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PARCERIA NO HORIZONTE Universidade expande atuação e fortalece vínculos com a sociedade Revista da Escola de Administração - UFRGS - ano 3 - n o 7 Revista da Escola de Administração - UFRGS - ano 3 - n o 7

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PARCERIA NO HORIZONTE

Universidade expande atuação efortalece vínculos com a sociedade

R e v i s t a d a E s c o l a d e A d m i n i s t r a ç ã o - U F R G S - a n o 3 - n o 7R e v i s t a d a E s c o l a d e A d m i n i s t r a ç ã o - U F R G S - a n o 3 - n o 7

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n e s t e n ú m e r o

3 E d i t o r i a lComprometidos coma comunidadePor João Luiz BeckerDiretor da EA/UFRGS

1417 P r o f i s s ã o

Central de Estágios:Oportunidade deadministrar carreirasPor César Augusto Tejera De Ré

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204 F a t o s & O f í c i o sTrote de Cidadaniamobiliza calouros da EA

CAPAPARCERIA NOHORIZONTE

ADMINISTRAÇÃO NO MILÊNIO é uma publicação da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande doSul Tiragem: 5.000 exemplares | Endereço: Rua Washington Luiz, 855 - Porto Alegre - RS - Brasil - CEP 90010 - 460Fone: (51) 3316.3536 | Fax: (51) 3316.3991 | Homepage: www.ea.ufrgs.br | E-mail: [email protected]: Prof. João Luiz Becker | Vice-diretor: Prof. Paulo César Delayti Motta | Diretor CEPA: Prof. FernandoBins Luce | Vice-diretor: Luiz Carlos Ritter Lund | Coordenador PPGA: Prof. Paulo Antônio Zawislak | Coordenadora-substituta: Profa. Edi Madalena Fracasso | Coordenação de Comunicação Social: Prof. Roberto Lamb e MárciaBarcelos Silva | Produção e edição: Anamara Bolsson Reportagem: Marcelo Monteiro | Fotos: Gil Cafrune Gosch| Diagramação: Luciano Seade | Impressão: Nova Prova |

E d u c a ç ã o

D i s c u s s ã oO desafio dos resultadosPor Marli Elizabeth Ritter dosSantos

P e s q u i s aO papel de C&T nodesenvolvimentoPor João Alziro Herz da Jornada

Capa: Montagem de Luciano Seade sobre fotos de Gil C. Gosch

6Universidade ampliavínculos com asociedade

O papel da universidade nainteração com a sociedadePor Fernando Meirelles

12 P e r f i lParks Comunicações:Conexão Máxima

22 E x p e r i ê n c i aUma iniciativa ímpar de interaçãoPor Dario Trevisan de Almeida

E n t r e v i s t aJosé Ephim Mindlin

19 Te n d ê n c i aUm breve retrospectoPor Edi Madalena Fracasso

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Comprometidoscom a comunidadeCaros le i tores ,

A função primordial e histórica da universidade defavorecer e construir o saber serve a um único propó-sito: atender à sociedade. Dessa forma, como um póloirradiador, amplia o conhecimento nas comunidadesonde atua e reafirma sua relevância. De uma perspec-tiva histórica e com um olhar particularizado, observa-mos o que significou a criação da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul há exatos 70 anos. Na gênesede sua formação, encontrava-se um Brasil nacionalistacom ímpetos de desenvolvimento econômico e cres-cimento. Tornava-se necessária a expansão do conhe-cimento, a difusão da academia e valorizava-se comonunca o saber como mola propulsora deste avanço.

O estímulo ao surgimento da UFRGS, incorpo-rando Faculdades e Escolas até então isoladas, mani-festou-se em quase todas as esferas do poder público.Estado e município aliavam-se, e até mesmo competi-am, para oferecer as condições adequadas e a infra-estrutura necessária à expansão de um complexo deensino que traria, indiscutivelmente, o tão almejadocrescimento que brota do conhecimento.

Um exemplo marcante desse empenho está regis-trado na história da UFRGS. A área do atual campusmédico, onde se localiza o Hospital de Clínicas de Por-to Alegre, foi doada pelo município de Porto Alegre nagestão do prefeito Alberto Bins. Em 1951, o governa-dor do Estado, Walter Jobim, declarou a área doCampus do Vale de Utilidade Pública. A UFRGS incor-porou a extensa área da Companhia Hidráulica PortoAlegrense, hoje IPH (Instituto de Pesquisas Hidráuli-cas). Em 1954, o urbanista Edvaldo Pereira Paiva daPrefeitura de Porto Alegre sugeriu que a Universidadeocupasse parte da área do aterro da Praia de Belas, aser criado na década de 60.

São exemplos emblemáticos que denotam o quan-to governos e sociedade dispensavam valor e prestígioà educação. Hoje, este mesmo espírito recupera-se acada nova Universidade Comunitária criada no interiordo Estado.

Em um estágio natural de evolução, a UFRGS cum-pre hoje um papel diferenciado e decisivo. Cabe reco-nhecer os esforços do passado e, então, devolver àcomunidade as possibilidades de crescimento que osaber proporciona. O papel da universidade contem-porânea deve ser o de possibilitar a formação perma-nente e contínua dos cidadãos. É urgente resgatar oespírito de origem deste centro de conhecimento, abrirsuas portas para a sociedade e permitir que o saber semultiplique. É sobre este tema que refletimos e mos-tramos experiências exitosas nesta edição da revistaMilênio.

Prof. João Luiz BeckerDiretor da EA/UFRGS

e d i t o r i a l

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INTEGRAÇÃOTRAZ FAMÍLIAPARA A ESCOLA

Cerca de 40 pessoas entre pais,maridos e esposas dos novos estu-dantes de graduação, visitaram aEscola de Administração da UFRGSem março. Convidados pela direçãoda EA, conheceram a estrutura físi-ca e foram informados sobre o fun-cionamento e o quadro de professo-res da instituição. Esta foi a segundaedição do evento, que visa integraras famílias dos alunos à comunidadeacadêmica. Recebidos pelo diretorJoão Luiz Becker, que apresentou ainstituição situando-a no cenário na-cional, os familiares visitaram salasde aula, laboratórios de informática,biblioteca e EATW. A programaçãodurou cerca de duas horas e meia.“Gostei muito da iniciativa. Quandorecebi o convite fiquei surpreso e, aomesmo tempo, curioso. Foi uma gra-ta satisfação ver a evolução das ins-talações”, afirmou Luiz EduardoHenning, egresso da Escola de Ad-ministração em 1973 e pai da calou-ra Eduarda, de 17 anos.

“TROTE DA CIDADANIA” MOBILIZACALOUROS DA ADMINISTRAÇÃO

Calouros vis i taram creche carente ereal izaram at iv idades com as cr ianças

A Escola de Administração daUFRGS recepcionou seus calouros como 1º Trote da Cidadania. A programa-ção incluiu palestras de representantesda ONG Parceiros Voluntários e do di-retor da Muri Linhas de Montagens, JoséMário de Carvalho Júnior, além da apre-sentação de planos envolvendo os alu-nos com o chamado Terceiro Setor. Nasegunda parte da programação, os ca-louros foram para a área central de Por-

to Alegre, onde distribuíram folhetos so-bre saúde e prevenção de doenças, e pre-servativos e sacos de lixo fornecidos pelaSecretaria da Saúde do RS. Os futurosadministradores também visitaram aCreche São Francisco de Assis, entre-gando livros infantis doados pela Funda-ção DPaschoal e participaram de ativi-dades com as crianças. O 1° Trote seencerrou em uma festa com shows debandas de alunos da escola.

Luiz Eduardo Henning visitou a novaescola da f i lha Eduarda

EMPRESAS INVESTEM NOMESTRADO PROFISSIONAL

Um total de 26 empresas - algumas das maiores do RS e do país - encaminhouno início deste ano seus executivos para o mestrado profissional na Escola de Admi-nistração de UFRGS. A atividade, que fortalece cada vez mais os laços entre auniversidade e o mercado, vai propiciar experiências e o aprofundamento de conhe-cimentos gerenciais. Participam da primeira turma de 2004 executivos de organiza-ções como, Grupo Sonae, Unibanco, Springer Carrier, Banco Matone, Meridionalde Tabacos, Claro Digital, Bertolini Móveis, HP do Brasil, Fitesa, Duratex/Deca,Grupo Gerdau, John Deere, Braskem, Adubos Trevo, GKN do Brasil, Copesul,Unisinos, Radimagem, Azaléia, Refap/Petrobras, Stihl Máquinas, Worldstudy Inter-câmbio Cultural, Global Village Telecom (GVT), Itaipu Binacional, Calçados Bibi eAmapá do Brasil.

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Os intercâmbios entre universidades e entidades internacionais e a Escola deAdministração têm oportunizado viagens e a participação intensa de professores daEA no Exterior. Antonio Carlos Gastaud Maçada participa de um workshop emjunho na Universidade de Göttingen, Alemanha. No mesmo período, Aida MariaLovison e Rosinha Carrion viajam à França para apresentar trabalhos no congressoda Associação Internacional dos Sociólogos de Língua Francesa, enquanto ValmíriaCarolina Piccinini vai à Itália para reunião de avaliação de programas de intercâm-bio e apresentação de um artigo. Cristiane Pizzutti retornou de congresso na Espanhae Jaime Evaldo Fensterseifer esteve no México para participar com um trabalho do15th Annual POMS Conference.

DOUTORADOSANDUÍCHE

O doutorando do PPGA/ EA/UFRGS, Décio Dolci está nos Es-tados Unidos, onde realiza o douto-rado “sanduíche” junto à Escola deAdministração da Florida AtlanticUniversity (FAU), no Departamen-to da Tecnologia da Informação, atésetembro. A pesquisa de Dolci temcomo tema MudançasOrganizacionais e Inovações emTI. Como já realizou grande parteda coleta de dados para a tese noBrasil, o doutorando planeja anali-sar os dados e discutir a tese comoutros estudantes e professores daescola. Para isto, tem recebido oapoio e a orientação do professorXenophon Koufteros, seu orientadorna FAU. Aguardado na universida-de norte-americana como “o brasi-leiro que coletou dados de mais de500 empresas”, Dolci explica que onúmero de casos coletado com oprofessor João Luiz Becker cha-mou muito a atenção de professo-res e alunos. Nas aulas de Méto-dos de Pesquisa II, disciplina do pro-grama de PhD, o professorKoufteros tem usado o banco de da-dos da tese de Dolci paraexemplificar análises estatísticas.

Com a bolsa “sanduíche” o pes-quisador inicia os estudos no Brasil,prossegue com um estágio no Ex-terior e retorna ao Brasil para con-cluir a tese. A bolsa recebida porDolci integra o Programa de Dou-torado com Estágio no Exterior(PDEE), da Capes. Para se obteruma bolsa semelhante, é necessá-rio ter um orientador no Exterior.Outros requisitos são a realizaçãode um plano de estudos e proficiên-cia no idioma do país para onde estáse candidatando. Uma dica impor-tante: quem pretende fazer os estu-dos nos Estados Unidos deve reu-nir com antecedência a documen-tação solicitada pela universidadepara emissão do formulário DS-2019 e a obtenção do visto.

PROFESSORES EM VIAGEM DE ESTUDO

CRIADA A CENTRAL DE ESTÁGIOSA EA Estágios, Central de Estágios da Escola de Administração, começou a

funcionar em abril. De acordo com o coordenador do projeto, professor César AugustoTejera De Ré, a Central pretende atuar junto as empresas, como captadora deoportunidades de estágios não-obrigatórios para alunos de Administração e tambémcomo orientadora de carreira para os futuros profissionais. O trabalho da Centralconta com cinco bolsistas, que realizam os contatos e as visitas às empresas. Asoportunidades já detectadas pela EA Estágios estão sendo anunciadas nos muraisda escola. Os alunos interessados em obter um estágio devem manter contato pelofone (51) 3316-3824. (Leia mais na página 17)

Jaime Evaldo Fenstersei fer , professor doPPGA/EA na sessão de autógrafo

O professor Jaime Fensterseifer, doPrograma de Pós-Graduação da Escolade Administração da UFRGS, em par-ceria com o professor Ely Paiva, daUnisinos, e o empresário José Mário deCarvalho Júnior, da Muri Linhas de Mon-tagem, lançou em março último o livroEstratégias de Produção e Opera-ções: conceitos, melhores práticas euma visão de futuro. A sessão de au-tógrafos se realizou na Livraria Cultura,no Bourbon Shopping Country, em Por-to Alegre. Com 192 páginas, a obradirigida ao meio acadêmico e empresa-rial é o resultado de estudos, pesquisas epráticas desenvolvidas pelos autores du-rante mais de 10 anos. O livro demons-tra como as empresas devem otimizarseus recursos e estruturar de forma maisefetiva suas operações. Enfocando ca-sos de empresas, a obra enfoca concei-tos básicos de uma estratégia de produ-ção e operações, as melhores práticasatuais e o futuro da gestão de produçãoe de operações. A apresentação do li-vro é de Aleda Roth, professora da áreade Gestão de Operações, Tecnologia eInovação na Kenan-Flagler Business

ESTRATÉGIA A SEIS MÃOS

School, The University of North Caroli-na at Chapel Hill e atual presidente daProductions and OperationsManagement Society – POMS. RobertHayes, ex-presidente do POMS e pes-quisador da Harvard Business School,assina um capítulo da obra.

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Nunca universidade e empresa tiveram tantosinteresses em comum. Se por um lado o meioacadêmico se abre para compart i lhar conhecimentoe oferecer soluções, por outro, cada vez mais, asempresas se aproximam em busca de parcerias.

Acelera-se um processo de aproximação queainda pode encadear todos os elos dessa cadeia.De forma inédita, a universidade contemporâneaabre-se para compartilhar mais o saber, interagir nasociedade e ampliar seu papel. Ao mesmo tempoem que desenvolve pesquisa, produz conhecimentoe forma profissionais para o mercado de trabalho,possibilita - como nunca em sua história -, proces-sos contínuos e avançados de educação, prestaconsultoria e transfere tecnologia. Por outro lado, asociedade, representada especialmente pela inicia-tiva privada, responde com interesse, estabelecen-do parcerias e relações de troca em que todos saemganhando. E o que até algum tempo atrás era feitode maneira informal, ganha cada vez mais estímulooficial e meios formais para execução.

Embora não se restrinja à troca de conhecimen-to, a interação universidade-empresa funciona comoo intercâmbio teórico e prático entre duas institui-ções, nas mais variadas áreas e esferas de atuação.Nesta relação, cuja iniciativa pode partir de ambasas partes, empresa e universidade se influenciammutuamente. Enquanto o estabelecimento de ensi-no, fonte do conhecimento teórico, coloca a ciênciaa serviço do desenvolvimento e aprimoramento de

um produto, projeto ou idéia, a empresa – por es-sência, voltada à produção – oferece as condiçõesmateriais, os recursos humanos e o know how paratorná-lo um artigo concreto.

Assim, universidade e empresa têm papel com-plementar, cada uma cumprindo uma função essen-cial para o sucesso da empreitada. E além da pró-pria relação interinstitucional, que traz vantagenspara os dois pólos, há ainda o crescimento dos indi-víduos imersos no processo. Por parte da empresa,os integrantes dos setores envolvidos saem ganhan-do com a possibilidade de beber, diretamente na fon-te, o conhecimento acadêmico. Do lado universitá-rio, ganham professores e alunos, com a oportuni-dade de pôr a prova todo o saber adquirido nos ban-cos acadêmicos. Para os estudantes, inclusive, ainteração significa, muitas vezes, a abertura de umaporta no mercado de trabalho. Em alguns casos,até o recebimento de royalties.

Onde tudo começa

O processo de interação universidade-socieda-de se inicia pelo curso de graduação e avança namedida em que um currículo atualizado favorece a

UNIVERSIDADEAMPLIA VÍNCULOSCOM A SOCIEDADE

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VISÃOESTRATÉGICAMANDAINVESTIR EM

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formação de profissionais sintonizados com as ne-cessidades da sociedade e do mercado. Por outrolado, o desenvolvimento vertiginoso do mundo dosnegócios, a complexidade das questões sociais e aglobalização sinalizam também para a necessidadede continuidade e o aprofundamento dos estudos.O mundo acadêmico responde às exigências domercado com cursos avançados de educação con-tinuada. Estão aí para comprovar os númerosascendentes de cursos de especialização, mestradose doutorados nas mais diversas áreas, e em especi-al na de negócios e administração. Outro fator de-cisivo para disseminar o ensino e ampliar a trocade conhecimento é o uso da tecnologia que nas uni-versidades reduz ou elimina distâncias.

Contudo, um dos passos mais largos das univer-sidades em direção ao mercado foi dado com a cri-ação e o oferecimento de incubadoras empresari-ais, empresas-júnior, parques e pólos tecnológicos.Em todos os casos, o objetivo é prestar serviços outransferir tecnologia, sempre evitando que sua atu-ação se sobreponha a algum segmento do merca-do. “A universidade não desenvolve um produto,não é esta a sua tarefa. A universidade apenas trans-

fere tecnologia”, explica a professora Edi MadalenaFracasso, da Escola de Administração da UFRGS,incentivadora da interação entre universidade e so-ciedade. A mesma regra vale para os casos emque empresas buscam serviços altamenteespecializados junto a instituições de ensino.

Dois exemplos de aproximação com o mercadonasceram na Universidade Federal do Rio Grandedo Sul. Em 1992, o catálogo Oportunidades deInteração Universidade Empresa relacionava asatividades conjuntas da academia com empresasprivadas no Estado. Em 2000, o Catálogo de La-boratórios trazia informações sobre os 489 labo-ratórios existentes em 13 das 24 unidades da uni-versidade gaúcha. Sem incluir todos os projetos compotencial de interação, o trabalho revelou centenasde casos nos quais mercado e universidade realiza-vam algum tipo de atividade em parceria.

A UNIVERSIDADECOMPLEMENTA O MERCADO

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Uma ponte para o mercado

“A universidade complementa o mercado, pro-curando oferecer somente serviços em áreas quenão concorrem com seus egressos”, esclarece MarliElizabeth Ritter dos Santos, diretora do Escritóriode Interação e Transferência de Tecnologia da Pró-reitoria de Pesquisa da UFRGS. Criado em 1997,orienta a busca de informações sobre oportunida-des de interação, conectando as demandas da so-ciedade com a capacidade da universidade. Emresumo, recebe as solicitações e as necessidadesdas empresas, identifica o departamento que podesolucioná-las e viabiliza a relação. Empresas, pes-quisadores, professores e alunos saem todos ga-nhando.

Esta relação de proximidade proporciona, porexemplo, que mais de 200 pesquisadores utilizematualmente o Escritório como ponte para o merca-do. A travessia se inicia de acordo com a caracte-rística da demanda reclamada, no caso, as chama-das “demandas espontâneas”, situação em que aempresa procura o auxílio da universidade direta-mente. Há também as “demandas induzidas”, ca-sos em que as solicitações de serviço são apresen-tadas por órgãos de fomento. Nestes casos, alémda empresa ter sua necessidade atendida, e do pes-quisador receber parte dos royalties da invenção, osestudantes envolvidos nos projetos ganham experi-ência e, muitas vezes, oportunidades de trabalho.

Em um projeto realizado pela Escola de Enge-nharia em parceria com a Petrobras, coordenadopelo professor Telmo Strohaecker, participaram cin-co estudantes de graduação, dois de mestrado eum de doutorado. “Esta integração é fundamental,pois envolve o aluno no desenvolvimentotecnológico, traz assuntos de ponta e oportuniza ocontato com as empresas. Há vários casos em queo aluno é contratado pela empresa após o final dotrabalho”, diz Strohaecker. Esta, portanto,construída a ponte.

Desde a criação do Escritório – que tambémpresta apoio logístico e legal ao processo de trans-ferência tecnológica e formalização de contratos,faz a captação de recursos, comercializa patentes etecnologias e registra a propriedade intelectual – jáforam desenvolvidas 35 patentes, sendo duas já ne-gociadas e outras duas em fase de comercialização.Dois terços dos recursos gerados nestacomercialização revertem para a universidade, umterço é empregado na administração do registro depropriedade industrial e o outro é destinado ao de-partamento, centro ou órgão auxiliar envolvido noprocesso. O restante vai para o autor ou autorescomo forma de estímulo à pesquisa acadêmica.

Mas os elos se encadeiam também na medidaem que a sociedade começa a vislumbrar soluçõesno interior do mundo acadêmico.

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Em 2003, uma dezena de empresas firmou con-vênios com a universidade depois de procurar oEscritório. Outro dado representativo é o do pro-grama Sebraetec, do Serviço de Apoio às Peque-nas e Micro Empresas (Sebrae), que entre 2000 e2002 intermediou 26 projetos de interação univer-sidade-empresa, com um investimento total de R$278,6 milhões.

Atrativos e dificuldades

As incubadoras são outro estímulo à aproxi-mação das pequenas empresas à universidade.Oferecendo uma infra-estrutura comum de servi-ços essenciais aos empreendimentos incipientes,as incubadoras possibilitam o rateio de parte doscustos, reduzindo significativamente os gastos coma manutenção dos negócios.

Na UFRGS funcionam atualmente seis incu-badoras (Informática, Biotecnologia, Alimentos,Medicamentos, Reciclagem e Física / Engenha-ria), com um total de aproximadamente 20 empre-sas incubadas. As maiores são as de Informáticae Biotecnologia, com respectivamente, nove e cin-co empresas.

A proximidade com a universidade e suas es-truturas de pesquisa propicia às empresas incu-badas um desenvolvimento mais rápido do queno ambiente mercadológico convencional. A FKBiotecnologia, por exemplo, colhe os frutos deum trabalho realizado com a universidade. A em-presa está negociando com laboratórios do RioGrande do Sul, de São Paulo e do Rio de Janeiroum produto reagente desenvolvido em parceriacom o Departamento de Genética. O produtopropicia a realização do exame de citometria defluxo – a contagem dos leucócitos (glóbulos bran-cos) do sangue.

A FK Biotecnologia foi a primeira empresa lati-no-americana a desenvolver o reagente, até entãoimportado pelo Brasil, com custos anuais de US$48 milhões. “A universidade é o reduto do desen-volvimento tecnológico no País, e este desenvolvi-mento não é voltado a produtos, mas à pesquisa”,justifica o diretor da empresa, Fernando ThoméKreutz. Por isso, enfatiza, a FK, empresa com umsólido desenvolvimento tecnológico, tem como es-tratégia aliar esta estrutura da universidade com osrecursos oferecidos pelos órgãos de fomento, bus-cando a inovação tecnológica em seus produtos.

De acordo com Kreutz, médico e doutor emBiotecnologia pela Universidade de Alberta, noCanadá, há muitos anos se fala em interação uni-versidade-empresa. Mas esta, segundo ele, é umarelação complicada que envolve sistemas muitodiferentes, o acadêmico e o empresarial. “Mesmoassim, apesar das diferenças, conseguimos fazeresta interação com sucesso”, comemora.

SERVIÇOS TECNOLÓGICOS· Análises· Ensaios· Calibrações· Medições· Laudos técnicos· Certificações de conformidade· Consultorias tecnológicas· Outros

SERVIÇOS DE CAPACITAÇÃO· Cursos in company· Cursos de Especialização· Cursos de Mestrado· Cursos de Doutorado· Outros

SERVIÇOS DE INFORMAÇÃO· Busca em bases de dados nacionais

e internacionais· Busca em bancos de patentes· Informações tecnológicas em geral· Outros

PROJETOS DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO· Pesquisa básica· Pesquisa aplicada· Pesquisa e desenvolvimento experimental· Outros

PROJETOS DE INCUBADORAS DE EMPRESAS· De base tecnológica· De tecnologia tradicional· De cooperativa· Outros

PROJETOS DE EMPRESAS JÚNIOR· Consultoria· Prestação de serviço

PROJETOS DE PARQUE OU PÓLO TECNOLÓGICO

POSSIBILIDADES DEINTERAÇÃO

UNIVERSIDADE-EMPRESA

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Mesmo que a cooperação e as parcerias ve-nham crescendo significativamente em praticamen-te todas as instituições de ensino superior, do pontode vista dos empresários ainda há barreiras a se-rem vencidas.

O gerente de Engenharia da Parks (leia maisna página 12), Valneis Signor Júnior, vê como di-ficuldades a burocracia para a obtenção de recur-sos por parte das instituições de ensino, especial-mente as públicas, e a delicada questão do sigiloindustrial nas situações em que alunos participam

EMPRESAS-JÚNIORSOLUÇÃO COM BAIXO CUSTO

As soluções para muitas das demandas dasempresas podem estar nas empresas-júnior, em-presas de consultoria, prestação de serviços e de-senvolvimento de projetos ligados às unidades uni-versitárias. Sem fins lucrativos, estas pequenas or-ganizações nascidas nas universidades são geridaspelos próprios alunos, com a orientação de profes-sores, e oferecem produtos e serviços a baixo cus-to. Para as empresas, é uma oportunidade de ob-ter serviços qualificados sem a necessidade degrandes investimentos; para os alunos, a chancede aprender “com a mão na massa”.

Com este formato e porte, a UFRGS mantémunidades nos cursos de Administração, Comuni-cação, Economia e Engenharia de Produção. APS Empresa-Júnior, da Escola de Administração,a mais antiga da universidade, conta com novemembros que dirigem as áreas de Finanças, Re-cursos Humanos, Marketing e Relações Externas.Em 2003, a PS contabilizou um total de 28 proje-

das pesquisas. Segundo ele, o trabalho estaria maissuscetível ao vazamento de informações.

Por outro lado, acredita que o contato com auniversidade propicia à empresa o acesso a infor-mações tecnológicas de ponta. “Na empresa, a ro-tina de produção nos desvia destes temas”, ponde-ra. E observa que, outra vantagem para a empresaé o contato estreito com os novos profissionais domercado. “Durante um projeto, os estudantes sãoavaliados, e podem ser chamados pela empresa aofinal do trabalho”.

tos. Neste ano, em média, têm ingressado na em-presa dois novos projetos por mês. Cada novo tra-balho é coordenado por um gerente de projeto –um membro interno da PS Júnior –, e conta com oauxílio de um professor. Diante da demanda, sãorecrutados consultores (alunos) na escola, por meiode anúncios nos murais.

O estudante André Cherubini Alves, de 22anos, é o diretor de Marketing da PS Júnior. Aca-dêmico do quarto semestre, Alves está satisfeitocom a experiência: “Aprendi o que não aprende-ria em outro estágio. Aqui, gerimos uma empre-sa, discutimos idéias e objetivos. É uma experiên-cia de administração mesmo”, afirma.

Segundo o acadêmico, a empresa dá ao alunouma visão mais ampla para as lições vistas emsala de aula. “Quando fazemos um projeto, en-tramos em contato com todas as teorias vistasem aula, só que na prática. Assim, conseguimosperceber a aplicabilidade daquilo que vimos emaula. Além disso, estamos em contato próximo epermanente com os professores. É um estímulopara estudar, ao mesmo tempo em que se estáem contato com o mercado”.

Depois de tentar realizar o trabalho por contaprópria, sem o sucesso e o retorno esperados, aEdiba Edificações, construtora responsável pormais de 60 empreendimentos imobiliários na re-gião metropolitana de Porto Alegre, contratou aPS Júnior para a realização de uma pesquisa desatisfação entre os moradores após a ocupaçãode três de seus prédios. “O resultado foi muitobom. Nos muniu de informações importantes paraa tomada de decisões futuras”, elogia o diretortécnico da Ediba, Fábio Barbieri, que adianta so-bre o interesse da empresa em realizar novos pro-jetos com a PS Júnior.

Equipe da PSJunior da Escolade Adminis t raçãoda UFRGSatendeu 28projetos em 2003

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Nos últimos anos, o Centro de Estudos e Pesquisasem Administração (Cepa) tem se constituído em umdos tentáculos mais atuantes da UFRGS em sua rela-ção com a sociedade. Criado em julho de 1959, com onome de Instituto de Administração, o centro – vincula-do à Escola de Administração – tem buscado aproxi-mar-se da comunidade por meio de parcerias, ativida-des de extensão universitária e prestação de serviçosespecializados.

Um desses trabalhos é a pesquisa sobre o Índice deConfiança do Consumidor (ICC), que descreve as con-dições econômicas de um estado ou país por meio dossentimentos e expectativas das pessoas. Este índice avaliaa capacidade, a vontade e a predisposição de consumirda população em estudo.

O Centro de Estudos ganhou maior notoriedade aodesenvolver recentemente pesquisas eleitorais e de opi-nião sobre temas da atualidade para a Rede Brasil Sul(RBS) de Comunicações. Também realizou trabalhoscomo a pesquisa sobre a satisfação dos clientes dasoperadoras de telefonia (fixa, móvel celular e pública),em âmbito nacional, para a Agência Nacional de Tele-comunicações (Anatel), em consórcio com a Universi-dade de São Paulo (USP), e a pesquisa de avaliação domercado de energia elétrica na região Sul, encomenda-da pela AES Sul.

Entre as empresas atendidas com trabalhos seme-lhantes nos últimos anos – alguns deles, incluindo servi-ços de consultoria – ainda estão Banco do Brasil, Insti-tuto Brasileiro do Vinho, Associação Brasileira da In-dústria Gráfica, Sindicato dos Engenheiros do Rio Gran-de do Sul, Companhia Riograndense de Telecomunica-ções, Telet, Associação Brasileira de Odontologia , Pavioli,Celgon, Brigada Militar, Uniagro e Banco do Estado doRio Grande do Sul.

Além das pesquisas e consultorias, o Cepa tambémrealiza cursos de extensão, muitos deles em parceriacom o Serviço de Apoio às Pequenas e Micro Empre-sas (Sebrae), além de cursos fechados para empresas einstituições e outras atividades, conforme necessidadesdetectadas em áreas específicas. Entre os cursos minis-trados recentemente estão os de “Planejamento Em-presarial para Empreendedores” e “Talentos Empreen-dedores – A opção de ser empresário”, ambos em par-ceria com o Sebrae, “Gestão da Produtividade Aplicadaaos Correios”, para a Empresa Brasileira de Correios eTelégrafos (ECT), e “Gestão para Executivos da Com-panhia Estadual de Energia Elétrica”, com a CEEE.

CEPA TEM ATUAÇÃODESTACADA NOMERCADO

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tão nomes como Telefônica, Telemar, Embratel euma série de gigantes do setor de telecomunica-ções. Os produtos da Parks estão hoje nas princi-pais redes de lojas de informática do País.

Fundada, em 1966, pelo professor da Escolade Engenharia e assessor da Faculdade de Medi-cina da Universidade Federal do Rio Grande doSul (UFRGS), Paulo Renato Ketzer de Souza, aempresa desenvolvia apenas sistemas de alarmes.A guinada em direção ao mercado de telecomu-nicações começou em 1975, com a primeira par-ceria com uma universidade, no caso o Centro dePós-Graduação em Ciências da Computação daUFRGS.

CONEXÃO MÁXIMATroca de conhecimento com o meio acadêmico marca

trajetória da Parks Comunicações Digitais

A empresa gaúcha Parks é um caso exemplarda união de forças e conhecimento entre o mundoempresarial e o acadêmico. Produzindo uma linhadiversificada de soluções em comunicação de da-dos (modems digitais, analógicos, ADSL, roteadorese switchers), a Parks atende o segmento corporativoe o chamado mercado “soho”, formado por em-presas de pequeno porte, profissionais autônomose residências. Atualmente, instalada em uma áreaprópria de 8 mil metros quadrados no Distrito In-dustrial de Cachoeirinha, na região metropolitanade Porto Alegre, a companhia emprega 150 profis-sionais e dispõe de uma rede de distribuidores erevendedores. Entre os clientes corporativos es-

Empresa mantém150 colaboradores

para atenderempresas como

Telefônica, Telemare Embratel

p e r f i l

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p e r f i l

O protótipo de um modem de 1.200 bps, desen-volvido pelo professor e pesquisador Jürgen Rochol,da UFRGS, foi o ponto de partida da Parks. Acre-ditando no projeto, a empresa iniciou um trabalhopara transformar o modelo em um produto indus-trializado. O objetivo era a comercialização nomercado nacional. Embora tenha sofrido mudan-ças em relação ao projeto original até chegar àversão final, o modem marcou a entrada da em-presa no mercado de transporte de dados. A gui-nada havia sido dada.

Três anos depois, em 1978, a Parks participouda primeira licitação da Empresa Brasileira de Te-lecomunicações (Embratel) para rede de transmis-são de dados (Transdata). Para ser homologadopela Embratel e entrar definitivamente no merca-do do segmento, o modem foi novamente transfor-mado pela companhia. Esta nova adaptação foi oponto de partida para a especialização da empresano mercado de transferência de dados, com a cri-ação da Parks S.A. Comunicações Digitais.

A divisão é a menina dos olhos de Ketzer deSouza, que permanece na presidência da compa-nhia até hoje e comanda também a Parks Siste-mas Elétricos, responsável pelos sistemas de alar-mes. O empresário é um ferrenho defensor dainteração universidade/empresa. “Considero essaparceria com a universidade importantíssima. Em-bora a função principal das universidades seja aformação de recursos humanos, o surgimento deidéias em laboratórios de pesquisa deve ser incen-tivado”, diz.

O professor universitário e dirigente empresa-rial conhece os dois lados da moeda e, exatamentepor isso, aposta no sucesso de iniciativas que aliamos setores acadêmico e empresarial. “A universi-dade entra com a criatividade, com uma idéia. Aindústria transforma essa idéia em produto palpá-vel e comercializável. Ambos saem ganhando comisso. A universidade vê suas idéias praticadas erecebe incentivo para mais pesquisa. E a indústriaaproveita sempre a inovação de um laboratório depesquisa”, explica.

Seguindo esta linha, a empresa mantém estrei-ta relação com as instituições de ensino superiorda Grande Porto Alegre. Em 1999, a Parks criou,em parceria com o Departamento de Informáticada Pontifícia Universidade Católica do Rio Grandedo Sul (PUCRS), um circuito integrado com a pos-sibilidade de programação das funções dos pinos.Atualmente, a companhia alinhava a realização deum convênio com o Departamento de EngenhariaElétrica da UFRGS, para o desenvolvimento de umproduto com aplicação de voz sobre IP. O projeto,que deverá ser desenvolvido no período de um ano,vai exigir um investimento entre R$ 60 mil e R$120 mil. A iniciativa está amparada na Lei daInformática, que prevê a aplicação de verbas em

estruturas de pesquisa e desenvolvimento externasà empresa.

Ketzer de Souza acredita que o trabalho conjun-to entre empresas e universidades é a receita para oBrasil se habilitar e competir em igualdade de con-dições no mercado externo. “Em países desenvolvi-dos é muito comum esse tipo de cooperação, com aindústria trabalhando ligada aos centros universitá-rios. O Brasil deveria seguir o mesmo caminho, paranão ficar dependendo de tecnologia estrangeira,pagando royaltes altíssimos e exportando produtosde baixo valor agregado”, justifica.

A Parcks produz hojeuma linha de soluçõesem comunicação dedados para omercado corporat ivo

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MAIS CONHECIMENTO EMENOS PRECONCEITO

A poucos meses de completar 90anos, o empresário paulista José EphimJosé EphimJosé EphimJosé EphimJosé EphimMindlinMindlinMindlinMindlinMindlin, fundador da indústria MetalLeve , mantém v ivos os mesmosin te resses que o mot iva ram najuventude. Estudioso interessado pord i fe ren tes á reas do conhec imento ,circula com seriedade por temas tãovariados quanto cultura e negócios,política e ciência, economia e educação.A vida inteira esses temas o mobilizam,atesta seu currículo tão extenso quantovariado.

Advogado por formação e empresáriopor um raro senso de oportunidade,Mindlin iniciou sua carreira e reputaçãoainda menino. O bibliófilo festejado,dono da maior biblioteca particular daAmérica Latina para orgulho brasileiro,se descobriu na adolescência. Aos 13anos começou a colecionar livros e adesfrutar do prazer solitário da leitura.Ainda não parou. Reconhecido no país,e também in te rnac ionalmente pe lapaixão aos l i v ros , é reve renc iadotambém pela voz culta e lúcida.

Sua biblioteca enfileira o fabulosoacervo de 30 mi l obras , mot ivo deorgu lho e também de a lgumai r reve rênc ia . De acordo com seuscálculos deve ter lido pelo menos 8 milobras, e conclui que precisaria viverpelo menos 300 anos para desfrutarde todas as obras que acumula.

Aos 15 anos estreou no jornalismo,mas foi o curso de Direito que o levou

e n t r e v i s t a

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a advogar a causa de imig ranteseuropeus fug idos da I I Guer ra ,impedidos de ingressar no Brasi l àépoca do Estado Novo.

Quase ao final da década de 50,por um desses tantos caminhos queabriu, tornou-se empresário fundandocom sócios a Metal Leve. Embalada peloc resc imento da E ra JK , a empresatornou-se uma das maiores indústriasb ras i le i ras do se to r de autopeças ,produzindo pistões. A partir daí passoua se interessar também pela questãodo desenvo lv imento c ien t í f i co etecnológico brasileiro, incentivando oavanço e a processo de exportação deprodutos manufaturados brasileiros.

Foi essa preocupação que o levou afundar o Fó rum Permanente dasRe lações Un ive rs idade-Empresa(Un iemp) , en t idade des t inada apromover a aproximação entre o meioacadêmico e o mercado, e da qualatualmente é Presidente Honorário. Poressa razão em par t i cu la r é que oempresár io José Mindl in f igura naspáginas da rev i s ta Mi lên io . Naent rev i s ta a segu i r aborda aproblemática da interação entre estesdois lados que ele próprio – metadeempresário, metade homem dos livros– conhece muito bem. Com a visão deempresário e estudioso tenaz aponta oún i co caminho poss íve l para asuniversidades e as empresas em buscade interação: o conhecimento recíproco.

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e n t r e v i s t a

MILÊNIO - O que o senhor pensa a respeitoda troca de conhecimentos entre as universi-dades e as empresas? Como enxerga estarealidade hoje em âmbito nacional?JOSÉ MINDLIN - O problema é antigo, está co-meçando a se resolver entre algumas universida-des e algumas empresas, mas ainda falta uma sis-tematização das relações entre universidade e em-presa de forma generalizada.

MILÊNIO - Como dirigente de um grandegrupo, o senhor, de alguma forma, fomentou

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esta interação entre universidade e empresa?J.MINDLIN - Pessoalmente, sempre defendi a im-portância desse relacionamento, e fui um dos funda-dores da UNIEMP, no início dos anos 90, que funci-ona em São Paulo, exatamente com esse objetivo.

MILÊNIO - Que obstáculos o senhor vê paraque esta interação aconteça de uma forma cadavez mais efetiva e contínua?J.MINDLIN - Creio que a principal razão de o as-sunto ainda representar, de forma geral, um proble-ma, é a falta de um bom conhecimento recíproco.

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e n t r e v i s t a

Além disso, o preconceito que ainda existe em am-bos os lados.

MILÊNIO - Historicamente, as empresas sem-pre se queixaram de que as universidades ofe-reciam uma mão-de-obra muito teórica, distan-te da realidade do mercado. As universidades,por outro lado, sempre viram as empresas comoorganizações voltadas exclusivamente ao lucro.Esta situação ainda perdura?J.MINDLIN - A universidade, ressalvadas as hon-rosas exceções, vê nos empresários, mais do quetudo, ganhadores de dinheiro, sem preocupação comos interesses da sociedade, e que vêem como prin-cipal papel da universidade a formação de mão deobra qualificada. Os empresários, também ressal-vados as honrosas exceções existentes, por sua vezvêem a comunidade acadêmica como desligada darealidade social, e dos problemas do dia-a-dia, e pre-ocupada apenas com sua carreira, e com a elabo-ração de conhecimentos teóricos.Ambas as posições são obviamente absurdas, e amelhor, se não a única forma de desfazer esse pre-conceito, é o melhor conhecimento recíproco.

MILÊNIO - Maior parte das relações entreempresa e universidade, hoje, se dão em as-suntos referentes à transferência de conheci-mento tecnológico. Na sua opinião, não seriainteressante para a empresa buscar junto à uni-versidade também a possibilidade de umamelhor formação teórica?J.MINDLIN - Quando dirigi a Metal Leve, tínha-mos relacionamento estreito com diversas universi-dades, isso com proveito recíproco. Venho defen-dendo a tese de que seria importante estabelecer-se um esquema para que, além dos estágios de es-tudantes universitários nas empresas, fossem cria-dos estágios de empresários nas universidades, ede professores nas empresas, com isso podendo serefetivamente alcançado o bom conhecimento recí-proco a que me referi.

MILÊNIO - Na sua opinião, como deve se pro-cessar esta interação da empresa com a uni-versidade?J.MINDLIN - É claro que há uma divisão de traba-lho – a pesquisa básica é atribuição da universida-de, e a pesquisa aplicada, tecnológica, se realizaprincipalmente na empresa –, mas me parece óbviaa necessidade da colaboração e a transmissão deconhecimentos de parte a parte. Os estágios a que

acima me referi creio que são um bom instrumento.Mas não é só isso que pode ser feito. Existem nosetor empresarial – e, aliás, na sociedade em geral– muitas pessoas que poderiam dar cursos na uni-versidade, sem preocupação de carreira, que narealidade não desejam se submeter a formalidadesburocráticas, e que poderiam prestar uma colabo-ração importante.

MILÊNIO - As universidades precisam escu-tar mais os empresários?J.MINDLIN - Tanto um lado como o outro aindatêm elementos que não se dão conta das vantagensdesse relacionamento, mas isso é possível de seralterado por uma boa avaliação do assunto.

MILÊNIO - Qual o recado que o senhor dei-xaria para os empresários que ainda não aten-taram para a necessidade de uma relação maisestreita com as universidades?J.MINDLIN - Em resumo, diria que é ótimo le-vantar o problema, e discuti-lo com efetiva vonta-de de encontrar a solução, o que, dissipados ospreconceitos, não é nada difícil. A pregação da idéiade reciprocidade na colaboração parece-me uminstrumento poderoso para que se alcance esseobjetivo – sou um cético que acredita emcatequese.

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“ATENDER À EXPECTATIVA DOPÚBLICO É BUSCAR A EXCELÊNCIA“

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m e r c a d o

As mudanças que vêm ocorrendo nocenário organizacional têm imposto pro-fundas transformações no mundo do tra-balho. A eliminação de níveis hierárqui-cos, a terceirização de atividades, aobsolescência de conhecimento e de pro-fissões por adventos tecnológicos têmmodificado as condições de trabalho ede emprego. Isto faz com que a obten-ção de um emprego formal, estável, nãoseja uma tarefa fácil, especialmente paraos jovens que iniciam sua carreira pro-fissional.

Outra transformação significativaque vem ocorrendo no mundo do traba-lho é o conceito de carreira profissio-nal. Até pouco tempo atrás, uma dasformas mais eficazes das empresasatraírem e manterem bons profissionaisera ofertar a perspectiva de uma car-reira profissional, entendida como“...uma estabilidade no emprego, umaboa remuneração, um futuro profissio-nal relativamente bem traçado e previ-sível, uma formação adequada e umaética no trabalho”. Subjacente a essalógica, estava a idéia de que a empresairia cuidar de seus profissionais, numarelação paternalista. Face às transfor-mações acima citadas, esse conceitotradicional de carreira vem sendo subs-tituído pelos da empregabilidade (capa-cidade de conseguir emprego) etrabalhabilidade (capacidade de desem-penhar atividades com ou sem vínculoempregatício). Nessa nova perspecti-va, o profissional passa a ter a necessi-dade de controlar sua própria carreira,desenvolvê-la e gerenciá-la adequada-mente.

Pesquisa realizada por Bates e Blochcom 300 empresas e 184 profissionaisnos Estados Unidos mostrou resultadospreocupantes:

CENTRAL DE ESTÁGIOS, A OPORTUNIDADE DE

ADMINISTRAR CARREIRAS- 14% identificaram que há “mercado” para

suas qualificações e conhecimento;- 27% dizem ter metas de longo prazo

para a carreira;- 11% estão conscientes de seus pontos

fracos e têm planos de se desenvolverpor conta própria;

- 24% sabem quais qualificações e co-nhecimentos serão necessários para ocrescimento profissional em sua áreade atuação;

- 12% têm prontas as informações ne-cessárias para elaborar um currículo.

Sem experiência e sem a qualificaçãoadequada, num mercado que tem elimi-nado muitos postos de trabalho, o jovemque busca seu primeiro emprego é joga-do no mercado informal de trabalho, ex-posto a condições precárias, sem carteiraassinada, sem ter assegurado seus direi-tos trabalhistas e com baixos salários.

Dentre os mecanismos mais fáceisde acesso do jovem estudante ao mer-cado de trabalho, o estágio profissionalnão-obrigatório (aquele que é realizadovoluntariamente pelo aluno) surge comoo mais viável. Entretanto, esse tipo devínculo profissional tem sido muito criti-cado por se prestar a ser um mecanis-mo de contratação de mão-de-obra ba-rata, sem direitos trabalhistas em substi-tuição ao trabalhador normal (com vín-culo trabalhista).

Dentro desse cenário, e consideran-do que o capital de um profissional é asua competência, a Escola de Admi-nistração da UFRGS tomou a decisãode criar um projeto denominado “EAEstágios”, o qual tem como objetivos:

- Propiciar aos alunos da Escola de Ad-ministração a complementação do en-sino e da aprendizagem em termos de

treinamento prático, de aperfeiçoamen-to técnico-cultural, científico e de rela-cionamento humano, facilitando sua in-serção no mundo do trabalho;

- Capacitar o aluno para compreender,conviver, analisar e intervir na realida-de de sua formação profissional;

- Captar junto às empresas e órgãospúblicos oportunidades de estágio paraos alunos da Escola, permitindo aaprendizagem teórica e prática e adap-tação à realidade do mercado;

- Estabelecer mecanismos de aproxima-ção com as empresas, trabalhando aimagem da EA no meio empresarialpara facilitar o intercâmbio e formarum banco de dados de empresas inte-ressadas em oferecer oportunidades deestágios;

- Auxiliar os alunos no conhecimento domercado profissional, suas oportunida-des e tendências, proporcionando-lhecondições de correlacioná-las comseus objetivos de carreira;

- Apoiar e orientar os alunos em seusesforços de planejamento de sua car-reira profissional.

Com esse projeto, a idéia é enfatizaro caráter pedagógico do estágio não-obrigatório, para que este não seja enca-rado como uma questão meramente decusto e, sim, como o embrião de umacarreira, e que nossos alunos estejampreparados para lidar com as mudançase incertezas do mercado de trabalho.

César Augusto Tejera De RéCoordenador da Central de Estágios

da EA / UFRGSProfessor da EA/UFRGS

Mestre pela [email protected]

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e d u c a ç ã o

Cada vez mais se discute sobre opapel da universidade e seu compromis-so com os outros setores da sociedade,especialmente quando se trata do siste-ma público de ensino superior. Muitasvezes, as atividades de extensão sãoapontadas como os exemplos mais im-portantes dessa relação. Ao contrário,entendo que seja necessário reafirmarque a interação entre universidade e asociedade se faz, fundamentalmente, emduas dimensões: na formação de profis-sionais qualificados e com capacidade deinserir-se nessa mesma sociedade; e naprodução de conhecimento científico deponta.

Estas devem ser as reais faces visí-veis da universidade e os parâmetroscorretos de avaliação de sua atuação eexistência, sendo que a extensão atuanessas dimensões, em diversos momen-tos e em diferentes intensidades. As for-mas de atuação da extensão com essesentido são os programas, projetos eações isoladas, em que docentes, técni-cos e estudantes interagem com os ou-tros setores da sociedade e o meio am-

O PAPEL DA UNIVERSIDADENA INTERAÇÃO

COM A SOCIEDADE

biente, em uma troca de saberes queresultam em enriquecimento do ensino ena fertilização da pesquisa.

Os produtos gerados por essas ativi-dades podem e devem buscar extrapolaro meio acadêmico, sendo realmente im-portantes para a sociedade como umtodo. A formação continuada de profes-sores do ensino fundamental e médio, aprodução de material didático de quali-dade, a implantação da escola bilíngüeguarani-português, a regularizaçãofundiária, os laudos antropológicos dascomunidades remanescentes dequilombos são alguns dos exemplos emque as atividades de extensão geramconhecimento, qualificam o ensino e re-sultam em melhorias das condições devida para segmentos importantes da so-ciedade.

Em relação a essas atividades, umcuidado é essencial: a universidade nãodeve ocupar o espaço de executora depolíticas públicas que sejam de respon-sabilidade de outras instituições. Deve auniversidade gerar conhecimento sobreessas políticas, criticá-las, quando for o

caso, preocupar-se em analisar suas pos-sibilidades e formas de ampliação demaneira a inserí-las na formação de seusestudantes.

A universidade também tem atuaçãodireta junto aos outros setores da socie-dade por meio da prestação de serviçosdiversos, como os que ocorrem nos hos-pitais e clínicas universitários, nos cur-sos de formação continuada, responsá-veis pela divulgação dos avanços aosprofissionais já formados, nos laborató-rios que executam as mais diversas aná-lises, nas assessorias e consultorias e nasparticipações nos diversos fóruns da so-ciedade organizada. Na proposição detodas essas ações, o resultado acadêmi-co que será gerado deve ser considera-do como parâmetro fundamental de ava-liação de sua validade, pois é com ainteração com os outros setores da soci-edade que se oxigena o fazer acadêmi-co, proporcionado que problemas reaise conhecimentos populares sejam traba-lhados com o rigor do método científico,possibilitando a retroalimentação da pro-dução da pesquisa e a atualização dasinformações analisadas em sala de aula.

Por outro lado, a universidade tam-bém assumiu, há muito tempo, o papelde difusora da produção artística, cultu-ral e científica. Várias universidades bra-sileiras apresentam, na sua estrutura,museus, rádios, cinemas, teatros, plane-tários e editoras que possibilitam o aces-so do público externo a obras e eventosdiversos, que muitas vezes não encon-tram espaço nos circuitos comerciais.Essas atividades também são aproveita-das como espaços de ensino e pesquisa,seja pela participação direta dos docen-tes, técnicos e estudantes na sua execu-ção, seja na formulação, planejamento,execução e avaliação dos eventos. Nes-sas ações, a universidade assume umaposição de vanguarda, ousando trazer onovo, ao mesmo tempo em que preser-va as manifestações do passado.

Por fim, quando se fala em extensãoe na interação da universidade com seuextramuros, entendo que, na verdade, oque se está discutindo é o próprio con-ceito ideal de uma sala de aula.

Fernando MeirellesPró-Reitor de Extensão da UFRGS

Mestre pela [email protected]

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t e n d ê n c i a

A interação universidade-empresa, ouseja, a criação e a transferência de co-nhecimentos entre estas organizações éum tema ainda controverso no contextoda universidade e nas empresas.

A universidade, uma instituição de900 anos cuja função é ser depositária,transmissora e geradora de conhecimen-tos, é, paradoxalmente, uma instituiçãomuito resistente a mudanças. Nos seusprimeiros séculos de existência, era res-trita à perpetuação e transmissão de umpequeno número de disciplinas destina-das principalmente à formação do clero.A orientação para outros segmentos dasociedade e a incorporação de novoscampos do saber, úteis para a formaçãode professores e outros profissionais, foimuito lenta.

Só no século XIX universidades eu-ropéias e americanas incorporaram amissão de gerar conhecimento científi-co e tecnológico e levaram mais de umséculo para começar a interagir com em-presas.

No caso do Brasil, onde a universi-dade não comemorou ainda o seu cen-tenário, foi somente nos anos 50 que ogoverno federal começou a propiciarrecursos para pesquisa nas universida-des e em institutos especializados. Atransferência de conhecimentos científi-cos e tecnológicos para as empresassomente veio a ocorrer nos anos 70, du-rante os governos militares, As grandesempresas públicas, de energia, transpor-te aéreo e comunicações, com seus gran-des centros de pesquisa e desenvolvimen-to (P&D), passaram a demandar das

UM BREVERETROSPECTO

universidades federais e estaduais de SãoPaulo a realização de pesquisas.

Na Universidade Federal do RioGrande do Sul (UFRGS), a evolução dainteração com as empresas seguiu tra-jetória semelhante. No início, nos anos70, este contato se deu também comempresas públicas. Nos anos 80 houveuma intensificação da interação comempresas privadas que, no entanto, nãotinham registro oficial na UFRGS. Foina década de 90 que a atividade passoua ter mais legitimidade, com a criaçãode órgãos de interface como a Funda-ção de Apoio da Universidade Federaldo Rio Grande (FAURGS), incubadorase o Escritório de Interação e Transfe-rência de Tecnologia (EITT), de formaque as interações universidade-empre-sa cresceram em número e visibilidade.O estabelecimento de normas e a cria-ção desses órgãos asseguraram o exa-me prévio das atividades a serem de-senvolvidas no âmbito da Universidadepor meio da formalização de convêniose contratos, bem como proporcionarammaior agilidade nos aspectos financeirosdas interações e maior garantia na pre-servação dos direitos de propriedade in-telectual da universidade. Hoje, aFAURGS registra 1295 projetos, a mai-oria de interação universidade-empresa.

Embora se perceba a tendência decrescimento das parcerias com as em-presas, há vários fatores que limitam es-tas interações. As diferenças de motiva-ções entre as empresas que aspiram in-corporar conhecimentos exclusivos paramelhorar, no mais breve espaço de tem-

po, a competitividade de seus produtos eserviços se contrapõem à natureza dotrabalho acadêmico que limita o uso detempo para atividades de pesquisa e im-pele à divulgação dos resultados das in-vestigações. Além disto, no Brasil, onúmero de empresas inovadoras e que,portanto, necessitam dessa interaçãocom a universidade é relativamente pe-queno (cerca de 20 mil). E mesmo es-tas, podem buscar o conhecimento quenecessitam em outras fontes, desenvol-vendo-o internamente ou adquirindo-o deoutras empresas.

Entretanto, a interação universida-de-empresa, apesar das restrições queainda sofre em alguns setores da UFRGSe nas próprias empresas, parece estardefinitivamente incorporada ao seu re-pertório de atividades, como em todasas universidades que realizam pesquisa.Com ajustes na atuação de ambas as par-tes, esta interação poderá contribuir parao desenvolvimento de competências dosegressos da universidade, das empresase para o desenvolvimento sócio-econô-mico do país.

Edi Madalena FracassoProfessora da EA/ UFRGS

Coordenadora do Núcleo deGestão da Inovação Tecnológica

PhD. Harvard University, [email protected]

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p e s q u i s a

A importância da pesquisa científi-ca e tecnológica para o desenvolvimen-to econômico é praticamente uma una-nimidade. As discordâncias começamquando as questões mais práticas e es-pecíficas são tratadas, principalmenteno que tange aos recursos aplicados:quanto investir e em que áreas; comomedir os benefícios e gerir o proces-so; qual é o “timing”. Parte do proble-ma advém da natural complexidade doprocesso de interação entre pesquisabásica, pesquisa aplicada, inovação edesenvolvimento econômico. Outraparte do problema vem dos diferentesatores envolvidos, essencialmente acomunidade acadêmica, as empresase o governo. Eles têm entendimentosdiferentes sobre a dinâmica desse pro-cesso, bem como interesses diversose em alguns aspectos conflitantes.

É, portanto, fundamental que sefaça um esforço no sentido de um me-lhor entendimento deste quadro com-plicado, para que se tenha uma base

CIÊNCIA E TECNOLOGIAA SERVIÇO

DO DESENVOLVIMENTOECONÔMICO

comum de fatos e conceitos que pos-sibilitem ações eficientes e eficazes.O recente lançamento, pelo MinistroFurlan, da “Política Industrial” do Go-verno, onde C&T e inovação desem-penham um papel fundamental na mo-dernização da indústria, torna o assun-to bastante urgente. Além disto, se to-marmos dois indicadores representan-tes desta problemática, o número deartigos publicados em revistasindexadas e o número de patentesregistradas no EUA, comparando oBrasil com a Coréia do Sul, veremosque em nosso País, o número de pa-tentes é significativamente menor,muito embora, as publicações científi-cas sejam em número semelhante,como tem ressaltado com muita pro-priedade o Prof. Brito Cruz, daUnicamp.

Finalmente, e como ilustração dra-mática deste problema é importanteconsiderar dois grandes mitos que ain-da circulam no País: o de que a Uni-

versidade é o lócus de conhecimento,enquanto que a empresa é a base do“fazer”. Na verdade, a empresa mo-derna é essencialmente conhecimen-to, e mais ainda, é o local onde se dárealmente inovação e a pesquisa apli-cada. Outro mito é o chamado “mo-delo linear”, que estabelece uma ca-deia linear, começando com pesquisabásica, que gera necessariamentepesquisa aplicada, a qual se transfor-ma em inovação e no final em produ-to. Na verdade, a situação é muitomais complexa e muitas vezes inver-sa, onde pesquisa aplicada demandapesquisa básica e gera conhecimentocientífico de ponta.

João Alziro Herz da JornadaDiretor de Metrologia do Inmetro

Membro da AcademiaBrasileira de Ciências

Professor Titular do IF - UFRGSDoutor em Ciências pela UFRGS

[email protected]

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d i s c u s s ã o

Muito se tem falado sobre a interaçãouniversidade-empresa, especialmente apartir dos anos 80, quando a intensifica-ção da competitividade internacional e adisputa pelos mercados incorporaram oconhecimento científico e tecnológico aoproduto, o elemento distintivo das eco-nomias desenvolvidas.

Na teoria, a adequada articulaçãoentre universidade, empresa e governo,como fator indispensável ao desenvolvi-mento econômico das nações, tem sidoobjeto de análise por vários autores. NaAmérica Latina, o marco teórico de re-ferência é o estudo de Sábato e Botana(1968), conhecido como o Triângulo deSábato. Além deste, muitos outros es-tudos têm sido desenvolvidos sobre sis-temas nacionais de inovação. Os pontoscomuns nas análises são os atores en-volvidos – universidade, empresa e go-verno -, e se distinguem na forma de in-terpretar as relações entre estes atores.

Na prática, a intensificação da coo-peração entre universidades e empresastem requerido uma maior formalizaçãodos procedimentos, com relações regidaspor contratos que incluem aspectos atéentão pouco conhecidos no ambienteuniversitário, tais como o sigilo e aregulação dos direitos de propriedadeintelectual gerados no contexto dos pro-jetos cooperativos de P&D.

Por outro lado, novas formas de trans-ferência do conhecimento têm sido de-senvolvidas, por meio de incubadoras deempresas e de parques tecnológicos, lo-

UNIVERSIDADE - EMPRESA:O DESAFIO DOS

RESULTADOS

calizados no próprio campus universitá-rio, ou pela comercialização detecnologias e licenciamento de patentes,requerendo, para isso, a criação de me-canismos institucionais para realizar aadequada gestão destas atividades.

Embora se percebam avanços signi-ficativos neste cenário, comprovadospelos inúmeros projetos aprovados nosdiversos Fundos Setoriais, que, via deregra, requerem a parceria universida-de-empresa, o grande desafio, ainda, re-side nos resultados obtidos nestes proje-tos, em termos de novos produtos/pro-cessos colocados no mercado.

Uma pesquisa realizada em 2003,com o apoio da FINEP, em 13 universi-dades brasileiras, demonstrou que os prin-cipais resultados obtidos na interaçãocom empresas concentram-se nospapers publicados pelos pesquisadores,na capacitação de estudantes bolsistasou funcionários na empresa e no inter-câmbio de informações. Nas 1065interações relatadas, apenas 29 registra-ram o desenvolvimento de um novo pro-duto comercializado.

Mesmo que positivos, desde o pontode vista do cumprimento da missão bá-sica da universidade, que é a formaçãode recursos humanos e a produção deconhecimento, estes resultados revelamque as atividades de interação com em-presas ainda têm deixado a desejar emtermos de sua contribuição à inovaçãotecnológica.

Do ponto de vista da universidade,

os resultados observados refletem quena interação com empresas a atividadede pesquisa tem sido mais valorizada perse do que pela transformação do seuresultado em um novo produto colocadono mercado. Por outro lado, a pesquisademonstrou também que a interação comempresas e o envolvimento da institui-ção com o desenvolvimento econômiconão são considerados, explicitamente,papel da universidade, razão pela qual aênfase dos resultados está na produçãoacadêmica.

A mudança deste quadro e a melhoriado desempenho das universidades, comrelação à aplicabilidade dos resultadosde pesquisa, passam, necessariamente,por uma ampla discussão sobre o papelda universidade no desenvolvimento eco-nômico, seja por meio da pesquisa ou daprestação de serviço. Explicitar esta fun-ção, como uma atividade legítima da ins-tituição, permitirá à universidade produ-zir os avanços necessários para umacontribuição mais efetiva à superação dabrecha tecnológica que separa as em-presas brasileiras de suas concorrentesinternacionais.

Marli Elizabeth Ritter dos SantosDiretora do EITT/SEDETEC/UFRGS

Doutoranda em Administração naUniversidade Nacional Autônoma do

México [email protected]

A D M I N I S T R A Ç Ã O N O M I L Ê N I O - O U T O N O 2 0 0 422

e x p e r i ê n c i a

Criado em 1995, o Programa de In-gresso ao Ensino Superior (PEIES) seconstitui de um conjunto de ações que,além de dar ingresso a 20% das vagasdos cursos de graduação da Universida-de Federal de Santa Maria (UFSM), re-úne alunos, pais e professores em tornode um ideal comum, o acesso a umaeducação para todos.

Num acompanhamento contínuodurante as três séries do Ensino Médio,a universidade age, interage, subsidiaprocedimentos, oferece recursos huma-nos, assessora iniciativas, realiza cursos,proporciona encontros, difunde informa-ções, propõe atividades multidisciplinares,desenvolve ações pedagógicas,disponibiliza espaços, ou seja, expandeseus limites e vai em busca de uma cli-entela, a fim de alcançar seu objetivo dediminuir distâncias sociais no acesso àeducação.

O PEIES é a universidade nas es-colas da região. Adota estratégias quevalorizam e que se harmonizam com acomunidade em que está inserido. Cor-rige rumos e altera procedimentos, numaprocura de afinidade com as escolas, embenefício de uma educação continuada.O programa já possibilitou o ingresso de3.208 alunos na universidade. Aqueles

PEIES, UMA INICIATIVAÍMPAR DE INTERAÇÃO

que não conseguem classificação devi-do ao limite de vagas encontram-se pre-parados para enfrentar outros desafios.

Os alunos e professores das esco-las credenciadas no PEIES participamdas ações propostas pela UFSM, comoo Programa de Ações Pedagógicas e deFormação do Aluno-Cidadão, queoportuniza atualização, crescimento eaquisição de novas metodologias pormeio de ações como Click!, Mochilão,Janela Aberta, GincoPEIES, Grife doPEIES, entre tantas outras.

Temas como interdisciplinaridade econtextualização são, constantemente,discutidos com os professores das esco-las participantes. Há uma troca constantede informações. Relatórios personaliza-dos são enviados às escolas para possi-bilitar retro-alimentação de conteúdos oumetodologias.

Há um estímulo à criatividade, aodesenvolvimento do espírito científico eda pesquisa proporcionado pelas ativida-des propostas, como a Feira deTecnologia, Ciências e Artes do PEIES.A interação social é proporcionada peloPrograma Integração, com atividadesmultidisciplinares. A Feira das Profissõespromove o encontro de instituições comprofessores, orientadores educacionais,

pais e alunos com vistas a uma escolhaconsciente de curso. Temas polêmicose atuais são propostos no Quebra-Cuca,direcionado a alunos e professores. Pro-gramas desenvolvidos em parceria comoutras entidades contribuem para ainteração da universidade com a comu-nidade.

A aplicação das provas do PEIES nasescolas credenciadas, com vistas à sele-ção de alunos-candidatos, é realizada nopróprio município onde o aluno estuda,contribuindo para a universidade conhe-cer a diversidade das realidades presen-tes na região onde fortemente atua, alémde ser uma importante estratégia de in-serção social.

O PEIES alcança uma dimensãosem precedentes, ao visualizar-se o le-que de ações que é proposto a 85% doRio Grande do Sul, abrangendo e bene-ficiando um universo de 431 municípiosdistribuídos em 18 Coordenadorias Re-gionais de Desenvolvimento, onde há697 escolas públicas e particulares e cer-ca de 14 mil professores que participamdo programa, além de 281 escolas loca-lizadas em outros estados. A universida-de já registrou 215.589 inscritos noPEIES desde sua criação, além de1.042.318 alunos beneficiados com asações do programa.

A Universidade Federal de SantaMaria sai do convencional e implementaum projeto audacioso de interação emprol de uma educação de qualidade. Enão pretende parar por aí. O “Peiesinho”está a caminho, integrado com as Se-cretarias Municipais de Educação paraagitar o Ensino Fundamental.

Com a adoção do PEIES, a UFSMamplia e solidifica os propósitos com quefoi criada: atua, efetivamente, na regiãopor meio de troca de experiências entreo Ensino Superior e o Ensino Médio, bus-cando uma educação qualificada,estruturada em princípios e com a flexi-bilidade que permite andar junto com osnovos tempos.

Dario Trevisan de AlmeidaProf. da UFSM /Coordenador

Geral do PEIESMestre pela UFSM

[email protected]

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