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Pesquisa sobre a avaliação da aprendizagem escolar FRIEDRICH, Márcia MORAIS, Ruth Longuinho de Trabalho de pesquisa de campo sobre a avaliação da aprendizagem escolar apresentado à disciplina Avaliação da Aprendizagem em Ciências e Matemática, sob orientação dos profes- sores doutores Sandramara Matias Chaves, Sérgio Tadeu Sibov e Wagner Wilson Furtado. RESUMO: A presente investigação realizada no 1º. semestre letivo de 2007, teve como objeto de estudo a avaliação escolar. O objetivo central desta pesquisa foi investigar as concepções de alunos e educadores do ensino fundamental e médio acerca da avaliação da aprendizagem escolar. A metodologia desenvolveu-se num viés qualitativo com o uso de instrumentos de coleta de dados como entrevistas e questionários direcio- nados aos sujeitos de escolas localizadas em Ceilândia/DF e Goiânia/GO. As categorias de análise foram levantadas por meio da interpretação dos discursos dos sujeitos. Os resultados mostram que a maior parte dos investigados tem uma concepção tradicional da avaliação fundamentada na confusão terminológica dos termos “exame” e “avaliação”. PALAVRAS-CHAVE: Avaliação, concepções, alunos e professores. 1. Introdução O nosso olhar, nosso paladar, nosso olfato, nossa audição são inquiridores, ou seja, nossos sentidos per- mitem que sejamos desafiados a avaliar, a julgar e ao mesmo tempo sermos avaliados. Nesse contexto, avaliar faz parte do nosso cotidiano, mas por que ao ser colocada na relação professor e aluno a avaliação se torna tão assustadora, dominadora e tão antinatural? Será que é possível refletir sobre a prática avaliativa, no mundo em que vivemos? Onde o modelo po- lítico e econômico vigente gera uma crise educacional na qual as práticas pedagógicas desenvolvidas servem para cada vez mais construir uma sociedade excludente e perversa? Conforme Luckesi “(...) ainda praticamos exames e dizemos que praticamos avaliação” (2005:11). A palavra avaliação, por sua vez, tem sido, ao longo da história da educação, associada a julgamento, controle, medida, disciplina, classificação, logo tem servido para discriminar, premiando - nunca os diferentes - ou pu- nindo (eliminando, excluindo, fazendo calar). Estamos impregnados destes significados, eles estão em nós e em nossas práticas. Apesar de vivermos num mundo classificatório, precisamos discutir a verdadeira intenção, sentido e função da avaliação. Queremos classificar e excluir ou queremos qualificar, incluir e libertar? É importante pensar a avaliação como um ato político-pedagógico que contribua com um ensino e uma aprendizagem efetivos, críticos, integrados e criativos. 2. Histórico do Processo da Avaliação da Aprendizagem O termo “avaliação da aprendizagem” foi adotado pelo educador norte-americano Ralph Tyler nos anos 30 com a intenção de conceituar uma prática de diagnóstico do andamento da aprendizagem dos educandos

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Pesquisa sobre a avaliação da aprendizagem escolar

FRieDRich, márciamoRaiS, Ruth longuinho de

Trabalho de pesquisa de campo sobre a avaliação da aprendizagem escolar apresentado à disciplina Avaliação da Aprendizagem em Ciências e Matemática, sob orientação dos profes-sores doutores Sandramara Matias Chaves, Sérgio Tadeu Sibov e Wagner Wilson Furtado.

RESUMO: a presente investigação realizada no 1º. semestre letivo de 2007, teve como objeto de estudo a avaliação escolar. o objetivo central desta pesquisa foi investigar as concepções de alunos e educadores do ensino fundamental e médio acerca da avaliação da aprendizagem escolar. a metodologia desenvolveu-se num viés qualitativo com o uso de instrumentos de coleta de dados como entrevistas e questionários direcio-nados aos sujeitos de escolas localizadas em ceilândia/DF e Goiânia/Go. as categorias de análise foram levantadas por meio da interpretação dos discursos dos sujeitos. os resultados mostram que a maior parte dos investigados tem uma concepção tradicional da avaliação fundamentada na confusão terminológica dos termos “exame” e “avaliação”.

PALAVRAS-CHAVE: avaliação, concepções, alunos e professores.

1. Introdução

O nosso olhar, nosso paladar, nosso olfato, nossa audição são inquiridores, ou seja, nossos sentidos per-mitem que sejamos desafiados a avaliar, a julgar e ao mesmo tempo sermos avaliados. Nesse contexto, avaliar faz parte do nosso cotidiano, mas por que ao ser colocada na relação professor e aluno a avaliação se torna tão assustadora, dominadora e tão antinatural?

Será que é possível refletir sobre a prática avaliativa, no mundo em que vivemos? Onde o modelo po-lítico e econômico vigente gera uma crise educacional na qual as práticas pedagógicas desenvolvidas servem para cada vez mais construir uma sociedade excludente e perversa?

Conforme Luckesi “(...) ainda praticamos exames e dizemos que praticamos avaliação” (2005:11). A palavra avaliação, por sua vez, tem sido, ao longo da história da educação, associada a julgamento, controle, medida, disciplina, classificação, logo tem servido para discriminar, premiando - nunca os diferentes - ou pu-nindo (eliminando, excluindo, fazendo calar). Estamos impregnados destes significados, eles estão em nós e em nossas práticas.

Apesar de vivermos num mundo classificatório, precisamos discutir a verdadeira intenção, sentido e função da avaliação. Queremos classificar e excluir ou queremos qualificar, incluir e libertar?

É importante pensar a avaliação como um ato político-pedagógico que contribua com um ensino e uma aprendizagem efetivos, críticos, integrados e criativos.

2. Histórico do Processo da Avaliação da Aprendizagem

O termo “avaliação da aprendizagem” foi adotado pelo educador norte-americano Ralph Tyler nos anos 30 com a intenção de conceituar uma prática de diagnóstico do andamento da aprendizagem dos educandos

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com o intuito de tornar a sua vida escolar mais eficiente. Com o passar dos tempos toda e qualquer atividade de aferição do aproveitamento escolar passou a ser chamada de avaliação, provocando grandes e permanentes equívocos entre as ações de avaliar e examinar. Santos (1978:20) afirma que:

“(...) a confusão não é meramente terminológica. Representa posicionamentos diferentes frente ao ato educativo (...). alguns se ligam a determinadas doutrinas pedagógicas e falam mensuração da aprendizagem, outros se ligam a outras doutrinas e falam avaliação educa-cional.”

Os exames utilizados no sistema educacional dos nossos dias são herança do ensino jesuítico e pro-testante dos séculos XVI e XVII com as obras Ratio Studorium dos jesuítas, publicada em 1599 e da Didática magna publicada em 1632 e 1657 pelo bispo protestante John Amós Comênio. Segundo Luckesi (2005:24) o ensino jesuítico e protestante da época, expressava uma forma de educação disciplinada e autoritária, cujo objetivo principal era formar um educando obediente às autoridades, aos preceitos religiosos e conhecedor da cultura geral e capaz de desenvolver argumentos lógicos, porém acríticos. Além dos vínculos com as pedago-gias católica e protestante dos séculos XVI e XVII, os exames atuais também reproduzem as relações desen-volvidas na sociedade burguesa, em especial o modelo bonapartista de governo, centralizador, autoritário e excludente. (LUCKESI, 2005:26)

Com a o movimento da Escola Novista a ênfase foi dada ao aluno e a avaliação surgiu como meio de auxiliar o crescimento cognitivo e social do educando.

Tyler na década de 50 traz uma abordagem na qual as avaliações deveriam sistematizar os objetivos a serem atingidos pelos educandos, expressando a preocupação com a eficácia dos programas de ensino nos quais a avaliação estava intimamente ligada à construção de comportamento pela eficiência.

Na década de 70, com o desenvolvimento tecnológico, no período chamado Tecnicista, a importân-cia da educação era formar educandos capazes de atenderem as necessidades da sociedade industrial. Neste período também surgem publicações abordando a avaliação da aprendizagem escolar, com um caráter crítico demonstrando uma inquietação em relação as práticas avaliativas.

Pode-se perceber que o processo avaliativo, como o processo educativo, adequa-se ao momento histó-rico vigente. De acordo com as necessidades da sociedade atual as práticas são exercidas nas escolas demons-trando claramente os aspectos inquietantes do contexto escolar e da sociedade capitalista e do sistema político na qual está inserida.

“Contudo, não é descabido buscar, experimentar e construir um novo caminho. Afinal so-mos parte da totalidade e, quando uma parte do todo se move, de alguma forma, o todo também se move; e, assim iremos fazendo a revolução, que nada mais é do que o próprio caminho da história dos homens e das mulheres neste planeta e neste tempo, em busca de uma vida individual e coletiva mais satisfatória, mais alegre, mais feliz, mais bela”. (LUCK-ESI, 2005:37)

Em tempos pós-modernos em que se educa para a autonomia colaborativa e onde se busca a prática de uma educação libertária e não bancária, a avaliação da aprendizagem escolar deve procurar construir uma prática que considere as conquistas e os desafios grupais de forma que os resultados expressem novas aprendi-zagens coletivas e não somente as individuais.

3. Metodologia

Esta investigação baseou-se numa abordagem qualitativa dando-se ênfase às falas dos sujeitos numa análise de discurso quanto a avaliação da aprendizagem escolar. Os dados foram coletados entre alunos e

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professores por meio de entrevistas estruturadas e aplicação de questionários. Foram feitas 17 perguntas aos professores e 11 aos alunos. As respostas das entrevistas e dos questionários foram tabuladas sem correção de erros ortográficos e de concordância. Os quatro professores participantes foram identificados como P1, ..., P4 e seus respectivos alunos, dois de cada professor, como A1, ..., A8. A coleta de dados foi realizada em duas instituições de ensino, uma de Goiânia e outra do Distrito Federal. O Colégio Estadual da Cidade de Goiânia situa-se num bairro mesclado entre comércio e residências que apresenta uma comunidade com situação socio-econômica de média a baixa. Este colégio é composto por aproximadamente 700 alunos atendidos no matutino e vespertino em sistema de seriação nas modalidades de Ensino Fundamental (6º. ao 9º. ano) e Médio (1º. ao 3º. ano). Há 60 professores graduados e alguns pós-graduados (especialistas). A escola do Distrito Federal/DF localiza-se na cidade de Ceilândia. É uma escola pública conveniada que atende alunos das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental nos turnos matutino e vespertino com sistema educacional organizado em ciclos. O corpo docente é totalmente graduado com alguns especialistas. A prática avaliativa desta escola engloba três aspectos: Avaliação Cognitiva, Atitudinal e Auto-avaliação. Todos os professores entrevistados/questionados são graduados, sendo um deles especialista. Os professores de Goiânia são das áreas de Matemática e Física e os do DF são das áreas de Português e História. Os alunos do Distrito Federal têm entre 11 e 15 anos de idade e cursam as séries finais do Ensino Fundamental, os de Goiânia cursam o Ensino Médio e estão na faixa etária dos 15 aos 16 anos.

4. Dados Coletados

Dados dos Professores:

1- O que você entende por avaliação da aprendizagem?

P1 P2 P3 P4

“A avaliação é uma reflexão que temos, se o aluno atingiu ou não os marcos da aprendi-zagem.”

“A avaliação é um instrumento funda-mental para fornecer informações sobre como está se realizan-do o processo ensino-aprendizagem.”

“Um Método eficaz de se verificar se o aluno aprendeu ou não os conteúdos ministra-dos.”

“É uma forma de disci-plinar o aluno, cobran-do um retorno do que foi ensinado, o conhe-cimento e comporta-mental que depende da formação de cada um; envolve a família É um feed back.”

2- Qual a função da avaliação no processo de ensino-aprendizagem?

“A finalidade da ava-liação é de nos orientar quanto o ensino e o aprendizado.”

“Avaliação no proces-so de ensino-aprendi-zagem é diagnosticar como está se dando o processo e coletar informações p/ corrigir possíveis distorções observadas nelas.”

“Verificar se os objeti-vos foram atingidos.”

“Observar o desempe-nho do aluno, o que ele conseguiu alcançar; os objetivos propostos.”

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3- Como você avalia o seu aluno? Que instrumentos utiliza para tanto?

“Participação, respeito, compromisso e conte-údo.”

“Usualmente faço a verificação do apro-veitamento do aluno por meio de procedi-mentos formais, isto é, trabalhos, aplicação de provas bimestrais e também com a capa-cidade de expressão oral ou na habilidade de manipular materiais pedagógicos desco-brindo suas caracterís-ticas e propriedades.”

“O aluno é avaliado observando basica-mente dois aspectos: cognitivo e atitudinal. Instrumentos utiliza-dos: leitura de textos, atividades em sala de aula e em grupo.”

“Através de provas individuais com con-sulta ou sem, trabalhos, teste oral , exercícios diários, trabalho em gruo para socialização, avaliação do com-portamento (respei-to, organização do material, limpeza do corpo e do ambiente, relacionamento com os colegas.”

4- Por que você avalia assim?

“Porque no Estado devemos dar notas para o aluno.”

“Acho que é necessário você avaliar o aluno das duas formas, tanto formal (avaliações) e com habilidades cognitivas, temos um meio-termo.”

“Porque acredito que esta seja a melhor forma e a mais justa de se avaliar.”

“Porque o sistema pede. Não é completo, mas alcança parte dos objetivos propostos. Você vê o aluno como um todo: social, emo-cional e cognitivo.”

5-Quais as suas maiores dificuldades ao avaliar o seu aluno?

“Os alunos da rede Es-tadual está cem com-promisso, dessa forma é difícil a avaliação.”

“É uma responsabili-dade enorme, porque temos que construir sujeitos autônomos mas somos obrigados a seguir as normas do Estado, às vezes contrariando os nossos ideais.”

“Mensurar de forma justa o que ele apren-deu.”

“Você não consegue avaliar o aluno no todo. Não sabemos o histórico do aluno, tanto na parte familiar quanto curricular.”

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6- Qual é a sua opinião sobre os procedimentos avaliativos utilizados pelos professores desse nível de ensino?

Não respondeu “Os Professores utili-zam esses instrumentos como sanção, punição ou apenas para ajuizar valores. Mas, não é nossa culpa, temos que fazer o que o sistema cobra.”

“Os procedimentos avaliativos são muito bons.”

“Deixam o aluno preguiçoso, preso à pontuação. Não há reprovação e o aluno não corre atrás, fica satisfeito apenas em passar de ano letivo. O próprio sistema induz o aluno, eles não lêem as questões da prova escrita e não refletem sobre as mesmas.”

7-Como você acha que deveria ser a avaliação da aprendizagem nesse nível de ensino?

“Acho que deveria ser não somente participa-ção, respeito, mas um ponto maior nos con-teúdos que os alunos absorveram.”

“Avaliar o que os alunos sabem, como sabem e como pensam matematicamente.Avaliar se o aluno compreendeu os con-ceitos, os procedimen-tos e se desenvolveu atitudes positivas em relação a mat.”

“Do jeito que está atende às necessida-des.”

“Deveria ser apenas através de provas escritas como nos con-cursos, vestibulares. Estimulariam o aluno a estudar.”

8-Qual a melhor forma de avaliar o desempenho do aluno?

“É verificando dia-a-dia o desempenho do aluno. No Estado é impossível, pois, as salas estão lotadas.”

“É a auto-avaliação do aluno, se bem orienta-da, é muito construtiva para favorecer uma análise crítica do seu desempenho.”

“Lançando mão de diferenciados métodos que avaliam o aluno de forma integral tanto no aspecto cognitivo quanto no atitudinal.”

“Prova escrita.”

9-Qual é a sua formação? Graduação, especialização, mestrado, doutorado?

“Licenciatura Plena em Física.”

“Graduada em Mate-mática.”

“História – Licenciatu-ra Plena.”

“Letras – Português/Espanhol e especiali-zação em Psicopeda-gogia.”

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10-Há quantos anos trabalha como professor (a)?

“três anos” “15 anos” “ Desde 1993.” “Há 10 anos.”

11-Quantas aulas você ministra por semana?

“43 aulas” “28 aulas”“30 h/a de 50 min cada.”

“24 h/a.”

12- Sua atuação é na escola pública, particulares ou ambas?

“ Pública.” “Ambas” “Na rede pública.” “Pública.”

13-Você acha que existem diferenças, peculiaridades, inovações na sistemática de avaliação da aprendizagem nas escolas em que você trabalha? Por que?

Não respondeu. “Não, falta nas escolas públicas uma maior participação dos pais na vida escolar dos filhos.”

“Sim, mas precisam ser melhoradas.”

“Não há diferença. A forma daqui é mais detalhada. Criam mais aspectos.”

14-Em sua opinião, quando uma avaliação deve ser realizada? Em quais situações ou momentos?

“Deve ser realizada após cada conteúdo ministrada.”

“Durante todo o tem-po.”

“Em qualquer mo-mento que o professor julgar necessário.”

“A avaliação deve ser diária com culminância a cada dois meses.”

15- Quem deve fazer a avaliação e quem deve ser avaliado no processo de ensino-aprendizagem escolar? Quem são os responsáveis e os participantes do processo avaliativo?

“O professor.” “Vimos que a avalia-ção é um elemento, uma parte integrante do processo ensino-aprendizagem, abran-gendo a atuação do professor e o desempe-nho do aluno.”

“O aluno e o profes-sor.”

“O próprio professor que acompanha o pro-cesso de aprendizagem no dia-a-dia podendo ouvir sugestões da equipe de coordena-ção.”

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16- Sugira outras formas para se avaliar a aprendizagem do aluno?

Não respondeu. • “Propor situa-ções-problema que envolvam aplicações de conjunto de idéias matemá-ticas.

• Propor que o aluno inven-te, formule problemas e resolva-os.”

“Já são suficientes.” “Conhecer mais a família do aluno, mais passeios com o aluno; sair das quatro paredes. Quando conheço a realidade do aluno, fico mais sensível. Posso saber porque o aluno se comporta assim.”

17- O que pode ser feito com as informações obtidas nas avaliações?

“As informações obti-das nos mostra o nível da turma, dessa forma, podemos rever nossos conceitos.”

“É algo bem mais am-plo para se falar sobre medir quantidade de conteúdos que o aluno aprendeu em determi-nado período.”

“Devem ser usadas para a promoção do aluno para outras sé-ries e ao mesmo tempo para seu crescimento pessoal.”

“Só somatório para passar o aluno mesmo. Verificar se o aluno conseguiu a aprovação ou a reprovação.”

Dados dos alunos:

1- O que você entende por avaliação da aprendizagem?

A1-“Eu entendo que a avaliação é para ver se os alunos em pessoal pode mostrar o que sabe da matéria”

A2-“Eu entendo que a avaliação é um teste que fazemos para testar nossos conhecimentos e ver o que aprende-mos durante o bimes-tre”

A3-“Uma forma de saber como anda seu desempenho em rela-ção as matérias.”

A4-“A avaliação é a forma do profes-sor saber como foi o desenvolvimento do aluno em relação ao conteúdo”

A5- “A prova ensina mais, É tipo um teste pra ver se você tem competência.”

A6- “Pode saber como você está, se você aprendeu.”

A7- “É uma prova.” A8- “Porque o profes-sor passa todo o conte-údo e vai ver se o alu-no aprendeu realmente, ele faz avaliação.”

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2- Qual a função da avaliação no processo de ensino-aprendizagem?

A1-“Para os professo-res ficaram sabendo se os alunos estão real-mente aprendendo”

A2- “A função da avaliação é fazer uma análise do que apren-demos durante todo o bimestre”

A3-“Abordar o que foi passado em todo o bimestre.”

A4-“A função e mos-trar o que você apren-deu durante as aulas.”

A5- “Pra ver se real-mente você aprendeu o que o professor ensinou. Um teste de conhecimento.”

A6- “É um teste de aprendizagem.”

A7- “Pode ajudar a passar, pra tirar nota boa na prova você tem que estudar muito pra passar de ano.”

A8- “Serve pra o aluno ganhar nota, conseguir passar. Pro professor analisar os alunos.”

3- Qual a sua opinião sobre os procedimentos avaliativos utilizados pelos professores desse nível de ensino?

A1- “Correto por que os alunos mostram o que sabe e o que não sabe.”

A2- “Acho correto os procedimentos avalia-tivos.”

A3- “Muito bom.” A4- “Ruim, os profes-sores não exige muito do aluno e por isso os alunos não se esforça para aprender.”

A5-“Provas, trabalhos, perguntas surpresa, quem responde pri-meiro, desafios, Acho legal, interessante, tem mais chances de ganhar ponto.”

A6-“Bom. A gente aprende

melhor.”

A7- “Tem a avaliação atitudinal: preciso melhorar, às vezes, sempre e a cognitiva. Acho muito bom.”

A8- “Duas prova de 15 pontos que o professor passou, com várias questões ou poucas; a que tem mais questões tem que prestar mais atenção, porque vale mais ponto. Eu acho que o jeito é legal.”

4- Como você acha que deveria ser a avaliação da aprendizagem nesse nível de ensino?

A1-“Acho que seria melhor em duplas porque com as duas pessoas sairia melhor as avaliações”

A2-“Fazer algumas provas individuais e outras em grupo.”

A3-“Trabalhos, pois é muito interessan-te pesquisar sobre assuntos que você não conhece.”

A4-“Mais rigida, que fisesse o aluno ser mais dedicado e exigisse o aluno pensar mais.”

A5- “Tá bom.” A6-“Bom. Só co-

locaria mais desafios.”

A7- “Tá bom assim mesmo.”

A8- “Tá bom do jeito que é.”

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5- Qual a melhor forma de avaliar o desempenho do aluno?

A1-“De melhor forma seria passar um traba-lho valiativo.”

A2-“Através de traba-lhos.”

A3-“Prova e teste.” A4-“O istimulando a aprender, com novas tecnicas de ensino.”

A5- “Oral.” A6- “Oral.” A7- “É a prova escri-ta.”

A8- “gosto da atitudi-nal e dos trabalhos.”

6- Qual a sua idade?

A1-“16 anos- série (2ºB)”

A2-“15 anos – série (2º B)”

A3-“16 anos- 2º C” A4-“15 anos – 2º C”

A5- “13 – 8ª. série” A6- “15 – 8ª. série” A7- “11 anos – 6ª. série”

A8- “12 anos – 6ª. série”

7- Sempre estudou em escola pública?

A1-“Sim.” A2-“Sim.” A3-“Sim.” A4-“Sim.”

A5- “Sim” A6-“Sim.” A7- “Sim.” A8- “Já estudei na par-ticular até o Jardim 3.”

8- Em sua opinião, quando a avaliação deve ser realizada? Em quais situações ou momentos?

A1- “Bimestraes.” A2-“Deve ser realizada todo fim de bimestre.”

A3-“Depois que as dúvidas forem tiradas e o conteúdo devidamen-te dado.”

A4- “Após terminar o capítulo para não ficar muita matéria para estudar, e é mais fácil de entender.”

A5- “No final do tri-mestre.”

A6- “Em todo final de explicação do profes-sor.”

A7-“Não gosto de teste surpresa. No meio do trimestre.”

A8-“Eu acho que poderia ser uma no meio e uma no final do trimestre. Atitudinal só no final.”

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9- Quem deve fazer a avaliação e quem deve ser avaliado no processo de ensino-aprendizagem escolar? Quem são os responsáveis e os participantes do processo avaliativo?

A1-“Os professores de cada matéria devem avaliar suas provas.”

A2-“Os professores de cada matéria devemos aplicar e avaliar os seus testes.”

A3-“Seria bom se todos a fizessem pois abordar o que já se aprendeu, se-ria bom para todo, desde diretores até faxineiras(abordando é claro os alunos). Res-ponsáveis, professores e os participantes são os alunos.”

A4-“Tinha que ser todos incluindo os alunos se os alunos exigisse um do outro envolvesse no conte-údo, o conteúdo seria mais fácil.”

A5- “Professor e professores de fora que não dão aula pra gente.”

A6- “Professor.” A7- “Os professores. Nós os alunos.”

A8- “O professor de fazer a avaliação e o aluno avaliado.”

10- Sugira outras formas para se avaliar a aprendizagem escolar:

A1-“Em exercícios na sala de aula avaliati-vos.”

A2-“Em exercícios e trabalhos.”

A3-“Trabalhos, prova e gincanas com prê-mios sobre a matéria.”

A4-“Gincanas, jo-gos, brincadeiras que instimulem o aluno a estudar.”

A5- “Oral.” A6- “Oral.” A7- “Que os professo-res explicassem, pas-sassem dois trabalhos; passar mais atividades e olhar mais os cader-nos.”

A8-“Como se comporta, se ele conversa.”

11- O que pode ser feito com as informações obtidas nas avaliações? Como utilizar os resultados das avaliações?

A1-“Se não for uma boa nota acho que o professor deveria aplicar um trabalho e esplicar para o aluno mais a matéria pra ver se entende melhor.”

A2-“Se o aluno tiver uma boa nota nas ava-liações isso mostra que ele aprendeu durante o bimestre se ele teve uma nota baixa o pro-fessor poderia dar nova chance ao aluno.”

A3-“Se o desempe-nho não for bom o jeito é se dedicar mais. Como uma forma de se avaliar em relação aos estudos.”

A4-“Dependendo do resultado se estivesse com dificuldade dava outra oportunidade, se for dificuldade ajudada em casa se fosse pregui-ça deixava por ele não estava se esforçando.”

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A5- “Pra ver suas difi-culdades nas matérias.”

A6- “Pra passar.” A7- “Soma os resul-tados dá as notas. Pra ajudar pra passar.”

A8- “Eu acho que se você tirou uma nota boa serve pro final do trimestre você passar com nota boa. Resulta-do do seu esforço.”

5. Concepção da Avaliação da Aprendizagem

5.1. Confusão Terminológica

Diante da análise dos dados coletados notamos que a concepção de avaliação da aprendizagem tem sido encarada tradicionalmente como exame tanto nos discursos dos professores quanto dos alunos. Há um equívoco terminológico notável entre avaliar e examinar. Especificamente nas falas de alunos e professores constatamos que a avaliação está nitidamente ligada à verificação e mensuração de conteúdos, ou seja, o que se pratica são exames em que o aluno presta contas da quantidade de assuntos que aprendeu no bimestre ou trimestre para que seja promovido. Nos discursos abaixo se observa esta confusão entre avaliar e examinar:

P4 - “(...) é uma forma de disciplinar o aluno, cobrando retorno do que foi ensinado (...).”A1 - “Eu entendo que a avaliação é para ver se os alunos em pessoal pode mostrar o que sabe da matéria.”

Nas falas de alunos e professores pudemos identificar concepções semelhantes quanto a função da avaliação da aprendizagem. P4 acredita que a avaliação funcione como uma forma de alcance da disciplina por meio das cobranças daquilo que é transmitido aos alunos. A1 não menciona a questão da disciplina, mas concebe a avaliação como um retorno ao professor do que foi ensinado durante as aulas. As falas de P4 e de A1 explicitam com clareza aspectos que configuram a prática da avaliação da aprendizagem como exames.

Luckesi, (2005:15-17) elenca diversas características das práticas pedagógicas do exame e da avalia-ção. Para o autor os exames são julgadores, pontuais, classificatórios, seletivos, estáticos, antidemocráticos e autoritários. Já as avaliações são diagnósticas, processuais, dinâmicas, inclusivas, democráticas e dialógicas.

Outro ponto a considerar é o fato de os alunos serem quase unânimes ao conceberem a avaliação como prova. Quando questionados sobre o que entendem por avaliação; qual a função da avaliação da aprendiza-gem; qual a melhor forma de se avaliar e a opinião sobre as práticas avaliativas adotadas, salientamos algumas respostas:

A2 – “Fazer algumas provas individuais e outras em grupo.”

A6 – “É um teste de aprendizagem.”

A7 – “É uma prova.”

Os professores, apesar de fazerem uso constante das provas, defendem nas falas a necessidade de se utilizar outros instrumentos para a avaliação da aprendizagem escolar. Ao questionarmos os professores como avaliam seus alunos, obtivemos as seguintes respostas:

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P2 – “Usualmente faço a verificação do aproveitamento do aluno por meio de procedimentos formais, isto é, trabalhos, aplicação de provas bimestrais (...).

P4 – “Através de provas individuais com consulta ou sem, trabalhos, teste oral, exercícios diários, trabalho em grupo, socialização, avaliação do comportamento (...).”

Considerar a prova como único e principal instrumento para avaliar a aprendizagem escolar do aluno é limitar os recursos disponíveis para tal prática pedagógica. Segundo Luckesi (2005), provas escritas e orais, seminários, mini-aulas, debates etc. não são instrumentos avaliativos, mas sim instrumentos de coleta de da-dos que de acordo com a concepção do educador servem tanto para examinar como para avaliar o educando. É importante que o educador tenha conhecimento dos instrumentos de coleta de dados e que saiba utilizá-los adequadamente.

5.2. Avaliação nas Relações de Poder

Alunos concebem a avaliação com o objetivo de julgá-los, aprovando-os ou reprovando-os, e profes-sores a concebem como fator de controle da disciplina.

P4 - “É uma forma de disciplinar o aluno, cobrando um retorno do que foi ensinado, o conhecimen-to e comportamental que depende da formação de cada um; envolve a família. É um feed back”.

A3 - “Uma forma de saber como anda seu desempenho em relação as matérias”.

A8 - “Serve pra o aluno ganhar nota conseguir passar. Pro professor analisar os alunos”.

Na fala de P4 além de observarmos uma concepção tradicional de avaliação da aprendizagem, este ainda coloca o fator controle e disciplina, usando a avaliação numa relação de poder como observa Luckesi (2005:26-27).

“A prática dos exames, através das provas, manifesta-se, tanto na história da educação quanto na prática escolar do presente, como um recurso muito especial de administração do poder na relação pedagógica. A prática dos exames reproduz o modelo de administra-ção do poder na sociedade; modelo centralizador, bonapartista”.

Reportamos-nos a Ratio Studiorum onde as regras eram claramente impostas para a realização das pro-

vas e no decorrer dos seus 408 anos estas foram assimiladas pela avaliação da aprendizagem escolar gerando uma confusão terminológica entre exames e avaliações, como vimos anteriormente e, apesar dos esforços de pesquisadores e estudiosos em educação no sentido de uma mudança de concepção percebemos ainda a forte presença dos exames nas práticas avaliativas.

Como já discutimos na introdução, o modelo bonapartista expõe o autoritarismo, portanto a relação de professores e alunos para com a avaliação da aprendizagem tem sido carregada de julgamentos e terror que vi-sam à aprovação ou a reprovação do aluno bem como a manutenção da obediência e do “bom” comportamento dos educandos, sem dar o devido valor à aprendizagem, como nos lembra Luckesi (2005:16), “Um ensino de boa qualidade investe na aprendizagem e não na aprovação das séries escolares.”

Na concepção dos alunos participantes da pesquisa notamos que todos concordam que a avaliação é apenas uma prova para testar os conhecimentos relacionados aos conteúdos, “mostrar competência” conforme fala de A5.

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A avaliação escolar como está posta, com calendários, boletins, notas, critérios mostra uma sistema-tização rígida trazendo concepções históricas, tradicionais e disciplinares. Há uma necessidade de que essa estrutura se mantenha, como forma de organização do ato pedagógico, tanto no controle do aluno como do professor, como coloca Hoffmann (1998:186), “Para educadores e educandos, para a sociedade, a avaliação na escola é obrigação: penosa, um mal necessário”.

As práticas avaliativas desenvolvidas como podemos observar, demonstram que a necessidade da quantificação está presente no cotidiano escolar. Mesmo alguns professores ao usarem o termo diagnóstico, este tem uma conotação de medida. O quanto o aluno aprendeu, se aprendeu ou não. Isto demonstra uma con-fusão no uso dos termos: Avaliar e examinar.

Para A7 a função da avaliação da aprendizagem escolar reflete claramente o que temos discutido neste tópico:

“Pode ajudar a passar, pra tirar nota boa na prova você tem que estudar muito pra passar de ano.”O que se pratica na verdade está relacionado ao ato de medir que teve como base na história a psicome-

tria no início do século passado. Nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos apenas começaram as primeiras identificações e diferenciações dos termos. No Brasil, com as idéias da Escola Novista começaram as distin-ções entre mensuração e avaliação.

A avaliação da aprendizagem escolar é também compreendida pelos alunos como uma competição entre os colegas de classe, não apenas como diversão, mas como verificação da capacidade de memorização e de reprodução dos conteúdos expostos nas aulas, mostrando assim, sua face classificatória e excludente, características inerentes aos exames. Ao serem estimulados a sugerir outras formas de avaliar a aprendizagem escolar, os alunos responderam:

a3 – “Trabalhos, prova e gincanas com prêmios sobre a matéria.”

A6 – “Bom. Só colocaria mais desafios.”

Enfim, na prática pedagógica tradicional, a avaliação da aprendizagem escolar quando bem sucedida pelos alunos serve para compará-los aos outros colegas de classe e perpetuar desta forma a cultura da classifi-cação e da exclusão, apesar desta ser incompatível com o processo de ensino e aprendizagem.

3.3. Procedimentos Avaliativos

Mesmo havendo uma atenção demasiada à aplicação de provas, existe também uma preocupação com algo mais, que consiste na valorização de aspectos formativos e não apenas somativos na avaliação da apren-dizagem escolar, conforme o discurso de P2:

“Acho necessário você avaliar o aluno das duas formas, tanto formal (avaliações) e com ha-bilidades cognitivas temos um meio-termo.”

Os educadores mostram repulsa a idéia de submeterem os alunos a uma prática avaliativa que englobe apenas aspectos qualitativos; fatores quantitativos são destacados como importantes para o processo avaliativo nos discursos de muitos educadores entrevistados.

Ainda em outras falas de professores é possível confirmar o desejo de se mudar as práticas avaliativas tradicionais para as construtivas. Ao serem indagados sobre a função da avaliação e da compreensão acerca da mesma, os professores responderam:

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P1 – “A finalidade da avaliação é de nos orientar quanto ao ensino e ao aprendizado.”

P2 – “A avaliação é um instrumento fundamental para fornecer informações sobre como está se realizando o processo ensino-aprendizagem.”

P2 explicita também que a função da “(...) avaliação no processo de ensino-aprendizagem é diagnosticar como está se dando o processo e coletar informações para corrigir possíveis distorções observadas nelas.”

Na concepção dos alunos notamos a conformidade nos discursos de todos os questionados. Concordam que a avaliação é apenas uma prova para testar os conhecimentos relacionados aos conteúdos, mostrar “com-petência” (A5).

Apesar de encontrarmos uma concepção claramente tradicional e uma confusão quanto à avaliação, notamos uma intenção tímida de mudanças nos critérios avaliativos. Há sinais de mudanças nos instrumentos de avaliação na tentativa de minimizar os prejuízos em relação a esta prática.

A busca constante por objetividade dificulta a abertura para um processo avaliativo mais humano, transformador e acolhedor.

Ao diagnosticar a situação de Aprendizagem do educando, o professor pode se abastecer de subsídios para tomar decisões que visem a melhoria da qualidade do desempenho do educando, ou seja, a partir de uma investigação por meio de distintos instrumentos de coleta de dados, o professor pode intervir e desenvolver de maneira eficaz o processo de ensino e aprendizagem com seus alunos.

4. Funções da Avaliação

A escola é um lugar onde se espera que aconteçam interações das mais variadas formas. Um lugar que deveria ser um espaço aberto ao diálogo com a comunidade, mas que na verdade, e na maioria dos casos, torna-se envolta em uma carapaça enrijecida e sem vontade política de mudar. A função da avaliação não foge a regra. Muito tem se publicado e se falado em relação à avaliação, mas a função da avaliação ainda consiste em praticar exames e estipular notas, medidas para a promoção ou não do aluno.

Diante dos discursos de professores e alunos sobre a avaliação no processo ensino-aprendizagem, vi-mos que apesar de haver sinais de mudança, ou vontade de mudar e encarar a avaliação realmente como um processo, o ato de mensurar está presente em praticamente todas as falas analisadas.

P2 – “A avaliação no processo de ensino-aprendizagem é diagnosticar como está se dando o processo e coletar informações p/ corrigir possíveis distorções observadas nelas.”

P4 – “Observar o desempenho do aluno, o que ele conseguiu alcançar, os objetivos pro-postos.”

A1 – “Para os professores ficarem sabendo se os alunos estão realmente aprendendo.”

A8 – “Serve para o aluno ganhar nota, conseguir passar. Pro professor analisar os alu-nos.”

“Por que é tão difícil mudar a imagem da avaliação como uma prática perversa de seleção e exclusão em escolas e universidades?” HOFFMANN (2001:11)

A avaliação precisa ser mais reflexiva e dialogante. Para chegar-se a este ponto são necessárias uma vontade de transformação e um saber-fazer em relação à avaliação.

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O sistema capitalista em que estamos inseridos e as condições socias refletem-se na escola. Esse lugar que, antes de ser um prédio cercado de muros por todos os lados, deveria ser um lugar de acolhimento, intera-ção e tomada de decisão, porém a escola continua equivocada e com dificuldade encarar a verdadeira função da avaliação. Um processo avaliativo tem como função o acompanhamento do aluno no seu desenvolvimento educacional, social e cultural, e ao esquecer-se desse processo, a escola perpetua a avaliação, pontual, antide-mocrática e excludente. Luckesi diz que

“o ato de avaliar não é um ato impositivo, mas sim dialógico, amoroso e construtivo.(...) avaliar a aprendizagem escolar implica em estar disponível para acolher nossos educandos no estado em que estejam de sua formação, para, a partir daí, poder auxiliá-los em sua tra-jetória de estudos e de vida.“ (LUCKESI, 2005)

Um bom trabalho avaliativo requer vontade de mudar, um ambiente de tranqüilidade e superação de desafios por parte de professores e alunos para que a avaliação seja realizada de forma justa, consciente e co-erente.

5. Considerações Finais

É possível rompermos com a lógica da classificação e da exclusão? Podemos ter práticas avaliativas que desenvolvam a aprendizagem numa sociedade de ideal burguês? Conseguiremos superar os obstáculos à prática de uma avaliação construtiva?

Considerar a avaliação da aprendizagem como parte integrante do processo ensino-aprendizagem, que seja diagnóstica, processual e que enfatize o sucesso e a não reprovação, que utilize instrumentos de coleta de dados diversificadas e que envolva todos os sujeitos do processo educativo, exige quebrarmos o paradigma da avaliação que reprova, pune e exclui.

A avaliação da aprendizagem na perspectiva do indicativo de que o aluno não domina o conteúdo, pode ter conseqüências desastrosas como a evasão escolar, a exclusão e a diminuição da auto-estima do aluno, bem como traumas que podem percorrer toda a sua vida escolar.

É necessário construir uma proposta pedagógica e avaliativa que rompa com modelos desenhados na reprovação e na exclusão social. A idéia da não reprovação não deve ser entendida como “afrouxamento” do processo, mas de ser calcado em bases firmes de uma prática pedagógica bem estruturada e condizente com o processo avaliativo. “Um ensino de boa qualidade investe na aprendizagem e não na aprovação nas séries escolares.” LUCKESI (2005:16)

Há uma necessária interação entre aluno e professor. Para que um exista há inevitavelmente a existên-cia do outro. Para que a avaliação exista há necessidade de um avaliador e um avaliado. Paulo Freire (1996 : 23) coloca que,

“não existe docência sem decência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”

Esta relação harmoniosa entre educador e educando deve permear todo o processo educacional e con-

seqüentemente avaliação. No lugar de depositar conteúdos para que o aluno os assimile e em seguida devolvê-los em forma de

exames, é preciso desenvolver a avaliação processual e diagnóstica que possibilita a segura tomada e decisões por parte do educador. “Diagnosticar, sem tomada de decisão, é um curso de ação avaliativa que não se com-pletou.” (LUCKESI, 2005)

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Uma avaliação mediadora (HOFFMANN, 1998), participativa deve ser uma ação natural entre as pes-soas que são os únicos seres vivos dotados de razão. Para que tal ação torne-se efetiva é necessário que haja vontade, espontaneidade, mudança de postura e uma aproximação interativa entre professor e aluno, buscando verdadeiramente subsídios para formar um cidadão crítico.

Quando perguntados por que avaliam da maneira apresentada na pesquisa, alguns professores trans-feriram ao sistema a responsabilidade por sua prática pedagógica além de deixarem transparecer que suas práticas avaliativas estão atreladas a fatores históricos já discutidos anteriormente:

P1 – “Porque no estado devemos dar notas para o aluno.”P4 – “Porque o sistema pede.”

Nas falas dos professores, conclui-se que eles anseiam por mudanças concretas e visíveis em suas prá-

ticas avaliativas, mas a falta de preparo que os faz confundir avaliação com exame e a imposição do sistema que exige dos educadores a transmissão de todo o conteúdo programático previsto nos manuais das Secretarias de Educação, impossibilita ao educando o pleno desenvolvimento de suas habilidades.

A partir da análise dos dados coletados para esta pesquisa, é possível concluir que transformar as prá-ticas avaliativas é possível e que as mudanças necessárias a esta ação pedagógica requerem novas concepções de todos os atores envolvidos no processo educativo.

Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e Terra, 1996.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação mediadora: uma prática em construção – da pré-escola à univer-sidade, Porto Alegre, Educação e Realidade, 1993.

__________________. Pontos e contrapontos: do pensar ao agir em avaliação, Porto Alegre, Editora Me-diação, 1998.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem na escola: reelaborando conceitos e recriando a prática, Salvador, Malabares Comunicação e Eventos, 2005.

SANTOS, W. dos. Mensuração e avaliação: significado, funções e diretrizes. Dissertação de Mestrado,São Paulo, 1978.