POSSIBILIDADES FONÉTICAS DO “O” ORTOGRÁFICO EM GOIÁS

16
Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 12 maio 2014 Edição Especial Homenageado F E R N A N D O T A R A L L O Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 436 POSSIBILIDADES FONÉTICAS DO “O” ORTOGRÁFICO EM GOIÁS Isadora Massad Giani Pinheiro 1 (CNPq/UFG) [email protected] Sebastião Elias Milani 2 (UFG) [email protected] RESUMO: A norma padrão da língua e a forma ortográfica da língua escrita oferecem a alguns falantes, os quais não refletem sobre a língua de maneira profunda, fundamento para que cometam preconceito linguístico, na maioria das vezes estigmatizando pessoas sem escolaridade ou de classe social pouco favorecida. Porém, a partir de análises linguísticas mais reflexivas, ao invés de ver estigmatização, vê-se riqueza de variantes, a partir das produções dos falantes. Através de uma pesquisa de cunho tipológico, pode-se enxergar que as mudanças linguísticas ocorrem em todas as línguas, como consequências de diversas circunstâncias. Este tipo de pesquisa invalida qualquer manifestação de preconceito linguístico. Apoiando-se nesse pressuposto, as variantes fonéticas encontradas para o “o” ortográfico mostram que a língua brasileira também não está imune à variação ou à mudança, além de apresentar que a língua escrita e a língua falada não têm correspondência completa e que uma acaba sendo resultado da outra, na maioria das vezes as mudanças linguísticas passam a ser aceitas e convencionadas como padrões, após muito tempo de uso e de discriminação. A observação da língua falada possibilita a previsão do destino da nossa língua escrita e a observação de certos fenômenos pode explicar outros e dessa forma o estudo linguístico fica sistemático. PALAVRAS-CHAVE: Fonética; tipologia; preconceito linguístico. ABSTRACT: The forma standard variety of a language, as well as its written form, provide some speakers of the language, the ones who do not reflect upon the language in a deeper level, with a basis with which they practice linguistic prejudice, often times stigmatizing people without proper education or who belong to a poorer social class. However, because of a more reflective linguistic analysis, instead of stigmatizing, it is possible to see richness in the linguistic varieties found in the production of the speakers. Through typological research, we can see that linguistic changes happen in every language, as a consequence of different circumstances. This type of research disregards any type of linguistic prejudice. Based on this assumption, to bring the phonetic varieties found in the orthographic “o” shows that our language is not immune to variety or to changing, and it also shows that the written language and the oral language do not have a complete correspondence and that one ends up being the result of the other, and even that in most cases the linguistic changes happen to be accepted and become the standard, after much time of usage and discrimination. The observation of a spoken language enables us to predict the destiny of our written language, thus, it should receive greater attention as well as more importance, the observation of some phenomena can explain other phenomena, and thus linguistic study can be more systematic. KEYWORDS: phonetics; typology; linguistic prejudice. 1 Mestranda em Linguística pelo Programa de pós-graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Goiás e bolsista CNPq. [email protected] 2 Professor Doutor, atua na Universidade Federal de Goiás na área de Linguística, na Graduação e na Pós- Graduação. [email protected]

Transcript of POSSIBILIDADES FONÉTICAS DO “O” ORTOGRÁFICO EM GOIÁS

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 436

    POSSIBILIDADES FONTICAS DO O ORTOGRFICO EM

    GOIS

    Isadora Massad Giani Pinheiro1 (CNPq/UFG)

    [email protected]

    Sebastio Elias Milani2 (UFG)

    [email protected]

    RESUMO: A norma padro da lngua e a forma ortogrfica da lngua escrita oferecem a alguns falantes,

    os quais no refletem sobre a lngua de maneira profunda, fundamento para que cometam preconceito

    lingustico, na maioria das vezes estigmatizando pessoas sem escolaridade ou de classe social pouco

    favorecida. Porm, a partir de anlises lingusticas mais reflexivas, ao invs de ver estigmatizao, v-se

    riqueza de variantes, a partir das produes dos falantes. Atravs de uma pesquisa de cunho tipolgico,

    pode-se enxergar que as mudanas lingusticas ocorrem em todas as lnguas, como consequncias de

    diversas circunstncias. Este tipo de pesquisa invalida qualquer manifestao de preconceito lingustico.

    Apoiando-se nesse pressuposto, as variantes fonticas encontradas para o o ortogrfico mostram que a

    lngua brasileira tambm no est imune variao ou mudana, alm de apresentar que a lngua escrita

    e a lngua falada no tm correspondncia completa e que uma acaba sendo resultado da outra, na maioria

    das vezes as mudanas lingusticas passam a ser aceitas e convencionadas como padres, aps muito

    tempo de uso e de discriminao. A observao da lngua falada possibilita a previso do destino da nossa

    lngua escrita e a observao de certos fenmenos pode explicar outros e dessa forma o estudo lingustico

    fica sistemtico.

    PALAVRAS-CHAVE: Fontica; tipologia; preconceito lingustico.

    ABSTRACT: The forma standard variety of a language, as well as its written form, provide some

    speakers of the language, the ones who do not reflect upon the language in a deeper level, with a basis

    with which they practice linguistic prejudice, often times stigmatizing people without proper education or

    who belong to a poorer social class. However, because of a more reflective linguistic analysis, instead of

    stigmatizing, it is possible to see richness in the linguistic varieties found in the production of the

    speakers. Through typological research, we can see that linguistic changes happen in every language, as a

    consequence of different circumstances. This type of research disregards any type of linguistic prejudice.

    Based on this assumption, to bring the phonetic varieties found in the orthographic o shows that our

    language is not immune to variety or to changing, and it also shows that the written language and the oral

    language do not have a complete correspondence and that one ends up being the result of the other, and

    even that in most cases the linguistic changes happen to be accepted and become the standard, after much

    time of usage and discrimination. The observation of a spoken language enables us to predict the destiny

    of our written language, thus, it should receive greater attention as well as more importance, the

    observation of some phenomena can explain other phenomena, and thus linguistic study can be more

    systematic.

    KEYWORDS: phonetics; typology; linguistic prejudice.

    1 Mestranda em Lingustica pelo Programa de ps-graduao em Letras e Lingustica da Universidade

    Federal de Gois e bolsista CNPq. [email protected] 2 Professor Doutor, atua na Universidade Federal de Gois na rea de Lingustica, na Graduao e na Ps-

    Graduao. [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 437

    1. Introduo

    Este artigo se insere, enquanto metodologia mais ampla, nos estudos de tipologia

    lingustica. A tipologia lingustica aborda, segundo Whaley (1997), a classificao de

    qualquer componente de uma lngua, ou toda uma lngua. No primeiro caso,

    importante observar uma construo que se origina a partir da lngua, uma vez que

    pretende compreender melhor como tal elemento funciona, sempre levando em

    considerao a comparao feita com outras lnguas estudadas. importante recordar

    que um objetivo entender o porqu de a lngua ser daquela forma.

    A tipologia lingustica tem como objetivo, grosso modo, investigar as

    possibilidades estruturais dentro das lnguas do mundo. Para isso, fazem-se

    comparaes entre diferentes lnguas, com variadas estruturas e descrevem-se essas

    peculiaridades encontradas.

    do conhecimento geral das pessoas que estudam a linguagem, que a lngua, em

    suas partes, est em constante mudana, seja no mbito fonolgico, morfolgico,

    sinttico ou semntico-lexical. Essa mudana pode estar totalizada ou pode estar

    ocorrendo aos poucos contribuindo para que diversas estruturas coexistam.

    Como a maioria das diferenas na sociedade causam estranheza e imediato

    preconceito, com a linguagem no diferente. Foi eleita, atravs de uma conveno

    social, qual a forma correta de utilizar cada lngua, consequentemente, elegendo as

    formas erradas dessa utilizao.

    Os estudos lingusticos, com o advento da tipologia, puderam propor melhoras

    no pensamento dos estudiosos de lingustica quanto ao ponto mencionado, uma vez que

    trabalha com as mais diversificadas lnguas, sendo que cada uma delas possui aspectos

    particulares, funcionamento prprio etc.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 438

    Descobrir diferentes aspectos de lnguas distantes possibilita, a cada um, a

    reflexo sobre as diferenas dentro da prpria lngua. Se uma determinada estrutura

    existente em uma lngua extica pode ser que funcione tambm em nossa lngua

    latina e, ao invs de esses fatos serem olhados com discriminao, deveriam ser

    observados mais proximamente e com mais interesse e curiosidade.

    Um trabalho tipolgico, a priori, aparenta ser muito difcil de executar, quando o

    pesquisador lidar com uma lngua completamente diferente, com elementos distintos

    dos quais costuma entrar em contato. No desprezando os esforos os quais devem ser

    destinados pesquisa tipolgica, importante ressaltar que, por mais diferentes que as

    lnguas sejam, acredita-se que h uma unidade entre todas elas, ou seja, h uma

    estrutura imanente:

    [...] other linguists have argued that the unity that underlies languages is

    better explained in terms of how languages are actually put to use. To be

    sure, languages are all employed for like purposes: asking questions, scolding

    bad behavior, amusing friends, making comparisons, uttering facts and

    falsehoods, and so on. Because languages exist to fulfill these types of

    functions, it stands to reason that speakers will develop grammars that are

    highly effective in carrying them out. Consequently, under the pressure of the

    same communicative tasks, languages evolve such that they exhibit

    grammatical similarities (WHALEY, 1997, p.6).

    A partir de afirmaes como essa de Whaley, compreensvel que haja, lado a

    lado com a tipologia lingustica, o estudo e investigao sobre os universais lingusticos.

    Esse estudo parece ser antagnico ao trabalho da tipologia, pois se trata da pesquisa a

    respeito do que possvel ser encontrado em todas as lnguas. So semelhanas

    encontradas em todas as lnguas, por exemplo, a presena de sujeito, a presena de

    vogais em todas as lnguas etc.

    Inclusive, notvel que os dois tipos de pesquisas que esto sendo mais

    elaborados dentro da tipologia lingustica a respeito da morfologia, atravs da

    classificao das lnguas em aglutinante, isolante, flexional e parassinttica (tipologia de

    Wilhelm von Humboldt (1767-1835)), e pesquisas a respeito da ordem de palavras

    (COMRIE, 1989).

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 439

    importante ressaltar que uma pesquisa tipolgica tem objetivos pontuais e

    bastante estruturais e para que se faa uma pesquisa lingustica completa, necessrio

    que a tipologia se junte a outros ramos da lingustica. Nesta pesquisa, como foram

    estudadas variantes de um fonema em diferentes reas do estado de Gois, foi

    necessrio o conhecimento prvio de Geolingustica e de Dialetologia, para que pudesse

    auxiliar e justificar a importncia de variantes iguais em reas afastadas.

    Com objetivos semelhantes aos citados, esse artigo foi escrito a fim de

    apresentar possibilidades encontradas, em cidades do estado de Gois, para o o

    ortogrfico na posio pr-tnica. A denominao o ortogrfico foi selecionada a fim

    de evitar preconceitos, j que se for afirmado que o fonema [o] o correto pode gerar

    algum tipo de discriminao, essa terminologia foi encontrada em J. M. Cmara Jnior

    (2010).

    O trabalho feito foi de buscar dentro do banco de dados do LABOLINGGO, um

    corpus de algumas cidades de Gois. A anlise dos dados tinha como objetivo resgatar

    diferentes pronncias do o em posio pr-tnica, a fim de agrupar as possibilidades

    de produo em tais locais.

    interessante pontuar que esse artigo se valer de aspectos relacionados

    metodologia da pesquisa tipolgica, como a comparao de dados relacionados a

    aspectos formais, porm no ser feita comparao entre diferentes lnguas, mas entre as

    variedades encontradas no estado de Gois, que esto no banco de dados do

    LABOLINGGO.

    2. Um olhar sobre as vogais

    Os sons articulados das lnguas, conhecidos como fonemas, so classificados na

    fonologia em duas categorias diferentes: as consoantes e as vogais. Esses elementos

    possuem no s a articulao diferenciada, mas tambm as funes dentro da slaba e

    consequentemente dentro das palavras tambm.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 440

    Conceituando resumidamente, as consoantes so os sons que so produzidos a

    partir de algum tipo de obstruo do trato vocal, seja pelos lbios, por uma localizao

    da lngua que possa dificultar a passagem do ar na boca, pelos dentes etc. Essas

    diferentes obstrues so responsveis por uma das classificaes dadas s consoantes,

    quanto ao ponto de articulao: labial, alveolar, labiodental, uvular etc.

    As vogais, por sua vez, so sons articulados os quais so produzidos a partir da

    passagem livre do ar, ou seja, sem nenhuma obstruo na boca, seja pelos dentes, pelos

    lbios etc. A sua classificao se d a partir da posio da lngua: altura e anterioridade

    ou posteridade, e do arredondamento dos lbios. Alguns ainda classificam as vogais

    quanto oralidade e nasalidade.

    Originalmente, h outra classificao, que ainda continua bastante pertinente:

    In many linguistics descriptions sounds are classified as either vowels and

    consonants. The original intuition behind this classification was that vowels

    are sounds that may be pronounced alone, but consonants must be sounded

    with a vowel. In many languages the sounds called vowels can form a word

    by themselves, but the sounds called consonants must be accompanied by a

    vowel (LADEFOGED; MADDIESON, 1996, p. 281).

    A partir dessa diferenciao entre consoantes e vogais possvel compreender o

    universal lingustico (de lnguas orais) que diz que toda lngua tem pelo menos uma

    vogal, pois se no houver vogal, no h como existir palavras, logo no tem como

    existir uma lngua oral.

    Como anlise a ser feita neste artigo diz respeito a uma vogal e suas diferentes

    realizaes, necessrio focar mais nesse elemento, trazendo, mesmo que de forma

    sinttica, as caractersticas e classificaes do fonema em questo e dos variantes

    presentes na pesquisa.

    As vogais, fisiologicamente, so definidas como no tendo obstruo do trato

    vocal na passagem do ar, como foi mencionado, j a definio tendo como base a sua

    funo fonolgica, as vogais so tidas como silbicas, uma vez que o que silbico

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 441

    representa o pico da slaba (as vogais so os picos e as consoantes os vales).

    (LADEFOGED; MADDIESON, 1996)

    De acordo com um apontamento j feito, as vogais so classificadas a partir de

    quatro critrios. O primeiro deles, escolhido aleatoriamente, diz respeito ao grau de

    abertura da boca, ou altura que a lngua ocupa no trato vocal. Nesse critrio h,

    segundo Silva (2013), quatro classificaes: alto, quando a lngua est alta; mdio-alta

    ou mdia-fechada, a lngua est um pouco mais baixa em relao primeira

    classificao; mdia-baixa ou mdia-aberta, o terceiro nvel de abaixamento; por

    ltimo a baixa, quando a lngua est o mais distante do cu da boca.

    Para exemplificar cada uma dessas classificaes temos o fonema [i] como uma

    vogal alta, o fonema [e] como uma vogal mdia-fechada, o fonema [] como uma vogal

    mdia-aberta e o fonema [a] como uma vogal baixa. Caso seja falada essa sequncia de

    fonemas, ser possvel perceber os diferentes graus de abertura da boca, assim como a

    altura da lngua.

    Outro critrio de classificao das vogais o da posio da lngua na boca,

    tambm conhecida como eixo horizontal (SILVA, 2013). Agora, tm-se trs diferentes

    classificaes: a vogal anterior, quando a lngua est projetada em direo aos dentes

    anteriores ou aos lbios; a vogal central, quando a lngua est em posio neutra, nem

    mais para frente e nem mais para trs; finalmente, a vogal posterior, quando a lngua

    est mais recolhida, no fundo da boca.

    Como ilustrao desse critrio pode ser apresentada a vogal [i] como uma vogal

    anterior, podendo ser notvel a projeo da lngua em direo exterior boca j

    exemplificando a vogal central tem o [a], que quando pronunciado a lngua se posiciona

    no centro da boca, na posio neutra, por fim, a vogal posterior pode ser representada

    pelo [u], com a configurao retrada na lngua, ao fundo da boca.

    Mais um aspecto a ser considerado o do arredondamento dos lbios, aqui s h

    duas classificaes: vogais arredondadas e no arredondadas. As primeiras so as vogais

    que os lbios ficam arredondados, como no caso da pronncia da vogal [o] e estas so

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 442

    as vogais que os lbios ficam distendidos, sem arredondamento como no caso da vogal

    [i].

    importante ressaltar que essa ltima classificao, no portugus brasileiro, se

    funde classificao do eixo horizontal, pois os fonemas arredondados dessa variedade

    do portugus: [u], [], [], [o], [], [] so todos posteriores. Porm essa regra no pode

    ser aplicada em qualquer lngua, necessrio fazer uma anlise prvia.

    Por fim, o ltimo critrio de classificao das vogais, considerado por alguns

    tericos e desconsiderado por outros, o da nasalidade. Esse aspecto, assim como o de

    arredondamento, s possui duas classificaes, das vogais nasalizadas e das vogais no

    nasalizadas. As vogais nasalizadas so aquelas que possuem a ressonncia na cavidade

    nasal e as no nasalizadas os fonemas so produzidos apenas na cavidade oral. Como

    exemplos das primeiras [], [] e como exemplo das segundas [a] e [o].

    3. Algumas possibilidades da realizao da vogal ortogrfica o na posio

    pr-tnica no falar goiano.

    As breves explanaes acerca da tipologia lingustica e acerca da fonologia das

    vogais do portugus ajudaro na exposio das diferentes possibilidades da produo do

    o ortogrfico, ou seja, dessa vogal da escrita padro da lngua portuguesa, na posio

    pr-tnica presentes no falar goiano.

    Os dados analisados so resultados de entrevistas feitas com o mesmo inqurito

    em vrias regies do estado de Gois, dessa forma, possvel alegar que os vocbulos

    que sero apresentados nessa anlise trazem uma possibilidade de identidade local.

    Os vocbulos selecionados so as respostas mais frequentes dadas s perguntas

    do inqurito. A frequncia um fator importante, pois a partir dela possvel analisar as

    diferentes realizaes possveis de um mesmo vocbulo, assim trazendo mais validade

    pesquisa.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 443

    Quando se pensa em variao para o o ortogrfico ou /o/ fonolgico em

    posies no tnicas, as possibilidades mais comuns em que se pensa, considerando o

    portugus brasileiro, so o [], [u] e o []. Ao continuar essa anlise prvia da lngua

    luso-brasileira de Gois, constatvel que a primeira variante ocorre,

    predominantemente, em posies ps-tnicas, ou seja, em slabas aps a slaba tnica da

    palavra analisada, a segunda e a terceira, principalmente, em posies pr-tnicas, ou

    seja, anterior slaba tnica, podendo ser a slaba imediatamente anterior tnica, ou

    com uma distncia maior da slaba tnica, mas sendo sempre antes dela.

    Um dos estigmas presentes na mente dos brasileiros que o [] uma vogal

    tpica do norte e nordeste do pas, quando em posio pr-tnica, porm veremos a

    seguir que esse pensamento j no pode ser mais disseminado como uma verdade, uma

    vez que em Gois possvel encontrar essa variante tambm, nas mais diversas regies

    do estado.

    Para a elaborao deste artigo, foi feita a seleo de cinco vocbulos muito

    presentes nas respostas dadas pelos participantes da pesquisa. Nesses vocbulos, foi

    possvel encontrar formas pouco usuais na fala padro, mostrando, assim, a riqueza

    presente na fala coloquial.

    A primeira palavra a ser analisada sofreu pouca variao no som voclico, a

    resposta diz respeito pergunta 134 do inqurito: Como chama a parte embaixo do

    brao. Lexicalmente, obtiveram-se trs variaes: axila, sobaco e sovaco. As duas

    ltimas foram as formas escolhidas.

    A variao [subak] foi encontrada em 31 cidades do estado de Gois, at o

    presente estgio da pesquisa do Atlas: Montes Belos, Cachoeira Dourada, Caldas Novas,

    Formosa, Ipor, Itumbiara, Jata, Alto Paraso, Quirinpolis, Rio Verde, So Joo

    dAliana, Anpolis, Aruan, Bom Jardim, Palmeiras, Campos Belos, Crixs, Jussara,

    Piranhas, Uruau, Cristalina, Araguapaz, Buriti Alegre, Corumbaba, Edeia, Nova Amrica,

    Nova Glria, Parana, So Simo, Trs Ranchos, Itabera, Jaragu.

    A outra variao que possui o mesmo fenmeno voclico em [suvak], que

    aconteceu em: Cachoeira Dourada, Formosa, Ipor, Itumbiara, Alto Paraso, Quirinpolis,

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 444

    Rio Verde, So Joo dAliana, Anpolis, Aragaras, Aruan, Bom Jardim, Piranhas,

    Uruau, Cristalina, Nova Glria, Parana, Porangatu, Rubiataba, Santa Rita, So Simo,

    Trs Ranchos, Jaragu.

    Caso sejam observadas no mapa de Gois, essas cidades ocupam reas muito

    dispersas, no esto em uma regio apenas, o que demonstra que essa variao muito

    presente no territrio goiano como um todo e no como uma influncia nica vinda de uma

    fronteira especfica.

    importante a percepo de que algumas cidades se repetem nas duas produes,

    isso porque foram analisadas trs entrevistas de cada cidade, o que possibilita diferentes

    variaes, em diferentes produtores, o que acontecer posteriormente em outros casos

    tambm.

    Em contrapartida, foram encontradas tambm as produes dessas duas variaes

    com a vogal [o], como prev a lngua padro. Foi encontrada [sobak] em: Santa

    Terezinha, Uruau, Vianpolis, Rubiataba. E [sovak] nas cidades de: Crixs, Vianpolis,

    Rubiataba. notvel a diferena na quantidade de produo com o fonema [u] e com o

    fonema [o] nesse vocbulo.

    Outra resposta selecionada foi a da pergunta 119, que era: Como chama o osso

    pontudo que fica entre o p e a perna? Para essa resposta diversas respostas foram dadas,

    mas principalmente variaes de tornozelo. Algumas variaes acontecem no ambiente

    consonantal, porm a anlise desse fenmeno no o objetivo deste artigo.

    Uma variao encontrada foi a com o fonema [] na segunda slaba:

    Tornozelo [tonuzel] que aconteceu nas cidades de Caldas Novas, Rio Verde,

    Bom Jardim, Palmeiras, Jussara, Santa Terezinha, Luzinia, Vianpolis, Araguapaz, Buriti

    Alegre, Corumbaba, Edeia, Nova Glria, Parana, Porangatu, Rubiataba, So Simo, Trs

    Ranchos, Jaragu. Outra possibilidade encontrada foi [tohnuze], que ocorreu apenas em

    Cristalina.

    Segundo a anlise prvia feita anteriormente, esses dois casos entram no que seria o

    mais comum de ocorrer com o o ortogrfico em posio pr-tnica, ou seja, produzido o

    som de [u] na slaba imediatamente anterior slaba tnica, porm, outra possibilidade foi

    encontrada em tal lxico, com o fonema [u] ocupando as duas slabas que precedem a

    tnica: [tunuzel].

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 445

    Essa ocorrncia foi encontrada nas cidades de: Montes Belos, Caldas Novas,

    Itumbiara, Quirinpolis, So Miguel, Buriti Alegre, Nova Amrica, Nova Glria, Trs

    Ranchos, Itabera, Jaragu. Que assim como a outra possibilidade, preenche regies

    diversificadas dentro do estado de Gois.

    Assim como na palavra previamente analisada, nessa tambm aconteceram formas

    que respeitam o padro da lngua ortogrfica nas posies pr-tnica, sem a substituio do

    o por [u]:

    Foi realizada a forma [tohnozel] nas cidades de Planaltina, Cristalina e

    [tonozel] em Caldas Novas, Rio Verde, Bom Jardim, Palmeiras, Jussara, Santa

    Terezinha, Luzinia, Vianpolis, Araguapaz, Buriti Alegre, Corumbaba, Edeia, Nova

    Glria, Parana, Porangatu, Rubiataba, So Simo, Trs Ranchos, Jaragu.

    Nesse caso, diferentemente do anterior, no houve grande diferena entre o nmero

    de realizaes da forma padro ortogrfica, com o ocupando as duas slabas pr-tnicas,

    da forma que substitui o o por [u], tanto na slaba imediatamente pr-tnica, quanto nas

    duas pr-tnicas.

    Essas duas primeiras palavras tiveram realizaes que puderam ser previstas por

    uma anlise prvia e sem cunho cientfico, j que muito comum que o fenmeno de

    substituio do o para o [u] em posies pr-tnicas seja comum na lngua portuguesa

    falada, levando em conta o Brasil.

    O prximo vocbulo a ser apresentado, mostra uma possibilidade que no to

    comum e, dentro de uma anlise feita grosso modo, quase que impossvel prever que isso

    acontea. Essa palavra a resposta dada pergunta de nmero 130 do inqurito do

    LABOLINGGO. Como chama aquele ar preso que passa com um susto? Lexicalmente,

    conseguiu-se uma possibilidade soluo, que se deriva em soluar e soluando, mas ser

    aproveitado s o substantivo.

    A primeira forma encontrada foi [sulus], que ocorreu apenas em Nova Amrica.

    Outra possibilidade encontrada foi [slus] em Ipor, Crixs, Nova Glria e Rubiataba.

    Nessa anlise a primeira vez que se encontra a substituio do o por [] em posio pr-

    tnica, o que, de certa forma, se imagina que ocorra apenas nas regies norte e nordeste do

    Brasil, mas que h tambm no estado de Gois, na regio centro-oeste.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 446

    Nesse vocbulo ocorre uma substituio pouco comum nessas condies, que a

    substituio do o pr-tnico por [a] que gera a produo [salus], que por mais diferente

    que seja essa substituio, a produo da palavra no to estranha, pois possvel

    encontr-la com frequncia na lngua falada, a comprovao se d atravs da incidncia em

    vrias cidades dispersas no estado de Gois.

    A produo [salus] ocorre em: Montes Belos, Caldas Novas, Formosa, Ipor, Jata,

    Rio Verde, Campos Belos, Piranhas, Santa Terezinha, So Miguel, Luzinia, Cristalina,

    Nova Amrica, Nova Glria, Santa Rita, Itabera, Jaragu.

    A produo mais encontrada desse vocbulo a que mais se aproxima do padro

    [solus] que incide nas cidades de: Cachoeira Dourada, Caldas Novas, Formosa, Ipor,

    Itumbiara, Jata, Alto Paraso, Quirinpolis, Rio Verde, So Joo dAliana, Anpolis,

    Aragaras, Aruan, Bom Jardim, Palmeiras, Campos Belos, Crixs, Jussara, Luzinia,

    Piranhas, Planaltina, Santa Terezinha, Uruau, Vianpolis, Cristalina, Araguapaz, Buriti

    Alegre, Corumbaba, Edeia, Nova Amrica, Nova Glria, Parana, Porangatu, Santa Rita,

    So Simo, Trs Ranchos, Itabera, Jaragu.

    A prxima palavra a ser apresentada possui as mesmas variaes voclicas que a

    palavra anterior. Porm em orvalho, ocorrem outros fenmenos no mbito consonantal,

    que so muito intrigantes, mas que no fazem parte do recorte deste artigo, por isso pede-se

    que nas transcries a ateno se volte principalmente para o fenmeno apresentado, por

    ora.

    A palavra orvalho foi a resposta da pergunta de nmero 24 do inqurito: Como

    chama aquela gua que se encontra nas plantas de manh? Muitas produes foram

    realizadas, das formas mais variadas possveis, em ambientes variados dentro do vocbulo,

    mas levando em conta o recorte, foram encontradas as variaes com [u], [], [a] e [], alm

    da forma que se aproxima do padro [o].

    Foi encontrada a forma [uuva] em: Formosa, Ipor. Outra possibilidade com o

    [u] foi [uuva], com realizaes nas cidades de Buriti Alegre, Edeia, Nova Amrica. Por

    ltimo, dentro da possibilidade com o [u], a produo [uuval], que foi encontrada em

    Montes Belos, Piranhas, Rio Verde.

    J as possibilidades encontradas com [] foram [hva], em Luzinia, Uruau,

    Vianpolis; [hval] que aconteceu em So Joo dAliana, Planaltina, Porangatu;

    [val] produzido em Mineiros e [uva] em Cristalina.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 447

    Houve tambm algumas produes realizadas com [a] em [auval] nas cidades de

    Montes Belos, Jata, Piranhas e com [] formando [uva] nas cidades de So Joo

    dAliana, Campos Belos, Uruau, Jaragu.

    Alm de todas essas variedades foi possvel encontrar realizaes com o [o] na

    posio pr-tnica, o que seria o mais prximo lngua padro. Tem-se [ova] em So

    Miguel do Araguaia, [ova] em Ipor, Santa Terezinha, Araguapaz, [ouva] na cidade de

    Buriti Alegre, [orval] em Planaltina, [oval] nos municpios de Caldas Novas,

    Formosa, Ipor, Itumbiara, Quirinpolis, Anpolis, Aragaras, Aruan, Crixs, Jussara, Rio

    Verde, Mineiros, Jaragu, Corumbaba, Nova Amrica, Nova Glria, Parana, Itabera, Trs

    Ranchos, So Simo, Santa Rita, Rubiataba, Porangatu, [ova] em Vianpolis e

    [ouval] em Cachoeira Dourada, Corumbaba, So Simo.

    ltimo vocbulo selecionado dos dados foi a resposta da pergunta de nmero 15:

    Como chama aquele barulho que faz quando chove? As respostas a serem analisadas

    dizem respeito s formas trovo e trovoada que tambm apareceu como uma

    possibilidade de resposta. A ltima opo de resposta possui a maior variao do [o] na

    posio pr-tnica.

    A primeira possibilidade encontrada foi da variao do [o] por [u] na realizao

    [tuv], foi possvel encontr-la nas cidades de Rio Verde, Montes Belos, Cachoeira

    Dourada, Caldas Novas, Formosa, Ipor, Itumbiara, Jata, Quirinpolis, Anpolis, Aruan,

    Bom Jardim, Palmeiras, Campos Belos, Santa Terezinha, So Miguel, Uruau, Vianpolis,

    Cristalina, Mineiros, Jaragu, Itabera, Trs Ranchos, So Simo, Rubiataba, Nova Glria,

    Nova Amrica, Edeia, Corumbaba, Buriti Alegre, Araguapaz.

    Houve tambm essa variao na forma trovoada que formou a produo

    [tuvuad], que ocorreu nas cidades de Alto Paraso, Palmeiras de Gois e Corumbaba.

    Cidades bastante distantes que ocupam regies diferentes no estado de Gois. E [tovuad]

    em Campos Belos.

    Nas variaes da palavra trovoada ocorreram fenmenos que dificilmente poderia

    ser previsto por algumas pessoas, visto que so fenmenos que no ocorrem com grande

    frequncia nesse tipo de variao como a substituio do [o] por [e] que forma [tevoad],

    ocorreu em Crixs, e a substituio do [o] por [i] formando [tivuad], que foi produzida

    nas cidades de So Joo dAliana e Campos Belos.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 448

    Assim como nos outros vocbulos, tambm houve a produo que se aproxima do

    padro da lngua [tov] que foi realizado em Rio Verde, Montes Belos, Caldas Novas,

    Formosa, Ipor, Itumbiara, Alto Paraso, Quirinpolis, So Joo dAliana, Anpolis,

    Aruan, Bom Jardim, Palmeiras, Crixs, Jussara, Luzinia, Planaltina, Santa Terezinha, So

    Miguel, Uruau, Vianpolis, Cristalina, Mineiros, Jaragu, Itabera, Trs Ranchos, So

    Simo, Santa Rita, Rubiataba, Porangatu, Parana, Edeia, Buriti Alegre, Araguapaz.

    Em trovoada no houve a realizao [tovoada] em nenhuma das cidades

    entrevistadas e analisadas.

    5. Resultados

    A variante mais encontrada dentro do corpus foi, sem dvida, a vogal [u]

    ocupando a posio do [o] pr-tnico. A exemplificao desse fenmeno est presente

    em todas as palavras selecionadas:

    Sovaco [suvak] e [subak]

    Tornozelo [tunuzel] e [tohnuze]

    Soluo [sulus]

    Orvalho [uuva], [uuva] e [uuval]

    Trovo e trovoada [tuv], [tuvuad] e [tovuad]

    A segunda variante mais encontrada para o [o] foi o [], com as palavras:

    Soluo [slus]

    Orvalho [hva], [hval], [val] e [uva]

    Outra variante que foi encontrada nessa mesma frequncia foi a com a vogal [a],

    presente nas palavras:

    Soluo [salus]

    Orvalho [auval]

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 449

    Uma das variantes menos frequentes foi a realizao do [o] pr-tnico como [i],

    encontrada na palavra:

    Trovoada [tivuad]

    Outra que tambm no foi muito encontrada foi a produo do [e], como

    variante da forma:

    Trovoada [tevoad]

    Tambm se tem o [] aparecendo apenas em uma das palavras selecionadas:

    Orvalho [uva]

    E a realizao com o [o] na posio pr-tnica, como prev a norma padro da

    lngua ocorreu em quase todas as palavras:

    Sovaco [sovak] e [sobak]

    Tornozelo [tohnozel] e [tonozel]

    Soluo [solus]

    Orvalho [ova], [ova], [ouva], [orval], [oval], [ova] e [ouval]

    Trovo [tov]

    Ela s no ocorreu em trovoada.

    Concluso

    A partir da anlise feita acerca das variantes do o ortogrfico na posio pr-

    tnica, em algumas cidades do estado de Gois, foi possvel perceber que a ideia antes

    da anlise sistemtica era limitada, pensava-se que a nica variao possvel (par

    suspeito) seria a substituio do [o] por [u].

    Depois das observaes, infelizmente, superficiais, com intuito apenas de

    encontrar as possveis variantes, foi admirvel a quantidade de possibilidades e,

    principalmente, a diferente articulao das possibilidades encontradas, pois h

    divergncias notveis.

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 450

    A vogal [o] uma vogal posterior, mdia fechada, arredondada e foi substituda

    pelo [a] que uma vogal central, baixa e no arredondada, e tambm pelo [i] uma vogal

    anterior, alta, no arredondada, e por [e] que anterior, mdia fechada e no

    arredondada.

    Dentro das possibilidades mais prximas, articulatoriamente, tivemos a

    substituio pelo [u] que uma vogal posterior, alta, arredondada, alm do fonema []

    que uma vogal posterior, mdia aberta e arredondada, bastante semelhante com a que

    presente na norma padro da lngua.

    Este estudo proporcionou a observao de outros alofones do [o] presentes na

    lngua oral em Gois, inclusive alguns bastante diferentes dos que so ensinados em

    aulas de fontica e fonologia. bvio que no so alofones de variao livre,

    necessrio que haja uma sistematizao maior para que se descubram as condies

    dessas formas serem aceitveis.

    Referncias bibliogrficas

    CAMARA JR., J. M. Problemas de lingustica descritiva. 20.ed. Petrpolis: Vozes,

    2010.

    COMRIE, B. Language universals and linguistic typology: syntax and morphology.

    2. ed. Chicago: The University of Chicago Press, 1989.

    FERREIRA, C. CARDOSO, S. A. A dialetologia no Brasil. So Paulo: Contexto,

    1994.

    LABOLINGGO: Laboratrio da lngua de Gois. Disponvel em:

    http://www.labolinggo.letras.ufg.br/uploads/437/original_INQU%C3%89RITO_com_re

    spostas_5.pdf

    LADEFOGED, P. Vowels and consonants: an introduction to the sounds of the

    language. 2. ed. Oxford: Blackwell Publishers Ltd., 2001.

    LADEFOGED, P.; MADDIESON, I. The sounds of the worlds languages. Oxford:

    Blackwell Publishers Ltd., 1996.

    SILVA. T. C. Dicionrio de fontica e fonologia. Colaboradoras Daniela Oliveira

    Guimares, Maria Mendes Cantoni. So Paulo: Contexto, 2011.

    http://www.labolinggo.letras.ufg.br/uploads/437/original_INQU%C3%89RITO_com_respostas_5.pdfhttp://www.labolinggo.letras.ufg.br/uploads/437/original_INQU%C3%89RITO_com_respostas_5.pdf

  • Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s U E M S / C a m p o G r a n d e

    I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 V o l u m e 4 N m e r o 1 2 m a i o 2 0 1 4 E d i o E s p ec i a l Hom e n a g e a d o F E R N A N D O T A R A L L O

    Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, n 12, mai. 2014 451

    ___________. Fontica e fonologia do Portugus: roteiro de estudos e guia de

    exerccios. 10. ed., 13 reimpresso. So Paulo: Contexto, 2013.

    WHALEY, L. J. Introduction of typology: the unity and diversity of language.

    Thousand Oaks, London, New Delhi: Sage Publications, 1997.

    Recebido Para Publicao em 20 de abril de 2014.

    Aprovado Para Publicao em 9 de maio de 2014.