Ação voluntária e experiência religiosa numa instituição ...
PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro ... · Pesquisadora bolsista/voluntária do...
Transcript of PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro ... · Pesquisadora bolsista/voluntária do...
PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro Administrativo do Piauí
PEREIRA, AMANDA A. (1); SANTIAGO, PLINIO E. P. (2); ALVES, KEZIANNE H. O. (3)
1. UFPI. Aluna de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra I, casa 06, Conjunto Geovane Prado, Bairro Vale Quem Tem, CEP: 64057200.
E-mail: [email protected]
2. UFPI. Aluno de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Pesquisador bolsista/voluntário do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Quadra 12, casa 07, Setor E, Mocambinho III, CEP: 64010-410
E-mail: [email protected]
1. 3. UFPI. Aluna de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo.
Pesquisadora bolsista/voluntária do Grupo de extensão Inventário dos Bens Culturais em Teresina. Endereço Postal: Rua 2, Quadra M, Casa 23, Parque Wall Ferraz, CEP: 64012-550
E-mail: [email protected]
RESUMO
O presente artigo tem como tema a descaracterização do Centro Administrativo do Piauí e sua preservação arquitetônica em relação ao entorno. Para o embasamento das ideias aqui defendidas
tomou-se em referência o Eixo temático (2) deste seminário – Arquitetura e documentação: a pesquisa na área da história da Arquitetura e do Urbanismo. O objetivo geral desse trabalho
concentra-se em demonstrar a importância histórica do centro administrativo do Piauí em conjunto com a análise da descaracterização do edifício. A justificativa para a apresentação deste produto é compartilhar junto à comunidade acadêmica bem como a sociedade como um todo, a importância da preservação de identidade de um conjunto, adotando o edifício como documento da identidade de um povo, pois o projeto inicial vem sendo alterado sem nenhuma preocupação com o valor patrimonial do mesmo. O Centro Administrativo do Piauí, datado de 1979, está localizado a margem do rio Parnaíba na região sul da cidade. Modificou a tipologia local, a qual era predominantemente residencial do Bairro Vermelha, onde está implantado. Consta com seis blocos principais constituídos por dois blocos menores interligados que se repetem. Possuem planta livre, proporcionando um dinamismo maior em relação a organização espacial. Existe uma elevação utilizando-se de pilotis, a modulação se dá com colunas em “v” de concreto aparente e o revestimento dos blocos internos em tijolo, com esquadrias em vidro e alumínio. A obra teve sua construção dividida por etapas, sendo o previsto 8 blocos, porém somente 6 foram concluídos, deixando uma grande quantidade territorial sem uso, passando a ser suscetível a invasões populacionais que o governo não se mobilizou para conter. Uma parte do terreno foi doada para ser utilizado na construção de outras instalações do poder público, como a creche Risoleta Neves, destinada aos filhos dos funcionários do Centro
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
Administrativo do Piauí, O Tribunal de Contas do Estado do Piauí e o Tribunal de Contas da União, os quais contrastam arquitetonicamente com o conjunto devido a utilização da arquitetura contemporânea. Os responsáveis pelas obras não levaram em consideração o valor patrimonial do Centro Administrativo do Piauí, alterando assim a essência do projeto pensada inicialmente e
inviabilizando a construção da obra prevista no projeto original. A metodologia trabalhada é a
mesma usada no grupo de extensão, vinculado ao departamento de construção civil e arquitetura do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Piauí, idealizado Professora Alcília Afonso
Albuquerque com a finalidade de desenvolver pesquisas na área de preservação do patrimônio e
divulgar para a sociedade a importância do mesmo, cadastrado na UFPI e que atualmente prossegue através da pesquisa de extensão Inventário de Bens Culturais de Teresina, orientado pela arquiteta professora Ana Negreiros. O embasamento teórico possui como principais expoentes Segawa (2002), Fuão (2000), Zein (2007), Braz e Silva (2011) e Afonso (2015).
Palavras-chave: Centro Administrativo; Valor Patrimonial; Teresina.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
PATRIMÔNIO RECENTE: Descaracterização do Centro Administrativo do Piauí
1. Introdução
Localizado na cidade de Teresina, o Centro Administrativo do Piauí é um amplo conjunto
arquitetônico de grande importância para o estado e constituindo um dos edifícios mais
importantes da arquitetura moderna em Teresina. Projetado pelo arquiteto Raimundo Dias,
abriga diversas secretarias estaduais que estavam espalhadas pela cidade.
Na década de 70, frequentemente havia-se a construção de grandes centros político
administrativos ocupando amplos vazios da periferia urbana, em conjunto com construções
de monumentais centros administrativos para empresas do estado. “Os centros político-
administrativos estaduais efetivados nos anos 1970 foram organizados como cidadelas
afastadas dos núcleos urbanos tradicionais. Implantados em grandes vazios periféricos à
cidade, obedecendo a planos diretores que, na maioria dos casos, reproduziam o esquema
de Brasília: edifícios isolados para cada função ou agrupamento de funções, segundo
conveniências de exequibilidade em diferentes frentes de trabalho.” (SEGAWA,1999, p.177)
O Centro Administrativo do Piauí datado de 1979, previa a construção de 8 blocos, porém
somente 6 foram concluídos, deixando uma grande quantidade territorial sem uso, passando
a ser suscetível a invasões populacionais que o governo não se mobilizou para conter. Ao
longo dos anos houve a introdução de edificações próximas ao conjunto arquitetônico,
através da doação do terreno com consentimento do Governo Estadual. Essas construções
geraram uma alteração na continuidade arquitetônica existente no projeto inicial, que
resultou no contraste arquitetônico do conjunto com o entorno devido a diversos fatores
como a utilização de materiais totalmente diferentes dos usados no Centro Administrativo do
Piauí, e da arquitetura contemporânea, usada no Tribunal de Contas do Estado do Piauí. Os
responsáveis pelas obras não levaram em consideração o valor patrimonial do conjunto,
alterando assim a essência do projeto pensada inicialmente e inviabilizando a construção da
obra prevista no projeto original.
O objetivo geral desse estudo concentra-se em demonstrar a importância histórica do
Centro Administrativo do Piauí em conjunto com a análise da descaracterização do edifício,
ressaltando a importância da preservação de identidade do conjunto, adotando o edifício
como documento da identidade de um povo.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
A metodologia trabalhada é a mesma usada no grupo de extensão, vinculado ao
departamento de construção civil e arquitetura do Centro de Tecnologia da Universidade
Federal do Piauí, idealizado Professora Alcília Afonso Albuquerque com a finalidade de
desenvolver pesquisas na área de preservação do patrimônio e divulgar para a sociedade a
importância do mesmo, cadastrado na UFPI e que atualmente prossegue através da
pesquisa de extensão Inventário de Bens Culturais de Teresina, orientado pela arquiteta
professora Ana Negreiros.
2. Contexto Histórico
Durante o período da ditadura militar, regime que pretendia construir o "Brasil grande e
moderno", não aconteceu o "silêncio arquitetônico" como muitos pensam. Pelo contrário,
foram produzidas obras significativas em todo o país. “Como o centro administrativo do
Piauí, projetado em 1979, quando o Brasil passaria por um processo de modernização
burocrática apoiado em intensa centralização administrativa e financeira na esfera federal
(SEGAWA, ano, p.160)”. O Centro passaria a unificar e fortalecer as atividades
administrativas do Estado, e passaria a integrar o conjunto de grandes obras civis do regime
militar.
A área de construção do Centro Administrativo do Piauó na zona sul possuía, na época,
construções de conjuntos habitacionais, mas também vazios urbanos ao longo do rio
Parnaíba e essas áreas inundavam no período chuvoso. Esse fato fez com que a escolha do
terreno fosse feita e aproveitaram para integrar o centro as áreas já urbanizadas.
A escolha da área levou em consideração alguns fatores com grande relevância social,
política e econômica. Os fatores foram: a perspectiva de crescimento da área e as
definições de ocupação do solo propostas pelo plano diretor de Teresina, facilidade de
acesso as sistema viário, preocupação com a preservação de boa parte da área verde de
Teresina, valorização da margem do Rio Poty e um tratamento paisagístico com a criação
de parques e áreas de lazer para a população.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Figura 01. Vista aérea do Centro Administrativo do Piauí. 2013.
Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina.
Já os outros fatores que elevaram o atual governador da época a construir o Centro
Administrativo foram: elevados gastos com aluguéis, manutenção e improvisação dos locais
onde as secretarias estavam instaladas, desarticulação entre os setores e impossibilidade
de ampliação.
O Projeto do Centro Administrativo foi idealizado pelos arquitetos: Marcus Vinícius Rios
Meyer, Marcio Pintos de Barros, Raimundo Dias e Raul de Largos Cirne. Houve um estudo
das condições técnicas e econômicas pois as condições topográficas do lugar não era muito
favorável.
Durante a fase de construção o Centro gerou várias transformações urbanas no entorno,
como o prolongamento da Avenida Maranhão e um aumento da população urbana na área.
A área de implantação do centro é de 146 608 m², sua fase de construção foi de 1979 a
1983, nesse período o Piauí foi governado por Djalma Martins Veloso(1978-1979), por
Lucídio Portela Nunes (1979-1983) e por Hugo Napoleão do Rego Neto (1983-1986), que
estava governado no ano do fim da construção.
3. Projeto Original
O Centro Administrativo constitui um conjunto edificado de grande importância para a
Arquitetura Moderna Teresinense. Inicialmente a planta original consistia em oito blocos,
mas só foram construídos seis, onde são ligados de dois em dois por blocos menores, sobre
pilotis, possuem planta livre, que permitem uma maior liberdade na distribuição e futuras
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
modificações no layout, circulação vertical e baterias sanitárias. Os blocos são dispostos no
sentido leste-oeste, além do projeto original que tinha o Palácio dos Despachos ao centro,
complementados por um auditório e um Centro de Informática. As edificações estão
dispostas no terreno de uma forma hierárquica e com uma organização plástica.
Figura 02. Planta baixa pavimento tipo.
Fonte: Redesenho de Ana R. S. Negreiros Feitosa.
Foi realizado um estudo prévio do layout, de acordo com Raimundo Dias, estabelecendo
condições para a disposição interna dos blocos. Em toda a edificação há divisória móvel e
forro pacote. Procurando ser o mais flexível possível no futuro, caso houvesse a
necessidade de mudar as divisórias, as luminárias ficariam entre uma e outra. A instalação
elétrica passaria por dentro da divisória e nela teria interruptores e tomadas.
Figura 03. Maquete digital dos edifícios. 2015
Fonte: Inventário de Bens Culturais de Teresina. Maria José S. B. Carvalho.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
O programa de cada secretaria era o mesmo, independente do tamanho: sala de reunião,
sala da secretaria, o gabinete do secretário com banheiro e um pequeno auditório para
reuniões. Cada bloco possuía uma solução estratégica, onde o gabinete do secretario ficaria
próximo a uma escada que ligava ao subsolo de serviço, sendo um acesso privativo,
independente da escada do público.
3. Função
Em Teresina, assim como nas demais áreas urbanas brasileiras, ouve a necessidade de
criar uma organização administrativa para atender a uma estrutura social. E desde a
formação das cidades é perceptível à propensão em unificar os equipamentos políticos
administrativo em um único local.
A busca de lugares próprios para a administração pública tornou-se recorrente, sobretudo
no Brasil dos anos 1970 -, fenômeno que não deve ser desvinculado da ostentação do
“milagre econômico” do período nem da política de centralização administrativa, ao estilo
autoritário do governo pós-golpe de 1964 ( SEGAWA, 1999, p.176).
Posteriormente ao projeto do Centro Administrativo do Piauí as secretarias estavam
divididas em edificações alugadas ou impossibilitadas de ampliação espalhadas pela cidade.
Já com o projeto idealizado na década de 70 e levada adiante pelo então governador Dirceu
Arcoverde (1975-1978) houve a possibilidade de unificação física dos espaços, já que “O
Estado passaria por um processo de modernização burocrática apoiada em intensa
centralização administrativa e financeira na esfera federal (SEGAWA, 1999, p.160)”.
Atualmente o Centro Administrativo do Piauí abriga as secretarias da Fazenda, Educação,
Planejamento, executadas de junho de 1977 a julho de 1978, da Saúde e Segurança do
Trabalho, construídas de dezembro de 1976 a março de 1983.
4. Conjunto Arquitetônico e Urbanístico
O Centro Administrativo do Piauí foi concebido nos preceitos da arquitetura moderna,
utilizando o brutalismo, movimento das décadas de 50 e 60 e desenvolvido por arquitetos
modernos que pregavam a “verdade estrutural” nas edificações, em suas principais
características. O seu conjunto arquitetônico possui uma distribuição espacial no terreno que
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
demonstra a monumentalidade das edificações, que possibilita um passeio por toda a área
da construção, a qual possui um projeto paisagístico bem definido. A relação entre o
espaço, programa e estrutura, faz com que os edifícios tenham mais expressão,
enaltecendo a obra de Raimundo Dias.
O conjunto é composto por seis blocos principais que são ligados de dois em dois por blocos
menores constituídos por escadas e baterias sanitárias. Os blocos principais possuem
planta livre sustentada por pilares centrais e periféricos, além dos pilares externos em
concreto aparente. Possui planta livre dos pavimentos para uma maior facilidade na
adequação do edifício às funções que ele viria a ter, facilitando futuras alterações no layout.
É notória uma maior transparência dos materiais e da estrutura, com formas quase
monolíticas e a busca, na estrutura, da verdade arquitetônica e a pureza da forma,
características marcantes da arquitetura moderna.
Figura 04. Edifício com seu envoltório verde. 2015.
Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
Foram utilizados pilares em V de concreto aparente em sequência para a elevação do
primeiro pavimento, obtendo-se um vão sustentado por um sistema de pilotis. A solução
dada à cobertura é separada do volume interno. Fachadas de maior extensão compostas
por longas esquadrias de vidro e alumínio ajudam na iluminação do edifício, em conjunto
com paredes de fechamento em tijolo aparente.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Figura 05. Fechamento de vidro e tijolo aparente. 2015.
Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
Optou-se pela solução horizontal dos blocos das secretarias, em quatro níveis. Foi eliminado
o uso do elevador para garantir a integração com a paisagem natural e a escala humana,
além da economia de energia pela não utilização desse tipo de maquinário. A composição
garante a permeabilidade espacial com a contemplação das massas dispostas em
diferentes locais numa imensa área livre. A harmonia entre as elas foi garantida através de
um distanciamento estudado entre os blocos. Para permitir além da perfeita
intercomunicação entre os blocos do conjunto, boas condições de iluminação e ventilação.
Como solução estrutural foi adotada a independência dos elementos construtivos. Os pilares
são independentes dos panos modulados de vidro, bem como, observar-se que a caixa
volumétrica fica envolvida pelo sistema estrutural, recurso muito utilizado em edificações
modernas como, por exemplo, o Palácio da Justiça em Brasília.
O partido urbanístico levou em consideração as condições paisagísticas e topográficas do
local, pois havia a necessidade tanto de a implantação de uma malha viária que
abastecesse toda a edificação quanto de um dique para proteger a local que é propício a
alagamentos devido ao fato desta ser uma área ribeirinha, às margens do rio Parnaíba.
Desse modo foi proposta uma via dupla perimetral interligada com conexões junto ao
sistema viário existente, contudo sem a passagem de transporte coletivo pelo conjunto.
Essa via determinou a demarcação física da área do Centro Administrativo do Piauí e serve
de contenção a suscetíveis enchentes.
A circulação de pedestres foi disposta no sentido longitudinal, conectada aos diversos
blocos. Sendo que a circulação entre blocos vizinhos ocorre por meio de passarela. Os
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
estacionamentos foram dispostos em formas não muito bem definidas, mas que se
assemelham a bolsões, esses juntos aos blocos de forma a contornar toda a área da
edificação. Junto com o estacionamento normal, foi proposto passagens ao nível semi-
enterrado que permitiriam a entrada e saída de veículos de carga e serviço.
5. Projeto Paisagístico
O projeto original de paisagismo do Centro Administrativo foi à preservação da grande
quantidade de verde presente no local, para que essa possa harmonizar com a obra
arquitetônica assim oferecendo conforto climático.
Figura 06. Áreas verdes adjacentes ao bloco. 2015.
Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
Foi planejada uma ilha fluvial na qual comportaria a residência do governador e também
para preservação da fauna e flora local, no Palácio dos Despachos foi previsto um lago
artificial, na parte frontal do palácio foi pensado em uma grande esplanada para cerimônias
cívicas, com um mastro estrutural marcando o conjunto arquitetônico e em relação à
arborização foram planejadas grandes áreas sombreadas tanto para conforto dos pedestres
quanto para estacionamentos.
O Centro Administrativo e sua área paisagística possui grande vocação para Parque
Urbano, graças ao entorno, a localização e da sociedade que já faz uso da área para o
lazer. E mesmo com vários problemas que o Centro Administrativo vem apresentando ao
decorrer de mais ou menos trinta anos de construção a população reconhece o mesmo
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
como o melhor ponto que o entorno possui para realização de inúmeras atividades físicas e
contemplativas, especialmente nas adjacências da Lagoa (na qual não estava prevista no
projeto original, mas foi adicionada para uso público), provando assim ser um ponto
agradável não somente para seus os funcionários.
Já dentro do Centro Administrativo, entre os blocos da Secretaria da Fazenda e da
Secretaria de Educação há um espaço bastante movimentado destinado ao lazer das
pessoas que frequenta a região, não é um local organizado, mas recebe diariamente uma
grande demanda de pessoas, principalmente por ser um lugar que possui longa área
sombreada, com quiosques, ponto de tiragem de cópias e até mesmo sapateiros.
Existe também entre o Centro Administrativo e a Av. Pedro Freitas uma faixa verde, onde
abriga um campo de futebol, equipamentos para prática de atividades físicas e uma
lanchonete, porém essa faixa não é utilizada plenamente, já que não possui várias quadras
de diferentes esportes.
Em relação ao trânsito no local, áreas livres estão perdendo espaço para estacionamentos,
ocupando áreas que antes se destinavam a jardins. Foram feitas alterações na estrutura
viária do local, porém os problemas de estacionamento continuam principalmente no horário
de funcionamento do prédio de 07h30min às 13h30min.
Os problemas que ocorrem no local devem-se principalmente pela falta de integração do
espaço construído com o exterior, além da necessidade populacional de adequação para
práticas de atividades diversas.
6. Descaracterização do Entorno
Como o projeto original do Centro Administrativo do Piauí não teve todas as suas etapas
concluídas, acabou deixando parte do terreno, que deveria ser utilizado para a conclusão da
obra, desprotegido e vulnerável as invasões populacionais, as quais o poder público não
conteve e hoje parte do local já está ocupado por residências com posse de imóvel. E ainda
a volumetria do edifício moderno está sendo sufocada pela implantação de novas
edificações contemporâneas, que foram implantas na parte que restou do terreno
pertencente ao governo, e estas não tiveram qualquer tentativa de integração com o Centro
Administrativo do Piauí.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
Existem hoje cinco edifícios no território administrativo, eles são a Creche Risoleta Neves
inaugurada no ano de 1985, o Tribunal de Conta do Estado do ano de 1998, Tribunal de
Contas da União, também do ano de 1998, a Associação Piauiense dos Prefeitos Municipais
no ano de 2000 e a Escola Fazendária em 2002.
A antiga Creche Risoleta Neves foi inserida para os filhos dos funcionários do estado no
governo de Hugo Napoleão. E mesmo sem uma consultoria com os arquitetos responsáveis
pelo projeto original segue as características o projeto, já que possui tijolos e concreto
aparentes, e com volumetria horizontal, e atualmente funciona como anexo da Secretaria de
Educação.
O Tribunal de Contas do Estado, projetado pela arquiteta Ana Márcia é formado por três
edifícios, um deles azul com detalhes em amarelo e o outros dois anexos brancos, ao lado
da secretaria de Saúde. A construção desses anexos interferiu na entrada da secretaria da
Saúde e favoreceu ainda mais a poluição visual do local devido a adoção da arquitetura
contemporânea na sua construção sem a devida preocupação com o diálogo entre os outros
edifícios da área.
Figura 07. Fachada principal do Tribunal de Contas do Estado. 2015.
Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
O Tribunal de contas da União foi projetado pelo arquiteto João Figueiras Lima, conhecido
também como Lelé. Está hoje implantado no complexo Centro Administrativo da capital
piauiense ao lado da lagoa. O arquiteto projetou o edifício com base nos preceitos
tecnicistas e racionais aplicados ao moderno, porém adicionado de novos materiais, como o
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
uso de uma estrutura metálica, com fechamentos tipo basculantes em vidro e piso Paviflex1.
A solução encontrada foi à construção de um prédio com apenas dois pavimentos e com
poucos apoios. Sua cobertura em arco é parcialmente revestida por brises-solei horizontais,
permitindo a entrada da luz e da ventilação. Apesar de o edifício ser moderno, ainda há o
contraste arquitetônico evidente dele com o conjunto devido ao uso de uma composição
metálica curva, diferindo-se completamente do conjunto pré-existente. Existem também
grandes grades em sua volta, o que demostra ainda mais a inserção errônea desta
construção no conjunto.
Figura 08. Fachada principal do Tribunal de Contas da União. 2015.
Fonte: Acervo Pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
A Associação dos Prefeitos Municipais solicitou ao governo uma área para instalação de sua
sede, e o então governador da época Mão Santo, que disponibilizou o atual terreno da
edificação. A APPM é um prédio no qual predomina a horizontalidade, que possui fachada
principal voltada para Avenida Pedro Freitas. Possui grandes grades, com estacionamento e
campo de futebol próprio.
1 Piso vinílico de alta tecnologia, ideal para revestimento de ambientes internos.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
Figura 09. Fachada principal da Associação dos Prefeitos Municipais. 2015.
Fonte: Acervo Pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
E por último a Escola Fazendária, criada para ser um anexo da Secretaria da Fazenda, e ser
utilizada na capacitação de funcionários, e por não haver espaços internos, uma área no
terreno do Centro Administrativo do Piauí foi doada para esta instalação. De todos os
prédios do entorno do Centro a Escola Fazendária é o de pior implementação, pois o seu
acesso não se dar pelas avenidas adjacentes e sim pelas vias internas do Centro, como a
maioria das construções do entorno que não pertencem ao projeto original, possui grade e
arquitetura não condizentes com a edificação moderna.
Figura 10. Fachada principal da Escola Fazendária. 2015.
Fonte: Acervo pessoal. Plínio Eduardo Pinheiro Santiago.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
7. Conclusão
Analisando a história da obra do Centro Administrativo no decorrer do ano de sua criação
até os dias de hoje, notam-se os aspectos políticos e sociais que transformaram parte da
edificação e principalmente na paisagem urbana, já que mesmo o prédio sendo calcado pela
arquitetura contemporânea erguida em terras administrativa, esse edifício foi e continua
sendo um vetor de crescimento para o bairro Vermelha na Zona Sul de Teresina.
A construção que sofreu depreciação e desconsideração por parte do poder público já que
este deixou o projeto original incompleto, a defasagem de alguns dos blocos do conjunto de
edifício, sem contar nas doações de partes do terreno para instalações que
descaracterizaram o entorno da construção e a não tomada de providencias para conter as
invasões populacionais que afanaram parte do terreno pertencente ao Centro, porém
mesmo com tudo isso, ele é uma representação urbana marcante, tanto para o
desenvolvimento local quanto para o lazer da população teresinense.
Diante disso alguns parâmetros poderiam ser tomados para desse exemplar moderno na
capital do Piauí, começando com o tombamento dessa referência de arquitetura brutalista
para impedir qualquer obra indevida no prédio e uma revitalização arquitetônica, urbanística
e paisagística com profissionais habilitados para tal função, respeitando o projeto original, e
buscando soluções para descaracterização da obra, e sem esquecer-se de pensar na
vocação de parque urbano do conjunto para a população local.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro.
8. Referências Bibliográficas
COLIN, Silvio. Uma introdução a arquitetura. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora UAPÊ , 2002.
DIAS, Cid de Castro. Piauí: projetos estruturantes. Teresina: Alínea Publicações Editora,
2006.
GOMES, José. Theresina ontem e hoje. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves,
1992.
GRANJEIRO, Virgínia Gonçalves. Paisagem do poder: revitalização paisagística do
centro administrativo de Teresina. Monografia apresentada como requisito para a
conclusão da disciplina Trabalho Final de Graduação II(TFG II), do curso de Arquitetura e
Urbanismo- Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2008.
GUIMARÃES, Pedro Paulino. Configuração Urbana: evolução, avaliação, planejamento e
urbanização. São Paulo: Pro Livros, 2004.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil 1900-1990. 2.ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 1999.
SILVA, Valério de Araújo; MACHADO, Cíntia Bartz. Centro Administrativo do Piauí:
Relação do edifício moderno com a capital contemporânea. In: 8 Seminário
DOCOMOMO Brasil, Rio de Janeiro- RJ, 2009.
VERISSIMO, Victor. Arquitetura moderna em Teresina: guia. Teresina: Gráfica Cidade
Verde, 2015.