PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA...

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Volume 1, Número 1 ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017 Artigo Processo de construção da leitura e da escrita Páginas 38 a 53 38 PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA Wandeylsa Viégas Soares Romão 1 Wandeyldna Barboza Viégas² RESUMO - O presente artigo propõe uma reflexão sobre o processo da construção do sentido da leitura e da escrita em crianças de Educação Infantil e as dificuldades que a permeiam. Para essa análise, observou-se literaturas que versam acerca dos sentidos produzidos pelos interlocutores durante o processo de construção de textos. Essas discussões perpassam pelo âmbito escolar onde se analisa o processo de ensino aprendizagem da leitura e escrita, tendo em vista que para o desenvolvimento da escrita e para a construção do sentido da mesma é necessário que a leitura se faça presente, porém, não nos restringimos à leitura de livros didáticos, mas a leitura de mundo, dos mais diversos símbolos e portadores de texto. Durante o processo de leitura o educando consegue atingir níveis de autonomia, reflexão e criticidade. Buscamos, portanto a contribuição de diversos estudiosos que abordam a temática no âmbito da leitura/escrita e os benefícios que a fomentação dessas práticas trazem para o desenvolvimento cognitivo dos educandos. As teorias discutidas nesse artigo vão ao encontro de diversas teses linguísticas que mostram a importância da leitura e escrita na formação do educando. Palavras-chave: leitura - escrita - sentido aprendizagem. ABSTRACT - This article proposes a reflection on the process of the construction of the sense of reading and writing in children in early childhood education. For this analysis, it was observed that literature about the meanings produced by versam interlocutors during the construction process of texts. These discussions pertain to the scope where it scans school teaching process learning of reading and writing, with a 1 Graduada em Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú - UVA. ² Mestre em Educação pela Unigrendal

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PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA

Wandeylsa Viégas Soares Romão1

Wandeyldna Barboza Viégas²

RESUMO - O presente artigo propõe uma reflexão sobre o processo da construção do

sentido da leitura e da escrita em crianças de Educação Infantil e as dificuldades que a

permeiam. Para essa análise, observou-se literaturas que versam acerca dos sentidos

produzidos pelos interlocutores durante o processo de construção de textos. Essas

discussões perpassam pelo âmbito escolar onde se analisa o processo de ensino

aprendizagem da leitura e escrita, tendo em vista que para o desenvolvimento da escrita

e para a construção do sentido da mesma é necessário que a leitura se faça presente,

porém, não nos restringimos à leitura de livros didáticos, mas a leitura de mundo, dos

mais diversos símbolos e portadores de texto. Durante o processo de leitura o educando

consegue atingir níveis de autonomia, reflexão e criticidade. Buscamos, portanto a

contribuição de diversos estudiosos que abordam a temática no âmbito da leitura/escrita

e os benefícios que a fomentação dessas práticas trazem para o desenvolvimento

cognitivo dos educandos. As teorias discutidas nesse artigo vão ao encontro de diversas

teses linguísticas que mostram a importância da leitura e escrita na formação do

educando.

Palavras-chave: leitura - escrita - sentido – aprendizagem.

ABSTRACT - This article proposes a reflection on the process of the construction of

the sense of reading and writing in children in early childhood education. For this

analysis, it was observed that literature about the meanings produced by versam

interlocutors during the construction process of texts. These discussions pertain to the

scope where it scans school teaching process learning of reading and writing, with a

1Graduada em Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú - UVA.

² Mestre em Educação pela Unigrendal

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view to the development of writing and the construction of meaning of same is required

reading if you do this, however, does not restrict the reading of textbooks, but the

reading world, a variety of symbols and text holders. During the process of reading the

learner can achieve levels of autonomy, reflection and criticality. We seek, so the

contribution of various scholars who discuss the topic in the context of reading/writing

and the benefits that the fomentation of such practices bring to the cognitive

development of the students. The theories discussed in this article will meet various

linguistic arguments that show the importance of reading and writing in the formation of

the learner.

Keywords: Reading – writing – sense - learning

INTRODUÇÃO

Analisando a forma como o processo de ensino aprendizagem da leitura e da

escrita na Educação Infantil vem sendo concebido, nos deparamos com diversas

dificuldades no que tange a construção do sentido, ou seja, o educando lê, porém não

consegue estabelecer uma relação entre os textos escritos e os seus significados.

Portanto, quais os mecanismos de ensino estão sendo privilegiados no âmbito escolar

que acabam por inviabilizar a prática da leitura e escrita?

A leitura e a escrita não são devidamente aproveitadas no âmbito escolar, se

perdendo durante o processo de aquisição a importância que se deve dar à construção do

sentido do texto, tornando-o significativo para os educandos.

Considerando que os processos de leitura e escrita são primordiais para o

desenvolvimento dos educandos, as relações que se estabelecem entre interlocutores e

textos precisam ser analisados cuidadosamente, visto que o processo de aquisição da

leitura tem sido pautado meramente na codificação desses textos. Portanto, este artigo

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justifica-se pela necessidade de se entender a prática da leitura e escrita como partes

indissociáveis, que são responsáveis pela autonomia e senso crítico-reflexivo dos

educandos em seu processo de letramento.

Nessa perspectiva, deve-se levar em consideração os métodos e estratégias

pedagógicas, bem como a concepção que o educador tem acerca do ato de ler e escrever

em relação a sua função social. Sendo assim, objetiva-se com essa pesquisa, analisar as

práticas pedagógicas no processo de construção da leitura e da escrita e quais os

caminhos que os educandos permeiam para dar significado ao que leem e escrevem,

compreendendo o verdadeiro valor da língua escrita ou falada para a sociedade.

A metodologia empregada para o desenvolvimento da pesquisa consiste em uma

pesquisa de cunho bibliográfico, na qual será levantado todo o referencial teórico

necessário para embasar as discussões.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Sentido do ato de ler e escrever

É compreendido que o ato de escrever é uma consequência do ato de ler. É

preciso captar com os olhos as imagens das letras, guardá-las no reservatório que temos

em nossa mente e utilizá-las para compor depois as nossas próprias palavras.

(SCILIAR, 1995)

Antes mesmo de ingressar ao ambiente escolar, a criança já faz uso da

linguagem através da interação com a família e essa aprendizagem primária não deve

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ser descartada, sendo portanto, levada em consideração ao escolher os métodos e

estratégias para o desenvolvimento da leitura e escrita. O processo de aquisição da

linguagem não tem sido motivo de tantas preocupações, por parte dos estudiosos dessa

temática. O que tem chamado à atenção dos linguistas é o processo de aquisição da

linguagem escrita e consequentemente da leitura e os mecanismos que perpassam o

campo da construção do sentido.

Ferreiro e Palácios (1987), ressaltam que imersa em um mundo onde há presença

de sistemas simbólicos socialmente elaborados, a criança procura compreender a

natureza dessas marcas especiais. Para tanto, como já fez com outros tipos do objeto,

vai descobrindo as propriedades dos sistemas simbólicos através de um prolongado

processo construtivo, essa compreensão só está sendo possível, através dos estudos da

teoria psicogenética de Piaget. Os estudos de Emília Ferreiro demonstram que as

crianças constroem hipóteses a respeito da escrita e da leitura, da mesma forma que o

fizeram para a aprendizagem da língua materna, a oral. As crianças a todo o momento

que em necessitam escrever algo, são colocadas à prova, pois necessitam pensar, se

questionar, sobre os “riscos”, os sinais devem representar o que vão escrever, dentre

outros aspectos. (TFOUNI, 2000).

Alfabetizar tem se tornado um verdadeiro desafio, tendo em vista todas as

dificuldades e equívocos que permeiam esse processo. A prontidão para a leitura e a

escrita, depende muito mais das ocasiões sociais do contato com a leitura e a escrita, do

que de qualquer outro fator cognitivo, emocional ou psicológico. No ato de ler e

escrever, além de mobilizar o conjunto dessas funções intelectuais, a criança também

precisa ter vontade de expressar ou comunicar alguma experiência vivida, por tudo isso

a aprendizagem da escrita é importante para o desenvolvimento humano, e por ser

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importante a aprendizagem da escrita devemos fazer com que ela aconteça de maneira

adequada (MELLO E MILLER,2008).

A escrita constitui-se como uma representação simbólica da linguagem falada,

porém não consegue ser totalmente fiel a ela, pois as possibilidades do uso da

linguagem falada são inúmeras, e a escrita tenta apenas aproximar-se desse universo.

Ferreiro (2001), aponta algumas posturas que são de suma importância para que as

práticas pedagógicas consigam atingir resultados satisfatórios, e que permitam crianças

serem alfabetizadas.

É necessário mudar a própria concepção do objeto, para que se entenda por que a

alfabetização implica em um trabalho conceitual, que em certo sentido é similar ao caso

da matemática. A criança pode recitar o abecedário, tanto como recitar a série dos

números. Contudo, isso não basta para chegar a noção de número, nem basta para

entender o que estáescrito e qual a sua relação com a língua oral. A modificação do

objeto conceitual é imprescindível. (FERREIRO, 2001, p.22)

Diante dos problemas que perpassam a nossa sociedade, é notável que todas as

vertentes educacionais estejam empenhadas a trabalhar de forma que venham

proporcionar ao educando uma formação que lhe garanta uma autonomia, emancipação,

liberdade, responsabilidade, reflexão e criticidade. Os avanços de estudos na

compreensão da linguagem nas últimas décadas, no tocante ao estudo da língua falada, e

sua incorporação pelo discurso oficial, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais

principalmente, têm desestabilizado a tradição escolar. O ato da aprendizagem não deve

resumir-se apenas a teoria de livros didáticos, tão pouco ficar atrelados a conhecimentos

que não poderão ser aplicados no dia a dia. A nova temática educacional tende a

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desenvolver a educação de forma que o professor possa refletir a sua realidade, o

contexto do aluno e o da escola.

No livro Psicogênese da Língua Escrita, as autoras destacam que uma das

grandes necessidades de mudança está, principalmente, a prática educativa

predominante, ainda nos dias atuais, pela maioria dos alfabetizadores, a pedagogia

tradicional. Nessa pedagogia, a escola ignora a progressão natural do desenvolvimento

da criança em relação à aquisição da língua escrita, priorizando o ingresso imediato ao

código escrito, na busca por tentar compreender o código alfabético. Parte-se do

pressuposto, que todas as crianças já conseguem compreender o código alfabético assim

que iniciam sua vida escolar, desde que o professor ensine passo a passo as partes que

integram a escrita, partindo do que ele considera o mais simples (letras e sílabas) até

chegar ao mais complexo (frases e textos), transmitindo-lhe o equivalente sonoro das

letras e exercitando-as na realização gráfica da cópia. Com isso, constata-se que há uma

distância muito grande entre o que a escola ensina e o que a criança realmente aprende.

Nessa prática, possibilita-se que a criança aprenda a função da escrita de modo

descontextualizado a partir da apropriação desse objeto, seguindo uma lenta construção

de critérios que lhe permitem compreendê-lo, critérios esses estabelecidos pelo

educador e não nos momentos de descoberta da criança a partir de suas próprias

construções na interação com o objeto de conhecimento.

As autoras destacam ainda que as principais dificuldades iniciais observadas nos

profissionais de ensino no decorrer da pesquisa foram: em primeiro lugar, a visão que o

adulto, já alfabetizado, tem do sistema de escrita; em segundo lugar, a confusão entre

escrever e desenhar letras e; em terceiro lugar, a redução do conhecimento do leitor ao

conhecimento das letras e seu valor sonoro convencional. Os professores adquirem

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essas dificuldades em sua própria alfabetização, ou seja, na forma como foram

alfabetizados. Para isso se faz necessária a busca desses profissionais pelo

conhecimento da evolução psicogenética para poder contribuir com os avanço nessa

área e abandonar a visão errônea do processo.

Surge então, o desafio da capacitação, para resgatar o professor adormecido

frente às mudanças educacionais necessárias, para resgatar os seres pensantes,

reflexivos e construtores. A importância de iniciar pelo que ele pensa se dá na

valorização e respeito das hipóteses individuais, prática que eles precisam ter com os

alunos, no entanto, isso não significa que capacitação será limitada no que ele pensa,

mas a partir daí surgirão oportunidades para refletir e construir, ampliando assim os

conhecimentos. Por essa razão, o instrumento chave desse professor é sua reflexão, pois

se o educando é um sujeito que se alfabetiza ao interagir com seu próprio processo de

alfabetização, o professor deve ser aquele a quem devem ser oferecidos instrumentos

que resgatam sua reflexão teórica sobre sua prática, para que a construção de sua

trajetória se dê em processo paralelo ao de seus educandos, dessa forma descobrirá

como e por quê modificar a sua prática. (FREIRE apud FERREIRO, 1990).

Passando por esse processo de construção, fica mais fácil para o educador

compreender que a criança precisa elaborar a língua escrita, construir e compreender as

diferenças entre sua forma de escrita e a convencionalmente aceita. Conhecer esta

diferença permite ao professor compreender o que acontece com as crianças quando,

por exemplo, tentem registrar aquilo que pensam, mas desconhecem a estrutura do

sistema alfabético. Essas produções darão ao educador a zona de desenvolvimento real

dessa criança, sendo esse o ponto de partida para o desenvolvimento do trabalho

pedagógico. (FERREIRO, 2001a).

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Ferreiro (2001) destaca que no Brasil, alguns educadores, a partir dos estudos

das obras de suas obras, realizaram algumas mudanças em suas práticas. Iniciaram um

processo onde era permitido às crianças escreverem e lerem coisas não-habituais na sala

de aula e, passaram a estimular os processos de interação entre as crianças, produções

de textos na Educação Infantil e Especial. Detectaram-se educadores entusiasmados

com os progressos dos alunos, que começaram não apenas a observar e estimular, como

também a registrar o processo de desenvolvimento dos alunos, além de que passaram a

compreender a criança como alguém que sabe e que sua aprendizagem depende

basicamente dela, e não apenas do que é oferecido pelo educador, assim como era

encarada na visão tradicional de ensino.

Etapas do processo de alfabetização

Faz parte do processo de construção da leitura e escrita, as crianças passarem por

avanços e recuos durante o seu desenvolvimento. Cada criança possui um ritmo

individual e o tempo para que possa se apossar do código linguístico é algo muito

relativo e singular. O professor (a) deve portanto respeitar esse tempo e compreender

que se trata de um processo, no qual ele é agente primordial, que através da sua didática,

proporciona meios e estímulos que servirão como aportes, os quais conduzirão a criança

à apropriação da leitura e escrita. Emília Ferreiro, diz:

O desenvolvimento da alfabetização ocorre, sem dúvida, em um

ambiente social. Mas as práticas sociais, assim como as informações

sociais, não são recebidas passivamente pelas crianças.Quando tentam

compreender, elas necessariamente transformam o conteúdo recebido

(FERREIRO, 1992, p.24).

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O processo de alfabetização é portanto um desenvolvimento interno, que

acontece diferentemente em cada individuo de acordo com os estímulos que o mesmo

recebe do meio em que está inserido. Emília Ferreio(1999)elencou algumas propostas

relevantes no processo de alfabetização inicial:

- Restituir à língua escrita seu caráter de objeto social;

- Desde o início (inclusive na pré-escola) se aceita que todos na escola podem produzir

e interpretar escritas, cada qual em seu nível;

- Permite-se e estimula-se que a criança tenha interação com a língua escrita, nos mais

variados contextos;

- Permite-se o acesso o quanto antes possível à escrita do nome próprio;

- Não se supervaloriza a criança, supondo que de imediato compreendera a relação entre

a escrita e a linguagem;

- Não se pode imediatamente, ocorrer correção gráfica nem correção ortográfica.

Como já mencionado anteriormente, o professor (a) deverá levar em

consideração o saber que a criança já traz consigo da sua vida familiar, e trazer esse

contexto cotidiano para a sala de aula, afim de dividir aprendizagens entre os (as) alunos

(as), pois de acordo com Emília Ferreiro (2001), a criança constrói o conhecimento

através de sequências de hipóteses. Segundo a teoria da Psicogênese da Língua escrita, a

criança passa por quatro níveis de escrita, são elas:

Pré-silábico: não possui a capacidade de relacionar as letras com os sons

da língua oral. Nessa fase, a criança começa a diferenciar as letras dos

números, dos desenhos ou dossímbolos e adquiri o conhecimento do

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papel das letras na escrita. Assimila que as letras são utilizadas para

escrever.

Silábico: tem a capacidade de interpretar a letra ao seu modo, atribui

valor de sílaba a cada uma.Quando a criança chega ao nível silábico,

sente-se confiante porque descobre que pode escrever com lógica. Ela

conta os “pedaços sonoros”, isto é, as sílabas, e coloca um símbolo

(letras) para cada pedaço (sílaba). Essa noção de que cada sílaba

corresponde a uma letra pode acontecer com ou sem valor sonoro

convencional.

Silábico-alfabético: é uma fase avançada da silábica, pois já compreende

a lógica da fase anterior com a identificação de algumas sílabas.

Nessafase, a criança está a um passo da escrita alfabética. O professor

deve realizar um trabalho de reflexão com o aluno sobre o sistema

linguístico partindo da observação da escrita alfabética e da reconstrução

do código. É o momento em que o valor sonoro torna-se imperioso e a

criança começa a acrescentar letras principalmente na primeira sílaba.

Alfabético: Possui o domíniodo valor das letras e das sílabas.Quando a

criança constrói e reconstrói o sistema linguístico compreendendoa sua

organização, ela ingressa no mundo das coisas escritas, conseguindo ler e

expressar na escrita o que pensa ou fala. Nesse fase, a criança escreve

foneticamente (faz a relação entre som e letra), mas não

ortograficamente. Após a concretização dessa fase, o professor irá

desenvolver a criança à correção da ortografia e gramatical.

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De acordo com Oliveira (2008) alfabetizar, vai além de ensinar ao aluno

decodificar, significa proporcionar ao aluno o conhecimento de qual utilidade e como

esses códigos estão presente no seu dia a dia. Alfabetização também significa

Letramento, processo que possibilita a criança a apropriação e o uso social das

habilidades de leitura e escrita.

Métodos de alfabetização: sintético e analítico

A psicolinguista argentina Emília Ferreiro, com uma metodologia baseada nos

princípios da abordagem construtivista, autora da Psicogênese da língua escrita

juntamente com Ana Teberosky, critica o método tradicional de alfabetização, no qual

subentende-se que a criança já é conhecedora dos códigos, utilizando palavras isoladas,

descontextualizadas que não oferecem sentido algum ao aluno. Dentre os métodos mais

conhecidos de alfabetização, estão o método sintético e o método analítico.

O método sintético corresponde a um processo mais rápido, mais tradicional de

alfabetização, o qual aplica-se à qualquer criança. O método sintético estabelece uma

correspondência entre o som e a grafia, entre o oral e a escrita, através do aprendizado

sequenciado de letra por letra, sílaba por sílaba e palavra por palavra. Esse método não

leva o aluno a perceber a palavra como um todo, apenas compreende-las por partes

isoladas, sem significação, o que impede a compreensão da leitura. Isso impossibilita o

aluno tanto na compreensão de textos quanto nas elaborações.

No que diz respeito ao método analítico, este é totalmente diferente ao sintético,

pois leva o aluno a analisar a palavra completa, para então chegar às partes isoladas que

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a compõe. Seu propósito e fazer com que as crianças possam compreender o sentido do

texto. Não é um processo que parte do aprendizado da silabação. Parte do macro para o

micro, estimulando os alunos a construção de textos, à leitura, e com isso proporciona o

desenvolvimento da capacidade de organização dos pensamentos e como expressá-los.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A psicogênese da língua escrita, não só nos possibilita ampliar nossos

conhecimentos sobre o ato de alfabetizar, como também sobre todo o processo de

construção do conhecimento do indivíduo, enquanto ser pensante e criativo, dotado de

capacidades inatas e adquiridas. Um dos principais objeto de estudo por Piaget,

Vygotsky, Wallon e Ferreiro, dentre outros autores que muito contribuíram a luz da

psicologia e pedagogia para a compreensão dos fatores cognitivos, sociais e afetivos que

influenciam diretamente nas aprendizagens desses sujeitos.

Vale ressaltar que as pesquisas realizadas e que deram origem à psicogênese da

língua escrita, foram e continuam sendo de fundamental importância para educadores e

todos os se encontram envolvidos direta ou indiretamente com o processo de

aprendizagem, para que compreendam a forma de pensar da criança ao entrar em

contato com a escrita, como ela elabora as suas hipóteses e todo o processo de

construção. Com certeza, essa é uma colaboração imensurável para o ensino e,

principalmente, para que as crianças sejam respeitadas em suas particularidades pela

escola e pelos adultos de forma geral. Possibilitar uma aprendizagem onde o respeito

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intelectual será garantido, é assegurar uma aprendizagem significativa e real, onde cada

um se expressa em sua individualidade e aprende a respeitar a individualidade do outro.

Vivemos em um momento no qual a preocupação com os sentidos atribuídos ao

que se lê e/ou escreve tem aumentado consideravelmente, tendo em vista as dificuldades

apresentadas pelos alunos.

Este artigo buscou compreender através de leituras de diversas obras que versam

sobre o tema e discussões com os professores, as reais causas para essa distorção de um

processo que deveria seguir uma linearidade natural. Visto que a escrita constitui um

instrumento do desenvolvimento cognitivo, cabe à instituição escolar utilizar a escrita

em parceria com os demais recursos expressivos que fazem parte do cotidiano da

criança e não como fazem alguns professores que acreditam só estar trabalhando à

escrita através de livros e leituras que muitas vezes possuem termos fora da realidade do

educando. Durante o processo de construção da escrita, a criança formula diversas

hipóteses sobre a representação gráfica de sua fala, mas nem sempre esta fase é

compreendida pelos educadores, o que pode acabar comprometendo a sólida formação

do educando. Com isso, percebe-se a real necessidade em abordar o assunto em questão.

Usualmente define-se leitura a partir de uma perspectiva individual, sendo

considerado o resultado de um período determinado de escolarização. Logo, ler não é

inato ao ser humano. A dimensão social se apresenta de modo mais evidente, idealizada

independentemente dos sujeitos que dela necessitam.Porém atualmente se tem uma

leitura como prática mecânica de aprendizagem se tem uma escola que se arvora no

direito de formar leitores dessa sociedade, sem que os mesmos sejam considerados

dentro do ambiente escolar. E é esta mesma escola que quer discutir a leitura como

prática social, articulada com as demais práticas que ocorrem em uma sociedade. É de

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suma importância indagar que sociedade é esta que pode aceitar ou conceber uma

programação educacional quando se observa que o exercício da leitura depende do

funcionamento e integração de pelo menos três fatores: um sistema – o da escrita, um

processo – o de alfabetização e um conjunto de valores – o que postula a importância de

a pessoa dominar o código escrito. Para interagirem, esses fatores dependem da

existência de algumas instituições, sendo a escola a instituição mais representativa e

responsável pelo processo de alfabetização do indivíduo. É ela quem consolida os

métodos de alfabetização, tornando-os, a condição necessária para a efetiva

aprendizagem da habilidade de ler.

A construção da escrita e da leitura não tem idade para iniciar, tudo depende da

maturidade dos alunos, mas essa aprendizagem sistêmica pode muito bem começar na

Educação Infantil para que posteriormente a criança consiga um maior desenvolvimento

e um melhor rendimento nas aulas e consequentemente em sua alfabetização. A escola

se incumbiu de introduzir a criança ao mundo da escrita; essa tarefa complexa envolve

mais que ensinar a codificar e decodificar signos, pois a leitura é processo muito amplo:

é atribuir significado aos sinais gráficos, conforme o sentido que o escritor lhe atribui e

conforme também a relação que o leitor estabelece com sua própria experiência. Ler

envolve reagir com os sentidos (quando se vê e se ouve os símbolos gráficos) e com a

emoção (apreciar, desgostar, concordar ou discordar, identificar-se, satisfazer-se). O

mundo dos livros não é o outro que não o mundo da comunicação e da linguagem em

seu sentido mais amplo. O livro é uma realidade interdisciplinar que em muitas de suas

manifestações está relacionada com outros modos de expressão que formam a bagagem

comunicativa da criança desde seus primeiros anos. O prazer de “ler” é antecedido pelo

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prazer da escrita e da observação e evolui para uma atitude de curiosidade leitora diante

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Volume 1, Número 1

ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017

Artigo

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