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PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro Administrativo do Piauí PEREIRA, AMANDA A. (1); SANTIAGO, PLINIO E. P. (2); ALVES, KEZIANNE H. O. (3) 1. UFPI. Aluna de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra I, casa 06, Conjunto Geovane Prado, Bairro Vale Quem Tem, CEP: 64057200. E-mail: [email protected] 2. UFPI. Aluno de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Pesquisador bolsista/voluntário do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra 12, casa 07, Setor E, Mocambinho III, CEP: 64010-410 E-mail: [email protected] 1. 3. UFPI. Aluna de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Rua 2, Quadra M, Casa 23, Parque Wall Ferraz, CEP: 64012-550 E-mail: [email protected] RESUMO O presente artigo tem como tema a descaracterização do Centro Administrativo do Piauí e sua preservação arquitetônica em relação ao entorno. Para o embasamento das ideias aqui defendidas tomou-se em referência o Eixo temático (2) deste seminário Arquitetura e documentação: a pesquisa na área da história da Arquitetura e do Urbanismo. O objetivo geral desse trabalho concentra-se em demonstrar a importância histórica do centro administrativo do Piauí em conjunto com a análise da descaracterização do edifício. A justificativa para a apresentação deste produto é compartilhar junto à comunidade acadêmica bem como a sociedade como um todo, a importância da preservação de identidade de um conjunto, adotando o edifício como documento da identidade de um povo, pois o projeto inicial vem sendo alterado sem nenhuma preocupação com o valor patrimonial do mesmo. O Centro Administrativo do Piauí, datado de 1979, está localizado a margem do rio Parnaíba na região sul da cidade. Modificou a tipologia local, a qual era predominantemente residencial do Bairro Vermelha, onde está implantado. Consta com seis blocos principais constituídos por dois blocos menores interligados que se repetem. Possuem planta livre, proporcionando um dinamismo maior em relação a organização espacial. Existe uma elevação utilizando-se de pilotis, a modulação se dá com colunas em “v” de concreto aparente e o revestimento dos blocos internos em tijolo, com esquadrias em vidro e alumínio. A obra teve sua construção dividida por etapas, sendo o previsto 8 blocos, porém somente 6 foram concluídos, deixando uma grande quantidade territorial sem uso, passando a ser suscetível a invasões populacionais que o governo não se mobilizou para conter. Uma parte do terreno foi doada para ser utilizado na construção de outras instalações do poder público, como a creche Risoleta Neves, destinada aos filhos dos funcionários do Centro

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PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro Administrativo do Piauí

PEREIRA, AMANDA A. (1); SANTIAGO, PLINIO E. P. (2); ALVES, KEZIANNE H. O. (3)

1. UFPI. Aluna de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra I, casa 06, Conjunto Geovane Prado, Bairro Vale Quem Tem, CEP: 64057200.

E-mail: [email protected]

2. UFPI. Aluno de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Pesquisador bolsista/voluntário do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra 12, casa 07, Setor E, Mocambinho III, CEP: 64010-410

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1. 3. UFPI. Aluna de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.

Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Rua 2, Quadra M, Casa 23, Parque Wall Ferraz, CEP: 64012-550

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RESUMO

O presente artigo tem como tema a descaracterização do Centro Administrativo do Piauí e sua preservação arquitetônica em relação ao entorno. Para o embasamento das ideias aqui defendidas

tomou-se em referência o Eixo temático (2) deste seminário – Arquitetura e documentação: a pesquisa na área da história da Arquitetura e do Urbanismo. O objetivo geral desse trabalho

concentra-se em demonstrar a importância histórica do centro administrativo do Piauí em conjunto com a análise da descaracterização do edifício. A justificativa para a apresentação deste produto é compartilhar junto à comunidade acadêmica bem como a sociedade como um todo, a importância da preservação de identidade de um conjunto, adotando o edifício como documento da identidade de um povo, pois o projeto inicial vem sendo alterado sem nenhuma preocupação com o valor patrimonial do mesmo. O Centro Administrativo do Piauí, datado de 1979, está localizado a margem do rio Parnaíba na região sul da cidade. Modificou a tipologia local, a qual era predominantemente residencial do Bairro Vermelha, onde está implantado. Consta com seis blocos principais constituídos por dois blocos menores interligados que se repetem. Possuem planta livre, proporcionando um dinamismo maior em relação a organização espacial. Existe uma elevação utilizando-se de pilotis, a modulação se dá com colunas em “v” de concreto aparente e o revestimento dos blocos internos em tijolo, com esquadrias em vidro e alumínio. A obra teve sua construção dividida por etapas, sendo o previsto 8 blocos, porém somente 6 foram concluídos, deixando uma grande quantidade territorial sem uso, passando a ser suscetível a invasões populacionais que o governo não se mobilizou para conter. Uma parte do terreno foi doada para ser utilizado na construção de outras instalações do poder público, como a creche Risoleta Neves, destinada aos filhos dos funcionários do Centro

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Administrativo do Piauí, O Tribunal de Contas do Estado do Piauí e o Tribunal de Contas da União, os quais contrastam arquitetonicamente com o conjunto devido a utilização da arquitetura contemporânea. Os responsáveis pelas obras não levaram em consideração o valor patrimonial do Centro Administrativo do Piauí, alterando assim a essência do projeto pensada inicialmente e

inviabilizando a construção da obra prevista no projeto original. A metodologia trabalhada é a

mesma usada no grupo de extensão, vinculado ao departamento de construção civil e arquitetura do

Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Piauí, idealizado Professora Alcília Afonso

Albuquerque com a finalidade de desenvolver pesquisas na área de preservação do patrimônio e

divulgar para a sociedade a importância do mesmo, cadastrado na UFPI e que atualmente prossegue através da pesquisa de extensão Inventário de Bens Culturais de Teresina, orientado pela arquiteta professora Ana Negreiros. O embasamento teórico possui como principais expoentes Segawa (2002), Fuão (2000), Zein (2007), Braz e Silva (2011) e Afonso (2015).

Palavras-chave: Centro Administrativo; Valor Patrimonial; Teresina.

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PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro Administrativo do Piauí

1. Introdução

Localizado na cidade de Teresina, o Centro Administrativo do Piauí é um amplo conjunto

arquitetônico de grande importância para o estado e constituindo um dos edifícios mais

importantes da arquitetura moderna em Teresina. Projetado pelo arquiteto Raimundo Dias,

abriga diversas secretarias estaduais que estavam espalhadas pela cidade.

Na década de 70, frequentemente havia-se a construção de grandes centros político

administrativos ocupando amplos vazios da periferia urbana, em conjunto com construções

de monumentais centros administrativos para empresas do estado. “Os centros político-

administrativos estaduais efetivados nos anos 1970 foram organizados como cidadelas

afastadas dos núcleos urbanos tradicionais. Implantados em grandes vazios periféricos à

cidade, obedecendo a planos diretores que, na maioria dos casos, reproduziam o esquema

de Brasília: edifícios isolados para cada função ou agrupamento de funções, segundo

conveniências de exequibilidade em diferentes frentes de trabalho.” (SEGAWA,1999, p.177)

O Centro Administrativo do Piauí datado de 1979, previa a construção de 8 blocos, porém

somente 6 foram concluídos, deixando uma grande quantidade territorial sem uso, passando

a ser suscetível a invasões populacionais que o governo não se mobilizou para conter. Ao

longo dos anos houve a introdução de edificações próximas ao conjunto arquitetônico,

através da doação do terreno com consentimento do Governo Estadual. Essas construções

geraram uma alteração na continuidade arquitetônica existente no projeto inicial, que

resultou no contraste arquitetônico do conjunto com o entorno devido a diversos fatores

como a utilização de materiais totalmente diferentes dos usados no Centro Administrativo do

Piauí, e da arquitetura contemporânea, usada no Tribunal de Contas do Estado do Piauí. Os

responsáveis pelas obras não levaram em consideração o valor patrimonial do conjunto,

alterando assim a essência do projeto pensada inicialmente e inviabilizando a construção da

obra prevista no projeto original.

O objetivo geral desse estudo concentra-se em demonstrar a importância histórica do

Centro Administrativo do Piauí em conjunto com a análise da descaracterização do edifício,

ressaltando a importância da preservação de identidade do conjunto, adotando o edifício

como documento da identidade de um povo.

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A metodologia trabalhada é a mesma usada no grupo de extensão, vinculado ao

departamento de construção civil e arquitetura do Centro de Tecnologia da Universidade

Federal do Piauí, idealizado Professora Alcília Afonso Albuquerque com a finalidade de

desenvolver pesquisas na área de preservação do patrimônio e divulgar para a sociedade a

importância do mesmo, cadastrado na UFPI e que atualmente prossegue através da

pesquisa de extensão Inventário de Bens Culturais de Teresina, orientado pela arquiteta

professora Ana Negreiros.

2. Contexto Histórico

Durante o período da ditadura militar, regime que pretendia construir o "Brasil grande e

moderno", não aconteceu o "silêncio arquitetônico" como muitos pensam. Pelo contrário,

foram produzidas obras significativas em todo o país. “Como o centro administrativo do

Piauí, projetado em 1979, quando o Brasil passaria por um processo de modernização

burocrática apoiado em intensa centralização administrativa e financeira na esfera federal

(SEGAWA, ano, p.160)”. O Centro passaria a unificar e fortalecer as atividades

administrativas do Estado, e passaria a integrar o conjunto de grandes obras civis do regime

militar.

A área de construção do Centro Administrativo do Piauó na zona sul possuía, na época,

construções de conjuntos habitacionais, mas também vazios urbanos ao longo do rio

Parnaíba e essas áreas inundavam no período chuvoso. Esse fato fez com que a escolha do

terreno fosse feita e aproveitaram para integrar o centro as áreas já urbanizadas.

A escolha da área levou em consideração alguns fatores com grande relevância social,

política e econômica. Os fatores foram: a perspectiva de crescimento da área e as

definições de ocupação do solo propostas pelo plano diretor de Teresina, facilidade de

acesso as sistema viário, preocupação com a preservação de boa parte da área verde de

Teresina, valorização da margem do Rio Poty e um tratamento paisagístico com a criação

de parques e áreas de lazer para a população.

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Figura 01. Vista aérea do Centro Administrativo do Piauí. 2013.

Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina.

Já os outros fatores que elevaram o atual governador da época a construir o Centro

Administrativo foram: elevados gastos com aluguéis, manutenção e improvisação dos locais

onde as secretarias estavam instaladas, desarticulação entre os setores e impossibilidade

de ampliação.

O Projeto do Centro Administrativo foi idealizado pelos arquitetos: Marcus Vinícius Rios

Meyer, Marcio Pintos de Barros, Raimundo Dias e Raul de Largos Cirne. Houve um estudo

das condições técnicas e econômicas pois as condições topográficas do lugar não era muito

favorável.

Durante a fase de construção o Centro gerou várias transformações urbanas no entorno,

como o prolongamento da Avenida Maranhão e um aumento da população urbana na área.

A área de implantação do centro é de 146 608 m², sua fase de construção foi de 1979 a

1983, nesse período o Piauí foi governado por Djalma Martins Veloso(1978-1979), por

Lucídio Portela Nunes (1979-1983) e por Hugo Napoleão do Rego Neto (1983-1986), que

estava governado no ano do fim da construção.

3. Projeto Original

O Centro Administrativo constitui um conjunto edificado de grande importância para a

Arquitetura Moderna Teresinense. Inicialmente a planta original consistia em oito blocos,

mas só foram construídos seis, onde são ligados de dois em dois por blocos menores, sobre

pilotis, possuem planta livre, que permitem uma maior liberdade na distribuição e futuras

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modificações no layout, circulação vertical e baterias sanitárias. Os blocos são dispostos no

sentido leste-oeste, além do projeto original que tinha o Palácio dos Despachos ao centro,

complementados por um auditório e um Centro de Informática. As edificações estão

dispostas no terreno de uma forma hierárquica e com uma organização plástica.

Figura 02. Planta baixa pavimento tipo.

Fonte: Redesenho de Ana R. S. Negreiros Feitosa.

Foi realizado um estudo prévio do layout, de acordo com Raimundo Dias, estabelecendo

condições para a disposição interna dos blocos. Em toda a edificação há divisória móvel e

forro pacote. Procurando ser o mais flexível possível no futuro, caso houvesse a

necessidade de mudar as divisórias, as luminárias ficariam entre uma e outra. A instalação

elétrica passaria por dentro da divisória e nela teria interruptores e tomadas.

Figura 03. Maquete digital dos edifícios. 2015

Fonte: Inventário de Bens Culturais de Teresina. Maria José S. B. Carvalho.

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O programa de cada secretaria era o mesmo, independente do tamanho: sala de reunião,

sala da secretaria, o gabinete do secretário com banheiro e um pequeno auditório para

reuniões. Cada bloco possuía uma solução estratégica, onde o gabinete do secretario ficaria

próximo a uma escada que ligava ao subsolo de serviço, sendo um acesso privativo,

independente da escada do público.

3. Função

Em Teresina, assim como nas demais áreas urbanas brasileiras, ouve a necessidade de

criar uma organização administrativa para atender a uma estrutura social. E desde a

formação das cidades é perceptível à propensão em unificar os equipamentos políticos

administrativo em um único local.

A busca de lugares próprios para a administração pública tornou-se recorrente, sobretudo

no Brasil dos anos 1970 -, fenômeno que não deve ser desvinculado da ostentação do

“milagre econômico” do período nem da política de centralização administrativa, ao estilo

autoritário do governo pós-golpe de 1964 ( SEGAWA, 1999, p.176).

Posteriormente ao projeto do Centro Administrativo do Piauí as secretarias estavam

divididas em edificações alugadas ou impossibilitadas de ampliação espalhadas pela cidade.

Já com o projeto idealizado na década de 70 e levada adiante pelo então governador Dirceu

Arcoverde (1975-1978) houve a possibilidade de unificação física dos espaços, já que “O

Estado passaria por um processo de modernização burocrática apoiada em intensa

centralização administrativa e financeira na esfera federal (SEGAWA, 1999, p.160)”.

Atualmente o Centro Administrativo do Piauí abriga as secretarias da Fazenda, Educação,

Planejamento, executadas de junho de 1977 a julho de 1978, da Saúde e Segurança do

Trabalho, construídas de dezembro de 1976 a março de 1983.

4. Conjunto Arquitetônico e Urbanístico

O Centro Administrativo do Piauí foi concebido nos preceitos da arquitetura moderna,

utilizando o brutalismo, movimento das décadas de 50 e 60 e desenvolvido por arquitetos

modernos que pregavam a “verdade estrutural” nas edificações, em suas principais

características. O seu conjunto arquitetônico possui uma distribuição espacial no terreno que

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demonstra a monumentalidade das edificações, que possibilita um passeio por toda a área

da construção, a qual possui um projeto paisagístico bem definido. A relação entre o

espaço, programa e estrutura, faz com que os edifícios tenham mais expressão,

enaltecendo a obra de Raimundo Dias.

O conjunto é composto por seis blocos principais que são ligados de dois em dois por blocos

menores constituídos por escadas e baterias sanitárias. Os blocos principais possuem

planta livre sustentada por pilares centrais e periféricos, além dos pilares externos em

concreto aparente. Possui planta livre dos pavimentos para uma maior facilidade na

adequação do edifício às funções que ele viria a ter, facilitando futuras alterações no layout.

É notória uma maior transparência dos materiais e da estrutura, com formas quase

monolíticas e a busca, na estrutura, da verdade arquitetônica e a pureza da forma,

características marcantes da arquitetura moderna.

Figura 04. Edifício com seu envoltório verde. 2015.

Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

Foram utilizados pilares em V de concreto aparente em sequência para a elevação do

primeiro pavimento, obtendo-se um vão sustentado por um sistema de pilotis. A solução

dada à cobertura é separada do volume interno. Fachadas de maior extensão compostas

por longas esquadrias de vidro e alumínio ajudam na iluminação do edifício, em conjunto

com paredes de fechamento em tijolo aparente.

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Figura 05. Fechamento de vidro e tijolo aparente. 2015.

Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

Optou-se pela solução horizontal dos blocos das secretarias, em quatro níveis. Foi eliminado

o uso do elevador para garantir a integração com a paisagem natural e a escala humana,

além da economia de energia pela não utilização desse tipo de maquinário. A composição

garante a permeabilidade espacial com a contemplação das massas dispostas em

diferentes locais numa imensa área livre. A harmonia entre as elas foi garantida através de

um distanciamento estudado entre os blocos. Para permitir além da perfeita

intercomunicação entre os blocos do conjunto, boas condições de iluminação e ventilação.

Como solução estrutural foi adotada a independência dos elementos construtivos. Os pilares

são independentes dos panos modulados de vidro, bem como, observar-se que a caixa

volumétrica fica envolvida pelo sistema estrutural, recurso muito utilizado em edificações

modernas como, por exemplo, o Palácio da Justiça em Brasília.

O partido urbanístico levou em consideração as condições paisagísticas e topográficas do

local, pois havia a necessidade tanto de a implantação de uma malha viária que

abastecesse toda a edificação quanto de um dique para proteger a local que é propício a

alagamentos devido ao fato desta ser uma área ribeirinha, às margens do rio Parnaíba.

Desse modo foi proposta uma via dupla perimetral interligada com conexões junto ao

sistema viário existente, contudo sem a passagem de transporte coletivo pelo conjunto.

Essa via determinou a demarcação física da área do Centro Administrativo do Piauí e serve

de contenção a suscetíveis enchentes.

A circulação de pedestres foi disposta no sentido longitudinal, conectada aos diversos

blocos. Sendo que a circulação entre blocos vizinhos ocorre por meio de passarela. Os

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estacionamentos foram dispostos em formas não muito bem definidas, mas que se

assemelham a bolsões, esses juntos aos blocos de forma a contornar toda a área da

edificação. Junto com o estacionamento normal, foi proposto passagens ao nível semi-

enterrado que permitiriam a entrada e saída de veículos de carga e serviço.

5. Projeto Paisagístico

O projeto original de paisagismo do Centro Administrativo foi à preservação da grande

quantidade de verde presente no local, para que essa possa harmonizar com a obra

arquitetônica assim oferecendo conforto climático.

Figura 06. Áreas verdes adjacentes ao bloco. 2015.

Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

Foi planejada uma ilha fluvial na qual comportaria a residência do governador e também

para preservação da fauna e flora local, no Palácio dos Despachos foi previsto um lago

artificial, na parte frontal do palácio foi pensado em uma grande esplanada para cerimônias

cívicas, com um mastro estrutural marcando o conjunto arquitetônico e em relação à

arborização foram planejadas grandes áreas sombreadas tanto para conforto dos pedestres

quanto para estacionamentos.

O Centro Administrativo e sua área paisagística possui grande vocação para Parque

Urbano, graças ao entorno, a localização e da sociedade que já faz uso da área para o

lazer. E mesmo com vários problemas que o Centro Administrativo vem apresentando ao

decorrer de mais ou menos trinta anos de construção a população reconhece o mesmo

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como o melhor ponto que o entorno possui para realização de inúmeras atividades físicas e

contemplativas, especialmente nas adjacências da Lagoa (na qual não estava prevista no

projeto original, mas foi adicionada para uso público), provando assim ser um ponto

agradável não somente para seus os funcionários.

Já dentro do Centro Administrativo, entre os blocos da Secretaria da Fazenda e da

Secretaria de Educação há um espaço bastante movimentado destinado ao lazer das

pessoas que frequenta a região, não é um local organizado, mas recebe diariamente uma

grande demanda de pessoas, principalmente por ser um lugar que possui longa área

sombreada, com quiosques, ponto de tiragem de cópias e até mesmo sapateiros.

Existe também entre o Centro Administrativo e a Av. Pedro Freitas uma faixa verde, onde

abriga um campo de futebol, equipamentos para prática de atividades físicas e uma

lanchonete, porém essa faixa não é utilizada plenamente, já que não possui várias quadras

de diferentes esportes.

Em relação ao trânsito no local, áreas livres estão perdendo espaço para estacionamentos,

ocupando áreas que antes se destinavam a jardins. Foram feitas alterações na estrutura

viária do local, porém os problemas de estacionamento continuam principalmente no horário

de funcionamento do prédio de 07h30min às 13h30min.

Os problemas que ocorrem no local devem-se principalmente pela falta de integração do

espaço construído com o exterior, além da necessidade populacional de adequação para

práticas de atividades diversas.

6. Descaracterização do Entorno

Como o projeto original do Centro Administrativo do Piauí não teve todas as suas etapas

concluídas, acabou deixando parte do terreno, que deveria ser utilizado para a conclusão da

obra, desprotegido e vulnerável as invasões populacionais, as quais o poder público não

conteve e hoje parte do local já está ocupado por residências com posse de imóvel. E ainda

a volumetria do edifício moderno está sendo sufocada pela implantação de novas

edificações contemporâneas, que foram implantas na parte que restou do terreno

pertencente ao governo, e estas não tiveram qualquer tentativa de integração com o Centro

Administrativo do Piauí.

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Existem hoje cinco edifícios no território administrativo, eles são a Creche Risoleta Neves

inaugurada no ano de 1985, o Tribunal de Conta do Estado do ano de 1998, Tribunal de

Contas da União, também do ano de 1998, a Associação Piauiense dos Prefeitos Municipais

no ano de 2000 e a Escola Fazendária em 2002.

A antiga Creche Risoleta Neves foi inserida para os filhos dos funcionários do estado no

governo de Hugo Napoleão. E mesmo sem uma consultoria com os arquitetos responsáveis

pelo projeto original segue as características o projeto, já que possui tijolos e concreto

aparentes, e com volumetria horizontal, e atualmente funciona como anexo da Secretaria de

Educação.

O Tribunal de Contas do Estado, projetado pela arquiteta Ana Márcia é formado por três

edifícios, um deles azul com detalhes em amarelo e o outros dois anexos brancos, ao lado

da secretaria de Saúde. A construção desses anexos interferiu na entrada da secretaria da

Saúde e favoreceu ainda mais a poluição visual do local devido a adoção da arquitetura

contemporânea na sua construção sem a devida preocupação com o diálogo entre os outros

edifícios da área.

Figura 07. Fachada principal do Tribunal de Contas do Estado. 2015.

Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

O Tribunal de contas da União foi projetado pelo arquiteto João Figueiras Lima, conhecido

também como Lelé. Está hoje implantado no complexo Centro Administrativo da capital

piauiense ao lado da lagoa. O arquiteto projetou o edifício com base nos preceitos

tecnicistas e racionais aplicados ao moderno, porém adicionado de novos materiais, como o

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uso de uma estrutura metálica, com fechamentos tipo basculantes em vidro e piso Paviflex1.

A solução encontrada foi à construção de um prédio com apenas dois pavimentos e com

poucos apoios. Sua cobertura em arco é parcialmente revestida por brises-solei horizontais,

permitindo a entrada da luz e da ventilação. Apesar de o edifício ser moderno, ainda há o

contraste arquitetônico evidente dele com o conjunto devido ao uso de uma composição

metálica curva, diferindo-se completamente do conjunto pré-existente. Existem também

grandes grades em sua volta, o que demostra ainda mais a inserção errônea desta

construção no conjunto.

Figura 08. Fachada principal do Tribunal de Contas da União. 2015.

Fonte: Acervo Pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

A Associação dos Prefeitos Municipais solicitou ao governo uma área para instalação de sua

sede, e o então governador da época Mão Santo, que disponibilizou o atual terreno da

edificação. A APPM é um prédio no qual predomina a horizontalidade, que possui fachada

principal voltada para Avenida Pedro Freitas. Possui grandes grades, com estacionamento e

campo de futebol próprio.

1 Piso vinílico de alta tecnologia, ideal para revestimento de ambientes internos.

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Figura 09. Fachada principal da Associação dos Prefeitos Municipais. 2015.

Fonte: Acervo Pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

E por último a Escola Fazendária, criada para ser um anexo da Secretaria da Fazenda, e ser

utilizada na capacitação de funcionários, e por não haver espaços internos, uma área no

terreno do Centro Administrativo do Piauí foi doada para esta instalação. De todos os

prédios do entorno do Centro a Escola Fazendária é o de pior implementação, pois o seu

acesso não se dar pelas avenidas adjacentes e sim pelas vias internas do Centro, como a

maioria das construções do entorno que não pertencem ao projeto original, possui grade e

arquitetura não condizentes com a edificação moderna.

Figura 10. Fachada principal da Escola Fazendária. 2015.

Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.

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7. Conclusão

Analisando a história da obra do Centro Administrativo no decorrer do ano de sua criação

até os dias de hoje, notam-se os aspectos políticos e sociais que transformaram parte da

edificação e principalmente na paisagem urbana, já que mesmo o prédio sendo calcado pela

arquitetura contemporânea erguida em terras administrativa, esse edifício foi e continua

sendo um vetor de crescimento para o bairro Vermelha na Zona Sul de Teresina.

A construção que sofreu depreciação e desconsideração por parte do poder público já que

este deixou o projeto original incompleto, a defasagem de alguns dos blocos do conjunto de

edifício, sem contar nas doações de partes do terreno para instalações que

descaracterizaram o entorno da construção e a não tomada de providencias para conter as

invasões populacionais que afanaram parte do terreno pertencente ao Centro, porém

mesmo com tudo isso, ele é uma representação urbana marcante, tanto para o

desenvolvimento local quanto para o lazer da população teresinense.

Diante disso alguns parâmetros poderiam ser tomados para desse exemplar moderno na

capital do Piauí, começando com o tombamento dessa referência de arquitetura brutalista

para impedir qualquer obra indevida no prédio e uma revitalização arquitetônica, urbanística

e paisagística com profissionais habilitados para tal função, respeitando o projeto original, e

buscando soluções para descaracterização da obra, e sem esquecer-se de pensar na

vocação de parque urbano do conjunto para a população local.

Page 16: PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro ... · Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra

4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.

8. Referências Bibliográficas

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DIAS, Cid de Castro. Piauí: projetos estruturantes. Teresina: Alínea Publicações Editora,

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1992.

GRANJEIRO, Virgínia Gonçalves. Paisagem do poder: revitalização paisagística do

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conclusão da disciplina Trabalho Final de Graduação II(TFG II), do curso de Arquitetura e

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GUIMARÃES, Pedro Paulino. Configuração Urbana: evolução, avaliação, planejamento e

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SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Editora da

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Relação do edifício moderno com a capital contemporânea. In: 8 Seminário

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VERISSIMO, Victor. Arquitetura moderna em Teresina: guia. Teresina: Gráfica Cidade

Verde, 2015.