Pelé craque nos campos, aprendiz nos investimentos

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56 | invista | novembro dezembro | 2010 57 2010 | novembro dezembro | invista | em evidência ||||||||||||||||||||||||| [ por Tabata Pitol IndIscuTIvelmenTe craque denTro dos camPos, Pelé - que completou 70 anos em outubro - confessa: “sou um aprendiz no mercado de capitais”. Mesmo ocupando atu- almente o posto de garoto-propaganda da BM&FBovespa, o ídolo não se intimida em afirmar: “não invisto em ações”. Mas faz questão de acrescentar: “ainda”. A afirmação é uma meia verdade. Pelé, que prefere os in- vestimentos conservadores aos arrojados, possui dois fun- dos de ações, mas diz que, com eles, não se considera um investidor de bolsa. “Comprar papéis mesmo eu nunca fiz, mas vou fazer agora”. De acordo com o jogador, a vontade de se tornar sócio de companhias de capital aberto surgiu quando ele compreen- deu que o investimento em ações é uma maneira bastante eficaz de aumentar o patrimônio. “Agora que conheço como a bolsa funciona, sei que é importante que todos os brasileiros invistam. O investimento em ações pode dar uma qualidade de vida melhor aos brasileiros, e eu quero ser exemplo”. Porém, Pelé tem uma preocupação: só investir sabendo exatamente o que está fazendo. “Devo isso ao povo. Como disse, quero ser exemplo, e acho que as pessoas precisam estudar, entender o mercado de capitais antes de investirem. E é isso que vou fazer, vou estudar direitinho e aí vou me tor- nar um investidor”. de família A predileção pelos investimentos conservadores vem de família. “Quando comecei a ganhar dinheiro com o futebol, meu pai me dizia que eu deveria investir em imóveis e terre- nos, que seriam investimentos que me dariam um patrimô- nio seguro no futuro. Foi isso que fiz e deu certo”. Mas não foram só os investimentos conservadores que lhe trouxeram a fortuna que hoje tem acumulada. Nem o fute- bol. Pelé, que sem falar em cifras admite que a vida lhe deu muito dinheiro – “o suficiente para que seus netos, se sou- berem administrar, não precisem trabalhar” - certa vez de- clarou que o Santos pagava seu salário com a bilheteria dos jogos. Quando foi para o Cosmos, em 1975, recebeu US$ 7 milhões para jogar por um ano e meio. A quantia, considera- da imensa na época, não chega nem perto dos valores pagos atualmente. Para se ter uma ideia, em 2009, o Real Madrid desembolsou R$ 256 milhões para ter o jogador português, Cristiano Ronaldo. O que realmente deu dinheiro ao ídolo foi o seu trabalho em comerciais e palestras nas últimas quatro décadas. Não é segredo que, embora pareça impossível, a marca Pelé tem mais reconhecimento e peso em vários países internacio- nais, do que no próprio Brasil, e isso lhe rendeu contratos financeiramente atraentes. Mas o atleta é categórico em afirmar que, embora essa tenha sido a fonte que lhe deu di- nheiro, ele nunca participou de propagandas de bebida alco- ólica, política, religião ou tabaco, mesmo quando uma marca de whisky ofereceu ‘o que ele quisesse’ para protagonizar uma campanha. Desde outubro de 2008, seu orçamento “o InvesTImenTo em ações Pode dar uma qualIdade de vIda melhor aos brasIleIros, e eu quero ser exemPlo", dIz Pelé conta ainda com os R$ 3 mil mensais que recebe do INSS. É a aposentadoria do rei. “Só faço propaganda do que acredito, e só aceitei vir à Bolsa porque, como já adiantei, acredito que ela pode ajudar muitos brasileiros”. negócios e riscos Mas nem só de ganhos foi composta a trajetória de Pelé. A sorte que teve dentro dos campos não foi igual nas relações profissionais que estabeleceu com seus sócios e empresá- rios. Na década de 1960, Pelé viu seu patrimônio quase ser reduzido a pó nas mãos do empresário José Osores. Nos anos 1970, um novo empresário lhe provocou um prejuízo de quase US$ 6 milhões. Não parou por aí. Em 2001, o jogador desmanchou a so- ciedade que mantinha com seu empresário Hélio Viana na Pelé Sports & Marketing, uma das pioneiras no marketing esportivo brasileiro. Após quase duas décadas de parceria, Pelé acusou Viana de ser o responsável por um calote de R$ 700 mil, que teriam sido arrecadados pela companhia para um jogo com renda destinada ao Unicef – e que não foi realizado. O fim da socie- dade foi marcado por denúncias de irregularidades nos negó- cios da companhia e do próprio Pelé, que incluíam depósitos em paraísos fiscais sem comunicação à Receita Federal. O ídolo parece não se abalar com esses acontecimentos e, ao anunciar seu contrato com a BM&FBovespa, usou as his- tórias para dar um conselho aos investidores. “O investimen- to em ações envolve riscos e eu conheço bem os riscos que uma sociedade pode trazer. Todos sabem que passei poucas e boas com empresários e sócios, mas agora aprendi. Por isso, antes de se tornar sócio de uma companhia pare, pense e avalie bem”. Ainda fazendo o papel de conselheiro, mas dessa vez falan- do na terceira pessoa – como lhe é característico – o jogador disse às pessoas físicas interessadas em alocar seus recur- sos em ações. “Só invistam como o Pelé pretende investir: de forma cautelosa e com decisões conscientes”. Entende? Craque nos Campos, aprendiz nos investimentos! Desde agosto, pelé é o garoto-propaganda da campanha “quer ser sócio?" criada pela Bm&FBovespa (www. quersersocio.com.br). a campanha faz parte da estratégia da Bolsa para atingir a meta de ter cinco milhões de investidores até 2015. a campanha associa as companhias de capital aberto a carreira esportiva de pelé, mostrando que, apesar das situações de alta e baixa, é possível obter sucesso ao longo do tempo. garoto-propaganda Fotos: Divulgação

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56 | invista | novembro dezembro | 2010 572010 | novembro dezembro | invista |

em evidência|||||||||||||||||||||||||[por Tabata Pitol

IndIscuTIvelmenTe craque denTro dos camPos, Pelé - que completou 70 anos em outubro - confessa: “sou um aprendiz no mercado de capitais”. Mesmo ocupando atu-almente o posto de garoto-propaganda da BM&FBovespa, o ídolo não se intimida em afirmar: “não invisto em ações”. Mas faz questão de acrescentar: “ainda”.

A afirmação é uma meia verdade. Pelé, que prefere os in-vestimentos conservadores aos arrojados, possui dois fun-dos de ações, mas diz que, com eles, não se considera um investidor de bolsa. “Comprar papéis mesmo eu nunca fiz, mas vou fazer agora”.

De acordo com o jogador, a vontade de se tornar sócio de companhias de capital aberto surgiu quando ele compreen-deu que o investimento em ações é uma maneira bastante eficaz de aumentar o patrimônio. “Agora que conheço como a bolsa funciona, sei que é importante que todos os brasileiros invistam. O investimento em ações pode dar uma qualidade de vida melhor aos brasileiros, e eu quero ser exemplo”.

Porém, Pelé tem uma preocupação: só investir sabendo exatamente o que está fazendo. “Devo isso ao povo. Como disse, quero ser exemplo, e acho que as pessoas precisam estudar, entender o mercado de capitais antes de investirem. E é isso que vou fazer, vou estudar direitinho e aí vou me tor-nar um investidor”.

de famíliaA predileção pelos investimentos conservadores vem de família. “Quando comecei a ganhar dinheiro com o futebol, meu pai me dizia que eu deveria investir em imóveis e terre-nos, que seriam investimentos que me dariam um patrimô-nio seguro no futuro. Foi isso que fiz e deu certo”.

Mas não foram só os investimentos conservadores que lhe trouxeram a fortuna que hoje tem acumulada. Nem o fute-bol. Pelé, que sem falar em cifras admite que a vida lhe deu muito dinheiro – “o suficiente para que seus netos, se sou-berem administrar, não precisem trabalhar” - certa vez de-clarou que o Santos pagava seu salário com a bilheteria dos jogos. Quando foi para o Cosmos, em 1975, recebeu US$ 7 milhões para jogar por um ano e meio. A quantia, considera-da imensa na época, não chega nem perto dos valores pagos atualmente. Para se ter uma ideia, em 2009, o Real Madrid desembolsou R$ 256 milhões para ter o jogador português, Cristiano Ronaldo.

O que realmente deu dinheiro ao ídolo foi o seu trabalho em comerciais e palestras nas últimas quatro décadas. Não é segredo que, embora pareça impossível, a marca Pelé tem mais reconhecimento e peso em vários países internacio-nais, do que no próprio Brasil, e isso lhe rendeu contratos financeiramente atraentes. Mas o atleta é categórico em afirmar que, embora essa tenha sido a fonte que lhe deu di-nheiro, ele nunca participou de propagandas de bebida alco-ólica, política, religião ou tabaco, mesmo quando uma marca de whisky ofereceu ‘o que ele quisesse’ para protagonizar uma campanha. Desde outubro de 2008, seu orçamento

“o InvesTImenTo em ações Pode dar uma qualIdade de

vIda melhor aos brasIleIros, e eu

quero ser exemPlo", dIz Pelé

conta ainda com os R$ 3 mil mensais que recebe do INSS. É a aposentadoria do rei.

“Só faço propaganda do que acredito, e só aceitei vir à Bolsa porque, como já adiantei, acredito que ela pode ajudar muitos brasileiros”.

negócios e riscosMas nem só de ganhos foi composta a trajetória de Pelé. A sorte que teve dentro dos campos não foi igual nas relações profissionais que estabeleceu com seus sócios e empresá-rios. Na década de 1960, Pelé viu seu patrimônio quase ser reduzido a pó nas mãos do empresário José Osores. Nos anos 1970, um novo empresário lhe provocou um prejuízo de quase US$ 6 milhões.

Não parou por aí. Em 2001, o jogador desmanchou a so-ciedade que mantinha com seu empresário Hélio Viana na Pelé Sports & Marketing, uma das pioneiras no marketing esportivo brasileiro.

Após quase duas décadas de parceria, Pelé acusou Viana de ser o responsável por um calote de R$ 700 mil, que teriam sido arrecadados pela companhia para um jogo com renda destinada ao Unicef – e que não foi realizado. O fim da socie-dade foi marcado por denúncias de irregularidades nos negó-cios da companhia e do próprio Pelé, que incluíam depósitos em paraísos fiscais sem comunicação à Receita Federal.

O ídolo parece não se abalar com esses acontecimentos e, ao anunciar seu contrato com a BM&FBovespa, usou as his-tórias para dar um conselho aos investidores. “O investimen-to em ações envolve riscos e eu conheço bem os riscos que uma sociedade pode trazer. Todos sabem que passei poucas e boas com empresários e sócios, mas agora aprendi. Por isso, antes de se tornar sócio de uma companhia pare, pense e avalie bem”.

Ainda fazendo o papel de conselheiro, mas dessa vez falan-do na terceira pessoa – como lhe é característico – o jogador disse às pessoas físicas interessadas em alocar seus recur-sos em ações. “Só invistam como o Pelé pretende investir: de forma cautelosa e com decisões conscientes”. Entende?

Craque nos Campos, aprendiz nos investimentos!

Desde agosto, pelé é o garoto-propaganda da campanha “quer ser sócio?" criada pela Bm&FBovespa (www.quersersocio.com.br). a

campanha faz parte da estratégia da Bolsa para atingir a meta de ter cinco milhões de investidores até 2015. a campanha associa as companhias de capital aberto a carreira esportiva de pelé, mostrando que, apesar das situações de alta e baixa, é possível obter sucesso ao longo do tempo.

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