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ROSANA RIT ROSANA RIT ROSANA RIT ROSANA RIT ROSANA RITA FOLZ A FOLZ A FOLZ A FOLZ A FOLZ Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo para a obtenção do grau de Doutor. Orientador Prof. Assoc. RICARDO MARTUCCI São Carlos, junho 2008 PROJET PROJET PROJET PROJET PROJETO TECNOLÓGICO O TECNOLÓGICO O TECNOLÓGICO O TECNOLÓGICO O TECNOLÓGICO PARA PRODUÇÃO DE ARA PRODUÇÃO DE ARA PRODUÇÃO DE ARA PRODUÇÃO DE ARA PRODUÇÃO DE HABIT HABIT HABIT HABIT HABITAÇÃO MÍNIMA AÇÃO MÍNIMA AÇÃO MÍNIMA AÇÃO MÍNIMA AÇÃO MÍNIMA E SEU MOBILIÁRIO E SEU MOBILIÁRIO E SEU MOBILIÁRIO E SEU MOBILIÁRIO E SEU MOBILIÁRIO

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ROSANA RITROSANA RITROSANA RITROSANA RITROSANA RITA FOLZA FOLZA FOLZA FOLZA FOLZ

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação doDepartamento de Arquitetura e Urbanismo da

Escola de Engenharia de São Carlos daUniversidade de São Paulo para a

obtenção do grau de Doutor.

Orientador Prof. Assoc. RICARDO MARTUCCI

São Carlos, junho 2008

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP

Folz, Rosana Rita F671p Projeto tecnológico para produção de habitação mínima

e seu mobiliário / Rosana Rita Folz ; orientador Ricardo Martucci. –- São Carlos, 2008.

Tese (Doutorado-Programa de Pós-Graduação em

Arquitetura e Urbanismo e Área de Concentração em Arquitetura, Urbanismo e Tecnologia) –- Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2008.

1. Design. 2. Projeto tecnológico. 3. Habitação de

interesse social. 4. Design do produto. 5. Mobiliário. I. Titulo.

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AAAAAGRADECIMENTGRADECIMENTGRADECIMENTGRADECIMENTGRADECIMENTOSOSOSOSOS

Ao Prof. Assoc. Ricardo Martucci pela orientação;

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP - pela bolsa concedida;

Ao Grupo de Pesquisa ARCHTEC por seus trabalhos, basedesta pesquisa;

Aos Professores Azael Rangel de Camargo, Dijon de Moraes,Hugo Camilo Lucini, Maria Cecília Loschiavo dos Santos eRosane Aparecida Gomes Battistelle pelas contribuições daBanca do Exame de Qualificação e pareceres da Banca deDefesa;

Às empresas, indústrias e moradores entrevistados pelasimportantes informações;

Aos companheiros e Professores da Pós-Graduação doDepartamento de Arquitetura e Urbanismo - EESC-USP pelasconversas e debates realizados ao longo da pesquisa;

Ao Marcelinho (Marcelo Celestini), secretário da Pós-Graduação, sempre solícito e eficiente;

Ao Christian, Tatiana e Nicolas, pela paciência e apoio ao longodesta fase da pesquisadora.

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RESUMORESUMORESUMORESUMORESUMO

O Projeto Tecnológico está presente nos setores industriaisavançados como a base sobre a qual todas as ações projetuaise produtivas são desenvolvidas. Sua inclusão no projeto e naprodução habitacional e moveleira é ainda embrionária.

Frente a baixa qualidade desta produção, está se propondoum Projeto Tecnológico que seja aplicado na produção dahabitação de áreas mínimas, ocupadas pelas famílias de baixarenda, e na produção do mobiliário destinado a este públicoconsumidor. Nesta relação entre a unidade habitacional e seumobiliário é acrescentada a diversidade de formações familiaresapresentada pelos moradores de Conjuntos Habitacionais.

Para a concretização de projetos e design que propõem soluçõesalternativas para se atingir a almejada qualidade da habitaçãoe do móvel, é necessário considerar a implantação de um ProjetoTecnológico que possa abarcar toda a complexidade que aquestão envolve.

PPPPPalavrasalavrasalavrasalavrasalavras-----chavechavechavechavechave:Design; Projeto Tecnológico; Habitação de In-teresse Social; Design do Produto; Mobiliário

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ABSTRAABSTRAABSTRAABSTRAABSTRACTCTCTCTCT

A Technological Project can be finding in the advanced industrialsector and it is the base of all projects and productions actions.But its inclusion in house and furniture design and production isstill in the very beginning.

Since the quality of such production is very low, it’s presenting aproposal to apply a Technological Project for the minimumhousing for low income families, and in the production offurniture, usually purchased by such families. In this relationbetween the housing unity and the furniture is added the diversityof family configuration which is seen in the social homes.

To bring to reality the designs of alternatives solutions to meetthe desired standard of house and furniture quality, it urges totake into consideration a Technological Project to deal with thecomplexity of such subject.

KKKKKeywordseywordseywordseywordseywords: Design; Technological Project; Social Housing;Product Design; Furniture.

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SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO

INTRODUÇÃO

1

1 – ARQUITETURA, DESIGN e TECNOLOGIA 7

1.1 – Projeto Tecnológico 9

1.2 – Tecnologia e Arquitetura – Habitação 17

1.3 – Tecnologia e Design Industrial – Móvel 57

1.4 – Habitação Mínima 103

1.5 – Flexibilidade da unidade habitacional

125

2 – PRODUÇÃO HABITACIONAL e MOVELEIRA 161

2.1 – Construção Habitacional no Brasil 163

2.2 – Habitação de Interesse Social 187

2.3 – Avaliações Pós-Ocupação 223

2.4 – Móvel Popular

259

3 – PROJETO TECNOLÓGICO – Habitação e Mobiliário 285

3.1 – Estrutura Tecnológica 287

3.2 – Projeto do Produto 305

3.3 – Projeto da Produção

325

CONSIDERAÇÕES FINAIS

337

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 343

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11111introdução

Este trabalho é a continuação da pesquisa iniciada no Mestradoque tratou do Mobiliário na Habitação Popular, quando entãofoi feita uma análise e crítica da situação do móvel popularinserido na habitação. Identificou-se então possíveis linhas deatuação na busca de propostas alternativas para a otimizaçãodo uso do espaço doméstico das habitações de interesse so-cial. Ao final deste primeiro estudo concluiu-se que a habitaçãomínima para a população de baixa renda não pode serprojetada sem se levar em consideração o mobiliário e osequipamentos que ocuparão parte significativa da área damoradia.

Por estas habitações serem produzidas para uma clientelaanônima, existe uma dificuldade em identificar as necessidadese aspirações destes moradores, lacuna esta que as AvaliaçõesPós-Ocupação procuram preencher. O que estas Avaliaçõesdeixam transparecer é que as mudanças sociais tem sido maiságeis e dinâmicas que o setor imobiliário, que oferece umproduto que não coaduna com as evoluções sociais visíveisnas diferentes formações familiares, na revolução de hábitosdomésticos surgida como reflexo da inserção da tecnologia dainformação, e outros fatores. Acrescentando-se a estainadequação, está o fato das dimensões das unidadeshabitacionais, tanto para a classe média como para a populaçãode baixa renda, ter se reduzido cada vez mais pela própriavalorização do solo urbano como do custo do metro quadradode construção. Com uma planta padronizada rígida e depequenas dimensões, estas unidades habitacionais podem gerarsensações de congestionamento que afetam o desempenho doindivíduo e/ou seu conforto, podendo criar situaçõespatológicas, como doenças e desorganização social.

INTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

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22222 introdução

Estas situações de congestionamento são denunciadas pelasAvaliações Pós-Ocupação realizadas em diversos ConjuntosHabitacionais que revelam existir uma distância muito grandeentre o lay-out do mobiliário das unidades apresentado pelasconstrutoras e promotores públicos habitacionais e a realidadeencontrada depois que os moradores ocupam estas moradias.

Aparece aqui um outro vilão desta situação que são os móveisdisponíveis para equipar estas habitações. Depara-se comprodutos que apresentam uma baixa qualidade de materiais eum design inadequado para mobiliar pequenos espaços.

Enquanto a classe média ainda tem condições de adquirir algunsmóveis sob medida que se adaptam melhor ao espaçodisponível, mesmo que para isto o custo dos móveis seja maiselevado do que o produzido industrialmente, a população debaixa renda depende do que é oferecido no comércio.

Juntando-se então uma habitação de pequenas áreas,compartimentada em pequenos cômodos e equipada commóveis e equipamentos volumosos e pouco flexíveis, tem-seum quadro da situação atualmente vivida principalmente pelasfamílias que se encontram na base da pirâmide populacional.

Para atender melhor os diferentes modos de vida e diminuir ocongestionamento destas habitações mínimas, existem propostasque enfocam uma flexibilização dos espaços domésticos atravésda incorporação de conceitos de multifuncionalidade eversatilidade, indo de encontro com o que Cardia (1981)defendia como forma de minimizar a sensação decongestionamento através de um melhor agenciamento domobiliário com outras características da casa. O conceito deflexibilidade aplicada à habitação mínima pressupõe umaabordagem de todos elementos que compõem esta habitação,como móveis, vedações, instalações técnicas, equipamentoseletro-eletrônicos, enfim, uma concepção onde todos os agentesinternos se interrelacionem devidamente.

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33333introdução

Por estas unidades possuírem áreas muito restritas, um projetoda unidade em sintonia com seus equipamentos diminuiria ograu de congestionamento, ampliaria as possibilidades de usoe conseqüentemente melhoraria a qualidade de vida dosmoradores. Portanto, este espaço doméstico mínimo precisaser trabalhado de forma integral, onde exista uma comunicaçãoentre os elementos arquitetônicos e os equipamentos demobiliário. Persegue-se aqui uma evolução dentro daconcepção habitacional que gira em torno de conceitos deflexibilidade e tecnologia. São conceitos extremamente amplosque podem gerar diversos resultados. No caso desta tese, estásendo enfocada a situação de uma habitação mínima queprecisa oferecer uma planta flexível, onde a tecnologia estariapresente, tanto para baratear seu custo de produção bem comopara possibilitar a almejada flexibilidade, tanto de produção,de uso e de manutenção.

Antes de se investir em projetos concretos de uma habitaçãoque considere o mobiliário como parte integrante da unidade,é necessário investigar sobre uma possível nova estruturanecessária dos setores envolvidos nesta produção paraconcretizar tal projeto. Para tanto, é premente explorar um novocaminho projetual desenvolvendo os estudos necessários paraembasar um novo paradigma de projeto e produçãohabitacional.

Esta pesquisa se insere nesta busca por novos caminhos,analisando o atual nível tecnológico e elaborando teorias parase criar a base para novas ações. Este conjunto de teorias estáse denominando de Projeto Tecnológico para a produção dehabitações mínimas que possam apresentar uma diversidadede configuração espacial, tendo como principal característicaa oferta de espaços domésticos flexíveis comunicando-se como mobiliário. Entende-se como Projeto Tecnológico a definiçãode parâmetros que orientam o processo de concepção doprojeto arquitetônico bem como de design industrial,considerando a tecnologia disponível como meio deproporcionar a criação de elementos e sistemas que venham a

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44444 introdução

constituir espaços equipados, identificando os agentesenvolvidos nesta nova concepção e produção habitacional.

O conteúdo desta tese foi então dividido em três grandes blocosrepresentados pelos capítulos que abarcam temas que vão dabase conceitual-teórica até o Projeto Tecnológico propriamentedito.

No Capítulo 1 são trabalhados conceitos importantes com fortecaráter histórico que embasam alguns discursoscontemporâneos sobre a interdisciplinaridade de áreas, comoa arquitetura e o design, com foco na habitação e no móvel.Inicia-se com o conceito do próprio termo Projeto Tecnológico,situando esta tese em uma das linhas de pesquisa desenvolvidaspelo Grupo de Pesquisa ARCHTEC – Arquitetura, Tecnologia eHabitação, que foi coordenado pelo Prof. Dr. Ricardo Martucci,que trata de Políticas e Projetos Tecnológicos para Habitação eEquipamentos Urbanos com o seguinte objetivo:

estudar as articulações teóricas e conceituais das práticasarquitetônicas integradas às práticas produtivas e deorganização do trabalho, no sentido de estabelecer critérios,exigências e padrões de desempenho tecnológico queinstrumente as Políticas tecnológicas para o Setor Habitacionale de Equipamentos Urbanos. (ARCHTEC, 2005)

Após esta abertura tratando do principal conceito, o capítulopassa a se subdividir na exploração e resgate histórico derelações entre tecnologia, arquitetura e design na sociedadeindustrial, mas especificadamente, a partir do movimentomoderno que deixou fortes marcas no debate da inserção daarquitetura e do design na cultura tecnológica moderna. Dentrodestas relações são então tratados os estudos sobre a habitaçãoconsiderada mínima em vários aspectos, mas principalmenteem termos espaciais, e sobre a evolução das propostas deflexibilidade habitacional também debatidas a partir do iníciodo século XX, trabalhada de forma radical nos anos de 1960 e1970 para assumir novas abordagens na contemporaneidade.Com isto fecha-se este bloco de base teórico-conceitual para

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55555introdução

no capítulo seguinte iniciar uma aproximação da realidade atualda produção habitacional e moveleira no Brasil.

Portanto, o Capítulo 2 expõe esta realidade tecnológica daconstrução civil do subsetor habitacional e suas intrincadasrelações, bem como a situação da produção de habitaçõespara a população de baixa renda. Esta produção é analisadaprincipalmente sob duas vertentes. De um lado, expondo opadrão construtivo empregado nos conjuntos habitacionais bemcomo o projeto das unidades, portanto abordando a parte físicada habitação, e por outro lado, avaliando o interior destahabitação com o foco no usuário, através de avaliações pós-ocupação. Esta análise procura um entendimento sobre a ofertados atuais programas habitacionais sob o aspecto da qualidadedo produto habitação. Continuando o estudo do interiorhabitacional, encontra-se o móvel popular que é analisado sobsua lógica de produção e comercialização.

Apoiado nestes dois primeiros capítulos, o capítulo 3 pretendetrabalhar a estruturação do Projeto Tecnológico para ahabitação mínima para a população de baixa renda e seumobiliário . De acordo com as reflexões realizadas e expostasnos dois primeiros capítulos, a estrutura deste projeto, quedefinirá estratégias de ações para a concretização de uma linhaprojetual inovadora, abordará ações de iniciativas pública eprivada. Este Projeto Tecnológico agrupará concepções,algumas já consolidadas e outras inovadoras, que indicam umcaminho possível de ser trilhado para uma nova abordagemda habitação de interesse social, sob uma visão sistêmica,aplicável em qualquer outro tipo de edificação. No entanto,salienta-se aqui a urgência da aplicação desta nova abordagem,principalmente em diferentes iniciativas públicas, em Programasde Pesquisa, de Qualidade da Construção Civil como de De-sign, para a habitação de interesse social pelo seu atual baixonível qualitativo e pela necessidade de suprir um alto déficithabitacional.

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66666 introdução

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77777capítulo 1 - arquitetura, design e tecnologia

1. ARQUITETURA, DESIGN E TECNOL1. ARQUITETURA, DESIGN E TECNOL1. ARQUITETURA, DESIGN E TECNOL1. ARQUITETURA, DESIGN E TECNOL1. ARQUITETURA, DESIGN E TECNOLOGIAOGIAOGIAOGIAOGIA

Para a estruturação de um Projeto Tecnológico para a produçãode habitação mínima e seu mobiliário buscou-se as basesconceituais e históricas referentes às questões que tal Projetoenvolve, principalmente relativos ao produto habitação e aoproduto móvel. Após uma abordagem sobre o próprio ProjetoTecnológico, expõem-se aqui as relações da tecnologia com aarquitetura e o design ao longo do século XX, oferecendoimportantes referências para a concepção da habitação e domóvel contemporâneo.

Referindo-se a um dos objetos de pesquisa que é a habitaçãocom áreas muito pequenas, discorre-se sobre o tema dahabitação mínima e da flexibilidade no uso do espaçodoméstico, recorrendo-se a discussões e propostas queapareceram desde o início do século passado e que continuamsendo preocupações muito atuais.

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88888 capítulo 1 - arquitetura, design e tecnologia

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99999capítulo 1.1- projeto tecnológico

1.1 - PROJET1.1 - PROJET1.1 - PROJET1.1 - PROJET1.1 - PROJETO TECNOLÓGICOO TECNOLÓGICOO TECNOLÓGICOO TECNOLÓGICOO TECNOLÓGICO

Antes de discorrer sobre o Projeto Tecnológico propriamentedito, faz-se aqui uma breve análise sobre os paradigmas datecnologia e sua relação com o desenvolvimento sócio-indus-trial. É importante destacar que todo Projeto Tecnológico estáinserido em condições sociais e econômicas de um determinadoperíodo histórico de qualquer sociedade.

Falar em tecnologia como sendo a simples aplicação da ciênciapara a criação de novos produtos industriais ou como umaforma de conhecimento voltada para a utilidade, para o valorde uso de uma mercadoria, acompanha o raciocínio de umdeterminismo tecnológico que situa a tecnologia como algoindependente de condições produtivas, naturais, sociais epolíticas de cada país, como bem lembra Vargas (1984). Atecnologia na realidade é sempre testada, de um lado, pelos“detentores do capital e os quadros técnicos que detêm oconhecimento tecnológico, e de outro,” pelos “trabalhadores ea sociedade civil com suas reivindicações e manifestações”(VARGAS, 1984, p.19).

Mesmo que exista uma interação entre as necessidades dasociedade e das empresas industriais, grande parte doparadigma tecnológico é imposto pelo empresariado que buscaestabelecer normas de consumo que estejam de acordo comseus modos de produção. A questão que surge é como quebrareste paradigma tecnológico para que a sociedade tenha ummaior peso neste jogo de forças para uma melhor definição desuas reais necessidades, interrompendo a inércia material esocial imposta pelo aparato industrial.

O paradigma tecnológicoO paradigma tecnológicoO paradigma tecnológicoO paradigma tecnológicoO paradigma tecnológico

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1010101010 capítulo 1.1- projeto tecnológico

Dosi (1982, p.137) destaca que a origem de um novoparadigma se encontra na interrelação entre os avançoscientíficos, fatores econômicos, variáveis institucionais, edificuldades não resolvidas pelo caminho tecnológicoestabelecido. No entanto, o surgimento de novos paradigmasinduz transformações substanciais na estrutura produtiva,forçando um processo de desenvolvimento ao longo de umatrajetória tecnológica definida pelo próprio paradigma. Aevolução desta trajetória “é influenciada tanto por fatoreseconômicos, entre os quais se destacam as condições demercado, como por elementos institucionais e políticos, comoa intervenção do Estado, fomentando ou restringindo odesdobramento de determinadas trajetórias” (ERBER, 1988, p.21).

Para alimentar o desenvolvimento de novos paradigmas énecessário elaborar teorias que possam criar uma baseestruturada para novas ações. Nelson e Winter (1977) destacaminclusive o poder da base intelectual na orientação de novaspolíticas que possam influenciar setores e atividades econômicasparticulares. Neste caso a teoria deve ser ampla o suficientepara abarcar e ligar as variáveis relevantes e seus efeitos,relacionando o progresso tecnológico de cada setor com aestrutura institucional, e forte o suficiente para apontar novosrumos no caso de mudança dessas variáveis.

Quando se aborda então o paradigma tecnológico da produçãohabitacional, principalmente para famílias de baixa renda, queimplica em forte subsídio do Estado, passa-se a questionar opapel do setor público na definição do padrão tecnológico.Segundo Alva (1984, p.14):

É importante (...) destacar que os organismos públicosresponsáveis pelos investimentos de infra-estrutura socialparecem considerar a tecnologia como uma constante ou fatorfixo, em vez de considera-la como uma variável que podereceber mudanças induzidas. Esta circunstância, que advémdos paradigmas profissionais em voga nos setores técnicosmais conservadores, contrasta com o considerável potencial

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1111111111capítulo 1.1- projeto tecnológico

de intervenção do setor público que dispõe, de fato, de umasérie de vantagens, que não são utilizadas na prática, paraorientar o desenvolvimento tecnológico: o Estado é o maiorcliente das empresas construtoras de habitações ou de infra-estrutura urbana; é a autoridade normativa e controladora dosprocedimentos construtivos; e, além disso, é o maior financiadorde habitações de interesse social.

No entanto, os interesses econômicos das empresas privadasse sobrepõem à posição que o setor público deveria ter narepresentação dos interesses sociais, no reconhecimento eproteção do pluralismo cultural e cuidado com o meio ambiente(ALVA, 1984, p.17). Não se reconhece com clareza aqueleEstado que deveria estar presente na definição da tecnologiapara ser empregada na produção dos bens e serviçoshabitacionais, convergindo critérios sociais e econômicos.

Portanto, a seleção tecnológica para a produção habitacionalé influenciada pelo paradigma tecnológico, que além de serum conjunto de idéias, conhecimentos, atitudes, pressupostos,são também preconceitos compartilhados tanto pelo setorprivado como pelo público. Esta postura conspira contra ainovação e favorece a permanência das tecnologias tradicionais,criando uma resistência à mudança.

Vargas (1984, p.23) sugere algumas ações para uma criaçãotecnológica alternativa, como: “uma revisão crítica de algumasquestões teóricas que servem de suporte ao atual modelo deindustrialização”; “estabelecimento e explicitação dos novospressupostos, normas e critérios que vão moldar a novatecnologia”; “levantar e cadastrar as experiências que teriamalgum relacionamento com os princípios, normas e critérios doprojeto”; e a “criação dos mecanismos institucionais e humanospara a viabilização prática do empreendimento e sua difusão”.

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1212121212 capítulo 1.1- projeto tecnológico

Baseando-se na necessidade de mudança do paradigmatecnológico da produção habitacional, Martucci (1990)desenvolveu sua tese elaborando um Projeto Tecnológico parao setor de produção habitacional, em geral, e para o setor queproduz para a população de baixa renda, em particular.Segundo este autor (MARTUCCI, 1990, p.82), conceitualmenteo Projeto Tecnológico

não é o projeto específico de um determinado edifício, massim o projeto de uma ‘Linguagem Técnica’, através da qual osprodutores industriais, os construtores e os projetistas, possamse entender e terem um comportamento técnico compatívelcom as necessidades produtivas do Setor ConstruçãoHabitacional.

O Projeto Tecnológico é a base para um metadesign que abordaos diferentes elementos de um sistema, estabelecendo regrassegundo os quais os elementos adquirem movimento. Vianna(1989, p.57) define o metadesign como sendo “um projetoaberto que não chega a formalizar-se num todo concreto, masque especifica as prestações e serviços que o projeto final devesatisfazer”. Com isto, cria-se um sistema de valores e idéias aserem empregadas no projeto da habitação.

Para Martucci (1990), a ocorrência de transformações naestrutura produtiva do ramo de Construções Habitacionaisdepende de modificações de duas naturezas. De um ladoestariam as modificações externas ao setor construção civil,que seriam as políticas públicas necessárias para viabilizar umaestrutura sólida para a produção de habitações compatíveiscom o desenvolvimento social do País. De outro lado, estariammodificações internas a este setor com a implantação detransformações gradativas através de uma prática de trabalho,coletivo e integrado envolvendo os mais diversos sub-setoresda construção civil habitacional. Esta prática de trabalhointegrado seria determinada pelo que aqui está se denominandode Projeto Tecnológico para Edificações Habitacionais.

PPPPProjeto Trojeto Trojeto Trojeto Trojeto Tecnológico para Edificações habitacionaisecnológico para Edificações habitacionaisecnológico para Edificações habitacionaisecnológico para Edificações habitacionaisecnológico para Edificações habitacionais

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1313131313capítulo 1.1- projeto tecnológico

Este Projeto é estruturado a partir de dois vetores:O primeiro, trata da Modernização da Capacidade TecnológicaInstalada, através da Organização da Infra-estrutura Industrial(Parque Industrial e Regras Técnicas); da Formação de QuadrosProfissionais (Ensino e Pesquisa) e da Informática comoinstrumento da Modernização. O segundo, se preocupa coma ‘estruturação simbiótica’ entre o Projeto do Produto e o Projetoda Produção (MARTUCCI, 1990, p.16).

Vale salientar que os Projetos Tecnológicos visam fornecer, noplano técnico e científico, padrões, parâmetros, critérios,procedimentos, processos, normas, etc., para os devidasentidades que irão formular e implantar uma PolíticaTecnológica, bem como para os agentes participantes dela, nosentido de direcionar o desenvolvimento de determinados sub-setores, em detrimento dos outros mais desenvolvidos(MARTUCCI, 1990, p.88).

Tendo em vista um dos objetivos que Martucci (1990) colocaem sua Tese de incentivar estudos que visem o desenvolvimentotecnológico do setor da Construção Civil/Habitacional, serãodestacadas aqui o conteúdo de algumas dissertaçõesdesenvolvidas dentro do Grupo de Pesquisa Archtec, que foicoordenado por este autor, que exploraram diferentespossibilidades de modificações das relações internas do setorda construção civil, referindo-se à implantação do ProjetoTecnológico para a produção habitacional. Estas dissertaçõesbuscaram construir um conjunto de conhecimentos parasubsidiar pesquisas futuras na estruturação deste Projeto.

Um dos vetores que compõe o Projeto Tecnológico é o quetrata da implantação de um processo de modernização dacapacidade tecnológica (MARTUCCI, 1990, p.249). Esteprocesso se estrutura através dos seguintes elementos:

Grupo Archtec – Arquitetura, TGrupo Archtec – Arquitetura, TGrupo Archtec – Arquitetura, TGrupo Archtec – Arquitetura, TGrupo Archtec – Arquitetura, Tecnologia e Habitaçãoecnologia e Habitaçãoecnologia e Habitaçãoecnologia e Habitaçãoecnologia e Habitação

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1414141414 capítulo 1.1- projeto tecnológico

I. Organização da infra-estrutura industrial: parqueindustrial e regras técnicas;

II. Formação de quadros profissionais: a pesquisa e ensino;III. Informática: instrumento preponderante para a

modernização (MARTUCCI, 1990, p.251).

Outro vetor do Projeto Tecnológico, baseado nos fundamentostécnicos deste processo de modernização da capacidadetecnológica, é sobre o estabelecimento das condições para oprocesso de modificações na maneira de projetar e produzir asunidades habitacionais. Isto está relacionado “com a estruturado Parque Industrial instalado, com a prática de trabalhoestabelecida pelos Institutos de Pesquisa e Universidades, noque tange aos processos de difusão e transferência detecnologia, bem como com o estágio de desenvolvimento,vigente hoje, dos instrumentos informacionais” (MARTUCCI,1990, p.309).

Alves (1996) e Volpini (2002) discorrem sobre as possibilidadesoferecidas pela informática e seus recursos para viabilizar umamaior integração entre as fases de concepção e execução dasedificações. O uso de instrumentos informacionais implica emalgumas mudanças nas práticas profissionais e também naconcepção dos espaços a serem produzidos. Alves (1996)trabalha então com o conceito de processos construtivos flexíveis,tema aprofundado por Fabrício (1996) e posteriormente porMesquita (2000).

Enfocando o projeto da produção, estas últimas pesquisasdiscorrem sobre as mudanças no paradigma de produção in-dustrial que provocou uma reestruturação organizacional fabrile como isto tem se refletido no setor da construção civil. Deuma forma distinta de outros setores industrializados, o processoconstrutivo flexível, caracterizado pela racionalização eintegração do processo por mecanismos de planejamento eprojeto da produção e por uma nova gestão de recursoshumanos, é um meio de se atingir novos patamares dequalidade, produtividade e flexibilidade na produção deedificações.

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1515151515capítulo 1.1- projeto tecnológico

Corrêa (2000) prossegue esta discussão acrescentando oconceito de flexibilidade no projeto do produto habitacionalcomo forma de melhor corresponder às necessidades dosusuários. Traçando um breve histórico da evolução daflexibilidade habitacional, que será aprofundado posteriormentenesta Tese, este autor discorre sobre projetos que permitemuma flexibilidade inicial e sobre a manutenção de umaflexibilidade permanente buscando apontar caminhos para suaobtenção.

Nesta linha de pesquisa, a autora desta tese desenvolveu a suadissertação (FOLZ, 2002) analisando a realidade do produtohabitação em relação ao produto móvel para as famílias debaixa renda. Destacando pontos importantes a serem revistosno projeto e produção destes produtos, gerou o tema que estásendo desenvolvido na presente tese.

O tema flexibilidade é debatido em outros trabalhos do Grupoquando são discutidas alternativas habitacionais para situaçõesespecíficas, como tipologias adequadas para substituir ashabitações construídas em áreas de risco (SCHNEIDER ,1998),ou sobre a eliminação de barreiras arquitetônicas tratadas porCardoso (1996) e Lanchoti (1998), atualmente denominadode “design universal”, destacando a importância do projeto nadefinição de espaços acessíveis a todos.

Fazendo uma ligação entre a produção e o produto, Baron(1999) realizou uma pesquisa sobre as questões tecnológicasenvolvidas na produção em massa de habitações no períodode atuação do Banco Nacional de Habitação – BNH (1964-1986), propondo de forma introdutória o tema História daTecnologia para Conjuntos Habitacionais. Perez (2000) buscatambém uma abordagem histórica quando discute a tipologiaurbano-habitacional, através do estudo e análise de diferentesconjuntos habitacionais ao longo da história brasileira. Esteestudo é utilizado para a determinação das premissas básicaspara a implantação de conjuntos habitacionais considerandoa variabilidade no tipo de edifício e de habitação e o acesso àinfra-estrutura e serviços urbanos. Justamente a falta deste tipo

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1616161616 capítulo 1.1- projeto tecnológico

de acesso é apontada por Alencar (1999) como a causa dabaixa qualidade de vida encontrada em vários conjuntoshabitacionais levantando a questão de como reverter estasituação.

Além das modificações das relações internas do setor,diretamente relacionadas com o objeto desta pesquisa, valecitar um exemplo de estudo feito neste Grupo que aborda asmodificações nas relações externas, sobre a participação doEstado no processo de transformação da estrutura produtivado setor de construção de edificações habitacionais, atravésda articulação com organizações representativas da sociedadecivil, para o desenvolvimento de uma Política Habitacional. Nestalinha tem-se o trabalho de Navas (1998) que defende aparticipação dos municípios, através das suas administraçõespúblicas, na criação de condições e programas na áreahabitacional, para os setores de menor renda.

TTTTTecnologia, Arquitetura e Design - Habitação mínima flexívelecnologia, Arquitetura e Design - Habitação mínima flexívelecnologia, Arquitetura e Design - Habitação mínima flexívelecnologia, Arquitetura e Design - Habitação mínima flexívelecnologia, Arquitetura e Design - Habitação mínima flexível

Com base neste corpo de conhecimentos e para complementara fundamentação teórica do tema desta tese, as próximas partesdeste capítulo discorrem sobre a relação da tecnologia com aarquitetura (habitação) e com o design (móveis) e seu reflexono projeto e produção de uma habitação de áreas mínimas,que necessariamente precisa apresentar espaços flexíveis (comoserá discutido posteriormente), e de seu mobiliário. Através deuma abordagem histórica sobre estes temas, são resgatadosconceitos e fortes referências para o Projeto Tecnológico queestá sendo desenvolvido nesta tese.

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1717171717capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

1.2 - TECNOL1.2 - TECNOL1.2 - TECNOL1.2 - TECNOL1.2 - TECNOLOGIA E ARQUITETURA - HABITOGIA E ARQUITETURA - HABITOGIA E ARQUITETURA - HABITOGIA E ARQUITETURA - HABITOGIA E ARQUITETURA - HABITAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO

Embora a construção habitacional é ainda considerada muitoatrasada comparativamente com outros setores produtivos(discussão que será apresentada no capítulo 2), é evidente umaevolução constante na arquitetura alavancada peloaparecimento de novos materiais e técnicas construtivas. Inclu-sive muito da racionalização e industrialização de elementos ecomponentes que estão sendo aplicados atualmente no setorda construção civil remonta às idéias e projetos do final doséculo XIX e início do sec. XX.

O nascimento de uma sociedade industrial, a evoluçãotecnológica e o aparecimento de novos materiais, introduziramnovos elementos na produção de casas, não mais limitadaspelo uso imperativo de pedra, tijolo, madeira e barro.

Contrastando com os espaços habitacionais pouco divididosda casa medieval do mundo ocidental onde, além da família,viviam juntos criados, aprendizes, amigos, a habitação da novasociedade industrial européia e americana do final do séculoXVIII e início do XIX, quando as condições econômicas permitiam,passa a ser compartimentada com cômodos bem definidos paradormir, comer e receber. Com os serviços de saneamento sendoimplantados, o fornecimento de água corrente e a vazão dosdejetos possibilitaram introduzir o banheiro nas habitações:

até a metade do século XIX a maioria das pessoas não tinhaacesso ao fornecimento central de água; a água tinha de ser

“Para desarrollar una nueva técnicahay que esperar que la época lo exija”.

J. M Richards

Novos materiais e novas técnicasNovos materiais e novas técnicasNovos materiais e novas técnicasNovos materiais e novas técnicasNovos materiais e novas técnicas

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1818181818 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

transportada de um poço ou de uma bomba na cozinha. Nafalta de água pressurizada, e, portanto, de encanamento, ascasas não podiam ser equipadas com um banheiro (...)(RYBCZYNSKI, 1996, p. 137).

Assim como a introdução da água encanada surge, tambémna segunda metade do século XIX, a luz a gás como alternativaaos lampiões a querosene e no início do século XX finalmente aenergia elétrica se apresenta nos ambientes domésticos.

Embora estas inovações tenham causado grande impacto noconforto e hábitos domésticos, seus reflexos sobre a arquiteturaresidencial foram muito pequenos. Os avanços tecnológicoseram absorvidos pela arquitetura de estilo e decoraçãotradicional, se adaptando a formas familiares onde acombinação do novo e do antigo era feita sem muito esforço.

No início do século XX a casa passa a ser objeto de estudo eplanejamento técnico e sua forma começa a espelhar asreflexões racionais e as inovações tecnológicas oferecidas pelasociedade industrial ao invés de simplesmente seguir normasculturais de estilos do passado.

Entre os materiais que apareceram em novas formas na segundametade do século XIX, e que iriam revolucionar a arquitetura,estavam o aço estrutural e o concreto armado. Fala-se aquiem novas formas, pois o predecessor imediato do aço estrutural,o ferro fundido, tinha sido amplamente aplicado pelosengenheiros desde o início do século XIX, enquanto o concretoem forma de massa feita de pedra e cimento já havia sidoutilizado pelos romanos.

As pontes (...) substituíram um trabalho de cantaria pelo deuma fundição, porém nesta substituição foram introduzidosalguns critérios extremamente importantes no que se refere aocorreto entendimento das relações de produção envolvidas:arquitetura, indústria e pré-fabricação. Inicialmente, foramintroduzidos critérios de produtividade industrial, tais comoresistência previamente conhecida das peças, tempo deexecução, etc; em seguida, libertou-se o canteiro de seus

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1919191919capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

componentes locais, isto é, regiões onde a pedra era escassareceberam pontes concebidas, produzidas e remetidas a longadistância, e finalmente libertou-se o canteiro de uma parte desua mão-de-obra especializada (BRUNA, 1976, p.38).

O Palácio de Cristal, projeto de Joseph Paxton construído paraa Grande Exposição de 1851 em Londres, representou umgrande marco na arquitetura não apenas por ter sido umaconstrução totalmente pré-fabricada em ferro e vidro, desenhadopara produção em escala industrial de suas partes, mas tambémpor ter demonstrado o primeiro afastamento maior dos estiloshistóricos na arquitetura (PEVSNER, 1981, p.11-12).

Construtivamente o Palácio de Cristal representa uma síntesede componentes estudados separadamente e coordenadosentre si por uma rede modular; o espaço resultante dasomatória de elementos padronizados e industrializados era ofruto perfeito da tecnologia empregada e do estudo racionaldos vínculos, dos limites econômicos e de tempo, doscondicionantes técnicos de produção e montagem isoladosde toda problemática estilística e formal. Toda a construçãoestá baseada num retículo modular de 8 pés (2,40 m) cujosmúltiplos (24, 48, 72 pés – 7,20, 14,40, 21,60 m) determinamas posições e as dimensões de todas as peças (BRUNA, 1976,p.42).

Viollet-le-Duc pregou em seus Entretiens (1863 e 1872) umaabordagem funcionalista da arquitetura no sentido de umaaliança da forma com a necessidade e com os meios deconstrução, defendendo um estilo para o século XIX por possuirnovos recursos provenientes da indústria e da facilidade detransporte. No entanto sua teoria não traduziu-se em prática(PEVSNER, 1981, p.15-16), embora o que ele escreveu tenhasido o que os arquitetos modernos viriam a adotar.

A partir de 1855, Bessemer introduziu a produção em massado aço que apresentou grandes vantagens sobre o ferro fundidoe que aos poucos passou a substituí-lo. O aço é mais elásticoe consequentemente mais resistente para suportar qualquer tipode carga em qualquer circunstância.

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2020202020 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

O concreto armado foi inventado na França pelos engenheirosHennébique e Coignet na década de 90 do século XIX, emboraoutros tenham experimentado anteriormente executar peças como mesmo princípio. Unindo a resistência à compressão do con-creto com a resistência à tração do aço, o concreto armadopossibilita a moldagem em qualquer forma. Abriu-se com estanova tecnologia de materiais e processo uma extensa gama depossibilidades exploradas ao longo de todo século XX,dominando a produção da construção civil até os dias atuais.

Juntando-se ao concreto armado e ao aço, têm-se tambémcomo material novo o vidro laminado de grandes dimensões.

As inovações técnicas propiciadas pela industrialização foramaplicadas tardiamente nas edificações habitacionais. Enquantoeram exibidas as estruturas de ferro em pontes, pavilhões deexposições internacionais, estações ferroviárias, instalaçõesindustriais, as habitações continuaram sendo construídas nosistema tradicional de pedra, tijolo e barro.

(...)o arquiteto continuava a evitar os novos materiais e a sesatisfazer com efeitos góticos, renascentistas e – cada vez mais– barrocos. Nem as possibilidades estéticas de superar alimitação de estilos anteriores através dos novos meios deconstrução estrutural, nem as possibilidades sociais de produçãoem massa de elementos foram encaradas seriamente pelaprofissão (PEVSNER, 1981, p.18).

Somente no final do século XIX começou-se a construir comfreqüência nos Estados Unidos os edifícios com estrutura deaço pelos arquitetos que formavam a Escola de Chicago,protagonizada principalmente por Louis Sullivan.

De uma forma diferente da grelha rígida estrutural, Victor Hortadeu sua versão Art Nouveau destes edifícios americanos comsua Maison du Peuple (1896-1899). Construída em Bruxelas,possuía uma estrutura de ferro completamente visível, aocontrário das pedras revestindo o aço nos edifícios americanos,e apresentava aberturas com vidro, trazendo leveza à fachada.Esta obra assim como outras obras Art Nouveau (como a Loja

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2121212121capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Tietz de Sehring em Berlim, 1898) exploraram esteticamente ouso do ferro e do vidro não pensando em uma produçãoindustrializada das partes, mas introduzindo os novos materiaisinclusive em edificações residenciais.

Embora o concreto armado já tivesse sido empregado em si-los, fábricas ou mesmo em igreja (St. Jean de Montmartre deAnatole de Baudot, 1895), foi Auguste Perret o primeiro queutilizou uma estrutura de concreto em um bloco de apartamentos(PEVSNER, 1981, p.153). Os apartamentos da rua Franklin,em Paris possuíam a estrutura de concreto, embora esta estivesseescondida por terracota e azulejos Art Nouveau. A estruturaaparente apareceria somente em suas produções posteriores.

O concreto armado passa a ser então a grande “vedete” daarquitetura moderna possibilitando mais tarde a planta livre,com a substituição das paredes portantes por esqueletosestruturais, além das grandes aberturas, não mais limitadas pelodintel de pedra, madeira ou pelo arco.

1. 31. 31. 31. 31. 3Louis Sullivan: LojasCarson, Pirie & Sacott,1899-1904, Chicago(ARGAN, 1992, p.198)

1. 11. 11. 11. 11. 1Victor Horta: Maison du Peuple,1896-1899, Bruxelas (ARGAN,1992, p.191)

1. 21. 21. 21. 21. 2Auguste Perret : Casa narue Franklin 25 bis, 1903,Paris (ARGAN, 1992,p.193)

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2222222222 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Tanto o aço como o concreto armado são materiais que seprestam a um cálculo exato. Esta precisão possibilita executarpeças mais leves facilitando a pré-fabricação que podeacontecer na fábrica ou no canteiro. Juntamente com estes doismateriais e o vidro, surgiu posteriormente a placa compensadade madeira, placas de cimento amianto e chapas de diversosmetais que seriam utilizados nas propostas dos arquitetosmodernos que defendiam uma industrialização da construção.

Quando se fala sobre industrialização da construção, ou maisespecificadamente, da habitação, pode-se dividir em duasformas de se abordar esta industrialização. Uma forma seria aprodução da casa como uma unidade, como um todo, variandonos seus modelos como se fosse um carro. A outra seria aprodução de componentes que seguiriam certas regras deintegração para atingir uma variedade no projeto da casaatravés de diferentes combinações de suas partes. Poder-se-iacitar Richard Buckminster Fuller como um dos defensores daidéia de industrialização pertencente ao primeiro processoatravés de sua Dymaxion House (dinâmica com máximaeficiência) de 1927. Diferentemente da máquina de morardefendida por Le Corbusier, Fuller desenvolveu um produto sempreocupações estéticas, mas como uma instalação técnica paramorar, ou seja, literalmente uma máquina de morar(LAMPUGNANI, 1983, p.96). No entanto, o processo defendidopelos arquitetos modernos, e colocado em prática com maiorfreqüência após a segunda guerra mundial, era exatamente osegundo, que prevê a industrialização das partes e não do todo.Isto evitaria a repetição maciça de unidades dando espaço àvariedade e a escolha individual.

A doutrina funcionalista moderna consiste basicamente dequatro considerações centrais: conveniência e integridade do

Industrialização da habitação mínima: discursos dos arquitetos modernosIndustrialização da habitação mínima: discursos dos arquitetos modernosIndustrialização da habitação mínima: discursos dos arquitetos modernosIndustrialização da habitação mínima: discursos dos arquitetos modernosIndustrialização da habitação mínima: discursos dos arquitetos modernos

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2323232323capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

material, a expressão contemporânea das técnicas de construçãoe produção das edificações, layout e uso eficiente dasedificações, e a difusão de uma nova ordem espacial negandotodas referências do passado. Embora existam diferentes versõesdeste movimento funcionalista, e não entrando no mérito desuas similaridades e divergências, pode-se afirmar que em todassuas vertentes houve a preocupação de representar uma novaordem estética simbolizando um novo realismo prático. Estefuncionalismo era aplicado nas propostas urbanas atingindoaté a edificação e seu interior. Isto refletia também em umainterpretação científica das pessoas e do mundo, geradoprincipalmente pela euforia da segunda revolução industrial(fim do século XIX - produção em massa, consumo de massa ebusca intensiva de economias de escala) e seus novos materiaise técnicas.

A arquitetura passa a ter uma base científica, busca inspiraçãono racionalismo e experimentação das ciências. Alguns temaspassaram a ser explorados mais intensamente pelos arquitetoscomo a tecnologia dos materiais e da engenharia, efeitos desaúde pública das diferentes zonas construídas, compreensãodas relações sociais básicas que podem afetar a privacidade edemais arranjos espaciais (ROWE, 1995, p.43-45).

1. 41. 41. 41. 41. 4Casa Dymaxion, 1927 – RichardBuckminster Fuller(LAMPUGNANI, 1983, p.96)

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2424242424 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Mas, segundo Gropius, é preciso tomar cuidado em consideraro conceito de racionalização como a principal característicada arquitetura moderna. Segundo ele, este é apenas uma partedo processo purificador.

A outra parte, a satisfação de nossas necessidades interiores,é tão importante quanto a dos materiais. Ambas pertencem àunidade da vida. A libertação da arquitetura do caosdecorativo, a ênfase nas funções de suas partes estruturais, abusca de uma solução concisa e econômica, é apenas o ladomaterial do processo criativo do qual depende o valor práticoda nova obra arquitetônica. Bem mais importante, porém, queessa economia funcional, é a produção intelectual de umanova visão do espaço no processo de criação arquitetônica.Assim, ao passo que a prática arquitetônica é problema daconstrução e do material, a essência da arquitetura repousano assenhoramento da problemática espacial (GROPIUS,1997, p.98).

Gropius defendia a padronização como uma função dasociedade humana, como um desejo de reproduzir uma boaforma “standard”. Mesmo sociedades pré-industriais aceitavamnaturalmente a repetição de formas-standard como resultadode uma fusão do melhor atingido com a colaboração de muitosindivíduos que se envolveram na resolução de um problema. Écomo se a existência de produtos padrões caracterizasse oapogeu de uma civilização, havendo uma seleção de qualidadee uma separação entre o pessoal e ocasional e o essencial esuprapessoal. Portanto, o conceito “standard” deve ser tomadocomo um título cultural honroso e chama a atenção que nemtodos os produtos industriais podem se elevar à categoria deproduto “standard”.

Gropius afirmava que não seria a padronização e a pré-fabricação provocadoras de casas como produtosesteriotipados. A própria competição do mercado livre seencarregaria de criar uma variedade de partes pré-fabricadasassim como os demais artigos de consumo produzidosindustrialmente. No entanto, chamava a atenção para anecessidade de uma constante revisão e renovação das formas

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2525252525capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

padronizadas para elas não se tornarem superadas (GROPIUS,1997, p.119).

Para Le Corbusier era necessária a criação de padrões paraatingir a perfeição. Mesmo as emoções se enquadravam empadrões.

É preciso tender para o estabelecimento de padrões paraenfrentar o problema da perfeição.(...)O padrão é uma necessidade de ordem trazida para o trabalhohumano.O padrão se estabelece sobre bases certas, nãoarbitrariamente, mas com a segurança das coisas motivadas ede uma lógica controlada pela análise e pela experimentação.Todos os homens têm o mesmo organismo, mesmas funções.Todos os homens têm as mesmas necessidades.O contrato social que evolui através das idades determinaclasses, funções, necessidades padronizadas, gerando produtosde uso padronizado.A casa é um produto necessário ao homem.O quadro é um produto necessário ao homem por respondera necessidades de ordem espiritual, determinadas pelospadrões da emoção.(...)Estabelecer um padrão, é esgotar todas as possibilidadespráticas e razoáveis, deduzir um tipo reconhecido conforme asfunções, com rendimetno máximo, com emprego mínimo demeios, mão-de-obra e matéria, palavras, formas, cores, sons”(LE CORBUSIER, 1994, p.89).

Entre os defensores da industrialização da habitação como formatambém de proporcionar um barateamento do seu custo estavao arquiteto norte americano Grosvenor Atterbury que implantouum plano piloto em Forest Hills, New York, entre 1910 e 1920,alcançando uma economia de 20% nos custos totais.

Mas somente após a década de 1920 que ocorreu umaexperiência mais intensiva com a produção em massa dehabitações, baseado em uma clara preocupação social aliadaa uma nova linguagem arquitetônica.

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2626262626 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Mies van der Rohe elaborou projetos individuais que estão longeda idéia que implica sua repetição estandardizada,diferentemente dos arquitetos modernos, seus contemporâneos,que defendiam que a casa precisava ser produzida a imagem esemelhança do Ford T, o grande paradigma da industrialização,ou demonstrando um interesse coletivo na investigação em tornoda otimização de tipos estandardizados de habitação destinadasa famílias trabalhadoras. No entanto, ele defendia aindustrialização da construção conforme exposto em seu textode 1924:

Considero a la industrialización de la construcción como laclave dell problema actual para los arquitectos y constructores.La industrialización nos permitirá resolver fácilmente los demásproblemas sociales, económicos, técnicos y artísticos de laconstrucción.(...)No se trata, pues, del mejoramiento de los actuales sistemasconstructivos, sino de la transformación completa del arte deconstruir. Esta transformación no sobrevendrá mientrascontinuemos empleando los mismos materiales, porque exigemmano de obra artesanal.

1. 51. 51. 51. 51. 5 e 1. 61. 61. 61. 61. 6Pré-fabricação das partes da casa. Concepção ligadaa um projeto específico de arquitetura vernacular.Arquiteto Grosvenor Atterbury, Forest Hills, New York,1910 (ROWE, 1995, p.60)

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2727272727capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

La industrialización de los procesos de la construcción dependede los materialies; será, pues, necesario encontrar nuevoselementos.Nuestra técnica debe hallar un nuevo material que se produzcaindustrialmente y que sea sólido, inalterable a las condicionesclimáticas y aislante del ruido y del calor. Deberá ser un materialliviano que necesariamente se elabore mediante un procesoindustrial. Podrá entonces racionalizarse la producción industrialde las piezas, de modo que el trabajo en obra sereduzca almontaje de las mismas, abreviándose notablemente la duraciónde las construcciones. Consecuentemente, disminuirá su costo.Las nuevas aspiraciones de la arquitectura encontrarán suverdadero campo de acción. Habrá terminado entonces, latécnica constructiva actual.Los que lamentan que la construcción deje de ser un productode la artesanía, olvidan que el automóvel dejó de serlo hacetiempo” (ROHE, 1924 apud JOHNSON, 1960, p.220-221).

Poucos anos depois, em 1927, Mies van der Rohe dirigiu aimplantação da “Weissenhofsiedlung”, em Stuttgart, conjuntode edificações projetadas por alguns arquitetos modernos queconstituiu a segunda exposição da “Deutscher Werkbund” 1 1 1 1 1.Neste conjunto, Mies projetou um prédio de apartamentos, talvezo único dele de habitações mínimas, explorando ao máximo aestrutura independente, demonstrando diferentes distribuiçõespossíveis em cada unidade habitacional apenas com odeslocamento de divisórias móveis. Neste projeto, Miesincorporou um outro conceito, explorado também por LeCorbusier, da flexibilidade e multifuncionalidade possibilitadapela estandardização da edificação. A respeito deste prédio,Mies escreveu na publicação da “Deutscher Werkbund” oseguinte:

El factor económico impone hoy en la construcción laracionalización y la tipificación, pero por outra parte nuestrasnecesidades de espacio son cada vez más específicas ycambiantes y exigen la máxima flexibilidad de uso. En el futurohabrá que conciliar ambos. A este respecto, la construccióncon estructura independiente se presenta como la únicasolución. Permite usar métodos de construcción racionales y al

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2828282828 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

mismo tiempo deja amplia libertad para la distribuición. Siubicamos las cocinas y baños com sus cañerías em um núcleofijo, podremos dividir el espacio que queda por medio detabiques movibles, coincidindo con los parantes de lasventanas; así podremos satisfazer todas las exigenciasfuncionales (ROHE apud JOHNSON, 1960, p.224).

A idéia de estandardização chegou a um extremo nos ConjuntosHabitacionais produzidos sob a direção de Ernst May emFrankfurt no final da década de 1920. As normas de Frankfurt,como eram conhecidas, incorporava cerca de 24 tipos diferentesde habitação, desde unidades unifamiliares até prédiosmultifamiliares. Dentro desta tipificação das habitações, seuselementos também eram estandardizados, como as dimensõesde portas e janelas e de equipamentos mobiliários. Estas normasdefiniam praticamente todos os detalhes de construção (ROWE,1995, P.84).

1. 71. 71. 71. 71. 7 e 1.81.81.81.81.8 – Mies van der Rohe, Weissenhof, Stuttgart, 1927 (JOHNSON, 1960, p.46 e 48)

1. 91. 91. 91. 91. 9Cozinha de Frankfurt: cozinha normatizada

(KUHN, 1995, p.141)

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2929292929capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

1. 101. 101. 101. 101. 10Normas de Frankfurt para portas (SCHAAL; PFISTER; SCHEIBLER, 1990, p.16)

1. 111. 111. 111. 111. 11Normas de Frankfurt para fechaduras (SCHAAL; PFISTER; SCHEIBLER, 1990, p.18)

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3030303030 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

1. 121. 121. 121. 121. 12Exemplos de tipologias padrões de Frankfurt.Esclarecimento dos códigos:

- EFA: casa para uma família- EFAKI: casa para uma família numerosa- EFA-ELITE: casa para uma família com sala extra e terraço.

O primeiro número se refere à quantidade de cômodos, sem contarcozinha e banheiro, e o segundo número, a área útil em metrosquadrados (SCHAAL; PFISTER; SCHEIBLER, 1990, p.19)

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3131313131capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Durante o II CIAM – 1929, realizado em Frankfurt-am-Main, LeCorbusier e Pierre Jeanneret defenderam a posição de que pararesolver o problema da habitação mínima seria necessárioaplicar métodos novos e simples, que permitissem elaborar osprojetos necessários e que, para sua realização, se prestassemnaturalmente à estandardização, à industrialização, à“taylorização”. As funções da vida doméstica exigem espaçoscuja capacidade mínima pode ser fixada com precisão. Após adefinição da “capacidade mínima tipo”, ou estándar, para cadafunção pode-se estabelecer um esquema destas funções eestabelecer um jogo de superfícies e suas contigüidades. Estascondições das funções domésticas possibilitam umaestandardização, através da qual a indústria pode produzir emsérie a baixo custo.

La estructura será estándar; los elementos de la casa, los objetosde equipamiento serán estándares, sobre uma serie de modelosvariados estabelecidos a una justa escala humana (escalera,puertas, ventanas, paneles de cristal, etc.). La industria deobjetos domésticos, hasta ahora limitada a los aparatossanitarios, cocina, calefacción, se ampliará infinitamente más(LE CORBUSIER e JEANNERET apud AYMONINO, 1973,p.131).

Tudo isto baseado na existência de uma indústria potente quetransformaria cada vez mais os materiais naturais em artificiais,

1. 131. 131. 131. 131. 13 e 1. 14 1. 14 1. 14 1. 14 1. 14Casa Dominó, Le Corbusier, 1915 (BOESIGER; GIRSBERGER, 1971, p.24)

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3232323232 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

ou materiais novos, como o cimento, ferros perfilados, materiaisisolantes, utensílios metálicos e produtos impermeáveis. ParaLe Corbusier todos estes produtos já existiam independente dafinalidade que iriam atender, chegando de maneira desordenadanos canteiros, sendo utilizados de forma inadequada,improvisada, sem ser produzidos em série. Para ele estavafaltando o estado de espírito da industrialização.

É que não existindo o estado de espírito, ninguém se entregouao estudo racional dos objetos e menos ainda ao estudoracional da própria construção; o estado de espírito da série édetestável para os arquitetos e para os habitantes (por contágioe persuasão) (LE CORBUSIER, 1994, p.161).

Uma das primeiras propostas de Le Corbusier, a Casa Dominóde 1915, apresentava alguns elementos estandardizados comopisos, colunas, escadas e esquadrias. A partir destes elementosformava-se a planta livre permitindo uma variedade deconfigurações internas e externas, possibilitando ainda umaliberdade na orientação. Seu interior seria composto pordivisórias leves e por portas e armários embutidos produzidosem série pela grande indústria. Seriam estes elementos quedefiniriam a modulação da casa. Mais tarde Le Corbusierdesenvolveria a Casa Citrohan, denominação que ele deu emanalogia à marca de automóveis Citroën. Defendia suaprodução em série como um automóvel e sua organizaçãointerna havia sido pensada como uma cabine de navio, nãopelo tamanho, mas pela racionalização do espaço.

Como Ministro do Trabalho, Louis Loucheur, aprovou uma leiem 1928 que tinha como objetivo incentivar a construção dehabitações econômicas e salubres (dando novo fôlego aosconjuntos habitacionais HBM - Habitations à Bon Marché). LeCorbusier desenvolveu uma casa que seria industrializada comoum todo, e não como uma composição de partes, reiterandosua posição em produzir máquinas de morar:

Para realizar o programa loucheur, é preciso então transformartotalmente os hábitos respeitados pelos senhores arquitetos,peneirar o passado e todas suas lembranças através das malhas

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3333333333capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

da razão, pôr o problema como o fizeram os engenheiros deaviação e construir em série máquinas de morar (LECORBUSIER, 1994, p.86).

Para satisfazer as condições da Lei Loucher, uma habitação de45 m2 deveria abrigar uma família com quatro filhos. As ca-mas dos pais e a cozinha podiam ser dissimuladas durante odia ou à noite através de painéis deslizantes. Os dois dormitóriosdas crianças se abririam formando uma única sala. No meioda unidade estaria a célula sanitária formada pelo lavatório eo W.C.. Os equipamentos faziam parte ativa deste projeto.Existiam vários nichos para encaixar todos os equipamentosmobiliários da habitação. Os armários ficavam embutidos emalguns destes nichos junto às paredes ou formando divisóriaentre as peças. Algumas camas basculavam para uma posiçãovertical durante o dia liberando mais espaço para a convivênciadiária.

A casa saía da fábrica embarcada em um vagão com todo oequipamento interno, com a equipe de montagemacompanhando. Em alguns dias a casa era montada no seulocal definitivo. Posteriormente foi incluída uma parede dealvenaria que estaria entre duas casas, formando assim umconjunto de casas.

Walter Gropius, um dos pioneiros da arquitetura moderna, talveztenha sido o que mais se ocupou, entre os seus contemporâneos,

1. 151. 151. 151. 151. 15Casas em série Citrohan, Le Corbusier, 1921(BOESINGER, 1972, p.14)

1. 161. 161. 161. 161. 16Casa Loucher, Le Corbusier, 1929(BOESINGER, 1972, p.30)

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3434343434 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

com o tema da prefabricação e industrialização doscomponentes da arquitetura. Em seu “Memorandum” de 1910apresentado para a AEG, companhia alemã de produtoselétricos, defende a prefabricação, industrialização econseqüente estandardização da habitação em um “Programapara a Criação de uma Companhia para a Construção deHabitações com Base em Princípios Estéticos Consistentes”. Estaidéia esteve presente em seu período de Bauhaus e em suaprodução posterior:

- uso de partes iguais e materiais em todas as casas: quasetodas as partes da casa podem ser produzidas em fábricas.Todas as formas, cor, material e equipamentos internosseriam catalogados. Com dimensões padronizadas todasas partes se combinariam perfeitamente e permitiriam umaintercambialidade, produzindo uma infinidade decombinações. O cliente poderia compor sua casa conformeseu gosto escolhendo entre todos estes materiais e formas;

- uso múltiplo de projetos: os tipos de casas, variando emtamanho, distribuição, e conforme os desejos do clienteestariam prontos com todos os desenhos e especificaçõesdas partes necessárias. Sendo assim a casa seria projetadaindependente do local onde fosse montada e concebidapara atender as necessidades de um homem civilizadomoderno de qualquer país. Isto deve-se a idéia doestabelecimento de necessidades internacionais onde oscostumes nacionais desapareceriam e o modelo dehabitação transcenderia as fronteiras nacionais. Mesmo paraatender diferentes classes sociais existiriam tipos de casasdiferentes;

- unidade arquitetônica da região: a tratamento visual, asdiversas repetições das edificações, os jardins, as esquinaspoderiam ser tratadas como uma unidade, como um todo.Diferentes empresas poderiam tratar da construção de cadaparte do bairro ou da cidade. Esta unidade valorizaria aárea incrementando a rentabilidade dos empreendedores(Gropius at twenty-six. The Architectural RThe Architectural RThe Architectural RThe Architectural RThe Architectural Reviewevieweviewevieweview, vol. 130,n° 773, july 1961, p.49-51).

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3535353535capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Sua visão recebeu e teve forte influência da Deutscher Werkbunde de seu trabalho com Peter Behrens, contratado pela AEGpara introduzir um design moderno em todos seus produtos,desde a logomarca, passando por elementos estandardizadosdos objetos até o projeto da nova fábrica e casas dostrabalhadores.

Esta preocupação em fazer a união da forma artística e daprodução industrial guiou seus ideais na Bauhaus. Os estudantesprecisariam passar pelo processo de desenvolvimento doprotótipo inicial até o modelo final para a produçãoindustrializada, não importando se era o projeto de umaluminária, cadeira, ou uma edificação.

Entre os principais projetos de Gropius dos anos de 1920 einício de 1930 em que colocou em prática suas idéias deindustrialização estão o Conjunto Habitacional (Siedlung) Törten(1926-1929), as habitações de Weissenhof (1927) e as Casaspré-fabricadas revestidas de cobre (1931).

O Conjunto Habitacional (Siedlung) Törten, construído próximode Dessau, foi um campo de experiência para os alunos dearquitetura da Bauhaus, sob a direção de Gropius eposteriormente de Hannes Meyer. Gropius desenvolveu o planourbanístico em forma de leque onde implantou casas “semirurais” de dois pisos com um terreno na parte posterior destinadoà horta e a criação de animais domésticos. Neste Conjunto

1. 171. 171. 171. 171. 17 e 1.18 1.18 1.18 1.18 1.18Siedlung Törten, Walter Gropius, Dessau, 1926-1928 (BERDINI, 1986, p.79)

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3636363636 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

foram produzidas algumas partes pré-fabricadas in loco comopainéis leves de fácil montagem e vigas de concreto, mas aprincipal ênfase deste projeto foi dada na maior coordenaçãopossível no processo de construção do edifício (GIEDION, 1992,p.75).

Outra proposta de casa pré-fabricada foi exposta naWeissenhofsiedlung, em Stuttgart, por ocasião da Exposiçãodo Deutscher Werkbund. Gropius realizou duas casasunifamiliares totalmente pré-fabricadas. Considerando umaeconomia forte de base para a adoção de tecnologias modernasde pré-fabricação, Gropius elaborou um sistema de montagema seco para uma estrutura composta por um esqueleto em açoe tabiques feitos de painéis de cortiça revestidos de placas decimento amianto. Somente o contrapiso era executado em con-creto. O resultado não foi dos mais bem sucedidos.

1. 191. 191. 191. 191. 19 e 1.20 1.20 1.20 1.20 1.20Isométrica das duas casas pré-fabricadas de Walter Gropius, Weissenhof,Stuttgart, 1927 (BERDINI, 1986, p.81)

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3737373737capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Gropius desenvolveu também uma casa para a empresa HirschKupfer und Messingwerke, de Berlin, que apresentava apossibilidade de futuras expansões conforme a necessidade domorador. Era formada por uma estrutura de madeira em queas partes pré-fabricadas se fixavam “in situ”, isoladas por meiode lâminas de alumínio, revestidas externamente com cobre einternamente com peças de cimento amianto. De acordo comGropius as vantagens destas casas pré-fabricadas eram asseguintes:

eliminação da humidade no processo de construção; levezadas distintas partes a construir; independência das condiçõesatmosféricas ou das estações dado o caráter da montagem;redução dos custos de manutenção graças à alta qualidadedos materiais que ao serem produzidos dum modo ‘standard’apresentam também vantagens de tipo económico;possibilidade de fixar um preço não susceptível de incremento;rapidez na entrega (GROPIUS apud BERDINI, 1986, p.128).

Gropius continuou desenvolvendo outras casas pré-fabricadase defendia com veemência a necessidade do arquiteto aprendera trabalhar com a estrutura industrial de produção. De 1943 a1948, juntamente com Konrad Wachsmann, desenvolveu “ThePackaged House System” para a fábrica “General Panel Cor-poration”, nos Estados Unidos. Baseava-se em um sistema demontagem que permitia variadas combinações com poucos

1. 21 1. 21 1. 21 1. 21 1. 21 e 1. 22 1. 22 1. 22 1. 22 1. 22Montagem da estrutura metálica (construção a seco) e entrada de uma das casas de WalterGropius, Weissenhof, Stuttgart, 1927 (GIEDION, 1992, p.195)

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3838383838 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

elementos de união entre as partes. Gropius continuavainsistindo que o futuro da arquitetura, e principalmente dahabitação, teria que passar obrigatoriamente por um processode industrialização para baixar seu custo. Ele costumavacomparar os índices do custo de produção de um automóvelcom os da construção civil demonstrando que enquanto oprimeiro diminuía o segundo continuava aumentando. Previaentão que o arquiteto e o construtor do futuro teriam a suadisposição alguma coisa como uma caixa de peças para“brincar”, uma variedade infinita de partes intercambiáveis,produzidas industrialmente que seriam compradas no comércioe montadas de acordo com o gosto individual resultando emedificações de diferentes tamanhos e aparência.

O arquiteto do futuro – se ele quiser voltar ao topo novamente– será forçado a seguir a tendência de mais uma vez seaproximar da produção da edificação. Se ele formar umaequipe de intensa cooperação com o engenheiro, o cientista eo construtor, então o projeto, a construção e a economia setornarão novamente uma unidade – uma fusão de arte, ciênciae negócios (GROPIUS apud GIEDION, 1992, p.78, traduzidopela autora). 2 2 2 2 2

1. 231. 231. 231. 231. 23, 1. 241. 241. 241. 241. 24 e 1.25 1.25 1.25 1.25 1.25Walter Gropius – plantas mostrando as ampliações do modelo mínimo da casa comrevestimento de cobre (BERDINI, 1986, p.128)

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3939393939capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

1. 261. 261. 261. 261. 26 e 1.27 1.27 1.27 1.27 1.27Walter Gropius – casa com revestimento de cobre – montagem e a casa finalizada (BERDINI,1986, p.129)

Para Gropius e Le corbusier, as vantagens da industrializaçãoestariam presentes na exatidão das medidas e no encaixe perfeitodas partes no canteiro de obras acelerando a montagem ebaixando o custo da mão-de-obra, não necessitandotrabalhadores qualificados. Isto evitaria surpresas como encaixesdesajustados por causa de medidas inexatas ou da influênciada umidade e espessura do reboco, causando atrasos comconseqüente perda de tempo e dinheiro.

As mudanças necessárias para se aplicar uma nova realidadeeconômico-organizacional da construção implica em mudançastécnicas e de engenharia. Começando pelos materiais, aprecisão das medidas requer também a utilização de materiaisartificiais (como ferro laminado, alumínio e vidro) quepossibilitem uma “montagem a seco”, e que apresentam umahomogeneidade provados por ensaios de laboratórios,diferentemente dos materiais naturais ditos heterogêneos e quevariam infinitamente.

O largo problema da industrialização da construçãohabitacional só pode ser resolvido mediante esforçosextraordinários e recursos públicos. É, sob o ângulo político-econômico, de tamanha importância, que leigos e especialistasdevem exigir energicamente que o Estado tome em suas mãoso preparo da solução. (...) É preciso que sejam organizadoscanteiros experimentais públicos.(...) (GROPIUS, 1997, p. 196-197).

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4040404040 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Enquanto Gropius exigia a presença do Estado para introduzirestas mudanças no processo construtivo, já vislumbrava asdificuldades e questões econômico-financeiras que dificilmenteseriam assumidas pela iniciativa privada ou pelas indústrias.

Os primeiros modelos exigiriam imensos recursos, como sefossem grandes protótipos que a indústria precisaria pesquisarantes de serem fabricados em série.

Além disto, existe o “estado de espírito da série” que Le Corbusiercomentava que estava faltando tanto nos arquitetos como noshabitantes.

A Escola de Ulm (Hochschule für Gestaltung - HfG), fundadaoficialmente em 1955, na Alemanha, concebida inicialmentepara ser sucessora da Bauhaus, criou um departamento deconstrução que logo deu ênfase à sistemas industrializados(Bauen). Além deste Departamento, existiam também oDepartamento de Design de Produtos (Produktgestaltung),comunicação visual (Visuelle Kommunikation) e informação (In-formation - imprensa, rádio, televisão e filme - este último tornou-se departamento autônomo em 1961).

Destacam-se nomes como Konrad Wachsmann (1954-1957),Herbert Ohl (1958-1968), Abraham Moles (1965-1968),Claude Schnaidt (1965-1968) como docentes desteDepartamento, além dos professores visitantes Giuseppe Ciribini,Frei Otto e muitos outros (CURDES, 2001, p.14).

Os sistemas fechados pré-fabricados para produção em massadas mais diversas edificações predominavam na Europa noperíodo logo após a segunda guerra mundial. O Departamentode Construção procurou, assim, atuar conforme este cenário.

Escola de Ulm e a construção industrializadaEscola de Ulm e a construção industrializadaEscola de Ulm e a construção industrializadaEscola de Ulm e a construção industrializadaEscola de Ulm e a construção industrializada

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4141414141capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Bergmiller 33333 lembra que um dos professores, o arquiteto BruceMartin, se dedicou neste período à construção de escolas feitasna base da pré-fabricação. Baseado na Coordenação Modu-lar (Modular Coordination), ele se preocupava em defender odesenvolvimento de componentes produzidos em diferentespaíses para que se combinassem em um sistema internacionalmodular. Esta Coordenação Modular tornar-se-ia umalinguagem internacional. Bergmiller lembra-se também deKonrad Wachsmann como uma figura muito importante naEscola de Ulm. Ele se dedicou no desenvolvimento de um nó,um elemento de união, uma conexão inteligente que pudesseser utilizada em qualquer produto, seja uma edificação ou emum objeto menor. Wachsmann transmitiu aos alunos aimportância da conscientização do trabalho em grupo (TeamWork) em um nível tático, onde o grupo trabalhava em todasas fases do projeto.

O professor Herbert Ohl foi quem ficou mais tempo comodocente efetivo da Escola de Ulm no Departamento deConstrução. Ele trabalhou intensamente com sistemas,aplicando tanto na arquitetura como no mobiliário. Para elenão existia diferença entre um projeto de arquitetura ou deoutro produto qualquer. O que importava era a questãometodológica de como enfrentar um problema. É esta posturaque Bergmiller defende como essencial em desenvolver nosalunos, transmitindo a importância do aspecto metodológicode resolver um problema dentro de um determinado tempo.Primeiro deve-se identificar corretamente o problema e ter umametodologia para resolver este problema. Não importa quetipo de produto resultará deste processo, seja uma casa ou ummóvel, a questão metodológica é a mesma.

Fazendo-se aqui um parênteses, o primeiro diretor da Escolade Ulm, Max Bill, nem defendia tanto a pré-fabricação, masabordava a edificação (como todo bom bauhauseano) comouma Obra Total (Gesamtkunstwerk) 44444. Os alunos da primeiraturma participaram da construção do prédio da Escola (projeto

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de Max Bill), e do design dos vários elementos da edificação,como maçanetas, luminárias, esquadrias e também dos móveis.

O Departamento de Construção abrigou, por um lado,pesquisas que realizavam levantamentos metódicos sobre asnecessidades dos usuários, utilizando-se questionários eanalisando as situações de moradia em si. Por outro lado, fo-ram realizadas pesquisas na área de técnicas de planejamento,principalmente através da modulação, como instrumento paratransformar a edificação em um produto resultante damontagem dos mais diversos elementos industrializados.Sistemas de esquadrias, de acabamentos, de conexões e deestruturas leves faziam parte do Programa (OHL apudLINDINGER, 1987, p.198)

Estava claro, porém, que a posição do Departamento deConstrução Industrializada não era discutir sobre a arquiteturacomo síntese artística correspondente às condições locais, massim mostrar que a construção convencional não se adequava àlógica do modelo fordista de produção em massa de produtostecnológicos. Segundo consta na HfG-Info (1960) a defesarecorrente para o uso de sistemas construtivos industrializadosestava calcada na necessidade crescente de habitações(LINDINGER, 1987, p.201). Focados no desenvolvimento desistemas construtivos, não existia uma discussão sobre os efeitosdesta produção em massa de edificações sobre a realidade deum determinado local ou cultura. A preocupação eraestritamente técnica, se aproximando muito mais a umaformação para engenheiro do que para arquiteto.

A Escola de Ulm, assim como a Bauhaus, surgiu em períodopós-guerra mundial. Existia um espírito muito forte entre osalunos da responsabilidade de reconstrução e de reorganizaçãoda sociedade. Segundo Bergmiller, toda a comunidade Ulmianavivia intensamente os dias na Escola, assumindo uma posturaidealista entre os alunos em querer mudar o mundo.

Fruto do seu tempo, a Escola de Ulm, e com ela o Departamentode Construção, incorporou a crença de mudança da sociedade

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4343434343capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

através da razão, com uma única visão de mundo, livre dahistória e do lugar, característica do movimento moderno. Ofechamento da Escola (1968) coincidiu com uma época emque a consideração pelas necessidades diferenciadas dasociedade e do meio ambiente começaram a falar mais alto(CURDES, 2001, p.21).

1. 291. 291. 291. 291. 29Sistema de equipamentos para habitação estudantil compostopor células em anéis - Herbert Ohl (LINDINGER, 1987,p.203)

1. 281. 281. 281. 281. 28Corte de placas de alumínio com perfis de conexão em Neoprene -

alunos Günter Schmitz, Rupert Urban (turma 1957-63); professor HerbertOhl (LINDINGER, 1987, p.202)

1. 301. 301. 301. 301. 30Sistema construtivo de placas pré-moldadas paraconstrução habitacional. Princípio desenvolvido porRudi Dahlmann, Eberhardt Köster e ErnestMuchenberger (turma 1961-62); professor Herbert Ohl(LINDINGER, 1987, p.209).

1. 311. 311. 311. 311. 31Sistema construtivo de células em anéis em concreto

armado para edificação habitacional. Estudo de alunosdo terceiro ano do curso (1965-66); professor Herbert

Ohl (LINDINGER, 1987, p.212).

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4444444444 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

1. 321. 321. 321. 321. 32Estudos experimentais de construção

em aço. Professor Frei Otto(LINDINGER, 1987, p.210)

1. 33, 1. 34 e 1. 351. 33, 1. 34 e 1. 351. 33, 1. 34 e 1. 351. 33, 1. 34 e 1. 351. 33, 1. 34 e 1. 35Diferentes configuraçõesutilizando-se o sistemaconstrutivo de células em con-creto armado - Herbert Ohl,Bernd Meurer e Willi Ramstein(1959-60). Edificaçãohabitacional (33), edifício dehabitação estudantil (34)econjunto de casas térreas (35) -(LINDINGER, 1987, p.205).

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4545454545capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

Debates das décadas de 1960-70: arquitetura e tecnologiaDebates das décadas de 1960-70: arquitetura e tecnologiaDebates das décadas de 1960-70: arquitetura e tecnologiaDebates das décadas de 1960-70: arquitetura e tecnologiaDebates das décadas de 1960-70: arquitetura e tecnologia

Embora tenha existido um forte repúdio às idéias dos arquitetosmodernos sobre a questão de padronização e reprodução emsérie, os discursos que surgem a partir do final da década de1950 resgatam muito destas idéias se utilizando de filtros paraadaptá-las a realidade da sociedade da época.

[...] esta espécie de atualização de um certo ideário moderno-entenda-se o ideal de uma fusão entre arte, ciência, e indústriaproduzindo uma nova arquitetura para um novo tempo - exigiao reconhecimento de uma distância entre a agenda dos vinte,centrada no tema da reprodutibilidade, da determinação dostandard ideal a partir da identificação de funções tipificadas,e a agenda dos sessenta, em que se pretendia incluir oproblema da diversificação e da possibilidade de expressãoindividual dentro da cultura de massa, em um cenário cujacomplexidade sociológica era crescente, e onde a relação entreprodução e consumo passava a depender de um controleafinado (CABRAL, 2002, p.37).

O Team 10 5 5 5 5 5 com a participação principalmente de Alison ePeter Smithson, marcou o rompimento da ortodoxia dos CIAMsem 1956 em Dubrovnik, levando a uma reconsideração domovimento moderno e à atualização de seus pressupostos nocontexto de pós guerra. Este grupo pretendia continuar com oprojeto da arquitetura moderna no sentido de se aproximar domundo da ciência, da tecnologia e da produção, “mas nãodefinindo grandes teorias ou projetando protótipos” e “simimitando o método científico experimental e empírico que analisacaso a caso” (MONTANER, 2001, p.31). Neste sentido,baseando-se em uma atitude fundamentada na consideraçãode que vivemos em uma realidade mutante e passageira, todoum discurso surge nesta época em defesa da diversidade deopiniões e da aproximação com a comunidade, com suasnecessidades, gostos e aspirações.O usuário da arquiteturapassa a ser considerado peça fundamental no processo dedefinição do projeto, ganhando força a idéia de estrutura flexível

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4646464646 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

para a edificação se adequar às ansiedades e desejos dosmoradores (ver capítulo 1.5).

Paralelo a este processo de reformulação formal e de princípiosdo Movimento Moderno, surgiram algumas tendênciasarquitetônicas em países industrialmente mais avançados, quebuscavam recuperar o espírito pioneiro e otimista tecnológicodas vanguardas do início do século XX. Isto reflete odesenvolvimento e prosperidade dos países capitalistas nadécada de 1960 e das novas possibilidades tecnológicas,culminando com a conquista espacial em 1969 quando ohomem chega à lua.

Também o campo da produção construtiva está preparadopara um importante salto qualitativo. As possibilidades decálculo, projeção e produção das estruturas arquitetônicassofreram modificações em relação ao período das propostasplásticas dos mestres. Calibradores eletrônicos, modelosaeroelásticos, túneis de vento e outros instrumentos permitemavançar nos experimentos de estruturas para arranha-céus, ese aproximam aos métodos das indústrias naval, aeronáuticae automobilística. Aparecem novos materiais – derivadosmetálicos e plásticos – e avançadas tecnologias (MONTANER,2001, p.112).

A idéia de que a arquitetura pode ser produzida como qualqueroutro objeto de consumo ganha novo impulso, alicerçada nosavanços da tecnologia científica que pode permitir a produçãode qualquer peça pré-fabricada tridimensional, integrando-seas leis de fabricação em série e alcançando a perfeição deencaixe de qualquer peça industrial.

Dentro deste espírito de experimentação tecnológica, Alison ePeter Smithson se envolveram em reflexões sobre a produçãoda casa com sistemas pré-fabricados, utilizando o mais novodos materiais: as fibras sintéticas. Fugindo do conhecido modelode casa pré-fabricada, que era o chalé ou cabana de madeira,em 1956 eles desenvolveram um protótipo da chamada Casado Futuro para a Ideal Home Exhibition organizada pelo jornalThe Daily Mail, em Londres. Toda sua estrutura foi moldada em

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4747474747capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

resinas plásticas. Seu perímetro exterior era ortogonalcontrastando com o interior de formas orgânicas e fluidas,formado por compartimentos situados ao redor de um pátioajardinado. As únicas peças móveis da casa eram algumascadeiras. Portanto, existia uma integração entre a casa e aaparelhagem “como um novo dado a considerar no territóriodoméstico” (CABRAL, 2001; 61).

Outro grupo que surgiu nesta época de otimismo tecnológicofoi o grupo inglês Archigram 6 6 6 6 6. Este Grupo divulgou diferentesprojetos especulativos sobre as possibilidades dos novosmateriais sintéticos e das novas tecnologias, principalmente asinformacionais, em propiciar uma liberação formal, quebrandoa rigidez e a definição dos espaços até então presentes naarquitetura. Existia uma confiança que os novos materiais e asnovas disponibilidades tecnológicas poderiam patrocinar umarevolução formal, onde todo o cenário humano seria modificadodrasticamente, desde os objetos de uso cotidiano, comoeletrodomésticos e móveis, até a estrutura urbana.

Destacando a proposta sobre uma unidade habitacional, nadécada de 1960, o Archigram, no projeto de “Living 1990”,

1. 361. 361. 361. 361. 36 e 1. 37 1. 37 1. 37 1. 37 1. 37Casa do Futuro - Alison e Peter Smithson: Planta e Interior do protótipo (GALFETTI, 1997,

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4848484848 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

prevendo as possibilidades trazidas pelo uso da informática noespaço doméstico, desenvolveu o conceito de espaçoconversível, como uma máquina programável, cujatransformação e sensação espacial eram realizadas conformeo desejo do usuário. O grupo havia sido contratado em 1967pelo The Weekend Telegraph para desenhar uma ‘casa para oano 1990’, cujo protótipo seria exibido na loja de departamentosHarrods, em Londres. A idéia principal consistia em conceberum único espaço que desempenhasse o máximo de funçõesem momentos distintos possibilitados por um mobiliário eaparatos técnicos. Seus elementos principais era a parede deserviço, os dois “robôs domésticos”, mobiliário inflável, pisoscom densidade e níveis ajustáveis e uma poltrona que poderiatransformar-se em carro de passeio (CABRAL, 2001, p.127).

Grupos como este partem do pressuposto que o arquiteto estácapacitado para “solucionar todos os problemas que o tempopropõe e para fornecer uma paulatina melhora de todos osaspectos sociais” (MONTANER, 2001, p.112). Ressurge nestas

1. 381. 381. 381. 381. 38 e 1. 39 1. 39 1. 39 1. 39 1. 39Living 1990 – Archigram (GALFETTI,

1997, p.59 e p.61).

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4949494949capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

propostas a idéia do progresso ilimitado presente na base dosprojetos do Movimento Moderno, mesmo com o aparecimento,a partir da década de 1960, das críticas ao modelo baseadoexclusivamente no crescimento industrial e à própria idéia deprogresso ilimitado.

Kisho Kurokawa, um dos Metabolistas (grupo japonêscontemporâneo do grupo inglês Archigram), se utilizandotambém das possibilidades tecnológicas construtivas, realizouem sua Nakagin Capsule Tower (1970-72) a idéia de espaçohabitacional mínimo produzido industrialmente, completamentemobiliado e equipado com TV, ar condicionado, telefone,cozinha e banheiro. Na realidade, Kurokawa concretizou umaconcepção desenvolvida também pelo Archigram de cápsulasproduzidas industrialmente e “plugadas” em uma estrutura cen-tral de sustentação (Capsule Homes, Warren Chalk, 1963).

Na Nakagin Capsule Tower cada célula possui uma única janelacircular que faz clara referência simbólica a objetos de consumoproduzidos em série, como a máquina de lavar roupa. Asunidades são projetadas como apartamento ou como escritóriopara acomodar um indivíduo, podendo abrigar uma famíliaconforme a combinação entre as unidades. A estrutura da torre

1. 401. 401. 401. 401. 40 e 1. 41 1. 41 1. 41 1. 41 1. 41Nakagin CapsuleTower – KishoKurokawa. As célulassendo montadas(esquerda) e o seuinterior totalmenteequipado (TIRY,2000, p.90 e p.91).

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5050505050 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

possibilita a intercambialidade e reciclagem a partir do momentoque as unidades podem ser trocadas. Após trinta anos de suaconstrução, o próprio Kurokawa defendeu a idéia de reabilitara Torre através da troca das unidades moduladas que podemser removidas da coluna central de serviços em duas semanas.Seria colocada no lugar delas uma versão mais avançada emelhor equipada, permitindo mais combinações entre osmódulos (TIRY, 2000, p.91).

Nesta linha de projetos realizáveis, considerando o uso da altatecnologia na arquitetura, surgiram a partir da década de 1970,nos países mais desenvolvidos, escritórios que passaram adesenvolver uma arquitetura high tech. A equipe criada em1967 por Norman Foster, é possivelmente o exemplo maisemblemático deste tipo de arquitetura, que conjuga nasrealizações práticas, a versatilidade das diversas especializaçõestécnicas e a precisão do desenho industrializado.

A busca de soluções capitalistas para os dilemas dodesenvolvimento e da estabilização político-econômica pós-guerra justificou o tipo de planejamento e industrialização emlarga escala na indústria da construção, aliado à exploraçãode técnicas de transporte de alta velocidade e dedesenvolvimento de alta densidade.

Sob o olho vigilante e às vezes a mão forte do Estado, foramtomadas medidas para eliminar habitações miseráveis econstruir casas, escolas, hospitais, fábricas etc. modularesatravés da adoção dos procedimentos de planejamentoracional e dos sistemas de construção industrializada que osarquitetos modernistas há muito tinham proposto. E tudo issointegrado por uma profunda preocupação, expressa repetidasvezes nas leis, com a racionalização dos padrões espaciais edos sistemas de circulação para promover a igualdade (ao

A visão sistêmica da cultura pósA visão sistêmica da cultura pósA visão sistêmica da cultura pósA visão sistêmica da cultura pósA visão sistêmica da cultura pós-industrial-industrial-industrial-industrial-industrial

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5151515151capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

menos de oportunidade), o bem-estar e o crescimentoeconômico (HARVEY, 1998, p.71).

Apesar de todas as críticas sobre o pensamento modernista,seus ideais serviram muito bem para enfrentar o período pósguerra. No entanto, o crescimento econômico e mudançassignificativas na tecnologia das comunicações e de transportepermitiram o pensar a cidade de forma mais dispersa. Junto aisto, as novas tecnologias de produção (principalmente ascomputadorizadas) dissolveram a necessidade de conjugar aprodução em massa com a repetição em massa, possibilitandouma maior diversidade dos produtos finais.

Embora Norman Foster continue construindo seus projetos hightech nas ricas metrópoles do mundo, o otimismo tecnológicoentrou em crise no final da década de 1970, e as propostasbaseadas na repetição de elementos e espaços pré-fabricados,em sistemas construtivos fechados, não tiveram continuidadedevido ao seu alto custo.

Antes da década de 1970, o modelo estrutural de sustentaçãodo estado do bem estar já estava em crise e o mito da sociedadeda afluência estava sendo derrubado pela crescente “dificuldadedeste mesmo estado protetor em seguir mantendo seucompromisso básico, ou seja, garantir a norma de consumoatravés das políticas salariais e da segurança social” (CABRAL,2001, p.149).

Além desta desestruturação do estado do bem estar, a questãoecológica passa a se tornar uma importante referência nas maisvariadas áreas de pensamento e investigação, impondoquestionamentos sobre a cultura do consumo e sobre o uso e oprocesso de produção dos materiais.

A abordagem sistêmica da construção industrializada defendidana década de 1950-60 passa por uma revisão. A aplicaçãodas teorias sistêmicas na arquitetura (Teoria Geral dos Sistemase Cibernética) estava reduzida ao desenvolvimento de sistemasconstrutivos com pouquíssimas interações com o seu meio,

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5252525252 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

ignorando conceitos básicos importantes de Sistema.

Por causa das visões limitadas de especialistas daqueles queaplicavam a abordagem sistêmica, os ambientes habitáveisque seus sistemas produziram foram somente soluçõestemporárias - sem consideração às mudanças no fluxo dasexpectativas sociais. Mesmo quando eles incorporavam aflexibilidade nos seus produtos finais, os sistemas em si eraminflexíveis. Os modelos gerados falharam por não gerar umfenômeno holístico essencial para o sucesso - a facilidade autoreguladora para responder às mudanças de conceitos dequalidade de vida (RABENECK, 1976, p.267 - tradução daautora). 7 7 7 7 7

A idéia de sistema construtivo deveria incorporar a concepçãode sistema aberto onde além de existir um todo composto porvárias partes, existe a interação entre as partes e destas com omeio ambiente. Muito mais que um produto final, “Sistema” éuma forma holística de ver alguma “coisa”, algum evento ouprocesso. Além disto, “Sistema” é um conjunto de regrasdeterminando de que maneira cada kit de partes pode sercolocado junto (MELLER, 1976, p.268).

Neste resgate do conceito inicial de “Sistema” levanta-se aquestão da interação com o ambiente onde a edificação seráinserida e principalmente do usuário para o qual o sistemaconstrutivo foi pensado. No sentido de possibilitar a auto-regulação do sistema, ou seja, uma adaptação às mudançasde necessidades e de tecnologias, não é possível mais pensarem um sistema fechado, com todas as suas partes já definidase que não dão margens a substituições e modificações.

É importante também desvincular a idéia de sistema com aaplicação de alta tecnologia. Voltando a afirmar que o sistemadefine um conjunto de regras de como as partes precisam seinteragir, a produção destas partes e a construção final daedificação pode ser realizada com tecnologia disponível naregião, dentro de uma realidade sócio-econômica específica,inclusive dentro de um contexto “low-tech”.

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5353535353capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

1. 441. 441. 441. 441. 44Componentes de mobiliário(armários de cozinha, prateleiras,guarda roupas) da altura do pé-direito, servem como divisórias ecomo elementos estruturais da casa.São módulos pré-fabricados de 240x 90 x 70 (ou 45) cm. – arquitetoShigeru Ban (HOUSE near Tokio,Japan, 1998, p.797).

O que se destaca nesta visão sistêmica, como lembra Rabeneck(1976,p.298), é fazer com que o progresso seja definido muitomais em termos de se atingir objetivos humanos do que sesuperar os limites tecnológicos.

1. 421. 421. 421. 421. 42Modelo de construção industrializadaencontrada no Japão utilizada como forma dediminuir a carência habitacional (BROOKES;VAUGHAN, 1998, p.760).

1. 431. 431. 431. 431. 43Sistema construtivo formado por

elementos e componentes metálicospré-fabricados que permite diferentes

plantas e possibilidades deconfigurações de fachada (BROOKES;

VAUGHAN, 1998, p.760).

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5454545454 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

NotasNotasNotasNotasNotas

11111 Deutscher Werkbund foi uma Associação de diferentes profissionaiscriada em 1907 na Alemanha que buscava a elevação da qualidadedos produtos industrializados através de uma união da arte, daindústria e do artesanato, com uma preocupação clara em tornar osprodutos alemães mais competitivos no mercado externo.

22222 “The architect of the future - if he wants to rise to the top again - willbe forced by the trend of events to draw closer once more to thebuilding production. If he will build up a closely cooperating teamtogether with the engineer, the scientist and the builder, then design,construction and economy may again become an entity - a fusion ofart, science and business” (GROPIUS apud GIEDION, 1992, p.78).

33333 Karl Heinz Bergmiller nasceu na Alemanha em 1928 e estudou naHochschule für Gestaltung-Ulm. Mudou-se para o Brasil em 1959.Colaborou ativamente na criação da Escola Superior de DesenhoIndustrial (ESDI), Rio de Janeiro. Em 1968 criou o Instituto de DesenhoIndustrial do Museu de Arte Moderna (IDI-MAM). Este Instituto, alémde promover as três Bienais Internacionais do Rio de Janeiro (1968,1970 e 1972), realizou também uma grande pesquisa sobre mobiliárioescolar brasileiro, num projeto desenvolvido para o Ministério daEducação. Bergmiller trabalhou para a indústria, inicialmente noFormInform (escritório fundado por Alexandre Wollner, Geraldo deBarros e Rubem Martins) e como profissional independente. Em 1967iniciou sua longa colaboração de trinta anos com a Escriba, fábricade móveis para escritório. Concedeu uma entrevista à autora em 28de fevereiro de 2007 na sede da Empresa Alberflex, Sorocaba,também uma indústria de móveis para escritório, onde Bergmilleratua como consultor de design.

44444 Depoimento de Karl Heinz Bergmiller (28 fev.2007).

55555 As idéias do Team 10 são principalmente das quatro equipespermanentes do grupo: Jacob B. Bakena, Georges Candilis, Aldovan Eyck e Alison & Peter Smithon. Os demais membros do grupo sãovariáveis.

66666 O Archigram era formado por componentes de dois escritórios de

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5555555555capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

arquitetura: Peter Cook e Dennis Crompton, de um escritório, e DavidGreene, Ron Herron e Michael Webb, de outro. Através da revistaArchgram o grupo divulgava as imagens tecnológicas de seus projetosradicais, muitos deles irrealizáveis. Mesmo pertencendo a um mundomajoritariamente ilusório, suas propostas formais tornaram-sereferência na arquitetura contemporânea.

77777 “Because of the limited specialist perspectives of those applying thesystems approach, the living environments which their systems pro-duced were only stop-gaps - fingers thrust into the dyke without thoughtto the changing tides of social expectations. Even when they incorpo-rated flexibility in the finished product, the systems themselves wereinflexible. The predictive models they devised failed to generate theone holistic phenomenon essenctial for success - the self-regulatingfacility to respond to the changing concept of the quality of life”(RABENECK, 1976, p.267).

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5656565656 capítulo 1.2- tecnologia e arquitetura - habitação

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5757575757capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1.3 - TECNOL1.3 - TECNOL1.3 - TECNOL1.3 - TECNOL1.3 - TECNOLOGIA E DESIGN INDUSTRIAL - MÓVELOGIA E DESIGN INDUSTRIAL - MÓVELOGIA E DESIGN INDUSTRIAL - MÓVELOGIA E DESIGN INDUSTRIAL - MÓVELOGIA E DESIGN INDUSTRIAL - MÓVEL

“Já não cabe mais falar em desenho do produto, mas emdesenho ambiental, no qual o produto e suas qualidades

contracenam com o usuário e sua capacidade de processara informação. Já não cabe falar em desenho de produto,

mas o desenho industrial de hoje deve ser necessariamentede massa e contextualizado, adaptado às características

econômicas, sociais e culturais dos seus usuários. Essedesenho industrial é um desafio para a formação e a

profissionalização do designer: sua tarefa é, de um ladoprojetiva entre tecnologias e materiais, de outro, é cultural,

na medida em que desenha informação e idéias.”

Lucrécia Ferrara

Assim como na arquitetura, o aparecimento de novos materiaistambém refletiram diretamente em novos processos produtivosde objetos, e consequentemente permitiram novas linguagens.Algumas vezes estes caminhos (da arquitetura e do design)correm paralelos, se cruzam ou tomam rumos diferentes. Sepor um lado o processo produtivo dos dois produtos – habitaçãoe móvel – possuem diferenças muito grandes (ver asespecificidades da construção habitacional no capítulo 2),quando se trata de espaço doméstico com áreas muito restritasque precisam abrigar várias atividades apoiadas em seumobiliário e equipamento, os caminhos destas duas disciplinasse cruzam, sendo tratadas algumas vezes como microarquiteturaou macrodesign em propostas experimentais. Através de umabreve história do móvel moderno antecedida por importantesconceitos de design, faz-se uma aproximação sobre o designdo objeto no sentido de identificar e pontuar aspectosimportantes de serem tratados em torno da microarquiteturaou do macrodesign das habitações mínimas e seu mobiliário.

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5858585858 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Design é uma atividade representada por uma ampla variedadede profissões que envolvem produtos, serviços, comunicaçãovisual, interiores e arquitetura. Dentre as várias áreas de atuaçãodesta atividade, o foco deste trabalho está sendo dado ao de-sign industrial, considerando, portanto, projetos concebidos paraserem produzidos por métodos industriais.

Segundo a versão do ICSID – Internacional Council of Societ-ies of Industrial Design 11111:

Design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer asmúltiplas qualidades de objetos, processos, serviços e seussistemas na totalidade do ciclo de vida. Portanto, design é fatorcentral da humanização de tecnologias e fator crucial deintercâmbios culturais e econômicos. 22222

Destacando-se que um objeto precisa apresentar uma unidadecoerente tanto para o produtor como para o consumidor, alémdos aspectos técnicos sobre materiais e processos produtivos,são levantadas também questões relacionadas aos aspectosculturais, semiológicos, semânticos e psicofisiológicos(cognitivos, psicológicos e subjetivos).

o design se aproxima ainda mais neste final de século dasciências sociais, da sociologia, da antropologia e da filosofia,em busca de antecipar as necessidades reais dos usuários dofuturo (MORAES, 1999, p. 56).

Portanto, a complexidade da atual realidade (tecnológica, so-cial, cultural, econômica e política) exige do designer e doarquiteto, assim como de outros profissionais, a capacidade detrabalhar com as interfaces de conhecimento, exercendo umacontínua atividade crítica e de metalinguagem para conseguirrelacionar todas as faces presentes nesta complexa realidade.

Uma compreensão equivocada sobre a noção de design in-dustrial, muitas vezes relacionado somente a fatores estéticos,

Design e inovação tecnológicaDesign e inovação tecnológicaDesign e inovação tecnológicaDesign e inovação tecnológicaDesign e inovação tecnológica

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5959595959capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

provoca em alguns setores o não entendimento de suaverdadeira função, ou seja, o “processo de eleição de critériosde eficiência social e de uso do produto, de racionalização dosrecursos disponíveis e de meio de transferência dos resultadosdas pesquisas científicas ao sistema produtivo” (BONSIEPE,1984, p.18).

As inovações tecnológicas se dividem em três grandes áreas:inovação em forma de produtos; inovação em forma deprocesso de produção; e, inovação em forma de organização.O design industrial se insere na primeira área, participandojunto com as engenharias, no desenvolvimento de produtos(BONSIEPE,1984, p.18).

Porém, o design industrial como área disciplinar trabalha comas mais diferentes interfaces de acordo com o problema a sertratado. Sua afinidade com a arquitetura, além da dimensãoestético formal, vem da necessidade de suprir a sociedade comprodutos de uso. Transitando por áreas de conhecimento muitodiversas, que abrangem desde as ciências sociais até as ciênciasda engenharia, ambas as disciplinas aglutinam conhecimentospara transformar-se em áreas de saber específicas.

Para resumir a abrangência do design industrial, Bonsiepe(1984, p.23) cita a seguinte relação de atributos:

1. O Design Industrial é uma disciplina de projeto, na áreada inovação tecnológica que forma parte dodesenvolvimento de produtos com destino à fabricaçãoindustrial;

2. O Design Industrial introduz no discurso sobre função eeficiência, critérios de eficiência social e critériospragmático-operativos (uso de produtos);

3. O Design Industrial materializa as exigências econdicionamentos funcionais, técnico-produtivos,econômicos e sócio-culturais em forma de uma propostaconcreta para um projeto com sua configuração;

4. O Design Industrial cuida dos fatores sócio-culturais(aspectos estético-formais e semióticos) em forma

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6060606060 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

explícita, tratando-os como parte intrínseca da qualidadedo produto (e não como um agregado);

5. O Design Industrial realiza aportes para a qualidade doproduto, sobretudo para a qualidade de uso(Gebrauchsqualität);

6. O Design Industrial traduz-se em benefícios micro-econômicos e macro-econômicos, tanto para o mercadointerno como para o mercado externo;

7. O Design Industrial tende a racionalização do uso derecursos disponíveis em forma de capacidade instaladaem empresas, matérias-primas e capacitação para otrabalho;

8. O Design Industrial contribui para a transferência dosresultados das investigações científicas ao sistemaprodutivo;

9. Os critérios de Design Industrial são imprescindíveis paraa avaliação de produtos, para a formulação da políticade inversões, para a concepção de uma políticatecnológica-industrial, para a implementação danormalização e para a orientação do consumidor;

10.O Design Industrial é um fator de desenvolvimento dasforças produtivas, pois cria a cultura material modernada vida cotidiana de uma sociedade. Especificamente,nos países periféricos, ajuda a reduzir a dependênciatecnológica na área de projeto de produtos.

Até chegar a uma relação como esta que Bonsiepe elaborou, aconsolidação do design industrial como nova profissão ocorridaao longo do século XX, foi acompanhada por variadas definiçõesque refletiam diferentes interesses e concepções na sua utilizaçãopara o desenvolvimento técnico-econômico de cada época.

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6161616161capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

FFFFFuncionalismo e uncionalismo e uncionalismo e uncionalismo e uncionalismo e stylingstylingstylingstylingstyling

1. 451. 451. 451. 451. 45Cadeira Thonet n. 14 – criada porMichael Thonet; primeiro modelode aproximadamente 1859. Totalda produção até 1930: 50 milhõesde unidades. Exemploparadigmático do início do designindustrial (MANG, 1982, P.42).

1. 461. 461. 461. 461. 46Partes da cadeira Thonet (MANG,

1982, p.42).

A primeira metade do século XX abriga a transição dofuncionalismo, inserido em um movimento de racionalização epadronização, institucionalizado pela Bauhaus, para o styling33333, surgido com a depressão que se seguiu ao crash americanoda Wall Street em 1929 e aplicado até hoje nos produtos paragerar uma obsolescência artificial.

O culto à racionalização e à padronização, corporificado pelo“fordismo” 44444, traduziu-se nos produtos pelo que passou a sedenominar de funcionalismo, ou seja, a “idéia de que a formaideal de qualquer objeto deve ser determinada pela sua função,atendo-se sempre a um vocabulário formal rigorosamentedelimitado por uma série de convenções estéticas bastanterígidas” (DENIS, 2000, p.122). Embora a escola alemã Bau-haus (1919-1933) tenha tido diferentes fases, que foi doexpressionismo ao racionalismo, ela é lembrada como a grandedifusora do Estilo Internacional calcado no funcionalismo 55555.....No entanto, o funcionalismo praticado pela escola precisa sercontextualizado no período tumultuado que foi a República deWeimar.

[...] o significado maior da escola esteve na possibilidade defazer uso da arquitetura e do design para construir uma

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6262626262 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

sociedade melhor, mais livre, mais justa e plenamenteinternacional, sem os conflitos de nacionalidade e raça queentão dominavam o cenário político (Denis, 2000, p.121).

Portanto, por trás das formas do design bauhausiano existe umadiversidade e riqueza de teorias que precisam ser estudadaspara apagar a visão reducionista a que a produção da Bau-haus ficou presa, sendo utilizada como geradora de fórmulasprontas, reproduzidas fora de seu contexto sócio-político.

Mesmo assim, uma das grandes contribuições da Bauhaus nocampo do mobiliário foi a cadeira Wassily (1925) desenvolvidapor Marcel Breuer. Esta cadeira de aço tubular, curvo eniquelado, tornou-se modelo para vários outros designersexplorar este material em outros móveis, como Ludwig Miesvan der Rohe e Mart Stam.

A exposição da Werkbund em 1927, na Weissenhofsiedlung,em Stuttgart, Alemanha, considerada como um dos principaispontos de partida do Estilo Internacional, mostrou as propostasde vários arquitetos/designers em projetos de moradias e deseu mobiliário construídos a partir de módulos padronizados ecom formas pretensamente universais que dominaram aarquitetura e o design modernista até a década de 1960.

1. 471. 471. 471. 471. 47Cadeira Wassily – Marcel Breuer, BauhausDessau, 1926 (FIELL, 2001, p.25).

1. 481. 481. 481. 481. 48Sala de apartamento próximo a Zurique. Móveisde Marcel Breuer, 1934 (HAUFFE, 2000, p.83).

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6363636363capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

As vanguardas artísticas tiveram maior impacto no design in-dustrial da primeira metade do século XX através do design demóveis, realizados por famosos representantes do movimentomoderno, como Alvar Aalto, Le Corbusier e Ludwig Mies vander Rohe, que eram também arquitetos. Com a utilização demateriais industrializados, como o aço tubular cromado e amadeira compensada, estes designers buscavam projetar móveisde qualidade e acessível a grande massa de consumidores.Estas peças tornaram-se grandes “clássicos” do design do séculoXX e, diferentemente do objetivo inicial, são vendidas atualmentepor preços altíssimos. A nível empresarial, Charles e Ray Eames,Eero Saarinen, Harry Bertoia e outros designers desenvolveramvários móveis, principalmente cadeiras, na década de 1950,para empresas como as americanas Herman Miller e a KnollAssociates, estabelecendo padrões de conforto e de beleza aindahoje vigentes.

1. 501. 501. 501. 501. 50Cadeira Paimio, Modelo n. 41. Compensado moldado em curvas, Alvar Aalto, 1930-1931(FIELL, 2001, p.8).

1. 511. 511. 511. 511. 51 – Bancos com pernas emleque, modelos n. X601 e X600.

Ligação direta dos elementosverticais (pernas) com o horizontal

(assento). Alvar Aalto, 1954 (FIELL,2001, p.10).

1. 491. 491. 491. 491. 49Sala de uma das casas da

Weissenhofsiedlung, Stuttgart,1927, Walter Gropius(HAUFFE, 2000, p.81)

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6464646464 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1. 541. 541. 541. 541. 54Apartamento apresentado no Salon d’Automne,Paris, 1929, com móveis tubulares e armáriosmodulados. Le Corbusier, Pierre Jeanneret eCharlotte Perriand, 1928 (FIELL, 2001, p.99).

1. 521. 521. 521. 521. 52 e 1.53 1.53 1.53 1.53 1.53Chaise-longue,

modelo n. B306 eSofá, modelo n. LC2.

Le Corbusier, PierreJeanneret e CharlottePerriand, 1928 (FIELL,

2001, p.79).

1. 551. 551. 551. 551. 55Cadeira modelo n.MR10, Ludwig Miesvan der Rohe, c.1928 (FIELL, 2001,p.117).

1. 571. 571. 571. 571. 57Cadeiras de braços PAC-1(1950-1953) e mesas detampo laminado para Herman Miller, c. 1958. Charles eRay Eames (FIELL, 2001, p.64).

1. 561. 561. 561. 561. 56Interior com cadeiras LCW (1945),cadeira LCM (1945-46), mesa CTW(1946), e biombo FSW (1946). Charlese Ray Eames para Herman Miller (FIELL,2001, p.63).

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6565656565capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Este design funcionalista ganhou apoio institucional com oMuseu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, após aSegunda Guerra. Este Museu instituiu o que se denominou deGood Design 6 6 6 6 6, difundindo o termo ‘Estilo Internacional’ atravésde exposições, projetando para o mundo afora o padrão doque seria o ‘bom design’, em contraposição ao styling. Outrasorganizações governamentais européias passaram também aoferecer prêmios de design. Muitos “criticam o movimento afavor do good design como nada mais do que uma forma deimpor padrões de gosto elitista ao consumidor popular atravésde um discurso de bom senso e eficiência”. No entanto, “aideologia do Estilo Internacional se baseava na idéia de que acriação de formas universais reduziria as desigualdades epromoveria uma sociedade mais justa” (DENIS, 2000, p.155).

1. 581. 581. 581. 581. 58Cadeira n. 670 e otomanan.671, para Herman Miller,1956. Charles e Ray Eames(FIELL, 2001, p.65).

1. 591. 591. 591. 591. 59Cadeira Formiga. Primeiracadeira dinamarquesa a serproduzida em massa. ArneJacobsen, 1952 (HAUFFE,2000, p.125).

1. 601. 601. 601. 601. 60Coleção Womb, para aKnoll Associates, 1947-

1948. Eero Saarinen(FIELL, 2001, p.157).

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6666666666 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Neste mesmo período entre guerras, longe do âmbito dadiscussão intelectual pedagógica e das práticas e discurso dasvanguardas artísticas (De Stjil, Cubismo, Futurismo,Construtivismo), encontrava-se a produção de uma indústriaque estava passando por grandes transformações com osurgimento de novas tecnologias e materiais (entre eles, osplásticos e o alumínio). Além disto, a sociedade nesta épocaestava vivenciando a popularização do automóvel, do avião,do cinema, do rádio e de vários eletrodomésticos. O stylingintensificado no início da década de 1930, após a grandeDepressão Mundial, agregava valor estético ao produto eajudava a estimular a compra de novos produtos pelosconsumidores para substituir similares que ficavam fora demoda. Surgia com isto a idéia de obsolescência estilística, ouseja, um artigo se torna obsoleto em termos estéticos muitoantes de seu desgaste pelo seu funcionamento, idéia praticadaaté os dias atuais.

Dentro desta tendência estava o design conhecido como stream-lining 77777, que difundiu amplamente as formas aerodinâmicas,tanto em carros como em objetos estáticos. Evocando noções

1. 611. 611. 611. 611. 61Cadeira Tulipa, para a KnollAssociates, 1955-1956. EeroSaarinen (FIELL, 2001, p.156).

1. 621. 621. 621. 621. 62Cadeiras Panton, para Herman Miller, 1956-1960.

Verner Panton (FIELL, 2001, p.130).

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6767676767capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

de velocidade, dinamismo, eficiência e modernidade, foi umaestética exaustivamente explorada com grande sucesso demercado. Através de publicações e filmes, estas formasaerodinâmicas foram difundidas para o mundo inteiro.

1. 631. 631. 631. 631. 63Rádio de baquelita EkcoAD65, Wells Coates, 1934.(FIELL, 2001, p.49).

1. 641. 641. 641. 641. 64Geladeira “Coldspot”, Raymond

Loewy, 1935. (HESKETT, 1998, P.109).

1. 651. 651. 651. 651. 65Automóvel da Lincoln, modelo “Zephyr”, 1936 (HESKETT, 1998, p.74).

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6868686868 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

O streamlining, embora fortemente criticado pelos funcionalistas,continha justificativas de ordem técnica para suas formasarredondadas. “A eliminação de arestas e formas angulares éextremamente adequada, por exemplo, à moldagem de plásticoscaracterísticos da época como a baquelita” (DENIS, 2000,p.133) facilitando a extração destas peças de seus moldes. Omesmo se aplicava para as tecnologias disponíveis para aprensagem de chapas metálicas. Foi uma estética surgida sobreconsiderações técnicas de materiais e processos de produção,e sobre pesquisas científicas que buscavam formas com afinalidade de oferecer um melhor desempenho para produtosdinâmicos, como automóveis, trens e aviões.

Acompanhando a modernidade traduzida nos vários aparelhoseletrodomésticos, encontravam-se os armários modulados decozinhas. A cozinha de Frankfurt desenvolvida em 1926 foi umadas precursoras desta idéia facilitada pela existência das placasde compensado. A modulação aplicada em móveis já haviasido exposta por Le Corbusier em 1925, no pavilhão EspritNouveau, em Paris. Os móveis modulados podem ser compostosde acordo com o espaço disponível. Gradativamente aconcepção de móveis modulados se expandiu, principalmentepara armários de cozinha.

O último suspiro da institucionalização da ‘gute Form’ (versãoeuropéia do good design) veio com a fundação da Hochschulefür Gestaltung (HfG), em Ulm, na Alemanha, em 1955. Max

1. 661. 661. 661. 661. 66 Cozinha de Frankfurt, projetada de acordo

com rígidos aspectos funcionais eergonômicos para a habitação mínima.

Precursora das cozinhas moduladas.Margarete Schütte-Lihotzky, 1926 (KUHN,

1998, p.167).

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6969696969capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Bill, o primeiro diretor desta escola, pretendia dar continuidadecom a tradição da Bauhaus e sua orientação estético-formal.

Em confronto com os bens de produção, os bens de consumoestão hoje muito mais sujeitos à moda do que antigamente. Éum campo que se alargou até abarcar os móveis e osautomóveis. O consumo é mais rápido. E assim,automaticamente, abusa-se da forma, fazendo dela um factorde incremento das vendas. Este perigoso crescimento manifesta-se claramente no estilo streamlining, que hoje, por motivosestéticos, reclamamos novamente belas formas, gostaríamosde não ser mal entendidos: trata-se sempre de forma vinculadaà qualidade e à função do objecto. Trata-se de formas honestas,não de invenções no intuito de incrementar a venda de produtosde conformação instável, sujeita à moda”(Max Bill, 1952 apudMALDONADO, 1999).

Esta postura em defesa da gute Form trazida do ideário daBauhaus, que havia sido formulado na década de 1920 comintenções e em circunstâncias políticas diferentes da década de1950, gerou conflitos ideológicos entre Bill e um grupo deprofessores. Este conflito provocou o afastamento de Bill e aescola assumiu logo em seguida uma postura tecnológica ecientífica, não dando margens ao caráter intuitivo herdado daBauhaus. Isto causou um conjunto de mudanças que sedenominou de ‘conceito Ulm’ e que exerceu profunda influênciaem todas as escolas de design industrial da época. As mudançasse concentraram nos seguintes campos: no seu plano de estudosque atribuiu grande importância às disciplinas científicas etécnicas; na sua orientação didática do curso fundamental, que“procura reduzir ao mínimo a presença dos elementos deactivismo, intuicionismo e formalismo herdados da didáticapropedêutica da Bauhaus”; e no programa da área do designindustrial orientado para o estudo e o aprofundamento dametodologia da criatividade (MALDONADO, 1999, p.75).

Mesmo com os conflitos ideológicos que provocaram mudançasem termos pedagógicos na Escola de Ulm, em termos formaisnão existiram grandes diferenças entre as propostas de Bill edos principais resultados da escola, caracterizados por um de-

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7070707070 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

sign sem metáforas, frio, asséptico e objetivo (SOUZA, 1998,p.72).

Entre os departamentos da Escola (ver capítulo 1.2), o de De-sign de Produto (Produktgestaltung) foi o que mais se destacou.A edificação desta Escola incorporou a idéia doGesamtkunstwerk onde o projeto de arquitetura de Max Bill foicomplementado pelos mais diferentes produtos com design dealunos e professores, como maçanetas, luminárias e mobiliário.

1. 691. 691. 691. 691. 69Luminária da Escola de Ulm (Hochschulefür Gestaltung - Ulm)- Design WalterZeischegg (LINDINGER, 1987, p.72).

1. 701. 701. 701. 701. 70 Maçaneta de Ulm (Hochschule für

Gestaltung - Ulm)- Design Max Bill e ErnstMoeckl - 1955 (LINDINGER, 1987, p.71).

1. 671. 671. 671. 671. 67Barbeador Braun-Sixtant, de HansGugelot, 1961, produzido pelaBraun, empresa que trabalhou juntocom a Escola de Ulm paradesenvolver sua IdentidadeCorporativa. Acompanhando opensamento de Ulm, o lema daBraun era: ‘menos design é maisdesign’ (HAUFFE, 2000, p.133)

1. 681. 681. 681. 681. 68Toca discos Áudio 1, de Dieter Rams, 1962,

para a Braun (FIELL, 2001, p.147)

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7171717171capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

O banquinho de Ulm tornou-se famoso pelo seu carátertotalmente inovador. Era um banquinho que cada aluno tinhao seu e era levado do quarto do alojamento para a sala deaula, para o refeitório, para o lugar de trabalho, além dafunção de banco propriamente dito, servia como mesa, comoapoio, para transportar material quando alçado por sua travessaredonda, enfim, super versátil.8

Além da versatilidade, a desmontabilidade também foiintensamente trabalhada nos projetos, dentro do conceito desistema, incorporado no departamento de construçãoindustrializada (ver capítulo 1.2), e que também estava presenteno Design de Produtos.

“Caixa de compasso, móveis desmontáveis, eletrodomésticose muitos produtos montáveis são exemplos comuns de sistemasformados por diferentes elementos modulados. Assim comoSistemas, de onde se origina o conceito, estes produtos sãoformados por elementos. Estes elementos precisam se relacionar

1. 711. 711. 711. 711. 71Banquinho da Escola de Ulm(Hochschule für Gestaltung - Ulm)-Design Max Bill e Hans Gugelot - 1954(LINDINGER, 1987, p.12).

1. 72 e 1. 731. 72 e 1. 731. 72 e 1. 731. 72 e 1. 731. 72 e 1. 73Diferentes usos do banquinho da Escola de Ulm (Hochschule für

Gestaltung - Ulm)- sobre a mesa como apoio (aula de Max Bill); comobanco e como mesinha (quarto de estudantes) - (LINDINGER, 1987, p.71)

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7272727272 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1. 74 e 1. 751. 74 e 1. 751. 74 e 1. 751. 74 e 1. 751. 74 e 1. 75Sistema de móveis M 125 e suas partes - Design Hans Gugelot para afirma Bofinger, Stuttgart - 1957 (LINDINGER, 1987, p.84-85).

1. 761. 761. 761. 761. 76Poltrona desmontável- Design Karl Heinz Bergmiller e Ernst Moeckl -1958 para a firma Wilde & Spieth, Esslingen (LINDINGER, 1987,p.87).”Em Ulm eu desenvolvi com um colega esta poltrona desmontável.Na época tinha a cadeira colonial inglesa que era desmontável,mas que tinham muitas varetas quando desmontada e que ficavamdesordenadas. Desenvolvemos então uma poltrona maiscontemporânea, com esqueleto de aço e assento e encosto decouro. A cadeira que desenvolvemos foi resultado de um exercícioextremo. O produto desmontado precisa ser esteticamente tãoperfeito quanto montado” (Depoimento de Bergmiller, 28fev.2007).

através de suas qualidades, sejam elas dimensionais,qualitativas, formais ou qualquer outra qualidade. Um Sistemaocorre então quando seus elementos estão coordenados”(BONSIEPPE apud LINDINGER, 1987, p.87 - tradução daautora).9

A idéia de sistema de móveis foi explorada mais tarde peloaluno e professor da Escola de Ulm, Gui Bonsiepe, em umaexperiência desenvolvida no Chile entre 1971 e 1973, após ofechamento da Escola. Inserido em uma política de designpatrocinada pelo governo socialista de então, Bonsiepecoordenou um grupo que tinha como missão contribuir para

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7373737373capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

superar a dependência tecnológica da indústria chilena. Entreos produtos desenvolvidos por este grupo estava a linha demóveis padrões, de preço baixo, composto pelas seguintespeças: cadeira, mesa, cadeirão (para criança), cama de casal,cama de solteiro (que podia ser sobreposta para formar beliche),cômoda e armário (BONSIEPPE, 1978).

A IKEA é uma rede varejista que comercializa móveis eassessórios para o lar. Ela está presente em mais de trinta paísesna Europa, América do Norte, Ásia e Oceania. No Brasil existea empresa Tok & Stok que possui uma concepção muitosemelhante à IKEA, guardando suas devidas proporções.

Esta empresa fundada na Suécia em 1943 por Ingvard Kampradpossui um catálogo com cerca de 12.000 produtos para o lare atua no mercado sob o lema “Soluções baratas para umviver melhor” (Affordable Solutions for Better Living). Seusprincípios ecoam o que a Deutsche Werkbund pregava no iníciodo século XX e adotados posteriormente pela Bauhaus: elevaro gosto popular fornecendo produtos com qualidade e compreços acessíveis.

Se você quer vender estilo para as massas, ajuda se for umestilo limpo e prático. Ajuda também se você puder produzirem série de forma barata usando material local abundante –no caso da IKEA, a madeira – e ajuda imensamente se for umestilo desmontável que os compradores podem montar no pisoda sua casa. O alto clero do design modernista pregou ocostume (ethos) democrático; na realidade eles nunca atingirammais do que a alta classe média. Kamprad usou ao pé da letraa retórica deles, como deixa claro na abertura de seu livro “Otestamento de um comerciante de móveis”: “nós decidimos deuma vez por todas estar do lado da maioria” (BURKEMAN,2004 – tradução da autora).10

IKEA - princípios da Deutsche WIKEA - princípios da Deutsche WIKEA - princípios da Deutsche WIKEA - princípios da Deutsche WIKEA - princípios da Deutsche Werkbund na contemporaneidadeerkbund na contemporaneidadeerkbund na contemporaneidadeerkbund na contemporaneidadeerkbund na contemporaneidade

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7474747474 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Desde a década de 1950 a empresa tem a sua própria equipede designers. Atualmente são mais de dez designers fixos e oitovezes mais de designers externos. A principal obsessão destaequipe é criar produtos com custos cada vez menores, cujoprocesso de desenvolvimento pode levar alguns anos. Comoafirma a presidente da IKEA da Suécia em 2005, JosephineRydberg-Dumont: fazer design de produtos bonitos e caros éfácil, mas fazer design de produtos bonitos que são funcionaise baratos é um desafio enorme (apud BYRNE; CAPELL, 2005).Embora o desenvolvimento da maior parte dos produtos sejafeito na Suécia, a produção é distribuída nos países onde seucusto é menor.

Atuando em vários países em diferentes continentes, a empresaadapta parte de seus produtos ao gosto e costume local. Mudacores, tamanhos e tipos de objetos para agradar melhor ocomprador de determinado país ou de uma região.

Aplicando a desmontabilidade dos móveis, trabalhadaintensamente na Escola de Ulm, os móveis e assessórioscomercializados pela IKEA são concebidos para que ocomprador possa montar sozinho em sua casa. A embalagemdeste tipo de produto, conhecido como “flat-pack” possibilitanão somente baixar o custo de armazenamento e transportepara a empresa como também permite que o comprador possalevar a mercadoria comprada usando o transporte coletivo,comum nos países europeus.

Utilizando amplamente o conceito da modulação, a IKEA possuilinhas de produtos que permitem ao comprador montar o seumóvel, compondo módulos, conforme sua necessidade e gosto,através da escolha dos acessórios internos, bem como portas egavetas.

Sua estratégia de marketing busca não só vender móveis, masrepresentar um estilo de vida que se espalha pelo mundo.

Em um período quando consumidores possuem tantas opçõesde escolhas para qualquer coisa que queiram comprar, IKEA

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7575757575capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1. 781. 781. 781. 781. 78Cama alta: permite o uso do espaçoabaixo da cama para cômoda, sofá, mesade estudo ou outro uso.Designer: IKEA of Sweden(http://www.ikea.com)

1. 771. 771. 771. 771. 77Sistema de arrumação STOLMEN entre

o chão e o teto ou na parede. Ospostes são reguláveis em altura, entre

210 e 330 cm, e as prateleiras,gavetas e outras partes opcionais estão

disponíveis em várias larguras eprofundidades. Aproveitamento

máximo do pé-direito paraarmazenamento.

Designer: Ehlén Johansson(http://www.ikea.com)

proporciona um santuário de frescor. É um lugar seguro econfiável onde as pessoas podem entrar e imediatamente sesentir parte de uma tribo global com idéias semelhantes esensível ao custo, design e meio ambiente (BYRNE; CAPELL,2005 – tradução da autora).11

1. 791. 791. 791. 791. 79 e 1. 801. 801. 801. 801. 80Móveis IKEA - Roupeiros completos compostos

por uma estrutura e conteúdo organizadorpossibilitando ao cliente escolher o conteúdoque desejar. Idéia muito aplicada em móveis

para armazenamento – roupeiro, estantes,cômodas, armários de cozinha . O modelo com

portas de correr necessita de menos espaçopara abrir do que uma porta normal de

roupeiro (Disponível em http://www.ikea.com.Acesso em maio 2007).

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7676767676 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1. 811. 811. 811. 811. 81, 1. 821. 821. 821. 821. 82 e 1. 831. 831. 831. 831. 83Estrutura do roupeiro (invólucro semportas), módulo adicional, estrutura decômoda.

1. 841. 841. 841. 841. 84, 1. 851. 851. 851. 851. 85 e 1. 861. 861. 861. 861. 86Conteúdo organizador - composto por umasérie de partes como gavetas, gaveta comdivisória, calceiro, prateleira, ganchos, portagravatas, porta jóias, varão para cabides,sapateira, e outros. As portas também podemser de correr ou com dobradiças e existemvárias opções de puxadores.

O princípio de modulação e o estilo “clean” aplicado nos móveisé usado desde 1997 para produção de casas também.Completando o ideal de Kamprad de fornecer habitações compreços acessíveis, IKEA se une à grande empresa sueca deconstrução Skanska para produzir apartamentos em módulosindustrializados. Denominado BoKlok (traduzindogrosseiramente, “viver inteligente” em sueco), este sistemaconsiste em edificações feitas em estrutura de madeira, contendocada uma de cinco a seis apartamentos. A maior parte dotrabalho é feita na fábrica com carpinteiros que montam asparedes e janelas, depois a cozinha e o banheiro, totalmenteequipado com produtos IKEA, são adicionados. Antes do pintorentrar para dar acabamento, é realizada a instalação elétrica,os pisos e são colocadas as prateleiras. Estas unidadesmoduladas são transportadas por carretas para o local, ondesão deslocadas por gruas e acabadas pelos trabalhadores docanteiro de obras.

Assim como a rede varejista de móveis, o Boklok já está sendooferecido em vários países. Depois da Escandinávia, onde jáforam entregues mais de 2.500 unidades, a Grã-Bretanha foiescolhida para ser o próximo mercado a ser explorado (BYRNE;CAPELL, 2005).

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7777777777capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1. 871. 871. 871. 871. 87Aproximadamente 85% do

apartamento é fabricado emlinha de produção nas

indústrias. Cada apartamentoé composto por dois módulos

prismáticos que sãotransportados ao local da

edificação por carretas.

1. 881. 881. 881. 881. 88No canteiro de obras, cada

apartamento leva em torno deum dia para ser acabado.

Cada edificação de doisandares é composto por seis

apartamentos. Usando amadeira como principal

matéria prima, cada unidaderecebe isolamento.

1. 891. 891. 891. 891. 89Os módulos são colocados

por gruas sobre a fundação edepois uns sobre os

outros.Depois de todosencaixados começa os

acabamentos e as instalaçõessão conectadas. As unidades

de dois dormitórios podem setransformar em três pelaadição de uma parede.

1. 901. 901. 901. 901. 90Seu projeto se caracteriza pelaplanta livre flexível, tetos altos

e grandes janelas. O piso é delaminado de madeira, com

exceção do banheiro com pisoemborrachado de linóleo. Acozinha vem equipada com

armários IKEA. Compradoresrecebem assistência de um

designer de interiores da IKEA.

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7878787878 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1. 911. 911. 911. 911. 91O Conjunto final consiste em edificaçõesidênticas de dois pavimentos, geralmentecom no máximo de 80 apartamentos.Embora cada Conjunto possua umaaparência diferente, todos eles seguem oestilo minimalista escandinavo. Osapartamentos do piso superior possuemuma varanda e os do térreo um pequenopátio. O conjunto se completa comespaços coletivos ajardinados,estacionamento e áreas externas paradepósito (http://www.businessweek.com/magazine/content/05_46/b3959009.htm).

1. 921. 921. 921. 921. 92St. James - Gateshead, Inglaterra.Primeiro Conjunto fora da Escandinávia,está em fase de lançamento, com 36apartamentos de 46 m2 (um dormitório) ede 56 m2 (dois dormitórios) -(http://www.boklok.com)

Design experimental e pluralismo da pósDesign experimental e pluralismo da pósDesign experimental e pluralismo da pósDesign experimental e pluralismo da pósDesign experimental e pluralismo da pós-modernidade -modernidade -modernidade -modernidade -modernidade 1212121212

Em reação ao Estilo Internacional e ao Movimento Modernocalcado no pensamento de uma sociedade igualitária em quetodo mundo poderia pensar, trabalhar, ganhar, consumir e sevestir de maneira semelhante, surgiu a partir da década de1960 movimentos variados pregando visões anti-geométricas,anti-funcionalistas, anti-racionalistas e de valorização daindividualidade. Estes diferentes movimentos de contra culturaquestionavam os valores vigentes na sociedade, principalmenteo consumismo desenfreado difundido pelo estilo de vidaamericano da década de 1950.

(...) Sendo típico das crises de superacumulação canalisar abusca de soluções temporais e espaciais que criam, por sua

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7979797979capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

vez, um sentido avassalador de compressão do tempo-espaço,também podemos esperar que as crises de superacumulaçãosejam seguidas por fortes movimentos estéticos.

A crise de superacumulação iniciada no final dos anos 60, eque chegou ao auge em 1973, gerou exatamente esseresultado. A experiência do tempo e do espaço se transformou,a confiança na associação entre juízos científicos e morais ruiu,a estética triunfou sobre a ética como foco primário depreocupação intelectual e social, as imagens dominaram asnarrativas, a efemeridade e a fragmentação assumiramprecedência sobre verdades eternas e sobre a política unificadae as explicações deixaram o âmbito dos fundamentos materiaise político-econômicos e passaram para a consideração depráticas políticas e culturais autônomas (HARVEY, 1998, p.293).

Na área econômica a sociedade estava passando por umadesestruturação do modelo fordista de produção industrial edescentralização do capital. Os bens duráveis e da indústriapesada, consideradas até então as âncoras da economia,estavam sendo substituídos pelos serviços, pelas transaçõeseconômicas e pela difusão da informação. A idéia do progressocontínuo sofre um golpe com a crise do petróleo do início dadécada de 1970.

Surge o espírito de incertezas, onde não existem mais fórmulaspara resolver os problemas e a concepção de progresso precisaser reavaliada frente aos limites do meio ambiente em suportaro estilo de vida de alto consumo da sociedade.

Esta nova complexidade na estrutura social, política e econômicatem refletido no design de diferentes formas. Na década de1960 e 70 a Pop Art e principalmente o Design italianobuscaram materializar esta postura contra o padrão, o univer-sal, o objetivo, o racional. No entanto, é difícil exemplificarcom produtos esta pós-modernidade por ser justamente elaum abrigo do pluralismo, ou seja, da abertura para posturasnovas e tolerância para posições divergentes, além de sertambém um momento de crise de valores para a sociedadeque vive ainda intensamente mergulhada no consumismo.

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A dinâmica de uma sociedade “do descarte”, como aapelidaram escritores como Alvin Toffler (1970), começou aficar evidente durante os anos 60. Ela significa mais do quejogar fora bens produzidos (criando um monumental problemasobre o que fazer com o lixo); significa também ser capaz deatirar fora valores, estilos de vida, relacionamentos estáveis,apego a coisas, edifícios, lugares, pessoas e modos adquiridosde agir e ser (HARVEY, 1998, p.258).

Na busca de um contraponto à condição de fragmentação,efemeridade, descontinuidade e mudança caótica dopensamento modernista das últimas décadas do século XX, odesign oscilou entre diferentes propostas alternativas.

Antes da crise do petróleo, a estética Pop, expressada porprodutos banais de uso diário, folhetos publicitários, históriasem quadrinhos que eram colocados nos quadros de R.Lichtenstein, T. Wesselman ou A. Warhol parodiando a sociedadede consumo, influenciou o design, que por sua vez se utilizoudas novas possibilidades que o material plástico permitia paracriar formas lúdicas, frequentemente provocativas (HAUFFE,2000, p.144).

1. 931. 931. 931. 931. 93 – Anúncio da Zanotta paraas cadeiras Blow, de De Pas,D’Urbino e Lomazzi, c. 1968.Experiência com mobiliário dePVC modular e insuflado,produzido em massa tornando-seum ícone da cultura Pop dosanos 60 (FIELL, 2001, p.56).

1. 941. 941. 941. 941. 94Cadeiras empilháveis de plásticomodelo ‘4867’, para a empresaitaliana Kartell, especializada naprodução de produtos deplástico, que explorouexaustivamente o novo material.Joe Colombo, 1968 (HAUFFE,2000, p.138).

1. 951. 951. 951. 951. 95Cadeiras Selene,para a empresaitaliana Artemide.Vico Magistretti,1969 (FIELL,2001, p.117).

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8181818181capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Junto com as possibilidades técnicas, tanto de materiais comoavanços computacionais no meio doméstico utilizados peloGrupo Archigram (ver capítulo 1.2, p. 41), estava a conquistado espaço pelo homem para inspirar ambientes com aspectode ficção científica. Um exemplo muito claro desta linha dedesign foi o proposto por Joe Colombo, no seu ‘Habitat futuristaVisiona 69’, desenvolvido para a Bayer, apresentado no SalãoInterzum, Colônia - Alemanha, em 1969. Utilizando as novasfibras sintéticas Colombo criou blocos equipados tecnicamentelembrando naves espaciais, compondo um conjunto de micro-ambientes integrados. No entanto, além destas semelhanças,Colombo expressou também a idéia de uma habitaçãoadaptada a um modo de vida em constante evolução. Compostopor três blocos, de estar, dormitório – banho e cozinha commesa, o espaço livre podia ser configurado conforme anecessidade do morador, quebrando os ângulos retos dofuncionalismo e explorando novas concepções do habitar nabusca da satisfação de necessidades emocionais e simbólicasatravés do aconchego, do relaxamento, da comunicação e dafantasia (HAUFFE, 2000, p.145).

1. 961. 961. 961. 961. 96Habitat futurista Visiona 69. Esquema dos diferentes blocos: a – estar; b – dormitório; c – hall;d – banheiro; e – cozinha; f – mesa de refeições retrátil. Joe Colombo, 1969 (GALFETTI,1997, p.67).

1.971.971.971.971.97Habitat futurista Visiona 69– Bloco de estar (bloco dacozinha e mesa aos fundos).Joe Colombo, 1969 (FIELL,2001, p.52-3).

1. 981. 981. 981. 981. 98Habitat futurista Visiona

69 – Interior da cozinha.Joe Colombo, 1969

(GALFETTI, 1997, p. 68).

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Em 1972, Colombo apresenta outro projeto, “Total FurnishingUnit”, na exposição “Italy: the new domestic landscape” realizadano Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Este projetoapresenta a mesma idéia principal de módulos configurandoum espaço livre, embora neste caso os blocos totalmenteequipados definem uma unidade maior e podem ocupar umaárea de somente 28 m2, diferentemente do Visiona calculadopara uma área de 100 m2 . A idéia central era oferecer umespaço mínimo com o máximo de economia e possibilidades,através do uso de estruturas autônomas e diferenciadas parase adaptarem a diversos espaços e ambientes segundo asexigências (GALFETTI, 1997, p.78).

1. 991. 991. 991. 991. 99Total Furnishing Unit – bloco dacozinha em destaque. JoeColombo, 1972 (GALFETTI,1997, p.80).

1. 1001. 1001. 1001. 1001. 100Total Furnishing Unit – bloco dearmário deslocadocompletamente transformandoo espaço de estar emdormitório. Joe Colombo, 1972(GALFETTI, 1997, p.81).

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8383838383capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

A exposição “Italy: the new domestic landscape”, com acuradoria de Emilio Ambasz, expôs ao mundo diferentes projetosque vários designers italianos desenvolveram ao longo dadécada de 1960, apresentando uma abordagem crítica aospadrões sociais através da linguagem formal. O “Total Fur-nishing Unit” foi um dos exemplos apresentados na exposiçãoque propõe uma unidade da edificação com seus equipamentos,revelando um questionamento profundo do espaço doméstico.

Na década de 1990, o americano Allan Wexler propunha, comsua “Crate House” (casa encaixotada), princípio semelhanteao “Total Furnishing Unit” de Colombo. Em um bloco estãocontidos três grandes armários com rodas que se deslocampara fora com a finalidade de configurar espaços de estar /trabalhar, dormir, cozinhar/comer.

Estes exemplos colocam o mobiliário como elemento formadordos ambientes destacando as áreas de interface entre a

1. 1011. 1011. 1011. 1011. 101Total Furnishing Unit. Esquema das diferentes posições dos blocos queabrigam móveis e equipamentos para várias atividade (W.C. = banheiro;L = estar, escritório, dormitório; A = armário; K = cozinha). (GALFETTI,1997, p.80).

Lay-outs:1 – noturno2 – café da

manhã3 – estar

4 – café damanhã, trabalho

e estar;5 – refeições,

trabalho e estar;6 – festa

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arquitetura e o design na definição do espaço doméstico, nãose concentrando apenas na preocupação da coerência dalinguagem formal do móvel com a casa que os arquitetosmodernos defendiam, como também questionando a maneiracomo é feito o agenciamento dos cômodos nacompartimentação habitacional.

Após diversas propostas alternativas que buscavam umacontraposição ao funcionalismo, estando entre elas o designdo manifesto representado por grupos italianos (Archizoom,Alchimia, Memphis), das tumultuadas décadas de 1970 e 80,permaneceram até os dias atuais dois temas que ainda catalisamas discussões: tecnologia e ecologia. Os avanços tecnológicosque se processam com uma rapidez cada vez maior, englobandoos processos produtivos, a redução dimensional doscomponentes e o surgimento de novos materiais, vêmtransformando não somente a forma de conceber e produzir oproduto, como também as interfaces de uso. A realidade vir-tual e os produtos eletrônicos interativos colocam em debatenovos aspectos comportamentais, psicológicos e cognitivos quepassam a envolver o ser humano e o mundo artificial.

1.1021.1021.1021.1021.102Crate House - Módulo dacozinha. Allan Wexler, 1991(GALFETTI, 1997, p.92).

1. 1031. 1031. 1031. 1031. 103Crate House – Cama retrátil.Allan Wexler, 1991(GALFETTI, 1997, p.92).

1. 1041. 1041. 1041. 1041. 104Crate House – Escritório, estar. Allan

Wexler, 1991 (GALFETTI, 1997, p.93)

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8585858585capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Os artefatos produzidos pelos homens representam mais doque sua própria materialidade pelo fato da sua existência estarrelacionada com as situações vividas pelas pessoas, assumindosignificados que podem estar ligados tanto a aspectos funcionaisquanto a valores simbólicos. Estas considerações representarama grande crítica ao movimento moderno, justamente por terignorado estes valores.

Sendo o usuário o centro de referência no processo dodesenvolvimento de produtos, existe a necessidade de umacorreta adequação funcional, ergonômica, de segurança nouso ou na facilidade de interação com o produto, bem comouma correta interpretação e tradução dos desejos, necessidadese anseios do usuário. Esta responsabilidade com o usuário quevem assumindo uma posição de destaque na prática do projetoe no debate da disciplina, gerou uma nova qualificação sob adenominação de “design universal”. Para tanto, não se podemais considerar o padrão médio como referência, mas sim

1. 1051. 1051. 1051. 1051. 105Ambientação com o sofá colorido do grupoMemphis. Este grupo surgiu na década de 1980pregando o ‘re-design’ e o ‘design banal’,troçando intencionalmente das pretensões dogood design (HORN, 1986, p.60).

1. 1061. 1061. 1061. 1061. 106Móveis e objetos com a marca Memphis. Cores e padrões vibrantes inspirados na Pop Art,

apresentando cada objeto um forte valor individual (HORN, 1986, p.115).

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buscar atender as pessoas que saem exatamente fora destepadrão, como os deficientes físicos, os idosos, as crianças, aspessoas muito gordas ou com diferentes graus de habilidade(locomotora, de visão, de audição, etc.). O design amigávelsignifica também não deixar de considerar que a miniaturizaçãode vários produtos pode acarretar sérios problemas de inter-face de uso, não se esquecendo que mesmo com todas asinovações tecnológicas, o foco no usuário precisa estar sempreem primeiro lugar.

Esta proximidade cada vez maior com o atendimento àsnecessidades e anseios do usuário tem sido facilitada pelaintrodução da tecnologia eletrônica. A mesma tecnologia quetem introduzido transformações profundas na organização dotrabalho, que tem permitido, através da redução do tamanhodos componentes, uma liberdade de criação cada vez maior,tem também viabilizado a produção industrial de objetos atéentão possíveis somente por processos artesanais,principalmente por conta de certas características estéticas maiselaboradas. Isto tem significado uma produção flexível,permitindo uma diversidade de soluções, coerente com adiversidade de necessidades e anseios do consumidor.

A mudança da orientação projetual, que enfoca não o produto,mas o contexto que seu uso está inserido, pode ser um caminhopara transcender os modelos vigentes no intuito de buscar apluralidade de soluções, abordando no projeto a dimensãosócio cultural que pode ser pesquisada com estudos sobre osaspectos comportamentais que envolvem as relações do serhumano e o artefato.

Por exemplo, não se deve pensar em uma cadeira, mas no atode assentar; não se faz necessário pensar no copo, mas noato de beber. [...] Um projeto, uma vez direcionado por taisenfoques, tem a possibilidade de apresentar soluções maisinovadoras, diferenciadas e, às vezes, inusitadas (MORAES,1999).

Por outro lado, o design “verde”, após o questionamento doconsumismo exasperado das sociedades capitalistas, concentra

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8787878787capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Design do móvel residencial no BrasilDesign do móvel residencial no BrasilDesign do móvel residencial no BrasilDesign do móvel residencial no BrasilDesign do móvel residencial no Brasil

sua atenção não somente no ser humano como também nomeio ambiente, aparecendo como preocupação principal o usode materiais recicláveis, a durabilidade dos produtos e aeconomia de energia. O propagado “design for disassembling”(design para o desmonte) vem de encontro com estapreocupação na medida em que o projeto prevê adesmontabilidade do produto e a reciclagem de cada um deseus componentes, aparecendo já na concepção um destinodos objetos após sua vida útil.

País com um desenvolvimento industrial relativamente recente,o Brasil passou a assistir com maior intensidade, nas duas últimasdécadas, o discurso da importância do design nos mais variadossetores. Porém foi o design de móveis que marcou a inserçãodo design na sociedade brasileira. Embora o mercadoconsumidor do país não possuísse o dinamismo dos EstadosUnidos na primeira metade do século, artistas brasileirosparticipavam do movimento moderno internacional. Estasituação propiciou o surgimento de propostas de mobiliáriodentro deste ideário e fez alguns arquitetos e designersempreenderem, entre meados de 1940 e início de 1960, váriasiniciativas que iam da fundação de fábricas de móveis a aberturade lojas.

Entre os principais nomes que se destacaram nesta época, emSão Paulo, estava Geraldo de Barros, Henrique Mindlin, JoãoBatista Vilanova Artigas, José Zanine Caldas, Júlio RobertoKatinsky, Lina Bo Bardi, Michel Arnoult, Oswaldo Arthur Bratke,Paulo Mendes da Rocha e Rino Levi. No Rio de Janeiroapareceram nomes também de destaque nacional, comoJoaquim Tenreiro, Sérgio Bernardes e principalmente SérgioRodrigues, até hoje um grande nome de referência no designde móvel.

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Entre as iniciativas surgidas nesta época, cabe destacar aLangenbach & Tenreiro Móveis e Decorações, a Fábrica deMóveis Z, a Móveis Branco e Preto, a Mobília Contemporânea,a Unilabor, a Móveis Hobjeto e a Oca Arquitetura de Interiores.13

A fecundidade de propostas de trabalho nesse período emtorno do design de interiores reflete um momento de grandeimportância na formação do Brasil contemporâneo. Sob osegundo governo Vargas e sob Juscelino Kubitschek, o Paísexperimentava uma verdadeira febre de modernização, derejeição anunciada das tradições patriarcais e de renovaçãode valores e de costumes (DENIS, 2000, p.162).

Além de explorarem uma linguagem formal mais despojada deacordo com a estética modernista, alguns destes designers seconcentraram na exploração de materiais e de formas ligadosà identidade brasileira. Nesta linha surgem exemplos como osmóveis delgados de madeira de lei com palhinha de JoaquimTenreiro, o uso de tecidos de algodão ou do sisal por Lina BoBardi, e mesmo na alusão formal da rede na “poltrona mole” ena poltrona Kilin de Sérgio Rodrigues.

1. 1071. 1071. 1071. 1071. 107Cadeira em madeira ecouro de JoaquimTenreiro, 1947. Designcom forte influência doEstilo Internacional,podendo ser comparadocom a produçãoescandinava e dasempresas americanasHerman Miller e KnollAssociates (SANTOS,1995, p.86).

1. 1081. 1081. 1081. 1081. 108Sala de refeições com móveis de Joaquim Tenreiro. Mesa em

madeira com tampo de vidro, cadeiras em madeira comassento e encosto em palhinha, 1961 (SANTOS, 1995, p.88).

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8989898989capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Contemporânea às cozinhas moduladas que apareceram naEuropa, estava a proposta de Oswaldo Arthur Bratke. Em 1937,Bratke apresentou seu projeto pioneiro no Brasil de cozinhasproduzidas por peças pré-fabricadas e montadas no local comelementos fixados na parede. “Na década de 40 começou a

1. 1121. 1121. 1121. 1121. 112Estante em madeira

laqueada. Geraldo deBarros – Unilabor, 1956

(SANTOS, 1995, p.116).

1. 1131. 1131. 1131. 1131. 113Buffet em fórmica.

Geraldo de Barros –Unilabor, 1956 (SANTOS,

1995, p.116).

1. 1111. 1111. 1111. 1111. 111Estante de ferro, madeira e fórmica. Década de 1950.Geraldo de Barros – Unilabor (SANTOS, 1995, p.117).

1. 1091. 1091. 1091. 1091. 109Preguiçosa em madeira compensada, cedro maciço e sisal natural.

Lina Bo Bardi – Studio Palma, 1951 (SANTOS, 1995, p.96).

1. 1101. 1101. 1101. 1101. 110Residência em São Paulo, projeto deVilanova Artigas, com móveis do StudioPalma em compensado e material plásticobranco, preto e amarelo-limão. Lina BoBardi (SANTOS, 1995, p.97).

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fazer experiências com o compensado recortado, tendodesenhado algumas cadeiras” (SANTOS, 1995, p.66).

Esta exploração da chapa de compensado como novo mate-rial disponível para a produção de móveis foi feita também poroutros designers neste mesmo período, como Lina Bo Bardi eJosé Zanine Caldas.

1. 1141. 1141. 1141. 1141. 114Cadeira de braços em compensadorecortado parafusado, com assento eencosto revestido de tecido listrado.José Zanine Caldas – Móveis Z(SANTOS, 1995, p.107).

1. 1151. 1151. 1151. 1151. 115Mesa de jantar com base em madeira, com

cadeiras em madeira e palhinha. MóveisBranco & Preto, 1954 (SANTOS, 1995,

p.114).

1. 1161. 1161. 1161. 1161. 116Poltrona mole. Estrutura em madeira, travessas que permitem a passagem de correias emcouro que formam uma ‘cesta’ para suportar os almofadões do assento, do encosto e dosbraços. 1957. Sérgio Rodrigues, designer que também foi precursor das casas pré-fabricadasde madeira no Brasil (SÉRGIO RODRIGUES, 1987, p.14).

1. 1171. 1171. 1171. 1171. 117Protótipo da poltrona

Kilin (SÉRGIORODRIGUES, 1987,

p.17).

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9191919191capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Outros designers tiveram a nítida preocupação em associar odesign à produção industrial, como fizeram Michel Arnoult eGeraldo de Barros nas décadas de 1950 a 70. Arnoult, co-fundador da Mobília Contemporânea, aplicou a modulaçãoem uma família de móveis para diferentes ambientes,preocupado com a produção em série e quebrando com osesquemas tradicionais de fabricação de móveis que existia noBrasil. Além da modulação, existiam outras importantescaracterísticas inovadoras para a época, como a totaldesmontabilidade, múltipla função de uso de cada modelo ede cada peça, e acima de tudo um design resistente aosmodismos.

Inicialmente na Unilabor e depois na Hobjeto, Geraldo de Barrostambém instituiu a modulação dos móveis para aumentar aprodução e baixar o custo industrial, em um design de peças

1. 1181. 1181. 1181. 1181. 118Sala de refeições mobiliada com móveisHobjeto. Década de 70 (SANTOS, 1995, p.144)

1. 1191. 1191. 1191. 1191. 119Poltrona da linha Peg-Lev, desmontável. Primeira

tentativa de exportação da Mobília Contemporânea nocomeço da década de 70. Michel Arnoult (LEON,

1990, p.104). Princípios de desmontabilidadeexplorado pela Escola de Ulm e usado pela rede IKEA.

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compactas que utilizavam materiais, como o ferro, a palhinhae fibras trançadas em diversas combinações. A Hobjeto, emprodução industrial, fabricava com 150 elementos quinhentosmodelos de móveis diferentes, gerando um conseqüentebarateamento de custo. Com a necessidade de uma maiorespecialização, a Hobjeto “foi uma das primeiras indústrias aencarar seriamente o problema da normalização doscomponentes de sua produção” (SANTOS, 1995, p.145).

Atualmente destacam-se alguns designers que seguiram atradição de Arnoult e Barros, na contínua busca de umaidentidade nacional em termos formais e semânticos mesmoperseguindo a redução de custos na produção industrial emgrande escala. Nomes como Carlos Motta e Fernando Jaegerse encaixam neste perfil de profissional. Muitos outros optarampor trabalhar fora do âmbito industrial, produzindo pequenasséries, mais próximos à produção artesanal, e portanto,direcionado ao consumo de uma elite. Esta situação deconvivência de designers de móveis que adotam diferentes meiosde produção está presente desde a modernização do móvelbrasileiro.

1. 1201. 1201. 1201. 1201. 120Cadeira São Paulo, fornecida desmontada em um kit como a linhaPeg-Lev de Michel Arnoult. Carlos Motta, 1982 (PRÊMIO,1987, p.16).

1. 1211. 1211. 1211. 1211. 121Mesas Babanlá e Ibeji, de Maurício Azeredo. Elas fazemparte da série Casa Grande e Senzala e são produzidas

em tiragens limitadas (BORGES, 1990, p.37).

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9393939393capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Embora existam estas preocupações em alguns designers dedifundir o “bom design”, os resultados destes trabalhos serefletem pouco nos móveis de produção em massa quedominam o mercado consumidor e que são acessíveis para amaior parte da população brasileira.

[...] tanto do ponto de vista projetual quanto comercial,permanece no Brasil uma enorme discrepância entre o custoaparente do design e o poder de compra da grande maioriada população. Evidentemente, nenhum designer individual – enem mesmo o campo como um todo – detém o poder dereverter ou mesmo alterar de modo fundamental um processocultural tão amplo quanto a desigualdade social, a qual exerceuma influência negativa sobre a atuação profissional porrestringir a abertura de mercado (DENIS, 2000, p.196).

Para reverter este quadro, têm surgido várias iniciativasgovernamentais de apoio ao design, como o Programa Brasileirode Design - PBD 14 instituído em 1995, não com preocupaçõessociais, mas sim na construção de cenários que favoreçam ainserção do produto brasileiro no mercado extremamentecompetitivo do mundo globalizado. Talvez com isto esteja seabrindo uma oportunidade para expandir o apoio ao designde produtos que não estejam sofrendo tanto a pressão demercadorias estrangeiras, como é o caso do móvel residencial.

José Mindlin (apud MORENO,2002) lembra a dificuldade deinserir a cultura do design no empresariado paulista. Ele mesmo,como empresário industrial, demorou para perceber o designcomo algo que ia além da questão estética. Ao entender aimportância da tecnologia num produto, percebeu “que o de-sign era mais do que aparência, era um componente doplanejamento do produto para lhe dar maior eficiência e menorcusto. Portanto, parte da tecnologia” (MINDLIN apud MORENO,2002, p.15). Ele também defende um maior envolvimento dogoverno no patrocínio de laboratórios de testes, e a participaçãode empresários em estimular os profissionais e as escolas,reconhecendo os esforços com premiações e apoio (MORENO,2002, p.19).

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9494949494 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Nos anos de 1970, época do ‘milagre brasileiro’, a Federaçãodas Indústrias do Estado de São Paulo – seus diretores JoséMindlin, Dílson Funaro e Luiz Villares – criou o Núcleo deDesenho Industrial (NDI) e convidou Joice Joppert Leal paradirigi-lo. Seu objetivo era disseminar o conceito de design entreos industriais paulistas. [...] o NDI transformou-se noDepartamento de Tecnologia (Detec), sendo construída umaestrutura de informação que o transforma no primeiro centrode referência em design no Brasil. O Detec [...] tornou-se celeirode futuros gestores na área, que hoje atuam no mercadobrasileiro (TEPERMAN, 2002, p.23).

Mindlin (2002) lembra, no entanto, que apenas na década de1980, passou a existir uma participação maior de empresáriosneste Núcleo. Este esforço tinha como objetivo a realização deum trabalho sistemático de promoção da qualidade naprodução industrial, através de investimento em capacitação edifusão tecnológica no meio empresarial, e na criação de umambiente favorável ao aparecimento de novos talentos.

Até a década de 1980 o design de móvel foi um dos que tiverammaior repercussão no país, mesmo não atingindo a produçãoem massa. Porém, a década de 1990, com a abertura dosmercados nacionais para uma economia globalizada fezrenascer o sonho dos pioneiros, como Michel Arnoult, ZanineCaldas e Geraldo de Barros, de tornar produtos com bomprojeto acessíveis a várias classes sociais (BORGES, 2001). Istofoi possibilitado pelo Plano Real de 1994, que trouxe um novopanorama de consumo para as classes C e D e possibilitou seuacesso a vários produtos até então consumidos pela elite,embora o bom design presente em mercadorias que seencontram facilmente em supermercados, não tenha atingidoainda o móvel popular. Porém, é neste contexto que atualmenteexiste uma proliferação de eventos e de instituições preocupadosem um debate mais amplo sobre design.

Além do PBD, existem iniciativas regionais e estaduais degovernos ou associações empresariais de promoção do de-sign. Particularmente na área de design de mobiliário, existem

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9595959595capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

importantes prêmios a nível nacional: MOVELSUL, ligado a feirade móveis que ocorre a cada dois anos em Bento Gonçalves –RS, Prêmio Museu da Casa Brasileira, abrigado anualmentepela instituição de mesmo nome, em São Paulo e PrêmioABIMOVEL que ocorre junto a feira de móveis na capital deSão Paulo. São iniciativas que poderiam estimular odesenvolvimento conceitual de produto com a finalidade deservirem de subsídios na exploração de novas concepções, in-clusive do móvel para habitações compactas.

A indústria de móveis em São Paulo teve poucos exemplos deinserção do design em sua produção. Para o móvel mais popu-lar, sempre existiram os grandes magazines que eram osdistribuidores dos móveis seriados, alguns destes magazinessendo também produtores. Na década de 1930, o Mappintinha sua própria marcenaria. A Mesbla, na década de 1950,passou a comercializar cozinhas de aço, uma grande novidadena época. A primeira normatização do setor moveleiro chegacom a produção de colchões na década de 1940 deixando deser de mola nos anos de 1950 para ser de espuma na décadaposterior. Na mesma época se populariza o uso do compensadoviabilizado pela abertura de algumas empresas produtoras, bemcomo a chapa de fibras de madeira. Em seguida aparece olaminado que iria revolucionar o mercado de móveis. Conhecidopopularmente como ‘fórmica’, devido ao nome da primeiramarca deste tipo de produto. Foram produzidos muitos móveisrevestidos com este material e vendidos nos grandes maga-zines. No final da década de 1960 foi a vez do aglomerado(STRAUSS, 1990). Assim segue sucessivamente a introduçãode novos materiais e de inovações tecnológicas no móvel,permanecendo o design ausente neste processo, ourepresentado pontualmente por nomes anteriormente citados.

A falta de cultura de design refletiu na institucionalização tardiado ensino de design industrial no Brasil. Em 1950, Pietro MariaBardi, fundou o primeiro curso de design industrial, no Museude Arte de São Paulo (MASP), vinculado ao Instituto de ArteContemporânea. Muito ligada à pedagogia Bauhausiana, esta

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9696969696 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

iniciativa, no entanto, não durou mais que três anos. Em 1962aparece então a Seqüência de Desenho Industrial, abrigadapela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidadede São Paulo, e a implantação da Escola Superior de DesignIndustrial - ESDI, no Rio de Janeiro. Inicialmente estruturadasobre uma base advinda da escola de Ulm, esta última instituiçãoacabou sendo forte referência na formação de outras escolasno Brasil, que por sua vez surgiram em maior quantidadesomente a partir da década de 1980.

Bonsiepe (1983) chama a atenção da importância dasinstituições de ensino, não só para desenvolver uma capacitaçãotécnica, unida a uma sensibilidade social, mas como espaçode desenvolvimento de novas concepções:

As universidades, por sorte, têm o privilégio de dispor de umespaço experimental de manobras e, se sabem usa-lo, podemexplorar formas de cooperação ao prestar seus serviços deextensão a uma clientela pouco habitual, como parquesindustriais, cooperativas, comunidades rurais e dedepartamentos governamentais, contribuindo para difundir e‘deselitizar’ o desenho industrial (BONSIEPE, 1983; p.11).

No entanto, este autor chama a atenção da necessidade deaproximação temática, didática e institucional do currículo doensino do designer industrial à realidade tecnológica e socialdo país. Para tanto, o critério-chave, tanto para a práticaprofissional, como para o ensino e pesquisa do design indus-trial no país, deve consistir na liberação cultural tecnológica.

Segundo Cavalcanti (2001, p.249), entre os principais fatoresque afastam o design da indústria do móvel estão: a poucatradição do Brasil de investir em suas potencialidades criadoras,valorizando os designs importados; a cultura empresarialbrasileira que não investe em mudança caso o volume de vendasseja satisfatório; o design visto como retorno de longo prazo,sendo então considerado dispensável; e, o descompassoexistente em muitas escolas que, não informando devidamentesobre as tecnologias de produção existentes, formam

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9797979797capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

profissionais com pouca capacitação de integrar-se ao setorprodutivo.

O cenário ambíguo sempre presente na história da produçãotécnica do móvel no Brasil permanece até os dias atuais,apresentando de um lado as indústrias responsáveis pelareprodução em larga escala sem a incorporação do design emseu processo (com raras exceções), e do outro a produçãomanufatureira de pequena escala desenvolvida por pequenasempresas com ferramentas e maquinários tradicionais, algumasdas quais abrigando projetos experimentais de design.

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9898989898 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

1 ICSID – organização internacional de design composta por membrosde associações profissionais, sociedades promocionais, institutos deensino, órgãos governamentais, corporações e instituições que têmcomo objetivo contribuir para o desenvolvimento da profissão dedesign industrial (disponível em <http//:www.icsid.org>. Acesso em29 jun. 2006).

2 “Design is a creative activity whose aim is to establish the multi-faceted qualities of objects, processes, services and their systems inwhole life-cycles. Therefore, design is the central factor of innovativehumanisation of technologies and the crucial factor of cultural andeconomic exchange“. Disponível em <http//:www.icsid.org>. Acessoem 29 jun. 2006.

3 Segundo Maldonado (1999, p.46-7), o styling é “uma modalidadede design industrial que procura tornar o produto superficialmenteatraente, em detrimento, muitas vezes, da sua qualidade econveniência; que procura o seu envelhecimento artificial, em vez deprolongar a sua fruição e utilização”. Hesket (1998, p.107), noentanto, destaca que o contexto econômico que fez aparecer o styl-ing fez surgir também toda uma geração de designers, das maisdiversas formações, reconhecidos como profissionais importantesdentro da divisão de trabalho implícita na produção e nas vendas emmassa.

4 “Fordismo” é a expressão utilizada em referência a teoria daorganização industrial de Henry Ford, que visava aumentar aprodutividade pela padronização dos produtos e por uma novaorganização do trabalho. Seus princípios tornaram-se a base daorganização industrial moderna.

5 O movimento de vanguarda holandês De Stijl é apontado comoforte referência para a Bauhaus na primeira metade da década de1920. Droste (1994) afirma que a presença de Theo van Doesburgem Weimar, co-fundador do De Stijl, com seu curso de difusão dasidéias do movimento holandês, influenciou na transição do períodoexpressionista para o racionalista da Escola alemã. A maioria dosparticipantes do seu curso eram alunos da Bauhaus. A substituiçãodo enunciado “Arte e artesanato - uma nova unidade” pelo “Arte e

NotasNotasNotasNotasNotas

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9999999999capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

técnica, uma nova unidade”, reflete uma mudança nesta Escolaacelerada pelas formas construtivas dos produtos De Stijl. Seuselementos básicos de expressão, o ângulo reto e as três cores primáriascompletadas pelo preto, branco e cinza, representavam os meiosbásicos de criação artística com os quais defendiam que seria possívelquebrar a supremacia do indivíduo e criar soluções coletivas. Naárea do design e da arquitetura, Gerrit Rietveld, outro representantedo movimento holandês, desenvolveu dois grandes exemplosemblemáticos do movimento modernista: a cadeira “Red & Blue”, ea casa Schröder (ver capítulo 1.5).

6 Critérios utilizados na avaliação de produtos com ‘Good Design’(Gute Form) – funcionalidade, forma simples, ciclo de vida longo,atemporal, ordem, bom acabamento, utilização certa de material,detalhes perfeitos, tecnologia, adaptação ergonômica,ambientalmente sustentável.

7 Em referência à palavra inglesa streamline, que significa a linha defluxo de uma corrente de ar.

8 Depoimento de Karl Heinz Bergmiller (28 fev.2007).

9 “Zirkelkästen, Anbaumöbel, Küchenmaschinen mit einemAntriebsblock und mehreren Anbauteilen sind geläufige Beispiele fürBaukastensysteme. Ebenso wie die Systeme, von denen sie eineTeilklasse bilden, bestehen sie aus Elementen. Diese Elemente müssenin ihren Eigenschaften aufeinander bezogen sein, seien es nunmetrische, qualitative, formale oder sonstige Eigenschaften. Ein Sys-tem liegt also erst dann vor, wenn seine Elemente koordiniert sind”(BONSIEPPE apud LINDINGER, 1987, p.87).

10 If you want to sell style to the masses, it helps if it’s a clean, practicalstyle. It helps if you can mass-produce it cheaply out of a plentifullocal material - in Ikea’s case, timber - and it helps immeasurably ifit’s the kind of stripped-down style that customers can assemble ontheir living-room floors. The high priests of modernist design preacheda democratic ethos; in reality, they never got much further than theupper-middle classes. Kamprad took their rhetoric and made it literal,as the opening line of The Testament of a Furniture Dealer makesplain. “We have decided once and for all to side with the many,” itreads (BURKEMAN, 2004).

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100100100100100 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

11 At a time when consumers face so many choices for everything theybuy, Ikea provides a one-stop sanctuary for coolness. It is a trustedsafe zone that people can enter and immediately be part of a like-minded cost/design/environmentally-sensitive global tribe (BYRNE;CAPELL, 2005)

12 Vale fazer uma ressalva sobre o termo aqui utilizado: pós-modernidade ou pós-modernismo. Esta denominação tem sidoamplamente debatida e rejeitada por muitos por não admitirem oprefixo PÓS, no sentido de não ter existido uma ruptura, um fim,como muitos têm afirmado, mas sim uma transformação, ou mesmouma ratificação em parte sobre muitos aspectos, da modernidade,mesmo porque o projeto moderno não se acabou. Poder-se-ia aquifalar em segunda modernidade ou outras formulações maisespecíficas, como pós-estruturalismo, sociedade pós-industrial, enfim,buscar outros termos para denominar este período de grandesmudanças sociais, políticas e econômicas que começaram a aparecerde forma mais contundente depois da segunda guerra mundial até adécada de 1970, quando foi então demarcado como a década doinício do pós-modernismo. A utilização deste nome pós-modernidade,ou pós-modernismo, denuncia a necessidade de identificar o conjuntode mudanças e realidades transformadas com as novas organizaçõessociais, econômicas e políticas. Como ainda não existe um consensosobre a denominação deste período mais recente, será utilizado otermo pós-modernidade muito mais para se referir a um períodohistórico que passou a ser conhecido desta forma, do que aceitareste termo como definitivo, concordando, em termos, com Jameson(1997, p.413):

Eu também, como todo mundo, fico às vezes muito entediadocom o slogan ‘pós-moderno’, mas quando começo a mearrepender de minha cumplicidade com ele, a deplorar seu usoerrôneo e sua notoriedade, e a concluir, com alguma relutância,que ele levanta mais problemas do que resolve, eu me vejo parandopara pensar se qualquer outro conceito poderia dramatizar (essas)questões de forma tão eficiente e econômica.

13 A Langenbach & Tenreiro foi fundada no Rio de Janeiro por JoaquimTenreiro e Langenbach em 1942; a Fábrica de Móveis Z surgiu em1950 com a associação entre Sebastião Pontes e José Zanine Caldas;a Móveis Branco e Preto foi fundada em 1952 por um grupo dearquitetos egressos da Universidade Mackenzie, São Paulo; a Mobília

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101101101101101capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

Contemporânea foi transferida do Paraná para São Paulo em 1955,tendo como sócios Michel Arnoult e Norman Westwater; a Unilabor(1954-1964) e a Móveis Hobjeto (1964) tiveram Geraldo de Barroscomo figura de destaque; a loja Oca foi aberta em 1955 por SérgioRodrigues.

14 Criado, em 1995, pelo então Ministério da Indústria, Comércio eTurismo, e atual Ministério do Desenvolvimento, Indústria e ComércioExterior, este Programa tem como missão induzir à Modernidade In-dustrial e Tecnológica por meio do design, visando contribuir para oincremento da qualidade e da competitividade dos bens e serviçosproduzidos no Brasil e sua popularização. “Dentro do ciclo produtivode um produto, o design é ferramenta indutora da inovação o design é ferramenta indutora da inovação o design é ferramenta indutora da inovação o design é ferramenta indutora da inovação o design é ferramenta indutora da inovação namedida em que introduz novas formas, novos materiais e novos valoresconceituais que vêem a determinar o desenvolvimento de novosprocessos produtivos e tecnológicos para a consecução de novosprodutos” (disponível em <http://www. designbrasil.org.br>. Acessoem 22 mar. 2006).

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102102102102102 capítulo 1.3 - tecnologia e design industrial - móvel

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103103103103103capítulo 1.4 - habitação mínima

“ El hombre no está formado únicamente por un cuerpo, sino quees un conjunto compuesto de cuerpo y alma. Las viviendas

construidas hasta ahora no satisfacen suficientemente lasnecesidades espirituales de sus ocupantes.” (Alexander Klein,

1928 in KLEIN, 1980)

Após tratar das importantes referências históricas de umaevolução tecnológica da arquitetura e do design, aproximando-se dos dois produtos principais abordados nesta tese - ahabitação e o móvel, procura-se aqui um aprofundamento sobreduas questões que estarão permeando todo o trabalho: adefinição de habitação mínima e de flexibilidade habitacional(tratada na próxima parte deste capítulo).

A discussão do que seria a área mínima aceitável para umahabitação já dura em torno de um século. Desde a simplesdefinição dimensional com base no lay-out do mobiliárionecessário, até as atuais discussões dentro da psicologiaambiental, têm existido às mais variadas propostas de comodefinir a moradia mínima necessária para se viver. No entanto,mesmo existindo considerações cuja noção de “mínimo” nãopode ser dado somente para atender as exigências físicas dasatividades domésticas, como também precisam ser consideradasas exigências psicossomáticas, tem se adotado normasultrapassadas como referência para habitações de interessesocial. Estas normas, além de aceitar áreas abaixo do mínimodefinido por variados estudos, não considera especificidadesregionais e dificulta a adequação às especificidades familiares.

Vale ressaltar que está sendo avaliado o interior da unidadehabitacional, tendo-se consciência, no entanto, da relação destaunidade com o espaço maior que a envolve, com suas relaçõesde vizinhança, sua relação com a trama urbana, serviços de

1.4 - HABIT1.4 - HABIT1.4 - HABIT1.4 - HABIT1.4 - HABITAÇÃO MÍNIMAAÇÃO MÍNIMAAÇÃO MÍNIMAAÇÃO MÍNIMAAÇÃO MÍNIMA

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104104104104104 capítulo 1.4 - habitação mínima

infra-estrutura e equipamentos sociais. No entanto, o foco depreocupação deste trabalho é a moradia, a estruturaarquitetônica do espaço interno e o seu uso pelo morador.

Os principais critérios que definiam as áreas mínimashabitacionais a serem ocupadas em metrópoles em plenaexpansão, no século XIX e início do XX, baseavam-seprincipalmente em preocupações higienistas. A realização do2° CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna)trouxe para a discussão novos fatores a serem abordados sobreeste tema. Sob o título “Die Wohnung für das Existenzminimum”(a habitação para a mínima existência), este CIAM ocorrido emFrankfurt-am-Main, Alemanha, em 1929, buscava tratar estaproblemática, sistematizando o que seria o mínimo aceitávelpara uma família viver, abordando não somente o espaço físicoda moradia, como as relações de mobiliário, modo de vida,bem como a racionalização da produção e do uso deste espaço.Com isto buscou-se apresentar diversas configurações internasdas habitações com propostas inovadoras de agenciamentodos ambientes através da utilização de divisórias leves, painéisdeslizantes, mobiliário escamoteável, dobrável e multifuncional.

Discussão históricaDiscussão históricaDiscussão históricaDiscussão históricaDiscussão histórica

1. 1221. 1221. 1221. 1221. 122Planta apresentada no II CIAM,Frankfurt, 1929 (KLEIN, 1980,p.26-28)

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105105105105105capítulo 1.4 - habitação mínima

Inseridos na temática de metodologias “racionais” de projeto eseus procedimentos de controle desenvolvidos pelosprotagonistas do Movimento Moderno, encontram-se os estudosde Alexander Klein, que buscava a definição de um métodoobjetivo de avaliação dos problemas funcionais e econômicosdas habitações. O método de avaliação de plantas de Klein,desenvolvido ao longo de anos e publicado em 1928, estábaseado essencialmente em três operações: exame preliminarmediante um questionário, colocação dos projetos em umamesma grade e método gráfico. O questionário, composto poruma série de dados dimensionais e de questões relativas àshabitações examinadas, resultaria em uma pontuação quepermitiria estabelecer a primeira avaliação comparativa sobrea eficácia da habitação. Os projetos com resultados melhoresseriam então colocados em uma mesma grade, definida pelasdimensões de profundidade e largura, consistindo em umaconfrontação de diversas soluções em planta com o mesmonúmero de camas e relativamente homogêneas segundoparâmetros dimensionais que incidem sobre o esquemadistributivo. Nesta etapa os projetos seriam examinados

1. 123 1. 123 1. 123 1. 123 1. 123 e 1. 124 1. 124 1. 124 1. 124 1. 124Plantas apresentadas no II CIAM,

Frankfurt, 1929 (KLEIN, 1980, p.26-28)

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106106106106106 capítulo 1.4 - habitação mínima

mediante um método especial sobre suas condições de higiene,economia e configuração espacial. Depois destes dois primeirospassos de análises preliminares, viria o método gráfico quepermitiria verificar para cada planta da unidade os seguintesaspectos: relação das circulações e a disposição das zonas depassagem, a concentração das superfícies livres de mobiliário,as analogias geométricas e as relações entre os elementos quecompõem a planta (KLEIN, 1928 in: KLEIN, 1980, p.88-100).Este método serviria como ponto de partida para a redução dopadrão de habitação, considerando uma concepção dehabitação mais articulada que considerasse as complexasrelações que se desenvolvem em seu interior e em seu exterior,demonstrando que a diminuição da área interna precisaria estarvinculada a uma maior oferta de espaços coletivos e/ou públicos.O método de Klein constitui uma abordagem na busca de um“cientificismo” da disciplina em relação à intenção da culturaarquitetônica racionalista no sentido de aproximar-se da novarealidade social (ROSSARI, 1980).

1. 125 1. 125 1. 125 1. 125 1. 125 e 1. 1261. 1261. 1261. 1261. 126Planta elaborada por Klein – Tipo II/B –Área útil = 45 m², com 3¹/² cama - um

dormitório com uma cama de casal e umberço, e outro dormitório com uma cama

de solteiro. (KLEIN, 1980, p.122)

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107107107107107capítulo 1.4 - habitação mínima

Demonstração gráfica da planta Tipo II B com 45 m² conforme osprincípios que uma habitação mínima deveria atender. Estes princípiosforam desenvolvidos para um programa habitacional da Alemanha em

1930 - (KLEIN, 1980, p.121-124)

1. 1271. 1271. 1271. 1271. 127PPPPPrincípio 1rincípio 1rincípio 1rincípio 1rincípio 1: obter uma máximaamplitude dos espaçosestabelecendo uma relação visualentre eles, com objetivo dediminuir na medida do possível asensação de opressão dosambientes.

1. 1281. 1281. 1281. 1281. 128PPPPPrincípio 2rincípio 2rincípio 2rincípio 2rincípio 2: Estabelecer umaestreita relação entre a habitaçãoe o entorno, utilizando para istoamplas portas de correr edistribuindo as janelas de modoque permitam aproximar oexterior e possibilitem a visão domesmo.

1. 1291. 1291. 1291. 1291. 129PPPPPrincípio 3rincípio 3rincípio 3rincípio 3rincípio 3: organizar os espaçosde circulação de tal modo quedepois da colocação do mobiliárionecessário as superfícies livresrestantes sejam amplas,concentradas e contínuas.

1. 1301. 1301. 1301. 1301. 130PPPPPrincípio 4rincípio 4rincípio 4rincípio 4rincípio 4: Facilitar para os paiso controle visual dos filhos, alémde elevar o sentimento de vidaem comum entre os membros dafamília.

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108108108108108 capítulo 1.4 - habitação mínima

1. 1311. 1311. 1311. 1311. 131PPPPPrincípio 5rincípio 5rincípio 5rincípio 5rincípio 5 – Aproveitar aomáximo a insolação e tentarconseguir uma iluminaçãonatural em toda a habitação.

1. 1321. 1321. 1321. 1321. 132PPPPPrincípio 6rincípio 6rincípio 6rincípio 6rincípio 6 – aumentar o volumede ar dos dormitórios,importante especialmente ànoite, mediante a utilização deportas de correr que permitemincorporar aos dormitórios ovolume de ar da sala de estar.

1. 1331. 1331. 1331. 1331. 133PPPPPrincípio 7rincípio 7rincípio 7rincípio 7rincípio 7 – Evitar todos osinconvenientes de uma cozinhafechada (dificuldade de vigiar osfilhos da cozinha, impossibilidade deacompanhar o processo de cocçãodos alimentos a partir da mesa derefeições, e trajeto desnecessárioentre cozinha e mesa). Para istosugere-se uma porta de vidro, umacorreta distribuição da cozinha e umaadequada disposição da mesa derefeições.

1. 1341. 1341. 1341. 1341. 134PPPPPrincípio 8rincípio 8rincípio 8rincípio 8rincípio 8 – conceber especialatenção ao sistema decalefação que sejaparticularmente simples eeconômico. 1) para dias nãomuito frios – o fogão dacozinha. 2) para dias frios –estufa na sala de estar queaquece também os dormitórios.3) para dias muito frios –calefação adicional que podeser utilizada eventualmente.

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109109109109109capítulo 1.4 - habitação mínima

O tipo de investigação racionalista desenvolvido por Kleinprecedeu os manuais que ofereciam uma classificaçãosistemática dos tipos de edificação, das funções ligadasdiretamente a estes tipos, dos seus esquemas distributivos e dasdimensões e características dos instrumentos complementares.Um exemplo famoso destes manuais foi o lançado por ErnstNeufert em 1936 com o título Bauentwurfslehre, que desdeentão tem sido reeditado continuamente nos mais diversosidiomas, sendo no Brasil conhecido como “Arte de Projetar emArquitetura”, amplamente difundido nas escolas de arquitetura.Rossari (1980) critica este tipo de manual por ser umaclassificação sistemática de elementos isolados e codificadosindependentes do contexto real e social em que deveriam estarinseridos, colocando o homem e os objetos em um mesmoplano.

O debate sobre a habitação para a classe trabalhadora teveespaço no Brasil com a realização do Primeiro Congresso deHabitação, em 1931, ocorrido em São Paulo. No entanto, assoluções estavam ainda muito presas a preceitos morais e dehigiene, embora os participantes compartilhavam da opiniãodos modernistas sobre a possibilidade de uma interferência noscostumes e hábitos da população através da organização doespaço da casa.

Um dos aspectos levantados sobre o dimensionamento demodelos de habitação econômica referia-se a disposição dosmóveis que por sua vez definiriam o espaço necessário de cadacompartimento

Tratando-se de casas econômicas, mórmente nas de reduzidaárea, é indispensável prever-se a colocação dos móveisessenciaes afim de provêr á bôa distribuição de janelas e portase determinar o conveniente sentido de abertura desta. Precisampois ser desenhadas as projecções dos moveis, mas com asdimensões reaes para os typos accessíveis á bolça do inquilino.

Certos recantos da construção podem ser aproveitados paraarmários embutidos e outros moveis, indo o aproveitamentoaté aos desvãos do telhado e espaços situados sob as escadas.

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110110110110110 capítulo 1.4 - habitação mínima

Poder-se-á mesmo construir casas com mobiliário fixo, de quehá exemplos muito interessantes no estrangeiro e já se começaa tentar entre nós (MAGRO, 1931, p.65-6).

Esta postura refletia a preocupação de adequação dos móveisdentro dos espaços reduzidos que estavam sendo propostospara as habitações econômicas, buscando evitar situações deinterferência do móvel sobre circulações, iluminação eventilação da habitação.

O arquiteto Rubens Porto, que foi assessor técnico do ConselhoNacional do Trabalho, órgão do Ministério do Trabalhoresponsável pela normatização, fiscalização e aprovação deprocedimentos dos IAPs (Institutos de Aposentadoria e Pensões),escreveu um livro lançado em 1938, O Problema das CasasOperárias e os Institutos e Caixas de Pensões, onde defende osideais modernistas para os grandes conjuntos habitacionais.

1. 1351. 1351. 1351. 1351. 135 e 1. 1361. 1361. 1361. 1361. 136E.F. Sorocabana, casas para empregados (MAGRO, 1931, p.79-80).

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111111111111111capítulo 1.4 - habitação mínima

Dentre os pontos que ele defendia estava:

a entrega da casa mobiliada de forma racional: [...] dever-se-ia prover a casa dos móveis e utensílios de que iriamforçosamente carecer os seus moradores. [...] A entrega dacasa, devidamente mobiliada, oferece, além da vantagem deordem econômica [...] a de ordem higiênica [...]. Nos quartose salas das casas de muita gente a única abertura de iluminaçãoe ventilação se encontra, se não totalmente, pelo menos emparte, obstruída pela necessidade de instalar um grandearmário, comprado ou ganho sem atender ao local respectivo;dispensará, por certo, a citação das demais inconveniênciasdesses móveis adquiridos, a juros altos, aos judeus das vendasa prestações [...]. O lado econômico estaria atendido com ascompras feitas em grosso [...] (PORTO, 1938 apud BONDUKI,1998, p.153).

Esta visão de Porto é muito pertinente quando percebe-se,através de avaliações pós-ocupação realizadas em ConjuntosHabitacionais empreendidos pelo Estado, que o lay-out do móvelproposto em projeto difere muito da real ocupação realizadapelos moradores com seus móveis adquiridos em prestações.O que ocorre então é que a área calculada como suficienteacaba ficando congestionada, pois os móveis não possuem odimensionamento previsto (este assunto é tratado de forma maisaprofundada no próximo capítulo).

Boueri (1989) salienta que o dimensionamento mínimo dadopara alguns compartimentos nos Códigos Sanitários do Estadode São Paulo, ao longo do tempo, reflete claramente a evoluçãono uso destes compartimentos. Ele cita o exemplo do dormitório,que sendo tratado quase como uma alcova no Código de 1894,era permitida uma área de 3,5 m2, e que vai aumentandogradativamente nos Códigos lançados no século XX, passandopara uma área de 10-12 m2. Isto reflete o uso do dormitórionão somente como espaço de descanso, mas também compossibilidade de abrigar outras atividades. A cozinha é outroexemplo de grande mudança de área mínima admitida, masno sentido inverso. Com a diminuição dos equipamentoselétricos e de cocção, e mudança de rotina alimentar, a área

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112112112112112 capítulo 1.4 - habitação mínima

de 12,00 m2 admitida no Código de 1894 diminuidrasticamente para 4,00 m2 no Código de 1978 (ainda emvigor).

Além do Primeiro Congresso de Habitação e do CódigoSanitário, não houve no Brasil até a década de 1980 outrosestudos que aprofundassem esta temática da habitação mínima.Os poucos trabalhos que surgiram então (como Silva, 1982;eBoueri, 1989) basearam-se em pesquisas internacionais (porexemplo, Portas, 1969) e não foram sucedidos por outros quepudessem dar uma continuidade da discussão.

18941894189418941894 19111911191119111911 19181918191819181918 1951 1970 1975 19781951 1970 1975 19781951 1970 1975 19781951 1970 1975 19781951 1970 1975 1978COZINHACOZINHACOZINHACOZINHACOZINHAPé-direito(1) 4,0 3,70 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5Área mínima(2) - - 10,0 6,0 4,0 4,0 4,0SALASALASALASALASALAPé direito(1) 4,0 3,7 3,0 2,5 2,5 2,5 2,7Área Mínima(2) - - - 8,0 8,0 8,0 8,0DORMITÓRIODORMITÓRIODORMITÓRIODORMITÓRIODORMITÓRIOPé-direito(1) 4,0 3,7 3,0 2,7 2,7 2,7 2,7Área mínima(2) 3,5 10,0 12,0(3) 12,0(3) 8,0BANHEIROBANHEIROBANHEIROBANHEIROBANHEIROPé-direito(1) 4,0 3,6 3,0 2,5 2,5 2,5 2,5Área mínima(2) - - 1,2(4) 1,2(4) 3,0 3,0 2,5 2,0(5) 3,0(6)

TTTTTabela 1abela 1abela 1abela 1abela 1 - Evolução Dimensional do Código Sanitário (BOUERI, 1989, p.2/27)

(1) Em metros;(2) Em metros quadrados;(3) Habitação com dois dormitórios: 10,0 m2 para cada um. Habitaçãocom três dormitórios: área de 10,00 m2 para o primeiro e de 8 m2 paraos demais;(4) Latrinas externas;(5) Latrinas internas;(6) Banheiro e latrina.

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113113113113113capítulo 1.4 - habitação mínima

É importante lembrar que o aspecto dimensional é uma dasmuitas questões a serem consideradas sobre a qualidadehabitacional, não se esquecendo que os termos ligados a estadefinição têm significados diferenciados conforme a camadasocial e o momento histórico. Portanto, a habitação precisa serconcebida de tal forma que esteja em relação ativa e orgânicacom as condições de vida e necessidades culturais de sua época,devendo satisfazer inclusive as necessárias exigências de máximaeconomia e simplicidade (KLEIN, 1928 in KLEIN, 1980).

Portas (1969) lembra que a noção de mínimo abarca o limitequantitativo de espaço habitável para a satisfação tanto deexigências físicas bem como de exigências psicossomáticas. Paraele o espaço físico é definido pelas atividades que por sua vezsão determinadas por características antropométricas emecânicas das ações. No entanto, o espaço mínimo exigidonão pode ser a simples somatória das áreas necessárias paracada função,

não só porque depende do grau de privacidade interna quepossibilite a forma de compartimentação do espaço mastambém porque, a este nível global os moradores têm da casauma imagem ou representação valorativa que é função de umcondicionalismo sócio-cultural em que a atitude em relação àcasa se insere num contexto mais complexo (PORTAS, 1969,p.7).

O mesmo autor define o mínimo como o “conjunto dascondições das quais a habitação concorreria, com probabilidadesignificativa, para restringir o grau de desenvolvimento indi-vidual” (PORTAS, 1969, p.8).

Existem vários estudos que utilizam diferentes índices paramensurar a densidade habitacional: número de pessoas pordomicílio, metro quadrado por pessoa ou pessoas por cômodo.O mais usual é analisar estes índices conjuntamente para nãoincorrer em distorções que possam mascarar situações

PPPPPadrão dimensional mínimoadrão dimensional mínimoadrão dimensional mínimoadrão dimensional mínimoadrão dimensional mínimo

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114114114114114 capítulo 1.4 - habitação mínima

impróprias, como no caso da superfície por habitante que podenão estar oferecendo privacidade necessária, embora a áreaseja suficiente. Portanto neste caso seria interessante observartambém o número de pessoas por cômodo. Outro aspectoimportante de se destacar, é que a densidade por si só nãodemonstra o modo como as pessoas usam o espaço ou comopercebem o espaço.

Portas (1969) faz algumas considerações interessantes sobre operigo de alguns mínimos adotados. Por exemplo, o banheirocom dimensões estritamente necessárias para o lavatório, ovaso e o box de chuveiro, não oferece condições, por exemplo,para o auxílio no banho das crianças. A sala que se tornadormitório no período noturno deve oferecer características quepossibilite algum tipo de isolamento no momento da conversãopara uso mais privativo.

Conforme ilustra Rosso (1980, p.138), existe uma variaçãorelativamente grande na definição de área útil por pessoa deacordo com as exigências de alguns países europeus e entidadesinternacionais.

TTTTTabela 2abela 2abela 2abela 2abela 2 - Proposta de mínimos – m2 (PORTAS, 1969)

CompartimentoCompartimentoCompartimentoCompartimentoCompartimento MínimoMínimoMínimoMínimoMínimo DesejávelDesejávelDesejávelDesejávelDesejávelQuarto casal 10,5 12Quarto filhos-duplo 9,00 11Cozinha 4,40 5,20Cozinha com mesa para refeições 7,60 9,00Cozinha com lavanderia conjugada 8,60 10,00Sala 8,00 11,00Sala com mesa para refeições 14,00 18,00Área de serviço-aberta 0,5 a 1,00Área de serviço-fechada 2,00Banheiro 3,00 3,50

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115115115115115capítulo 1.4 - habitação mínima

TTTTTabela 3 abela 3 abela 3 abela 3 abela 3 - área útil (m²) por pessoa

Para Chombart de Lauwe (in: ROSSO, 1980, p.138), abaixode 8 m2 de área útil por pessoa pode provocar gravesconseqüências na saúde dos moradores. Blachere (1978)coloca, para família de três ou mais pessoas, uma área mínimade 14 m2 por pessoa. O desejável seria de 18 m2 por pessoa.Limites abaixo destas superfícies podem ser consideradosperturbadores do equilíbrio individual e familiar. No entanto,Blachere (1978, p.85) chama a atenção para estes índices comosomente indicativos, considerando que a qualidade materialda habitação e de suas instalações podem tornar os espaçosreduzidos mais confortáveis.

Uma discussão mais sistematizada realizada aqui no Brasil sobreo tema do interior das habitações de interesse social, abordandoa definição mais precisa de área mínima, pode ser exemplificadapor dois estudos, um de Elvan Silva e outro de Jorge Boueri.Silva (1982) analisou fatores geométricos que incidem sobre afuncionalidade dos espaços da habitação de interesse socialconsiderando os aspectos relativos à posição, dimensões doequipamento e suas características de utilização. Com umametodologia similar à realizada por Portas (1969) e desenvolvidadesde então por diferentes pesquisadores do LaboratórioNacional de Engenharia Civil de Portugal, alguns apresentandovínculos com os estudos de Alexander Klein, Silva (1982, p.37-8) trabalhou as seguintes etapas: elaboração de uma listagemdas atividades normalmente exercidas no âmbito domiciliar;

PPPPPaís ouaís ouaís ouaís ouaís ou Composição familiar (pessoa) Composição familiar (pessoa) Composição familiar (pessoa) Composição familiar (pessoa) Composição familiar (pessoa)entidade 2 3 4 5 6 7 8entidade 2 3 4 5 6 7 8entidade 2 3 4 5 6 7 8entidade 2 3 4 5 6 7 8entidade 2 3 4 5 6 7 8França 17,0 14,6 11,0 10,6 8,8 9,0 7,8Holanda 16,0 12,0 10,0 9,2 8,2 7,7 7,5Dinamarca 19,5 15,3 12,5 11,2 10,0 - -BID - 10,5 10,2 9,7 9,6 - -UIOF - 16,6 13,7 13,4 12,3 12,0 11,4

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116116116116116 capítulo 1.4 - habitação mínima

inventário do equipamento doméstico convencional; definiçãoobjetiva dos critérios adotados na articulação dos equipamentoscom os usuários, com o espaço e entre si; e, formulação dehipóteses de articulação dos equipamentos e espaços segundoos critérios definidos, em busca dos padrões de otimizaçãoeconômica e funcional.

Boueri (1989) por sua vez, desenvolveu estudos antropométricosbuscando relações entre o espaço e a atividade domésticaexecutada pelo ser humano, determinando seus movimentos eposturas enquanto realiza qualquer atividade a ele pertinente.A utilização de métodos antropométricos salienta a necessidadefísica do espaço da habitação determinada dentro de basescientíficas. Este autor pretendeu chamar a atenção do que temsido construído em conjuntos habitacionais fazendo umcomparativo entre um determinado conjunto de casas térreas,antes e depois de sua ocupação, e as áreas mínimas resultantesde seu estudo que deu origem ao Padrão Antropométrico deDimensionamento da Habitação. Este Padrão, por sua vez, foidesenvolvido com base na análise conjunta de dois itens:cômodos, atividades, mobiliário e equipamento da habitação;e, posições corporais das atividades domésticas. A análise destesdois itens permite a criação de “relações dimensionais quepodem ser transpostas para o projeto da habitação ao nível demedidas e escala” (BOUERI, 1989, p.3/46).

O IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de SãoPaulo) também difundiu uma tabela de áreas recomendadaspara habitação em seu Manual de tipologias de projeto paraprogramas de auto-ajuda, como está demonstrado a seguir:

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117117117117117capítulo 1.4 - habitação mínima

TTTTTabela 4abela 4abela 4abela 4abela 4 - Áreas úteis recomendadas para habitação - m2

“A área de serviço não está indicada na tabela , embora sualocalização deva ser prevista, sem constituir, necessariamente, umambiente fechado” (IPT, 1988, p.20).

Para facilitar uma comparação entre os diferentes índicesrecomendados por estes estudos e com o praticado pelosprogramas habitacionais no estado de São Paulo, será adotadodaqui para frente uma unidade habitacional de dois dormitóriospor ser o que mais se produz para abrigar uma família.

Os estudos de Elvan Silva, Jorge Boueri e do IPT recomendamas seguintes áreas (m2):

TTTTTipo de N° de quartosipo de N° de quartosipo de N° de quartosipo de N° de quartosipo de N° de quartos

ambienteambienteambienteambienteambiente 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3 0 1 2 3Sala 12 a 14 12 a 14 12 a 14 12 a 14Cozinha 10 a 12 10 a 12 10 a 12 10 a 12Banheiro 2,5 a 3 2,5 a 3 2,5 a 3 2,5 a 3Quarto (1) 9 a 11 9 a 11 9 a 11Quarto (2) 8 a 9 8 a 9Quarto (3) 8 a 9Circulação 1,5 a 3 1,5 a 3 1,5 a 3 1,5 a 3

TTTTTOOOOOTTTTTAL (m2)AL (m2)AL (m2)AL (m2)AL (m2) 26 a 32 35 a 43 43 a 52 51 a 6126 a 32 35 a 43 43 a 52 51 a 6126 a 32 35 a 43 43 a 52 51 a 6126 a 32 35 a 43 43 a 52 51 a 6126 a 32 35 a 43 43 a 52 51 a 61

Cód. Sanit. Silva Cód. Sanit. Silva Cód. Sanit. Silva Cód. Sanit. Silva Cód. Sanit. Silva Boueri Boueri Boueri Boueri Boueri IPT IPT IPT IPT IPT (1978) (1982) (1989) (1988) (1978) (1982) (1989) (1988) (1978) (1982) (1989) (1988) (1978) (1982) (1989) (1988) (1978) (1982) (1989) (1988)Sala 8,00 10,50 15,00 12,00-14,00Cozinha 4,00 3,60 7,20 10,00-12,00Banheiro 2,00 2,52 4,20 2,50-3,00Dormitório (1) 8,00 7,75 14,0 9,00-11,00Dormitório (2) 6,00 5,00 12,0 8,00-9,00Área Serviço - 2,10 5,40 -TTTTTOOOOOTTTTTALALALALAL 28,00 28,00 28,00 28,00 28,00 31,47 31,47 31,47 31,47 31,47 57,80 57,80 57,80 57,80 57,80 43,0–52,0* 43,0–52,0* 43,0–52,0* 43,0–52,0* 43,0–52,0** Embora o IPT não tenha definido a área de serviço, considerou, no entanto, umaárea de 1,5-3,0 m2 para circulação (ver tabela 4)

TTTTTabela 5 - abela 5 - abela 5 - abela 5 - abela 5 - Recomendações de áreas mínimas.

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118118118118118 capítulo 1.4 - habitação mínima

Por esta tabela, percebe-se que o estudo desenvolvido por Silva,considerando apenas os aspectos geométricos, de circulação,ventilação e lay-out do mobiliário e equipamentos mínimos,resultou em áreas bem inferiores ao levantado por Boueri, emcujas análises são acrescentadas a movimentação, a posturanas atividades domésticas e o devido uso dos equipamentos.Silva apresentou várias hipóteses aumentando aos poucos asáreas e discorrendo sobre as outras possibilidades que surgemcom estes aumentos. O que ele quis demonstrar é que umsimples arranjo geométrico com a definição da localização dosmóveis e equipamentos, bem como das portas e janelas,gerando uma área mínima “não é decisivo para determinar ascaracterísticas de funcionalidade dos espaços da habitação deinteresse social” (SILVA, 1982, p.126). O estudo de Silva, queconsidera apenas o fator dimensional na definição de áreamínima, sem abordar outros aspectos, principalmente de ordempsicológica, denuncia o critério utilizado por Códigos deEdificações e pelos Programas Habitacionais.

A legislação vigente no Estado de São Paulo que define asdimensões mínimas dos compartimentos da habitação é oCódigo Sanitário, que não sofreu modificações desde 1978com relação à habitação de interesse social. Os municípiosque não possuem uma legislação específica baseiam-se nesteCódigo para definirem os mínimos exigidos nas edificaçõeshabitacionais. Segundo este Código estadual, é consideradahabitação de interesse social aquela com no máximo 60 m2,integrando conjuntos habitacionais ou de forma isolada,construída por entidades de administração direta ou indireta(SÃO PAULO, 2000, p.50).

Um estudo realizado por Mascaró (1998, p.30) levanta umaquestão interessante sobre o custo do metro quadrado da

Questionamentos sobre o padrão mínimoQuestionamentos sobre o padrão mínimoQuestionamentos sobre o padrão mínimoQuestionamentos sobre o padrão mínimoQuestionamentos sobre o padrão mínimo

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119119119119119capítulo 1.4 - habitação mínima

construção, colocado por muitos como uma das grandeslimitações na oferta de áreas maiores nos programashabitacionais. Este autor afirma que, arredondando os valores,os planos horizontais representam aproximadamente 25% docusto total do edifício, os verticais 45%, as instalações 25% e ocanteiro de obras 5%. Com isto percebe-se que a diminuiçãoda área não é diretamente proporcional à diminuição do custoda construção e que, portanto, as alternativas mais econômicasprecisariam se concentrar principalmente nas divisórias internasque consomem dois terços dos 45% do custo total da construção.Ou seja, não justifica diminuir demais a área total das unidadeshabitacionais, porque o custo das instalações praticamente nãosofrerá modificações nem tampouco as divisórias.

A seguir está a composição do custo total de edificaçõeshabitacionais, segundo planos horizontais, verticais e instalações(MASCARÓ, 1998, p.32):

Este mesmo autor afirma que a redução, por exemplo, de 10%da superfície construída implicará em uma redução total decustos de 4,7%, representando menos da metade da

Classificação do Composição PClassificação do Composição PClassificação do Composição PClassificação do Composição PClassificação do Composição Participaçãoarticipaçãoarticipaçãoarticipaçãoarticipaçãoelementoelementoelementoelementoelemento (%)(%)(%)(%)(%)Elementos que Parte horizontal da estrutura e das fundações,formam os planos telhado, pisos e parte horizontal dos revestimentoshorizontais e da pintura 26,79Elementos que Parte vertical da estrutura e das fundações,formam os planos alvenarias, aberturas, revestimentos internoverticais e externo, parte vertical da pintura 44, 84Instalações Elétrica, telefônica, hidráulica, gás, louças e metais e elevador 24, 33Instalações provisórias,limpeza da obra eoutros trabalhos nãoconsiderados -- 4,02

TTTTTabela 6 - abela 6 - abela 6 - abela 6 - abela 6 - Composição do custo total de edificações habitacionais

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120120120120120 capítulo 1.4 - habitação mínima

porcentagem de diminuição da superfície.

O problema não é só o fator metros quadrados construídosmas também, fundamentalmente, a forma como sãodesenhadas essas superfícies, ou seja, o tradicional problemade quantidade versus qualidade do projeto, não só dosmateriais (MASCARÓ, 1998, p.32).

Variação do custo de construção por metro quadrado de planta,em função da variação da superfície (MASCARÓ, 1998, p.33):

Se por um lado existe a preocupação de alguns pesquisadoresem prever superfícies mínimas em função da composição etamanho da família, por outro lado, Taschner (1975, p.147)chama a atenção da dificuldade de distribuição das funçõesda vida familiar entre as diversas divisões, pelo fato do modode habitar poder variar segundo origem, hábitos, etc., mesmoquando famílias diferentes possuem o mesmo nível de renda.Por isto, esta autora defendia que não poderia haver umestabelecimento de normas mínimas de aceitação ou rechaçode condições habitacionais, mas sim normas flexíveis quepermitissem a adaptação à diversidade de situações e àrealidade dominante (TASCHNER, 1975, p.185).

Portanto, como já afirmado anteriormente, a questão da áreamínima da habitação não pode ser considerada apenas sob aótica da densidade, mas precisa estar inserida em uma discussão

Superfície da Habitação (m2) Custo do m2, tomando como base ocorrespondente a 60 m2 (%)

40 127

50 110

60 100

70 90

80 85

90 80

TTTTTabela 7 - abela 7 - abela 7 - abela 7 - abela 7 - custo/m² X variação da superfície.

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121121121121121capítulo 1.4 - habitação mínima

mais ampla que inclua um questionamento sobre as tipologiasde projetos atualmente em difusão. A qualidade do projetomencionado por Mascaró (1998), entra em sintonia com o queSilva já havia chamado atenção, que é a necessidade dadefinição de outras condições que precisam ser satisfeitas peloscompartimentos além da simples imposição de limites de área(SILVA, 1982, p.126-7). A qualidade do projeto estarárelacionada também ao atendimento das ansiedades e dasaspirações dos indivíduos, “tal como motivações pessoais,sociais e culturais” (BOUERI, 1989, p.IV).

Nos atuais projetos de habitação mínima para a população debaixa renda, as considerações sobre costumes domésticos sãoignoradas e os moradores precisam se adequar às pequenasáreas disponíveis.

Sobre esta abordagem reducionista de densidade (número demoradores por área ou por cômodo) Cardia (1981) critica suautilização como única forma de definição do espaço necessáriopara habitação, “ignorando como a população percebe, usa eavalia os espaços da habitação, suas necessidades e prioridadesneste uso da moradia”(CARDIA, 1981, p.231). Ressalta entãoa necessidade de estudos para levantar esta posição dosmoradores frente ao seu espaço doméstico.

No entanto, Sommer (1973) destaca a dificuldade de obtençãode informações sobre certos aspectos pelo fato das pessoasnão terem consciência do que em um edifício ou numa sala asatingem e “nem são capazes de exprimir como se sentem emambientes diferentes.” Além do mais, “quase todas as suasreações a uma divisão de espaço se dão em nível emocional, enão racional”(SOMMER, 1973, p.201).

Neste momento, a figura do cientista social passa a serimprescindível para se traduzir as necessidades específicas daspessoas e fornecer informações que orientem o arquiteto e odesigner na definição de espaços e objetos que comporão ahabitação.

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122122122122122 capítulo 1.4 - habitação mínima

O papel dos móveis e equipamentos no agenciamento desteinterior mínimo é de fundamental importância. Quando se falade áreas tão reduzidas, faz-se necessário uma revisão da posturados projetistas de tentar otimizar ao máximo cada centímetroquadrado sem pensar em uma maior flexibilização da planta,considerando inclusive o mobiliário como parte integrante desubsistemas construtivos.

Talvez pudesse ser resgatado o debate do II CIAM sobre ahabitação mínima cujas propostas estavam inseridas emreflexões globais que abordavam a habitação sob o aspectodo micro - o móvel, até sua inserção no macro – a cidade. Aredução do padrão das habitações que os modernistaselaboraram não pode ser reduzida a esquematizações banaise utilizada inclusive em todos os níveis de especulaçãoimobiliária.

Quando a situação econômica exige uma redução de área,Klein (1980) lembra que isto não significa necessariamente emuma piora nas condições de habitabilidade. No entanto, parase realizar tal redução mantendo uma boa qualidade namoradia, são exigidas profundas modificações no projetar ahabitação:

El concepto de ´mínimo de vivienda´debe entrañar unaprofunda modificación, tanto cualitativa como cuantitativa,de cada una de las peculiaridades de la vivienda, de modoque el funcionamiento de ésta se sitúe a un nivel asequiblepara la economía familiar…sin que ello suponga unadeterioración de las condiciones de vida, tanto físicas comoespirituales, de sus moradores (GRUSCHKA, 1927 apud KLEIN,1980, p.82).

Os estudos de Klein podem servir como uma metodologiaorientativa no sentido de fazer as pesquisas arquitetônicasvincularem a redução de área ao desenvolvimento dedeterminadas funções, tanto no interior da unidade como foradela, garantindo ao mesmo tempo a quantidade mínima deespaços e serviços ligados a habitação. Assim esta problemática

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123123123123123capítulo 1.4 - habitação mínima

estaria sendo tratada em toda a sua complexidade que vai desdea análise de parâmetros funcionais, econômicos (custo deconstrução), assim como parâmetros formais e perceptivos quese referem aos problemas de cansaço psíquico, respeitando oconceito da casa que garante repouso (ROSSARI, 1980, p.36),convívio familiar, e que não pode ser resolvida somente comoum abrigo físico.

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124124124124124 capítulo 1.4 - habitação mínima

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125125125125125capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

A habitação que possui áreas reduzidas e precisa abrigar umcerto número de funções e atividades de uma família de baixarenda precisa ser necessariamente flexível. No entanto, o termoflexibilidade foi sendo trabalhado de formas diferentes ao longodas últimas décadas. Este conceito intensamente defendido apartir dos anos de 1960 como a grande característica parares-ponder a diferentes necessidades e aspirações de gruposfamiliares diversos, foi em seguida duramente criticado por serestringir ao oferecimento de um espaço vazio cujo moradorseria o responsável em definir a sua moradia conforme seudesejo. Ou seja, um conceito radical de flexibilidade, onde cabiaao arquiteto a simples definição do invólucro, resultando emcorpos anônimos como caixas para qualquer uso.

Atualmente, este conceito está sendo resgatado no sentido deoferecer uma flexibilidade real através de determinadascaracterísticas dos sistemas prediais, dos componentesconstrutivos, dos equipamentos e mobiliário doméstico, trazendopara discussão as possibilidades tecnológicas para viabilizaçãodesses espaços.

As diferentes Avaliações Pós-Ocupação (APO) realizadas emvários conjuntos habitacionais, principalmente de iniciativapública no Brasil, denunciam transformações constantes namoradia realizadas por seus moradores a partir do momentoque ocupam o imóvel. No entanto, as maiores mudançasrealizadas são facilitadas nas casas que ocupam lotes

1.5 - FLEXIBILID1.5 - FLEXIBILID1.5 - FLEXIBILID1.5 - FLEXIBILID1.5 - FLEXIBILIDADE DADE DADE DADE DADE DA UNIDA UNIDA UNIDA UNIDA UNIDADE HABITADE HABITADE HABITADE HABITADE HABITAAAAACIONALCIONALCIONALCIONALCIONAL

“A liberdade guarda um grande potencialpara muitos, mas deve haver uma centelha para

que o engenho comece a funcionar.”Herman Hertzberger

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126126126126126 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

individuais. As habitações coletivas oferecem apartamentosmínimos, cuja adequação do espaço à necessidade dosmoradores torna-se limitados aos equipamentos móveis oumodificações dentro de uma área fixa. Mesmo neste caso jáforam levantadas situações em conjuntos habitacionais ondeprédios de apartamentos sofreram modificações em sua estruturaexterna para aumento da área das unidades, denunciando oextremo da necessidade de adaptação do espaço domésticoàs mais diversas necessidades e interesses. Exemplos como esteestá entre outros que impõem o retorno da defesa da concepçãode espaços flexíveis.

O conceito flexibilidade tem sido utilizado de forma não muitoprecisa. Diferentes autores se utilizam do termo flexibilidadealgumas vezes como sinônimo de adaptabilidade, mobilidade,variabilidade, ampliabilidade, enquanto outros buscamdiferenças e nuanças nestes diferentes conceitos. Percebe-seque, tratando-se apenas da flexibilidade habitacional, existemdiversas abordagens e é através da análise destes variadossignificados que se pretende delinear melhor este conceito.

Com um parecer amplo, Tibau (1972) utiliza flexibilidade comosinônimo de modificabilidade, ou seja, a habitação deve re-sponder à obsolescência do programa e estar sujeita àsadaptações permitindo modificações imprevistas. De forma simi-lar Cheong (1996, 211) coloca flexibilidade como a capacidadeda habitação de se adequar inicialmente aos moradores e depossibilitar mudanças futuras.

Rossi (1998, p.282) busca o conceito na Enciclopédiadell’Architettura Garzanti que define a flexibilidade como “acapacidade de um ambiente, de um edifício ou de um espaço,coberto ou descoberto, de ser organizado e utilizado de diversos

Os diferentes conceitos em torno da flexibilidadeOs diferentes conceitos em torno da flexibilidadeOs diferentes conceitos em torno da flexibilidadeOs diferentes conceitos em torno da flexibilidadeOs diferentes conceitos em torno da flexibilidade

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127127127127127capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

modos”. Acrescenta ainda que a flexibilidade comporta a“adaptabilidade funcional e de distribuição e deve ser previstana fase de projeto”.

Portanto, esta definição levanta as ligações entre o conceito deflexibilidade com a mudança da organização do espaço e dafunção, pressupondo uma liberdade na adaptabilidade espacialatravés de divisões internas independentes da estrutura daedificação. Além disto, esclarece que esta mudança não ésomente definida no uso, mas deverá ser prevista no momentodo projeto. O que vem de encontro ao conceito de Rabeneck,Sheppard e Town (1973)

Em outro artigo (1974), estes últimos autores fazem umadistinção entre flexibilidade e adaptabilidade justificando comisto suas propostas para novas habitações. Para eles umahabitação flexível é aquela que possui algumas partes pré-determinadas e a definição do espaço interno restante érealizada pelo morador, utilizando-se de divisórias móveis. Estetipo de definição foi dado com base na análise dos maisdiferentes projetos habitacionais ditos flexíveis analisados porestes autores. A abordagem do adaptável é colocada comosendo variações planejadas no lugar do espaço vazio quedeveria ser apropriadas pelo morador.

Baseando-se nos autores acima citados, Rosso (1980) juntou aflexibilidade, a adaptabilidade, a ampliabilidade e a agregaçãode funções no princípio de polivalência. Uma habitaçãopolivalente seria aquela cujos espaços permitem alterar os usos,ocupá-los de maneiras variadas, distribuindo as funçõesdiferentemente.

Enquanto isto, Joedicke (1979) divide a flexibilidade davariabilidade. A primeira seria a possibilidade de modificar afunção sem modificar as partes construídas, enquanto a segundaseria a possibilidade de variar os elementos construídos. Ouseja, como exemplo, o espaço flexível seria aquele que permitedistintas funções sem modificar a construção enquanto as

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128128128128128 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

divisórias desmontáveis seria a parte variável. Neste caso, seriamconceitos complementares. A estes dois conceitos Medlin (1979)acrescenta a adaptabilidade que abarca a flexibilidade e avariabilidade criando o potencial de uma edificação projetadapara acomodar-se passivamente ou responder ativamente adistintas funções ou condições externas.

Wienands (1979) coloca a planta livre como exemplo deflexibilidade, ou seja, formas que não estão fixas excessivamentea uma função, associando a flexibilidade à multifuncionalidade.A variabilidade também seria a possibilidade de modificaçõesconstrutivas. Segundo este autor, a multiplicidade de usos ouflexibilidade, a modificação construtiva ou variabilidade, asmodificações do lugar com elementos definidores de espaçostransportáveis ou mobilidade e a capacidade de adaptaçãohumana são os quatro tipos de comportamento diante demodificações que caracterizam a adaptabilidade.

Segundo Hamdi (1991, 47), o arquiteto holandês Nikolaas JohnHabraken que criticou diretamente os bairros residenciaiseuropeus do pós-guerra marcados pela frieza, repetição,anonimato, falta de participação, enfim, definia a flexibilidadecomo sendo a qualidade do espaço físico de ser facilmentemodificado e que pode se submeter a uma série detransformações para melhor se adequar ao uso ao longo dotempo.

Poder-se-ia acrescentar aqui também os conceitos de Krantz(1976) que diferencia a flexibilidade da elasticidade. O primeiroconceito trata de certas possibilidades previstas de mudançade disposição das peças, dentro do interior definido de umapartamento, que pode ser com ou sem ajuda de mão de obraespecializada. O segundo conceito, a elasticidade, consiste napossibilidade de aumentar ou diminuir a área habitável. Estaautora fala também em uma “adaptação total” quando umahabitação oferece as duas características.

A seguir são descritas algumas interpretações levantadas noestudo de Sebestyen (1978):

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129129129129129capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

HungriaHungriaHungriaHungriaHungriaVERSÃO 1:FlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidade: é a capacidade do sistema construtivo em se ajustar para desempenhar diferentes tarefassem mudar o sistema ou seus elementos.VVVVVariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidade: é a quantidade de possibilidades que o sistema construtivo oferece para conversões emudanças subseqüentes sem mudar o próprio sistema ou seus elementos.NeutralidadeNeutralidadeNeutralidadeNeutralidadeNeutralidade: é a qualidade de um determinado sistema construtivo (ou espaço, ou cômodo) quedetermina em que extensão são facilitados os diferentes usos.VERSÃO 2:VVVVVariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidade: é o número de possíveis versões que podem ser projetadas e construídas de sistemasconstrutivos, de instalações, de serviços públicos, etc. Quanto mais versões diferentes que podem serrealizadas, maior a variabilidade do sistema.FlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidade: é a capacidade que um edifício, um grupo de edifícios, ou de equipamentos ou rede de equipamentos possuem em mudar ao longo de seu ciclo de vida de acordo com seudesenvolvimento funcional, ou requisitos de mudanças funcionais e de qualidade ocorridos ao longodo tempo, sem nenhuma, ou apenas algumas alterações em seus sistemas e estruturas.

FFFFFrançarançarançarançarançaNão existe variação entre flexibilidade e variabilidade, que são considerados como sinônimos. Existemsim variações para o termo flexibilidade:- Flexibilidade inicialFlexibilidade inicialFlexibilidade inicialFlexibilidade inicialFlexibilidade inicial: a possibilidade de satisfazer vários programas a um custo não tão alto;- Flexibilidade contínuaFlexibilidade contínuaFlexibilidade contínuaFlexibilidade contínuaFlexibilidade contínua: mudanças possíveis em edificações prontas a um custo não tão alto;- ElasticidadeElasticidadeElasticidadeElasticidadeElasticidade: no sentido literal da palavra;

HolandaHolandaHolandaHolandaHolandaFlexibilidade e variabilidade especificam a extensão que as habitações podem ser adaptadas:FlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidade: significa a conversão do espaço habitacional pelos ocupantes sem ajuda de mão de obraespecializada.A flexibilidade pode ser espacial e funcional. A espacial se subdivide em flexibilidadeimediata, periódica e ocasional.VVVVVariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidade: implica na possibilidade de adaptação da habitação com a ajuda de mão de obratécnica.

Grã-BretanhaGrã-BretanhaGrã-BretanhaGrã-BretanhaGrã-BretanhaAdaptabilidadeAdaptabilidadeAdaptabilidadeAdaptabilidadeAdaptabilidade: é a qualidade da edificação que permite ou facilita alterações posteriores.FlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidade: é a qualidade da edificação que permite variação em atividades sem adaptações.

TTTTTchecoslováquiachecoslováquiachecoslováquiachecoslováquiachecoslováquiaFlexibilidade inclui tanto variabilidade como elasticidade:VVVVVariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidadeariabilidade: é a flexibilidade que possibilita a alteração da planta da habitação como, por exemplo,por divisórias móveis.ElasticidadeElasticidadeElasticidadeElasticidadeElasticidade: é a flexibilidade que permite mudanças no tamanho da habitação, como, por exemplo,pelo acréscimo de alguns compartimentos tanto horizontalmente como verticalmente.

SuéciaSuéciaSuéciaSuéciaSuéciaFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidadeFlexibilidade: adaptabilidade estrutural interna dentro de um determinado espaço.ElasticidadeElasticidadeElasticidadeElasticidadeElasticidade: alteração de um determinado espaço pela adição ou separação de cômodos.GeneralidadeGeneralidadeGeneralidadeGeneralidadeGeneralidade: a possibilidade do uso de um determinado espaço para diferentes fins.

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130130130130130 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Flexibilidade habitacional e seus antecedentes históricosFlexibilidade habitacional e seus antecedentes históricosFlexibilidade habitacional e seus antecedentes históricosFlexibilidade habitacional e seus antecedentes históricosFlexibilidade habitacional e seus antecedentes históricos

A tabela anterior representa o resultado de um estudo realizadopor Sebestyen (1978) com a finalidade de interpretar aterminologia que girava em torno da flexibilidade. Após analisaros termos utilizados em diferentes países e de debater comdiversos pesquisadores e parceiros, concluiu que a versãofrancesa seria a mais adequada, por abordar a flexibilidadecomo um termo coletivo sob o qual outros termos estariamsubordinados, como seria o caso da variabilidade. Resumindoentão, existiria uma flexibilidade inicial, ou variabilidade, queseria definida como o grau de variações arquitetônicas possíveis,e flexibilidade subseqüente, funcional ou contínua a que permiteao usuário uma adaptação dos espaços, da edificação, dosequipamentos e do mobiliário sem mudar nem mover a estruturaportante da edificação. No entanto, o mesmo autor admiteque o termo precisaria entrar em discussão em todo o mundopara se chegar a um consenso.

Além da flexibilidade habitacional restrita ao espaço dentro deum perímetro definido, existiram propostas de flexibilidade maisampla que atingiam o nível urbano e de participação domorador na gestão do empreendimento. Considerando umaflexibilidade habitacional restrita ao uso do espaço doméstico,não necessariamente de áreas mínimas, pode-se pontuar algunsexemplos ao longo da história que apresentaram soluções deespaços flexíveis, algumas reinterpretadas tanto pelos arquitetosmodernos como pelas habitações flexíveis da década de 1960e 1970.

O exemplo mais clássico e constantemente citado é a casatradicional japonesa que era concebida segundo a unidademodular do tatami (91 x 182 cm, existem, contudo, módulosde outras dimensões). Esta casa apresenta um combinado deespaços sem funções definidas, onde mesas dobráveis,

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131131131131131capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

almofadas e colchões leves podem ser levados facilmente paraonde são necessitados. As divisórias leves que deslizam é umaoutra característica que possibilita uma configuração aberta,sem rigidez, integrando os ambientes.

Poder-se-ia fazer um paralelo em termos de flexibilidade nouso do espaço com a casa da idade média, da sociedadeocidental, onde diferentes atividades eram desenvolvidas emum único cômodo auxiliados por poucos móveis. Rybczynski(1996) escreve que a casa típica da Idade Média na sociedadeocidental possuía um grande cômodo onde as pessoas dormiam,cozinhavam, comiam e se entretinham. Os poucos móveis queexistiam neste cômodo ofereciam certa versatilidade, ou porserem desmontáveis ou por possuírem mais do que uma função,como os bancos-baús que serviam como assento e paraarmazenagem. No entanto, este espaço foi secompartimentando com o tempo, chegando ao século XIX comcômodos para atividades bem definidas.

O desenvolvimento ocidental de concepções de modelos flexíveisé colocado por Werner (1994) como uma resposta à reduçãoprogressiva dos espaços habitáveis dentro da casa tradicional.Esta redução trouxe a concepção de uma ampla área na qualseria necessário sobrepor as diferentes atividades diárias parahaver um certo bem estar e sensação de área mais espaçosa.

1. 1371. 1371. 1371. 1371. 137Casa Tradicional Japonesa – diferentes usos em diferentes horas do dia num mesmo espaço(WERNER,1994, p.91)

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As casas na época da colonização americana, que eram feitasde madeira, apresentavam comumente uma planta livre queera utilizada e dividida conforme as necessidades que iamsurgindo. Permitiam principalmente acréscimos de acordo comas condições sociais e econômicas da família (GIEDION, 2000,p.241).

Tanto as características destas casas como da casa tradicionaljaponesa são reconhecidas nos projetos residenciais de FrankLloyd Wright quando defendia em sua Arquitetura Orgânica aplanta livre e flexível. Para Wright a adaptabilidade de umacasa significa fundamentalmente a síntese de distintos espaçosem uma unidade fechada. Não existe assim a habitual limitaçãoprefixada de distintas zonas (BUBNER, 1979, p.28).

Em seu manifesto futurista de 1914, Antonio Sant’Elia defendiauma arquitetura que expressasse elasticidade e leveza atravésda utilização de novos materiais nos elementos construtivos emresposta aos objetivos artísticos futuristas: movimento emudança. A arquitetura adaptável corresponderia ao que eleafirmava: “para cada geração sua própria casa” (GIEDION,2001, p.286), resumindo uma postura da casa em constantetransformação.

Em seus cinco pontos sobre a relação entre a arquitetura e aconstrução, Le Corbusier destacava a planta livre, possibilitadapela estrutura em concreto armado, como forma de facilitar adistribuição interna do espaço, como fez em sua casa Dominóde 1915. Este tipo de solução técnica em edifício residencial jáhavia sido utilizado anteriormente por Auguste Perret.

Em 1924, a idéia de espaço contínuo foi explorada por GerritRietveld, na casa projetada para T. Schröder. O andar superiorabre-se ao longo do dia quando os dormitórios se integramcom a sala de refeições, e o banheiro pode se tornar uma áreade circulação. Além das divisórias deslizantes, a casa secaracteriza por possuir móveis integrados à arquitetura ouelementos arquitetônicos que parecem se fundir com mesas,cadeiras e armários.

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133133133133133capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Le Corbusier foi mais longe nesta integração dos espaços deuso diurno e noturno. Aquilo que era dormitório a noite poderiase transformar em uma sala de estudos ou de outra atividadedurante o dia. Nas Maisons Loucheur, projeto de 1929, quepossuíam 46 m2, as camas eram retráteis. Este fato de liberaruma área que não seria utilizada ao longo do dia, além detambém possibilitar uma integração dos espaços, permitiu umaproveitamento maior para outras atividades domésticas. LeCorbusier quis demonstrar que uma área de 46 m2 com estascaracterísticas ofereciam as mesmas possibilidades que umacasa de 71 m2 (WERNER, 1979).

Outro exemplo de planta livre aplicada na habitação daArquitetura Moderna foi o prédio de apartamentos projetadopor Mies van der Rohe e construído na Weissenhofsiedlung emStuttgart, em 1927. Explorando ao máximo a estruturaindependente, Mies pretendia demonstrar as diferentesdistribuições possíveis em cada unidade habitacional apenascom o deslocamento de divisórias móveis. Além de defender aracionalização e tipificação na construção, afirmava que amudança das necessidades exigia o máximo de flexibilidadede uso (JOHNSON, 1960).

1. 1381. 1381. 1381. 1381. 138 1.1391.1391.1391.1391.139Casa Schröder, Gerrit Rietveld – estas plantas ilustram o pavimento superior da casa - à esquerdamostra as divisórias fechando os ambientes e à direita a planta totalmente integrada (MARGHIERI& PERIANEZ, 1987, p. 5)

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134134134134134 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

1. 1401. 1401. 1401. 1401. 140Weissenhofsiedlung, Mies van der Rohe. Plantas de três andares mostrando variações de lay-out (KIRSCH, 1996, p.10)

1. 1411. 1411. 1411. 1411. 141Lay-out de dois apartamentos, Weissenhofsiedlung, Mies van der Rohe(KIRSCH, 1996, p.10)

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135135135135135capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Até a década de 1920 seguiram-se outros exemplos deflexibilidade habitacional, culminando com o segundoCongresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM)realizado em Frankfurt-am-Main, em 1929. Dentro da discussãosobre uma Existenzminimum (habitação para o mínimo nível devida) surgiram as mais variadas propostas de plantashabitacionais. Entre elas algumas expunham o mobiliário comoparticipante na definição da flexibilidade do espaço. AsSiedlungen de Frankfurt que estavam sendo construídas nesteperíodo, além de terem lançado a Frankfurter Küche, tentaramimplantar em suas unidades habitacionais espaçosmultifuncionais com as camas escamoteáveis que eram arma-das durante a noite, transformando a sala em quarto.

1. 1431. 1431. 1431. 1431. 143Siedlung Praunheim - Frankfurt. Apartamentos de diferentes tamanhos

(linha pontilhada indicando posição das camas montadas). (KUHN,1998, p.194).

1. 1421. 1421. 1421. 1421. 142Casa Loucheur –Le Corbusier – a

casa à direitarepresenta o lay-

out diurno e àesquerda o lay-

out noturno(WERNER,

1979, p.95)

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136136136136136 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Richard Buckminster Fuller, Konrad Wachsman e Yona Fried-man utilizaram diferentes tecnologias para propor novassoluções construtivas em uma busca incessante por umaarquitetura adaptável às mutantes necessidades da sociedade.

Mas foi a proposta de um grupo de arquitetos formado nosdois últimos CIAMs (1953 e1956), o Team 10, de “encontraruma relação precisa entre forma física e necessidade social epsicológica das pessoas”, permitindo que a arquitetura refletissecom “maior exatidão a diversidade dos modelos sociais eculturais” 1 1 1 1 1, que refletiu mas fortemente nos projetoshabitacionais a partir dos anos de 1960. Na realidade aarquitetura estava despertando para a pluralidade e diversidade

1. 144 e 1. 1451. 144 e 1. 1451. 144 e 1. 1451. 144 e 1. 1451. 144 e 1. 145Siedlung Praunheim - Frankfurt. Sala e quarto, mostrando a transformação da sala (esq. -

camas recolhidas)em quarto (dir. - camas armadas). (KUHN, 1998, p.191).

1. 1461. 1461. 1461. 1461. 146Siedlung

Westhausen -Frankfurt. A linha

pontilhada dafigura ilustra duasformas diferentes

de recolher acama. (KUHN,1998, p.189).

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137137137137137capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

cultural. As propostas mais consistentes desta época foramdesenvolvidas por John F. Turner, Nikolaas John Habraken eChristopher Alexander (MONTANDER, 2001, p.127). Hamdi(1991, p.38-39) destaca que os dois primeiros, através de seuslivros “Housing by People” (Turner) e “Supports: an alternativeto mass housing” (Habraken) abalaram a definição de habitaçãoe abriram novos precedentes na produção habitacional.Criticando a produção pública de edificações da época, am-bos defendiam o repensar a habitação como uma atividadeflexível e dinâmica. Com propostas distintas, eles seposicionavam contra as soluções padronizadas, o domíniopúblico sobre a provisão de habitações e a polarização infrutíferaentre o público e o privado, entre a esquerda e a direita noâmbito político, que não conseguiam atender o prometido.

Em 1964 Habraken fundou o SAR (Stichting Architecten Re-search), um grupo patrocinado por arquitetos para desenvolverteorias sobre a habitação e torná-las realidade. A proposta deHabraken era uma estrutura de suporte para habitações quepoderiam ser construídas, alteradas e excluídas independenteuma das outras. Na realidade, o conceito de “suporte”(invólucro) e de “unidades destacáveis” (conteúdo) pode seraplicado em várias escalas, desde a urbana até de equipamentoe mobiliário. Mas a principal abordagem sobre o processoconstrutivo de Habraken era a distinção entre os mecanismosnecessários para produzir o invólucro da edificação e aquelesnecessários para produzir os componentes internos. A parteexterna da edificação tem vida útil mais longa, sua escala émaior e seu método de construção está baseado em condiçõesespeciais de cada lugar, o que resulta em margens maiores deerros. Enquanto isto, os componentes internos podem ter vidamais curta, são mais complexos e possuem tamanhos menores,requer um grau mais fino de ajuste e podem ser facilmenteintercambiáveis. Estas diferentes características sugeremabordagens variadas da produção, da montagem e da aquisição(WORTHINGTON, 1973). O “suporte”, que seria permanente,proveria os serviços e utilidades comunitárias, e as “unidadesdestacáveis” (banheiros, cozinha, divisões, etc.) seriam avaliadas

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138138138138138 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

pelos ocupantes, eventualmente através de canais normais demarketing, e mesmo como produtos de fabricantes individuais.

Esta idéia central continua sendo praticada atualmente por ummovimento internacional denominado Open Building,alavancado por um Grupo de Trabalho do CIB (InternationalCouncil for Research and Innovation in Building and Construc-tion) 22222. Existem vários projetos já executados, principalmente naHolanda e no Japão, que tratam a edificação sob a concepçãoinicialmente explorada por Habraken e que está inserida nestemovimento.

1. 1481. 1481. 1481. 1481. 148Unidades destacáveis

dentro da estrutura desuporte de Habraken

(RABENECK,SHEPPARD e TOWN,

1973, p.721)

1. 1471. 1471. 1471. 1471. 147Esquema da estrutura de suporte de Habraken(RABENECK, SHEPPARD e TOWN, 1973,p.721)

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139139139139139capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Enquanto isto Turner defendia que o suporte mais importantenão estava relacionado com a organização física, mas sim coma localização da habitação, seu baixo custo, sua forma dearrendamento, sua segurança e a liberdade de mudança rápida.

A linguagem dos “patterns” de Alexander trata-se de umacomposição baseada na articulação das partes. Ela estáestruturada em três escalas: o nível urbano, coletivo, legislativoe regional; os edifícios com seus “patterns” ou partes que sãoespaços controlados pelo indivíduo e a construção com detalhestécnicos associados a sistemas construtivos alternativos e deautoconstrução (MONTANER, 2001, p.132-34). Portanto, assimcomo Turner, Alexander defendia a participação do usuário nadefinição de sua habitação como uma recuperação dacapacidade individual do homem de desenhar seu ambiente.

Tanto as propostas de Turner, Habraken e Alexander estavaminseridas em uma nova sensibilidade dos anos de 1960 e 1970,não renunciando aos avanços da ciência e tecnologia econsiderando vital a adaptação e versatilidade destas parasuperar todos os seus “próprios aspectos negativos,depredadores, homogeneizadores, contaminantes edesumanizadores” (MONTANER, 2001, p. 129).

Entre estes três arquitetos que desenvolveram caminhosalternativos para o problema habitacional, as propostasapresentadas nos variados concursos e iniciativas públicasabsorveram melhor a idéia de Habraken, principalmente aquelaspara conjuntos habitacionais que pregavam a flexibilidade nosanos de 1960-70. Em sua maioria os projetos estavambaseados em uma estrutura com plantas livres, onde as unidadeseram organizadas de tal forma que apresentavam núcleos fixoscomo o banheiro e a cozinha, e a flexibilidade se limitava àdefinição da localização de painéis divisórias.

A preocupação em atender as mudanças buscando oenvolvimento do morador na definição da habitação aparecianos discursos em defesa pela flexibilidade juntamente com a

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140140140140140 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

preocupação da obsolescência de uso das edificações e o altocusto para readequá-las às novas necessidades. Os fatorescomo a relação entre padrões, custos e a demanda dos usuáriospara atingir a almejada flexibilidade espacial e de construçãodas edificações estavam consonantes com as experiências depré-fabricação e industrialização da construção da época.

A experiência sueca é citada por alguns autores (Rabeneck,Sheppard & Town, Marghieri & Perianez) como iniciativa públicaprecursora de unidades habitacionais flexíveis. Os primeirosapontam a diminuição da oferta de mão-de-obra especializada,a superprodução de habitações em certas áreas necessitandoa mudança de uso em grandes projetos e a grande concorrênciano mercado da construção habitacional, induzindo a busca deincentivos para potenciais ocupantes, como fatores quemotivaram o interesse sueco pela habitação flexível. O Conjuntode Göteborg, 1954, surgiu de um concurso público parahabitações mínimas adaptáveis. Os arquitetos Tage e Olsson,vencedores do concurso, apresentaram um projeto visivelmenteinfluenciado pelo de Mies van der Rohe, construído naWeissenhofsiedlung em 1927. Na segunda metade dos anosde 1960 e ao longo de 1970 surgiram vários outros conjuntoshabitacionais que desenvolveram uma planta livre com adefinição apenas do banheiro e da cozinha localizados na suamaioria ao longo de uma das paredes que definiam o limite daunidade (Conjuntos Habitacionais de Uppsala, Orminge,Västeräs, Kalmar).

1. 1491. 1491. 1491. 1491. 149Unidades de Jarnbrott, 1954 – 4, 5 ou 6 peças dentro de um mesmoespaço (KRANTZ, 1976, p.75)

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141141141141141capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

1. 1501. 1501. 1501. 1501. 150Kalmar, planta e elevação (RABENECK, SHEPPARD e TOWN, 1973,p.716)

1. 1511. 1511. 1511. 1511. 151Orminge. Apartamento projetado pelos

ocupantes durante a construção(RABENECK, SHEPPARD e TOWN,

1973, p.710)

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142142142142142 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Antes do Plan Construction ser lançado pelo governo francêsna década de 1970, Jean Prouvé produziu vários projetos quenão estavam especificamente preocupados com a flexibilidademas que para ele era óbvio a necessidade de personalizaçãoda construção possibilitada pela tecnologia. Seus projetos nestesentido vem de 1938 com as casas de Meudon de 8 x 8 m queeram pré-fabricadas, transportadas por um caminhão emontadas em um dia por quatro operários. Os painéis dasparedes externas eram intercambiáveis assim como existia umaliberdade no arranjo interno. Além deste projeto, Prouvécontinuou nesta busca até a década de 1970 com outraspropostas.

Nesta época, o Ministère de l’Equipament, lançando o PlanConstruction, procurava incentivar a pesquisa e inovações naconstrução. Iniciou-se a partir de 1972 o Programme Architec-ture Nouvelle (PAN) que subsidiava grupos técnicos para

1. 1531. 1531. 1531. 1531. 153Planta da casa de Meudon – Jean Prouve.

Projetada dentro de um módulo de 1m comtodos os painéis intercambiáveis (RABENECK,

SHEPPARD e TOWN, 1973, p.703)

1. 1521. 1521. 1521. 1521. 152Västeräs, 66 m², layouts sugeridos por arquitetos(RABENECK, SHEPPARD e TOWN, 1973, p.716)

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143143143143143capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

desenvolver protótipos que apresentassem inovações naarquitetura habitacional. Estes projetos precisariam ser parafamílias de baixa e média renda. Com este estímulo estatalforam desenvolvidas várias habitações flexíveis. Contudo muitosdos projetos ficaram na fase de protótipos (RABENECK,SHEPPARD e TOWN, 1973, p.702-3).

Alguns projetos construídos na França, como Montereau-Surville,Bordeaux-le-Lac, Les Marelles, oferecem uma flexibilidadepermitida pelo deslocamento de divisórias internas evoluindopara a escolha dos painéis da fachada e eventualmente seusrecuos definindo terraços.

Uma outra iniciativa estatal surgiu na Alemanha na mesmaépoca através do concurso lançado pelo Ministério dePlanejamento Urbano e Habitacional (Bundesministerium fürStädtebau und Wohnungswesen) em 1971 com a intenção deobter projetos de habitações flexíveis. O objetivo deste con-curso era de criar dentro dos apartamentos uma variabilidadeatravés de divisórias móveis possibilitando várias formas dearranjo, e uma flexibilidade através da troca de funções emcômodos ou áreas não modificadas permitindo aos moradoresa possibilidade de mudança de aspectos espaciais e funcionaisda moradia. A exigência de flexibilidade se restringia ao espaçointerno dos apartamentos (WENGER, 1973, p.213-16).

1. 1541. 1541. 1541. 1541. 154Montereau-Surville, 1969-71. Quatroapartamentos em um pavimento, um

núcleo central equipado com elevador eescada. Cada apartamento de 83 m²,

dentro de um módulo de 90 cm, possuíaem seu meio um shaft de distribuição das

instalações ao redor do qual a cozinha e obanheiro poderiam se posicionar

(MAGHIERI e PERIANEZ, 1987, p.14)

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144144144144144 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Um outro concurso neste mesmo país foi realizado em 1972, oELEMENTA, considerando não só a flexibilidade interior daedificação como também toda a estrutura residencial levandoem consideração a aplicação da tecnologia citada como“segunda geração” de sistemas construtivos. Entre os objetivosdesta competição é citada a preocupação com a psicologia“arquitetural” e fatores sociais e humanos. No ano seguinteocorreu um outro concurso, o INTEGRA, com o objetivo deintegrar habitações, recreação, escritórios, lojas eestacionamento em um edifício (RABENECK; SHEPPARD;TOWN, 1973, p.717-719).

Rabeneck, Sheppard e Town (1973), fazendo um levantamentoda situação da Inglaterra nesta época, apontaram algunsmotivos pelos quais o país precisaria se posicionar frente aoproblema habitacional. Entre eles estavam: a estagnação dassoluções espaciais originárias do início do século XX; a maioroferta de lazer doméstico sem existir espaço para tal; adiminuição constante da área privada; uma padronização dasnecessidades dos usuários para atender um cliente anônimodas habitações públicas; habitação como produto extremamente

1. 1551. 1551. 1551. 1551. 155 e 1. 1561. 1561. 1561. 1561. 156Planta do projeto vencedor do concurso alemão ocorrido em 1971 para o

desenvolvimento de habitações flexíveis. Projeto: Deilmann, Bickenbach e Pfeiffer. Plantareticulada com a estrutura básica e sugestão de lay-out (DEILMANN, BICKENBACH e

PFEIFFER, 1973, p.362 e 364)

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145145145145145capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

funcionalista onde toda ambigüidade e escolha são removidas,sem existir um respeito a diferentes estilos de vida; e a nãocorrespondência dos padrões habitacionais com odesenvolvimento industrial e tecnológico da época.

O maior exemplo britânico citado como uma busca dealternativa habitacional foi o sistema Primary Support Struc-tures and Housing Assembly Kits – PSSHAK, desenvolvido porNabeel Hamdi e Nicholas Wilkinson, baseado na teoria deSuportes de Habraken. Na década de 1970 foram construídospelo Greater London Council – GLC dois destes sistemas queconsistia em uma estrutura de concreto com pisos, paredesexternas, cobertura e colunas verticais nas quais estavamembutidas as tubulações de serviço. Estas definiam a localizaçãodos banheiros e das cozinhas que eram os espaços fixos dosistema. Os painéis das divisões internas dos apartamentos eramdefinidos pelos moradores que eram chamados para planejarsua própria unidade. Estas estruturas previam habitações comtamanhos variados podendo acomodar em cada tipologia deduas até oito pessoas (HABITAÇÃO, 1972, p.35).

A estrutura independente, que possibilita a flexibilidade dearranjo interno defendida por Le Corbusier em sua Casa Dominoe que tornou-se a base para as propostas de grande parte dos

1. 1571. 1571. 1571. 1571. 157 e 1. 1581. 1581. 1581. 1581. 158 – Plantas do PSSHAKde Hamdi e Wilkinson. À esquerda estãodiferentes opções de tamanho dasunidades e, abaixo, a planta que mostraa estrutura básica e serviços (Rabeneck,Sheppard & Town, 1973, p.727)

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146146146146146 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

conjuntos habitacionais de unidades flexíveis, aparece tambémno Brasil no projeto do Edifício Esther de 1938. De uso misto,comercial e residencial, os apartamentos tinham diferentestamanhos. No entanto, sua divisão interna foi pré-definida sema participação dos moradores.

Plantas do Edifício Esther – 1938 - São Paulo,arquitetos Álvaro Vital Brazil e AdhemarMarinho. A planta livre concebida paradiferentes usos, como escritório (fig.159) ecomo residência: apartamentos A e B (fig.160)com um quarto sem cozinha; apartamento C(fig. 161) com dois quartos; apartamento Dcom um quarto e cozinha e apartamento E(figs.162 e 163) com dois a três quartos(EDIFICIO Esther..., julho 1981, p.56-57)

1. 1591. 1591. 1591. 1591. 159 1. 1601. 1601. 1601. 1601. 160

1. 161 1. 161 1. 161 1. 161 1. 161 1. 1621. 1621. 1621. 1621. 162

1. 1631. 1631. 1631. 1631. 163

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147147147147147capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

O edifício Pirapama de 1957, em Recife, também de uso misto,com apartamentos de diferentes tamanhos, possui algumasplantas livres onde o limite entre quarto e sala era feito comdivisórias leves ou com armários (SAMPAIO, 2002, p.254-5).

Em 1962, Oscar Niemeyer apresentou seu projeto de habitaçãopré-fabricada para Brasília. Além de defender a habitaçãocoletiva como solução para os tempos modernos, Niemeyerpensou no planejamento de Brasília que foi baseado nahabitação coletiva, mas admitia soluções mistas (coletiva e in-dividual) nas cidades satélites. Apresentou então uma unidadetotalmente pré-fabricada de baixo custo que permitia diferentesarranjos, desde casas geminadas distribuídas horizontalmenteaté prédio de apartamentos. Neste último caso, as unidadesseriam dispostas de tal forma a permitir um terraço entre asunidades.

A idéia principal era fornecer uma planta básica que pudessesofrer incrementos no seu lay-out conforme a necessidade (econdições financeiras) de seus moradores, sem aumentar a áreatotal da unidade. Inicialmente esta unidade era composta porsala de estar, banheiro, cozinha e uma área de dormitório, queposteriormente poderia ser subdividida. O próximo estágio seriadotar a unidade habitacional de armários e demaisequipamentos (NIEMEYER, 1962).

1. 1641. 1641. 1641. 1641. 164Edifício Pirapama, 1957, Recife, projeto de Delphin F. Amorim e Lúcio M.Estelita (SAMPAIO, 2002, p.255).

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148148148148148 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

1. 1651. 1651. 1651. 1651. 165Habitação pré-fabricada paraBrasília - arranjopara habitaçãocoletiva com espaçoentre as unidadespara terraço comjardim. 1- sala; 2-cozinha; 3-banheiro;4-quartos; 5-pórtico;6-jardim (NIEMEYER,1962, p.36).

O projeto de 1967 do Conjunto Habitacional ZezinhoMagalhães Prado, em Guarulhos-SP, é um exemplo brasileirode proposta de flexibilidade aliado a pré-fabricação daconstrução. O apartamento de 64 m2 de área concentrava oequipamento hidráulico e de serviços em uma parede quecompunha a cozinha, o banheiro e a lavanderia. As demaisparedes internas eram divisórias leves que poderiam serremanejadas. 33333

1. 1661. 1661. 1661. 1661. 166Habitação pré-fabricada para

Brasília - arranjopara casas

geminadas.1- quartos;

2-banheiro;3-cozinha; 4-sala;

5-jardim(NIEMEYER, 1962,

p.37).

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149149149149149capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Apesar de alguns exemplos esparsos de flexibilidade, nuncahouve no Brasil uma preocupação explícita de oferta dehabitações flexíveis, tanto pela iniciativa pública como pelaprivada. Atualmente está aparecendo a palavra flexibilidadevinculada a personalização de apartamentos, presente nascampanhas publicitárias de construtoras. 44444

Na época em que apareceram as propostas formais dehabitação flexível, sejam através de livros ou de concursos eprogramas públicos, surgiram as mais variadas críticas. A prin-cipal delas foi sobre como o usuário se apropriaria de tal espaço.

O que se percebeu em alguns Conjuntos Habitacionais deplantas flexíveis que passaram por uma avaliação é que apossibilidade de arranjo das divisórias era utilizada, na maioria

1. 1671. 1671. 1671. 1671. 167Planta do ConjuntoHabitacional ZezinhoMagalhães Prado (CECAP-Cumbica), que mostra olay-out da unidade ondeos cômodos são definidospor painéis leves(PENTEADO, 1968)

Críticas e a atual discussão da flexibilidadeCríticas e a atual discussão da flexibilidadeCríticas e a atual discussão da flexibilidadeCríticas e a atual discussão da flexibilidadeCríticas e a atual discussão da flexibilidade

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150150150150150 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

das vezes, na primeira ocupação, e que a partir de então asdivisórias se tornavam paredes fixas. Os espaços eramdistribuídos exatamente segundo o repertório conhecido dosmoradores que se limitava à distribuição tradicional de cômodos.Apesar de serem apresentadas plantas de demonstração comespaços alternativos, as famílias acabavam escolhendo a plantatradicional. No entanto, os moradores chegavam a pagaraluguéis mais altos pela satisfação em estar morando em umahabitação que oferecia possibilidades de mudanças, mesmonão se aproveitando destas possibilidades.

Também surgiram questões sobre que tipo de flexibilidadepoderia ser oferecido. Perguntou-se até que ponto pode-se usarefetivamente um espaço quando várias funções são planejadaspara acontecer ao longo de um curto período de tempo dentrode uma área restrita, no caso de uma flexibilidade diária(RABENECK; SHEPPARD; TOWN, 1973).

O uso de divisórias móveis foi outro ponto crítico levantado. Ousuário não tem naturalmente conhecimento para saber comoempregar a flexibilidade e talvez nem condições econômicaspara mudar suas divisórias. Outro problema apontado foi decomo o estoque de divisórias seria feito (GIRARD, 1974).

Trenton (1972) chegou a questionar a flexibilidade por defenderque o homem é muito mais adaptável ao seu meio ambiente, esuas necessidades são bem menos individuais do que seimagina, afirmando ainda que as famílias que vivem emconjuntos habitacionais são muito conservadoras. No entanto,ele previa que com o tempo, um processo mais industrializadoda construção, possibilitaria uma maior escolha de arranjospelos moradores.

Por outro lado, surgiram posicionamentos sobre que arquiteturaestaria surgindo com uma defesa tão radical sobre aflexibilidade. Se referindo diretamente ao concurso PAN(Programme Architecture Nouvelle) lançado na França a partirdo início dos anos de 1970, Girard (1974) destaca a substituição

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151151151151151capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

da “machine for living”, concebida no funcionalismo, pela “ar-chitecture for a changing way of life”. Nesta substituição, aflexibilidade, a tecnologia e a escolha do usuário foram elevadasao nível de mitos. A conseqüência desta postura foi o surgimentode projetos onde o papel do arquiteto era reduzido ao simplesdefinidor da “estrutura de suporte”, criando espaços vaziosindefinidos. Questionou-se sobre que tipo de arquitetura estariasurgindo com sua redução à produção de ferramentastecnológicas que permitiria a planta livre com divisórias internascomo sinônimo de flexibilidade, mas que com este modelo quaseúnico de flexibilidade não se estaria voltando à rigidez criticada.

Por outro lado, Tibau (1972, p.9) salientava que a flexibilidadeem arquitetura não estaria em resolver o conjunto transitório,“mas sim em fixar o conjunto de invariantes do sistema, pois éaí que se manifestará a arquitetura em sua plenitude de obrade arte e de seu conteúdo humano”. Além deste posicionamento,este autor destacava que o desenvolvimento tecnológicoforneceria o instrumental tecnológico necessário à arquitetura,o que possibilitaria a flexibilidade na produção e no uso.Deslaugiers (1981, p.124) notou, no entanto, que a arquiteturadeveria assumir a flexibilidade como instrumento para permitiruma melhor apropriação e utilização do espaço, de mobilização,sem o peso da irreversibilidade, dentro de um espaço emmovimento, fluido, luminoso, colorido e leve.

Cabe aqui destacar que soluções técnicas engenhosas parapossibilitar a flexibilidade ignoram muitas vezes as soluçõesalternativas mais simples, não sendo preciso que a flexibilidadeesteja necessariamente vinculada a um desenvolvimentotecnológico avançado.

Após o impacto frente aos diferentes projetos que ofereciamuma flexibilidade radical criada pelo espaço vazio, e apreocupação sobre que tipo de arquitetura estaria vinculada àflexibilidade habitacional, surgiram algumas análises e mesmoum redirecionamento da discussão.

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Hertzberger (1996) via com grandes reservas o termoflexibilidade por ter estado muito vinculado ao totaldescomprometimento com uma forma definida, acreditando-se que não existe nenhuma solução correta “já que o problemaque requer solução está num estado permanente de fluxo”(HERTZBERGER, 1996, p.146). Isto levou a uma totalneutralidade, à falta de traços característicos. Por conta disto,preferiu então trabalhar com o conceito de polivalência, comoa capacidade de se adaptar à diversidade e à mudança etambém conservar a sua identidade.

Este autor colocou como desafio o desenvolvimento de umaarquitetura que oferecesse um incentivo para que os usuários ainfluenciassem sempre que possível, não apenas para reforçara identidade da arquitetura, mas especialmente para realçar eafirmar a identidade de seus usuários, trabalhando-se comformas que contivessem na sua essência diferentes significadospara assumir diferentes papéis conforme a interpretação dadapelo usuário. Com isto, a forma arquitetônica conteria umaprovocação implícita mais do que uma sugestão explícita.

Como citado anteriormente, Rabeneck, Sheppard e Town (1974)sistematizaram um estudo sobre as experiências das habitaçõesflexíveis e desenvolveram uma contra-proposta quedenominaram de “adaptabilidade”. Nesta abordagem elessugerem um projeto simples de espaços de uso ambíguo,descrevendo alguns elementos projetuais que precisariam estarpresentes para permitir modificações quando desejável. Entreestes pontos destacam-se: a pouca diferença entre os tamanhosde cômodos; tamanhos de janelas que não definam a funçãodo cômodo (evitar, por exemplo, a janela grande para a sala, amédia para o quarto e a pequena para o banheiro); aberturasgenerosas entre os cômodos; aberturas para a área externanão somente na sala e na cozinha; a circulação como umcômodo entre cômodos e não exclusivamente como circulação;nenhum equipamento ou móvel deve ser embutido (RABENECK;SHEPPARD; TOWN,1974). Enfim, estas observações sãocolocadas no sentido de possibilitar uma variação dentro de

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1. 168 1. 168 1. 168 1. 168 1. 168 e 1. 1691. 1691. 1691. 1691. 169Diferentes lay-outspossíveis na propostade Rabeneck,Sheppard & Town(RABENECK;SHEPPARD; TOWN,nov. 1974, p.104-105)

um espaço planejado no lugar do vazio indefinido utilizadocomo instrumento de adequação às variadas necessidades dosmoradores e de diminuição do estado de obsolescência dasedificações.

Após todas as críticas sobre as habitações flexíveis da décadade 1960 e 1970, o PAN, concurso francês citado anteriormente,em sua décima quarta edição realizada em 1987, voltou alançar luz sobre a idéia de flexibilidade. Porém, desta vezbuscando soluções que chamaram de flexibilidade realista ousuave. Frente aos projetos apresentados neste concurso, Eleb-Vidal, Châtelet e Mandoul (1988) identificaram dois tipos deflexibilidade, uma inicial e uma contínua ou permanente,lembrando a versão francesa do conceito flexibilidadeidentificado por Sebestyen (1978), citado anteriormente. Aprimeira corresponderia à possibilidade de oferecer uma escolhasobre a ocupação da habitação com uma eventual participaçãodo usuário na concepção. A segunda idéia seria a possibilidadede modificar a habitação ao longo do tempo podendo ser

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154154154154154 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

subdividida em mobilidade, evolução e elasticidade. Amobilidade implica em uma modificação rápida de espaços dahabitação conforme a hora e as atividades diárias; a evoluçãopressupõe a possibilidade de adaptar em um período longo adivisão da habitação em função de transformações familiares;e por fim a elasticidade corresponde à modificação da áreahabitável pelo acréscimo de uma ou mais peças. Alguns projetosdemonstraram também uma flexibilidade conseguida pelo usovariado do mobiliário, possibilitando a mudança da naturezadas peças.

Estes mesmos autores defendem a flexibilidade como forma deresolver o problema do novo habitat devido às pequenasdimensões da maioria dos projetos atuais. Embora persista umarelutância nas propostas de novas soluções espaciais, existeum consenso no reconhecimento da ocorrência de grandesmudanças em estilos de vida, nas relações sociais, e daintrodução de novas tecnologias no meio doméstico. Estas no-vas tecnologias possibilitam novas formas de trabalho e deestudo em casa (ELEB-VIDAL; CHÂTELET; MANDOUL, 1994).Werner (1994) citou o então utópico “Living 1990” (ver p.41),como sendo uma das primeiras tentativas de mostrar como asnovas tecnologias da informática e computação, sistemaseletrônicos totalmente integrados e o aumento do tempo delazer podem determinar a forma da casa do futuro. Semconsiderar o lado utópico da proposta, muito do que haviasido previsto naquele momento está gradativamente seconfigurando como viável.

Com outras formas de atividades domésticas passa a surgir aquestão do que é público e do que é privado na habitação,necessitando uma reavaliação dos princípios e das qualidadesde uso encontradas na moradia individual.

Enquanto as propostas dos espaços vazios dos “anos flexíveis”não funcionaram, novas idéias de flexibilidade estão surgindo.O conceito anteriormente citado de adaptabilidade deRabeneck, Sheppard e Town pode ser adotado como uma das

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155155155155155capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

alternativas à flexibilidade radical. Mas dentro das propostasde flexibilidade ditas realistas existem concepções que permitemum melhor aproveitamento da área da habitação como as“paredes equipadas”, “divisórias armários” e reagrupamentosde serviços.

Galfetti (1997) reúne em seu livro diversos projetos de plantasde unidades habitacionais experimentais desenvolvidas a partirda década de 1950, que buscavam soluções alternativas paraa célula doméstica. Nestes projetos aparecem váriosmecanismos resumindo formas de materializar a flexibilidade.Uma delas é o conhecido recurso da divisória: o uso de paredesnão estruturais, painéis ou unidades de mobiliário móveis,pivotantes, dobráveis, reclináveis, retráteis, etc., que possibilitamcombinações e separações dos espaços internos conforme avontade, em um curto ou longo período de tempo. As paredesque concentravam os serviços hidráulicos, presentes em algumaspropostas das habitações flexíveis dos anos de 1960-70,aparecem não somente em paredes internas como tambémnas externas formando o que chamam de fachada filtro. Outraforma está em uma nova concepção de mobiliário, que seencontra no meio caminho entre a arquitetura e o design in-dustrial, denominados de móveis containers ou móveis robôsque abrigam todos os equipamentos necessários e definem osespaços.

Poder-se-ia continuar citando outras idéias para se materializara desejada flexibilidade do espaço doméstico. Além da fachadafiltro, de divisórias móveis e divisórias espessas que contém ummobiliário, Eleb-Vidal, Châtelet e Mandoul (1994) citam tambémelementos conversíveis e redes técnicas. Os primeiros seriamequipamentos de mercado que permitem uma flexibilidade naseparação e na recomposição contínua do espaço. Esteselementos podem ser transformados ou podem desaparecerem freqüentes modificações. Enquanto isto, as redes técnicas esuperfícies equipadas seriam localizadas sob o piso ou sobre oforro, permitindo uma flexibilidade na conexão dos diferentesequipamentos eletro-eletrônicos.

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156156156156156 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

1. 1701. 1701. 1701. 1701. 170 e 1. 171 1. 171 1. 171 1. 171 1. 171Y. Lion – “Domus Demain”Hábitat para o século XXI -1984 (ELEB-VIDAL;CHÂTELET; MANDOUL,1994, p.101)

1. 1721. 1721. 1721. 1721. 172W.J. Neutelings, A. Wall, X.

de Geyter e F. Roodbeen:Hábitat tipo para o con-

curso Vivienda y Ciudad -1990 (ELEB-VIDAL;

CHÂTELET; MANDOUL,1994, p.101)

Galfetti (1997) observa que mesmo com toda a discussão daflexibilidade, a habitação coletiva é uma das realizaçõesarquitetônicas mais conservadoras e homogêneas. Ele justificaesta situação pelo fato da habitação ser um bem de consumo eque portanto está sujeito as regras de mercado. Uma série defatores alheios à própria arquitetura, como a localização, avizinhança, as facilidades de pagamento e outros, podem serdeterminantes na escolha de uma habitação. Assim sendo, ariqueza espacial da própria habitação fica em segundo plano.No entanto, as habitações concebidas para um público anônimoacabam se restringindo a um programa de necessidades fictíciasbaseadas em estatísticas ou em modelos já consolidados. Nestesentido a flexibilidade aparece como um mecanismo paraadequar a habitação aos diversos modos de vida, concluindoque a flexibilidade suave juntamente com a aplicação da low-tech é seguramente um dos caminhos rumo a um futuro próximo.

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157157157157157capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

Paradoxalmente a flexibilidade em áreas menores é muito maisnecessária do que em espaços maiores, porém muito mais difícilde realizar. Alguns autores defendem inclusive que a melhoradequação seria o acréscimo de área, nem sempre possível.

O que tem acontecido em muitos conjuntos habitacionais noBrasil é o fenômeno da elasticidade, onde as casas isoladas nolote permitem acréscimos de novas áreas. Mesmo assim Szücs(1998) chama atenção para estes projetos que impõem reformasnos primeiros anos de ocupação, apenas para garantir um nívelmínimo de adaptabilidade, aliada à falta de conhecimentotécnico dos usuários sobre reformas e/ou ampliações que levama transformações muitas vezes ineficientes e dispendiosas.

A elasticidade é mais difícil em habitações coletivas, mas nãoimpossível como demonstra alguns autores 55555. Limitadas a umaárea fixa, estas habitações exigem elementos que permitam umamaior adequação às necessidades dos moradores.

A flexibilidade pode ser uma proposta alternativa dentre assoluções para habitações . A partir do momento que o mercadocomeçar a oferecer apartamentos que incorporem característicasflexíveis (o que já está ocorrendo como instrumento de market-ing), a idéia e as vantagens passam a ser conhecidas erequeridas nos novos empreendimentos, mesmo nos programashabitacionais de iniciativa pública. Estas características flexíveispodem ser as citadas acima por diversos autores como podemsurgir de concursos que incentivem o surgimento de novas idéias.Howe (1990) chega a sugerir, além dos concursos, umademonstração dos projetos e séries de projetos que reflitam adiversidade de opções. O importante é criar espaço de discussãosobre a melhoria da habitabilidade através do uso de plantasflexíveis nas habitações mínimas.

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158158158158158 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

11111 Segundo Montaner (2001, p.31), as formulações do Team 10 sebaseavam em uma atitude experimental e empírica que consideravaa realidade mutante e passageira. Frente a isto assumiram umapostura pragmática - baseada nos projetos concretos, antidogmática– aceitando a diversidade de opiniões e não doutrinária para nãocongelar um processo de debate e crescimento do conhecimentotendo como base teorias insuficientes. As idéias eram defendidasbasicamente pelos seus cinco membros permanentes: Jacob B.Bakema, Georges Candilis, Aldo van Eyck e Alison & Peter Smithson.

22222 As idéias de “invólucro/conteúdo” (support/infill) de Habraken foraminicialmente difundidas pela SAR (Stichting Architecten Research ouFundação de Pesquisa de Arquitetos) até a década de 1980, sucedidapela Open Building Foundation, instituição que promovia parceriacom indústrias interessadas no Open Building, em atividade até 2000.A expansão internacional dos seus conceitos resultou então nacriação, em 1996, de uma plataforma internacional para intercâmbiode experiências de Open Building através da criação do Grupo deTrabalho “CIB Working Commission W104 – Open BuildingImplementation”.

33333 Também conhecido por CECAP-Cumbica por ter sido patrocinadopela Caixa Estadual de Casas para o Povo (CECAP), antecessora daatual Companhia para o Desenvolvimento Habitacional e Urbanodo Estado de São Paulo (CDHU). O projeto foi coordenado por JoãoBatista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha,com a participação dos arquitetos Arnaldo Martino, Geraldo Puntoni,Maria Giselda Visconti, Renato Nunes e Ruy Gama. (CONJUNTOHabitacional em Cumbica, 1970, p.32-37).

44444 Algumas revistas têm publicado artigos divulgando a possibilidadede escolha pelo comprador, ainda na planta, da divisão interna e dotamanho de cada ambiente do apartamento. Para citar apenas doisexemplos: GUARINO (2000) e Revista Arquitetura e Construção (abril2001).

NotasNotasNotasNotasNotas

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159159159159159capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

55555 Um destes exemplos foi descrito por Andrade & Duarte (1998)sobre a transformação ocorrida no Conjunto Habitacional Dom JaimeCâmara, na Cidade do Rio de Janeiro. Embora este Conjunto fossecomposto por edifícios de apartamentos, não impediu que seusmoradores construíssem estruturas externas aos edifícios parapossibilitar a ampliação das unidades.

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160160160160160 capítulo 1.5 - flexibilidade da unidade habitacional

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161161161161161capítulo 2 - produção habitacional e moveleira

Após a construção da base teórico-conceitual descrita nocapítulo anterior, expõe-se neste capítulo um quadro analíticoda situação contemporânea da produção habitacional para apopulação de baixa renda e de seus equipamentos mobiliários,enfocando principalmente o período a partir da década de1990, época de grandes transformações na ordem econômicamundial.

Através de Avaliações Pós-Ocupação levanta-se dados sobreo espaço doméstico com seu mobiliário das unidades deconjuntos habitacionais, revelando uma disjunção entre oprojeto do produto habitação com o projeto do produto móvel.

2. PRODUÇÃO HABIT2. PRODUÇÃO HABIT2. PRODUÇÃO HABIT2. PRODUÇÃO HABIT2. PRODUÇÃO HABITAAAAACIONAL E MOCIONAL E MOCIONAL E MOCIONAL E MOCIONAL E MOVELEIRAVELEIRAVELEIRAVELEIRAVELEIRA

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162162162162162 capítulo 2 - produção habitacional e moveleira

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163163163163163capítulo 2.1 - construção habitacional no Brasil

Apesar da construção civil ser tratada nas estatísticas oficiaiscomo um setor homogêneo, existem pelo menos dois grandessub-setores: o da construção pesada, responsável pelos serviçosde infra-estrutura (transporte, energia, saneamento), e o daconstrução de edificações, que produz principalmentehabitações e prédios comerciais, dirigidos quase queexclusivamente ao setor privado da economia. São sub-setoresque marcam diferentemente a reprodução de capital daconstrução civil (VARGAS, 1979). No Brasil, no sub-setor daconstrução pesada existe a presença de grandes empresas,utilizando uma tecnologia dita avançada comparada com ospaíses industrializados, e a máquina é orientadora do processode trabalho. Enquanto isto, a construção de edificações éformada por empresas de médio e pequeno porte onde o serviçobraçal é mais freqüente que a máquina e cuja estrutura deprodução estaria em um estágio de manufatura (VARGAS, 1979e MARICATO, 1983). Além disto, existe um envolvimento devários atores, entre eles os agentes financeiros e promotores,órgãos públicos, projetistas, fabricantes de material deconstrução, construtores e incorporadores e outros órgãos deapoio.

Como o interesse deste trabalho está na área da produçãohabitacional, a discussão aqui inserida se restringe ao sub-setorda construção de edificações.

2.1 - CONSTRUÇÃO HABIT2.1 - CONSTRUÇÃO HABIT2.1 - CONSTRUÇÃO HABIT2.1 - CONSTRUÇÃO HABIT2.1 - CONSTRUÇÃO HABITAAAAACIONAL NO BRASILCIONAL NO BRASILCIONAL NO BRASILCIONAL NO BRASILCIONAL NO BRASIL

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164164164164164 capítulo 2.1 - construção habitacional no Brasil

Especificidades do subEspecificidades do subEspecificidades do subEspecificidades do subEspecificidades do sub-----setor da construção habitacionalsetor da construção habitacionalsetor da construção habitacionalsetor da construção habitacionalsetor da construção habitacional

Afirma-se freqüentemente que a incapacidade da indústria daconstrução em atender à carência habitacional está vinculadaao atraso tecnológico do setor, comparando-se com outrosramos industriais cujo progresso técnico possibilitou o aumentoda produtividade e a redução de custos. No entanto, o atrasotecnológico na produção habitacional não se deve apenas acondições técnicas. Existem diversos fatores que dificultam aevolução tecnológica na área da construção civil como o próprioprocesso técnico-produtivo, a terra urbana e o capitalimobiliário.

Como o capital deste sub-setor está calcado sobre um processode trabalho que não investe em aumento de produtividade nemna intensificação do trabalho, ele se utiliza de artifícios paraaumentar o excedente econômico, como “o estabelecimentode salários não condizentes com a subsistência operária; oaumento da jornada de trabalho; e o uso extenuante da forçade trabalho sob condições laborais bastante precárias”(VARGAS, 1979, p.102).

A base fundiária da produção é outro grande obstáculo para amodernização do setor. Para cada nova construção é exigidoum novo terreno. Existe aí uma renda fundiária que é apropriadaprincipalmente pela escassez da terra urbana e por esta terraestar no poder de proprietários privados que desequilibram arelação oferta e demanda, gerando especulações e conseqüentedrenagem de valor.

Relacionados aos proprietários de terra estão outros capitaisque compõem o capital imobiliário: o capital de promoçãoimobiliária, o capital da indústria de construção e o capital definanciamento imobiliário (MARICATO, 1983, p.41). Nestarelação aparece a figura do incorporador que, segundo Vargas(1979) e Maricato (1983), tem uma atuação específica nestejogo de capitais.

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165165165165165capítulo 2.1 - construção habitacional no Brasil

Existe também na indústria da construção a dispersão do capi-tal produtivo que não consegue o controle do processoprodutivo, diferentemente dos demais setores industriais. Comisto, as indústrias da construção de habitações, pela baixaconcentração de capital, sentem dificuldade de aumentar aprodutividade. Passa a existir então uma exploração do capitalcomercial que atua entre o capital financeiro de um lado e oconstrutor e o mutuário-comprador do outro (LAMPARELLI,1982, p.22).

No entanto, Vargas (1979) diferencia o capital comercial docapital promocional assumido pelo incorporador, pois este nãocompra e vende um produto pronto e acabado, mas participae interfere na produção. Como existe a “exigência de recursosa longo prazo, o capital promocional articula-se com o sistemafinanceiro em geral, o que acaba por conferir-lhe característicasde capital financeiro (VARGAS, 1979, p.114).”

O mesmo autor deixa também claro a influência ou a ligaçãodo incorporador com os órgãos municipais com a finalidadede tirar proveito de investimentos públicos e novas legislaçõessobre a área de sua propriedade.

Um outro fator específico da indústria da construção se encontranas características do mercado das habitações, por existir umadiversidade no tipo de demanda habitacional. Pela carência dehabitações o mercado se sente livre para oferecer qualquerproduto independente da qualidade e do preço, obtendo umagrande margem de lucro. Como a demanda insatisfeita pertencea diferentes níveis de renda, a oferta escolhe o extrato demercado que gera uma maior lucratividade, deixando de ladoas habitações econômicas.

A instabilidade e mobilidade física, social e econômica dagrande maioria da população por si só comprometem aestabilidade da demanda, dificultando a padronização,continuidade e volume da oferta. Dificilmente a produçãoconsegue determinar o consumo, elevando o risco dosinvestimentos necessários à produção em massa (LAMPARELLI,1982, p.25).

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166166166166166 capítulo 2.1 - construção habitacional no Brasil

A concepção de atraso não pode então ser aplicada ao sub-setor da construção habitacional. Pode-se sim falar que osfatores levantados anteriormente são obstáculos que impedemuma maior produtividade deste sub-setor e provocam umconseqüente encarecimento do produto habitação.

Quando se fala do caráter manufatureiro da indústria daconstrução, e se explora as possibilidades de transformaçõesno processo produtivo, em suas fases de processo de trabalhoe sistema construtivo, que poderiam aumentar a produtividadee redução do custo da mercadoria-habitação, Lamparelli apontaas qualidades necessárias para que ocorra o avanço damanufatura para a grande indústria: repetitividade;divisibilidade; padronização e precisão; continuidade;mecanização; parcelamento do processo de trabalho;permutabilidade; controle; e transportabilidade (LAMPARELLI,1982, p. 23-24). No entanto, estas modificações de carátertécnico estariam relacionadas com as transformações dos outrosfatores considerados como obstáculos para uma evolução daconstrução habitacional.

Sobre o uso da terra urbana como um “meio de produção”,Maricato (1983) especula duas possibilidades de contornar osobrelucro que fica com o proprietário da terra e com oincorporador. Uma seria a desapropriação pelo Estado,pagando para o proprietário uma renda absoluta (derivada docaráter não reprodutível e monopolizável da terra). Outra seriaa utilização de mobile homes, residências produzidasindustrialmente por um processo que não depende do mercadode terras. No entanto, embora nenhuma das duas formasconsigam ter independência completa em relação à terra, nemsempre a base fundiária da construção civil pode ser consideradacomo um obstáculo no desenvolvimento tecnológico da indústriada construção. Mesmo nos edifícios públicos, “nos quais a rendada terra não tem o mesmo papel que tem nas residênciasprivadas”, os processos construtivos não são muito maisavançados (MARICATO, 1983, p. 43).

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167167167167167capítulo 2.1 - construção habitacional no Brasil

Uma forma de controlar um pouco a ação do capital imobiliárioe tentar corrigir os defeitos do mercado seria o Estado tomarmedidas e elaborar programas intervindo como promotor (comofez até 1986 com o BNH através de companhias de habitação),como regulador através de legislações urbanísticas, normas ecódigo de obras, ou como financiador através de seus bancos(LAMPARELLI, 1982, p. 25).

O desenvolvimento tecnológico com a introdução de práticasindustriais no setor da construção civil tem mais chances de serbem sucedido quando considera as especificidades do setor.Para a compreensão mais precisa da organização do sistemaprodutivo e de como este sistema responde às necessidades dosistema social como um todo, faz-se necessário estudos maisaprofundados que dêem subsídios para as políticas vigentes.Dados mais precisos sobre o setor também permitem uma visãomelhor e mais refinada sobre as reais necessidades ecapacidades, quer qualitativas, quer quantitativas, da produçãodo espaço habitacional (CAMARGO, 1975). Os estudos e osdados integram fontes para o planejamento (estudo eimplantação) de um processo de construção que atenda asnecessidades da sociedade. No entanto, sofre-se ainda com aimprecisão de alguns dados oficiais provenientes de CensosEstatísticos, Revistas Técnicas e Relatórios de Órgãos Públicosque oferecem ou uma visão muito geral ou apresentammanipulações que dificultavam uma leitura completa dos dados(CAMARGO, 1975, p.76).

Com a necessidade da ampliação do mercado habitacionalpara faixas de renda menor, a busca pelo aumento daprodutividade na edificação torna-se primordial tanto pelanecessidade de um barateamento quanto pela produção emescala. Se por um lado existem os fatores que tendem a freareste processo, como a renda da terra e o capital comercial,por outro lado existem diversos fatores que podem atuar comoprogresso tecnológico, como a indústria de materiais deconstrução, a indústria de equipamentos, o capital financeiro,a força de trabalho organizada e a reivindicação dos

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consumidores. Na realidade brasileira, o capital industrial temse tornado um grande freio “na medida em que tem mais inter-esse na baixa remuneração da força de trabalho, do que nasboas condições de sua reprodução, o que envolveria melhoreshabitações” (MARICATO, 1982, p.177).

Até o final da década de 1980, as construtoras, principalmenteas que investiam no sub-setor edificações, atuavam em umambiente com fraca concorrência, restritas a uma lógica deeficácia financeira (ganhos através do mercado de capitais –ciranda financeira) e comercial (especulação imobiliária) entreoutros. Esta situação concorrencial fraca permitia com que asempresas negligenciassem a eficiência técnico-econômica(MARUOKA, 2003).

Este cenário sofre então uma grande mudança quando iniciouum movimento de queda de produção, diminuindo o grau deproteção do parque produtivo nacional, e reduzindo-sebruscamente o emprego, o salário mínimo, o produto indus-trial e o PIB per capita em contraposição ao aumento dasimportações (TASCHNER, 1997). Em reação a esta crise surgeo Plano Real em 1993, com a décima moeda brasileira,encerrando a ciranda financeira e instituindo uma moeda maisestável.

A crescente crise econômica pôs em cheque a políticahabitacional que havia sustentado desde a década de 1960 ocrescimento das atividades do setor habitacional, afetandodiretamente sua principal base de sustentação, o SistemaFinanceiro de Habitação, provocando o seu colapso eextinguindo conseqüentemente o Banco Nacional de Habitação(BNH) em 1986.

O ponto de mutaçãoO ponto de mutaçãoO ponto de mutaçãoO ponto de mutaçãoO ponto de mutação

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Além da crise, a década de 1990 presencia o fortalecimento ea difusão mundial da globalização afetando vários setores,provocando direta ou indiretamente mudanças no mercadoimobiliário. A partir de então VARGAS (1992, p.48) identificouos seguintes sinais destas mudanças:

• A inserção do Brasil no mercado internacional,participando da nova ordem econômica mundial com “umestilo mais democrático de gestão e melhores condiçõesde trabalho”. Esta realidade tem induzido à introduçãode inovações tecnológicas e gerenciais elevando ospatamares de produtividade e qualidade que por sua vezpermitiram a criação de novos mercados;• Mudanças do papel do estado no Brasil, com o fim dointervencionismo e da posição de condutor dofinanciamento de habitações e de obras industriais. Umanova postura é identificada pela abertura do mercadobrasileiro, desmontando relações clientelistas dasempresas com órgãos governamentais e políticos. Alémdisto, a diminuição do poder aquisitivo do consumidorpassa a exigir um “barateamento da construção e reduçãodas margens de lucro do empreendimento”, e aprivatização da concessão de serviços públicos abre umnovo mercado para as empresas do setor. “A qualidadeda construção e do projeto passam a influenciardiretamente o custo de operação do empreendimento”;• O novo perfil da mão-de-obra e seu ativo papel natransformação do setor. Além da mudança de ordemquantitativa, causada pela diminuição do contingentemigratório campo/cidade, o setor vem passando portransformações de ordem qualitativa onde ostrabalhadores que permanecem neste setor buscam umaoutra relação de trabalho, distinta daquela de “peão”desqualificado como era tratado anteriormente.

Os preceitos da globalização (mercado livre e sem controle,economia estabilizada e desigualdade necessária entre centroe periferia) estão vinculados à política neoliberal que ganhou

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força mundial após a crise do petróleo em 1973, épocamarcada pela onda inflaciónaria que surpreendeu os Estadosde Bem-Estar Social (Welfare State) 11111. O neoliberalismo 22222,substituindo a política keynesiana de intervenção do Estado naeconomia, realiza cortes nos gastos do Estado, desregulamentaa economia e reduz os controles estatais sobre os preços,privatiza empresas estatais, libera o controle do capitalfinanceiro, diminui as taxas sobre rendas elevadas e diminui ouneutraliza a força dos sindicatos sob o pretexto de atrairnovamente os capitalistas de volta ao mercado e reduzir odesemprego.

Embora a indústria da construção não sinta diretamente osimpactos da globalização econômica e produtiva que asindústrias manufatureiras sofrem com a eliminação de barreirase redução de impostos na importação de bens manufaturados,ela é influenciada pelas macro-alterações advindas daglobalização e principalmente pelos desdobramentos ealterações na economia e na estrutura produtiva do país.Definem-se novos patamares de competitividade entre asempresas, “com alterações sem precedentes nos processos degestão da produção e atendimento aos clientes das empresasconstrutoras e das demais empresas da cadeia produtiva daconstrução” (FABRÍCIO e MELHADO, 2002, p.1565-6).

Frente ao delinear de uma nova realidade, os custos deconstrução, a eficiência na utilização dos recursos e a qualidadeda habitação tendem a assumir maior importância para asempresas. Em um mercado em retração, se intensifica aconcorrência implicando na definição de novas estratégias parapermanecer no mercado (FARAH, 1996, p.210).

A década de 1990 foi marcada por um crescimento quaseininterrupto de evolução tecnológica, surgimento de novosmétodos construtivos, novas empresas, acirramento daconcorrência e busca por sistemas de qualidade gerencial, alémde outros aspectos. Resumindo os principais fatores que levarama esta constante modernização da construção civil estariam

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então: a abertura do mercado nacional em 1990; o fim dainflação e da conseqüente ciranda financeira; o Código deDefesa do Consumidor que mudou sensivelmente as relaçõescliente-empresa; NR-18 exigindo condições mínimas desegurança e conforto no ambiente de trabalho na construção(TÉCHNE 100, 2005, p.40-1).

O Estado que havia se retirado do papel de promotorhabitacional na época da crise, volta a participar gradualmentee de forma incipiente com ações esparsas referentes a novosprogramas de produção e financiamentos habitacionais. Suapresença, no entanto, é percebida em programas de qualidadepara o setor em clara alusão da responsabilidade que precisaassumir para garantir uma evolução em toda a cadeiraprodutiva. A nível federal foi criado em 1998 o ProgramaBrasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-Hcom base em duas questões principais: a melhoria da qualidadedo habitat e a modernização produtiva. 33333

Na esfera estadual, foi instituído o Qualihab – Programa daQualidade da Construção Habitacional do Estado de São Pauloem 1996, com o objetivo de otimizar a qualidade da habitação,envolvendo os materiais e componentes empregados assimcomo os projetos através da parceria com o meio produtivo.Este Programa é coordenado e implementado pela Companhiade Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de SãoPaulo – CDHU, que utiliza seu poder de compra junto aomercado da construção civil para induzir os segmentos do meioprodutivo a estabelecerem acordos setoriais para odesenvolvimento do programa de qualidade.

Outro ponto de destaque na apresentação do Programa está oobjetivo de

estimular a interação da cadeia produtiva, buscandoprodutividade, padronização, enfocando os processos deexecução e os recursos humanos e materiais empregados,visando transformar a tarefa de construir uma habitação emoperações de montagem de componentes racionalizados(CDHU – Qualihab).

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Ambos os Programas procuram estimular a criação eimplantação de mecanismos de modernização tecnológica,organizacional e gerencial do setor.

Alguns arquitetos no início do século XX (entre eles Le Corbusier,Gropius, Mies van der Rohe) defendiam a industrialização daconstrução preocupados com a carência habitacional, mastambém muito inspirados no Fordismo como paradigma daindustrialização. Portanto, a produção em escala de produtospadronizados era uma exigência da sociedade moderna a quala arquitetura não poderia deixar de atender.

SCHULITZ (1979, p.147) destaca que o ideal de industrializaçãoda construção defendido por Le Corbusier e Gropius, comoprodução em cadeia totalmente automatizada, entrava emconflito direto com a adaptabilidade às necessidades individuais.A atual produção dirigida por computadores (numeral control-NC) permite vislumbrar a fabricação maciça de produtos umdistinto do outro. Portanto, o argumento da estandardizaçãonão é mais aplicável à necessidade de uma produção técnica.Para a produção de elementos construtivos é necessária umanova definição de “estandar”.

Algumas experiências de produção em massa de habitaçõesforam realizadas no período entre as duas Guerras Mundiais,principalmente na Alemanha e URSS. Posteriormente, comodestaca FARAH (1992, p.21), estas foram sucedidas por outrasiniciativas estatais no âmbito de programas de construçãoseriada por países da Europa Ocidental e pelo Japão nosegundo pós-guerra, caracterizadas na pré-fabricação pesadae em sistemas fechados 44444.

Novos rumos na construção habitacionalNovos rumos na construção habitacionalNovos rumos na construção habitacionalNovos rumos na construção habitacionalNovos rumos na construção habitacional

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FABRÍCIO (1996, p.112) escreve que este tipo deindustrialização das construções buscava deslocar a maior partedo trabalho do canteiro para o galpão da indústria ondepoderiam ser aplicados os ideários taylorista-fordistas naprodução de edificações. Neste momento ganham grandeimportância os estudos de coordenação modular,compatibilidade de juntas, transportabilidade entre outrosconceitos. No entanto, devido às peculiaridades da produçãohabitacional, tais iniciativas só foram possíveis onde existiu aconjugação de grandes demandas habitacionais com apresença do Estado como empreendedor e agente financeiro.

No Brasil, houve uma tentativa de implementar a industrializaçãoda construção 55555 nos conjuntos habitacionais da década de1970 à imagem e semelhança dos programas de massa dopós-guerra europeu. No entanto, pelo fato do país não oferecergarantias de grandes séries de produção e possuir uma demandavariável característica do setor, “inviabilizou os pesadosinvestimentos em equipamentos e instalações de usinas e centraisde produção necessários” (FABRICIO, 1996, p. 113). Porém,iniciou-se um processo de incorporação de novos sistemasconstrutivos que modificaram substantivamente o trabalho nocanteiro, processo este intensificado após a crise da década de1980.

As mudanças no setor da produção habitacional sãocondicionadas por características específicas do processo detrabalho na construção, principalmente sua variabilidade, queimpõe “limites à padronização, à produção em série, àrepetitividade e, portanto, à prescrição estrita, característica dotaylorismo” (FARAH, 1996, p.274). No entanto, este setor épermeável a modificações lentas e graduais que vãointroduzindo inovações tecnológicas, principalmente emmateriais e componentes, racionalizando continuamente oprocesso construtivo. A flexibilidade na produção habitacionalpara atender a sua característica de variabilidade acaba indode encontro com a situação industrial em geral que se redefiniupara oferecer uma flexibilidade no processo produtivo,

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denunciando a crise do modelo fordista de industrialização e aemergência de um novo paradigma.

A partir da década de 1970, a industrialização aberta naconstrução, caracterizada por sistemas leves compostos porelementos compatíveis, produzidos por várias indústrias,começou a ser intensificada. Segundo FARAH (1992, p.22),esta industrialização que passou a ser mais recentemente decomponentes, delineia uma tendência de o canteiro tornar-seo local de montagem destes componentes. Gradualmentefrações do processo produtivo vão sendo transferidas do canteirode obras para o setor produtor de materiais e componentes deconstrução ou para centrais de produção organizadas pelaspróprias construtoras eliminando ou substituindo atividadestradicionais (FARAH, 1996, p.275).

Com os fatores antes descritos que induziram a modernizaçãodo setor da construção, as palavras de ordem passaram a ser“racionalização” e “industrialização” como forma de reduzirdesperdícios, acelerar o ritmo das obras e garantir maiorqualidade do produto final. O governo chegou a ter umapequena participação nesta trajetória de modernização comas Vilas Tecnológicas (ver capítulo 2.2 – habitação de interessesocial) criadas nos anos de 1990, quando muitas empresasdesenvolveram sistemas construtivos inovadores para o mercadohabitacional. Como a política de incentivo para a produção dehabitação em larga escala não foi implementada, as tecnologiasforam abandonadas por falta de demanda. Mesmo assim,permaneceram alguns conceitos que deram origem a sistemascomo a alvenaria racionalizada, utilizada com modulação efamílias de blocos para minimizar desperdícios (TÉCHNE 100,2005, p.41).

Esta racionalização prosseguiu com a laje zero (eliminou ocontrapiso), os kits hidráulicos e elétricos, além de váriasempresas fornecerem materiais paletizados, reduzindo as perdas.Os elementos de mecanização pela presença das gruas nocanteiro e a entrada de alguns elementos de industrialização e

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175175175175175capítulo 2.1 - construção habitacional no Brasil

sistemas de construção seca, como os painéis arquitetônicospré-fabricados para fachada, o gesso acartonado para vedaçãointerna, tubulações flexíveis com menor número de conexõesou mesmo os banheiros prontos, marcam este processo deevolução contínuo.

Entendemos que o modelo atual se exauriu no que se refere àredução de custos dada a grande incidência de mão-de-obranão qualificada. O ideal seria que as empreiteiras virassemmontadoras de sistemas, num processo de industrialização quegerasse economia e desenvolvimento em escala. O Qualihabtem a obrigação de propor esse desenvolvimento. Não é umsimples sistema de gestão, mas um mecanismo de análise dosistema, com foco no produto. Esse foco faz a proposta deinserção de tecnologia embarcada com vistas à redução devalores de pós-ocupação e investimento. À medida queviabilizamos, as tecnologias serão utilizadas (RAPHAEL PILEGGIin LOTURCO, 2006, p.24).

2. 12. 12. 12. 12. 1 e 2. 22. 22. 22. 22. 2Pré-fabricação, mecanização eindustrialização. Modificações nocanteiro de obras com a presençacada vez mais freqüente de gruas e osmódulos de banheirosindustrializados, prontos para seremplugados na edificação (TÉCHNE,n.100)

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O investimento nos sistemas alternativos para a tradicional alvenariaaumentou a partir de meados da década de 1990. Conforme a soluçãoescolhida, o prazo para construção de uma casa de médio porte podevariar de quatro dias a três meses e meio, utilizando-se materiais comoconcreto celular, aço, madeira, plástico e dry-wall. Entre as soluçõesempregadas encontram-se as estruturas metálicas (steel frame) e asestruturas de madeira (wood frame).

No Sistema Steel Frame (estrutura em perfis de aço galvanizado) asesquadrias de PVC são dimensionadas para se encaixarem entre osperfis. O sistema PEX de tubulações hidráulicas (ou sistema convencional)e elétricas fica embutido nas paredes. Os fechamentos podem ser de dry-wall, OSB (chapas de fibra orientada), ou placas cimentícias, seguindoum padrão de construção modular em série. Este fechamento é cobertopor manta impermeabilizante para depois ser revestido. Os revestimentosde fachada podem ser com sidings vinílicos, cimentícios, tijolo aparenteou pintura comum.

2.32.32.32.32.3, 2.42.42.42.42.4 e 2.52.52.52.52.5 Conjunto Habitacional composto por 11Edifícios construídos em Steel Frame emBragança Paulista, São Paulo - US HomeConstruções Steel Frame. Tentativa demostrar a viabilidade deste sistema para aconstrução de habitação popular. (Disponívelem <http://www.ushome.com.br/>. Acessoem nov. 2007).

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2. 62. 62. 62. 62. 6, 2. 7 2. 7 2. 7 2. 7 2. 7 e 2. 82. 82. 82. 82. 8Sistema Light wood Frame - estrutura em madeira. Assim como o SistemaSteel Frame, as esquadrias são de PVC. O fechamento externo é feitocom chapas de OSB (chapas de fibra orientada) resistente a cupim eimpermeabilizadas posteriormente com papelão alcatroado. Asinstalações elétricas e hidráulicas são introduzidas nos vãos internos aosmontantes. O fechamento interno é de gesso acartonado. Osrevestimentos de fachada podem ser com sidings de madeira, tijoloaparente ou pintura comum (LEAL, 2002)

2. 92. 92. 92. 92. 9Casa de PVC - Casa Prática_MVC(Disponível em <http://www.ciferal.com.br/novo/mvc/construcao7.asp>. Acesso em nov. 2007)

Existem atualmente no Brasil pelo menos duas empresas que oferecemcasas de PVC. Um dos processos se caracteriza pela utilização de

paredes portantes compostas, formadas por perfis em PVC preenchidoscom concreto. O outro é composto por painéis de plástico reforçado com

fibra de vidro, montados em estrutura metálica.

O principal ponto defendido nestes sistemas construtivos industrializadosé a qualidade e a rapidez na construção. Nenhum deles aborda a

questão da flexibilidade funcional e a capacidade de transformação daedificação, ao longo do tempo, sem grandes gastos. As empresas

continuam buscando alternativas para atender o mercado de casaspopulares, defendendo principalmente os aspectos quantitativos: rapidez

na construção e o valor por metro quadrado.

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Cavagliá (RITMOS da Tecnologia, 1994) observa que aindustrialização aberta, ou dita leve, é mais adequada que amassificada por permitir pequenos investimentos e intervenções,principalmente no canteiro, e por não exigir necessariamentemáquinas pesadas para a movimentação de peças. Aindustrialização pesada é comparada ao hardware, comoproduto acabado, enquanto a leve poderia ser chamada desoftware, que seriam produtos complementados comcomponentes de várias indústrias.

Esta produção flexível (lean production) permitida pelaindustrialização leve exige uma coordenação geral do processode produção da edificação passando pelo projeto,planejamento, execução e comercialização. Passa a existir umaracionalidade do sistema como um todo, não se limitandoexclusivamente ao plano da organização do trabalho interna acada etapa. Esta racionalização ultrapassa os limites daexecução, atingindo a concepção da edificação, a atividadedo projeto e a própria fabricação de materiais, incorporandode maneira central a questão da qualidade. Portanto, definem-se duas tendências de racionalização: além da incorporaçãode mudanças tecnológicas com componentes e equipamentosde construção produzidos por vários fabricantes, existe umaoutra tendência que recai sobre o projeto e o planejamento daexecução (FARAH, 1992).

A racionalização refletida no projeto e planejamento se encontrana teoria, desenvolvida nas últimas décadas, conhecida como‘pensamento enxuto’ (lean thinking) para ser aplicado naconstrução civil, tentando-se aproximá-la ao novo paradigmaindustrial desenvolvido em outros setores manufatureiros. Entreos pontos colocados por Ballard e Howell (1998) que precisamser atendidos nesta trajetória, está a minimização daspeculiaridades da construção com a finalidade de aproveitaras técnicas enxutas desenvolvidas na manufatura para dinamizara construção. Os autores deixam claro que quando não épossível padronizar o design de produto e de processo comoocorre para produtos estandardizados, é necessário desenvolver

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processos de planejamento e gerenciamento padrões nainstalação de atividades específicas, como é o caso daconstrução, sugerindo um nível de meta planejamento econtrole, na tentativa de minimizar a fragmentação da produçãocaracterística no setor da construção.

Farah (1996, p.278-9) destaca, porém, que este movimentode mudanças realizado nos últimos anos pelas empresas como objetivo de obter maior qualidade e produtividade, tembeneficiado segmentos inexpressivos do mercado habitacional.Como a socialização dos ganhos não será garantida unicamentepela dinâmica do mercado que reforça o caráter seletivo eexcludente das mudanças em curso, é necessária a intervençãoestatal no setor, que por sua vez precisa estar vinculada a umaavaliação crítica da política habitacional recente.

Um sinal de preocupação com a aplicação destas mudançasna construção de habitações de interesse social aparece nodiscurso do Qualihab na medida que utiliza o poder de comprado Estado para exigir produtos qualificados, fazendo com queas construtoras e fabricantes se enquadrem nas normas ebeneficiem todo o sistema. O secretário-executivo desteprograma, Raphael Pileggi, volta a defender a industrializaçãoda construção da habitação de interesse social como únicaforma para poder atender a grande demanda existente,principalmente para famílias até três salários mínimos(LOTURCO, 2006).

Relacionado ao que anteriormente havia sido afirmado sobre anecessidade de estudos mais aprofundados sobre a atualrealidade do setor da construção habitacional, o governo fe-deral através do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Um estudo de prospectiva tecnológica –Um estudo de prospectiva tecnológica –Um estudo de prospectiva tecnológica –Um estudo de prospectiva tecnológica –Um estudo de prospectiva tecnológica –cadeia da construção habitacionalcadeia da construção habitacionalcadeia da construção habitacionalcadeia da construção habitacionalcadeia da construção habitacional

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Comércio Exterior está desenvolvendo o Programa Brasileirode Prospectiva Tecnológica Industrial para estudar algumascadeias produtivas cujos desenvolvimentos podem propiciar,entre outros benefícios, a geração de emprego e renda, acapacitação tecnológica e o desenvolvimento do setor produtivonacional. Dentre estas cadeias está a da construção civil.

A grande preocupação deste Programa é identificar dentro dascadeias produtivas (sistemas unitários que transformam osinsumos de todas as origens em bens e serviços) os elos maisfracos que apresentam problemas estruturais, limitaçõestecnológicas, gerenciais e informacionais que comprometem acapacidade competitiva de toda a cadeia.

Como em uma cadeia produtiva encontram-se empresas emdiferentes estágios tecnológicos, o Programa se propõe aidentificar de maneira aprofundada todos os elos de cadacadeia, fazendo um diagnóstico apurado, para servir de basepara a atuação das empresas dentro de sua própria cadeia. Apartir daí é montado um cenário prospectivo para contribuir noaumento do potencial competitivo dos atores econômicos decada setor. Além disto, aparece como objetivo o que Camargo(1975) já havia afirmado como necessário que é adisponibilização de informações para subsidiar a formulaçãode políticas públicas de desenvolvimento tecnológico.

No setor da construção civil, foi realizada uma pesquisaespecífica da construção habitacional pela Escola Politécnicada Universidade de São Paulo, através de seu Departamentode Engenharia de Construção Civil, que dividiu os estudos emduas etapas: diagnóstico e prognóstico.

Dentro do diagnóstico é apresentada uma modelagem dacadeia produtiva da construção habitacional, com suasegmentação, fluxos e sínteses do ambiente institucional eorganizacional, e das necessidades, aspirações e objetivos dosseus elos e segmentos. A cadeia produtiva foi segmentadaconsiderando-se o foco na produção de unidades habitacionaisurbanas.

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A etapa prognóstica foi realizada com a aplicação da técnicaDelphi que se apoiou na etapa diagnóstica. A técnica Delphi seutiliza de opiniões de um grupo de especialistas a respeito daocorrência de eventos futuros, relacionados a questõescomplexas. No caso deste estudo, os especialistas escolhidoseram representantes de praticamente todos os elos/segmentosda cadeia: ensino e pesquisa; construção/incorporação; projetoe consultoria; e indústria de materiais. Os questionários forambaseados nos fatores críticos levantados no diagnóstico:questões sobre a acessibilidade à habitação; qualidade doproduto habitacional; e tecnologia e gestão da construção.

O principal objetivo de um estudo prospectivo é:

Propor ações na própria cadeia e nos ambientes institucionale organizacional visando o aumento da eficiência da cadeia,da competitividade dos seus segmentos e à melhoria daqualidade dos produtos intermediários e finais (ABIKO;GONÇALVES; CARDOSO, 2005, p.33).

Alguns resultados de caráter geral desta etapa apontaram oseguinte cenário da construção habitacional (ABIKO;GONÇALVES; CARDOSO, 2005):

• tendência de evolução de toda a cadeia produtiva, masde forma lenta;• ênfase do governo na esfera social pode alavancar osprogramas habitacionais;• alguns fatores podem ser desenvolvidos independentesdos cenários macro-econômicos, como por exemplo, aquestão da normalização, da tecnologia e doconhecimento das necessidades do consumidor;• evolução da normalização técnica como conseqüênciada modernização do setor e do aumento das exigênciaslegais;• avanço tecnológico nas esferas mais atrasadas com aampliação do mercado de componentes e pré-fabricados,do grau de formalidade da mão-de-obra e modernizaçãodos códigos de obra;

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• tendência de crescimento maior dos subsistemas,relativamente a materiais básicos e kits e componentesprontos;• a alvenaria estrutural cresce para o padrão popular epara o padrão médio. Os pré-fabricados leves crescemem todos os padrões e os de estrutura metálica crescemmenos;• tendência de aumento da pesquisa tecnológica.

Este último resultado sobre o aumento da pesquisa tecnológicatem sido defendido pela direção de Programas de Qualidade.Segundo Pileggi (in LOTURCO, 2006, p.26):

Tendo fontes de geração de conhecimento, com pesquisabásica e tecnológica teremos novos produtos e novos materiais.Em outras palavras, temos que ter universidades e centros depesquisa para desenvolver ciência na área da construção civil[...]. Em paralelo, ter empresários com visão para transformaraquilo em oportunidades de negócio.

De maneira geral, o estudo prospectivo da cadeia da construçãohabitacional aponta para uma constante e gradual evolução.Muitos fatores, no entanto, dependem da política econômica,particularmente do crescimento econômico, da taxa de juros eda distribuição de renda.

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11111 A política do Estado de Bem-Estar, segundo a qual o Estado deveser o provedor de um conjunto de bens e serviços, como educação,saúde, habitação, emprego, entre outros, complementa as idéias doeconomista inglês John Maynard Keynes. Keynes que desenvolveuseu pensamento em função da grande crise econômica mundialdeflagrada com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em1929, e que foi, no entanto, aplicado por governos europeus eamericanos somente no segundo pós-guerra, defendia que, emépocas de crise intensa quando então os capitalistas ficam receososem fazer novos investimentos, o Estado deveria assumir a função dademanda. Encomendando grandes obras públicas e estimulandoprojetos de impacto (auto-estradas, pontes, represas, grandesconjuntos habitacionais...) o Estado vitalizaria o setor privado egarantiria a manutenção de empregos, voltando a estabilizar aeconomia.

22222 O termo neoliberalismo passou a ser aplicado a partir da décadade 1970 para denominar a nova aplicação do liberalismo clássicoque havia sido por sua vez suplantado pelo Keynesianismo e outrasformas de intervencionismo econômico. O liberalismo é umpensamento político que defende a instituição de um sistema degoverno onde o indivíduo tenha mais importância do que o Estado,argumentando que quanto menor a participação do Estado naeconomia maior é o poder e a liberdade dos cidadãos em traçar oscaminhos de desenvolvimento da sociedade. Para tanto, defende alivre concorrência em um mercado o mais amplo possível, onde oscidadãos decidem o seu nível de consumo, como pouparão para avelhice e que tipo de plano de saúde e educação querem ter. Écaracterizado também pela competição econômica em escalamundial como elementos reguladores e promotores de eficiência.

33333 O PBQP-H é uma setorização do Programa Brasileiro de Qualidadee Produtividade criado em 1991 que tinha como finalidade difundiros novos conceitos de qualidade, gestão e organização da produçãoque estavam surgindo na economia mundial. Em 1998 foi então

NotasNotasNotasNotasNotas

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instituído, dentro do então Ministério do Planejamento e Orçamento,o Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade na ConstruçãoHabitacional - PBQP-H. Em 2000 o Programa é ampliado e passa aenglobar também as áreas de Saneamento e Infra-estrutura Urbana,transformando o “H”, que antes referia-se a “Habitação”, para“Habitat”, conceito mais amplo que melhor reflete sua nova área deatuação. O PBQP-H integra-se atualmente à Secretaria Nacional deHabitação, do Ministério das Cidades, e está formalmente inseridocomo um dos programas do Plano Plurianual - PPA 2004-2007(Disponível em http://www.cidades.gov.br/pbqp-h/index.php. Acessoem 21 mar. 2007).

44444 Sistema fechado ou de ciclo fechado significa que uma mesmaempresa, ou grupo de empresas coligadas, produzem o edifíciocompleto. O ciclo aberto, por sua vez, consiste em industrializarcomponentes destinados ao mercado, e não exclusivamente àsnecessidades de uma só empresa. “Os elementos assim produzidospoderão ser combinados entre si numa grande variedade de modos,gerando os mais diversos edifícios e satisfazendo uma larga escalade exigências funcionais e estéticas” (BRUNA, 2002, p.60).

55555 Bruna (2002, p.30) destaca as diferenças dos termos de pré-fabricação, industrialização e mecanização da construção. A pré-fabricação “é apenas uma fase de um processo de industrializaçãomais amplo e complexo, pois este envolve a organização daprodução, sua montagem, controle, etc.” Portanto a pré-fabricaçãoé uma racionalização do sistema de construção e que permaneceessencialmente artesanal como organização. Enquanto isto, amecanização é a racionalização das energias gastas na produção,geralmente nos canteiros representadas pelas gruas, betoneiras,formas metálicas deslizantes, desdobráveis, articuladas, etc. Enquantoisto a industrialização estaria associada a quatro característicasprincipais: a) existência de um protótipo estudado em profundidadee que deve obedecer aos objetivos propostos, ao nível da tecnologiaa ser empregada, à situação do mercado consumidor, etc.; b) reduçãodo número de tipos a serem produzidos, associado ao conceito deestandardização; c) existência de catálogo, ou seja, as peças sãoproduzidas independentemente do fator encomenda, obedecendounicamente a critérios de produtividade industrial ótima, a critérioseconômicos e financeiros e critérios de estocagem; d) previsão dastolerâncias de fabricação dentro do quadro de uma coordenação

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dimensional rigorosa e universal, quer dizer aceita por todos, sejamfabricantes sejam construtores sejam consumidores independentes.O importante também a se destacar é que na produção artesanal aconcepção é seguida pela ação imediata da produção e distribuição,enquanto na produção industrial existe uma atividade preparatóriaconceitual, de caráter organizativo, no sentido de planejamento doproduto para posteriormente existir a industrialização, fabricação ecomercialização do mesmo (BRUNA, 1970, p.33).

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2.2 – HABIT2.2 – HABIT2.2 – HABIT2.2 – HABIT2.2 – HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL –AÇÃO DE INTERESSE SOCIAL –AÇÃO DE INTERESSE SOCIAL –AÇÃO DE INTERESSE SOCIAL –AÇÃO DE INTERESSE SOCIAL –TECNOLTECNOLTECNOLTECNOLTECNOLOGIA X ÁREA MÍNIMAOGIA X ÁREA MÍNIMAOGIA X ÁREA MÍNIMAOGIA X ÁREA MÍNIMAOGIA X ÁREA MÍNIMA

A descentralização da política habitacionalA descentralização da política habitacionalA descentralização da política habitacionalA descentralização da política habitacionalA descentralização da política habitacional

A evolução percebida na última década na construção deedificações tem refletido de forma muito restrita na produçãohabitacional de interesse social. Várias iniciativas de governo,principalmente a partir do período BNH, buscaram um avançotecnológico justamente para baratear cada vez mais os custosda produção habitacional para a população de baixa renda.No entanto, persiste uma descontinuidade e muitas vezes umtotal abandono de cada iniciativa, principalmente por falta depolíticas públicas consistentes que promovam pesquisastecnológicas e garantam uma implementação contínua de no-vas propostas que possam passar por períodos deamadurecimento e constante aperfeiçoamento.

Além da inexistência de uma política tecnológica eficiente queacompanhe a produção habitacional, a busca de soluções maisracionalizadas e econômicas não tem evitado uma constantediminuição das áreas das unidades dos conjuntos produzidos,sendo esta diminuição um dos principais meios utilizados paraa redução do custo da habitação. As Avaliações Pós-Ocupaçãorealizadas em conjuntos habitacionais denunciam os problemasfuncionais que surgem nestes espaços tão reduzidos aliados auma compartimentação excessiva.

No período de existência do BNH (1964-1986) houve aimplantação de um sistema nacional de oferta pública dehabitações. Este sistema baseava-se em uma agência federal -

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o BNH , que controlava a principal fonte de recursos do sistema– o FGTS, e exercia as funções de elaboração e normatizaçãodas políticas e programas implementados por uma rede deagências distribuídas pelo território nacional – companhiashabitacionais municipais (COHABs) 1 1 1 1 1 e assemelhadas.

Com a desarticulação deste sistema integrado causado pelaextinção do BNH e pelo esgotamento das bases definanciamento, os Estados e Municípios precisaram buscaralternativas para seus próprios programas habitacionais. NoEstado de São Paulo foram criados e institucionalizadosmecanismos que garantissem um fluxo permanente de recursosfinanceiros e a oferta contínua de unidades habitacionais. Apartir de 1990 houve um acréscimo na alíquota do ICMS(Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em umponto percentual com o qual o Estado de São Paulo passou acontar para a maior parte do financiamento de seus programashabitacionais, destinando estes recursos para sua companhiaestadual de habitação (Companhia de DesenvolvimentoHabitacional e Urbano – CDHU)22222. Este sistema estadual acaboucentralizando o processo de decisões nas estâncias estaduaisrestando pouca participação das prefeituras municipais. Noentanto, o município interessado em receber os programashabitacionais tem que se comprometer com a contrapartida doterreno e da infra-estrutura (ARRETCHE; RODRIGUEZ, 1998).

Independente deste sistema estadual, existem ações de âmbitomunicipal que procuram produzir moradias econômicas, comoé o caso de algumas COHABs, remanescentes do período BNH,assim como outros órgãos municipais que executam suaspolíticas habitacionais para atender a demanda da cidade.

Embora a Caixa Econômica Federal – CEF, tenha assumido asatribuições do então BNH, a fragmentação institucional e aredução dos recursos disponibilizados para investimento na áreahabitacional, tem refletido na baixa atuação deste banco emprogramas que financiem a construção de habitações para apopulação de baixa renda.

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O lançamento do Programa de Arrendamento Residencial –PAR pela Caixa em 1999, busca uma alternativa, junto com ainiciativa privada, para atuar mais intensamente na áreahabitacional para famílias com renda até seis salários mínimos.Embora não seja o único Programa da Caixa para atender afamílias de baixa renda, tem sido, no entanto, o que mais temproduzido unidades habitacionais. Até o início de 2006 foramcontratados no Estado de São Paulo 318 empreendimentos, oque corresponde a 49.717 unidades. Destes, 201empreendimentos (30.594 unidades) estão entregues e 117(19.123 unidades) ainda não foram concluídos.Aproximadamente 45% desta produção estão na regiãometropolitana de São Paulo e o restante no interior. 3 3 3 3 3

A COHAB-SP (Companhia Metropolitana de Habitação de SãoPaulo) que atua na Região Metropolitana do Município de SãoPaulo, foi responsável pela produção de 131.371 unidadeshabitacionais entre o ano de sua fundação, 1965, até 2000.Os dois maiores picos de produção da COHAB-SP deu-se noperíodo de 1979 a1985, somando um total de 71.945unidades, coincidindo com a época da construção de grandesconjuntos habitacionais e pouco antes da extinção do BNH. Aprodução apresentou posteriormente uma queda brusca serecuperando em seguida no período de 1989 a 1992,possivelmente reflexo da política habitacional da gestão daPrefeita Luisa Erundina, com uma produção de 25.823unidades. (CANTERO, 2004, p.38).

A produção da CDHU tem também apresentado uma quedano último qüinqüênio (85.937 unidades). No entanto, aindasupera em muito a produção da Caixa Econômica Federal como Programa PAR no Estado de São Paulo (30.594 unidades).

Esta queda na produção habitacional denuncia a inexistênciade uma política habitacional que possa combater de maneiraplanejada o déficit. Após duas décadas do desaparecimentodo BNH ainda não se encontrou um caminho para substituir asua política centralizadora e pouco eficiente.

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Analisando os projetos das unidades oferecidas principalmentepor programas habitacionais nas duas últimas décadas,percebe-se uma constante diminuição de área útil e um padrãode planta que se repete independente do órgão financiador oupromotor.

Iniciando com o Programa PAR da Caixa Econômica Federal, aárea útil das unidades com dois dormitórios tem variado entre37 m² a 42 m², considerando que para a Caixa a área útil nãoé sinônimo de área privativa, mas sim área líquida interna doscômodos (área privativa menos a projeção das paredes). 44444

As únicas exigências feitas pela Caixa sobre a unidadehabitacional é que ela tenha pelo menos uma área útil mínimade 37 m², para unidades de dois quartos, sala, cozinha ebanheiro. As demais exigências tratam do nível de acabamentoque o imóvel precisa apresentar na sua entrega. Para atenderfamílias com renda familiar até quatro salários-mínimos, a Caixachegou a liberar empreendimentos com área mínima de 33m².

A contínua diminuição das áreas úteis das unidadeshabitacionais é percebida desde o período BNH (BancoNacional da Habitação: 1964-1986). Além das unidadesproduzidas pela iniciativa pública, a produção de mercadomostrou até o ano de 2000 a mesma tendência. Villa (2002, p.175-176) mostra alguns dados apresentados pela EmpresaBrasileira de Estudos de Patrimônio, EMBRAESP (Relatório anual,2000), que acompanha o mercado imobiliário da RegiãoMetropolitana de São Paulo, e denuncia esta diminuição dasáreas úteis dos apartamentos. Entre 1985 a 2000 esta reduçãose deu na seguinte proporção: apartamentos de três dormitóriosperderam em média 30% de sua área indo de 115 m2 para 81m2; apartamentos de dois dormitórios diminuíram por sua vezem torno de 18% passando de 65 m2 para 53 m2 e oapartamento mínimo de um dormitório ou Kitchenette perdeu

A habitação mínima dos PA habitação mínima dos PA habitação mínima dos PA habitação mínima dos PA habitação mínima dos Programas Habitacionaisrogramas Habitacionaisrogramas Habitacionaisrogramas Habitacionaisrogramas Habitacionais

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192192192192192 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

21% de sua área diminuindo de 41m2 para 32 m2. No entanto,esta mesma Empresa percebeu que a partir do ano de 2000,esta tendência se inverte para os apartamentos de doisdormitórios que passam a ter em média uma área útil de 60,54m², por conta de uma possível diferenciação exigida pelomercado para acrescentar mais um banheiro, transformandoum dos dormitórios em suíte (EMBRAESP, 2004, p.20).

A produção da COHAB-SP nas duas últimas décadas foi emsua grande maioria de apartamentos de dois dormitórios (80%).No período de 1976 a 1987, verificou-se uma diminuição daárea das unidades em torno de 15%, aparecendo uma tipologiaem 1987 com 43,55 m2 (ABIKO; FARACO, 1998).

Com relação aos projetos das habitações implantados pelaCDHU, existe um Caderno de Tipologias de Edificações destaCompanhia pelo qual os projetos se orientam. Independenteem que cidade de São Paulo, as tipologias se repetem, inclu-sive não importando se serão construídas por empreitada oupor mutirão. Este Caderno é composto por casas térreas, casassobrepostas, sobrados e prédios, além de alguns equipamentoscomunitários. Como as casas térreas possibilitam uma futuraampliação, serão exemplificados aqui projetos das unidadesdos prédios cuja situação é mais crítica por não permitir umavariação de área conforme a necessidade.

As tipologias das habitações produzidas tanto pela CDHU comopela Caixa, se concentram em prédios sem elevador na RegiãoMetropolitana de São Paulo. No interior do Estado, além dasunidades em edifícios não serem muito freqüentes, ainda édifundido a casa térrea, mas com uma predominância deunidades geminadas.

A seguir encontram-se as plantas de unidades habitacionaisproduzidas por diferentes companhias ou programas. O critérioda escolha se deu por tipologias de dois dormitórios por ser ade maior produção para famílias de baixa renda (até 6 SaláriosMínimos). Adotou-se então o fator densidade (pessoas por

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193193193193193capítulo 2.2 - habitação de interesse social

metros quadrados) para cada unidade, considerando umamédia de quatro pessoas por família, apenas para tratar sobreum dos itens considerados nos estudos citados no capítulo an-terior que abordam os critérios de definição de habitaçãomínima. Vale salientar que esta abordagem é apenas orientativa,lembrando que a definição do mínimo aceitável de uma moradiaextrapola o simples fator densidade.

2. 102. 102. 102. 102. 10Programa PAR – CEF – São Carlos – SP: unidade do Conjunto Residencial Oscar Barroscomposto por blocos de três pavimentos com apartamentos de 37,26 m² de área útil.O lay-out destas unidades foi ajustado por programa gráfico não refletindo as reais dimensões dosmóveis encontrados no comércio (arquivo PROHAB – Progresso e Habitação de São Carlos).Fator densidade = 9,31 m²/pessoa.

1.20

2.175

2.40

3.30

1.275

2.95

2.70

5.25

2.25

1.35

1.95

1.20

2.95

2.70

SALA/COZINHAA=13.08m2

UNIDADERESID.A=41.53m2

A=8.00m2

A=8.00m2DORMITÓRIO-1

DORMITÓRIO-2

BANHOA=2.70m2 A.SERV.

1.90

3.30

1.25

2. 112. 112. 112. 112. 11Programa PAR – CEF - São Carlos - SP: unidadesobreposta do Conjunto São Carlos VIII. Além deunidades sobrepostas, este Conjunto é compostotambém por casas térreas geminadas. A casatérrea possui uma área de 37,19 m², enquanto asobreposta é de 39,24 m². (arquivo PROHAB –Progresso e Habitação de São Carlos)Fator densidade = 9,30 m²/pessoa

A = 9,54 m²

A = 8,03 m² A = 3,06

A =18,61 m²

3,60

2,65

3,15

2,55

1,20 2,55 2,55

2,40

1,35

0,90

2,55

1,28

1,35

4,50

4,12

1,05

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194194194194194 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 122. 122. 122. 122. 12COHAB-SP – TipologiaMOD-A01-F – Bloco deapartamentos comunidades de 37,29 m²(CANTERO, 2004, p.53)Fator densidade = 9,32m²/pessoa

2. 132. 132. 132. 132. 13COHAB-SP – Tipologia N7– Bloco de apartamentoscom unidades de 36,72 m²(CANTERO, 2004, p.48)Fator densidade = 9,18m²/pessoa

2. 142. 142. 142. 142. 14COHAB-SP – Tipologia SP-A-35 –Apartamentos com área útil de 30,26 m²(BARON, 1999, anexo C)Fator densidade = 7,56 m²/Pessoa

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195195195195195capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 152. 152. 152. 152. 15COHAB-SP – Tipologia SP-A2-42 – Apartamentos com

área útil de 37,97 m²(BARON, 1999, anexo C)

Fator densidade = 9,49 m²/pessoa

2. 162. 162. 162. 162. 16COHAB-SP – Tipologia SP-A2-

43 – Apartamentos com áreaútil de 39,63 m² (BARON,

1999, anexo C)Fator densidade = 9,90 m²/

pessoa

2. 172. 172. 172. 172. 17COHAB-SP – Tipologia SP-A3-51 – Apartamentos com

área útil de 45,96 m²(BARON, 1999, anexo C)Fator densidade = 11,49

m²/pessoa

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196196196196196 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Nota-se que as áreas mínimas da unidade permitidas nosprogramas habitacionais estão um pouco acima dos índiceslevantados por Silva (1982), alcançados por simples arranjogeométrico do mobiliário e equipamento dentro dos ambientes,e muito abaixo do estudo de Boueri (1989). Se for consideradaa área mínima por morador conforme citado nas pesquisasestrangeiras, o mínimo de 14 m2 de Blachere não se aplica, e

2. 192. 192. 192. 192. 19CDHU - Tipo VI-22 K -Planta CDHU - O tipo VI-22K possui 44,89 m2.Neste caso percebe-se umcerto desperdício de áreacom a circulação. (CDHU,2006)Fator densidade = 11,22m²/pessoa

2. 182. 182. 182. 182. 18CDHU - Tipo VI-22 F -Planta CDHU - O tipo VI-22 F é uma unidade de39,42 m2 em uma versãojá modificada por separaro ambiente da cozinha eda sala, anteriormenteintegrados. (CDHU, 2006)Fator densidade = 9,85m²/pessoa

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197197197197197capítulo 2.2 - habitação de interesse social

em alguns casos a situação patológica apontada por Chombartde Lawe de 8m2 pode aparecer quando a moradia abriga maisde quatro pessoas, o que não é incomum em famílias de baixarenda.

Alguns autores (ABIKO, FARACO JR.,1998; ROYER, 2002)destacam que uma das estratégias recorrentes de diminuir ocusto da habitação tem sido a de reduzir a área construídaassim como de baixar o nível de acabamento. Neste sentidovale resgatar aqui o que Mascaró (vide capítulo 1.4, p.97-98),em seus estudos, demonstrou que a diminuição dos planoshorizontais não está diretamente relacionada à diminuição docusto da construção. Recuperando os dados expostos no capítuloanterior, este autor afirma que os planos horizontais representamem torno de 25% do custo total do edifício e os verticais 45%.Destes 45%, aproximadamente 2/3 são representadas pelasparedes internas. Exemplificando, a redução de 10% dasuperfície construída implicaria em uma redução total de cus-tos de 4,7%, representando menos da metade da porcentagemde diminuição da superfície. Esta teoria sugere que para diminuiro custo da habitação não precisa necessariamente reduzir asáreas das unidades, mas sim utilizar o projeto para repensar asparedes internas. Segundo a lógica de Mascaró, para se tomardecisões econômicas é necessário eliminar paredes divisóriasou diminuir seu custo sem reduzir a área construída. Aí apareceo questionamento do tipo de compartimentação que atualmenteé feito nas unidades sem criar espaços mais flexíveis. Acomposição do custo do edifício elaborado por Mascaró põepor terra os partidos arquitetônicos onde se toma como princi-pal ponto de referência a redução aleatória das unidades edos cômodos como medida econômica.

Na verdade o que quase sempre ocorre é o inverso: adesvalorização da habitação na relação custo por metroquadrado. Pouco se considera a natureza íntima do usuário,confinado a espaços mínimos, em desacordo com a naturezado uso e em desacordo, sobretudo, com a consciênia, aindaque sublimada, do antagonismo com as dimensões continentaisdo país (PINTO, 1982, p.59).

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198198198198198 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Em 2002, o Professor Khaled Ghoubar (in CANTERO, 2004,p.87) desenvolveu simulações de custos em uma tipologia deunidade da CDHU caso fossem acrescentados alguns metrosquadrados. O apartamento com área original de 47,38 m²passaria a ter 55,40 m², portanto um aumento de 17% em suasuperfície. O custo do apartamento seria elevado por sua vezem aproximadamente 7%. Este estudo ratifica os levantamentosde Mascaró demonstrando mais uma vez que o aumento docusto é proporcionalmente menor que a metade do aumentoda área construída.

Os argumentos largamente difundidos, até de uma formapejorativa, de que esta população vêem de um estágio socialmuito baixo e que portanto 25 a 40 m² já representam umadádiva dos Agentes Habitacionais não podem mais fazer partede discursos oficiais, nem de Empresários e nem de órgãosPúblicos, que gerenciam as atividades imobiliárias para aprodução de unidades habitacionais de baixa renda. Portanto,é necessário se proceder estudos e análise sérias a respeito doque é uma faixa de espaço mínimo para habitações populares(MARTUCCI, 1999, p.85).

Verificou-se, no entanto, nas pesquisas realizadas em ConjuntosHabitacionais de São Carlos -SP (ver capítulo 2.3), que a maioriadas famílias que adquiriram apartamentos destes Conjuntosocupavam anteriormente casas com áreas superiores. Estasituação denuncia um sacrifício imposto às famílias de baixarenda para ter sua casa própria, que precisaram renunciar auma melhor qualidade que a casa alugada proporcionava.

É necessário trabalhar o projeto das unidades, explorar novasalternativas de espaços, estudar outras tipos de divisóriasinternas, enfim, conceber este espaço integrando seusequipamentos e mobiliário para melhorar a qualidade daunidade oferecida, ao invés de continuar diminuindo a áreaútil, há muito tempo abaixo do aceitável.

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199199199199199capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Ao longo do período BNH (1964-1986) houveram tentativasde implantação de novas tecnologias na produção habitacional.Existia dentro da política habitacional de então umapreocupação na construção rápida e barata para minimizar ogrande déficit habitacional 55555.

Entre os objetivos do BNH estava o incentivo ao Setor daConstrução Civil que atingia desde a produção de materiais ecomponentes, passando pelos equipamentos e máquinasnecessários, até o projeto, produção e montagem. Esta posturase traduziu na criação de centros de desenvolvimentotecnológico para subsidiar e apoiar o Plano Nacional daHabitação. Entre eles estava o Centro de Coordenação Indus-trial para o Plano Habitacional – SP, instituído pela Federaçãodas Indústrias do Estado de São Paulo e pelo Centro dasIndústrias de São Paulo, (1966) e o Centro Brasileiro daConstrução – Bouwcentrum. (BARON, 1999, p.168). Em 1978é criada a Associação Brasileira de Construção Industrializada(ABCI) para atender a “necessidade de se implantar novastécnicas construtivas que agilizassem os programashabitacionais, saindo do teorismo e passando para a prática”(CARVALHO apud Campus Experimental de Itaquera, 1981,p.4), mas que em meados da década de 1990 encerra as suasatividades.

Nesta linha de medidas visando um desenvolvimento tecnológicoincluem-se as discussões propiciadas pelos seminários,simpósios e mesas redondas, como também a realização decampos experimentais (Narandiba – BA, 1978 e Jardim SãoPaulo, 1981) com o apoio do BNH para a sua realização(BARON, 1999, p. 168). Entre estes eventos destacam-se oSimpósio sobre o Barateamento da Construção Habitacional(vinculado ao Campus Experimental de Narandiba-BA) e oSimpósio Latino-Americano de Racionalização da Construçãoe sua Aplicação às Habitações de Interesse Social, ocorrido na

A difícil evolução tecnológica na produção habitacionalA difícil evolução tecnológica na produção habitacionalA difícil evolução tecnológica na produção habitacionalA difícil evolução tecnológica na produção habitacionalA difícil evolução tecnológica na produção habitacional

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200200200200200 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

época da implantação do Campus Experimental do Jardim SãoPaulo – SP.

Narandiba é o primeiro exemplo de uma série de CampusExperimentais que surgiram, mesmo após o período BNH (videVilas Tecnológicas), na intenção de concentrar em um mesmoconjunto diferentes sistemas construtivos para definirpossibilidades e potencialidades de novos sistemasracionalizados. A idéia central era desencadear um processoonde se apresentava uma oportunidade para o setor industrialdemonstrar sua capacidade de produção ao setor imobiliário.

Em Narandiba foram construídas, por 34 empresas, 62 unidadeshabitacionais utilizando os mais diversos materiais e tecnologias:cerâmica, madeira compensada, madeira mineralizada, aparasaglomeradas com colas, madeira maciça, concreto tradicionalem placas e caixões pré-fabricados, concreto celular, solocimento moldado “in loco” ou em tijolos, estuque de gesso,vermiculita, poliuretano expandido, aglomerado fenólico, etc.(BARON, 1999, anexo D). No entanto, Narandiba apresentavahabitações com até 100 m² de área construída, configurandouma proposta muito aquém daquela que era representativadas construções das COHABs, por exemplo, cuja área médiaera de 45 m² (CASTRO, 1985, p.318).

Esta postura do BNH em aceitar processos construtivoschamados alternativos ou industrializados, ou aindaracionalizados, nas edificações de seus conjuntos habitacionais,estimulou a procura de novos métodos, sistemas, materiais,componentes e tudo mais que pudesse levar a uma habitaçãofeita de forma mais racional e econômica.

O reflexo disto no Estado de São Paulo se deu no CampusExperimental do Jardim São Paulo, região leste da capital,patrocinado pela COHAB-SP. Em uma área de 43.397 m², 10construtoras iriam construir 273 casas-embrião de 22 a 23m²que permitissem a ampliação para unidades com 72 m². Entreos sistemas construtivos apresentados estava o pré-fabricadode madeira tratada, chapas de fibrovegetal aglomerada, painéis

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201201201201201capítulo 2.2 - habitação de interesse social

de concreto leve e blocos de concreto. (RACIONALIZAÇÃOsendo testada em campus experimental in PROJETO, 1981,n.32, p.48). Na realidade, a experiência no Jardim São Paulonão mudou o panorama já delineado pelas iniciativas anterioresde difusão de tecnologia importada (CASTRO, 1985, p.318),presente nos grandes conjuntos habitacionais construídos entreo período de 1976 e 1982, marcados pela passagem dosprocessos construtivos tradicionais para os racionalizados comum emprego indiscriminado de diversos sistemas construtivos.Apesar desta racionalização dos processos, passou-se umadécada sem a implantação de um campus para odesenvolvimento e experimentação de novos sistemas.

Isto só voltou a acontecer na década de 1990 com asdenominadas Vilas Tecnológicas, que resgataram a idéia doCampus Experimental iniciada nos anos de 1970.

As Vilas Tecnológicas foram uma das principais ações doPROTECH – Programa de Difusão de Tecnologias paraConstrução de Habitações de Baixo Custo. Este Programa Fed-eral foi criado por Decreto em 1993, pela então Secretaria-Geral da Presidência da República, posteriormente vinculadoao Ministério do Planejamento e Orçamento – Secretaria dePolíticas Urbanas, e que atualmente não existe mais. O objetivodeste projeto era desenvolver diferentes sistemas construtivos(tecnologias alternativas), que elevassem a qualidade ereduzissem os custos da habitação. Foram construídas algumasVilas Tecnológicas em diferentes regiões brasileiras, inclusiveno Estado de São Paulo. Resumidamente, a Vila Tecnológica éa reunião, em um mesmo local, de diferentes sistemasconstrutivos com a utilização de materiais não convencionaispara a construção civil, através dos quais as empresas, órgãospúblicos, universidades e usuários pudessem estar lado a ladopara o desenvolvimento de simulações. Após a sua construção,as vilas passaram por testes e avaliações.

Embora o PROTECH tenha desaparecido, continuou existindona década de 1990 um esforço em reestruturar um programa

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202202202202202 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

tecnológico para a habitação de baixo custo, refletindo nacriação do Programa de Tecnologia da Habitação – HABITARE,financiado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) quepor sua vez é vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.O Programa Habitare tem como objetivo geral:

apoiar o desenvolvimento científico, tecnológico e a difusãodo conhecimento no campo da Tecnologia do AmbienteConstruído, por meio de pesquisas científicas, tecnológicas ede inovação que visem a contribuir para a solução do déficithabitacional do País e a modernização do setor da construçãocivil, no sentido da melhoria da qualidade, aumento daprodutividade e redução de custos na produção e recuperaçãode moradias, especialmente destinadas aos segmentos de baixarenda (FINEP, 2006).

Até o momento têm sido desenvolvidos diversos trabalhos emcooperação entre Universidades, outras Instituições de Ensinoe Pesquisa, Centros de Pesquisa, Associações Técnico-Científicas, Órgãos ou Empresas Públicas ou Privadas eOrganizações do Terceiro Setor. No entanto, a experiênciatrazida por esta década de existência do Programa através deações integradas da academia com o setor produtivo precisaser ampliada e melhor difundida para que os benefícios dosnovos caminhos apontados pelas pesquisas cheguem até asociedade.

Percebe-se que o discurso sobre inovação tecnológica persistedesde o período BNH dentro das Companhias de Habitação,aparecendo como meta e como campo de estudo sem, contudo,fazer parte de um planejamento consistente para sua realização.Entre as metas divulgadas e raramente realizadas está oprograma adaptado às demandas regionais e, para a reduçãode custos, faz-se a constante menção à diversificaçãotecnológica e novos mecanismos de gestão (ROYER, 2002,p.70).

Contrariando a aplicação de uma diversidade tecnológica, estãoos sistemas construtivos utilizados nos atuais Conjuntos

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203203203203203capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Habitacionais onde predomina a alvenaria estrutural e algumasvezes são empregados elementos pré-moldados de concreto,tais como lajes ou baldrames, mas nada além disto. Segundo oengenheiro Tônus,66666 a Caixa Econômica Federal até aceitariasistemas construtivos alternativos desde que fossem analisadospreviamente. Como isto se trata de um processo demorado, asconstrutoras desprezam esta idéia. Justamente por esta razãoque foram propostos ao longo das últimas décadas os CampusExperimentais ou Vilas Tecnológicas para que fossem certificadossistemas alternativos com o respaldo de órgãos públicos. É muitomais difícil esperar que as construtoras assumam sozinhas taliniciativa e risco.

A alvenaria estrutural, da maneira como tem sido aplicada noBrasil, é um grande obstáculo para se criar espaços internosmais flexíveis por não apresentar uma possibilidade deintegração entre os cômodos através da abertura total ou parcialde algumas paredes. Acrescentando a este tipo de sistemaconstrutivo o fato das áreas das unidades habitacionais seremcada vez menores, resulta em uma redução da qualidade doespaço doméstico.

O Grupo ARCHTEC, apresentado na Introdução, fez a Avaliaçãode Desempenho e a Avaliação Pós-Ocupação da VilaTecnológica de Ribeirão Preto. Nesta Vila foram construídas111 casas térreas por onze empresas que ofereciam diferentestecnologias, e cuja execução foi de responsabilidade daCompanhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto – COHAB-RP.

Vilas TVilas TVilas TVilas TVilas Tecnológicas - Ribeirão Pecnológicas - Ribeirão Pecnológicas - Ribeirão Pecnológicas - Ribeirão Pecnológicas - Ribeirão Pretoretoretoretoreto

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204204204204204 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2.202.202.202.202.20A Vila Tecnológica de Ribeirão Preto foi implantada em três quadras (13, 20 e 21)doConjunto Jardim Maria Casagrande Lopes (COHAB-Ribeirão) que fica no setor noroeste dacidade. As letras nos lotes indicam a distribuição das tecnologias nas quadras: A = Pré-Casas; B = Kablok; C = Colméia; D = BISC; E = MLC; F = Sisbeton; G = Todeschini; H =AG; I = Tecno Sistem; J = Lagotec; K = Cabrini Monolite.

2.212.212.212.212.21A Rua das Tecnologias fez parte daVila Tecnológica. Nesta Rua foramconstruídas casas modelos dastecnologias, em área do ConjuntoJardim Alexandre Balbo II (COHAB-Ribeirão), vizinho ao ConjuntoJardim Maria Casagrande Lopes,ambos entregues no início dadécada de 1990. As imagensacima ilustram algumas casasmodelos construídas nesta Rua dasTecnologias: 1. B.I.S.C.; 2. TecnoSistem; 3. Kablok; 4. Pré-Casas; 5.Lagotec; 6. AG; 7. CabriniMonolite; 8.MLC; 9. Sisbeton.(Fotos da autora, 2006)

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205205205205205capítulo 2.2 - habitação de interesse social

O Projeto de Análise e Avaliação de Desempenho teve comoobjetivo tratar de uma ampla gama de requisitos, exigências epadrões de desempenho tecnológico e arquitetônico dasunidades habitacionais com a finalidade de fornecer àsEmpresas, subsídios para a elaboração do redesenho de seusrespectivos sistemas construtivos e, por outro lado, apresentaraos Órgãos Públicos os parâmetros básicos para a seleção dastecnologias adequadas às realidades regionais.

[...] é de fundamental importância que, dentro de Programasque incentivem as inovações tecnológicas, sejam acopladossimbioticamente, severos e competentes Projetos de Análise eAvaliação de Desempenho com amplitude suficiente paraabranger as questões ligadas aos impactos que estas novastecnologias causam no meio ambiente, detectar se realmenteas inovações estão vindo no sentido de beneficiarsignificativamente os USUÁRIOS, no que tange à QUALIDADEdestes novos produtos, bem como se não estão sendoimplantadas apenas, e tão somente, processos dedesenvolvimento de novas formas de acumulação de riquezaspor parte dos agentes intervenientes nos Processos ProdutivosImobiliários (MARTUCCI, 1997, p.2).

Este tipo de preocupação vem de encontro ao que Castro (1985,p.155) afirma que aconteceu no período da produção dosgrandes conjuntos habitacionais a partir de 1975 quando “váriasmudanças na produção e nas técnicas construtivas foramintroduzidas, mas as economias geradas por elas não foramorientadas para o usuário, e sim canalizadas às empresas sobforma de lucro”.

Expondo resumidamente cada sistema construtivo presente naVila Tecnológica de Ribeirão Preto, têm-se as seguintescaracterísticas gerais, com respectivas plantas e áreas úteis(MARTUCCI, 1997):

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206206206206206 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 222. 222. 222. 222. 22AAAAAGGGGG - Andrade Gutierrez(W & E Construtora eComercial Ltda. -Ribeirão Preto - SP): seconstitui de alvenariaem tijolos de solocimento (tijolitos),portantes, comdispositivos de encaixemacho/fêmea. Éutilizada argamassa nosentido vertical dosburacos, em algumasfiadas, garantindo aamarração e rigidez aoconjunto.Área útil = 32,03 m²

2. 232. 232. 232. 232. 23BBBBB.I.S.I.S.I.S.I.S.I.S.C..C..C..C..C. (Blocaço Com.Ind. Eng. e Const. Ltda. -Campinas - SP): BlocoInteligente SistemaConstrutivo: alvenaria emblocos cerâmicos autoportantes, comdispositivos de encaixemacho/fêmea, permitindoassim a superposição e oauto travamento. Éutilizado argamassa emapenas algumas fiadasgarantindo a amarração.Quando utilizado com osfuros na vertical, se tornaauto portante e quandoutilizado com os furos nahorizontal, se tornaelemento de vedação.Área útil = 33,90 m²

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207207207207207capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 242. 242. 242. 242. 24Cabrini Monolite Cabrini Monolite Cabrini Monolite Cabrini Monolite Cabrini Monolite (CP

Construplan -Construção ePlanejamento Ltda. - Ribeirão

Preto - SP):placas pré-fabricadas, autoportantes,

constituídas de um núcleo depoliestireno expandido,

revestido em ambas as facescom tela de aço eletro-

soldados. Estas placas sãoutilizadas em paredes, lajes,

piso e forros. Após acolocação das placas é

aplicada uma camada deargamassa a fim de enrijecer

o conjunto.Área útil = 32,09 m²

2. 252. 252. 252. 252. 25Colméia Colméia Colméia Colméia Colméia (Construtora E.C.

Ltda. - São Paulo - SP): Casapré-fabricada, cuja estruturasuporte dos painéis em con-creto celular e cobertura (em

laje mista) é metálica.Área útil = 27,49 m²

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208208208208208 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 272. 272. 272. 272. 27LLLLLagotec agotec agotec agotec agotec (LagoinhaConstrutora Ltda. -Ribeirão Preto - SP):Painéis autoportantestipo sanduiche, estruturainterna de madeiratratada e recoberta porchapa tipo “hard board”,revestidos comargamassa epóxica. Ospainéis são pré-fabricados.Área útil = 44,75 m²

2. 262. 262. 262. 262. 26KKKKKablokablokablokablokablok (Alves NettoEngenharia Ltda. - SãoPaulo): Blocos de concretoestrutural com sistema deauto-encaixe e autotravamento, executados commassa especial. Fundação emradier; pilares, vigas e vergaspré-fabricadas quecomplementam o sistema.Área útil = 28,02 m²

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209209209209209capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 282. 282. 282. 282. 28MLC MLC MLC MLC MLC (MLC Engenharia e

Construção Ltda. -Erechim - RS):painéis

pré-fabricados deconcreto armado, tipo

sanduíche com umacamada isolante térmica

composta de tijoloscerâmicos montadas

mecanicamente devidoao alto peso dos

painéis.Área útil = 38, 44 m²

2. 292. 292. 292. 292. 29PPPPPré-ré-ré-ré-ré-CasasCasasCasasCasasCasas (Pré-Casas

Artefatos de Concreto Ltda. -Ribeirão Preto - SP): pilares

pré-moldados espaçados complacas pré-fabricadas de

concreto armado, imitandotijolo à vista. Os pilaresapresentam estrutura de

encaixe para a colocação dospainéis.

Área útil = 32,99 m²

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210210210210210 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 302. 302. 302. 302. 30Sisbeton Sisbeton Sisbeton Sisbeton Sisbeton (José Turecki Ltda. -São Paulo - SP): painéis auto-portantes tipo sanduíche sendo,na parte externa, de concretoleve e armado e na parteinterna, de poliestirenoexpandido. Os painéis sãoencaixados através de vigassuperiores e entre painéis,marcos metálicos. Posterior aoencaixe é colocada argamassapara fixação.Área útil = 32,56 m²

2. 312. 312. 312. 312. 31TTTTTecno Sistemecno Sistemecno Sistemecno Sistemecno Sistem (CHJ Construtora e Incorporadora Ltda. - São Paulo - SP):painéis de concreto armado de 8 cm de espessura, com tubulação para

instalação hidráulica e elétrica embutidos. Os painéis são pré-fabricadose a montagem é feita na obra com auxílio de guinchos.

Área útil = 39,21 m²

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211211211211211capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Dentre estes sistemas construtivos, as casas pré-fabricadas demadeira produzidas pela Todeschini - Construções eTerraplanagem Ltda., tiveram que ser substituídas por casas dealvenaria. Um dos principais problemas surgidos foi causadopelo processo de secagem inadequdo da madeira, provocandosua retração que resultou fendas e desalinhamento dos painéis,além de ter comprometido a imunização do material.

Além disto, segundo a Análise e Avaliação de Desempenho,todos os sistemas não atenderam limites e padrões mínimos dequalidade construtiva. Esta Análise e Avaliação foram realizadassobre quatro aspectos:

- Estudo Tecnológico dos Sistemas Construtivos: racionalizaçãodo produto quanto a sua produção; estudo da compatibilizaçãoe harmonia construtiva; estudo de novas possibilidadesconstrutivas;

- Características arquitetônicas:atendimento da legislaçãosanitária do Estado de São Paulo; atendimento aos requisitosambientais específicos (adequação de mobiliário, geometriados espaços, relações ergonométricas, etc.); atendimento aosrequisitos para eliminação de barreiras arquitetônicas;

2. 322. 322. 322. 322. 32TTTTTodeschiniodeschiniodeschiniodeschiniodeschini (Todeschini

Construções eTerraplanagem Ltda. -Várzea Grande - MT):kits pré-fabricados de

madeira de lei tratadae imunizada. Fazem

parte do sistemapilaretes de madeira

onde são encaixadasas pranchas.

Área útil = 25,80 m²

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212212212212212 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

- Características de habitabilidade: segurança estrutural;estanqueidade; conforto ambiental;

- Exigências de uso e manutenção:Manuais de uso emanutenção e garantia de qualidade (MARTUCCI, 1997, v.1).

O conjunto Projetual Tecnológico foi estruturado em:características globais; características arquitetônicas;características de habitabilidade; uso, manutenção e patologias.

Enquanto isto, no conjunto Habitação e Serviços Urbanos, fo-ram estudados os seguintes itens: caracterização e leitura dosetor urbano; identificação e caracterização dos serviçosurbanos, análise e avaliação do uso dos serviços urbanos eanálise e avaliação da habitação e da moradia.

No gerenciamento e controle da informação, foram organizadosos dados levantados no processo de análise e avaliação.

Na Avaliação de Desempenho dos sistemas construtivos, otrabalho do Grupo foi estruturado através de dois vetores:

[...]o PRIMEIRO VETOR é aquele que define, com absolutaclareza, um conjunto de informações com o intuito de seestabelecer um diálogo técnico entre os Usuários deTecnologias (moradores das unidades habitacionais), e os(Produtores de Tecnologias Empresas e/ou Órgãos Públicos),sem disparidades e discrepância de conhecimentos básicos.Ou seja, é objetivo do Projeto criar instrumentos técnicos emetodológicos, com linguagem acessível, que viabilizem adecodificação das novas tecnologias no sentido de permitirum perfeito entendimento básico por parte dos usuários destasnovas tecnologias. O SEGUNDO VETOR é aquele que definepara os Produtores de Tecnologias e os Agentes Intervenientesna Política Habitacional as linhas básicas do desenvolvimentodos Produtos e Processos (MARTUCCI, 1997).

Em 1996 a COHAB-RP liberou para uso as unidadeshabitacionais da Vila Tecnológica aos moradores quecomeçaram a introduzir alterações nos sistemas construtivos,iniciando-se então a Avaliação Pós-Ocupação - APO. Esta

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213213213213213capítulo 2.2 - habitação de interesse social

análise e avaliação fechou um ciclo iniciado com o estudo dodesempenho dos sistemas construtivos que tinha como objetosomente o ente físico que protege contra as intempéries, sendoseguido então pela APO, que avalia este ente físico usado pelosmoradores que passam a interferir diretamente na unidadehabitacional. A APO será tratada com maiores detalhes napróxima parte deste capítulo (cap. 2.3).

A outra Vila implantada no Estado de São Paulo foi na cidadede Bauru. Similar em números à Vila de Ribeirão Preto, foramconstruídas 101 unidades habitacionais de treze tecnologiasdiferentes, em gleba próxima ao Conjunto Habitacional BauruXXV, na região leste da cidade. Inaugurada em outubro de 1996,

2. 332. 332. 332. 332. 33Implantação da Vila Tecnológica de Bauru

Vilas TVilas TVilas TVilas TVilas Tecnológicas - Bauruecnológicas - Bauruecnológicas - Bauruecnológicas - Bauruecnológicas - Bauru

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214214214214214 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 342. 342. 342. 342. 34Cesário Cesário Cesário Cesário Cesário (José Cesário MenezesRamos - Bauru - SP): tijoloscerâmicos inter-travados comencaixes tipo “rabo de andorinha”(7 diferentes tipos). Os tijolos sãoencaixados sem uso de argamassade assentamento e depoisrejuntados com nata de cimento.Área útil = 36, 53 m2

esta Vila foi gerenciada pela Companhia de Habitação Popu-lar de Bauru - COHAB. Diferentemente de Ribeirão Preto, aVila de Bauru apresentou duas outras tipologias além da casatérrea: prédio e casa assobradada. 77777

Entre as tecnologias aplicadas, sete foram iguais as de RibeirãoPreto: Sisbeton, BISC, Todeschini, MLC, Cabrini-Monolite, Tecno-Sistem e Pré-Casas. As três últimas foram aplicadas por empresasdistintas (Zopone Eng. Com. Ltda.; Zênite Eng. Constr. Ltda.;Apoema Constr. Ltda.) de Bauru, e a última, além da empresa,a planta da unidade habitacional também foi diferente. Aempresa Zênite construiu a casa com três dormitóriosantecipando uma provável ampliação, enquanto a da Tecno-Sistem tinha apenas um dormitório. A MLC Eng. Constr. Ltda.apresentou também uma planta diferente para Bauru. Alémdestas, foram apresentadas as seguintes tecnologias:

2. 352. 352. 352. 352. 35Jakef Jakef Jakef Jakef Jakef (Jakef Eng. e Com. Ltda. -Bauru - SP): processo construtivocom tijolos cerâmicos estruturaisintertravados. Foram construídosdois sobrados com área bem acimadas demais unidades - 125 m2(Foto da autora - abril 2007)

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215215215215215capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 362. 362. 362. 362. 36Epotec FEpotec FEpotec FEpotec FEpotec Fertighaus ertighaus ertighaus ertighaus ertighaus (CBM

Construtora Ltda. - São Paulo -SP): painéis pré-fabricados

(espessura 10 cm) com facesexternas de chapas “hard-board”

e espuma de poliuretano nascélulas internas. As juntas são

tratadas com material epoxídico eas tubulações hidráulicas eelétricas são embutidas nos

painéis.

2. 372. 372. 372. 372. 37 e 2. 382. 382. 382. 382. 38Eucatex Eucatex Eucatex Eucatex Eucatex (Eucatex Produtos e

Serv. Ltda. - Barueri - SP):estrutura em aço galvanizado

pintada no sistemaeletrostático, painéis de

vedação entre as colunas etelhas de poliestireno

expandido revestido emambas as faces com chapas

de aço galvanizado.Instalações elétricas e

hidráulicas são externas eaparentes.

Área útil = 41,34 m2(Foto da autora - abril 2007)

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216216216216216 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 392. 392. 392. 392. 39PRECISE PRECISE PRECISE PRECISE PRECISE (Hidrapar Eng. CivilLtda. - Londrina - PR):painéismodulados de alumínio(formas), colocados entre si porintermédio de fixadores,colocação dos conduítes etubulação hidráulica e posteriorconcretagem, inclusive com laje,formando uma estruturamonolítica.Área útil = 46,75 m2

2. 40 2. 40 2. 40 2. 40 2. 40 e 2. 412. 412. 412. 412. 41TTTTTreplan replan replan replan replan (Treplan Eng. Constr. Ltda. -Bauru - SP): prédio de apartamentosconstruído por painéis e lajes pré-fabricados de concreto armadoautoportante com aplicação de produtocerâmico no seu interior.Área útil = 32,76 m2(Foto da autora - abril 2007)

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217217217217217capítulo 2.2 - habitação de interesse social

2. 422. 422. 422. 422. 42 e 2. 432. 432. 432. 432. 43MLC MLC MLC MLC MLC (MLC Engenharia e

Construção Ltda. - Erechim -RS):

É a mesma empresa etecnologia apresentada na Vila

de Ribeirão Preto. Porém aplanta da unidade é diferente.

Área útil = 39,85 m2(Foto da autora - abril/2007)

2. 442. 442. 442. 442. 44Apoema Apoema Apoema Apoema Apoema (Apoema

Construtora Ltda. - Bauru-SP):

Processo construtivosemelhante à PPPPPré-ré-ré-ré-ré-CasasCasasCasasCasasCasas da

Vila Tecnológica deRibeirão, de pré-moldados

de concreto armado.

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218218218218218 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Diferentemente de Ribeirão Preto, a Vila Tecnológica de Baurunão passou por nenhuma Avaliação de Desempenho e/ou Pós-Ocupação. Com a extinção do Programa PROTECH, osmoradores solicitaram vistorias técnicas com a finalidade debuscar respostas por parte da COHAB-Bauru, ou mesmo dogoverno federal, sobre os procedimentos que devem tomar frenteas mais variadas patologias construtivas que todas as tecnologiasapresentaram. Assim como Ribeirão Preto, o sistema Todeschinifoi o mais problemático, mas as casas continuam aindaocupadas, com exceção de uma.

Em setembro de 2003, o professor Adilson Renófio (RENÓFIO,2003) do Departamento de Engenharia da UNESP-Bauruentregou o primeiro Relatório de Vistoria Técnica com osresultados encontrados na avaliação de algumas unidadesrealizadas por alunos do curso de engenharia civil sob suacoordenação. Na conclusão do Relatório, Renófio salienta quea extinção do PROTECH antes da conclusão de todas as fasespropostas pelo Programa, necessárias na implantação detecnologias inovadoras, deixou moradores sem orientações parauso e manutenção das unidades.

Em 2005, nova vistoria foi realizada pela COHAB-Bauru em16 unidades. No relatório resultante desta vistoria, foi ratificadaalgumas patologias já encontradas na vistoria anterior edestacado o problema causado por ampliações com métodosconvencionais que apresentaram anomalias na junção com atecnologia inovadora, conseqüência da falta de manuaistécnicos das unidades não fornecidos pelas construtoras.

Conclui-se com estas experiências das Vilas Tecnológicasimplantadas no estado de São Paulo, que por melhor que sejaum programa que queira implantar inovações tecnológicas naconstrução habitacional, é necessário um contínuo e longoinvestimento para a otimização de qualquer tecnologia. Nãosão programas de duração curta e descontínuos, como foi oPROTECH, que possibilitam a implementação de inovaçõesconstrutivas. Além de ter desaparecido antes de completar a

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219219219219219capítulo 2.2 - habitação de interesse social

sua maturidade, deixou muitas famílias desamparadas frente atecnologias desconhecidas, não sabendo como lidar com asua própria casa.

Antes, no entanto, de implantar tais tecnologias faltaramconsiderações mais séria sobre o próprio projeto da unidade.Alguns sistemas apresentam conformações geométricas oudimensões absurdas para certos cômodos: dormitórios (Cabrini-Monolite, Pré-Casas, Cesário); cozinha (Cabrini-Monolite); sala(AG, Kablock), para citar os mais sérios. Isto resulta emproblemas funcionais verificados nas Avaliações Pós-Ocupação,apresentadas na próxima parte dete capítulo. Mesmo prevendoampliações posteriores, sempre possível em casas térreasisoladas no lote, não justifica a falta de qualidade no projetodo núcleo inicial, já que as tecnologias que foram apresentadasnão facilitam um rearranjo dos ambientes internos, caindo nopadrão de planta estática, sem flexibilidade, comum dosprogramas habitacionais.

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220220220220220 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

11111 As Companhias de Habitação – COHABs – foram criadas paraatuarem como agente financeiro e promotor junto com o BancoNacional da Habitação – BNH. Tornaram-se, no entanto, após aextinção do BNH, órgãos promotores vinculados às prefeituras. NoEstado de São Paulo existem algumas COHABs, entre elas aCompanhia Metropolitana de Habitação de São Paulo – COHAB-SP que é uma empresa pública constituída como sociedade anônimade economia mista, cujo capital acionário pertence quase quetotalmente à Prefeitura Municipal de São Paulo.

22222 Considera-se que a criação da CDHU remonta ao ano de 1975quando a antiga CECAP - Caixa Estadual de Casas para o Povo, foitransformada de autarquia em sociedade por ações, sob o nome deCompanhia Estadual de Casas Populares, também CECAP, passandode agente promotor do SFH para agente financeiro e promotor dosistema. Em janeiro de 1981, a mesma sociedade por ações mudouseu nome para Codespaulo, abrangendo outras funções, comopromover a desconcentração do desenvolvimento industrial e urbanoem São Paulo. Em março de 1984, a Codespaulo foi transformadaem CDH, Companhia de Desenvolvimento Habitacional. No finaldesta mesma década a denominação da Companhia foi alteradapela adição do termo “Urbano” – CDHU. Após o fechamento doBNH, o governo do Estado buscou autonomizar sua políticahabitacional através da criação de um fundo público capaz desuportar as despesas do setor. A principal receita constitutiva dessefundo público foi o adicional do ICMS, vinculado a investimentos emmoradia popular instituído pela Lei n. 6.556, de 30 de novembro de 1989, com vigência a partir de 1990. De acordo com a Lei, areceita resultante da elevação da alíquota em 1% seria destinada aofinanciamento, pela Caixa Econômica do Estado, de programashabitacionais de interesse da população, desenvolvidos e executadospela CDHU (ROYER, 2002).

33333 Depoimento dado por Marco Aurélio Tônus, engenheiro civil daGerência de Filial de Apoio ao Desenvolvimento Urbano – GIDUR –

NotasNotasNotasNotasNotas

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221221221221221capítulo 2.2 - habitação de interesse social

Caixa Econômica Federal à autora desta tese em 29 de março de2006.

44444 Segundo Marco Aurélio Tônus, engenheiro civil da Gerência deFilial de Apoio ao Desenvolvimento Urbano – GIDUR – CaixaEconômica Federal, embora o Programa PAR tenha sido criado paraatender uma população de renda familiar limitada a seis salários-mínimos, isto é, de zero a seis, na prática, devido ao preço dahabitação produzida estar muito próximo ao limite máximo doprograma, dificilmente tem sido possível atender famílias com rendainferior a quatro salários-mínimos. Por esta razão, recentemente oMinistério das Cidades lançou uma portaria que incentivava aprodução de unidades do PAR para famílias com renda de até 4salários-mínimos, aumentando o subsídio das prestações, masdiminuindo as especificações técnicas, como, por exemplo,acabamentos e área útil, neste caso para 33 m² (depoimento dadoà autora desta tese em 29 de março de 2006).

55555 Existe toda uma discussão do que seja considerado déficithabitacional. No período BNH, que predominava a construçãomassiva de unidades habitacionais, foi reforçada a idéia de que todasas moradias fora do padrão mínimo deveriam ser substituídas gerandoestimativas consideradas atualmente exageradas. Segundo aFundação João Pinheiro, que desenvolve desde a década de 1990uma metodologia mais precisa sobre o déficit habitacional,atualmente o Brasil apresenta um déficit total de 7.222.645, dosquais 5.469.851é urbano. No Estado de São Paulo o déficit urbanoé de 1.041.633, dos quais 72,6% concentram-se em famílias comrenda familiar de até 3 Salários Mínimos (S.M.) e 13,4% de 3 a 5S.M. (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2005, p.37-39).

66666 Depoimento dado por Marco Aurélio Tônus, engenheiro civil daGerência de Filial de Apoio ao Desenvolvimento Urbano – GIDUR –Caixa Econômica Federal à autora desta tese em 29 de março de2006.

77777 Os dados aqui apresentados sobre a Vila Tecnológica de Bauru,bem como sobre as tecnologias e as plantas das unidadeshabitacionais foram obtidos em pesquisa realizada na COHAB-Bauru(Companhia de Habitação Popular de Bauru) disponibilizados pelo

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222222222222222 capítulo 2.2 - habitação de interesse social

engenheiro Ronaldo Betetto, do Departamento Técnico da empresa,bem como em trabalhos dos seguintes alunos da Faculdade deEngenharia, Campus Universitário de Bauru, Universidade EstadualPaulista - UNESP: Artemis Rodrigues Fontana, Débora FernandaGalvão de Oliveira e Mauro Soares de Moraes.

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223223223223223capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2.3 - A2.3 - A2.3 - A2.3 - A2.3 - AVVVVVALIAÇÃO PÓSALIAÇÃO PÓSALIAÇÃO PÓSALIAÇÃO PÓSALIAÇÃO PÓS-----OCUPOCUPOCUPOCUPOCUPAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOO MORADOR NA MORADIAO MORADOR NA MORADIAO MORADOR NA MORADIAO MORADOR NA MORADIAO MORADOR NA MORADIA

Muito do que tem sido discutido sobre o mínimo aceitável parauma habitação baseia-se em estudos realizados nos maisdiferentes conjuntos habitacionais. Estes estudos, denominadosde Avaliação Pós-Ocupação, têm oferecido subsídios para umquestionamento sobre a qualidade do projeto desenvolvido paraas habitações de interesse social. Baseando-se, principalmente,em pesquisas realizadas pela autora desta tese em ConjuntosHabitacionais em São Carlos, e em alguns outros estudos, serádemonstrado nesta parte do capítulo o que tem sido identificadocomo problema no interior destas habitações.

Mas antes seria importante discorrer sobre o peso que tal áreade estudo tem assumido principalmente ao se relacionar com aprodução massiva de conjuntos habitacionais, ou seja, umareprodução de modelos até então não devidamente avaliados.

A avaliação pós-ocupação coloca o usuário/morador comoparticipante no processo de levantamento de importantesinformações sobre os espaços edificados, tornando-osmoldadores ativos do meio ambiente. Sommer (1979) chamaa atenção que este tipo de pesquisa busca quebrar a dicotomiaque existe entre arquitetos/designers e usuários/moradores. Osprimeiros sempre se perguntam como fazer para ensinar ossegundos a apreciar um bom design ou utilizar adequadamenteum espaço. O povo é visto como uma falha do sistema e nãoos projetos. A partir do momento que se compreende que todos,planejadores urbanos, donas de casa, arquitetos, trabalhadores,fazem parte do ambiente, começa-se a compreender os efeitosdas ações de cada um sobre os outros e sobre o meiocircundante.

Embora os regulamentos e códigos sejam necessários, sópodem ter sucesso se forem aceitos pelos usuários. Isto significaque os indivíduos precisam tornar-se cônscios dos efeitos de

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224224224224224 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

suas ações sobre as outras pessoas e sobre o ambiente(SOMMER, 1979, p.31).

A Avaliação Pós-Ocupação – APO - é um conjunto de técnicase métodos para avaliação de ambientes no decorrer de seuuso considerando principalmente as relações biunívocas entreambiente construído e comportamento humano. É uma áreadisciplinar de extrema importância para fornecer dados paranovos projetos considerando as etapas que vão da construçãoà manutenção.

A APO é aplicada tendo em vista a aferição de fatoresconstrutivos, de conforto ambiental, funcionais, estéticos,comportamentais e organizacionais do ambiente em uso,aferição esta que leva em conta a opinião tanto de técnicos,projetistas e clientes como dos usuários, diagnosticando ositens de desempenho satisfatório e aqueles insatisfatórios(ORNSTEIN, 1996, p.34).

O objetivo principal da APO é diminuir, ou senão fazerdesaparecer, a lacuna que existe entre as intenções do arquitetoenquanto proposta, os resultados previstos pela proposta e odesempenho dessa proposta enquanto ambiente construído.Esta lacuna acaba refletindo no pouco ou nenhum atendimentoaos requisitos básicos necessários para apoiar e satisfazer asnecessidades e valores dos usuários (LAY; REIS, 1993, p.903).

Considerando que é uma pesquisa em tempo e em escala real,com os especialistas e usuários, existem algumas dificuldadespelo fato de se trabalhar com muitas variáveis de difícil controlecomo, por exemplo, o comportamento humano e a interpretaçãode suas relações com os ambientes de uso. Utiliza-sefreqüentemente o conceito ‘satisfação’ para uma abordagemdiferencial entre o ambiente atual e as aspirações dos usuáriosdeste ambiente. As pessoas percebem os atributos salientes doseu ambiente físico e os avaliam baseados em certos parâmetrosde comparação. Lay e Reis (1993, p.905) esclarecem que:

a similitude entre o ambiente real percebido e o ambienteaspirado fornece a medida de satisfação. As implicações deste

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225225225225225capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

enfoque para pesquisa são que as características ditas objetivasou físicas do ambiente residencial (fatores contextuais) e ascaracterísticas “pessoais” dos usuários tais como classe sociale estágio no ciclo de vida (fatores composicionais), queinfluenciam suas percepções e avaliações, devem sercompreendidas. Estes dois grupos de variáveis são, em últimaanálise, preponderantes na determinação da satisfação dousuário para com o seu ambiente residencial [...].

A utilização dos conceitos de satisfação e comportamento dousuário como critérios de avaliação da habitação possibilitama identificação dos elementos de desenho e característicasambientais que mais afetam o usuário. A partir dos resultadostêm-se os fatores de desenhos que precisam ser ajustados eque fornecem subsídios para a elaboração dos novos projetoshabitacionais compatíveis com a realidade do país (LAY; REIS,1993, p. 910).

A APO pode ser utilizada para a realização de medições,diagnósticos e recomendações principalmente nas seguintesáreas (ORNSTEIN, 1996, p.35):

a. Contexto urbano (impacto ambiental): aspectos culturais esócio- econômicos; clima; sítio e sua topografia; localização;circunvizinhança; densidade populacional; tráfego urbano;transporte coletivo e de massa; infra-estrutura;superestrutura; áreas livres; segurança; outros;

b. Materiais e técnicas construtivas: fundações; estrutura;alvenarias; caixilhos; revestimentos, caixilharia; instalaçõesprediais; sistemas de comunicação; paisagismo; outros;

c. Funcional: área útil; dimensões mínimas; circulação;sinalização; adequação ambiental; adequação domobiliário/equipamentos; flexibilidade; produtividade;acessibilidade a deficientes físicos e visuais; outros;

d. Conforto Ambiental: conforto térmico; conforto acústico;condicionamento do ar e ventilação natural;condicionamento do ar e ventilação artificial; umidaderelativa do ar; conservação de energia; outros;

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226226226226226 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

e. Estética: cores texturas; volumetria; ritmo; estilo; outros;

f. Econômica: relação de custos x benefícios; variação docusto de construção do edifício em função do tipo e daquantidade de elementos de estrutura, vedos, caixilhos, etc.;variação do custo de construção em função do tipo decirculação horizontal e vertical; variação dos custos deconstrução, de manutenção e de operação em função donível de automação; variação dos custos em função dasáreas construída e útil; variação dos custos em função dacompacidade (perímetro x área construída); variação doscustos de construção em função dos dispositivoscontroladores propostos para conservação de energia;variação dos custos gerais de manutenção no decorrer douso; variação dos custos das intervenções físicas necessáriaspara otimizar o desempenho no decorrer do uso; outros;

g. Comportamental: satisfação; segurança; conforto;privacidade; interação social; personalização do local detrabalho; crime e vandalismo; imagem e segurança; status;espaço pessoal; território; densidade ocupacional;identidade cultural; codificação ambiental; controle dadispersão ou atração de pessoas; outros;

h. Organizacional: produtividade; iniciativa; responsabilidade;liderança; cooperação; capacidade de trabalho em equipe;proximidade físico-espacial entre pessoas ou departamentosque atuam regularmente de modo conjunto; outros.

As áreas referentes aos materiais e técnicas construtivas, aofuncional e ao comportamental são de especial interesse paraeste trabalho por tratar de elementos diretamente relacionadoscom as características do espaço interno da habitação.

A seguir serão expostos alguns resultados de APO realizadasem conjuntos habitacionais construídos por diferentescompanhias, com o objetivo de ilustrar a relação do mobiliáriocom o espaço interno destas áreas mínimas, tema que estásendo tratado neste trabalho.

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227227227227227capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Como já exposto anteriormente (capítulo 2.2), o Grupo dePesquisa Archtec – Arquitetura, Tecnologia e Habitação,financiado pela FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos),realizou o Projeto de Análise e Avaliação de Desempenho eposteriormente a Análise e Avaliação Pós-Ocupação da VilaTecnológica de Ribeirão Preto – COHAB-RP, coordenado peloProf. Ricardo Martucci.

A Avaliação Pós-Ocupação foi realizada nas casas de oitentae cinco famílias, das quais cinqüenta e duas possuíam rendafamiliar mensal até quatro salários mínimos. Muitas destasfamílias consideravam a Vila como um bairro comum e nãocomo um Campus Experimental.

Esta APO considerou três instâncias de abordagem (MARTUCCI,1999, p.9-11):

1 Conjunto Projetual Tecnológico;2 Conjunto Habitação e Serviços Urbanos;3 Gerenciamento e Controle da Informação.

O conjunto Projetual Tecnológico foi estruturado em:características globais; características arquitetônicas;características de habitabilidade; uso, manutenção e patologias.

Enquanto isto, no conjunto Habitação e Serviços Urbanos, fo-ram estudados os seguintes itens: caracterização e leitura dosetor urbano; identificação e caracterização dos serviçosurbanos, análise e avaliação do uso dos serviços urbanos eanálise e avaliação da habitação e da moradia.

No gerenciamento e controle da informação, foram estruturadosos dados levantados no processo de análise e avaliação.

Dentro do item Características Arquitetônicas do ConjuntoProjetual Tecnológico foi avaliado o atendimento dasnecessidades funcionais e ambientais de cada sistema

Vila TVila TVila TVila TVila Tecnológica de Ribeirão Pecnológica de Ribeirão Pecnológica de Ribeirão Pecnológica de Ribeirão Pecnológica de Ribeirão Pretoretoretoretoreto

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228228228228228 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

construtivo. Com relação às aspirações por novas característicasespaciais e ambientais nas unidades habitacionais entregues,identificaram-se as seguintes reivindicações:

• Existência de mais um banheiro: 41 famílias (48%)insatisfeitas com a existência de apenas um banheiro,das quais 29 declaram existir conflito na sua utilização;

• Maior área construída de todos os ambientes básicos;• Maior ventilação dos ambientes;• Ambientes não conjugados (cozinha e estar) e sim

ambientes com funções definidas e especializadas;• Maior número de dormitórios;• Ambientes apropriados para as refeições (MARTUCCI,

1999, p.81).

Em relação ao mobiliário, acessos e circulação interna, foramavaliadas 84 unidades, das quais 50 identificaram algumproblema a este respeito. Entre os itens apontados estavam:

• Falta de espaço em geral;• Interferência na circulação interna e no acesso às janelas

por conta dos móveis;• Cozinha: os maiores problemas referiam-se ao tamanho

dos móveis que não entravam na unidade ou impediama circulação interna e a falta de tomadas, inclusive parageladeira;

• Refeições: as mesas eram grandes e prejudicavam acirculação dentro da unidade;

• Estar: os sofás eram muito grandes e as tomadas, quandoexistiam, estavam mal posicionadas;

• Dormitórios: os guarda-roupas e as camas eramgrandes, prejudicando a circulação interna e as tomadasestavam mal posicionadas.

Além dos problemas apontados pelos próprios moradores, estasilustrações que seguem demonstram que a geometria e adimensão do mobiliário, e a disposição criada pelos ocupantesde cada casa, por um lado, geram espaços não aproveitados,

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229229229229229capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

e por outro, a utilização de algumas peças do mobiliário ficamextremamente comprometidas, além deste configurar umavisível interferência nas circulações e no acesso às janelas.

2. 452. 452. 452. 452. 45Sistema Lagotec – casa

térrea com 44,75 m² deárea útil (MARTUCCI,

1999, anexo 4/6, p.7).

2. 462. 462. 462. 462. 46Sistema MLC – casa térreacom 38,44 m² de área útilsem contar com a varanda(MARTUCCI, 1999, anexo

4/6, p.99).

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230230230230230 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 472. 472. 472. 472. 47Sistema Sisbeton – casa térrea com 32,56m² de área útil (MARTUCCI, 1999, anexo4/6, p.87).

2. 482. 482. 482. 482. 48Sistema AG – casa térrea com 32,03 m² deárea útil (MARTUCCI, 1999, anexo 4/6,p.16).

2. 492. 492. 492. 492. 49Sistema Tecno-Sistem– casa térrea com39,21 m² de área útil(MARTUCCI, 1999,anexo 4/6, p.35).

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231231231231231capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

A=16,50 m²A=8,00 m²

A=2,32 m²A=1,20 m²

rack

com

TV

esta

nte

sapa

teira

arm

ário

porta sanfonada

2. 502. 502. 502. 502. 50Sistema Kablok – casatérrea com 28,02 m² deárea útil

2. 512. 512. 512. 512. 51Sistema Kablok – casa térrea com 52,64 m² de área útil

após a ampliação. Nesta casa mora uma família compostapor mãe e dois filhos com idade de até 13 anos, e renda

familiar entre 1 e 3 Salários Mínimos (S.M.). Adquiriu partede seus móveis no Magazine Luiza. Teve grande dificuldade

para fazer entrar seus móveis na casa.A dimensão de 2,50 m de largura da sala e dos

dormitórios dificulta o lay-out dos móveis, resultando numadistribuição desiquilibrada nestes cômodos, prejudicando o

aproveitamento do espaço de uma casa com uma boa áreaútil para três pessoas.

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232232232232232 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

A=5,40 m²

A=16,38 m²

A=7,24 m²

A=1,68 m²A=1,86 m²

rack

co

m T

Var

már

io

máq.costura

mesadobrável

cortina

côm

oda

esta

nte

mesa

2. 522. 522. 522. 522. 52Sistema Sisbeton – casatérrea com 32,56 m² deárea útil

2. 532. 532. 532. 532. 53Sistema Sisbeton – casaque abriga uma mãecom filho doente. Arenda familiar é de 2S.M. Os móveis foramganhos. A principalreclamação é com otamanho da sala,cozinha conjugada eausência de área deserviço.

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233233233233233capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

esta

nte

mesa

mesa

rack

com

TV

proj

. TV

víde

o

côm

oda

banheiro em construção

armário

cômoda

2. 542. 542. 542. 542. 54Sistema Sisbeton – casa com 56,75 m² deárea útil após a ampliação. Habitada por

uma família com dois filhos. Renda familiarentre 1 e 3 S.M. Com poucos móveis, a

casa parece ampla. No entanto, aausência de uma área de serviço, levou acolocação da máquina de lavar no lugardo lavatório do banheiro, prejudicando ouso deste. O que virou sala de refeições,

possui uma grande área que ficou apenasde circulação. Este exemplo mostra que

embora seja possível fazer ampliações nascasas, a falta de assessoria técnica dificulta

um melhor aproveitamento de seusespaços.Adquiriu seus móveis na Casas

Bahia e Magazine Luiza.

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234234234234234 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

A =8,06 m² A =8,06 m²

A =9,10 m²

A =0,96 m² A =2,03 m²

A =5,69 m²

belic

he

beliche

cômoda cômoda

estante com TV, vídeo, vídeo-game

esta

nte

armário

2. 552. 552. 552. 552. 55Sistema B.I.S.C – casatérrea com 33,90 m²de área útil

2. 562. 562. 562. 562. 56Sistema B.I.S.C – casaque abriga mais doque um núcleofamiliar semcondições de fazerampliações na casa.Ao todo são oitomoradores que vãoda faixa etária de 14à 70 anos. Sem mesade refeições eapresentando clarosconflitos entre osmóveis, e destes comas janelas e portas.Adquiriu os móveis naCasas Bahia.

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235235235235235capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

A =1,24 m² A =1,92 m²

A =4,62 m²

A =8,02 m²

A =8,21 m²

A =8,02 m²

arm

ário estante

mesa

proj.armário suspenso

esta

nte

cria

dom

udo criado

mudo

rack com TV

2. 572. 572. 572. 572. 57Sistema AG – casa térrea

com 32,03 m² de áreaútil

2. 582. 582. 582. 582. 58Sistema AG – esta casaabriga uma família de

mãe e duas filhas,também sem

possibilidades financeiraspara fazer ampliações.Renda familiar é de 1

S.M. A pequena sala nãocomporta mesa de

refeição com ambiente deestar. Os móveis foram

adquiridos na CasasBahia e Magazine Luiza.

Por se tratarem de casas térreas, os moradores possuem aperspectiva de modificarem estes espaços, como sempreacontece com esta tipologia. No entanto, nos estudos realizadospela autora em algumas casas da Vila Tecnológica percebeu-se que as ampliações são realizadas aleatoriamente, sobrandoespaços em alguma parte da casa e faltando em outra, comoexemplificado nas imagens anteriores.

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236236236236236 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Localizado na cidade de São Carlos - SP, este conjunto foiconstruído pela COHAB-RP (Ribeirão Preto), em duas etapas,entregues quase que simultaneamente. A primeira foi aconstrução de casas térreas (262 unidades) isoladas no lote.Na segunda etapa, em 1995, foram entregues 35 blocos (térreoe mais três andares) com 16 apartamentos cada, perfazendoum total de 560 unidades habitacionais (U.H.). Deste total, 35U.H. são de um dormitório e os demais com dois dormitóriosde 40,25 m² de área útil.

Foi realizada visitas em dezessete apartamentos de doisdormitórios, quando então foram medidos os móveis eentrevistados os moradores. Desta mostra percebeu-se que nasunidades com até dois moradores não existem grandes conflitosnos ambientes. Os problemas começam a surgir nosapartamentos onde moram três ou mais pessoas, quandoaparece a interferência do mobiliário na circulação e acesso ajanelas e no comprometimento do uso de alguns móveis.

A maioria precisou se desfazer de móveis antes de se mudarpara o apartamento. Aqueles que adquiriram móveis nos últimosanos citaram principalmente a Casas Bahia, Magazine Luiza eLojas Cem, como locais de compra.

2. 592. 592. 592. 592. 59Conjunto HabitacionalRomeu Santini IISão Carlos - SP

Conjunto Habitacional RConjunto Habitacional RConjunto Habitacional RConjunto Habitacional RConjunto Habitacional Romeu Santini IIomeu Santini IIomeu Santini IIomeu Santini IIomeu Santini II

Page 244: PROJETO TECNOLÓGICO PARA PRODUÇÃO DE HABITAÇÃO …€¦ · 2 – PRODUÇÃO HABITACIONAL e MOVELEIRA 161 2.1 – Construção Habitacional no Brasil 163 2.2 – Habitação de

237237237237237capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

A seguir serão expostos oito exemplos para demonstrar asituação dos apartamentos com até dois moradores e outroscom mais de dois, onde aparece então os conflitos geradospela inadequação e quantidade de mobiliário inserido napequena área do apartamento.

O mobiliário aqui representado está exatamente no tamanhoque foi medido. Como existem diferentes dimensões entre peçasde um mesmo tipo de mobiliário, achou-se conveniente nãorepresentá-los usando “biblioteca” de programas gráficos (vervariações na tabela 2, capítulo 2.4, p.268).

2. 602. 602. 602. 602. 60Este apartamento é ocupado porapenas uma moradora com renda entre5 e 7 S.M. A principal reclamaçãosobre a distribuição do apartamento foio tamanho dos quartos. No entanto,percebe-se que, para um morador, oespaço e o mobiliário não apresentamconflitos, mesmo que tenham se criadovários cantos residuais nos ambientes.

2. 612. 612. 612. 612. 61Neste outro apartamento mora umcasal cuja renda é também de 5-7 S.M.Assim como mostra a figura 39, estaárea parece suficiente para duaspessoas viverem com seu mobiliáriomínimo.

rack

- TV

esta

nte

TV

proj

. arm

ário

sus

pens

o

bufê

Pontos de conflitos; cantos residuais

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238238238238238 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 622. 622. 622. 622. 62Diferentemente dos exemplosacima, este caso trata-se deuma família com duascrianças e renda de 1-3 S.M.Devido a geometria doscômodos e seu mobiliário,sérios conflitos surgem entreum móvel sobre outro,emóvel interferindo no acessode janelas e abertura total daporta.

2. 632. 632. 632. 632. 63Neste apartamento moramtrês pessoas, mãe e filhos. Arenda familiar é de 3-5 S.M.A principal reclamação foicom o tamanho do dormitóriodos filhos. A mesa docomputador teve que ficar nasala por falta de espaço nestedormitório.

Pontos de conflitos; cantos residuais

esta

nte

-

TV

côm

oda

berç

o

estante

pent

eade

ira

micro-ondas

botijão dentro do armário

estante - TV

mesa de estudocomputador

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239239239239239capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 642. 642. 642. 642. 64Apartamento ocupado por

uma família de quatropessoas, cuja renda familiar

está entre 3-5 S.M. A sala e oquarto de casal apresentamos principais problemas de

congestionamento

2. 652. 652. 652. 652. 65Mãe e duas filhas moram

neste apartamento, com umarenda familiar entre 1-3 S.M.

A proprietária expressou odesejo de ter uma mesa derefeições maior, mas acha

que não tem espaçosuficiente. Existem conflitosmarcantes das portas dos

dormitórios com os móveis edas camas de um dormitório

com o guarda -roupa.

esta

nte

-

TV

berç

o

esta

nte

-

TV

e liv

ros

beliche

escrivaninha

côm

oda

Pontos de conflitos; cantos residuais

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240240240240240 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 662. 662. 662. 662. 66Família de três pessoas comrenda familiar entre 7-10 S.M.O artifício da porta sanfonadafoi encontrado em algunsapartamentos para minimizara falta de espaço dosdormitórios. O jogo deestofados de dois e trêslugares causam um problemarecorrente nos apartamentos.

2. 672. 672. 672. 672. 67Este apartamento ilustra asituação de moradia de umafamília com cinco membros,renda familiar de 1-3 S.M. Osdormitórios são os cômodosmais críticos.

esta

nte

-

TV

portas sanfonadas

cômodacômoda

côm

oda

mes

a co

mpu

tado

r

proj. forno micro-ondas

meia parede

esta

nte

TV

berço

Pontos de conflitos; cantos residuais

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241241241241241capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 682. 682. 682. 682. 68Situação comum de serencontrada: cama na frente dajanela dificultando seu acesso.

2. 692. 692. 692. 692. 69Mesa do computador na salapela falta de espaço nodormitório.

2. 702. 702. 702. 702. 70 e 2. 712. 712. 712. 712. 71Problema recorrente: o safá acaba ficando na frente do rack quando setenta encaixar na sala um jogo de estofados (com dois e três lugares) eum rack para televisão, aparelhos de DVD/vídeo e som.

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242242242242242 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Conjunto Habitacional WConjunto Habitacional WConjunto Habitacional WConjunto Habitacional WConjunto Habitacional Waldomiro Laldomiro Laldomiro Laldomiro Laldomiro Lobbe Sobrinhoobbe Sobrinhoobbe Sobrinhoobbe Sobrinhoobbe Sobrinho

2. 722. 722. 722. 722. 72Conjunto Habitacional Waldomiro Lobbe Sobrinho - São Carlos - SP

Este Conjunto está também localizado na cidade de São Carlos-SP, sendo composto por seis condomínios com cinco blocoscada.É um pouco mais recente que o Romeu Santini e foientregue pela CDHU no final de 2002. Cada bloco possuitrinta e dois apartamentos de dois dormitórios e 38,69 m² deárea útil, totalizando 960 unidades habitacionais.

Neste conjunto foram visitadas 15 famílias e, como no RomeuSantini, os móveis foram medidos e realizaram-se entrevistascom os moradores.

O principal problema encontrado nestes apartamentos foi afalta de espaço para se colocar uma mesa de refeições.Conforme o lay-out proposto pela CDHU, estava prevista apenasuma bancada na estreita cozinha.

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243243243243243capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Outra reclamação recorrente foi a falta de espaço para recebervisitas. Assim como no Romeu Santini, muitas famílias sãoprovenientes de casas alugadas que tinham áreas maiores, eisto tem causado um grande estranhamento para muitos, jáque Conjuntos Habitacionais de apartamentos não são comunsem cidades do porte de São Carlos (com aproximadamente200 mil hab.).

A área de serviço acaba se mesclando com a cozinha, e paramuitas famílias não existe área de serviço pelo tamanho reduzidoque esta se tornou.

Na realidade, esta tipologia é o exemplo do extremo de áreamínima que chegou a promoção habitacional para famílias debaixa renda.

Quanto aos móveis, os resultados encontrados na avaliaçãofeita no Romeu Santini se repetem aqui: famílias que precisaramse desfazer de alguns móveis antes de se mudar para oapartamento; localização de tomadas e pequenas áreasproporcionam poucas alternativas de lay-out; Casas Bahia,Magazine Luiza e J.Mahfuz foram as lojas mais citadas comolocal de compra de móveis e eletrodomésticos.

2. 732. 732. 732. 732. 73Planta Tipo - VI 22B - CDHU

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244244244244244 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 742. 742. 742. 742. 74Neste apartamento viveum casal com a filha edois netos. A rendafamiliar está entre 5-7S.M. Um dos netos dormeem um colchão na sala.A principal reclamação éa falta de espaço parauma mesa de refeição.

2. 752. 752. 752. 752. 75Este é um caso extremoonde vivem oito pessoas,entre mãe, filhos e quatronetos, sendo sustentadospor um S.M. recebidopela mãe.

A seguir serão então expostos alguns exemplos da situação demoradia das famílias.

Pontos de conflitos; cantos residuais

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245245245245245capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 762. 762. 762. 762. 76Neste apartamento vive

uma mãe com uma filhae dois netos. Renda

familiar está entre 1-3S.M. Mesmo de baixa

renda, as famíliasadquirem váriosaparelhos eletro

eletrônicos. Por exemplo,não é difícil encontrar

mais do que umaparelho de TV nos

apartamentos.

2. 772. 772. 772. 772. 77Uma família com cincomembros moram neste

apartamento. Houve umatentativa de colocar uma

mesa de refeições nasala, mas faltou espaço

para as cadeiras,servindo então como

mesa de apoio queacabou congestionando

mais ainda a sala.

mesa

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nte

esta

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cômoda com TV

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rack - TV e aparelho som

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mesa

Pontos de conflitos; cantos residuais

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246246246246246 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 782. 782. 782. 782. 78Esta família com quatropessoas e renda familiarentre 3-5 S.M., enfrentaum outro problemaencontrado nosapartamentos que vivembebês: no banheiro nãocabe uma banheira debebê, obrigando odeslocamento destaatividade para a sala ou,de forma muito precária,para um dos quartos. Amesa de refeição nacozinha criou umproblema sério decirculação.

2. 792. 792. 792. 792. 79Outra família com quatropessoas, e renda familiarentre 5-7 S.M. Este é umdos poucos apartamentosonde encontrou-sebeliche no dormitório.Em um outroapartamento encontrou-se uma bicama mas quenão tinha espaço para acama inferior ser puxadapara fora. A mesadobrável colocada naárea de serviço tornou-sea opção para mesa derefeições.

esta

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TV e DVD (suporte de parede)

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arm

ário

escrivaninha c/ som e computador

estante

mesa de centro

mesa c/ telefone

estante - TV

beliche com armário

rack - TV

mesa dobrável

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Pontos de conflitos; cantos residuais

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247247247247247capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 802. 802. 802. 802. 80 e 2 812 812 812 812 81Novamente o problema do sofá que

fica na frente do rack com osaparelhos de TV, DVD/vídeo e som.

2. 822. 822. 822. 822. 82O pouco espaço entre a cama decasal e o guarda-roupa dificulta aabertura das portas e gavetas do

guarda-roupa.

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248248248248248 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 832. 832. 832. 832. 83Cama de casal, cômoda eguarda-roupas: além docongestionamento, aimpossibilidade de abrirtotalmente a porta do dormitório

2. 842. 842. 842. 842. 84Cama na frente da janela:situação comum de serencontrada.

2. 852. 852. 852. 852. 85Mesa na cozinha estreita: poucoespaço no apartamento paracolocar uma mesa de refeições.

2. 862. 862. 862. 862. 86A já minúscula área de serviçoabriga a única mesa de refeiçõesdo apartamento.

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249249249249249capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

O Conjunto Habitacional Jardim São Luís, ocupado a partir de1993, situado na região sudoeste do município de São Paulo eexecutado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacionale Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), foi o objeto daavaliação pós-ocupação coordenada por Roméro e Ornstein(2003).

Para esta APO funcional foi selecionado um setor deste Conjuntocontendo 416 apartamentos distribuídos em 13 edifícios. Nestapesquisa não foram considerados somente as unidadeshabitacionais e seus edifícios, como também suacircunvizinhança, infra-estrutura, serviços, escola e as áreas livresdo conjunto. No entanto, aqui se destacará a avaliaçãofuncional dos ambientes internos dos apartamentos realizadasem 27 unidades.

As unidades habitacionais (37,69 m² de área útil) estãolocalizadas em edifícios iguais, modelo “H”, quatro pavimentoscom oito apartamentos cada. A tipologia da unidade é a VG-22A, semelhante a VI-22 F (mostrada anteriormente) com áreamenor e em uma versão ainda com o balcão entre a cozinha eo estar.

O sistema construtivo utilizado nos edifícios foi a alvenaria ar-mada de blocos de concreto, com cobertura de estrutura demadeira e fechamento em telhas cerâmicas. As esquadrias sãode ferro pintadas e as portas internas são de madeira.

As famílias que ocuparam os edifícios tinham origens diferentes.Foram destacadas as oriundas de favela (OF) e as que tiveraminscrição regular (IR). Esta diferenciação é importante, pois refletenas características sócio-econômicas como nas aspirações enos níveis de satisfação a respeito da morada. Verificou-se queno caso da amostra total na qual foram aplicados questionários(82 apartamentos), o número de ocupantes por unidade é su-perior naqueles ocupados por OF (em média 4,15 ou 8,36 m²

Jardim São LJardim São LJardim São LJardim São LJardim São Luísuísuísuísuís

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250250250250250 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

úteis por morador) do que naqueles ocupados por IR (em média3,79 ou 9,62 m² úteis por morador). Quanto a formação fa-miliar, 15% das famílias IR são formadas por pai, mãe e filhos,enquanto 9% das famílias OF são apenas de mãe e filhos. Arenda familiar de 1 a 5 salários mínimos predomina nosmoradores OF (76%), e de 1 a 7 salários mínimos dos IR (75%).O grau de insatisfação quanto à adequação ao uso doapartamento é maior entre os moradores de IR (tamanho daárea de serviço, da cozinha e a situação do local para passarroupa), ao passo que os moradores OF apresentaraminsatisfação apenas quanto ao tamanho da área de serviço eao espaço para trabalho extra (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003,p.65-66).

2. 872. 872. 872. 872. 87vista do entorno –diferentes tipologiaspara habitação deinteresse social(ROMÉRO; ORNSTEIN,2003, p.32).

2. 882. 882. 882. 882. 88perspectiva isométrica domódulo de edifícios – doisedifícios e caixa de escada(ROMÉRO; ORNSTEIN,2003, p.35).

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251251251251251capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Resumindo os aspectos relevantes provenientes dos diagnósticosdecorrentes da avaliação técnica e da aferição da satisfaçãodos usuários têm-se os seguintes itens referentes aos ambientesinternos dos apartamentos (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003, p.77):

• layout inadequado ao uso especialmente de banheiro,cozinha e área de serviço;

• layout e dimensões inadequadas de todos os cômodos,mobiliário, instalações e equipamentos elétricos ehidrossanitários a portadores de deficiência;

• relação inadequada entre área útil total do apartamentoe repertório de mobiliário “popular” existente nomercado;

• privacidade limitada entre apartamentos devido àintensidade de ruídos.

2. 902. 902. 902. 902. 90CDHU - VG-22A – Jardim São Luís - isométrica do mesmoapartamento (ROMÉRO; ORNSTEIN, 2003, p.62).

2. 892. 892. 892. 892. 89CDHU - VG-22A – Jardim

São Luís - Exemplo delevantamento em planta

realizado em um dosapartamentos com formasde ocupação, mobiliário eequipamentos (ROMÉRO;ORNSTEIN, 2003, p.62).

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252252252252252 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Entre as recomendações apontadas por Roméro e Ornstein(2003, p.78) está a revisão do espaço habitacional de inter-esse social proposto para as regiões metropolitanas brasileirasbaseada em uma agenda de estudos e pesquisas interligadas.Entre estes estudos estaria uma ampliação dos levantamentose análises técnico-funcionais dos conjuntos habitacionaisdestinados à população de baixa renda e na aferição dos níveisde satisfação dos usuários/moradores, visando à estruturaçãode banco de dados contendo diagnósticos e recomendações.Além disto, apontam também para um reestudo dimensionaldos cômodos, calcado na coordenação modular e nasvolumetrias dos ambientes.

Conjunto Habitacional PConjunto Habitacional PConjunto Habitacional PConjunto Habitacional PConjunto Habitacional Pari Aari Aari Aari Aari A

2. 912. 912. 912. 912. 91Pavimento tipo mostrando acomposição dos oito apartamentos(BARROS, 2003, p.833)

2. 922. 922. 922. 922. 92Foto de uma das torres(BARROS, 2003, p.833)

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253253253253253capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

Pari A é um empreendimento da Companhia deDesenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), localizadona área central do município de São Paulo, no bairro Pari, parafamílias originárias de áreas encortiçadas (Programa de Atuaçãoem Cortiços – PAC). São 160 unidades, compostas em duastorres com térreo não habitado e mais 10 pavimentos (8unidades por pavimento). As unidades possuem área privativa(e não útil) de 42,42 m².

Utilizando-se de um instrumental metodológico apoiado emtécnicas de APO, Barros (2003) fez uma análise comparativade diferentes arranjos de mobiliário, dentro de um espaçouniforme para conhecer como as famílias oriundas de imóveisencortiçados, onde o espaço disponível é insuficiente para odesenvolvimento das funções de habitar, se apropriam dessenovo espaço, da unidade habitacional completa, onde hádelimitação física e definição clara dos ambientes.

Do levantamento realizado, Barros (2003, p.836-837) constatoua seguinte situação:

• A inexistência de incorporação de espaço para comércio,um atelier de costura, uma oficina de consertos;

• Disposição em ângulos retos entre si da mesa derefeições, sofás e poltronas que compõem o mobiliáriodo ambiente estar;

• Houve por parte dos mutuários, tentativa de adaptar erecompor uma geometria conhecida, com o mobiliáriodo ambiente estar, que na maioria das vezes não éplenamente satisfatório para as atividades atuais;

• A flexibilidade do arranjo do mobiliário pode serconsiderada insatisfatória nos ambientes estar e cozinhadessa tipologia habitacional;

• Disponibilidade de espaço para lavar roupas, guardare preparar alimentos foi considerada insatisfatória e ruim.

Além dos itens acima destacados sobre as 20 unidadeshabitacionais pesquisadas, acrescenta-se o comprometimento

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254254254254254 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

no uso de alguns móveis pela inexistência de recuosergonômicos necessários. Das avaliações apresentadas,percebe-se que a disposição do mobiliário de acordo com asrecomendações projetuais não se efetiva na realidade. Comesta verificação levantou-se a necessidade de avaliaçõesgraduais qualitativas do projeto in loco (BARROS, 2003, p.838).

2. 932. 932. 932. 932. 93Proposta de lay-out commobiliário padrão(BARROS, 2003, p. 837).

2. 942. 942. 942. 942. 94Unidade habitacional 17(arquivo de Lia A. F.Barros, PAC-CDHU)

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255255255255255capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 962. 962. 962. 962. 96Unidade habitacional

86 (arquivo de Lia A. F.Barros, PAC-CDHU)

2. 952. 952. 952. 952. 95Unidade habitacional 63

(arquivo de Lia A. F.Barros, PAC-CDHU)

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256256256256256 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

O Conjunto Habitacional Santa Etelvina encontra-se noComplexo Cidade Tiradentes, situado na zona leste da cidadede São Paulo. Este Complexo abriga vários conjuntos daCOHAB-SP (além do Santa Etelvina, Castro Alves, SítioConceição, Prestes Maia, Inácio Monteiro e Juscelino Kubitschek)construídos ao longo das décadas de 1980 e 1990. O maiorconjunto entre eles é o Santa Etelvina, onde vivemaproximadamente 137.905 hab. em 26.725 unidadeshabitacionais (COHAB-SP).

Foi neste conjunto que Cavalcanti (2002) desenvolveu seutrabalho buscando os conflitos gerados quando os moradoresutilizam o exíguo espaço doméstico para desenvolver algumaatividade de trabalho. Esta realidade expõe a situação dahabitação como a ponta do iceberg de problemas sociais, en-tre eles o de emprego e renda. Embora não se insira nestapesquisa a discussão maior sobre a sustentabilidade sócio-econômica dos conjuntos habitacionais construídos, que envolveuma discussão mais ampla sobre toda uma questão de inclusãosocial e integração urbana, não se pode ignorar a necessidadede espaços para desenvolver outras atividades no ambientedoméstico que não seja o simples morar, quando se trata deuma conjuntura econômica de disponibilidade cada vez menorde empregos.

Enquanto a classe média opta por trabalhar em casa por umaquestão de tecnologia, tempo ou comodidade, na classepopular e apesar da tecnologia, a realidade é outra, a“solução” está ligada, na maioria das vezes, à falta de opção:é uma questão de sobrevivência. Também conseqüência datecnologia no mundo do trabalho (CAVALCANTI, 2002, p.63).

No entanto, sem entrar no mérito desta problemática maisampla, foram resgatados deste trabalho os levantamentosrealizados no interior de algumas habitações que ratificam odiagnóstico já exposto nos exemplos anteriores.

Santa Etelvina - Cidade TSanta Etelvina - Cidade TSanta Etelvina - Cidade TSanta Etelvina - Cidade TSanta Etelvina - Cidade Tiradentesiradentesiradentesiradentesiradentes

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257257257257257capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

A média de pessoas vivendo em cada unidade era de 4,3habitantes. Porém existe uma oscilação constante no númerode moradores em cada habitação próprio de mudançasfreqüentes nas relações familiares. Das 45 unidadespesquisadas, 18 delas abrigavam mais de um núcleo familiar,caracterizando uma espécie de “encortiçamento” das unidades(CAVALCANTI, 2003, p.66).

2. 972. 972. 972. 972. 97Conjunto Santa Etelvina IIA - Unidade 11 –Tipologia MOD A01 – área total = 41,82m². Abriga duas famílias em um total de 7

moradores (casal, três filhos, um genro e umneto). Os conflitos funcionais ocorrem

principalmente em função do número demoradores em uma pequena área habitável

com design de mobiliário inadequado(CAVALCANTI, 2003, p.153 e 155).

2. 982. 982. 982. 982. 98Conjunto Santa Etelvina VIA - Unidade 9 –

Tipologia PHM 07 – área total = 40,57 m².Esta unidade também abriga dois núcleos

familiares totalizando 5 pessoas (casal, doisfilhos e uma nora). (CAVALCANTI, 2003,

p.137-140).

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258258258258258 capítulo 2.3 - Avaliação Pós-Ocupação

2. 992. 992. 992. 992. 99Conjunto Santa Etelvina IA - Unidade1 – área total = 50,28 m². Emboraeste apartamento abrigue somente 3pessoas, existe um conflito evidentenos dormitórios pelo tamanho dosmóveis. (CAVALCANTI, 2003, p.80-82).

RRRRRecomendaçõesecomendaçõesecomendaçõesecomendaçõesecomendações

O aumento da área útil está entre as recomendações queaparecem após algumas Avaliações Pós-Ocupação realizadasem unidades de conjuntos habitacionais. Alguns autores(MASCARÓ, 1998; ROMÉRO; ORNESTEIN, 2003; CANTERO,2004) afirmam que o simples aumento de alguns metrosquadrados seria suficiente para acrescentar em muito aqualidade funcional das habitações. Outros (SANTOMAURO,2005) chamam a atenção para o sistema construtivo daalvenaria de bloco de concreto que dificulta uma flexibilizaçãodos espaços e integração entre cômodos. Unanimidade temsido a questão da inadequação dos móveis para espaços tãopequenos.

Na próxima parte deste capítulo, serão tratados, com maisprofundidade, sobre as características deste produto, enfocandoprincipalmente o contexto da produção e comercialização emque ele se encontra.

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259259259259259capítulo 2.4 - o móvel popular

2.4 - O MÓVEL POPULAR -2.4 - O MÓVEL POPULAR -2.4 - O MÓVEL POPULAR -2.4 - O MÓVEL POPULAR -2.4 - O MÓVEL POPULAR -CARACARACARACARACARACTERÍSTICASCTERÍSTICASCTERÍSTICASCTERÍSTICASCTERÍSTICAS, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO, PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO

Para concluir a discussão sobre os principais elementosapontados como vilões do congestionamento e da baixaqualidade funcional das habitações mínimas analisadas pelasAPOs, como os subsistemas construtivos, a área reduzida e osmóveis inadequados, busca-se aqui uma compreensão maisaprofundada deste último elemento no sentido de apontar osprincipais fatores a serem trabalhados em um projetotecnológico. Será através da exposição da estrutura produtivae comercial que se elucidará uma faceta, talvez pouco discutida,deste produto tão criticado em termos de qualidade de designe de materiais.

O setor de móveis residenciais pode ser segmentado de acordocom a faixa de mercado para a qual as peças são produzidas.Têm-se então os móveis de luxo ou feitos para a classe alta, osdirecionados para a classe média e os conhecidos móveispopulares, para os consumidores de menor poder aquisitivo. 11111

Com a estabilidade econômica, novas parcelas de consumidoresforam incorporados ao mercado de móveis, incrementandoprincipalmente o segmento de móveis populares.

A produção destes móveis é realizada por médias e grandesempresas, a maioria com utilização de maquinário de últimageração (com controle numérico computadorizado - CNC), paraproduzir com o menor custo possível. Mesmo nas grandes

PPPPProdução industrial sem design industrialrodução industrial sem design industrialrodução industrial sem design industrialrodução industrial sem design industrialrodução industrial sem design industrial

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260260260260260 capítulo 2.4 - o móvel popular

empresas, a planta industrial ainda é considerada muito grandepela produção tão verticalizada que caracteriza a indústriamoveleira. Como as mais variadas etapas de produção precisamocorrer em uma mesma planta, isto pode resultar em uma menoreficiência e escalas de produção mais reduzidas. A causa destasituação deve-se à carência de fornecedores especializados empartes e componentes de móveis. Um exemplo de tendênciamundial são os fornecedores de chapas pré-cortadas nasespecificações dos produtos de móveis. Com a terceirizaçãodessa parte da produção, elimina-se um setor da planta indus-trial.

A falta de design percebida nos móveis não é exclusividade dospopulares. Para muitos, o design se restringe ao aspecto estéticodo produto, e quase todas as indústrias moveleiras nãoincorporam esse fator em sua produção industrial. Odesconhecimento da abrangência do design leva os industriaisa considerá-lo algo dispensável. Esta visão começa a mudarpaulatinamente, pois as indústrias estão descobrindo no de-sign um instrumento para aumentar sua competitividade nomercado.

O desenvolvimento de um novo design envolve diversos aspectosfavoráveis, entre eles a diminuição do uso de materiais, deenergia e do número de partes de um produto e a redução dotempo de fabricação. Assim, o design extrapola a área estéticae representa um aumento da eficiência global na fabricaçãodo produto, incluindo práticas que minimizem a agressão aomeio ambiente. Além disso, o design pode incorporar em umproduto industrial a necessidade de uso diferenciado de ummóvel, uma melhor adequação ao espaço para o qual sedestina, dimensões e formas mais adequadas para determinadasfunções, enfim, inovações que não só beneficiam o trabalhoindustrial como também o consumidor final (FOLZ, 2003).

A pesquisa de mercado é outro ponto preterido pela indústriamoveleira nacional. A opinião dos representantes, do vendedorou do varejista é considerada suficiente para definir novos

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261261261261261capítulo 2.4 - o móvel popular

PPPPPerfil das Indústrias Moveleiraserfil das Indústrias Moveleiraserfil das Indústrias Moveleiraserfil das Indústrias Moveleiraserfil das Indústrias Moveleiras

produtos. Não se tem conhecimento das aspirações doconsumidor final, portanto, não se sabe a razão do sucesso ouinsucesso desses produtos (COUTINHO, 2001). Ou seja, nãoexiste uma avaliação pós-uso como têm existido as avaliaçõespós-ocupação realizadas nas edificações. Este tipo de avaliaçãoem produtos tem sido desenvolvida por vários pesquisadoresno Brasil dentro da disciplina da Ergonomia (ERGODESIGN,6., 2006). Aliás, estas duas avaliações poderiam sercomplementares no sentido de avaliar o móvel inserido noespaço doméstico.

Como discorrido no primeiro capítulo, ainda existe no Brasil afalta de cultura do design em todos os níveis. As iniciativas dediferentes órgãos públicos e outras instituições para revertereste quadro começam a colher os seus primeiros frutos, talvezrefletida na criação das várias escolas de ensino superior dedesign. Embora esteja existindo uma verdadeira “febre” ondetudo é tratado como objeto inerente à disciplina do design,havendo uma extrema segmentação da área (design social,design e sutentabilidade, design e ambiente construído, designde redes, design de jóias, design da superfície, design e estética,design cultural...), esta saturação pode, por outro lado, estarabrindo o caminho necessário para o desenvolvimento daqualidade geral dos produtos industriais, inclusive dos móveis.

Para se conhecer um pouco melhor as indústrias de móveis queatendem as grandes redes varejistas e, consequentemente,atingem o consumidor de baixa renda, foi realizado umlevantamento junto a estas indústrias. Parte das informaçõesforam conseguidas mediante fontes primárias, quando seentrevistou dezenove empresas. Uma outra parte dasinformações foi levantada através de dados disponíveis nos sitesinstitucionais, perfazendo um total de cinqüenta empresas. Todas

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262262262262262 capítulo 2.4 - o móvel popular

elas são fornecedoras de pelo menos uma das redes varejistascom lojas nos municípios paulistas. 2 2 2 2 2

Dentre estas empresas, a maioria (58%) é composta por indústriade porte médio, com mais de 200 empregados e produçãomensal superior à 15.000 peças/mês. Abaixo deste porte, estãodez pequenas empresas. Existem também as grandes indústrias(12%) com produção acima de 65.000 peças/mês, contandocom mais de 600 colaboradores. Outras cinco empresas nãodisponibizaram dados sobre esta questão.

Gorini (2000, p.57) afirma que a partir da década de 1990, asindústrias de móveis investiram fortemente na renovação deseu maquinário, principalmente com equipamentos importadosprovenientes, em grande parte, da Itália e da Alemanha. Alémdisto, houveram investimentos em automação e controle dequalidade. Este processo de modernização está muito presentenas empresas de médio e grande porte que atendem as redesvarejistas.

Produzindo, em sua expressiva maioria (83%), móveis retilíneos(racks, estantes, cômodas, camas, guarda-roupas, mesas paracomputador, armários de cozinha), algumas destas empresaspossuem linhas inteiras de produção com máquinas flexíveis deúltima geração com controle numérico. Isto é possível pelo usointensivo das chapas de aglomerado e de MDF. As indústriasde estofados (sofás e poltronas), por sua vez, são em menornúmero, com nível tecnológico mais baixo e de menor porte.Seu processo de fabricação dificulta uma automação na linhade produção.

Muitas destas empresas, por atingirem alta produtividade,passaram a exportar. Do total das 50 indústrias pesquisadas,26 delas exportam e 24 não.

Os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná,São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo abrigam os principaispólos moveleiros do Brasil. As empresas pesquisadas possuem

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263263263263263capítulo 2.4 - o móvel popular

suas instalações, em sua grande maioria, em múnicípios vizinhosaos pólos moveleiros de Votuporanga e Mirassol - SP (34%) ede Arapongas - PR (24%). Destacam-se também Ubá - MG,Linhares - ES e Bento Gonçalves - RS.

Embora se tratem de empresas de médio e grande porte, aexistência de uma equipe de desenvolvimento de produtos ouo trabalho com designers externos ainda é muito reduzido,ratificando o que havia sido comentado anteriormente. Dasempresas pesquisadas, identificou-se que 30% delas trabalhamcom designers externos. São muito poucas as que possuemuma equipe própria de desenvolvimento de produtos compostapor designers.

Com as entrevistas realizadas com as dezenove indústrias, pôde-se ter uma aproximação maior sobre o móvel produzido.Quando se questionou sobre a definição do produto, a primeiraresposta foi que ela é baseada na opinião dos representantesou clientes/lojistas. Em segundo lugar, destacou-se a pesquisade mercado e, por último, o trabalho de designers.

Embora se fale muito em móveis modulados, o conceito demodulação é tratado superficialmente. Da metade dosentrevistados que afirmam possuir móveis com móduloscomponíveis, a modulação identificada está mais evidente nosmóveis de cozinha. O dimensionamento dos produtos é dadoprincipalmente pelo tamanho das chapas de aglomerados e deMDF, além de serem seguidas as dimensões que existem nomercado. Alguns citaram as pesquisas ergonômicas e acoordenação modular como parâmetros para a definição dasdimensões dos móveis.

Sobre a desmontabilidade, a grande maioria (90%) afirma queseus móveis são desmontáveis. Isto faz parte do processoprodutivo dos móveis retilíneos que se limita às poucas etapasde corte de painéis, usinagem, acabamento e embalagem,deixando a montagem por conta do varejista.

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264264264264264 capítulo 2.4 - o móvel popular

A metade das empresas afirmaram que fazem avaliação pós-uso de seus produtos. Não ficou claro de que forma estasavaliações são feitas: se são apenas reclamações ouobservações vindas dos vendedores das lojas ou representantes,como sendo o canal direto com a indústria, ou são avaliaçõescom o usuário final. Pelo perfil da prática das indústriasmoveleiras, poder-se-ia afirmar que a primeira opção parecemais provável.

Vale lembrar que o termo “popular” para móveis está sendobanido do vocabulário do mercado. Primeiro por denotar umaqualidade depreciativa ao produto, portanto não desejável paraos comerciantes, e segundo pelas próprias características dosmóveis comercializados pelas redes varejistas, que atendemtanto famílias de baixa renda como de classe média. Isto épermitido pelo design não diferenciado dos produtos,restringindo a diferenciação pela qualidade e quantidade dematerial utilizado no móvel.

Isto é confirmado pelos depoimentos de empresários da indústriamoveleira colhidos na Feira de Móveis MOVELSUL 33333, em 2000,quando falam que o móvel popular se diferencia principalmentepela matéria-prima. Esta vai “encolhendo”, se comparada coma matéria-prima utilizada em móveis destinados a consumidoresde maior poder aquisitivo. Por exemplo, em móvel tubularmetálico, em vez de um tubo de uma polegada ou de uma emeia, é utilizado um tubo de três quarto, ou cinco oitavos depolegada. A chapa aglomerada com revestimento melamínicode baixa pressão (BP), mais resistente, é substituída pela chapafinish-foil (FF), isto considerando que a chapa BP já é umasubstituta mais barata do laminado decorativo de alta pressão(conhecido como “fórmica”). As bordas são de plástico (PVC)ou mesmo de papel, no lugar da lâmina de madeira ou fórmica.

Características do móvel popularCaracterísticas do móvel popularCaracterísticas do móvel popularCaracterísticas do móvel popularCaracterísticas do móvel popular

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265265265265265capítulo 2.4 - o móvel popular

O assento da cadeira não tem os usuais 40 cm de diâmetro,mas, sim, 35 cm. A profundidade de 56 cm do roupeiro sereduz a 47 cm nos móveis populares. Os acessórios são outros.Muitas vezes a corrediça metálica das gavetas são substituídaspelas de plástico ou mesmo por simples guias de madeira depínus ou eucalipto.

Os puxadores são muito mais simples, porém, na tentativa deagregar maior valor, muitos são produzidos em plástico comacabamento dourado ou prateado para imitar o metal. Alémdisso, são oferecidas menos opções. Porém, o maquinárioutilizado é o mesmo empregado em qualquer outro segmentode móveis residenciais e, se forem somados todos os aspectosque diferenciam um móvel popular dos demais, chega-se auma redução de 60% ou mais em seu custo final (FOLZ, 2003,p.100-102).

Mesmo com toda esta economia de material, as dimensões demuitas peças são desproporcionais com o espaço que vãoocupar na habitação. O que tem se verificado inclusive são aspromoções de móveis “enormes” que ficam encalhados e queno final sempre encontram um comprador, sem noção dedisponibilidade espacial de sua moradia.

É possível identificar dois agentes causadores da quantidadeexcessiva de peças de mobiliário na habitação popular: a ofertade conjuntos fechados de móveis; e a venda de produtosexcessivamente grandes a preços promocionais. Ambosdecorrentes da política de comercialização de mobiliáriopopular através das grandes magazines e lojas especializadas(SANTOMAURO, 2005, p. 43).

O problema das dimensões do móvel popular foi objeto dapesquisa do Prof. José Jorge Boueri (FAU-USP) que confrontouaquilo que é oferecido no mercado com o que é exigido peloManual Técnico de Engenharia da Caixa Econômica Federal,como orientação para apresentação de empreendimentoshabitacionais do setor privado. Quase todos os móveis medidoseram maiores do que o sugerido como mínimo pela Caixa, e

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266266266266266 capítulo 2.4 - o móvel popular

Tabela 1- Dimensões mínimas de mobiliário ecirculação – casas e apartamentos (baseada emCAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2002)

que com isto não atenderiam a circulação mínima exigida(VALENTE, 2003). Ou seja, a expectativa dimensional da Caixanão corresponde com o que é produzido pela indústriamoveleira.

Estudo semelhante foi realizado na presente pesquisaconfrontando-se as dimensões dos móveis encontrados nosConjuntos Habitacionais Romeu Santini, Waldomiro LobbeSobrinho e na Vila Tecnológica-Ribeirão Preto (ver capítulo 2.3),com o oferecido por uma das maiores redes varejistas de móvelpopular (Magazine Luiza) e com o exigido pela Caixa EconômicaFederal. Relacionou-se então as larguras e profundidas mínimase máximas, não estando estas dimensões necessariamente emuma única peça, como se pode verificar na Tabela 2 (p.268).

Não existe um padrão dimensional para nenhum tipo de móvel,inclusive para eletrodomésticos, principalmente fogões egeladeiras, sobre o qual se basear para delimitar áreas mínimasde circulação. Com isto qualquer lay-out previsto para estashabitações corre o sério risco de não se efetivar na realidade,provocando um congestionamento tanto pela maior dimensãocom que os móveis são produzidos como pela localização detomadas que forçam o posicionamento no cômodo de algunsdestes móveis.

A seguir são apresentadas duas tabelas. A Tabela 1 é a queestá inserida no Manual Técnico da Caixa Econômica Federalcomo exigência de dimensões mínimas para mobiliário ecirculação para empreendimentos habitacionais. A Tabela 2 éa apresentação do comparativo das dimensões dos móveisexigidos pela Caixa Econômica Federal com o encontrado nosConjuntos Habitacionais e no Magazine Luiza.

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267267267267267capítulo 2.4 - o móvel popular

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268268268268268 capítulo 2.4 - o móvel popular

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269269269269269capítulo 2.4 - o móvel popular

Com a relação dos móveis encontrados nas habitaçõespesquisadas, percebeu-se que algumas peças que costumavamfazer parte de um conjunto tiveram que ser eliminadas pelopequeno espaço disponível, como é o caso da mesa de centroque acompanhava o jogo de estofados na sala de estar e doscriados mudos que ficavam ao lado da cama de casal.

Segue abaixo a relação destes móveis sendo ilustrados com oque normalmente é oferecido nas redes varejistas. Nota-se quealguns deles são volumosos e todos são monofuncionais, comraríssima exceção para o sofá-cama, pouco encontrado nashabitações pesquisadas.

SALA ESTAR/JANTAR

Conjunto de EstofadosConjunto de EstofadosConjunto de EstofadosConjunto de EstofadosConjunto de Estofados

O Conjunto de estofados é formado geralmente por um sofáde três lugares e um de dois lugares. São produzidos com umaestrutura de madeira de pinus ou eucalipto, espumas dediferentes densidades para o assento, o encosto e os braços, erevestimentos de tecidos variados.

* Conjuntos Habitacionais Romeu Santini (COHAB-RP,São Carlos-SP), Waldomiro Lobbe Sobrinho (CDHU, SãoCarlos-SP) e Vila Tecnológica - Ribeirão Preto.

Tabela 2 - Comparativo entre as dimensõesmínimas de mobiliário exigido pela CaixaEconômica Federal com o encontrado nosConjuntos Habitacionais e no Comércio.

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270270270270270 capítulo 2.4 - o móvel popular

EstantesEstantesEstantesEstantesEstantes

Estantes são armários com partes abertas (prateleiras sem portas)comumente encontrados nas salas, sendo utilizados para apoiaraparelhos de imagem e som (televisão, vídeo cassete, DVD/CD, toca fitas...), além de objetos de decoração. Sua parteinferior geralmente é fechada por algumas portas, servindo delocal para armazenamento. Sua altura gira em torno de 1,60 a1,90 m. Atualmente são produzidas em MDF (Medium DensityFiberboard ) e aglomerado, produtos derivados da madeira. Oacabamento é definido por uma impressão de diferentes padrões(marfim, mogno, tabaco, branco) e verniz alto brilho curadopor ultra-violeta (UV).

2. 1002. 1002. 1002. 1002. 100 e 2. 1012. 1012. 1012. 1012. 101Estofados disponíveis

para a venda nas lojasdo Magazine Luiza

(loja virtual -www.magazineluiza.com.br).

2. 102, 2. 103,2. 102, 2. 103,2. 102, 2. 103,2. 102, 2. 103,2. 102, 2. 103,2. 104, 2. 1052. 104, 2. 1052. 104, 2. 1052. 104, 2. 1052. 104, 2. 105

Estofadosoferecidos naslojas J. Mahfuz

(folheto impresso).

2. 106, 2. 107, 2. 1082. 106, 2. 107, 2. 1082. 106, 2. 107, 2. 1082. 106, 2. 107, 2. 1082. 106, 2. 107, 2. 108Estofados das lojas Colombini (loja virtual - www.colombini.com.br).

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271271271271271capítulo 2.4 - o móvel popular

2. 1092. 1092. 1092. 1092. 109Estante encontrada no Magazine Luiza (lojavirtual - www.magazineluiza.com.br).

2. 1102. 1102. 1102. 1102. 110 e 2. 1112. 1112. 1112. 1112. 111Estantesoferecidas por J.Mahfuz (folhetoimpresso)

2. 1122. 1122. 1122. 1122. 112 e 2. 1132. 1132. 1132. 1132. 113Estantes anunciadas no folheto das Lojas Colombini (loja virtual -www.colombini.com.br).

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RRRRRackackackackack

O rack se diferencia da estante principalmente por sua altura(aprox. 70 a 90 cm) e como móvel quase que específico paraaparelhos de som e televisão/DVD/vídeo. Por estascaracterísticas, são móveis mais compactos encontrados comgrande freqüência nas habitações pesquisadas. Seu material eacabamento são os mesmos utilizados na estante (MDF,aglomerado, impressão e verniz UV).

2. 1202. 1202. 1202. 1202. 120Rack -Colombini (loja virtual -www.colombini.com.br).

2. 118 2. 118 2. 118 2. 118 2. 118 e 2. 1192. 1192. 1192. 1192. 119Racks - J. Mahfuz (folheto

impresso).

2. 1142. 1142. 1142. 1142. 114, 2. 1152. 1152. 1152. 1152. 115, 2. 1162. 1162. 1162. 1162. 116 e 2. 1172. 1172. 1172. 1172. 117Racks encontrados no Magazine Luiza (loja virtual -www.magazineluiza.com.br).

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273273273273273capítulo 2.4 - o móvel popular

Conjunto de mesa e cadeirasConjunto de mesa e cadeirasConjunto de mesa e cadeirasConjunto de mesa e cadeirasConjunto de mesa e cadeiras

Quando existe espaço na sala, geralmente são encontradasmesas retangulares, por vezes ovaladas, para quatro ou seiscadeiras e mesas redondas pequenas (diâmetro até 1,15 m).Encontram-se também cadeiras e mesas tubulares metálicascom tampos de granito, mas as mesas usadas na sala sãogeralmente de madeira maciça (pés e travessas) com tampoem MDF e acabamento em diferentes padrões. As cadeiras sãoem madeira maciça (pinus tingido) com assento estofado emcorino ou tecido.

2. 1212. 1212. 1212. 1212. 121, 2. 1222. 1222. 1222. 1222. 122 e 2. 1232. 1232. 1232. 1232. 123Mesa com tampo em granito e cadeira tubulares metálicas, e mesas comestrutura em madeira maciça e tampo em MDF - Magazine Luiza (lojavirtual - www.magazineluiza.com.br).

2. 1242. 1242. 1242. 1242. 124, 2. 125 2. 125 2. 125 2. 125 2. 125 e 2. 1262. 1262. 1262. 1262. 126Mesa com tampo emgranito e cadeira tubularesmetálicas, e mesas comestrutura em madeiramaciça e tampo em MDF -J.Mahfuz (folhetoimpresso).

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274274274274274 capítulo 2.4 - o móvel popular

2. 1272. 1272. 1272. 1272. 127, 2. 1282. 1282. 1282. 1282. 128, 2. 1292. 1292. 1292. 1292. 129, 2. 1302. 1302. 1302. 1302. 130, 2. 131 2. 131 2. 131 2. 131 2. 131 e 2. 1322. 1322. 1322. 1322. 132Camas de casal e solteiro em MDF ou madeira maciça com tingimentoou impressão nos padrões atuais (mogno, tabaco e marfim) - MagazineLuiza (loja virtual - www.magazineluiza.com.br).

DORMITÓRIOS

CamasCamasCamasCamasCamas

Atualmente as camas são produzidas em sua grande maioriaem MDF, com exceção do estrado que é de madeira maciça.Assim como os outros móveis produzidos neste material, seuacabamento é feito com impressão em diferentes padrões everniz UV. Mesmo as camas produzidas em madeira maciçasofrem tingimento para adquirirem um dos tons padrão - mogno,marfim ou tabaco.

2. 1332. 1332. 1332. 1332. 133, 2. 1342. 1342. 1342. 1342. 134 e 2. 1352. 1352. 1352. 1352. 135 - Camas - J. Mahfuz (folheto impresso).

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275275275275275capítulo 2.4 - o móvel popular

Guarda-roupasGuarda-roupasGuarda-roupasGuarda-roupasGuarda-roupas

A grande mudança nos guarda-roupas, ou roupeiros, nosúltimos anos, foi as gavetas que passaram a ser externas, poucocomum até final da década de 1980. Estas gavetas ganharamcorrediças metálicas ou plásticas. Uma parte que, aos poucos,está desaparecendo nos modelos atuais é o maleiro que estariaacima da altura da porta completando o pé-direito. Esta parteseria muito útil para espaços com reduzidas áreas dearmazenamento. O corpo do guarda-roupa que antes era decompensado e aglomerado, atualmente é feito também de MDF.As dobradiças são metálicas, mas os puxadores são de ABS(material plástico) metalizado. O acabamento segue o padrãodos demais móveis, com impressão e verniz UV.

2. 136, 2. 136, 2. 136, 2. 136, 2. 136, 2. 1372. 1372. 1372. 1372. 137 e 2. 1382. 1382. 1382. 1382. 138Guarda-roupas - Magazine Luiza (loja virtual - www.magazineluiza.com.br).

2. 1392. 1392. 1392. 1392. 139 e 2. 140 2. 140 2. 140 2. 140 2. 140 - Guarda-roupas - J. Mahfuz (folheto

impresso).

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276276276276276 capítulo 2.4 - o móvel popular

2. 1412. 1412. 1412. 1412. 141 e 2. 1422. 1422. 1422. 1422. 142Guarda-roupas -Colombini (loja virtual - www.colombini.com.br).

CômodasCômodasCômodasCômodasCômodas

Alguns modelos de cômoda acompanham o padrão de outrosmóveis do dormitório. Compostas principalmente de gavetas,são usadas como peça complementar, principalmente paraguardar roupas, mas também como apoio de aparelho detelevisão e/ou som. São produzidas em aglomerado e em MDF,geralmente com corrediças metálicas, puxadores em ABSmetalizado e acabamento com impressão e verniz UV.

2. 143, 2. 143, 2. 143, 2. 143, 2. 143, 2. 1442. 1442. 1442. 1442. 144 e 2. 1452. 1452. 1452. 1452. 145Cômodas - alguns modelos acompanhando o padrão de outros móveis de dormitório -Magazine Luiza (loja virtual - www.magazineluiza.com.br).

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277277277277277capítulo 2.4 - o móvel popular

2. 1462. 1462. 1462. 1462. 146 e 2. 1472. 1472. 1472. 1472. 147 - Cõmodas.Utilizadas também como apoio

de aparelho de televisão - J.Mahfuz (folheto impresso).

COZINHA

Armários e gabinetesArmários e gabinetesArmários e gabinetesArmários e gabinetesArmários e gabinetes

Os armários de cozinha são geralmente oferecidos em diferentesmódulos: armários de parede (a ser afixado sobre balcão ousobre geladeira), paneleiro (módulo alto com pés), balcão (ougabinete). Existe ainda o Kit, móvel que conjuga o gabinetecom armário e prateleira na parte superior, com altura em tornode 1,90 m. São muito conhecidos os armários de cozinha emaço com pintura eletrostática. Neste caso existe umacombinação de gavetas plásticas, dobradiças metálicas, fechomagnético, puxadores em ABS metalizados. São oferecidostambém módulos produzidos com derivados de madeira epintura em verniz alto brilho.

2. 1482. 1482. 1482. 1482. 148 e 2. 1492. 1492. 1492. 1492. 149Balcão ou gabinete. O daesquerda é feito em aço e o dadireita em derivados de madeira- Magazine Luiza (loja virtual -www.magazineluiza.com.br)

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278278278278278 capítulo 2.4 - o móvel popular

A baixa qualidade de muitos destes móveis comercializadosnas grandes redes varejistas é objeto de reclamações registradasno PROCON (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor).O surgimento do Código de Defesa do Consumidor (1991)permitiu às pessoas demonstrar a sua insatisfação com a comprade vários produtos, inclusive de móveis. As maiores reclamaçõesregistradas concentram-se na entrega, montagem e qualidadedos móveis. Alguns lojistas justificam a falta de qualidade pelobaixo preço do produto, sem considerar os requisitos básicosexigidos pelo Código (KRAUSE, 1997,p.140).

De acordo com pesquisa realizada por entidade do setor, temsido solicitado pelo consumidor a comercialização dos móveis‘fáceis de limpar, funcionais, duráveis, resistentes, de múltiplosusos, e que ocupem pouco espaço’ (KRAUSE, 1997,p.142).

2. 1502. 1502. 1502. 1502. 150Conjunto de módulos: paneleiro, armáriode parede e armário de geladeira - Maga-zine Luiza (loja virtual -www.magazineluiza.com.br)

2. 1512. 1512. 1512. 1512. 151 e 2. 1522. 1522. 1522. 1522. 152Kit - conjuga gabinete earmário - J. Mahfuz (folhetoimpresso)

2. 1532. 1532. 1532. 1532. 153Conjunto de módulos: gabinete,armário de parede, armário degeladeira e paneleiro - J. Mahfuz(folheto impresso)

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279279279279279capítulo 2.4 - o móvel popular

Resta saber como estas informações estão sendo tratadas pelosetor produtivo, tanto as reclamações registradas no PROCONquanto a opinião do consumidor.

A comercialização de móveis populares é feita em sua grandemaioria através de redes varejistas que possuem lojas distribuídasem vários municípios. No estado de São Paulo, as principaisredes são a Casas Bahia, o Magazine Luíza, as Lojas Cem eMarabraz, sendo que a última atua principalmente na regiãometropolitana de São Paulo e no litoral. Algumas destas redestornaram-se verdadeiros bancos populares que concedemcrédito para facilitar e estimular o consumo.

Na realidade, a classe econômica denominada C (renda decinco a dez salários mínimos), D (de dois a cinco mínimos) e E(menos de dois mínimos), excluídas até então do sistema for-mal de crédito e que representam 77% da população brasileirae 71% do consumo no Brasil (SHOW do crediário, 2006),passaram a ser a grande alavanca do aumento recente da ofertade crédito. 44444

Um dos grandes fenômenos de rede varejista deeletrodomésticos e móveis do país, a Casas Bahia, foi uma dasprimeiras a apostar na força do consumo popular, associando-se inclusive com o Banco Bradesco para financiar parte de suasvendas a prazo. Este tipo de política desenvolvida pela CasasBahia tem tido reflexos diretos na produção e comercializaçãode móveis populares.

O estudo do caso da “Casas Bahia” pode trazer algumensinamento sobre o crédito popular no Brasil. Do total dassuas vendas, em média 80% são a prazo, no plano sem jurosbancado pela rede, 6% no crediário de financeira e 8% à vista.As restantes (6%) são de clientes que, ainda pagando um carnê,fazem uma segunda compra. [...]

O poder das redes varejistasO poder das redes varejistasO poder das redes varejistasO poder das redes varejistasO poder das redes varejistas

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280280280280280 capítulo 2.4 - o móvel popular

A rede das Casas Bahia banca quase todas as vendasparceladas que, por sua vez, representam quase 90% do total.Em 2002, optou por trabalhar sem juros com prazo de 10vezes para eletroeletrônicos e eletrodomésticos e 15 paramóveis (COSTA, 2002).

Esta rede varejista possui uma fábrica de móveis própria, comtrês plantas industriais. As fábricas equipadas com maquináriode última geração, produzem móveis para cozinha, dormitórios,salas de estar e jantar que corresponderam a um terço doscerca de 13 milhões de móveis comercializados pelas CasasBahia no ano de 2003. A parte de estofados ainda é adquiridade outros fornecedores. Este braço industrial da rede mostrauma prática chamada de integração vertical reversa, ou seja, avolta da verticalização através do varejo onde as empresasconseguem administrar todo o ciclo que vai da produção, emsintonia com a escala de demanda, à venda na loja.

As Casas Bahia passaram a chamar atenção de pesquisadoresinternacionais que estudam estratégia de negócios voltada aomercado popular.

A habilidade para entender as necessidades emocionais e oshábitos de compra dos clientes da baixa renda e a capacidadede viabilizar seu sonho de consumo por meio do acesso aocrédito resultaram num modelo de negócios único no que dizrespeito ao varejo. (BLECHER, 2004).

O Magazine Luiza também figura entre as grandes redesvarejistas do país. No estado de São Paulo possui lojasconvencionais em mais de sessenta municípios, atendendotambém através de suas lojas virtuais. Na loja virtual não existemprodutos expostos e sim uma ferramenta multimídia (internet)pela qual os interessados encontram imagens, detalhes e fichatécnica dos itens disponíveis para venda. Na realidade, a lojavirtual está disponível para qualquer um com acesso à internet.

Diferentemente da Casas Bahia, o Magazine Luiza não possuiindústria própria para fabricação de móveis. Trabalha com maisde trinta fornecedores na linha de móveis.

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281281281281281capítulo 2.4 - o móvel popular

Oferecendo compras com a utilização do crediário, o Maga-zine Luiza utiliza a estratégia das demais redes que obriga osclientes a retornarem à Loja todos os meses para quitar suasdívidas, levando muitos deles a adquirir novos produtos para olar. Embora exista a expansão da distribuição de cartão decrédito para classes de menor renda, o artifício do carnê con-tinua sendo a melhor forma de garantir fidelidade na comprados clientes.

Assim como o Magazine Luiza, as Lojas Cem cobrem tambémmuitos municípios (em torno de 110) espalhados por todo oEstado de São Paulo, alguns de pequeno porte, diferenciando-se das Casas Bahia que estão presentes principalmente emmunicípios acima de 100 mil habitantes.

A Marabraz que desde 1987 atua no varejo de móveis e estáfocada nos públicos C, D e E, se especializou em móveis erecentemente incluiu no seu mix de produtos os eletroeletrônicos,fazendo frente as outras redes que atendem ao mercado popu-lar. Esta rede possui também uma indústria própria de móveis,mas ainda trabalha com uma gama bem extensa defornecedores externos. Possui mais de cem lojas distribuídas naGrande São Paulo, Vale do Paraíba e litoral paulista. Suaestratégia para atender seu público é instalar lojas em bairrosde periferia, de grande concentração populacional, tentandose aproximar ao máximo do cliente. Oitenta por cento de suasvendas são feitas através de financiamento.

Outras grandes redes de lojas, menores que as anteriores mastambém em expansão, que comercializam móveis popularesno interior do Estado de São Paulo, são J. Mahfuz, Colombini,Bernasconi e Colombo, todas com mais de vinte lojas emdiferentes municípios.

Algumas destas redes paulistas, Casas Bahia, Lojas Cem eMagazine Luiza, expandiram seu campo de atuação para outrosestados brasileiros mostrando o poder de penetração nomercado popular extremamente concorrido. Estas redes têm se

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282282282282282 capítulo 2.4 - o móvel popular

2. 1542. 1542. 1542. 1542. 154Modelo aplicado ao varejo de móveis e eletrodoméstico (COSTA, 2005).

caracterizado tanto por uma ampla cobertura geográfica quantopela oferta de crediário próprio. Com isto percebe-se umaconcentração no poder de venda de móveis populares emapenas algumas redes varejistas que ditam regras de produçãoe comercialização.

O gráfico a seguir demonstra a estratégia competitiva de cadarede varejista que atende diferentes tipos de consumidores. Asredes voltadas ao público de baixa renda apresentam umaestratégia voltada ao custo e eficiência.

Fica aqui muito bem definida a importância destas grandesredes na redefinição dos padrões do móvel popular. São agentesque precisam ser inseridos nas considerações do ProjetoTecnológico como uma estrutura produtiva e comercial de

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283283283283283capítulo 2.4 - o móvel popular

2. 155 2. 155 2. 155 2. 155 2. 155 e 2. 1562. 1562. 1562. 1562. 156Folhetos de promoções - lojas Colombini (www.colombini.com.br) e lojas Marabraz(www.marabraz.com.br)

grande impacto na circulação de produtos que refletemdiretamente no interior da habitação mínima.

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284284284284284 capítulo 2.4 - o móvel popular

NotasNotasNotasNotasNotas

11111 Segundo a Abimóvel, os móveis residenciais respondem por 60%da produção total do setor, sendo seguidos pelos móveis de escritório(25%) e pelos institucionais, para escolas, consultórios médicos,hospitais, restaurantes, hotéis e similares (15%). Disponível em <http:// www.abimovel.org.br>. Acesso em: 18 dez.2001.

22222 Os magazines mais citados foram: Magazine Luiza, Colombo,Marabraz, Lojas CEM, J. Mahfuz, Bernasconi, Casas Bahia eColombini.

33333 Depoimentos dados à autora desta Tese na referida feira, ondetambém se verificou que algumas empresas menores que trabalhavampara o nicho de móveis populares redirecionaram a sua produçãopara móveis com maior valor agregado, justificando que nãoconseguiam concorrer com as indústrias maiores que possuíam umaprodutividade mais elevada.

44444 O poder aquisitivo das classes C,D e E que reúnem as pessoascom renda familiar de até dez salários mínimos, melhorou muito nosúltimos dez anos, período em que o salário mínimo cresceu 329%,contra uma inflação de 147% (SHOW DO CREDIÁRIO, 2006, p.103).

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285285285285285capítulo 3 - projeto tecnológico - habitação e mobiliário

3. PROJET3. PROJET3. PROJET3. PROJET3. PROJETO TECNOLÓGICO –O TECNOLÓGICO –O TECNOLÓGICO –O TECNOLÓGICO –O TECNOLÓGICO – HABIT HABIT HABIT HABIT HABITAÇÃO E MOBILIÁRIOAÇÃO E MOBILIÁRIOAÇÃO E MOBILIÁRIOAÇÃO E MOBILIÁRIOAÇÃO E MOBILIÁRIO

Considerando a realidade das habitações de interesse social,ocupada por moradores e famílias com diversas formações evariadas necessidades de espaço, com uma área habitávelpequena e um mobiliário que se encaixa precariamente nestaárea, expôs-se ao longo dos capítulos anteriores a necessidadede estruturação de um Projeto Tecnológico. Este Projeto, porum lado expõe a amplitude da problemática, e por outrosubsidia com sua teoria as ações que precisam estarinterrelacionadas nos investimentos para a produção dehabitação de interesse social e seu mobiliário, considerando asrelações entre a unidade habitacional com o móvel eprincipalmente com o seu morador. É a base sobre a qual oprojeto do produto habitação e móvel podem se apoiar.

Resgatando o conceito de Projeto Tecnológico exposto no iníciodesta Tese como sendo “o projeto de uma ‘Linguagem Técnica’,através da qual os produtores industriais, os construtores e osprojetistas, possam se entender e terem um comportamentotécnico compatível com as necessidade produtivas” (MARTUCCI,1990, p.82), se discorrerá então neste capítulo sobre osprincipais vetores que estruturam o Projeto Tecnológico para aprodução de habitação mínima e seu mobiliário: estruturatecnológica (suporte institucional e normalização, formaçãoprofissional e novas tecnologias informacionais) e fatoresrelacionados ao Projeto do Produto e o Projeto da Produção,tanto da habitação como do móvel.

O desenvolvimento deste Projeto Tecnológico é resultado deum questionamento sobre as bases em que estão sendoapoiados os investimentos tecnológicos atuais na área daconstrução habitacional, principalmente para a população debaixa renda, e da produção moveleira responsável peloatendimento do mercado de móveis populares.

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287287287287287capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

Ao longo do capítulo 2 foi exposta a realidade tecnológicaatual da construção habitacional, principalmente de habitaçõesde interesse social, e da produção moveleira voltada tambémpara a produção de móveis populares.

Para tratar o interior da unidade habitacional, analisando oproduto habitação e o produto móvel, é necessário consideraro interrelacionamento existente entre diferentes setoresprodutivos que convergem para a produção da edificaçãohabitacional e seus equipamentos mobiliários.

Nesta abordagem se depreende uma estrutura básica necessáriapara dar suporte ao processo de capacitação tecnológica paraum desenvolvimento sustentável da produção habitacional emoveleira.

A década de 1990, representada como o ponto de mutaçãono setor da construção civil, como exposto no capítulo 2.1,refletiu, entre outros fatores, a inserção do Brasil no mercadoglobalizado. Foi a época que surgiram os mais diversosProgramas do governo procurando compensar os desníveistecnológicos existentes nos mais variados setores produtivos.Pelo fato do país estar competindo em uma economiainternacionalizada e ao mesmo tempo precisar fortalecer omercado interno, a indústria nacional passou a buscar caminhospara alcançar níveis de qualidade, produtividade,competitividade e capacitação tecnológica mais elevados.

3.1 – ESTRUTURA TECNOLÓGICA3.1 – ESTRUTURA TECNOLÓGICA3.1 – ESTRUTURA TECNOLÓGICA3.1 – ESTRUTURA TECNOLÓGICA3.1 – ESTRUTURA TECNOLÓGICA

Suporte institucional e normalizaçãoSuporte institucional e normalizaçãoSuporte institucional e normalizaçãoSuporte institucional e normalizaçãoSuporte institucional e normalização

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288288288288288 capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

Mesmo a indústria da construção civil, com suasparticularidades, não ficou isenta destas metas. É desta décadao lançamento do Programa de Tecnologia da Habitação –HABITARE (1995), do Programa Brasileiro de Design (1995),do Programa da Qualidade da Construção Habitacional doEstado de São Paulo – QUALIHAB (1996) e do ProgramaBrasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat – PBQP-H(1998), para citar alguns, principalmente os diretamenterelacionados com as áreas produtivas que estão sendoabordados nesta pesquisa.

O objetivo, a longo prazo, do Programa Brasileiro de Qualidadee Produtividade do Habitat – PBQP-H, é criar um ambiente deisonomia competitiva, com a finalidade de encontrar soluçõesmais baratas e de melhor qualidade para a redução do déficithabitacional no país, preocupando-se em especial com aprodução habitacional de interesse social. Através destePrograma, o Estado assume o papel de agente indutor emobilizador da cadeia produtiva da construção civil, buscandouma sensibilização do setor privado e dos contratantes públicosestaduais, visando uma adesão voluntária ao PBQP-H. Em umasegunda etapa de implementação do Programa, as entidadesdo setor se organizam para realizar um diagnóstico do segmentoda construção civil no seu Estado, formulando um ProgramaSetorial de Qualidade (PSQ). Este diagnóstico fundamenta umAcordo Setorial entre o setor privado, o setor público e a CaixaEconômica Federal, bem como demais agentes financeiros,definindo metas e cronogramas de implantação dos Programasde Qualidade, baseado na prática do uso do poder de compra.

Este modelo foi formulado conforme o Programa de Qualidadeda Construção Habitacional do Estado de São Paulo –QUALIHAB, que coloca, por sua vez, dentre os seus objetivos:

Estimular a interação da cadeia produtiva, buscandoprodutividade, padronização, enfocando os processos deexecução e os recursos humanos e materiais empregados,visando transformar a tarefa de construir uma habitação emoperações de montagem de componentes racionalizados. 1 1 1 1 1

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289289289289289capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

A padronização aparece então como um dos requisitos para seatingir a qualidade na construção. Uma padronização dimen-sional e qualitativa inserida nos princípios gerais do Qualihabserá atingida somente com o desenvolvimento de parcerias en-tre os diversos segmentos do ciclo da construção habitacional.

As entidades responsáveis pela elaboração do Programa Setorialde Qualidade (PSQ) do setor de Projetos 22222, para atender asnecessidades do Programa Qualihab, destacaram nodiagnóstico sobre a qualidade do setor, as principais dificuldadese mudanças de caráter estrutural/setorial. Dentre elas está adependência do processo de trabalho do projeto ao processode produção e da cadeia produtiva da construção civil comoum todo. Isto tem gerado as mais variadas dificuldades para semelhorar a qualidade do projeto. Entre estas dificuldades estáa “anarquia dimensional na fabricação de materiais ecomponentes e falta de integração de concepção entre osmesmos dificultando a racionalização de projeto” e a “ausênciade dados e indicadores de custo, desempenho e qualidade deprodutos para a seleção de tecnologia e especificação deprodutos” 33333. Este documento reconhece as mudanças que vemocorrendo na tecnologia de produção, nas relações entre osagentes de produção, mas aponta os reflexos muito lentos destasmudanças no setor de projeto.

O diálogo necessário entre os diferentes produtos que compõeuma edificação habitacional tem sido o grande objetivoperseguido pelos Programas de Qualidade (PBQP-H eQualihab), que tem induzido diversos órgãos envolvidos naconcepção e produção de elementos e componentes dahabitação (AsBEA, Afeal e outros) a buscar caminhos deintegração.

O que se questiona é como estes diversos Programas poderiamestar em sintonia com suas ações. Por exemplo, o ProgramaHabitare, uma das principais fontes de financiamento depesquisa tecnológica no setor da construção habitacional, tevecomo tema central do seu sétimo Edital (processo de seleção

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290290290290290 capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

de projetos não reembolsáveis) a coordenação modular e aconectividade entre componentes e sistemas construtivos. 4 4 4 4 4

Em sintonia com o PBQP-H e o Qualihab, juntamente comoutros órgãos (representativos de classe ou governamentais)envolvidos com o setor da construção civil, este Programafinancia projetos para a aceleração da dinâmica de inovaçãona cadeia produtiva da habitação. Segundo este último Editaldo Habitare, estas inovações passam por uma padronizaçãodimensional para se atingir projetos coordenadosmodularmente. Uma série de pesquisa, que está em andamento,aborda estes temas, dentre elas, o desenvolvimento de móveisdivisórias com características de kits “faça você mesmo” (DIY -do it yourself) para habitações de interesse social. 55555

A primeira questão a se colocar é se não seria mais importante,antes de financiar projetos dispersos, colocar em debate acoordenação modular como um todo dentro da construçãohabitacional. Senão é como tratar a coordenação modular deapenas um subsistema sem este estar, por sua vez, coordenadocom o resto da edificação. A complexidade da construçãohabitacional requer formulações mais abrangentes que abarque,através de acordos, as interrelações entre os diferentes materiais,componentes e subsistemas, sobre as quais possam então sebasear as pesquisas específicas.

Uma outra questão seria a incorporação destas pesquisas nasações dos Programas de Qualidade. Além da divulgação feitapor livros impressos ou disponíveis em meios eletrônicos dosresultados das pesquisas, é preciso existir um canal direto comos demais Programas para as ações fazerem parte de umaestruturação planejada do setor da construção habitacional comsuas possíveis interfaces com outros setores produtivos, como éo caso da indústria de móveis.

O Programa Brasileiro do Design ainda está muito voltado parao incremento da competitividade do produto nacional nomercado internacional. Este também precisa abrir espaço, dentro

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291291291291291capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

de seu escopo de atuação, para uma interação com osProgramas de Qualidade, criando uma plataforma parapotencializar as parcerias necessárias para o desenvolvimentode produtos que compõem o espaço habitacional, desde partesda edificação bem como o mobiliário residencial.

Além destes Programas, têm sido estruturados nos últimos anosos Arranjos Produtivos Locais (APLs): aglomerações de empresaslocalizadas em um mesmo território, que apresentamespecialização produtiva e mantêm vínculos de articulação,interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outrosatores locais, tais como: governo, associações empresariais,instituições de crédito, ensino e pesquisa (Termo de Referênciapara Atuação em APL do sistema Sebrae - 2003).

Atualmente existem dezesseis APLs na área industrial implantadosno Estado de São Paulo. Dentre estes estão três do segmentode móveis (Mirassol, Itatiba e ABC Paulista). Uma rede deparcerias (SEBRAE, SENAI, SENAC, Sindicatos, CIESP, FIESP,Prefeituras Municipais, IPT, Secretaria Estadual de Ciência eTecnologia, Universidades, Centros Tecnológicos e outros)formada de acordo com cada região, composta por umadiversidade de atores, busca uma maior capacitação tecnológicadas empresas. Entre as ações dos APLs estão: formaçãoprofissional, gestão do projeto, consultorias de mercado eprodução, participação conjunta em feiras setoriais edisseminação da importância do design.

Portanto, não falta estrutura institucional para alavancar variadasiniciativas que tratam de um desenvolvimento tecnológico dosetor construtivo e moveleiro, tanto a nível nacional como re-gional. Todos estes Programas, representando esta estrutura,são capazes de incrementar parcerias, envolvendo órgãos eentidades governamentais, instituições tecnológicas ou defomento, entidades empresariais, comunidade acadêmica e deprofissionais para a implantação de melhorias dentro de todaa cadeia produtiva com reflexos diretos em inovações deprodutos, de processos, de gestão de políticas públicas e derevisão e elaboração de normas técnicas.

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Daí surge mais uma questão de como tem se desenvolvido asnormas técnicas relativas à construção habitacional e àprodução de móveis. As normas não podem ser implantadaspara atender interesses específicos de grupos econômicos massim serem correspondentes de uma política tecnológica quedirecione o desenvolvimento dos setores produtivos.

No Brasil existe a ABNT – Associação Brasileira de NormasTécnicas - como o único foro nacional de normalização.Atualmente os trabalhos da ABNT são desenvolvidos porcinqüenta e oito Comitês Brasileiros e quatro Organismos deNormalização Setorial. Dentre estes comitês existe o ComitêBrasileiro de Construção Civil (ABNT/CB-02) compreendendocomponentes, elementos, produtos, serviços, planejamento,projeto, execução, armazenamento, operação, uso emanutenção, enquanto o Comitê Brasileiro do Mobiliário (ABNT/CB-15) compreende a normalização de unidades móveis eembutidas e acessórios no que concerne a terminologia,requisitos, métodos de ensaio e generalidades. 6 6 6 6 6

Como a criação de novas normas depende da demanda vindade qualquer membro da sociedade que pode por sua vez induziro início de um processo de estudos específicos para comprovara importância de tal norma, isto tem resultado na elaboraçãode normas técnicas fragmentadas, de produtos e processostratados individualmente. Ainda não existe uma normalizaçãoque trate a integração dos mais diversos produtos que compõemuma edificação, incluindo a possibilidade de integração inclu-sive com equipamentos mobiliários, salvo algumas normas decoordenação modular, que também precisam de revisão. Estetipo de normalização corresponderia, por um lado, ao esforçodesencadeado pelos diversos Programas para minimizar adispersão e antítese do processo industrial, que é o setor daconstrução habitacional, e por outro, padrões básicos dequalidade para a produção moveleira.

Com as normas criadas sem uma base que indique ascorrelações, vários aspectos ficam carentes de padronização,gerando dúvidas do próprio setor produtivo sobre que

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293293293293293capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

referências dimensionais, de resistência mecânica e durabilidadeos produtos precisam atender.

Porém, no lugar de normas dispersas é necessária a implantaçãode um sistema de normalização, como um padrão decomunicação, que indique as correlações entre as diversasações do processo construtivo, bem como com produtos quepoderão ser introduzidos posteriormente na edificação, comoo mobiliário. Este sistema serviria para ordenar a construçãodesde o projeto e fabricação dos componentes até a execuçãoda obra, se estendendo posteriormente à manutenção daedificação e dos móveis.

É importante pensar em normas de interfaces, de conectividade,regras básicas sobre as quais as decisões das soluções podemser tomadas. Van Randen (1976) sintetiza muito bem sobre aimportância de acordos, ou regulamentações das interfacesusando a lâmpada como exemplo: o importante é a discussãoe acordos sobre a base da lâmpada e não sobre o formato dobulbo. Precisam existir regulamentações sobre as condições dasfronteiras técnicas, sobre as interfaces, e não uma padronizaçãode produtos, de soluções.

Todo o suporte institucional exposto anteriormente configura aestruturação de um quadro onde precisam ser incluídos aspectosque efetivamente servirão de base para o desenvolvimentotecnológico da construção habitacional e da produçãomoveleira.

Parte do desenvolvimento tecnológico de qualquer área envolvea formação profissional. Quando se trata deste desenvolvimentona construção habitacional e na produção moveleira, encontra-se a formação de nível técnico e superior que inclui desde ooperário de obra e da indústria, assim como arquitetos,engenheiros e designers.

FFFFFormação de quadros profissionaisormação de quadros profissionaisormação de quadros profissionaisormação de quadros profissionaisormação de quadros profissionais

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Frente a um novo cenário tecnológico que impõe um trabalhointegrado de profissionais das mais diversas áreas, aespecialização dentro das disciplinas precisa estarnecessariamente vinculada a uma visão abrangente das relaçõespresentes na produção habitacional como um todo. Aespecialização não pode levar a uma fragmentação que criebarreiras no fluxo de comunicação necessário entre os agentesenvolvidos em toda a produção da edificação.

Tratar a qualidade do projeto e da produção da edificação edo móvel implica em um processo de qualificação específicotanto de pesquisadores, arquitetos, engenheiros, designers etécnicos em geral bem como dos operários das usinas e doscanterios de obras e dos trabalhadores da indústria, que estãotambém enfrentando novas estruturas produtivas.

Como já descrito anteriormente, a busca por esta qualidadetem induzido à racionalização da construção refletindo nodesenvolvimento e uso de novos subsistemas e componentesconstrutivos e sua conseqüente linguagem de interface. Oalcance das metas propostas pelos Programas de Qualidaderequer uma formação profissional de arquitetos, engenheiros edesigners que aborde a complexidade da edificação em seusdiferentes níveis, preocupando-se não somente com o projetoe produção da habitação como produto único, mas com oprojeto e a produção dos diversos componentes que formarãouma edificação. Explorando os recursos de informáticaconjuntamente com equipamentos industriais informatizados épossível treinar os futuros profissionais para trabalhar com estasnovas relações de projeto e de produção.

A própria noção de arquitetura, não somente como concepçãode obra única, mas de produto que abriga variadaspossibilidades de uso de espaço e de capacidade detransformação, levanta várias novas relações que precisam sertratadas de forma diferenciada na formação profissional. Aquise insere o questionamento sobre algumas idéias arraigadasna educação do arquiteto e engenheiro sobre uma edificação,

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como por exemplo: que é um produto estático sem capacidadede transformação; que precisa atender a um único programade necessidades; que a forma segue a função; que é a expressãoda individualidade da autoria do projeto.

Como lembra Martucci (1990), o arquiteto é o responsável emintroduzir as inovações tecnológicas no produto edifício querepercutem nos processos de trabalho dos canteiros de obras eno projeto da produção. Para tanto, este profissional precisater o conhecimento técnico para dominar as interfaces dossistemas e propor soluções coerentes. Isto refletirá também nacapacidade destes arquitetos, de engenheiros e de designersem propor novos produtos desenvolvidos a partir da necessidadedo projeto da edificação e de seu equipamento como um todo,revertendo a dependência que o projeto atualmente possui dosprodutos impostos pelas indústrias que atendem a construçãocivil. Na realidade é a indústria que precisa buscar asinformações junto a estes profissionais sobre o produto quedevem produzir.

Esta posição é reafirmada por Königsberger (2006)77777 quandolembra que dos vários papéis que o arquiteto precisadesempenhar na cadeia produtiva da construção civilcontemporânea é de agentes “criadores e avaliadores napesquisa e desenvolvimento de novos produtos e tecnologiapara a indústria” e de “especificadores diretos de produtos,processos e sistemas”. Os arquitetos assumindo seus papéisnaturais revertem a dependência do projeto ao processo deprodução e da cadeia produtiva, e instaura-se uma nova ordemde definição do produto final. Estes papéis do arquiteto precisamser explorados no momento de sua formação.

Na área diretamente ligada à produção já existe umasubstituição gradativa do perfil do trabalhador do canteiro deobra conforme a aplicação de uma produção racionalizada,onde aparece a presença cada vez mais freqüente deprofissionais terceirizados ou ligados à indústria que fabricamos subsistemas ou componentes da construção. Estes

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profissionais recebem um treinamento específico para umdeterminado serviço.

Na indústria moveleira atual, o trabalhador está se tornandotécnico em operações de máquinas computadorizadas. Nãoexiste mais a presença do marceneiro, o artesão tradicional,como profissional indispensável na fabricação de móveis, como conhecimento e domínio de todo o processo. Esta mudançaé reflexo do uso predominante de chapas (MDF, compensado,aglomerado e outros) como matéria prima principal somadoao uso de maquinário automatizado no lugar das tradicionaismáquinas de marcenaria (serras esquadrejadeiras, plainas,tornos, furadeiras, lixadeiras).

Em vários setores industriais está existindo este rompimento dareprodução do conhecimento operário através da estrutura deofício, visível na construção civil e na indústria de móveis. Asinovações tecnológicas passam a demandar um novo perfil deprofissional que precisa de treinamento para se inserir nas no-vas estruturas produtivas.

Existem algumas iniciativas que precisam ser potencializadasno sentido de oferecer treinamentos formais que reparem esterompimento do conhecimento e ao mesmo tempo requalifiquema mão de obra com cursos de atualização técnica e tecnológicaque podem ser assumidos tanto pelas empresas como porentidades educacionais.

Em alguns polos moveleiros foram instalados CentrosTecnológicos, geridos principalmente pelo Serviço Nacional deAprendizagem Industrial (SENAI), para justamente formar mão-de-obra e dar suporte ao desenvolvimento tecnológico dasindústrias. Estes Centros podem se tornar meios difusores dasnovas relações desenvolvidas entre produtos, até então vistosseparadamente. A educação técnica passa a abordar acomplexidade dos elementos envolvidos na produção de umproduto e a relação deste produto com outros.

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Da mesma forma que a tecnologia informacional trouxemudanças nos processos produtivos, o treinamento técnico deveser feito não apenas para ensinar a controlar o maquináriocomo também para sensibilizar sobre as possibilidades que estamesma tecnologia abre para o desenvolvimento de novosprodutos.

O desenvolvimento do setor de telecomunicações aliado àevolução da informática, contribuiu no sentido de acrescentarum novo modus operandi aos processos de trabalho dasestruturas produtivas. A formação de Networks (redes de trabalhoou comunicações), possibilita uma cooperação, através demecanismos de comunicação, entre os agentes participantesdos processos de produção, com informações em formato digitalque transitam livremente via satélite entre diferentescomputadores localizados nos mais variados lugares. Isto temtido reflexos diretos nos processos internos de produção(refletindo nos produtos finais), na qualificação profissional enas formas de gestão (VOLPINI, 2002).

O quadro estruturado por Fabrício (1996) ilustra os reflexosdestas transformações na construção das edificações, mostrandoa possibilidade de um processo integrado e simultâneo entreprojeto/design, planejamento e produção.

Novas tecnologias de informaçãoNovas tecnologias de informaçãoNovas tecnologias de informaçãoNovas tecnologias de informaçãoNovas tecnologias de informação

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298298298298298 capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

3. 13. 13. 13. 13. 1Síntese das redefinições nos paradigmas de produção e reflexos para aconstrução de edifícios (adaptado de FABRÍCIO, 1996, p.117).

No Setor da Construção Civil são conhecidos os desníveistecnológicos existentes entre os três subsetores descritos porMartucci (1990): produção de subsistemas, componentes emateriais de construção; produção de máquinas, equipamentos,ferramentas e instrumentos; e projeto, produção e montagem.O último é o que mais apresenta dificuldades dedesenvolvimento. Os dois primeiros subsetores assim como a

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299299299299299capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

produção industrial de móveis têm apresentado inovaçõesprodutivas pela introdução cada vez mais crescente demaquinário computadorizado integrado a sistemas operadospor computadores em rede. Esta transformação ficou muitoevidente principalmente na indústria moveleira a partir dadécada de 1990, que substitui o maquinário controlado pelotrabalhador (serra, plaina, torno, furadeira e outras) pelasmáquinas controladas por computador (CNC).

A representação gráfica do projeto já é feita por programas decomputador. Em um curto período de tempo, o papel vegetal eo nanquim foram substituídos pelos modernos programasgráficos, por sofisticados plotters e impressoras, além de outrosprogramas que possibilitam simulações virtuais de espaços quese pretende criar com os projetos e de funcionamento doproduto antes mesmo de ele ser produzido. A área degerenciamento de projeto e de obra, como planejamento,orçamento e cronogramas, já conta com aplicativosinformatizados. Falta, no entanto, a integração das etapas doprojeto e construção. Isto faz com que o setor da construçãocivil se consolide como o principal absorvedor da mão-de-obradesqualificada presente no país (VOLPINI, 2002).

As evoluções tecnológicas com maciço investimento emtecnologia da informação têm ocorrido em diferentes níveisdentro destes subsetores. Para integrar estes subsetores ealavancar um desenvolvimento mais consistente no subsetor deprojeto, produção e montagem é urgente o questionamentosobre como introduzir novas práticas de trabalho beneficiadaspelas tecnologias derivadas da informática e telecomunicações.

Frente a toda esta evolução tecnológica dos meiosinformacionais, resta introduzir processos de transferência deinformações entre os agentes que fazem parte das etapasprincipais da edificação habitacional: Projeto, Produção(construção) e Uso e Manutenção. Esta complexa rede deagentes é formada por pesquisadores e instituições de ensino efomento à pesquisa, profissionais de diversas áreas, empresas

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300300300300300 capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

integrantes da cadeia produtiva da construção habitacional,indústrias moveleiras e de equipamentos eletro-eletrônicos eórgãos públicos e privados. Esta rede serviria para catalisar asinformações, organizar a sua difusão e criar regulamentações.

Os Programas lançados que almejam a melhoria do setorprodutivo como um todo, precisam criar esta rede deinformações entre os agentes. As possibilidades informacionaisjá estão sendo utilizadas por alguns destes agentes, sendoimplantados portais para aprimorar os mecanismos desistematização e socialização da informação, mas de formadesconexa. As evoluções e investimentos em tecnologia deinformação são realizados por micro setores dentro destacomplexa rede sem existir uma plataforma básica a partir daqual as ações destes diferentes agentes possam convergir paraum produto em comum de boa qualidade, que é a edificaçãohabitacional e seus equipamentos.

A hipermídia, uma associação de textos, imagens, sons,animações e vídeo, pode se transformar em um instrumento decomunicação entre os diferentes agentes como um grande fórumde debates e de informações. Através do uso da Internet podem-se reunir as informações referentes a uma “linguagem padrão”do setor da construção habitacional e de móveis eequipamentos.

A partir desta plataforma, os agentes podem se reunir em fórunsmais específicos conforme seu interesse e sua linha de atuaçãodentro desta rede. Esta plataforma contribuiria para agregaragentes que até então atuavam independentemente, mas quepodem formar uma nova configuração de parcerias.

Existe um fluxo de informações que ocorre dentro e entre asdiferentes etapas da produção da edificação. É importantedestacar a contribuição que as novas tecnologias podem trazerpara este fluxo de informações. A etapa de projeto é a grandeprodutora de informações que serão transferidas para as outrasetapas. A construção processa as informações produzidas peloprojeto, materializando a edificação. O uso e manutenção da

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301301301301301capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

edificação são estudados pelas Avaliações Pós-Ocupação quecoletam um conjunto de informações que serão utilizadas tantopela etapa de projeto quanto de construção, subsidiando umaretroalimentação para promover as alterações necessárias aoaprimoramento como um todo (VOLPINI, 2002).

Além de estabelecer uma rede de informações por meioseletrônicos entre as etapas, é necessário desenvolver ouaperfeiçoar as formas de criar estas informações. Muitas vezesjá existem ferramentas capazes de integração, compatibilizaçãoe coordenação de diversas etapas do projeto e produção, masque são utilizados apenas em uma de suas funções básicas.

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302302302302302 capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

11111 Disponível em <http://www.cdhu.sp.gov.br/http/qualihab/abertura/teabertura.shtml>. Acesso em 21 mar. 2007. O Programa QUALIHABestá estruturado por uma Coordenação Geral e uma SecretariaExecutiva, que coordenam três comitês: Projetos e Obras (entidadesrepresentativas das empresas de construção e projetos); Materiais,Componentes e Sistemas Construtivos (entidades dos produtores deinsumos para as obras e de sistemas construtivos); e o Comitê Interno,encarregado de implantar um sistema de Gestão da Qualidade naCDHU.

22222 Entidades formuladoras do PSQ-Projetos: Associação Brasileira dosEscritórios de Arquitetura (AsBEA); Associação Brasileira de Engenhariae Consultoria Estrutural (ABECE); Associação Brasileira de Engenhariade Sistemas Prediais (ABRASIP); Instituto dos Arquitetos do Brasil /Departamento de São Paulo (IAB-SP); Instituto de Engenharia (IE);Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e EngenhariaConsultiva (SINAENCO); Sindicato das Indústrias de InstalaçõesElétricas, Gás, Hidráulicas e Sanitárias do Estado de São Paulo(SINDINSTALAÇÃO). Além destas entidades, existem outras em áreasreferentes ao desenvolvimento de projetos na construção civil quefazem parte deste setor.

33333 Programa Setorial de Qualidade – setor Projetos (PSQ de Projetos).Disponível em <http://www.cdhu.sp.gov.br/http/qualihab/abertura/teabertura.shtml>. Acesso em 21 mar. 2007.

44444 Revista Habitare, ano 6, dez. 2006. Disponível em http//:www.habitare.org.br. Acesso em 8 mar. 2007.

55555 Esta pesquisa, coordenada pelo Prof. Agnaldo dos Santos, do Núcleode Design & Sustentabilidade da UFPR, trabalha com o conceito demodulação associado ao conceito do-it-yourself pretendendocontribuir com a melhoria do processo de autoconstrução.

66666 Informações retiradas do documento sobre a história da ABNT,disponível para download no site da entidade:<http://

NotasNotasNotasNotasNotas

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303303303303303capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

www.abnt.org.br/downloads/conheca_abnt/historicoabnt.pdf>.Acesso em 15. jan. 2008.

77777 KÖNIGSBERGER, Jorge. O papel do arquiteto no sistemaconstrutivo. Palestra proferida pelo arquiteto (17/03/06) no 4° FórumInternacional de Arquitetura e Construção (14-17 de março de 2006)– Feiras Revestir e Kitchen & Bath – São Paulo – SP. Disponível em<http://www.asbea.org.br>.Acesso em 21 mar. 2007.

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304304304304304 capítulo 3.1 - estrutura tecnológica

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305305305305305capítulo 3.2 - projeto do produto

A estrutura tecnológica anteriormente abordada é o suportepara o projeto e produção da unidade habitacional de inter-esse social e do móvel. Da análise realizada anteriormente nocapítulo 2, depreendem-se algumas características básicas eum melhoramento de interfaces que o produto habitação emóvel deveriam ter. Com isto, serão então aqui discutidos algunsrequisitos e parâmetros que estes produtos precisam atender ecomo pode se dar a relação entre estes dois produtos.

O importante a se colocar aqui é que os parâmetros dequalidade, a normalização e a formação profissional comoestrutura tecnológica básica possui uma interrelação muito claracom o projeto do produto. Se por um lado, esta estrutura serviráde base para as ações de projeto, por outro, o projeto doproduto pode definir novas ações para serem incluídas comoreferências tecnológicas.

Referindo-se ao produto habitação pronto, foram debatidosintensamente, nos capítulos anteriores, sobre a área mínima ea flexibilidade da unidade habitacional.

Ao longo de todo o século XX surgiu uma série de projetos,obras e propostas conceituais que trabalharam aspectosvariados da habitação: o exemplo emblemático da implantaçãointensiva de uma estandardização dos componentes daedificação na construção massiva de conjuntos habitacionais

3.2 – PROJET3.2 – PROJET3.2 – PROJET3.2 – PROJET3.2 – PROJETO DO PRODUTO DO PRODUTO DO PRODUTO DO PRODUTO DO PRODUTOOOOO

PPPPProjeto do Projeto do Projeto do Projeto do Projeto do Produto – Habitaçãoroduto – Habitaçãoroduto – Habitaçãoroduto – Habitaçãoroduto – Habitação

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306306306306306 capítulo 3.2 - projeto do produto

em Frankfurt-am-Main, Alemanha, na década de 1920; a plantalivre da Casa Dominó (1915) e a planta flexível da Casa Loucher(1929), ambas de Le Corbusier; a incansável busca de Gropiuspela industrialização da construção, principalmentehabitacional, esforço que ganhou continuidade com a Escolade Ulm; a abordagem da integração dos equipamentos emobiliário do interior da habitação e a reflexão sobre a inserçãoda tecnologia no ambiente doméstico presentes nos protótiposdesenvolvidos por Alison e Peter Smithon (Casa do Futuro -1956), pelo grupo Archigram (Living 1990 - 1967) e por JoeColombo (Visiona 69 - 1969); a cápsula equipada para seviver de Kisho Kurokawa (Nakagin Capsule Tower - 1970-72),e muitos outros exemplos poderiam ser aqui citados (ver capítulo1.2, 1.3, 1.5).

Ante a este repertório histórico sobre as variadas abordagensque refletiam no projeto do interior da habitação, pontuam-seaqui alguns importantes aspectos a serem considerados comobásicos nos projetos de habitações mínimas, muitos resgatadosdeste repertório.

Inicia-se então com o próprio termo habitação mínima. Adefinição de área mínima para se habitar ainda está em aberto,embora a discussão tenha se iniciado há aproximadamente umséculo no cenário internacional. No 2° CIAM (CongressoInernacional de Arquitetura Moderna - 1929) tentou-sesistematizar o que seria o mínimo aceitável para uma famíliaviver, discutindo-se o espaço físico da moradia, as relaçõescom o mobiliário, com o modo de vida e a racionalização daprodução e do uso deste espaço. Este Congresso ocorreu emFrankfurt-am-Main justamente na época da construção dasvárias Siedlungen, como cenário perfeito para refletir o que seestava produzindo. Enquanto isto, Alexander Klein desenvolveuprincípios de projeto para um programa habitacional daAlemanha em 1930, resultado de um trabalho de pesquisadesenvolvido ao longo de anos para criar um método deavaliação de plantas, enfocando problemas funcionais eeconômicos.

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307307307307307capítulo 3.2 - projeto do produto

No Brasil, iniciou-se a determinação de áreas mínimas com osCódigos Sanitários. Pouco depois do 2° CIAM, realizou-se noBrasil o Primeiro Congresso de Habitação, em 1931. Houveum debate sobre a habitação para a classe trabalhadorasugerindo-se então o dimensionamento de modelos dehabitação econômica conforme a disposição dos móveis quedefiniriam o espaço necessário para cada compartimento (vercapítulo 1.4).

Este tipo de dimensionamento é utilizado até hoje pela CaixaEconômica Federal para determinar o tamanho da unidademínima aceitável para financiamento. Aliás, este critério tornou-se o único utilizado por programas habitacionais para justificaras áreas cada vez mais mínimas, mostrando lay-outs com menosmóveis e com dimensões menores do que as encontradas nomercado.

Nunca foi considerada como importante na definição das áreasmínimas dos programas habitacionais uma discussão maisaprofundada, abordando uma amplitude de questões, comoas citadas no 2° CIAM, ou como levantadas por diferentespesquisadores ao longo de décadas (Nuno Portas, TeodoroRosso, Elvan Silva, Jorge Boueri e outros - ver capítulo 1.4).

Mesmo os fatores econômicos não justificam a constantediminuição de área útil admitidos nos financiamentos dehabitação de interesse social, como demonstrado no capítulo2.2. Não existe relação direta entre o aumento de superfície eo custo do metro quadrado.

Por outro lado, questiona-se como definir o mínimo para seviver. O critério dimensional do espaço físico baseado nasatividades, que são determinadas por característicasantropométricas e mecânicas das ações e pelo mobiliário básicode suporte para tais ações, pode ser sim um dos critérios paraa definição do mínimo habitável. O Padrão Antropométrico deDimensionamento da Habitação desenvolvido por Boueri (1989)é um exemplo de estudo de relações dimensionais que pode

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308308308308308 capítulo 3.2 - projeto do produto

ser usado como base para se iniciar uma discussão sobre oslimites mínimos de espaço físico da unidade habitacional.

Porém, a definição do mínimo para se habitar está relacionadocom vários outros aspectos além de fatores antropométricos,como densidade (pessoas por metro quadrado, pessoas porcômodo ou pessoas por domicílio), relações familiares, cos-tumes e outros (capítulo 1.4). Além destes aspectos, a unidadehabitacional está relacionada com os espaços coletivos epúblicos na qual está inserida. As definições de áreas precisamconsiderar portanto estas relações, lembrando que certasfunções podem ser deslocadas do espaço privado para o espaçocoletivo ou mesmo público, conforme o caso .

Além desta consideração de inserção da unidade habitacionalno conjunto, as características de projeto do seu interior tambémpodem alterar a noção de mínimo habitável. O projeto queapresentar uma capacidade de adaptação a diferentesnecessidades, com um conjunto de características flexíveis,oferecerá espaços que atenderão às necessidades de formadiferente de uma solução de compartimentação estática. Ascaracterísticas dos próprios móveis afetarão o uso destesespaços.

Portanto, depreendem-se destas reflexões pontos importantesde serem inseridos em pesquisas sobre parâmetros básicosdimensionais para habitação, como forma de subsidiar osprogramas habitacionais:

- relações antropométricas: cômodos, atividades, mobiliário eequipamento da habitação com as posições corporais dasatividades domésticas;

- costumes e aspectos culturais dos moradores: desenvolvimentode uma metodologia para definir as características dos espaçosnecessários conforme às atividades rotineiras, modos de vida ea aspectos culturais;

- densidade e privacidade: revisão dos parâmetros sobredensidade (pessoas por metro quadrado, pessoas por cômodo

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309309309309309capítulo 3.2 - projeto do produto

ou pessoas por domicílio) considerando as relações deprivacidade entre os moradores.

Estes são apenas alguns pontos levantados antes de começar adiscorrer sobre as características do interior da unidadehabitacional e de seu mobiliário, que também afetam em muitoa percepção do mínimo para se habitar.

É aqui que entra o tema sobre a flexibilidade do espaço interiorda unidade habitacional como fator almejado para atender asnecessidades de uso dos moradores, que vai mudando ao longodo tempo, e também para atender as necessidades de diferentesgrupos de moradores em um mesmo momento.

Como visto no capítulo 1.5, existem diferentes interpretaçõesdo termo flexibilidade. Adotando-se os dois principais tipos deflexibilidade, uma inicial e outra permanente, a primeiracorresponderia à possibilidade de escolha do futuro moradorda distribuição interna da unidade, ainda na fase de projeto,podendo induzir a uma variedade tipológica em um mesmoedifício.

No entanto, aplicar apenas esta diversidade tipológica dasunidades como forma de atender diferentes grupos demoradores configura uma flexibilidade temporária. Mesmo queum Conjunto Habitacional ofereça diferentes unidades comvários tamanhos e configurações, estas características vãoatender melhor os variados grupos de moradores por umdeterminado tempo. Porém, podem aparecer as inadequaçõesquando estes grupos mudam suas formações ou novasinovações técnicas surgem para melhor qualificar a edificação.

Considerando a flexibilidade permanente como sendo acapacidade da habitação modificar ao longo do tempo, existemtrês formas de isto ocorrer: mobilidade, evolução e elasticidade(capítulo 1.5, p.154). Dentre estas diferentes estratégias, ashabitações isoladas em lotes possuem a capacidade deElasticidade (alteração dos limites da casa, seja no sentido

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310310310310310 capítulo 3.2 - projeto do produto

vertical ou horizontal, com aumento da área construída), nãosendo isto possível na habitação coletiva. A Mobilidade é acapacidade de modificação rápida de espaços conforme a horae as atividades diárias, enquanto a Evolução é a capacidadede alteração da configuração espacial interna, possível de seraplicada em qualquer tipo de habitação, seja ela coletiva ouisolada no lote.

Quando se fala então em flexibilidade da unidade habitacional,está se considerando a estratégia de Evolução, defendida comocaracterística básica da habitação para abrigar as diversidadesespaciais domésticas necessárias. Deve-se no entanto salientarque uma área útil reduzida limita em muito o grau de flexibilidadeda unidade. A capacidade de Evolução exige uma revisão daárea mínima das unidades aplicada nos ProgramasHabitacionais (ver capítulo 2.2 e 2.3). A Evolução possibilitainclusive a adequação espacial para atender moradores comnecessidades especiais, com mobilidade limitada, promovendouma acessibilidade de acordo com a demanda.

Para capacitar a unidade habitacional com esta característica,é necessário abordar a edificação como uma conjunção decomponentes que possibilite uma adaptabilidade espacial etécnica. Esta percepção considera não somente a diferença denecessidades dos moradores como também a diferença no ciclode vida das partes de uma edificação. Esta abordagem precisaestar presente no projeto arquitetônico, que reflete a aplicaçãode processos e sistemas construtivos racionalizados e defineque parâmetros os componentes e susbistemas precisam atenderpara configurar os espaços flexíveis que se adaptem àsmudanças das necessidades espaciais, das inovaçõestecnológicas e da evolução da sociedade.

Com as especificações dadas pelo arquiteto e subsidiadastecnicamente pela indústria, o design dos componentes daedificação ganha então uma importância para proporcionar atransformação dos elementos que ainda estão sendoapresentados em posições estáticas e rígidas.

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311311311311311capítulo 3.2 - projeto do produto

Para ser atingido um sistema construtivo mais aberto possível,prevendo-se a flexibilidade na produção, no uso e namanutenção, existem dois aspectos a serem considerados:

- primeiro, a edificação precisa ser abordada em suas unidadesindependentes – materiais, componentes e subsistemas quepodem ser produzidos e montados separadamente. Cadacomponente e subsistema possui funções específicas erespondem por necessidades também específicas. Na mudançade uma necessidade, troca-se apenas o componente ou osubsistema correspondente.

3. 23. 23. 23. 23. 2Design dos componentes integrantes dos subsistemas e a coordenação

entre os subsistemas necessários para oferecer a capacidade detransformação e conseqüente flexibilidade espacial/funcional e técnica

das unidades habitacionais.

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312312312312312 capítulo 3.2 - projeto do produto

- o segundo aspecto diz respeito à troca dos componentes ousubsistemas, que é atingido através da coordenação de relaçõesentre os elementos e o design de conexões que precisa prevera desmontabilidade, permitindo a permutabilidade, se aproposta for a oferta de espaços flexíveis com capacidade deadaptação às diferentes necessidades.

Corrêa (2000) detalhou as características que os subsistemasprecisam apresentar para possibilitar modificações físicas daunidade após ser construída, para configurar uma flexibilidadepermanente. Serão então tratados aqui sobre os subsistemasque interferem diretamente nesta flexibilidade.

Iniciando com o subsistema infra-estrutural, sendo oembasamento a ligação direta da edificação com o terreno noqual será inserido, deve prever a elasticidade, comportandoacréscimos de áreas e redistribuição de cargas para as tipologiastérreas, podendo prever uma futura verticalização para unidadesassobradadas.

O subsistema superestrutural deve ser pensado independentedas vedações, possibilitando que estas passem por mudançasao longo do tempo e possam conseqüentemente oferecer maisalternativas espacias. Isto significa que o posicionamento dospilares e vigas bem como o tipo de laje interferirá diretamentenas alternativas de arranjos espaciais. A alvenaria estrutural,que é amplamente aplicada nos conjuntos habitacionais comosolução racionalizada, vai contra esta característica.

As vedações deveriam ser concebidas como painéis para facilitara montagem e desmontagem, tanto para abrir ou fechar vãose acessos, como para reposição de suas partes. Sua concepçãonão pode estar desvinculada dos revestimentos e instalaçõestécnicas. No caso das vedações externas, a partir do momentoque exista uma modulação, tanto de painéis como deesquadrias, aparece a oportunidade de acréscimo, diminuiçãoou troca de janelas e portas, refletindo então na configuraçãode fachadas.

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313313313313313capítulo 3.2 - projeto do produto

As instalações hidro-sanitárias, elétricas e de comunicação são,junto com as vedações, o que mais enrijece o lay-out da unidadehabitacional. Assim como as paredes divisórias precisam estar“soltas” da super-estrutura, as instalações precisam tambémser mais flexíveis, o que requer uma interface diferenciada tantocom as vedações bem como com o piso e o forro.

A permutabilidade entre componentes e subsistemas, que possagarantir a escolha do usuário, a consideração de diferentesciclos de vida de produto, a redução de gastos e fatores desustentabilidade, requer então uma definição das conexões entreos diferentes componentes e elementos, para incorporar emseu design justamente a possibilidade de modificação. Portanto,além de uma coordenação dimensional almejada por todoscomo requisito básico para melhoria da qualidade daedificação, acrescenta-se a necessidade de criação de padrões,acordos ou mesmo de documentação com a definição destasinterfaces de subsistemas e componentes. É uma área depesquisa que precisa ser incorporada no design dos produtosdestinados a sistemas construtivos, inclusive do mobiliário.

(...) cada componente pode ser associado a outros quedesempenham funções diferentes, pertencentes a subsistemasdiferentes. Chamamos a esta propriedade de correlação e éestabelecida definindo-se as condições de reciprocidade, asquais devem ser identificadas organizando os componentesem subsistemas e no âmbito de cada um, relevando asinterfaces de acordo com todas as alternativas possíveis deposicionamento (ROSSO, 1976, p.11).

Com isto, chega-se ao design das partes do produto habitação.O Projeto do Produto aqui tratado abarca então tanto o projetoda unidade habitacional em sua totalidade assim como oscomponentes dos subsistemas de instalações técnicas e devedações internas. É o design destes componentes e subsistemasque permitirá maior ou menor grau de flexibilidade de uso emanutenção, além de uma maior ou menor correlação com osequipamentos mobiliários introduzidos no interior doméstico.

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314314314314314 capítulo 3.2 - projeto do produto

Novas pesquisas na área de tecnologia de arquitetura deveriamtratar desta conectividade entre as partes, estabelecendopadrões de comunicação que trabalhem as interfaces dosdiferentes componentes, dos subsistemas e do mobiliário.

Todos os aspectos aqui relacionados sobre área mínima eflexibilidade de uso e manutenção do espaço habitacional, deverefletir obrigatoriamente na revisão da legislação municipal,mais especificadamente, nos códigos de obras ou de edificações.

A legislação é também uma grande definidora do produtohabitação. Os projetos arquitetônicos precisam ser aprovadospor órgãos públicos municipais, que através de seus códigosde edificações ou de obras definem parâmetros e áreas paraos espaços habitacionais.

O questionamento sobre o padrão de projeto das unidadesdos conjuntos habitacionais no capítulo 2.2, não pode estardesvinculado do que é exigido pela legislação, que não dámargens a projetos inovadores ou que procuram oferecer certascaracterísticas flexíveis de uso do espaço.

Corrêa (2000) lembra que as legislações municipais exigemdivisões internas e definições de fachadas fixas como requisitospara a aprovação dos projetos, indo contra ou nãoconsiderando a complexidade da definição dos espaçoshabitacionais.

Portanto, é necessário um questionamento dos parâmetrosimpostos pela legislação e revisar os aspectos que precisam sermudados para se adequar a uma nova concepção projetual.

No capítulo 2.4 descreveu-se as características dos móveisencontrados nas unidades dos conjuntos habitacionais e nas

PPPPProjeto do Projeto do Projeto do Projeto do Projeto do Produto – Móvelroduto – Móvelroduto – Móvelroduto – Móvelroduto – Móvel

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315315315315315capítulo 3.2 - projeto do produto

grandes redes varejistas. No entanto, não se pode afirmar queexista um padrão popular de móveis, como sendo exclusivo doconsumidor de baixa renda, tendo em vista que muitas peçasde móveis disponíveis nestas redes são também comercializadascom famílias de classe média. O que pode ser colocado é que,frente ao universo de produtos oferecidos no mercado varejista,a qualidade dos acessórios e a diminuição em algumasdimensões do móvel são ainda os definidores do padrão decusto do produto (ver capítulo 2.4, p.264).

Dando alguns exemplos, para a sala de estar o compradorencontra nas lojas desde racks dos mais simples para a televisãoe o aparelho de som, como grandes estantes que atendemestas mesmas funções, além de agregar partes fechadas comportas que incorporam diferentes acabamentos. Para odormitório, os guarda-roupas podem ser mais ou menosprofundos, suas gavetas podem ter corrediças metálicas ousimplesmente deslizar sobre guias de madeira, suas portaspodem ter grandes puxadores metálicos ou pequenos de plásticocom acabamento metalizado, e assim por diante.

Além deste padrão dimensional e de acabamento, os móveisencontrados nas Avaliações Pós-Ocupação, realizadas emconjuntos habitacionais, apresentaram características quepodem ser resumidas da seguinte forma: sofás ainda muitovolumosos, móveis monofuncionais, unidade de conjunto dadosomente pelo tratamento externo sem correlações dimensionaise pouca diversidade.

Martucci (1997) tratou alguns critérios para a obtenção daracionalização do produto habitação baseado nos seguintesconceitos: modulação, padronização, precisão, normalização,permutabilidade, mecanização, repetitividade, divisibilidade,transportabilidade e flexibilidade. Dentre estes parâmetros pode-se destacar alguns deles, em especial, para o produto móvel.Todos eles estão interrelacionados e seu conjunto gera umamaior qualidade tanto no produto habitação como no produtomóvel.

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316316316316316 capítulo 3.2 - projeto do produto

Iniciando-se com a modulação, é um conceito ainda poucoexplorado pelas indústrias moveleiras, com exceção dos móveisde cozinha. Como visto no capítulo 1.3, a cozinha de Frank-furt, desenvolvida em 1926, foi uma das precursoras destesmóveis modulados, cujo desenvolvimento foi possibilitado peloaparecimento de chapas de compensado. Le Corbusier já haviatambém apresentado móveis modulados no pavilhão EspiritNouveau, em Paris, em 1925.

Na Escola de Ulm, além do desenvolvimento de sistemasconstrutivos industrializados, também foi amplamente difundidaa idéia de sistemas de móveis compostos por elementosmodulados. Como Bonsiepe afirmou (ver cap. 1.3, p.71-2),dentro de um sistema de móveis, “estes elementos precisam serelacionar através de suas qualidades, sejam elas dimensionais,qualitativas, formais ou qualquer outra qualidade”.

No Brasil, alguns exemplos de móveis modulados foramproduzidos pela Unilabor, Hobjeto (Geraldo de Barros), eMobília Contemporânea (Michel Arnoult) entre as décadas de1950 a 1970 (ver cap. 1.3). Estes que investiram na produçãoem massa, rompendo com o esquema tradicional de fabricaçãode móveis que existia no Brasil, ofereceram peças moduladasque permitiam, além da desmontabilidade, umapermutabilidade de suas partes formando móveis diferentes.

Atualmente, mesmo sabendo-se que a modulação, através doatendimento de alguns parâmetros dimensionais, é umaimportante ferramenta para racionalizar a produção e criar umadiversidade de produtos, as indústrias que produzem os móveiscomprados pelas famílias de baixa renda têm oferecido poucosprodutos nos quais tenha sido utilizada esta ferramenta. Osarmários de cozinha continuam sendo ainda os móveis quemais exploram a modulação.

Como visto no capítulo 2.4, sobre o móvel popular, os módulosde cozinha se dividem basicamente em paneleiro, gabinete compia e sem pia, armários de parede e os conhecidos kits que

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317317317317317capítulo 3.2 - projeto do produto

conjugam gabinetes e armários. As indústrias que trabalhamcom a coordenação dimensional conseguem oferecer umagrande variedade de opções para cada módulo. Um mesmocorpo de gabinete com dimensões fixas para altura, largura ecomprimento pode, por exemplo, ter as seguintes configurações:prateleiras com portas; gaveteiro com grandes gavetões;gaveteiro lateral e portas; gavetas sobre as portas; tampo liso;tampo com pia. Enfim, dentro de um mesmo invólucro é possívelfazer os mais diversos arranjos. Além de explorar o conteúdodeste módulo, na “fachada” dos armários também aparecemas mais variadas cores e materiais conforme a escolha das portase frentes de gavetas. No caso da cozinha, os módulos de mesmaaltura e profundidade podem ir se agregando para formar umanova unidade, ou existir uma transição de um módulo para ooutro que, mesmo com diferentes dimensões externas, sedialogam através de outras dimensões em comum como, porexemplo, a altura da porta.

Cabe aqui salientar sobre a importância da correspondênciada modulação dos armários com o tamanho das cozinhas dosconjuntos habitacionais. Conforme a composição dos módulos,pode existir o desperdício de preciosos centímetros que fazemfalta em cozinhas tão pequenas, como foi visto no Capítulo2.3.

O fato é que há muito tempo tem sido trabalhada aracionalização do uso do espaço da cozinha, defendida desdeo século XIX pela americana Catherine Beecher e exploradaposteriormente na cozinha de Frankfurt dos vários conjuntoshabitacionais construídos na primeira metade do século XX nestacidade alemã (FOLZ, 2003). Esta racionalização foi conseguidacom a modulação dos armários e pode atingir grandesofisticação nas atuais cozinhas gourmet.

Existem alguns fabricantes de móveis para dormitório quetambém estão aplicando esta ferramenta de projeto. No entanto,pouco destes móveis possuem o caráter de compor um conjuntocomo é feito com os armários de cozinha. Como foi visto no

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318318318318318 capítulo 3.2 - projeto do produto

Capítulo 2.4, os móveis de dormitório são apresentados comopeças independentes que se relacionam somente através dotipo de acabamento. A cômoda, o roupeiro, mesmo uma mesade estudo poderiam ser módulos componíveis, o que hoje nãoacontece. Esta idéia pode ser ampliada para resgatar o módulode maleiro, parte do roupeiro que tem sido abandonada como passar do tempo e que aproveitava melhor todo o espaço dopé-direito do cômodo.

Os módulos que formassem o roupeiro e a cômoda poderiamtambém abrigar os mais variados conteúdos, escolhidos pelocomprador. Acessórios e partes encaixáveis permitem uma maiorflexibilidade na escolha das divisões. Este tipo de concepção éamplamente aplicado pela empresa IKEA, citada no Capítulo1.3. O móvel sai pronto da loja com as combinações de suaspartes escolhidas pelo cliente e proporciona a facilidade demudança caso o usuário decida posteriormente aumentar oumesmo trocar algumas partes do móvel. A modulação permiteesta customização tão defendida atualmente no mercado deprodutos industrializados. Para citar apenas um exemplo, umfabricante de eletrodomésticos no Brasil já oferece apossibilidade do cliente montar o conteúdo da geladeira,podendo-se optar por elementos como porta latas, portagarrafas, gelateria, fruteira, além dos itens de série.

A coordenação dimensional além de facilitar a produção eaproveitar melhor o material (como no caso da chapa de MDFou compensado), deve também transferir para o usuário asvantagens da modulação para permitir a escolha de umacomposição de diferentes móveis e mesmo do conteúdo destesmóveis. Isto possibilita a permutabilidade.

“A permutabilidade poderia ser pensada como um ideal demóvel em que, mesmo sendo danificada uma parte, ou umcomponente, haveria a possibilidade de ir à loja e compraruma peça de reposição, sem ser necessário trocar o móvelinteiro. Outra idéia é a troca de função das peças dentro deuma estrutura. Por exemplo, as laterais de uma estantepoderiam virar prateleiras, enquanto as prateleiras seriam

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319319319319319capítulo 3.2 - projeto do produto

usadas como suporte da nova estante, podendo variar assima altura, a profundidade e o comprimento do móvel. Apermutabilidade permite diversas composições, gerandotransformações até mesmo no uso” (FOLZ, 2003, p.141-2).

Quando se trata de padronização, precisão e normalização àprodução de móveis se refere a garantia de qualidade nofornecimento dos mais diversos componentes fabricados pordiferentes empresas. Critérios normalizados sobre a produçãodestes diferentes elementos do móvel resultam em um produtofinal de melhor qualidade. Pode-se incluir também nestesconceitos “normas de caráter ambiental, que regulariam aextração de matéria-prima, o processo produtivo e apreocupação com o ciclo de vida do produto” (FOLZ, 2003,p.141)

A aplicação dos conceitos de modulação, permutabilidade,padronização, precisão e normalização possibilita a flexibilidadena produção, uso e manutenção do móvel. Esta flexibilidadepode ser traduzida também em multifuncionalidade. Móveispara áreas muito pequenas deveriam oferecer um grau mínimode versatilidade. A padronização e normalização de algunsmecanismos, articulações, rodízios e elementos deslizantesforneceriam componentes que poderiam ser incorporados aomóvel para agregar funções.

Quando se trata de espaço doméstico com a sua complexidadede uso, é necessário trabalhar a interrelação de todas as partesque compõem este espaço. Em pequenas áreas, somente odesign do mobiliário não é suficiente para melhorar as condiçõesencontradas pelos moradores quando se deparam com oproblema de equipar sua moradia. O que se percebeu emAvaliações Pós-ocupação é um conjunto de características queresultam em espaços congestionados: tamanho da unidade

PPPPProjeto do Projeto do Projeto do Projeto do Projeto do Produto - Habitação e móvelroduto - Habitação e móvelroduto - Habitação e móvelroduto - Habitação e móvelroduto - Habitação e móvel

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320320320320320 capítulo 3.2 - projeto do produto

habitacional, compartimentação rígida e mobiliário inadequado(ver capítulo 2.3).

Estas características não condizem com às diversas formaçõesfamiliares encontradas nos conjuntos habitacionais. O conceitode flexibilidade colocado anteriormente vem de encontro à buscade uma melhor adequação dos espaços das unidades àsnecessidades dos moradores, possível de ser atingida quandoos subsistemas e componentes da habitação assim como omobiliário são tratados sob uma mesma base de comunicação,tanto dimensional como de conectividade.

“Um móvel pode servir de divisória, pode encolher quandonão está em uso, disponibilizando espaço para outra atividade,pode fazer parte de um elemento estrutural da edificação,enfim, conforme o projeto, a edificação e o mobiliário estãoem constante diálogo para proporcionar a flexibilidadedesejada” (FOLZ, 2003, p.159).

3. 33. 33. 33. 33. 3É um padrão de comunicação das

interfaces que permitirá as maisvariadas soluções para cada

componente que forma ossubsistemas, e que será usado como

base para o design do mobiliário

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321321321321321capítulo 3.2 - projeto do produto

Como visto no capítulo 2.3, a total falta de coordenação di-mensional, entre as pequenas áreas das unidades habitacionaise os móveis, gera espaços residuais e conflitos entre diferentespeças do mobiliário. Fazendo-se uma aproximação das possíveisinterfaces entre o mobiliário e os subsistemas da unidadehabitacional, é possível criar um padrão mínimo decomunicação para que os móveis, mesmo que como soluçãosejam escolhidos produtos independentes da edificação, tenhamuma inserção mais adequada na unidade habitacional.

Os conhecidos móveis de suporte e armazenamento presentesnas unidades dos conjuntos habitacionais (ver capítulos 2.3 e2.4) - armários de cozinha, roupeiros, cômodas, estantes e racks- são os que podem apresentar uma maior interrelação com asparedes divisórias. Os exemplos de móveis divisórias, citadosanteriormente, são uma proposta de solução de móveis paraarmazenamento dentre várias outras soluções que podem surgir.Como não está se tratando de defender um padrão de solução,mas defender um padrão de comunicação técnica, passa-seentão a discorrer sobre exemplos de como esta comunicaçãopode se dar entre o mobiliário e os subsistemas construtivosque afetam a configuração interna da unidade (paredesdivisórias e instalações).

Da mesma forma que é comum no ramo das esquadrias seadmitir portas de 70, 80 ou 90 como larguras padrões (emboracontinue existindo variações de centímetros nestas dimensões)11111,os armários de dormitório poderiam se inserir em um padrãoquando a já conhecida nomenclatura dada para roupeirosconforme sua quantidade de portas (roupeiro de duas portas,de três portas e assim por diante) denunciasse a dimensão docomprimento deste móvel. Possuindo portas dentro de umpadrão dimensional, os roupeiros poderiam estar emconformidade com as dimensões utilizadas na definição dotamanho do cômodo, ou vice-versa, quando estudos sobre odesign dos roupeiros induzissem a um outro tamanho decômodo. O mesmo pode se dar em relação a altura do armário.

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322322322322322 capítulo 3.2 - projeto do produto

Com um pé-direito respeitando uma padronização de altura,facilita o retorno do módulo maleiro nos roupeiros comoacréscimo de mais um espaço de armazenamento extremamentenecessário em áreas muito pequenas, como é o caso dasunidades dos conjuntos habitacionais.

Além desta coordenção dimensional, poderiam existir sistemasde divisórias que permitissem agregar módulos de móveis comdiferentes funções. Uma outra interface possível de ser exploradaseria entre as divisórias, as instalações elétricas, lógica e detelefonia, e os móveis. Sabe-se que a localização de tomadasdefine em muito a posição de certos móveis, enrijecendo muitasvezes o lay-out. Os atuais rodapés eletrificados é um tipo desolução que buscou justamente a flexibilidade na localizaçãode tomadas. Outras soluções podem ser desenvolvidas combase em padrões de conexão entre os componentes dosubsistema de instalações elétricas e do subsistema de vedações.

Os móveis de descanso e de apoio, como os sofás, camas,cadeiras e mesas, são os de maior mobilidade e independênciadentro de uma unidade habitacional. Mesmo estes móveispodem também apresentar interfaces diretas com as divisóriase os móveis de armazenamento, como demonstram os exemplosde camas retráteis (ver capítulo 1.5) e de mesas dobráveis.

A modulação é uma noção básica para uma comunicação en-tre diferentes elementos, componentes e subsistemas. Umamodulação definida por arquitetos e designers embasa o projetoda habitação, o design dos subsistemas, a produção dasdiferentes partes da edificação e mesmo do mobiliário, refletindonas possibilidades que o morador terá no uso, na manutençãoe em melhoramentos do seu espaço doméstico.

O atendimento de requisitos básicos espaciais, o estudo deconexões, a existência de coordenação de lugar, de dimensões,de grupos de elementos e de níveis, são concepções queauxiliam na definição de uma nova estrutura de tomada dedecisões na edificação habitacional.

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323323323323323capítulo 3.2 - projeto do produto

Divulgar para as indústrias moveleiras a realidade do interiorda habitação de interesse social é também uma ação necessáriapara provocar uma reflexão sobre o design de móveis para ahabitação mínima de famílias de baixa renda. Isto contribuitambém para uma mobilização dentro de Programas Públicosque desencadeie um novo pensar a unidade habitacionalconsiderando as relações com seu mobiliário e equipamentos.

O despertar para este novo paradigma projetual faz parte deuma abordagem sistêmica sobre a complexidade das relaçõesentre agentes e ações que em diferentes esferas estão envolvidosna produção habitacional e moveleira. O surgimento dosProgramas lançados na década de 1990, conforme descritoanteriormente, mostra o envolvimento governamental paracoordenar os mais diversos interesses. Os programas depesquisa precisam por sua vez gerar os conhecimentos emconjunto com os setores produtivos para ir se configurandogradativamente uma base de comunicação tanto para oaprimoramento do projeto da habitação como do design deseus componentes e do mobiliário.

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324324324324324 capítulo 3.2 - projeto do produto

1 1 1 1 1 MIASAKI, Deborah; POUGY, Geraldo. Demanda por Design noDemanda por Design noDemanda por Design noDemanda por Design noDemanda por Design noSetor PSetor PSetor PSetor PSetor Produtivo Brasileiro.rodutivo Brasileiro.rodutivo Brasileiro.rodutivo Brasileiro.rodutivo Brasileiro. Relatório preparado por solicitação doMinistério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, parasubsidiar a elaboração de políticas públicas na área do design. Centrode Design Paraná, setembro 2006. Disponível em <http://www.designbrasil.org.br/portal/acoes/DEMANDAporDESIGN.pdf>.Acesso em nov. 2007. Este relatório aponta a falta de padronizaçõese nomenclaturas dos componentes e materiais de construção comoum dos pontos fracos da cadeia produtiva da construção civil .

NotasNotasNotasNotasNotas

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325325325325325capítulo 3.3 - projeto da produção

O Projeto da Produção, tanto da habitação como do móvel,possui estreitos vínculos com o Projeto do Produto. A corretaexecução de cada etapa da produção é que vai garantir aqualidade do produto final. Por outro lado, a busca pelaotimização do processo refletirá no Projeto do Produto.

Como debatido no capítulo 2, a racionalização da construçãohabitacional potencializada a partir da década de 1990 e oforte investimento em maquinário das indústrias moveleirasdefinem novos processos produtivos que precisam de um projeto.

Será então exposto aqui uma reflexão sobre os rumos que estesnovos processos estão indicando e sua relação com o produto.

O Projeto da Produção para tratar o produto habitação na suacomplexidade construtiva, abarca o planejamento da produção,o projeto do canteiro de obras ou o projeto de usinas e ogerenciamento da produção (MARTUCCI, 1990).

Incluindo políticas e estratégias produtivas do desenvolvimentodo processo de trabalho e da organização e planejamento daprodução, o Projeto da Produção define as atividades produtivase sua seqüência tecnológica de produção - fluxo tecnológico 11111,bem como sua base técnica (FABRÍCIO, 1996, p.122). Autilização e o desenvolvimento do Projeto de Produção é inerentea tão almejada racionalização construtiva, definida por Sabbatini(1989, p.67), como

3.3 – PROJET3.3 – PROJET3.3 – PROJET3.3 – PROJET3.3 – PROJETO DO DO DO DO DA PRODUÇÃOA PRODUÇÃOA PRODUÇÃOA PRODUÇÃOA PRODUÇÃO

PPPPProjeto da Projeto da Projeto da Projeto da Projeto da Produção - habitaçãorodução - habitaçãorodução - habitaçãorodução - habitaçãorodução - habitação

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326326326326326 capítulo 3.3 - projeto da produção

“(...) um processo composto pelo conjunto de todas as açõesque tenham por objetivo otimizar o uso dos recursos materiais,humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporaise financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases.”

No capítulo 2.1 descreveu-se a postura das empresasconstrutoras frente ao novo cenário da economia nacionalsurgido principalmente a partir da década de 1990. Desdeentão as empresas estão dando uma maior importância aoProjeto da Produção para viabilizar suas margens de lucro,ampliando e desenvolvendo seu domínio e controle sobre abase técnica do processo de trabalho e planejando edesenvolvendo as etapas construtivas. Para tanto passa a existiruma busca de soluções tecnológicas e de gerenciamento daprodução como forma de aumentar o grau de industrializaçãodo processo produtivo e aumentar conseqüentemente aprodutividade.

Este processo de racionalização na construção habitacional temevoluido gradativamente com a introdução cada vez maior deprodutos industrializados que substituem etapas até entãorealizadas no canteiro de obras, caracterizando um caminhopara a edificação se tornar um produto resultante da montagemde diferentes componentes e/ou subsistemas (ver capítulo 2.1),interferindo diretamente no processo construtivo.

Seguindo os princípios básicos já citados como necessários nesteprocesso (modulação, padronização, normalização,permutabilidade, mecanização, repetitividade, divisibilidade,transportabilidade e flexibilidade - MARTUCCI, 1990),aparecerá constantemente a necessidade do desenvolvimentode novos produtos, tanto de componentes e subsistemas comonovas ferramentas e equipamentos para o processo construtivo,que refletirão no produto habitação e sua relação com omobiliário e outros equipamentos domésticos.

Entre os princípios básicos para a racionalização construtiva, amecanização crescente no canteiro de obras com a presençade gruas e outros maquinários individuais (serras, furadeiras,

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327327327327327capítulo 3.3 - projeto da produção

lixadeiras, etc.) está sendo um dos fatores que tem possibilitadouma maior produtividade.

Além do aumento da utilização de produtos industrializados eda mecanização, muitas empresas tem investido nogerenciamento da produção, entendido como a realização deações de coordenação, planejamento, execução e controle,para otimizar o uso de recursos e garantir a qualidade doprocesso de produção e dos produtos intermediários e finais.

A estruturação organizacional das empresas e a capacitaçãotécnica permite a prática de coordenação de projetos quecompatibilizam as interfaces de várias especialidades e osurgimento de novos padrões de relacionamento entre osempreiteiros e subcontratados para garantir a qualidade eprodutividade dos serviços prestados. Esta estruturaorganizacional procura minimizar a conhecida prática detrabalho (técnicas e métodos construtivos) presente nasconstruções habitacionais, caracterizada pela falta de normase procedimentos de execução, ficando muitas decisões a cargoda própria força de trabalho, nem sempre treinada para talfunção. Este é mais um aspecto que gera uma falta de controleno processo construtivo que refletirá na qualidade do produtofinal.

Como as instalações produtivas se transferem de acordo como lugar que a edificação vai ser construída, o projeto de usinase do canteiro de obras faz parte desta racionalização comosendo a estrutura básica onde se aplicará alguns princípios deprodução industrial.

Aparece então os princípios básicos do Projeto da Produção:os recursos humanos; o controle da qualidade; e o controle daprodutividade (MARTUCCI, 1990). Uma padronização noprocesso de trabalho amplia o controle da qualidade eprodutividade.

Resumindo-se os aspectos relativos à melhoria do padrãoconstrutivo, tem-se as seguintes características básicas:

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328328328328328 capítulo 3.3 - projeto da produção

• qualificação e polivalência operária;• gestão integrada do processo como um todo;• ênfase na gestão de interface;• racionalização dos métodos construtivos.

Cada uma destas características corresponde a ações queprecisam ser tomadas ou pesquisadas por diferentes agentes.Além do aspecto de qualificação profissional e de ordemorganizacional, a racionalização dos métodos construtivos estádiretamente relacionada ao Projeto do Produto.

Tanto a produção do móvel quanto de componentes e elementosde subsistemas estão inseridos dentro de uma produção indus-trial com bases já consolidadas. O que diferencia uma indústriade outra é o seu aporte tecnológico representado pelo seumaquinário que por sua vez definirá uma absorção maior oumenor de mão-de-obra.

O Projeto da Produção nestas indústrias manufatureiras, maisconhecido como projeto do processo, ocorre após a conclusãodo detalhamento do produto, seu planejamento, design eengenharia com suas especificações. As informações contidasno Projeto do Produto são então traduzidas em projetos doprocesso que ocorre em vários níveis: fluxograma do processo,layouts de produção, projeto de máquinas e ferramentas, projetodo trabalho, etc. É importante, ao longo deste processo, ainteração entre o desenvolvimento do produto e do processocom o intuito de trocar de informações para garantir: amanufaturabilidade (facilidade de produzir e montar os produtosa serem manipulados pelo processo produtivo); a qualidadede conformação; a produtividade do processo, etc. (TOLEDO,1993 in FABRÍCIO, 1996, p.124).

PPPPProjeto da Projeto da Projeto da Projeto da Projeto da Produção - Móvelrodução - Móvelrodução - Móvelrodução - Móvelrodução - Móvel

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329329329329329capítulo 3.3 - projeto da produção

O padrão tecnológico das indústrias definirá em que nívelocorrerá o projeto do processo. Em geral, as maiores indústriaspossuem uma capacidade de investimento mais alta exigindoum maior grau de planejamento e organização da produção,para a fabricação de grandes séries de produtos. Isto já nãoocorre com as pequenas marcenarias que atendem encomendassob medida para um cliente determinado e aplicam um processoque passa por etapas muito específicas para cada produto,utilizando-se máquinas mecânicas básicas. Pelo padrãotecnológico destas empresas, algumas etapas do processo deprodução não existem como nas grandes indústrias.

No caso das indústrias moveleiras que produzem os móveiscomprados pela população de baixa renda, existe uma variaçãoentre o tamanho das empresas, predominando as de médioporte (ver capítulo 2.4).

Estas empresas passaram por uma fase de atualizaçãotecnológica e de modernização administrativa muito forte, apartir da década de 1990, para atingir os níveis deprodutividade e competitividade exigidos pelo mercado. Istogerou, nessa década, reduções significativas (de até dois terços)da mão-de-obra (COUTINHO et al, 2001, p.25). A aquisiçãode equipamentos mais sofisticados para se trabalhar a madeira,as máquinas CNC (Controle Numérico Computadorizado),diminui a relação do número de trabalhadores por máquina, ea qualificação de marceneiro, que dominava todo o processo,acabou desaparecendo.

Estes investimentos ocorreram principalmente nas indústrias demóveis retilíneos seriados que correspondem principalmente aosroupeiros, cômodas, racks, estantes e armários de cozinha.Neste segmento os produtos são menos complexos e passíveisde automação padronizada (corte de painéis, usinagem,acabamento e embalagem).

O que se percebeu com esta introdução de maquinário de altatecnologia no processo produtivo foi uma certa imposição daforma do produto final. Enquanto nas indústrias manufatureiras

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330330330330330 capítulo 3.3 - projeto da produção

em geral, as informações contidas no projeto do produto sãotraduzidas em projeto de processo, no caso das indústriasmoveleiras ocorre o contrário. As máquinas CNC, a matéria-prima utilizada (principalmente chapas de MDF) e a qualificaçãoda mão-de-obra estão determinando um padrão de produto.Criou-se uma estratégia produtiva onde o design do móvel estáausente ou muito limitado neste processo.

As linhas produtivas automatizadas levaram a um enrijecimentoda forma do produto. A flexibilidade inerente nas novastecnologias de automação de máquinas, que poderia levar auma customização, garantindo uma diferenciação de produtos,não está sendo utilizada por estas indústrias.

Isto talvez explique, em parte, o fato dos móveis seremprincipalmente diferenciados somente pelo acabamento eacessórios, estando sempre apoiados nas mesmas formasbásicas repetidas pelas mais variadas indústrias moveleiras.

Outra hipótese para esta inversão do fluxo para a definição doproduto, que neste caso está ocorrendo pelo processo produtivo,estaria justamente na ausência de departamentos dedesenvolvimento de produtos nestas empresas, onde osinvestimentos em maquinário de alta tecnologia não sãoacompanhados por inovações em design. A fase de Projeto doProduto é reduzida à cópia de modelos existentes no mercado,tanto nacional como internacional.

Uma outra característica das indústrias moveleiras, independentedo seu porte, é a verticalização da produção. São muito poucasempresas que transferem para terceiros algum estágio do seuprocesso produtivo. A terceirização da produção poderia serfacilitada pela normalização de algumas peças de móveis,estipulando referências dimensionais e de qualidade.

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331331331331331capítulo 3.3 - projeto da produção

A via de mão dupla entre o projeto e a produção torna-se abase para uma maior qualidade de produtos.Independentemente do produto ser a habitação ou o mobiliário,a relação simbiótica entre o Projeto do Produto e o Projeto daProdução está presente no desenvolvimento tecnológico.

Conforme descrito anteriormente sobre os produtos habitaçãoe móvel, existe uma diferença na relação entre estes Projetos.O projeto arquitetônico e de engenharia da habitação étrabalhado com vários níveis de detalhamento. Mesmo que sequestione a qualidade do projeto (como feito anteriormente)existe uma estrutura projetual consolidada para este produto.

Enquanto isto, o projeto da produção da habitação estápassando ainda por uma fase de adequação para possibilitaruma implantação cada vez maior de racionalização no processoconstrutivo. Busca-se uma transferência da lógica do processode produção das indústrias manufatureiras (com seus devidosajustes) para a produção de edificações habitacionais.

Uma realidade inversa ocorre com o mobiliário. O design domóvel é praticamente ignorado pela indústria moveleira.Somente agora o fator referente à competitividade do mercadoestá provocando o despertar para o design pelo empresariado,sem que este ainda tenha muita noção do reflexo que o designpode ter na produtividade e qualidade da produção e doproduto.

Porém, quando se refere ao projeto de processo, principalmentenas indústrias que estão investindo fortemente em maquináriode alta tecnologia, destaca-se um maior grau de importância,além de corresponder a uma base produtiva já consolidada.

Em ambos os casos, na habitação e no mobiliário, está faltandoa relação que deveria ser simbiótica entre o Projeto do Produto

PPPPProjeto do Projeto do Projeto do Projeto do Projeto do Produto e Produto e Produto e Produto e Produto e Projeto da Projeto da Projeto da Projeto da Projeto da Produçãoroduçãoroduçãoroduçãorodução

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332332332332332 capítulo 3.3 - projeto da produção

e o Projeto da Produção. Esta desvinculação reflete diretamentena qualidade do produto final (vide conjuntos habitacionais emóveis populares).

No caso da habitação, o projeto do produto precisa explorarmais as possibilidades tecnológicas para desenvolver novoscomponentes e subsistemas, ou aperfeiçoar os já existentes,capacitando a edificação habitacional para as transformaçõesnecessárias (descritas anteriormente) e para induzir a processosconstrutivos mais racionalizados. Isto significa incorporar naprática de projeto os seguintes elementos: a coordenaçãomodular; a compatibilização entre todos os subsistemas;padronização de dimensões e detalhes construtivos e maioruso de componentes e subsistemas industrializados.

O projeto da produção, por sua vez, define o planejamento e acoordenação de todas as fases construtivas, facilitadasatualmente pelo uso de ferramentas computacionais e sistemasde informação, que aumentam a produtividade e evitam aocorrência de erros. O projeto do produto, estando integradoao projeto de produção, cria um canal de comunicação paraum constante aperfeiçoamento tanto dos elementos,componentes, subsistemas e do produto final, como no processoprodutivo. É esta relação que induzirá ao questionamentoconstante sobre os produtos até então utilizados neste setor,assim como sobre o processo e métodos construtivos.

No projeto do produto habitação pode então surgir asespecificações de novos componentes e subsistemas, queestariam embasados em uma coordenação dimensional e queincorporariam elementos de interface para possíveis integraçõescom o mobiliário. Este seria um caminho natural para introduzircaracterísticas básicas no produto habitação que se aproximecada vez mais ao atendimento das necessidades do usuário esua conseqüente satisfação. São as proposições introduzidasno projeto embasados em uma realidade tecnológica quecapacitarão a edificação habitacional para sofreremtransformações conforme a necessidade, transferindo para os

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333333333333333capítulo 3.3 - projeto da produção

moradores as vantagens da flexibilidade de seu uso emanutenção.

Esta nova base projetual proporcionará também novasabordagens de design do mobiliário. A unidade habitacionalsendo o suporte físico com características de interface,apresentará novas possibilidades de introdução do mobiliáriono espaço doméstico.

O projeto do produto móvel, realizado atualmente de maneiratão superficial pelas indústrias, poderá ganhar um pesodiferenciado por agregar novos valores através de seu design.Considerando que a sua produção é realizada com maquináriode alta tecnlogia, já existe uma estrutura produtiva que podecustomizar os produtos e se adequar à fabricação de móveisdiferenciados.

Toda esta nova proposta projetual, tanto do produto como daprodução, precisa de um suporte tanto institucional (comoProgramas de Qualidade, de Design, Normalização técnica eoutros) como organizacional (Associação de Fabricantes,Projetistas, Universidades, Centros de Treinamento e outros) quesão as organizações, agentes e instituições que interferem diretaou indiretamente nas ações e no desempenho da cadeiaprodutiva habitacional e do mobiliário.

Portanto, a almejada qualidade da unidade habitacional e domobiliário, que será traduzida na qualidade do espaçodoméstico, só será completamente alcançada quando estaproblemática for tratada com base em um Projeto Tecnológico.Sem se basear nesta premissa, as pesquisas tecnológicas quesão desenvolvidas continuarão com dificuldades de seremintroduzidas no mercado para uso da sociedade. Desvinculadasde uma realidade mais complexa do que está sendo tratada,as pesquisas correm o risco de subsidiarem parcialmente aspolíticas tecnológicas e habitacionais necessárias.

Sem existir um enfrentamento conjunto das mais diversas áreasque aqui foram tratadas, as iniciativas e investimentos tecnlógicos

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334334334334334 capítulo 3.3 - projeto da produção

continuarão trazendo resultados pontuais, beneficiando algunsaspectos em detrimento de outros, não atingindo o produtohabitação como um todo, onde a satisfação do morador deveser considerada de maneira mais consistente.

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335335335335335capítulo 3.3 - projeto da produção

NotasNotasNotasNotasNotas

1 O fluxo tecnológico, segundo MARTUCCI (1990:343-344), “(...) mostracom qual seqüência técnica, uma edificação ou um conjunto delas, pode serexecutada, em função das características do processo construtivo adotado,no projeto do produto.(...) Pode-se através de fluxos tecnológicos detalhadosdetectar os gargalos tecnológicos de um determinado produto edificação,semmesmo precisar executá-lo, pois todas as inter-relações técnicas e construtivasque estão, aparentemente embutidas nos Projetos do produto devem,necessariamente, seremexplicitadas no ato da elaboração do fluxotecnológico.”

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337337337337337considerações finais

CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

A habitação de interesse social tem sido tema de centenas detrabalhos acadêmicos, sendo abordada nas suas mais variadasfacetas: inserção urbana, política habitacional, tecnologiasconstrutivas, autoconstrução, e outras. No entanto, são poucosos que tratam do interior da unidade habitacional. Os trabalhosde Avaliação Pós-ocupação, além de realizar medições,diagnósticos e recomendações em diversas áreas, tem sido aspesquisas em Conjuntos Habitacionais mais reveladoras darealidade enfrentada pelos moradores dentro do espaçoprivado.

Os conflitos surgidos dentro deste espaço de áreas mínimas,onde o mobiliário acaba interferindo de forma marcante,principalmente pelas suas características inadequadas aoscômodos de configurações rígidas, induziram a estruturaçãodesta pesquisa no sentido de abordar esta problemática emtoda a sua complexidade. As mais variadas questões tratadasaqui formam a base de um Projeto Tecnológico para a produçãoda habitação mínima e seu mobiliário.

Frente a esta complexidade, buscou-se apresentar uma visãosistêmica com as relações entre estas várias questões. O ProjetoTecnológico aqui proposto partiu desta visão com a finalidadede indicar as áreas de ações para enfrentar esta realidade:habitação de áreas mínimas e seu mobiliário para famílias debaixa renda com diferentes formações.

Porém, vale ressaltar, que este Projeto não se aplica apenas arealidade acima citada. Pode também ser a base para aprodução habitacional de outros nichos de mercado, como naprodução dos apartamentos para a classe média. No entanto,algumas melhorias, por menor que sejam, possuem um peso

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338338338338338 considerações finais

diferenciado conforme a faixa de renda da população que éatingida. Enquanto as famílias de classe média e de alta rendabuscam alternativas dentro do mercado para resolverem melhorsuas questões habitacionais e de mobiliário, as famílias de baixarenda ficam presas ou se limitam em muito às iniciativas estataisde subsídios nas ofertas habitacionais e na oferta de móveisdos grandes magazines. Portanto, a preocupação maior é comos produtos para as famílias de baixa renda, cuja base do ProjetoTecnológico aqui proposto pode refletir em melhorias em todaa cadeia produtiva da construção habitacional e moveleira.

Se por um lado este Projeto Tecnológico serviu para elucidar asvárias questões envolvidas na otimização dos produtos habitaçãoe móvel, por outro lançou indicações de uma gama de trabalhosque precisam ser incluídos nos programas tecnológicos ouresgatados das pesquisas já realizadas.

Iniciando pelo suporte institucional existente, criado paraalavancar um desenvolvimento tecnológico dos participantesda cadeia produtiva habitacional e moveleira, destacam-sealgumas questões cruciais que precisam entrar na agenda dosdiversos programas lançados para patrocinar o citadodesenvolvimento.

Primeiramente, aparece a necessidade de criação de umaplataforma única de comunicação e negociação entre osdiversos programas criados cujos objetivos se convergem.Embora com estruturas específicas, os Programas descritosanteriormente (PBQP-H, Qualihab, PBD e Habitare) configuramuma importante base sobre a qual podem ser desenvolvidaspesquisas e ações que dinamizem o desenvolvimentotecnológico dando a devida importância para o projeto e parao design. O peso dado ao subsetor de projetos e ao subsetorprodutivo deve ser equilibrado. É um que alimenta o outro nesteprocesso contínuo de busca de qualidade do produto e dequalidade de vida.

São também estes Programas junto com Universidades e Centrosde Pesquisa que podem servir de referência para iniciativas

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regionais como os APLs (Arranjos Produtivos Locais) e os CentrosTecnológicos, dando o devido suporte à rede de parcerias quese forma conforme as necessidades específicas da comunidadeenvolvida.

O sistema de normalização, por sua vez, tanto para a construçãohabitacional como para a produção moveleira precisa passarpor um processo de revisão abrangente, ratificando o que muitospesquisadores e agentes da cadeia produtiva já constataram.Mas estes mesmos agentes e pesquisadores devem se mobilizardentro dos vários programas para estruturarem as normasrealmente necessárias para embasar o desenvolvimento dascadeias produtivas, servindo como parâmetros básicos para asações destas cadeias.

Quando se trata então do projeto do produto habitação apareceentão a primeira questão: a definiçaõ de área mínima. Este éum desafio de pesquisadores para subsidiar uma revisão porparte dos Programas Habitacionais sobre o mínimo aplicado epermitido nos financiamentos de habitação de interesse social.Por melhor que seja o projeto arquitetônico e o design domobiliário, não é suficiente para sanar a deficiência tãoextrema de espaço. Portanto, requisitos básicos espaciais parauso habitacional precisam ser estudados juntamente com novaspropostas de componentes e subsistemas que permitirãoconfigurações flexíveis da unidade habitacional.

Quanto ao nível tecnológico da construção habitacional,conforme colocado no capítulo 2, estudos apontam umaconstante e gradual evolução na racionalização eindustrialização deste setor acelerado a partir da década de1990. O que se percebe, no entanto, é a ausência de arquitetose designers na definição dos componentes e subsistemasapresentados pela indústria da construção civil. Como escritono capítulo 3, os arquitetos só utilizam em seus projetos o quea indústria impõe no mercado. Cabe aqui lembrar o queKönigsberger afirmou (ver capítulo 3.1), que dos papéis que oarquiteto deve assumir na contemporaneidade é o de criador e

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340340340340340 considerações finais

avaliador na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos etecnologia para a indústria e de especificadores diretos deprodutos, processos e sistemas. Nesta área aparece o aspectointerdisciplinar com o designer de produto e mesmo com o de-signer de sistemas de produtos.

O tema flexibilidade apareceu junto com a discussão de áreamínima como característica básica do espaço habitacional,mas com sérias dúvidas de como ser aplicado. Por um ladoexiste um consenso que as configurações estáticas das unidadeshabitacionais são uma das causas do problema decongestionamento do interior destas unidades e de nãocorrespondência a mudanças constantes das necessidades dosmoradores e de diferentes formações familiares. Por outro ladoé preciso saber como oferecer elementos que permitam comque o morador tenha condições de rearranjar os cômodosconforme suas necessidades.

A prerrogativa de que o produto deve estar a serviço do usuárioe não o contrário, não está presente na atual produçãohabitacional brasileira. No entanto, o primeiro passo no sentidode agregar a estratégia de flexibilidade de uso é justamenterever o Projeto do Produto e o Projeto da Produção.

A concretização de um espaço habitacional flexível só poderáocorrer depois desta revisão em conjunto com toda uma outrarevisão, que é das ações dos Programas de Qualidade, de De-sign e de Normalização. Para que o usuário comece a participarna definição de seu espaço habitacional e na melhoria dasinterfaces dos componentes e subsistemas da habitação,precisam ser lançadas as bases sobre as quais se atuará. Sópoderá ser trabalhado e avaliado o uso da flexibilidade espacialpelos usuários depois que a edificação incorpore a capacidadede transformação através da interconectividade de suas partes.

Uma relação mais estreita entre a edificação e seu mobiliárioprecisa ser explorada como grande alternativa de otimizaçãodo uso do espaço doméstico, quando considerado características

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tão esquecidas na produção moveleira atual: modulação,multifuncionalidade e versatilidade, que possam oferecer aalmejada flexibilidade. Toda uma gama de novos designs esistemas de móveis podem aparecer quando isso for levado emconsideração.

A indústria moveleira passa a fazer parte do grupo industrialque pode estar se relacionando mais diretamente nas pesquisase projetos experimentais que viabilizem estes espaçosdomésticos.

Mostrou-se que já existe uma estrutura institucional eorganizacional que pode promover uma mobilização corrigindocertos percursos e que pode absorver iniciativas inovadoras.Um tema importante de ser lançado para pesquisa, subsidiadopor esta estrutura, é justamente sobre o padrão de comunicaçãoque deve ser desenvolvido entre os diferentes agentes.

A intervenção do poder público a nível do financiamento, dasnormativas de construção e da promoção, e divulgação deiniciativas que aplicam estratégias de flexibilidade no projeto, éimprescindível para se explorar novas concepções de produto.

O subsídio de projetos experimentais é necessário para diminuira valorização de fatores de ordem econômica, sempre muitopresente nas propostas de Conjuntos Habitacionais, passando-se então a dar maior importância aos aspectos funcionais e dequalidade mais adequados.

Para tanto, este subsídio precisa ser garantido pelas políticasgovernamentais que ofereçam uma integração entre setorprodutivo, universidades e centros de pesquisas, e garantamuma continuidade de investimentos, não transformando asiniciativas em casos frustrados. Um exemplo destes casos fo-ram as Vilas Tecnológicas, tratadas no capítulo 2, como produtode um outro Programa (PROTECH) que também surgiu nadécada de 1990 e logo após foi extinto.

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342342342342342 considerações finais

Com todas estas questões aqui expostas, o Projeto Tecnológicodesenvolvido criou as bases teóricas sobre as diversas açõesque precisam futuramente ser detalhadas pelos agentesenvolvidos para que efetivamente este Projeto possa subsidiaruma política tecnológica. É esta política que garantirá umdesenvolvimento conjunto das cadeias produtivas e queconseqüentemente oferecerá as ferramentas necessárias parase atingir a tão difundida e almejada qualidade do produtohabitação e móvel.

Buscando uma resposta para o título da Tese de Martucci (1990),“Projeto Tecnológico para Edificações Habitacionais: Utopia ouDesafio?”, acredita-se que atualmente um Projeto Tecnológico,que inclusive incorpore a questão do mobiliário, está mais paradesafio do que utopia. O grande desafio é disseminar estavisão sistêmica tanto para o poder público como para o privado.Espera-se que esta Tese auxilie na conscientização danecessidade de um novo enfrentamento da questão daprodução, uso e manutenção do espaço domésticoconsiderando suas interrelações com o mobiliário.

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