Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por...

24
Revista de Filología RonÚnica, Anejos ISSN: 0212-999X 2001,11: 161-184 ISBN: 54-95215-18-7 Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos últimos cinquenta anos Luis KANDJIMBO Escritor e crítico angolano INTRODUCAO Do ponto de vista histórico, o romance éo género literano mais recen- te em Angola e de um modo geral nas literaturas africanas. A poesia, a na- rrativa curta, o conto, a narrativa genealógica e retórica sáo géneros mais antigos que encontramos nas literaturas orais dos poyos angolanos. Originário da literatura ocidental dos séculos xviii e xix, durante a as- censáo da burguesia e da sociedade industrial, o romance é introduzido nas literaturas africanas com a implanta9áo do sistema colonial. Urna das ma- nifestaQóes mais evidentes da sua existéncia no espa~o angolano éa proli- fera9áo da literatura colonial no principio deste século. De acordo com os resultados de pesquisas que realizel no Arquivo do Tribunal da Comarca de Henguela, consultando processos de inventário e de abertura de heranga quando pretendia obter informayóes sobre as leituras e obras que circulavam cm Benguela na época em que José da Silva Mala Ferreira por passou, cheguei a conclusdes valiosas sob o ponto de vista sociológico. As dedicatórias inscritas nas epígrafes dos poemas cm Es- pontaneidades da Minha Alma daquele autor, permitem inferir, na pers- pectiva da intertextualidade exoliterária, a existéncia de um universo de lel- tores, entre naturais de Angola e Portugal, cuja competéncia é corroborada peía circuIa~áo de obras de autores europeus tais como Victor Hugo, Thiers, Alexandre Dumas, Walter Scott. Com efeito, os primeiros textos romanescos escritos por naturais de An- gola sáo da autoria de membros da gerayAo de 1890. Trata-se de Suenas de Africa e O Fi/ho Adideri,w, obras de Pedro Félix Machado publicadas iw segunda metade do século xix. Sáo igualmente conhecidas referéncias de 161

Transcript of Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por...

Page 1: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Revista de Filología RonÚnica, Anejos ISSN: 0212-999X2001,11:161-184 ISBN: 54-95215-18-7

Para urna brevehistóriadaflc!c7onarrativaangolananosúltimoscinquentaanos

Luis KANDJIMBO

Escritore crítico angolano

INTRODUCAO

Do pontode vistahistórico,o romanceé o géneroliteranomaisrecen-te em Angolaede um modogeralnas literaturas africanas.A poesia,ana-rrativacurta,o conto, a narrativagenealógicae retóricasáogénerosmaisantigosqueencontramosnasliteraturasoraisdos poyosangolanos.

Originárioda literaturaocidentaldosséculosxviii e xix, durantea as-censáodaburguesiae da sociedadeindustrial,o romanceé introduzidonasliteraturasafricanascomaimplanta9áodo sistemacolonial.Urnadasma-nifestaQóesmaisevidentesda suaexisténciano espa~oangolanoé a proli-fera9áoda literaturacolonial no principio desteséculo.

De acordocomos resultadosdepesquisasque realizelno Arquivo doTribunal da Comarcade Henguela,consultandoprocessosde inventárioede aberturade herangaquandopretendiaobter informayóessobreas leituraseobrasquecirculavamcm Benguelana épocaem queJoséda Silva MalaFerreirapor lápassou,chegueia conclusdesvaliosassob o pontode vistasociológico.As dedicatóriasinscritasnasepígrafesdos poemascm Es-pontaneidades da Minha Alma daqueleautor, permiteminferir, na pers-pectivada intertextualidadeexoliterária,aexisténciade um universode lel-tores,entrenaturaisde Angola e Portugal,cujacompeténciaé corroboradapeíacircuIa~áode obrasde autoreseuropeustais comoVictor Hugo,Thiers,AlexandreDumas,WalterScott.

Com efeito, osprimeirostextosromanescosescritospornaturaisde An-golasáodaautoriademembrosdagerayAode 1890.Trata-sedeSuenasdeAfrica e O Fi/hoAdideri,w, obrasde PedroFélix Machadopublicadasiwsegundametadedo séculoxix. Sáo igualmenteconhecidasreferénciasde

161

Page 2: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjimbo Para urna brev(’ história da tic<ño aw-,-atiia angalana.

textos narrativosescritospor JoaquimDias Cordeiro da Matta, emboranáotenhamchegadoao nossoconhecimentopor Mo terem sido publicadas,nomeadamenteO Loandenseda alta e habaesfera,O Doutor(iaudéncio(romance).Mas,aprova inequívocadacapacidadedesteautoré-nosdadapelo seu Reimsitório de CoisasAngolenses,umacompilayáodc textoscontendoinformayóesde variávelimportánciaparaa história social e polí-tica deAngola no séculoxix.

Á semelhanyado quese verificacm outrosespagosafricanosdecolo-nizayáoeuropeia,tambémcm Angola emergeum romancecolonial dependorexóticoe assentenamistificay~oracialista.Forma-seum conjuntodetextoscentralmentemotivadospor umaceda«missáocivilizadora»atri-buidaa personagensbrancas,sendoas personagensde rayanegrasecundá-riase vítimasna urdidurada história. É achamadaliteraturaultramarina,designayáoquenadécadade 60 é substituidapeíade literaturacolonial.EmAngola, eladesenvolve-sea partir dosanos20 desteséculo.comoscon-cursosde literaturacolonial portuguesa,promovidospcla AgénciaGeraldoUltramare de estudossobreAngola nurnaperspectivaetnográfica,cobrin-do as línguase o foiclore.

No parágrafoúnico do artigo 1.0 da Portarian.06.119que cm 1926 con-sagraa realizagáoregulardaquelesconcursosde literaturacolonial, lé-se:«serásemprepreferidaaliteraturana forma de romance,novela,narrativa,relato de aventuras,etc. que melhor fayaa propagandado império portu-guésde além-mar,emeihorcontribuapal-a despertar.sobretudona moci-dade,o gostopelascausascoloniais.»

Os primeiros prémiosde literaturacolonial foram atribuidosa doisautoresportugueses,nomeadamente,Gastáode SonsaDias com AP/caPortentosae Brito CamachocomPretose Broncos.Um outro autorde as-síduaparticipayáonos referidosconcursose cujasobrasepertenyapodemdar lugara fecundosdebatessobrea estéticada narrativaangolana,é Cas-tro Soromenho.Em 1939 concorrecomo livro decontosNhari. A opiniáoqueo júri consagracm actasustentaquea obrase ocupado «dramadegen-te negra(...) a paisageme a psicologiados seusprotagonistas[é] interes-sante,cheiade coloridoe de vida e,por vezes,a tesequeencerramenvolvemorale ensinanientosconstrutivos,peíaanáliserigorosae conselenciosaebem deduzidada psicologiados indígenase pelorico coloridoquesabeem-prestarao decorrerdaacyáo».Em 1941,CastroSorornenhoapresentaNo/-te de Angñstia,amelhorobrado XIV concursosegundoo júri.

A progressivaexpansáodo romance,enquantogénerodo discursocmprosa,deve-seao florescimentodejornaisnosfins do séculoxix e á insti-

Rt isla de FiIaIo~ia Ronshñí~, - A lejos2001.11: 161-1S4 162

Page 3: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Pat-a urna tic ve história dafic§a narrativa angolana..Luis Kané4irnbo

tucionalizay~odo ensinoliceal, no principio do séculoxx, cm cujo quadroscformamleitorese potenciaísescritores.Assim,alémdasobrasde PedroFélix MachadoeJoaquimDias Cordeiroda Matta,publicam-senosanos10e 20 importantesnarrativas,algumasdas quais de cunho autobiográficocomoé ¡-listória de Urna Traigdode Pedroda Paix~oFranco.

O períodoque se segueao fim do sécul.oxix e á proclamayáoda Re-públicaem Portugal,alémde ser marcadopelojornalismoapologéticodacausaafricana,é esmagador,caracterizando-sepelaatitudedasautoridadescolontaisque tomamas mais diversasprovidénciasparacercearas ¡iber-dadese reprimir aactividadejornalísticadosnaturaisquedefendiam,des-de o séculopassado,aautonomiae a independénciade Angola.

Até ádécadade 30, apenasum romancede António deAssisJúnior,OSevedoda Adopta,davasinaisde autonoiniade uma verdadeiraficgáo li-terária moderna,devendoserconsideradoo romaneefundador.A suapu-blicayáoem livro foi precedidade folhetinsnojornal A Vanguarda.Só em¡934 víría a sereditadocomachancelade A Lusitánia. PubticouaindaRe-lato dos Acontecinientosde Ndala Tando e Lucala, umanarrativae aomesmotempoum testemunhosobreactividadesde reivindicagáoreprimi-dascujosactoresconstituíamum grupoda elite localde queelepróprio fa-zia parte.António de AssisJúnioré naturalde Luandaondenasceuem 13de Margode 1887 e falecenem 1960,em Lisboa.

Nosfins da décadade 30, emergeo nomede ÓscarRibas,vm nutrona-rradorqueviria a confirmarosseusméritoscoma publicagándo romanceUanga em 1950. Segundoo ensaistaMário António, OscarRibas «surgecomoum cío necessárioentreessatradigáoemperigoe os ansejosdeafir-mayáoliterária dasgerayóesmaisnovasda suaterra».Masosseuscréditosfirmam-secomEcosda Minha Terra,publicadocm 1952.

Em 1947,naressacado terrívelperíodode repressáoexercidosobreaimprensae o associativismoautóctones,duranteo regimede Norton deMatos, destaca-seno meio jornalístico e literário luandenseo nomedeDomingosVan-Dúnem,que se estrelano Diório de Luandacom o contoA Praga. Os seuscompanheirosde geragáo,entreos quaisAntónio Ja-cinto, Viriato da Cruz eAgostinhoNeto, tém urna intervengáoreduzidaao mínimo no dominioda fiegAn. AgostinhoNeto publicacm 1952 o con-to Náuseae em 1979António Jacintotrazá lume o conto VaréHarto/o-rneu. Com estageragáo—a Geragáode 48—, a grandenarrativadeixadcsercultivada,paradar lugarápoesia.E umageragáode poetasquesc no-tabiliza e cm queavultamosgrandesnornesda poéticafundadoraango-lana.

163 Rc,.&ta de Filalogia Rorn6ni~a. Anejos2001.1]: 161-134

Page 4: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kaíídjirnho Pa.,-a 1 U>u fr-e í-c hisí á,-in da fi ,-~-ó¿> no ‘yaOid ang¿>Ia no - - -

Os narradoresreaparecernna cenaliterária nas décadasde 50 e 60comosnomesde ManuelSantosLima, Luandino Vieira eArnaldo Santos.A estesvém juntar-seoutrosautorescomoHenriqueAbranches,ManuelRui, Pepetelae UanhengaXitu.

No panoramaliterário angolano,a gerayáode 60, caracteriza-sepeíasuadimensáoéticaquese sedimentano comproniissopolítico con]a causado nacionalismo,emborasejacía aexercitara introduyáode rupturassig-nificativas no plano da linguagern.Por conseguinte,urna boa partedosseusintegrantesvivem profundasexperiénciasassociadasa tal compro-míssocomopresospolíticoscondenadosapesadaspenasde reclusáo.Sáoos casosAgostinhoNeto, AntónioJacinto,UanhengaXitu, LuandinoViei-ra, António Cardoso.Outrosengajam-seno Movimentode LibertayáoNa-cionaldentroe forado país.Outrosaindaactuamcm gruposdc intelectuaisde esquerdana Europae cm Africa.

EmA Cerayio da Utopia, Pepetelatragaurnaespéciedc biografiaro-manescada suagerayáocom incidénciassobreaquiloqueeramos ideaiseo desencantoquesuscitao comportamentodo grupo apósa independéí]cia,particularmentecoma instauragáoda II Repúblicae o pluralismopolítico.

A gerayáode 70 é um prolongamentonaturalda anterior,jáquenáohágrandessoluyóesde continuidade.Observa-scaindaentrealgunsdosseusmembrosurnaatitudeéticaque se sobrcpéeaos imperativosestético-lite-ráriosda suaépoca.Corncíachega-seá independénciae integram-nano-mescornoJofreRocha,JorgeMacedo,ArístidesVan-Dúncm.No planodaficgáo, BoaventuraCardosoé semdúvidao nomede referénciatendocmatengáoavitalidadeda produyáoglobal e as suaspreoc¡ípayóesde ordemestética.

Apesarda vitalidade destasexperiénciasdc heréisemártires,vividaspelasduasgerayécssucessívamenteanteriores.nilo nosparecequecíase asim escritasc tenhamconstituidoeni modelode superayáoparaa gerayáodc 80.

LuandinoVieira foi um dospoucosa manifestara frustrayáoe o estadode espirito que traduzembem essaideja. Na entrevistaqueconcedeuaMichel Laban,debitaabundanteretlexáoe críticasobrea situaqáodo es-critor cm Angola,cm queo imperativodo comprornissopolíticopor maisrelevantesubstituirao imperativoestritamenteliterário. No di-terde Luan-dino Vieira. «o escritorsc cortou do mundodo espirito (...) os escritoresmais velbos—salvoalgumasexcepgóese mesmoassíínpensoqueelesitbose sentemcompletamenterealizados—sáoinlelectuaisquevivan do capi-tal acumuladoduranteosanostodos(...) Muito emboraviajcm muito e par-

Revista cíe ti/a/sUn, R,nini a. A lejas20<1111: 161-lSd ¡64

Page 5: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kaudjiního Pca-a urna breve histó,-ia dafhcdo narrativa angolana.. -

ticipem cm muitoseventosinternacionais,essasviagenssAo, de um modogeral,acontecimentoscm queo factodc ser angolano,resistente,de ÁfricaAustral, do MPLA, contamuito maisdo queserescritor...».Comose de-preendedaspalavrasdedesencantode LuandinoVieira, podedizer-sequeno contextopós-independénciaou pós-colonial,aquelaatitudede com-promissodosescritoresperanteo político privavao fundamentoda activi-dadecriativaqueé radicalmentecrítica. Ao aceitaremo statusdc funcio-nários do Estado,os escritoresdas geragóesanteriores,acabavamporcomportar-secomohomcnsemprestadosá política. Masé essacumpiici-dadecomarazáodeEstadoqueestánaorigemno tipo deensinopraticadoparaa literatura.

Há, por essarazáo,umadescontinuidadeobservávelna escritadeficgáo e nospadróesestéticos,provocadapelaexcessivavalorizayáodete-masliterários marcadospeíaideologia política e suaintrodugáonos ma-nuaisescolares.Mastal constatayáosó faz sentidose aassociarmosaofac-to de, á datada independéncia,os liceuse os tréscentrosuniversitáriosdetodo o paísseremfrequentadospor um númerodejovensangolanos,atéalnuncavisto, Paraum paísquesala de um colonialismoatroz,essapopu-lagáode estudantesnAo deixavade representarumajustificadaexpectativa.A política educacionalportuguesaparaAngola colonial sofreraum pro-fundoabaloa partirde 1960.

Mas a filosofia quesubjaza tais modiflcayóesda políticacolonial as-sentaaindano assimdacionismo.Em 1970,Pinheiroda Silva, o secretárioprovincial da educagáode Angola, falavada «integragáodos portuguesesafricanosno modo de vida moral, espiritual e material dos portuguesescuropeus»

Segundoestatísticasda época,dc umataxa de matrícula inferior aMoyambiqueno inicio dasreformas,a populagáoescolarangolanado en-sino liceal, porexemplo,passariaa 10779,umacifra superiora dcMoyam-bique, que erade 19524. No ensinouniversitário,o efectivo angolano,com 1557 eraigualmentesuperioraode Mogambique,registando1145.

Ora, quandocm 1975 se realizavaa rupturano planodosfundamentosdo próprio Estado,lanyavam-se,nos anosimediatamentea seguirámdc-pendéncia,basesparaas necessáriasreformasdo sistemadc ensino.A ms-taurayáode um regimepolítico de partidoúnico eo seudesmantelamento

Ver Eduardo Sousa Ferreira, O Firn de ama Era - O colanialisrno portugués cm Áfrñ -a, Lis-boa, Sá da Costa. 1977, p. 99. Esta obra é urna interessante síntese da problemática do ens,no e in-formacáo no período co]onial.

165 Revisla de 1—ilologia Rornónha. Anejas200111: 161-154

Page 6: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kand¡imba Pa,ci urna breve hisunía da /u-yaa narrativa aiigalana - - -

nosfins da décadade 80, sugerema constatayáodc umareformaeducativainconclusa.Com efeito,passadosmaisde vinte de independéncia,chega-seáconclusáode náo ter sido aindarealizadaa reformaeducativa.A com-prová-loestñoosprodutosdessesistemade ensinopós-colonial,represen-tandoossuportesda referidadiscontinuidadecm relagñoit gerayáodc 70.Estamosa referir-nosit gerayáodc 80. Apesarde¡narcadaporexperiénciascatastróficascomo as convulsócspolíticasde 1974-75.a repressáodc27 deMaio de 1977 e a guerracivil, cíaafirma-selogo no principio da década,atravésdasmanifestayóesassociativase participayóesem concursosliterá-nos. É a vagadasBrigadasJovcnsde Literatura.As primeirasforrnam-senosprincipaiscentrosurbanos,nomeadamente,Luanda.Lubangoe l-luam-bo, coincidentementecidadescm quese concentramestabelecimentosdostrésníveisdeensino(liceal, pré-universitárioe universitário),aosquaissejuntarn os semináriose outros estabelecimentoseclesiásticos.Uma daspoucasrevela~5esregistadasno dominioda narrativa,é Joséde Ercitasquepublicacm 1979 Silénciocm Chamas.

Paraa ficyáo narrativaangolana,a geragáodc 80 tra-¿urna pléiadedenomes.Da interior destacam-seentreoutrosCikakataMbalundu.quecomo autordestaslinhas fonnavao núcleo dosfundadoresdaBrigadaJovemdeLiteraturada Huila; MotaYckcnha,um dospoucosclérigosda gerayáoquese dedicaao romance.Despontamigualmentealgunsvozesfemininascomo Ana Major e RosániaSilva. Da diásporapontificam SousaJambaeJoséEduardoAgualusa.

CRÓNICA E LITERATURA INFANTIL

O leitor estáperanteumasínteseque,privilegiandoa narrativadc fá-legoe o conto,no entantonáo perdevistaa crónicae as narrativasda lite-ratura infantil. A representara artesaniadestesdois génerosda prosadeficgáo, ternostrés fornes: RobertoCarvaiho, ErnestoLara Filbo e SflvioPeixoto.Os dois últimos cronistastiveramurna morteprematura.náo fa-zendojá partedo mundodosvivos. ErnestoLaraFlího é naverdadeum dosmaioresvultosda crónicacm Angola. Nasceucm 1932 e ínorreuatropela-do cm 1977. Silvio Peixotoeranaturaldc Malanjeondenasceucm 1962.Morreu cm 1995,numacidentede aviayáo.

No dominioda literaturainfantil destacam-seDaríode Melo, Octavia-no Correia,Maria EugéniaNeto, GabrielaAntunes,CelestinaFernandes,CremildaLima, MariaJoño,RosalinaPombale ZaidaDáskalos.

Ro,áta dc [do/o ~>k,Roa¿dnicc, Anejas20<11 - II: 161-154 ¡66

Page 7: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjiníbo Para urna breve história da> ~óona, rato/a angolana...

1. A NARRATIVA LITERÁRIA ANGOLANA E SUAIDENTIDADE. O CONCEITODE LITERATURA ANGOLANA

Dra, ao cuidarmosda narrativaliterária angolanaternoscornoobjectoum segmentoda arteverbalangotana.Donderessaltaurnaideiapreliminarquereputamosfundamental,segundoaqual a narrativaangolanaé anteriorao uso da língua portuguesa.O quedo ponto de vista estético,ajudaacompreendero facto de estarsubjacenteurnarealidadepré-existentequedevearticular-seanovaselaboragóesontológicaseepistemológicasquevi-sema autonomizayáodaliteraturaangolanae a fundamentayáosubstantivado adjectivoquequalifica a narrativae a ficyáo. Por outraspalavras,tere-mosderesponderit seguinteinterrogativa:comoe quandoé queanarrativae aficgño literária podemserconsideradasangolanas?

A respostaáquelaqucstáosugereo quepodeserdesignadopor identi-dadenarrativaque, traduzindoa ideia de algopermanente,sejanumapes-seaindividual, sejanumacomunidadehistórica,permite,no dizerde M. a.M. Ngal 2 consagrara expressñode urna~<coesáototalizadoraindispensávelaopoderdadistinyáo».E nestesentidoqueaplicadait históriadasnarrativasliterárias,a referidanogáo«conformao carácterdurávelde umapersona-gem(...) construindoo tipo de identidadedinámicaprópriada intriga quefaz a identidadeda personagem».Mas a identidadenarrativanáo sc cír-cunsereveexclusivamenteit personagern.

EmLfterawra Angolanae TextoLiterário, JorgeMacedodetectaqua-tro tipos dc discursosnarrativosapresentandoas seguintescaracterísticasconcorrentes:

— textologiaangolanizadana forma e naexpressáo(LuandinoVieira,JofreRocha,BoaventuraCardoso);

— angolanidadeno quadrodo uso vernáculoda língua portuguesa(ArnaldoSantos,António Cardoso);

— prosade veridicyño (UanhengaXitu, RaúlDavid,Pepetela);— texto de reduplica9áocultural ou texto dc motivagáohistóricae

etnográfica(ManuelPedroPacavira,¡-¡enriqueAbranchese Pepetela).

A perspectivadeJorgeMacedopermitesustentarqueas característicasdistintivas sáomúltiplas, pois it personagemjuntam-seelementoscomoalinguagemeoutrosrecursoscorrelatosdo texto narrativo.

Ver GeorgesNgal, Créatian u Ru¡uure en Litté,-atwe A/nc-ame, Paús,L’Harmattan, 1994, p. 76.

16? krvi,,ta de [-ilologia Rornónica - Anejos201)1,11: 161—154

Page 8: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjimbo Para ama breve história da jh~óo narrativa angalana..

Ora,seguindode pertoanoyáode identidadenarrativa,concluiremosquesóno quadrodo conceitode literaturaangolanase podecompreenderoalcanceda «coesáototalizadora».Semelbanteconceitohá-decomportaroextensionale o intensional.Oqueentenderentito porliteraturaangolana?

Seráliteraturaangolanaaqueleconjunto quecompreendeos textosorais,as versóesescritasdostextos oraiscm línguasnacionais,os textoses-critos cm línguasnacionais,línguapofluguesaou outraslínguaseuropeias,produzidospor autoresangolanoscomrecursoás técnicasda ficyáo narra-tiva, de outrosmodosda escritadesdequese verifiquenelesumadetermi-nadaintenyáoestética,críticaou histórico-literária,veiculandoelementosculturaisangolanos.

Na siladimensáoextensional,esteconceitocobreo seguinte:

• textosorais;• versóesescritasde textosorais;• textosescritoscm línguasangolanas,lingua portuguesaou outraseu-

ropeias.

Do ponto de vista intensionalcompreende:

• angolanidadeliterária;• expressáode elementosculturaisangolanos;• uti¡izayáodetécnicase modosda escritapoética,narrativaou outra;• intencionalidadeestética.

Do ponto de vista ontológico os autoressáoangolanosno sentidodequesáoobjectosesujeitosda experiénciaangolana.

2. A GERAQAO DE 1890: FEDROFÉLIX MACHADO, JOSÉDEFONTESPEREIRAE JOAQUIM DIAS CORDEIRO DA MATTA

Em virtude da ausénciaquaseabsolutadepesquisano dominioda his-toriografia literáriacm Angola,éaindabojebastanrcescassoo volurnedeínformayñessobrealgumasdasfiguras relevantesda literaturaangolana,particularmenteaquelasquemarcama segundametadedo séculoXIX. Porisso,náoabundarnreferénciasrespeitantesao autorde Sumasde Africa.Todavia,é sabidoquePedroFélix N’Iacliado traz a público o seuromancecm 1880 naspáginasda Gazetade Portugal. Do-te anosdepois,cm 1892

Revisto de Idología Rom6ni~ a. Anejas

2001.11: 161-184 ¡68

Page 9: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjimbo Para urna breve história daficcáo narrativa angolana..

publicaumasegundaediyáo,queé dadoit estampaem Lisboa,comportan-do dois volumes~.

Partindoda expendidanogáode narrativa,nito poderemosignorar amaisbrilhantedaspenasqueexercitamo discursocmprosano jomalismoangolanona primeirametadedo séculoxix.

Trata-sede JosédeFontesPereiraquenasceucm Luandano mésdeMaio dc 1823.Al fez osestudosprimários.Dotadode um grandesentidoautodidacta,realizonestudosde direito, tendochegadoa advogadoprovi-sionário,apósobtengáode correspondentehabilitayáo.

JoaquimDias CordeirodaMatta (1857-1894)é naturalde Icolo eBengoondenasceucm 25 de Dezembrode 1857 na povoayáode Cabiri.Possuindoapenasurnaformaqáoprimáriaelementar,¿um outro exempiode autodidactismoquefizerama históriado jornalismoeda investigayáoem Angola. Numanotanecrológicapublicadanojornal O ArautoAfrica-no, diz Mamedede Sant’AnaePalma:«Nito cursouuniversidade,nuncaestevecm colégionenhumdaEuropa,nemcm escolanenhumade Loandae é por ¡ssomesmoquetemjuz ~ it estimadosseuspatriciose o respei-lo dos homensilustrados,porque it forga de muita vontadetern queridohonraro seu paíslegandoit posteridadeo fruto da suadedicagito(...) ~

Partilbo a opiniño de Mário António segundoaqual Cordeiro da Mattapossuíana prosaum estilomaisvivo eágil do queo que se encontranapoesia.

3. OS NARRADORESDA GERA9AODE48:0 CASO DE

DOMINGOS VAN-DUNEM E UANHENGA XITU

DomingosVan-Dúnem

DomingosVan-Dúnemnasceucm 1925 na localidadede Mbumba,cm Caxito.Passouparteda suainfánciacm Luanda,ondefezos seusestu-dosprimários.Em 1945 descmpenhoufungñesdesecretáriode redaegitodoJornal O Faro/im, queera publicadona capital angolanadesde 1932.In-tensificou a suaactividadejomalísticacm Luanda,na segundametadeda

Cf. Manuel Ferreira eGeraldMoser,Rul’liag-a/ia cias Liíe,-aruras Africanas cié ExpressdoPortuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1983, p. 97.

Ver Mário António, Luanda - illía C,-iaula, Lisboa, Agéncia Geral do Ultramar, 1968,PP 73-74.

169 PriVan di Filología Rarn¿nicc,. Anejas2001.11: 161-154

Page 10: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kunc/jbnbo Pci-u 1/mci breve híszcw-w du/Yíg-ño narrativa ungo/una - - -

década40, tendo sido igualmentecolaboradorde jornais publicadoscmLourenyoMarques,actualMaputoeLisboa.

Da suadispersae váriacolaborayáoatítulo de ilustrayáoo seuprimeirocantoA Praga publicadono Diório deLuandacm Agostodc 1947 daisar-tigos inseridosno JornalAcyáo nomeadamenteBrevesconsideray3esa todade um grandeteníaeNoticia sobreopoetaRióNoronha,datadosde JunhoeSetembrodc 1947. Publicou Uní histózia Singular, Milonga, Dibundu eKuluka.Apesardepublicadasdepoisdc 1974,as obrasdesteautor,tal cornoacontececomade outrosescritores,carregammarcasda experiénciaindivi-dualda suageragáocm queavultacontextoda situayáocolonial.

Corn Urna História Singular,publicadocm 1975,inicia o tratamentodcum temaqueressurgecm narrativasposteriores.comalgurnasvariayóesdeintensidade.Estetexto breveparececonstituirurnaparódiado destinodasmuíhcresque, origináriasdasfranjasinferiores daescalasocial,entramcmamancebiacomhomensdetentaresdealgum estatutosocial, paracontoinarobstáculosda suacondiyáoeconómica.

Milonga é um livro que inclui tréscontoscujashistóriasdecorrendonoperíodocolonial se inscrevemno espayourbanode Luandae na regiño doKuanza-Nortc.Merece,no entanto,dcstaqueOf’rocesso,um contoquerepetea históriadcumacriaturaquevive as peripéciasde urnaindigénciaidílica.

O tecido novelescode J)ibundu comportaigualmenteuni feixe deacyóesquedescaínbamno dramade umamulher.Hébaé o nomeda sacri-ficadapersonagemcuja infelicidadepareceestarpredeterminadapor urnarelayáosexualepisódicacomurn administradorcolonial e quea expñeaoopróbio do seumeío.

Por outrolado,na obrade DomingosVan-Dúnemconstróieatribui áspersonagcnso usodeexpresséesidiomáticasmotivadaspeíaco-prescnyadalínguakimbundu,no espayoem queoseventosnarrativosse ¡nscrcvem.

Em síntese,a obrade DomingosVan-Dúnemproduzuín trayo de ori-gina¡idadecm razáoda suarecorrénciatemática:a mulher,a personagemfeminina e motivosassociadosaparecemcm representayóesrealistas,ac-tuandocm situayóesque Ihes conferemsentido,masdestituidastenden-cialmentede qualquerimagempatética.

UanlwngaXitu

A intcgrayñodcsteautorno grupo da gerayáode 48 é de cerio modoinusitada,na medidacm queelerevela-scparaaliteraturana décadadc 70.

Rcvi.oc, dc Filo/ogio Rornóí,ico. Anejos2001,11: 161-184 170

Page 11: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kanci¡imbo Para urna breve hisrória daJic=óona,-,-aííva angolana..

Ora,operandonóscom um conceitodc gerayáoliterária cm quesedá re-levánciait experiéncia,náohesitamoscm enquadrá-loal. E quea suana-rrativacarregaas vivénciasdc décadasanteriores,náopodendoa suaescritatraduzir facilmentea permeabilidaderelativamenteás motivagócsdiferen-cialistasdosnarradoresde 60 e 70.

UanhengaXitu, nomeprópriocm línguaKimbundudeAgostinhoAndréMendesde Carvaiho,nasceua 29 dc Agostodc 1924.Em 1959 foi presopeíapolíciapolítica portuguesa.PublicouMestreTamoda(1974),Bola ¿ornFe/-tigo (1974),Manana(1974),Vozesna Sanzala-Kahito(1976),Maka na San-za/a (1979),Os Sobreviventesda móquinacolonial depóem(1980),Discur-sosdo MestreTamoda(1984),0 Ministro (1989),CultosEspeciais(1997).

Do conjuntoda obradesteautor,a crítica e o público celebramcomfre-quénciaMestreTamodae Discursosdo Mares Tamoda.Tamoda,simbo-tizando,o mimetismocabotinoéurnapersonagcmtípica do mundoruralqueatravésda exibiyáodcmaneirismosexpóeit hilaridadeo usoda línguaportuguesaperanteurnaaudiénciacomajovense crianyas,transformando-se em modelono quediz respeitoao empregoe manipulayáodevocábulosportugueses.

Mas do meuponto de vista é a narrativaMananaquemereceurnaatcnyáoparticular.Trata-sede urnahistóriacujo interesseresidena incor-porayñode universosda radiyáo oral ena suaconccntrayáoit volta dotemada constituiyáoda familia e motivayéesda sin ruptura.Os sinais daoralidadeimprcgnamo texto comalgurnaintensidade.O quepodeserve-rificado peíautilizayáode determinadoscódigosda oralidade:o musical,ocinésico,o onomástico.

O códigomusical regeos trechoscantadosmaisou menoslongos. Ocódigoonomásticoregeosnomesde algumaspersonagens.Assim,o códi-go musical associa-scao código linguistico.

O funcionamentoe as regrasdo códigoonomásticoverificam-se,porexemplo,na decifrayitodo forne Manana.O sentidoeo procedimentodenomínayáoé referido pelo personagcm-narradornos seguintestermos:«Soubemaistardequeo nomedcssaManananño é de origcmportuguesa.É dcquimbundo.Significaninfa ou larvade abellias.Alimento dosjitliuxi,doscayadorese dc maispessoasquefazemvidapermanentenasmatas.»

O códigoonomásticoe as suasicgrasfuncionanigualmentecm relayáoagrandepartedaspersonagensde segundoplanoquetém nomescm kim-bundu.Do mesmomodoos topónimos.No elencodessaspersonagensdes-tacam-scas seguintes:avéMbcngu, velbaKazola,Kalunga,velbaKifila,avóMatadi,KundaNzenze.

171 Reviste cíe Filología Rc,rnónicc,. Anejos2001,11: 161-154

Page 12: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kand¡imbo Paja urna breve historia ¿la fu<-ao na,¡ativ-a angolana...

A oralidadehá-deserum sistemadcpressupostose determinismosque,dadaa suaomniprescnyavirtual cm manifestagáocsverbaisrepresentaumamemóriacm quecoexistemelementosdc naturezahistóricae outrosde na-turezamcta-histórica.Nestesúltimos avultamdeterminadosaspectosrele-vantesda ontologiaedo imaginário.O temapermiteidentificar a interacyáomantidacomtextosverbaisnáoescritosincorporadosna cultutaangolana.

Na qualidadede escritorcom um envolvimentodirectona actividadepolítica,pois é deputadoit AssembleiaNacional,na suabibliografiadesta-camO Ministro e CultosEspeciaisduasobrasconsagradasit críticasocial,aoculto da personalidadee a outroscomportamentosdospolíticos.

4. 0 EXERCÍCIODIFERENCIALISTA DA LINGUAGEM, A SÁTIRA,A IRONíA E A VERDADE HISTÓRICA NA GERA~AO DE 60

Em fins da décadade 50 e cm todaa décadade 60 a prosade ficyñoconhecenovos impulsoscornaafirmayáode umagcrayáoconstituidaporescritoresquese nutriam de ecosdasvanguardasliteráriaseuropeiase la-tino-americanas.A crónica,o contoe o romancesño génerosnarrativosqueencontramcultoresinventivos.Revelam-senomescomoErnestoLara Fil-ho cujascrónicasRodaGigantesáopublicadasno jornal de Angola,Hen-riqueGuerra(A bola e a panelade comida),Mário Guerra(A cubatasoli-tóría), Mário António (Farra no ¡ini de semana,Gentepara romance,Crónica da cidadeestí-anha)e António Cardoso.

A publicayáodasobrasdestesautoresdeve-seao esforgode pequenaseditorascomoas Colec{ñoImbondeirodo Lubango,animadapor Garibal-dino deAndradee LeonelCosme,aCasadosEstudantesdo ImpériocomacolecqáoAutoresUltramarinoscm Lisboae os CadernosCapricó-niodeOrlando dc Albuquerqueno Lobito.

E comagerayáode ficcionistasde 60 que se registamosmaisprofun-dose intencionaisexercíciosdiferencialistasda linguagemnarrativa,alémda introduyáodc um tipo de personagensqueassinalamurnarupturacomaspropostasde AssisJúniore OscarRibas.

Manueldos SantosLima

Manuel dosSantosLima, nasceucm 1935 na provinciado Bié. PublicaAs Sementesda Liherdade (1965), As Lig¡-imas ao Vento (1976) e Os

Rrsista ile Filología Rim,cjni,a. Anejos2001,11: 161—184 172

Page 13: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kand¡¡mho Para urna breve história dajh-<-áo nairutiva unge/ana...

Anóese os Mendigos(1984). Com As Lógrimasao Vento,Manuel dosSantosLima é o prirneiroescritora construirurnatrama quegravitacm re-dor da guerracolonial. A históriado último romancedecorrecm Áfricanum paíschamadoCostada Pratacujopírsidenteé Davi Bemba.E umavi-rulentasátirados regimesafricanosde partidoúnico e do culto da perso-nalidadequereduzcmos homcnse a suadignidadehumanaamerosser-ventuáriosde apetitesda libido dominandi dc ditadorese elitesinescrupulosasque aindaabundamem África. Dentreos trés romancesmerecedestaqueAs Lógrimase o Vento,se realizarmosumaleitura quepri-vilegiea artesaniana construyáoda história,

Líjandino Vieira

LuandinoVieira nasceucm Portugalno anode 1935 numalocalidadechamadaLagoado Furadouro.Veio paraAngola aostrésanosdc idadenacompanhiade seuspaisquecramcolonosportugueses.Foi presocm 1959.Voltou a serpresocm 1961 e condenadoa 14 anosdc reclusáo.

Aqucla intencionalidadede produzirurnalinguagcrndistintaviria serpostait provacm 1965,quandoa SociedadePortuguesade Escritoresatri-buíuo Prérniode Novelísticaao livro Luuandade Luajidino Vieira quejápublicaraACidadeea Infóncia (1957). JoñoGasparSimóes,um doscríti-cos portuguesesmais categorizadose que integravao júri, recusouo seuvoto. E explicaassim a suaposigáo:«(...) urnacoisaé ser-scautor portu-gués,outraser-seautorangolano,emborade expressáoportuguesa(...), o fa-lar dospersonagense o falar regional,o falar de um poyo que,comoo bra-sileiro, maistardeou maiscedo,independentemente,atingirádifercnciayáo(...) ~.ss Todaa obrade LuandinoVieira posterioraLuuandaestáprofunda-mentemarcadapor essainquictayiio. Ao nivel da linguagemLuandinoVieira combinaaestratégiade invenqáoda língua do narradorqueé dife-renteda das pcrsonagens.Isto acontecepelo facto de o autorpretendertranspordeliberadamenteparao texto umaexperiéncialinguísticaobserva-da,masnáovivida. E por issoque,no nossoentendergrandepartedostex-tos posterioresit A Vida Verdadeirade DomingosXavier, scm prejuizodasfinalidadesestéticasprosseguidas,náositofacilmentelegíveisparao ho-mcm comumdo mejo luandense,em queésupostodecorrcremas acyócs.

ioAo Gaspar Simóes, Crítica IV (1942-1979), Lisboa, Imprensa Nacional/Casa da Moeda,1981.

173 Revisto di Filología Románica. Anejos2001.11:161-184

Page 14: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjimba Pat-a urna hiere hirió¡ja da ¡¡u-aa natí-atila angola¡ía. - -

Arnaldo Santos

É naturalde Luandaondenasceucm 14 de Margo dc 1935. Passouainfánciae a adolescénciano bairro do Kinaxixi, topónimoqueocupaum lu-gar privilegiado na suaprodugáonarrativa.Aos vinte anosde idadepubli-coua suaprimeiracolectáncade contosQuinaxixi. Com o livro decrónicasTempodo Munhungo, arrebatouem 1968 o PrémioMota Veiga, um dospoucosatribuidoscm Luanda,na décadadc 60 e 70.

Arnaldo Santossitua-seligeiramentenum outro nivel detratamentodalinguagem.E um preciosistanadepurayñodo textonarrativocurto ede to-dosos seusrecursose elementos.Dalquea suaficyáo narrativanñotenhaconhecidoaté agoravariagéesparaalémdo conto(Kiiíaxixi), crónica<Tení-po do Munhungo) e novela(A Bonecade Quilengues).

No di-terde JorgeMacedo,eleusa~<lexias-kimbundono interiorde uniportuguésde luñdia correc~áo».O seunorneéurnareferénciaincontorná-vel, associadaitquelcminimalismonarrativoqueencontraremosigualmen-te cm BoaventuraCardoso.E um dos poucosnarradoresqueevidencianielevadosentidode rigor mi selecgáodos tipos dc peisonageus.Na suaobrainicial, reconhecemostragoscaractcriaisde uma perfeitaarticulagáodapsicologiadaspersonagcnsa csseespagourbanode Luandaqueobedeceitlógicaebistóriapredominantementeautóctones.Tal efeitoé alcangado,porexemplono contoA mullier do padeiro,atravésde urnaconflituosacoabi-tayáoentrepersonagensportuguesase luandenses.Emborao seuespagofí-sicoe socialde eleiyáosejao Kinaxixi, cm Luanda,cm A Bonet-ade Qn/-lengua deslocaessamrnúciaparaBenguela,realizandopeíaprimeiravez aintroduyiio de «lexias-umbunduo.

Pepeleta e Henrique Abranches

Pepetelae HenriqueAbranchesrepresentamurna tendénciada ficgáonarrativaangolana,inauguradacm 1974com o romanceNjingaMbandi deManuel PedroPacavira,cm que sc notamtentativasde aproveitamentodos materiaisfornecidospeía1-listória. EniborapartilL¡cni estesaspectosescjamautorescomumaprodugáoabundante,elesadoptamestratégiasdi-ferentesdo aproveitamentodaquelesmatcriais.

HenriqueAbranchesnasccucm Lisboacm 1932. Foi paraAngola cm1947 dc queadoptariaanacionalidade.Com Pepetelafundoucm Argel oCentrodcEstudosAngolanosondetrabalharanina i-edacgáode um manual

Rí-vislo de Filología Ronícb,icíí. Anejos2001.11:161—154 174

Page 15: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Para urna breve histótia da flccó.a narrativa angalana. -.Luis Kant] limbo

de História deAngola. PublicouAKonkavade Feti, O CId deNovembrino,Kissokode Guerra, Titánia, Misericórdiapara o Reinodo Congo!e Sen-horesdo Areal.

Trés romancesdesteautor rnerecemanossaatenyáo:A KonkavadeFet/, O Cló deNo-vembrinoe Misericórdiapara o Reinodo Congo!

No primeirosocorre-scde matcriaisdastradiyñcsorais dospoyosdosudoestede Angola. O segundonanaahistóriadc um naufrágio,gravitan-do it volta do velho temada ilha. Os sobreviventesque sito colonosafrica-noscujo destinoerao Brasil fundamurnanovacomunidadeno pedayodcterraparaondesito lanqadospelasondasdo Atlántico. Numapersistenteluta contraas adversidadesda naturezaconstroemurna sociedadecujasbasessito constituidaspeíaculturadasdiversas¿tuiasdo paísde origcm.Instituern regrase normasapropriadasit suasituayáocomo,porexemplo,aquediz respeitoit regulagitodasrelagóesentreos liomense as mulheres,de-vido it escassedestasúltimas.

Masse tivermoscm atenyáoa temáticahistórica,é semdúvidao ter-ceiro quemelhorsituao autorno panoramaficyito narrativaangolana.

HenriqueAbranchesvai it História de Angolae submetea um trata-mentoficcional o chamadomovimentomessiánicodosantoninosqueno sé-culo xvii é lideradopor CimpaVita. O cenário é o reinodo Congo,maisprecisamentena regiñodo Soyo.

Pepetelaé naturalde Benguelaondenasceucm 1941.Grandepartedasuaproduyáoé publicadaapósa independéncia,como dc restose passacom urnaboapartedos ficcionistasangolanos.Apesarde escritasnasdé-cadasanteriores,as obrassito publicadasna décadadc 70 e 80. A temati-zayáoda história imediata,socialou política,e antigaconstituiatramadequasetodosos seusromancescomo Mayombe,A Geragóoda Utopia,Yaka,Lueji, A GloriosaFamfi/a.

Se os dois primeiros romancesgravitamit volta da história contem-poránea,o mesmonito acontececomos trésrestantes,atravésdosquaisPc-petelapretendeconstruirum verdadeiroromancehistórico.Masa leitura deYaka póc-nosde sobreavisorelativamenteao tipo de romancehistóricoqueesteautorcolocano seuhorizonteestético.

E no cru-tamentoquea onomásticae aspersonagensestabelecemcoma História ondevamosencontrara falénciado laborficcional dePepetela.Em Yaka,um romancecm quesecontaasagadosSemedo,urnafamilia debrancose antigoscolonos,esteautorsubmetepcrsonagensda História dcAngola comoMutu-ya-Kevelaa urn tratamentosemánticoquesc aproximada literaturacolonial, numatramaquese tradu-tcm inadequadasuperayáo

175 Revi,íti, de Fihíh«ia Roniáí¡ií a. Anejos2110111: 161-1S4

Page 16: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kundjimba Paja u/aa b,eve historia dci t¡cc,áo lun-jata angalana. -.

dasmetáforascoloniais.Mutu-ya-Kevcla.queé um heról daresisténciaaocolonialismo, nito podeser reduzido a «monstrode dentescompridos>~funcionandocomo um horror ~s criangas.A falénciaatinge o apogeu,quandoa incorpora~ñode pcrsonagens-referenciaisno romancedeixamde satisfaeraquclefim, atravésdo qualse devereabilitaros heróispassa-do, da grandenarrativaangolanaqueé a históriade Angola.

Manuel Rui Monteiro

ManuelRui Monteironasceuna cidadedo Huambocm 1941.PublicouO RegressoAdiado, MemóriadeMar, Sim,Camarada!.Quenime Dera serOnda.Crónica de um Mu//mho,1 Morto & Os l~i ros, RioSeco,Da Palmada Máo.

A suaprosaficyito estáprofundamentemarcadapor preocupayóeses-téticasde um realismosocialquecelebrao homemcomum.Quandofoca-liza categoriasde personagensdaelassemédia,ti-lo paraproduzircarica-turas de comportamentosperversos.E aqui queeste autor exibe a suamestriano tratamentoda sátirae da ironia. Sito recursosde grandeeficáciano plano semantico-pragmático.O quepodeserprovadopelo númerodcediyÉ5ese tiragensdc QuemmeDejaser Onda, título quesuscitougrandeempatiado público Icitor. É ahistóriade um porcoquehabitaum aparta-mentona companhiadeumafamilia cujo chefeé Faustino.Dabilaridadeaopatético,a prcsenyado animal vai provocandoumasériede transtornosaosmoradoresdo prédio,muitosdos quaispautaina suacondutapor regrasevaloresdo mundorural, comoé esteo da dornesticayitode animaisno es-payoresidencialparaasatisfayitodasnecessídadesdc consumodc carne.Eumasátiramordaza respeitode fenómenosdc mobilidadesocial dedeter-minadascategorias,do mimetismodos novosricos, e do populismopolí-tico.

O realismosocial,a sátirae a ironia logramníveisde claborayitoesté-tica cm Rioseco,um romancecuja história decorrenumaillia adjacenteápartecontinentalde Luanda.Uín casalde refugiadosdo sul e lestede An-gola,cm queo maridoe a mulberpeítencema etniasdiferentes,vai acoitar-sc no mundo insulardepescadorespertencentesa umaoutraetniado norte.Teccmprofundasrelayñessociaisdc solidariedade,e apesardassuasorí-gensétnicas,acabamtodoscíes,por construiruni mundodiferentecm queprocurainbanir a violénciaquedilacerao continente.No planoda lingua-gem,Manuel Rui Monteiroexperimentao recursoit diglossiaimprópria,

Revisto cíe liIolí« lo Ronlátí Oc,. Anejos2001. [1: 161—154 76

Page 17: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjirnbo Para urna breve história dafic{do narrativa angolana..

atravésdo qual osdiscursosdaspersonagenssito impregnadosde estruturasfrásicasesemánticasquevazamdaslínguasautóctonesedc urnapsicologiaequivalente.Nito sendoaindadc desprezara semánticado antropónimodeumapersonagemfeminina queé Noito. Aqui vemos ManuelRui langarmito da memóriaquedebitamateriaisparaa ficyáo, pois trata-sede urnapersonagemqueviveu no Huambo,afamadapor serumagrandequimban-da, ou seja, terapeutatradicional a quemcramreconhecidospoderesdomundo intangível.E no romanceNoito é, no essencial,umamulhercapazdedecifraros segredosda naturezae prcssagiarinfortónios.

5. BOA VENTURA CARDOSO:A VOZ REPRESENTATIVADAGERA9AO DE 70

O escritor,quenasceucm Luandacm 26 dc Julhodc 1944,passoupar-te da suainfánciana regiñode Malanji. Pezosestudosprimários esecun-dárioscm Luanda.É licenciadocm CiénciasSociais.

O inicio da suacarreiraliteráriadatadc 1967,comapublicayáode vá-ríos contosepoemasnosjornaisluandenses.

A suaobraresume-secm tréslivros de contosedois romances,nomea-darnente:O/zangadia Muenhu,O Fogo da Ea/a,A Mortedo Ve/hoKipa-ca~aeO Sinodo Fogo,Ma/o,Més deMaria. Com efeito, éno planoda Un-guagemqueBoaventuraCardosoalcanyaresultadosqueo inscrevempordireito próprio na galeriadosautoresmaisrepresentativosda suagcrayáoeda literatura angolana.Os registosde discursosqueatravessanitodaessaproduyito textual,numadeliberadaadequayitodo espagofísico e social ámodulayito fónico-linguisticadaspcrsonagcns,comportamalEm do laborestilístico,umaestruturade superficiecomconstruyócssintácticasapon-tando paraa existénciade sujeitostextuais responsáveispor tais acyóesenunciativas,ondeo autorintroduzestratégiasdiscursivasda oralidade.Aisubjacrnigualmenteestilosdecomportamentoe umafiguragito léxico-gra-maticalqueos nomeshipocorísticosdaspersonageuscorroboram.

Esscaparenteminimalismotextualqueaelipseinstitui, escondepara-doxalmenteum esforyocm adensaroscontornosnito-verbaise asdiversascircunstánciasenvolventes,isto é, os chamadosnito-ditos culturais. Doponto devistasociológico,a estratégiasdc BoaventuraCardoso,á semel-hanyadc LuandinoVieira, inspirarigorosamenteá denúnciade clivagensdeordcrndiastráticano funcionamentoda línguaportuguesacm Angola. A di-glossiaimpróriaé paraesteautorum importanteinstrumento.De tal modo

177 R evi,vtaje 1-i/o/ogia R,,n,c,nocr Anejos2001.11:161-184

Page 18: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kand¡imba Para ama brete historia cha /u<.-óa jlaj-/-ativa angúlana. - -

quetodosos textosparecemlevantaa problemáticada língualiterária,re-lativizando-ano contextoangolano;dondeaacyitodesviacionistado autortraduz-secm cxplorayitodasvirtualidadesdo sistemalinguístico.Os resul-tadosquealcanyano planoformal, deixamdc sersuficientesparaexplicartais níveisdc rcalizayito,exigindo-seaindaa convocayitodo projectoesté-tico subjaccnte.Mas sernelbanteconstatayitosóé possível se se tiver cmatenyitoa situayitode discursocm queos textossc engendram.

Os dois últimos romancesaprescntamum coerentefio condutordoponto dc vistada concatenayAodashistóriasrespectivas.Se O Signo doFogoé um romancequese inscrcveno contextotemporalanterior it mdc-pendéncia,on seja,no períodocolonial, já cm Ma/o,Més deMar/a ternosum típico romancepós-colonialou do pós-independéncia,cm quesc in-corporarnelementosdo imaginárioreligiosoperanteas crisesquefracturamo tecidosocialno centrodo qual estáa personagcmchamadaJoito Segunda.O imaginárioreligiosoe sagradoé vazadoatravésdasrelayóesqueJoñoSe-gundaestabelececom um animal doméstico,a cabraTulumba,cm cujocomportamentose podcminterpretarossínaispremonitórioserepiobatótiosdasperipéciasdo protagonista.

6. 05 NARRADORESDA GERACAO DE 80

Paraa ficy/io narrativa,agerayáodc80 traz váriosnomescm quese in-clucm escritoresquecmcrgcmna diáspora.A produyáoglobal destage-rayáocomportacercadc cinquentatítulos. Do interior destacam-scentreou-tros, CikakataMbalundu,um dos fundadoresda Brigada da Huila: MotaYckenha,um dospoucosclérigosda gerayáoquese dedicamao romance,trazendoinovayóesno capítuloda linguagem,ao ladode Jacintode Lemos;JoñoMelo cujo livro decontosintroduzum novosegmentotemático.ao darum tratarnentoprivilegiado ao tema do amor e do erotismo.O mesmoacontececomRosáriaSilva, um dospoucosnomesfemininosquesc reve-1am nestegénerocm prosa.Da diásporasito dignos de referénciaSousaJambae JoséEduardoAgualusa.

CikakataMbalundu é naturaldo Mungo, provincia do Huamboondenasceucm 1955.Pci oscstudosna capitalda provincia. Fixou-sena cidadedo Lubangocm fins da décadadc 70. Al iniciou osestudosuniversitárioscm filologia germánica,vindo alicenciar-seeín psicologiapeloISCED,dc-signayito dadaposteriormentea antigaPaculdadedc Letras,no ámbitodareformado ensinosuperior.Resideactualmentecm Portugalondeprepara

Reí/oc, cii /-ilolc;gía RotocinO a. Anejas21.101. II: IllíI—184 178

Page 19: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kundjimbo Para urna breve Iíisíória da JIQáa narjativa angoluna. --

a suatesede doutoramentona Universidadedo Minho. Publicoudois ro-manees:Cipembúwa(1986) e O Feit4:odeRamadeAbóho/-a (1996).Comambasas obraso autorparticipouno concursodo PrémioSonangoldc Li-teratura,tendoaprimeirasido distinguidacomurnamenyáohonrosae ase-gundamerecidoo troféu do anode 1991.

Jacintodc Lernosnasceucm Icolo-e-Bengoa 2 dc Janeirodc 196l. É

técnicomédio de bioquímica.Publicou Undengue(1989) quefoi rnenyáohonrosado ConcursoSonangoldc Literaturacm 1986 e O PanoPreto daVeihaMabunda(1997).

JoñoMelo ¿naturalde Luanda,ondenasceucm 1955. FezestudosdcDircito cm Coimbra.Licenciou-sccm comunicaqitosocial peíaUniversí-dadeFederalFluminensedo Rio de Janeiro,tendoobtido o mestradoemcomunicayitoe cultura. Foi SecretárioGeral da Uniño dosEscritoresAn-golanos.Actualmenteé deputadoá AsscmbleiaNacional. Pubticouurnaúnicaobradc ficyito narrativa,Jmita~áode Sartre & Simonede Beauvoir(1998).

JoséEduardoAgualusanasceucm Deembrodc 1960,na cidadedoHuambo.Residecm Lisboa. É jornalistado Públicoe da RDP-África.Pu-blicou A Conjura (1989)quemercceuo PrémioSonangoldeLiteratura,D.Nico/ate Água-Rosadae Outras Estórias Verdadeirase Inverosimeis(1990), A Fe/ra dosAssombrados(1992), Estayño das Chuvas (1996),NayáoCrioula (1997).

MotaYekenhanasceuno Cipeio, provinciado Huambo,cm Fevereirodc 1962.Al viveua infánciaejuventude.Frequentouaescolaprimárianamíssaocatólica local. Formou-secm filosofia e teologia no SeminárioMaior do Huambo. Tem um romancepublicadocm 1992, sob o tituloKambonha,comachancelada Europrcss.

RoderickNehonenasceucm Luandaa 26 dc Maryo dc 1965.Fez oses-tudossecundáriose universitárioscm Cuba.Licencíou-sccm Direito peíaUniversidadeCentraldc Las Villas. E um dos autoresquemais recente-mentese revclaramno plano da ficyito narrativa.PublicouEstóriasDis-persasde unzReino (1996)e OAnodo Cao (1998). Ambasas obrasforamagraciadascom o PrémioSonangoldc Literatura.

RosáriaSilvaénaturaldo Kwana Norte,ondenasccucm4 dc Abril de1959. Al realizonos estudosprimáriose secundários.E formadacm Cién-ciasda Educayito,na especialidadedc linguisticaportuguesa,peloInstitutoSuperiorda UniversidadeAgostinhoNeto. PublicouTotonya(1998),umanarrativaquemcreccumcnyito honrosado PrémioLiterário António Ja-cinto.

179 Reí/vio de Fi/o/s.s5¿a Rasnánicct Anejos

2001. II: 161-154

Page 20: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luís Kand¡imha Para u ma fn-eva ¡íistóí-ia ¿la /uÁa naj,ativ¿i angalajia. -.

SousaJambanasceunavila do Dondi, provinciado Huambo,cm 1966.Passoua infáncíanacapitalda provincia. Em 1976 emigraparaa Zambia.cm consequénciada guerra.Fezosestudoscm Língua inglesa,e comcíasciniciou na actividadeliterária. Em J986foi paraLondrescom o objectivode estudarjornalismo.Trabalhouparao ornal lite SpectatorondeIhe foiatribuidoo prémio ShivaNaipul. Resideactualmentecm Londres.Publicoudois romances:Patriotas (1991) e ConfYssñoTropical.

Nas obrasdosautoresqueconstituemo elencodos maisrepresentativosda geray&ode SO,observa-sea predorninánciadequatro temasprincipais:aguerrae seu impactona psicologiacolectiva pós-colonial(Cipembúwa,Patí-/otas);o sagradona vida quotidiana(O Feiti~-o deRamadeAbóhoja, OPanoPreto da VeihaAlabando,Totonya); o amore o erotismo(Imitayiode Sartre & Simonede Beauvoir, Totonva);a ironíasobredegradayitoso-cial e a precariedadeda existénciahumana(Kmnnbonha,O A120 do Cño).

No plano daestéticanarrativa,verifica-seurnadiversidadede recursos,destacando-sea linguagcm,cm que se notam,além de ocorréncíase sí-tuayócsde diglossiaimprópria. a estruturanarrativa,os diálogos,a cons-truyito de personagcns,suatipologia e tratamentocm variadoscontextos.quevito desdeo urbanoao rural, com aarticulayáode elementosmetafísi-cosda civilizagito bantudospoyosde Angola. Em tudo isto os autorespro-curamlevarao máximoa rentabilizayitodassuasexperiéncias.Taisaspec-tosevidcnciamjá sinais de urnai-uptura.relativamenteá ficyño dasdécadasdc60 e 70. apesarde os seusindiciosnito seremaindamuito abundantes.

Urnaperversatematizayáoda história no quadroda literaturaangolana,regista-senestageragito.E o casode JoséEduardoAgualusaquetendoini-ciado a suaescritanarrativacorn tratamentode um temahistórico, repre-sentao modocornoescritorescontemporáneospodcrnefectivamentepro-duzir textos típicosda literaturacolonial. E quenumaboaparte,paranitodier cm todosos livros subsequentesdemonstraa suapredilecyitopelacha-madaestéticalusotropicalistae críoula. teorícamenteelaboradaspelo so-ciólogo brasileiroGilberto Freyree, no contextoangolano,pelo ensaístaMário António coma chamadateoriadacrioulidade,queé umaversito dolusotropicalismo.Atravésdc tais elucubrayóes.determinadoscríticose tic-cionistaspretendcm.coni variadoarsenalde saudosismo,aluséese simbo-lismos,reavivarum mundoafricanovisto soba battíladaculturae ideaisdcPortugalnostrópicos.Bastalcr NayáoCrioula de JoséEduardoAgualusa.

Nito é especiosaa afirmayáo segundoa qual dcspontamna gera~óodas inceitezas.a gerayáode 80, valoresqueaduzemníveisde inovayito a tercm conta.O espayonito permitequesobrecíanos detenhamos.Masfica a

Revista dr lí/ología Rorneinlí o A nejas2<101.11:161-184 180

Page 21: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kandjimbo Para urna breve história daj¡c-~-úa narrativa angalana..

lista dc algunsautorese respectivasobras.Alberto OliveiraPinto,Mazango(1998); AnaMajor, EstrelaLundu (1998),0 Rival (1998);António Fonse-caCrónicasde nmn rempode siléncio (1988); CarlosFerreira,Sobara Sa/-Crónicas de dioscinzentos(1985); CarmoNeto, A Foija (1985),Mm Réude colarinho bronco (1986); EduardoPimenta,Dipanda (1985); IsaquielCori, Sacudidospelo Veneo(1997);JoñoMiranda,Nambuongongo(1998);Joito Portelinha,Crónicasde risos e lagrimas (1997);JorgeNtyamba,Cm-quentae seisdiosde terror e morte(1995); LuísRosaLopes,A gota d’água(1985); Manuel da Costa,O ferx-or da kiando (1997); Miguel Júnior, Abessongana k/kinhasda Fonseca(1994); Nda Lussolo,0 ¡¡0111cm dassere/as(1996),PuÑo,o Ngombo,Deusdo verdade(1997); Silvio Peixoto,Cronwaslndkyestas(1985), 0 abro~-oda guilhotina (1990); Tiago de Buca, Esque-brosde timopoMo (1998);TimóteoUlika, A roía de Cinganda(1990).

ESBOCOPARA UMA BIBLIOGRAFIA DA FICCAOLITERÁRIAANGOLANA (PORORDEM ALFABETICA)

1. Afonso Milando, RecadoparaDeolindo, 19732. AgostinhoNeto, A Náusea,19523. Alfredo Troni,NgaMutú¡-i(¡88Sf, 19734. António AssisJúnior, O Segredodo Morta, 19365. António Cardoso,A Casode Aldezinha(Cinco Estóriasincom-

pletosde muflieres),19856. António Cardoso,A Fortuna (NoveladeAmor), 19857. António Cardoso,Boira eMuseques8. António de Assis Júnior, Os Relatosdos Acontecimentosde

Dala Tondoe Lucola9. António de AssisJúnior, O Segredoda Morta. 1936

10. António Jacinto,Em Kiluanji do GolungoII. António Jacinto,Fábulasde Sanji, 198812. António Jacinto,Prometeu,198713. António Jacinto,VóvóBartolomea,198914. Aristides Van-Dúnem,A última Narrativa de Vavó1</a/a, 197315. AristidesVan—Dúnem,EstójiasAnt/gas16. AristidesVan-Dúncm,Resignoyño, 197417. Arlindo Barbeitos,O rio-Estórias deRegresso,198818. Arnaldo Santos,A Bonecade Quilengues,1991¡9. Arnaldo Santos,Cestode Katondu,1987

Igl Re’ iseo cJ,•- Filología Romcin ¡ca. Aurjos2001,1]: 161-134

Page 22: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kand¡imba Para uma breve Instélía da/u yac narrativa anga/ana. - -

20. Arnaldo Santos,Kina.vivi, 196521. Arnaldo Santos,NoMbanzado Mijanda, 198422. Arnaldo Santos,Prosas, 197723. Arnaldo Santos.TempodeMan/iongo, 196824. BoaventuraCardoso,A Mora’ do Velbo Kipacaya, 1 98725. BoaventuraCardoso.Dizangadio Muenho,197726. BoaventuraCardoso,Albio, lIlés dc Maria, 199727. BoaventuraCardoso,O Togoda Falo, 197828. BoaventuraCardoso,O Signodo Fogo, 199229. CastroSoromenho,Calenga, 194530. CastroSorornenho,Chago, 197031. CastroSoromenho.Hiscóríasdo Teira negra, 196032. CastroSoromenho,HomensSrm Camínho, ¡94233. CastroSoromenho,Nhari-o dronio de gentenegra, 193934. CastroSoromenho,Nohede Atígústio,193935. CastroSoromenho.Rajadase OotrasHistórias, 194336. CastroSoroinenho,feíwa Morta, 1 94937. CastroSoromenho,Viragein, 195738. CostaAndrade,Escóriasde Contratados39. CostaAndrade,LenhaSeca(Versaesde con/osorois cm Un,-

banda)40. David Mestre,O Relógiode Kafócó/o, 198741. DomingosVan-Dúnem,Unía Histójia Singular,197542. DomingosVan-Dúnem,Milonga, ¡98543. DomingosVan-Dúncrn.Ka/uÑa, ¡98844. DomingosVan-Ddnem,Dibundo, 198845. ErnestoLara Fimo,Crónicasda RodoGigante,199046. FernandoFonsecaSantos,A Letída dos Homeusdo Venio-Hoína

HondaEÑwanime,19974’7. FernandoFonsecaSantos,Os Caminhosdo Terra, 199748. Fragatade Morais,A Seiva,199549. Fragatadc Morais, Como¡am osVe/hasSaberDisso?, 198050. Fragatade Morais,Intuna,Minha Terra, 199751. GeraldoBcssaVictor, Sanzalc,sembotuque,196752. HenriqueAbranches.A Konk-havade Feti, 198553. HcnriqucAbranches,Diálogo, 196354. HcnriqucAbranches,KissokodeGuerra, L98955. HcnriqueAbranches,Misericórdiapara o Reinodo Congo, 199756. HcnriqueAbranches,O Cid de Noveníbrino,1989

Re LiS/Ñ cíe Fila/ogía RománO o. Ane¡os2001.tI:161-134 182

Page 23: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Para urna breve históría da ficsáo narrativa angolana...Luis Kandjimbc

57. HenriqueAbranches,Senhoresdo Areal, 199958. HenriqucGuerra,A CabataSolitária (contos),196259. JofreRocha,Estória de Kapangombe,197860. JofreRocha,Estóriasdo Musseqae,197761. JorgeMacedo,Gentedo MeaBairro, 197762. JorgeMacedo,Geografiada Coragem, 198063. JosédcFreitas,SilénciocmChamas,197964. JoséMena Abrantes, CaminhosDes-Encantados,199465. JoséMena Abrantes,Sequcira,LuísLopesoa o mulatodospro-

dí¿gios, 199366. JoséSamwilaKakwcji, Viximo (versóesde contoscm luvalee

portagués),67. Lilia Fonseca,Fi/ha deBronco(conto), 196068. Lilia Fonseca,Pangui/a, 194469. LuandinoVieira, Laaanda,196470. LuandinoVieira, A Cidadee a Injáncia, 195771. LuandinoVieira, A Vida Verdadeirade DomingosXavier, 196172. LuandinoVieira, DuasHistóriasde PequenosBurgueses,196173. LuandinoVieira, J0d0Véncio:osseusamores,197974. LuandinoVieira, Macandumba,197875. LuandinoVieira, No Antigamenteno Vida, 197476. LuandinoVieira, Nósosdo Alakalasa,197477. LuandinoVieira, Ve/hasEstórias(tontos), 197478. LuandinoVieira, VidasNovas, 196879. Manueldos SantosLima, AsLágrimaseo Vento,197580. ManueldosSantosLima, As Sementesda Liberdade,196581. Manueldos SantosLima, Os Antese Mendigos,198482. ManuelPedroPacavira,IVzingaMbandi, 197583. ManuelPedroPacavira,Gentesdo Mato, 197484. ManuelRui Monteiro, 1 Morto & os Vivos85. Manuel Rui Monteiro,Crónica de Um Majimbo86. ManuelRui Monteiro,Da Pa/mada Máo87. ManuelRui Monteiro,Alemóriode Mar, 198088. Manuel Rui Monteiro,QaemMe Dera SerOnda89. Manuel Rui Monteiro,RegressoAdiado, 197490. Manuel Rui Monteiro,Rio Seco91. ManuelRui Monteiro,SimCamarada,197792. Mário António, Crónica da CidadeEstranha, 196493. Mário António, Farro de Fim de Samana,1965

Reíi,í la cíe Filolovía Ronui,zií a. Anejos2001,11:161—134

183

Page 24: Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos … · textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora ... Michel Laban, debita abundante retlexáo

Luis Kand/imba Para unía breve história ¿la ticyh> narrativa angolana. -.

94. Mário António, GenteparaRomance,196195. Mário Guerra(Benúdia),NossaVida NossasLutos, 197996. Mário Guerra(Benúdia),ABola e a Panelade Comida,197397. OscarRibas,Ecosda Minha Terra, 195298. OscarRibas,Florese Espinhos,194899. OscarRibas,NuvensquePassam.1927

100. OscarRibas,O resgatede Uma Fa/ta, 1929101. OscarRibas,Quilanduquilo,1973102. OscarRibas,Uango-Feit~o.1951103. Pedroda Paixito Franco,História de Uma T~-aiyño,1911104. PedroFélix Machado,O Fi/ho Adulterino,22 cdiyito, /892105. PedroFélix Machado.Samasd’Africa, 1892106. Pepetela,A Gerayio da Utopia, 1992107. Pepetela,A GloriosaFamilia, 1997108. Pepetela,AsAventurasde Ngunga109. Pepetela,Lue¡i, o NascimentodumImpério, 1990110. Pepetela,Ala ‘voníbe, 1980111. Pepetela,MuanaPuó, 1978112. Pepetela.O Cáo e osCalós, 1985113. Pepetela,O Dese,iode Kianda, 1995114. Pepetela,Parábolo do CágadoVe/ho, 1996115. Pepetela,Yaka, 1985116. Raúl David. Colonizadose Colonizadores,1978117. Raúl David, CornosTradicionaisda Nossoletra, 1979118. RobertoCarvalbo,Coma For~ado Tenipo119. RobertoCarvalbo,Crónicasda Minha Banda, 1999120. RosárioMarcelino,.Iisabhu-ConlostradionaisLimbundo121. RosárioMarcelino,Loucurae Kimbandices,1989122. Ruy Duartede Carvalho,Comoseo Mundo nán tivesseLeste,

1977123. UanhengaXitu, Bola comFeitiyo, 1974124. UanhengaXitu, CultosEspeciais125. UanhengaXitu, MaÑa no Sanzala,¡979126. UanhengaXitu, Manana. 1974127. UanhengaXitu, MestreTomodae OutíosContos128. UanhengaXitu, OMinistro129. UanhengaXitu, Os Sobreviventesda Máquina Colonial

Depóem,1980130. UanhengaXitu, Vires na Sanzala(Kahilu). 1976

Resisto de Filo/agio Rcso,á, ira- Anejos

20)01. II: 161184184