabeas, contendo os belosarenitos ruiniformes que ocorrem na rea.

    O conhecimento da Bacia progrediu com a atua-o da Petrleo Brasileiro S/A PETROBRAS, querealizou mapeamentos sistemticos, organizandoas unidades litoestratigrficas representadas pelasformaes. Estas denominaes, com algumasmodificaes so utilizadas at nos trabalhos maisrecentes.

    Os mapeamentos foram executados pelas equi-pes de jovens gelogos provenientes dos novoscursos de Geologia, criados nas universidadesbrasileiras. Pertenciam s memorveis TGs Tur-ma de Geologia (Figura 2.4).

    Destes trabalhos, a maioria relatrios internos,so citados: Aguiar (1961, 1964, 1969, 1971);Anderson & Mendona (1960); Andrade (1968);Blankennagel (1952, 1954); Carneiro (1974); Carnei-ro & Perillo (1968); Cunha (1964, 1966); Cunha &Carneiro (1972); Della Piazza & Andrade (1969); Del-la Piazza & Santos (1967); Kremer & Campos (1955);Melo (1965, 1968); Melo & Porto (1965); Melo & Pra-de (1968); Molnar & Urdineia (1966); Northfleet(1965); Northfleet & Neves (1967); Northfleet & Melo(1967), Ojeda y Ojeda & Bembom (1966); Ojeda yOjeda & Perillo (1967); Perillo & Nahass (1968).

    Histrico

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    Figura 2.1 LLEWELLYN IVOR PRICE (1905-1980). Pa-leontlogo do Departamento Nacional da Produo Mi-neral desde 1944. Foi o grande iniciador das pesqui-

    sas em anfbios e rpteis fsseis no Brasil. Sua valiosacontribuio cientfica abrange trabalhos realizados

    em todas as bacias brasileiras.

    Figura 2.2 WILHELM KEGEL (1890-1971). Nascido naAlemanha, emigrou para o Brasil, depois da 2 Guerra

    Mundial, em 1949. Gelogo de experincia reconhecidaem sua terra natal, realizou no Brasil, importantes pes-quisas sobre a geologia e a tectnica do Nordeste, atu-ando no Departamento Nacional da Produo Mineral e

    na Escola de Geologia do Rio de Janeiro.

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    Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus

    Figura 2.4 TG - Turma de Geologia da PETROBRAS. Seus componentes participaramda execuo do primeiro mapeamento geolgico sistemtico na Bacia, na dcada de 60.

    A vida em semanas e meses de acampamentos campanas rsticas e com repastos frugais,era por vezes difcil.

    Figura 2.3 Igreja de Nossa Senhora da Vitria, catedral de Oeiras. A edificao iniciada em1733 tpica da arquitetura austera dos jesutas. Foi executada parceladamente, pois recebeuapenas uma das torres do par previsto. As pilastras, frisos, portadas e as junes em ngulo

    so esculpidas em arenitos vermelhos do Devoniano local.

  • Comos furosestratigrficosdaPETROBRAS,Mller(1962) elaborou a primeira diviso bioestratigrficada Bacia. As unidades litoestratigrficas ento esta-belecidas foram reunidas nas integraes de Mesner& Wooldridge (1964), Aguiar (1971), e no mapa, es-cala 1:1.000.000, de Aguiar & Nahass (1969).

    O mapeamento da Bacia do Parnaba foi objetode relatrios de graduao da Escola de Geologiada Universidade Federal de Pernambuco, em con-vnio com o Departamento Nacional da ProduoMineral, no final da dcada de 60. Com isso, surgi-ram trabalhos dos professores Mabesoone (1965,1970, 1975, 1977) e Berlen (1965, 1971a, b).

    No final da dcada de 60, foi implantado, pelo De-partamento Nacional da Produo Mineral, o ProjetoRADAM, destinado a realizar a interpretao de da-dos geolgicos, geomorfolgicos, fitogeogrficos epedolgicos, utilizando imagens de radar (Brasil,1973 a, b, c). Pela primeira vez foi obtido um mapade uso potencial da terra.

    No incio da dcada de 70, o contnuo trabalhoda PETROBRAS, evoluiu com a tectnica de pla-cas, surgindo estudos de integraes regionais(Rezende & Pamplona, 1970; Rezende, 1971 e Miu-ra & Barbosa, 1972).

    A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais(CPRM), na sua criao no ano de 1969, recebeuas atribuies da extinta Comisso do Plano deCarvo Nacional. Esta Comisso, durante a dca-da de 60, teve a incumbncia de pesquisar carvonas bacias paleozicas, porm com investimentosmuito limitados.

    A CPRM em convnio com o DNPM realizou pes-quisas para carvo (Cruz et al., 1973a, 1973b; Leiteet al., 1975) fosfato (Oliveira & Barros, 1976); almde mapeamento geolgico (Costa et al., 1973); in-tegrao geolgica-metalogentica (Lima & Leite,1978) e levantamento hidrogeolgico (Silva & Soa-res Filho, 1979; Silva, 1979; Araujo & Miranda, 1979;Araujo, 1979; Soares Filho, 1979; Miranda, 1979).Comentrios sobre a evoluo das seqncias me-sozicas e o relacionamento com os processos ge-omorfolgicos que atuaram na Bacia foram realiza-dos por Caldasso (1978).

    Os trabalhos referenciados por anlise de bacia,estudo de fcies, sistemas e seqncias deposicio-nais foram divulgados em cursos peridicos elabo-rados por tcnicos da PETROBRAS. Della Fvera(1990) enfatizou a sedimentao episdica nas se-qncias paleozicas.

    A Bacia do Parnaba foi dividida em quatro baciasmenores, com gneses distintas: Parnaba (Siluria-no-Trissico), Alpercatas (Jurssico-Eocretceo),

    Graja (Cretceo) e Espigo Mestre (Cretceo),nos trabalhos de Ges (1995) e Ges & Coimbra(1996).

    Pelo estudo da evoluo tectono-sedimentardas bacias de So Lus e Graja, que mostramcontinuidade de sedimentao Ges & Rossetti(2001) adotaram a denominao de Bacia de SoLus-Graja para uma rea de cerca de 140 milquilmetros quadrados, correspondente aos sedi-mentos cretceos. As pesquisas esto em partedivulgadas por Rossetti et al. (2001), correspon-dendo tectnica, anlise de fcies, estratigrafiade seqncias e paleontologia.

    Os peixes fsseis, de longa data utilizadoscomo elementos de correlao, foram estudadospelo ictilogo Rubens da Silva Santos (Figura 2.5).Suas publicaes iniciadas com o Lepidotes (San-tos, 1945) abrangem o Paleozico, o Mesozico e oCenozico (Santos, 1974b, 1985, 1994a).

    A regio das rochas cretceas, situada no centrodo estado do Maranho est ligada sua histriaeconmica. Os solos derivados das formaesgeolgicas ocorrentes foram propcios a culturasrelacionadas ao mercantilismo agrcola, criando osurto de desenvolvimento no sculo 18.

    Histrico

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    Figura 2.5 RUBENS DA SILVA SANTOS (1918-1996).Paleontlogo do Departamento Nacional da ProduoMineral e professor da Universidade Estadual do Riode Janeiro. Desenvolveu a paleoictiologia do Brasil,

    com trabalhos em diversas bacias brasileiras. Publicoudezenas de trabalhos a partir de 1945.

  • O Maranho foi importante produtor e exportadorde algodo, alimentando com matria prima a revo-luo industrial no hemisfrio norte. De ciclos maisrecentes da industrializao no estado, so os pr-dios remanescentes das fbricas de tecidos(Figura 2.6).

    Pesquisas de ocorrncias fsseis no Cretceo,iniciadas pelo Professor Emrito Candido SimesFerreira, do Museu Nacional, da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (Figura 2.7) versaram sobrea geologia e paleontologia do litoral e centro do es-tado do Maranho. Os resultados foram divulgadospor Klein & Ferreira (1979), Cunha & Ferreira(1980), Ferreira & Cassab (1987), Carvalho & Cam-pos (1988). Desse esforo, foi originado o ProjetoPaleontologia e Estratigrafia da Bacia do Parnaba,da UFRJ, que ampliou significativamente o conhe-cimento dos fsseis da bacia, com novas desco-bertas, como os ossos de dinossauros na Forma-o Itapecuru (Figura 2.8) (Ferreira et al., 1991,1992, 1995a, 1995b e Ferreira, 1992).

    Na continuidade destes trabalhos, foi estabeleci-do um convnio entre a UFRJ e a Universidade Fe-deral do Maranho. As novas descobertas, princi-

    palmente em sedimentos litorneos permitiram oregistro de importantes stios paleontolgicos compegadas de dinossauros (Carvalho 1994b, 1994c,1994d, 1995; Carvalho & Gonalves, 1994). Na ci-dade de Alcntara, onde ocorre um dos mais im-portantes stios, parte desta coleo foi incorpora-da ao Museu Histrico, como incentivo cultural depreservao (Figura 2.9).

    A Companhia de Pesquisa de Recursos Mineraisexecutou nas reas das bacias do Parnaba e SoLus, pelo Programa Levantamentos GeolgicosBsicos do Brasil, o Projeto Especial Mapas de Re-cursos Minerais de Solos e de Vegetao para area do Programa Grande Carajs. Os resultadosesto divulgados, em vrios trabalhos, na escala1:250.000 (Colares & Araujo, 1990; Colares et al.,1990; Souza et al., 1990; Figueiredo et al., 1994; Lo-vato et al., 1994; Rodrigues et al., 1994a, 1994b;Almeida et al., 1995; Lovato et al., 1995).

    Com a descoberta de um rico jazigo fossilfero nailha do Cajual, est sendo revelada uma importantefauna de dinossauros que mostra estreita afinidadecom gneros do norte da frica (Medeiros &Schultz, 2001; Vilas Bas & Carvalho, 2001).

    Paleontologia das Bacias do Parnaba, Graja e So Lus

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    Figura 2.6 Na cidade de Cod, o prdio desativado de antiga fbrica de tecidos, com arquitetura industrialcaracterstica de influncia inglesa.

  • Histrico

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    Figura 2.7 CNDIDO SIMES FERREIRA. Nasceuno estado de Minas Gerais, em 1921. Desde 1948,

    exerce funes em Geologia e Paleontologia no MuseuNacional. Este professor emrito da Universidade

    Federal do Rio de Janeiro apaixonado incentivadordas atividades cientficas dos estados do Par e

    Maranho. Na foto no rio Itapecuru, participando dadescoberta de ossos de dinossauros, em 1990.

    Figura 2.8 Descoberta de ossos de dinossauros naFormao Itapecuru, a beira do rio e na cidade de

    mesmo nome, pelo Projeto Estratigrafia e Paleontologiada Bacia do Parnaba, da UFRJ, em 1990.

    Figura 2.9 Praa central de Alcntara, onde estlocalizado o Museu Histrico com as pegadas dedinossauros em seu acervo. O pelourinho da foto

    considerado o mais antigo do Brasil e testemunhaa contribuio dos negros, cuja herana cultural

    permanece at a data de hoje. Alcntara CidadeHistrica e Monumento Nacional.