PPT sobre Ética e Pesquisa Científica
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A Ética na Pesquisa Científica
Gilberto CâmaraINPE
Ética: uma questão moral?
“Não matarás.”
Ética: uma questão moral?
“Não matarás.”
E se você precisasse matar para fugir de Auschwitz?
Origens da Ética: Aristóteles (384 BC – 322 BC)
“A virtude tem a ver com as paixões e ações, nas quais o excesso e a falta constituem e são censurados, ao passo que o meio é louvado e constitui a retidão”
“A maior virtude ética é a justiça.”
Ética em Aristóteles: vitória da razão sobre os instintos (não tem dimensão moral normativa)
Origens da Ética: Tomás de Aquino (1225- 1274)
“Todas as ações humanas devem ser dirigidas a um fim último, a felicidade de estar com Deus”
Quatro virtudes cardeais
Prudência : ver aquilo que éJustiça: dar o que é devidoCoragem: resistir ao medoTemperança: defender-se das paixões
Ética em Tomás de Aquino: aplicação dos princípios morais (normativa)
“A mente humana pode entender a essência infinita de Deus, mas não há nada que ele possa fazer que o torne imortal”
Origens da Ética: Spinoza (1632-1677)“Deus é uma substância infinita, composta de um infinito de atributos. É a única substância do universo.” (Deus, sive Natura)
Não há Bem ou Mal absoluto; as más ações são feitas por aqueles que não conhecem Deus
Ética em Spinoza: aplicação do conhecimento (cognitiva)
Origens da Ética: Max Weber (1864-1920)
Ética da convicção: conjunto de normas e valores que orientam o comportamento na sua esfera privada (lei moral)
Ética de responsabilidade: conjunto de normas e valores que orientam a decisão na vida pública (lei da eficácia)
Ética em Weber: aplicação da razão pragmática (realista)
Ética Contemporânea: Comte-Sponville (1952-)
Moral: concerne o Bem e o Mal, valores absolutos ou transcendentais (“que devo fazer para ser justo?”)
Ética: trata do bom e do ruim, valores particulares à sociedade e ao indivíduo (“como viver para ser feliz?”)
Ética em Comte-Sponville: conjunto de práticas de ação de uma comunidade
Ética na Pesquisa Científica
Conjunto de práticas de ação adotadas pela comunidade científica
Método Científico: A Visão de Karl Popper
Popper: A questão central da filosofia da ciência é o problema da demarcação: “Como separar a Ciência da não-Ciência?”
Popper: Conjecturas e refutações
Teorias como conjecturas: afirmações plausíveis sobre o universo, que podem ser submetidas a testes críticos, mas nunca podemos saber se são verdadeiras ou não
Observações da natureza Intuições do cientista(Kekulé)??66HC
Conjectura científica(anel do benzeno)
Gravitação Universal como conjectura
Gravitação universal (Newton) explica os movimentos dos planetas medidos por Galileo e Brahe. Mas a gravitação é uma idéia anti-intuitiva....
Conjectura(Newton)
Observações(Brahe, Galileo)
Gravitação Universal como conjectura
“I have not yet been able to discover the cause of these properties of gravity from phenomena and I feign no hypotheses... It is enough that gravity does really exist and acts according to the laws I have explained, and that it abundantly serves to account for all the motions of celestial bodies...” (Newton)
Conjectura(Newton)
Observações(Brahe, Galileo)
Gravitação Universal como conjectura
“That one body may act upon another at a distance through a vacuum without the mediation of anything else, by and through which their action and force may be conveyed from one another, is to me so great an absurdity that, I believe, no man who has in philosophic matters a competent faculty of thinking could ever fall into it. (Newton)”
Conjectura(Newton)
Observações(Brahe, Galileo)
Relatividade geral (Einstein)
Gravitação como deformação do espaco-tempo (conjectura)
Conjectura(Newton)
Medida de deformação de sinais enviados pela sonda Cassini
O Método Científico
Problema Hipótese
ExperimentoResultados e Conclusões
Quem define as práticas coletivamente aceitas?
A comunidade científica é auto-referente e auto-regulada
Ética da comunidade científica: princípios
Primazia: quem publica o primeiro artigo sobre o tema, tem o crédito da descoberta (ou da invenção)
Avanço do conhecimento: todo artigo científico deve conter um resultado inédito e relevante para a Ciência
Reprodutibilidade: todo experimento publicado deve ser replicável por outrem
Ética da comunidade científica: prática
Frequência: número de artigos publicados por ano Impacto: número de citações por artigo Recursos: capacidade de conseguir dinheiro para pesquisa
“Efeito Mateus”
Prestígio!
Ética da comunidade científica: revisão por pares
Revisão por pares
Artigo recebido pelo editor
Enviado para revisores externos
Recomendações dos revisores
Nova revisão
Publicação
Problemas com revisão pelos pares
“Peer review is slow, expensive, profligate of academic time, highly subjective, prone to bias, easily abused, poor at detecting gross defects, and almost useless in detecting fraud.” R. Smith, BMJ
“Houston, we have a problem”
Subjetividade
50 pedidos para financiamento da NSF (Química)Avaliados de forma independente duas vezesConclusão: julgamento depende de quem revisa
S Cole et al, “Chance and consensus in peer review”, Science 1991
second review
Preconceito
Dificuldade em publicar artigos sem fazer parte dos principais centros de pesquisa: problemas de reconhecimento e preconceitos contra autores do Sul
Publish or perish?Revistas de alto impacto geram prestígio…
Pesquisadores vivem sob pressão
Paradoxo da Pesquisa Científica
Prestígio científico mantém o modelo medieval (individual)
Ciência moderna exige grandes investimentos para produzir resultados inovadores
Large Hadron Collider
Prêmio Nobel
Na prática, a teoria é outra…
Quais são os efeitos perversos da primazia?
Problema Hipótese
ExperimentoResultados e Conclusões
Darwin e a publicação da Origem das Espécies
Viagem do Beagle (1831-1836)
Tentilhões de Galápagos
Notas de Darwin
Wallace e a teoria da seleção natural
A.R. Wallace (1823-1913)
Peixe no Amazonas
Flor na Indonésia
Darwin, Wallace e a seleção natural
“On The Tendency of Varieties to Depart Indefinitely from the Original Type” (June, 1858)
Charles Lyell, editor
“All my originality will be smashed” (carta a Lyell)
Quem descobriu o cálculo?
Newton propos o método dos fluxions (baseado em tangentes)
Leibniz propôs o cálculo diferencial (idéia de limite)
DNA: Teoria e observações
Hershey e Chase: DNA é o material genético do virus T2 (1952)
Meischer isolou o DNA (1871)
Levene descobriu a composição (ATCG) mas propôs a estrutura errada (1919)
Quem descobrirá a estrutura do DNA?
King´s College Londres(Wilkings e Franklin)
Cambridge(Watson e Crick)
CALTECH, LA(Pauling)
DNA: Teoria e observações
Imagem atômica do DNA
Foto 51(Franklin, 1952)
Watson e Crick constroem modelos de cartolina. Faltam dados experimentais (1950)
Watson tem acesso à “Foto 51” de Rosalind Franklin e descobre os dados faltantes (1952)
Watson and Crick Nature, 171, pp 737-78 (1953)
Hwang Woo-Suk e a clonagem humana
Clonagem de cachorro(2004)
Science, 3008, 1777 (2005)
Hwang Woo-Suk e a clonagem humana
Na prática, a teoria é outra…
O que fazer quando o experimento não funciona ou diferentes experimentos dão resultados incoerentes?
Problema Hipótese
ExperimentoResultados e Conclusões
Um experimento crucial: o eclipse de 1919A previsão de Einstein, feita em 1916, de que a luz de uma estrela deveria sofrer um desvio de 1,7" ao passar bem perto do Sol, foi testada durante um eclipse total que ocorreu em 29 de maio de 1919. Esse eclipse foi visível em uma faixa que ia do Brasil à Africa
desvio da luz previsto por Einstein
Um experimento crucial: o eclipse de 1919Expedições inglesas enviadas a Sobral e Principe
Foto tirada por Eddington em Principe para medir o desvio da localização das estrelas
Equipamentos da expedição em Sobral
Um experimento crucial: o eclipse de 1919Problema: os dados não coincidiam
Predição da teoria de Newton 0,87”
Predição da teoria de Einstein 1,75”
Sobral (instrumento 1) 1,98”
Sobral (instrumento 2) 0,93”
Principe (instrumento 3) 1,61”
O que fez Arthur Eddington (cientista-chefe)?
Um experimento crucial: o eclipse de 1919Eddington ignorou os dados ruins de Sobral!
Somente em 1979 os dados de Eddington foram reanalisados e o erro na medida de Sobral foi descrito
Harvey, G. M. (1979). “Gravitational Deflection of Light: A Re-examination of the observations of the solar eclipse of 1919.” The Observatory 99, 195-198.
A Cruz de Einstein
The photograph shows four images of a very distant quasar which has been multiple-imaged by a relatively nearby galaxy acting as a gravitational lens.
The quasar seen here is at a distance of 8 billion light years, whereas the galaxy is at a distance of 400 million light years.
Lente Gravitacional G2237 + 0305(fonte: Hubble Space Telescope)
A questão do plágio
In the scientific community, the idea that landscape and urban models must be spatially explicit is common sense, so that they can reproduce and analyze spatial patterns found in geographical reality. Any spatial process has an inherent scale, and attempts to model that process at levels of resolution coarser than the inherent scale will inevitably fail (Parker, 2002).
Este texto está ótimo, mas foi feito com “cut-and-paste”.
Reescreva, não faça plágio
In the scientific community, the idea that landscape and urban models must be spatially explicit is common sense, so that they can reproduce and analyze spatial patterns found in geographical reality. Any spatial process has an inherent scale, and attempts to model that process at levels of resolution coarser than the inherent scale will inevitably fail (Parker, 2002).
Spatially-explicit modeling has great benefits for understanding geographical reality. The location of each change allows a better analysis of the underlying forces that cause change. However, all spatially-explicit models require an adequate choice of the spatial resolution. This resolution depends on the inherent scale of the spatial process being modeled. If we model the process at an inappropriate scale, the model will not be realistic (Parker, 2002)
Você pode se plagiar?
Reuso de até 30% de um artigo científico anterior é o limite máximo aceitável para um novo artigo
Artigo em conferência pode ser aproveitado para revista
Partes de um artigo científico podem também ser reusadas para um artigo de divulgação
(Pamela Samuelson, Self-Plagiarism or Fair Use, Communications of the ACM, August 1994)
Na prática, a teoria é outra…
O que fazer quando você é um cientista do terceiro mundo?
Problema Hipótese
ExperimentoResultados e Conclusões
Ciência Brasileira
Bohr Pasteur
Edison
Relevância para aplicações imediatas
Rele
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Ciência no Norte: o panorama visto de Harvard
Fonte: Stokes, D. E. (1997). Pasteur's Quadrant: Basic Science and Technological Innovation.
Ciência no Sul: o panorama visto de Capricórnio
Conteúdo
téorico (leis)
Ecologia e Meio Ambiente
Computação
Agricultura tropical
Geociências
Biologia tropical
Matemática
Física
Ciência Espacial
Conteúdo aplicado (resultados) 100%
100%
Ciência do Sul: percentual relativo típico entre teoria e aplicações
Conteúdo aplicado (novos resultados)
Ciência no Sul: o panorama visto de Capricórnio
-11%
-14%
-31%
-31%
-66%
-45%
-12%
-12%
Maior impacto: áreas teóricas (Matemática, Física) e áreas com resultados visíveis (“efeito Amazônia”)
Impacto relativo dos papers da Ciência Brasileira (2003-2007) comparado à média mundial (fonte:ISI)
Ecologia e Meio Ambiente
Computação
Agricultura tropical
Geociências
Biologia tropical
Matemática
Física
Ciência EspacialConteúd
o téorico
(leis)
100%
100%
Conteúdo aplicado (novos resultados)
Ciência no Sul: o panorama visto de Capricórnio
Ecologia e Meio Ambiente
Computação
Agricultura tropical
Geociências
Biologia tropical
Matemática
Física
Ciência Espacial
As áreas mais diferenciadas da Ciência brasileira são as que tem menor impacto no Exterior.
-11%
-14%
-31%
-31%
-66%
-45%
-12%
-12%
Conteúdo
téorico (leis)
A perversidade dos índices de impacto
O peso da colaboração internacional
Numero de artigos
Percentagem
Autores intern.
209 85%
Só brasileiros 39 15%
Total 248
Papers com autores brasileiros com mais de 100 citações no SCI: quem fez?
Se quiser ser citado, publique junto com gringos
Parker e Meneghini, Anais da ABC, 2006
O “efeito Mateus” no prestígio científicoÍndice-h dos membros das Academias de Ciências: Brasil e EUA
(Mugniani et al., Braz J of Medical and Biological Research, 2008)
Ciência nos países do Sul sempre terá menor impacto
O que você faria?
F Feitosa, G Câmara, A Monteiro, T Koschitzki, M Silva, “Global and Local Spatial Indices of Urban Segregation”, International Journal of Geographical Information Science, vol 21(3):299-323, March 2007.
É honesto exagerar para publicar?
Cenários para a Amazônia em 2020 segundo Laurance et al, 2001
Cenário otimista: 28% de desmatamento Cenário pessimista: 42% de desmatamento
“We generated two models with realistic but differing assumptions--termed the "optimistic" and "nonoptimistic" scenarios--for the future of the Brazilian Amazon. The models predict the spatial distribution of deforested or heavily degraded land, as well as moderately degraded, lightly degraded, and pristine forests”.
W. Laurance et al, “The Future of the Brazilian Amazon?”, Science, 2001
The Future of Brazilian Amazonia?
Optimistic scenario: 28% of deforestation (1 million km2) by 2020Complete degradation up to 20 km from roads (existing and
projected)Moderate degradation up to 50 km from roadsReduced degradation up to 100 km from roads
Laurance et al., 2001Cenário otimista (2020)
Cerrado e desmatamento
Degradação moderada
Degradação leve
Floresta intocada
Cenário de catástrofe e realidade observada...
Dado real do INPE (Prodes, 2008)
Savannas, non-forested areas, deforested or heavely degrated
Desmatamento
Floresta
Laurance et al., 2001Cenário otimista (2020)
Cenário de catástrofe e realidade observada...
Dado real do INPE (Prodes, 2008)
Cerca de 1 milhão de km2 desmatados em 2020
Cerca de 500 mil km2 desmatados até 2009
Para que o cenário otimista de Laurence acontecesse, seria preciso desmatar 50 mil km2 por ano de 2010 a 2020!
Pesquisadores do 3o. Mundo escrevem para Science
Amazon Deforestation Models: Challenging the Only-Roads Approach“Deforestation predictions presented by Laurance et al. are based on the assumption that the governmental road infrastructure is the prime factor driving deforestation. Simplistic models such as Laurance et al. may deviate attention from real deforestation causes, being potentially misleading in terms of deforestation control.”
Texto publicado como “letter”, sem o mesmo destaque do artigo original de Laurance.
Exagero de gringo tem mais valor que resposta de dalit!
Conselhos para cientistas do Sul
Participe de redes informais de pesquisa (simpósios e workshops)
Acompanhe a agenda de pesquisa em sua área
Conselhos para jovens cientistas do Sul
Trabalhe com colaboradores internacionais
Escreva seus artigos com a melhor qualidade possível e não espere ter grande impacto
Escola de Ciência ou Escola de Samba?
Monte um grupo de pesquisa realmente cooperativo, onde todos se ajudam!
Brasil: ambiente menos competitivo que EUA
Aproveite ser um brasileiro e abrace nossa cultura informal
Resumo: A ética científica é amoral
Siga as regras da ética científica para conseguir publicar
Não tenha ilusões:1. Ciência é atividade competitiva2. Os limites da ética científica são fluidos3. Há muita gente desonesta
...procure manter-se íntegro mesmo assim!
Resumo: A ética científica é amoral
Conheça as regras e os limites da ética científica e não tenha ilusões
Fazer Ciência não lhe fará ser uma pessoa melhor......mas mesmo assim você poderá ser feliz, se souber como agir!