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40 O Agronômico, Campinas, 55(1), 2003 uscando na história da Nutrição Mineral de Plantas (NMP) vemos, já no período de 384 a 322 AC, ves no banco de currículos do CNPq (www.cnpq.br) Plataforma Lattes buscan- do a produtividade, ou seja quantos arti- gos científicos estão relacionados na área e nos diversos temas dentro do contexto da NMP. Esses dados são apresentados no quadro 1. A primeira observação que se tem sobre os artigos publicados pelos pesquisadores é de concentração em alguns segmentos pri- vilegiando o desenvolvimento tecnológico da nutrição e adubação de plantas cultivadas e pouco investimento no desenvolvimento ci- entífico básico. Destaca-se pelo número de publicações o desenvolvimento sustentado, salinidade, tolerância a alumínio e absorção de nutrientes, neste caso não a parte básica, mas principalmente a quantificação de de- manda nutricional das diversas plantas culti- vadas em apoio ao aperfeiçoamento das re- comendações de adubação. Também na consulta a Plataforma Lattes, foi possível identificar onde estão esses pes- quisadores e como eles estão estruturados em grupos de pesquisa. Foi possível identificar a formação de quarenta e um grupos de pes- quisa em NMP no país. Entre eles, trinta e seis estão organizados dentro de Escolas de Agronomia, e cinco distribuídos em Enge- nharia Agrícola, Zootecnia, Botânica e Bio- química. Essa distribuição parece de certa forma justificar essa preferência dos pesqui- sadores pelos temas mais aplicados da nutri- ção mineral. Outro banco de informações bem estru- turado no qual buscou-se apoio, é o Banco de Teses da CAPES (www.capes.gov.br). Nos últimos quinze anos foram produzidas sessenta teses contemplando tolerância ao Al, trinta e oito sobre diagnose foliar, das quais dezessete utilizando o Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação – DRIS, Diagnosis and Recommendation Integrated System – uma tecnologia cujo uso apesar de recente é crescente no país. Os estudos com absorção de nutrien- tes pelas plantas foram desenvolvidos prin- cipalmente com a finalidade de identificar a necessidade de nutrientes para o cresci- mento de plantas e a quantidade exportada pela colheita. Merecem destaque os traba- lhos desenvolvidos pelo Prof. Henrique Paulo Haag em hortaliças, flores e frutífe- ras envolvendo grande número de estudan- tes e colaboradores. A determinação da quantidade de nutrientes exportada pela colheita também foi objeto de trabalho de inúmeros pesquisadores conforme pode ser observado na revisão publicada por Malavolta (1992) nos Anais da XX Reu- nião Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas. Fazem parte das cita- ções desse trabalho autores como Malavolta, Dafert, Catani, Costa, Garcia, Orlando Filho, Mello, Haag, Bataglia, Belote, Verner, Minami, Lorenzi, Baumgartner, Dantas, Dechen, Rosolem, Gargantini, Furlani, Poggiani, Correa, Bra- sil Sobrinho, Andrade, trabalhando com di- versas plantas cultivadas. Certamente uma relação completa de autores nesse tema será muito mais abrangente. Esses dados produzidos pela literatura brasileira foram essenciais para o estabe- lecimento de tabelas de recomendação de adubação como as do Boletim 100 do IAC (Raij et al, 1997). A título de exemplo são apresentadas as tabelas de remoção de nu- trientes pela colheita de hortaliças e frutas (Quadros 2 e 3) Por esses dados verifica-se que algu- mas plantas têm altas concentrações de nu- trientes em seus frutos, macadâmia por exemplo, enquanto outras, a maioria, têm baixa exportação de nutrientes por unida- de de produção mas, em compensação, com as elevadas produtividades acabam expor- tando consideráveis quantidades de nutri- entes (tomate, por exemplo). Um tema bastante explorado pelos pes- quisadores brasileiros é o da eficiência de absorção e uso de nutrientes pelas plantas. Diversos grupos de pesquisa conseguiram PALESTRAS ALESTRAS ALESTRAS ALESTRAS ALESTRAS B Nutrição mineral de plantas: a contribuição brasileira Aristóteles identificando quatro elementos como essenciais ao desenvolvimento das plantas: terra, água, ar e fogo. Depois de um longo período, na Idade Média surgi- ram avanços consideráveis na teoria da nu- trição vegetal. Von Helmont (1577-1644) postulava que apenas elementos da água eram necessários e Woodward (1665-1728) acreditava nos elementos terrestres (sóli- dos dissolvidos na água). Os grandes avanços no conhecimento da NMP aconteceram com Saussure (1804) demonstrando a seletividade por sais e Sprengel (1787-1859), o precursor da lei do mínimo. Boussingault (1802-1887) pra- ticamente definiu a série de nutrientes es- senciais: C, H, O, mais minerais do solo e nitrogênio da fixação de N 2 . Liebig (1840) estabeleceu a teoria dos nutrientes mine- rais, praticamente colocando um fim na teoria humista proposta por Aristóteles, que ensinava que as plantas alimentavam-se do húmus e que, após a morte a ele retorna- vam. Em 1860, Sachs e Knop desenvolve- ram a tecnologia de crescimento de plan- tas em solução nutritiva. Como se observa, todo esse conheci- mento sobre a NMP já era de domínio pú- blico quando algumas das Instituições de Ensino e Pesquisa foram criadas no Brasil. Apenas para citar algumas, a Universida- de Federal da Bahia, em Cruz das Almas, foi criada em 1877, o Instituto Agronômi- co, em Campinas, em 1887 e a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, em Piracicaba, fundada em 1901, estão entre as instituições mais antigas no país. A maioria das instituições, entretanto, fo- ram criadas no século XX, quando a base da NMP já estava bem estabelecida. Conhecendo esses fatos é natural ques- tionar o que estão fazendo os pesquisado- res brasileiros em apoio ao desenvolvimen- to da NMP. Qual é a sua contribuição? Entre as várias possibilidades para conhe- cer a produção desses pesquisadores fomos primeiro buscar informações dos que ain- da estão em atividade para em seguida rastrear seus antecessores. Hoje, com apoio da informação virtual ficou mais fácil. Um grande avanço vem acontecendo com a or- ganização da Plataforma Lattes do CNPq. Fizemos uma consulta usando palavras cha-

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uscando na história da NutriçãoMineral de Plantas (NMP) vemos,já no período de 384 a 322 AC,

ves no banco de currículos do CNPq(www.cnpq.br) Plataforma Lattes buscan-do a produtividade, ou seja quantos arti-gos científicos estão relacionados na áreae nos diversos temas dentro do contexto daNMP. Esses dados são apresentados noquadro 1.

A primeira observação que se tem sobreos artigos publicados pelos pesquisadores éde concentração em alguns segmentos pri-vilegiando o desenvolvimento tecnológico danutrição e adubação de plantas cultivadas epouco investimento no desenvolvimento ci-entífico básico. Destaca-se pelo número depublicações o desenvolvimento sustentado,salinidade, tolerância a alumínio e absorçãode nutrientes, neste caso não a parte básica,mas principalmente a quantificação de de-manda nutricional das diversas plantas culti-vadas em apoio ao aperfeiçoamento das re-comendações de adubação.

Também na consulta a Plataforma Lattes,foi possível identificar onde estão esses pes-quisadores e como eles estão estruturados emgrupos de pesquisa. Foi possível identificara formação de quarenta e um grupos de pes-quisa em NMP no país. Entre eles, trinta eseis estão organizados dentro de Escolas deAgronomia, e cinco distribuídos em Enge-nharia Agrícola, Zootecnia, Botânica e Bio-química. Essa distribuição parece de certaforma justificar essa preferência dos pesqui-sadores pelos temas mais aplicados da nutri-ção mineral.

Outro banco de informações bem estru-turado no qual buscou-se apoio, é o Bancode Teses da CAPES (www.capes.gov.br).

Nos últimos quinze anos foram produzidassessenta teses contemplando tolerância ao Al,trinta e oito sobre diagnose foliar, das quaisdezessete utilizando o Sistema Integrado deDiagnose e Recomendação – DRIS,Diagnosis and Recommendation IntegratedSystem – uma tecnologia cujo uso apesar derecente é crescente no país.

Os estudos com absorção de nutrien-tes pelas plantas foram desenvolvidos prin-cipalmente com a finalidade de identificara necessidade de nutrientes para o cresci-mento de plantas e a quantidade exportadapela colheita. Merecem destaque os traba-lhos desenvolvidos pelo Prof. HenriquePaulo Haag em hortaliças, flores e frutífe-ras envolvendo grande número de estudan-tes e colaboradores. A determinação daquantidade de nutrientes exportada pelacolheita também foi objeto de trabalho deinúmeros pesquisadores conforme pode serobservado na revisão publicada porMalavolta (1992) nos Anais da XX Reu-nião Brasileira de Fertilidade do Solo eNutrição de Plantas. Fazem parte das cita-ções desse trabalho autores comoMalavolta, Dafert, Catani, Costa, Garcia,Orlando Filho, Mello, Haag, Bataglia,Belote, Verner, Minami, Lorenzi,Baumgartner, Dantas, Dechen, Rosolem,Gargantini, Furlani, Poggiani, Correa, Bra-sil Sobrinho, Andrade, trabalhando com di-versas plantas cultivadas. Certamente umarelação completa de autores nesse tema serámuito mais abrangente.

Esses dados produzidos pela literaturabrasileira foram essenciais para o estabe-lecimento de tabelas de recomendação deadubação como as do Boletim 100 do IAC(Raij et al, 1997). A título de exemplo sãoapresentadas as tabelas de remoção de nu-trientes pela colheita de hortaliças e frutas(Quadros 2 e 3)

Por esses dados verifica-se que algu-mas plantas têm altas concentrações de nu-trientes em seus frutos, macadâmia porexemplo, enquanto outras, a maioria, têmbaixa exportação de nutrientes por unida-de de produção mas, em compensação, comas elevadas produtividades acabam expor-tando consideráveis quantidades de nutri-entes (tomate, por exemplo).

Um tema bastante explorado pelos pes-quisadores brasileiros é o da eficiência deabsorção e uso de nutrientes pelas plantas.Diversos grupos de pesquisa conseguiram

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B

Nutrição mineral de plantas:a contribuição brasileira

Aristóteles identificando quatro elementoscomo essenciais ao desenvolvimento dasplantas: terra, água, ar e fogo. Depois deum longo período, na Idade Média surgi-ram avanços consideráveis na teoria da nu-trição vegetal. Von Helmont (1577-1644)postulava que apenas elementos da águaeram necessários e Woodward (1665-1728)acreditava nos elementos terrestres (sóli-dos dissolvidos na água).

Os grandes avanços no conhecimentoda NMP aconteceram com Saussure (1804)demonstrando a seletividade por sais eSprengel (1787-1859), o precursor da leido mínimo. Boussingault (1802-1887) pra-ticamente definiu a série de nutrientes es-senciais: C, H, O, mais minerais do solo enitrogênio da fixação de N

2. Liebig (1840)

estabeleceu a teoria dos nutrientes mine-rais, praticamente colocando um fim nateoria humista proposta por Aristóteles, queensinava que as plantas alimentavam-se dohúmus e que, após a morte a ele retorna-vam. Em 1860, Sachs e Knop desenvolve-ram a tecnologia de crescimento de plan-tas em solução nutritiva.

Como se observa, todo esse conheci-mento sobre a NMP já era de domínio pú-blico quando algumas das Instituições deEnsino e Pesquisa foram criadas no Brasil.Apenas para citar algumas, a Universida-de Federal da Bahia, em Cruz das Almas,foi criada em 1877, o Instituto Agronômi-co, em Campinas, em 1887 e a EscolaSuperior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,em Piracicaba, fundada em 1901, estãoentre as instituições mais antigas no país.A maioria das instituições, entretanto, fo-ram criadas no século XX, quando a baseda NMP já estava bem estabelecida.

Conhecendo esses fatos é natural ques-tionar o que estão fazendo os pesquisado-res brasileiros em apoio ao desenvolvimen-to da NMP. Qual é a sua contribuição?

Entre as várias possibilidades para conhe-cer a produção desses pesquisadores fomosprimeiro buscar informações dos que ain-da estão em atividade para em seguidarastrear seus antecessores. Hoje, com apoioda informação virtual ficou mais fácil. Umgrande avanço vem acontecendo com a or-ganização da Plataforma Lattes do CNPq.Fizemos uma consulta usando palavras cha-

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transferir uma sólida base de apoio aos pro-gramas de melhoramento vegetal de modoque o conhecimento desenvolvido pelaNMP está sendo incorporado às novas va-riedades de soja, milho, trigo, arroz, feijãoe outras. Dentre esses grupos, merecemdestaque os trabalhos desenvolvidos porFurlani, Furlani, Camargo, Fageria, Sphear,Inoue, Carvalho, Magnavaca, Freire, Lopese tantos outros.

A base conceitual dos estudos sobre aeficiência do uso de nutrientes pelas plan-tas foi bastante difundida nos trabalhos deBalligar e Fageria. O conceito exposto nasfiguras 1 e 2 mostram as diferentes possi-bilidades de comportamento de variedadesde plantas quanto à eficiência de uso de nu-trientes. Qualquer variedade de uma de-terminada espécie terá obrigatoriamentecomportamento que se enquadra em umadas quatro categorias: ineficiente nãoresponsiva, ineficiente responsiva, eficientenão responsiva e eficiente responsiva.

Nas figuras 3 e 4 são mostrados algunsexemplos de resultados publicados por pes-quisadores brasileiros relativos a esse tema.Felizmente são diversos grupos de pesqui-sa envolvidos nas Universidades, Institui-ções de Pesquisa Estaduais e em Centrosda Embrapa que tratam de pesquisa em mi-lho e sorgo, arroz, feijão, soja, trigo e ou-tros cereais.

Outro grupo de pesquisadores brasilei-ros desenvolve métodos de seleção de plan-tas tolerantes a alumínio tóxico do solo commuito sucesso e o conhecimento derivadodessa pesquisa já vem sendo incorporadonos diversos programas de melhoramento,principalmente de cereais, em todo o país.Desde 1987, sessenta teses estão cadastra-das no banco da CAPES. Alguns pesqui-sadores envolvidos: Monteiro, Oliveira,Carvalho, Usberti, Bohnen, Federizzi,Cambraia Jr, Paiva, Rossiello, Dechen,

Figura 1. Classes de respostas de plantas aníveis de nutrientes no solo (Baligar &Fageria, 1997, citados por Dechen et al., 1999)

Figura 2. Método dos quadrantes paraclassificação de genótipos sob condições

normais e de estresse a P: IR = ineficiente eresponsivo; INR ineficiente e não responsivo;ER = eficiente e responsivo; ENR = eficientee não responsivo (Baligar & Fageria, 1997,

citados por Dechen et al., 1999)

Lopes, Martinez, Furlani, Camargo,Carmello.

Um dos sucessos da agricultura brasi-leira deve-se também ao excelente traba-lho na questão do diagnóstico para avaliara fertilidade do solo ou o estado nutricio-nal das plantas. Muitos grupos de pesqui-sa desenvolvem o tema.

A diagnose foliar no Brasil teve um im-portante precursor que foi a instalação emMatão (SP), com apoio da FundaçãoRockfeller, do laboratório do IRI – IBECResearch Institute, com a participação degrandes pesquisadores como Lott, Mclung,Medcalf entre outros. Em seguida foi ins-talado no IAC o Laboratório de Análisefoliar onde se sobressaiu o trabalho deGallo, Hiroce, Bataglia, Coelho, Moraes,Franco, Furlani, Quaggio e outros. Desta-que-se como grande estímulo ao tema, apromoção do Curso Internacional deDiagnose Foliar patrocinado pelo IICA ecoordenado por Malavolta em 1964. De1987 a 2003, trinta e oito teses foram en-

Figura 3. Comportamento de variedades de trigo em relação à eficiênciade uso de nitrogênio (Freitas et al., 1995)

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contradas no banco da CAPES, das quais17 usando o método do DRIS em traba-lhos com a maioria das plantas cultivadasno país. Alguns pesquisadores envolvidos:Carvalho, Malavolta, Alvarez, Monnerat,Bataglia, Rosolem, Nakagawa, Dechen,Bruckner, Büll, Muniz, Vitti, Kiehl, Olivei-ra, Boareto, Carmello, Mello, Viegas,Sarruge e outros.

Diversas publicações foram editadasno país com recomendações de amos-tragem, critérios e valores para interpreta-ção dos resultados e orientações gerais parauso da diagnose foliar. Os procedimentosmais usuais são aqueles que usam as fai-xas de suficiência para comparar os resul-tados da amostra com valores calibradospela pesquisa.

Recentemente algumas plantas foramestudadas e vislumbra-se um futuro muitopromissor para uso técnica do DRIS, quepossibilita ordenar os nutrientes de acordocom o seu grau de limitação e também cal-cular o balanço nutricional para a plantaanalisada. Na figura 5, por exemplo, émostrado o resultado de análise foliar deuma amostra de café. Os teores de nutri-entes foram transformados em índicesDRIS. Pode-se observar, de acordo com ateoria do potencial de resposta (Wadt,1996), que cobre, enxofre e manganês es-tão na zona de alta probabilidade de res-posta, enquanto, cálcio, boro e magnésiotêm probabilidade de resposta baixa ounegativa.

A grande vantagem da diagnose foliaracontece quando é feita seqüencialmentedurante um longo período de tempo. Issopermite um monitoramento do estado nu-tricional das plantas no espaço e no tempo.Na figura 6 é mostrado o estado nutri-cionalpara talhões de café de uma fazenda, paraos nutrientes Ca e Mg. Fica muito fácilacompanhar a evolução e as falhas do pro-grama de adubação usado no local e tomardecisões mais acertadas para correção dos

problemas e intervir no programa de adu-bação.

O conhecimento disponível no Brasiltem permitido aos pesquisadores identifi-car uma série de anomalias e propor solu-ções para melhorar o desempenho das plan-ta cultivadas.

Deficiências de micronutrientes, boroprincipalmente, têm causado grandes estra-gos na nossa agricultura. Em manga (Qua-dro 4), observa-se tanto o comportamentodiferencial de variedades como a granderesposta na produtividade de variedadespouco eficientes com aumento de até 13vezes na produtividade em função da cor-reção da deficiência.

Outra forma de se avaliar a contribui-ção brasileira para a NMP é acompanhar aparticipação dos pesquisadores em con-gressos internacionais. Foi feita uma aná-lise dessa participação no último ColóquioInternacional de Nutrição de Plantas emHannover no ano de 2001. Pode-se obser-var no quadro 5 em quais simpósios houveparticipação de pesquisas brasileiras.

Mais uma vez verifica-se sobretudo aparticipação nula da pesquisa brasileira emtemas básicos da NMP. Em temas aplica-dos houve uma participação razoável (3 %)do total dos trabalhos, mas de qualquer for-ma, uma participação preocupante, pela dis-tância que está ficando a pesquisa brasilei-ra em relação ao desenvolvimento teóricointernacional.

Nesse mesmo encontro internacional,duas palestras chamaram muito a atençãopara o futuro da NMP. A primeira, do pro-fessor Noordwijck, mostrando que a sus-tentabilidade dos agroecosistemas depen-de da habilidade do agricultor em manter aprodutividade do solo, evitar danos aos vi-zinhos na forma de fluxos laterais de nutri-entes e pesticidas, manter os clientes feli-zes fornecendo a eles alimentos seguros elidar com os burocratas que tentam con-trolar sua atividade.

A segunda palestra foi do professorCakmak sobre as demandas de alimentos esua relação com a NMP. A demanda devedobrar em duas décadas. O uso de fertili-zantes será imprescindível, principalmen-te em países tropicais onde os solos são po-bres, o manejo é impróprio, há falta degenótipos adaptados e omissão com rela-ção à degradação dos ecosistemas. Atual-mente 60% dos solos cultivados têm limi-tações nutricionais ou apresentam toxici-dade e 50% da população sofre deficiên-cias nutricionais de micronutrientes.

Essas palestras mostraram que o esque-ma tradicional de se tratar a NMP como aciência encarregada apenas de avaliar a ne-cessidade de nutrientes das plantas (figura7) está superada.

As pesquisas moderna e futura exigemuma nova postura dos pesquisadores, umrefinamento pela sociedade levando a umnovo entendimento sobre a eficiência douso de nutrientes, dos processos solo-plantapara evitar excessos e desperdícios de nu-trientes nos ricos países de clima tempera-do e melhoraria do aproveitamento dossolos pobres dos trópicos.

O conhecimento básico precisa ser am-pliado principalmente para se ter uma per-feita integração entre nutrição-genética-

Figura 5. Resultado de análise foliar de uma amostra de caféFigura 4. Eficiência de variedades de soja no uso de fósforo (Furlani et al., 2002)

Figura 6. Monitoramento nutricionalda nutrição com Mg e Ca em talhões

de uma fazenda de café

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Figura 7. Representação esquemática dademanda de nutrientes pelas plantas e

suprimento pelo solo e por adubos

biologia molecular, nutrição mineral e qua-lidade do produto, nutrição e desenvolvi-mento sustentado.

Nesta data, quando por essa feliz ini-ciativa da ESALQ em comemorar os 200anos do nascimento de Liebig, precisamosreverenciar esse grande cientista, por mui-tos chamado de pai da NMP. Precisamostambém ao mesmo tempo reconhecer opapel do pesquisador brasileiro que, ape-sar de nem sempre ter as condições de tra-balho necessárias, tem feito sua parte e ga-rantido a solução dos problemas nutri-cionais da nossa agricultura, hoje cantadapelo mundo como uma das mais competi-tivas e promissoras para a segurança ali-mentar do país e do mundo. Devemos usartambém esse momento de comemoração e

Ondino C. BatagliaIAC – Centro de Solosfone: (19) 3231-5422 ramal 180endereço eletrônico: [email protected] proferida em 19 de maio de 2003 naEscola Superior de Agricultura “Luiz deQueiroz”, em Piracicaba, no Simpósio come-morativo aos 200 anos do nascimento deJustus von Liebig

euforia como um alerta da distância que ospesquisadores estão ficando do primeiromundo. Até aqui de certa forma demos con-ta do recado, mas e o futuro? Vamos pagarroyalties ou investir nos nossos talentos?

Meus cumprimentos e sinceros agra-decimentos ao Professor Dechen e aos de-mais colegas da ESALQ pelo convite eoportunidade de participar desse encontro.

Referências bibliográficas

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