PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO · “gatilhos” mentais que possam favorecer o...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC - SP
Erika Camila Buzo Martins
Processo de Tomada de Decisão de Compra: Proposta de Modelo para a
Compra por Impulso
Doutorado em Administração
São Paulo
2018
ERIKA CAMILA BUZO MARTINS
Processo de Tomada de Decisão de Compra: Proposta de Modelo para a
Compra por Impulso
Doutorado em Administração
Tese apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, como exigência parcial para a
obtenção do título de Doutora em
Administração no Programa de Estudos
Pós-Graduados em Administração, na
área de concentração Gestão Integrada
das Organizações, sob a orientação do
Prof. Dr. Francisco Antonio Serralvo.
São Paulo
2018
Banca Examinadora
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DEDICATÓRIA
Dedico o valor do tempo aplicado a esse trabalho ao meu marido Leandro, que topou
abdicar de parte do nosso tempo juntos para que eu pudesse me dedicar sozinha ao
projeto; aos meus familiares e aos dele, que, independentemente de onde estivessem,
sempre me apoiaram com palavras de força, incentivo e amor; e, principalmente aos
meus filhos: à Bela, que no meio desse processo nasceu, lutou com valentia pela vida
e virou anjinho, me ensinando que a vida é um fio sutil e delicado e que, mesmo
cuidado com muito apreço, cuidado e carinho, não há controle sobre ela; e ao Lucca,
que nasceu com Bela, também lutou com bravura e, apesar de todas as dificuldades,
ficou perfeito e me mostrou o sentido do amor maternal. Dedicar ao Lucca significa
premiá-lo pelo tempo que precisei me ausentar, com muito sofrimento de coração, dos
minutos que poderia ter estado com ele.
AGRADECIMENTO À CAPES
Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes,
pela bolsa concedida desde o início do doutorado. Sem ela, eu não conseguiria fazer
um aporte financeiro em 4 anos de estudo. Ela foi fundamental para que esse estudo
pudesse ser concluído.
AGRADECIMENTOS
O desenvolvimento de uma tese está longe de ser uma produção individual. Não digo
isso com relação à produção teórica (que também carece de outros cérebros), mas
digo em relação às questões psicológicas que necessitam de estímulos muito maiores
que a leitura de milhares de páginas de livros e artigos, a realização de experimentos
e um computador. Por isso, e em primeiro lugar, agradeço à Deus, que esteve comigo
em todos os momentos e me manteve íntegra para que eu conseguisse cuidar de tudo
– tese e vida. Agradeço, sequencialmente, aos professores, pelo conhecimento
compartilhado e pela amizade que foi construída ao longo dos semestres: Francisco
Antonio Serralvo, Belmiro João, Claudio Tordino, Onésimo Cardoso, Luciano
Junqueira, Leonardo Trevisan, Arnoldo Hoyos, Ladislau Dowbor, Fabio Gallo e
Arnaldo Nogueira.
A trajetória de um doutorado nos apresenta personagens que passam como meros
figurantes, coadjuvantes ou atores principais. Essa caminhada me proporcionou estar
próxima de pessoas brilhantes que fizeram toda a diferença. Agradeço ao Carlos
Barbosa, que me possibilitou ser testada em uma empresa que eu admirava – a
ESPM. À Ana Lúcia Novais, Janaina Dourado, Afonso Braga, Sérgio Siani, Paulo
Gustavo, Jorge Fernando, Janaina Borsagli, Irineu trigo, Geraldo, Diego Conti, Ana
Lúcia Guido, André Nardy, Elaine Oliveira, Fernando e Aiman, entre outros, que
dividiram seus conhecimentos comigo nas disciplinas e somaram discussões
diferenciadas; à Cintia Fazion, que me apresentou a sinceridade de uma mulher amiga
que se importa com os outros; ao Pedro Saad, que mantinha as aulas mais divertidas
e leves e se “prontificou” a pagar o doutorado no meu lugar (sem ressentimentos); e
ao Jeferson Vinhas, amigo, parceiro de café com pão de queijo e broa nos intervalos,
pessoa singular que mostrou acreditar no meu potencial como profissional e pessoa.
Amigos para levar para a vida. Meu muito obrigada!
O doutorado foi o único desafio que me lembro de quase desistir após o falecimento
da minha filha e reinternação do meu filho. Realmente coloquei na “balança” o tempo
dedicado a tudo e agradeço aos amigos e mentores fiéis, que não me deixaram parar:
Francisco Antonio Serralvo, meu orientador, que me guiou desde o mestrado, me
incentivou a topar o desafio do doutorado sem folga, acreditou em mim antes, durante
e depois, me apoiou quando mais precisei e me advertiu, mostrando que não seria do
meu feitio, “morrer na praia”; Roberto Camanho com sua singularidade, se
apropriando da minha paternidade em São Paulo; José Balian, com suas palavras
“Não, agora, não! Você não pode desistir!”; Luis Volpato, com um olhar calmo que já
demonstrava que eu não deveria parar; Silvio Bertoncello, que fechava a cara quando
eu mencionava desistir; Cleber Figueiredo, fundamental em minhas análises
estatísticas; aos amigos e amigos dos amigos que compartilharam minha pesquisa;
Valentina Mazon e Patrícia Begnami, como representantes de muitos amigos de
Araras, que nunca mediram esforços, expondo seus melhores pensamentos em
minha direção; Leonardo Trevisan, que me abraçou e se emocionou comigo, me
impulsionou, colocando meu foco no resultado e não na árdua trajetória que me
colocaria mais distante do meu filho.
Agradeço também a Lulú, babá do Lucca, que cuidou dele com muito carinho e
dedicação na minha ausência; aos meus sogros, que se permitiram ouvir meus
apontamentos e oraram para que tudo passasse da melhor maneira; aos meus pais,
que, mesmo distantes, sempre vibraram com cada conquista, me apoiando; aos
irmãos, cunhadas, cunhado, sobrinhos, pelo acompanhamento fiel nesta trajetória.
Ao meu marido, Leandro Martins, que, apesar de ter me pedido para “tocar” o
doutorado com mais calma, aguentou comigo a pressão final e me ajudou do início ao
fim. A você, meu amor, agradeço por estar ao meu lado, se orgulhando dos meus
passos e me orgulhando com os seus.
Por fim, ao meu filho Lucca, que diariamente sorriu iluminando meu dia e tornando
mais fácil um caminho tão tortuoso. Espero que se orgulhe de mim um dia.
“O pensamento complexo aspira ao conhecimento
multidimensional. Mas ele sabe desde o começo
que o conhecimento completo é impossível: um dos
axiomas da complexidade é a impossibilidade,
mesmo em teoria, de uma onisciência.”
Edgar Morin
RESUMO
Desde o reconhecimento de uma necessidade até o ato de compra, o processo de tomada de decisão por parte do consumidor segue um fluxo que perpassa a busca, a verificação de alternativas e a escolha, além da decisão do que fazer com o produto após a compra. Esse processo contempla fatores afetivos, cognitivos, sociais e culturais e, apesar de considerar outros aspectos, dependendo do autor que o tenha desenvolvido, tem sua efetividade comprovada. Contudo, a compra por impulso é estimada apenas como uma simplificação de etapas que percorrem a visualização do objeto, o desejo envolvido pela situação e o ato de compra, não considerando aspectos que possam influenciar o comportamento de compra por impulso, partindo de estímulos estrategicamente alocados e que permitam uma ativação associativa coerente ativando “gatilhos mentais” anteriores ao desejo em consumir. Esse trabalho se propôs a apresentar um Modelo de Tomada Decisão para a Compra por Impulso e, para isso, foram utilizados componentes neurocientíficos que perpassam os sistemas neurais automático e deliberativo, bem como a teoria das heurísticas como “gatilhos” mentais que possam favorecer o acesso à memória a partir de estímulos corretos. Como forma de verificar a validade do Modelo, foi desenvolvido um experimento com 911 mulheres com base em uma pesquisa quantitativa, por meio do software Typeform e analisadas com o auxílio dos softwares Excel e SPSS. Os testes de Qui-quadrado e ANOVA apontaram que o modelo proposto não se confirma, rejeitando todas as hipóteses, o que leva à conclusão de que há necessidade de modificação de estrutura do questionário, medidas de análises ou estudos mais aprofundados com a utilização de equipamentos neurocientíficos, em laboratório, para concluir sua validação.
Palavras-chave: Tomada de Decisão. Neurociência. Compra por impulso.
Heurísticas.
ABSTRACT
Shopping is a present and necessary behavior for most people nowadays, fact that leads researchers to seek to understand how purchasing decisions are formulated and carried out. This process contemplates affective, cognitive, social and cultural factors and, despite considering other aspects, depending on the author who has developed it, has its effectiveness confirmed. However, impulse buying is estimated only as a simplification of steps that go through the visualization of the object, the desire involved by the situation and the act of purchase, not considering aspects that may influence impulse buying behavior, from strategically stimuli allocated that allows a coherent associative stimulation, activating "mental triggers" prior to the desire to consume. This work proposes to present a Decision-Making Model for Buying by Impulse and, for this, were used neuroscientific components that crosses the automatic and deliberative neural systems, as well as the theory of heuristics as mental "triggers" that can favor access to the memory from correct stimuli. As a way of verifying the validity of the Model, an experiment was developed with 911 women from a quantitative research, using the Typeform software and were analyzed using the Chi-square and ANOVA tests, which, however, did not confirm the model proposed, rejecting all hypotheses, which leads to the conclusion that there is a need to modify the structure of the questionnaire, analysis measures or further studies with the use of neuroscientific equipment, in Laboratory, to conclude its validation.
Keywords: Decision Making. Neuroscience. Impulse purchase. Heuristics.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Relação das palavras mais utilizadas entre os artigos publicados nas bases
WOS e Scopus com os termos “impulse purchase” ou “impulse buying” .................. 27
Figura 2 – Estrutura do Trabalho .............................................................................. 30
Figura 3 – Fluxograma genérico do processo de tomada de decisão do consumidor
.................................................................................................................................. 33
Figura 4 – Tomada de decisão dos consumidores para bens ou serviços ............... 34
Figura 5 – Processamento de Informações .............................................................. 35
Figura 6 – Fluxograma da Tomada de Decisão de Compra de Nicosia ................... 37
Figura 7 – Adaptação do Modelo de Howard e Sheth .............................................. 38
Figura 8 – Três perspectivas de Mowen e Minor sobre a Tomada de Decisão ........ 39
Figura 9 – Clusters de termos relacionados a compras por impulso nas bases WOS e
Scopus ...................................................................................................................... 42
Figura 10 – Artigos publicados com assunto Neuromarketing entre 2007 e 2017 nas
diversas áreas ........................................................................................................... 49
Figura 11 – Revistas que mais receberam artigos com o assunto Neuromarketing
entre 2007 e 2017 ..................................................................................................... 50
Figura 12 – Países que mais receberam artigos com o assunto Neuromarketing entre
2007 e 2017 .............................................................................................................. 51
Figura 13 – Divisão cerebral e suas funções ............................................................ 52
Figura 14 - Microexpressões Faciais ........................................................................ 55
Figura 15 – Microexpressões faciais e seus significados – série Lie to Me .............. 56
Figura 16 – Exemplo clássico de memória ............................................................... 57
Figura 17 – Córtices Somatossensoriais: Motor e sensorial ..................................... 59
Figura 18 – Sinais de dopamina e serotonina sendo enviados para outras regiões
cerebrais.................................................................................................................... 60
Figura 19 – Clusters de assuntos publicados em artigos nas bases WOS e Scopus
.................................................................................................................................. 62
Figura 20 – Proposta de Modelo para compras por impulso .................................... 64
Figura 21 – Relação entre variáveis dependentes, independentes e hipóteses. ...... 67
Figura 22 – Representação de imagem no Grupo de Controle ................................ 69
Figura 23 – Representação de imagem no Grupo de Controle com a modelo Gisele
Bündchen .................................................................................................................. 69
Figura 24 – Tela Disponibilidade – Grupo Experimental .......................................... 70
Figura 25 – Tela Disponibilidade / Representatividade – Grupo Experimental ......... 70
Figura 26 – Tela Ancoragem – Grupo Experimental ................................................ 71
Figura 27 – Tela para compreensão da Ancoragem – Grupo Experimental ............. 71
Figura 28 – Tela Promoção – Grupo Experimental .................................................. 72
Figura 29 – Regiões brasileiras com respondentes .................................................. 73
Figura 30 – Frequência de respostas declaradas sobre a influência da promoção nas
compras..................................................................................................................... 76
Figura 31 – Teste da H0 ........................................................................................... 77
Figura 32 – Teste da H1a ......................................................................................... 78
Figura 33 – Quanto a respondente atribuiria aos modelos apresentados ................ 79
Figura 34 – Classe social das respondentes ............................................................ 79
Figura 35 – Classe social versus Atribuição de preços. ........................................... 80
Figura 36 – Resposta declarada sobre a influência de uma pessoa famosa na decisão
de compra ................................................................................................................. 81
Figura 37 – Teste ANOVA para a Hipótese H1c ...................................................... 82
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Relação de artigos publicados com o termo “impulse purchase” ou “impulse
buying” na base Emerald entre 2007 e 2017............................................................. 26
Tabela 2 – Elementos que compõe a abordagem situacional .................................. 42
Tabela 3 – Filtro por termos na Base Periódicos Capes ........................................... 48
Tabela 4 – Filtro por termos na Base ProQuest ........................................................ 48
Tabela 5 – Atividades automáticas do Sistema 1 ..................................................... 52
Tabela 6 – Operações diversificadas do Sistema 2 .................................................. 53
Tabela 7 – Rótulos aplicados aos dados da pesquisa para análises ........................ 75
Tabela 8 – Preferência das respondentes entre os modelos .................................... 81
Tabela 9 – Teste ANOVA para a Hipótese H1c ........................................................ 83
LISTA DE SIGLAS
ANOVA - Análise de Variância Unidirecional
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
PDV – Ponto de Venda
EEG – Eletroencefalograma
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
WOS – Web of Science
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17
1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 22
1.2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 23
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 29
2 REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................. 31
2.1 PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR ................................................. 32
2.2 COMPRAS POR IMPULSO ................................................................................ 41
2.3 NEUROCIÊNCIA E O MARKETING ................................................................... 46
3 PROPOSTA DE MODELO ..................................................................................... 61
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 66
4.1 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES ..................................................................... 67
4.2 INSTRUMENTOS E MATERIAIS ........................................................................ 67
4.3 PROCEDIMENTO DO TESTE ............................................................................ 68
4.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ....................................................................... 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 84
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 88
APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 96
17
1 INTRODUÇÃO
Fazer compras é um comportamento presente e necessário para a maioria das
pessoas, fato que leva os pesquisadores a procurar entender como as decisões de
compra são formuladas e realizadas. Entretanto, uma parcela considerável dessas
compras é efetuada por impulso, o que coloca em alerta as análises sobre como esse
consumidor toma sua decisão, uma vez que os modelos de processo de tomada de
decisão de compra apontam a compra por impulso apenas como uma “queima” de
etapas não considerando possíveis processos neurais que possam ser ativados ou
não acessados nesse momento. A compra por impulso é o cerne desse trabalho, no
entanto, é preciso adentrar os mecanismos já estudados sobre o Processo de Tomada
de Decisão a fim de compreender a lacuna existente entre ambos.
Fatores sociais e estéticos, por exemplo, são amplamente estudados quando
se observa o comportamento do consumidor no ambiente de compra, uma vez que
são considerados determinantes no ato da compra; contudo, a forma como os
consumidores interpretam as inferências sociais no ambiente também pode impactar
suas escolhas (Breazeale & Ponder, 2013). Essas inferências são “qualquer
característica, comportamento e/ou situação proporcionados por pessoas e/ou
grupos, passíveis de interpretação e julgamento, por exemplo: idade, gênero,
aparência e interações sociais” (Aguiar & Farias, 2015, p. 714).
Escolher esse ou aquele objeto parece atitude simples e direta. Todavia a
importância dos fatores sociais e estéticos não deve ser menosprezada. Há situações
vivenciadas pelos consumidores nas quais a escolha pode ser mais demorada e,
normalmente, ela está associada com o valor (provavelmente mais elevado) desse
objeto. Quando o motivo da escolha é um serviço, além do valor, há a comparação de
qualidade – a qual os objetos também sofrem em relação às marcas.
O que parece simples, não é! Para chegar ao momento da escolha, o cérebro
já ultrapassou diversas ligações neurais, estabeleceu conexões complexas, fez
associações e trabalhou o suficiente para tomar essa atitude. Damásio (2013)
defendeu que a sensatez de uma decisão não leva em conta apenas o conhecimento,
mas outros fatores como pessoais, afeto social, medo, nojo, compaixão, orgulho,
vergonha ou admiração, por exemplo. Reconhecer que há um problema/necessidade
faz com que os consumidores busquem algo, avaliem as alternativas, escolham e
ainda façam uma avaliação pós-compra – esse é o chamado Processo de Tomada de
18
Decisão de Compra, o qual consiste fundamentalmente em necessidades ou desejos
dos consumidores que fortalecem as ações e proposições mentais (Serralvo, Sastre
& João, 2010).
Mesmo sendo profundamente estudado por autores como Nicosia (1966),
Howard e Sheth (1969), Mowen e Minor, (2003), Blackwell, Miniard e Engel (2013),
Solomon (2016), McCrindle e Wolfinger (2009), entre tantos outros, esse processo
ainda é experimentado e testado em diversas situações e aplicado em recortes
bastante delimitados. Partindo-se do processo tradicional de Tomada de Decisão de
Compra do Consumidor – reconhecimento do problema/necessidade, busca,
avaliação de alternativas, escolha e avaliação pós-compra, somado à busca pela
constante satisfação por meio da aquisição de novos produtos que atendam às novas
necessidades, impulsos, compulsões e vícios –, a compra por impulso cresce nos
mais diferentes segmentos e, mesmo não possuindo um modelo defendido por algum
autor, por acreditarem que ela é fruto da ocasião, sem planejamento ou quaisquer
outras interferências significativas, há diversos estudos aplicados para compreensão
do tema.
Em 1982, McGoldrick (1982) pontuou, ao tentar explicar o efeito entre compras
planejadas ou não planejadas, que as explicações sobre as compras não-planejadas
são simplificadas demais e ignoram os graus aos quais os clientes podem ser
lembrados por publicidade ou atraídos por uma oferta especial. Há um esquema de
classificação proposto por alguns autores com relação ao que é ou não considerado
(por eles) como compra por impulso e todos acreditam que esse tipo de compra só
existe quando se entra em um ambiente de compra sem nenhuma intenção de
comprar aquele produto que foi adquirido naquela situação (Cobb & Hoyer, 1986;
Kollat & Willett, 1967).
Além disso, há características corporais, sensoriais e psicológicas que
envolvem a compra por impulso e que foram apontadas por Rook (1987) como a
vontade irresistível em ter o produto e querer compra-lo imediatamente ignorando
possíveis consequências negativas da compra. A excitação e a euforia dominam os
sentimentos, colocando em conflito o controle e a indulgência. Há quem pontue a
compra por impulso como um capricho (Narasimhan, Neslin, & Sen, 1996) ou como a
vontade provocada pela proximidade física com um produto desejado – considerado
como atração emocional com “promessa” de gratificação (Rook & Fisher, 1995).
19
Enquanto os pesquisadores de mercado acreditam que o impulso é sinônimo
de “não planejado”, economistas e psicólogos afirmam que as melhores definições se
concentram em aspectos irracionais (Dittmar, Beattie & Friese et al., 1996). Bayley e
Nacarrow (1998) pontuaram, como estímulo para a procura por impulso, as seguintes
perspectivas:
gratificação imediata - a vitória dos instintos básicos sobre a razão (freudiana);
uma ruptura com as restrições do mundo (existencialista); compensação de
auto-imagem (construcionista social); uma mudança de humor (baseada em
Elliot, 1994); amaldiçoamento cognitivo simplificado de requisitos e solução
("novo" cognitivo); tomada de decisão irracional / disfuncional (modelo
econômico do homem). (Beyley & Nacarrow, 1998, p. 103)
Os estudos de Costa e Laran (2003) apontaram que a impulsividade do
consumidor nem sempre “é expressa apenas sob a forma de atos de compra com
reduzida capacidade avaliativa, mas também como uma incapacidade momentânea
de postergar recompensas com intuito de satisfação imediata” (p. 44). Os aspectos
considerados (emocionais e cognitivos) frequentemente serão direcionados como
causadores ou “gatilhos” para o impulso na compra. Em se tratando de novos
produtos, Harmancioglu, Finney e Joseph (2009) afirmaram após seus estudos que a
intenção de compra e o comportamento de compra por impulso são ativados a partir
do conhecimento do novo produto e da excitação e da estima geradas nos
consumidores.
Por outro lado, Hultén e Vanyushyn (2014) postularam que a integração entre
canais promocionais – como os comerciais de TV, marketing direto e a própria ação
promocional no ambiente da loja –, facilita a compra por impulso e aumenta o efeito
impulsivo de compra. Já o estudo de Chang, Yan e Eckman (2014), ao investigarem
efeitos das características ambientais de uma loja, respostas emocionais das
compradoras e relação com as variáveis situacionais, encontrou efeitos diretos das
características ambientais e de design nas respostas emocionais positivas dos
consumidores e nos efeitos diretos das respostas emocionais positivas dos
consumidores para o ambiente varejista no comportamento de compra por impulso.
Outro aspecto encontrado foi a disponibilidade de dinheiro e a definição da tarefa, que
20
moderam a relação entre as respostas emocionais positivas dos consumidores e o
comportamento de compra por impulso.
A compra por impulso também foi descrita como uma construção tridimensional
que contém dimensões cognitivas (imprudência), afetivas (autoindulgência) e
comportamentais (falta de autocontrole), sendo que essas três dimensões variam de
acordo com sua influência sobre diferentes tipos de falhas autorreguladoras (Sharma,
Sivakumaran & Marshall, 2014). Contudo, ainda se estabelecem algumas dúvidas
e/ou lacunas teóricas sobre os componentes cerebrais e a possibilidade de um modelo
ou gatilho neural estratégico para a compra por impulso.
Uma vez que os estudos sobre compra por impulso não apresentam um modelo
específico, que não represente apenas uma simplificação de etapas do processo
tradicional de tomada de decisão, acredita-se que esse tema mereça ser mais
explorado para que haja a compreensão dos aspectos neurofisiológicos os quais
envolvem o impulso nas compras e resulte no desenvolvimento de estratégias
específicas que poderão ser utilizadas no futuro. Esse cenário abre caminho para
novos estudos capazes de revisar os atuais modelos de decisão de compra, incluindo
as simplificações no que se refere à compra por impulso, de e compreender de
maneira mais detalhada o funcionamento das conexões cerebrais, memória,
associações cognitivas, afetivas e situacionais.
Mediante comparação dos modelos utilizados para compreensão do processo
de Tomada de Decisão de Compra (constituídos basicamente por reconhecimento do
problema/Necessidade, busca, avaliação das alternativas, escolha e avaliação pós-
compra), os quais são utilizados para definição de estratégias de mix de marketing e
proporcionam resultados satisfatórios, com os estudos sobre Compra por Impulso,
que não apontam, necessariamente, um método e, sim, a simplificação do processo
anterior, identificou-se uma lacuna: a ausência de um modelo que possa ser utilizado
como estratégia prévia e influencie o Processo de Tomada de Decisão na Compra por
Impulso. Para tanto, acredita-se que a Neurociência possua ferramentas que possam
ser utilizadas para explicar como acontece esse processo no cérebro.
A neurociência aparece evoluindo dentro dos meandros de marketing nos
últimos anos e suas técnicas bem como suas formas de estudos têm sido valorizadas
por pesquisadores na área. Muitos são os pesquisadores que desejam conhecer os
caminhos ocultos do cérebro para desenvolverem estratégias significativas. A partir
21
da apropriação da neurociência por estudos do sistema nervoso animal e humano,
anatomia e fisiologia do sistema nervoso, além da ciência cognitiva e suas
subciências, das quais surgiram diversos campos de estudo, houve, com a mesma
conotação, a apropriação de recursos advindos do marketing, sendo criado o
neuromarketing. Nesse trabalho, serão tratados os aspectos relacionados ao termo
neuromarketing apenas como mecanismos de busca por assuntos em bases
científicas e como forma de compreensão do assunto que passou a ser objeto de
pesquisa com gradativa evolução no meio científico; contudo, a neurociência aplicada
ao marketing ou ao comportamento do consumidor será referência para os estudos e
entende-se ser esta a forma mais adequada a se referir ao tema.
Como recorte nos estudos da neurociência, destaca-se para esse trabalho o
uso de heurísticas que foram utilizadas como estímulos (“gatilhos” mentais) na
pesquisa quantitativa. Tecnicamente, a heurística “é um procedimento que ajuda a
encontrar respostas adequadas, ainda que geralmente imperfeitas, para perguntas
difíceis” (Kahneman, 2012, p. 127). Elas são consideradas atalhos cognitivos, ou seja,
considerando o fato de que as pessoas são limitadas em sua capacidade para o
trabalho mental de tomada de decisão, foi preciso desenvolver uma maneira mais
simples de raciocinar para lidar com as rápidas mudanças em um ambiente complexo.
Nesse sentido, as heurísticas assumem a função de simplificar o processamento
cognitivo quando há alternativas e seja necessário julgamento sob incerteza (Maule &
Hodgkinson, 2002). Assim, foram utilizadas as heurísticas de Disponibilidade,
Ancoragem/Ajustamento e Representatividade propostas por Kahneman (2012).
Com relação à disponibilidade, trata-se de é um dos fenômenos mais
frequentes das heurísticas e considera-se que “experiências anteriores e informações
acerca do fato são avaliadas de maneira vívida pela nossa mente, o que causa uma
espécie de artifício cognitivo ou construção mental que chamamos de disponibilidade”
(Tonetto, Kalil, Melo, Schneider & Stein, 2006, p. 185). A representatividade, de
acordo com os mesmos autores, é uma heurística que confere alta probabilidade de
um evento ocorrer quando ele representa a situação. Nesse sentido, a
representatividade também pode ser comparada com a valência de
recomendação/endosso quando uma pessoa famosa recomenda um produto, por
exemplo. Em situações de compra por impulso, em que o esforço cognitivo tende a
22
ser menor, o efeito da representatividade em intenção de compra é superior ao efeito
da maturidade de uma marca (Gonçalves, 2015).
No que se refere à heurística de ancoragem/ajustamento, Isabella, Pozzani,
Chen e Gomes (2012) também apontaram como principais resultados dos
experimentos desenvolvidos em suas pesquisas que essa teoria (ancoragem e
ajustamento) foi aceitável no grupo pesquisado quando o valor do desconto é próximo
do valor de referência, o que pode aumentar a intenção de compra para valores
absolutos. Contudo, é preciso atenção, pois mesmo que a heurística de ancoragem e
ajustamento possa ser útil em julgamentos e decisões, auxiliando na economia de
tempo e pouco esforço cognitivo, também pode levar a vieses (Tonetto et al., 2006).
O julgamento de um consumidor pode ser enviesado em direção a uma âncora pouco
relevante (por exemplo, um número eventual fornecido pelo pesquisador).
Apesar de vários pesquisadores terem investido para compreender a teoria e
aplicação das heurísticas na tomada de decisão do consumidor, ainda há uma lacuna
no que diz respeito às compras por impulso, sendo esse um tipo de compra recorrente
e que desperta interesse por parte dos profissionais de marketing a fim de estabelecer
estratégias mais efetivas de atração e venda de produtos e serviços. Portanto, o
problema de pesquisa que esse trabalho visa responder é: Em que medida estímulos
neurocientíficos – heurísticas de disponibilidade, ajustamento/ancoragem e
representatividade – influenciam a compra por impulso e podem contribuir na
composição de um modelo de tomada de decisão na compra por impulso?
1.1 OBJETIVOS
Esta tese tem por objetivo principal desenvolver um Modelo de Processo de
Decisão na Compra por Impulso, utilizando ferramentas neurocientíficas em sua
composição.
Como objetivos específicos, estabeleceu-se:
• compreender os modelos de Processo de Tomada de Decisão de
Compra existentes, bem como verificar as publicações sobre Compras
por Impulso.
• testar o modelo proposto de Tomada de Decisão na Compra por
Impulso a partir de ferramentas neurocientíficas, considerando a
23
existência de associações coerentes a partir de aspectos afetivos,
cognitivos e ambientais.
• analisar a efetividade das heurísticas de disponibilidade,
ajustamento/ancoragem e representatividade como estímulos para
mudança de comportamento entre os indivíduos testados.
1.2 JUSTIFICATIVA
O comportamento de compra dos consumidores é fator de estudos
compartilhados entre as áreas de marketing, economia, sociologia, psicologia e
medicina. Esta última passou a integrar de maneira mais efetiva a área de negócios
após o aparecimento do chamado neuromarketing. Assim, o processo de tomada de
decisão de compra foi e ainda é tema de muitas pesquisas nessas áreas uma vez que
procura-se descobrir as lacunas existentes entre as teorias atuais e testar as já
existentes com recortes que visam identificar a racionalidade e irracionalidade nas
decisões dos consumidores.
O efeito desconto/promoção, que é indicado como principal motivo situacional
na compra por impulso, foi testado, por exemplo, nos estudos de Isabella et al. (2012).
Tal estudo foi desenvolvido com base nas intenções de compra e apontou que a
percepção de qualidade pode ser um moderador plausível na intenção de compra,
uma vez que está intimamente ligado à estrutura de preço, porém expectativa e
experiências passadas também podem ser moderadores, o que justifica a tentativa da
presente tese em verificar outros estímulos que possam servir como influenciadores
entre a visualização do produto e o desejo em consumir.
Santini, Ladeira, Sampaio e Falcão (2015) também decidiram revisitar as
teorias de promoções de vendas para compreender a percepção de valor, atratividade
e suas relações com a intenção de compra. Partindo do pressuposto de que há dois
tipos de promoções de vendas - monetárias e não monetárias – e que a primeira é
mais focada no curto prazo e a segunda no longo prazo, identificaram, em uma
amostra de 1.161 respondentes, que a promoção de vendas monetária impacta com
maior força na intenção de compra do consumidor. O efeito Promoção fica evidente
nesse estudo, mas é complementar no que diz respeito às variáveis utilitárias e
hedônicas, apontadas respectivamente como funcionais, instrumentais e cognitivas, e
emocionais relacionadas às experiências do consumidor. Essa segunda fortalece a
24
justificativa para os estudos dessa tese quanto ao que pode ser acessado da memória
dos consumidores com relação às experiências passadas e/ou contato com alguns
aspectos do produto que será comprado “por impulso”.
Hausman (2000) argumentou que a seleção de produtos passa por uma
confusão mental quando há sobrecarga de informações, reforçando a busca por
recompensas (viés hedônico). O consumo hedônico também foi apontado com forte
correlação nas pesquisas de Park, Kim e Forney (2006) em um recorte direcionado à
moda, quando identificaram que a tendência do consumo hedônico é um importante
mediador na determinação da compra de impulso. Mesmo levando em consideração
o fato de os estudos de Nayebzadeh e Jalaly (2014) serem direcionados à mulheres
iranianas e, em se tratando desse perfil de consumidoras, ser bastante peculiar quanto
à associação roupas versus religião, as autoras identificaram que, além das decisões
racionais e emocionais, há também a busca por autoestima e satisfação de vida no
consumo dos artefatos religiosos. Por outro lado, Silvera, Lavack e Kropp (2008)
apontaram que tanto a falta de planejamento nas compras quanto os sentimentos de
excitação e o impulso irresistível em comprar estão ligados à afetos negativos e
totalmente susceptíveis à influência interpessoal.
Tinne (2011) também encontrou aspectos que relacionavam o aumento do
impulso de compra, nesse caso, de commodities a estratégias de preços,
características da loja, fatores situacionais e atividades promocionais, mas relacionou
esses aspectos com o aumento de renda dos indivíduos estudados versus suas
movimentações em direção à cultura ocidental e o poder de compra que também
aumentara.
Lins e Poeschl (2013) indicaram que fatores como o materialismo e o prazer na
compra, a importância atribuída a marca, a frequência das visitas aos centros
comerciais, e o rendimento familiar têm forte correlação com a compra por impulso. O
materialismo, nos estudos desses autores, se destacou como variável mais influente,
mas esse aspecto pode estar relacionado com o público investigado – adolescentes.
Por outro lado, o aspecto atratividade foi um dos resultados positivos encontrados nos
estudos de Lucas e Koff (2014). Esse estudo foi desenvolvido apenas com mulheres
estudantes de nível superior e teve como um de seus resultados positivos a
autopercepção avaliada por julgamentos sobre a atratividade de alguém em relação a
outras mulheres. Esse apontamento corrobora com o aspecto de representatividade
25
ou endosso, que é uma das heurísticas estudadas e testadas na concepção do modelo
desta tese.
Alguns estudos apontam também para o fato de os consumidores terem uma
pré-disposição para determinada compra, mas seus históricos de aprendizagem e
estímulos de marketing presentes ao entrarem em uma loja ou acessarem um site
podem modificar essa intenção. É o caso do estudo que foi desenvolvido por Porto e
Oliveira-Castro (2013) com 1.016 pessoas que visava compreender os preditores da
correspondência intenção-compra, no qual foi identificado que a história de
aprendizagem foi preditora em todos os grupos experimentais, o que significa que
quanto mais os consumidores tiverem contato com as marcas antes, maiores serão
as intenções de compra. Além disso, as pesquisas demonstraram que quanto maiores
forem os esforços empreendidos pelas marcas, maiores são as correspondências de
intenção de compra. Esse estudo contribui para a presente tese no que diz respeito
ao fator memória que pode ser um “gatilho” para uma ativação associativa coerente a
partir de algum estímulo prévio.
Stern (1962) foi o autor que indicou, entre 4 fatores (compra por impulso pura,
relembrada, sugerida e planejada), a compra relembrada, que se baseia na lembrança
da propaganda do produto após entrar na loja ou em uma compra que tenha sido
pensada e deixada de lado. Esse apontamento justifica os estudos desta tese, uma
vez que um dos componentes do modelo proposto refere-se à memória como fator de
ativação. A compra por impulso apontada por ele como planejada também contempla
uma das hipóteses desse estudo, pois indica a dependência da compra por parte do
consumidor a partir de promoções e/ou descontos pontuais.
É preciso avaliar também que a impulsividade individual é fator preponderante
nas intenções de compra e nas compras por impulso (Costa & Laran, 2003), sendo
considerada, por Costa e Laran (2013), como um traço de personalidade
correspondente ao principal antecedente de compras por impulso - não apenas em
atos de compra imediatos, mas também quanto à incapacidade de postergar
recompensas cuja satisfação seria imediata. Corroborando, Baumeister (2002)
apontou que a dificuldade em colocar objetivos plausíveis de consumo, a inabilidade
em desempenhar um controle sobre seu orçamento pessoal e o desgaste emocional
por conta dos esforços em conter sua impulsividade são as três dificuldades
preponderantes quanto ao autocontrole do comprador compulsivo, sendo que, em sua
26
opinião, as influências que o meio exerce são menores do que as falhas de
autocontrole em um consumidor impulsivo. De qualquer maneira, a impulsividade com
relação à traços de personalidade não é foco desse trabalho.
A compra por impulso foi estudada por diversos autores nos últimos 10 anos,
contudo o foco dos trabalhos relacionados a esse tema trabalha em sua maioria os
aspectos negativos como uma problemática da saúde que precisa ser resolvida por
meio de políticas públicas ou marketing social e os efeitos negativos como crowding.
Há alguns autores citados neste trabalho que buscaram sentido nas heurísticas e/ou
fatores situacionais e emocionais envolvidos nesse processo. De qualquer forma,
considerando uma busca pelas palavras chave “impulse purchase” ou “impulse
buying” na base de dados Emerald, por exemplo, foram encontrados 238 artigos
publicados entre os anos de 2007 e 2017 e percebeu-se um discreto aumento na
quantidade nos últimos dois anos, conforme Tabela 1.
Tabela 1 – Relação de artigos publicados com o termo “impulse purchase” ou “impulse buying” na base Emerald entre 2007 e 2017
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017
11 20 16 18 14 22 23 28 18 33 35
Fonte: Elaborado pela autora
Esses termos, somados e desconsiderando o período de 10 anos, apresentam
305 artigos nas bases Web of Science (WOS) e Scopus, sendo 66 repetidos, o que
resulta em 239 artigos distintos. Entre eles, há 40 autores únicos e, nos demais
artigos, somam 494 autores diferentes. A Figura 1 mostra as palavras mais usadas
nesses artigos.
27
Figura 1 – Relação das palavras mais utilizadas entre os artigos publicados nas bases WOS e Scopus com os termos “impulse purchase” ou “impulse buying”
Fonte: Software R, 2018
A neurociência aparece como área que pode contribuir para os estudos do
marketing, testando teorias anteriormente estabelecidas com o uso de novas
ferramentas que proporcionam o acesso à campos ainda não estudados/testados.
Hillenbrand, Alcauter, Cervantes e Barrios (2013) estudaram a prevalência dos nomes
das marcas na escolha dos consumidores e, para isso, utilizaram a Ressonância
Magnética Funcional (FMRI). Considerando o aumento da concorrência, sua
ferocidade e a qualidade homogênea de produtos, os estudos demonstraram que um
nome de marca "melhor" pode ter importante efeito decisório na escolha do produto,
caso os consumidores comparem vários produtos.
Apesar de Netherland (2011) ter focado seus estudos em vícios de drogas, ela
aponta que as tecnologias neurocientíficas auxiliam na mudança de compreensão,
resposta e tratamento de vícios (compra por impulso também é considerada como
vício quando compreendida como fator ruim e pode ser tratada). Ela apontou que a
neurociência marca uma nova era por seu potencial em conseguir localizar no cérebro
os locais onde o vício acontece. Fugate (2007) também enfatizou que a neurociência
pode usar medidas para análise cerebral em tempo real associada à apresentação de
vários estímulos, oferecendo associações correlativas diretas e auxiliando os
comerciantes, por exemplo, a tomarem decisões mais efetivas. Ele pontua o
diferencial de sua utilização em serviços, uma vez que, nesses casos, a natureza é
28
intangível e combinar as imagens de atividades neurais com ferramentas
convencionais pode aumentar a efetividade das práticas de marketing.
Além disso, este trabalho se propõe a compreender o funcionamento dos
estímulos cerebrais, mais especificamente as heurísticas de disponibilidade,
ancoragem/ajustamento e representatividade, como “gatilhos” mentais que possam, a
partir de questões afetivas, cognitivas e/ou relacionadas ao ambiente social e cultural,
resgatar de memória informações previamente apresentadas como forma de
influenciar diretamente o comportamento do consumidor, fazê-lo desejar um produto
e comprá-lo em um ato impulsivo.
Ao fazer uma busca na base Emerald, relacionando os termos anteriormente
pesquisados (“impulse purchase” ou “impulse buying”) com heuristic, foram
encontrados 21 artigos publicados entre 2007 e 2017, sendo 4 em 2008, seguidos dos
anos de 2014, 2016 e 2017, cada um com 2 artigos publicados e 1 artigo em cada ano
de 2007, 2009, 2010, 2013 e 2015. Não foram identificadas publicações nos anos de
2011 e 2012 com essa soma de termos. Ao fazer uma busca com os termos de compra
por impulso com “neuroscience”, foram encontrados 5 artigos, divididos igualmente
entre os anos de 2008, 2010, 2012, 2013 e 2017. Já com o termo neuromarketing,
nenhum artigo foi encontrado associado com compras por impulso, nessa base. A
base de dados Scielo apresenta 13 artigos relacionando o termo “heuristic” com o
termo “decision”, sendo 3 deles com o foco deste trabalho, mas nenhum relacionado
à compra por impulso e, entre eles, apenas 1 foi publicado em 2017, sendo que os
demais antecedem os 10 últimos anos. Com o assunto compra + impulso em busca
de terminologias em português e inglês, apenas 3 artigos foram publicados nos
últimos 10 anos, sendo 2 em 2015 e 1 em 2017. Mesmo assim, nenhum tem relação
direta com o que é proposto neste trabalho.
Além de esses experimentos corroborarem com os fundamentos desta tese,
trazem argumentos ao estudo da neurociência aplicada ao comportamento do
consumidor, mais especificamente à tomada de decisão de compra, e demonstram
que a compra por impulso tem sido motivo de dedicação de diversos pesquisadores
que pretendem identificar, no cérebro, componentes que possam explicar esse
comportamento.
29
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho é composto por 5 seções: Introdução, Revisão de Literatura,
Proposta de Modelo, Procedimentos Metodológicos e Considerações Finais. Na
Introdução (Seção 1), na qual foram apresentados, resumidamente, os principais
conceitos que darão base para o desenvolvimento da proposta principal, os objetivos
geral e específicos, a justificativa com informações relevantes que demonstram a
importância do tema, bem como sua originalidade e viabilidade, A Seção 2 apresenta
a Revisão da Literatura referente ao Processo de Tomada de Decisão do Consumidor
com base em autores renomados e utilizados para estudos conceituados nos últimos
10 anos; a Compra por Impulso, considerando a teoria e atuais aplicabilidades; e a
evolução da Neurociência aplicada ao Comportamento do Consumidor, também
chamada de Neuromarketing. Já a Seção 3 apresenta uma proposta de utilização de
ferramentas neurocientíficas para compor um modelo de tomada de decisão nas
compras por impulso. A partir disso, a Seção 4 aborda os procedimentos
metodológicos, apresentando a pesquisa quantitativa realizada como proposta
experimental e suas respectivas análises e, finalmente, a seção 5 apresenta as
considerações finais contemplando as delimitações, bem como as sugestões de
novos estudos.
A seguir, para exemplificar de maneira prática a estrutura do trabalho, foi
desenvolvido um fluxograma (vide Figura 2):
31
2 REVISÃO DA LITERATURA
Precedente ao estudo experimental e como forma de compreender a teoria que
fundamenta o Processo de Tomada de Decisão do Consumidor, essa Revisão da
Literatura pretende apresentar o “estado da arte” no que diz respeito ao Processo de
Tomada de Decisão segundo autores reconhecidos na área como Nicosia (1966),
Howard e Sheth (1969), Mawen e Minor (2003), Blackwell, Miniard e Engel (2013) e
Karsaklian (2012), dentre outros. Além disso, pretende-se apontar os estudos
realizados sobre compras por impulso (processo foco deste trabalho), bem como
apresentar as ferramentas neurocientíficas que serão utilizadas na composição do
modelo proposto e sua relação com o Processo de Tomada de Decisão do
Consumidor.
Os principais estudiosos do tema serão apresentados de maneira atemporal
por acreditarmos que a cronologia do conhecimento envolto no processo de tomada
de decisão deve ser compreendida pelos principais fatores e variáveis apresentadas
por esses autores. São teorias complementares que seguem lados ora paralelos, ora
opostos, mas que não se contradizem. O primeiro modelo apresentado é o de Mowen
e Minor (2003), considerado mais “enxuto” e assertivo, uma vez que sua base também
foi utilizada pelos demais estudos, sejam eles anteriores ou posteriores ao desses
autores; já o segundo e mais completo é o modelo de Blackwell et al. (2013).
Sequencialmente apresenta-se Nicosia (1966), com a proposta diferenciada de
combinação: mensagem da empresa somada às necessidades que resultam em
atitude. Por último, Howard e Sheth (1969) trabalham direcionados aos apelos
externos e com os termos entrada e saída (decisão de compra).
Em Compras por Impulso, pretende-se apresentar as explicações teóricas e as
aplicações com base em autores que estudam o conceito de marketing e suas
variáveis, como Karsaklian (2012); Blackwell et al. (2013); Ferreira, Bizarrias, Silva e
Brandão (2015) e Lades (2014), também apresentamos aqueles de uma visão
apoiada na neurociência, como Tversky e Kahneman (1974), Tonetto et al. (2006) e
Kahneman (2012), além de autores que estudaram aspectos correlacionados ao
termo ou que tenham feito pesquisas de componentes específicos relacionados.
Por fim, ao apresentar a neurociência e suas aplicações em marketing,
pretende-se apresentar o termo e sua evolução, incluindo as ferramentas que
comporão o modelo de Tomada de Decisão na Compra por Impulso e, para isso, os
32
autores de maior expressividade para este trabalho são Damasio (1974, 1995, 2000,
2003, 2009, 2010), Senior e Lee (2008), Boricean (2009), Kahneman (2012) e Bremer
(2013).
2.1 PROCESSO DE DECISÃO DO CONSUMIDOR
Olhar para um produto, pegar o dinheiro ou cartão de crédito da carteira e
efetuar a compra pode parecer uma cena prática e comum, mas o cérebro precisa
colocar em ação diversos mecanismos para que isso ocorra, seja em uma compra que
perpassa as fases de reconhecimento da necessidade até a efetividade da compra ou
uma compra por impulso. Para uma mesma categoria de produto, há em diversas
ocasiões uma variedade grande de marcas e modelos no mesmo local de compra. As
decisões de compra envolverão critérios que o consumidor precisará colocar em
prática para que possa escolher algum. Esses critérios variam de acordo com as
funções e promessas que a marca faz ao consumidor (Karsaklian, 2012).
O percurso percorrido pelo consumidor para chegar à compra é chamado de
Processo de Tomada de Decisão, necessita de informações processadas na mente
que podem ser recebidas por meios internos (memória) ou externos e, nem sempre,
é ele quem decide sozinho. Para compreender esse processo, foram levantadas as
teorias mais utilizadas de forma efetiva e validadas por pesquisadores da área. A
primeira teoria apresentada neste trabalho trata do fluxo genérico apresentado por
Mowen e Minor (2003), conforme Figura 3. Esses autores acreditam que os
consumidores inicialmente reconhecem um problema ou necessidade, partem para a
busca de soluções (produtos ou serviços), avaliam as alternativas (entre marcas e
produtos substitutos, por exemplo), escolhem e farão, necessariamente, uma
avaliação pós-compra que poderá levá-los a novas compras ou indicações para outras
pessoas. Mowen e Minor (2003) apontam que, no estágio de reconhecimento do
problema, os consumidores apenas passam para o próximo estágio se a necessidade
for forte o suficiente, “apresentando” a ele um motivo que o colocará em ação na busca
pelo produto. Essa busca pode seguir dois caminhos, podendo ser completa ou
limitada, o que dependerá do nível envolvimento do consumidor.
É interessante considerar que o terceiro estágio desse processo genérico, a
avaliação de alternativas, sofre influência de crenças e atitudes que esse consumidor
tem em relação ao produto ou suas particularidades. Cabe apontar que “o
33
comportamento do consumidor é constituído por todas as ações tomadas pelos
consumidores que estejam relacionadas à aquisição, ao descarte e ao uso de
produtos e serviços” (Mowen & Minor, 2003, p. 143). Assim,
antes de praticar uma ação, as pessoas podem desenvolver intenções
comportamentais relativas à probabilidade que têm de adotar esse
comportamento. As intenções de comportamento, são definidas como
expectativas de se comportar de determinada maneira em relação à aquisição,
ao descarte e ao uso de produtos e serviços (Mowen & Minor, 2003, p. 143).
A escolha relaciona-se a marca, valor, investir na compra ou poupar,
localização, em qual loja comprar, ou seja, qual ação escolher. Por fim, avaliar o que
foi escolhido significa consumir, utilizar e, posteriormente, descartar as sobras, além
de verificar se uma nova compra poderá acontecer a partir do nível de satisfação em
relação ao produto e serviços atrelados (Mowen & Minor, 2003). Se, até o momento
da escolha, nosso cérebro passa por 3 “fases” simples, pode-se imaginar o montante
de conexões e componentes envolvidos nesse processo.
Figura 3 – Fluxograma genérico do processo de tomada de decisão do consumidor
Fonte: Mowen e Minor, 2003, p. 192
Blackwell et al. (2013, p. 86) acrescentaram, ainda de maneira simples (vide
Figura 4), duas fases após a escolha (que eles chamam de compra) e uma série de
componentes subjetivos nas demais fases. Essas fases “extras” representaram, para
eles, a atenção que deve ser colocada nas investigações em análises pós-compra,
uma vez que esse consumidor pode voltar a comprar ou indicar a outros
consumidores. Contudo, é interessante avaliar a forma como Blackwell et al. (2013)
acrescentaram detalhes em cada fase.
No Reconhecimento da Necessidade, eles apontaram que essa necessidade é
resultado da identificação, por parte do consumidor, sobre o estado atual e o desejado,
ou seja, o que ele tem e o que gostaria de ter, o que é e como quer ser. Eles também
pontuam que essa identificação perpassa a relação entre a habilidade de satisfação
da necessidade que esse produto proporciona versus custo do produto, sendo que o
Reconhecimento do problema Busca Avaliação das
alternativas Escolha Avaliação Pós-compra
34
primeiro deve sobressair ao segundo. É preciso também considerar essa necessidade
como possível desejo, uma vez que alguns consumidores compram com base nesse
segundo viés. Um ponto importante que deve ser analisado no modelo de Blackwell
et al. (2013) para futura contraposição ao modelo que será apresentado neste trabalho
sobre compra por impulso refere-se ao fato de a memória anteceder o reconhecimento
do problema/necessidade.
Figura 4 – Tomada de decisão dos consumidores para bens ou serviços
Fonte: Blackwell et al., 2013, p. 86
Partindo do pressuposto memória, esses autores pontuam que ela é ativada
quando ocorre a busca interna por informações, seja recuperando o conhecimento
que já existia ou nas tendências genéticas, e também a relacionam com a busca
externa, uma vez que ela é ativada na atenção, compreensão e aceitação, fatores que
precedem a exposição gerada por um estímulo proposital, conforme Figura 5.
Na avaliação das alternativas pré-compra, o estreitamento das alternativas
para posterior compra é resultante da comparação, contraste e seleção que os
consumidores fazem entre produtos e marcas. A memória aparece novamente para
facilitar essa comparação e anteceder a possibilidade de satisfação, uma vez que já
há um registro de validações anteriores na mente dos consumidores, seja
considerando o mesmo produto, produtos similares ou histórias de pessoas
35
conhecidas que comparam os produtos. Além disso, as influências podem partir de
diferenças individuais ou variáveis ambientais. Sendo assim, o critério avaliativo
corresponde ao produto, valores, necessidades ou estilos de vida.
Figura 5 – Processamento de Informações
Fonte: Blackwell et al., 2013, p. 77
O estágio relacionado à compra foi dividido por Blackwell et al. (2013) em duas
fases, sendo que a primeira está relacionada à escolha do tipo da venda como
catálogos, meios eletrônicos, TV ou venda direta e a segunda refere-se às escolhas
dentro desses meios (dentro da loja, do site, etc). Até a chegada nesse estágio, a
intenção de compra já foi formada e, mesmo assim, o consumidor pode comprar algo
que não o satisfaz por completo, é diferente do que foi inicialmente proposto
(dissonância cognitiva), não gostar do vendedor, entre tantas outras vertentes que
podem ocorrer. Por isso, o consumo concretiza a compra.
Contudo, é preciso lembrar que o consumo pode não ser feito de imediato, a
forma como será utilizado o produto pode diferir e sua manutenção até o uso pode ser
imprópria, afetando sua satisfação - componente importante na avaliação pós-
consumo que, costumeiramente, é guardada pelo consumidor como suas avaliações
na memória. Nesse momento pode ocorrer o arrependimento pós-compra ou
dissonância cognitiva.
No modelo de Blackwell et al. (2013) o descarte foi apresentado como último
estágio, o qual envolve a possibilidade de descarte completo, reciclagem ou revenda.
36
Os autores não citaram, mas é preciso considerar o uso do produto em sua
integralidade.
Além das fases ou estágios, como esses autores nomearam, houve variáveis
apontadas por eles que influenciam o processo de decisão - as diferenças individuais
e as influências ambientais. Assim, quando se trata de diferenças individuais, cinco
fatores foram considerados por esses autores: i) demografia, psicografia, valores e
personalidade, considerados em uma análise individual correlacionando seus valores,
crenças e padrões de comportamento com os de segmentos de mercado; ii) recursos
do consumidor, como seus limites e/ou investimentos de tempo, dinheiro e atenção
(recepção da informação e respectiva capacidade de processamento); iii) motivação,
no que se refere a energia e atividade colocadas em um comportamento objetivo; iv)
conhecimento, aquilo que é arquivado na memória do consumidor; e v) atitudes, ou
melhor, a avaliação formada como positiva ou negativa com relação ao produto
(Blackwell et al., 2013).
Já quando a variável trata de influências ambientais, outros cinco fatores foram
adicionados às variáveis individuais: i) a cultura – “valores, ideias, artefatos e outros
símbolos significativos que auxiliam os indivíduos a se comunicar, interpretar e avaliar
como membros da sociedade” (Blackwell et al., 2013, p. 89); ii) a classe social, como
diferenças socioeconômicas que podem resultar em distintas configurações de
comportamento de consumo; iii) a família, com seus diferentes papéis internos e
complexidades; iv) a influência pessoal, que constantemente coloca os consumidores
como respondentes de expectativas geradas pela sociedade ou os faz seguir
comportamentos alheios para serem “aceitos” naquele meio; e v) a situação, ou seja,
o momento pelo qual o consumidor está passando (Blackwell et al., 2013).
Em paralelo, o comportamento do consumidor pode sofrer influências de
processos psicológicos, tais como o processamento da informação, quando os
consumidores recebem, processam e dão sentido às comunicações pelas quais tem
acesso; a aprendizagem, uma vez que “a experiência leva a mudança em
conhecimento e comportamento” (Blackwell et al., 2013, p. 90); e a mudança de
comportamento e de atitude, a partir de inferências de ações promocionais efetivas.
Levando em consideração a evolução desses pensamentos e/ou as teorias
consideradas mais pertinentes ou próximas da realidade, Nicosia (1966, p.156)
apresentou de forma pioneira a influência da mensagem que a empresa divulga para
37
o consumidor, que, em combinação com suas necessidades, pode resultar em
atitudes. Ele investigou e citou aspectos mais subjetivos nesse processo como a
motivação para a compra, as influências das marcas, o comportamento de compra e
a experiência de uso. Tal processo está esquematizado a seguir (FIGURA 6):
Figura 6 – Fluxograma da Tomada de Decisão de Compra de Nicosia
Fonte: Nicosia, 1966, p. 156
Mesmo sendo uma publicação mais antiga, a proposta de Nicosia (1966, p.
156) é considerada revolucionária e contempla atributos chave para a compreensão
dos aspectos comportamentais que envolvem os processos de tomada de decisão.
Atitude, Motivação, Comportamento de Compra e Experiência já foram amplamente
estudados e redesenhados em suas mais diversas aplicações, seja na área de
Recursos Humanos, Finanças ou Marketing, fato que comprova a importância da
proposta.
Um pouco distinta e também com conceitos que se mantiveram atuais, a
proposta de Howard e Sheth (1969) priorizou a influência dos estímulos externos e
demonstra como os consumidores transformam essas entradas em saídas – decisões
de compra, o que está demonstrado na Figura 7:
38
Figura 7 – Adaptação do Modelo de Howard e Sheth
Fonte: Adaptado de Howard e Sheth, 1969
É importante destacar que, independentemente dos constructos inseridos
pelos autores, todos seguem a mesma lógica que Mowen e Minor (2003) propuseram,
fato que demonstra a linearidade do comportamento do consumidor quando o assunto
é a tomada de decisão. Contudo, é preciso levar em consideração o envolvimento do
consumidor com o que ele busca para suprir sua necessidade. Esse envolvimento foi
considerado como alto ou baixo por Mowen e Minor (2003) sob uma perspectiva
tradicional; o que Nicosia (1966) colocou em um único fluxo Mowen e Minor (2003)
separaram em perspectivas de compra: tradicional (alto ou baixo envolvimento),
experimental e comportamental, como está expresso na Figura 8.
Os estudos de Mowen e Minor (2003) com relação às três perspectivas
envolveram não somente sua identificação, como também a sugestão de um mix de
marketing – estratégias promocionais e de distribuição de preço - para produtos
comprados considerando cada perspectiva. Para os autores, o reconhecimento de um
problema e/ou necessidade decorre de um estado considerado atual para um
desejado, responsável por movimentar o consumidor e levá-lo a agir em busca de
informações. Isso ocorre independentemente das perspectivas e grau de
envolvimento.
Enquanto Howard e Sheth (1969) consideraram as influências externas como
preditivas ao reconhecimento da necessidade, Mowen e Minor (2003) apontaram
essas influências no momento da busca. Eles classificaram como busca interna a
recuperação na memória permanente sobre os produtos, características e marcas ou
busca externa, como amigos, embalagens, propagandas e vendedores, entre outros.
Na busca externa, os consumidores tendem a identificar marcas alternativas
disponíveis e desenvolvem critérios de avaliação para comparar as marcas, atributos
39
e benefícios. Isso pode ser direcionado pelo envolvimento do consumidor com as
marcas ou a necessidade em determinada situação.
Figura 8 – Três perspectivas de Mowen e Minor sobre a Tomada de Decisão
Fonte: Mowen e Minor, 2003, p. 194
Sem distinguir as perspectivas apontadas por Mowen e Minor (2003), de forma
generalista, os consumidores avaliam as alternativas com base em crenças acerca
dos atributos ou reações afetivas que já possuem com ele e a escolha por um ou outro
se intensifica por meio do envolvimento. Situações onde há alto envolvimento são
prováveis de terem como base um modelo compensatório, no qual um quesito muito
importante compensa a falha ou ausência dos demais e, por outro lado, quando há
baixo envolvimento, a escolha frequentemente está passível de um modelo
hierárquico de escolha, pois os consumidores farão a comparação entre os atributos
separadamente e um de cada vez.
A análise desses autores foi detalhada e bastante ampla, contudo,
considerando o período em que seus estudos foram desenvolvidos, algumas
mudanças ocorreram e podem influenciar o processo de tomada de decisão. A
40
tecnologia ocupou um espaço grande, substituindo ou sobrepondo diversos meios de
acesso aos consumidores. Para alguns tipos de produtos e serviços, seu
aparecimento e disseminação foram um desastre, mas os que souberam se adaptar
e compreender as novas formas de comunicação e consumo rapidamente se
reposicionaram. Marcas e propostas inovadoras surgiram em um mercado
considerado promissor (Sastre, 2009).
Mesmo levando em conta diversas características similares entre todas as
gerações – Baby Boomer, X, Y, Z, Millenials, entre outros - com relação ao processo
de tomada de decisão de compra, o estilo de vida, prioridades, valores, dedicação,
atenção e busca de informações, por exemplo, os deixaram bastante distintos,
fazendo com que seja preciso conhecer melhor o novo consumidor e os mecanismos
que podem influenciá-lo. Além disso, Tapscott (2010) e Dickson (2001) acreditaram
que a geração Y replicará sua forma de viver e encarar o mundo para o restante da
sociedade, uma forma mais independente, sensível, autêntica, emocional, intelectual
e confiante, que os leva a serem considerados como inovadores, investigativos,
adeptos à inclusão social e imediatistas.
Já a Geração Z se destaca pela rapidez com a qual conseguem as informações
e a irritação que sobrepõe suas demais características quando não encontra tais
informações com facilidade. São considerados mais individualistas, com dificuldade
para autoanálises e trabalhos em equipe e, por outro lado, facilidade em colocar
atenção em diversas variáveis conjuntas, conectados, velozes e interativos (pelos
meios digitais).
Em comum, tanto a Geração Y quanto a Geração Z não se sentem mais
influenciadas por celebridades, por exemplo, porém confiam nos depoimentos e
comentários que desconhecidos colocam em suas experiências anteriores e se
baseiam neles para compras futuras. A tecnologia também os auxiliou em compras
por impulso pela internet, uma vez que, ao comprarem e não se sentirem satisfeitos,
podem devolver seus produtos com quase nenhum ônus e ainda comentar sua
insatisfação na certeza de estar ajudando desconhecidos.
41
2.2 COMPRAS POR IMPULSO
Em se tratando da compra por impulso, pode-se considerar que todo o
processo de tomada de decisão tradicional assume outra dinâmica e não se baseia
nos processos de compra programadas, uma vez que as decisões são mais
repentinas, baseadas em emoção, estimuladas pela ocasião, resultando em uma ação
não planejada que motiva uma ação imediata. Essa seção do trabalho busca
compreender se as decisões de compras por impulso realmente são aleatórias e
exclusivamente influenciadas pela ocasião ou se o processo de tomada de decisão já
havia se formado em função de algumas características e/ou inferências anteriores e
se fixado na memória do consumidor que resulta em um “gatilho” inexplicado e pouco
explorado.
Kacen e Lee (2002) apontaram que pouco se sabe sobre os fatores que
impulsionam as compras que eles chamam de súbitas e convincentes e foram buscar
mais informações dentro dos fatores culturais, afirmando que é preciso compreender,
de maneira paralela, a auto-identidade, as influências normativas e a supressão da
emoção, bem como o adiamento, nesses casos, da gratificação instantânea.
Inicialmente, as análises das bases WOS e Scopus sobre os termos
relacionados à compras por impulso mostram um dendrograma com os clusters de
termos utilizados por esses autores, apresentado na Figura 9. Esse dendrograma
demonstra uma ramificação sobre os estudos de tendência e hedonismo tratados
dentro do comportamento do consumidor com referência ao marketing, mas percebe-
se que os aspectos que relacionam os fatores emocionais, cognitivos, sociais e
culturais não estão em evidência nos estudos mais citados.
42
Figura 9 – Clusters de termos relacionados a compras por impulso nas bases WOS e Scopus
Fonte: Software R, 2018
Contudo, antes adentrar essas especificidades, é preciso compreender a teoria
sobre o assunto. Por um lado, Karsaklian (2012) defendeu que o contexto de compra
é uma variável essencial, uma vez que, ao considerar teorias psicológicas e do meio
ambiente, algumas forças resistem ao determinismo do indivíduo. A abordagem
situacional é mais descritiva, um fenômeno vivenciado e observável. Os elementos
que a compõe estão descritos na Tabela 2 a seguir:
Tabela 2 – Elementos que compõe a abordagem situacional
Ambiente Físico Espaço, luz, temperatura, ruídos.
Ambiente Social Presença ou ausência de outros.
Perspectiva Temporal Momento do dia, estação do ano,
tempo passado desde a última compra.
Contexto de função a observar Viagem de negócios ou de férias.
Condições que determinam os estados
mentais que o indivíduo traz à situação Humor, predisposições.
Fonte: Karsaklian, 2012, p. 224
Blackwell et al. (2013) trataram a compra por impulso como um dos tipos de
processo de tomada de decisão. Os demais tipos considerados por eles foram: i) o
Continuum do Processo de Decisão, em que eles trabalham com a ideia de solução
43
estendida do problema (SEP), solução intermediária do problema (SIP) e solução
limitada do problema (SLP), considerando que nas compras os consumidores podem
variar os graus de complexidade para a escolha do que pretendem comprar e esses
graus variam entre grande complexidade – SEP ou menor complexidade – SLP; ii) a
compra inicial normalmente é fundamentada na fidelidade à marca, com pouca busca
por informações, referenciando-se nos produtos mais baratos ou marcas mais
reconhecidas e nesses casos, SLP é o recurso empregado, ou a SEP é utilizada em
casos de custos maiores onde o risco em decisões erradas é grande; iii) as compras
repetidas envolvem a solução repetida do problema ou a tomada de decisão habitual,
lembrando que a inércia é satisfatória para o cérebro que não precisa avaliar muitas
alternativas; e iv) a busca de variedade que ocorre quando há grande número,
produtos similares, substitutos ou alta frequência de compra.
O processo de compra por impulso normalmente é relacionado ao sentimento
que proporciona satisfação ao consumidor, ou seja, um sentimento positivo. A busca
por saciar a ansiedade de sentir-se satisfeito a partir da compra de determinados
produtos faz com que eles não apenas sirvam como satisfação de necessidades, mas
que satisfaçam a intensidade de desejos sempre crescentes, partindo do uso imediato
daquilo que foi adquirido e sua rápida substituição (Bauman, 2008). Contudo, Ferreira
et al. (2015) propuseram que há situações que geram compra por impulso a partir de
sentimentos negativos, como em crowding, ou seja, para fugir de aglomerações
(sentimento negativo), as pessoas compram por impulso com o objetivo de saírem
desse ambiente, por isso, a satisfação está relacionada ao fato de comprar
rapidamente para se ver livre daquele local. Esses consumidores não têm tolerância
à densidade humana e necessitam de espaços individuais maiores, têm menos
controle da impulsividade e passam a buscar algo mais prazeroso. A compra por
impulso ocorre, então, a partir da não racionalidade em lidar com suas próprias
emoções. Mesmo assim, seus estudos apontaram que as compras por impulso estão
mais relacionadas com a satisfação em si e a percepção do crowding, tornando-o
racional. Cabe salientar que o crowding foi citado neste trabalho apenas para a
composição da teoria, contudo não será testado no modelo proposto.
O uso da tecnologia também deve ser considerado, uma vez que, atrelada à
compra instantânea, prática e sem esforço, contribui para o comportamento impulsivo,
44
ou seja, o consumo impulsivo deriva de impulsos repentinos e intensos que levam os
consumidores a adquirir prontamente os produtos (Lades, 2014).
Enquanto Karsaklian (2012) se apoiou em questões situacionais e de ambiente e
Blackwell et al. (2003) consideraram a busca pela variedade, compras iniciais e
repetidas, Kahneman (2012) trabalhou a ideia de vieses e heurísticas1 nas tomadas
de decisões, chamadas de “gatilhos” mentais e utilizadas costumeiramente como
ferramentas de persuasão em vendas.
Sem adentrar o contexto “comercial” do termo, Kahneman (2012) determinou
esses “gatilhos” com explicações sobre como os sistemas cerebrais funcionam e se
revezam na tomada de decisão. Tversky e Kahneman “passaram anos estudando e
documentando vieses de pensamentos em tarefas variadas” como forma de
“determinar a probabilidade de eventos, prognosticar o futuro, avaliar hipóteses e
estimar frequências” (Kahenman, 2012, p. 15). Esses estudos resultaram em diversos
artigos, sendo um dos principais publicado na Science em 1974 - Judgment Under
Uncertainty: Heuristics and Biases, no qual eles descreveram os gatilhos como atalhos
simplificadores do pensamento intuitivo em cerca de vinte vieses diferentes como
revelações dessas heurísticas. Os autores detalharam nesse artigo as heurísticas de
ancoragem e ajustamento, disponibilidade e representatividade.
Ancoragem e ajustamento refletem a tomada de decisão das pessoas quando,
por exemplo, precisam fazer uma estimativa. Ao apresentar um valor inicial para o
indivíduo, ele servirá como âncora e esse atalho cognitivo poderá influenciar a
resposta final. É possível tanto utilizar esse valor inicial como comparação, quanto
apenas como uma apresentação informativa. Tversky e Kahneman (1974)
exemplificam duas situações: 1. a ideia de limite de itens em um supermercado,
quando a informação aponta que cada cliente pode levar apenas x unidades de um
determinado produto e isso faz com que o cliente efetue a compra por acreditar que é
um bom negócio, independente da comparação de preço com outros produtos; 2. uma
espécie de roda da fortuna em que ao girar para um grupo apareceu o número 10 e
para outro, o número 65, sendo solicitado que as pessoas estimassem a porcentagem
de países africanos nas Nações Unidas. O grupo que recebeu primeiro número (10)
1 Heurísticas são regras gerais de influência utilizadas pelo decisor para simplificar seus julgamentos em tarefas decisórias de incerteza (Tonetto et al., 2006).
45
como âncora inicial estimou em 25% em média, enquanto que o grupo que recebeu o
segundo (65), teve uma estimativa média de 45%.
Alguns autores defendem que essa ancoragem e ajustamento acontecem no
estágio de recuperação da informação no cérebro, sendo que a presença da âncora
determina qual informação será recuperada pelo indivíduo (Strack & Mussweiler,
1997, Chapman & Johnson,1999, 2002, Mussweiler & Strack, 2001).
O “gatilho” da disponibilidade relaciona-se a eventos que os indivíduos já
tenham passado ou constantemente têm acesso. “Há situações em que as pessoas
estimam a frequência de uma classe ou a probabilidade de um evento pela facilidade
com que os casos ou ocorrências podem ser trazidos à mente” (Tversky; Kahneman,
1974, p. 1127). Nesse atalho, a familiaridade com o episódio ocorrido afeta a
possibilidade de recuperação da ocorrência ou o fato de ele ter acontecido
recentemente pode influenciar essa recuperação, uma vez que eventos recentes
tendem a ficar mais disponíveis do que os mais antigos. “A heurística da
disponibilidade é um procedimento eficaz e rápido, utilizado com frequência no
julgamento e tomada de decisão em condições de incerteza” (Tonetto et al., 2006).
Já a representatividade traz consigo a ideia de similaridade de uma ocorrência
de um evento específico com a maioria dos outros da mesma classe. Esse princípio
heurístico propõe alta possibilidade de ocorrência de um fato quando é característico
ou representativo de uma circunstância. Assim, as pessoas tendem a embasar suas
inferências de acordo com o que lhes é apresentado, levando em consideração o
resgate representativo da memória.
Tversky e Kahneman (1974, p.1124) apresentaram como exemplo a história
fictícia de um rapaz, apontando algumas de suas características, e pediram para que
as pessoas apontassem sua ocupação. “Steve é muito tímido e retraído,
invariavelmente prestativo, mas com pouco interesse nas pessoas e no mundo real.
De índole dócil e organizada, tem necessidade de ordem e estrutura e uma paixão
pelo detalhe”. A probabilidade de conferirem a ocupação de bibliotecário no lugar de
fazendeiro, por exemplo, é grande, mesmo considerando que no local, o percentual
de fazendeiros é profundamente maior que o de bibliotecários.
Esses atalhos mentais são apresentados como “gatilhos” por autores de livros
em vendas ou persuasão e são trabalhados em artigos da internet como ferramentas
úteis para aumentar as vendas. As nomenclaturas variam, mas são comumente
46
chamadas de escassez, autoridade, urgência, reciprocidade, antecipação, novidade
relação dor versus prazer entre outros.
O conhecimento e aplicação desses atalhos provém da relação existente entre
os estudos da medicina, psicologia, ciências sociais e economia com o marketing e
seu emprego no comportamento do consumidor. Para compreender o funcionamento
desses atalhos, bem como a forma como o cérebro trabalha em determinadas
situações, o próximo tópico demonstrará o aparecimento da neurociência e as
ferramentas neurocientíficas utilizadas em aplicações de estratégias de marketing.
2.3 NEUROCIÊNCIA E O MARKETING
Compreender o cérebro humano com suas particularidades tornou-se
fundamental em meio à concorrência acirrada existente entre empresas e seus
respectivos produtos, para ocupar um lugar na mente e escolha por parte do
consumidor. Como forma de ampliar os estudos nessa área, a neurologia passou a
oferecer recursos na neurociência como forma de potencializar esses estudos. Nesse
escopo, Damasio (1974, 1995, 2000, 2003, 2009, 2010) foi o neurocientista
responsável por estudos pioneiros e promissores relacionando Emoção, Razão e
Cérebro Humano.
Contudo, Boricean (2009) apontou que o primeiro neurocientista a identificar
que o cérebro decide antes de nossa mente foi Benjamin Libet, em 1983. Ele apontou
que mesmo que as pessoas acreditem não terem tomado decisões de forma
consciente, o cérebro já as tomou. No estudo sobre o comportamento do consumo,
frequentemente são analisadas a ação e a situação de compra, contudo, com a
utilização da neurociência, torna-se possível analisar o que levou o indivíduo a
determinado comportamento.
A neurociência se apropria dos estudos relacionados ao sistema nervoso
animal e humano, englobando diversas áreas de estudo como a anatomia do sistema
nervoso ou neuroanatomia, a fisiologia do sistema nervoso ou neurofisiologia, as
doenças neurológicas ou neuropatologias e suas consequências, a neuropsicologia,
a ciência cognitiva e, com alguns recursos específicos, passou a ser utilizada por
profissionais de marketing – neuromarketing, como forma de compreender a reação
dos indivíduos com relação à marca e, em alguns casos, seu comportamento,
principalmente àqueles relacionados aos processos automáticos de tomada de
47
decisão, ou seja, àqueles relacionados às decisões mais rápidas e menos criteriosas
com percepções muitas vezes ausentes. Nesse sentido, os estudos partiram para
questões cerebrais mais profundas, nas quais apenas equipamentos advindos da
medicina capazes de verificar estímulos cerebrais, podem detectar reações e oferecer
respostas que a olho nu não se consegue (Boricean, 2009).
O primeiro equipamento utilizado para os estudos de marketing foi a
Ressonância Magnética, no final da década de 1990, nos EUA. Neuromarketing foi
uma nomenclatura dada por Ale Smidts, professor de Marketing da Erasmus
University, na cidade de Roterdã, na Holanda, e Prêmio Nobel de Economia em 2002.
A denominação recebida representa a união da Neurociência e o Marketing
(Neurociência + Marketing = Neuromarketing) e designa o uso de técnicas de
identificação de mecanismos cerebrais para entender o comportamento do
consumidor como forma de melhorar as estratégias de marketing (Boricean, 2009).
Nasce, portanto, um novo campo de pesquisa em marketing que pode ser entendido
como:
um domínio relativamente novo de pesquisa de marketing aplicado que estuda
as reações cognitivas e afetivas dos consumidores aos estímulos de marketing.
Abrange a sobreposição entre neurociência e pesquisa no comportamento do
consumidor, bem como publicidade, marketing e design de produtos. Os
pesquisadores utilizam novas tecnologias como ressonância magnética
funcional (Bremer, 2013, p 18).
O termo neuromarketing não agrada todos os pesquisadores da área que o
consideram “comercial”. Ao desenvolver a busca na base de Periódicos CAPES,
buscou-se associar diversas terminologias para compreender a importância e a
diferença entre a quantidade de publicações referentes à neurociência e aquelas
sobre neuromarketing entre 2007 – 2017 (como demonstrado na Tabela 3) que
tenham sido revisados por pares e publicados com foco em negócios, ciências sociais,
comportamento do consumidor ou marketing. Nesse filtro, não foram avaliados se os
artigos se repetiam entre os termos pesquisados.
48
Tabela 3 – Filtro por termos na Base Periódicos Capes
Filtro Quantidade de artigos
revisados por pares
Neurociência + Consumo 19
Neuroscience + Consumer 1.102
Neuroscience + Marketing 1.260
Neuroscience + Consumer Behavior 1.176
Neuroscience + Consumer Decision Process 949
Neurociência + Tomada de Decisão 8
Neuromarketing 244
Fonte: Elaborado pela autora
Percebe-se a clara distinção entre os filtros em português e inglês, uma vez
que a maioria das publicações são inseridas ou traduzidas para a língua inglesa. Parte
dos artigos filtrados em Neurociência e Neuroscience, somados com Marketing,
Consumer Behavior e Consumer Decision Behavior são os mesmos que aparecem
em Neuroscience somado apenas à Consumer.
O novo campo de pesquisa – Neuromarketing, tem destaque pela quantidade
de publicações, mesmo não sendo aceito como terminologia por alguns cientistas. Na
Base ProQuest2, os resultados para filtros parecidos foram os demonstrados na
Tabela 4 a seguir:
Tabela 4 – Filtro por termos na Base ProQuest
Filtro Quantidade de artigos
Neuroscience + consumer 1413
Neuroscience + Consumer Behavior 93
2 Através de parcerias com detentores de conteúdo, a ProQuest preserva informação rica vasta e variada - quer arquivos históricos ou inovações científicas atuais - e as embala com as tecnologias digitais que melhoram a sua descoberta, compartilhamento e gerenciamento.
49
Neuroscience + marketing 743
Neuromarketing 73
Fonte: Elaborado pela autora
Nesse caso, percebe-se o expressivo número de publicações para o novo
conceito. De uma forma ou de outra, estudar o cérebro e suas particularidades tornou-
se foco de pesquisadores que querem descobrir quais estímulos podem ser mais
assertivos para influenciar as reações e comportamento de compra dos
consumidores.
Ao analisar o termo neuromarketing nas diversas áreas como Ciências Sociais,
Humanidades, Medicina, Psicologia, entre outras da base Scopus3 entre 2007 e 2017
foram encontrados 170 artigos. Percebe-se evoluções significativas em 2012, 2016 e
2017, com 19, 27 e 33 artigos, respectivamente, como apresentado na Figura 10.
Figura 10 – Artigos publicados com assunto Neuromarketing entre 2007 e 2017 nas diversas áreas
Fonte: SCOPUS, 2018
3 Em 2007, a Capes, principal agência brasileira de fomento à pós-graduação, firmou um acordo para disponibilizar a base de dados Scopus para 44 universidades e instituições de pesquisa brasileiras. A Scopus é uma base de artigos científicos multidisciplinares responsável por um conjunto amplo de revistas científicas, com recursos abrangentes que incluem contagem de citações por artigos, além de outros dados adicionais. Estão disponíveis mais de 21 mil títulos de periódicos revisados por pares, sendo que 4200 estão abertos para acesso completo, e mais de 5 mil editores internacionais, além de 24 milhões de patentes entre outros documentos.
50
Entre as revistas que mais receberam esse assunto (apresentadas na Figura
11), destacam-se a Revista Cogent Psychology, a Comunicar, o Journal of Consumer
Psychology, o Journal of Economic Psychology, o Journal of Neuroscience
Psychology and Economics e a Neuroscience Letter com 4 artigos cada publicados,
seguidos de Journal of Advertising Research, Journal of Consumer Marketing,
Neuropsychological Trends e Profesional De La Información com 3 artigos cada. Não
há revistas brasileiras com publicações apontadas.
Figura 11 – Revistas que mais receberam artigos com o assunto Neuromarketing entre 2007 e 2017
Fonte: SCOPUS, 2018
Com relação aos países que mais publicam artigos de Neuromarketing,
destacam-se Estados Unidos, Espanha, Itália Reino e Unido (vide Figura 12). É
interessante ressaltar que o Brasil ocupava a 12ª posição em 2015 e subiu para a 9ª
em 2017.
51
Figura 12 – Países que mais receberam artigos com o assunto Neuromarketing entre 2007 e 2017
Fonte: SCOPUS, 2018
O estudo do cérebro e suas particularidades têm atraído empresas que
desejam conhecer mais a fundo o que se passa na cabeça do consumidor e, a partir
disso, influenciá-lo para a efetivação da compra ou escolha entre determinados
serviços. Não somente a ciência, como também as empresas passaram a considerar
o neuromarketing, trazendo a ele grande prestígio:
O neuromarketing contemporâneo pode nos oferecer muito mais do que isso,
como uma visão dos vários processos que são evidentes nas trocas de
mercado. Processos como canais de distribuição, política de preços, marca
ética, etc., são considerados dentro de uma troca de mercado, mas até agora
tem sido o domínio da pesquisa de marketing baseado em psicologia social,
econometria e outras ciências sociais. (Sênior & Lee, 2008, p.264).
Para compreender os processos neurais no ato da decisão buscou-se auxílio,
portanto, nos sistemas psicológicos automático e deliberativo, tratados nesse trabalho
como Sistema 1 e Sistema 2, respectivamente, termos propostos originalmente pelos
psicólogos Keith Stanovich e Richard West (2000) e utilizados por muitos estudiosos
posteriormente. O Sistema 1 considerado mais rápido e intuitivo é o Sistema que será
considerado como responsável pela compra por impulso e o Sistema 2, lento e
deliberado, pelo processo tradicional de tomada de decisão.
52
Kahneman (2012) definiu o Sistema 1 com operações rápidas e automáticas,
nas quais o esforço é nulo ou reduzido e a percepção de controle voluntário é ausente.
Já o Sistema 2 se responsabiliza por cálculos mais complexos com atividades mentais
trabalhosas e necessita de concentração. O autor acreditou que, em algumas
situações, o Sistema 2 assume total controle, dominando os impulsos do Sistema 1;
contudo, na prática diária, isso não ocorre com frequência.
Em termos neurofisiológicos, exibidos na Figura 13, o lobo temporal é
responsável pelas respostas automáticas, ele é um dos sistemas mais primitivos do
cérebro. Nele se concentram a memória e nossas emoções boas e ruins. Já a região
pré-frontal, inserida no lobo frontal, se responsabiliza pelo bom-senso e planejamento
de objetivos.
Figura 13 – Divisão cerebral e suas funções
Fonte: Google Imagens, 2017
Para exemplificar as diferenças entre os dois sistemas, a Tabela 5 demonstra as
atividades automáticas atribuídas ao Sistema 1 em ordem aproximada de
complexidade.
Tabela 5 – Atividades automáticas do Sistema 1
Detectar que um objeto está mais distante que o outro.
Orientar em relação à fonte de um som repentino.
Completar a expressão “pão com...”
Fazer “cara de aversão” ao ver uma foto horrível.
53
Detectar hostilidade em uma voz.
Responder 2 + 2 = ?
Ler palavras em grandes cartazes.
Dirigir um carro por uma rua vazia.
Encontrar um movimento decisivo no xadrez (se você for um mestre
enxadrista).
Compreender sentenças simples.
Reconhecer que uma “índole dócil e organizada com paixão pelo detalhe” se
assemelha a um estereótipo ocupacional.
Fonte: Kahneman, 2012, p. 30
Já a Tabela 6 apresenta as operações altamente diversificadas do Sistema 2 que
exigem atenção e portanto podem ser interrompidas quando essa atenção é desviada.
Tabela 6 – Operações diversificadas do Sistema 2
Manter-se no lugar para o tiro de largada numa corrida.
Concentrar a atenção nos palhaços do circo.
Concentrar-se na voz de determinada pessoa em uma sala cheia a barulhenta.
Procurar uma mulher de cabelos brancos.
Sondar a memória para identificar um som surpreendente.
Manter uma velocidade de caminhada mais rápida do que o natural para você.
Monitorar a conveniência de seu comportamento numa situação social.
Contar as ocorrências da letra a numa página de texto.
Dizer a alguém seu número de telefone.
Estacionar numa vaga apertada (para a maioria das pessoas, exceto
manobristas de garagem).
Comparar duas máquinas de lavar roupa em relação ao valor global.
54
Preencher um formulário de imposto.
Verificar a validade de um argumento complexo.
Fonte: Kahneman, 2012, p. 31
É possível usar o Sistema 2 para mudar a forma como o Sistema 1 age,
programando suas funções. O Sistema 2 fica, frequentemente, em situação
confortável e de pouco esforço, utilizando somente um pequeno fragmento de sua
capacidade, enquanto o Sistema 1 funciona automaticamente, gerando sugestões
como impressões, intenções, intuições e sentimentos ao Sistema 2 que, se
endossadas, podem tornar-se crenças e impulsos, ações voluntárias. Isso significa
que, a partir do momento em que essas funções ocorrem de forma sutil, o Sistema 2
adotará as sugestões do Sistema 1 com pouca ou nenhuma modificação, acreditando
nas impressões e agindo segundo os desejos que foram sugeridos (Kahneman, 2012).
Esse autor propôs que a engenhosa divisão de trabalho entre os dois sistemas
é efetiva uma vez que diminui o esforço, otimizando o desempenho. O Sistema 2 tem
como uma de suas funções detectar um erro antes de cometê-lo e se esforçar para
conter ou consertar esse erro. Por exemplo, ao exprimir um comentário ofensivo, é
natural que haja um esforço extra para colocar tudo no eixo novamente. Isso significa
que a maior parte das coisas que são realizadas estão sob responsabilidade do
Sistema 1 e, quando a situação fica mais complicada, o Sistema 2 assume o controle.
Um “problema” comum é que o Sistema 1 pode ser controlado em algumas
ocasiões, mas não pode ser desligado. Uma vez que um consumidor tem acesso a
alguma informação fácil de ser lida ou compreendida, o fará sem dificuldade. Sendo
assim, é conveniente expor mensagens fáceis, com trocadilhos compreendidos de
imediato ou desenhos simples de serem interpretados.
Quando algumas ideias são projetadas e disparam outras ideias, numa cascata
crescente de atividades no cérebro dos consumidores, acontece o processo chamado
ativação associativa e, quer queira ou não, os elementos estarão conectados, fazendo
com que um apoie e fortaleça o outro. A primeira ideia projeta lembranças, que gera
emoções, posteriormente expressões faciais e assim por diante (Kahneman, 2012).
Se houver coerência, o corpo terá uma reação, o consumo será mais efetivo e será
desenvolvido um marcador somático positivo.
55
Um exemplo fácil e interessante de ativação associativa relaciona-se à
visualização de uma propaganda em que o personagem demonstra em sua face
expressões como nojo ou tristeza em um momento que deveria mostrar sinais de
alegria e entusiasmo. Automaticamente, ao ver uma expressão de nojo próxima a um
cartaz de comida, o consumidor terá feito uma associação que possivelmente
resultará na não compra. Essa descoberta tem relação com Paul Ekman4, médico e
especialista em detecção de decepção, que foi co-descobridor de microexpressões
(exemplificadas na Figura 14) e a inspiração por trás da série de sucesso, Lie to Me.
Figura 14 - Microexpressões Faciais
Fonte: Paul Ekman Group. Dispónível em https://www.paulekman.com/paul-ekman/
A série ´Lie to Me´ retratava, entre diversos assuntos neurocientíficos, a
possibilidade de verificação dessas microexpressões faciais e foi o Dr. Paul Ekman
que atuou como Conselheiro Científico da série, analisando e criticando o roteiro de
cada episódio a fim de ensinar o elenco e a equipe sobre a ciência da detecção.
4 Dr. Paul Ekman é um pioneiro da pesquisa científica da conduta humana. É reconhecido, em particular, por seu trabalho sobre as emoções humanas, as expressões faciais e a sua aplicação na detecção da mentira e da verdade. Realizou estudos de graduação na Universidade de Chicago e na Universidade de Nova York, obtendo seu doutorado em Psicologia Clínica pela Universidade Adelphi em 1958, após atuar como interno durante um ano no Instituto Neuropsiquiátrico Langley Porter. Após dois anos como oficial de Psicologia Clínica no Exército dos Estados Unidos, voltou a Langley Porter, onde trabalhou de 1960 até 2004. Sua pesquisa sobre as expressões faciais e o movimento corporal começou em 1954, foi o tema de sua tese de mestrado em 1955 e sua primeira publicação foi em 1957.
56
Figura 15 – Microexpressões faciais e seus significados – série Lie to Me
Fonte: Comportese-se. Disponível em <http://www.comportese.com/2012/03/o-estudo-do-comportamento-facial-humano>
Essas expressões podem ser utilizadas como “gatilho” para que a memória
encontre uma informação em sua “caixa” que seja associativamente coerente
(Kahneman, 2012). A partir da ativação coerente, marcadores somáticos podem ser
acionados. Eles recebem esse nome pois estão diretamente ligados às sensações
corporais, cujo fenômeno tem como atribuição o termo técnico de estado somático
(em grego, soma quer dizer corpo) e o estado “marca” uma imagem, por isso
marcador.
Nascemos com a maquinaria neural necessária à criação de estados somáticos
em resposta a determinadas categorias de estímulos, a maquinaria das
emoções primárias. Essa maquinaria encontra-se inerentemente preparada
para processar sinais relativos ao comportamento pessoal e social, e integra,
desde o início, disposições que ligam um grande número de situações sociais
a respostas somáticas adaptativas. [...]. Todavia, a maior parte dos marcadores
somáticos que usamos para a tomada racional de decisões foi provavelmente
57
criada nos nossos cérebros durante o processo de educação e socialização
(Damásio, 2012, p. 166)
Damásio (2012) acredita que eles possivelmente aumentam a precisão e
efetividade do processo de decisão e sua ausência o reduz.
Quando um marcador somático negativo é justaposto a um determinado
resultado futuro, a combinação funciona como uma campainha de alarme.
Quando ao contrário, é justaposto um marcador somático positivo, o resultado
é incentivo. (Damasio, 2012, p. 163)
Se um marcador somático positivo é considerado incentivo, significa que ele
pode ser o “gatilho” para as lembranças positivas armazenadas na memória dos
consumidores e, de forma inconsciente, ser ativado por meio de uma mensagem
estratégica, O mesmo acontece se o gatilho for negativo, pois resultará em uma
associação ruim que deverá ser evitada pelo consumidor (Vide Figura 16).
Figura 16 – Exemplo clássico de memória
Fonte: Elaborado pela autora
Apelos visuais são mais fáceis de serem resgatados da memória, mas não é
necessário utilizar representações apenas pela imagem. Lindstrom (2012) comparou
o sistema humano com um gravador de rádio que grava em duas faixas separadas –
imagem e som. Os seres humanos têm cinco faixas: imagem, som, cheiro, gosto e
toque. A neurociência acredita em aproximadamente 28 sentidos, mas explorá-los não
é o objetivo desse trabalho. “O fato é que experimentamos praticamente toda a nossa
compreensão do mundo através dos sentidos. São nossa ligação com a memória.
Tocam nossas emoções, passadas e presentes” (Lindstrom, 2012, p. 13). Além disso,
“a forma como a informação é registrada possibilita a compreensão de seu modo de
representação na memória. Geralmente, as novas informações que tem relação com
58
aquelas estocadas possuem mais chances de ser memorizadas” (Kasarklian, 2012, p.
190).
Os marcadores somáticos são, portanto, adquiridos por meio da experiência,
sob o controle de um sistema interno de preferências e sob a influência de um
conjunto externo de circunstâncias que incluem não só entidades e fenômenos
com os quais o organismo tem de interagir, mas também convenções sociais e
regras éticas.
A base neural para o sistema interno de preferências consiste, sobretudo, em
disposições reguladoras inatas com o fim de garantir a sobrevivência do
organismo. Conseguir sobreviver coincide com conseguir reduzir os estados
desagradáveis do corpo e atingir estados homeostáticos, isto é, estados
biológicos funcionalmente equilibrados. O sistema interno de preferências
encontra-se inerentemente predisposto a evitar a dor e procurar o prazer, e é
provável que esteja pré-sintonizado para alcançar esses objetivos em situações
sociais (Damásio, 2012, p. 167).
A resposta do corpo é o que indica se o marcador somático aconteceu, pois ele
depende, no nível neural, da aprendizagem dentro de um sistema que possa integrar
alguns tipos de elementos à produção de um estado do corpo, agradável ou
desagradável. “A aquisição da sinalização pelos marcadores somáticos, situa-se nos
córtices pré-frontais, onde é, em grande parte, coextensivo com o sistema de emoções
secundárias” (Damásio, 2012, p. 168).
Todas as regiões sensoriais onde se formam as imagens enviam sinais aos
córtices pré-frontais. Junto com os córtices somatossensoriais (como demonstra a
Figura 17), essas imagens traduzem nossos pensamentos, seja com relação ao
mundo exterior ou em pensamentos sobre esse mesmo mundo.
59
Figura 17 – Córtices Somatossensoriais: Motor e sensorial
Fonte: Cérebro e Movimento. Disponível em <https://plexuscervical.wordpress.com/2016/09/01/cerebro-movimento/#jp-carousel-544 >
Além disso, os córtices recebem sinais de diversos setores biorreguladores, ou
seja, núcleos neurotransmissores, situados no tronco cerebral, como dopamina,
norepinefrina e serotonina; no prosencéfalo basal, como acetilcolina; e, também, na
amígdala, no cíngulo anterior e no hipotálamo. A Figura 18 exemplifica a dopamina e
a serotonina enviando sinais, principalmente para o córtice pré-frontal. Esse envio de
sinais de diversos locais auxilia o mecanismo de raciocínio e tomada de decisões,
uma vez que essa tomada de decisões localiza-se no córtice pré-frontal.
Contudo, o córtice pré-frontal também consegue representar categorizações de
determinadas situações em que o organismo está envolvido. Ele combina coisas e
eventos, dentro das contingências da experiência individual na vida real, dispondo um
grau de importância entre essas coisas e eventos e reage com base em fatos
históricos, porém individuais. Fato que deve ser evidenciado é que isso acontece
apenas com relação às contingências, ou seja, “algo só seu que se relaciona com a
sua experiência, algo relativo a acontecimentos que variam de indivíduo para
indivíduo” (Damásio, 2012, p. 170). Um detalhe também importante relaciona-se às
coisas menos contingentes, quando a estrutura de funcionamento é tão “mecânica”
que todos terão a mesma experiência e as mesmas atitudes.
60
Figura 18 – Sinais de dopamina e serotonina sendo enviados para outras regiões cerebrais
Fonte: Shutterstock - Banco de imagens
Partindo do pressuposto de que diversos sinais podem ser levados até os
córtices pré-frontais e auxiliar na tomada de decisão, a memória, localizada na
amígdala, poderá ser um “gatilho” para decisões rápidas e tomadas por impulso.
Nesse sentido, Damásio (2012) pontuou que criatividade, memória e imaginação são
capacidades interligadas, o que favorece a criatividade por parte das empresas nos
Pontos de Vendas - PDVs. Assim, encontrar os “gatilhos” que possam ativar a
memória positiva do consumidor de forma rápida, provavelmente, facilitará a compra
por impulso.
61
3 PROPOSTA DE MODELO
O processo de tomada de decisão do consumidor está amplamente respaldado
de teorias consolidadas e cujo resultado tem sido explorado e testado com êxito.
Contudo, a compra por impulso não tem tido a mesma dedicação de pesquisadores
com o objetivo de criar um modelo específico, uma vez que acredita-se que ela sempre
é causada pela situação, sendo que esses elementos situacionais incluem questões
do ambiente físico (como espaço, luz, temperatura e ruídos), questões sociais (como
a presença ou ausência de outros indivíduos), a perspectiva temporal (como a estação
do ano, momento do dia, tempo em relação à última compra), o contexto (como a
possibilidade de ser uma viagem de férias ou negócios) e as condições mentais dos
indivíduos (como humor e predisposições) (Kasaklian, 2012).
Considerando os últimos 10 anos de publicações de artigos nas bases Scielo
e Emerald, os assuntos compra por impulso e heurísticas foram trabalhados
separadamente, com recortes bastante delimitados ou de forma negativa, como o
efeito de crowding, o qual expele consumidores que não gostam de aglomerações.
Tonetto et al. (2006) trabalharam a heurística de julgamento na tomada de decisão
sob incerteza, mas não consideraram a compra por impulso; Silvera, Lavack, e Kropp
(2008) pesquisaram os preditores da compra por impulso para relacionar com as
questões de afeto, influência social e bem estar subjetivo, contudo apontaram a
compra por impulso como um problema social, prejudicial ao indivíduo (chamado de
problemático) e focaram os estudos em políticas públicas e marketing social; Ciarelli
e Ávila (2009) fizeram um estudo experimental com o objetivo de identificar, no Brasil,
a influência da mídia e da heurística da disponibilidade na percepção da realidade;
Nayebzadeh e Jalaly (2014) compararam a compra impulsiva do consumidor iraniano
com o que chamaram de terapia de varejo; Leite e Silva (2015) testaram o rendimento
individual considerado baixo, com a prevalência de compra por impulso e não
encontraram uma relação significativa; Medeiros, Diniz, Costa e Pereira (2015)
verificaram a influência de estresse, materialismo e autoestima na compra compulsiva
de adolescentes, mas também o associaram à impulsos incontroláveis e irracionais
negativos.
Mesmo encontrando poucos artigos focados no assunto desta tese, publicados
nessas duas bases, alguns autores se dispuseram a fazer recortes considerados mais
próximos, como Luppe e Angelo (2010) que buscaram entender o papel da
62
racionalidade no processo de escolha em contrapartida às decisões de consumo e a
heurística de ancoragem e concluíram que valores menores ancoram mais, fato já
defendido anteriormente por Tversky e Kahneman (1974) e apontado novamente
como a “Lei dos Pequenos Números” por Kahneman (2012); Gonçalves (2015) que
verificou a valência da recomendação em decisões de compra que envolvem grandes
esforços cognitivos; Muratore (2016) que testou o papel do preço em compradores
adolescentes; e Priilaid e Hall (2016) que fizeram uma correlação heurística de
qualidade de preço com taxas de consumo de produto.
As bases WOS e Scopus mostram que há clusters de estudos que perpassam
os aspectos apresentados nesse trabalho, contudo a compra por impulso (cluster azul)
não necessariamente tem relação com as variáveis neurocientíficas aqui citadas (mais
relacionadas ao cluster cinza), conforme Figura 19.
Figura 19 – Clusters de assuntos publicados em artigos nas bases WOS e Scopus
Fonte: Software R, 2018
Os estudos de Sharma, Sivakumaran e Marshall (2014a), por exemplo, que
compõem essas bases de dados, se aprofundaram em compreender aspectos da
63
compra por impulso de bens e serviços usando o risco percebido em uma construção
focal a partir de dois experimentos empíricos: o primeiro com a abordagem de pessoas
em um shopping e outro em laboratório, sendo que ambos apresentaram respostas
semelhantes como a maior prevalência de compra de produtos tangíveis, que
demonstrem a possibilidade de experienciar e de maior credibilidade. Os mesmos
autores estudaram, em outro artigo (2014b), a prevalência de falhas autorreguladoras
nas compras por impulso relacionados às dimensões cognitiva (imprudência), afetiva
(auto-indulgência) e comportamental (falta de autocontrole). Os aspectos
autorregulatórios também foram inspiração de estudo para Vohs e Faber (2007).
Já Beatty e Ferrell (1998) trabalharam com um modelo de precursores da compra
por impulso em um shopping regional, verificando variáveis situacionais (como tempo
e dinheiro disponíveis) e as diferenças individuais (como diversão e tendência de
compra por impulso) que influenciaram um conjunto de variáveis endógenas com
efeitos positivos e negativos relacionados à compra por impulso. Com isso, é possível
verificar que os estudos que relacionam as compras por impulso com o processo de
tomada de decisão não foram devidamente aprofundados, possuindo uma lacuna
entre as teorias e o uso de heurísticas como “gatilhos” mentais.
Portanto, foram desenvolvidas hipóteses que pudessem auxiliar na construção
e teste do modelo proposto. Partindo-se do pressuposto das teorias sobre o processo
de Tomada de Decisão Tradicionais, que sugerem a Compra por Impulso apenas
como uma simplificação de etapas e apontam o fator promocional como “gatilho”
situacional, surge a primeira hipótese levantada neste trabalho:
H1 - Os indivíduos, ao consumirem por impulso, levam em consideração a
informação sobre promoção, que acarreta o desejo em consumir.
Assim, um banner com a palavra promoção pode ser o “gatilho” situacional para
ativar a compra por impulso nesse caso, pois acredita-se que não apenas a situação,
mas aspectos anteriores fixados na memória e resgatados por meio de ativações
associativas no momento da compra influenciam o consumidor e transformam a
“queima de etapas” em etapas concretas na compra por impulso. Por isso, foi criada
uma proposta de modelo (disposta na Figura 20) que envolve aspectos e ferramentas
neurocientíficas e corroboram com as pesquisas já desenvolvidas na área quanto aos
aspectos afetivos, cognitivos e ambientais.
64
Figura 20 – Proposta de Modelo para compras por impulso
Fonte: Elaborado pela autora
Nesse modelo, para gerar uma compra por impulso, a ativação associativa (1)
ocorre a partir da visualização (2) de um item e deverá resgatar algum componente
afetivo, cognitivo e/ou que diga respeito à situação social ou cultural. Esse resgate
será feito a partir da memória (3), que fará combinações entre o que está sendo
visualizado e alguma informação que foi passada anteriormente por meio de estímulos
(heurísticas de disponibilidade, ancoragem/ajustamento e/ou representatividade)
considerados como “gatilhos” mentais (4) para posterior desejo em consumir e o ato
da compra em si. Esse processo deverá ocorrer no sistema automático do cérebro. A
partir disso foi criada a segunda hipótese:
H2 – Os indivíduos que recebem estímulos associados a questões afetivas,
cognitivas e/ou relacionadas ao ambiente social ou cultural fazem associações
a partir de informações disponíveis na memória, o que gera o consequente
desejo em consumir.
A hipótese H2 é subdividida para atender aos três aspectos relacionados às
heurísticas entre as quais o processo de tomada de decisão na compra por impulso
permite refletir mecanismos cerebrais associativos que, se trabalhados
65
estrategicamente, podem colaborar para o aumento desse modelo de compra.
Portanto, foram desenvolvidas 3 sub-hipóteses: H2a, H2b e H2c.
H2a - A utilização da heurística de disponibilidade da informação como estímulo
causa ativação associativa coerente, o que provoca o desejo em consumir.
Essa hipótese corresponde à utilização da heurística de disponibilidade da
informação, cuja função refere-se à recuperação da memória, de informações que já
foram disponibilizadas anteriormente para acesso. Cabe ressaltar que um evento que
chama mais a atenção das pessoas, considerando suas particularidades pessoais e
de preferência, é recuperado mais facilmente da memória (Kahnemann, 2012) e
exemplos pessoais, fotos ou exemplos vívidos também o são.
H2b – A utilização da heurística de ancoragem/ajustamento como estímulo
causa ativação associativa coerente, o que provoca o desejo em consumir.
A H2b diz respeito à ancoragem/ajustamento, ou seja, ao “ancorar” um evento,
dado ou informação de maneira correta na memória do consumidor, é possível ter
uma compra impulsiva e efetiva por parte dele. Se a ancoragem for o preço dos
produtos, a partir do momento em que esse consumidor tiver acesso aos preços
propostos no ato da compra, sua mente fará o ajuste e decidirá por comprar ou não.
H2c – A utilização da heurística de representatividade como estímulo causa
ativação associativa coerente, o que provoca o desejo em consumir.
Já a H2c está orientada à representatividade, em que uma pessoa famosa, por
exemplo, pode influenciar a tomada de decisão, anulando as demais heurísticas,
inclusive o aspecto situacional da promoção. Todas as hipóteses compreendidas na
H2 podem ter seus “gatilhos” disparados a partir de questões afetivas, cognitivas e
ambientais e/ou culturais. Assim, não é possível relacionar um desses aspectos
diretamente a uma heurística uma vez que essa resposta é singular em cada
indivíduo. Caso a ativação não tenha sido coerente, a memória não conseguirá fazer
rapidamente uma ativação associativa, tornando a compra automática incoerente.
Com o propósito de validar esse Modelo e testar as hipóteses, além da análise
de estudos anteriores, foi desenvolvida uma pesquisa quantitativa.
66
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para validar a proposta, o plano baseou-se na experimentação mediante
manipulação intencional dos dados com condições específicas, partindo-se de um
grupo de controle (Richardson, 2015). O experimento foi realizado por uma pesquisa
online realizada por meio do formulário Typeform de forma transversal, aplicada para
968 respondentes entre os dias 12 de dezembro de 2017 e 18 de janeiro de 2018. As
respondentes foram divididas entre grupo de controle e experimental (381
respondentes cada), eleitas aleatoriamente, apenas sob a condição de serem
respondentes exclusivamente do sexo feminino com idade a partir de 18 anos e
brasileiras.
A escolha desse formato se deu em virtude da conveniência em ter
respondentes pela Internet em função do tempo de coleta e de, atualmente, esse ser
um local de compra frequente e um contexto que vem se disseminando entre os
consumidores (Bebber, 2015). Anteriormente, foi realizado um pré-teste com 31
pessoas, quando foram identificados e corrigidos os erros. Nesse experimento, foram
consideradas algumas variáveis independentes (causas) sob correspondente controle
como forma de observar e interpretar as reações e alterações sucedidas no objeto de
pesquisa (efeito variável dependente).
Em relação às variáveis, considera-se, dentro do modelo proposto, o desejo
em consumir como variável dependente (VD) e as associações cognitivas, afetivas e
sociais/culturais como variáveis independentes (VI1, VI2, VI3 e VI4), conforme Figura
21:
67
Figura 21 – Relação entre variáveis dependentes, independentes e hipóteses.
Fonte: Elaborado pela autora
A Figura 21 também demonstra a relação entre as hipóteses e variáveis
independentes, sendo que H1 tem correspondência com VI1 e H2a, H2b e H2c têm
correspondência com VI2, VI3 e VI4. Para as análises, foram utilizados o Excel, SPSS,
e o Google Analytics, além dos resultados obtidos pelo próprio Typeform.
4.1 SELEÇÃO DOS PARTICIPANTES
O perfil do público participante foi compreendido de mulheres com idade a partir
de 18 anos, brasileiras e com acesso à Internet – seja por celular, computador ou
tablet. Elas foram selecionadas aleatoriamente, de forma que cada indivíduo na
população pudesse ter uma probabilidade igual de ser selecionado como
respondente. Essa distinção baseou-se no produto utilizado para a pesquisa – roupas
femininas – e, mesmo considerando que os modelos apresentados pudessem não
fazer parte da preferência das respondentes em todas as questões, elas puderam
escolher os modelos com base em utilização pessoal ou para presentear.
4.2 INSTRUMENTOS E MATERIAIS
Para o desenvolvimento da pesquisa quantitativa, foi utilizado o formulário
online Typeform por ser uma ferramenta intuitiva, engajadora, com layout que permite
a customização. Assim, foi possível ter uma proximidade com a realidade de
apresentação dos modelos para compra. Foram selecionados os modelos de roupas
68
por meio do Google Images, de forma que poderiam compor respostas aleatórias com
o cuidado de diminuir os “ruídos” e manter o maior controle possível em cada momento
de escolha. Para isso, nas mesmas telas, foram colocadas tonalidades próximas para
que esse não fosse um fator de escolha predominante.
Para as análises, foram utilizados o Google Analytics a fim de compreender a
região onde eram identificados os IPs dos aparelhos eletrônicos das respondentes,
entre computadores, tablets ou celulares. A própria ferramenta Typeform possibilitou
compreender os resultados relacionados à idade e classe social por meio de gráficos
simples e diretos e os softwares Excel e SPSS foram utilizados para verificar a
correlação entre variáveis pré-estabelecidas.
4.3 PROCEDIMENTO DO TESTE
Inicialmente, as respondentes eram convidadas a responder um questionário
online sobre compras de roupas femininas por meio do computador, tablet ou celular
com a indicação de que, para completa-lo, seriam necessários, em média, seis
minutos. Ao clicar no link, a pessoa era redirecionada para um site com a seguinte
informação: “Essa é uma pesquisa acadêmica sobre compra de roupas femininas feita
exclusivamente com mulheres com idade a partir de 18 anos. Sua participação é muito
importante! É fundamental que você siga todos os passos indicados durante o
questionário (escolha de produtos, leitura da matéria apresentada, etc). Leia o Termo
de Consentimento e, caso esteja de acordo, clique em concordo para continuar
respondendo a pesquisa”.
Ao clicar em começar, a respondente era direcionada ao termo de
consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A) e, se concordasse, poderia continuar
respondendo ao questionário. Caso contrário, o próprio software a direcionava para
uma tela em agradecimento à participação.
Para o grupo de controle, foram utilizadas inicialmente oito telas, cada uma com
opções de modelos entre Vestidos, Conjuntos e Macaquinhos para que as
respondentes pudessem eleger apenas um para uso próprio ou para presentear.
Como havia uma das telas com uma mulher negra, posteriormente, ela foi retirada das
análises por compreender que esse fator poderia influenciar a escolha das
respondentes. A Figura 22 representa um modelo de imagem apresentado às
respondentes do grupo de controle.
69
Figura 22 – Representação de imagem no Grupo de Controle
Fonte: Questionário elaborado pela autora
Já a Figura 23, representa uma imagem com a modelo Gisele Bündchen para
o grupo de controle.
Figura 23 – Representação de imagem no Grupo de Controle com a modelo Gisele Bündchen
Fonte: Questionário elaborado pela autora
Para o grupo experimental, inicialmente foram apresentadas duas telas com
informações sobre tendências no uso de macaquinhos, com diversos modelos e
exemplos de como utilizá-los. Esse estímulo serviu para disponibilizar uma informação
que pudesse ficar mais clara e ser acessada pela memória posteriormente,
influenciando suas escolhas (Estímulo 1 - VI2 – hipótese H2a).
As próximas telas eram compostas por modelos similares ao grupo de controle,
nas quais as pessoas podiam escolher entre macaquinhos, conjuntos ou vestidos,
conforme exemplo da Figura 24. Em duas dessas telas também foi adicionado o
segundo estímulo (VI4 – H2c), referente à representatividade, para compreender se a
imagem da modelo Gisele Bündchen tinha maior ou menor significância com relação
70
à escolha de outros modelos na tela (exemplo na Figura 25). A representatividade
também foi correlacionada em telas posteriores.
Figura 24 – Tela Disponibilidade – Grupo Experimental
Fonte: Questionário elaborado pela autora
Figura 25 – Tela Disponibilidade / Representatividade – Grupo Experimental
Fonte: Questionário elaborado pela autora
O terceiro estímulo foi testado adicionando valores às peças com o intuito de
ancorar/ajustar os valores na mente das respondentes, conforme exemplo da Figura
26 (VI3 – H2b).
71
Figura 26 – Tela Ancoragem – Grupo Experimental
Fonte: Questionário elaborado pela autora
A partir dessas telas, foi testado o ajustamento em outras quatro telas,
conforme o exemplo da Figura 27. O intuito era entender se as respondentes tinham
feito o ajuste de preço a partir do que foi disponibilizado anteriormente.
Figura 27 – Tela para compreensão da Ancoragem – Grupo Experimental
Fonte: Questionário elaborado pela autora
As últimas quatro telas referiam-se à promoção, aspecto considerado pelos
autores das teorias do processo de Tomada de Decisão como ponto crucial na
Compra por Impulso. O objetivo foi compreender se esse fator realmente era relevante
e compará-lo, além do grupo de controle, com a heurística de representatividade e a
impulsividade nas compras (exemplo de imagem apresentada na Figura 28). Esse
aspecto também foi testado para comprovar a Hipótese 1, considerando a VI1.
72
Figura 28 – Tela Promoção – Grupo Experimental
Fonte: Questionário elaborado pela autora
Em continuidade ao questionário, as respondentes precisavam classificar em
uma escala de 0 à 10 (considerando 0 – não influencia e 10 – influencia muito), o
quanto uma pessoa famosa influencia sua decisão, o quanto a palavra promoção
influencia sua compra e o quanto se considera impulsiva nas compras. Além disso,
para verificar se realmente tinham lido a matéria sobre macaquinhos ou se, ao menos,
a informação tinha sido gravada na memória, as respondentes foram questionadas
sobre o assunto da matéria, tendo outras opções como resposta além dos
macaquinhos. Elas também foram questionadas sobre gostar ou não de macaquinhos,
idade e renda familiar.
Ao enviar o questionário, aparecia uma tela de agradecimento e a solicitação
de compartilhamento do link para conhecidas que pudessem participar.
4.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE
No período de 12 de dezembro de 2017 à 18 de janeiro de 2018, 911 mulheres,
brasileiras com idade a partir de 18 anos responderam à pesquisa online sobre roupas
femininas, sendo esse grupo, dividido entre grupo de controle e grupo experimental.
As respondentes correspondem a 25 estados brasileiros com maior ênfase em São
Paulo (72,30%), seguido do Estado do Rio de Janeiro (5,73%), Minas Gerais (5,46%)
e Rio Grande do Sul (4,13%). A Figura 29 demonstra os estados brasileiros e,
sequencialmente, as cidades de onde os IPs dos equipamentos eletrônicos estavam
localizados. Brasileiras residentes em outros países como Estados Unidos, Espanha,
Portugal e Canadá, entre outros, também responderam à pesquisa.
73
Figura 29 – Regiões brasileiras com respondentes
Fonte: Questionário elaborado pela autora utilizando o software Google Analytics
Entre as respondentes, 24% possuem faixa etária entre 18 e 22 anos, 25%
entre 23 e 28 anos, 18% entre 29 e 34 anos de idade, 13% entre 35 e 40, 10% entre
41 e 46 e 9% disseram ter 47 anos ou mais. No que diz respeito à renda familiar,
partindo-se do pressuposto do Critério IBGE para definição de faixas salariais versus
classe social, 9% são de classe A, 18% classe B, 30% classe C, 27% classe D e 16%
são da classe E.
Para as análises com os softwares Excel e SPSS foram considerados como
outliers5 as pessoas que não responderam macaquinho entre as opções que lhe foram
sugeridas ao serem questionadas sobre qual era a matéria disponibilizada no início
da pesquisa. Entendeu-se que, se ela não se lembrava, possivelmente não teria se
dedicado corretamente às informações, o que poderia aumentar a margem de erro da
pesquisa. O fator tempo também foi considerado como outlier, uma vez que o tempo
médio de resposta foi de 05:22 minutos e, algumas pessoas levaram entre 30 minutos
e 1hora e 30 minutos. Por isso, respondentes com tempo acima de 10 minutos foram
retiradas por entender que, provavelmente o aparelho eletrônico tinha ficado parado
para posterior resposta, o que também poderia influenciar nos resultados da pesquisa,
5 Outliers são valores atípicos ou inconsistentes.
74
já que o tempo foi correlacionado com outras variáveis em função do impulso nas
compras.
Inicialmente o IP do aparelho eletrônico seria considerado outlier caso fosse
duplicado no grupo experimental. Contudo, foram encontrados diversos IPs iguais
com respostas muito heterogêneas e, nesses casos, acreditou-se que mulheres que
trabalham nas mesmas empresas poderiam ter respondido a partir de um IP único.
Portanto, esses dados não foram considerados como outliers nesse grupo. Porém,
comparou-se os IPs do grupo experimental com o grupo de controle e, como foram
encontrados 13 IPs iguais, optou-se por retirá-los do grupo de controle para garantir
que as pessoas desse grupo fossem, realmente, distintas do grupo experimental. A
partir da retirada dos outliers, as respostas de 381 respondentes em cada grupo foram
consideradas válidas para as correlações.
A validade do estudo foi considerada a partir de inferências significativas com
relação ao conteúdo, uma vez que os itens foram alocados de forma a tentar medir as
disposições propostas no modelo, à fatores preditivos, sendo que os resultados se
relacionam com outros resultados analisados a partir dos artigos publicados nas bases
Emerald e Scielo e, por constructo, partindo-se do pressuposto de que as medidas
hipotéticas tinham possibilidade de serem medidas a partir desse questionário. Em
relação à confiabilidade, percebeu-se que as respostas foram consistentes por meio
dos constructos realizados pelo Teste - T e, como foi desenvolvido um pré-teste, de
outra pesquisa com menor número de telas aplicadas a 90 respondentes para
compreender se o formulário Typeform realmente era confiável. Pode-se comprovar
que a as respostas são estáveis e lineares em novas aplicações.
Pela disposição dos dados, foram utilizados os testes Qui-quadrado como
forma de avaliar quantitativamente a correlação entre os grupos de controle e
experimental, bem como a validação de alguns estímulos dentro do próprio grupo
experimental e, para verificar a relação entre as respostas declaradas com as
preferências reveladas, foi utilizada a Análise de Variância Unidirecional (ANOVA).
Outro aspecto que precisa ser considerado nas análises é que, inicialmente, a ordem
entre as apresentações dos modelos foi aleatória com o objetivo de diminuir o efeito
aprendizagem, além de tentar se aproximar da realidade de uma venda de roupas
femininas online e, para as análises, as ordens de algumas peças foram trocadas para
que os conjuntos sempre fossem relacionados a letra A, os vestidos à B e os
75
macaquinhos à C. Dessa forma, foi possível observar se as respondentes tinham
alguma tendência específica em algum modelo.
Para facilitar a aplicação nos softwares Excel e SPSS, também foram rotulados
os dados, conforme Tabela 7:
Tabela 7 – Rótulos aplicados aos dados da pesquisa para análises
Grupo de controle
CON1
CON2
CON3
CON4
CON5
CON6
CON7
CON8
Estímulo relacionado à Disponibilidade
CDGCQ1 CDGCQ2 CDGCQ3 CDGCQ4
Dados de ancoragem
DAQ1 DAQ2 DAQ3
Estímulo relacionado à Ancoragem
CDAGP1 CDAGP2 CDAGP3 CDAGP4
Estímulo relacionado à promoção
CGCQ1 CGCQ2 CGCQ3 CGCQ4
Telas com Representatividade
CGCQ4
DAQ2
DAQ1
CDGCQ4
CDGCQ1
GCQ1
Influência de pessoa famosa FAMI
Influência da palavra promoção PROI
Impulsividade nas compras IMPS
Renda familiar RENDA
Tempo de resposta TT Fonte: Elaborado pela autora
Para a H1 desse trabalho, segundo a qual acreditava-se que os indivíduos
consomem por impulso apenas pela situação (a partir de um banner visual de
76
promoção, por exemplo), não levando em consideração a ativação de aspectos
emocionais, cognitivos, sociais ou culturais que são acionados pela memória, foi
colocado um banner com a palavra Promoção e o valor mais baixo no grupo
experimental. Analisando, inicialmente, a resposta declarada à pergunta em que as
respondentes indicavam se a palavra promoção influenciava a compra percebeu-se
que 86% (entre 5 – 10, na escala) assumiram que há influência da palavra em suas
compras, conforme Figura 30:
Figura 30 – Frequência de respostas declaradas sobre a influência da promoção nas compras
Fonte: Elaborado pela autora
Contudo, não foram encontradas relações de significância com p-valor < 0,05
em todas as correlações entre o grupo de controle e experimental, conforme Figura
31. Esse resultado demonstra que a hipótese H1 foi rejeitada e o banner promoção
não influenciou a escolha das respondentes.
77
Figura 31 – Teste da H0
Fonte: Elaborado pela autora
Como a segunda hipótese desse trabalho foi subdividida, as análises foram
realizadas, inicialmente, com suas subdivisões. A H2a tratava da utilização da
heurística de disponibilidade da informação como estímulo, apontando uma
consequente ativação associativa coerente, que provoca o desejo em consumir.
Nesse teste, foi possível verificar se, a partir do acesso às informações sobre
tendência de moda, salientando o uso de macaquinhos, as respondentes mudariam
suas opiniões e passariam a escolher mais macaquinhos em detrimento aos demais
modelos.
Apesar de, na segunda tela, parte das respondentes terem optado pelo
macaquinho com significância de p-valor < 0,05, apenas essa tela não proporciona
base para manter a hipótese, uma vez que as demais não tiveram relação de
significância com p-valor > 0,05. Sendo assim, a hipótese H2a foi rejeitada e a
heurística de disponibilidade não pode ser considerada como estímulo que gera
ativação associativa coerente (como mostrado na Figura 32).
78
Figura 32 – Teste da H1a
Fonte: Elaborado pela autora
Com relação à H2b, segundo a qual acredita-se que a utilização da heurística
de ancoragem/ajustamento como estímulo causa ativação associativa coerente, o que
provoca o desejo em consumir, foram testados os valores que elas atribuiriam a
algumas peças após terem visualizado diversos modelos com valores específicos. Os
testes demonstraram que essa heurística também não pode ser aceita, rejeitando a
hipótese H2b. A comparação com as escolhas dos modelos entre as telas de
ancoragem/ajustamento apenas demonstra que, independentemente do modelo
escolhido, a maior parte das respostas quanto aos valores não corresponde aos
valores propostos na ancoragem. A Figura 33 aponta que os valores indicados pelas
respondentes estão, em sua maioria, abaixo de R$ 200,00, o que confirma que há
linearidade nas respostas e o valor apresentado anteriormente, que variava entre
R$ 249,00 e R$ 299,00, não foi ancorado.
79
Figura 33 – Quanto a respondente atribuiria aos modelos apresentados
Fonte: Elaborado pela autora
Cabe salientar, inclusive, que o modelo apresentado na Ancoragem 2 era
vestido pela modelo Gisele Bündchen e esse fator poderia influenciar na escolha do
valor. Contudo, as respostas demonstram que não houve influência. Diante dessas
respostas, cogitou-se que a renda familiar das respondentes poderia influenciar suas
respostas quanto ao preço atribuído às peças. A Figura 34 demonstra a distribuição
dos respondentes com relação às classes sociais, a partir da definição do IBGE.
Figura 34 – Classe social das respondentes
Fonte: Elaborado pela autora
80
As análises indicam significância com p-valor < 0,05 em todos os casos. As
classes sociais A e B são as que atribuem valores mais altos às peças e as classes
C, D e E, os mais baixos (vide Figura 35). Esse é um aspecto importante, pois há
possibilidade de a ancoragem não ter sido efetiva, considerando que a renda familiar
é mais forte no momento da atribuição de preços.
Figura 35 – Classe social versus Atribuição de preços.
Fonte: Elaborado pela autora
Quanto à faixa etária, há significância com p-valor < 0,05 em apenas duas telas,
o que demonstra que esse aspecto não deve ser levado em consideração.
Já com relação à H2c, que considerava a utilização da heurística de
representatividade como estímulo para ativação associativa coerente, o que provoca
o desejo em consumir, foram comparadas, inicialmente, as cinco telas nas quais a
modelo Gisele Bündchen aparecia com as mesmas telas do grupo de controle. Os
testes demonstraram que há significância com p-valor 0,00, ou seja, < 0,05,
demonstrando que há linearidade nas respostas entre os dois grupos. Contudo, ao
comparar exclusivamente as telas, considerando apenas a frequência de escolhas
para verificar se a representatividade era significativa, percebe-se que, em todos os
casos, o look usado pela modelo não foi a preferência das respondentes. A Tabela 8
demonstra a preferência, sendo que as células coloridas em amarelo, correspondem
aos looks vestidos pela modelo.
81
Tabela 8 – Preferência das respondentes entre os modelos
Fonte: Elaborado pela autora
Para validar essa heurística, também foi feita a comparação das escolhas com
a resposta declarada (representada na Figura 36) das respondentes sobre a influência
de uma pessoa famosa na decisão de compra.
Figura 36 – Resposta declarada sobre a influência de uma pessoa famosa na decisão de compra
Fonte: Elaborado pela autora
Percebe-se que a maior parte das respondentes afirma não sofrer influência de
uma pessoa famosa, somando 60% das respostas entre 0 e 4 na escala de 0 à 10.
Esse aspecto se confirma nas escolhas das respondentes entre os modelos nas telas
em que Gisele Bündchen aparece, o que demonstra que a preferência declarada é
similar à preferência revelada. Na análise de Variância Unidirecional – ANOVA, há
significância em apenas uma tela (colorido em amarelo), conforme Figura 37.
CDGCQ1 CDGCQ4 DAQ1 DAQ2 CGCQ4
176 176 74 41 209
130 78 118 202 60
75 127 189 138 112
82
Figura 37 – Teste ANOVA para a Hipótese H1c
Fonte: Elaborado pela autora
Esse resultado rejeita a hipótese H2c, uma vez que p-valor > 0,05 entre quatro
dos cinco casos. Na comparação direta com o grupo de controle também não há
significância, com p-valor > 0,05, com exceção de uma das telas em que as respostas
foram mais homogêneas entre dois modelos, mas que não reflete uma significância
desejável para a hipótese.
Assim, a H2, que parte do pressuposto de que os indivíduos que recebem
estímulos associados à questões afetivas, cognitivas e/ou relacionadas ao ambiente
social ou cultural fazem associações a partir de informações disponíveis na memória,
e o consequente apresentam desejo em consumir, foi rejeitada em sua integralidade.
Foi verificada também a relação do tempo de resposta com a declaração de
impulsividade nas compras e os dados demonstram que parte das pessoas que se
declararam impulsivas, apontando acima de 5 em uma escala de 0 à 10, responderam
relativamente mais rápido o questionário. Por esse motivo, foram selecionados
apenas esses respondentes, que totalizaram 119 mulheres, para novas análises,
contudo, todas as hipóteses foram, mais uma vez, rejeitadas. A única diferença
percebida foi que a preferência das mulheres no grupo experimental foi relativamente
83
maior para os macaquinhos, mas não demonstra significância com o grupo de
controle.
Por fim, foi realizado um Teste T para verificar a linearidade das respostas e
verificou-se que há linearidade com p-valor < 0,05 e 95% de confiança no grupo
experimental, conforme Tabela 9.
Tabela 9 – Teste ANOVA para a Hipótese H1c
Fonte: Elaborado pela autora
Os dados apresentados, portanto, sugerem que as hipóteses devem ser
rejeitadas em relação ao modelo proposto em uma compra online.
Inferior Superior
DISPONIB1 57,564 380 0,000 2,26772 2,1903 2,3452
DISPONIB2 63,829 380 0,000 2,30184 2,2309 2,3727
DISPONIB3 70,961 380 0,000 2,12598 2,0671 2,1849
DISPONIB4 57,043 380 0,000 2,26247 2,1845 2,3405
DA1 58,256 380 0,000 2,30709 2,2292 2,3850
DA2 69,061 380 0,000 2,25459 2,1904 2,3188
DA3 62,806 380 0,000 2,27559 2,2043 2,3468
ANCORAGEM1 52,984 380 0,000 1,51969 1,4633 1,5761
ANCORAGEM2 48,451 380 0,000 1,85302 1,7778 1,9282
ANCORAGEM3 51,943 380 0,000 1,70866 1,6440 1,7733
ANCORAGEM4 48,591 380 0,000 1,49606 1,4355 1,5566
Promoção1 64,931 380 0,000 2,12073 2,0565 2,1850
Promoção2 72,319 380 0,000 2,20997 2,1499 2,2701
Promoção3 69,803 380 0,000 2,40420 2,3365 2,4719
Promoção4 63,047 380 0,000 2,39633 2,3216 2,4711
Teste de uma amostra
Valor de Teste = 0
t df
Sig. (2
extremidad
es)
Diferença
média
95% Intervalo de
Confiança da
Diferença
84
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender o papel do consumidor e sua atuação no Processo de Tomada
de Decisão de Compra é desafiador na medida em que o avanço da tecnologia
modifica tanto equipamentos quanto o próprio ato de compra. Mais desafiador ele se
torna uma vez que os Modelos de Tomada de Decisão de Compra tradicionais foram
amplamente estudados e testados posteriormente por diversos estudiosos com
sucesso. Por esse motivo, optou-se por um recorte de estudo ao encontrar a lacuna
referente à compra por impulso, que tinha sido trabalhada pelos autores de Tomada
de Decisão apenas como um processo simplificado de etapas e testado por alguns
estudiosos com referência a algumas heurísticas de forma individualizada.
Considerando esta proposta com a possibilidade em desenvolver e utilizar
ferramentas neurocientíficas como adição à proposta de um modelo de tomada de
decisão na compra por impulso, acredita-se que os objetivos desta tese foram
cumpridos.
Inicialmente, foram analisados os estudos desenvolvidos com o tema compras
por impulso, verificando que esses estudos restringem-se às mesmas teorias de que
a situação ambiental, afetiva e cognitiva responsabiliza-se pelo impulso, além de
verificar sua aplicabilidade em estudos científicos de periódicos renomados. Verificou-
se que não há modelos estratégicos que impulsionem ou analisem os “gatilhos” para
que sejam utilizados de forma coerente, como forma de obter um resultado mais
satisfatório.
Quanto às ferramentas neurocientíficas que podem ser utilizadas como
“gatilhos” em compras por impulso, foi feita uma análise e, após estudos durante a
pesquisa exploratória, identificou-se principalmente três componentes: Ativação
Associativa, Sistemas Automático e Deliberativo e Marcadores Somáticos, contudo
esse último não tinha como propósito ser testado neste modelo.
Portanto, acredita-se que os objetivos deste trabalho foram cumpridos, pois
apresentou os modelos de Processo de Tomada de Decisão de Compra existentes,
bem como verificou as publicações sobre Compras por Impulso; analisou a efetividade
das heurísticas de disponibilidade, ajustamento/ancoragem e representatividade
como estímulos para mudança de comportamento entre os indivíduos testados; e
apresentou um Modelo de Processo de Decisão na Compra por Impulso, utilizando
ferramentas neurocientíficas em sua composição, uma vez que essa composição
85
contemplou os estímulos afetivos, cognitivos, sociais e culturais, a ativação
associativa a partir de “gatilhos” mentais – as heurísticas de disponibilidade,
ancoragem e representatividade –, associados à memória, que foram testados por
meio de um experimento.
Com relação às hipóteses, todas foram rejeitadas após análises dos testes
realizados com os softwares Excel e SPSS e nos testes Qui-Quadrado e ANOVA, ou
seja, considerando o processo de compra online, a compra por impulso não foi
confirmada, seja pelas heurísticas de disponibilidade, ancoragem, representatividade
e, inclusive, quanto ao fator promoção, defendido pela teoria tradicional, o que coloca
em dúvida o fator situacional apresentado por outros teóricos. Cabe apenas uma
ressalva quanto à heurística de ancoragem, fator no qual o aspecto renda familiar
influenciou de forma significativa as atribuições de preços das respondentes,
demonstrando que esse aspecto pode prevalecer aos demais estímulos.
O Modelo proposto, portanto, não se confirma. Esse fator pode ser decorrente
da estrutura do experimento ou de medidas que podem não estar adequadas ao
modelo. Sugere-se, deste modo, que estrutura, medidas e modelo sejam repensados
e que novos estudos sejam feitos em laboratório para compreender o funcionamento
cerebral. Ademais, não foram utilizados equipamentos como Eletroencefalograma
(EEG) ou Frequência Cardíaca e Resposta Galvânica da Pele que também poderiam
apontar resultados significativos para esse indicador.
Uma inferência, a priori, que se pode apresentar (mas que carece de estudos
confirmatórios), a partir dos estudos sobre o Processo de Tomada de Decisão de
Compra Tradicionais, é que, se as hipóteses H1 e H2 não foram confirmadas, o
cérebro possivelmente seguiu o caminho do Sistema 2 – Deliberativo, passando a
avaliar as alternativas, o que, por si só, já não corresponde à Compra por Impulso.
Outra inferência refere-se à teoria apresentada por Mowen e Minor (2003) com relação
ao baixo envolvimento com a pesquisa proposta por parte das respondentes que, em
muitas situações, apenas respondem sem considerar a seriedade de um estudo
científico, bem como o uso da tecnologia inadequada (respostas pelo celular), uma
vez que a visualização dos estímulos pode ter sido prejudicada pelo tamanho exposto
na tela do celular. Outro componente que pode ter influenciado as respondentes diz
respeito ao que Blackwell et al. (2013) chamaram de compras com menor grau de
complexidade, uma vez que o questionário não resultaria em uma compra efetiva.
86
Além disso, o Modelo foi testado em uma pesquisa quantitativa, realizada
online, o que sugere que a possibilidade de a compra por impulso no Ponto de Venda
apresentar significância.
Por outro lado, esse estudo se torna relevante pela singularidade, ousadia e
originalidade do modelo proposto que visa trabalhar aspectos intangíveis cerebrais
que, em alguns processos, apenas podem ser medidos por aparelhos específicos no
ato da compra. Ele é importante para a ciência como pioneiro no âmbito da utilização
da somatória: “gatilhos mentais” + Ativação associativa + consideração dos sistemas
1 e 2 cerebrais, caminho que ainda não tinha sido explorado no Processo de Tomada
de Decisão de Compra, com a lacuna Compra por Impulso. É também importante para
as empresas, que podem usufruir de seus resultados para rever suas estratégias nos
pontos de venda, vendas online e em acessos anteriores aos consumidores. Por fim,
é importante para a sociedade que pode ter maior consciência de suas reações a partir
das estratégias de marketing na hora da compra.
Com relação às limitações, percebeu-se que, na validade interna, pôde haver
a testagem por parte das entrevistadas, em que há possibilidade de as respondentes
se familiarizarem com a medida de resultado e se lembrarem das respostas anteriores,
mesmo tendo-se o cuidado com o fator aprendizagem no desenvolvimento do
questionário. E, em se tratando da validade externa, entende-se como limitação o
instrumento tecnológico utilizado pelas respondentes – celular, computador ou tablet
– para responderem a pesquisa, que impossibilitou verificar com exatidão os aspectos
afetivos, cognitivos e relacionados ao ambiente social e cultural, bem como avaliar o
tempo de resposta para uma análise precisa da compra por impulso, pois cada
operadora e plano proporciona uma velocidade específica de internet.
Em relação à confiabilidade dos dados, considerou-se também a falta de
atenção, interesse e possível pré-disposição para adivinhação das respostas.
Ter acesso às ferramentas utilizadas em laboratórios neurocientíficos como
forma apenas de ciência não tornou-se viável, uma vez que esses laboratórios utilizam
seus espaços com estudos direcionados às empresas contratantes de seus trabalhos.
Nesse sentido, entre as limitações desse trabalho, estão a impossibilidade de
testagem com estrutura e medidas diferentes e a maior limitação considerada refere-
se à não aplicação do modelo com a utilização de uma ferramenta que pudessem
verificar os componentes de um cérebro vivo no ato da escolha.
87
A neurociência foi fundamental para a compreensão de que a ciência que
estuda os processos de tomada de decisão está longe de ser totalmente dissecada.
Há diversos campos de estudos e aplicações. Muitas ferramentas, mecanismos e
componentes neurocientíficos serão identificados no futuro. A última década foi
responsável por levantar estudos que os cem anos anteriores não conseguiram. Como
Popper (1980, p. 5) afirma, “está longe de ser óbvio que estejamos justificados ao
inferir enunciados universais a partir dos singulares, por mais elevado que seja o
número destes últimos; pois qualquer conclusão obtida desta maneira pode sempre
acabar sendo falsa”. Por esse motivo, sugere-se que esse estudo seja aprimorado,
aplicando-o com a utilização de ferramentas como o EEG, Ressonância Magnética ou
Realidade Virtual e que seja adicionado ao Modelo o Marcador somático, elemento
que poderá ser observado com esses recursos. Além disso, como o questionário foi
aplicado online, sugere-se que o mesmo questionário seja aplicado em laboratório,
com os equipamentos neurocientíficos ou que sejam utilizados os equipamentos em
separado, em um retail lab, por exemplo.
88
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APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidada a participar de um estudo denominado PROCESSO DE
TOMADA DE DECISÃO DE COMPRA: Proposta de Modelo para a Compra por
Impulso, cujos objetivos são: compreender os modelos de Processo de Tomada de
Decisão de Compra existentes; testar um modelo de Tomada de Decisão para a
Compra por Impulso a partir de técnicas neurocientíficas; e analisar a efetividade das
ferramentas neurocientíficas propostas no Modelo a partir das respostas voluntárias e
involuntárias. Esse experimento faz parte de um estudo acadêmico correspondente à
tese de Doutorado e visa observar as respostas comportamentais dos participantes
de forma não invasiva. Sua participação no referido estudo será no sentido de
responder ao questionário online proposto de forma sincera, uma vez que não haverá
riscos nem benefícios físicos ou psicológicos. Além disso, sua participação contribuirá
para o avanço da ciência no que diz respeito aos estudos neurocientíficos aplicados
ao processo de Tomada de Decisão de Compra. Sua privacidade será respeitada, ou
seja, seu nome ou qualquer outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, te
identificar, será mantido em sigilo. Você também pode se recusar a participar do
estudo clicando em não concordo sem precisar se justificar. Os pesquisadores
envolvidos com o referido projeto são a Mestre Erika Camila Buzo Martins e o Doutor
Francisco Antônio Serralvo e, com eles, você poderá manter contato pelo telefone (11)
9 8215-6020. É assegurado o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos
adicionais sobre o estudo e suas consequências, ou seja, tudo o que você queira
saber antes, durante e depois de sua participação.
Enfim, tendo sido orientada quanto ao teor de todo o aqui mencionado e compreendido
a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre consentimento em
participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico, a
receber ou a pagar, por minha participação. No entanto, caso ocorra algum dano
decorrente da minha participação no estudo, serei devidamente indenizado, conforme
determina a lei. Em caso de reclamação ou qualquer tipo de denúncia sobre este
estudo devo ligar para o CEP PUCSP (11) 3670-8466 ou mandar um e-mail para