Prefácio Monarquia

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  • 7/22/2019 Prefcio Monarquia

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    PREFCIO

    A proclamao da Repblica em 5 de Outubro de 1910 no resolveu, naturalmente, a questo

    do regime poltico. As dissenses no interior da monarquia, que contriburam para a sua

    queda, mantiveram-se, mas sofreram reorganizaes de forma a que as foras monrquicas

    assegurassem a resistncia Repblica e perspectivassem a restaurao, distinguindo-se

    claramente duas linhas: uma de tendncia constitucionalista, seguidora de D. Manuel II, que

    desejava a restaurao pela via parlamentar; outra legitimista, de inspirao militar e

    revolucionria, de incio com o rei deposto, mas que, mais tarde, em face da persistncia de

    falta de entendimento, vai direccionar as suas atenes para a descendncia de D. Miguel (que

    tinha sido banida pelas cortes liberais no rescaldo da guerra civil de 1832-1834). da linha

    militar, liderada por Paiva Couceiro, que derivam as incurses monrquicas que, logo em 1911-

    1912, se fizeram sentir especialmente nas zonas de fronteira do Norte de Portugal, as quais

    foram sempre rechaadas com sucesso pelas foras republicanas, sentindo-se a sua presena

    em vrias conspiraes no decorrer do tempo.

    Os monrquicos voltaram a ganhar forte esperana na restaurao do trono por ocasio do

    sidonismo, tendo aderido em massa ao movimento do presidente-rei Sidnio Pais,

    assegurando lugares no governo e no parlamento, influenciando ideologicamente a

    organizao do sistema. E, tendo percebido, a fragilidade do sistema e do seu chefe, cujo

    desaparecimento temiam, foram dos mais activos na organizao de Juntas Militares (do

    Norte e do Sul), providenciando desta forma a resistncia a eventuais dificuldades que

    surgissem posteriormente, embora nem sempre estivessem de acordo entre si, uma vez que

    na Junta do Norte predominavam monrquicos e na do Sul republicanos que seguiam o

    sidonismo.

    Reposta a Repblica, aps o assassinato de Sidnio, foi destes meios que surgiram as

    movimentaes conducentes Monarquia do Norte. Perante movimentos que exigiam a

    reposio integral da Constituio de 1911 e a recuperao poltica dos partidos da designada

    "repblica velha", so os monrquicos do Norte com influncia militar que, a 19 de Janeiro de

    1919, proclamam a restaurao da monarquia em Portugal, sublevando a guarnio militar do

    Porto, aclamando D. Manuel II, instituindo de novo a bandeira azul e branca e o Hino da Carta

    como smbolos nacionais, repondo a Carta Constitucional de 1826 com os seus actos

    adicionais. Constituram para assumir o governo uma Junta Governativa Provisria do Reino de

    Portugal, presidida por Paiva Couceiro, enquanto no se constitusse o governo nacional emLisboa. A partir do edifcio do Governo Civil do Porto a Junta Governativa publica decretos,

    reintegra antigos militares monrquicos, nomeia novos governadores civis, dimana ordens

    para o reconhecimento da monarquia pelas cmaras municipais, para as quais so nomeadas

    comisses administrativas, orienta a sua tropas para dissuadir situaes locais de resistncia.

    A sublevao no encontrou oposio suficiente a Norte do Douro, a nvel institucional, com a

    excepo de Chaves, que se manteve fiel Repblica. Mas no conseguiu chegar a Aveiro.

    Entretanto, em Lisboa, O governo republicano apelava mobilizao das tropas fiis e aos

    voluntrios para a defesa das instituies republicanas, tendo uma forte resposta popular,

    com uma impressionante manifestao a 22 de Janeiro. ento que os monrquicos dacapital se revoltam, numa fuga para a frente, entrincheirando-se em Monsanto e da

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    bombardeiam a capital e convidam o governo rendio. Aos poucos os republicanos foram

    vencendo as dificuldades, no obstante algumas unidades militares se declararem neutrais. A

    24 de Janeiro, era a vez de os monrquicos se renderem.

    Entretanto, as foras republicanas vo convergir, mais uma vez, para o Norte, numa libertao

    gradual das localidades controladas pelos monrquicos, s vezes com combates contundentes,j que os monrquicos no se limitavam a fugir, antes procuravam resistir e dominar as

    populaes adversas, s vezes custa de incndios e violncias tpicas de uma guerra civil,

    neste caso bastante circunscrita, mas com alguns confrontos que ficaram na memria das

    populaes locais. Da violncia impositiva, ou seja, da traulitada usada pelos monrquicos

    resultou a expresso jocosa Traulitnea, enquanto terra onde se aceitava o tipo de tropelias

    veiculada pelas foras que queriam impor o regresso do Rei e do anterior regime

    A 13 de Fevereiro, era a vez da Guarda Real (nova designao da Guarda Republicana) se

    sublevar no Porto contra as foras monrquicas, reimplantando a Repblica na cidade,

    banindo a proclamada Junta Governativa do Reino, pondo fim ao conflito.

    A presente publicao revela-nos episdios locais desta luta de libertao contra a monarquia,

    com relevo para a aco dos voluntrios da causa republicana, trazendo memria

    personagens e episdios, alguns bem tristes. o caso da morte de Eugnio Vilares,

    combatente republicano, natural de Sambade, cado nos confrontos de Mirandela, episdio

    que serve de pretexto publicao evocativa de Joo Baptista Vilares, seu familiar. essa

    publicao que, em boa hora, agora se reedita, devidamente introduzida por Lurdes Graa,

    estudiosa que tem dedicado sua terra outros textos de natureza historiogrfica, e que aqui

    contextualiza os acontecimentos e o autor de forma adequada compreenso do leitor,

    acrescentando outros documentos de interesse histrico no s para a histria local, comopara a histria geral.

    Jorge Fernandes Alves