POR BAIXO DOS CHAPÉUS: um estudo atemporal sobre a mentalidade e transformações sociais

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1 POR BAIXO DOS CHAPÉUS: um estudo atemporal sobre a mentalidade e transformações sociais UNDER THE HATS: an atemporal study about social mentality and transformations Beatriz Saturnino de Assis Antonioli; Jennyfer Santana Fiorilo; Luana Wouters Fernandes Monteiro; Nadine de Oliveira Campos; Rafaela Marques Soares; Thaís Marafon Dutra; Vinícius Prado Lima 1 Orientadora Me. Mariana Rachel Roncoletta Resumo Este artigo aborda alguns conceitos que relacionam design com história da moda no século XVIII. É mantido um percurso linear e cronológico de ideias, apresentando um estudo social sobre os chapéus utilizados para entender a mentalidade francesa na época. Esta pesquisa é a referência para o conceito de criação e desenvolvimento de uma peça em Design de Moda ao público alvo relacionado, de modo a relatar os caminhos percorridos para as decisões tomadas dentro do processo e assim adentrar o leitor aos propósitos do trabalho no desenvolvimento de um casaco tingido com degradê, de acordo com o conceito mude seu chapéu. Palavras Chave: Design de Moda; História da Moda; Século XVIII; Chapéus; Mente Abstract This article considers some concepts that relate design with history of fashion in the 18th century. It is maintained a chronologic and lineal journey of ideas, presenting a social study about the hats utilized for understand the French mentality in the epoch. This research is the reference for the creation’s concept and development of a piece in Fashion Design to the target public related, of way it relate the roads traversed for the decisions taken inside the trial and then to enter the reader in the purposes of the work in the development of a coat dyed with gradient, according to the concept change your hat. Keywords: Fashion Design; Fashion’s History; 18th Century; Hats; Mind 1 Alunos do segundo semestre do curso de graduação Design de Moda, da Universidade Anhembi Morumbi. Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected].

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Este artigo aborda alguns conceitos que relacionam design com história da moda no século XVIII. É mantido um percurso linear e cronológico de ideias, apresentando um estudo social sobre os chapéus utilizados para entender a mentalidade francesa na época. Esta pesquisa é a referência para o conceito de criação e desenvolvimento de uma peça em Design de Moda ao público alvo relacionado, de modo a relatar os caminhos percorridos para as decisões tomadas dentro do processo e assim adentrar o leitor aos propósitos do trabalho no desenvolvimento de um casaco tingido com degradê, de acordo com o conceito mude seu chapéu.A pesquisa tem a intenção de implicar questionamentos, principalmente sociais, ao leitor, tornando o que seriam talhadas como “considerações finais” apenas o início da transformação.

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POR BAIXO DOS CHAPÉUS: um estudo atemporal sobre a mentalidade e transformações sociais

UNDER THE HATS: an atemporal study about social mentality and transformations

Beatriz Saturnino de Assis Antonioli; Jennyfer Santana Fiorilo; Luana Wouters Fernandes Monteiro; Nadine de Oliveira Campos; Rafaela Marques Soares; Thaís

Marafon Dutra; Vinícius Prado Lima 1 Orientadora Me. Mariana Rachel Roncoletta

Resumo

Este artigo aborda alguns conceitos que relacionam design com história

da moda no século XVIII. É mantido um percurso linear e cronológico de ideias,

apresentando um estudo social sobre os chapéus utilizados para entender a

mentalidade francesa na época. Esta pesquisa é a referência para o conceito

de criação e desenvolvimento de uma peça em Design de Moda ao público

alvo relacionado, de modo a relatar os caminhos percorridos para as decisões

tomadas dentro do processo e assim adentrar o leitor aos propósitos do

trabalho no desenvolvimento de um casaco tingido com degradê, de acordo

com o conceito mude seu chapéu.

Palavras Chave: Design de Moda; História da Moda; Século XVIII; Chapéus; Mente

Abstract

This article considers some concepts that relate design with history of

fashion in the 18th century. It is maintained a chronologic and lineal journey of

ideas, presenting a social study about the hats utilized for understand the

French mentality in the epoch. This research is the reference for the creation’s

concept and development of a piece in Fashion Design to the target public

related, of way it relate the roads traversed for the decisions taken inside the

trial and then to enter the reader in the purposes of the work in the development

of a coat dyed with gradient, according to the concept change your hat.

Keywords: Fashion Design; Fashion’s History; 18th Century; Hats; Mind

1 Alunos do segundo semestre do curso de graduação Design de Moda, da Universidade Anhembi Morumbi. Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected].

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1 Introdução

O artigo aborda os temas design e história da moda, para situar o leitor

no período escolhido como subtema: o século XVIII. Através do estudo sobre a

época, a pesquisa aprofunda-se nos chapéus como parte do objeto de estudo,

abordado tanto no sentido denotativo quanto conotativo (alienação e

comodismo, assunto pelo qual é criado o conceito de criação). O conceito

mude seu chapéu explora um caminho de exemplificar uma maneira de

pensar, comumente encontrada no século XVIII até o período atual, e, a partir

de então, propõe a mudança de comportamento e libertação – atendendo a

todas as fases do processo. A pesquisa tem a intenção de implicar

questionamentos, principalmente sociais, ao leitor, tornando o que seriam

talhadas como “considerações finais” apenas o início da transformação.

2 Design e História da Moda

O termo “design” provém de designar, abrangendo dentre seus possíveis

significados remeter, indicar, representar, marcar, dispor, regular. É uma

combinação de arte e tecnologia, estabelecendo uma ligação entre as áreas

subjetivas da arte e as objetivas da ciência. Design é, basicamente, projetar um

artefato antes de fazê-lo, levando em consideração não só a estética e o estilo,

mas também sua funcionalidade; é o planejamento para a materialização de

uma ideia, ligado diretamente à cultura, segmenta Coelho (2008).

Sobre o estilo desse tipo de produção, dois elementos podem caracterizá-

lo: escolha e afastamento da norma. O prazer, então, se torna critério legítimo

de avaliação das experiências humanas. O designer precisa atender ao desejo

do público alvo e, para isso, antes de pensar no produto, necessita conhecer o

cliente a fim de gerar um artefato que se inserira em seu cotidiano, sendo-lhe

um facilitador. Dessa forma, o objeto deixa de ser visto como item de produção

do designer para tornar-se um objeto de utilização do usuário, elucida Coelho

(2008).

“Design é a visualização criativa e sistemática dos processos de interação e das mensagens de diferentes atores sociais; é a visualização criativa e sistemática das diferentes funções de objetos de uso e sua adequação às necessidades dos usuários ou aos efeitos sobre os receptores” (SCHENEIDER, 2010, pág. 197)

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Trajes e indumentárias existem desde os tempos da pré história (ou seja,

anteriores até à escrita), com o objetivo de proteção e pudor. Porém, foi no final

da Idade Média e início da Renascença que a moda começou a despontar

como fenômeno social, prossegue Pollini (2009).

Figura 1: A História da Moda (fonte: blog Carte Blanche, disponível em <http://marie-leigh.com/wp-

content/uploads/2011/04/FashionSilhouette.jpg>, acessado no dia 14/06/2012)

As mudanças na moda são consequências sociais e tem influências

culturais de lugar, etnias, costumes e modos de vida. Com a modernidade, as

pessoas, cada vez mais, procuram expressar-se por meio de roupas, ou

retratar contentamentos e descontentamentos nas mesmas.

Consequentemente, a moda é considerada efêmera e um sintoma

antropológico, complementa Pollini (2009).

2.1 História da Moda no Século XVIII

A moda é extremamente influenciada por fenômenos sociais e pela

evolução das artes. Segundo Pollini (2009), está muito mais relacionada a um

conjunto de fatores, um sistema de funcionamento social, do que

especificamente às roupas.

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Figura 2: Representação de Marie Antoinette (fonte: Fasion Bubbles, disponível em

<http://imagesfb.s3.amazonaws.com/files/2008/09/2188492785_fc5b6350ee_o.jpg>, acessado no dia 13/06/2012)

No século XVIII, por uma intensificação do pensamento iluminista, fato

ocorrido graças a busca por um pensamento científico e laico, observou-se

grande valorização da ciência num movimento altamente antropocêntrico.

Juntamente no campo das artes, a transição do Barroco para o Rococó,

privilegiando valores estéticos, luxo e riqueza, que acabaram sendo

transpostos nos trajes da época, argumenta Braga (2004). Roupas elegantes

tornaram-se então, no início do século, sinônimo de roupas francesas pela

extrema autoridade da Corte de Versalhes, complementa Laver (1999).

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Figura 3: “Robe à la Française”. (fonte: KCI Digital Archives, disponível em

http://www.kci.or.jp/archives/digital_archives/photos/19_xl_AC05175.jpg, acessado no dia 15/06/2012)

As mulheres da nobreza não tinham limites: os costumes privilegiavam a

frivolidade e o gosto pela excentricidade e exagero. Segundo Braga (2004),

destaque às perucas empoadas, presentes nas cabeças de homens e

mulheres, adultos e crianças, como exemplo de exagero. A moda feminina era,

em geral, volumosa – era comum o uso de armações em forma de cesta por

baixo das saias dos vestidos, chamadas de paniers, para Laver (1999), essas

estruturas têm influência até na arquitetura, já que duas mulheres não

conseguiriam sentar-se em um sofá lado a lado ou passar por uma porta ao

mesmo tempo.

Em 1774, sob o reinado de Luis XVI, sua esposa, Maria Antonieta,

possuiu grande influência no estilo da época, ousando com penteados que

passaram a elevar-se, extremo exagero em proporções e enfeites (moinhos,

flores, animais, caravelas), bem como vigorou o uso dos chapéus, pequenos

no início da década de 1770, aumentando com o decorrer do tempo, relata

Braga (2004).

Com o declínio da aristocracia francesa, marcada por revoltas populares e

uma mudança da estrutura social da época, observa-se um novo estilo

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adentrar o cenário da moda e, em 1760, o luxo da corte passa a ser

gradativamente substituído por roupas inglesas do “campo” – por conta de sua

praticidade e simplicidade, articula Laver (1999).

Figura 4: Obra “Sophia Western”, por Adam Buck (1800). (fonte: blog Jane Austen Today, disponível em

http://janeaustensworld.files.wordpress.com/2010/12/sophia-western-buck.jpg, acessado no dia 17/06/2012)

A Revolução Francesa, em 1789, trazendo o lema “Liberdade, igualdade

e fraternidade”, mudou drasticamente a moda no século XVIII – o exacerbado

volume foi basicamente cortado das roupas (tecidos passaram a ser lisos, sem

rendas ou babados, e penteados diminuíram, por exemplo). Roupas femininas

tornaram-se finas e leves, remetendo às roupas de estátuas gregas. A

aceitação pelas roupas de campo foi dominante, como um grito de liberdade,

defendem Braga (2004) e Laver (1999).

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2.2 Objeto de Estudo: Nas cabeças, os chapéus

Na vasta cultura do século XVIII, optamos pelos chapéus como objetos de

estudos, pela forma como eram valorizados na época bem como sua grande

influência sobre o comportamento social.

Muitos dos acessórios introduzidos no século XVII foram usados durante

grande parte do século XVIII. Entre os costumes do final do século XVII, “as

mulheres não usavam chapéus, mas para sair, cobriam a cabeça com

pequenos capuzes de tafetá preto, ou usavam um xale simples de renda.”,

descreve Laver (1999, pág. 108) Esses capuzes, plissados com fitas, rendas e

laços, eram usados sobre cabelos crespos e elevados. Esse conjunto era

chamado de fontange. Na França, os acessórios femininos passaram desse

simples capuz para as enormes perucas de quase um metro de altura,

enfeitadas com plumas.

Figura 5: Mulher usando touca, comumente entre os séculos XVII e XVIII. (fonte: Laver, 1999, p. 108)

O chapéu feminino mais conhecido da época era o pinner, um chapéu

que cobria apenas uma das orelhas, além da boina popular. Para equitação “as

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mulheres usavam um chapéu que imitava o chapéu masculino de três pontas”,

declara Olsen (1999, pág. 98). Dentre imagens levantadas nesta pesquisa,

observa-se também, nas de meados do século XVIII, as de mulheres com

chapéu de palha, para uso no campo.

Conforme Laver (1999), a figura masculina “na França, é associada a Os

Três Mosqueteiros” com chapéus de abas largas e plumas. A peruca aparece

primeiro entre os homens, porém o chapéu continua a ser essencial, afirmam

Bolomier (1996) e Olsen (1999).

Figura 6: Obra “Napoleão Cruzando os Alples” (1801-1805), por Jacques-Louis David. (fonte: Who 2 Biographies, disponível em <http://www.who2.com/58435/photo/49626>,

acessado no dia 16/06/2012)

O chapéu masculino utilizado durante todo o século XVIII foi introduzido

por Carlos II, no fim do século XVII. De copa baixa e abas largas teve poucas

transformações, como para o formato tricórnio (aba dobrada em três partes

diferentes) que ficou conhecido após ser usado por Napoleão Bonaparte.

“O ‘chapéu tricórnio’ foi de uso quase geral durante o século, apesar de os camponeses e intelectuais às vezes usarem seus chapéus sem dobrar a aba. A prática normal era virar a aba para cima e prendê-la na parte de baixo da copa de maneira que formasse um triângulo. As bordas eram guarnecidas com cadarço, e costumava-se prender um botão ou joia na dobra do lado esquerdo. A aparência do chapéu era, naturalmente, condicionada pela largura da aba.” (LAVER, 1999, pág. 136)

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Apesar da diferença secular, leis são seguidas e padrões existem, os

quais, muitas vezes, aceitos rapidamente. A primeira lei suntuária na França,

que determinava quais roupas poderiam ser usadas de acordo com os estratos

sociais, foi firmada por Filipe, o Belo, em 1294 (LACROIX, 1800 apud

MACEDO, 2008) e, até a Revolução Francesa, quando as leis foram abolidas,

uma série de regras continuou a vigorar. Lipovetsky declama que a legislação

suntuária diferenciava, por meio de trajes; tecidos; cores; materiais as classes

sociais. Baldini (2006) reforça esta argumentação ao dizer que as imposições

de trajes para cada classe, ou seja, de um padrão indumentário, foi finalmente

abolido na França pela Convenção de 1793 – decreto que afirmou o princípio

democrático da liberdade de vestuário.

2.3 Painel semântico

Figura 7: Painel semântico (parcial) no dia 01/05/2012 (fonte: própria)

3 Conceito de Criação: Mude seu chapéu

“A falta de informação leva a um conhecimento ilusório e obscuro,

portanto, a um aprisionamento e alienação.” – Frase sintetizada a partir do

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conceito de criação, sendo a partida para sua compreensão da essência do

mesmo.

Procuramos observar, com uma visão independente do tempo, a relação

entre a alienação e seus estágios, acolhida pelo comodismo. Padrões são

sempre impostos e aceitos e, para uma mudança desejada, é necessário que

incomode ou interfira na liberdade de um indivíduo ou grupo. Por meio de uma

metáfora em que a sociedade é assimilada a um chapéu, e o modo de

aceitação dos indivíduos equivale a vestir tal chapéu, chegamos à expressão

mude seu chapéu. Mudar significa negar injunções e, a partir deste ponto,

vestir suas próprias ideias com a finalidade de chegar a um conhecimento real.

Fazendo uma ligação entre o século aqui estudado e nosso conceito de

criação, constatamos que a Revolução Francesa foi o choque em virtude aos

acontecimentos trazidos pela corte. O resultado disso foi a mudança de

múltiplos parâmetros que predominaram ao longo do período.

Figura 8: “A Alienação” (fonte: própria)

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O marco zero do problema – aprisionamento e alienação – é deter-se a

um conhecimento “aparente real”, ou seja, superficial e questionável. A partir

do ponto em que é examinado, há geração de dúvidas que não podem ser

diametralmente esclarecidas. Todo novo membro da sociedade vem ao mundo

destinado a crer nessa verdade preestabelecida e, para que se possa buscar o

conhecimento autêntico, ele deve passar por três fases:

A primeira fase pode vir por meio de um choque descomunal ou um

pinicar que apenas irrita. É um incômodo que se desenvolve em uma

necessidade interna de mudança, a segunda fase. Para definir este estágio

melhor, podemos dizer que é a pré-disposição, um fio condutor entre a vontade

de mudar e a mudança. A terceira fase é o resultado, ou seja, a mudança em si

que culmina em libertação e descobrimento da mente.

Figura 9: Aplicação do conceito “mude seu chapéu” (fonte: própria)

Os sentidos da palavra “descobrir” variam entre expor e encontrar. Para

trocarmos de chapéu, precisamos despir a cabeça antes e, dentro do conceito,

isso significa também expor nossa mente. Traduzindo tais pontos de acordo

com as fases da alienação discutidas anteriormente, temos que a primeira fase

é representada pelo emboque de um chapéu padronizado, ou seja, incômodo e

desconfortável; a segunda fase é o momento em que tiramos esse chapéu e a

cabeça está desnuda e a mente quase livre, tal qual uma etapa de transição; a

terceira fase é a ocasião de encaixe do próprio chapéu, o ponto chave para a

libertação da mente. Portanto, precisamos mudar de chapéu – para

adaptarmos referenciais externo e interno –, e assim desenvolvermos o próprio

pensamento.

4 Público Alvo

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O público alvo é uma das premissas para que se desenvolva o produto,

assim atendendo a demanda. Deve ser pensada na adaptação e/ou no

desenvolvimento de um produto a uma determinada parcela da população – o

público alvo. Para isso, são avaliados valores; grupo geracional; condições

socioculturais e econômicas; rotina, que reúne hábitos (como o paladar e locais

frequentados); entre outros pontos. Nesta pesquisa, nos baseamos no grupo

geracional Pleasure Growers, definido por Morace (2009).

Os resultados da pesquisa “Perfil do Consumidor do Futuro,

desenvolvida pela Fundação FIA (2001), apontam que 9,3 % do total da

população brasileira é composta por idosos, ou seja, aproximadamente 16

milhões e vem crescendo de modo significativo. Segundo as estatísticas, em

2020, o Brasil será o 6º país com maior número de idosos no mundo. Logo,

constata-se que com o mercado deve estar cada vez mais disposto a atender o

público mais velho no Brasil.

Esse grupo formador de opinião foge daquele padrão de terceira idade

com o qual estamos acostumados e busca modernidade e independência.

Estão, continuamente, buscando setores nas áreas de moda, tecnologia,

turismo e saúde. Cada vez mais exigentes e menos leais às marcas, carece

que as empresas adotem meios de relacionar a marca ao seu estilo de vida,

acrescentando personalidade e praticidade aos produtos e serviços.

A pesquisa de observação em campo abrange as regiões da Avenida

Paulista, Alameda Santos, Benedito Calixto, Shopping Villa Lobos, Shopping

Morumbi e arredores, rua Augusta, parque Trianon, Masp – Museu de Arte de

São Paulo, SOBEI – Sociedade Beneficente de Interlagos. Nota-se que o

público está cada vez mais consumindo moda e beleza, valorizando a própria

imagem e deixando de seguir modismos. Além de prezar pelo conforto e, ainda

assim, mantendo um estilo excêntrico e individual às suas vestes.

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Figuras 10 e 11: Painéis ilustrando o público alvo e locais frequentados (fonte: própria)

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O público escolhido como fonte de referência é composto por mulheres

acima dos 60 anos, apesar de recusarem o encaixe estereotipado como

terceira idade. Os “membros” desse grupo geracional praticam exercícios e têm

a alimentação correta, o que mostra a preocupação com a saúde; aproveitam

momentos de lazer em cinemas e teatros; e alguns até relacionam-se com

pessoas mais jovens. É um grupo ativo, independente e crítico.

5 Elementos Formais Projetuais

A partir do conceito de criação mude seu chapéu, optamos por um

casaco por conta das variadas formas de uso e a possibilidade de

representarmos as escolhas e modificações. Na roupa, esta é presente pela

versatilidade – um dos fatores que maior atrairá nosso público alvo.

5.1 Estudo de formas

Figuras 12 e 13: Imagens referência ao estudo de formas, casulos (esquerda) e torres de Dubai (direita).

(fonte: própria e blog “Travel And Tourism”, disponível em <http://3.bp.blogspot.com/9YMmg4LfXog/TqzTVP1nQ3I/AAAAAAAAEOM/uFkS1B0Vz3Y/s1600

/Dubai-Tower-Thompson-01.jpg>, acessado no dia 17/06/2012)

Desenvolvemos um estudo de formas a partir das fases da alienação e

libertação, inseridas no casaco: O marco zero é representado por um casulo,

que remete ao aprisionamento – presente na rigidez do tecido, na gola e saia

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fechadas; a primeira fase veio a partir de um estudo sobre formas pontiagudas,

que causam incômodo, mostradas na deformação e exagero dos ombros; a

terceira fase, da mudança, é notada pelas transformações proporcionadas pelo

zíper – o novo caimento da gola, saia (com a transposição da leveza presente

no tecido que estava interno na mesma), e do casaco aberto. Mostramos que a

mudança, ou seja, a libertação, é opcional.

5.2 Cartela de cores

O tom escuro que predomina na peça representa a obscuridade

presente no marco zero da alienação, apresentada no conceito de criação.

Equiparando-o a outra tonalidade também sombria, procuramos estabelecer

um degradê até um ponto de claro que, segundo o conceito, remete a terceira

fase – a mudança completa – por conta da clareza de pensamento.

Figura 14: Obra rococó “O Balanço” (1767), por Jean-Honoré Fragonard, referência da cartela de cores e tingimento

(fonte: CGFA- A Virtual Art Museum, disponível em <http://www.cgfaonlineartmuseum.com/fragonar/p-fragona6.htm>, acessado no dia 13/05/2012)

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Figura 15: Painel de cores com referência nos códigos apresentados na Pantone Têxtil.

(fonte: própria)

As cores são frutos de um estudo em cima de obras rococó. A pintura “O

Balanço”, de Jean-Honoré Fragonard, é a que mais abrange nossa cartela de

cores: com verdes e azuis.

5.2.1 Tingimento

Figura 16: Painel ilustrado mostrando os processos para o tingimento em degradê, feito com corante para tecido em algodão cru.

(fonte: própria)

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O tingimento em degradê representa o período de transição da primeira

para a terceira fase, mostrando a transição; a busca pela mudança, ou seja, a

segunda fase.

5.3 Cartela de materiais

Figura 17: Montagem referência à cartela de materiais. (fonte: própria)

A segunda fase, por caracterizar a transição, é representada por zíperes

– que dão a opção de liberdade, tanto ao longo da roupa quanto na saia. A

coloração da peça (parte interna da gola e na nesga da saia) só é vista se o

usuário assim desejar, para isso, deve ser aberto o zíper. O mesmo é dito para

a faixa da cintura, que pode ser ou não usada em conjunto com o traje.

Os tecidos escolhidos foram a sarja e a tela de algodão. Prezamos por

meios em que pudéssemos obter o resultado desejado e, mesmo assim,

proporcionar conforto ao utente. A leveza dos tecidos foi um dos fatores

explorados, já que, apesar de um casaco. A sarja utilizada, de gramatura leve,

transmite comodidade também por possuir elastano em sua trama, o que a

torna o casaco mais adaptável ao corpo e a pessoa que o veste se sente com

maior liberdade de movimentos. A tela de algodão, originalmente crua, foi

selecionada também pela facilidade de tingimento, assim representando a

cartela de cores com maior satisfação.

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5.4 Croquis

Figura 18: Estudo de Croquis. (fonte: própria)

Figuras 19 e 20: Croquis experimentais para uma coleção relacionada, apropriando-se dos conceito e estudos contidos no artigo.

(fonte: própria)

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Figura 21: Croqui definitivo do casaco. (fonte: própria)

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Considerações Finais

A moda é efêmera e suas transformações estão atreladas firmemente às

mudanças socioeconômicas, como por exemplo, na França do século XVIII, a

principal influência foi a Revolução Francesa. As indumentárias, por conta de

sua importância social, permitem a diversificação hierárquica de acordo com o

uso de peças tais quais adornos na cabeça, o que demonstra a padronização

estética como uma separadora de classes. O conceito de criação mude seu

chapéu propõe a mudança e quebra desse paradigma com um estudo

atemporal sobre a mentalidade por baixo dos chapéus.

É o primeiro contato dos integrantes com um artigo científico e, com sua

realização, aprendemos a metodizar uma pesquisa e organizar estudos, como

os de observação do público alvo em campo.

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Referências:

BALDINI, Massimo. A Invenção da moda: as teorias, os estilistas, a história.

1ª Edição. São Paulo: Edições 70, 2006.

BRAGA, João. História da moda: uma narrativa. 2ª Edição. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2004.

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COELHO, Luiz Antonio L. Conceitos-chave em design. 1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Novas Ideias, 2008.

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MACEDO, José Rivair. Os Sintomas da infâmia e o vestuário dos mouros em Portugal nos séculos XIV e XV. Disponível em <http://cem.revues.org/index9852.html#ftn6>. Acessado em 06 de maio de 2012.

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LIPOVETSKY, Gilles. O Império do efêmero. 2ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

MORACE, Francesco. Consumo Autoral: as gerações como empresas criativas. 1ª Edição. Barueri: Estação das Letras e Cores Editora, 2009.

OLSEN, Kirstin. Daily life in 18th-century England.1ª Edição. Estados Unidos: Editora Greenwood, 1999.

POLLINI, Denise. Breve história da moda. 1ª Edição. São Paulo: Claridade. 2007

SCHENEIDER, Beat. Design – Uma Introdução: o design no contexto social, cultural e econômico. 1ª Edição. São Paulo: Editora Edgard Blücher, 2010.