Primordios Do Capitalismo - HEG

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Primórdios do capitalismo Como resultado da abertura de novas minas de prata nas Américas entre 1540 e 1600, a Europa passou a ser fartamente abastecida por uma abundância de dinheiro metálico, o que facilitou o estabelecimento de uma verdadeira economia baseada em um sistema de preços. Com efeito, tal fenômeno levou a uma grande transição em todo o arranjo econômico: várias economias até então meramente locais se fundiram em uma grande economia nacional; o feudalismo deixou de existir e deu lugar ao capitalismo comercial; um arranjo de comércio comparativamente pequeno abriu espaço para uma época de extenso comércio internacional. Esta mudança na estrutura econômica costuma ser rotulada, pelos historiadores econômicos, de "Revolução Comercial". Em primeiro lugar, todos os mercantilistas entendiam que o objetivo supremo de toda e qualquer atividade econômica era o benefício do estado. Para eles, os interesses do estado sempre deveriam ter prioridade em relação aos interesses do indivíduo. O propósito de todas as doutrinas mercantilistas é — e sempre foi — aumentar o poder econômico do estado. Os interesses do estado de modo algum tinham de estar necessariamente em harmonia com as atividades do indivíduo. Para os mercantilistas, coisas como salários, juros, indústria e comércio deveriam ser regulados de modo a sempre beneficiar o estado. Não tardou muito para que tudo isso levasse a uma grande ênfase à importância da acumulação de metais por um estado. Os mais conhecidos porta-vozes dos interesses dos tecelões eram John Cary e John Pollexfen. Assim como outros mercantilistas, eles basearam suas argumentações no conceito de que o estado era uma entidade econômica, e clamaram por uma política econômica nacional específica que beneficiasse o estado. Cary e Pollexfen julgavam os benefícios do comércio de acordo com a natureza das exportações e importações, e não de acordo com seu volume e valor. Em outras palavras, "só é vantajoso para o Reino o comércio que exporta nossos produtos e manufaturas; que importa para nós mercadorias que ajudem na fabricação de nossas manufaturas; que nos forneça bens sem os quais não poderíamos manter nosso comércio exterior; e que estimule nossas navegações e aumente nosso número de marinheiros". Baseando-se nestes critérios, o comércio com as Índias orientais era tido como prejudicial e nada benéfico para a Inglaterra. Consequentemente, os mercantilistas da época deixaram de valorizar

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Primrdios do capitalismo

Como resultado da abertura de novas minas de prata nas Amricas entre 1540 e 1600, a Europa passou a ser fartamente abastecida por uma abundncia de dinheiro metlico, o que facilitou o estabelecimento de uma verdadeira economia baseada em um sistema de preos.

Com efeito, tal fenmeno levou a uma grande transio em todo o arranjo econmico: vrias economias at ento meramente locais se fundiram em uma grande economia nacional; o feudalismo deixou de existir e deu lugar ao capitalismo comercial; um arranjo de comrcio comparativamente pequeno abriu espao para uma poca de extenso comrcio internacional. Esta mudana na estrutura econmica costuma ser rotulada, pelos historiadores econmicos, de "Revoluo Comercial".

Em primeiro lugar, todos os mercantilistas entendiam que o objetivo supremo de toda e qualquer atividade econmica era o benefcio do estado. Para eles, os interesses do estado sempre deveriam ter prioridade em relao aos interesses do indivduo. O propsito de todas as doutrinas mercantilistas e sempre foi aumentar o poder econmico do estado. Os interesses do estado de modo algum tinham de estar necessariamente em harmonia com as atividades do indivduo. Para os mercantilistas, coisas como salrios, juros, indstria e comrcio deveriam ser regulados de modo a sempre beneficiar o estado. No tardou muito para que tudo isso levasse a uma grande nfase importncia da acumulao de metais por um estado.

Os mais conhecidos porta-vozes dos interesses dos teceles eram John Cary e John Pollexfen. Assim como outros mercantilistas, eles basearam suas argumentaes no conceito de que o estado era uma entidade econmica, e clamaram por uma poltica econmica nacional especfica que beneficiasse o estado. Cary e Pollexfen julgavam os benefcios do comrcio de acordo com a natureza das exportaes e importaes, e no de acordo com seu volume e valor. Em outras palavras, "s vantajoso para o Reino o comrcio que exporta nossos produtos e manufaturas; que importa para ns mercadorias que ajudem na fabricao de nossas manufaturas; que nos fornea bens sem os quais no poderamos manter nosso comrcio exterior; e que estimule nossas navegaes e aumente nosso nmero de marinheiros".Baseando-se nestes critrios, o comrcio com as ndias orientais era tido como prejudicial e nada benfico para a Inglaterra. Consequentemente, os mercantilistas da poca deixaram de valorizar o comrcio estrangeiro pelos seus prprios benefcios e at mesmo pelos metais preciosos que ele trazia para o pas, mas sim de acordo com seus efeitos sobre as indstrias nacionais.osiah Child e Charles Davenant. Eles no negavam o bvio fato de que o comrcio indiano era prejudicial para determinadas indstrias britnicas, mas ainda assim afirmavam que tal fato no era o bastante para condenar o comrcio com as ndias orientais. Em vez de critrios mercantilistas e protecionistas, eles tentaram estabelecer uma nova regra para testar se um determinado comrcio era benfico para um pas ou no:O melhor e mais infalvel critrio observar se h um aumento ou uma diminuio de nosso comrcio como um todo. Se o comrcio for volumoso e estiver crescendo contnua e diariamente, tanto importaes quanto exportaes, e se isso estiver ocorrendo no somente por alguns anos, mas por eras, ento tal comrcio tem de ser nacionalmente proveitoso.Utilizando este critrio e recorrendo a fatos que eles haviam coletado como prova de que o comrcio com as ndias orientais vinha promovendo a prosperidade geral da nao, eles foram capazes de apresentar um argumento convincente de que o comrcio com as ndias orientais era benfico para todo o pas. Da mesma maneira, e inversamente, eles tentaram mostrar que as propostas de se proibir o uso de todos os tecidos indianos importados seria deletrio para a Inglaterra.

O comrcio, por sua prpria natureza, livre. Ele capaz de encontrar seu prprio conduto e capaz de se dirigir ao melhor arranjo. Todas as leis criadas com o intuito de impor regras e direes, de limitar e confinar o comrcio, iro servir apenas aos objetivos particulares de determinados indivduo. Raramente sero benficos para o pblico.

Capitalismo A Grande Inveno

E a realidade que, para as massas, a histria do ltimo milnio foi uma histria de fome, escassez e doenas. Na Inglaterra do sculo XII, por exemplo, ocorria uma crise de inanio generalizada a cada 14 anos. Do sculo XIII ao sculo XVII, a escassez de alimentos aparecia a cada 10 anos. J nos dias de hoje, quando se fala em 'tempos difceis', isso nada tem a ver com surtos de fome, inanio e doenas letais exceto em pases da frica, onde no h nem resqucios de capitalismo. Esses episdios, comuns quela poca, mataram dezenas de milhes, e obrigaram as pessoas a comer cachorros e cascas de rvores.E mesmo aqueles que no sofriam com a fome tambm no viviam com conforto. Para a maioria das pessoas, as casas eram minsculas, com um buraco em seus tetos de junco e palha para permitir que a fumaa sasse. As cidades tinham apenas uma bomba d'gua, que era a fonte de toda a cidade. A rede sanitria era precria, e surtos de lepra, escorbuto e tifide eram coisas comuns e esperadas. As pessoas se consideravam abenoadas quando seu filho conseguia sobreviver ao primeiro ano de vida, e eram muito poucos os adultos que passavam dos 30 anos de idade.A primeira ruptura nessa longa histria de sofrimento aconteceu com o surgimento das sociedades comerciais da Espanha e do norte de Itlia, e depois com a revoluo industrial na Gr-Bretanha. As pessoas passaram ento a fugir em manada do interior rural em direo s fbricas. Hoje os historiadores dizem que as condies de trabalho nessas fbricas eram deplorveis, com longas e duras horas de trabalho. Sim, mas qual o padro de comparao? As condies eram ruins comparadas a quais outras? A alternativa para a maioria das pessoas era viver como um indigente ou como uma prostituta ou morrer de fome nas reas rurais.

Muito pouca ateno dada aos hericos proprietrios das primeiras fbricas. Eles geralmente eram pessoas humildes, que incorreram em enormes riscos empresariais e que reinvestiam seus lucros na expanso das fbricas, em benefcio dos trabalhadores.Eles conseguiram abrir suas fbricas mesmo sob forte oposio das elites j estabelecidas, que no queriam concorrncia e que os acusavam de estar enchendo a cidade de "gentalhas" e "rals". O nico apoio intelectual que esses empreendedores tinham vinha dos economistas liberais clssicos, que perceberam que essa iniciativa empreendedorial representava liberdade e prosperidade para o homem comum.O que estava sendo produzido nessas fbricas? No eram bens para a nobreza, mas vesturios e equipamentos utilizados pelas pessoas comuns para melhorar sua vida diria. Como disse Mises, essa foi a primeira vez na histria em que aproduo em massa foi feita para as massas.Mas qual foi a causa fundamental dessa revoluo? O desenvolvimento econmico, que nos trouxe alimentos abundantes, boa nutrio, saneamento e um grande avano medicinal. E, no entanto, analise nosso comportamento atual: simplesmente assumimos que restaurantes, bares, lanchonetes e supermercados com enormes variedades so coisas comuns, que sempre existiram e sempre existiro. Ficamos irritados quando acaba o estoque de picanha do supermercado, e sequer tocamos na alface que j murchou na prateleira. Deveramos ter em mente que somos apenas a terceira ou a quarta gerao na histria do mundo que tem acesso rotineiro a essas coisas "banais" todos os dias do ano.E qual , por sua vez, a causa de todo esse desenvolvimento econmico? Essa to vilipendiada instituio chamadacapitalismo, uma palavra que significa nada mais do que liberdade de gerir a sua propriedade, de fazer trocas voluntrias e de inovar. O capitalismo se mostrou o mais espetacular motor do progresso humano, e sua expanso foi a maior ideia dos ltimos sculos. Todo o conforto material de que desfrutamos hoje devemos economia de mercado, que talvez seja o menos compreendido e mais atacado alicerce da vida civilizada.A legitimidade do capitalismo global como sendo o sistema dominante de produo, distribuio e trocas ser erodida ainda mais, at o nervo central de seu sistema...; embora os viles j tenham sido abundantemente apontados, todo o problema central est na dinmica desse sistema capitalista global, desregulado e voltado para as finanas. Certamente, essa convico de que o problema est no sistema de mercado acolhida gostosamente por todos os burocratas que atualmente regulam a economia e provavelmente por quase todos os professores universitrios mundiais.

"Esse capitalismo desregulamentado tem de acabar", esperneia a mdia, sempre desnorteada, exigindo que os governos e seus bancos centrais assumam o controle (o qual nunca abandonaram) e apliquem regulamentaes punitivas ao mercado, dando-lhe uma "conscincia" e acabando com essa "ganncia infecciosa".

Com a arrecadao no acompanhando o aumento dos gastos, polticos ameaam colocar na cadeia empresrios sob qualquer suspeita de 'sonegao', que nada mais do que o pecado supremo de querer manter para si os frutos de seu prprio trabalho.

Eles dizem no querer erradicar a economia de mercado e nem substitu-la pelo socialismo; eles querem apenas melhor-la, deix-la mais transparente, torn-la mais honesta e salv-la de si prpria. Essa a argumentao favorita dos moderados, que se dizem a favor do mercado, mas contra um capitalismo sem controles. (A bvia contradio entre mais controle estatal e mais honestidade e transparncia algo que aparentemente lhes escapa).

No importa se o problema foi ganncia, erro ou apenas um mau prognstico, os mercados so implacveis. A bancarrota ser o resultado. Os governos podem apenas postergar o inexorvel. Que estejam utilizando dinheiro dos pagadores de imposto para tentar adiar os problemas e salvar empresas com boas conexes polticas algo que, alm de imoral, trar resultados malficos mais pra frente. Nenhuma instituio e certamente no o governo tem um maior desejo de se corrigir a si prpria do que o mercado.Entretanto, se voc acredita que h algum pecado no cerne do capitalismo, ento de fato no faz sentido permitir que o mercado se policie a si prprio. Voc certamente ir querer deixar tal servio para polticos e burocratas. A consequncia ser inevitvel: uma vez que os reguladores estiverem livres para "corrigir" a economia de mercado, no haver fim quantidade de falhas e defeitos que a classe poltica para proveito prprio ir descobrir e tentar corrigir.O resultado final sero mercados restringidos e aleijados at o ponto em que no conseguiro fazer o que supostamente devem fazer. Na melhor das hipteses, teremos uma sociedade imvel, burocratizada e paralisada, com escassez de inovaes e oportunidades, tendo de sustentar um estado assistencialista improdutivo e recheado de corrupo poltica. Isso, por sua vez, ir infectar toda a mentalidade das pessoas, encorajando uma atitude de dependncia e de resignao, algo contrrio ao esprito empreendedor, que o que traz desenvolvimento. aqui que se requer imaginao. O problema que as atividades do governo inibem as atividades privadas e reduzem os servios do setor privado para nveis menores do que seriam em um livre mercado. Antes da era do assistencialismo, as instituies de caridade do sculo XIX formavam uma vasta operao cujo tamanho era comparvel ao das maiores indstrias. Elas se expandiam de acordo com as necessidades. Eram em grande parte supridas por igrejas atravs de doaes, e a questo tica estava l: todos davam uma poro do oramento familiar para o setor caritativo. Uma freira como Madre Cabrini chegou a cuidar de um verdadeiro imprio beneficente.

E ento veio a era progressista, e a ideologia mudou. A caridade passou a ser considerada um bem pblico, algo a ser estatizado. O estado comeou a invadir um territrio at ento reservado ao setor privado. E medida que o assistencialismo estatal cresceu durante o sculo XX, o tamanho comparativo do setor privado diminuiu. Vejam a situao trgica de Europa, justamente o continente que deu luz aos servios de caridade. Hoje, poucos europeus doem para a caridade porque todos tm a crena de que esse um servio para o governo. Alm do mais, tendo que pagar impostos abusivos, realmente no sobra muito para doaes.

Pense bem na histeria que vivenciamos nos ltimos cinco anos, a quem direcionaram a culpa e a quem pediram solues, e voc ter a perfeita definio de um mundo s avessas. algo no apenas incrvel, como tambm assustador. A economia de mercado criou uma prosperidade incomensurvel e, dcada aps dcada, sculo aps sculo, gerou miraculosos feitos de inovao, produo, distribuio e coordenao social. Ao livre mercado devemos toda a nossa prosperidade material, todo o nosso tempo de lazer, nossa sade e longevidade, nossa enorme e crescente populao e praticamente tudo o que chamamos de vidaem si. Ocapitalismo, e apenas o capitalismo, salvou a humanidade da pobreza degradante, das enfermidades desenfreadas e da morte prematura.

Compare o histrico do capitalismo com o do estado, que, apenas no sculo passado,matou centenas de milhes de pessoascom seus campos de concentrao, suas guerras e com a fome provocada tanto pela economia planejada quanto deliberadamente, como estratgia poltica. E o prprio histrico do tipo de planejamento central que agora est sendo imposto ao mundo totalmente abismal.

Considere adescrioque Ludwig von Mises fez da cultura intelectual predominante em 1931, quando o mundo ia se afundando na depresso econmica:O sistema econmico capitalista, que o sistema social baseado na propriedade privada dos meios de produo, hoje rejeitado unanimemente por todos os governos e partidos polticos. Mas nenhum acordo foi feito em relao a qual sistema econmico deve substitu-lo no futuro. Muitos, embora nem todos, veem o socialismo como o objetivo final. Eles teimosamente rejeitam o resultado do exame cientfico da ideologia socialista, o qualdemonstrou a impossibilidade econmica do socialismo. Eles se recusam a aprender com os experimentos socialistas da Rssia e de outros pases europeus.Entretanto, considerando-se os objetivos das atuais polticas econmicas, parece haver um completo acordo entre as partes. A finalidade um arranjo econmico que supostamente represente uma soluo conciliatria, um "meio-termo" entre socialismo e capitalismo. No h a inteno de abolir a propriedade privada dos meios de produo; a propriedade privada poder continuar existindo, embora sendo regulada, controlada e tributada, e tendo suas aplicaes direcionadas pelo governo e por outros agentes do aparato coercivo do governo. Com relao a esse sistema intervencionista, a cincia econmica demonstra com indiscutvel lgica que ele contrrio razo; demonstra que essas intervenes, que objetivam moldar o sistema, jamais podero cumprir os objetivos que seus proponentes esperam alcanar, e que cada interveno ter consequncias inesperadas e indesejveis.