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Ano 8 nº 93 novembro 2008 ENTREVISTA THOMAS HIRSCHFELD: NÃO HÁ CONCORRENTE GLOBAL PARA A LIDERANÇA NORTE-AMERICANA COMO NOS PROTEGER E MAIS A APROXIMAÇÃO ENTRE O BRASIL E A OCDE A EXPANSÃO DA NOTA FISCAL ELETRÔNICA

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Ano 8nº 93novembro2008

EntrEvistA Thomas hirschfeld: não há concorrenTe global para a liderança norTe-americana

Como nos protEgEr

E mAisA AproximAção

EntrE o brAsil E A oCDE

A ExpAnsão DA notA fisCAl

ElEtrôniCA

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Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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O crescimentO glObal vigOrOsO dOs últimOs anos foi uma das principais fontes de fortaleci-mento da economia brasileira, algo demonstrado reiteradas vezes pela cni. Mas o cenário mudou, e de forma rápida. as principais economias en-frentam hoje complexos desafios em conseqüência da maior crise financeira que se viu desde 1930. seus resultados já são perceptíveis na indústria com a reavaliação de projetos de investimentos.

sem dúvida, o brasil possui atualmente me-lhores condições para fazer a travessia da crise do que em qualquer período do passado. Mas é im-portante não esquecer que o enfrentamento das adversidades dependerá, e muito, de nossas ações. durante os anos de prosperidade, o País não avançou o quanto deveria nas condições estrutu-rais e institucionais para sustentar o crescimento econômico. Mais do que nunca, o momento exi-ge reformas que reduzam os custos de produção.

além de arcar com uma carga tributária den-tre as mais elevadas do mundo, as empresas brasi-leiras gastam muito para lidar com a complexida-de do sistema de impostos. a reforma tributária em tramitação na câmara dos deputados, apesar de não ser a ideal, tem o grande mérito de simpli-ficar o sistema. no senado, tramita o projeto da lei do gás, essencial para garantir novos investi-mentos. escoar a produção exige novas estradas, ferrovias e portos, que só se tornarão realidade com marcos regulatórios adequados.

no final do mês passado, a agenda para o desenvolvimento do País foi intensamente dis-cutida no 3º encontro nacional da indústria

(enai), promovido pela cni em brasília. os empresários brasileiros sabem que, ao lado dos avanços no ambiente institucional e na infra-es-trutura, um dos desafios mais importantes para o crescimento de seus negócios e do País é poder contar com recursos humanos qualificados.

a cni oficializou durante o enai o apoio ao movimento todos pela educação, que mobiliza esforços para garantir a universalização e a quali-dade do ensino. capital humano é insumo básico para a competitividade das empresas. sobretudo para inovar, sem o que é impossível se inserir no mercado global. toda a indústria, de grande ou pequeno porte, precisa ter a capacidade de de-senvolver novos produtos e processos produti-vos. com esse objetivo, a cni lançou no 3º enai a Mobilização empresarial pela inovação.

Fazer com que o País e a indústria avancem em várias frentes é indispensável para responder aos desafios do novo cenário. Mas não é sufi-ciente. Há um risco para o qual devemos estar atentos: a crise poderá reintroduzir discursos e conceitos que nos conduzam a retrocessos em conquistas consolidadas. não podemos nos afastar de nossos valores pétreos de confiança na economia de mercado. nosso potencial de cres-cimento sofrerá grande impacto caso haja ambi-güidades em relação ao papel da livre iniciativa.

Prevejo tempos difíceis em nossa ação de de-fesa da agenda da indústria. Um setor empresa-rial uno, organizado e articulado é fundamental para garantir avanços e evitar a irradiação de ondas intervencionistas.

O mOmentO exige refOrmas Para enfrentar a crise financeira internacional, o País deve promover reformas estruturais e reforçar a confiança na economia de mercado

www.cni.org.br

DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE); Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José de Freitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures (PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), Jorge Parente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis Benevides Gadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI); 1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO); 2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL); 1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT); 2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza Flexa Ribeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge Machado Mendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Prado de Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), João Francisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio André Guareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), Francisco Renan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco (SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio de Borges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCAL Titulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC); Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP), Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IEL Gerente executivo - Marcus Barros Pinto Tel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550 e-mail: [email protected]

ISSN 1519-7913 Revista mensal do Sistema Indústria

Coordenação editorial IW Comunicações - Iris Walquiria Campos

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

Redação Editor: Paulo Silva Pinto Editora-assistente: Daniela Schubnel Editora de arte: Ludmila Araujo Revisão: Shirlei Nataline Colaboraram nesta edição: Carlos Haag, Fernanda Paraguassu e Paulo Delgado

Publicidade Moisés Gomes - [email protected] Tel.: (61) 3323-1072

Impressão - Gráfica Coronário

Capa - DAI KuROKAWA/EPA/CORBIS

As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI. D

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16 Capa industriais defendem no 3º encontro nacional da indústria (enai) o

fortalecimento das empresas como caminho para o País enfrentar a crise global

24 Tributação nota fiscal eletrônica será obrigatória nas operações entre algumas

empresas a partir de dezembro, o que deverá aumentar a arrecadação

28 Empresas Prêmio cni reconhece o valor de empresas de todos os tamanhos e regiões

do País na capacidade de gestão, criatividade e responsabilidade ambiental

30 Diplomacia o brasil se aproxima da organização para a cooperação e o desenvolvimento

econômico (ocde), o que parte do governo vê com restrições

38 Ambiente a escassez de água, que atinge parcela cada vez maior da população, faz

surgir soluções opostas: a privatização do abastecimento ou a gratuidade

ArTigos

50 CEnA PolíTiCA Paulo delgado afirma que a constituição de 1988 trouxe ganhos para a

governabilidade, mas inundou a sociedade com leis, regras e súmulas

sEçõEs

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10 EnTrEvisTA segundo o especialista em assuntos estratégicos thomas Hirschfeld, a crise

econômica global fortalecerá a posição dos estados Unidos

22 TEnDênCiAs EConômiCAs os efeitos da crise global já são perceptíveis no brasil, com maior dificuldade

no acesso a financiamento e menor confiança no crescimento econômico

44 CulTurA o coreógrafo Klauss Vianna, que revolucionou o teatro, tem a obra reunida

em arquivo digital, com depoimentos de alguns dos maiores atores brasileiros

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TransporTe enTre Índia, Brasil e África do sulo comércio do brasil com Índia e África do sul (grupo chamado ibas pelas iniciais dos três países) depende de novos investimentos em infra-estrutura de transportes para manter o ritmo de crescimento dos últimos anos. o alerta é do gerente-executivo da Unidade de comércio exterior da cni, José Frederico Álvares. ele apresentou em nova délhi, na Índia, no dia 14 de outubro, estudo da cni que aponta a necessidade de investimentos nos três países, principalmente na infra-estrutura portuária, para garantir o cumprimento da meta de aumentar o comércio intrabloco para Us$ 15 bilhões em 2010. entre as recomendações, está a criação de um porto, em cada um dos três países, que sirva de plataforma de conexão com os demais parceiros. esses portos seriam alimentados por navegação de cabotagem ou por empresas que operam rotas mais curtas. além disso, é sugerida a concentração das operações de transbordo de carga entre brasil e Índia em um porto sul-africano. o estudo foi apresentado em evento paralelo à reunião dos chefes de governo do ibas em nova délhi.

cerTificação de eTanolo instituto nacional de Metrologia, normalização e Qualidade industrial (inmetro) começou em outubro os testes de campo do Programa de avaliação de conformidade para etanol combustível. o objetivo é colaborar na superação das barreiras não-tarifárias que podem vir a ser criadas para o etanol brasileiro no comércio exterior. deverão ser feitas até dezembro duas ou três certificações-piloto para fechar os critérios de certificação e elaborar uma proposta de regulamento de avaliação. a decisão de implementar a certificação ficará a cargo do governo.

TransporTe na américa laTinao aumento das exportações na américa latina depende mais da diminuição dos custos dos transportes do que da redução de tarifas. se os países reduzissem em 10% os custos com frete, haveria um crescimento de mais de 20% no comércio da região. as informações estão na pesquisa Desobstruindo as artérias: o impacto dos custos de transporte sobre o comércio exterior da América Latina e Caribe. o estudo foi produzido pelo banco interamericano de desenvolvimento (bid) e apresentado no dia 1º de outubro, em brasília, durante o seminário Transporte para o Comércio e a Integração Regional, realizado pela cni, em parceria com o bid. a pesquisa revela que a américa latina gasta 7% do valor das exportações com frete, quase o dobro dos 3,7% gastos pelos estados Unidos. entre as sugestões apontadas está a criação de uma agenda de transporte nas discussões de comércio exterior.

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fesTival sesi músicano dia 9 de novembro, no centro de convenções Ulysses guimarães, em brasília, será realizada a etapa final da edição nacional 2008 do Festival sesi Música. dos 330 trabalhadores da indústria e familiares que se inscreveram, serão escolhidos os 10 vencedores. eles receberão troféu comemorativo e participarão da gravação do dVd. além disso, os três primeiros colocados ganharão r$ 5 mil, r$ 4 mil e r$ 3 mil, respectivamente. organizado pelo sesi, o festival tem como objetivo estimular o desenvolvimento de composições, interpretações e o gosto pelo aprendizado de instrumentos. “o sesi vai prestar também assessoria às indústrias e aos trabalhadores, melhorando a qualificação para a música”, disse a analista de negócios sociais do sesi lucinaide Pinheiro.

cozinha moçamBiqueo sesi gaúcho inaugurou no dia 17 de outubro, em Maputo, Moçambique, em frente à embaixada do brasil, o caminhão do cozinha Moçambique, que inaugura a atuação do programa sesi cozinha brasil na África. o objetivo é conscientizar a população sobre a melhor maneira de reaproveitar os alimentos. cascas dos frutos, muito nutritivas, costumam ser desperdiçadas. Para a elaboração das receitas, foi feita uma extensa pesquisa sobre os hábitos alimentares da população moçambicana. com muitos pontos em comum com o brasil, a alimentação do país é baseada em frutas, como caju, manga, coco, além de mandioca, milho, feijão, abóbora, peixe e camarão seco. o programa sesi cozinha brasil já foi exportado também para o Uruguai.

modernização da consTrução civila Fiesp divulgou no mês passado estudo com propostas para modernizar as empresas de construção. o Caderno Técnico – Proposta de Política Industrial para a Construção Civil – Edificações traz cinco propostas para modernização e industrialização do setor: marco regulatório, revisão tributária, capacitação, inclusão de ti e inovação tecnológica. dentro de cada proposta, a Fiesp sugere algumas medidas prioritárias. Um marco regulatório que direcione o setor à industrialização, a definição de novos componentes na classificação de produtos e respectivas alíquotas de impostos, o incentivo à qualificação de mão-de-obra, o desenvolvimento de produtos sistêmicos e modulares, e a difusão do sistema brasileiro de certificação de Mão-de-obra. a construção civil é atualmente uma das atividades econômicas mais dinâmicas da economia brasileira: cresceu 10%, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do instituto brasileiro de geografia e estatísticas (ibge).

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responsaBilidade social nos negóciosas relações no ambiente empresarial exigem cada vez mais transparência, compromissos, redução de riscos e maior produtividade, com a garantia da qualidade de vida das pessoas. a análise é do presidente do conselho temático de responsabilidade social da cni, Jorge Parente. ele participou, em conjunto com representantes de empresas norueguesas instaladas no brasil, e de grandes conglomerados industriais brasileiros, do 2º Workshop sobre Cooperação em Responsabilidade Social. o evento foi organizado pela cni e confederação de empresas norueguesas (nHo) nos dias 9 e 10 de outubro, na Firjan. no evento, executivos de empresas como aracruz celulose e statoilHydro apresentaram casos de ações na área de responsabilidade social que resultaram até mesmo em mudanças culturais.

crédiTo para o disTriTo federala cooperativa credindústria, que oferece crédito a empresários do distrito Federal, liberou, até agosto deste ano, r$ 9,4 milhões para os associados. o crescimento é de 75,82% em comparação às operações de liberação de crédito ocorridas em todo o ano passado, que somaram r$ 5,3 milhões. criada por empresários da Fibra, a instituição, que fica dentro das instalações da federação, oferece taxas de juros que variam de 1,6 a 3,75% ao mês para operações diversas, e cheque especial de 3,99% ao mês. de acordo com o gerente de negócios da credindústria, carlos Fernando lages, uma das vantagens em pegar o empréstimo com a instituição, além do custo menor do que no sistema financeiro, é que a administração é feita pelos próprios cooperados, que conhecem as especificidades do segmento industrial. Mais informações pelo telefone (61) 3233-1212.

Tendências do emprego na indúsTriaempresários, profissionais da indústria que estão pensando em uma recolocação profissional, e aqueles que pretendem ingressar em uma carreira no setor industrial fluminense contam com uma nova ferramenta da Firjan. o Observatório Ocupacional Industrial (www.firjan.org.br/observatorioocupacional) tem por objetivo fornecer informações sobre as tendências do mercado de trabalho na indústria, com destaque para perspectivas, características, exigências das empresas e distribuição dos empregos formais industriais no rio. Há informações sobre a oferta e a demanda de mão-de-obra industrial no estado, por região ou setor. É possível consultar quantos trabalhadores de determinada área estão empregados formalmente pelos municípios que compõem a região, e o número de estabelecimentos por atividade. o setor Petróleo e gás, por exemplo, é um dos que oferecem remuneração das mais altas. Mas é também o que exige o maior nível de qualificação e formação. neste caso, para quem já está no mercado, a sugestão é investir em cursos de especialização.

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apoio às exporTações gaúchasa micro, pequena e média empresa gaúcha contará com mais um estímulo para alcançar o mercado externo. será lançado até o final do ano o Projeto extensão industrial exportadora (Peiex). a iniciativa foi desenvolvida especialmente para orientar empresas que ainda estão fora do processo de internacionalização. o programa é resultado de uma parceria da agência brasileira de Promoção de exportações e investimentos (apex-brasil) com a Fiergs e o iel do estado. serão compostos núcleos na região Metropolitana de Porto alegre e na serra gaúcha, em uma primeira fase. na etapa posterior, quatro novos núcleos serão instalados. as empresas interessadas deverão se inscrever nesses núcleos, que começarão a operar até dezembro. o investimento previsto para o rio grande do sul é de r$ 2,3 milhões e deverá beneficiar aproximadamente 1.300 indústrias. Mais seis estados serão incluídos no projeto até dezembro. até o final de 2009, deverá atender cerca de 5.000 empresas em todo o brasil, resultando em mais de r$ 8 milhões em investimentos.

compeTiTividade para serrarias o setor de beneficiamento da madeira do ceará vai ganhar competitividade com a central de negócios rede Madeiras. o empreendimento, formado por 11 serrarias da região metropolitana de Fortaleza, beneficiará empresas de todo o setor. será possível comprar em conjunto, obtendo preços mais baixos, elaborar estratégias de venda e até planos de marketing coletivos. a central foi apresentada oficialmente ao mercado durante a Feira de Máquinas e componentes para a indústria de esquadrias e Móveis, realizada de 9 a 11 de outubro. o empreendimento tem o apoio do Programa de apoio à competitividade das Micro e Pequenas indústrias (Procompi), desenvolvido pela cni e serviço brasileiro de apoio às Micro e Pequenas empresas (sebrae). no ceará, o Procompi é coordenado pelo iel/ce. o Procompi atua em 92 projetos, em 24 estados. Mais informações pelo telefone: (85) 3474-1676.

fécula de mandiocaalunos do senai do acre participaram, no dia 30 de setembro, de uma aula especial sobre o uso da fécula de mandioca em receitas de pães. Foi testada uma receita de pão de hambúrguer, com 20% do ingrediente. “apesar de a fécula ser mais pesada, o pão ficou macio e o sabor pouco se alterou”, disse diocleciano brito, instrutor do curso e autor da receita. o esforço foi para preparar os alunos para atenderem ao projeto de lei aprovado no senado Federal, que pretende incentivar a cadeia produtiva da mandioca em todo o país. o projeto, que pode ser aprovado em breve na câmara, estabelece que prefeituras e governos deverão exigir dos seus fornecedores de biscoitos, pães e massas que a farinha de trigo receba mistura de algum derivado de mandioca. a adição do produto à farinha de trigo ocorrerá de forma gradativa no período de três anos: no primeiro ano, será na proporção de 3%, no segundo, 6% e do terceiro ano em diante, 10%. os moinhos que comercializarem farinha de trigo com a adição de derivados da mandioca também terão benefícios fiscais.

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a queda dO impériO americanO tem sidO prevista há décadas. nO mês passado, finalmente parecia ter se iniciado, diante da dificuldade do go-verno dos estados Unidos no enfrentamento da crise financeira que se originou no país e tomou conta do mundo. o analista de relações interna-cionais e estratégia thomas Hirschfeld duvida, porém, de que os estados Unidos sairão mais pobres e fracos da crise. Por uma razão simples: não há concorrente de peso para ocupar a posição militar e econômica do país.

Hirschfeld, que foi diplomata dos estados Unidos por três décadas, discorda de que os russos tenham poder de fogo para uma guerra contra países europeus, diferentemente do que sugerem os conflitos com a geor-gia. ele conhece bem o assunto: diplomata a serviço do governo dos esta-dos Unidos, representou, na década de 1980, a organização do tratado do atlântico norte (otan), que reúne os principais exércitos ocidentais em negociações de desarmamento com o Pacto de Varsóvia que, antes da queda do Muro de berlim, incluía a União soviética e o leste europeu.

no aspecto econômico, Hirschfeld põe em dúvida as previsões de que a china se tornará a principal potência global até meados deste século. o país tem fragilidades demográficas, sociais e ecológicas, que tendem a se tornar cada vez mais evidentes. Hirschfeld falou a indústria Brasileira durante sua primeira visita ao brasil, no mês passado, em que proferiu palestras na Universidade de brasília (Unb), na escola superior de guerra (esg) e no centro brasileiro de relações internacionais (cebri), ambos no rio de Ja-neiro, e, em são Paulo, na Fundação armando Álvares Penteado (FaaP).

crise fortalecerá os estados UnidosSegundo especialista em análise estratégica, o país não perderá influência global. Ele vê exageros na avaliação do poder militar da Rússia e econômico da China

por paulo silva pinTo

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thomAs hirschfeld

indústria Brasileira – É possível prever, nas rela-ções internacionais, algumas das conseqüências da crise financeira que o mundo atravessa?Thomas Hirschfeld – na europa e nos estados Unidos, as pessoas estão ficando muito ansiosas, com medo de perder seus empregos. a generosi-dade vai diminuir, e com isso a ajuda externa a países mais pobres. Haverá uma reação mais forte também à imigração. a xenofobia crescerá.

iB – O próximo presidente dos Estados Unidos resistirá a isso [a entrevista ocorreu an-tes da vitória de Barack Oba-ma na eleição presidencial]?TH – Mesmo apoiando obama, não acho que John Mccain seja contra os imi-grantes, diferentemente da posição de outras pessoas em seu partido. Mas eu tenho muita pena do pró-ximo presidente dos estados Unidos, seja lá quem for. os dois candidatos continuam falando das pro-messas que fizeram há seis meses, como se fossem sustentáveis. e é claro que não são. as dificuldades farão com que seja difícil manter a generosidade.

iB – Haverá mais conflito entre países?TH – não. os conflitos entre países vêm dimi-nuindo nos últimos 50 anos. a maior parte dos conflitos é interna ou transnacional. a idéia de

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as pessoas brigarem por recursos é algo do século 19, não faz sentido hoje. eu ouvi o seu presidente falar da necessidade de defender essa sensacional descoberta de petróleo [na camada pré-sal], pela qual os brasileiros merecem os parabéns. Mas eu não consigo imaginar quem atacaria plataformas de petróleo do brasil, a não ser terroristas.

iB – A Guerra do Iraque não teve o petróleo como uma das motivações?TH – a guerra do iraque é algo complexo. de todas as explicações que ouvi, a mais plausível é que faz sentido estratégico. Quando se falou, an-tes da guerra, no eixo do Mal, composto por irã, iraque e coréia do norte, o que importava é que havia risco de esses três países se tornarem potên-cias nucleares. todos esses países, na avaliação do governo bush, deveriam passar por uma mudan-ça de regime político. o alvo militar mais fácil era saddam Hussein. Paradoxalmente, na guerra do afeganistão e na do iraque, nós acabamos com os principais inimigos do irã: saddam Hussein e o talibã. o petróleo, embora esteja contido no ob-jetivo estratégico, não foi um motivo dos mais re-levantes para a guerra. Qualquer um que governe o iraque tem uma única opção para o petróleo que produz: vendê-lo no mercado internacional.

iB – Da lista de ameaças, restam o Irã, a Coréia do Norte, e também grupos ter-roristas, como a Al Qaida.TH – o irã é algo difícil de entender para os pró-prios iranianos. Mas o fato

é que o regime dos aiatolás dá sinais de enfraque-cimento. a coréia do norte é um estado pirata, que falsifica dinheiro de países estrangeiros para pagar importações. Mas o ditador do país [Kim Jong il] sabe que a coréia do sul não tem inte-resse na unificação dos dois países porque, com base no que ocorreu na alemanha, chegou à con-clusão de que o custo seria muito alto. e a china também não tem interesse na queda do regime, pois já tem 300 mil coreanos na Manchúria e vê com preocupação o crescimento de uma minoria

Guerras por recursos são algo do século 19; nenhum país atacará plataformas de petróleo brasileiras

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EntrE vista

não chinesa no país. Quanto à al Qaida, é uma versão islâmica dos grupos anarquistas do passa-do. nada que caracterize um inimigo titânico, uma ameaça global.

iB – A interferência russa na Georgia, em defesa dos separatistas da Ossétia do Sul, não sugere essa tendência de redução dos conflitos internacionais. Há riscos de a Guerra Fria voltar?TH – o episódio da georgia equivale à invasão de granada pelos estados Unidos em 1983: é algo muito pequeno. dê uma olhada na rússia de hoje. Você pode citar um cientista, compositor, escritor do país que tenha surgido e se destacado desde 1991? ou então de uma grande descoberta, uma patente? É um país decadente, com popula-ção que vem se reduzindo. eles perdem 750 mil pessoas por ano. a expectativa de vida para os homens brasileiros é de 68 anos. na rússia é de 59 anos. Falta investimento em todas as áreas, até mesmo na militar. não há novos armamentos. os russos acabam de concluir um submarino inicia-do em 1995, mas os mísseis ainda estão em testes. seus navios de guerra fazem bonito nos portos do mundo, atraem visitantes. Mas são todos velhas embarcações recondicionadas. no ano passado, a argélia mandou de volta os aviões russos que comprou. Há um grande problema para conse-guir peças de reposição. a rússia sofre da doença Holandesa: não consegue ter competitividade em sua indústria, em conseqüência das substantivas receitas com o petróleo. o país não está em posi-ção de impor nada a ninguém, a não ser aos euro-peus, pelo fornecimento de gás.

iB – Mas os russos não poderiam fazer uma guerra?TH – com quem? certamente não com os países europeus nem com a china. Um dos vizinhos da rússia, a Ucrânia, tem na criméia uma grande população russa. isso é um problema em poten-cial, mas não de grandes proporções. acho que foi um erro incentivar alguns dos vizinhos da rússia, como a Ucrânia, a integrar a otan [organização do tratado do atlântico norte, que reúne forças armadas de países europeus e os estados Unidos], embora não tenha sido um erro incentivar a inte-

gração à União européia, porque isso inclui várias exigências ao país que o tornam mais estável.

iB – A União Européia convidará a Turquia a integrá-la?TH – eu sinceramente espero que os europeus tenham a sabedoria de aceitar os turcos como membros da União européia. isso tem a oposição dos austríacos e de alguns franceses como o presi-dente nicolas sarkozy, com o argumento de que uma parte da turquia não está na europa. Mas há várias nuances na europa. a Ucrânia é euro-pa? a romênia é europa? se a turquia não entrar para a União européia, há grande chance de um retrocesso para os tempos anteriores à revolução de Mustafa ataturk [que fundou a república turca, baseada em valores ocidentais, diferente-mente do império otomano, ao qual sucedeu]. Poderá se tornar um país do oriente Médio. É difícil compreender quais as conseqüências disso, mas certamente não serão boas.

iB – O senhor falou da decadência da Rússia. Muitas pessoas gostam de falar também da deca-dência dos Estados Unidos. Qual sua opinião sobre o assunto?TH – a idéia de decadência leva em conta que os estados Unidos têm muito mais poder do que se verifica na realidade. eu não acho que o país tenha a capacidade de ditar as coisas no mundo, e duvido que muitos americanos achem que temos. Mesmo no auge da guerra Fria, os estados Unidos não poderiam ter atacado a União soviética, ou vice-versa, porque os dois países se destruiriam. outro aspecto dessa questão de decadência é que exigi-ria alguém ocupando o espaço dos americanos no mundo. Quem poderia ser? nos anos 1980, os americanos estavam histéricos, porque pensavam

Se não for incorporada à União Européia, a Turquia se transformará num país do Oriente Médio

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que os japoneses iriam dominar sua economia. os japoneses são bons em muitas coisas, mas não em todas, como se viu. atualmente a china está fazendo um trabalho sensacional. a ascensão do país como potência industrial é um milagre, algo que merece muito respeito. Mas é um erro extra-polar o crescimento recente da china até 2050 e considerar que o país será o líder global. o robus-to crescimento recente levou à modernidade 400 milhões de pessoas que viviam na pobreza. Mas ainda há 700 milhões de pobres. a renda per capi-ta ainda é baixa [Us$ 5.400, menor do que a de el salvador, de Us$ 6.000]. antes de ficarem ricos, os chineses ficarão velhos. em 2050, haverá 350 milhões de idosos, que terão de ser sustentados. a política de um filho por casal, que faz todo o sen-tido hoje, cobrará a conta até lá. e o país tem 15% menos mulheres do que homens, o que resulta em um enorme problema demográfico e social. outra preocupação é que o forte crescimento econômi-co tem resultado em danos ambientais terríveis: os rios do país estão secando. não sei exatamen-te o que vai acontecer, mas se a china continuar crescendo no ritmo atual, segundo especialistas, a ecologia do mundo não suportará. os chineses sabem de todos esses problemas, e dos riscos para a sua estabilidade.

iB – A crise que o mundo atravessa, originada nos Estados Unidos, pode prejudicar a liderança global do país?TH – eu não consigo avaliar as conseqüências dessa crise, mas acredito que os estados Unidos sairão dela mais fortes, como ocorreu nas crises an-teriores. tente pensar se dez anos atrás era possível imaginar o mundo de hoje. Previsões são muito difíceis de fazer, especialmente neste momento.

iB – Onde haverá mais conflito no mundo?TH – os países muçulmanos são um problema. não todos, certamente. a Malásia, por exem-plo, não é. a indonésia atualmente não é. Mas o oriente Médio é complicado por uma série de razões. É interessante ver como esses países enca-ram a violência. depois da saída dos soviéticos do afeganistão, na década de 1980, um dos chefes de milícia local lançou mais de 600 mísseis sobre cabul e fez milhares de mortos. e a indignação entre muçulmanos foi nula. o problema deles não parece ser a morte de muçulmanos, mas a morte de muçulmanos por não-muçulmanos. eu acho que o problema desses países tem a ver com auto-afirmação, com o fato de que no passado tinham maior poder político. Um sultão do im-pério otomano era uma figura muito poderosa, não só em seu país, mas em todo o mundo. na primeira metade do século 20, porém, a maior parte do mundo muçulmano era composta de colônias ou protetorados europeus, com exceção da arábia saudita. É um problema político, mas também é de organização da vida e das expectati-vas. É a idéia romântica de que tudo era melhor, mais puro, na época do profeta Maomé, portanto é necessário voltar ao mundo de então. Mas isso não é uma solução.

iB – A democracia está em declínio no mundo?TH – não. a maior parte dos países é razoavel-mente democrática. a democracia verdadeira é difícil de conseguir, mas existe. o brasil é uma verdadeira democracia, assim como os estados Unidos, o canadá, a maior parte da europa, a Índia. isso certamente não é para todo mundo. Um dos problemas do governo bush foi acreditar que se podia exportar democracia e capitalismo, coisas que não necessariamente andam juntas.

iB – Qual sua opinião sobre a idéia de criar um clube de democracias no mundo?TH – sou contra. Há muitos aliados dos estados Unidos, importantes para seus interesses, que não são democracias. É o caso da arábia saudita, país que é o maior produtor de petróleo do mundo e que assim será ao menos nos próximos dez anos.

Os chineses ficarão velhos antes de ficar ricos, pois a

política de um filho por casal cobrará a conta

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EntrE vista

iB – O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaça a estabilidade internacional?TH – chávez limita-se a um problema sul-ame-ricano. ele constrói seu poder político opondo-se aos estados Unidos. na américa do sul, sempre que se quer culpar um país pelos problemas, pen-sa-se nos estados Unidos, o que costuma funcio-nar, por boas razões e por más razões. chávez tem feito coisas perniciosas. não entendo por que compra tanto armamento. nada será suficiente para defendê-lo dos estados Unidos, que por si-nal não têm o menor interesse de invadir o país. submarinos e aviões funcionam para intimidar países vizinhos. o mais impressionante, porém, é a quantidade de fuzis que ele tem comprado, muito superior à necessidade das forças armadas da Venezuela. isso pode ter dois destinos: rebel-des em outros países – e há notícias de que as Farc [Forças armadas revolucionárias da colômbia] receberam alguns desses fuzis – ou a criação de uma força paralela em seu próprio país, um rival para o exército. Muitos países árabes e mesmo a União soviética fizeram isso. a vantagem para o líder é que pode colocar uma força contra a outra, caso seja ameaçado de deposição. Mas eu não es-tou muito preocupado com chávez. ele investiu pouco na produção de petróleo, que vem caindo. se o preço do barril do petróleo baixar a menos de Us$ 75 [estava em Us$ 69 no fechamento desta edição], seu governo não poderá suportar o atual nível de gastos. as únicas refinarias que po-dem processar o petróleo pesado da Venezuela estão nos estados Unidos, que compram 60% da produ-ção do país. a maior parte dos outros 40% vai para países que chávez quer ajudar, como cuba. os jogos de cena que ele faz têm muito a ver com importantes eleições no país em novembro.

iB – Chávez tentará fazer um acordo com o próxi-mo presidente dos Estados Unidos?TH – boa pergunta. É possível, e eu não sei qual seria a reação do novo presidente a isso. Uma coi-

sa é certa, porém, para qualquer um que venha a ocupar o cargo: terá nova política em relação a cuba, de abertura, mesmo que não seja algo imediato. a comunidade cubana na Flórida está entendendo cada vez mais que 60 anos de atritos não resultaram em nada.

iB – Países sul-americanos têm se mostrado hostis a in-vestidores brasileiros, com casos de expulsão de empre-sas e desapropriação. Como o Brasil deve reagir a isso?TH – o brasil é o maior país do continente. o que

o equador ou a bolívia podem fazer em termos econômicos contra vocês? Muito pouco. os mais prejudicados por essa hostilidade serão certamente os equatorianos e bolivianos. Quem vai investir nesses países, ou comprar seus títulos? talvez nin-guém. Uma coisa é certa quanto à reação que se deve tomar: nenhuma opção que envolva guerra, ou fechamento de fronteiras, faz sentido.

Equador e Bolívia não têm poder de atrapalhar o Brasil.

Vão perder investimentos, prejudicando a si mesmos

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enfrentando as adversidadesEmpresários industriais defendem o fortalecimento das empresas, e não o crescimento do Estado, como o caminho para o País enfrentar a crise global

por paulo silva pinTo e daniela schuBnel

Os indicadOres ecOnômicOs demOnstram que a crise financeira global já atinge de modo claro os negócios de empresas brasileiras. o crédito ficou mais caro e escasso, especialmente no que se re-fere ao financiamento para exportações; projetos de investimentos estão sendo revistos diante dos impasses quanto à trajetória do consumo interno e externo; margens de lucro diminuem; estoques aumentam de forma inesperada; e o Índice de confiança do empresário industrial, medido pela cni, atingiu no terceiro trimestre níveis mais baixos do que no segundo e terceiro trimestres do ano passado (veja gráfico na página 23).

as notícias inquietantes sobre os rumos da eco-nomia marcaram o 3º encontro nacional da indús-

tria (enai), realizado nos dias 28 e 29 de outubro em brasília. Mas não foram empecilho para as discussões de longo prazo acerca do desenvolvimento do País propostas no enai. ao contrário. Para os empresá-rios, tornou-se necessário, mais do que nunca, avan-çar na agenda que a indústria propõe para o País. ao mesmo tempo, é importante evitar respostas à crise que, em vez de fortalecer as empresas, resultem no crescimento ainda maior do estado. “não podemos nos afastar de nossos valores pétreos de confiança na economia de mercado. o nosso potencial de cres-cimento será ainda mais impactado caso haja am-bigüidades em relação ao papel da livre iniciativa”, afirmou o presidente da cni, armando Monteiro neto, na abertura do enai.

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cApAcApA

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o presidente do conselho de administração do grupo gerdau, Jorge gerdau Johannpeter, afirmou no enai que a redução dos gastos públicos é uma me-dida indispensável para enfrentar a crise. “se nossas empresas têm de fazer cortes quando enfrentam di-ficuldades, como é possível um setor que representa quase 40% da economia ficar com os mesmos cus-tos?”, indagou. gerdau citou sergipe como exemplo de um estado que conseguiu reduzir despesas de cus-teio. ele e Monteiro neto participaram de um talk show na manhã de abertura do enai, coordenado pelo jornalista william waack, que teve também a presença do ministro da Fazenda, guido Mantega, do presidente da comissão de assuntos econômicos do senado, aloizio Mercadante (Pt-sP), do senador tasso Jereissati (Psdb-ce), e do ex-presidente do banco central carlos langoni, diretor do centro de economia Mundial da Fundação getúlio Vargas (FgV). o presidente da cni defendeu o alonga-mento do prazo do pagamento de impostos como medida para reduzir a necessidade de capital de giro pelas empresas e, portanto, a dependência de crédito. o ministro Mantega afirmou que o governo cogita implementar essa medida.

os mil representantes de indústrias presentes no enai puderam também assistir e fazer pergun-tas em talk shows, palestras e painéis temáticos sobre

inovação e produtividade, associativismo, educação, infra-estrutura, inserção internacional, lobby, meio ambiente, sistema trabalhista, tributação e competi-tividade. inovação e educação são, para a indústria, temas-chave, que ajudarão a formar a agenda do se-tor e do País pela capacidade de ampliar, no médio e longo prazo, as bases da competitividade brasileira no cenário global.

com o objetivo de sensibilizar as lideranças em-presariais a assumirem a condição de protagonistas dessa agenda, a cni lançou, no enai, a Mobiliza-ção empresarial para a inovação (Mei). a meta é triplicar o número de empresas inovadoras e elevar o brasil ao patamar dos países desenvolvidos, crian-do condições de competição com emergentes como china e Índia.

a Pesquisa industrial sobre inovação do insti-tuto brasileiro de geografia e estatística (Pintec/ibge) mostrou que, das quase 90 mil empresas industriais estudadas em 2005, aproximadamen-te 30 mil declararam ter inovado, aprimorando ou introduzindo um novo produto no mercado ou na empresa, nos últimos dois anos. cerca de 20 mil empresas afirmaram ter investido r$ 33,7 bilhões no esforço para a inovação e 5.000 aplica-ram quase r$ 8 bilhões em atividades de pesquisa e desenvolvimento.

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os números brasileiros em Pesquisa e desenvolvi-mento (P&d) estão muito acima das principais eco-nomias latino-americanas, que colocam o brasil em condições de comparação com muitos países desen-volvidos. “ainda assim, não estamos suficientemente preparados. depois do desafio da qualidade, agora estamos diante de outro muito mais complexo, que é o da inovação”, afirmou o presidente do conselho de Política industrial e desenvolvimento tecnológico da cni e da Fiep, rodrigo rocha loures, ao lançar a Mei. Para loures a qualidade não é mais um dife-rencial, e sim obrigação das empresas. “a ordem ago-ra é inovar, nosso objetivo é transformar as empresas em centros de desenvolvimento de inovação, como acontece nos países desenvolvidos”, afirmou.

a Mei prevê ações como encontros de empresá-rios, formação de rede de parceiros para a inovação e a realização do 3º congresso brasileiro de inovação para a indústria, em 2009. a agenda da inovação é um movimento global, que une governos, academia e lideranças privadas. Países como estados Unidos, reino Unido, austrália e canadá, além da comuni-dade européia, já possuem iniciativas sobre o tema.

além do lançamento da Mei, a inovação foi desta-cada no enai com o Prêmio cni, entregue a empre-sas que se diferenciaram na criatividade de seus pro-dutos, em sua gestão e em ações de responsabilidade ambiental (veja reportagem na página 28).

a educação, o outro tema-chave para a indús-tria, é considerada base para a própria inovação, e, de modo mais amplo, para o avanço da produtividade industrial, crescimento sustentável e competitividade da economia brasileira. na abertura do enai, a cni formalizou sua adesão ao movimento todos pela educação, em documento assinado conjuntamen-te por Monteiro neto e o empresário Jorge gerdau Johannpeter, que preside o conselho de governan-ça do movimento. “não existe futuro para a nossa indústria e para a sua capacidade de enfrentar os desafios da inovação sem equipes bem preparadas e educadas”, afirmou o presidente da cni.

composto por representantes da sociedade civil, iniciativa privada, organizações sociais, gestores pú-blicos e educadores, o movimento todos pela edu-cação estabeleceu cinco metas que assegurem educa-ção básica para todas as crianças e jovens brasileiros,

PreocuPada com a qualidade

do ensino, a cNI aderiu ao

movimento Todos pela educação

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a serem alcançadas até 7 de setembro de 2022, data do bicentenário da independência do brasil. as metas são: fazer com que toda criança e jovem de 4 a 17 anos esteja na escola; alfabetizar toda criança de até 8 anos; garantir que todo aluno tenha aprendizado adequado à sua série; fazer com que todo jovem conclua o ensi-no Médio até os 19 anos; e que os investimentos em educação sejam ampliados e bem geridos.

amBienTe de negócios

embora os objetivos dos industriais se concentrem no desenvolvimento de longo prazo do País, há pre-ocupações também mais específicas quanto ao am-biente de negócios. nesse aspecto, destaca-se a re-forma tributária. o presidente da comissão que trata do tema na câmara dos deputados, antonio Palocci (Pt-sP), ex-ministro da Fazenda, afirmou, no talk show sobre tributação, que a reforma tem grande chance de ser aprovada. “não existe divergência en-tre oposição e governo quando se fala na ineficiência de nosso sistema de impostos”, afirmou.

a proposta em discussão propõe a desoneração dos investimentos e exportações, além da simpli-ficação. estudo da consultoria Pricewaterhouse coopers apresentado no evento demonstra que as empresas brasileiras gastam em média 2.600 horas por ano com o pagamento de tributos, dez vezes aci-ma da média mundial. Para a indústria, a reforma tributária em discussão não é a ideal, porque não inclui mecanismos para a redução da carga tributá-ria brasileira, que está entre as mais altas do mundo. Mesmo assim, a reforma é vista como um grande avanço, pela perspectiva de viabilizar politicamente a desoneração dos investimentos e das exportações, além da simplificação.

outra questão urgente para os empresários in-dustriais é o aprimoramento da infra-estrutura do País. no talk show sobre o tema, a ministra-chefe da casa civil, dilma rousseff, assegurou que o ritmo dos investimentos no setor não será afetado pela crise financeira e que a indústria poderá, portanto, contar com oferta de energia suficiente para o abastecimen-to até 2013. “Há oferta existente, nós chegamos aos menores preços possíveis, não corremos risco de apa-gão”, reiterou.

dilma rousseff acrescentou que o governo não pretende adiar ou minimizar as ações do Programa de aceleração do crescimento (Pac), e garantiu o crédito de longo prazo para obras de infra-estrutura, disponibilizado pelo banco nacional de desenvol-vimento econômico e social (bndes). “o Pac não é um problema, e sim a solução para a crise financeira mundial. estamos cada vez mais empe-nhados em assegurar um ritmo bastante elevado de desenvolvimento do programa”, disse a ministra.

os participantes do debate sobre infra-estrutura foram unânimes quanto ao fato de que é necessário garantir os investimentos em infra-estrutura. o pre-sidente do conselho temático de infra-estrutura da cni, José de Freitas Mascarenhas, afirmou que o brasil precisa aumentar os investimentos no setor para 5% do Produto interno bruto (Pib), o dobro do que se aplica atualmente. ele criticou as defici-ências na implementação dos projetos estruturais. “Precisamos de um ministério que trate da logística, e não só de obras. o governo disponibiliza recursos, mas a máquina [do estado] não tem capacidade de aplicar esses recursos.”

Para o vice-presidente da associação brasileira de grandes consumidores industriais de energia (abrace), eduardo spalding, a maior preocupação hoje é quanto à competitividade: “temos uma tarifa industrial das mais altas do mundo”. o presidente da associação brasileira de infra-estrutura e indústrias de base (abdib), Paulo godoy, sugeriu que sejam criadas estruturas de créditos suplementares para o setor, na forma de um fundo com aporte de r$ 10 bilhões. também chamou a atenção para o perigo da “judicialização do Pac”, ou seja, a contestação de várias obras na Justiça, o que leva à paralisação dos investimentos. “está na hora de repensarmos as estruturas burocráticas. temos de ter coragem de trazer essa questão para a opinião pública”, disse.

o diretor de operações e cabotagem da em-presa aliança, José antônio balau, concordou que a privatização dos terminais portuários trouxe gran-des avanços para os portos brasileiros, mas ponderou que ainda faltam investimentos em infra-estrutura. “o volume de contêineres movimentados pelos por-tos brasileiros dobrou de 1995 para cá; no mesmo período, as exportações passaram de Us$ 100 bi-

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lhões para Us$ 200 bilhões, mas a estrutura dos portos permanece a mesma”, alertou.

outro ponto de preocupação no curto prazo é a área de comércio exterior. empresários defendem medidas de apoio às empresas com a mesma ra-

pidez e abrangência que se tem aplicado ao siste-ma financeiro. o vice-presidente da associação de comércio exterior do brasil (aeb), José augusto de castro, propôs no talk show sobre a inserção internacional do brasil a extensão às operações

como o país pode avançarProblemas ProPostas

TribuTação

Carga excessiva, tendo passado de 25% do Produto interno bruto (Pib), em 1992, para 35,4% em 2007 Sistema demasiadamente complexo, com grande número de impostos e contribuições incidência sobre investimentos produtivos e exportações

Limitação dos gastos públicos de custeio e preservação dos investimentos redução da burocracia tributária realização da reforma da Previdência Social aprovação, pelo Congresso Nacional, de um novo Código dos Contribuintes

iNSerção iNTerNaCioNaL

burocracia aduaneira Custos elevados de transporte no comércio do brasil com demais países em desenvolvimento Dificuldades de acesso a financiamento para exportações; falta de compensação aos estados pela isenção do iCMS nas exportações risco de protecionismo, com o fracasso da rodada Doha e agravamento da crise global

Simplificação de procedimentos aduaneiros; operação contínua e ininterrupta das aduanas aprimoramento da infra-estrutura portuária e aeroportuária; aproveitamento dos rios navegáveis apoio a esforços para finalizar a rodada Doha e defender interesses das indústrias brasileiras nos organismos internacionais Melhora no acesso das micro, pequenas e médias empresas às linhas de crédito oficiais

iNfra-eSTruTura

Limitações na oferta de energia elétrica e gás natural Deficiências nos portos e transporte de cabotagem, e nos sistemas hidroviário, rodoviário e ferroviário

redução da carga tributária e desoneração de investimentos para a geração de energia Garantia de agências reguladoras estáveis e autônomas Garantia dos investimentos do governo no Programa de aceleração do Crescimento (PaC) reestruturação do sistema de gestão na área de transportes

iNovação

Dificuldades de acesso das empresas aos instrumentos de apoio à inovação falta de segurança jurídica no acesso a benefícios à Lei de inovação e Lei do bem

redução das incertezas jurídicas nos instrumentos de inovação redução da burocracia do financiamento de projetos para inovação incentivo aos parques tecnológicos e incubadoras de empresas fortalecimento de programas de sensibilização empresarial para a inovação aprovação de leis mais rigorosas contra a pirataria

SiSTeMa TrabaLhiSTa

falta de ajuste das instituições do trabalho – legislação, Justiça e organização sindical – às transformações tecnológicas e de gestão empresarial insegurança jurídica e falta de proteção aos trabalhadores geradas pela ausência de regulamentação da terceirização Custo excessivo de contratação rotatitividade

regulamentação da terceirização com urgência, garantindo proteção aos trabalhadores e segurança jurídica para as empresas redução dos encargos sociais da folha de pagamento, em especial para as micro, pequenas e médias empresas, criando um “simples trabalhista” estabelecimento de aviso prévio proporcional ao tempo de empresa, até o limite de 30 dias investimento em políticas de comunicação e educação em segurança e saúde do trabalho

aMbieNTe

falta de marco regulatório capaz de induzir o desenvolvimento sustentável e gerar confiança nos investidores Morosidade do poder público no setor ambiental

estabelecimento de teto de 0,5% sobre investimentos que causem impactos negativos não-mitigáveis Definição da competência dos entes federados para licenciar revisão do Código florestal para adequá-lo às novas práticas de conservação e aos desafios do desenvolvimento sustentável reavaliação da estrutura e a composição dos conselhos normativos e deliberativos, estabelecendo paridade na representação dos segmentos

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Langoni, Mercadante, Mantega, Monteiro Neto, Jereissati e Gerdau debateram o enfrentamento da crise global

de adiantamento de câmbio do Fundo de aval – atualmente restrito aos financiamentos do banco nacional de desenvolvimento econômico e social (bndes) – às micro e pequenas empresas. outra proposta é a adoção do seguro de crédito para os empréstimos à exportação.

a secretária-executiva da câmara de comércio exterior, lytha spindola, anunciou que no início do próximo ano o governo estenderá integralmente aos insumos adquiridos no País a isenção de im-postos do programa Draw-Back Verde-Amarelo, antiga reivindicação das empresas exportadoras. o programa estabelece a isenção aos insumos impor-tados usados na manufatura de produtos destina-dos à exportação.

no talk show sobre ambiente, empresários dos setores elétrico, mineral e químico defenderam a al-teração da regulamentação ambiental em vigor, com o objetivo de criar condições favoráveis ao desenvolvi-mento sustentável, e a definição clara das competências dos órgãos ambientais. o ministro do Meio ambien-te, carlos Minc, destacou a importância da adoção de cuidados por parte das indústrias que não impeçam o crescimento dos negócios e do País. ele disse concor-dar que o País continue crescendo, e afirmou concor-dar com a necessidade de mudanças, por exemplo, no marco regulatório do licenciamento ambiental.

“sou favorável ao equilíbrio da preservação am-biental com o desenvolvimento do País. É preciso diminuir etapas do processo e facilitar a renovação”, afirmou Minc, para quem, no entanto, a indústria também deve contribuir com apresentação de estu-dos de impacto ambiental e a adoção de mecanis-mos que reduzam o consumo de energia. “o grande avanço não é somente ampliar a fiscalização, mas incentivar o uso de tecnologias limpas”, disse.

o presidente do instituto brasileiro de Mine-ração, Paulo camillo Vargas Penna, afirmou que, apesar de o setor buscar, cada vez mais, implantar tecnologias limpas e obter certificações ambientais, isso não tem sido considerado para o licenciamento. Penna reclamou ainda quanto à representatividade da indústria no conselho nacional de Meio am-biente (conama): dos 108 conselheiros, apenas oito são do setor.

a Política nacional de resíduos sólidos, que deve ser votada no congresso nacional ainda em 2008, também foi debatida no encontro. o vice-presidente executivo da associação brasileira da indústria Química (abiquim), nelson Pereira dos reis, reclamou da tendência de deixar a responsa-bilidade sobre a questão para a indústria, e afirmou que a questão deve ser compartilhada com governo, comércio e o consumidor.

22 indústr i a br asileir a noV eMbro 2008

tEndência s Econômica s crescimento econômico

crise alcança o brasilRecessão instala-se com intensidade nos países industrializados e problemas financeiros disseminam-se entre as economias emergentes

por marcelo de Ávila e flÁvio casTelo Branco

a crise internaciOnal já tOmOu largas proporções de contágio global. as bolsas de valores de todos os países se desvalorizaram de forma rápida e intensa. com o cenário de maior incerteza, o capital estrangeiro – que era abundante nos países emergentes – voltou aos seus países de origem para preencher as lacunas das perdas sofridas com as operações lastreadas em títulos de segunda linha, cha-mados em inglês subprime.

a fuga de capital resultou em uma redução aguda e generalizada das linhas de crédito. o movimento de quebra de bancos de inves-timentos e outras instituições financeiras é algo sem precedentes desde os anos 1930. a baixa regulação do mercado norte-americano permitiu a ocorrência da “bolha especulativa imobiliária” e potencializou a crise.

no cenário doméstico, um conjunto de vantagens tem sido fundamental para auxiliar o País a enfrentar a falta de liquidez monetá-ria. Primeiramente, o crescimento do Produto interno bruto (Pib) é puxado, preponderan-temente, pela expansão da demanda interna

e não pela externa, de modo inverso ao que ocorreu nos anos recentes. o mercado de tra-balho ainda é fonte de boas notícias com au-mento do emprego formal e do rendimento real do trabalhador.

somado à lista de pontos favoráveis, o siste-ma bancário brasileiro é bastante concentrado e solidamente estruturado. no brasil, aproxi-madamente ¾ do total de ativos do sistema bancário está nas mãos de nove instituições financeiras de grande porte, incluindo o ban-co nacional de desenvolvimento econômico e social (bndes). essas instituições tam-bém detêm, aproximadamente, ¾ do crédito total e 80% de todos os depósitos bancários. a concentração da carteira de crédito nessas instituições reduz sobremaneira a vulnerabi-lidade do sistema bancário brasileiro em um período de restrição de liquidez como o que vivemos hoje.

o sistema bancário brasileiro tem como outra vantagem a baixa exposição nos títu-los da dívida hipotecária norte-americana (os subprimes), o que reduz muito as chances de

evolução do ibovespaEm pontos

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Desvalorização de 60%

FONTE: BOVESPA

risco Brasil e taxa de câmbioEm pontos-base (Risco Brasil) e reais por dólares (câmbio)

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Risco BrasilTaxa de câmbio

FONTE: JP MORGAN E BANCO CENTRAL

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uma situação como a que está ocorrendo nos países desenvolvidos, em que as instituições financeiras são levadas à concordata.

no entanto, as condições favoráveis de que o brasil dispõe não tornam o País incólume em meio à crise internacional. ao contrário, os desdobramentos da crise mostram-se com rapidez no País. o ibovespa, principal índice de referência das ações negociadas na bovespa, perdeu, aproximadamente, 60% de seu valor desde o pico de 73.153 em maio até 29.435 em outubro. o risco-país praticamente triplicou, em linha com os demais países emergentes, en-quanto o real sofreu uma maxidesvalorização de 43% frente ao dólar no mesmo período.

dificuldade para precificar

a brusca volatilidade da taxa de câmbio di-ficulta as empresas a avaliarem os custos e fi-xar seus preços. nessa esteira, houve fortes desequilíbrios entre posições cambiais ati-vas e passivas das empresas. algumas delas foram obrigadas a depositar novas margens em suas operações, o que impulsionou ain-da mais o valor da moeda norte-americana. o problema é que não se sabe o volume to-tal dessas operações e o tamanho das perdas que as empresas ainda deverão mostrar em seus balanços contábeis nos próximos trimes-tres, o que estimula um quadro ainda maior de incerteza.

a redução das linhas externas de crédito de curto prazo é outro impacto relevante. em especial, a interrupção das linhas de financia-mento às exportações causa danos à operação cotidiana das empresas. não só para as ex-portações, mas as linhas de crédito em geral já mostram redução importante. em outubro, a tendência de aumento do crédito foi inter-rompida e revertida para a redução devido à escassez de capital e à maior seletividade para a concessão de financiamentos.

a sondagem industrial da cni, referente ao terceiro trimestre de 2008, também apon-ta de forma clara alguns impactos da crise nas

empresas industriais brasileiras. apesar do ní-vel de atividade da indústria ter se mantido em crescimento de julho a setembro deste ano, com aumento da produção e do emprego, as grandes empresas registraram maior insatis-fação com as margens de lucro operacional e aumento não-planejado dos estoques.

esse panorama é corroborado pelo Índi-ce de confiança do empresário industrial (icei), também da cni, que ficou em 52,5 pontos no terceiro trimestre de 2008. esse ní-vel é 5,6 pontos abaixo do apurado no segun-do trimestre e 7,9 pontos menor do que foi re-gistrado no mesmo trimestre do ano anterior.

impactos negativos sobre a demanda e crescimento econômico no brasil ainda se farão presentes, especialmente em 2009. as medidas adotadas pelo governo de libera-ção de depósitos compulsórios das institui-ções financeiras e intervenções no mercado de câmbio são consideradas adequadas pela cni. no entanto, tais ações talvez não sejam suficientes para contornar os problemas de liquidez e capital de giro das empresas. Me-didas adicionais, como ampliação em caráter excepcional do prazo de recolhimento de tri-butos, podem se tornar necessárias de modo a reduzir as necessidades de capital de giro das empresas. a interrupção do ciclo de alta das taxas de juros complementa, momenta-neamente, o conjunto de medidas. a futura queda dos juros é condição para a normaliza-ção da atividade.

Índice de confiança do empresário industrialEm pontos

58,556,5

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FONTE: CNI

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impostos. “em termos de tecnologia e gestão pública, é um amadurecimento inegável”, diz Horácio Menin, diretor-executivo da Homine consulting – especiali-zada em implantar sistemas de gestão.

a indústria vê a introdução da nova tecnologia como algo positivo, mas defende cuidados para que

não cresça ainda mais a parcela da renda de que o estado se apodera. o gerente-executivo de Política econômica da cni, Flavio castelo branco, afirma que os ganhos com a eficácia da nF-e na redução da informalidade de-vem ser revertidos em diminuição de alíquo-tas de impostos para as empresas. “se hoje paga-se pelos que não pagam, quando esses começarem a pagar, a alíquota do icMs de-veria ser revista. sem garantias de que será

possível recuperar o crédito tributário e diminuir a carga tributária, a nF-e será apenas mais um contro-le sobre as empresas”, afirma o economista da cni. a carga tributária brasileira é de 35,4% do Produto interno bruto (Pib), segundo os dados mais recen-tes, do ano passado, e está entre as mais elevadas do mundo. o mapa Estratégico da indústria 2007-2015 estabelece sua redução progressiva para 30% do Pib em 2010 e 27% em 2015 como condições para crescimento sustentado do País.

o fim do papelA Nota Fiscal Eletrônica entre empresas torna-se obrigatória para alguns setores, o que aumentará a eficiência e dificultará a sonegação. Mas é preciso que o governo transfira os ganhos à sociedade

por fernanda paraguassu

a chegada de nOvas tecnOlOgias aO mercadO brasileiro impõe, muitas vezes, mudanças no sistema de gestão das organizações. Quando a sua adoção é obrigatória, os desafios tornam-se maiores. Um gru-po de empresas já é obrigado, desde abril deste ano, a usar a nota Fiscal eletrônica (nF-e), que será esten-dida a partir de 1º de dezembro para nove setores industriais. a nF-e entrará no lugar das notas impressas modelos 1 e 1a, usa-das em operações de compra e venda de mercadorias entre pes-soas jurídicas.

a empresa que in-sistir nas notas em pa-pel após o prazo deter-minado será autuada pelo governo e pagará multa que pode chegar a 50% do valor da mer-cadoria. as empresas se preparam para realizar ajustes em seus siste-mas de faturamento, mas ainda têm dúvidas sobre determinados aspectos relacionados à nF-e.

segundo o diretor-adjunto de Fiscalização da se-cretaria da Fazenda do estado de são Paulo (sefaz-sP), newton oller, líder do projeto no estado, a nF-e é um projeto em que todos ganham. seu objetivo é simplificar a vida dos contribuintes e permitir o acom-panhamento em tempo real das operações comerciais pelo Fisco e a troca de informações entre as autorida-des tributárias, o que deverá diminuir a sonegação de

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tributAção

lista. espera-se que novos contribuintes se interes-sem por serem emissores da nF-e, voluntariamente e gradualmente, independente do porte.

a data fixada inicialmente para o primeiro gru-po obrigado a usar a nF-e era 1º de setembro. Mas, segundo o gerente de Projetos de certificação digi-tal da serasa, Paulo gabech, o adiamento ocorreu pela escassez dos formulários especiais de contin-gência, usados quando há problemas de comuni-cação com o sistema das secretarias estaduais de Fazenda e não é possível obter a autorização para o transporte da mercadoria. “nada indica que haverá novo adiamento”, afirma.

a nF-e é um documento digital emitido e ar-mazenado eletronicamente. Para emiti-la, a empre-sa precisa ter um computador e acesso à internet. É necessário solicitar credenciamento na secretaria de Fazenda dos estados, obter uma certificação digi-tal e adaptar seu sistema de faturamento ou usar o emissor de nF-e disponibilizado pela sefaz-sP.

quem é obrigado a usar a nota fiscal eletrônica

DESDE AbRIL DE 2008

Fabricantes de cigarros Distribuidores ou atacadistas de cigarros Produtores e importadores de combustíveis líquidos

Distribuidores de combustíveis líquidos Transportadores e revendedores retalhistas

A PARTIR DE 1º DE DEzEMbRO DE 2008

Fabricantes de automóveis, caminhões, ônibus e motocicletas

Fabricantes de cimento Fabricantes e distribuidores de medicamentos para uso humano

Frigoríficos e atacadistas de carnes bovinas, suínas, bufalinas e avícola

Fabricantes de bebidas alcoólicas e refrigerantes Agentes que vendem energia elétrica ao consumidor

Fabricantes de semi-acabados, laminados e perfilados de aço

Fabricantes de ferro-gusa

o diretor do centro de serviços comparti-lhados do aché laboratório, sidinei righini, diz esperar que o governo faça bom uso dos dados dis-ponibilizados pelo sistema eletrônico. “espero que o mercado seja de fato monitorado e a nF-e seja um instrumento para garantir práticas de concorrência leal, positiva para todos”, afirma.

desenvolvido em parceria com a receita Fede-ral, o projeto da nF-e é coordenado pelo encontro nacional dos administradores e coordenadores tributários estaduais (encat) e um dos tripés do sistema Público de escrituração eletrônica (sPed), que também prevê a escrituração contábil e fiscal por meio eletrônico de forma escalonada, a partir do próximo ano.

como começou

o projeto da nF-e começou em 2005, com a par-ticipação voluntária de 19 empresas, incluindo a eletropaulo, a telefônica, a toyota, a Volkswagen, a wickbold e a souza cruz. em 15 de setembro de 2006, foram emitidas as primeiras notas com vali-dade jurídica. a partir daí houve um crescimento de adesões voluntárias.

Para as 19 empresas que participaram da pri-meira fase de implantação da nota, estima-se que o custo variou de r$ 300 mil a r$ 3 milhões. Mas oller, do governo paulista, destaca que estas empre-sas tiveram um desembolso maior porque seus fun-cionários participaram de diversas reuniões técnicas com a equipe das secretarias de Fazenda e receita Federal, tendo despesas com diárias e passagens em viagens pelo País, e porque foram as pioneiras no desenvolvimento, com gastos maiores de correções e aprimoramentos dos sistemas. “Para as empresas que implantarem hoje a nF-e, a expectativa é de investimentos bem menores em função de ser um modelo já conhecido pelo mercado e maduro”, diz o diretor da sefaz-sP.

desde 1º de abril deste ano, a nF-e é obrigató-ria para os setores de cigarros e combustíveis. entre os setores que terão de usar a nota eletrônica a partir de 1º de dezembro, estão fabricantes de automóveis, cimentos, medicamentos e bebidas (veja quadro na página 27). em 2009, novos setores entrarão para a

26 indústr i a br asileir a noV eMbro 2008

Mais fácil de arquivar, a nF-e reduz o consumo de papel das empresas – os dados devem ser guar-dados por cinco anos. Pode parecer algo pequeno, mas em grandes empresas isso faz grande diferença. segundo Menin, da Homine consulting, uma in-dústria do setor farmacêutico, em fase final de im-plantação do sistema eletrônico, que emite cerca de 30 mil notas por mês teve uma economia de 12% com a redução de papel. “Há clientes que emitem três milhões de notas por mês. o retorno do inves-timento é alto”, afirma.

além da redução dos custos de impressão de nota fiscal, aquisição de papel e armazenagem de documentos, os vendedores que emitem nF-e têm outras obrigações acessórias simplificadas, como a dispensa de autorização de impressão de docu-mentos Fiscais. o tempo de parada de caminhões nos postos fiscais de fronteira também é menor.

Já o comprador não terá mais que digitar as notas fiscais quando receber as mercadorias, re-duzindo erros de escrituração, e poderá planejar a logística de entrega pela recepção antecipada da in-formação da nota fiscal, que não chega mais na bo-léia do caminhão. o diretor da Homine conta que um cliente do setor de supermercados, que não tem a obrigação de emitir nF-e, ingressou no processo como voluntário, pois viu a oportunidade de obter

ganhos na recepção da mercadoria, por dispensar a digitação da nota. “o supermercado induz seus for-necedores a usarem nota eletrônica e isso gera um ecossistema favorável à mudança”, diz Menin.

Há expectativa até mesmo de que a nF-e po-derá se tornar uma ferramenta de competitividade, estimular o comércio eletrônico e aumentar a credi-bilidade da empresa no comércio internacional. o aché laboratório, por exemplo, que não emite um volume muito grande de notas por mês, aderiu vo-luntariamente em fevereiro deste ano, quando sua obrigação era a partir de dezembro, porque enxer-gou na nF-e um fator de transparência da operação. segundo righini, o sistema eletrônico dá agilidade na entrada de dados, otimizando processos inter-nos. na avaliação do diretor do aché, a vantagem para toda a cadeia produtiva será visível quando os distribuidores também aderirem ao projeto.

a previsão é de um aumento na prestação de ser-viços de qualidade no mercado, uma vez que o pro-jeto da nF-e exigirá especialistas para manutenção e suporte técnico, processo natural das tecnologias, que demandam reciclagem e atualização. enquan-to isso não acontece, gabech alerta para a possível escassez de profissionais especializados para quem deixar as adaptações para a última hora. “sugiro que as pessoas se preparem e confiem nos prazos”, diz.

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SuPerMercadoS estão aderindo

à nota eletrônica voluntariamente,

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tendem a induzir fornecedores a entrar no novo

sistema

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tributAção

passo a passoPara a emissão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), a empresa vendedora gera um arquivo eletrônico com as informações fiscais da operação comercial, com assinatura digital para garantir a integridade dos dados. Esse arquivo corresponde à NF-e, que será transmitido pela internet para a Sefaz de seu estado e que, por sua vez, fará uma pré-validação do arquivo e devolverá uma autorização de uso. A mercadoria somente poderá circular após essa autorização, que deve ser automática. Todas as NF-e emitidas serão transmitidas para a Receita Federal e, no caso de operação interestadual, para a Secretaria de Fazenda de destino da operação.

O trânsito da mercadoria será acompanhado por uma representação gráfica simplificada da NF-e. É o Documento Auxiliar da Nota Fiscal Eletrônica (Danfe), impresso em papel comum, única via, com código de barras para facilitar a confirmação de informações pelos fiscais. O destinatário terá que verificar a validade da nota no Portal Nacional da NF-e.

Menin explica que será preciso fazer uma limpeza do cadastro de clientes da empresa, o que gera um impacto grande. Na prática, terá que se tomar cuidado ao mencionar, por exemplo, um município, o que deverá ser feito por meio do código utilizado pelo IBGE, e o número do CEP tem que estar de acordo com o dos Correios. Se as informações não estiverem padronizadas, a nota fiscal poderá ser invalidada.

O diretor da Homine Consulting Horácio Menin destaca que as secretarias de Fazenda estão se adaptando para receber as notas eletrônicas e que, portanto, há uma preocupação também sobre a sua capacidade para receber um grande volume de notas. Ele lembra o que acontece no prazo final da entrega do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), quando o ambiente virtual da Receita Federal fica mais lento.

Menin cita o caso da Copersucar, produtora de cana-de-açúcar, açúcar e álcool, que, em meados de março, portanto há um mês da obrigatoriedade, teve que ingressar num processo de NF-e em contingência, devido à queda do sistema que processa o faturamento. “Se a Sefaz não estiver preparada, pode atrapalhar a logística da operação comercial”, afirma. O diretor do Aché Sidinei Righini, que já emite 100% das suas notas no formato eletrônico, diz que, por enquanto, a velocidade de resposta está adequada.

Uma pesquisa feita pela associação brasileira de e-business mostrou que, em 2006, o nível de conhe-cimento das empresas em relação à nF-e era baixo, cenário que se repetiu em 2007. a falta de clareza do projeto foi apontada como uma das principais bar-reiras para a implantação da nF-e. dentre as empre-sas ouvidas, 48% responderam que usariam a nota eletrônica apenas quando fosse obrigatório e 10% disseram não acreditar que o projeto trará algum tipo de retorno sobre os investimentos realizados.

o diretor-titular do departamento Jurídico da Fiesp, Hélcio Honda, afirma, no entanto, que a procura por informações está aumentando. tan-to que, para tirar dúvidas de contribuintes sobre a nF-e, a Fiesp elaborou uma cartilha e realizará um seminário no dia 5 de novembro, na sede da Federação, em são Paulo. o evento contará com a presença de representantes da receita Federal do brasil e da secretaria da Fazenda do estado de são Paulo, além de empresas que participaram da etapa piloto e já adaptaram seus sistemas de faturamento para enviar notas eletrônicas.

Menin conta que o modelo de nF-e adotado no brasil foi inspirado no modelo chileno que, por sua vez, se espelhou na Facturación electrónica da espanha, usada há cinco anos e considerada refe-rência no assunto. outros países da europa e da américa latina também adotam a fatura eletrôni-ca, com algumas diferenças entre eles. no chile, por exemplo, a nota fiscal tem 24 horas para ser aprovada – no brasil, a nota deve ser aprovada na hora e, somente depois do aval do Fisco, a merca-doria é liberada para circular. a grande diferença entre esses países é que o brasil é o único em que o uso é obrigatório.

entre os próximos passos do projeto da nF-e, segundo oller, da sefaz-sP, são alternativas de con-tingência à nota eletrônica, que estarão disponíveis a partir de 1º de dezembro. Para o segundo semes-tre do próximo ano, está prevista a necessidade de confirmação de recebimento da mercadoria.

“o que se percebe é que alguns contribuintes ainda estão indecisos em relação ao modelo de emissão que vão adotar. empresas menores estão numa expectativa de que modelos mais simples se-jam disponibilizados”, afirma Menin. o diretor do

aché destaca a importância de aderir antes do pra-zo obrigatório por causa dos ajustes finos que preci-sam ser feitos no sistema. ainda que sejam poucos, podem ser demorados.

no mercado há empresas que oferecem soluções de gestão para a nF-e. a Homine implanta, em parceria com a chilena south consulting, softwares que transformam a linguagem de texto na lingua-gem eletrônica exigida pela sefaz, vantagem para contribuintes que emitem um grande volume diá-rio de notas, como algo acima de 400 por dia.

a proposta da serasa, segundo gabech, é ser uma maneira mais rápida e econômica de a em-presa se adequar ao processo de acordo com a le-gislação. sem precisar investir em máquinas nem software, mediante um contrato de prestação de serviços, o emissor pode utilizar o ambiente de-senvolvido pela serasa.

28 indústr i a br asileir a noV eMbro 2008

excelência no pódioO Prêmio CNI 2008 reconhece a qualidade de gestão, responsabilidade ambiental e criatividade de empresas de todos os tamanhos e regiões do País

por daniela schuBnel

inOvaçãO e prOdutividade, desenvOlvimentO sustentável e design. as melhores práticas de 18 indústrias brasileiras, nessas três categorias, foram homenageadas com o Prêmio cni 2008, entregue pelo presidente da entidade, armando Monteiro neto, em cerimônia que encerrou o primeiro dia do 3º encontro nacional da indústria (enai), com apresentação da atriz ca-mila Morgado e show do compositor e instrumen-tista João donato.

criado em 2001, o Prêmio cni busca pro-mover o reconhecimento das empresas que, por meio da inovação, da ou-sadia e da criatividade, alcançam uma produção eficiente e sustentável, aumentam sua competi-tividade e fazem o brasil crescer. Foram premiadas as empresas que ficaram nos três primeiros luga-res em duas modalidades distintas das três catego-rias citadas acima: micro e pequena indústria, com faturamento bruto de até r$ 3,6 milhões anuais, e média e grande indústria, para as que estão acima desse patamar.

“É o justo reconhecimento para quem faz o brasil crescer. Mostramos não apenas à comunidade indus-trial, mas a todo o País, alternativas concretas para a modernização e crescimento econômico. Premiamos

a eficiência e a ousadia”, afirmou Monteiro neto na cerimônia. “com o Prêmio, a cni homenageia o mérito das empresas, além de dar visibilidade à exce-lência homenageada, facilitando o processo de disse-minação de novidades para o mercado”, completa o diretor de operações da cni, rafael lucchesi.

com 26 anos de exis-tência, a altus sistemas de informática, de são leopoldo (rs), ganhou o primeiro lugar na catego-ria inovação e Produtivi-dade, modalidade Média e grande empresa, ao de-senvolver o primeiro chip comercial brasileiro, en-comendado ao centro de excelência em tecnologia eletrônica avançada (cei-tec), empresa pública de fabricação de componen-tes eletrônicos, totalmente nacional, que vem se de-senvolvendo há oito anos no rio grande do sul.

o chip desenvolvido pela altus é parte dos con-troladores programáveis, produtos utilizados em

todos os processos de automação industrial, principal-mente nas plataformas de petróleo, dos quais a empresa é a maior fabricante nacional, e com tecnologia exclu-sivamente brasileira. com o projeto, a altus conseguiu reduzir em 10% o preço final do produto. o chip pos-sui um tamanho menor, consome menos energia e tem mais funcionalidade que os importados.

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do distrito federal, e, na outra página,

contador digital com chip da

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empresAs

resíduos industriais em insumos para outras empre-sas. convertendo água ácida, um resíduo industrial, em ácido sulfúrico a 45%, produto utilizado na in-dústria de mineração, a empresa conseguiu promo-ver a redução anual de 90 mil toneladas de resíduos sólidos que antes iam para aterros, e de 200 mil m³ de resíduos líquidos que iam para estações de trata-mento e depois eram despejados no oceano.

o novo processo da caraíba Metais aumentou a vida útil dos aterros sanitários de dois para oito anos e reduziu os custos em 75%. “o ganho econômico é muito expressivo, mas os maiores lucros são mes-mo ambientais. nós, da indústria, temos que ter a consciência de que dependemos da natureza não so-mente para viver, mas também para sustentar a nossa própria produção. de que adianta uma empresa ter capacidade instalada se não tem água? ganhar esse prêmio é um incentivo, pois eleva a moral da nos-sa equipe, melhora a imagem da indústria, de um modo geral, e ainda serve de exemplo para que ou-tras empresas também tenham iniciativas como essa, gerando um efeito dominó”, explica copello.

a bauen Plásticos ganhou o primeiro lugar na categoria design para Micro e Pequena indústria, com uma nova linha de embalagens desenvolvida para a schering Plough, fabricante do protetor solar coppertone. a nova embalagem resultou em custo menor e impacto ambiental mais baixo. “esse prêmio confere credibilidade aos ganhadores, pois a cni é uma instituição de grande importância e confiabi-lidade”, afirmou em seguida à premiação claudio Patrick Vollers, representante da empresa.

os vencedores

INoVaÇÃo e ProDUtIVIDaDe

GraNDe e MéDia iNDúSTria

aLTuS SiSTeMaS De iNforMáTiCa (rS)

Chip GbL, componente eletrônico de alto desempenho e competitividade internacional

2º lugar: Cooperativa Santa Clara (rS)3º lugar: Treetech Sistemas Digitais (SP)

MiCro e PequeNa iNDúSTria

CeNTraL WireLeSS TeLeCoM (MG)

Solio, carregador solar portátil, feito a partir de materiais recicláveis

2º lugar: Cerâmica Dantas (Ce)3º lugar: indusplast utensílios Plásticos (Pb)

DeseNVolVImeNto sUsteNtÁVel

GraNDe e MéDia iNDúSTria Caraíba MeTaiS (ba) aproveitamento de água ácida para produção de

ácido sulfúrico vendido a indústria de mineração2º lugar: águas de ouro fino (Pr)3º lugar: Metalúrgica forma (rS)

MiCro e PequeNa iNDúSTria TerMoGaL (SP) Circuito fechado da galvanoplastia, reduzindo em

95% o uso de água e 86% a geração de resíduo2º lugar: renk’s industrial (SP)3º lugar: apoena (Df)

DesIGN GraNDe e MéDia iNDúSTria MaSTerfrio (rJ) Novos bebedouros e purificadores de água, com

melhor design e preço mais competitivo2º lugar: CP eletrônica (rS)3º lugar: Globe Metais (Pa)

MiCro e PequeNa iNDúSTria baueN PLáSTiCoS (rJ) embalagens de protetores solares da Coppertone,

com menor impacto ambiental e maior funcionalidade2º lugar: Joal Teitelbaum esc. de eng. (rS)3º lugar: af Souza (rN)

“o Prêmio cni 2008 é um reconhecimento não só pela criação do chip, como também pelo nosso tra-balho como indústria que cresceu dentro da reserva de mercado, mostra que o brasileiro é capaz de produ-zir produtos de ponta, que a nossa indústria está acon-tecendo”, afirma luiz gerbase, presidente da altus.

o primeiro lugar da modalidade Pequena e Mi-cro indústria ficou com a central wireless telecom, empresa de Minas gerais que desenvolveu um car-regador que capta e armazena luz solar, produzido a partir de materiais recicláveis, capaz de carregar celulares, MP3 e aparelhos gPs depois de 12 horas de exposição ao sol. “o reconhecimento pela cni dá ainda mais vontade para realizar trabalhos ino-vadores, desenvolver novas tecnologias e alternativas para que o produto também tenha responsabilidade social”, diz Fernando luiz da cruz gama, represen-tante da empresa.

eduardo copello, diretor de segurança e Meio ambiente da caraíba Metais, indústria baiana que ficou em primeiro lugar na categoria desenvolvi-mento sustentável, afirma que a empresa “quebrou um paradigma” ao transformar

Divulgação

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diplomAciA

ingresso no mundo desenvolvidoO Brasil se aproxima da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as maiores economias do mundo. Mas parte do governo resiste à adesão

por daniela schuBnel

nestes tempOs de crise, em que Os própriOs países ricos apresentam propostas de revisão do arcabouço que rege as relações econômicas globais, abrem-se novas perspectivas aos paí-ses emergentes na comunidade internacional. e oportunidades que já estão na mesa há al-gum tempo ganham nova dimensão. É o caso da integração do brasil à organização para a cooperação e o desenvolvimento econômico (ocde), como membro efetivo. a instituição abriga desde 1961 os países de economia mais avançada, comprometidos com os ideais de de-mocracia política representativa e economia de livre mercado.

a indústria considera a integração do brasil à ocde altamente positiva. segundo especialis-tas, o fato de ser membro da organização poderá dar ao País maior peso nas mesas de negocia-ções internacionais, em questões políticas ou econômicas. outro benefício é que a organiza-ção promove análises profundas das instituições e mecanismos regulatórios dos países membros, contribuindo para aperfeiçoá-los. do lado do ônus, há o fato de o País ter de se adequar a determinações vistas com restrições, principal-mente por parte da diplomacia brasileira.

a ocde apresentou oficialmente em junho de 2007 o convite para que o brasil participe de um Programa de engajamento ampliado, pro-cesso de aproximação que envolve estudos e ava-liações de lado a lado e não tem prazo para ter-minar. na etapa seguinte, poderá haver convite formal para o País se tornar membro efetivo da

organização, se desejar. além do brasil, também receberam a proposta de Enhanced Engagement, nome oficial do processo, china, Índia, indoné-sia e África do sul. outros cinco países têm suas candidaturas a membro efetivo já em análise: chile, estônia, israel, rússia e eslovênia.

a abertura da ocde a novos países é mais uma etapa de um processo iniciado nos anos 1990, quando se tornaram membros efetivos países como México, Hungria, Polônia, eslo-váquia e república checa. busca-se uma am-pliação que reflita com a maior fidelidade pos-sível a nova concertação mundial que vem se desenhando a partir do fim da guerra Fria, no final da década de 1980, e o peso econômico e político das nações emergentes.

a entrada do brasil na organização está en-tre as principais metas de seu atual secretário-geral, o mexicano angel gurría, ex-ministro

quem integra o clubeMEMbROS DA OCDEAlemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados unidos, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia

INTEGRAÇÃO EM ANáLISEChile, Estônia, Israel, Rússia e Eslovênia

EM APROxIMAÇÃOÁfrica do Sul, Brasil, China, Índia e Indonésia

32 indústr i a br asileir a noV eMbro 2008

das relações exteriores e das Finanças de seu país. “o diálogo multilateral é o único meio de lançarmos a pedra angular da coesão so-cial – um ingrediente chave para o progresso humano. ajudar a américa latina a melhorar sua coesão social e obter o melhor da globali-zação é uma tarefa nobre, mas também inte-ligente, pois um continente latino-americano próspero e estável é contribuição única para a prosperidade e a estabilidade da economia glo-bal”, afirmou gurría em seminário que reuniu países europeus e latino-americanos no dia 6 de outubro, em Paris.

“a aproximação com a ocde vem se ama-durecendo. a questão da entrada formal não é se acontecerá ou não, mas sim quando acontecerá”, afirma o diretor-executivo da cni, José augus-to Fernandes coelho. “integrar-se à organização

certamente aumentaria a nossa força, uma vez que as questões são tratadas de forma horizontal e setorial. a ocde constrói regras que servem de parâmetro para a definição de políticas nas mais diversas áreas, que são seguidas pela maior parte dos países. estando lá dentro, nós teremos não somente acesso a essas informações como também poderemos participar da construção delas. isso é muito importante para o brasil”, defende Fernandes.

Formada atualmente por 30 países, a ocde deriva da organização para cooperação eco-nômica européia (ocee). essa instituição foi criada em 1947 para administrar o Plano Mar-shall, por meio do qual estados Unidos e ca-nadá promoveram a reestruturação da europa depois da segunda guerra Mundial. o fato de reunir países que produzem aproximadamente

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primeiro-ministro da Índia, e o

presidente Lula: parte da

diplomacia brasileira só

aceita a entrada na ocde se

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diplomAciA

65% da riqueza mundial conferiu à ocde a denominação de “clube dos ricos” – apelido que não ajuda na atração de novos membros, pelo peso negativo que isso pode ter em nego-ciações diplomáticas.

com sede em Paris, a ocde tem orçamento anual de € 342,9 milhões, 2.500 funcionários e estrutura que se divide em secretariado técnico, agências, centros de pesquisa e aproximadamen-te 30 comitês intergovernamentais, reunindo mais de 200 instâncias. todos os anos, cerca de 40 mil funcionários dos primeiros escalões dos governos lá representados participam de reuni-ões de trabalho (veja box ao lado).

embora o brasil participe de vários grupos de trabalho da ocde, envolvendo a maior par-te dos ministérios, está longe de se constuir um consenso sobre a forma e os prazos da entrada do País na organização. diplomatas vêem obs-táculos técnicos e a necessidade de cautela nas negociações (veja box na página 34). Há tam-bém os que vêem restrições de ordem ideológi-ca, por considerar que a entidade formula po-líticas dedicadas a países ricos. alinhados com o pensamento desenvolvimentista da década de 1960, a estratégia sul-sul de aproximação entre nações, eles defendem que o brasil se mantenha na liderança de grupos de países emergentes, como o g-20 e o g-77, que a Índia também integra. “trata-se de um velho dilema para a diplomacia brasileira: sermos o último dos ricos ou o primeiro dos pobres”, explica a professo-ra de direito econômico internacional Michelle ratton, da Fundação getúlio Vargas (FgV) de são Paulo.

Mesmo restringindo-se às questões técnicas, o Ministério das relações exteriores considera que há razões suficientes para que não se ace-lere o processo de aproximação entre o brasil e a ocde. “a curto prazo não se contempla a adesão do País. Vamos ter que analisar muito bem todos os princípios e recomendações da or-ganização, que implicam obrigações por parte do brasil”, avalia o diretor do departamento econômico do itamarati, ministro carlos Már-cio cozendey.

como funciona a organizaçãoA Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem escopo diferente das instituições internacionais em que a diplomacia se detém na negociação e assinatura de acordos e tratados. Seu propósito é fazer diagnósticos e análises sobre vários campos de atuação de governos, servindo como repositório das melhores práticas mundiais nas áreas de economia e políticas públicas. O descumprimento das recomendações da organização por um país-membro o expõe a críticas, mas não a sanções, previstas em tratados.

O foco da OCDE está em temas como desenvolvimento econômico sustentável; aumento das ofertas de emprego; elevação dos níveis de padrão de vida; manutenção da estabilidade financeira; e aumento do comércio internacional. São aproximadamente 250 novos títulos por ano, incluindo comparações e estudos cujas conclusões são consideradas para o fechamento de acordos e tratados em fóruns do porte da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Os estudos que apontam para as melhores práticas em cada área, junto a uma série de convenções da organização, formam o chamado Acquis OCDE – seu acervo institucional. O trabalho da organização, além de formular e revisar constantemente esse acervo, é também avaliar sua aplicação pelos países. Trata-se de um processo de análise profunda, realizada primeiro pelos próprios países interessados (membros e não-membros que solicitem estudos específicos). Os resultados são depois avaliados por técnicos da OCDE.

Os estudos sobre os países são chamados Peer Reviews, porque são concluídos em plenárias formadas pelos “pares” da organização. Nessas ocasiões, os países também têm a chance de fazer a defesa de suas políticas e resultados.

34 indústr i a br asileir a noV eMbro 2008

um dos principais entraves para a aproximação do Brasil com a OCDE é a aceitação de todos os seus princípios e recomendações.Em junho de 2009 o Processo de Engajamento Ampliado do Brasil terá seu grande momento: é quando acontecerá o Brazil Survey 2009, a peer review (revisão por pares) das políticas brasileiras com base em estudos realizados por praticamente todos os ministérios. Além do resultado desse estudo, os diplomatas brasileiros observam atentamente a postura da organização em relação aos processos de negociação de entrada de novos membros. A dúvida é se a organização acolherá opiniões e sugestões desses países ou se apenas os obrigará ao cumprimento de regras já sedimentadas.

A revisão por pares da OCDE faz parte do processo de engajamento do País à instituição ou a um instrumento específico, como a Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Estrangeiros nas Transações Comerciais Internacionais, da qual o Brasil já é signatário, dentre outros. No mês que vem, o Brasil receberá a primeira missão da OCDE, em discussão preliminar do Survey Brazil 2009.

Em seguida ao convite para o Processo de Engajamento Ampliado, o governo brasileiro determinou que vários ministérios e agências analisassem o acervo de regras e estudos da OCDE, conhecido pelo termo francês Acquis. Os resultados dessas análises foram, em sua maioria, positivos: aproximadamente 60% dos assuntos foram considerados isentos de problemas ou com poucas restrições à adesão, possíveis de serem negociadas.

Cerca de 20%, no entanto, tiveram sérias restrições ou foram considerados totalmente impossíveis de serem adotados pelo Brasil, principalmente na área tributária.

O Ministério da Fazenda, em particular, encontrou dificuldades em aproximadamente 35% do acervo institucional da OCDE referente à sua pasta, particularmente nos 8% que receberam classificação negra, ou seja, são assuntos em que não há base nenhuma para negociação. São os conjuntos de normas tributárias e de regras de fluxo de capitais, o qual é composto basicamente pelo Acquis de Liberalização de Movimentos de Capital e o Código de Liberalização de Transações Correntes Invisíveis. Os demais foram classificados em vermelho (27%), amarelo (19%) – com diferentes níveis de dificuldades mas que poderiam entrar em negociação – e verdes (38%), ou seja, que não apresentam problemas numa futura adesão ao organismo.

“Temos espaço para avançar bem e com ganhos em potencial em mais da metade dos temas estudados, principalmente em áreas como concorrência e seguros. É importante termos acesso a essas fontes de informação sobre experiências e aplicação de normativas, principalmente agora que vamos entrar num processo de rediscussão da regulamentação do sistema financeiro”, avalia o secretário-adjunto de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Álvaro Vereda.

Em relação às normas tributárias, o secretário explica que a maior dificuldade é de conceito: “Todo o modelo de tributação da OCDE

chefe do escritório de ligação do brasil com a ocde, subordinado à embaixada em Paris, o ministro ricardo guerra não tem dúvidas quan-to aos benefícios da integração, mas também faz ponderações. “É melhor estarmos presentes, já que se trata de uma organização que influencia a agenda internacional e conta com profissionais al-tamente qualificados. o ideal seria entrarmos em conjunto com Índia, china e África do sul, para não corrermos o risco de má interpretação dessa atitude pelos demais países emergentes”, conclui.

além das questões conceituais, há uma prag-mática a ser considerada na integração: a conta. segundo o ministro cozendey, estima-se que a contribuição anual do brasil à ocde ficará entre € 3,7 milhões e € 4,2 milhões. isso sem contar com os custos de manter funcionários em Paris e financiar as viagens de profissionais bra-sileiros para as reuniões de trabalho na sede da organização. Para participar da organização das

nações Unidas (onU), por exemplo, o brasil contribui anualmente com Us$ 16,5 milhões.

Mesmo com cautela e apesar das resistên-cias de diversas ordens, o brasil se aproxima da ocde desde meados da década de 1990. Participa, já como membro pleno, de cinco ins-tâncias: comitê do aço, centro de desenvol-vimento, grupo de trabalho sobre corrupção em transações comerciais internacionais, có-digo de sementes e grupo de ação Financeira internacional. É membro temporário (ad hoc) de outras cinco e observador em seis comitês e 20 grupos de trabalho.

a cni se juntou neste ano ao comitê con-sultivo para indústria e negócios (biac, na sigla em inglês), um órgão independente mas reco-nhecido oficialmente desde 1962 como a voz das empresas privadas junto à ocde. como o brasil não é membro formal da organização, a cni ainda é apenas observadora. “Podemos

as etapas para a integração do Brasil

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diplomAciA

fazer comentários sobre os relatórios, mas não temos direito a voto”, explica Fernandes, o di-retor-executivo da cni, representante da enti-dade no biac.

“É um equívoco se opor à entrada do brasil na ocde. a adesão reforçaria positivamente as análises das agências de investimento. integrare-mos um grupo que tem influência nas principais regras internacionais”, avalia o diplomata rubens barbosa, ex-embaixador do brasil no reino Uni-do e nos estados Unidos e presidente do conse-lho superior de comércio exterior da Fiesp.

o mapa Estratégico da indústria 2007-2015, conjunto de metas e objetivos para o de-senvolvimento do País, evidencia a importância da entrada na ocde para a indústria. o docu-mento, elaborado pela cni no âmbito do Fó-rum nacional da indústria, define uma agenda que tem vários pontos em comum com os temas analisados pela ocde: ambiente institucional

é baseado em países exportadores de capital, ou seja, privilegia a origem do investimento na hora de tributar. Só que nós ainda recebemos mais do que exportamos, e nos adaptarmos a esse princípio diminuiria a nossa margem de manobra para arrecadar tributos em nosso País. A tendência é que essa posição mude, na medida em que o Brasil se transforme em exportador de capitais.”

uma vez realizados os estudos dos Acquis, o Ministério das Relações Exteriores instituiu oito grupos de trabalhos sobre temas diversos, que vão de Operações Correntes Invisíveis a Assistência ao Desenvolvimento, passando por Meio Ambiente, Governança Corporativa, Políticas para o Consumidor, Educação e Energia Atômica. Esses grupos, formados por técnicos de praticamente toda a Esplanada dos Ministérios, têm a incumbência de continuar a análise dos benefícios dos Acquis e verificar sua compatibilidade com a legislação brasileira; identificar novas áreas de participação e cooperação do Brasil na OCDE; e avaliar a atuação nas instâncias em que já existe algum nível de participação.

“É um processo lento, seguro e gradual, mas não há pressa do lado brasileiro. Já a OCDE se deu conta de que não pode se manter fechada num ‘Clube de Ricos’ se quiser continuar a influenciar o pensamento econômico e a formulação de políticas públicas”, avalia o ministro Ricardo Guerra, chefe do Escritório de Ligação do Brasil com a OCDE, que funciona subordinado à Embaixada em Paris.

Guerra concorda com o raciocínio de que haverá dificuldades para o Brasil se juntar à organização caso a OCDE não ceda em

parte de sua filosofia. “Não se trata de a OCDE se tornar uma unctad [Conferência das Nações unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, em que predomina a linha desenvolvimentista], mas sim de incorporar prioridades dos países emergentes. Estamos confortáveis, pois temos margem de negociação. Nenhum país entrou na OCDE aderindo a 100% de seu acervo institucional”, afirma.

Guerra, que comunga da opinião dos que preferem estar próximos aos formuladores de conteúdo e regras tão significativos para a comunidade internacional, ressalta alguns estudos já realizados sobre o Brasil pela OCDE cujos resultados foram comemorados: “Em 2005 eles lançaram um estudo sobre a agricultura brasileira em que mostraram uma visão aprofundada e positiva, elogiando a eficiência do nosso agronegócio sem subsídios”, contou.

Outro estudo em que a visão da OCDE sobre o Brasil foi positiva foi o realizado sobre as quatro agências reguladoras (energia, previdência, telecomunicações e transporte terrestre), por encomenda da Casa Civil. O estudo concluiu que “a introdução das agências reguladoras no Brasil contribuiu para a melhora da situação macroeconômica”, além de ter identificado “uma participação mais abrangente do consumidor na melhoria da estrutura regulatória”. A OCDE recomendou, no entanto, que o Brasil melhore sua capacidade na regulação e na prestação de contas e na transparência, com o objetivo de “impulsionar as oportunidades de crescimento e melhorar a qualidade dos serviços essenciais”.

Para o MexIcaNo angel Gurría, secretário-geral da ocde, integrar o Brasil é uma prioridade

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e regulatório; educação e saúde; inserção in-ternacional; expansão da base industrial; res-ponsabilidade social e ambiental e gestão em-presarial e Produtividade, entre outros.

a integração do País à organização tem recebi-do cada vez mais atenção. no dia 5 de dezembro, a professora Michelle ratton, da FgV, apresen-tará o estudo O Brasil e a OCDE no seminário O Brasil e a Agenda Global, organizado pelo cen-tro de estudos de integração e desenvolvimento (cindes), no rio de Janeiro. Para a professora, o País tende a manter o processo de “aproximação paulatina” a partir de temas específicos, como aço e governança do setor público. em assuntos como meio ambiente ou regulamentação traba-lhista, ela vê dificuldades para a aproximação, apesar do interesse da organização em atrair o País. “a ocde tem necessidade de redefinir seu papel, o que vem acontecendo desde os anos 1990, quando passou a se aproximar dos países em desenvolvimento. a entrada do México, no entanto, trouxe dificuldades para o brasil, pois significou a saída deles do g-77”, explica.

Michelle afirma que o brasil já está bastante próximo da ocde, algo que poderá se intensifi-car em meio à crise global. “o País já é um líder relevante nas negociações comerciais. essa crise financeira vai nos ajudar a testar nossa capaci-dade de pautar o debate sobre a reestruturação financeira mundial. acredito que existe um am-

biente favorável para o reconhecimento político da importância dos países emergentes”, afirma.

Professor-doutor do departamento de eco-nomia da PUc-sP, antônio corrêa de lacerda também afirma que o crescimento da importân-cia global do brasil é inquestionável. “o País será cada vez mais pressionado a assumir posi-ções de liderança, seja pelo seu peso como a dé-cima economia mundial, seja pelo agravamento da crise financeira. economicamente acredito que o brasil vai se fortalecer como fornecedor de alimentos e energia, dois fatores estratégicos importantes”, prevê.

invesTidores ou comércio

lacerda lembra que haverá sempre uma polêmica para o brasil, pois aderir à ocde poderá trazer resistências ao país fazer parte do sistema geral de Preferências, que beneficia países em desenvol-vimento. “teremos que escolher entre desfrutar dos benefícios restritos aos países em desenvol-vimento ou assumir a posição de país desenvol-vido, algo que inclui custos e benefícios, como a segurança maior aos investidores”, sustenta o professor, que também é membro do conselho temático de Política econômica da cni.

o professor do instituto de relações interna-cionais (irel) da Universidade de brasília (Unb) alcides Vaz, que tem integração regional e ne-gociação internacional entre suas áreas de interes-se, concorda com a avaliação de que a integração do brasil à ocde é ao mesmo tempo natural e positiva: “a participação em fóruns multilaterais é cada vez mais importante para a construção da governança. Por isso essa questão é menos de von-tade do que um destino para nós”, afirma Vaz. ele discorda que a resistência da diplomacia bra-sileira possa atrasar o processo. “ainda classifico essa postura mais como cautela do que resistên-cia”. É também a opinião do diretor do irel, eiiti sato: “trata-se de uma instância em que podemos tornar nossa visão mais apurada sobre o que está acontecendo no mundo”. Mas ele alerta para os limites desse benefício. “a simples integração não significa que o brasil vá melhorar.”

MIcheLLe raTToN:

crise financeira traz ambiente favorável para

reconhecimento político dos emergentes

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Quanto vale a águaDiante da escassez crescente, surgem soluções opostas: considerá-la um direito quase gratuito ou um produto negociado no mercado

a água é O nOvO petróleO? para ecOnOmistas, empresários, cientistas e especialistas em geopolí-tica é. do mesmo modo que no final do século 20 houve choques do petróleo, o início do século 21 poderá ser marcado por um choque da água, em que a escassez leve ao aumento de preços desse recurso tradicionalmente barato. É um cenário que poderá ter impacto ainda maior do que se viu com a elevação do preço dos combustíveis, trans-formando mercados, governos e ecossistemas.

de toda a água do mundo, 97% é salgada, im-própria para consumo de seres humanos, animais e plantas terrestres. o uso dos 3% restantes vem crescendo de forma acelerada por conta da in-dustrialização e da necessidade de produzir mais alimentos para uma população cada vez maior e mais rica. em 1990, o consumo mundial de água foi de 770 km³, segundo relatório de 2007 da consultoria suíça sustainable asset Management. atualmente, é de 3.840 km³, um cubo de aresta igual à distância entre Porto alegre e boa Vista. ainda é bem menos do que as chuvas que atingem as terras do planeta, entre 9.000 e 12.000 km³, dependendo do ano. Mas uma grande parte dis-so é inutilizada pela poluição e desperdício. com o aquecimento global e o aumento da incidência de secas, a disponibilidade deve cair mais ainda. algumas das conseqüências já são visíveis: racio-namento de água na califórnia, assoreamento de trechos do rio amarelo (Huang He), na china. segundo a organização para a cooperação e o desenvolvimento econômico (ocde), em 2030 metade da população mundial viverá em locais com acesso restrito à água.

até agora, não houve muita atenção para o im-pacto social e econômico da escassez da água. Pes-quisa de 2007 do Marsh center for risk insights demonstrou que das mil maiores empresas nor-te-americanas, segundo a lista da revista Forbes,

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40% consideravam as perspectivas de falta de água algo entre severo e catastrófico. Mas apenas 17% estavam se preparando para isso. “as empre-sas ainda não começaram a pensar no tema como algo realmente sério”, afirma Howard Kunrether, um dos diretores do centro de gerenciamento de risco e Processo decisório da wharton, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia, nos estados Unidos. Kunrether, que já trabalhou no Marsh center, afirma que a sociedade também não se importa muito com o problema. “as pes-soas tendem a considerar a água um bem público, que brota da torneira. tomam banhos longos, pa-gam a conta e não pensam muito nisso.”

o descaso para a questão da água, porém, pode estar acabando. acaba de ser lançado nos estados Unidos um documentário sobre o tema: Flow (fluxo na tradução literal em português). o filme promete ter repercussão comparável a Uma Verdade Inconveniente, que, ao chamar a atenção para o aquecimento global, rendeu o oscar ao ex-vice-presidente norte americano al gore. Flow foi o filme mais assustador do festival de cinema sundance, segundo a revista Wired.

a humanidade está condenada a um futuro de sede? não necessariamente. Mas a água pode se transformar no “ouro azul”. Uma commodity a ser desejada, disputada e possivelmente vendida para quem pagar mais, situação que representa riscos e oportunidades. “É um imenso desafio”, afirma o professor de administração witold Henisz, da wharton, que participa de um painel do Fórum econômico Mundial. ele afirma que a água de-verá ser um tema de destaque na próxima reunião do Fórum, em davos, na suíça. “eu não acho que teremos um mundo completamente diferente do atual. Mas o preço da água vai subir, e haverá cada vez mais disputas internacionais em torno disso”, afirma.

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AmbienteAmbiente

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Para a maior parte da população mundial, a escassez de recursos hídricos já tem contornos de crise. segundo o conselho Mundial da Água, 1,1 bilhão de pessoas, o equivalente a um sexto da humanidade, não têm acesso adequado a água potável e 2,6 bilhões a saneamento básico. a má qualidade da água é a principal causa de diar-réia, que mata milhões de pessoas a cada ano. são problemas tradicionalmente atrelados ao subdesenvolvimento. Mas com a expectativa de que o mundo tenha nove bilhões de pessoas em 2050, concentradas nas cidades, esses problemas podem atingir muitas pessoas. “a questão é mais qualidade do que quantidade”, afirma o profes-sor Marshall Meyer, da wharton, que estudou a escassez de água na china. Há grandes obras de infra-estrutura no país atualmente para garantir o abastecimento das cidades, mas a poluição ain-da é um problema longe de ser resolvido.

o volume de água consumido diretamente pe-las pessoas ainda é pequeno: apenas 10% do total fica nas residências. o dobro vai para a indústria. Mas a campeã é a agricultura, com 70%. de toda a área usada para agricultura no mundo, 18% é irrigada. segundo relatório da organização das nações Unidas (onU) com o título Água – Uma crise de governança, a proporção do uso na agri-cultura irá crescer com o aumento do consumo mundial de alimentos. e à medida que a renda au-menta, cresce a demanda por carne, cuja produção consome muito mais água do que a de vegetais.

Para as empresas de abastecimento de água, que faturam entre Us$ 400 bilhões e Us$ 500 bilhões, há perspectivas de grandes oportunida-des com a escassez. ao comprar uma fazenda na década de 1970, o empresário do petróleo boone Pickens descobriu o aqüífero ogalla, que vai do texas ao estado de dakota do norte e atende basicamente à agricultura intensa nessa região. na década passada, Pickens, influenciado pelas perspectivas de aperto no fornecimento de água, saiu comprando cada vez mais direitos de uso da água subterrânea. Hoje, ninguém nos esta-dos Unidos tem mais água do que ele, que está construindo um aqueduto cruzando todo o te-xas para fornecer água a dallas.

Brasil exporta água, mas enfrenta escassezQuanto mais valiosa a água, melhor para o Brasil. Das nascentes do País, brota 12% da água doce do planeta – 18% ao incluir na conta os rios que vêm de outros países. É difícil imaginar essa riqueza embarcando nos portos para ser vendida em outros países. Cidades européias como Barcelona precisaram importar água por meio de navio no último verão, surpreendentemente quente, mas recorreram a países mais próximos. O engano, porém, é pensar que não há outra maneira de exportar água. O Brasil já faz isso há muito tempo, por meio de processos produtivos em que a água é um insumo usado de modo intensivo.

Para entender os recursos hídricos no comércio mundial, uma grande ajuda é o conceito de água virtual, desenvolvido pelo professor da universidade de Columbia Joel Cohen. Ele calculou o consumo necessário para diferentes produtos da agricultura e também da indústria (veja tabela na página ao lado). Levando essas informações em conta, explica Cohen, a China é uma das maiores importadoras.

Embora a água seja um diferencial competitivo para o Brasil, sua disponibilidade é precária em várias áreas, não apenas no semi-árido da Região Nordeste. Mesmo no interior da Amazônia há dificuldade de abastecimento porque a água dos rios tem características naturais que impedem o consumo direto. Isso vem sendo solucionado com o armazenamento de água de chuva.

Nas grandes cidades do Sul e Sudeste do País, o problema é a poluição. “Enfrentamos o agravamento do conflito da água por mau uso ou por exploração excessiva”, afirma o presidente da Agência Nacional de Águas (Ana), José Machado. Ele explica que o problema não é o efluente industrial, cujo tratamento é obrigatório e costuma ser bastante fiscalizado, e sim o esgoto doméstico. Menos de 20% do que sai dos banheiros passa por algum tipo de tratamento, mesmo que apenas parcial, antes de chegar aos rios ou ao oceano. O Mapa Estratégico da Indústria 2007-2015, com objetivos para o desenvolvimento do País, estabelece metas de cobertura do saneamento básico para 2010 (60%) e para 2015 (70%). Isso só será possível atingir com marcos regulatórios que permitam investimentos privados.

No mês passado, a CNI promoveu em Brasília o 1º Encontro dos usuários de Recursos Hídricos. “O problema da escassez de água precisa ser tratado agora, não no futuro”, alertou a secretária-executiva do Conselho de Empresários para o Meio Ambiente da Fiemg.

paulo silva pinto

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Ambiente

Água virtualQuantos litros são necessários para obter 1 kg de cada produto

Pickens, conhecido como um empresário agressivo, vem adotando uma postura amigável. tem aparecido até mesmo em anúncios de tV sobre a importância da energia alternativa. Mas, ao falar do projeto de aqueduto, é tachativo: afirma que a água é uma commodity. “Haverá cada vez mais gente precisando comprar água, e outros dispostos a vender. É assim que a coisa funciona”, declarou em entrevista à revista Bu-sinessweek em junho. entrevistado no documen-tário Flow, ele disse sorrindo: “as pessoas dizem ‘água é como ar, não se pode cobrar’. tudo bem. Vamos ver.”

Para muita gente, a água é um direito básico. “negar o direito à água é negar o direito à vida”, afirmou a ambientalista canadense Maude bar-low no livro Blue Covenant (acordo azul, em tra-dução literal), que é considerado o texto básico do movimento water Justice (a justiça da água). em países ricos e pobres, a privatização do abas-tecimento de água enfrenta problemas políticos. na bolívia, o aumento das tarifas em cocha-

bamba, no ano 2000, provocou manifestações que acabaram resultando na expulsão da be-tchel, a empresa concessionária do serviço. nos anos seguintes, planos de privatização foram cancelados em vários países, incluindo tanzânia e Holanda. “a água não pode se transformar em

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o fILMe Chinatown, com Jack Nicholson, se baseou em história real, unindo água a especulação imobiliária

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negócio”, afirmou o presidente boliviano evo Morales ao celebrar a reestatização do abasteci-mento de la Paz. a francesa suez, que tinha a concessão do serviço por 30 anos, ficou só com dez. “o abastecimento deve estar nas mãos do estado, de modo que a água chegue para as pes-soas quase de graça”, afirmou Morales.

Heisz, da wharton, reconhece que há di-ficuldades em estender à água os parâmetros de mercado que já valem para outros bens es-senciais. “as pessoas estão acostumadas com a elevação do preço dos alimentos quando há escassez, mas eu não vejo muita disposição de pagar mais pela água, ou aceitar uma solução de mercado. É mais fácil as pessoas derrubarem o governo. Morales se tornou presidente depois de liderar os protestos em cochabamba. “o pro-blema da escassez de água exige cooperação de governos, empresas e ongs”, afirma.

as restrições não são exclusividade de países pobres. nos estados Unidos, apenas 16% da po-pulação consome água fornecida por empresas privadas. os demais são abastecidos por estatais, em geral municipais, que cobram tarifas só para cobrir seus custos operacionais – é o caso de dallas, apesar dos esforços de Pickens. na agri-cultura, há grandes subsídios para a irrigação.

com ou sem ajuda dos governos, a escassez de água pode ser reduzida com maior eficiência no uso. no caso da agricultura, por exemplo, é possível reduzir o uso do arado, que faz o solo

absorver mais água; desenvolver plantas mais re-sistentes à seca; e substituir a irrigação tradicio-nal por sistemas de gotejamento. em oslo, ca-pital da noruega, as descargas passaram a usar um sistema a vácuo.

Tecnologia para Tirar o sal

do lado da oferta, há novas tecnologias de des-salinização. Uma usina em construção em san diego, nos estados Unidos, deverá operar com custo de 29 centavos de dólar para purificar mil litros de água, quase a metade do valor de outra unidade próxima. isso explica por que a capaci-dade de dessalinização no país cresceu 40% de 2000 a 2005, segundo estudo da academia na-cional de ciências divulgado em abril. Mas esse processo ainda representa apenas 0,01% do uso total de água no país. o estudo recomenda que o governo apóie pesquisas na área, hoje pratica-mente restritas ao setor privado. Mas também chama atenção para a necessidade de poupar água, que tem o ganho adicional de reduzir o consumo de energia.

economistas afirmam que um fator que traria grandes benefícios para a redução do desperdício e dos custos de abastecimento de água é exata-mente o que os movimentos sociais não querem ouvir: privatização. com água barata, não há in-centivo para investir em formas mais eficientes de uso da água na agricultura, indústria ou mesmo o uso doméstico. É o mesmo que aconteceu com o petróleo: só com a alta do preço surgiram car-ros híbridos e novas fontes de energia. segundo o economista david Zetland, da Universidade da califórnia, os estados Unidos são mais eficientes no uso do petróleo do que da água. “esse con-traste se deve ao fato de que o petróleo é nego-ciado no mercado e a água é tratada como direito fundamental. a escassez não resulta em preços mais altos, que reduziriam a demanda, mas sim em racionamento e desequilíbrios.”

a preocupação entre água, desenvolvimento e estratégia não é nova. em alguns momentos, foi até bem maior do que hoje. Pouco depois da independência dos estados Unidos, no final Jo

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Ambiente

do século 18, nova York e Filadélfia disputa-ram o posto de centro econômico do país. Uma das razões de nova York ter ganhado a batalha foi a compra de direitos de uso de água nos es-tados vizinhos, até a fronteira com o canadá. Um complexo sistema de aquedutos passou a abastecer a cidade, que se tornou mais segura, barata, higiênica e atraente para investimen-tos privados.

na expansão dos estados Unidos para oes-te, o abastecimento de água destruiu e ergueu fortunas. o crescimento de los angeles só foi possível com um aqueduto de quase 373 km até a serra nevada. a obra resultou em conflitos com agricultores e vultosos ganhos imobiliários de empresários que conseguiram informação privilegiada sobre o traçado do aqueduto – algo

retratado no filme Chinatown, de 1974. que tem o ator Jack nicholson no papel principal.

se o comércio de água é um tema compli-cado do ponto de vista doméstico, no contexto internacional chega a ser potencialmente explo-sivo. Para muitos analistas, o veto da china à in-dependência do tibete envolve principalmente a preocupação com o acesso a mananciais. no canadá, o Parlamento aprovou no ano passa-do a exigência de que a água seja excluída do nafta, tratado de livre comércio com estados Unidos e México. em muitas regiões do mundo, a água provoca tensão entre países vizinhos. “o potencial de disputa é muito grande na américa latina, África e oriente Médio”, afirma Henisz. “temos vivido uma época de relativa paz, mas isso pode estar no fim”, alerta.

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a IrrIGação é responsável por 70% do consumo de água, o que poderia ser reduzido com sistemas de gotejamento

Do original ebb without Flow: water May be the new oil in a thirsty global economy, republicado com autorização de Knowledge@Wharton (http://knowledge.wharton.upenn.edu), o jornal on-line sobre pesquisa e análise de negócios de The Wharton School da Universidade da Pensilvânia. A Wharton mantém parceria com o IEL para a formação de executivos.

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Movimento no teatroO coreógrafo mineiro Klauss Vianna fez atores de todo o País descobrirem como usar o corpo. Ele volta à cena por meio de

arquivo digital, com cartas, vídeos, fotografias e depoimentos

por carlos haag

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para uma geraçãO de atOres das mais significativas, o teatro brasileiro se divide entre antes e depois do coreógrafo Klauss Vianna (1928-1992). Um dos marcos da revolução que ele empreendeu foi a montagem, em 1970, de O arquiteto e o im-perador da Assíria, de Fernando arrabal, com José wilker e rubens corrêa, no teatro ipane-ma, no rio de Janeiro. num momento em que contava antes de tudo a fala politizada, pouco importando como se falava, mas sim o que se dizia, os dois atores ousaram investir numa nova direção e marcaram época. “Havia uma cena em que a minha personagem tinha que falar com os pés! eu não sabia como resolver aquilo, achava absurdo. resolvemos pedir ajuda. Foi quando surgiu o Klauss Vianna, que tinha como função me ensinar a traduzir em movimentos dos pés, assim como duas rodas obedecem a uma mesma direção, o meu pensamento”, conta wilker. até então nunca se tinha ouvido falar em expressão corporal no meio do teatro.

o resultado ainda está aí para ser conferido nas atuações de Marco nanini, Marília Pêra, giulia gam, regina casé, Jonas bloch, renata sorrah, entre tantos outros. espetáculos como

Roda Viva (1968), de chico buarque, ou Hoje é Dia de Rock (1971), de José Vicente, certamen-te não teriam passado para a história do teatro se não fosse a presença pioneira de Vianna, um bailarino mineiro nascido em belo Horizonte que virou preparador corporal de atores e criou o seu método de corporalidade expressiva para atores e bailarinos. ele, que estaria completando 80 anos neste ano, ganhou um presente digno de seu talento e importância, o acervo Klauss Vianna (www.klaussvianna.art.br), sobre sua vida e obra. são mais de 3.500 documentos originais digitalizados, incluindo uma carta de carlos drummond (1902-1987) para Vianna sobre a adaptação de seu conto Caso do vestido e muitos manuscritos inéditos do coreógrafo, como críticas, projetos, textos teóricos e anota-ções de aula; 38 vídeos editados sobre sua obra ou depoimentos próprios; 57 desenhos de figu-rinos e cenários; mais de 400 fotografias, muitas inéditas; e 81 depoimentos transcritos ou em vídeo de personalidades como tônia carreiro, Fauzi arap, ivaldo bertazzo, José Possi neto, Zé celso Martinez corrêa, silviano santiago, entre nomes da cultura brasileira.

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“É o projeto da minha vida. após ter sido aluna dele por oito anos, continuei próxima do universo do Klauss e das pessoas que trabalha-ram com ele. Havia um material incrível e fomos atrás de muito mais coisas, incluindo depoimen-tos. não tive dúvida de que a melhor forma era disponibilizá-lo pela internet, para que todos ti-vessem acesso livre”, conta a bailarina e jornalis-ta Paula grinover, criadora do portal, também a responsável pela página eletrônica de chico buarque, na web há alguns anos. “ele foi um grande mestre e criou e desenvolveu um traba-lho de corpo sem igual, mudando a concepção de dança no brasil. Foi ele que introduziu a noção de improvisação e o termo expressão corporal em nossa cena”, elogia. antes de Klauss, os diretores de teatro só se lembravam do corpo e chamavam um coreógrafo quando o espetáculo era musical. não havia o hábito de incluir na equipe uma pre-paração corporal, qualquer que fosse. tudo esta-va baseado apenas na palavra. “a tensão entre os atores, criada pelo trabalho de Klauss, podia ser sentida por meio das pausas e pequenos gestos. com tudo isso, na estréia, o público não respi-rava, inteiramente absorvido pela atmosfera do espetáculo. Mesmo hoje, quarenta anos depois, não me lembro de outra experiência tão feliz na direção, em termos de integração harmônica de todas as partes que formam um espetáculo”, con-ta o diretor Fauzi arap, que teve a colaboração de Vianna na montagem de Navalha na Carne, de Plínio Marcos, em 1967, com tônia carreiro.

“ele dizia que sabia como tinha sido a infân-cia de uma pessoa pela maneira como ela cami-nhava. ele dizia: ‘ah, essa moça não teve atenção da mãe durante a infância, porque ela pisa de tal forma como se estivesse falando: mãe, olha para mim’. aí, os joelhos ficavam de tal e tal jeito. ele lia no corpo e nos ensinou isso”, lembra a atriz Marília Pêra, que esteve sob a direção de Vianna em Ópera dos Três Vinténs e em Exercício. “Hoje, pelo jeito como uma pessoa está, eu posso saber dela, da alma e do sentimento dela e foi o Klauss que abriu essa percepção para mim. ele me deu a consciência do meu corpo em cena, prestar a atenção até no dedo do pé quando estou falando

qualquer coisa. aprendi com ele a prestar aten-ção no outro, a ouvir e ver o outro em cena. sem falar na coreografia do olhar”, conta a atriz. “era um diretor psicanalista, massagista, coreógrafo. os diretores agora ficam loucos, mas não sabem ajudar o ator. Às vezes, é uma pedra no caminho que tem que ser retirada e eles não fazem isso. o Klauss ia lá, tirava a pedra e aí você andava”, elogia. o que parece, nos muitos depoimentos, uma mágica (daí, todos os atores o chamarem de ‘bruxo’, ‘mago’ ou ‘guru’), em verdade, era fruto de muito trabalho, observação e conhecimento técnico da dança, do corpo e da anatomia. não era fácil fazer com que atores e bailarinos chegas-sem à grande soltura física, obtida por meio da profunda consciência do próprio corpo (múscu-los, articulações, ossos), sem o que não se faz mais do que reproduzir formas existentes.

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KLauSS era dIreTor, psicanalista, massagista e coreógrafo, segundo a atriz Marília Pêra

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“com Klauss a gente descobriu as possibili-dades do próprio corpo como instrumento de representação teatral. o que se fazia, antes dele, era seguir aquele padrão do teatro tradicional, com cigarro na mão, copo, poltrona, abre e fe-cha porta etc. ou seja, o uso mais elementar do corpo, dos movimentos, porque a gente fazia um teatro muito mais de agitação e propaganda e, assim, uma postura física e agilidade eram in-dispensáveis. Mas a verdadeira revolução, que começou no rio e depois invadiu o brasil, foi iniciada pelo Klauss”, afirma wilker. Mas toda essa agitação começou da forma mais ordenada e comum possível. Formado em balé clássico, Klauss começou a dançar aos 15 anos e, no iní-cio da década de 1950, teve aulas com a bailarina russa Maria olenewa. em belo Horizonte, fun-dou, com a mulher, angel Vianna, o balé Klauss Vianna em 1958. no tempo livre estudou pro-fundamente a anatomia humana. Foi para salva-dor, então um centro de referência de cultura de vanguarda, para criar o departamento de dança clássica da escola de dança, a convite da reito-ria da Universidade Federal da bahia (UFba). “Klauss avançou ainda mais no conhecimento anatômico, analisando não apenas a denomina-ção dos ossos, mas também a sua função e a dos músculos no movimento. e, ainda, relacionava a posição do esqueleto com sentimentos e os os-sos com a emoção”, explica a pesquisadora neide

neves, professora do curso de comunicação das artes do corpo, na PUc-sP. “o trabalho dele não ficou só na dança e no teatro. chegou à área da saúde, ao propor que se trabalhe a partir da estrutura corporal, disponibilizando ao máximo o corpo para o movimento. isso leva, inevitavel-mente, a uma reeducação da postura e do movi-mento”, analisa neide.

a partir de 1968, Klauss passou a lecionar na escola de dança do teatro Municipal do rio de Janeiro, onde começou a desenvolver uma pes-quisa de trabalho com atores e a ensinar crian-ças. Foi quase por acaso que o teatro e Klauss se encontraram naquela cidade, naquele ano, quando ele foi convidado a substituir a coreó-grafa do espetáculo A Ópera dos Três Vinténs, de brecht, com direção de José renato, e tendo no elenco dulcina de Moraes, oswaldo loureiro, Marília Pêra e wilker. gostou muito da experi-ência, contando com a ajuda de angel, e partiu para Roda Viva, de chico buarque, com direção de José celso Martinez corrêa e com Marieta severo no elenco. a cada ensaio, estimulado

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aNTeS de Ir Para o TeaTro, Klauss manteve

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Belo horizonte

No PaLco: cuidado com detalhes

do corpo e da expressão

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culturA

pelo diretor, colocava mais movimentação para os atores. em seguida, fez Navalha na Carne e percebeu que passara a ser importante para os atores, cuja atuação modificava com suas aulas e dicas. atuou e fez a expressão corporal de Hoje é Dia de Rock, dirigida por José rubens corrêa, que lhe rendeu uma boa surpresa em 1972, um prêmio inédito para um dançarino: o Molière, o mais importante da comunidade teatral, dado a ele pelo conjunto de sua obra. ao todo foram 25 experiências teatrais em que explorou os movi-mentos no limite, influenciando as artes cênicas até hoje. Mas isso tudo cobrou dele um preço elevado. no mesmo ano em que ganhou o prê-mio, sofreu o primeiro infarto e passou a convi-ver com problemas cardíacos crônicos. resolveu mudar-se para são Paulo, sem qualquer perspec-tiva de trabalho. depois de aulas em vários estú-dios, assumiu a direção da escola Municipal de bailado, entre 1981 e 1982, e o balé da cidade de são Paulo, entre 1983 e 1985.

na temporada paulistana, foi o responsável pela preparação de atores para minisséries da tV (Grande Sertão Veredas, com bruna lombardi e toni ramos), espetáculos de dança (Clara Croco-

dilo, de arrigo barnabé) e teatro (Mão na Luva, de Vianinha, com Marco nanini). Ficou conhe-cido como um grande mestre, o responsável por tirar dos pés dos dançarinos as sapatilhas. Klauss trabalhava em torno da idéia básica de que toda pessoa trazia dentro de si a sua dança e, nisso, o professor seria apenas o “parteiro”. Pregava apenas a necessidade do esforço contínuo para se adquirir uma total consciência corporal, dos músculos, ossos e articulações. “sem isso, o alu-no não faz mais do que reproduzir formas, como um bicho amestrado. Para mim, o melhor baila-rino do brasil é o Pelé quando joga futebol. ele flutua”, afirmava. “até ele chegar, o que era gran-de nos atores não era o corpo, era a voz”, explica José wilker. “a marca do Klauss era a relação dele com o individual. não é o método dele que tem a força. o que importa é a revolução que ele promove, levando as pessoas à interiorização”, afirma o coreógrafo ivaldo bertazzo. “ele foi o nosso filósofo da dança. buscou, filosoficamen-te, criar uma realização do corpo, da identidade do corpo brasileiro”, completa o bailarino ismael ivo. o homem que levou o teatro para a dança e a dança para o teatro.

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era “o maior bailarino brasileiro” segundo Klauss

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Paulo Delgado, sociólogo, foi deputado federal constituinte

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a cOnstituiçãO de 1988 permitiu aO país sete períodos presidenciais em vôo civil com controlada turbulência institucional. baseada em compromissos políticos, não em consen-sos, com a caligrafia trêmula própria da pola-rização que a escreveu, é um texto da arte de vitral. Mosaico de interesses que abrigam em sua natureza a revisão permanente.

escrita para o predomínio da sociedade sobre o estado, impôs restrições à vida social. o que não está explícito é explicitado por leis delegadas que ultrapassam, todo dia, na for-ma de medidas-provisórias, atos administra-tivos, portarias, decretos e súmulas, o princí-pio da razoabilidade da lei que todo cidadão tem o direito de pressupor como tolerável. a constituição não começa com a definição dos poderes e sua arquitetura. começa dizendo que seus objetivos e princípios devem estar a serviço dos objetivos sociais, individuais, eco-nômicos e culturais da sociedade. não tem sentido, pois, imaginar que a ordem só pode ser ditada pela autoridade – ela é um atributo organizatório, fundada na autonomia do in-divíduo que, com liberdade, se organiza, tra-balha, prospera, cumpre seus deveres.

o direito brasileiro corteja mais a lei (não os seus valores) do que a jurisprudência e os costumes. Mas vigora o bom costume demo-crático que assegura que só um poder limita outro poder. no entanto, frente a um legis-lativo avaro em boas leis e um executivo pró-digo em qualquer lei, o Poder Judiciário aca-

ba por também assombrar o País com tantas decisões.

o Ministério Público, guardião da so-ciedade, justiça e democracia, com seu pro-tagonismo, triunfa sobre os três. Querendo fazer-se da hierarquia dos poderes, inunda o estado e a sociedade com sua presença. in-terpretando a constituição, mais do que sen-do por ela interpretado, faz-se cego à com-preensão de que a sociedade também é capaz de reconhecer, respeitar, conviver e defender seus direitos.

a questão tributária não tem status cons-titucional e desafia a compreensão estrita-mente jurídica. o desrespeito à limitação ao poder de tributar leva a Fazenda à desinte-gração dos fundamentos da ordem consti-tucional. Quando convoca o leviatã Fiscal para recordes de arrecadação, faz-se hostil à prosperidade privada, e reduz o contribuin-te e a empresa ao seu departamento de co-brança, ou ao delito. Mesmo sabendo que a financeirização da economia não conduz à posteridade.

governar é abrir-se mais ao diálogo do que à regulação. Fugir do hábito da polari-zação, buscar um amplo acordo nacional que nos impulsione como força econômica e so-cial, inovadora e competitiva. Para ampliar o progresso e fazer a constituição mais gru-dada na sociedade, não como goma-arábica, que sufoca a energia e a criatividade, mas como asa da nação.

arte de vitralA Constituição foi feita para servir ao cidadão, mas inundou a sociedade com atos, normas, súmulas e leis