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Na abertura do congresso, Passos respondeu às críticas feitas à sua governação quer por instituições externas, como o FMI, quer por militantes do PSD p6 O envio de trabalhadores para o sistema de requalificação só se iniciará quando os programas de rescisões amigáveis em curso encerrarem p17 Fundação para a Ciência e a Tecnologia vai atribuir mais bolsas de doutoramento e pós-doutoramento a candidatos do concurso individual de 2013 p52 Passos Coelho responde ao FMI e a críticos internos Nova mobilidade na função pública só arranca em Abril Haverá mais 300 a 350 bolsas de doutoramento Mais de 900 edifícios do Estado podem ter amianto Governo está na posse de listas com cerca de 900 edifícios, sobretudo escolas, que podem conter materiais com amianto, uma substância cancerígena. Produzidas entre 2006 e 2010, as listas estão nas gavetas do Ministério das Finanças Portugal, 10/11 UCRÂNIA ACORDO RECEBIDO COM FRIEZA NAS RUAS DE KIEV COMO OS OLIGARCAS TIRARAM O TAPETE A IANUKOVICH Destaque, 2 a 5 Paulo Moura, enviado especial a Kiev BULENT KILIC/AFP Joana Marques Vidal proíbe acordos em sentenças penais p13 SÁB 22 FEV 2014 EDIÇÃO LISBOA Ano XXIV | n.º 8716 | 1,60€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Simone Duarte, Pedro Sousa Carvalho | Directora de Arte: Sónia Matos ISNN:0872-1548 FAZER DO PORTO CORAÇÃO FAZER DO PORTO CORAÇÃO ESPECIAL DESTINO EUROPEU DO ANO

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Na abertura do congresso, Passos respondeu às críticas feitas à sua governação quer por instituições externas, como o FMI, quer por militantes do PSD p6

O envio de trabalhadores para o sistema de requalifi cação só se iniciará quando os programas de rescisões amigáveis em curso encerrarem p17

Fundação para a Ciência e a Tecnologia vai atribuir mais bolsas de doutoramento e pós-doutoramento a candidatos do concurso individual de 2013 p52

Passos Coelho responde ao FMI e a críticos internos

Nova mobilidade na função pública só arranca em Abril

Haverá mais 300 a 350 bolsas de doutoramento

Mais de 900 edifícios do Estado podem ter amiantoGoverno está na posse de listas com cerca de 900 edifícios, sobretudo escolas, que podem conter materiais com amianto, uma substância cancerígena. Produzidas entre 2006 e 2010, as listas estão nas gavetas do Ministério das Finanças Portugal, 10/11

UCRÂNIAACORDO RECEBIDO COM FRIEZA NAS RUAS DE KIEVCOMO OS OLIGARCAS TIRARAM O TAPETE A IANUKOVICH Destaque, 2 a 5 Paulo Moura, enviado especial a Kiev

BULENT KILIC/AFP

Joana Marques Vidal proíbe acordos em sentenças penais p13SÁB 22 FEV 2014EDIÇÃO LISBOA

Ano XXIV | n.º 8716 | 1,60€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Simone Duarte, Pedro Sousa Carvalho | Directora de Arte: Sónia Matos

ISNN:0872-1548

FAZERDO PORTO CORAÇÃO

FAZERDO PORTO CORAÇÃO

ESPECIAL DESTINO EUROPEU DO ANO

2 | DESTAQUE | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

UCRÂNIA

Um sabor a vitória na praça. E uma sensação de fim de alguma coisa

Foi o dia de reforçar

barricadas. Apesar de ter

sido fechado um acordo,

durante a noite, entre

o Presidente, Viktor

Ianukovich, e a oposição,

muito favorável a esta, ninguém

pensou em abandonar a Praça

da Independência. Talvez nunca

tenha estado tanta gente na

Maidan, palavra que quer dizer

“praça”, mas já alargou muito o

seu signifi cado, tanto no conceito

como que diz respeito ao espaço:

Maidan é a revolução e Maidan é

todo o centro de Kiev.

Por todos os acessos, de todas

as direcções, muitos milhares

de pessoas afl uíram ao coração

da Maidan, ali onde há menos

de 24 horas mais de 100 pessoas

morreram, nos confrontos entre

manifestantes e forças policiais.

As pessoas vieram para celebrar

uma vitória, incerta, mas real.

Talvez o Presidente volte atrás

nas suas promessas de realizar

eleições antecipadas, repor a

Constituição de 2004 que atribuía

mais poderes ao Parlamento,

formar um Governo de Unidade

Nacional. Mas a derrota não

tem recuo. A humilhação de ter

matado e a seguir perdido.

E talvez os manifestantes

acabem por não se sentir

satisfeitos com a promessas

do Presidente, principalmente

porque não confi am nele, e

decidam prosseguir a luta. Alguns

grupos e porta-vozes já o disseram

— não vão retirar-se e planeiam

novos ataques, talvez deitando a

perder o que foi conseguido. Mas

ninguém lhes pode tirar este sabor

de vitória. O sentir que a acção tem

consequências.

“Temos de exigir que todos os

responsáveis pela violência sejam

investigados e julgados”, disse

Olga, de 35 anos, professora. “A

Ucrânia tem de mostrar ao mundo

que é um estado de direito, uma

democracia. Que as pessoas são

responsáveis pelos seus actos,

mesmo os governantes. Sobretudo

eles. Eu quero voltar a ter orgulho

de ser ucraniana”.

Esta é uma das sensibilidades da

manifestação. Uma percentagem

dos que protestam fá-lo porque

quer mais liberdade política,

mais direitos, mais dignidade. “A

minha geração experimentou a

liberdade”, diz Olga. “Antes de

Ianukovich chegar ao poder, houve

um período de total liberdade

neste país. Foram criados mais de

100 partidos políticos, surgiram

jornais e revistas de todas as

tendências, era permitido dizer

e escrever tudo. Entretanto

chegámos a este ponto, em que

uma pessoa pode ser assassinada a

tiro por vir para a rua manifestar-

se. As pessoas da minha geração

não se conformam com isso.

Querem viver num país normal,

europeu. A Ucrânia é um país

com cultura, com civismo, com

humanidade, com orgulho em si

próprio. Recusamo-nos a viver

em ditadura. Nunca mais, nunca

mais”.

De repente, há a sensação de

que isso foi conseguido, e que o foi

de um modo sólido e irreversível,

tão natural parece agora este

mundo de liberdade que é Maidan.

Um mundo recente e precário,

vulnerável como o sangue ainda

vermelho e húmido de algumas

das vítimas de ontem, derramado

no chão e cercado de fl ores.

Mas agora, que a zona controlada

pelos manifestantes se estende

por todas as grandes avenidas do

centro, com as suas barricadas de

mais de três metros de altura, antes

construídas com neve comprimida

e agora fortifi cadas com

pedregulhos, com as suas bancas

de distribuição de armas — pedras,

bastões e cocktails Molotov —, os

seus checkpoints de segurança, as

suas tendas de comida e bebidas,

as suas brigadas de limpeza, agora

que não é possível avistar nenhum

polícia, militar ou qualquer outro

agente de autoridade, a vertigem é

ainda maior.

Sobraram seres esquisitos

Sobraram seres esquisitos. Uma

senhora elegante, de casaco de

peles e uma tranca debaixo do

braço. Um jovem hippie com

uma barra de ferro na mão. Uma

rapariga magra, de olhos azuis,

protegendo o peito com um

escudo de ferro.

Outros, infi nitamente

mais aberrantes, revelam-se

esteticamente mais coerentes,

porém — homens musculados,

com capacetes de guerra, coletes

à prova de bala, máscaras negras,

escudos e bastões, e bandeiras de

partidos fascistas. Movimentam-

se no seu elemento: um cenário

de campo de batalha, com os

seus montes de detritos, pneus,

pirâmides de lixo, pontos

de armamento, munições e

extintores, tendas de lona verde e

uma fuligem negra cobrindo tudo

e pairando sobre as carcaças de

contentores e carros incendiados.

Alexander, de 58 anos, ex-

membro das forças especiais

soviéticas, e Oleg, de 54 anos,

treinador de luta greco-romana,

militam num partido de extrema-

direita, o Svoboda, e simpatizam

As pessoas vieram para celebrar uma vitória, ainda incerta, mas real. Dizem que querem viver num país normal, europeu. A Ucrânia é um país com cultura e com orgulho em si próprio

ReportagemPaulo Moura, em Kiev

com a Organização Nacionalista

Ucraniana (UNO), um velho

movimento conhecido pela sua

entusiástica colaboração com os

nazis, na Segunda Guerra Mundial.

“Os polícias são animais,

porque atacaram uma tenda

onde havia fi guras e vários

objectos religiosos”, disse

o surpreendentemente pio

Alexander, antes de explicar,

com pormenores de profi ssional,

como é que mais de 70 pessoas

foram mortas por snipers da

polícia estrategicamente colocados

nos edifícios circundantes.

“Ianukovich é um fascista”, disse

Oleg. “Anunciou um dia de luto

pelos mortos, fez hastear por todo

o lado as bandeiras a meia haste,

e depois lançou a polícia contra o

povo, para provocar ainda mais

mortos”.

Retratos dos mártiresAlexander e Oleg passaram a noite

na praça junto a uma banca com

velas em memória dos mártires

do movimento nacionalista

ucraniano. Por trás da banca

com os retratos dos mártires,

a bandeira vermelha e negra

do UNO, que, segundo os dois

amigos, vai agora ressuscitar como

partido legal. “A Ucrânia deve

ser para os ucranianos”, explica

Alexander com o tom enfático

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | DESTAQUE | 3

BULENT KILIC/AFP

BULENT KILIC/AFP

De todas as direcções, muitos milhares de pessoas afluíram ao coração da Maidan

Kiev. “Há uma conspiração da

maçonaria e dos milionários

americanos para destruir a

Ucrânia”, disse ele, de onde

concluiu que a situação apenas

tende a complicar-se: “Isto é o

princípio de uma grande guerra

entre a Ucrânia e a Rússia”.

Leo casou com uma rapariga

de Ternopil, uma cidade do

Oeste da Ucrânia onde o partido

direitista Svoboda detém o poder

local. Vivem lá os dois, com dois

fi lhos, e vieram para Kiev num dos

cinco autocarros fretados para

trazer manifestantes à capital.

Se o actual confl ito degenerasse

numa guerra civil, como alguns

auguram, Ternopil e Lviv seriam

os centros da facção anti-Rússia e

anti-Ianukovich.

Sveta, a mulher de Leo, admite

que está cheia de medo, mas

considera a sua presença no

protesto “uma obrigação”. Tem

também uma teoria secreta:

“Ninguém sabe, neste país, mas

eu tenho a certeza de que há

muitos russos misturados com a

Berkut (a força especial da polícia

ucraniana)”.

Tudo indica que as teorias

da conspiração são espalhadas

pelos grupos de extrema-direita.

Mas acabam por contagiar toda

a gente na Maidan. Até inocentes

manifestantes como Olga, que

apenas lutam pela democracia,

cedem a visões esotéricas (ou

simplesmente lúcidas?): “A

Europa só está a defender a

Ucrânia porque quer roubar-nos

à infl uência da Rússia. Mas nunca

nos permitirá pertencer à União

Europeia, porque nós somos

bárbaros”.

Interrogada sobre o eventual

perigo da infi ltração dos

grupos de extrema-direita no

movimento pró-democracia, Olga

desdramatiza: “Eu não concordo

com eles, mas compreendo que

queiram defender a Ucrânia. Que

signifi ca, afi nal, ser nacionalista?

Amar o seu país”.

As várias sensibilidades podem

ser antagónicas, mas não deixam

de ser também transversais. A

outra, estranhamente ubíqua pela

geografi a de Maidan, é a religião.

No palco onde os activistas

proferem os seus discursos, num

ciclo ininterrupto que inclui

também poemas patrióticos e

canções de cossacos, há uma

estátua da Virgem com um manto

branco, velas e pinturas do rosto

de Jesus Cristo.

Além disso, depois de cada

discurso, padres ortodoxos e

católicos irrompem em cânticos

intermináveis. A certas horas,

constituem completos ofícios

religiosos que ocupam o tempo do

palco da revolução.

Os muitos milhares de pessoas

ouvem os cânticos polifónicos em

silêncio, algumas com lágrimas

nos olhos, outras sem disfarçar

algum enfado. Por toda a Praça

da Independência e territórios

adjacentes, os sacerdotes

passeiam-se nas suas vestes

rigorosas, pregam sermões a

grupos restritos, cantam em palcos

dispersos. Ninguém os ignora,

a sua autoridade é indiscutível

e unânime, ao contrário do que

sucedia com os controversos

imãs na Praça Tahrir, durante a

revolução egípcia. Em comparação

com essa, ou com a de Taksim,

em Istambul, esta Primavera é

mais confusa, mais violenta, mais

silenciosa e mais sombria.

Aqui, os guerreiros parecem

mais velhos, mais pobres, mais

tristes. Enquanto ouviam os

trinados límpidos e comoventes

dos padres, uma forte explosão

fazia-se sentir ao longe, de vez

em quando. Todos sabiam

tratar-se apenas da rebentação,

pelos rebeldes, das bombas que

sobraram, como brinquedos de

triunfo e bazófi a. Mas mesmo

assim estremeciam, entreolhavam-

se cheios de medo. Como se

soubessem, ou esperassem, que a

festa que viviam não fosse o fi m de

alguma coisa, mas o princípio.

de quem formulasse uma ideia

original. “Estamos cansados de ser

subjugados pela Rússia e outras

potências”, continua Alexander.

“Eu fui obrigado a ir viver para a

Rússia, para servir numa unidade

especial do Exército Vermelho.

Muitos outros ucranianos

foram forçados a combater no

Afeganistão e no Cáucaso. Milhões

de pessoas foram deslocados. O

nosso país foi invadido e ocupado

muitas vezes por potências

estrangeiras. Nós amamos a

Ucrânia, queremos que o mundo

respeite a Ucrânia”.

Os grupos nacionalistas,

que outrora faziam gáudio do

seu anti-semitismo, mostram-

se agora grandes teóricos do

conspiracionismo. Uma cabala

orquestrada pelos americanos

e judeus para destruir a Ucrânia

está em curso e joga-se aqui,

sob os nossos olhos, na própria

revolução da Maidan, explicam

Alexander e Oleg. Cabala essa que

é, no entanto, liderada, de forma

algo incompatível, pela Rússia de

Putin, “o homem mais perigoso do

mundo”.

Uma conspiração?Leo, um georgiano de 27 anos

que desistiu de combater o poder

russo no seu país, veio aproveitar

o momento mais propício de

“Temos de exigir que todos os responsáveis pela violência sejam investigados e julgados”, diz Olga, de 35 anos, professora

“Os polícias são animais, porque atacaram uma tenda onde havia figuras e vários objectos religiosos”, afirma o surpreendentemente pio Alexander

4 | DESTAQUE | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

UCRÂNIA

A opos iç ão uc ran iana

e o Presidente Viktor

Ianukovich alcançaram

sexta-feira um acordo

que cobre quase todas

as reivindicações que

motivaram os protestos dos últimos

três meses e que fi zeram quase cem

mortos só na última semana. E ainda

conseguiram alguns brindes, como

a libertação da ex-primeira-ministra,

Iulia Timochenko. Mas as ruas não

hesitaram em pedir mais, ou seja, a

saída de Ianukovich.

O acordo espelhava as principais

exigências da oposição: o retorno

ao arranjo constitucional de 2004, a

marcação de eleições antecipadas e

a formação de um governo de “uni-

dade nacional”. Registava-se ainda

o compromisso a iniciar uma inves-

tigação à repressão policial dos últi-

mos dias e a promessa da não-instau-

ração do estado de emergência.

O texto do acordo exigia que em

48 horas fosse aprovada uma lei es-

pecial que restaurasse as emendas

constitucionais de 2004, mas basta-

ram escassas horas para o Parlamen-

to aprovar com esmagadora maioria

o diploma. Na Praça da Independên-

cia, vários milhares de manifestan-

tes assistiam à materialização das

bandeiras pelas quais lutaram, atra-

vés de um ecrã gigante.

Os deputados votaram ainda a

demissão do ministro do Interior,

Vitali Zakharchenko, odiado pelos

manifestantes, que o ligam direc-

tamente à violência das forças de

segurança. Mas a emoção veio com

a aprovação de uma lei que anula o

artigo do código penal pelo qual foi

condenada a opositora Iulia Timo-

chenko, abrindo o caminho para a

sua libertação.

Timochenko inspirou a Revolu-

ção Laranja de 2004 e, apesar de ter

perdido muita da sua popularidade

durante o seu mandato como pri-

meira-ministra, continua a ser uma

fi gura inspiradora para os manifes-

tantes. A sua condenação por abuso

de poder, em 2011, foi vista, dentro

e fora da Ucrânia, como uma for-

ma de Ianukovich afastar a principal

ameaça ao seu domínio. Durante os

últimos meses, Timochenko deixou

por diversas vezes palavras de apoio

às manifestações da EuroMaidan e

criticou duramente Ianukovich.

A vitória dentro da Rada Supre-

ma (Parlamento) foi celebrada com

abraços entre deputados, enquanto

cantavam o hino nacional. Na Praça

da Independência, contudo, a mul-

tidão mostrava-se apreensiva com

os desenvolvimentos. Aquilo por

que esperavam teimava em não ser

anunciado.

Durante toda a tarde, desfi laram

entre a multidão vários caixões dos

“mártires” da Maidan. “Os heróis

não morrem! Bandidos, fora!”, grita-

va-se, segundo o correspondente da

JOHN THYS/AFP

João Ruela Ribeiro

Apesar do acordo, violência pode voltar às ruas de Kiev

Acordo assinado entre a oposição e Ianukovich preenche quase todas as exigências dos manifestantes, mas a insatisfação mantém-se

Reuters. “Ele tem de ir embora hoje.

Não vamos aceitar eleições. Ele deu

a ordem para matar”, dizia Vasily

Zakharo, um manifestante de Lviv.

“Ele” é Viktor Ianukovich.

O acordo, comemorado pelos EUA

e por Bruxelas, não prevê a demis-

são do Presidente, indicando que irá

permanecer até às eleições antecipa-

das, que serão marcadas até ao fi m

do ano. É aqui que o divórcio entre

os líderes da oposição e as ruas mais

se faz sentir.

Depois da sessão parlamentar,

os três líderes subiram ao palco na

Praça, mas os apupos quase não os

deixaram falar, levando até o ex-

pugilista Vitali Klitschko a ter de se

afastar. Um manifestante conotado

com o Sector Direito – um grupo de

extrema-direita conhecido pela vio-

lência – aproveitou para deixar um

ultimato: Ianukovich tem até às 10

horas da manhã deste sábado (8h

em Portugal) para apresentar a de-

missão ou os confrontos regressam.

E o recado era também dirigido aos

líderes dos partidos da oposição.

“Demos-vos a vocês, políticos, a hi-

pótese de se tornarem ministros no

futuro, até presidentes, mas vocês

não querem cumprir a nossa única

exigência: que este criminoso aban-

done o cargo”,

No Parlamento, que se reúne nes-

te sábado de manhã, foi apresentada

uma proposta para a destituição de

Ianukovich. Contudo, não é certo

que seja aceite, o que pode preci-

pitar o país para mais uma jornada

de violência. Ianukovich tem sido

perito em adiar decisões importan-

tes. E agora tem até a vantagem de

poder argumentar que o acordo,

assinado pelos líderes da oposição

e testemunhado por observadores

internacionais, não implica a sua

destituição.

O dia do acordo, já considerado

histórico para a Ucrânia, deixa mais

questões em aberto do que soluções.

A formação de um novo governo se-

rá a primeira batalha. Está apenas

previsto que seja um executivo de

unidade nacional, ou seja, que inte-

gre personalidades dos vários qua-

drantes políticos. Andreas Umland,

O acordo exigia que em 48 horas fosse aprovada uma lei especial que restaurasse as emendas constitucionais de 2004. Mas bastaram escassas horas para ser aprovado

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | DESTAQUE | 5

Deputados do Parlamento também se envolveram em confrontos físicos. Acordo abriu caminho para libertação de Iulia Timochenko

MAKSYM MARUSENKO/AFP

professor de Ciência Política na Aca-

demia Kiev-Mohila, acredita que po-

derá até ser liderado por um mem-

bro do Partido de Ianukovich. “Pode

haver um primeiro-ministro relati-

vamente independente do Partido

das Regiões que seja aceitável para

os manifestantes”, afi rmou, citado

pela rádio Free Europe.

A precária situação fi nanceira da

Ucrânia pode vir a ser o próximo

grande problema. O ministro das Fi-

nanças russo, Anton Siluanov, anun-

ciou esta sexta-feira a suspensão do

pagamento da segunda tranche (de

cerca de 1,5 mil milhões de euros)

do empréstimo no valor de 11 mil

milhões de euros, acordado entre os

dois países em Dezembro. A decisão

foi justifi cada por persistirem “mui-

tas questões em como estes fundos

serão utilizados e como é que serão

pagos mais tarde”, numa clara reta-

liação ao rumo dos acontecimentos.

E, em breve, será aberta nova

frente de confl ito, quando as elei-

ções presidenciais estiverem no ho-

rizonte. Por um lado, o acordo não

refere se Ianukovich pode ou não

recandidatar-se. Por outro, é muito

provável que se venha a assistir a

divisões entre a oposição, benéfi cas

para o sector pró-russo. Volodimir,

um manifestante entrevistado pe-

la Reuters, parece expressar a des-

crença antecipada das ruas: “Não

iremos seguir Klitschko e os outros.

Eles apertaram a mão ao gangster e

dançaram com o Diabo.”

Enquanto os ministros da

União Europeia chegavam

à capital ucraniana na

quinta-feira para negociar

um acordo para pôr fim à

violência, pelo menos 20

jactos privados levantaram voo do

aeroporto de Zhuliani, em Kiev. Os

milionários, que são o verdadeiro

poder por trás do trono, enviaram

as famílias para lugares seguros,

quando Viktor Ianukovich parecia

prestes a perder o braço-de-ferro

com a oposição.

Apesar dos apelos a que fossem

estes milionários o alvo das sanções

da União Europeia para que algo

mudasse de verdade na Ucrânia, a

UE apenas anunciou que impunha

sanções contra os políticos ucrania-

nos que tivessem “as mãos man-

chadas de sangue”, nas palavras da

ministra dos Negócios Estrangeiros

italiana, Emma Bonnino. Mas, diz

a Reuters, Ianukovich só terá cedi-

do e assinado o acordo para que se

realizem eleições antecipadas e en-

tre em vigor a Constituição de 2004,

que limita os seus poderes, depois

de ter sido pressionado pelos seus

poderosos apoiantes - os oligarcas

ucranianos.

“Hoje temos de compreender que

os deputados são responsáveis pelo

futuro da Ucrânia, e que só dentro

das paredes do Verkhovna Rada

[Parlamento] é que se pode encon-

trar a solução para a crise política”,

disse à Reuters Vadim Novinski, que

é o quarto homem mais rico da Ucrâ-

nia e também um dos deputados do

Partido das Regiões que ontem fu-

rou a disciplina partidária e votou

ao lado da oposição para condenar

a repressão violenta dos manifestan-

tes pelas forças de Ianukovich.

A União Europeia não avançou os

nomes de quem poderia ser alvo de

sanções. Mas estes milionários que

têm controlado a economia e a polí-

cia ucranianas nestas duas décadas

de independência tremeram. Estes

homens que enriqueceram com as

privatizações das empresas do Esta-

do, tal como aconteceu na Rússia,

teriam muito a perder, se fossem

alvo de sanções económicas, ou

proibidos de entrar nos países da

União.

Oligarcas tiraram o tapete a Ianukovich com receio de sanções

Rinat Akhmetov, por exemplo, é

o homem mais rico da Ucrânia - se

os dez maiores oligarcas valem 33

mil milhões de dólares, ele sozinho

vale 15,3 mil milhões, diz a revista

Ukranian Week, citando números

da Comissão Estatal de Estatísti-

cas. Extracção de carvão, geração

de electricidade, minas de ferro e

siderurgias são as suas áreas de in-

teresse, bem como os media - um

interesse comum aos oligarcas. Mas

é também proprietário do aparta-

mento mais caro de Londres: em

2011, pagou 136,4 milhões de libras

(165 milhões de euros) por uma pen-

thouse.

O também proprietário do clube

de futebol Shakhtar Donetsk é da

região de Donetsk, tal como Ianuko-

vich, e tem sido o seu maior suporte

fi nanceiro. Também era membro do

Parlamento, até há pouco tempo e

continua a infl uenciar cerca de 50

deputados, diz a BBC.

Na Rússia, Vladimir Putin esta-

beleceu uma linha vermelha clara

para os oligarcas - podem continu-

ar com as suas fortunas, desde que

não se metam na política. Mikhail

Khodorkovski não cumpriu a regra

e pagou a ousadia com dez anos na

prisão. Mas na Ucrânia nunca houve

uma tal separação.

Calcanhar de AquilesCuriosamente – ou talvez não – a edi-

ção ucraniana da revista Forbes diz

que o grupo de Akhmetov fi cou com

31% de todos os concursos públicos

estatais só em Janeiro de 2014. O seu

fi lho tem resultados ainda melho-

res, diz a BBC: no mesmo período,

obteve 50% dos contratos com o

Estado.

Mas Akhmetov fez várias decla-

rações em que criticava a dureza

da repressão dos manifestantes e

apelava ao diálogo. Outros oligar-

cas que fazem parte do Parlamento,

ou são conselheiros presidenciais,

têm criticado o Presidente, afastan-

do-se dele, sublinhava Orisia Lut-

sevich, investigadora do think tank

Chatham House, num artigo publi-

cado no site da BBC. “Os grandes

clãs empresariais são o calcanhar

de Aquiles do regime. Os grandes

negócios precisam de ter acesso

aos mercados europeus. O aumen-

to da instabilidade só fará desvalo-

rizar o seu património”, escreveu.

Clara Baratadades, que põem os fi lhos a estudar.

Há limites, no entanto, para a

efi cácia deste tipo de sanções, co-

mo demonstra o caso da vizinha

Bielorrússia, a última ditadura da

Europa. “São vistas como altamente

inefi cazes, pois praticamente não

afectam o Governo de [Alexander]

Lukashenko”, escreveu a investiga-

dora Inna Melnikovska, da Universi-

dade Livre de Berlim, num artigo na

Ukranian Week. “Antes pelo contrá-

rio, acrescentaram legitimidade ao

regime e enfraqueceram as posições

das forças pró-UE, pois pode atribuir

culpas dos problemas económicos e

crises fi nanceiras às sanções e não

à má gestão das elites”.

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Por isso Lutsevich defende que

a UE deveria apostar em sanções

contra os milionários que realmente

mandam na Ucrânia. “Com sanções

inteligentes, com alvos fi nanceiros

e restrições de vistos de entrada

em países da UE, o Ocidente con-

seguiria acabar com o statu quo”,

defende. É na Europa Ocidental

que têm contas bancárias, proprie-

Ianukovich cedeu depois de ter sido pressionado pelos seus poderosos apoiantes, os oligarcas

Instituto de Direito Penal e Ciências Criminais da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) – Centro de Investigação em Direito Penal e Ciências Criminais (CIDPCC)Coordenação João Lobo Antunes (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) · Maria Fernanda Palma (FDUL-CIDPCC) Augusto Silva Dias (FDUL-CIDPCC) · Paulo de Sousa Mendes (FDUL-CIDPCC) Maria do Céu Rueff (CIDPCC)

www.idpcc.pt · www.fd.ul.pt/idpcc · E-mail: [email protected] Telefone (+351) 911 595 437

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃODIREITO DA MEDICINA E JUSTIÇA PENAL Período letivo fevereiro>maio 2014

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6 | PORTUGAL | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Passos responde ao FMI e aos críticos internos no arranque do congresso

MIGUEL MANSO

Líder do PSD dedicou longos minutos do seu discurso a argumentar que o seu programa e a sua governação se mantêm fieis à social-democracia

Passos Coelho respondeu às críticas

feitas à sua governação quer por

instituições externas, como o FMI,

quer por militantes do PSD, ontem

na abertura do XXXV Congresso do

PSD, no Coliseu dos Recreios, em

Lisboa.

O líder do PSD referiu-se a “al-

gumas vozes” que questionam a

sustentabilidade das exportações e

do défi ce, tal como fez o relatório

do FMI esta semana. “Há uma pe-

quena ironia nesta dúvida”, disse

Passos Coelho, acrescentando: “Nos

últimos quase 20 anos ninguém se

preocupou com a sustentabilidade

da economia, nem com o desempre-

go, nem com a falta de rigor [orça-

mental] que é a maior ameaça do

Estado Social”. E o próprio interro-

gou-se, para deixar um recado, que

foi também um apelo ao consenso:

“Será sustentável? Dependerá de

nós todos. A resposta curta é: com

a receita socialista, não, não é sus-

tentável”.

Já para dentro, Passos Coelho

aproveitou a abertura dos trabalhos

para confrontar e desmontar a argu-

mentação dos críticos internos quan-

do se juntam à oposição para acusar

o seu Governo de “neoliberal” e de

incompetência por poder não atingir

a meta do défi ce. “Lamento profun-

damente que haja entre nós pessoas

que tenham esta perspectiva. Respei-

to profundamente as diferenças de

opinião, nunca ninguém me ouvirá a

silenciar seja quem for. Mas ninguém

se espantará que debata com eles,

como debato com os portugueses”,

afi rmou o líder do PSD.

Fazendo um balanço de dois anos

de governação, Passos Coelho sus-

tentou que o país “está melhor”, mas

garantiu que nunca deitou foguetes.

E questionou por que razão não exis-

te vontade do PS em admitir o cami-

nho feito, acusando os socialistas de

fazerem estas críticas com fi ns eleito-

ralistas. Segundo Passos Coelho, de-

pois de medidas difíceis a expectacti-

va dos socialistas “era derrotar quem

está no Governo”. E atacou: “Ainda

pensam na possibilidade, ainda que

remota, de ganhar as eleições”. Para

disparar contra António José Seguro,

sem o nomear: “A oposição está zan-

uma hora e 20 minutos — quando

Passos Coelho regressou à História

para lembrar as revisões constitu-

cionais e voltar a desafi ar o PS de

António José Seguro.

Não deixou de elogiar líderes so-

cialistas como Mário Soares e Salga-

do Zenha para os homenagear en-

quanto construtores da democracia.

Citou também Vítor Constâncio pela

coragem que teve em rever a Cons-

tituição em 1982, em parceria com

o então líder do PSD e primeiro-mi-

nistro Francisco Pinto Balsemão.

Lançou então o desafi o a Seguro:

“Julgo que era importante que o PS

perdesse o medo”, acrescentando

que o PS “não pode fi car preso a ar-

quétipos ideológicos”.

Apesar deste desafi o, Passos Co-

elho declarou que não irá abrir

nenhum debate em torno de uma

revisão constitucional. “É mais im-

portante a recuperação económica

do que fazer esse debate”, justifi cou.

Refi ra-se que o líder do PSD dedi-

cou longos minutos do seu discurso

a argumentar que o seu programa e

a sua governação se mantêm fi eis à

social-democracia e aos princípios

fundadores do partido.

O objectivo da recuperação eco-

nómica é, para Passos Coelho, “os

portugueses ascenderem a uma

prosperidade, que não seja uma

prosperidade artifi cial cheia de men-

tiras”. Entusiasmado com essa meta,

lançou-se para a próxima legislatura:

“Não será um acaso acalentarmos

a ambição de continuar a guiar os

destinos do país, nos anos em que

o país precisa de nós”.

Líder do PSD recusa o rótulo de “neoliberal” e avisa: “A oposição está zangada (...) se recuperarmos, isso pode ser a sua desgraça eleitoral”. E prometeu não abrir um debate sobre a revisão constitucional

Congresso do PSDSão José Almeida, Sofia Rodrigues

gada (...) se recuperarmos, isso pode

ser a sua desgraça eleitoral”. ´

Passos Coelho lembrou ainda al-

guns rótulos colocados ao partido:

“Houve gente que apelidou de neoli-

berais ou pasme-se estalinistas. Nes-

tes dois anos dedicámos o melhor

de nós próprios a salvar Portugal da

bancarrota”.

O discurso do presidente do PSD

começou por assinalar os 40 anos do

partido, os mesmos de democracia.

E falou do “receio de descaracteriza-

ção” para logo de seguida concluir:

“Não há hoje menos social-demo-

cracia do que há 40 anos quando

se constituiu e quando Sá Carneiro

e outros deram os primeiros passos

na ala liberal”.

O tema haveria de ser retomado no

fi m da intervenção — que demorou

“Não há hoje menos social-democracia do que há 40 anos quando se constituiu [o PSD] e quando Sá Carneiro e outros deram os primeiros passos na ala liberal”

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | PORTUGAL | 7

A história de quase 70 anos dos Es-

taleiros Navais de Viana do Castelo

(ENVC) chegou ontem ao fi m com

apenas 11 trabalhadores resistentes,

entre eles dois dos sete elementos

efectivos da Comissão de Trabalha-

dores (CT). O despedimento é o pas-

so seguinte para estes trabalhadores,

que se sujeitarão às condições pre-

vistas na lei, como tinha avisado a

administração dos ENVC.

Do total de 607 trabalhadores que

estavam ao serviço em Dezembro úl-

timo, e de acordo com números avan-

Já só restam 11 trabalhadores nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo

çados por fonte da empresa pública,

596 já comunicaram e assinaram a in-

tenção de rescindir os contratos. Des-

tes, 209 formalizaram entretanto os

acordos e saíram da empresa. Os

restantes 387 deverão rubricar os

acordos na próxima semana, sendo

consumada a saída até fi nal do mês.

O prazo de adesão ao plano social

revisto este mês, incluindo as suges-

tões dos representantes sindicais dos

trabalhadores, terminou ontem, com

a CT e os sindicatos a remeterem-se

ao silêncio. Já o presidente da autar-

quia decidiu chamar os jornalistas

para uma declaração de despedida.

De voz embargada e lágrimas a cor-

rerem-lhe pelo rosto, José Maria Cos-

ta apontou baterias ao ministro da

Defesa. Culpou Aguiar-Branco de ter

tratado os ENVC como “mercearia

laboral num trespasse sem dignidade

e sem honra”. Mais: o autarca acusou

o governante de ter “reduzido” os

trabalhadores a “reformados com-

pulsivos” e “desempregados à força”

que fi cam agora ao “Deus dará”.

“A dignidade do trabalho e o seu

valor social foi matéria que foi descui-

dada, tendo este processo resvalado

para a mercearia laboral, confi guran-

do mais um trespasse vergonhoso, fu-

gindo das responsabilidades sociais,

traindo a dignidade do Estado e do

elevado sentido do interesse público

que qualquer governante deve pros-

seguir”, criticou. Obrigado várias ve-

zes a parar a leitura da declaração,

José Maria Costa não desarmou nas

críticas a Aguiar-Branco, que acu-

sou de “desmantelar uma empresa

única, uma arte industrial singular

e uma actividade que nos vêm dos

confi ns da história”, através de um

“despedimento colectivo sem alma”.

Para o ministério tutelado por

Aguiar-Branco, a adesão ao plano so-

cial “trabalhado em conjunto com os

sindicatos” demonstra que era “equi-

librado e positivo”.

DefesaAndrea Cruz

Fim do prazo do plano social resultou numa adesão massiva e numa despedida emotiva do autarca de Viana

Assis será apresentado depois do congresso do PSE em Roma

O PS já encerrou a discussão sobre o

nome do cabeça de lista às eleições

europeias e tudo indica que Fran-

cisco Assis será o número um da

candidatura socialista ao Parlamen-

to Europeu (PE). O anúncio deverá

ser feito na próxima semana, mas a

apresentação formal será apenas a

5 de Março.

António José Seguro e Francisco

Assis estiveram reunidos esta sema-

na para discutir de uma vez por todas

a questão e o processo fi cou encerra-

do, sem que tenha havido necessa-

PS anuncia cabeça de lista às europeias na próxima semana e deverá ser Assis

riamente um convite formal. Desde

essa altura, o ex-líder da bancada

parlamentar do PS remeteu-se ao

silêncio, mostrando-se indisponível

para qualquer contacto.

Este encontro seguiu-se a um reali-

zado na sexta-feira da semana passa-

da, um dia depois de António Costa

e o próprio Francisco Assis terem

criticado o partido pela demora na

escolha do candidato.

O nome do cabeça de lista do PS às

europeias de 25 de Maio deverá ser

conhecido na próxima semana, mas

a sua apresentação formal será ape-

nas a 5 de Março, após o Congresso

do Partido Socialista Europeu, que

decorre em Roma no primeiro dia

do mês.

Já António José Seguro recusou

responder às perguntas dos jorna-

listas que o aguardavam à entrada

da sala que acolheu mais uma sessão

da convenção Um Novo Rumo para

Portugal, ontem à noite, em Man-

gualde (Viseu).

O secretário-geral do PS compa-

receu no debate meia hora depois

de Passos Coelho ter terminado o

seu discurso de abertura no XXXV

Congresso do PSD, mas, além das pa-

lavras de cumprimento, optou por

não fazer qualquer comentário.As

respostas fi caram para o discurso de

encerramento, que decorria à hora

do fecho desta edição.

Já no interior da sala, onde autar-

cas socialistas e outros nomes do Par-

tido Socialista debatiam propostas,

António José Seguro ouviu queixas

daqueles que consideram que o país

está “muito longe de atingir a coesão

nacional” e que esta é a “oportunida-

de do PS afi rmar as suas políticas”.

O encerramento dos serviços da ad-

ministração pública no interior do

país e a falta de acessibilidades foram

outros dos temas apontadas pelos

participantes nesta convenção.

Houve também algumas vozes que

pediram a António José Seguro para

não protelar mais a questão da es-

colha do cabeça de lista do partido

às eleições europeias de 25 de Maio,

uma vez que faltam apenas três me-

ses para a sua realização. “Já deveria-

mos estar em campo”, sublinhou um

dos militantes.

Na convenção de Mangualde este-

ve Mário Rui Silva e António Rafael

Amaro, professores de economia das

universidades do Porto e Coimbra,

respectivamente.

Durante os mesmos dias de Con-

gresso do PSD, António José Seguro

participa em novas convenções nos

concelhos de Guimarães (hoje) termi-

nando em Santo Tirso (amanhã).

PartidosMargarida Gomes, Leonete Botelho

Apresentação formal do primeiro candidato da lista será a 5 de Março, depois do Congresso do Partido Socialista Europeu

António José Seguro e Francisco Assis estiveram reunidos esta semana para discutir de uma vez por todas a questão e o processo fi cou encerrado, sem que tenha havido necessariamente um convite formal

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8 | PORTUGAL | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

NOS BASTIDORES DA POLÍTICA

Público e notório

A cena deu-se em pleno hemiciclo. Depois de semanas de combate político à volta da proposta de referendo sobre a co-adopção e adopção por casais homossexuais, a socialista Isabel Moreira teve o seu momento de clímax ideológico quando o plenário debateu o chumbo do TC. Desancou o “jota” social-democrata, Hugo Soares, ouviu outros fazer o mesmo e escutou o CDS a demarcar-se. Terminada a investida, fez o que qualquer fumador faria: sacou do cigarro electrónico e deu umas baforadas, mesmo em frente ao PSD. Só faltou perguntar a Hugo Soares se tinha sido tão bom para ele como tinha sido para ela.

The Lisbon Summit, a iniciativa do The Economist, foi um êxito. Os políticos do arco da governação estiveram presentes. Passos abriu, Portas fechou e Seguro lá esteve, a meio. O líder do PS colocou as suas posições. Elogiou Sines, utilizando o exemplo a que já recorreram Cavaco Silva e o primeiro-ministro na cimeira ibero-americana da cidade do Panamá. “Quando se abre a janela no Panamá, vê-se Sines”, disse o lider socialista. Apanhada sem GPS, Merrill Stevenson, a editora de negócios europeus da revista britânica, teve um sobressalto: “Where is Sines?”. Agora se percebe por que as especificidades da nossa economia não são conhecidas.

Não foi tão bom para ele como foi para ela

“Where is Sines?”

A inauguração do relógio de

countdown para a saída da troika

foi um daqueles momentos

cénicos com brilho apresentados

por Paulo Portas, tal como a

repetição múltipla que fez no

congresso de Oliveira do Bairro:

“Não se esqueçam: a troika sai a

17 de Maio e as eleições europeias

são a 25 de Maio”. Podia ser ao

contrário, mas não é: o Governo

vai a exame fi nal antes de ir a

votos. O que, convenhamos, não

dá jeito nenhum. Um exame pode

sempre correr mal, uma dor de

cabeça e lá se vai a nota…

O calendário permite, por

ora, que se diga tudo e o seu

contrário. O primeiro-ministro

pode bradar às ondas hertzianas

que, se precisar, terá um

programa cautelar com o apoio

da Europa. Isto no mesmo dia

em que o Banco Central Europeu

falava num meio caminho entre a

“saída limpa” e um cautelar.

Sem um modelo do que

seria um programa cautelar,

como Portugal esperava ter na

Irlanda, o país fi ca sem exemplo

a replicar, como teve com o

programa de ajustamento e com

o discurso dos últimos três anos.

Teria de improvisar. Mas alguém

já o fez. Em Bruxelas, Maria

Luís Albuquerque encontrou

a fórmula da quadratura do

círculo. Afi nal, não é preciso

inventar, fi car a meio caminho

ou recorrer a essa palavra já

gasta, ainda que virgem: cautelar.

Afi nal, pode atrasar-se o relógio,

como aconteceu com o de Paulo

Portas para a saída da troika.

Pode deixar-se a solução para

depois das eleições. Chame-se

o que se chamar. Nem a direita

europeia quer ondas, nem o FMI

quer deixar-nos em paz. Há-de vir

um programa, mas depois. Afi nal,

nalguns momentos, primeiro está

o povo. Ou seja, o voto.

O relógio da troika

ComentárioLeonete Botelho

Caso da semanaA magia das feiras em causa

Tornou-se um hábito tradicional e popularizou Paulo Portas como o “Paulinho das Feiras”. Desde então, muito mudou. De mercados ao ar livre, com jeans e couves misturados, passou-se à sistematização e ordenamento. Ou seja, à especialização. De praças a céu aberto mudou-se para recintos fechados, pavilhões construídos para este tipo de eventos. De hábitos populares semanais ou quinzenais, de feiras de sempre, passou-se a certames de valor acrescentado. Em qualquer das versões, lá estão os políticos. No recente SISAB, Passos e Portas provaram as virtudes do agro-alimentar nacional. Elogiaram a capacidade exportadora, dizendo que se deve às empresas e não ao Governo. Por que lá foram? Para homenagear os empresários

em nome do Governo e de todos os portugueses. Seguro por lá passou, atento ao labor deste sector. E, admite-se, para aprender. Os empresários receberam a todos com encanto e gestos generosos nos aperitivos e provas. Contentes de serem vistos ao lado de quem decide e daquele que poderá vir a decidir. É compreensível esta vaidade humana? Talvez seja, em terra madrasta do reconhecimento. Só que o relatório do FMI não conhece os lusos costumes e tradições do burgo. Vai daí, destruiu o contentamento pátrio ao pôr em causa a sustentabilidade do milagre das exportações. E questionando o orgulho empresarial. Agora que elas começaram, pôs em causa a magia das feiras. Nuno Ribeiro

DANIEL ROCHA

VERSO E REVERSO

“Com esta política nacional e europeia, só há saídas sujas”

“O único cenário sujo era precisarmos de um segundo resgate”

Jerónimo de SousaLíder do PCP

Pires de LimaMinistro da Economia

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | PORTUGAL | 9

Breve

Justiça

Treinador detido por alegado abuso de uma dezena de menoresA PJ anunciou ontem a detenção de um homem de 34 anos sobre o qual recaem suspeitas de abuso de diversas crianças entre os seis e dez anos. “É suspeito de, nos últimos sete anos, aproveitando-se do facto de ser docente e treinador desportivo, ter abusado sexualmente pelo menos de uma dezena de crianças, sendo certo que, quando a sua conduta suscitava suspeitas, o mesmo transferia-se para outra cidade”, refere a PJ.

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A Optimus vai impugnar “em todas as

instâncias que tiver ao seu dispor” a

decisão da Comissão Nacional da Pro-

tecção de Dados (CNPD) sobre o caso

das secretas. Avançada pelo Expres-

so, a notícia foi ontem confi rmada

pelo PÚBLICO junto de fonte ofi cial

da empresa, que considera a decisão

“totalmente infundada e despropo-

sitada e irá impugná-la em todas as

instâncias que tiver ao seu dispor”.

O chamado caso das secretas re-

monta a 2010, quando a funcionária

da Optimus Gisela Teixeira entregou

Optimus vai impugnar coima de 4,5 milhões de euros aplicada pela Protecção de Dados

dados relacionados com as chama-

das feitas pelo telemóvel de serviço

de Nuno Simas a um funcionário do

Serviço de Informações Estratégicas

de Defesa (SIED), Nuno Lopes Dias,

que era companheiro da funcionária.

Numa declaração por escrito em

que reage à coima, a mesma fonte

da operadora de telecomunicações

considera “lamentável que um caso

que surge de uma acção de espiona-

gem, à qual a Optimus é totalmente

alheia”, mas que “ajudou a resolver,

descobrindo o prevaricador”, resulte

numa “gravíssima acusação à sua in-

tegridade e bom-nome”. Dizendo-se

“confi ante na justiça portuguesa e no

sucesso do seu recurso”, a operadora

lamenta ainda que tenha sido dado

a conhecer à comunicação social

informação que “ainda não comen-

tou, numa clara violação do dever

de reserva”.

“É evidente que a arguida não ti-

Caso das secretas Ana Henriques, Ana Brito

Caso da divulgação de registos telefónicos do antigo jornalista do PÚBLICO Nuno Simas

aplicados os máximos legais permi-

tidos, as infracções à lei apontadas

pela Comissão Nacional de Protecção

de Dados custariam à operadora de

telecomunicações não 4,5 mas sim

oito milhões de euros. Como é ha-

bitual nestas situações, 60% deste

montante reverte para o Estado e os

40% remanescentes para a CNPD.

O Ministério Público defendeu re-

centemente, no debate instrutório

do processo-crime a que o caso deu

origem, que nem Gisela Teixeira nem

Nuno Lopes Dias deverão ser julga-

dos. O argumento da procuradora do

Departamento de Investigação e Ac-

ção Penal Teresa Almeida é que ne-

nhum deles teve consciência de estar

a cometer um crime, ao passar infor-

mação ao chefe de Nuno Lopes Dias,

Jorge Silva Carvalho, que pretendia

descobrir as fontes de informação

de Nuno Simas nos artigos que este

escreveu sobre as secretas.

nha implementadas as medidas ade-

quadas para garantir a segurança dos

dados pessoais”, lê-se na deliberação

da CNPD.

A coima aplicada, de 4,503 milhões

de euros, resulta de um cúmulo de

quatro infracções: a inexistência de

medidas adequadas para o controlo

dos suportes dos dados; a não obser-

vância das condições de tratamento e

armazenamento de dados de tráfego;

a inexistência de conciliação entre os

direitos dos assinantes com a privaci-

dade dos utilizadores; e a não obser-

vância do prazo de conservação de

dados. Para determinar o montante

da multa, a CNPD socorreu-se da lei,

nomeadamente no que diz respeito

à situação económica da Optimus.

“Não se trata de uma pequena ou

média empresa, antes se enquadra

no universo do tecido empresarial de

dimensão considerável”, pode ler-

se na sua deliberação. A terem sido

A renovação do Grande Auditório Gulbenkian torna a sala mais emblemática

da cidade de Lisboa numa das mais avançadas tecnologicamente. Com o

objectivo de melhorar as condições de climatização, acústica, instalações

eléctricas, audiovisuais e mecânica de cena, a Fundação Gulbenkian pretendeu

ainda que fosse mantido o desenho de arquitectura original da sala. Desta

forma, e apesar de parecer uma obra invisível, o público que regresse agora ao

auditório renovado, irá não só notar diferenças de detalhe nos acabamentos

mas, sobretudo, toda uma nova experiência de espectáculo e conforto.

Em simultâneo, foram também renovados os espaços que deram lugar à

nova Sala de Ensaios da Orquestra, numa sofisticada e deslumbrante sala de

ensaios, dotada de todos os meios e requisitos técnicos necessários.

Para alcançar prazos e objectivos a HCI trabalhou com uma equipa de 250

pessoas, durante 8 meses, em grande espírito de entreajuda, sem o qual o

cumprimento da obra não teria sido possível.

www.hci.pt

A HCI congratula a Fundação Calouste Gulbenkian pela concretização deste projecto, num dos mais prestigiados espaços culturais do país, e orgulha-se de ter feito parte do mesmo como empreiteiro geral para a execução dos trabalhos de Arquitectura, Estruturas e Instalações Especiais.

CONSTRUÍMOSPARA A FUNDAÇÃO GULBENKIANESPAÇOS PARA O FUTURO NO RESPEITO DO PASSADO

Grande AuditórioGrande Auditório Nova Sala de Ensaios da Orquestra Nova Sala de Ensaios da Orquestra

UMA OBRA INVISÍVEL

10 | PORTUGAL | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Governo possui há anos listas com 900 edifícios que podem ter amianto

A administração central possui há

anos listas com cerca de 900 edifí-

cios governamentais, sobretudo es-

colas, que podem conter materiais

com amianto — uma substância can-

cerígena. Produzidas entre 2006 e

2010, estas listas estão nas gavetas do

Ministério das Finanças, que é quem

tutela o património imobiliário do

Estado, e de outros ministérios.

É, porém, uma amostra incomple-

ta e na maior parte dos casos pouco

elucidativa. A maioria apenas regista

se os edifícios têm ou não cobertura

de fi brocimento, uma situação que,

por si só, pouco esclarece sobre ha-

ver ou não risco para a saúde.

A elaboração de uma lista dos edi-

fícios públicos contendo amianto foi

recomendada pela primeira vez em

2002 pelo Parlamento. Em 2011, a

sugestão passou a exigência, com for-

ça de lei. Só agora, 12 anos depois

da primeira recomendação, é que

houve, pela primeira vez, o anún-

cio de uma data para cumprir, o que

tem sido exigido pelos deputados.

Pressionado pela polémica recente

quanto ao amianto num edifício da

Direcção-Geral de Energia e Geologia

(DGEG), o primeiro-ministro disse há

uma semana que a lista estará con-

cluída dentro de dois meses.

Todos os ministérios deverão in-

dicar os seus edifícios que contêm

amianto. Mas o mesmo pedido já

tinha sido feito há quatro anos. Em

Dezembro de 2009, a Direcção-Geral

do Tesouro e Finanças tinha enviado

um ofício com esta solicitação a to-

das as tutelas, pedindo listas até ao

princípio de Janeiro de 2010.

O Governo tinha então 16 minis-

tros. Nove ministérios, mais a Pre-

sidência do Conselho de Ministros,

responderam ao pedido, com dife-

rentes graus de detalhe. A lista mais

completa — a das escolas — tinha já

sido produzida anos antes, por inicia-

tiva do Ministério da Educação. Em

2007, o ministério já sabia que, das

1222 escolas então sob tutela directa

do Governo, 729 tinham cobertura

de fi brocimento, um tipo de material

que pode ou não conter amianto.

O Ministério da Educação avaliou,

na altura, que se tratava de uma si-

tuação de baixo risco, “não consti-

tuindo perigo para a saúde pública”,

segundo um ofício de 2010.

O fi brocimento de fabrico mais

antigo pode conter entre 10% e 20%

de fi bras de amianto, substância uti-

lizada na construção civil sobretudo

como isolante térmico e acústico. As

fi bras libertam-se se as placas de fi -

brocimento estiverem partidas ou

degradadas. Em bom estado e sem

contacto com o ar interior, é conside-

rado como um material sem grande

risco e a sua remoção não é acon-

selhada senão quando um edifício é

demolido ou remodelado.

Mais problemáticos são os mate-

riais com amianto “friáveis”, passí-

veis de libertar fi bras , como os reves-

timentos de tubulações e caldeiras.

Apesar do seu risco relativo, o fi -

brocimento foi o alvo exclusivo da pri-

meira recomendação do Parlamento,

em 2002. A segunda recomendação,

de 2003, passou a abranger “todos

ENRIC VIVES RUBIO

Listagens produzidas desde 2007 são pouco esclarecedoras sobre os riscos envolvidos e concentram-se sobretudo na existência de coberturas de fi brocimento, consideradas menos problemáticas

SaúdeRicardo Garcia

os edifícios que contenham na sua

construção amianto”. Foi esta reco-

mendação que conduziu às primei-

ras iniciativas para a inventariação de

edifícios públicos com amianto.

O Ministério da Educação fez a sua

lista de escolas em 2007. O Ministé-

rio da Saúde publicou, em 2008, um

Guia para Procedimentos de Inven-

tariação de Materiais com Amianto e

Acções de Controlo em Unidades de

Saúde e solicitou listas às administra-

ções regionais de saúde. No mesmo

ano, o Ministério das Finanças con-

tratou o Laboratório Nacional de En-

genharia Civil para fazer um estudo

e pediu listas a todos os ministérios

com as situações de maior risco.

O resultado deste esforço fi cou em

grande parte esquecido nas gavetas

do Governo, não tendo conduzido a

nenhuma estratégia centralizada —

que viria a ser exigida pela lei de 2011

O fibrocimento está em muitos edifícios públicos, mas representa um risco menor

da Assembleia da República, até hoje

não cumprida. A lei não determina

apenas a elaboração da lista de edifí-

cios. Com base na lista, a Autoridade

para as Condições de Trabalho deve

avaliar a concentração de fi bras de

amianto em cada um dos edifícios

e determinar em quais é preciso de

facto remover o amianto.

“Não é um tema ambiental”A lei da Assembleia da República tem

sido alimento para um jogo do em-

purra dentro do Governo. Quando a

foi aprovada, ninguém sabia quem

é que a devia concretizar. E até há

um ano, o discurso do Governo de

Passos Coelho era o de que não havia

dinheiro para cumpri-la.

Para o ministro do Ambiente, Or-

denamento do Território e do Am-

biente, Jorge Moreira da Silva, não se

trata de uma questão ambiental. “O

amianto é obviamente um tema que

tem de ser acompanhado por razões

de saúde pública, sem alarme e de

uma forma muito racional”, disse ao

PÚBLICO o ministro, numa entrevis-

ta esta semana.

Segundo Moreira da Silva, a única

responsabilidade que está sob a sua

tutela diz respeito às normas para a

retirada e deposição de resíduos de

amianto. “A responsabilidade de to-

dos os ministérios é fazer o levanta-

mento, porque o amianto não é um

tema ambiental, é de saúde pública,

de condições de trabalho”, disse.

As normas para a remoção e depo-

sição de materiais de construção e

demolição com amianto dependiam

de uma portaria que estava prevista

desde 2008, mas que só foi aprova-

da pelo Governo este mês, depois do

tema ter voltado à ribalta com a polé-

mica sobre o edifício da DGEG.

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | PORTUGAL | 11

As listas entregues em 2010 à Direcção-Geral de Tesouro e Finanças sobre os edifícios governamentais

com amianto são tudo menos esclarecedoras. Na maior parte dos casos, não dizem muito sobre o risco de exposição de quem neles trabalha. Indicam sobretudo a presença de placas de fibrocimento, uma das situações de menor risco de exposição ao amianto e cuja remoção imediata não se justifica nos casos em que o material esteja em bom estado. Veja o que diziam estas listas (as designações dos ministérios são as do anterior Governo):

Ministério da EducaçãoListas produzidas já em 2007 contabilizavam 729 escolas com cobertura de fibrocimento, em 1222 sob tutela directa do Governo. Algumas listas, como a da então Direcção Regional de Educação de Lisboa, apenas indicavam se cada escola tinha ou não fibrocimento. Outras apresentavam dados mais completos, como o ano de construção da escola, a presença de cobertura de fibrocimento e o seu estado de conservação. Até ao princípio de 2013, cerca de 286.000 metros quadrados de placas de fibrocimento tinham sido removidos nas operações de remodelação feitas em 165 escolas pela Parque Escolar. No último ano, houve remoção do fibrocimento em mais uma centena de escolas.

Ministério da SaúdeO Ministério da Saúde apresentou uma lista de 46 edifícios com e sem amianto. Entre as situações que mereciam maior atenção estavam unidades de saúde com placas de fibrocimento ou tectos falsos degradados, como os hospitais de Pombal, Santarém, Curry Cabral (Lisboa), Santa Maria da Feira, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis, Mirandela, a sede da Administração Regional de Saúde do Norte e centros de saúde, como os de Cinfães e Celorico de Basto. O próprio Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que avalia o risco do amianto, apresentava cobertura degradada de

fibrocimento. Nos hospitais de Barcelos e Júlio de Matos (Lisboa) foi também identificado amianto em centrais térmicas e tubagens — onde normalmente há amianto “friável”, capaz de libertar fibras para o ar.

Ministério das Obras Públicas, Transportes e ComunicaçõesApresentou uma lista do Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos a sugerir a presença de amianto no seu edifício-sede e em mais 60 outros, nos portos de Peniche, Nazaré, Sagres, Lagos, Portimão, Olhão, Tavira, Vila Real de Santo António, casas do núcleo da Culatra, Peso da Régua, Vila do Conde, Póvoa de Varzim, e Estaleiros Navais de Esposende. Indicou também a presença de amianto em divisórias interiores que estavam a ser substituídas no Instituto Nacional de Aviação Civil. Uma análise posterior feita pelo LNEC já não identificou materiais com amianto no INAC.

Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino SuperiorIdentificou inicialmente 25 edifícios que poderiam conter amianto, como instalações do Instituto Tecnológico e Nuclear e dos politécnicos de Coimbra, Guarda, Viana do Castelo, Lisboa, Açores e Castelo Branco. Alguns estavam em bom estado de conservação. Posteriormente apresentou uma lista suplementar com 26 edifícios. No Teatro Thalia, diante da sede do ministério, em Lisboa, tinham sido removidos 60 metros quadrados de placas de fibrocimento.

Ministério da CulturaInformou que não devia haver amianto na generalidade dos edifícios, mas detectou algumas situações, como a Biblioteca Nacional, o Arquivo Nacional da Torre do Tombo e o Arquivo Distrital de Santarém. Uma inspecção posterior feita pelo LNEC concluiu que não se justificava a substituição do fibrocimento da Torre do Tombo, dado o seu bom estado de conservação, e que na Biblioteca Nacional a remoção dos materiais com amianto estava prevista nas

O que já estava nas gavetas da administração central

“O amianto não é um tema ambiental, é de saúde pública”Jorge Moreira da SilvaMinistro do Ambiente

obras então em curso, entretanto concluídas.

Ministério da JustiçaEnviou informação muito sumária, dizendo que nos palácios de Justiça de Lisboa, Porto e Arganil tinham sido removidos revestimentos com amianto. Indicou a presença de coberturas de fibrocimento nos palácios de justiça de Paredes, Peniche, Setúbal, Vila Franca de Xira e Vila Viçosa.

Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Regional e PescasNão identifica edifícios em concreto, apenas sugerindo

que haveria coberturas de fibrocimento em instalações das suas direcções regionais e outros organismos. Alguns organismos do ministério referiram não ter funcionários capacitados para identificar se havia ou não amianto nos edifícios.

Ministério do Trabalho e da Segurança SocialEnviou uma lista com alguns edifícios — por exemplo, centros de formação profissional — mas referiu que havias dificuldades técnicas em identificar o amianto.

Ministério da Administração InternaApresentou uma lista de 11

edifícios apenas da Polícia de Segurança Pública – entre esquadras, oficinas e outras instalações.

Presidência do Conselho de MinistrosLista com 13 imóveis, mas em apenas quatro tinha havido observação sobre a existência ou não de amianto e somente quanto a um tinha-se a certeza de que estava livre da substância. O LNEC avaliou posteriormente os gabinetes do ministro e do secretário de Estado, a secretaria-geral e o Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros, sem encontrar materiais com amianto.

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CANDIDATURA A REITOR DA UNIVERSIDADE DO PORTO

(MANDATO 2014 – 2018)

A Universidade do Porto anuncia concurso para Reitor, para um mandato de quatro anos.

São elegíveis para o cargo de Reitor da Universidade do Porto os professores ou investigadores doutorados, desta Universidade ou de outras instituições, nacionais ou estrangeiras, de ensino universitário ou de investigação. O candidato a Reitor deve:

Ser uma personalidade de reconhecido mérito e com experiência profissional relevante para as funções a exercer;

Possuir visão estratégica adequada à prossecução da missão e fins da Universidade do Porto, nos termos dos respetivos estatutos;

Ter demonstrada capacidade de promotor de valores científicos, humanísticos e culturais num ambiente de colegialidade e inclusão.

O edital de candidatura e mais informações sobre a Universidade do Porto estão disponíveis em www.up.pt

Todas as candidaturas deverão ser dirigidas a: Presidente do Conselho Geral da Universidade do PortoE-mail: [email protected] Reitoria da Universidade do PortoPraça Gomes Teixeira, 4099-002 Porto, PORTUGALTelf.: +351 220 408 025

O Presidente do Conselho Geral da Universidade do Porto,Juiz Conselheiro Alfredo José de Sousa

12 | PORTUGAL | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Promover a natalidade obrigará a

uma redistribuição do trabalho,

avisa a socióloga Margarida

Mesquita, que publicou esta

semana o livro Parentalidade —

Um Contexto de Mudanças. Para

a investigadora, convencer os

portugueses a ter mais fi lhos não

será possível sem uma redução

das jornadas laborais para ambos

os sexos, capaz de fazer reduzir

os actuais níveis de stress na

conciliação entre trabalho e

família. A actual precariedade

dos vínculos laborais é o segundo

grande factor dissuasor da

parentalidade, segundo os

resultados do inquérito que a

investigadora do Instituto Superior

de Ciências Sociais e Políticas da

Universidade de Lisboa conduziu,

no concelho da Amadora, a 358

pais e mães com crianças em idade

pré-escolar.

O objecto da sua investigação

foram as famílias nucleares,

constituídas por pai, mãe e

fi lhos. Que mudanças constatou

na forma como estes exercem a

parentalidade?

As famílias actuais vivem um

duplo constrangimento do ponto

de vista da parentalidade. Por

um lado, ser pai e mãe tornou-se

muito mais exigente e complexo,

nomeadamente porque a Ciência

nos trouxe novos conhecimentos

sobre a importância do

envolvimento de ambos com a

criança, mas também porque

nunca como agora os fi lhos

foram tão centrais nas famílias.

Há um grande investimento

e uma grande expectativa

em relação às crianças. Uma

terceira razão tem a ver com o

desenvolvimento ao nível jurídico

de protecção à criança e Portugal

foi acompanhando o assumir, do

ponto de vista da comunidade

internacional, de uma série de

direitos relativamente à criança.

Tudo isto veio tornar os papéis de

pai e mãe muito mais exigentes.

Porém, ao mesmo tempo que se

exige mais, retiram-se apoios, quer

do ponto de vista do Estado quer

também das relações das próprias

famílias. Portanto, as famílias

Trabalho a tempo parcial prejudica mulheres e não promove natalidade

Margarida Mesquita Ser pai ou ser mãe é gerador de “grandes angústias”, numa altura em que diminuem os apoios e aumenta a pressão no trabalho. Estes são factores que pesam na decisão de (não) ter um fi lho

DANIEL ROCHA

preparam o bolo para o neto, mas

avós que têm uma vida própria,

algumas ainda a trabalhar, o que

enfraquece o apoio aos pais.

A alta taxa de empregabilidade

feminina em Portugal, tida

como conquista, pode, afi nal,

no que à família e aos fi lhos

diz respeito, confi gurar um

retrocesso?

Não. Não é nos países onde as

mulheres mais trabalham que

existe uma natalidade mais

baixa. Isso é um mito. O que se

passa é que é nos países onde as

famílias têm menos apoios que

existem menos fi lhos. E, no caso

português, temos efectivamente

uma taxa de empregabilidade

das mulheres que nos coloca em

situação muito próxima da dos

menos tempo. Porquê? Porque

o trabalho a tempo parcial não

é só uma questão monetária,

traz consequências ao nível

da progressão na carreira, das

relações que se estabelecem

internamente e ao nível da

realização profi ssional destas

mulheres — e falo em mulheres

porque normalmente são elas que

assumem maciçamente o ónus de

fi car a trabalhar a tempo parcial.

Como considera então o

anúncio de que o Governo

se prepara para promover

o trabalho parcial nas

famílias com fi lhos menores,

recorrendo a verbas do QREN

para compensar as perdas

salariais?

É uma medida que poderá ter

alguma adesão, mas que me

suscita muitas reservas quanto

aos efeitos que poderá vir a ter na

promoção da natalidade.

A solução seria reduzir as

jornadas de trabalho?

Para pais e mães. Intervir na

parentalidade implica sérias

opções do ponto de vista do

trabalho. Implica promover a

tal estabilidade profi ssional e

criar condições para uma maior

disponibilidade para os fi lhos,

mas sem retirar o direito das

mães a terem iguais condições de

trabalho, inclusivamente o direito

de trabalharem a tempo inteiro.

Se virmos de uma perspectiva

sistémica, e há muito que defendo

isso, a promoção da natalidade

obriga a uma redistribuição do

trabalho, porque temos taxas

de desemprego elevadíssimas e

pessoas a trabalhar um excesso de

horas. O incentivo monetário ao

trabalho a tempo parcial é bem-

intencionado mas pode prejudicar

as mulheres, porque pode

aumentar a discriminação negativa

por parte dos empregadores.

Portanto, não haverá promoção

da natalidade sem redução

da jornada laboral de homens

e mulheres e sem que seja

insufl ada segurança nos

vínculos laborais?

Todas as outras medidas serão

meramente paliativas. Poderão,

nalguns casos, minorar os

problemas, mas não serão

com certeza medidas de efeito

duradouro e de forte impacto.

países do Norte da Europa, mas

depois, ao nível das tais respostas

de apoio, Portugal aproxima-se

dos países do Sul. Além disso,

temos das mais elevadas jornadas

diárias de trabalho das mães,

sendo que as nossas mães não

interrompem a carreira para ter

fi lhos, as nossas mães não são

adeptas do trabalho a tempo

parcial.

Não são adeptas ou não lhes

são dadas condições para que

possam aderir?

Perguntei aos pais qual era a

modalidade que eles preferiam,

os dois a trabalhar a tempo

inteiro ou um a trabalhar a tempo

parcial, e as respostas foram muito

claras: preferem estar os dois a

trabalhar a tempo inteiro, mas

Entrevista Natália Faria

vivem com esta grande tensão

que tem depois repercussões

profundas do ponto de vista da

opção de ter fi lhos e da forma

como são educados.

Quais foram as mudanças com

maior impacto na queda de

natalidade?

As razões para que os casais

decidam ter menos fi lhos estão

identifi cadas. Uma delas tem a

ver com o facto de se ter fi lhos em

idades cada vez mais avançadas,

por causa do investimento a nível

profi ssional. Por outro lado, os

constrangimentos materiais são

um factor importante e associam-

se àquele que foi indicado pelas

famílias como problema central:

o stress na conciliação da família

com o trabalho. O aumento

das horas de trabalho diário e a

precariedade no emprego são

decisivos. Mas as mudanças nas

relações entre os cônjuges também

contribuem para que não se tenha

mais fi lhos. O homem e a mulher

investem mais na dimensão

afectiva da relação, o que cria

instabilidades que os levam a não

investir em fi lhos. Depois há a

questão igualmente importante

dos apoios que existem, ou não, à

parentalidade.

Da parte do Estado?

Quer da parte do Estado, quer

da parte das famílias. No caso

do Estado, a grande difi culdade

apontada pelas famílias não está

tanto no ter quem fi que com a

criança nas situações regulares

(a rede pré-escolar desenvolveu-

se muito), mas nas situações que

não são programáveis, como as

doenças, as greves de professores.

Acresce que essas redes formais

estão organizadas de forma pouco

fl exível. Têm horários rígidos e,

portanto, não estão preparadas

para uma realidade em que há

cada vez mais pais a trabalhar,

por exemplo, ao fi m-de-semana

ou por turnos. Isto cria grandes

angústias. Quanto à rede informal,

a sociedade está cada vez mais

urbanizada e o apoio de amigos ou

vizinhos é cada vez mais diminuto.

Em relação aos avós, ainda há

algum apoio. Contudo, assistimos

a um adiar da idade da reforma,

o que signifi ca que as avós só

mais tarde estejam disponíveis.

E já não são as avozinhas que

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | PORTUGAL | 13

Joana Marques Vidal impede acordo no caso Remédio Santo

A procuradora-geral da República,

Joana Marques Vidal, emitiu ontem

uma directiva onde proíbe os pro-

curadores de realizarem acordos

em sentenças penais, uma solução

rara que foi esta semana sugerida

por alguns advogados no âmbito do

processo Remédio Santo. O tribunal

suspendeu por uma semana o julga-

mento dos 18 arguidos acusados de

burlar o Serviço Nacional de Saúde

em quatro milhões de euros, para

dar tempo às defesas de negociarem

com o Ministério Público.

Na quinta-feira, a PGR já divulga-

ra uma nota em que esclarecia que

“a hierarquia do Ministério Público

considera que o simbolismo do ca-

so, as fi nalidades de política criminal

envolvidas na sujeição dos arguidos

a julgamento, bem assim como a

circunstância de haver posições di-

vergentes no seio desta magistratura

quanto à questão dos acordos sobre a

sentença” determinam que esse não

deve ser o caminho, “até que se pro-

ceda a uma refl exão mais aprofunda-

da sobre a matéria, que permita ao

Ministério Público, no seu conjunto,

assumir uma posição unitária”.

Os advogados deste processo que

defenderam o acordo, Dantas Rodri-

gues e Artur Marques, lamentaram

ontem a directiva da PGR. “Foi um

golpe profundo numa solução que

Joana Marques Vidal proíbe procuradores de fazerem acordos em sentenças penais

não devia ser excluída por via admi-

nistrativa”, critica Artur Marques.

Ontem, Joana Marques Vidal, a

responsável máxima da estrutura

hierárquica do Ministério Público,

inviabilizou esta solução em qual-

quer caso, pondo fi m às orientações

contrárias por parte da Procuradoria

de Lisboa e da de Coimbra, que, em

2012, recomendavam aos magistra-

dos a ponderação destes acordos.

Estes implicavam que os arguidos

confessassem em julgamento os cri-

mes que lhes eram imputados após

negociar com o MP o limite máximo

da pena a aplicar. Ao juiz competiria

controlar e comprovar a validade e

a credibilidade da confi ssão e deter-

minar a pena concreta, dentro dos

limites acordados.

Sem se referir ao processo Remédio

Santo, a procuradora-geral diz que

“está em causa saber se, não existin-

do norma expressa no nosso ordena-

mento jurídico-penal, é admissível e

válido o acordo celebrado com o ar-

guido”. E argumenta: “Aceitando que

os acordos de sentença em processo

penal poderão constituir uma forma

alternativa de resolução dos confl i-

tos penais adequada à prossecução

de objectivos de justiça, celeridade,

simplifi cação e economia processual,

certo é que não existe no nosso or-

denamento jurídico norma expressa,

geral e abstracta, que os preveja e

da qual possam resultar requisitos e

pressupostos conformadores da sua

aplicação que respeitem princípios

constitucionais estruturantes do pro-

cesso penal, designadamente os prin-

cípios da legalidade e da igualdade”.

A PGR lembra ainda as divergências

entre posições assumidas por profes-

sores em direito penal e os tribunais

superiores sobre a admissibilidade

dos acordos de sentença. “A comple-

xidade jurídica da questão sugere a

necessidade de aprofundamento da

refl exão sobre a mesma, designada-

mente quanto à posição a assumir

pelo Ministério Público no âmbito

das suas atribuições no exercício

da acção penal”, lê-se na directiva.

Esta questão tem sido discutida

nos meios judiciais após, em 2011,

o reputado professor catedrático já

jubilado Figueiredo Dias ter publica-

do o livro Acordos sobre a Sentença

em Processo Penal — O Fim do Estado

de Direito ou um Novo Princípio. Pelo

menos dois tribunais, o de Ponta Del-

gada e o de Vouzela, homologaram

acordos deste tipo, tendo este último

sido anulado pelo Supremo Tribunal

de Justiça, por considerar que o “di-

reito processual português não admi-

te acordos negociados de sentença”.

JustiçaMariana Oliveira

Tribunais aceitaram pelo menos duas vezes este tipo de acordo. Um deles foi anulado pelo Supremo, por falta de base legal

A nomeação de D. António Francisco

dos Santos, bispo de Aveiro, para o

Porto foi conhecida ontem e deixou

os padres da Diocese de Aveiro des-

contentes, por considerarem, entre

outros aspectos, que o bispo deixa

trabalho a meio em Aveiro.

“A Santa Sé pensou na Diocese do

Porto, a nossa perde, sente-se em-

pobrecida. O sair dele deixa-nos al-

gumas interrogações, fi camos com

pena, mágoa. Nada fazia supor que

se fosse embora”, diz o padre João

Gonçalves, defendendo que “os bis-

Diocese de Aveiro descontente com ida de António Francisco dos Santos para bispo do Porto

pior há na Igreja”. O padre diz que

“D. António Francisco não termi-

nou a missão que lhe fora confi ada

em Aveiro” e que “não vai acres-

centar nada de especial no Porto”.

Contactado pelo PÚBLICO, man-

tém as críticas: “Cerca de um ano

para o Porto ter um bispo? Não é ad-

missível. É a maior diocese do país”,

afi rma. Acrescenta que D. António

Francisco estava a “unir os padres” e

que esse trabalho “não está pronto”:

“É um trabalho deixado a meio”.

Também D. António Francisco não

escondeu a surpresa: ”A decisão do

Santo Padre foi uma comunicação

inesperada”, disse, frisando, no en-

tanto, que se manifestou “disponível

para servir com alegria a diocese do

Porto”, sem esquecer a comunidade

aveirense, que serviu durante sete

anos. A data da tomada de posse de-

verá ser comunicada brevemente e

terá de ocorrer nos próximos três

meses. com Lusa

pos titulares das dioceses, em princí-

pio, não deviam ser mudados”.

O também responsável pelas cape-

lanias prisionais considera que “foi

um processo muito lento”: “O Porto

está sem bispo há cerca de nove meses

[desde a saída de D. Manuel Clemen-

te para patriarca de Lisboa]”, nota.

O padre Licínio Cardoso, tam-

bém de Aveiro, escreveu na pági-

na do Facebook um comentário

no qual criticava “o secretismo na

nomeação dos bispos, a exclusão

do povo de Deus na escolha do seu

pastor”, considerando um “sinal

claro e evidente daquilo que de

IgrejaMaria João Lopes

O próprio bispo foi apanhado de surpresa. Padres de Aveiro sentem “mágoa” e “pena” e criticam processo lento

D. António Francisco mostrou-se “disponível”, mas diz que nomeação foi “inesperada”

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14 | LOCAL | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

DANIEL ROCHA

Um plano de revitalização e propostas para travar a “degradação” do Areeiro

Um comerciante, uma professora de

Arquitectura do Instituto Superior

Técnico (IST) e dois moradores, um

deles arquitecto e a outra socióloga,

uniram esforços e apresentaram à

Câmara de Lisboa uma proposta para

que seja defi nido “um plano de re-

vitalização” para o território da an-

tiga freguesia de São João de Deus. O

objectivo é “inverter o processo de

abandono e degradação” da zona.

A iniciativa começou a ganhar for-

ma em Setembro de 2013, quando

os autores da proposta se juntaram

numa acção promovida pelo Movi-

mento de Comerciantes da Avenida

Guerra Junqueiro, Praça de Londres

e Avenida de Roma, por ocasião da

Semana Europeia da Mobilidade.

“Conhecemo-nos, começámos a fa-

lar e fi cámos com a sensação de que

era possível fazer qualquer coisa,

envolvendo instituições como o IST,

moradores e comerciantes”, explica

Carlos Moura-Carvalho, proprietário

da Mercearia Criativa.

Dois meses depois, a refl exão que

fi zeram deu origem a um documen-

to de oito páginas, que enviaram ao

presidente da câmara e ao vereador

do Urbanismo, Manuel Salgado. Ne-

le, Carlos Moura-Carvalho, Teresa

Valsassina Heitor, João Appleton e

Sandra Marques Pereira elencam os

pontos fortes da zona (entre eles o

seu valor histórico e arquitectónico e

a qualidade de construção), bem co-

mo os problemas de que sofre (como

o declínio populacional e o fecho de

lojas que dão lugar a outras, “desva-

lorizadoras”).

Aquilo que os quatro propõem é

que seja elaborado um documen-

to de “caracterização” da área da

“Avenida Guerra Junqueiro, Praça

de Londres, Avenida de Roma e vias

envolventes”, no seguimento do qual

se possam “identifi car os problemas-

chave que se devem enfrentar nas

propostas de revitalização e requa-

lifi cação” deste território.

“Não se pretende uma coisa acadé-

mica, mas sim participativa, acessí-

vel à maior parte das pessoas”, frisa

Carlos Moura-Carvalho, defendendo

que depois de concluído esse estudo

será possível passar à acção “no cur-

to prazo”. Poder-se-á até constituir,

diz Teresa Valsassina Heitor, toda a

zona ou apenas parte dela como um

projecto piloto, no quadro de uma

intervenção que poderá depois ser

alargada. A professora universitária

lamenta que esta área da cidade te-

nha vindo a ser “negligenciada” pe-

la câmara e sublinha que ela “teria

todas as condições” para se afi rmar

como um bairro urban friendly. No

fundo, aquilo que agora se pede ao

município, resume a socióloga San-

dra Marques Pereira, é que tenha

“uma visão antecipativa” que “pre-

vina o fi m de vida” da zona, passa-

das seis décadas da construção dos

primeiros edifícios e da fi xação dos

seus moradores originais.

A conversa com o PÚBLICO co-

meçou numa esplanada da Guerra

Junqueiro e prolongou-se por um

passeio demorado pelo território da

antiga freguesia de São João de Deus,

que se fundiu com a do Alto do Pina,

ganhando a designação de Areeiro.

Ao longo do caminho, foram várias

as paragens, boa parte das quais em

alguns dos muitos logradouros exis-

tentes no interior dos quarteirões.

Para esses espaços, muitos deles

transformados em parques de esta-

cionamento mais ou menos orde-

nados, não faltam ideias. “São áreas

com um enorme potencial”, sublinha

João Appleton, apontando a possi-

bilidade de criação no seu interior

de espaços de trabalho ou equipa-

mentos “úteis” para a comunidade

local, como por exemplo creches.

“Não têm de ser coisas impactantes,

intensivas”, apressa-se a explicar o

arquitecto, antecipando as críticas

que a sua proposta poderá gerar.

Hoje os logradouros, considera

João Appleton, “são tão pouco co-

nhecidos que nem são espaços pú-

blicos”. É por isso que o arquitecto

sugere que neles sejam feitas abertu-

ras, que possibilitem o seu atraves-

samento e a ligação entre diferentes

quarteirões. Como acontece já no Jar-

dim Fernando Peça, que une a Av.

de Roma e a João XXI, e cuja área

verde e parque infantil têm grande

procura. “Os logradouros não são do

conhecimento geral do passante, são

um elemento a explorar”, corrobora

Teresa Valsassina Heitor.

A arquitecta e professora diz ainda

que “o ambiente de traseiras” que

existe nesses espaços “hoje não é

hostil, tornou-se confortável”, com

os seus elementos da vida doméstica,

incluindo a roupa a secar.

Outra hipótese colocada pelo gru-

po é a de os edifícios desta zona se-

rem repensados, por exemplo estu-

dando-se a hipótese de divisão dos

fogos de grandes dimensões, para

atrair novos e diversos moradores.

E, acrescenta Sandra Marques Perei-

ra, promovendo-se a “refuncionali-

zação” de algumas áreas, como os

antigos quartos das criadas que para

muitos já não farão hoje sentido.

As “propostas a explorar” incluem

também o estudo da vulnerabilidade

sísmica dos edifícios e dos revesti-

mentos e acabamentos decorativos

presentes nas suas fachadas e interio-

res, “tendo em vista a sua conserva-

ção e manutenção”.

“É uma zona com uma qualidade

urbanística e arquitectónica que in-

teressa preservar”, resume Teresa

Valsassina Heitor, lembrando que

foi neste território de Lisboa que “o

modelo de vida moderna urbana” foi

posto em prática pela primeira vez

numa perspectiva de bairro.Autores da proposta dizem que esta área “tem sido negligenciada”

Uma zona que precisa de “uma visão antecipativa”, para prevenir o seu “fim de vida” aos 60 anos

A criação de ligações entre os quarteirões através dos logradouros e a construção nesses espaços de equipamentos são algumas das propostas de um grupo de residentes e trabalhadores nesta zona de Lisboa

CidadaniaInês Boaventura

Londres na assembleia municipal

A petição lançada pelo Movimento de Comerciantes da Avenida Guerra Junqueiro, Praça

de Londres e Avenida de Roma em defesa da transformação do antigo Cinema Londres num pólo cultural vai ser discutida na Assembleia Municipal de Lisboa na terça-feira. Carlos Moura-Carvalho, um dos rostos do movimento, acredita que se o plano de revitalização agora proposto (e que a câmara disse aos seus autores estar a avaliar) fosse já uma realidade, a hipótese de o antigo cinema ser transformado numa loja de produtos chineses poderia nem sequer ter emergido. As obras para ali instalar aquela loja foram suspensas pelos proprietários do cinema, na sequência da polémica ocorrida no mês passado.

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | LOCAL | 15

DANIEL ROCHA

A câmara fornece refeições a 600 crianças e agora vai também apoiar os pais

Há pouco mais de um ano, com o

aprofundar da crise social, o exe-

cutivo da Câmara de Elvas tomou

uma opção: mobilizou as suas ca-

pacidades fi nanceiras e humanas

para suster o drama da fome que

era transversal a largos extractos da

população, e aprovou o fornecimen-

to de duas refeições diárias a quase

600 crianças residentes no conce-

lho do Norte alentejano. Mas já não

está a conseguir atender a todos os

pedidos.

Na altura, Rondão de Almeida, pre-

sidente da autarquia, confi denciava

ao PÚBLICO como lhe era “penoso”

o dia de terça-feira, quando recebia

os cidadãos que lhe iam expor os

seus problemas. “As pessoas entram

no meu gabinete e começam logo a

chorar”, contou.

Há um ano, o autarca já dizia que

o “fl agelo da miséria” era cada vez

maior. Hoje, Nuno Mocinha, que

substituiu Rondão de Almeida na

presidência da câmara, lança “um

SOS” ao Governo e ao país, para que

São cada vez mais os agregados familiares com carências alimentares

encarem a crise social com a emer-

gência que se impõe. “A situação é

mesmo dramática”, garante.

Há um ano, a autarquia aprovou

o fornecimento de duas refeições a

quase 600 alunos subsidiados nos es-

calões A e B. Estes continuam a rece-

ber apoio alimentar que, a partir do

próximo mês de Março, será exten-

dido a cerca de 200 adultos, na sua

maioria pais das criançajá apoiadas.

É o projecto Abraço Solidário.

“Estamos a assistir a um profundo

agravamento da crise social”, cons-

tata Nuno Mocinha, revelando um

dado preocupante: “Até as pessoas

que ajudavam os mais pobres deixa-

ram de poder ajudar”.

Estes projectos juntam-se a outros

25 que a autarquia de Elvas disponi-

biliza aos sectores mais carenciados

da população, do nascimento até à

terceira idade. O autarca destaca as

comparticipações no pagamento

de bolsas de estudo ou no apoio ao

emprego que presta a cerca de 600

jovens, ocupando-os em actividades

de interesse público pelo salário de

250 euros mensais, “evitando assim

que eles fujam para o litoral”.

No caso dos idosos, a autarquia

assegura 75% dos encargos que su-

portam com a medicação “para

não terem que optar entre o pagar a

água, a luz ou os remédios” e é ainda

dado apoio “a cerca de 300 pesso-

as” que não auferem o rendimento

social de inserção ou o subsídio de

desemprego.

Um tal volume de compromissos

“pesa cada vez mais nas contas da

autarquia”, salienta Nuno Mocinha,

reconhecendo que está a tornar-se

“cada vez mais difícil” manter os

montantes para o apoio social. As

difi culdades não param de aumen-

tar, ao mesmo tempo que as recei-

tas próprias descem “com a perda da

actividade económica, sobretudo no

imobiliário e nas taxas associadas ao

urbanismo que neste momento são

zero”, revela o autarca. E exemplifi ca

com o Imposto Municipal para Imó-

veis (IMI) cujo aumento foi inferior

a 200 mil euros.

A câmara “já não tem capaci-

dade para continuar a substituir o

Estado nas suas funções”, sublinha

o autarca. Nos diversos programas

de apoio social o município investe,

neste momento, “cerca de oito mi-

lhões de euros por ano, uma verba

que representa 60 por cento” das

transferências do Estado.

ElvasCarlos Dias

A autarquia gasta quase oito milhões de euros por ano em apoio social e diz já não ter capacidade para manter esta ajuda

“Após nove anos de concertos, par-

tilhas, noites mágicas, cumplicida-

des”, o Ondajazz vai “fechar as suas

portas por não conseguir mais fazer

face a uma política agressiva que des-

preza a cultura”. O anúncio foi feito

no Facebook ofi cial deste bar-restau-

rante que tem vivivo sob o mote da

música ao vivo no bairro de Alfama.

“Até ao fi m, mantivemos a nossa li-

nha de conduta perante a música e

a cultura”, escrevem.

Uma das fundadoras do espaço,

Corinne Riou, resumiu entretanto

à Lusa que o encerramento é “por

causa da crise”. “Estamos em esfor-

ço há muito tempo e a crise, o po-

der de compra e a subida do IVA na

hotelaria e na cultura também não

ajudam qualquer pequeno negócio

sem apoio”, refere Riou.

No final de Fevereiro, o clube

despede-se com um “último con-

certo”, mas mantém a programação

prevista ao longo do mês. “Iremos

dar o nosso melhor para manter a

programação a que habituámos os

nossos clientes, aproveitando para

nos irmos despedindo das pessoas

que ao longo destes anos todos aju-

daram a fazer do Ondajazz o que é

hoje”, referem.

Entre agradecimentos ao público,

músicos e equipa da casa, resume-se

a quase década de vida da casa como

uma “maravilhosa aventura”.

O Ondajazz abriu em Outubro de

2004, projecto de Victor Felizardo,

Thierry e Corinne Riou. Entre mú-

sica ao vivo, copos e refeições, o

clube viveu sempre sob o mote do

jazz, embora com “uma visão am-

pla” deste género musical, incluindo

na sua programação “as músicas do

mundo”, as “sonoridades africanas

e orientais ou os ritmos latinos”. Pe-

lo seu palco passaram artistas como

Mário Laginha, Maria João, Bernardo

Sassetti, entre outros.

Com o jazz a calar-se no Ondajazz,

o espaço, segundo Corinne Riou, de-

verá mudar de mãos em breve, tor-

nando-se a nova casa de fados do

bairro onde este género musical é rei.

Há cerca de um ano, outro clube de-

dicado ao jazz fechou, o Catacumbas

Jazz Bar, no Bairro Alto.

Crise obriga Ondajazz a fechar portas em Lisboa

BaresLuís J. Santos

O encerramento do clube de Alfama está marcado para 28 de Fevereiro e o espaço deverá tornar-se uma casa de fado

Breves

Campo de Santana

LIsboa

Juntas querem esquadra da PSP no edifício do antigo TIC

Jardineiros pararam porque a câmara não pagou gás dos banhos

As Juntas de Freguesia de Santo António e de Arroios, em Lisboa, querem uma esquadra da PSP nas antigas instalações do Tribunal de Instrução Criminal, na Rua Gomes Freire. A proposta foi feita quarta-feira numa das três reuniões realizadas esta semana entre a PSP, o Ministério da Administração Interna, a câmara e os 24 presidentes de junta de Lisboa para discutir o polémico projecto que prevê o fecho de 11 esquadras na capital. Vasco Morgado, presidente da Junta de Santo António, diz que essa seria uma boa solução face ao encerrameno das esquadras do Rato e da Rua de Santa Marta, ambas “sem quaisquer condições”. O autarca do PSD apoia o previsto fecho das esquadras porque assim “haverá mais polícia na rua”.

Os cerca de 120 trabalhadores da Câmara de Lisboa que prestam serviço nos jardins não saíram para a rua durante três dias em protesto contra o facto de não poderem usar os balneários. Devido a uma dívida de 12 mil euros, o fornecedor de gás suspendeu a entrega de botijas, situação que implicou, no início da semana, a falta de água quente no posto do Departamento de Espaços Verdes do Parque Eduardo VII, informou o sindicato. Em resposta, e antes que o mesmo ocorresse nos outros cinco postos da cidade, os jardineiros decidiram permanecer nos postos sem trabalhar no exterior. A Câmara de Lisboa confirmou o caso, mas disse que o problema foi resolvido na quinta-feira, sem explicar o motivo da falta de gás.

“Estamos a assistir a um profundo agravamento da crise social”, diz Nuno Mocinha, presidente da câmara

16 | ECONOMIA | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Reforço de 1000 novos inspectores tributários preso por reclamações

Fisco ainda está a analisar alegações dos candidatos, que esperam há dois meses por novidades em relação ao processo. Foram detectados erros no exame de admissão. Finanças não prevêem repetição das provas

PEDRO CUNHA

Troika tinha exigido inicialmente ao Ministério das Finanças que o recrutamento fosse concluído em 2013

O recrutamento de 1000 novos ins-

pectores do fi sco, inicialmente pre-

visto para 2013 e adiado para o início

deste ano, continua por concluir. A

Autoridade Tributária e Aduaneira

(AT) está desde o fi nal do ano pas-

sado a analisar reclamações dos

candidatos, que fi zeram os exames

em Novembro. Têm sido levantadas

dúvidas em relação ao processo,

relacionadas nomeadamente com

erros nas provas e os requisitos de

admissibilidade ao concurso.

Este reforço foi uma medida exi-

gida pela troika e, no relatório da

Comissão Europeia das oitava e no-

na avaliações ao programa de ajus-

tamento, estabelecia-se como prazo

para conclusão o fi nal de 2013, aler-

tando-se já nessa altura para “atrasos

nos objectivos de aumento do núme-

ro de inspectores”. No Orçamento do

Estado para 2014, que já era conheci-

do quando Bruxelas deixou esse avi-

so, o Governo previa ter o processo

concluído no início deste ano.

A AT abriu o concurso ainda em

Novembro de 2012 para preencher

900 vagas nas áreas de economia,

gestão, contabilidade e auditoria,

80 de informática e 20 de estatística,

prevendo um período de um ano de

estágio. As provas de admissão acon-

teceram um ano depois, entre 23 e

30 de Novembro do ano passado. O

fi sco tinha, no máximo, dez dias úteis

para publicar as classifi cações preli-

minares, mas fê-lo em apenas dois.

Desde esse dia, os candidatos não re-

ceberam novas informações.

O regulamento previa dez dias úteis

para a apresentação de reclamações

(ou seja, até 17 de Dezembro). A partir

daí, iniciou-se a análise das alegações,

processo que o Ministério das Finan-

ças diz ainda estar a decorrer. Através

do gabinete de imprensa, a tutela res-

pondeu apenas que as reclamações

em causa são de ordem técnica e ad-

ministrativa, mas não concretizou o

seu teor. Também não esclareceu o

número exacto de reclamações, limi-

tando-se a garantir que a AT recebeu

“menos de uma centena”.

À Associação dos Profi ssionais da

Inspecção Tributária (APIT) têm che-

gado dúvidas e pedidos de informa-

ção, referiu o presidente, Nuno Bar-

possível rasurar, utilizar corrector ou

escrever qualquer outro símbolo que

não fosse um X. Ou seja, os candida-

tos que eventualmente se enganaram

por causa da repetição de respostas

já não puderam voltar atrás.

Há ainda outra incorrecção na per-

gunta nove: o código da conta rela-

tivo a depreciações de equipamento

administrativo está errado (deveria

ser 435 e foi identifi cado como 434).

O PÚBLICO não conseguiu apurar se

erros idênticos ocorreram noutras

versões da prova e nos exames das

outras áreas funcionais.

Se a AT considerar válidas even-

tuais reclamações relacionadas com

estes casos, as classifi cações poderão

ter de ser revistas. Questionado sobre

a possibilidade de as provas serem

repetidas, as Finanças adiantaram

que “nada aponta ou indicia para a

realização de novos exames”.

De acordo com a lista preliminar

de classifi cação, o número de can-

didatos aprovados fi cou aquém dos

1000 novos inspectores que se pre-

tende recrutar. A tutela de Maria Luís

Albuquerque explicou que, como o

processo de selecção ainda não che-

gou ao fi m, “não é possível afi rmar

da existência, ou não, de vagas” que

justifi quem a abertura de um novo

concurso, seja interno ou externo.

A APIT reuniu-se em Outubro

com a ministra das Finanças e com

o secretário de Estado dos Assuntos

Fiscais, Paulo Núncio, que transmiti-

ram “o interesse em ver os inspecto-

res a entrar no primeiro trimestre”,

disse o presidente da associação. No

entanto, Nuno Barroso acredita que

tal só será possível “no fi nal de Abril

ou em Maio”. O relatório de Bruxelas

sobre a décima avaliação, conheci-

do na quinta-feira, já admitia que os

inspectores só venham a estar no ter-

reno nos “próximos meses”. Ques-

tionado sobre o calendário previsto,

o ministério não respondeu.

Fisco Raquel Almeida Correia e Pedro Crisóstomo

Ministério das Finanças. A dúvida é se

houve inscrições de pessoas que tra-

balham para o Estado, mas que estão

a prazo ou com contratos individuais

de trabalho (o que não as equipara a

funcionários públicos).

Incorrecções no enunciadoO PÚBLICO comprovou que existem

dois erros no enunciado de uma das

versões da prova realizada a 30 de

Novembro pelos candidatos a inspec-

tores do ramo de economia, gestão

ou contabilidade e auditoria. Em cau-

sa está a questão número três, onde a

resposta B está repetida, tendo sido

“colada” à parte fi nal da resposta A,

que era a correcta.

Um dos inscritos contou ao PÚBLI-

CO que o aviso para ignorarem a se-

gunda parte da resposta só aconteceu

perto do fi nal do exame, “a menos

de meia hora do fi m”. A prova teve a

duração de duas horas e 15 minutos.

E, nas folhas de respostas, não era

roso, que preferiu não dar pormeno-

res sobre a natureza destes contactos.

Num blogue dirigido a inspectores

tributários, têm-se igualmente acu-

mulado comentários sobre o concur-

so. Há candidatos que se interrogam

sobre a demora na publicação da lista

de classifi cação defi nitiva, que só será

conhecida quando terminar o proces-

so de análise das reclamações.

Uma das questões diz respeito

à admissibilidade dos candidatos,

visto que o concurso é destinado a

funcionários públicos com contrato

por tempo indeterminado. Aliás, para

serem admitidos, tinham de assinar

uma declaração, sob compromisso de

honra, a atestar o vínculo ao Estado.

Mas, de acordo com as regras, a verifi -

cação destas declarações só acontece

numa última fase, depois de publica-

da a lista fi nal de classifi cações. Só

nessa altura é que “os candidatos que

não comprovem reunir este requisito

serão retirados da lista”, explicou o

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | ECONOMIA | 17

O envio de trabalhadores para o sis-

tema de requalifi cação (a nova desig-

nação da mobilidade especial) só se

iniciará a partir de Abril, quando os

programas de rescisões amigáveis

em curso encerrarem, e quatro me-

ses depois da sua entrada em vigor.

A data consta do relatório da décima

avaliação do programa português,

divulgado na quinta-feira pela Co-

missão Europeia (CE).

O novo sistema de requalifi cação,

para onde são enviados os trabalha-

dores que estão a mais nos serviços e

organismos públicos, está em vigor

desde o início de Dezembro de 2013,

“porém, a implementação do siste-

ma só começa a partir de 1 de Abril”.

Isso, alerta Bruxelas, “representa um

atraso de um trimestre”, face ao pra-

zo estabelecido pelo Governo.

O PÚBLICO apurou que este com-

passo de espera está relacionado

com os programas de rescisões dos

professores e dos técnicos superiores

que estão a decorrer. O entendimen-

to é que só depois de estes progra-

mas encerrarem — o que acontecerá

a 28 de Fevereiro, no caso dos profes-

sores, e a 30 de Abril para os técni-

cos superiores — os serviços estão em

condições de avaliar em que áreas

e sectores poderá ser necessário fa-

zer mais ajustamentos no quadro de

pessoal. No caso dos trabalhadores

menos qualifi cados, porém, o Gover-

no já manifestou intenção de lançar

um novo programa de rescisões no

segundo trimestre do ano.

No relatório da CE, não se explica

por que razão o sistema só começa a

ser aplicado quatro meses depois da

entrada em vigor. As Finanças tam-

bém não esclarecem as razões nem

consequências do atraso.

A requalifi cação é o regime que

substitui a mobilidade especial e

destina-se aos trabalhadores que

não têm lugar nos serviços em pro-

cesso de reorganização ou de racio-

nalização de efectivos. A selecção é

feita com base na avaliação do de-

sempenho ou competências profi s-

sionais.

Na requalifi cação, os trabalhado-

res recebem, nos primeiros 12 me-

ses, 60% do salário, não podendo

Novo regime de mobilidade na função pública só arranca em Abril

RequalificaçãoRaquel Martins

O Governo quer avaliar o impacto dos programas de rescisões amigáveis, antes de recorrer ao sistema de requalificação

Com apenas duas avaliações regu-

lares ao programa de resgate fi nan-

ceiro por cumprir, o Banco Central

Europeu (BCE) decidiu mudar o seu

representante máximo na troika. O

economista alemão Rasmus Rüff er,

que liderava a equipa da autorida-

de monetária para Portugal desde o

início, foi substituído pela belga Isa-

bel Vansteenkiste, anunciou ontem

o BCE, no segundo dia de trabalhos

da 11.ª avaliação dos credores. É a

quarta mudança de “rostos” da troi-

ka desde 2011.

Rüff er era, dos três chefes de mis-

são da troika (onde estão ainda as

delegações da Comissão Europeia e

do Fundo Monetário Internacional),

o único que se mantinha nestas fun-

ções desde o início da aplicação do

programa negociado por Portugal pa-

ra receber o empréstimo de 78 mil

milhões de euros.

Isabel Vansteenkiste já está em

Portugal, tendo assumido o lugar

de Rüff er na avaliação da troika que

começou na quinta-feira. A seu lado

estão Jonh Berigan (Comissão Eu-

ropeia) e Subir Hall (FMI), que são

chefes de missão desde Setembro.

Na nota à imprensa onde anuncia a

saída de Rüff er a menos de três meses

de terminar o resgate, o BCE nada

diz sobre as razões desta dança de

cadeiras.

Vansteenkiste chega à troika sem

que o Governo tenha tomado uma

posição formal quanto à modalida-

de de saída do resgate, decisão que o

executivo remete para Abril ou Maio.

Pelas responsabilidades que desem-

penha no BCE, o acompanhamento

das políticas económicas dos países

da zona euro está no centro das atri-

buições da economista.

Vansteenkiste trabalha no BCE des-

de 2002 e é a responsável pela divisão

responsável pela supervisão dos paí-

ses da União Europeia na Direcção-

Geral de Economia do BCE. É neste

departamento que são acompanha-

dos os “processos de ajustamento na

zona euro”. Antes, liderou a divisão

de Análise de Política Internacional,

onde era responsável pela prepara-

ção das posições políticas, pela aná-

lise económica e fi nanceira global, e

Saída de chefe da missão do BCE foi a quarta mudança na troika desde 2011

pelos assuntos relacionados com po-

lítica monetária internacional. É for-

mada em Economia na Universidade

Católica de Louvain, na Bélgica, onde

viria a estudar Economia Aplicada e

a concluir o doutoramento.

Com esta substituição, já não resta

nenhum dos representantes máximos

da equipa inicial do FMI, Comissão

Europeia e BCE. Nos quase três anos

percorridos desde o pedido de assis-

tência fi nanceira, o fundo já alterou

duas vezes os seus representantes e a

Comissão Europeia fê-lo uma vez.

O primeiro encontro de Vanste-

enkiste com os parceiros sociais e os

deputados da comissão parlamentar

de acompanhamento do programa

de resgate acontecerá na próxima

quarta-feira, 26 de Fevereiro.

Finanças públicasPedro Crisóstomo

Isabel Vansteenkiste substituiu Rasmus Rüffer. Dança de cadeiras na troika foi uma constante, mas esta é a primeira mudança do BCE

BCE com lucrode 1440 milhões

OBanco Central Europeu apresentou lucros de 1440 milhões de euros em 2013, mais 45% do que

em 2012. Deste montante, dois terços, o equivalente a 962 milhões de euros, resultam do rendimento líquido associado à compra de títulos de dívida por parte da autoridade monetária.

Do lucro apurado, 1430 milhões foram distribuídos pelos bancos centrais nacionais, onde se inclui o Banco de Portugal. Quando, no ano passado, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução sobre o relatório anual do BCE (ainda de 2011), a ausência de uma referência explícita aos lucros do BCE com a compra de dívida dos países em dificuldade gerou controvérsia, levando a eurodeputada portuguesa Marisa Matias (relatora do texto) a retirar o seu nome do documento e a votar contra a resolução.

Com os proveitos obtidos através da participação no total de notas de euro em circulação, o banco central totalizou 406 milhões de euros, menos 35% do que em 2012, ano em que este montante chegou aos 633 milhões de euros. Um envelo-pe financeiro de 400 mil euros foi destinado pelo Conselho do BCE como provisão para cobrir eventuais riscos. P.C.

MÁRIO AUGUSTO CARNEIRO

Programa de requalificação está com atraso face às metas da troika

exceder 1258 euros, e estão sujeitos

a um plano de formação para tenta-

rem requalifi car-se e voltar a traba-

lhar noutros organismos do Estado.

Passado um ano, passam a receber

40% do salário, com o limite de 838

euros.

Na proposta inicial, o Governo

previa que, após um ano em requa-

lifi cação, todos os trabalhadores —

excepto os nomeados — podiam ser

despedidos. O diploma revogava

uma norma de 2008 que protegia a

maioria dos funcionários públicos

dos despedimentos, mas o Tribunal

Constitucional chumbou a proposta

e o Ministério das Finanças foi obri-

gado a rever a proposta.

Embora o novo regime só comece

a ter efeitos no terreno a partir de

Abril, os seus efeitos afectam os tra-

balhadores que já estavam na mobi-

lidade especial. Desde Dezembro, as

suas remunerações tiveram um cor-

te, impacto sentido principalmente

pelos que já estavam há mais de um

ano em mobilidade. Até então, rece-

biam 50% do salário, tendo passado

a receber 40%.

No fi nal de 2013, havia 1127 funcio-

nários públicos na mobilidade espe-

cial, mas no início do processo che-

garam a estar inactivos perto de três

mil trabalhadores. O Governo nunca

concretizou quantas pessoas serão

abrangidas pelo novo regime.

Sindicatos contra corte permanente

PS exige esclarecimentos ao primeiro-ministro

Os sindicatos alertam que os salários dos trabalhadores do Estado já sofreram “uma desvalorização violenta”

nos últimos anos e rejeitam novos cortes ou que eles se tornem definitivos.

De acordo com o calendário estabelecido com os credores, o Governo compromete-se a debater já na décima primeira avaliação, que se iniciou na quinta-feira, os avanços em matéria da reforma do sistema de pensões.

Até Junho, vai apresentar uma revisão dos suplementos pagos aos trabalhadores do Estado e até Dezembro, serão feitas mudanças na tabela salarial única. Segundo o relatório feito por Bruxelas, o objectivo é que

a revisão dos suplementos e da tabela salarial substituam os cortes nos salários que estão em vigor.

Ouvidos pelo PÚBLICO, os sindicatos contestaram, sem excepção, a disposição do executivo, assinalando a contradição face ao discurso oficial do Governo, que reitera a imagem de que a situação económica do país está a melhorar.

Eurico Brilhante Dias, membro do Secretariado Nacional do PS, reiterou que “é urgente e exigível que o primeiro-ministro responda que acordo fez com a troika para mais cortes nos salários da função pública e nas pensões e que cortes são definitivos”.

18 | ECONOMIA | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Autarquias discordam do modelo de alienação pública

Todos os municípios accionistas dos

sistemas multimunicipais de trata-

mento de resíduos urbanos vão con-

testar em tribunal a privatização da

EGF – Empresa Geral do Fomento,

disse ao PÚBLICO o presidente da

Câmara de Barcelos (accionista da

Resulima), Miguel Costa Gomes.

A “posição unânime” das autar-

quias foi assumida na quinta-feira,

numa reunião da Associação Na-

cional dos Municípios Portugueses

(ANMP) promovida especifi camente

para debater o tema da privatização

da EGF. No encontro estiveram pre-

sentes mais de 70 autarcas e repre-

sentadas as 11 concessionárias dos

sistemas multimunicipais (que reú-

nem 174 municípios, de todos os qua-

drantes políticos), que gerem 60% do

lixo urbano do país.

Debateram-se as “consequências e

difi culdades do processo de privatiza-

ção” e constatou-se que “o ministro

[do Ambiente, Jorge Moreira da Silva],

ouviu, mas não respondeu” às preo-

cupações dos municípios sobre a pri-

vatização da EGF, disse Costa Gomes.

A posição consensual foi, por isso,

que “todos irão contestar a privatiza-

ção do ponto de vista jurídico, mas

também do ponto de vista político”,

sublinhou o presidente da Câmara de

Loures, Bernardino Soares. As for-

mas de actuação na esfera política

“estão ainda a ser defi nidas”, disse o

autarca de Loures, município que é

Câmaras contestam nos tribunais a privatização da EGF

accionista da Valorsul, o activo mais

importante da EGF.

Frisando que “há municípios que,

por ideologia política, até admitem a

entrada de capital privado nas suas

concessionárias”, a vice-presidente

da Câmara do Barreiro (município

que é accionista da Amarsul, que re-

úne os municípios da margem sul

do Tejo e é a quarta maior empresa

do sistema), Sofi a Martins, assegura

que nenhum aceita é que o contro-

lo passe para um privado. “O que é

unânime é que todos querem que

pelo menos 51% do capital das em-

presas permaneça no domínio pú-

blico”, referiu.

Lembrando que os municípios têm

a “dupla condição de accionistas e de

clientes das concessionárias”, Sofi a

Martins lamenta que o modelo de

privatização escolhido (que admite

que as câmaras vendam ao mesmo

preço que o Estado, mas não dá às

concessionárias a possibilidade de

adquirirem a maioria do capital) lhes

retira qualquer margem de interven-

ção sobre decisões de gestão e de in-

vestimento que vão ter refl exos nas

tarifas que cobram aos munícipes.

Embora a decisão de contestar a

privatização da EGF tenha sido toma-

da no âmbito das autarquias e não da

ANMP, a associação pediu na quarta-

feira uma nova reunião a Jorge Mo-

reira da Silva, embora “sem grandes

expectativas”. “Os argumentos são

os mesmos que já apresentámos ao

ministro, é apenas uma tentativa de

esgotar todas as vias de diálogo”, dis-

se Miguel Costa Gomes.

Em aberto está a possibilidade de

as acções judiciais partirem indivi-

dualmente dos municípios ou das

diferentes concessionárias, mas fi ca

excluída uma acção conjunta devido

à diversidade das diferentes formas

contratuais existentes no sistema.

PEDRO CUNHA

Um total de 174 câmaras dos quatro partidos autárquicos une-se contra venda da empresa pública que gere os lixos urbanos

Faria de Oliveira antecipa “consequências negativas”

A Associação Portuguesa de Ban-

co (APB), presidida por Faria de

Oliveira, avisou que a redução das

taxas interbancárias cobradas aos

comerciantes, aprovadas pelo Co-

mité dos Assuntos Económicos do

Parlamento Europeu na quinta-feira,

vai ter “consequências negativas” e

implicará uma “inevitável busca de

fi nanciamento junto de outros seus

benefi ciários”.

Em comunicado enviado nesta

sexta-feira, a APB diz que o actual

sistema de fi nanciamento dos paga-

mentos com cartões bancários no

retalho e serviços “já é defi citário”

e, além de um “impacto negativo no

desenvolvimento de sistemas de pa-

gamentos português”, acabará por

ser “desfavorável aos interesses dos

consumidores”.

No fi nal do ano passado, Faria

de Oliveira já tinha admitido que o

sector poderia começar a cobrar co-

missões pelos levantamentos e paga-

mentos através das caixas Multiban-

co (actualmente proibidas por lei).

Outra alternativa pode ser o aumento

do preço de emissão dos cartões.

Também a Federação Bancária Eu-

ropeia (FBE) já tomou posição, defen-

dendo que “a redução drástica” das

taxas pagas pelos comerciantes “é

uma ameaça à inovação e segurança

Bancos admitem que redução das taxas sobre os cartões vai ter custos para os consumidores

nas transacções com cartões”. Para a

federação, a redução não vai benefi -

ciar os consumidores. Guido Ravoet,

director da FBE, diz mesmo que, “em

vez dos comerciantes, serão os con-

sumidores a pagar a conta”.

Em comunicado envido à impren-

sa, a associação apela aos promoto-

res da iniciativa para “ponderarem”

devidamente o alcance da medida,

e considera ainda irrealista o prazo

de implementação, de um ano, lem-

brando que a introdução do merca-

do integrado para as transferências

a crédito e débitos directos (SEPA)

levou dez anos a concretizar.

A regulamentação será votada pelo

Parlamento Europeu em Abril, mas já

foi aprovada com os votos de 26 de-

putados (num total de 33 presenças)

do Comité de Assuntos Económicos.

Com a discussão política concluída,

há grande probabilidade de as novas

regras serem aplicadas. Em causa es-

tá a adopção de limites máximos das

taxas até 0,2% ou sete cêntimos no

caso dos cartões de débito, e de 0,3%

nos cartões de crédito.

Unicre esclareceContactada pelo PÚBLICO, a Unicre,

empresa portuguesa especializada na

gestão e emissão de cartões, adianta

que não vai comentar “o desejo dos

decisores políticos de imporem pre-

ços defi nidos administrativamente

para os pagamentos que a Unicre

tem de fazer”.

A empresa esclarece que “presta

serviços aos comerciantes que acei-

tam os pagamentos com cartões e

aos emissores dos cartões, nacionais

e estrangeiros, cujos clientes preten-

dem pagar as suas compras dessa for-

ma”. E que “presta um serviço aos

comerciantes e aos consumidores,

e aos bancos destes, assumindo co-

mo custos os pagamentos que tem

de fazer à Visa, Mastercard, etc., aos

processadores dos fl uxos de informa-

ção e aos emissores, que assumem o

risco da facturação”.

A Comissão Europeia acredita que

a adopção de tectos vai permitir ao

grande comércio obter ganhos ope-

racionais na ordem dos 3000 mi-

lhões de euros anuais. Estas comis-

sões custam ao sector mais de dez

mil milhões de euros por ano.

O comércio reclama, há muito,

uma redução das taxas e ontem,

ao PÚBLICO, Ana Isabel Trigo de

Morais, presidente da Associação

Portuguesa das Empresas de Dis-

tribuição (APED), dizia que o novo

regulamento é “uma primeira vitó-

ria do comércio europeu a favor dos

consumidores”.

PagamentosRosa Soares, Ana Rute SilvaParlamento Europeu aprovou regulamentação que reduz a taxa a pagar pelos comerciantes. Banca está contra A construtora aeronáutica brasilei-

ra Embraer vai criar um centro de

engenharia e tecnologia, nas suas

instalações em Évora, para o desen-

volvimento de peças e estruturas

em materiais compósitos, prevendo

a contratação de cerca de 20 enge-

nheiros.

O protocolo para a criação do

centro foi assinado ontem, em

Évora, entre a empresa, a Agência

para o Investimento e Comércio

Externo de Portugal (AICEP) e o

Instituto do Emprego e Formação

Profi ssional (IEFP), na presença do

ministro da Economia, António Pi-

res de Lima.

O novo centro da Embraer “vai,

inicialmente, dedicar-se a projectar

peças em materiais compósitos”, ex-

plicou o vice-presidente da empre-

sa para a Tecnologia e Engenharia,

Mauro Kern.

“O projecto de peças em materiais

compósitos é muito ligado às tecno-

logias produtivas, então faz todo o

sentido que nós tenhamos um nú-

cleo de engenharia, de alta compe-

tência, instalado muito próximo da

nossa operação industrial”, disse o

responsável.

O responsável indicou que o cen-

tro de engenharia e tecnologia da

empresa deve abrir “ainda este ano”

e que o processo para a contratação

de engenheiros vai arrancar “por

volta da metade do ano ou até an-

tes”. “A nossa intenção é contratar

o máximo possível de pessoas da re-

gião”, tal como já acontece no cen-

tro do mesmo género nos Estados

Unidos, disse.

As fábricas de Évora da Embraer,

a terceira maior construtora aero-

náutica do mundo, começaram a

laborar em Julho de 2012 e foram

inauguradas a 21 de Setembro do

mesmo ano pelo Presidente da Re-

pública, Cavaco Silva. As unidades,

uma de estruturas metálicas (par-

tes de asas) e outra de materiais

compósitos (componentes para

caudas), representaram um inves-

timento de quase 180 milhões de

euros. Nas duas unidades fabris,

são construídas peças para o novo

avião executivo Legacy 500 e para a

aeronave militar KC-390. Lusa

Embraer cria centro de engenharia em Évora

Desenvolvimento

Companhia brasileira centra atenções nos materiais compósitos e prevê a contratação de 20 engenheiros

Reforma do EstadoAna Brito

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | ECONOMIA | 19

Bolsas

PSI-20 Última Sessão Performance (%)Nome da Empresa Var% Fecho Volume Abertura Máximo Mínimo 5 dias 2014

PSI 20 INDEX 0,73 7228,49 149182100 7206,66 7228,49 7170,03 2,12 10,21ALTRI 1,36 2,77 221274 2,74 2,77 2,74 2,98 23,48BANIF 0,8696 0,01 66510015 0,01 0,01 0,01 -0,86 10,48BPI -0,12 1,67 1846273 1,68 1,69 1,66 6,11 37,01BCP 0,99 0,19 49546767 0,19 0,19 0,19 1,32 16,23BES 1,28 1,35 9386557 1,35 1,36 1,33 7,95 29,74COFINA -1,11 0,62 427371 0,63 0,64 0,62 -2,32 24,55EDP 1,08 2,99 5048562 2,96 2,99 2,95 2,00 11,99EDP RENOVÁVEIS 0,32 4,64 984154 4,63 4,69 4,58 4,52 20,20ESFG -0,85 4,80 21387 4,84 4,86 4,72 -0,80 -1,19GALP ENERGIA 1,06 11,91 768988 11,82 11,95 11,82 4,15 -0,04J. MARTINS 0,15 13,03 476476 13,04 13,11 12,95 -2,58 -8,34MOTA-ENGIL 2,35 5,06 278729 4,98 5,09 4,98 1,10 17,05PT 0,06 3,23 5667696 3,24 3,25 3,19 -1,88 2,28PORTUCEL 0,51 3,17 164638 3,15 3,17 3,14 0,61 8,76REN -0,41 2,70 65404 2,72 2,72 2,70 1,16 20,64SEMAPA 0,59 10,32 78455 10,32 10,35 10,29 2,04 26,67SONAECOM -7,07 2,24 865072 2,38 2,38 2,16 -3,80 -13,00SONAE IND. 3,34 0,87 812318 0,84 0,87 0,84 6,21 53,82SONAE 1,75 1,28 4949141 1,26 1,29 1,25 2,28 22,02ZON OPTIMUS 1,12 5,41 1062823 5,34 5,41 5,24 2,10 0,19

O DIA NOS MERCADOS

Acções

Divisas Valor por euro

Diário de bolsa

Dinheiro, activos e dívida

Preço do barril de petróleo e da onça, em dólares

MercadoriasPetróleoOuro

ObrigaçõesOT 2 anosOT 10 anos

Taxas de juroEuribor 3 mesesEuribor 6 meses

Euribor 6 meses

Portugal PSI20

Últimos 3 meses

Últimos 3 meses

Obrigações 10 anos

Mais Transaccionadas Volume

Variação

Variação

Melhores

Piores

Últimos 3 meses

Últimos 3 meses

Europa Euro Stoxx 50

BANIF 66.510.015BCP 49.546.767BES 9.386.557PT 5.667.696EDP 5.048.562

Sonae Ind. 3,34%Mota-Engil 2,35%Sonae 1,75%

Sonaecom -7,07%Cofina -1,11%ESFG -0,85%

Euro/DólarEuro/LibraEuro/IeneEuro/RealEuro/Franco Suíço

4,5

5,0

5,5

6,0

6,5

1,37260,8256140,953,2345

1,2195

0,287%0,384%

109,961321,25

2,353%4,935%

PSI20Euro Stoxx 50Dow Jones

Variação dos índices face à sessão anterior

2800

2900

3000

3100

3200

5750

6125

6500

6875

7250

0,300

0,325

0,350

0,375

0,400

0,73%0,32%-0,21%

ADRIANO MIRANDA

FMI alerta que negociação de dívidas não está a evitar insolvências

O Governo vai lançar em breve uma

nova linha de apoio para empresas

em difi culdades fi nanceiras, com o

objectivo de incentivar a reestrutura-

ção de dívidas e travar a falência de

negócios viáveis. Os primeiros passos

serão dados já em Março, acelerados

pelas críticas da troika aos mecanis-

mos criados para aumentar a recupe-

ração de empresas pré-insolventes.

Este projecto, espelhado no relatório

do Fundo Monetário Internacional

(FMI) sobre a décima avaliação ao

programa de ajustamento, vem re-

cuperar uma ideia antiga que tinha

sido posta de parte por causa de dú-

vidas da Comissão Europeia.

No documento, conhecido quin-

ta-feira, a instituição presidida por

Christine Lagarde refere que “na

sequência de uma revisão profun-

da do sistema nacional de garantia

mútua, foi desenhada uma nova

linha de apoio para empresas viá-

veis que tenham completado com

sucesso processos de reestrutura-

ção de dívida e reduzido os níveis

de endividamento”.

Mais à frente, no memorando que

acompanha o relatório, o Governo

escreve que esta linha servirá para

“apoiar negócios viáveis em difi cul-

dades fi nanceiras” e para “encorajar

as empresas a renegociarem a dívida

em tempo útil”, ou seja, antes de se-

rem arrastadas para a insolvência.

À semelhança do FMI, o executivo

calendariza a “fi nalização das linhas

gerais de orientação e o arranque do

projecto-piloto, dentro do envelope

orçamental existente, para o fi nal de

Março”. O PÚBLICO contactou o Mi-

nistério da Economia para obter mais

esclarecimentos, mas não obteve res-

posta. Foi, no entanto, possível con-

fi rmar que a tutela de António Pires

de Lima está de facto a estudar este

tema, em conjunto com a troika.

A ideia não é nova. Já em 2012,

quando o Governo lançou o progra-

ma Revitalizar, criando um meca-

nismo de negociação extrajudicial

de dívidas alternativo à insolvên-

cia, o objectivo era associar-lhe um

pacote de fundos para injectar di-

nheiro nas empresas que saíssem

destes processos. Nessa altura, o ex-

Governo prepara nova linha de apoio para empresas em dificuldades financeiras

dos, em Agosto último. Até Dezem-

bro, 55,5 dos 220 milhões alocados

ao programa (em que 110 milhões

são suportados por fundos comuni-

tários e outros 110 milhões por sete

instituições fi nanceiras) já estavam

comprometidos junto de 16 empre-

sas. Do valor comprometido, 25,5

milhões tinham sido executados.

Importa referir que, no memoran-

do que acompanha o relatório sobre a

décima avaliação, o Governo esclare-

ce que a linha de apoio que está agora

em estudo estará “em linha com as

regras europeias sobre auxílios es-

tatais”. Já o FMI associa este novo

projecto ao facto de Portugal estar

“a passar ao lado de um catalisador

de reestruturação da dívida” das em-

presas, acrescentando que “os dados

sobre o recurso aos mecanismos de

reestruturação [criados pelo Gover-

no] mostram que não há um elevado

número de empresas a utilizá-los”.

O fundo refere-se ao Revitalizar

e ao Sistema de Recuperação de

Empresas por Via Extrajudicial (Si-

reve), que também foi criado como

alternativa à insolvência e substituiu

um programa que já existia, permi-

tindo a negociação com os credores

fora dos tribunais. Até agora, cerca

de 1500 empresas aderiram ao pri-

meiro e pouco mais de 300 ao Sire-

ve. O FMI deixa, por isso, um aviso:

“É essencial promover a reformula-

ção dos incentivos para promover

uma maior utilização dos mecanis-

mos de reestruturação e melhorar

as perspectivas de recuperação das

empresas”. Esta nova linha surge

após a reformulação feita pelo Go-

verno ao modo de funcionamento

da sociedade de garantia mútua e

numa altura em que o banco de fo-

mento está a ser desenhado. Com Luís Villalobos

secretário de Estado da Economia

e Desenvolvimento Regional, hoje

presidente da Câmara Municipal de

Viseu, garantia que 220 milhões de

euros iriam ser destinados a apoiar

negócios em difi culdades.

O executivo acabou, no entanto,

por recuar, já Almeida Henriques

tinha sido substituído no cargo.

Os fundos Revitalizar são hoje da

responsabilidade do secretário de

Estado da Inovação, Investimento

e Competitividade, Pedro Gonçalves,

mas foram reconvertidos numa linha

destinada a empresas em fase de ar-

ranque ou expansão de actividade,

não apoiando negócios em difi cul-

dades fi nanceiras.

O travão de BruxelasEsta mudança não poderá ser disso-

ciada do facto de a Comissão Euro-

peia ter levantado dúvidas sobre o

projecto inicial do Governo. Tal co-

mo o PÚBLICO noticiou, em Julho de

2012 (antes de terem sido escolhidas

as entidades gestoras dos fundos),

Bruxelas enviou uma carta a pedir

esclarecimentos sobre o destino

destas verbas, chamando a atenção

para o facto de estarem proibidos,

ao abrigo das regras comunitárias,

auxílios estatais a empresas em difi -

culdades. Na missiva, o Governo era

instado a provar que o dinheiro não

seria usado para reestruturar dívida.

Em resposta, o executivo garan-

tiu que os 220 milhões não seriam

usados para pagar dívidas, mas sim

para salvaguardar a continuidade de

projectos viáveis. Mas a verdade é

que a ideia acabou por não avançar.

Mais de um ano depois de Almeida

Henriques ter anunciado verbas pa-

ra apoiar empresas em difi culdades,

os fundos Revitalizar para negócios

fi nanceiramente viáveis foram lança-

FinanciamentoRaquel Almeida Correia

Ministério da Economia está a desenhar o projecto em conjunto com a troika para arrancar já no final de Março

20 | ECONOMIA | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

CPLP podia ser duas vezes mais rica se apostasse a sério na economia

A Comunidade de Países de Língua

Portuguesa (CPLP) já vale 4% do Pro-

duto Interno Bruto (PIB) mundial,

mas podia mais do que duplicar de

valor se os políticos apostassem a sé-

rio na economia e se houvesse mais

comunicação entre os Estados para

juntar a procura de um país à oferta

de outro, consideram especialistas

ouvidos pelo PÚBLICO.

Um dia depois de os oito ministros

das Finanças dos países que falam

português se terem sentado à mes-

ma mesa, em Maputo, para debater

a crise fi nanceira mundial e a gestão

sustentável dos recursos naturais, os

especialistas na economia lusófona

alertam que, do ponto de vista de

promoção empresarial e das relações

comerciais entre os Estados, há mui-

Economia dos países da CPLP vale 1,8 biliões de euros. Especialistas pedem mais comunicação entre os países para juntar a oferta e a procura. Empresários dizem que reuniões de políticos são pouco produtivas

CooperaçãoMário Baptista, Lusa

José Alves

O relacionamento entre países da CPLP

Fonte: INE, Eurostat, CIA Factbook, Banco do Brasil, AICEP, APEX (dólares)

Indicadores fundamentais 2012, em %

Balança comercial entre o Brasil e AngolaEm milhões de dólares

Balança comercial

ANGOLA CABO VERDE GUINÉ-BISSAU PORTUGAL MOÇAMBIQUE SÃO TOMÉ TIMORBRASIL

PIB

Inflação

Saldo orçamental

Dívida pública externa

Balança comercial

Desemprego

Esperança de vida

1145107494713331974

46438494

137

2236

20122011201020092008

Balança comercial entre Portugal e os países da CPLPEm milhões de euros

1099

636453

1195

-261

10+1

6+1

28

4+515

15

502623

116

284

319272

ASEAN

SADC

CEDEAO

Mercosul

CEMAC

UE

762

PIB (mil milhões de euros)

-0,3%

3,28%

5,87%

6,76%

5,61%4,99%

Regiões de integração dos países da CPLP, 2012

População (milhões)

Estados-membros

PIB 2012 sobre 2011

Países da CPLPPortugal (UE)Angola e São Tomé e Príncipe (CEMAC)Brasil (Mercosul)Cabo Verde e Guiné-Bissau (CEDEAO)Angola e Moçambique (SADC)Timor-Leste (ASEAN)

7,50

9

8,90

19,90

41,70

25

48,4

0,90

5,84

-2,47

13,90

0,01

5,50

73,4

2,50

4,10

-9,90

94

-39,60

16,80

74,5

-1,50

2,10

-1,80

25

-6,70

ND

46,8

-3,20

2,80

-6,40

124,10

0,10

15,70

79,2

-7,40

2,10

-3,90

31,50

-18,60

27

52,1

4,00

10,40

-11,20

77,60

-39,30

13,9 (2008)

67,6

10,20

11,80

209,80

0,50

-43

nd

64,2

0

24532416

20122008

-1043

20122008

193273

20122008

72

42.792

20122008

304

71.073

20122008

5139

20122008

7

20122008

ANGOLA BRASIL CABO VERDE GUINÉ-BISSAU MOÇAMBIQUE SÃO TOMÉ TIMOR

0

0 0 0 0 0 0

751

543,3

2741

141

11.719

-689 1

Exportações para Angola Importações de Angola

to a fazer, para benefício de todos.

“A riqueza no espaço lusófono

pode passar de quatro para 10% do

PIB mundial numa década e meia se

os países se juntarem e apostarem

numa verdadeira comunidade eco-

nómica, criarem mais-valias sobre

os abundantes recursos naturais

e usarem a abençoada separação

geoestratégica” que os espalha por

quatro continentes, afi rma o presi-

dente da Confederação Empresarial

da CPLP, Salimo Abdula, que reclama

uma política diplomática mais virada

para a economia.

“Temos um diamante na mão e

ainda não o conseguimos lapidar,

mas quando o fi zermos vai ser bri-

lhante e uma coisa belíssima”, re-

conhece a directora-geral da CPLP,

Georgina Mello, referindo-se ao po-

tencial de uma área que representa

4% da riqueza mundial e que junta

mais de 250 milhões de pessoas, mas

que ainda enfrenta difi culdades nas

trocas comerciais entre os seus mem-

bros, por exemplo ao nível do fi nan-

ciamento e das barreiras ao comércio

internacional.

“Há bons projectos, mas não têm

acesso a fi nanciamento que existe

noutros países [da CPLP], e depois

temos abundância de operadores

de mercado e tecnológicos nalguns

países, ao mesmo tempo que temos

carências muito graves noutros”,

diz a responsável, sublinhando que

é preciso mais comunicação entre

os países. “A comunicação entre a

procura de um país e a oferta do ou-

tro é fundamental porque há neces-

sidades que são gritantes nuns sítios

e noutro país que nem sabe disto há

excedentes nessa área; é preciso é

comunicarem uns com os outros”,

diz Georgina Mello.

A livre circulação de pessoas, bens,

serviços e capital é, aliás, um tema

incontornável quando se fala com

Salimo Abdula, que não tem dúvi-

das de que esse é o caminho, até por-

que, já antecipando as críticas sobre

a difi culdade de harmonizar regras

rígidas como as da União Europeia

ou do Mercosul sobre a abertura de

portas, afi rma que a livre circulação

no contexto da CPLP “é um desafi o,

não é um problema, e só depende

da sensibilidade política”.

Os ministros que ontem se reuni-

ram têm, por isso, um papel central,

continua Georgina Mello, porque só

eles podem desbloquear as difi cul-

dades de compatibilização da CPLP

com as regras dos sistemas regionais,

dos quais nenhum país quer abdicar:

“Ninguém quer sair da região eco-

nómica em que está inserido, é pre-

ciso é criar margem para construir

esta comunidade paralela, que traz

grandes oportunidades, porque se

se conseguir conciliar os dois espa-

ços, cria-se uma ponte que permite

às empresas dos países da CPLP ace-

der a este espaço regional que não

seria o seu espaço próprio.”

A CPLP é um organismo mais po-

lítico que económico, mas podia

evoluir para uma verdadeira comu-

nidade de criação de riqueza se os

recursos fossem mais bem aprovei-

tados, e se houvesse uma aposta po-

lítica assertiva.

Por ocasião da terceira reunião dos

responsáveis das Finanças, desta vez

em Maputo, Salimo Abdula mostrou-

se esperançado na aposta económica

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | ECONOMIA | 21

Comparado frequentemente com

outros países lusófonos, Cabo Verde

tem dado mostras da vontade em

fazer reformas profundas, sobretu-

do nas áreas económica e fi nancei-

ra. Mas a falta de recursos naturais

relevantes e a proximidade à Euro-

pa, com o escudo cabo-verdiano

indexado ao valor do euro, torna

o país muito vulnerável a crises ex-

ternas.

Os sucessivos avisos das organiza-

ções fi nanceiras internacionais para

a redução da dívida pública têm tido

algum eco nas políticas económi-

cas do Governo, que, apesar dos

alertas em contrário, decidiu man-

ter elevada a afectação de verbas

para o Programa de Investimentos

Públicos (PIP), que ascende a 22,3

milhões de contos (202,2 milhões

de euros).

A ministra das Finanças cabo-

verdiana, Cristina Duarte, tem ar-

gumentado que a sustentabilidade

da dívida pública está “garantida”,

sobretudo por se basear na capa-

cidade de obter empréstimos e na

necessidade de aproveitar, até ao

fi m, o acesso ao fi nanciamento in-

ternacional nesses termos.

Sem recursos naturais, acabou

por ser natural que só com as apos-

tas na educação, saúde e, sobretu-

do, na boa governação, se poderia

criar um Estado “impossível” num

“possível”, tal como gosta de sa-

lientar o primeiro-ministro cabo-

verdiano, José Maria Neves, facto

já consubstanciado com a subida de

Cabo Verde a país de rendimento

médio, em 2008.

Os indicadores económicos são

positivos, mas o risco de mais um

espirro europeu poder provocar

nova constipação está bem paten-

te na fragilidade e na vulnerabili-

dade do país a choques externos.

E se o clima económico tem esta-

do a melhorar, há reformas que

são mais necessárias que outras,

sobretudo num país que depende

em quase tudo das importações,

em que as alfândegas ganham pa-

pel de relevo, com a prática de taxas

elevadas e com difi culdades a nível

da corrupção, preocupação senti-

Progresso deixa a ecomomia de Cabo Verde mais vulnerável a crises externas

da sobretudo pelos empresários

portugueses, que se congregaram

recentemente numa associação.

Em fi ns de 2013, o Governo assu-

miu que, em 2014, vai combater a

corrupção nas alfândegas, através

da entrada em funcionamento de

um novo sistema que vai controlar

toda a administração aduaneira,

mas o processo será moroso, co-

mo também já reconheceu, peran-

te o desespero dos importadores,

que se vêem obrigados a revender

os produtos no pequeno mercado

cabo-verdiano às vezes ao dobro do

preço.

Nesse sentido, a boa governação,

a gestão transparente dos recursos

fi nanceiros e a baixa corrupção em

Cabo Verde, reconhecidas pela co-

munidade internacional, têm sido

as principais “armas” que as auto-

ridades cabo-verdianas apresentam

na cena económica mundial, mas

não escondem os riscos a que o país

está sujeito.

Apesar de tudo, mantém-se a bai-

xa infl ação (entre 2% e 3%), uma

taxa de crescimento que, mesmo

assim, sobe entre 3,5% e 4,5%, as

exportações crescem (25,6% em

relação a 2012), e as importações

diminuem (8,4% comparado com

2012), resultados que não deixam de

ser surpreendentes, mas que refl ec-

tem talvez o início do retorno dos

investimentos nas infra-estruturas e

das reformas em vários sectores.

Outro dado importante, divulga-

do pelo Instituto Nacional de Esta-

tística (INE) cabo-verdiano, passa

pelo facto de o défi ce da balança de

pagamentos ter diminuído 10,9% e

a taxa de cobertura aumentado 2,6

pontos percentuais.

As remessas dos emigrantes cabo-

verdianos, apesar de terem regis-

tado uma ligeira diminuição, con-

tinuam consistentes e as famílias,

apesar da perda de poder de com-

pra devido ao quase congelamento

dos salários desde praticamente o

início do impacto da crise em Cabo

Verde, em 2009, continuam a sub-

sistir com pouco.

No entanto, quando comparada

com outros países africanos de ex-

pressão portuguesa, a performance

económica cabo-verdiana está mui-

to à frente, com uma administração

pública apoiada pelo e-government e

a variada legislação que tem vindo

a alterar a conservadora sociedade

local, avançando com medidas de

carácter liberal, impensáveis há me-

nos de uma década.

O desenvolvimento já tornou o

país, tradicionalmente de emigra-

ção, num de imigração, fruto da “in-

vasão” de cidadãos oeste-africanos,

mas também de portugueses, que en-

viaram nos primeiros nove meses de

2013 remessas para Portugal de 2,7

milhões de euros. Em Cabo Verde

José Sousa Dias, Lusa

Portugal é o mais integrado na CPLP

Portugal só ocupa 0,86% do território total dos países da CPLP, e tem apenas 4% da população, mas,

em termos económicos, é o país mais integrado no espaço lusófono, detendo sempre o maior volume de trocas comerciais com cada um dos membros.

Os dados mostram que a balança comercial portuguesa com os restantes sete países é sempre favorável, com excepção do Brasil, país com o qual Portugal regista uma desvantagem de quase 700 milhões de euros em 2012, último ano para o qual há dados comparáveis para todos os países da CPLP, que valem cerca de 2,5 biliões de dólares, quase 90% dos quais provenientes do Brasil.

Olhando para os indicadores macroeconómicos, no entanto, a realidade é outra: em 2012, Portugal era o único país em recessão, se não contarmos com a Guiné-Bissau, então a braços com um golpe de Estado, e era também o único inserido numa região — a União Europeia — com um crescimento do PIB negativo.

Os dados estatísticos do departamento para o comércio nas Nações Unidas mostram que é entre Portugal e Angola que as trocas comerciais estão mais cimentadas, tendo este país africano recebido quase quatro mil milhões de dólares de produtos portugueses, e exportado pouco mais de metade desse valor. Angola, aliás, é o maior parceiro comercial de Portugal na CPLP. As exportações, de resto, têm sido a principal aposta de Portugal, e talvez por isso Portugal é o único (com excepção de Angola, e quase totalmente por via do petróleo) com uma balança comercial positiva (0,1%), mas o reverso da medalha mostra-se na dívida pública: 124% do PIB, quase o dobro do segundo país mais endividado, São Tomé e Príncipe, com 77,6%.

destes países: “Nada é impossível se

queremos uma CPLP forte e desa-

fi ante perante este ambiente de glo-

balização.”

Abdula argumenta que “temos

condições, fomos abençoados, te-

mos recursos naturais de grande

dimensão descobertos nos últimos

dez anos, temos mão-de-obra jovem,

e se nos posicionarmos como deve

ser, levando a tecnologia necessária

para dar mais-valias às nossas rique-

zas naturais, podemos transformar a

CPLP numa estrela mundial, fazendo

o nosso PIB subir para 10% do total

mundial em dez ou quinze anos”.

Questionado sobre a razão de os

membros da CPLP não criarem con-

dições especiais para favorecer os ne-

gócios entre as empresas lusófonas,

Abdula considerou que “há pouco

trabalho de sensibilização junto da

classe política” e criticou as reuniões

que os governantes levam a cabo sem

resultados práticos. “As reuniões de

ministros têm sido pouco produtivas,

não há resultados práticos, porque

não têm ouvido a parte empresarial,

é preciso acções de boa vontade, o

empenho das instituições que repre-

sentam o sector privado para trans-

mitir com segurança estas ideias e até

contribuir com projectos e ideias que

possam ultrapassar as difi culdades”,

acrescentou o responsável.

“Esperamos que esta reunião pos-

sa começar a preparar uma integra-

ção mais competitiva da CPLP no co-

mércio internacional, tirando partido

da complexidade e multidisciplinari-

dade da CPLP, para podermos estar

em vários mercados, e que comece

a pensar numa política comercial

comum que faz destes espaços mer-

cados livres”, disse Abdula.

Os ministros das Finanças, con-

clui, “enquanto organismos-chave,

devem servir como parceiros para

o rompimento de barreiras legais e

aduaneiras que impedem a livre cir-

culação de bens e mercadorias, e é

neste contexto que a CE-CPLP espera

que esta reunião possa debater este

assunto para melhor desenvolver os

negócios dentro e além das fronteiras

da CPLP”.

A nova directora-geral da CPLP,

que defende uma vertente mais eco-

nómica para esta comunidade de pa-

íses com a mesma língua, defende a

criação de “um conjunto de meca-

nismos para suportar as intenções

dos Estados” e assume que uma das

suas tarefas é precisamente “criar

mecanismos que facilitem a criação

de propostas que dêem corpo e con-

sistência a um tecido económico ain-

da ténue, mas que já existe”.

MIGUEL MADEIRA

O primeiro-ministro, José Maria Neves, fala num Estado “possível”

2%A inflação em Cabo Verde tem-se mantido nos 2% a 3% e a taxa de crescimento tem variado entre 3,5% e 4,5%

22 | MUNDO | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Nicolás Maduro anuncia uma grande operação para prender opositores

“Vamos capturá-los um a um”, disse o chefe de Estado venezuelano que parece estar a perder infl uência para o presidente do Parlamento. Governo e opositores voltam a medir forças nas ruas este sábado

JORGE SILVA/REUTERS

Os protestos contra Maduro espalham-se pela Venezuela

O Governo da Venezuela quer neutra-

lizar a oposição. “Vamos capturá-los

um a um. Aqui não há um Presidente

fraco, aqui não há um povo fraco”,

disse o Presidente Nicolás Maduro,

que, na quinta-feira à tarde, foi ver a

destruição que os confrontos entre

manifestantes anti-Governo e forças

pró-Governo deixaram nas ruas de

Caracas.

Leopoldo López, líder da Vontade

Popular, está preso desde terça-feira.

De acordo com o jornal espanhol El

País, estão em curso buscas em ca-

sas particulares na procura de An-

tonio Rivero, um antigo militar que

chegou a fazer parte do Governo de

Hugo Chávez — o fundador do regime

socialista bolivariano venezuelano

— e se demitiu depois de denunciar

a interferência de Cuba nas Forças

Armadas da Venezuela.

Outro dirigente da Vontade Popu-

lar (VP), Carlos Vecchio, é procurado

pela justiça. E Maduro disse que o

presidente da Câmara de San Cris-

tóbal (a cidade onde começou a re-

volta contra o Governo), Daniel Ce-

ballos, do mesmo partido, pode ser

acusado de incitamento à violência

e conspiração.

Corina Machado, a número dois do

VP, é outro alvo: o processo para reti-

rar a impunidade parlamentar a esta

deputada já começou e o objectivo é

acusá-la no processo contra López,

acusado de actos de delinquência e

associação delinquente.

O Presidente Maduro chamou-lhes

“fascistas”, acusou os estudantes (os

primeiros a rebelar-se, em protesto

pela alta taxa de criminalidade no

país, 71 homicidios por dia) de es-

tarem a receber dinheiro para pro-

vocarem a violência e disse que há

um líder da oposição que planeava

assassinar Leopoldo López para “de-

pois culpar o Governo”. O seu nome

será divulgado em breve, prometeu,

e será preso.

Já no palácio presidencial, Maduro

prometeu prender mais pessoas: as

que, através da rede social Twitter,

o ameaçaram e ao segundo homem

do regime, Diosdado Cabello, presi-

dente do Parlamento e para muitos o

homem que, neste momento, manda

realmente na Venezuela.

Para ontem ao fi m da tarde ( já

Março do ano passado —, Nicolás Ma-

duro benefeciou do factor emocional

e venceu as eleições presidenciais,

ainda que por curta margem. Herdou

um país já com muitos sinais de fra-

gilidade e os seus críticos dizem que

não tem capacidade para o lugar.

Chávez canalizou os lucros do pe-

tróleo venezuelano para programas

sociais e diminuiu o índice de pobre-

za. Os cidadãos agradeceram-lhe e

retribuíram-lhe com apoio e adora-

ção. Porém, 15 anos depois, os vene-

zuelanos querem mais resultados e

questionam o que aconteceu a essa

tamanha riqueza natural — em 2011,

a OPEP (Organização dos Países Pro-

dutores de Petróleo) classifi cou as re-

servas venezuelanas como as mais

ricas do mundo.

A Venezuela não tem capacidade

para extrair o petróleo que tem e a

produção está muito aquém do pos-

sível. A falta de matéria-prima parali-

sou grande parte da produção indus-

trial. Não há energia para alimentar

as fábricas ou para manter as luzes

acesas (os apagões são frequentes). O

país, que depende das importações

em muitas matérias, não tem divisas

para comprar alimentos e há escas-

sez de bens essenciais — a infl ação

no ano passado foi de 56%. A taxa

de criminalidade é das mais elevadas

do mundo.

Nicolás Maduro acusa os EUA de

estarem a fazer “guerra económica à

Venezuela” com o objectivo de derru-

bar o regime socialista. Washington

acusa Cuba de ingerência na governa-

ção venezuelana. Os analistas menos

comprometidos dizem que as duas

realidades são verdadeiras.

Os erros de gestão económica e

o elevadíssima corrupção danifi ca-

ram irremediavelmente o projecto

socialista de Hugo Chávez, analisa

a Economist.

VenezuelaAna Gomes Ferreira

noite em Portugal), estava prevista

uma reunião entre Maduro e Cabello

(e outros integrantes do Comando

Nacional Antigolpe) para decidirem

a estratégia para dominar a contes-

tação ao regime. Hoje, as duas partes

medem novamente forças nas ruas.

Henrique Capriles (da ala mais mo-

derada da oposição, o Justiça Pri-

meiro), marcou manifestações em

todo o país e pediu aos apoiantes e

ao Governo para rejeitarem a violên-

cia. Maduro respondeu convocando,

para o mesmo dia e para as mesmas

cidades, marchas só de “mulheres

revolucionárias”.

Há sinais de que a tomada de de-

cisões pode não estar a obedecer à

hierarquia. Após a divulgação de um

vídeo que vídeo que mostra a Sebin

—a polícia política — a disparar con-

tra manifestantes, Maduro disse que

lhe desobedeceram, o que sustentou

ainda mais a hipótese de ter sido Ca-

bello quem deu ordens à polícia de

choque, accionou as brigadas revo-

lucionárias (constituídas sobretudo

por civis, estão a ser a guarda avança-

da da polícia antimotim, diz o jornal

venezuelano El Universal) e mandou

avançar as unidades motorizadas da

polícia que têm investido contra os

manifestantes.

“Se não é o Presidente, quem está

a dar as ordens? Diosdado Cabello é

o principal suspeito. Talvez os dois

homens estejam a representar o pa-

pel do polícia mau e do polícia bom.

Seja como for, fala-se que o descon-

tentamento dentro do exército está

a crescer e os repetidos apelos do

Governo à ‘unidade’ das Forças Ar-

madas sugere que as coisas não es-

tão bem nos quartéis”, considera a

revista Economist.

Quando se tornou o herdeiro do

chavismo — Chávez designou-o seu

sucessor político antes de morrer em

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | MUNDO | 23

A entrega das armas foi documentada em vídeo

A Comissão Internacional de Veri-

fi cação do cessar-fogo da ETA deu

conta dos últimos desenvolvimentos

do processo para a entrega e inutili-

zação do arsenal de armas da orga-

nização separatista basca, e reputou

esses passos como “credíveis e signi-

fi cativos” para o fi m do terrorismo e

a conclusão do processo de paz no

País Basco.

A ETA anunciou a cessação defi ni-

tiva da luta armada em Outubro de

2011, e no ano passado comprome-

teu-se a entregar todo o seu arma-

mento, num processo supervisiona-

do por um organismo independente.

“Há um ano, constatámos avanços

signifi cativos no País Basco, e reco-

mendámos que esses esforços fossem

intensifi cados”, referiu o porta-voz

da comissão, Ram Manikkalingam,

que antes aconselhou o Governo do

Sri Lanka nas negociações com os mi-

litantes separatistas Tigres Tâmiles.

Ao início da tarde, numa confe-

rência de imprensa em Bilbau, o res-

ponsável fez o ponto da situação das

medidas do último ano, e apresentou

um inventário das armas catalogadas

e inutilizadas debaixo da supervisão

daquela entidade internacional, cujo

mandato e actividade não é reconhe-

cida pelo Governo espanhol.

De acordo com Manikkalingam, a

ETA desactivou 16,5 quilos de explo-

sivos, dois revólveres, uma pistola

e uma espingarda, 300 balas, uma

granada, temporizadores e 180 me-

tros de cordão detonante. A entrega

desse material aos supervisores in-

ternacionais por membros do gru-

po terrorista foi documentada em

vídeo, com o registo a ser divulgado

à imprensa como prova da intenção

do “abandono defi nitivo” das armas

pela organização terrorista.

Em Madrid, o ministro do Interior,

Jorge Fernández Díaz, criticou a ini-

ciativa de Bilbau como “mais uma

encenação da ETA”, e sublinhou que,

para o Governo, compete à polícia e

Guarda Civil espanholas verifi car se

a organização separatista basca efec-

tivamente entregou e destruiu o seu

arsenal de armas. “Isto é um exercí-

cio de teatralização. Os terroristas

têm que entregar as geolocalizações

Monitores internacionais confirmam inutilização de parte do arsenal da ETA

dos esconderijos onde armazenaram

o seu armamento”, exigiu.

Já o líder do Governo Regional do

País Basco, Iñigo Urkullu, congratu-

lou-se com os avanços verifi cados

nos últimos meses “com vista ao

desarmamento absoluto e à disso-

lução defi nitiva da ETA”. “Este é um

pequeno passo, que não é sufi ciente,

mas que ainda assim constitui uma

etapa necessária para esse objectivo

fi nal. É um processo sem volta”, con-

siderou o lehendakari.

Ao longo de mais de 40 anos de

actividade terrorista em nome da

autodeterminação do País Basco, a

ETA foi responsável por mais de 800

mortes. Durante esse período, foram

decretadas tréguas por três vezes:

em 1970-71; por um breve período

em 1999, e fi nalmente em 2004-05.

No ano anterior, a justiça espanhola

ilegalizou o Batasuna, o braço polí-

tico da organização.

O programa de desmilitarização

e destruição do arsenal de armas da

ETA foi anunciado unilateralmente

pela organização em 2011, num co-

municado em que se manifestava dis-

ponível para o diálogo directo com os

Governos de Espanha e França para

“uma resolução integral do confl ito”.

A proposta foi rejeitada pelo Governo

conservador de Mariano Rajoy, que

exige uma dissolução completa e sem

condições do grupo separatista.

Em Dezembro passado, os presos

da ETA em Espanha e França pedi-

ram desculpa pelos “danos” cau-

sados pelos seus atentados, e pela

primeira vez reconheceram a legiti-

midade da política penitenciária es-

panhola. Uma posição inédita para

abrir a porta à negociação individual

das condições de detenção dos seus

membros.

EspanhaRita Siza

Governo espanhol desvaloriza “exercício de teatralização” da organização separatista basca

O líder do Partido Democrático, Mat-

teo Renzi, divulgou ontem a compo-

sição do seu Governo depois de o ter

apresentado ao Presidente, Giorgio

Napolitano, numa reunião de duas

horas, em que aceitou ofi cialmente

o cargo de primeiro-ministro.

As atenções centravam-se na pas-

ta da Economia e Finanças, que se-

rá ocupada por Pier Carlo Paodan,

economista da Organização para

a Cooperação e Desenvolvimento

Económico (OCDE) que é um “res-

peitado antigo responsável do Fun-

do Monetário Internacional [FMI]”,

segundo a agência noticiosa britâni-

ca Reuters.

Paodan, que está desde 2007 na

OCDE, será o terceiro tecnocrata no

cargo de ministro da Economia e Fi-

nanças, quando em Itália se mantém

um preocupante cenário económi-

co — o Produto Interno Bruto (PIB)

desceu 10% em termos reais, o ren-

dimento per capita é hoje menor do

que na altura da entrada no euro

em 1999, a dívida pública é 130% do

PIB, e o desemprego jovem está em

mais de 40%, enumera a revista bri-

tânica The Economist. A culpa, para

a revista: “o falhanço de sucessivos

governos em gerir o país”.

Enquanto chefe do departamento

de economia da OCDE, Paodan foi

desde cedo crítico dos profundos

cortes orçamentais nas economias

mais vulneráveis da zona euro com

dívida excessiva. Esta é uma vanta-

gem para Renzi, que quer ter uma

certa fl exibilidade no orçamento pa-

ra investimento industrial e criação

de emprego.

Com um tecnocrata a assegurar

um ministério essencial para manter

a confi ança dos investidores, Renzi

deverá preocupar-se com mudan-

ças políticas, primeira entre todas

a lei eleitoral, para que o vencedor

deixe de depender tanto de coliga-

ções frágeis e variáveis (como a que

o apoiará agora).

Nos outros cargos, mantêm-se al-

gumas caras do Governo anterior,

como Angelino Alfano, líder do par-

tido Novo Centro-Direita (NCD), que

fez da manutenção da pasta do In-

terior condição para apoiar o novo

governo no Senado (embora perca

Renzi escolhe economista da OCDE para as finanças

mercado laboral e o sistema fi scal

mais efi cientes e reformar ainda a

administração pública.

A mudança do sistema eleitoral

é necessária para evitar os contí-

nuos impasses na política italiana,

que impedem reformas, e Renzi de-

fende-se assim de ter acabado por

aceitar ser primeiro-ministro sem ir

a eleições — algo que sempre repetiu

que não faria.

Esta contradição, junto com a

manobra como afastou o seu ante-

cessor, Enrico Letta, depois de ga-

rantir que não queria o seu cargo,

prejudicaram um pouco a onda de

entusiasmo dos italianos com o que

será o seu mais jovem primeiro-mi-

nistro. Também a falta de eleições

poderá prejudicar Renzi no que é

visto como uma menor legitimida-

de para adoptar reformas pouco

populares.

Uma sondagem mostrava que 27%

dos italianos vêem Renzi como um

líder capaz de dar um futuro ao país,

mais do que qualquer outra fi gura

na lista. Mas 30% dos inquiridos es-

colheram “nenhum”.

o cargo de vice-primeiro-ministro).

Alfano, que constituiu o Novo Cen-

tro-Direita depois de romper com o

antigo primeiro-ministro Silvio Ber-

lusconi, também exigira a atribuição

ao seu partido de pelo menos outros

dois ministérios, e deverá manter

os Transportes (Maurizio Lupi) e

Saúde (Beatrice Lorenzin), que se

mantiveram.

50% de mulheresAs mulheres deverão ainda ocupar

50% dos cargos no novo Governo,

segundo a imprensa. A ministra dos

Negócios Estrangeiros, Emma Bo-

nino, sai, dando lugar a outra mu-

lher, Federica Mogherini. Também

Defesa (Roberta Pinotti) e Justiça

(Andrea Orlando) estão entregues

a mulheres.

O novo Executivo de Matteo Ren-

zi deverá tomar posse durante o

fi m-de-semana e prevê-se que seja

sujeito a um voto de confi ança do

Parlamento na segunda-feira.

Renzi tem uma agenda ambiciosa

— para além da reforma eleitoral e

constitucional, prometeu tornar o

ItáliaMaria João Guimarães

Matteo Renzi apresentou o novo governo que deverá tomar posse no fim-de-semana

AFP PHOTO / ANDREAS SOLARO

Renzi aceitou oficialmente o cargo de primeiro-ministro

24 | MUNDO | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Papa dá às “periferias” um pouco mais de peso no Colégio dos Cardeais

Em quase um ano de pontifi cado,

Francisco deu muitos sinais do que

pretende para a Igreja Católica, mas

poucos foram até agora tão concre-

tos como a escolha dos novos carde-

ais: dos 19 que neste sábado recebem

o barrete e o anel cardinalícios, dez

vêm do Sul, dois deles de países, o

Haiti e o Burkina Faso, que estão en-

tre os mais pobres do mundo e que

nunca tinham tido nenhum bispo

entre os chamados “príncipes da

Igreja”.

“Vindos de 12 países de todas as

partes do mundo, representam a

profunda relação eclesiástica entre

a igreja de Roma e as igrejas através

do mundo”, disse o Papa quando,

a 12 de Janeiro, revelou na Praça de

São Pedro as suas primeiras esco-

lhas para o colégio cardinalício —

nomeação que, escreveu na carta

que enviou aos novos cardeais, “não

signifi ca uma promoção, uma honra

ou uma condecoração”, mas “um

serviço que exige uma visão mais

ampla e um coração maior”.

A maioria das nomeações era es-

perada — caso dos quatro que são

membros da Cúria, incluindo o novo

secretário de Estado, Pietro Parolin

—, ou não causou surpresa. Foi o que

aconteceu com Orani João Tempes-

ta, o arcebispo do Rio de Janeiro e

organizador das Jornadas da Juven-

tude que, em Julho, proporcionaram

a Francisco os seus primeiros gran-

des banhos de multidão.

Mas o Papa que veio “do fi m do

mundo” e que quer uma “Igreja po-

bre para os pobres” começou já a im-

primir a sua marca no colégio que,

além de o aconselhar e auxiliar no

governo da Igreja, será um dia res-

ponsável por eleger o seu sucessor.

Dos 16 novos eleitores (os que têm

menos de 80 anos), cinco são oriun-

dos da América Latina e das Caraí-

bas, dois de África e dois da Ásia.

“A Igreja de hoje é feita de muitas

nações e culturas, não é já a Igreja

europeia dos séculos passados, e o

colégio cardinalício precisa de refl ec-

tir essa realidade”, escreveu Thomas

Francisco começa a imprimir a sua marca no Vaticano. Dos 16 novos eleitores que hoje recebem o barrete cardinalício, dois vêm de países que nunca tinham tido um cardeal

Reese, analista do National Catholic

Report (NCR). Não foi assim com Ben-

to XVI, que, invertendo a tendência

dos antecessores, aumentou a quota

de cardeais europeus — só os italia-

nos eram um quarto do conclave que

elegeu Francisco, mais do que toda

a América Latina, onde estão 40%

dos católicos do mundo.

“O Papa Francisco quer expri-

mir a universalidade da Igreja”, diz

ao PÚBLICO o cardeal José Saraiva

Martins, um dos três portugueses

presentes no consistório convoca-

do por Francisco para criação de

cardeais. Citando como exemplo o

facto de pela primeira vez o Haiti ter

um cardeal, o prefeito emérito da

Congregação para a Causa dos San-

tos diz que as nomeações espelham a

“preocupação” do Papa em mostrar

que a Igreja “é universal” e deve “es-

tar representada não só na Europa”,

mas também noutros continentes.

Ouvir os mais esquecidosAs nomeações que hoje se ofi ciali-

zam, dizem os observadores, con-

fi rmam a aposta do Papa nas “peri-

ferias”, não apenas as da geografi a,

mas também as da geoestratégia e

da economia.

“O Burkina Faso é um dos mais

pobres e devastados países de Áfri-

ca e esta escolha foi feita para que

no colégio se ouça a voz de uma das

partes mais esquecidas do mundo,

vinda não do terceiro, mas do quarto

mundo”, disse ao jornal católico Ob-

server o teólogo e historiador norte-

americano Lawrence Cunningham.

Com a nomeação do arcebispo de

Ouagadougou, acrescenta, o Papa

quer dar força à mensagem de que

“a Igreja existe para servir e ser teste-

munha do amor de Deus e que isso é

especialmente importante em países

onde o amor está mais ausente”.

Philippe Ouedraogo também foi

surpreendido. Em entrevista à agên-

cia de notícias do país, que as Nações

Unidas classifi cam como o terceiro

mais pobre do mundo, o arcebispo

de 69 anos contou que, quando lhe

telefonaram de Roma, pensou que se

tratava de uma partida: “Sou apenas

um pastor da savana do Burkina que

tenta fazer o seu trabalho e ajudar

ReligiãoAna Fonseca Pereira

Na carta aos novos cardeais, o Papa diz que as nomeações não são “uma promoção ou uma honra”

Francisco pede atitude “inteligente” no debate sobre a família

Inquérito mostra que leigos portugueses querem uma Igreja “inclusiva”

É um primeiro sinal dado pelo Papa sobre o que espera do Sínodo da família, que convocou para Outubro. Aos

cardeais reunidos no Vaticano, Francisco disse que a Igreja, sem abrir mão da doutrina, deve ter uma atitude “inteligente” em relação a quem não vive segundo as suas normas.

“Célula fundamental da sociedade”, a família “está hoje desvalorizada e é maltratada”, disse o Papa, na quinta-feira, ao consistório que antecedeu a entrega das insígnias aos novos cardeais. Mas se a missão da Igreja “é dar a conhecer o plano magnífico de Deus para a família”, tem de apoiar os casais

“nas muitas dificuldades” que enfrentam, praticando “uma pastoral inteligente, corajosa e cheia de amor”.

O Papa tinha já dado um sinal no sentido do desejo de abertura ao convidar o cardeal Walter Kasper para proferir a reflexão que serviu de mote ao encontro dos cardeais. O alemão defende que os divorciados que voltam a casar não devem ser excluídos dos sacramentos, incluindo da comunhão — uma das mudanças mais esperadas do Sínodo. Segundo o vaticanista Andrea Tornielli, o cardeal propôs que os recasados possam voltar a comungar depois de “um período penitencial”.

Antes da reunião dos bispos, que terá uma segunda etapa em Outubro de 2015, foi enviado um inquérito pedindo que os leigos se pronunciassem sobre temas como o divórcio, a contracepção e as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Em Portugal, as respostas já foram resumidas e enviadas para o Vaticano e, segundo o porta-voz da Conferência Episcopal, o padre Manuel Morujão, “os casos de famílias que não estão segundo as normas canónicas são apresentados como desafios pastorais para que a Igreja seja sempre mais” não só “acolhedora” mas também “inclusiva”. Nas respostas, foi

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | MUNDO | 25

no que pode.” Mas em Ouedraogo, o

Burkina tem mais do que um pastor,

escreve o Le Jeune Afrique, que des-

creve o arcebispo como “uma fi gura

ascendente do episcopado africano,

conhecido pela sua coragem quando

se trata de afrontar o poder político”.

O NCR recorda a homilia do último

Natal, em que o arcebispo denunciou

“o punhado de cidadãos que detêm

grande parte da riqueza” de um país

“caracterizado pelas desigualdades,

a injustiça e a miséria” e lamentou

as guerras fratricidas que arrastam

África “para o tribalismo, os regio-

nalismos e a intolerância religiosa”.

Nesta colheita de “cardeais-cora-

gem”, a revista de assuntos africanos

inclui também Jean-Pierre Kutwa, o

arcebispo de Abidjan que foi media-

dor na guerra civil que, em 2011, divi-

diu a Costa do Marfi m, provocando

mais de três mil mortos, e que tem

dado sinais de abertura em relação à

população muçulmana do país.

Primeira oportunidadeÉ também neste esforço de apro-

ximação às periferias que é lida a

nomeação de Chibly Langlois, o

primeiro cardeal haitiano. Além de

ser o mais novo dos nomeados (tem

56 anos), o bispo de Les Cayes é des-

crito como um líder comprometido

com o combate à pobreza no país,

que o devastador sismo de Janeiro de

2010 tornou ainda mais alarmante.

“Vivemos numa sociedade cheia

de dificuldades económicas. E a

Igreja não é extraterrestre, faz parte

dessa realidade”, disse à AFP o novo

cardeal, que se tem empenhado na

criação de escolas para as crianças

mais pobres (uma grande fatia dos

1,5 milhões de haitianos que foram

desalojados pelo sismo) e em servir

de mediador no diálogo entre as fac-

ções políticas do país — “Não quere-

mos uma crise que nos leve a cho-

rar de novo pelos mortos.” A Roma,

Langlois quer levar “a realidade da

Igreja do Haiti”, uma igreja “jovem

e dinâmica, mas cheia de limitações

no plano fi nanceiro e que precisa da

solidariedade de outras”.

Esta é, no entanto, apenas a pri-

meira das oportunidades que Fran-

cisco terá para moldar o colégio à

imagem da sua visão da Igreja, su-

blinha Thomas Reese, lembrando

que até 2016 outros 26 cardeais vão

atingir os 80 anos, o que deverá per-

mitir ao Papa mudar em pouco tem-

po mais de um terço dos cardeais

eleitores — a regra vigente, a que o

Papa não precisa de se ater, prevê

um limite de 120. Com Maria João Lopes

ANDREAS SOLARO/AFP

“acentuado” que, “na vida pastoral da Igreja, não deve haver qualquer discriminação em relação aos filhos de casais que não estão segundo as normas eclesiásticas, antes devem receber uma especial atenção e acolhimento, que envolva também os pais.”

A preocupação com a família é um dos aspectos destacados pelo cardeal José Saraiva Martins, quase um ano depois de Francisco ter sido eleito. “O Papa fez muito bem em dar relevo a este problema, em procurarmos uma solução para o futuro da família, porque é dele que derivam todos os outros”. A.F.P. e M.J.L.

A investigadora portuguesa Ana Lú-

cia Sá disse ontem que não sabe se a

pena de morte será algum dia abolida

na Guiné Equatorial uma vez que, há

apenas duas semanas, nove pessoas

foram “executadas sumariamente”

no país.

“Sabemos que a pena de morte não

foi abolida ainda na Guiné Equatorial

e não sabemos se será abolida. Sabe-

mos que, há duas semanas, foram

executadas nove pessoas na Guiné

Equatorial”, disse à agência Lusa a

investigadora do Centro de Estudos

Africanos do ISCTE, que já realizou

um estudo sobre o ciberativismo

na Guiné Equatorial, publicado em

2011. De acordo com a especialista,

estas pessoas foram “sumariamente

executadas sem direito a uma ape-

lação”.

A suspensão da pena de morte,

Investigadora denuncia nove execuções sumárias na Guiné Equatorial

que, segundo anunciaram na quinta-

feira em Maputo as autoridades da

Guiné Equatorial, está em vigor há

quatro dias, conclui o roteiro exigido

pela Comunidade dos Países de Lín-

gua Portuguesa (CPLP) para a adesão

do país ao bloco lusófono, pedida ofi -

cialmente em 2010.

Na quinta-feira, os ministros dos

Negócios Estrangeiros dos países da

CPLP recomendaram a adesão da

Guiné Equatorial ao bloco lusófono.

O país liderado por Teodoro Obiang

é observador da organização desde

2006, mas a adesão como membro

pleno foi condicionada nas cimeiras

de Luanda e de Maputo por se con-

siderar que o país não cumpria os

requisitos necessários. Uma mora-

tória sobre a pena de morte era uma

das condições, a par da promoção

do uso da língua portuguesa. “Não

existe ainda o ensino de português

na Guiné Equatorial”, referiu a inves-

tigadora do ISCTE.

CPLP

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O encontro entre o Presidente dos

Estados Unidos, Barack Obama, e o

Dalai Lama, ontem na Casa Branca,

mereceu o protesto e a condenação

do Governo de Pequim, que classi-

fi cou a recepção ao líder espiritual

do Tibete no exílio como uma “gra-

ve interferência” de Washington nas

“questões internas” da China, com

possíveis repercussões nas relações

bilaterais.

O Governo de Pequim exigiu o can-

celamento da reunião, mas o pedido

não foi atendido. “O Presidente está

neste momento a receber sua santi-

dade o Dalai Lama na sua capacidade

de líder religioso e cultural”, infor-

mava uma nota publicada noTwitter

do Conselho Nacional de Segurança

dos EUA.

“O encontro do líder dos Estados

Unidos com o Dalai Lama é uma gra-

ve interferência na política domésti-

ca da China, que constitui uma séria

violação dos princípios das relações

internacionais e infl igirá grande pre-

juízo para a relação da China com os

Estados Unidos”, reagiu a porta-voz

do ministério dos Negócios Estran-

geiros chinês, Hua Chunying.

Antecipando a resposta de Pe-

quim, a Casa Branca fez questão de

sublinhar que o Presidente Barack

Obama recebeu o Dalai Lama na sua

condição de “líder cultural e religio-

so respeitado internacionalmente”, e

reiterou o reconhecimento da sobe-

rania chinesa no Tibete, lembrando

que não apoia a causa separatista.

Mas “os Estados Unidos apoiam

a abordagem do Dalai Lama, que

propõe um ‘meio termo’ entre a

assimilação e a independência dos

tibetanos”, assinalou a porta-voz

do Conselho Nacional de Seguran-

ça, Caitlin Hayden, que manifestou

“preocupação” com os relatos da

“escalada da tensão e a deteriora-

ção dos direitos humanos na região

tibetana da China”.

Este foi o terceiro encontro de

Obama com o Dalai Lama, que está

a cumprir um périplo de três sema-

nas nos EUA. A reunião decorreu à

porta fechada e sem direito às decla-

rações ofi ciais que tradicionalmente

encerram as visitas ofi ciais de líderes

estrangeiros.

Encontro de Obama com o Dalai Lama irrita a China

TibeteRita Siza

Pequim protesta contra recepção na Casa Branca e alerta para “prejuízos” nas relações bilaterais

CANAL Q, JÁ ESPREITOU? no canal 15 da sua televisãowww.canalq.pt www.facebook pt/canalq

26 | CULTURA | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

A Arco outra vez numa “fase ascendente”

A quebra no mercado espanhol, em 2013, pode ter chegado aos 62%, mas não é de compradores espanhóis que se faz hoje em dia a Arco. Com a Bélgica a comprar, os galeristas dizem-se satisfeitos com a feira

GERARD JULIEN/AFP

A uma feira de arte os galeristas vão

vender, certo? Não só. Não é o mais

comum, mas enquanto vendem po-

dem acabar também a comprar. De

resto, em certos momentos — sobre-

tudo os de crise —, comprar pode ser

o melhor dos negócios.

Seriam duas da tarde, ontem,

quando Edward Tyler nos recebeu

no stand da sua galeria, a nova-ior-

quina Edward Tyler Nahem Fine

Arts, uma das galerias do Pavilhão 7

da Arco, aquele onde se concentram

mais agentes “blue chip” — os que ne-

goceiam valores mais conservadores

(ou seja, mais altos e estabelecidos).

Encerrados os dois primeiros dias,

reservados a profi ssionais, a Arco

abriu ontem ao grande público e a

essa hora era já impossível circular

no stand em frente, o da espanhola

Leandro Navarro, com a que será a

peça mais cara da edição deste ano

da Arco — um Picasso cubista, um

pequeno óleo sobre tela de 1922 mar-

cado a 1,2 milhões de euros.

O Keith Harring de 1982 que

Edward Tyler tem no seu stand está

quase ao mesmo preço: um milhão.

Dois compradores estão interessados

na tela amarelo vibrante, um terceiro

coleccionador propõe-se a ser ele a

vender ao galerista — um dos seus

desenhos do mesmo autor.

Edward Tyler não concretizou o

negócio — o que não quer dizer que

não venha ainda a concretizar. “O que

muita gente não percebe é que uma

feira é marketing”, diz-nos o galerista

a sorrir. “Ao mostrar determinado

trabalho, atraem-se pessoas que têm

obras do mesmo artista e estão in-

teressadas em comprar ou vender.”

Este é o nono ano que Edward Ty-

ler está na Arco. Passou pelo pico de

mercado anterior a 2009 e tem atra-

vessado os anos mais recentes, de

crise. “O pior ano foi o ano passado”,

diz-nos. E faz eco do que dizem as

generalidade dos agentes neste 2014:

“Este ano parece bastante melhor.

O ambiente não é esfusiante, mas é

positivo. Tendo em conta tudo o que

se passa, está bem.”

Como a maior parte dos galeris-

tas — sobretudo este ano — , Edward

Tyler recusa falar de valores, mas,

sobre o nível médio da Arco, conta

como na sua participação conheceu

portugueses que tem na sua galeria —

Gil Heitor Cortesão, Ana Manso, Dio-

go Evangelista —, Pedro Cera diz que

o recobro “vai levar o seu tempo”:

“Não voltámos ao registo de 2007 e

2008. Mas as coisas têm melhorado

de ano para ano. Não sei se vamos

voltar à velocidade pré-crash, mas

começam, de novo, a criar-se as con-

dições para isso.” Vera Cortês diz ter

começado a sentir essa recuperação

ainda em Lisboa, sobretudo nos últi-

mos meses: “Tive um bom ano, não

me posso queixar, mas desde Novem-

bro nota-se uma diferença. Estamos

numa fase ascendente.”

Na Arco, este ano, Vera Cortês

declara ser notório o renovado inte-

resse pela generalidade dos artistas

da sua galeria e não apenas por um

ou dois protagonistas. Notória foi

também, diz, a presença de alguns

compradores portugueses que há já

algum tempo não visitavam a feira.

Mas não é dos compradores por-

tugueses que mais se fala num mo-

mento em que a Bélgica parece estar

a oferecer a Madrid os seus melhores

coleccionadores.

Numa edição da Arco que come-

çou “sem grandes expectivas”, mas

em que vendeu já peças entre 11 mil

e 70 mil euros, é de coleccionadores

belgas que fala Cristina Guerra, refe-

rindo ainda o interesse de dois mu-

seus internacionais por um dos seus

artistas: Yonamine. E é da Bélgica

que se fala também na dinamarquesa

Nicolai Wallner, onde uma nova peça

de Dan Graham a 330 mil euros tem

funcionado como cartão-de-visita e

conseguiu dois interessados.

A Bélgica, mas também a Itália e os

Estados Unidos. É destas nacionali-

dades que fala, por exemplo, Manuel

Ulisses, da Galeria Quadrado Azul,

onde se expõem obras de artistas co-

mo Francisco Tropa, Paulo Nozolino,

Hugo Canoilas, Ana Manso e Mika Ta-

jima e onde as vendas, até ontem,

iam dos 5 mil aos 20 mil euros.

E falta o pós-feira. É então que Le-

andro Navarro conta vender o seu Pi-

casso. Na Arco houve interessados,

“sobretudo suíços e norte-america-

nos”, diz o galerista. Satisfeito com o

programa de coleccionadores que a

feira convidou para a sua 33.ª edição,

explica que mostrar um Picasso na

Arco é mais uma questão de “prazer”:

“Sei que vou tê-lo na galeria talvez

cerca de dois meses e depois vendê-

lo. Um Picasso vende sempre.”

Feira de arteVanessa Rato

um coleccionador espanhol com

quem foi conversando ao longo de

duas edições sem qualquer venda. “À

terceira edição fez-me uma compra

de seis milhões.”

São as excepções. Mas o optimis-

mo moderado de Edward Tyler não

é: repete-se pela maioria das galerias

internacionais, incluindo as portu-

guesas, mesmo as com mais difi cuda-

des de afi rmação — este ano 13, entre

as 219 totais, de 23 países, que até

amanha estão na feira. Pedro Cera,

que faz parte do comité de selecção

da Arco, diz que “não se pode falar

numa recuperação milagrosa, por-

que não é verdade”, mas refere “um

sentimento geral”: “Correu bem.”

Com obras vendidas de todos os

Está a anunciar-se já em Madrid a nova feira de arte contemporânea portuguesa, a Est Art Fair, cuja primeira

edição está marcada para dias 10 a 13 de Julho no Centro de Congressos do Estoril. Depois da conferência de imprensa de há três semanas em Lisboa, Luís Mergulhão, o empresário à frente da iniciativa, esteve na Arco e os postais da feira foram postos a circular entre galeristas. Com um comité de

selecção composto por três galeristas portugueses – Cristina Guerra, Pedro Oliveira e Vera Cortês – e três estrangeiros – a alemã Barbara Thumm, da galeria com o mesmo nome, o brasileiro Eduardo Brandão, da Vermelho, e o espanhol Pedro Maisterra, da Maisterra Valbuena –, a Est Art Fair conta vir a ter à volta de 30 galerias. O comité de selecção reuniu durante a Arco, mas ainda não fechou a sua lista.

A nova feira portuguesa já está em Madrid

Em cima, Compotier, bouteille et verre (1922), de Picasso; em baixo, obras de Bruno Pacheco e de João Maria Gusmão e Pedro Paiva

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | CULTURA | 27

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O Governo da Andaluzia, em Espa-

nha, anunciou esta sexta-feira que

vai pedir um parecer para saber se

tem competência para administrar

a Mesquita de Córdova, classifi cada

como Património da Humanidade

desde 1984, e actualmente sob ges-

tão da Igreja.

Esta decisão foi noticiada pelo jor-

nal El País, segundo o qual a delega-

da do governo andaluz em Córdova,

Isabel Ambrosio (PSOE), assegurou

que a Junta vai “fazer tudo o que es-

tiver ao seu alcance” para assegurar

a gestão daquele monumento como

património público.

Esta posição do governo andaluz

surge na sequência de uma petição

Governo da Andaluzia quer gerir a Mesquita de Córdova

pública lançada na internet no iní-

cio de Fevereiro, com o objectivo de

evitar que o episcopado de Córdova

assuma em defi nitivo a propriedade

do monumento, a maior mesquita

Património

O monumento passará a ser oficialmente propriedade da Igreja a partir de 2016

lei vinda do tempo do General Fran-

co, o bispo de Córdova registou a

propriedade do monumento em

nome da Igreja. Ainda segundo a

mesma legislação, esse título de

propriedade ganhará estatuto ir-

revogável passados dez anos, pelo

que a sociedade civil e a administra-

ção pública local tem até 2016 para

inverter a situação. É isso que vem

sendo exigido na petição pública

lançada pela cidadã anónima Ana

Vera no início de Fevereiro, e que,

segundo a agência Efe, já reuniu

mais de 75 mil assinaturas.

O documento em causa enumera

as seguintes exigências: que o bem

em causa seja nomeado como monu-

mento de Córdova, já que ele é tanto

uma catedral como uma mesquita; o

reconhecimento da sua titularidade

pública; uma administração pública

e transparente; e a elaboração de um

regulamento de boa gestão e salva-

guarda do monumento. PÚBLICO

A Mesquita de Córdova é Património da Humanidade

existente na Europa Ocidental, que

data do século X e que desde o sécu-

lo XIII contém no seu interior uma

catedral católica.

Em 2006, socorrendo-se de uma

Breve

Oliveira do Hospital

Restauro de santuário “não cumpre” critériosA Associação Profissional de Conservadores-Restauradores de Portugal (ARP) considerou, numa carta aberta, que a intervenção efectuada no Santuário da Nossa Senhora das Preces, em Oliveira do Hospital, “não cumpre os critérios fundamentais” do restauro. O presidente da ARP, Rui Pedro Borges, que assina a carta, diz que a intervenção realizada por Miguel Duque em 13 esculturas do santuário denota “uma ausência total do respeito pelo valor original e único de todo e qualquer bem cultural”.

MARCELO DEL POZO/REUTERS

VENHA CONHECER O RENOVADO AUDITÓRIO GULBENKIAN

GULBENKIAN PÚBLICO MÚSICA A DOBRAR

DE 22 DE FEVEREIRO A 8 DE MARÇOO Jornal Público e a Fundação Calouste Gulbenkian associam-se nesta celebração. Na compra de um bilhete para qualquer concerto da temporada Gulbenkian Música 13/14 (até Junho de 2014), receberá um bilhete gratuito para o evento escolhido, desde que apresente este Jornal.

Promoção não acumulável com outro tipo de descontosSujeita à disponibilidade de lugares

Foto

graf

ia: T

iago

Pai

xão

28 | CULTURA | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

O fotojornalista italiano Paolo Pel-

legrin, membro da cooperativa de

fotografi a Magnum, será o presidente

do júri da próxima edição do prémio

Estação Imagem/Mora, o único do

género em Portugal, que se realiza

em Abril naquela localidade alente-

jana. Pellegrin é um dos mais reputa-

dos repórteres a nível mundial, ten-

do sido distinguido com os principais

prémios da profi ssão, entre os quais

o Leica Medal of Excellence e o Ro-

bert Capa Gold Medal Award. Soma

ainda uma dezena de prémios World

Press Photo.

Paolo Pellegrin (Roma, 1964) tem

uma abordagem ao trabalho fotográ-

fi co muito inspirada na estética de

Robert Capa, um dos fundadores da

Magnum, mestre do fotojornalismo

que procurava a proximidade do

sujeito e que deixava para segundo

plano a perfeição da imagem. “Estou

mais interessado num tipo de foto-

grafi a que permanece ‘inacabada’ -

uma fotografi a sugestiva que poten-

cia a conversa ou o diálogo”, refere o

fotógrafo no site da Magnum.

Para além de Pellegrin, o júri da

competição deste ano, que distri-

buirá os prémios a 19 de Abril, será

composto por Alessandra Mauro,

curadora de fotografi a; Christopher

Morris, fotojornalista da agência VII;

Pablo Juliá, director do Centro Anda-

luz da Fotografi a; e Jérôme Sessini,

fotojornalista da Magnum. O prémio

está aberto a fotojornalistas portu-

gueses, dos PALOP e da Galiza, bem

como aos estrangeiros residentes

nestes territórios. As participações

podem ser enviadas até ao dia 30 de

Março.

O prémio foi dotado de um valor

de 3500 euros e os vencedores do

1.º prémio de cada uma das sete ca-

tegorias (Notícias, Assuntos Contem-

porâneos, Vida Quotidiana, Retrato,

Desporto, Arte e Espectáculos e Am-

biente) recebem 1000 euros. Todos

os anos é também atribuída uma bol-

sa de 4.000 euros para a realização

de um projecto documental sobre o

Alentejo. O projecto vencedor deve

ser desenvolvido durante 2014 e será

publicado em livro e mostrado de-

pois numa exposição itinerante.

Pellegrin lidera júri da Estação Imagem

Fotografia Sérgio B. Gomes

Além de Pellegrin, o júri da competição integra Alessandra Mauro, Christopher Morris, Pablo Juliá e Jérôme Sessini

OXANA IANIN

Ao abrir da cortina, depois de escla-

recido ao que vamos, os dourados

do palco e dos panos de cena do Do-

na Maria II inebriam. Dir-se-á quase

no fi m que parecem a boca de um

romeno, ao melhor estilo brejeiro,

como se o pudor há muito tivesse si-

do abandonado. O que se revela na

cena aberta e generosa é um desejo

de construir não uma homenagem a

um género que todos dizem que mor-

reu mas usá-lo em toda a sua força

para olhar para o passado e pensar

o ponto onde estamos.

Tropa Fandanga é uma surpre-

sa a todos os níveis, tanto para os

que há muito acompanham o Te-

atro Praga e lhe reconhecem a ca-

pacidade de inventariar, e inventar,

novos modos de pensar o teatro,

como para os que criticam na com-

panhia a exposição dos mecanis-

mos teatrais a troco de um exibi-

cionismo tendencialmente cínico.

O cenário não é, por isso, um de-

talhe. Assinado por José Capela, co-

director artístico e cenógrafo da com-

panhia Mala Voadora, é um primor

de dedicação e discrição que dialoga

com esses extremos onde o Teatro

Praga tem sido colocado e permite,

através de apontamentos cenográfi -

A revista está viva porque nunca esteve morta

alma portuguesa, reality shows, de-

semprego jovem, traumas históricos,

emigração e cérebros em fuga vão

surgindo como retrato de um país.

A surpresa de Tropa Fandanga

vem, afi nal, do modo como todo o

esquema de revista é exposto e tra-

balhado. Mesmo que os preceitos do

género fossem, desse há algum tem-

po, e com a devida estilização, per-

ceptíveis no discurso da companhia,

Tropa Fandanga é uma surpresa pe-

la humildade com que a companhia

trabalha um género teatral cheio de

regras mas visto como secundário.

Aquelas que eram as características

do Teatro Praga encontram-se, afi -

nal, diluídas num exercício de inte-

ligência que é muito mais contido e

controlado do que a máquina que

vemos em palco deixa supor.

Aos Praga apontava-se uma cons-

ciência aguda de que a máquina te-

atral, sendo um jogo de efeitos e de

ilusão, não deveria ser denunciada.

Nunca foi desenrascanço. Em ano

de centenário da Primeira Guerra

Mundial e dos 40 anos da revolução

de Abril, o que o Teatro Praga faz é,

afi nal, enfrentar as características da

revista à portuguesa para transfor-

mar numa história teatral a história

do país em crise.

Em 2013, com A Tempestade e Ter-

ceira Idade, o Teatro Praga falava de

um fi m de ciclo e de um desejo de

superação. Não imaginávamos que o

passo, arriscado, fosse tão bem suce-

dido. Se a revista morreu, chamamos

o quê a Tropa Fandanga? Revista, e

‘mai nada.

Crítica de Teatro

Tropa-Fandanga, pelo Teatro Praga

Teatro Nacional Dona Maria II, 20

Fevereiro, 21h. Até 16 Março. 5 estrelas

Tiago Bartolomeu Costa

mmmMM

cos que evocam paisagens, fachadas

de edifícios e símbolos-fétiche nacio-

nais, dar margem a que o texto possa

existir sem pruridos, fazendo convi-

ver referências eruditas e populares.

O texto, na sua riqueza argumenta-

tiva, usa habilmente o truque comum

do teatro de revista que é a possibi-

lidade de actualização constante,

por os espectáculos estarem vários

meses em cena. Assim, tal como o

trabalho cenográfi co propõe uma

dramaturgia que se oferece ao tex-

to, também o texto se entrega a um

modelo funcional, onde o passado

recente é revisto de forma cirúrgica,

evocativa, convocando a expectativa

do espectador. Cabe lá o país todo e é

por isso que podemos rir. Nem sem-

pre dos outros, muitas vezes de nós.

Concorre para esta organização

uma absorvente direcção musical de

João Paulo Soares (com canções ori-

ginais de Sérgio Godinho), que cria,

entre os diferentes quadros, e dentro

deles, rimas sonoras que estimulam

a atenção e proporcionam delicadas

pontes entre os novos números e a

revisitação da memória da revista.

São três, então, os elementos que,

a par de um jogo contrastante pro-

movido pelos fi gurinos, de Joana

Barrios, e os telões assinados por

diferenres artistas plásticos (Bar-

bara Says..., Vasco Araújo, Pedro

Lourenço e João Pedro Vale e Nuno

Alexandre Ferreira), fazem mais do

que recriar o teatro de revista. É um

espectáculo por inteiro que não faz

a defesa cega da revista nem cede na

gratuitidade que é a ideia de fi m a

ela associada. Fado, futebol, Fátima,

Breves

Literatura infantil

Palácios e museus

Alêtheia e Pingo Doce lançam prémio no valor de 50 mil euros

Parque e Palácio da Pena foram os mais visitados em 2013

A cadeia de supermercados Pingo Doce e a editora Alêtheia apresentam hoje em Vagos, no Museu do Brincar, um novo prémio de literatura infantil, no valor de 50 mil euros. O objectivo do prémio, disse fonte da Alêtheia Editores à Lusa, é estimular o aparecimento de novos autores e ilustradores de literatura para os leitores mais jovens. “Este será o maior prémio de literatura infantil alguma vez criado em Portugal”, acrescentou a Alêtheia. A primeira edição do prémio realizar-se-á já este ano e, do júri, que será presidido por Zita Seabra, fazem parte, entre outros, Eduardo Sá e Isabel Zambujal. A data de entrega dos trabalhos e o regulamento serão divulgados hoje em Vagos.

O Parque e o Palácio da Pena, em Sintra, receberam o maior número de visitas em 2013 entre os palácios, museus e monumentos nacionais, revela um relatório da Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML) e da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). Os dados divulgados na quinta-feira referem-se a todos os parques e monumentos administrados pela PSML e pela DGPC, que indicam que o Parque e o Palácio Nacional da Pena, sob gestão da primeira, receberam 787.163 visitantes. Na segunda posição encontra-se o Mosteiro dos Jerónimos, com 722.758, e, na terceira, a Torre de Belém, com 537.855 visitas, ambos administrados pela DGPC. O Palácio Nacional de Sintra, também gerido pela PSML, surge a seguir, com 393.059 visitantes.

35PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 CLASSIFICADOSEdif. Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte,1350-352 [email protected]

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TRIBUNAL DOCOMÉRCIO DE LISBOA

1.º JuízoProcesso: 11/2001-I

ANÚNCIOAção de Processo Comum (art.º 205.º do CPEREF)Autor: Ministério Público (Em representação do Estado)Réu: Sincar, Industrialização & Com. de Carnes, Lda. e outro(s)...A Dr.ª Elisabete Assunção, Juíza de Direi-to do 1.º Juízo do Tribunal do Comércio de Lisboa.Faz saber que nos presentes autos supra-identifi cados, que correm por apenso aos autos de declaração de Falência, por este Juízo e Tribunal, em que é Autor o Ministério Público e Ré Sincar - Industrialização e Co-mércio de Carnes, Lda., (NIF 502225386), Rua do Pau Queimado - 2870 Montijo, cor-rem éditos de dez dias, contados da segun-da e última publicação do anúncio, citando os credores da massa falida da requerente, para no prazo de trinta dias, fi ndos os dos éditos, contestarem a presnete acção (art.ºs205.º, n.º 1 e 207.º do CPEREF), em que o autor pretende que seja verifi cado o seu crédito no montante de €27.186,35, cujo duplicado se encontra neste Tribunal à dis-posição de quem o queira consultar dentro das horas normais de expediente.Passou-se o presente e outros de igual teor que serão legalmente afi xados.N/ Referência: 2756452Lisboa, 14/02/2014A Juíza de Direito - Dr.ª Elisabete Assunção

A Ofi cial de Justiça - Isabel David NunesPúblico, 22/02/2014 - 2.ª Pub.

TRIBUNAL DE FAMÍLIA DO SEIXALProcesso n.º 6626/12.2TBSXL

Venda por Proposta em Carta Fechada

ANDAR, situado em Paivas/Amora. T3 com Área de 100 m2.Registado na Consevatória Predial de AMORA, sob o n.º 1587, fracção AF. Aceitam-se propostas acima de 75 mil euros, devidamente identifi cadas com nome, morada, NIF, telefone e valor da proposta por extenso, a remeter em car-ta registada até 07/03/2014 para: Admin. Insolvência - Ref.ª 6626/12.2TBSXL, Rua Major Neutel de Abreu, 7 - Atelier, 1500-409 Lisboa. Abertura das propostas em 13/03/2014 - 11.00 horas. A licitação será confi rmada por notifi cação ao proponente que deverá caucionar a compra no prazo de oito dias com 30% do valor proposto e restante no acto de escritura que será outor-gada no prazo de 30 dias. Para ver: Telf.: 217.789.298

Público, 22/02/2014 - 1.ª Pub.

MOTORISTA PARTICULAR

José Alexandre,Unipessoal, Lda.

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Agente de Execução Alexandra Gomes CP 4009, com endereço profi ssional na Rua Dom Sancho I, n.º 17 A e B, Almada.Nos termos do disposto no artigo 817.º do Código de Processo Civil, anuncia-se a venda do bem adiante designado:TIPO DE BEM: ImóvelBens em VendaARTIGO MATRICIAL: 2943 urbano – Servi-ço de Finanças de Almada 2.DESCRIÇÃO: VERBA 1: Fracção autónoma destinada a habitação designada pela letra “H” em regime de propriedade horizontal, no distrito de Setúbal, concelho de Al-mada, freguesia do Feijó sito na Rua D. Francisco de Almeida n.º 54, 2.º Andar Frente, inscrito na matriz predial urbana sob o sob o artigo 2943, da União das Fre-guesias de Laranjeiro e Feijó (anteriormente inscrito sob o artigo 1441, da Freguesia do Feijó) e descrito na 2.ª Conservatória do Registo Predial de Almada sob o número 3613.PENHORADO EM: 2011/09/06INTERVENIENTES ASSOCIADOS AO BEM:EXECUTADO: João Carlos Miranda, soltei-ro, maior, NIF 195167139, Endereço: Rua

D. Francisco Almeida, n.º 54, 2.º Andar Frente, Feijó, 2810-063 Almada.MODALIDADE DA VENDA:Venda mediante proposta em carta fecha-da, a serem entregues na Secretaria do supra-mencionado Tribunal, pelos interes-sados na compra, fi cando designada data para abertura das propostas o dia 06 de Março de 2014, pelas 14:15 horas.VERBA 1:VALOR-BASE: 34.620,00 EurosSerão aceites propostas iguais ou superio-res a 29.427,00 Euros, que correspondem a 85% do valor-base.A sentença que se executa está pendente de recurso ordinário: NãoEstá pendente oposição à execução: NãoEstá pendente oposição à penhora: NãoEstá pendente sentença de graduação de créditos: NãoA Agente de Execução - Alexandra Gomes

Rua D.Sancho I, n.º 17 - A/B2800-171 Almada

E-mail: [email protected]. 210 833 058 - Fax 212 743 259

Público, 22/02/2014 - 2.ª Pub.

TRIBUNAL JUDICIAL DE ALMADA4.º Juízo Cível

ANÚNCIO DE VENDA

Processo n.º 4134/10.5TBALMExecução Comum (Sol. Execução) - Ref. Interna: PE/638/2010Exequente: Administração do Condominio do Prédio Sito na

Rua D. Francisco de Almeida, N.º 54Executado: João Carlos Miranda

ALEXANDRA GOMESAgente de Execução

CPN 4009

Agente de Execução, Alexandra Gomes CP 4009, com endereço profi ssional em Rua D. Sancho I, n.º 17 – A/B, 2800-712 Almada.A NOTIFICAR: Os comproprietários do prédio sito na Quinta de Santo António da Romeira, Freguesia da Caparica, concelho de Almada.PENHORA: Penhora do direito a bem indiviso correspondente a 6 / 125 avos, que o(s) executado(s) detêm na Adminis-tração conjunta do Loteamento da Quinta de St. António da Romeira sito na Quinta de St. António da Romeira na Caparica, descrita na 1.ª Conservatória do Registo Predial de Almada sob o n.º 5499 e ins-crita na respectiva matriz sob o artigo 3.ª Secção L, da Aquisição com as Ap. 22 de 1976/03/24, Ap. 74 de 1978/09/27 e Ap. 75 de 1978/09/27.QUANTIA EXEQUENDA: 117.374,40 €.OBJECTO E FUNDAMENTO DA NOTIFI-CAÇÃO: Nos termos e para os efeitos do dispos-to no art. 16.º-C da Lei das AUGI, bem

como no n.º 1 do artigo 781.º e no n.º 1 do artigo 240.º, ambos do C. P. Civil, os anúncios são publicados em dois números seguidos, notifi cando os comproprietários do prédio sito na Quinta de St. António da Romeira na Caparica, de que o direito do(s) executado(s) fi ca à ordem do Agente de Execução. Nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 781.º do C. P. Civil, é lícito aos notifi cados fazer as declarações que entendam quanto ao direito do(s) executado(s), bem como o modo de o tornar efectivo, podendo ainda os contitulares dizer se pretendem que a venda tenha por objecto todo o património ou a totalidade do bem.

A Agente de ExecuçãoAlexandra Gomes

Rua D.Sancho I, n.º 17 - A/B2800-171 Almada

E-mail: [email protected]. 210 833 058 - Fax 212 743 259

Público, 22/02/2014 - 2.ª Pub.

TRIBUNAL COMARCA DE FAMÍLIA E MENORES DE ALMADA1.º Juízo

EDITALNotifi cação aos Comproprietários do Prédio sito na Quinta de Santo António da Romeira

(artigo 16.º-C da Lei das AUGI e artigos 781.º e 240.º do C.P.Civil)

Processo n.º 5882/11.8TBALMExecução Comum (Sol. Execução) - Ref. Interna: PE/684/2011Exequente: Administração Conjunta do Loteamento da Quinta

de Santo António da RomeiraExecutado(s): José Gomes Palhares e outro

ALEXANDRA GOMESAgente de Execução

CPN 4009

ARTIGOS ÓTICOSPRECISA-SE

VENDEDOR- Até 40 anos;- Viatura Própria;- Conhecedor da Zona Centro;- Empresa Líder no Mercado (artigos de grande consumo);- 4000 Produtos;- Carteira de clientes.

Os candidatos deverão enviar curriculum vitae com foto para:

A. J. Borges - Rua Cordeiro Ferreira, 13, 1 E, 1.º andar, 1750-071 Lisboa([email protected])

ORDEM DE TRABALHOS

Porto, 17 de fevereiro de 2014

A Presidente da Mesa da Assembleia-Geral

25 de março de 2014 - 16h30

(Ana Maria Viegas Brito Jorge)

De acordo com os Estatutos do Sindicato dosProfessores do Norte (SPN), convoco umaAssembleia-Geral Ordinária de Sócios para odia 25 de março de 2014, com início às 16h30,a funcionar descentralizadamente na sede doSPN, nas sedes das Direções Distritais de Braga,Bragança, Viana do Castelo e Vila Real e nassedes das delegações de S.João da Madeira eSt.ª Maria da Feira, com a seguinte

1. Apreciação e votação do Relatório e Contas de 2013;

2. Análise da situação político-sindical.

Se à hora indicada não houver quórum, aAssembleia-Geral realizar-se-á meia hora mais tarde,

com qualquer número de presentes.

TRIBUNAL DE FAMÍLIA E MENORES E DE

COMARCA DE CASCAIS4.º Juízo Cível

Processo: 475/1999

ANÚNCIOExecução OrdináriaA Mmo(a) Juíza de Direito Dr(a). Maria de Fátima R. Marques Bessa, do(a) 4.º Juízo Cível - Tribunal de Família e Menores e de Comarca de Cascais:Faz saber que correm éditos de 20 dias para citação dos credores desconhecidos que gozem de garantia real sobre os bens penho-rados ao(s) executado(s) abaixo indicados, para reclamarem o pa-gamento dos respectivos créditos pelo produto de tais bens, no prazo de 15 dias, fi ndo o dos éditos, que se começará a contar da segunda e última publicação do anúncio.Bens penhorados: TIPO DE BEM: VeículoDESCRIÇÃO: VEÍCULO AUTOMÓ-VEL Marca Citröen AX, MATRÍCULA XT-90-72PENHORADO EM: 17-8-2009, 12.30PENHORADO A:EXECUTADA: MARIA FERNANDA ALBINO FIGUEIREDO. Documen-tos de identifi cação: BI - 4652101, NIF - 114653160. Endereço: Rua do Lima 75 - 8 Dto B, Rebelva, 2775-321 ParedeEXECUTADO: Jaime José Mar-ques Pinto. Estado civil: Casado. Documentos de identifi cação: NIF - 160755972. Endereço: Rua Lima N.º 75 8.º B. Parede, Cascais.N/Referência: 12472581Cascais, 04/02/2014

A Juíza de DireitoDr.ª Maria de Fátima R. Marques

BessaO Escrivão Adjunto

Arnaldo José O. PereiraPúblico, 22/02/2014 - 2.ª Pub.

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TRIBUNAL JUDICIAL DE OEIRAS

1.º Juízo Competência CívelProcesso: 5566/13.2TBOER

ANÚNCIOProcedimento CautelarRequerente: Caixa Leasing e Fac-toring - Instituição Financeira de Crédito, S.A.Requerido: X Life - Bio Quântica, LdaNos autos acima identifi cados, correm éditos de 10 dias, contados da data da publicação do anúncio, notifi cando:Requerido: X Life - Bio Quântica, Lda, NIF - 507895762, domicílio: Rua Almada Negreiros, 14, Bloco 7, Piso 0, 2795-000 Queijas, com última residência conhecida na mo-rada indicada para, no prazo de 10 dias, decorrido que seja o dos édi-tos nos termos do disposto no art.º 385.º, n.º 6 do Código de Processo Civil, e em alternativa:- Recorrer em 15 dias, nos termos gerais, do despacho que decretou a providência, quando entenda que, face aos elementos apurados, ela não deveria ter sido decretada;- Deduzir oposição, no prazo de10 dias quando pretenda alegar factos ou produzir meios de prova não tidos em conta pelo tribunal e que possam afastar os fundamentos da providência ou determinar a sua redução.Fica ainda notifi cada para os efeitos previstos no artigo 21.º, n.º 7 do Dec.-Lei n.º 149/95, de 24/6.Passei o presente para ser afi xado.N/ Referência: 13316034Oeiras, 12-02-2014.

A Juíza de DireitoDr.ª Helena Amaral Brito

A Ofi cial de JustiçaEstrela Rosinha

Público, 22/02/2014 - 2.ª Pub.

TRIBUNAL JUDICIAL DA MAIA4.º Juízo

ANÚNCIO DE VENDA EM NEGOCIAÇÃO PARTICULARProcesso de Insolvência n.º 4.208/12.8 TBMAIInsolvente: Maria José RodriguesAdministrador Judicial: Jorge Ruben Fernandes RegoNo âmbito do Processo de Insolvência acima referenciado, aceitam-se propostas para compra do bem abaixo identifi cado, a enviar para o es-critório do Administrador de Insolvência, sito na Rua Álvaro Castelões, n.º 821, Sala 3.2, 4450-043 Matosinhos: Verba Única - Direito à meação da fracção autónoma designada pela le-tra “M”, destinada a habitação, correspondente ao rés-do-chão do pré-dio sito na Praceta Castelo da Maia Ginásio Club, n.º 59, da freguesia de Santa Maria do Avioso, concelho da Maia, descrita na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 295 - M e inscrita na matriz urbana com o artigo 781 – M, no montante de € 40.000,00.Valor-Base: € 40.000,00. Valor total: € 40.000,00 (quarenta mil euros).Para efeitos de observação dos presentes bens, contactar o Adminis-trador Judicial, nos dias úteis e da parte da manhã, entre as 10h00 e as 12h00, para o telefone n.º 22 935 1123.A verba é vendida no estado físico, jurídico e documental em que se encontra.NOTA: Os proponentes devem juntar à sua proposta, devidamente identifi cada (com o n.º do processo de insolvência, o nome, morada, identifi cação da verba, fotocópia do cartão de cidadão e número de con-tribuinte do ofertante, mais cheque caução visado à ordem da Massa Insolvente, no montante correspondente a 5% do valor-base oferecido (n.º 1 do art. 824.º do CPC, em envelope fechado com indicação exterior do número e nome do processo.

O Administrador Judicial - Jorge Ruben Fernandes Rego

Público, 22/02/2014

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36 | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

FICAR

CINEMAAs ServiçaisTítulo original: The HelpDe: Tate TaylorCom: Emma Stone, Viola Davis, Octavia Spencer, Bryce Dallas HowardEUA/Índia, 2011, 146 min.SIC, 16hMississípi, EUA, década de

1960. Acabada de terminar

a faculdade, Skeeter (Emma

Stone), de regresso à sua cidade,

apercebe-se da súbita ausência

de Constantine (Cicely Tyson),

a governanta negra que a criou.

Pedindo ajuda a Aibileen e a

Minny, ambas governantas e

amigas de Constantine, nasce

entre as três uma cumplicidade

que resultará num projecto

inédito e que irá abalar aquela

sociedade preconceituosa: um

livro que conta as histórias

de mulheres que, apesar de

criarem as crianças das famílias

brancas como se fossem suas,

são ostracizadas devido à cor da

sua pele.

O Destino de Um Ex-Combatente [Flawless]MGM, 15h20Walt Koontz (Robert De Niro) é

homofóbico, ultraconservador

e polícia de profi ssão. Rusty

(Philip Seymour Hoff man)

é um homossexual, travesti

e professor de canto, cujo

objectivo na vida é fazer uma

operação para mudar de

sexo. A aproximação das duas

personagens dá-se quando

Walter tem um ataque cardíaco

em consequência de uma troca

de tiros e passa a recorrer

às aulas de canto de Rusty

como forma de terapia para

recuperar a fala. Por entre as

fugas desesperadas de Rusty

a um trafi cante de droga a

quem roubou dinheiro, os dois

vizinhos acabam por se tornar

amigos e ajudar-se mutuamente.

Sem ti [The Greatest]TVC1, 15h45Quando Bennett Brewer (Aaron

Johnson) morre num acidente

de automóvel, toda a família

ameaça ruir. Enquanto a mãe

(Susan Sarandon), obcecada

com o que se passou, apenas

tenta encontrar culpados, o

pai (Pierce Brosnan), é forçado

a afastar-se da amante para

tentar consolar uma mulher que

já não ama. É então que Rose

(Carey Mulligan), a namorada

de Bennett, reaparece nas suas

vidas, grávida de três meses.

Apesar de relutantes e chocados,

todos encontram nesse facto

a forma de superar a perda e

alcançar a reconciliação.

Cidade das Sombras [City of Ember]MOV, 17h15Por várias gerações, a população

de Ember tem vivido numa

cidade próspera e com uma

iluminação radiosa. Mas,

um dia, o gerador da cidade

começa a falhar e as lâmpadas

e candeeiros a tremeluzir. Dois

adolescentes tentam então

descobrir as pistas que lhes

permitirão não só desvendar o

mistério ancestral da existência

da cidade, mas também ajudar

a fugir os seus habitantes antes

que as luzes se apaguem para

todo o sempre. De Gil Kenan,

com Saoirse Ronan, Toby Jones,

Bill Murray e Tim Robbins.

O Tigre e a Neve [La Tigre e la Neve]TVC3, 19h10Com realização de Roberto

Benigni, um fi lme sobre o amor

como o mais revolucionário

dos sentimentos. Em Roma,

Attilio (Benigni), poeta, está

apaixonado por Vittoria

(Nicoletta Braschi). Mas Vittoria

não mostra interesse por ele

e perde a paciência perante

os esforços de sedução deste

teimoso. Um dia, Attilio recebe

uma chamada de um grande

poeta iraquiano ( Jean Reno),

cuja biografi a Vittoria está a

escrever em Bagdad (Iraque),

dizendo que foi vítima de um

dos primeiros bombardeamentos

anglo-americanos na cidade e

está moribunda no hospital.

Animado pelo seu amor louco,

Attilio parte para o Iraque...

Boas Vibrações [Hysteria]TVC1, 21h30Inglaterra, meados do séc. XIX.

Com um quarto de mulheres

inglesas diagnosticadas com

histeria, o Dr. Dalrymple

tenta encontrar a cura para a

enfermidade e contrata o jovem

Dr. Mortimer Granville. Assim,

para o alívio dos sintomas,

recomenda uma técnica de

massagens manuais que, após

algumas convulsões, promete

resultados surpreendentes.

Apesar de fora do comum

e bastante inovador para a

época, este tratamento faz tanto

sucesso que os dois médicos

não têm mãos a medir… Uma

comédia de Tanya Wexler, sobre

a invenção do vibrador e a sua

ligação à tentativa de cura da

histeria.

Águas Mil [Águas Mil]RTP1, 00h41Durante os mais de 40 anos de

ditadura em Portugal, muitos

segredos foram enterrados

e muitas foram as famílias

destroçadas. A Pedro (Gonçalo

Waddington), a convulsão

política da altura “roubou-lhe” o

pai, que desapareceu sem deixar

rasto, era ele ainda uma criança.

Agora, já adulto, decide partir

em busca de respostas. Entre

Portugal e Espanha, descobre a

sua história familiar entrelaçada

com a História política do país.

Porém, esse encontro com

o passado terá um custo...

Segunda longa-metragem de Ivo

Ferreira (2009).

DESPORTO

Jogos Olímpicos de Inverno: Sochi 2014Directo. Provas na recta fi nal da

XXII edição dos Jogos Olímpicos

de Inverno: Snowboard/Slalom

Paralelo — Final Masculina e

Feminina (SPTV2, 9h10); Esqui

de Fundo — 30 km Femininos

(SPTV3, 9h20); Esqui Alpino/

Slalom — Qualifi cação Masculina

(SPTV2, 12h40); Biatlo — Final

4x7,5 km — Estafeta Masculino

(SPTV2, 14h20); Esqui Alpino/

Slalom — Final Masculina

(SPTV2, 16h10); e Bobsleigh/

As Serviçais

Os mais vistos da TVQuinta-feira, 20

FONTE: CAEM

SICSICTVITVISIC

18,913,913,613,110,7

Aud.% Share

36,427,826,226,227,6

RTP1

2:

SICTVI

Cabo

Futebol - Liga EuropaSol de InvernoJornal das 8O Beijo do EscorpiãoAmor à Vida

14,5%%2,2

22,425,8

25,7

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | 37

Four-Man — Qualifi cação (SPTV2,

17h55).

Futebol: I LigaSPTV1Directo. Continuação da 20.ª

jornada do campeonato nacional

de futebol: Em Braga, os

“arsenalistas” recebem o Arouca

(18h00) e, de seguida, o Rio Ave

enfrenta o Sporting, em Vila do

Conde (20h15).

DOCUMENTÁRIOS

Especiais A Febre do OuroDiscovery, 22h00Neste especial, regressa-se à

América mais profunda, com

o segundo episódio especial

que antecede a estreia da 4.ª

temporada da série. Em Pesquisa

a Sul, a equipa Hoff man desiste

de Klondike para procurar ouro

nos solos ricos da América do Sul.

Entretanto, os rapazes de Dakota

deitam o olho a Cahoon Creek

(Alasca). Paisagens diferentes, o

mesmo objectivo: encontrar ouro.

Em Busca de Automóveis ClássicosDiscovery Turbo, 1h00

Novos episódios da 6.ª

temporada. Wayne Carini,

conhecido como o “Indiana

Jones” dos colecionadores de

carros, é o verdadeiro génio

do restauro. É a ele que os

colecionadores mais exigentes

recorrem. Cada episódio

segue Wayne na sua missão de

encontrar, restaurar e vender

alguns dos carros mais raros do

mundo.

INFANTIL

A Casa do Mickey Mouse + Minnie ToonsDisney Júnior, a partir das 11h30Neste episódio d’A Casa do

Mickey Mouse, inspirado na

história de Cinderela, Minnie

adormece e sonha que se

transforma em Minnie-Rela

(11h30). De seguida, estreiam-

se novos episódios de Minnie

Toons (12h00). Num deles, é o

Dia da Adopção no Cabeleireiro

para Animais e um porquinho-

da-índia quer impressionar os

clientes, mas, apesar de todos os

truques, não conquista nenhum.

Ao vê-lo desanimado, Minnie

explica-lhe que só encontrará

alguém se for ele próprio.

Noutro episódio, Minnie e

Margarida realizam o sonho de

visitarem Paris, mas Margarida

perde a sua máquina fotográfi ca

com todas as memórias da

viagem. Por sorte, travam

amizade com um pombo que as

ajuda a recuperar a câmara.

A Princesa Sofia: O Amuleto e o HinoDisney Júnior, 12h10Sofi a é escolhida para cantar

o Hino de Encantamento no

Festival da Colheita mas o seu

amuleto prega-lhe uma partida

e lança-lhe uma maldição que

terá de conseguir desfazer. Mas

Sofi a conta com uma ajuda

muito especial: de princesa para

princesa, Bela dá-lhe alguns

sábios conselhos.

BladeSIC K, 00h45

Blade

é uma

das mais

conhecidas personagens da

Marvel e tem como protagonista

Eric Brooks, um herói metade

humano, metade vampiro.

Eric nasceu com este estado

transitório após a sua mãe ter

sido atacada por um vampiro

implacável chamado Deacon

Frost, enquanto estava grávida.

Noah van Helsing ajuda o herói

a manter-se num estado em que

não necessite de matar humanos

inocentes. Porém, milhões de

outras vidas continuam em

risco…

RTP16.57 África Global 2014 7.30 Fórum África 2014 8.00 Bom Dia Portugal Fim-de-semana 11.04 Uma Mesa Portuguesa... Com Certeza 11.44 Voz do Cidadão 12.10 BBC Terra - África: Congo 13.00 Jornal da Tarde 14.20 Aqui Portugal 20.00 Telejornal 21.16 Sabe ou Não Sabe 22.15 Chefs Academy 23.48 Os Filhos do Rock 00.41 Filme: Águas Mil 2.01 Janela Indiscreta com Mário Augusto 2.35 Breviário Biltre 3.23 Vivo em Portugal

RTP27.00 Zig Zag 10.49 Universidade Aberta 11.12 Consigo 11.38 Olhar o Mundo 12.10 O Tempo e o Modo 12.41 A Verde e a Cores 13.07 Disco África 2013 14.00 Parlamento 15.00 Desporto 2 19.03 Janela Indiscreta com Mário Augusto 19.36 A Teoria do Big Bang - 6.ª temporada 19.57 Zig Zag 21.10 Usain Bolt, O Homem mais Rápido do Mundo 22.13 Bairro Alto 23.03 O Fim de Uma Época 00.00 24 Horas - Directo 1.02 Palcos - Tigran Hamasyan 1.49 Euronews

SIC6.35 LOL@SIC 8.35 Disney Kids 10.15 Dragões - O Esquadrão de Berk 11.15 Os Agentes de S.H.I.E.L.D 12.10 SOS Animal 13.00 Primeiro Jornal 14.00 Alta Definição 14.35 Fama Show 15.15 E-Especial 16.00 Filme: As Serviçais 19.15 Investigação Criminal Los Angeles 20.00 Jornal da Noite 21.50 Camilo, O Presidente 22.25 Sorteio de Totoloto 22.30 Gosto Disto! 23.35 Os Vídeos Mais Loucos do Guiness World Records 00.35 Downton Abbey

TVI 6.30 Animações / Kid Kanal 9.10 I Love It 10.00 Inspector Max 13.00 Jornal da Uma 14.00 Chicago Fire 15.55 Filme: Nanny Mcphee e o Toque de Magia 18.17 Filme: Uma Noite Atribulada 20.00 Jornal das 8 21.53 O Beijo do Escorpião 22.59 Belmonte 00.10 Filme: Repo Men - Os Cobradores 2.26 Glee 3.14 O Teu Olhar

TVC1 10.55 Corações Perdidos 12.45 A Arte de Passar o Tempo 14.05 Donzelas Em Perigo 15.45 Sem Ti 17.25 Corações Perdidos 19.15 Decisão de Risco 21.30 Boas Vibrações 23.15 Sinister - Entidade do Mal 1.05 Decisão de Risco 3.20 Boas Vibrações

FOXMOVIES9.40 O Segurança do Shopping 11.09 The Express - A História de Ernie Davis 13.15 Serenity 15.11 Inveja 16.48 Academia de Polícia 3 - De Volta Aos Treinos 18.10 Duplo Team 19.41 Perseguição Sem Tréguas 21.15 Sem Escape - Vencer ou Morrer 22.51 Rambo - A Fúria do Herói 00.22 Rambo II - A Vingança do Herói 1.56 Rambo III

HOLLYWOOD11.15 O Dia Dos Pais 12.55 Olha quem Fala... Também 14.15 A Múmia 16.20 Um Sogro do Pior 18.10 Uma Mente Brilhante 20.25 A Estreia da Semana 20.30 Karate Kid - A Nova Aventura 22.25 Beleza Americana 00.30 Força Delta 2 2.20 O Último A Cair

AXN13.46 Filme: O Tigre e o Dragão 15.51 Inesquecível 16.40 Castle 17.30 C.S.I. 18.20 C.S.I. 19.10 C.S.I. 20.01 Investigação Criminal 20.58 C.S.I. 21.55 Filme: Layer Cake - Crime Organizado 23.52 Filme: Underworld: A Revolta 1.32 C.S.I.

AXN BLACK14.17 Hannibal 15.04 Filme: Confiança 16.41 Sangue Fresco 17.39 Sangue Fresco 18.38 Filme: As Quatro Penas Brancas 20.47 Chuck 21.35 Crossing Lines 22.30 Filme: Sequestro nas montanhas 00.12 Crossing Lines 1.07 Chuck 1.54 Sangue Fresco

AXN WHITE14.08 Descobrindo Nina 14.54 Descobrindo Nina 15.40 Filme: Um Belo Par... de Patins 17.32 Filme: Os Rapazes da Minha Vida 19.43 Medium 20.30 Cougar Town 21.00 Família de Acolhimento 21.50 Filme: A História de Irena Sendler 23.31 Família de Acolhimento 00.19 Filme: Os Rapazes da Minha Vida

FOX 14.04 Investigação Criminal: Los Angeles 14.49 Filme: Repo Men - Os Cobradores 16.45 Investigação Criminal: Los Angeles 17.33 C.S.I. 19.00 Inteligência 19.50 Hawai Força Especial 22.15 Filme: Rocky III 23.54 Spartacus: os Deuses da Arena

FOX LIFE 13.12 No Limite 15.33 Filme: Elas

Não Me Largam 17.14 Foi Assim Que Aconteceu 19.12 Raising Hope 20.43 Clínica privada 23.00 Filme: Feliz Acaso 00.33 Filme: He Loves Me

DISNEY15.29 Phineas e Ferb 16.05 Clássicos Disney 17.00 Boa Sorte, Charlie! 19.05 Professor Young 21.10 Phineas e Ferb

DISCOVERY16.35 Jóias sobre Rodas 17.30 Já Estavas Avisado! 18.20 Já Estavas Avisado! 19.15 O Segredo das Coisas 19.40 O Segredo das Coisas 20.05 Como fazem isso? 20.30 Como fazem isso? 21.00 Alasca: A Última Fronteira 22.00 Especiais “A Febre do Ouro” 22.55 Pesca Radical 23.45 Bem-vindos a Porter Ridge 00.10 Bem-vindos a Porter Ridge 00.35 Perdido, Vendido

HISTÓRIA 18.03 A Humanidade a Descoberto: Comê-las, Bebê-las, Fumá-las 18.28 A Humanidade a Descoberto: O Avanço Das Máquinas 18.53 A Terra Assassina: Quando os Lagos Atacam 19.40 O Preço da História: É-nos Familiar 20.00 Loucos por Carros: O Armazenista de Carros 20.25 Caça Tesouros: Moeda ao Ar 21.15 O Assassinato de JFK: O Guião Definitivo 22.50 Os Kennedy: As Sequelas: Uma Maldição Familiar de Desgraça e a Perda de Ilusões 23.35 Caça Tesouros: Moeda ao Ar 00.20 O Assassinato de JFK: O Guião Definitivo 1.55 Os Kennedy: As Sequelas: Uma Maldição Familiar de Desgraça e a Perda de Ilusões

ODISSEIA17.28 Ilhas Paradisíacas de África: S. Tomé e Príncipe 18.22 Camionistas do Mundo II: Brasil e Camarões 19.15 O Mundo sobre Carris IV: Portugal, Ferrovia do Destino 20.09 Guerra por Controlo Remoto 21.00 Desastres Domésticos: Queda de Árvores 21.22 Desastres Domésticos: O Salto da Lebre 21.44 Desastres Domésticos: Terror nas Férias 22.06 Desastres Domésticos: A Explosão da Nuvem de Farinha 22.28 A CIA a Nu: Argo, a História Secreta 23.19 A CIA a Nu: O Complot para Matar Castro 00.09 Desastres Domésticos: Queda de Árvores 00.31 Desastres Domésticos: O Salto da Lebre 00.53 Desastres Domésticos: Terror nas Férias 1.16 O Mundo sobre Carris IV: Portugal, Ferrovia do Destino

Televisã[email protected]

Uma Mente Brilhante, Hollywood, 18.10UH

Blade

é uma

das mais

efinitivo: Uma a e a

8.22sil ere Carris

no 20.0921.00

38 | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

SAIR

CINEMALisboa @CinemaAv. Fontes Pereira de Melo - Edifício Saldanha Residence. T. 210995752RoboCop M16. Sala Vodafone - 14h40, 17h, 19h25, 21h50; O Sobrevivente M16. Sala 1 - 14h25, 16h50, 19h15, 21h40 Cinema City AlvaladeAv. de Roma, nº 100. T. 218413040Blue Jasmine M12. Sala 1 - 13h15; 12 Anos Escravo Sala 1 - 15h10; O Lobo de Wall Street M16. Sala 1 - 17h35, 23h30; Voltar a Nascer M16. Sala 1 - 13h10, 21h40; Filomena M12. Sala 1 - 13h35, 15h35, 17h50, 19h45, 21h25; O Clube de Dallas M12. Sala 2 - 00h20; Golpada Americana M16. Sala 2 - 18h30, 23h40; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 2 - 15h50; Khumba M6. Sala 3 - 11h20; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 3 - 11h30 (V.Port.); A Estrada da Revolução M12. Sala 3 - 21h35; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 4 - 13h20, 15h40, 18h40, 21h30, 23h50 CinemaCity Campo PequenoC. Lazer do Campo Pequeno. T. 217981420Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 1 - 13h30, 18h40, 21h55, 00h10; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 1 - 13h20, 15h40, 18h30, 21h30, 23h50; Eclipse em Portugal M16. Sala 1 - 11h35, 13h25, 15h30, 17h20, 19h20, 21h45, 00h25; O Lobo de Wall Street M16. Sala 2 - 21h40, 23h35; Golpada Americana M16. Sala 2 - 21h35; O Sobrevivente M16. Sala 2 - 13h30, 15h50, 18h50, 21h50, 00h20; Filomena M12. Sala 2 - 13h35, 15h35, 17h35, 19h40; Eu, Frankenstein M12. Sala 3 - 13h40; Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 3 - 19h35; Aquele Estranho Momento M16. Sala 3 - 17h40; O Clube de Dallas M12. Sala 4 - 13h40; RoboCop M16. Sala 5 - 11h20, 15h55, 00h10; A Rapariga Que Roubava Livros M12. Sala 6 - 18h45, 21h25; 12 Anos Escravo Sala 7 - 18h35; Uma História de Amor M16. Sala 7 - 123h35, 16h, 21h20, 23h55; Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 8 - 11h20 (V.Port.); Khumba M6. Sala 8 - 11h35 (V.Port.); A Revolta dos Perus M6. Sala 8 - 11h30, 15h45 (V.Port.); Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 8 - 11h25, 15h35 (V.Port.) Cinemateca JúniorPç Restauradores - Palácio Foz. T. 213596252O Meu Tio M12. Salão Foz - 15h Cinemateca PortuguesaR. Barata Salgueiro, 39 . T. 213596200Inimigos Públicos M16. Sala Félix Ribeiro - 15h30; Le Havre Sala Félix Ribeiro - 19h; A Rapariga de Parte Nenhuma M12. Sala Félix Ribeiro - 21h30; Porque Morre o Nosso Amor? Sala Luís de Pina - 22h; Harold, Neto Amimado M12. Sala Luís de Pina - 19h30 Medeia Fonte NovaEst. Benfica, 503. T. 217145088Uma História de Amor M16. Sala 1 - 14h10, 16h35, 19h, 21h30; Filomena M12. Sala 2 -14h, 16h, 18h, 20h, 22h; Golpada AmericanaM16. Sala 3 - 14h20, 21h45; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 3 - 17h, 19h25 Medeia MonumentalAv. Praia da Vitória, 72. T. 213142223A Grande Beleza M16. Sala 4 - Cine Teatro - 13h15, 16h, 18h45, 21h30, 00h20; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 1 - 12h40, 15h, 17h20, 19h40, 22h, 00h30; Ninfomaníaca - Vol. 1 M18. Sala 2 - 12h15, 19h25; Uma

História de Amor M16. Sala 2 - 14h35, 17h, 21h45, 00h10; Ninfomaníaca - Vol. 2 M18. Sala 3 - 12h30, 14h50, 17h10, 21h45, 00h10; Filomena M12. Sala 3 - 19h30 NimasAv. 5 Outubro, 42B. T. 213574362Da Vida das Marionetas Sala 1 - 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h30 UCI Cinemas - El Corte InglésAv. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 707232221Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 1 - 00h30; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 1 - 14h, 16h35, 19h10, 21h50; Blue Jasmine M12. Sala 2 - 19h25; A Rapariga Que Roubava Livros M12. Sala 2 - 14h, 16h40, 21h45, 00h30; Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 3 - 13h25, 15h45 (V.Port.); O Lobo de Wall Street M16. Sala 3 - 18h, 21h30; Gravidade M12. Sala 4 - 19h30; RoboCop M16. Sala 4 - 14h15, 16h50, 22h, 00h30; Uma História de Amor M16. Sala 5 - 14h, 16h35, 19h15, 21h55, 00h30; O Sobrevivente M16. Sala 6 - 14h, 16h40, 19h15, 21h50, 00h25; O Clube de Dallas M12. Sala 7 - 19h15, 00h20; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 7 - 14h05, 16h40, 21h45; 12 Anos Escravo Sala 8 - 16h25, 21h35; Amor Infinito M16. Sala 8 - 14h10, 19h15, 00h20; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 9 - 14h05, 16h35, 19h10, 21h45, 00h25; Quando Tudo Está Perdido M12. Sala 10 - 14h10, 16h40, 19h05, 21h40, 00h10; Um Segredo do Passado M12. Sala 11 - 14h10, 16h40, 19h, 21h35, 24h; A Grande Beleza M16. Sala 12 - 14h30, 17h45, 21h15, 00h15; Filomena M12. Sala 13 - 14h15, 16h30, 18h55, 21h30, 23h55; Golpada Americana M16. Sala 14 - 15h, 18h10, 21h30, 00h25 ZON Lusomundo Alvaláxia Estádio José Alvalade. T. 1699612 Anos Escravo 18h; Filomena M12. 13h20, 15h40, 21h, 23h30 ; Eclipse em Portugal M16. 13h10, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 00h20; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 13h30, 16h10, 18h50, 21h30, 00h10 ; RoboCop M16. 13h20, 16h, 18h40, 21h20, 24h ; O Lobo de Wall Street M16. 17h30; Golpada Americana M16. 14h, 21h10, 00h05 ; Eu, Frankenstein M12. 13h10, 15h30, 21h55, 00h05; Amor Infinito M16. 17h50; Uma História de Amor M16. 13h05, 15h50, 18h50, 21h35, 00h20; O Sobrevivente M16. 13h35, 16h20, 19h, 21h40, 00h25 ; Coelho Kung Fu M6. 11h, 13h40, 16h, 18h10 (V.Port.); Aquele Estranho Momento M16. 21h15, 23h40; Gravidade M12. 18h55; O Clube de Dallas M12. 13h25, 16h30, 21h20, 23h55 ; Obsessão Ardente M16. 16h40, 19h, 21h25, 23h50 ; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 13h50; Khumba M6. 11h, 13h15, 15h20, 18h20 (V.Port.); Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 21h45, 00h30 ZON Lusomundo AmoreirasAv. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 13h20, 16h10, 18h50, 21h50, 00h20; A Grande Beleza M16. 12h30, 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; Golpada Americana M16. 18h10 ; Filomena M12. 13h40, 15h50, 21h10, 23h30 ; Um Plano Perfeito M12. 12h40, 15h20, 21h40; O Lobo de Wall Street M16. 18h, 00h20; O Sobrevivente M16. 13h, 15h40, 18h20, 21h05, 23h45; 12 Anos Escravo 17h40; Uma História de Amor M16. 20h50, 23h30 ; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 14h; O Clube de Dallas M12. 18h50; A Rapariga Que Roubava Livros M12. 13h10, 16h; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 21h25, 24h ZON Lusomundo ColomboAv. Lusíada. T. 16996Amor Infinito M16. 13h05 ; O Sobrevivente

The Monuments Men - Os Caçadores de TesourosDe George Clooney. Com George Clooney, Cate Blanchett, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin. EUA/ALE. 2014. 118m. Acção, Guerra. M12. A história de um grupo de

curadores e historiadores de arte

que, no fi nal da Segunda Grande

Guerra, foram enviados para uma

missão de extrema importância:

reaver obras de arte que foram

saqueadas pelos nazis e devolvê-

las aos respectivos donos. Apesar

de conscientes dos perigos que

signifi cava entrar em território

inimigo, estes homens fi zeram

tudo que estava ao seu alcance

para recuperar e evitar a destruição

de algumas das mais importantes

obras alguma vez criadas.

A Grande BelezaDe Paolo Sorrentino. Com Toni Servillo, Carlo Verdone, Sabrina Ferilli. FRA/ITA. 2013. 142m. Comédia Dramática. M16. Há já várias décadas que Jap

Gambardella vive à sombra do

sucesso angariado pelo seu único

romance. Em Roma, onde reside, a

sua existência tem sido um festival

de luxos, prazeres e festas de todos

os géneros. Apesar de sempre

se ter considerado um homem

feliz, agora, à beira do seu 65.º

aniversário, Jap está consciente

da futilidade das suas ambições.

Assim, decidido a mudar o rumo

da sua vida, regressa às memórias

de um grande amor passado e

resolve voltar a escrever...

Eclipse em PortugalDe Alexandre Valente, Edgar Alberto. Com Vítor Norte, Telmo Martins, José Wallenstein, Fernanda Serrano, Sofia Ribeiro, Ricardo Carriço, Silvia Rizzo, Pedro Lima, Sandra Cóias. POR. 2014. 88m. Comédia, Negro. M16.

O caso remonta a Agosto de 1999,

quando um casal foi encontrado

assassinado em sua casa, num

crime que a Polícia Judiciária

admitiu estar ligado a rituais

litúrgicos de apologia satânica.

Inspirados por este fatídico evento,

os realizadores Edgar Alberto e

Alexandre Valente recriam uma

história intencionalmente de “faca

e alguidar“, onde a comédia se

mistura com a tragédia.

O SobreviventeDe Peter Berg. Com Mark Wahlberg, Taylor Kitsch, Emile Hirsch, Ben Foster, Ali Suliman. EUA. 2013. 121m. Drama, Thriller, Acção. M16. Uma história de heroísmo e

coragem sobre quatro membros

SEAL da Marinha norte-americana

que, numa missão infi ltrada

para eliminar Ahmad Shah

Massoud, homem de confi ança

de Osama Bin Laden, são

enviados à província de Kunar,

no Afeganistão. Apanhados

numa emboscada por um grupo

de soldados inimigos prontos a

combater, estes homens vão ter

de formar alianças inesperadas e

superar todos os seus limites.

Obsessão ArdenteDe Iain Softley. Com Aneurin Barnard, Tuppence Middleton, Frances de la Tour. GB. 2013. 100m. Drama, Thriller. M16. Micky e Do conheceram-se na

infância, quando tudo era simples

e inocente. Depois de anos

afastadas, reencontram-se

casualmente e decidem ir passar

uns dias ao local onde, em

crianças, passaram os Verões

com as respectivas famílias.

Porém, quando nada parecia

poder quebrar aquele idílio, um

incêndio de enormes proporções

defl agra na casa onde estavam

alojadas, causando a morte de Do

e deixando Micky ferida e sem

memória.

Em [email protected]@publico.pt

M16. 15h45, 18h30, 21h30, 00h25; Uma História de Amor M16. 21h, 23h55Filomena M12. 13h20, 16h, 18h20; Eclipse em Portugal M16. 12h50, 15h30, 17h50, 21h40, 00h05 ; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 12h40; RoboCop M16. 15h25, 18h05, 21h05, 23h50 ; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 13h, 15h35, 18h15, 21h20, 24h; 12 Anos Escravo 18h10 ; Eu, Frankenstein M12. 13h30, 15h50, 21h10, 23h40 ; O Lobo de Wall Street M16. 20h30, 00h10 ; Golpada Americana M16. 13h25, 16h30; O Clube de Dallas M12. 18h25; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 12h55, 15h40, 21h15, 00h15; RoboCop M16. Sala Imax: 13h10, 15h55, 18h40, 21h35, 00h20 ZON Lusomundo Vasco da GamaParque das Nações. T. 16996O Sobrevivente M16. 13h10, 15h50, 18h40, 21h30, 00h20; O Clube de Dallas M12. 18h20; Aquele Estranho Momento M16. 13h30, 16h10, 21h, 23h40; O Lobo de Wall Street M16. 23h50; Golpada Americana M16. 18h; Filomena M12. 12h50, 15h20, 21h40; RoboCop M16. 13h, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 13h20, 16h, 18h50, 21h50, 00h30; 12 Anos Escravo 24h; Uma História de Amor M16. 15h30, 18h10, 21h10; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 12h40

Almada ZON Lusomundo Almada FórumEstr. Caminho Municipal, 1011. T. 16996Eclipse em Portugal M16. 13h, 15h10, 17h30, 21h40, 23h50; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 12h35, 15h20, 18h, 21h10, 23h45; O Sobrevivente M16. 12h40, 15h30, 18h15, 21h30, 00h20; RoboCop M16. 12h50, 15h40, 18h25, 21h20, 00h05; Filomena M12. 13h20, 15h50, 18h35, 21h, 23h25; Gravidade M12. 18h50 (3D); Golpada Americana M16. 12h45, 15h45, 21h05, 00h10; Uma História de Amor M16. 12h30, 15h20, 18h10, 21h15, 0h05; A Revolta dos Perus M6. 13h20, 15h35 (V.Port.); A Rapariga Que Roubava Livros M12. 18h20, 21h20, 00h20; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 12h45, 15h50, 18h40, 21h25, 00h15; Aquele Estranho Momento M16. 13h, 15h35, 18h, 21h45, 00h05; Coelho Kung Fu M6. 13h30, 15h45 (V.Port.); 12 Anos Escravo 18h20, 21h15, 00h25; O Clube de Dallas M12. 18h50; Eu, Frankenstein M12. 13h20, 16h10, 21h25, 23h45; O Lobo de Wall Street M16. 16h, 20h, 23h40; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 13h; Jack Ryan: Agente Sombra M12. 18h30, 21h40, 00h15; Amor Infinito M16. 13h, 15h30

Amadora UCI Dolce Vita TejoC.C. da Amadora, EN 249/1. T. 707232221Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 14h05, 16h40 (V.Port.); Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 1 - 19h15, 21h35, 00h05; RoboCop M16. Sala 2 - 13h45, 16h15, 18h50, 21h20, 23h55; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 3 - 13h50, 16h25, 19h, 21h35, 00h10; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 4 - 13h45, 16h15, 18h50, 21h20, 23h55; 12 Anos Escravo Sala 5 - 18h55; Amor Infinito M16. Sala 5 - 14h10, 16h35, 21h45, 00h10; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 6 - 14h05 (V.Port.); Filomena M12. Sala 6 - 18h45, 21h25, 23h45; Golpada Americana M16. Sala 7 - 21h20, 00h15; Aquele Estranho Momento M16.

O Sobrevivente

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | 39

Para celebrar os 300 anos do nascimento de Gluck, a Companhia Nacional de Bailado encomendou a Olga Roriz (na foto) uma releitura de uma das mais célebres obras do compositor alemão: Orfeu e Eurídice. A estreia no Teatro Camões, marcada para dia 27, é antecedida por uma introdução ao espectáculo que a coreógrafa criou com Nuno Carinhas (cenografia).

Ambos se juntam a José Pedro Serra, professor catedrático do Departamento de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, para conversar sobre a história do músico mortal que desce aos infernos para resgatar da morte a sua amada. A conferência O Mito de Orfeu tem lugar no teatro lisboeta, às 18h. A entrada é livre.

Olga Roriz: antes do palco, o mitoRUI GAUDÊNCIO

Sala 7 - 14h15, 16h45, 19h10; Uma História de Amor M16. Sala 8 - 13h45, 16h25, 21h40, 00h20; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 8 - 19h05; O Sobrevivente M16. Sala 9 - 14h, 16h30, 19h, 21h30, 00h15; Eclipse em Portugal M16. Sala 10 - 14h15, 16h35, 18h55, 21h45, 23h55; Coelho Kung Fu M6. Sala 11 - 13h55, 16h (V.Port.); O Lobo de Wall Street M16. Sala 11 - 18h, 21h30

Barreiro Castello Lopes - Fórum BarreiroCampo das Cordoarias. T. 760789789The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 1 - 13h10, 15h40, 18h30, 21h30, 23h55; RoboCop M16. Sala 2 - 13h, 15h20, 18h20, 21h20, 23h50; Aquele Estranho Momento M16. Sala 3 - 13h05, 15h10, 17h15; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 3 - 19h10, 21h35, 00h05; Eclipse em Portugal M16. Sala 4 - 13h20, 15h30, 17h30, 19h30, 21h40, 24h

Cascais ZON Lusomundo CascaiShoppingEN 9, Alcabideche. T. 1699612 Anos Escravo 18h15; Filomena M12. 13h30, 15h50, 21h20, 23h40; Eclipse em Portugal M16. 12h50, 15h, 17h, 19h, 21h05, 23h10; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 12h30; O Sobrevivente M16. 15h10, 17h50, 21h15, 24h; Golpada Americana M16. 18h05; RoboCop M16. 12h40, 15h20, 21h30, 00h15; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 13h, 15h40, 18h20, 21h, 23h50; O Lobo de Wall Street M16. 18h; Uma História de Amor M16. 12h35, 15h15, 21h40, 00h20; O Clube de Dallas M12. 18h30; Aquele Estranho Momento M16. 21h10, 23h20; Amor Infinito M16. 13h10, 15h30

Caldas da Rainha Vivacine - Caldas da RainhaC.C. Vivaci. T. 262840197Eclipse em Portugal M16. Sala 1 - 13h05, 15h20, 17h55, 21h25, 23h45; O Sobrevivente M16. Sala 2 - 12h50, 15h25, 18h, 21h15, 23h50; RoboCop M16. Sala 3 - 12h45, 15h30, 18h10, 21h20, 23h55; A Rapariga Que Roubava Livros M12. Sala 4 - 12h40, 15h20, 18h15, 21h15, 24h; Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 5 - 13h, 15h35 (V.Port.); Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 5 - 18h30, 21h20, 23h55

Carcavelos Atlântida-CineR. Dr. Manuel Arriaga, C. C. Carcavelos (Junto à Estação de CP). T. 214565653The Monuments Men - Os Caçadores deTesouros M12. Sala 1 - 15h30, 18h15, 21h30;Filomena M12. Sala 2 - 15h45, 18h30, 21h45

Sintra Cinema City BelouraBeloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9, Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Cinemax - 13h20, 15h40, 18h30, 21h30, 23h50; O Lobo de Wall Street M16. Sala 1 - 17h50, 21h20, 23h30; Eclipse em Portugal M16. Sala 1 - 13h35, 15h45, 17h40, 19h35, 21h40, 00h10; RoboCop M16. Sala 2 - 11h25, 13h40, 16h, 18h50, 21h45; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 3 - 13h30, 15h50, 18h40, 21h40, 24h; Khumba M6. Sala 4 - 11h45, 13h50, 15h55, 17h30

(V.Port.); A Rapariga Que Roubava Livros M12. Sala 4 - 21h25, 00h05; Aquele Estranho Momento M16. Sala 4 - 19h25, 00h20; Golpada Americana M16. Sala 5 - 18h35, 21h35; Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 6 - 17h40, 21h50; Amor Infinito M16. Sala 7 - 19h45, 23h55 Castello Lopes - Fórum SintraLoja 2.21 - Alto do Forte. T. 760789789RoboCop M16. Sala 1 - 13h10, 15h40, 18h20, 21h50, 00h15; Eclipse em Portugal M16. Sala 2 - 13h20, 15h20, 17h20, 19h20, 21h45, 00h20; Eu, Frankenstein M12. Sala 3 - 13h, 15h; Aquele Estranho Momento M16. Sala 3 - 17h, 19h, 21h25, 23h40; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 4 - 13h20, 15h50, 18h30, 21h30, 24h; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 5 - 21h20, 23h50; Filomena M12. Sala 5 - 18h50; O Lobo de Wall Street M16. Sala 6 - 18h20; Uma História de Amor M16. Sala 6 - 21h35, 00h05; Amor Infinito M16. Sala 6 - 13h, 15h30; O Sobrevivente M16. Sala 7 - 13h30, 16h, 18h40, 21h40, 00h10

Leiria Cinema City LeiriaR. Dr. Virgílio Vieira da Cunha. T. 244845071O Lobo de Wall Street M16. Sala 1 - 21h30; Aquele Estranho Momento M16. Sala 1 - 13h45, 20h; Amor Infinito M16. Sala 1 - 21h55, 00h10; Eclipse em Portugal M16. Sala 1 - 13h40, 15h35, 17h35, 19h35, 21h40, 00h05; O Sobrevivente M16. Sala 2 - 13h25, 15h55, 18h40, 21h45, 00h15; Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 3 - 19h55; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 3 - 17h40, 22h, 00h25; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 3 - 13h10, 15h45, 18h30, 21h30, 24h; A Rapariga Que Roubava Livros M12. Sala 4 - 13h20, 16h, 18h45; RoboCop M16. Sala 5 - 19h15, 21h50, 00h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 6 - 11h30, 17h45 (V.Port.); Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 6 - 11h35, 15h40 (V.Port.); Eu, Frankenstein M12. Sala 6 - 13h25, 17h25; Khumba M6. Sala 7 - 11h40, 13h50, 15h45 (V.Port.); A Revolta dos Perus M6. Sala 7 - 11h25, 15h25 (V.Port.) Cineplace - Leiria ShoppingCC Leiria Shopping, IC2. Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 14h20 (V.Port.); The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 1 - 16h40, 19h10, 21h40, 00h10; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 2 - 13h20; O Sobrevivente M16. Sala 2 - 16h30, 19h, 21h30, 24h; Aquele Estranho Momento M16. Sala 3 - 15h10; Eclipse em Portugal M16. Sala 3 - 13h10, 17h20, 19h20, 21h20, 23h20; Uma História de Amor M16. Sala 4 - 17h10; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 4 - 12h30, 19h45, 00h20; Filomena M12. Sala 4 - 15h, 22h10; 12 Anos Escravo Sala 5 - 14h; O Clube de Dallas M12. Sala 5 - 16h40; O Lobo de Wall Street M16. Sala 5 - 22h; Golpada Americana M16. Sala 5 - 19h10; Eu, Frankenstein M12. Sala 6 - 13h20, 15h20, 19h55, 21h50, 23h50; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 6 - 17h20; RoboCop M16. Sala 7 - 13h40, 16h10, 18h40, 21h10, 23h40

Loures Cineplace - Loures ShoppingQuinta do Infantado, Loja A003 - Centro Comercial Loures Shopping. O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 1 - 13h30; O Sobrevivente M16. Sala 1 - 16h40, 19h10, 21h40, 00h10; Jack Ryan: Agente

Sombra M12. Sala 2 - 17h10; Aquele Estranho Momento M16. Sala 2 - 12h50, 15h; Amor Infinito M16. Sala 2 - 19h30; Filomena M12. Sala 2 - 21h50; 12 Anos Escravo Sala 3 - 13h40; Uma História de Amor M16. Sala 3 - 18h45, 23h50; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 3 - 16h20, 21h20; Coelho Kung Fu M6. Sala 4 - 14h (V.Port.); Eclipse em Portugal M16. Sala 4 - 16h, 18h, 20h, 22h, 00h05; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 5 - 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; RoboCop M16. Sala 6 - 13h40, 16h10, 18h35, 21h10, 23h40; O Clube de Dallas M12. Sala 7 - 19h40; O Lobo de Wall Street M16. Sala 7 - 22h10; Golpada Americana M16. Sala 7 - 14h10; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 7 - 17h

Montijo ZON Lusomundo Fórum MontijoC. C. Fórum Montijo. T. 16996RoboCop M16. 13h30, 16h, 18h40, 21h30, 00h10; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 13h10, 15h40, 18h20, 21h10, 23h40; A Rapariga Que Roubava Livros M12. 18h10; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 13h, 15h30, 21h20, 24h; Eclipse em Portugal M16. 13h15, 15h20, 17h30, 19h40, 21h45, 00h05; Aquele Estranho Momento M16. 13h05, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h50; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h40 (V.Port.); Eu, Frankenstein M12. 16h10, 18h30, 21h, 23h30

Odivelas ZON Lusomundo Odivelas ParqueC. C. Odivelasparque. T. 16996Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 12h50, 15h20, 18h, 21h, 23h50; RoboCop M16. 13h, 15h40, 18h20, 21h10, 24h ; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 12h50, 15h30, 18h30, 21h20, 24h ; Jack Ryan: Agente Sombra M12. 13h10, 15h50, 18h10, 21h40, 00h10; Frozen: O Reino do Gelo M6. 13h20, 16h, 18h40 (V.Port.); Eu, Frankenstein M12. 21h30, 23h40

Oeiras ZON Lusomundo Oeiras ParqueC. C. Oeirashopping. T. 1699612 Anos Escravo 18h10; Golpada Americana M16. 12h25, 15h15, 21h05, 00h05; Uma História de Amor M16. 15h50, 18h40, 21h35, 00h20; The Monuments

Men - Os Caçadores de Tesouros M12. 12h55, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; O Sobrevivente M16. 12h45, 15h30, 18h20, 21h30, 00h15; O Clube de Dallas M12. 18h05; Filomena M12. 12h50, 15h10, 21h, 24h; A Rapariga Que Roubava Livros M12. 18h45; RoboCop M16. 13h10, 16h, 21h40, 00h25 ; O Lobo de Wall Street M16. 18h; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. 12h40, 15h20, 21h45, 00h25; Ao Encontro de Mr. Banks M12. 13h

Miraflores ZON Lusomundo Dolce Vita MirafloresAv. das Túlipas. T. 707 CINEMACoelho Kung Fu M6. 15h10, 18h10 (V.Port.); Golpada Americana M16. 21h10, 00h10; Aquele Estranho Momento M16. 15h,18h, 21h, 24h; RoboCop M16. 15h20, 18h20, 21h20, 00h20; O Sobrevivente M16. 15h30, 18h30, 21h30, 00h30

Santarém Castello Lopes - SantarémLargo Cândido dos Reis. T. 760789789Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 1 - 13h30, 15h45 (V.Port.); O Lobo de Wall Street M16. Sala 1 - 18h, 21h10; 12 Anos Escravo Sala 2 - 13h, 15h50, 18h30; Golpada Americana M16. Sala 2 - 21h15, 24h; Eclipse em Portugal M16. Sala 3 - 12h50, 15h20,1 7h20, 19h20, 21h40, 23h50; Aquele Estranho Momento M16. Sala 4 - 18h40; RoboCop M16. Sala 4 - 13h20, 16h, 21h20, 00h10; Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 5 - 13h10, 15h40, 18h10, 21h, 23h40; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 6 - 13h40, 16h10, 18h50, 21h30, 00h20

Seixal Cineplace - SeixalQta. Nova do Rio Judeu. Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 1 - 14h40 (V.Port.); RoboCop M16. Sala 1 - 16h50, 19h20, 21h50, 00h20; Coelho Kung Fu M6. Sala 2 - 14h30 (V.Port.); O Sobrevivente M16. Sala 2 - 16h30, 19h, 21h30, 24h; Eclipse em Portugal M16. Sala 3 - 13h20, 15h20, 17h20, 19h20, 21h20, 23h20; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 4 - 14h10, 16h40, 19h10, 21h40, 00h10; Uma História de Amor M16. Sala 5 - 17h35, 22h15; Eu, Frankenstein M12. Sala 5 - 13h30; Aquele Estranho Momento M16. Sala 5 - 15h30, 20h10; Winter’s Tale - Uma

História de Amor M12. Sala 5 - 12h40, 17h20, 00h15; Amor Infinito M16. Sala 6 - 15h, 22h; Filomena M12. Sala 6 - 19h50; 12 Anos Escravo Sala 7 - 14h; O Lobo de Wall Street M16. Sala 7 - 22h; Golpada Americana M16. Sala 7 - 16h40; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 7 - 19h30

Faro SBC-International CinemasC. C. Fórum Algarve. T. 289887212O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 1 - 11h30, 18h10; Golpada Americana M16. Sala 1 - 15h15, 21h25, 00h20; 12 Anos Escravo Sala 2 - 12h50, 18h15, 21h05, 23h55; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 2 - 15h40; RoboCop M16. Sala 3 - 11h40, 14h15, 16h50, 19h25, 22h, 00h30; A Revolta dos Perus M6. Sala 4 - 11h20 (V.Port.); Eu, Frankenstein M12. Sala 4 - 24h; Amor Infinito M16. Sala 4 - 17h05, 21h40; Filomena M12. Sala 4 - 14h50, 19h25; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 5 - 11h10 (V.Port.); The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 5 - 13h45, 16h20, 18h55, 21h30, 00h05; A Ilha do Impy M4. Sala 6 - 11h (V.Port.); O Lobo de Wall Street M16. Sala 7 - 23h50; Uma História de Amor M16. Sala 7 - 13h15,15h55, 18h35, 21h15; 47 Ronin - A Grande Batalha Samurai M12. Sala 8 - 00h15; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 8 - 13h20, 16h, 18h40, 21h20; Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 9 - 11h15 (V.Port.); O Lobo de Wall Street M16. Sala 9 - 13h55, 17h30, 21h; Uma História de Amor M16. Sala 9 - 00h30

Albufeira Cineplace - AlgarveShoppingEstrada Nacional 125 - Vale Verde. Uma História de Amor M16. Sala 1 - 17h30, 00h20; Eu, Frankenstein M12. Sala 1 - 15h30, 20h10; Filomena M12. Sala 1 - 13h20; Chovem Almôndegas 2 M6. Sala 2 - 14h30 (V.Port.); RoboCop M16. Sala 2 - 16h40, 19h10, 21h40, 00h10; 12 Anos Escravo Sala 3 - 21h50; O Lobo de Wall Street M16. Sala 3 - 13h50; Amor Infinito M16. Sala 3 - 17h20, 19h35; Jack Ryan: Agente Sombra M12. Sala 4 - 14h40, 19h25, 00h15; Winter’s Tale - Uma História de Amor M12. Sala 4 - 17h, 21h50; O Clube de Dallas M12. Sala 5 - 14h; A Rapariga Que Roubava Livros M12. Sala 5 - 22h; Golpada Americana M16. Sala 5 - 19h10; Ao Encontro de Mr. Banks M12. Sala 5 - 16h30; O Hobbit: A Desolação de Smaug M12. Sala 6 - 13h40; Eclipse em Portugal M16. Sala 6 - 16h50, 18h50, 21h, 23h; The Monuments Men - Os Caçadores de Tesouros M12. Sala 7 - 13h50, 16h20, 18h50, 21h20, 23h50; O Sobrevivente M16. Sala 8 - 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; Frozen: O Reino do Gelo M6. Sala 9 - 16h50 (V.Port.); Aquele Estranho Momento M16. Sala 9 - 14h40, 16h50, 19h, 21h10, 23h20

TEATROLisboaA Barraca - Teatro Cine ArteLargo de Santos, 2. T. 213965360 Menino de sua Avó Enc. Maria do Céu Guerra, Adérito Lopes. De 30/1 a 30/3. 5ª a Sáb às 21h30. Dom às 16h. M/12. Ateneu Comercial de LisboaR. Portas de Santo Antão, 110. T. 213246060 Ça-va? Companhia de Teatro TrêsMaisUm. Enc. Ana Paula Eusébio. De 27/2 a 28/2. 5ª e 6ª às 21h30. M1/12. Duração: 75m.

AS ESTRELAS DO PÚBLICO

JorgeMourinha

Luís M. Oliveira

Vasco Câmara

Caçadores de Tesouros mmmmm mmmmm – Filomena mmmmm – mmmmm

A Grande Beleza mmmmm mmmmm A

Golpada Americana mmmmm mmmmm mmmmm

O Lobo de Wall Street mmmmm mmmmm mmmmm

Ninfomaníaca - parte 1 mmmmm mmmmm mmmmm

Ninfomaníaca - parte 2 mmmmm mmmmm mmmmm

Quando Tudo Está Perdido mmmmm mmmmm mmmmm

Robocop – mmmmm –Uma História de Amor mmmmm mmmmm mmmmm

a Mau mmmmm Medíocre mmmmm Razoável mmmmm Bom mmmmm Muito Bom mmmmm Excelente

40 | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

SAIRInformações e reservas: 967330188. Casino LisboaParque das Nações. T. 218929000 Pobre Milionário Enc. José Wallenstein. A partir de 15/1. 5ª a Sáb às 21h30. Dom às 16h30 (no Auditório dos Oceanos). M/12. ChapitôR. Costa do Castelo, 1/7. T. 218855550 Dr. Jekyll and Mr.Hyde Companhia do Chapitô. Enc. John Mowat. De 23/1 a 23/3. 5ª a Dom às 22h (na Tenda). Clube EstefâniaRua Alexandre Braga, 24A. T. 217780987 O Mundo das Cores A Escola de Mulheres. Enc. Isabel Medina, Helena Isabel. De 15/2 a 2/3. Sáb às 16h. Dom às 11h30 De 16/3 a 1/6. Dom às 11h30. M/3. Reservas: 915039568. Teatro AbertoPraça de Espanha. T. 213880089 Vénus de Vison Enc. Marta Dias. De 10/1 a 30/3. 4ª a Sáb às 21h30. Dom às 16h. M/16. Teatro BocageRua Manuel Soares Guedes. T. 214788120 O Gato das Botas - O Herói Contra-ataca! Enc. Leone de Lacerda. De 4/1 a 22/2. Sáb às 16h. M/6. Duração: 50m. Teatro da ComunaPraça de Espanha. T. 217221770 Dia Conseguido Enc. David dos Santos. De 15/2 a 2/3. 4ª a Sáb às 22h. Dom às 17h. Teatro da Cornucópia - Bairro AltoRua Tenente Raúl Cascais, 1A. T. 213961515 Ilusão Teatro da Cornucópia. Enc. Luis Miguel Cintra. De 20/2 a 9/3. 3ª a Sáb às 21h. Dom às 16h. Teatro da PolitécnicaRua da Escola Politécnica, 56. T. 961960281 Punk Rock Enc. Pedro Carraca. De 22/1 a 22/2. 3ª e 4ª às 19h. 5ª e 6ª às 21h. Sáb às 16h e 21h. M/16. Teatro MeridionalRua do Açúcar, 64. T. 218689245 As Centenárias Enc. Natália Luiza. De 5/2 a 23/2. 4ª a Sáb às 21h30. Dom às 16h. M/12. Teatro Nacional D. Maria IIPraça D. Pedro IV. T. 800213250 Tropa-Fandanga Comp.: Teatro Praga. Enc. Pedro Penim, José Maria Vieira Mendes, André e. Teodósio. De 20/2 a 16/3. 4ª às 19h. 5ª a Sáb às 21h. Dom às 16h. Teatro PoliteamaRua Portas de Santo Antão. T. 213405700 Grande Revista à Portuguesa Enc. Filipe

MÚSICALisboaCafé Teatro Santiago AlquimistaR. Santiago, 19. T. 218884503 Festival de Inverno Dia 22/2 às 20h. Balla, Anarchicks, Thomas Anahory. Centro Cultural de BelémPraça do Império. T. 213612400 Tó Trips + Kimi Djabaté Dia 22/2 às 21h (no Pequeno Auditório. CCBeat. M/3). Cinema São JorgeAvenida da Liberdade, 175. T. 213103400 Bill Callahan Dia 22/2 às 22h. Apresentação de “Dream River”. 1.ª parte: Circuit Des Yeux. CulturgestRua Arco do Cego - Sede CGD. T. 217905155 Tiago Sousa & Maria Leite + Eduardo Raon & Tomaz Grom Dia 22/2 às 21h30 (no Pequeno Auditório. Festival Rescaldo 014). MusicBoxRua Nova do Carvalho, 24 - Cais do Sodré. T. 213430107 For Pete Sake + Marcos Boricua & Mr Paradise Dia 22/2 às 00h. Teatro do BairroRua Luz Soriano, 63 (Bairro Alto). T. 213473358 Festival de Inverno Dia 22/2 às 21h. Denis, O Martim, Erica Buettner. Teatro Municipal Maria MatosAv. Frei Miguel Contreiras, 52. T. 218438801 The House Taken Over De Sam Holcroft (libreto). Com Asko Schönberg Ensemble. Enc. Katie Mitchell. Mús. Vasco Mendonça. De 21/2 a 22/2. 6ª e Sáb às 21h30 (Sala Principal). Teatro Municipal São LuizRua António Maria Cardoso, 38. T. 213257650 Mário Laginha Novo Trio Dia 22/2 às 21h (Sala Principal. M/3). Apresentação de “Terra Seca”.

Beja

Galeria do DesassossegoRua da Casa Pia, 26/28. T. 966278887 Brando Fel Dia 22/2 às 22h. Teatro Municipal Pax-JúliaLargo de São João. T. 284315090 Paulo Colaço Dia 22/2 às 22h (M/6). “Por um par de meias solas... para a viola de Beja”.

Reguengos de MonsarazAuditório Municipal Reguengos MonsarazPç. Manuel Papanca. T. 266503329 Lara Li & Miguel Braga Dia 22/2 às 21h30.

SantarémTeatro Municipal Sá da BandeiraRua João Afonso. T. 243309460 Ary, O Poeta das Canções - Tributo Dia 22/2 às 21h30 (receitas revertem a favor da APAV).

SesimbraCineteatro Municipal João MotaRua João da Luz, 5. T. 212234034 Ala dos Namorados Dia 22/2 às 21h30 (M/3). Apresentação de “Razão de Ser”.

DANÇA Baixa da BanheiraFórum Cultural José Manuel FigueiredoRua José Vicente. T. 210888900 Romeu e Julieta - Encontro e Desencontro Comp.: Companhia de Dança Contemporânea de Évora. Coreog. Benvindo Fonseca. Dia 22/2 às 21h30. M/6.

LouléCine-Teatro LouletanoPraça da República. T. 289400600 Así Baila Argentina Com Fernando Giardinni (bandoneón), Matías Frías (piano), Marcelo Daniel Godoy (guitarra e percussão), Romina Godoy (percussão), Milton Homann (percussão e boleadeiras). Dia 22/2 às 21h30.

SAIRLa Féria. De 27/6 a 28/2. 4ª, 5ª e 6ª às 21h30. Sáb às 17h e 21h30. Dom às 17h. Teatro TurimEstrada de Benfica, 723A. T. 217606666 As Viagens de Balão Teatro Turim. De 2/2 a 23/2. Sáb às 16h. Dom às 11h. M/4. SG GIGANTE ou... as flores de plástico nunca morrem Enc. Ricardo Moura. De 19/2 a 23/2. 4ª a Dom às 21h30. M/12. Teatro VillaretAv. Fontes Pereira de Melo. T. 213538586 Caixa Forte Enc. Henrique Dias. De 29/11 a 30/3. 6ª às 21h30. Sáb às 16h30 e 21h30. Dom às 16h30. Tom Sawyer Enc. Paulo Cintrão. De 12/1 a 30/3. Sáb e Dom às 11h. M/6. Duração: 60m. Informações e reservas: 938109644.

EXPOSIÇÕESLisboaCentro Cultural de BelémPraça do Império. T. 213612400 África Visões do Gabinete de Urbanização Colonial (1944-1974) De 7/12 a 28/2. 3ª a Dom das 10h às 18h. Desenho, Arquitectura. CulturgestR. Arco do Cego. D.. T. 217905155 A Conclusão da Precedente De Ana Jotta. De 14/2 a 11/5. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h (Última entrada às 18h30). Sáb, Dom e feriados das 14h às 20h (Última entrada às 19h30). A convocação de todos os seres De Luisa Correia Pereira. De 14/2 a 11/5. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h (Última entrada às 18h30). Sáb, Dom e feriados das 11h às 20h (Última entrada às 19h30). Marginalia De Pedro Casqueiro. De 14/2 a 11/5. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª das 11h às 19h (Última entrada às 18h30). Sáb, Dom e feriados das 14h às 20h (Última entrada às 19h30). Fundação e Museu Calouste GulbenkianAvenida de Berna, 45A. T. 217823000 Acesso Interdito De Ana Gaiaz, Márcia Lessa. De 15/2 a 2/3. 3ª a Dom das 10h às 18h. Fotografia. Galeria Arte PeriféricaPraça do Império, CCB. T. 213617100 Musa xparadisiaca De Thomas Nolle. De 22/2 a 20/3. Todos os dias das 10h às 20h.

Galeria BangbangRua Dr. Almeida Amaral, 30B. T. 213148018 Home Work De André Silva, Carlos No, entre outros. De 10/1 a 22/2. 3ª a Sáb das 12h30 às 20h. Pintura. Galeria das SalgadeirasRua das Salgadeiras, 24. T. 213460881 I = II De António Faria, Catarina Patrício, Diogo Costa, Filipe Abranches, Filipe Casaca. De 22/2 a 5/4. 4ª, 5ª e 6ª das 17h às 21h. Sáb das 16h às 21h. Desenho. Museu do OrienteAv. Brasília - Edifício Pedro Álvares Cabral - Doca de Alcântara Norte. T. 213585200 Febre De James Chu, Alice Kok, Julia Lam, entre outros. De 13/2 a 27/4. 3ª, 4ª, 5ª, Sáb e Dom das 10h às 18h. 6ª das 10h às 22h. Pintura, Escultura, Fotografia, Vídeo. Itinerários De Arlinda Frota. De 21/2 a 18/5. 3ª, 4ª, 5ª, Sáb e Dom das 10h às 18h. 6ª das 10h às 22h. Cerâmica. Jiang Shanqing De 6/2 a 27/4. 3ª, 4ª, 5ª, Sáb e Dom das 10h às 18h. 6ª das 10h às 22h. Pintura. Sombras da Ásia A partir de 28/6. 3ª, 4ª, 5ª, Sáb e Dom das 10h às 18h. 6ª das 10h às 22h (gratuito das 18h às 22h). Museu Nacional de Arte AntigaRua das Janelas Verdes, 1249. T. 213912800 Domingos Sequeira. A Adoração dos Magos (estudos preparatórios) De 17/12 a 30/3. 4ª a Dom das 10h às 17h30. 3ª das 14h às 17h30. Obra Convidada: Virgem com o Menino de Andrea del Verrocchio (c.1435-1488) De 30/1 a 18/5. 4ª a Dom das 10h às 18h. 3ª das 14h às 17h30. Pintura e Artes Decorativas do Século XII ao XIX De Vários autores. A partir de 16/12. 3ª das 14h às 18h. 4ª a Dom das 10h às 18h. Rubens, Brueghel, Lorrain - A Paisagem Nórdica do Museu do Prado De 3/12 a 30/3. 3ª a 6ª das 10h às 19h. Sáb das 10h às 21h. Dom das 10h às 19h. Vita Christi. Marfins Luso-Orientais De vários autores. De 7/12 a 2/3. 4ª a Dom das 10h às 18h. 3ª das 14h às 18h.

Bill Callahan apresenta Dream River no São Jorge

FARMÁCIASLisboaServiço PermanenteAurélio Rego (Estrela) - Calçada da Estrela, 139 - Tel. 213961758 Latina - Avenida António A Aguiar, 17-A - Tel. 213542312 Rainha Santa (Campo Grande - Av. do Brasil) - Rua Afonso Lopes Vieira, 57 - B - Tel. 217965262 Silmar (Hosp. S.José - Desterro) - Rua de São Lazaro, 128 - Tel. 218852829 dos Oceanos (Santa Maria dos Olivais) - Alameda dos Oceanos, Lote 3.13.01, Loja C - Tel. 213543938

Outras LocalidadesServiço PermanenteAbrantes - Silva Alandroal - Santiago Maior, Alandroalense Albufeira - Piedade Alcácer do Sal - Alcacerense Alcanena - Ramalho Alcobaça - Magalhães Alcochete - Cavaquinha, Póvoas (Samouco) Alenquer - Matos Coelho Aljustrel - Pereira Almada - Brasil (Feijó), Palmeirim (Sobreda da Caparica) Almeirim - Barreto do Carmo Almodôvar - Ramos Alpiarça - Aguiar Alter do Chão - Alter, Portugal (Chança) Alvaiázere - Ferreira da Gama, Castro

Machado (Alvorge), Pacheco Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D. Maria) Alvito - Nobre Sobrinho Amadora - D. João V, Dias e Brito Ansião - Teixeira Botelho, Medeiros (Avelar), Rego (Chão de Couce), Pires (Santiago da Guarda) Arraiolos - Vieira Arronches - Batista, Esperança (Esperança/Arronches) Arruda dos Vinhos - Da Misericórdia Avis - Nova de Aviz Azambuja - Dias da Silva, Nova, Peralta (Alcoentre), Ferreira Camilo (Manique do Intendente) Barrancos - Barranquense Barreiro - Santa Marta Batalha - Ferraz, Silva Fernandes (Golpilheira) Beja - Santos Belmonte - Costa, Central (Caria) Benavente - Miguens Bombarral - Franca Borba - Central Cadaval - Central, Figueiros (Figueiros Cadaval (Jan,Mar,Maio)) Caldas da Rainha - Maldonado Campo Maior - Campo Maior Cartaxo - Central do Cartaxo Cascais - Vilar (Carcavelos), Das Fontainhas, Parque do Estoril Lda. (Estoril) Castanheira de Pera - Dinis Carvalho (Castanheira) Castelo Branco - Salavessa (Cebolas de Cima) Castelo de Vide - Roque Castro

Verde - Alentejana Chamusca - Joaquim Maria Cabeça Constância - Baptista, Carrasqueira (Montalvo) Coruche - Almeida Covilhã - Pedroso Crato - Saramago Pais Cuba - Da Misericórdia Elvas - Moutta Entroncamento - Carvalho Estremoz - Grijó Évora - Misericórdia Faro - Almeida Ferreira do Alentejo - Salgado Ferreira do Zêzere - Graciosa, Soeiro, Moderna (Frazoeira/Ferreira do Zezere) Figueiró dos Vinhos - Campos (Aguda), Vidigal Fronteira - Vaz (Cabeço de Vide) Fundão - Vitória Gavião - Gavião, Pimentel Golegã - Salgado Grândola - Moderna Idanha-a-Nova - Andrade (Idanha A Nova), Serrasqueiro Cabral (Ladoeiro), Monsantina (Monsanto/Beira Baixa), Freitas (Zebreira) Lagoa - Sousa Pires Lagos - Neves Leiria - Vida Loulé - Chagas, Maria Paula (Quarteira), Paula (Salir) Loures - Sálvia Lourinhã - Correia Mendes (Moita dos Ferreiros), Leal (Rio Tinto) Mação - Saldanha Mafra - Rolim (S. Cosme), Falcão (Vila Franca do Rosário) Marinha Grande - Moderna Marvão - Roque Pinto Moita - Gusmão (Alhos Vedros) Monchique

- Higya Monforte - Jardim Montemor-o-Novo - Novalentejo Montijo - União Mutualista Mora - Canelas Pais (Cabeção), Falcão, Central (Pavia) Moura - Rodrigues Mourão - Central Nazaré - Silvério, Maria Orlanda (Sitio da Nazaré) Nisa - Ferreira Pinto Óbidos - Vital (Amoreira/Óbidos), Senhora da Ajuda (Gaeiras), Oliveira Odemira - Confiança Odivelas - Central Odivelas, Sena Belo Oeiras - Central Park (Linda-a-Velha), Pargana (Paço de Arcos), Trindade Brás (Paço de Arcos) Oleiros - Martins Gonçalves (Estreito - Oleiros), Garcia Guerra, Xavier Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão - Olhanense Ourém - Leitão Ourique - Nova (Garvão), Ouriquense Palmela - Ideal (Águas de Moura) Pedrógão Grande - Baeta Rebelo Penamacor - Melo Peniche - Higiénica Pombal - Barros Ponte de Sor - Varela Dias Portalegre - Chambel Suc. Portel - Misericordia Portimão - Central Porto de Mós - Lopes Proença-a-Nova - Roda, Daniel de Matos (Sobreira Formosa) Redondo - Xavier da Cunha Reguengos de Monsaraz - Paulitos Rio Maior - Almeida

Salvaterra de Magos - Carvalho Santarém - Sá da Bandeira Santiago do Cacém - Corte Real São Brás de Alportel - São Brás Sardoal - Passarinho Seixal - Alves Velho (Arrentela) Serpa - Central Sertã - Lima da Silva, Farinha (Cernache do Bonjardim), Confiança (Pedrogão Pequeno) Sesimbra - Lopes Silves - Ass. Soc. Mutuos João de Deus Sines - Monteiro Telhada (Porto Covo), Central Sintra - Campos, Almargem (Algueirão - Mem Martins), Gil (Queluz), Dumas Brousse (Rinchoa) Sobral Monte Agraço - Costa Sousel - Mendes Dordio (Cano), Andrade Tavira - Montepio Artistico Tavirense Tomar - Alfa (Porto da Laje) Torres Novas - Central Torres Vedras - Simões Vendas Novas - Ribeiro Viana do Alentejo - Nova Vidigueira - Pulido Suc. Vila de Rei - Silva Domingos Vila Franca de Xira - Eduardo A. César, Madragoa, Central de Alverca (Alverca), Central Vila Nova da Barquinha - Tente (Atalaia) Vila Real de Santo António - Carmo Vila Velha de Rodão - Pinto Vila Viçosa - Torrinha Alvito - Baronia Oeiras - Progresso (Tagus Park) Setúbal - Silva Ramos

NELSON GARRIDO

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | 41

CRIANÇAS

O Barco de Papel

Texto Eugénio Roda

Ilustração André da Loba

Edição Bags of Books

22 págs., 9,60 euros

A capa desafi a de imediato o

leitor, pois parece enganadora.

O título fala de um barco, mas é

um avião que chama o olhar. Só

depois se vê o chapéu do rapaz.

E lá está ele. “O pai lia o jornal

no pequeno canto livre da sala.

Ligava o candeeiro junto da

janela em pleno dia e passava os

olhos pelas boas notícias. Com

as más, o rapaz fazia aviões de

papel. Com tanta má notícia

pela casa, a mãe andava triste,

zangada, irritada: porquê assim?

Para quê aquilo? Até quando

isto?” É com estas palavras que

se entra numa história que,

como todas as boas histórias,

não é apenas para crianças.

Será fácil concluir que o rapaz

tinha sempre bastante matéria-

-prima para os seus voos. Mas os

objectos, as estantes, as paredes,

o tecto, tudo se transformava

em obstáculo para a liberdade

de voar. E desfez-se deles. “A

mãe deitava as mãos à cabeça

e o pai deitava a cabeça nas

mãos.” Por pouco tempo. “A

mãe sempre dissera que as

novidades têm asas. Ora, se cada

um se concentrasse numa boa

novidade, conseguiria voar com

ela. Foi dito e feito.” Se Eugénio

Roda brinca com as palavras (“os

presentes demoraram a tornar-

-se ausentes”, “pela primeira

vez se ouviram cantar os cantos

à casa”), André da Loba brinca

com a escala. O resultado é um

belo livro que também ensina

a construir aviões e barcos a

partir de uma folha. O Barco de

Papel foi apresentado ontem na

Biblioteca Municipal de Aveiro. E

já voa nas livrarias. Rita Pimenta

Livros

DANÇAPalmelaTarará-tchim - Dança e música para bebésCine-Teatro São João (R. Gago Coutinho - Sacadura Cabral). T. 212336630Hoje às 15h30 e 16h30; amanhã às 11h e 12h. Dos 0 aos 36 meses. 5€ (bebé + acompanhante) e 5€ (acompanhante extra)Dança, música e outras artes unem-se num momento pensado para levar os bebés a um mundo de movimento, som e fantasia. A interacção com os intérpretes faz parte do jogo.

FEIRAPortoMini Porto BeloPraça Carlos AlbertoHoje das 12h às 19h. GrátisInserido no Mercado Porto Belo, este mercadinho é para os vendedores mais jovens. Podem trazer jogos que já não usam, “livros já lidos, roupas que já não lhes servem, brinquedos que já não convidam a brincar”. Todos os objectos podem ser reaproveitados e ter uma nova vida na casa de outra criança. Brincadeiras e dedicação enchem este mercado, mas nem tudo é para vender. Talentos escondidos são bem-vindos, assim como a boa-disposição e a amizade. Tudo por 1€ (inscrição prévia).

MÚSICAOeirasConcerto DidácticoAuditório Municipal Maestro César Batalha (Av. das Descobertas – Galerias Alto da Barra. T. 214408536Amanhã às 11h. M/6. GrátisAtravés da interpretação comentada pelo maestro Nikolay Lalov, os solistas da Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras promovem o encontro dos mais pequenos com obras de Haydn, Handel, Schubert, J. Strauss e Gardel, mostrando, através delas, como a música e a dança são “duas queridas irmãs”.

Porto

Primeira Viagem ao EspaçoCasa da Música (Av. da Boavista, 604/610). T. 220120220Amanhã às 11h30, 15h e 17h. Na Sala 2. Para crianças dos 3 meses aos 5 anos. 10€ (criança + adulto)O Capitão X, auxiliado pelos assistentes W, Y e Z, comanda uma viagem a todo um universo de rock, jazz e outras matérias, sempre em busca de pistas para a revelação de OSNI (Objectos Sonoros Não Identificados).

SintraFado Morse e Outros CaminhosCentro Cultural Olga Cadaval (Pç. Dr. Francisco Sá Carneiro). T. 219107110Amanhã às 10h e 11h30. No palco do Auditório Jorge Sampaio. Para crianças até aos 5 anos. 17,50€ (bebé + adulto)Hugo Correia toca contrabaixo, dedilha a guitarra e faz... sons estranhos. Mas os bebés não estranham nada, porque para eles tudo é novo. A partir daqui, tudo é possível, incluindo viajar sem sair do lugar nestes concertos para bebés.

CINEMAVila do CondeAnimar 9Solar – Galeria de Arte Cinemática (R. Lidador). T. 2526465163.ª a Dom das 14h30 às 18h. Até 1/6. GrátisEstá de regresso o projecto Animar, que leva filmes e actividades relacionadas com o cinema de animação às escolas da região e ao público. Como habitualmente, no centro da projecto está a exposição colectiva Rua Animada, que mostra materiais, adereços, personagens e outros elementos usados nos filmes de animação. Entre eles, estão algumas das mais recentes produções nacionais, como Do Céu e da Terra, de Isabel Aboim Inglez, ou Compositio III, de Sandra Ramos, Bernardo Sarmento, Sílvia Namorado, Miguel Pires de Matos e Miguel Simas, e internacionais como Portraits de Voyage, de Bastien Dubois. A 9.ª edição integra ainda visitas--oficina – com pequenos exercícios para os

mais novos –, ateliers, sessões de cinema e outras actividades dirigidas a escolas e famílias.

EXPOSIÇÕESLisboaPlaneta Dinossauro. Eles vivem aquiPavilhão de Portugal (Al. dos Oceanos - Parque das Nações). T. 2189198986.ª, Sáb e Dom das 10h às 20h; 3.ª a 5.ª das 10h às 18h. Até 18/5. Grátis (até 3 anos), 7€ (3-11 anos, +65), 9€ (adultos) e 25€ (bilhete-família)Cerca de 30 dinossauros, alguns deles animados, em réplicas à escala 1/1, integrados em ambientes realistas: florestas, bosques e desertos. Algumas das figuras reagem à presença dos visitantes, acrescentando assim o “realismo” à experiência. A mostra, que ocupa 2.500 m2, está dividida em vários núcleos: galeria de fósseis (cerca de 100 exemplares que incluem esqueletos completos), galeria dos grandes exemplares (30 dinossauros, 10 dos quais animatronics), video mapping (projecção de documentário) e um atelier de paleontologia onde os mais novos podem pintar e escavar.

Porto3D Magic ARTEd. da Alfândega (Centro de Congressos e Exposições). T. 916711329Sáb, Dom e feriados das 10h às 20h; 2.ª a 6.ª das 10h às 18h. Até 30/3. 5€ (criança), 7€ (adulto) e 20€ (família: 2 adultos + 3 crianças)Numa área de dois mil m2 com quadros de grande dimensão pintados em 3D, o público é convidado a interagir com a pintura, em vez de ficar simplesmente a contemplá-la. Este é o conceito-base da exposição que inverte o que habitualmente não é permitido. Aqui a ideia é mesmo fotografar--se ou filmar-se dentro do quadro. Não esquecer a câmara!

TEATROAlmadaLusíadas, Um Poema VisualFórum Municipal Romeu Correia (Pç. da Liberdade). T. 212724920Hoje às 21h30; amanhã às 17h; 4.ª às 10h30 e 14h30; 5.ª às 10h30 (para escolas, 4€). M/8. 5€Um poema povoado de objectos e marionetas para contar a história de uma viagem de descoberta. Com Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, desvendam-se territórios numa “viagem que ensinará os homens a serem senhores do seu destino”.

Olival de BastoA Cigarra e a Formiga - O MusicalCentro Cultural da Malaposta (R. Angola). T. 219383100Hoje às 16h; amanhã às 11h. No Auditório. Até 30/3. M/3. 7,50€A vida desregrada da cigarra e o trabalho árduo das formigas cantados por Violeta, uma menina com uma imaginação muito fértil, capaz de levar o público a um sítio mágico onde os animais falam...

Porto

O TesouroTeatro da Vilarinha (R. da Vilarinha, 1386). T. 226108924Hoje às 16h e 21h30; amanhã às 16h; 3.ª a 6.ª às 11h e 15h (para escolas, 3,40€, até 28/3). Até 16/3. M/6. 10€ (sujeito a desconto)A nova produção da Pé de Vento parte do conto de um dos seus fundadores, Manuel António Pina, e retoma a figura do contador de histórias para relatar a vida no País das Pessoas Tristes. Em palco, recordam-se diversos momentos de 1974, numa peça que assinala os 40 anos sobre o 25 de Abril.

FESTIVALBarreiroPalmo e MeioAuditório Municipal Augusto Cabrita (Av. Escola de Fuzileiros Navais - Parque da Cidade). T. 212147410Hoje e amanhã, vários horários. Grátis a 7€.É o último fim-de-semana do mês que o Barreiro dedicou aos seres de palmo e meio e respectivas famílias, com actividades em diversas áreas, para crianças até aos 10 anos. Hoje, Prometeu anima o público com o seu teatro de sombras e multimédia (16h, M/6, 2€). Amanhã, a oficina de origami e ilustração Peixe Japonês põe à prova a criatividade dos miúdos dos 6 aos 10 anos (15h, marcação prévia, 7€, com materiais). É ainda possível visitar a exposição interactiva de ilustração Yara-Iara, de Margarida Botelho, que recria a história do livro homónimo numa performance, juntamente com um músico (até 6/4).

ACTIVIDADESLisboaAteliers de Literatura para CriançasCasa Independente (Lg. Do Intendente, 45). T. 218875143Amanhã às 11h. GrátisAos mais habituais espectáculos para “crescidos”, juntam-se, de vez em quando, uns programas inesperados. Este é dedicado aos mais pequenos. Joana Marques de Almeida apresenta o seu PLIM – Programa de Literatura e Mediação, começando por conversar com os pais e as crianças sobre algumas obras. Às 12h, Isabel Curica faz Viagens nos Livros com as suas Histórias no Tapete, pensadas especialmente para miúdos até aos 8 anos.

SeixalAteliers de CarnavalEcomuseu Municipal do Seixal (Núcleo da Mundet – Lg. 1º de Maio e Núcleo Naval – Av. República, Arrentela). T. 210976112Hoje, das 15h às 17h (marcação prévia). GrátisO Ecomuseu Municipal do Seixal começa já este fim-de-semana a preparar o Carnaval. No espaço dedicado à construção naval decorre o atelier Máscaras de Carnaval em Madeira, enquanto no Núcleo da Mundet, situado numa antiga fábrica corticeira, se fazem as Máscaras de Carnaval em Cortiça.

[email protected] Céu e da Terra, de Isabel Aboim Inglez, integra a exposição Rua Animada, no Animar 9

DR

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JOGOSCRUZADAS 8716

BRIDGE SUDOKU

TEMPO PARA HOJE

A M A N H Ã

Açores

Madeira

Lua

NascentePoente

Marés

Preia-mar

Leixões Cascais Faro

Baixa-mar

Fonte: www.AccuWeather.com

PontaDelgada

Funchal

Sol

15º

Viana do Castelo

Braga8º 13º

Porto8º 13º

Vila Real4º 12º

8º 14º

Bragança2º 11º

Guarda0º 8º

Penhas Douradas-2º 6º

Viseu3º 12º

Aveiro8º 15º

Coimbra6º 15º

Leiria7º 15º

Santarém5º 16º

Portalegre2º 11º

Lisboa6º 15º

Setúbal5º 15º Évora

3º 14º

Beja3º 14º

Castelo Branco3º 14º

Sines78º 15º

Sagres8º 15º

Faro5º 15º

Corvo

Graciosa

FaialPico

S. Jorge

S. Miguel

Porto Santo

Sta Maria

10º 16º

10º 15º

Flores

Terceira10º 15º

12º 16º

12º 18º

17º 11º

15º

15º

07h19

Nova

18h22

8h001 Março

1-1,5m

6-7m

16º

5m

18º1m

17º3-3,5m

07h28 2,820h05 2,8

01h10 1,113h40 1,2

07h06 3,019h43 2,8

00h44 1,313h16 1,3

07h10 2,819h46 2,8

00h38 1,113h09 1,2

4-4,5m

3-3,5m

6-7m

13º

14º

Horizontais 1. Parte do dedo na qual a unha se encaixa. Que pes-soa. 2. Centésima parte do hectare. Atrapalhado. A tua pessoa. 3. Nome de uma planta da Serra de Sintra. 4. Prefixo (repetição). Culpa (poét.). 5. Extraviado. Gume. 6. Elemento de formação de pa-lavras com o significado de ideia. Doutor (abrev.). 7. Opinião que se dá sobre o que convém fazer. Presidente da República (abrev.). 8. Contracção da prep. “de” com o pron. dem. “a”. Amolgar. 9. Sódio (s.q.). Casta de uva trasmontana. 10. Sadia. Suave. Gritos aflitivos. 11. Misturar com iodo. Dá marrada.

Verticais: 1. Cloreto de sódio. O ponto mais alto de Portugal (Açores). Sétima nota musical. 2. Atmosfera. Cada uma das partes articuladas com que termi-nam as mãos e os pés. Partícula de ne-gação. 3. Apócope de belo. Obra de ma-lha com desenhos. 4. Aguardente (gír.). Los Angeles (abrev.). 5. Elogiei. Recitar. 6. Prefixo (montanha). Casaco curto e justo usado por oficiais do exército. 7. Que é feito de cobre, de bronze ou de arame. Pessoa adulta do sexo mascu-lino. 8. Ambiciona. Porção. 9. Irritar. Fechar as asas (a ave) para descer mais rapidamente. 10. Cruel. Dar à luz filhos. 11. Luz da Lua. Destrói. Depois do problema resolvido encon-tre o provérbio nele inscrito (5 pala-vras).

Solução do problema anterior:Horizontais: 1. Ataca. Tonal. 2. Urzela. Rodo. 3. Leoa. II. Ira. 4. Alara. Nato. 5. Ad. Padre. 6. Amarar. DA. 7. Uh. Aro. Amor. 8. Rei. Alisar. 9. Grassar. Lis. 10. Oito. Sabido. 11. Lelo. Rimou.Verticais: 1. Aula. Burgo. 2. Trela. Heril. 3. Azoada. Iate. 4. Cear. Ma. SOL. 5. Al. Aparas. 6. Ai. Arolas. 7. Inda. Irar. 8. Or. Arras. Bi. 9. NOITE. Malim. 10. Adro. Dorido. 11. Loa. Bar. Sou.Título da obra: Sol da Noite.

Oeste Norte Este Sul- - 1♣ 1♥3♣ 4♥ passo passopasso Leilão: Natural, em qualquer forma de bridge.

Carteio: Saída: Três de paus. Como vê o contrato?

Solução: O leilão é natural, sendo que a voz de Norte de apoio em “quatro copas” decorre sobretudo da muito comentada lei das vazas totais, a qual, grosso modo, “aconselha” vivamente que qualquer das linhas em confronto, desde que interve-nham no leilão e conheçam com relativa fiabilidade o número de cartas do par-ceiro no naipe fitado, deve leiloar até ao nível de contrato equivalente ao número de trunfos que o fit pressupõe, décimo, no caso. Idêntico procedimento utilizou Oeste quando procedeu à “barragem em três paus”, escudado na abertura do seu parceiro, procurando assim obstruir o lei-lão adversário.Na sequência da saída, e após uma análi-se algo expedita, o carteador respirou de alívio em relação à execução do contrato, identificando três perdentes, uma a espa-das, uma a paus e uma a ouros, e com a “garantia” de que o fit décimo do naipe de trunfo seria “inexpugnável”.

Dador: EsteVul: -

Problema 5214 Dificuldade: fácil

Problema 5215 Dificuldade: difícil

Solução do problema 5212

Solução do problema 5213

NORTE♠ A63♥ 109873♦ A76♣ 82

SUL♠ K82♥ AK652♦ 102♣ K65

OESTE♠ J1075♥ QJ4♦ KJ4♣ AJ9

ESTE♠ Q94♥ -♦ Q9853♣ Q10743

João Fanha/Pedro Morbey ([email protected]) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com

Assim, após a primeira vaza ter sido feita pelo Ás de Oeste e o mesmo ter voltado um pau, Sul entrou com o Rei e, confian-te, jogou o Ás de copas. O tecto desabou quando Oeste baldou! A partir daí, tornou-se impossível evitar a perda de quatro va-zas e, consequentemente, do contrato.Poderia Sul ter previsto a “pouco amigá-vel” repartição dos trunfos?Nós pensamos que sim. Com efeito, tudo reside na capacidade de interpretação da carta de saída e, baseado no leilão, enten-der a repartição dos paus. As vozes, por um lado, e a carta de saída (o três de paus), por outro, indicam claramente a posse de cinco cartas de paus em Oeste, o que, im-plicitamente, coloca apenas três paus na mão de Este. Qual pode ser a distribuição de uma mão que abre em “um pau” com apenas três cartas? Há três distribuições possíveis: “quatro-três-três-três”, “três-quatro-três-três” e “ quatro-quatro-dois-três”, sendo que as duas últimas não po-dem ter lugar, pela razão simples de que só há lugar para três copas no flanco. No entanto, e pelo exposto, elas estão “obri-gatoriamente” em Este, pelo que o cartea-dor deveria ter adivinhado “Dama-Valete” em Este e feito a “dupla” a copas!

Oeste Norte Este Sul1♣ 2♥ X ? O que marca com a seguinte mão?♠KQJ2 ♥10843 ♦103 ♣743

Resposta: O parceiro prometeu seis car-tas no naipe de copas, e a sua mão tem um fit claro no mesmo. Este “dobrou” mostrando “valores” e prováveis quatro cartas de espadas, e é importante decidir entre “barrar” ou “posicionar o parceiro” para a saída, em caso de a linha adversá-ria ganhar o leilão. Nós pensamos que, no caso, esta última opção será mais interes-sante e potencialmente desarmante para com E-O: marque a boa voz: “duas espa-das”! indicando a saída e escudado na “possibilidade” de fuga que o fit a copas garante.

MeteorologiaVer mais emwww.publico.pt/tempo

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | DESPORTO | 43

FRANCISCO LEONG/AFP

Ciclo de seis jogos sem vencer na UEFA entrou no pódio negativo do FC Porto

Mangala durante o jogo com o Eintracht Frankfurt

Depois de não ter vencido um jo-

go em casa na fase de grupos pela

primeira vez na sua história na Li-

ga dos Campeões, o FC Porto teve

anteontem uma oportunidade para

virar a página a um percurso euro-

peu que não tinha sido brilhante

até então. Mas o desempenho na

Liga Europa começou mal, com um

empate a dois golos com o Eintra-

cht Frankfurt que soube a derrota.

Mais do que isso, foi novo sinal de

uma época que, para os seus adep-

tos, está abaixo das expectativas. E

aproximou os “dragões” dos seus

piores registos nas competições in-

ternacionais.

O jogo com a equipa alemã foi o

sexto seguido sem ganhar do clu-

be “azul e branco” nas provas eu-

ropeias (três empates e três derro-

tas). Na mesma época, é inédito. E

não aconteceu muitas vezes mesmo

colando temporadas diferentes. De

resto, na longa lista de 338 encon-

tros ofi ciais internacionais do FC

Porto (entre Liga dos Campeões,

Liga Europa, Taça das Taças, Taça

das Cidades com Feira, Supertaça

Europeia e Taça Intercontinental),

só houve uma sequência em que o

jejum de vitórias foi mais compri-

do. Pode dizer-se, no caso, que os

portistas estrearam-se com o pé

esquerdo, pois não ganharam ne-

nhuma das primeiras oito partidas

realizadas nas taças europeias (seis

derrotas e dois empates), num tra-

jecto iniciado contra o Athletic Bil-

bau, de Espanha.

Para a história fi cou o autor do

primeiro golo “europeu” do FC

Porto, José Maria, mas também o

triunfo do emblema basco nas An-

tas (1-2) em Setembro de 1956, num

compromisso da Taça dos Campe-

ões Europeus. Só ao nono jogo, re-

lativo à Taça das Taças de 1964-65,

é que os portuenses conseguiram

fi nalmente triunfar. A primeira víti-

ma foi o Lyon, batido no Porto (3-0)

com dois golos de Custódio Pinto e

um de Carlos Baptista.

O ciclo actual de seis jogos sem

vitórias iguala o segundo pior da

história do clube, que entre 1996-97

e 1997-98 também não conheceu o

sabor da vitória durante meia dúzia

de encontros seguidos, sempre na

Liga dos Campeões, que incluíram

quatro desaires.

O jogo inaugural da equipa nesta

época teve um desfecho positivo,

resultando num sucesso em Viena,

mas desde então não mais conse-

guiu vencer, o que lhe valeu a eli-

minação da Liga dos Campeões e

uma entrada menos boa na Liga Eu-

ropa que, depois de desperdiçada

uma vantagem de 2-0, signifi ca que

provavelmente só com um triunfo

em Frankfurt garantirá os oitavos-

de-fi nal.

Mas o destaque mais negativo vai

para o desempenho no Estádio do

Dragão. O plantel de Paulo Fonse-

ca não foi capaz de vencer nenhum

dos quatro jogos caseiros que dis-

putou nas competições da UEFA,

o que iguala a pior série do clube

como visitado. Contudo, nenhuma

das três ocasiões anteriores (1956-

57 a 1963-64, 1996-97 a 1997-98) e

1999-2000 a 2000-01) aconteceram

numa só temporada.

O FC Porto ainda vai a tempo de

endireitar o seu percurso europeu

e de ter uma nova oportunidade no

Dragão, mas esta é mesmo a primei-

ra vez que não consegue, pelo me-

nos, uma vitória num dos quatro

primeiros jogos internacionais reali-

zados no seu estádio nas épocas em

que organizou quatro ou mais.

Um cenário bem diferente daque-

le que enfrentou na temporada an-

terior, em que obteve o pleno de

vitórias em casa, ou do que viveu

no longo período entre 1975 e 1990,

durante o qual jogou 38 vezes no

seu recinto com um saldo de 33

triunfos, quatro empates e apenas

uma derrota.

Oitavo 2-2 na primeira mãoUma igualdade a dois golos na pri-

meira mão de uma eliminatória das

provas da UEFA não é uma situação

nova para o FC Porto, que já passou

por ela sete vezes anteriormente.

Nas duas ocasiões em que cedeu o

empate em casa, tal como sucedeu

anteontem, teve desfechos diferen-

tes. Contra o Schalke 04, em 1976-

77, para a Taça UEFA, foi eliminado

(3-2 em Gelsenkirchen), mas frente

ao Grasshopper, em 2001-02, na pri-

meira eliminatória da Liga dos Cam-

peões, saiu vitorioso (2-3 em Zuri-

que). Nas cinco vezes que obteve o

2-2 na primeira mão como visitante,

seguiu em frente em quatro.

Igualdade com o Eintracht Frankfurt foi o sexto encontro seguido dos portistas sem vencer nas provas europeias. Primeiros oito jogos ofi ciais internacionais formam a pior sequência do clube

FutebolManuel Assunção

44 | DESPORTO | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

Sporting não se conforma com decisão do Conselho de Disciplina e recorre

GREGORIO CUNHA/AFP

O jogo entre o FC Porto e o Marítimo, a contar para a Taça da Liga, está no centro da controvérsia

O Sporting vai recorrer da decisão

do Conselho de Disciplina (CD) da

Federação Portuguesa de Futebol

(FPF) que puniu o FC Porto com uma

repreensão e uma multa de 383 eu-

ros pelo atraso no jogo com o Marí-

timo, para a Taça da Liga, no dia 25

de Janeiro. Rejeitada foi a aplicação

da sanção de “derrota” aos dragões,

como pretendiam os responsáveis de

Alvalade e era proposto pela Comis-

são de Instrução e Inquéritos (CII) da

Liga. O recurso para o Conselho de

Justiça (CJ) manterá suspensa a parti-

da das meias-fi nais entre os portistas

e o Benfi ca.

“Esta decisão vem confi rmar que

a verdade desportiva não é uma

cionatória abstracta que ao jogo em

análise dos autos, da 3.ª jornada da

3.ª fase da Taça da Liga, que, por es-

tar em causa o acesso às meias-fi nais,

deveria regularmente ter começado

exactamente à mesma hora do que o

desafi o que envolveu o participante

Sporting Clube de Portugal.” Mas,

apesar da divergência em relação ao

enquadramento legal, este elemento

concordou que não fi cou provado o

dolo dos “dragões”.

Confi rmado o recurso “leonino”

para o CJ da FPF, resta saber se a pró-

pria CII da Liga irá seguir o mesmo

caminho. Segundo o PÚBLICO apu-

rou, a hipótese estava ontem a ser

equacionada, mas ainda não havia

uma decisão fi nal. Até o CJ se pro-

nunciar sobre a matéria, o jogo das

meias-fi nais entre FC Porto e Benfi ca

fi cará suspenso.

Órgão federativo multa FC Porto em 383 euros, mas considera que não fi cou provado o dolo dos “dragões” no atraso do início do jogo com o Marítimo da Taça da Liga, rejeitando a sanção de derrota

Justiça desportivaPaulo Curado

tagem competitiva sobre os “leões”,

já que passaria a ter informação útil

sobre o desfecho da partida do ad-

versário lisboeta.

Mas a questão do dolo acabou por

não ter grande signifi cado na decisão

do CD, já que este órgão considerou

que o artigo do CD da Liga que previa

a pena de “derrota” (e permitiria ao

Sporting seguir em frente na compe-

tição) não seria aplicável a este caso,

como referiu ao PÚBLICO o jurista

José Manuel Meirim, especialista em

Direito do Desporto. “O dolo seria

sempre muito difícil de provar. Ape-

sar disso, esta questão perde impor-

tância na decisão do CD porque, na

minha opinião, este órgão considera

que a norma do Regulamento de Dis-

ciplina da Liga que prevê a sanção

de derrota em caso de dolo não é

aplicável à Taça da Liga, tal como é

preocupação de muitos órgãos que

tutelam o futebol português, neste

caso na FPF. Com esta decisão assis-

timos a uma eternização de um statu

quo que impede o futebol nacional

de refl ectir verdade, rigor e trans-

parência”, reagiram os “leões”, em

comunicado, ontem à tarde, anun-

ciando que vão utilizar o seu direito

de recurso.

Uma reacção que surgiu algu-

mas horas depois de ser conheci-

da a decisão do CD. O acórdão, de

48 páginas, considera que não foi

provada a intenção deliberada dos

“dragões” de atrasar o início do jogo

com o Marítimo — que deveria ter

sido disputado, obrigatoriamente, à

mesma hora que decorria a partida

Penafi el-Sporting, já que estava em

causa a passagem às meias-fi nais da

Taça da Liga — para obter uma van-

defendido pela defesa do FC Porto”,

analisou.

O CD acabou por castigar os portis-

tas ao abrigo do Artigo 119.º, número

1, que penaliza, na generalidade, uma

equipa que provoque um atraso no

início ou reinício (após o intervalo)

de uma partida de futebol, rejeitando

a aplicação do Artigo 116.º (número 1

e 2), referente a partidas de carácter

decisivo, como, por exemplo, as duas

últimas jornadas dos campeonatos.

Ou seja, entendeu que este quadro

disciplinar não se aplicaria especifi -

camente à Taça da Liga.

Esta interpretação não colheu

unanimidade no CD, com o relator

do processo a emitir uma declara-

ção de voto: “Não é justo que, ao

atraso na chegada de uma equipa a

uma partida normal, corresponda

exactamente a mesma moldura san-

A hipótese de o Benfica ou de o FC Porto, ou de ambas as equipas, alcançarem as meias-finais

da Liga Europa poderá implicar que o clássico da meia-final da Taça da Liga, a disputar entre ambas, fique sem data disponível. Para já, a partida ficou suspensa, sem data prevista para a sua realização, devido ao recurso do Sporting para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol (ver texto principal). O calendário do Benfica e FC Porto está preenchido, já que ambos ainda estão a competir na Liga Europa e na Taça de Portugal, para além do campeonato, havendo ainda pausas nas provas de clubes para serem disputados jogos particulares das selecções. Caso os dois clubes, ou apenas um, vençam as três próximas eliminatórias da prova da UEFA, ficará apenas disponível a data prevista para a final da Taça da Liga, a 26 de Abril.

Para este encontro decisivo já está apurado o Rio Ave, que eliminou o Sp. Braga, na meia-final da prova, por 2-1.

Meia-final da Taça da Liga em risco

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | DESPORTO | 45

“O voto era igual. Eu era o único jo-

gador da selecção brasileira e tinha

o mesmo peso do terceiro goleiro,

ou do cara que me limpava as chu-

teiras”, dizia Sócrates Brasileiro. No

Corinthians do início dos anos 1980

era assim que se tomavam decisões

sobre tudo o que envolvia um clube

de futebol. A opinião de Sócrates va-

lia tanto como a do roupeiro, assim

como a opinião do roupeiro valia

tanto como a do treinador Mário

Travaglini. A democracia corinthia-

na não foi ideia dele, mas abdicou

muitas vezes de impor uma decisão

para partilhar este processo com os

outros membros da equipa.

Morreu ontem, em São Paulo,

com 81 anos, vítima de um tumor

cerebral, um dos mais inovadores

técnicos do futebol brasileiro do

seu tempo.

Travaglini nasceu em São Paulo a

30 de Abril de 1932 e, como jogador

(era defesa), actuou pelo Ypiranga,

Palmeiras e Nacional de São Paulo,

terminando a carreira aos 29 anos

no Ponte Preta. A carreira de treina-

dor começou no ano seguinte, em

1962, na formação do Palmeiras, on-

de fi cou até 1971, sendo campeão es-

tadual em 1966 e vencedor da Taça

do Brasil em 1967.

Nos anos 1970, mudou-se para o

Rio de Janeiro e as conquistas con-

tinuaram. No Vasco da Gama, foi

campeão brasileiro em 1974 e, pelo

Fluminense, ganhou o campeonato

carioca em 1976, integrando depois

a equipa técnica da selecção brasilei-

ra que esteve presente no Mundial

de 1978. Em 1981, voltou a São Pau-

lo para treinar o Corinthians, onde

despontava uma nova forma de ges-

tão de uma equipa de futebol.

Jogadores como Sócrates ou Wladi-

mir procuraram instituir no clube o

que ainda não era uma realidade no

país (que ainda vivia em ditadura), o

técnico não se colocou no caminho e

abraçou a democracia corinthiana. O

Corinthians democrático teve suces-

so, com títulos de campeão paulista

em 1982 e 1983, apenas o primeiro

com Travaglini. Depois do Corin-

thians, ainda treinou o São Paulo, o

Palmeiras e o Vitória, retirando-se

no início da década de 1990.

Morreu o treinador da democracia corinthiana

ÓbitoMarco Vaza

O brasileiro Mário Travaglini tinha 81 anos e foi vítima de um tumor cerebralNa primeira volta, em Alvalade, o jogo terminou empatado (1-1)

Há razões de sobra para o Sporting

redobrar as cautelas quando entrar

em campo, esta noite, para defrontar

o Rio Ave, na 20.ª jornada da Liga.

Nos últimos cinco jogos disputados

em Vila do Conde, os “leões” só ven-

ceram um. E, sob a orientação de Nu-

no Espírito Santo, os vila-condenses

somam três vitórias e um empate

frente aos “verde e brancos”.

O treinador do Rio Ave tem sido

capaz de anular a estratégia do Spor-

ting nos tempos mais recentes, mas

alerta para o facto de o único termo

de comparação possível ser o encon-

tro da primeira volta do campeona-

to (1-1 em Alvalade): “O Sporting do

ano passado não é o mesmo deste

ano. Todas as equipas do Sporting

que enfrentámos tiveram treinadores

diferentes. É pura coincidência os

resultados terem acontecido”, des-

valorizou Nuno Espírito Santo.

Coincidência ou não, certo é que

Leonardo Jardim já está alertado pa-

ra as difi culdades que vai encontrar,

frente a um adversário que rotula

como “uma das equipas com maior

qualidade técnica da I Liga”. A seu

favor, o Sporting terá a paupérrima

performance do Rio Ave em casa, nes-

ta temporada (duas vitórias em dez

jogos no campeonato), embora Nuno

Espírito Santo advogue uma inversão

da tendência: “Sermos fortes em ca-

sa é fundamental”.

Esta noite, os vila-condenses terão

Sporting vai tentar remar contra as “coincidências”

de tentar sê-lo sem contarem com a

ala direita habitual. O lateral Lionn

recupera de uma fractura da mão

direita, enquanto o extremo Ukra

cumpre castigo, depois de ter esgo-

tado uma série de cinco amarelos,

em Guimarães. Nuno Lopes e Pedro

Santos serão os mais fortes candida-

tos a entrar no “onze”.

Do lado do Sporting, Maurício é

presença confi rmada no eixo da de-

fesa e será acompanhado por Eric

Dier ou Ruben Semedo, devido ao

castigo de Marco Rojo. Mas foi ou-

tro brasileiro a centrar ontem as

atenções em Alvalade, depois de o

Flamengo ter desistido de contratar

o médio Elias, “devido à grande di-

ferença entre o [valor] proposto e o

desejado” pelos “leões”.

FRANCISCO LEONG/AFP

FutebolNuno Sousa

“Leões” visitam um Rio Ave que, sob o comando de Nuno Espírito Santo, nunca conseguiram vencer

Rio Ave 4-2-3-1

Sporting 4-3-3

EdimarRodríguezMarceloNunoLopes

Éderson

Rui Patrício

William Carvalho

Montero

CédricMaurícioEric DierJefferson

CarlosMané

Heldon

Tarantini

Hassan

PedroSantos

Estádio do Rio Ave

Árbitro: Jorge Ferreira Braga

20h15SP-TV1

FelipeAugusto

Diego Lopes Braga

Adrien André Martins

O jogo de abertura da 20.ª jornada

da I Liga, realizado ontem, entre a

Académica e o Nacional, terminou

sem golos, mas teve um mal anula-

do, a favor da Briosa. Um resultado

invulgar para duas equipas que estão

habituadas a marcar quando estão

frente a frente.

O lance da polémica surgiu aos 58’,

quando Moussa Gueye rematou pa-

ra o fundo da baliza, mas a equipa

de arbitragem invalidou o lance por

suposto fora-de-jogo. Só que a bola

chegou aos pés do jogador da Acadé-

mica vinda de um adversário.

Ainda na primeira metade do en-

contro o conjunto academista des-

perdiçou várias oportunidades para

se colocar à frente no marcador. Aos

11’, um remate cruzado de Marcos

Paulo fez a bola passar à frente da

baliza de Gottardi, sem que ninguém

a desviasse. O avançado não desis-

tiu e aos 15’ fez um “chapéu”, mas

o guarda-redes insular evitou o golo

com uma defesa acrobática.

Foram poucas as vezes que a equi-

pa de Manuel Machado criou situa-

ções de perigo no meio-campo da

Académica. Só aos 68’ o Nacional

incomodou Ricardo — Diego Bar-

cellos, de frente para o guardião da

Académica, cabeceou a bola, mas o

português evitou o pior.

No último quarto de hora, o Nacio-

nal ainda tentou virar o jogo, mas o

desfecho foi mesmo o empate sem

golos, o que não acontecia entre es-

tes dois clubes há cinco anos.

Fora-de-jogo mentiroso rouba vitória à Académica

Futebol Patrícia Rogado

II LIGAJornada 31Ac. Viseu-Benfica B hoje, 11h15, SP-TVliveDesp. Aves-Beira-Mar hoje, 15hDesp. Chaves-Oliveirense hoje, 15hSanta Clara-Portimonense hoje, 16hMarítimo B-Atlético hoje, 16h, Marítimo TVMoreirense-Sporting B hoje, 16h, SP-TV3Sp. Covilhã-FC Porto B amanhã, 11h15, SP-TV1Tondela-Farense amanhã, 15hU. Madeira-Feirense amanhã, 15hLeixões-Penafiel amanhã, 15hSp. Braga B-Trofense amanhã, 16h

J V E D M-S PMoreirense 30 14 12 4 45-20 54FC Porto B 30 16 6 8 37-26 54Benfica B 30 14 9 7 60-38 51Penafiel 30 13 13 4 29-16 52Portimonense 30 15 5 10 43-35 50Desp. Aves 30 14 7 9 29-22 49Sporting B 30 14 5 11 41-36 47Tondela 30 13 7 10 33-28 46Desp. Chaves 30 12 7 11 36-42 43Ac. Viseu 30 12 6 12 32-24 42Sp. Covilhã 30 12 6 12 31-33 42Farense 30 11 8 11 32-31 41União da Madeira 30 11 5 14 39-36 38Sp. Braga B 30 11 5 14 35-42 38Beira-Mar 30 10 7 13 32-36 37Leixões 30 10 6 14 33-38 36Marítimo B 30 10 6 14 23-32 36Feirense 30 7 14 9 28-35 35Santa Clara 30 9 6 15 27-34 33Oliveirense 30 8 8 14 42-56 32Trofense 30 5 11 14 24-49 26Atlético 30 5 9 16 20-41 24Próxima jornada Benfica B-Santa Clara, Trofense-Marítimo B, Beira-Mar-Moreirense, Penafiel-Desp. Aves, Feirense-Chaves, Oliveirense-Ac. Viseu, FC Porto B-Tondela, Sporting B-Sp. Covilhã, Atlético-Sp. Braga B, Farense-U. Madeira, Portimonense-Leixões.

MARCADORESI Liga 14 golos Jackson Martínez (FC Porto)13 golos Fredy Montero (Sporting) 9 golos Heldon (Marítimo/Sporting) e Derley (Marítimo) 8 golos Lima (Benfica)

II Liga 14 golos Pires (Moreirense) 12 golos Tozé (FC Porto B), Moreira (Leixões) 11 golos Forbes (Sp. Covilhã), Esgaio (Sporting B)

CLASSIFICAÇÃOI LIGAJornada 20Académica-Nacional 0-0Sp. Braga-Arouca hoje, 18h, SP-TV1Rio Ave-Sporting hoje, 20h15, SP-TV1Olhanense-Gil Vicente amanhã, 16hV. Setúbal-Paços de Ferreira amanhã, 16hMarítimo-Belenenses amanhã, 17h, SP-TV1FC Porto-Estoril amanhã, 19h15, SP-TVliveBenfica-V. Guimarães 2.ª feira, 20h15, BenficaTV

J V E D M-S PBenfica 19 14 4 1 36-13 46FC Porto 19 13 3 3 37-13 42Sporting 19 12 5 2 36-12 41Estoril 19 9 6 4 31-20 33Nacional 20 8 9 3 28-19 33V. Guimarães 19 9 2 8 21-18 29Sp. Braga 19 8 2 9 27-23 26Marítimo 19 6 6 7 27-31 24Académica 20 6 6 8 12-21 24V. Setúbal 19 6 4 9 22-31 22Rio Ave 19 6 4 9 14-20 22Gil Vicente 19 5 4 10 16-28 19Arouca 19 4 6 9 17-24 18Belenenses 19 3 7 9 11-22 16P. Ferreira 19 3 4 12 16-36 13Olhanense 19 3 4 12 12-30 13Próxima jornada Estoril-Olhanense, Sporting-Sp. Braga, Gil Vicente-V. Setúbal, P. Ferreira-Marítimo, Nacional-Rio Ave, Belenenses-Benfica, V. Guimarães-FC Porto, Arouca-Académica.

Académica 0

Nacional 0

Jogo no Estádio Cidade de Coimbra, em Coimbra.

Assistência 2102 espectadores

Académica Ricardo, João Dias, Halliche, João Real a75’, Djavan, Fernando Alexandre, Makelele, Marcos Paulo (Marinho, 87’), Rafael Lopes (Magique, 65’), Moussa e Salvador Agra a42’ (Diogo Valente, 78’). Treinador Sérgio Conceição.

Nacional Gottardi, Zainadine a82’, Miguel Rodrigues a45’+1’ (Saleh Gomaa, 46’), Mexer, Marçal, Aly, Claudemir, Diego, Candeias, João Aurélio a56’ (Lucas, 62’) e Djaniny (Rondon, 52’). Treinador Manuel Machado.

Árbitro Rui Silva (Vila Real)

46 | DESPORTO | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

João Sousa atingiu os quartos-de-final de um torneio ATP 500

João Sousa é o primeiro português

a atingir os quartos-de-fi nal num

torneio da categoria 500 do ATP

World Tour. Na segunda ronda do

Rio Open, o melhor tenista portu-

guês da actualidade derrotou o es-

panhol Albert Ramos, em três sets,

para marcar encontro com o líder

do ranking mundial Rafael Nadal,

agendado para a noite de ontem, no

Rio de Janeiro.

Será a segunda vez em cinco me-

ses que Sousa defronta o líder do

ranking, depois de ter perdido com

Novak Djokovic na terceira ronda do

Open dos EUA. Mas já tem garantido

pontos sufi cientes para subir ao 43.º

lugar da hierarquia mundial, ultra-

passando em quatro posições o seu

melhor ranking de sempre.

“O Nadal é considerado por mui-

tos o rei da terra batida e eu tive

esta segunda-feira a oportunidade

de treinar com ele. Já o conheço

bem e como disse anteriormente

vai ser um encontro muito difícil,

em que eu vou dar o máximo e no

fi nal faremos contas”, adiantou Sou-

sa, sobre o futuro adversário que

está a competir pela primeira vez

desde que perdeu a fi nal do Open

da Austrália.

Além do bom conhecimento de

Nadal, o vimaranense de 24 anos

está confi ante pelos dois encontros

ganhos no Jockey Club Brasileiro.

“Penso que joguei melhor do que

João Sousa já garantiu melhor ranking de sempre

na eliminatória anterior, se bem que

tive alguns altos e baixos que pode-

riam ter sido fatais, se não tivesse

tido a capacidade de estar muito

concentrado nos momentos deci-

sivos”, afi rmou Sousa, que na terça-

feira tinha afastado outro espanhol,

Marcel Granollers (35.º), igualmente

em três sets.

A vitória de Sousa (48.º ATP) so-

bre Ramos (87.º) começou a dese-

nhar-se quando recuperou de 2-5

no primeiro set e anulou um set-

point a 4-5, para se impor no tie-

break. Na segunda partida, Ramos

serviu muito bem e só perdeu um

ponto nos quatro jogos de serviço.

No set decisivo, o tenista luso sal-

vou o único break-point que enfren-

tou, no sétimo jogo, e quebrou logo

no jogo seguinte, para 5-3, antes de

fechar no terceiro match-point, com

os parciais de 7-6 (8/6), 2-6 e 6-3, em

pouco mais de duas horas.

Este é o terceiro quarto-de-fi nal

de Sousa no ATP World Tour nos

últimos cinco meses, após São Pe-

tersburgo (chegou às meias-fi nais)

e Kuala Lumpur (conquistou o tí-

tulo), ambos em Setembro, mas o

primeiro num torneio da categoria

500 do ATP — em 2012, Frederico Gil

ganhou duas rondas em Barcelona,

prova da mesma cotação, mas num

quadro de 64 jogadores o que equi-

vale aos oitavos-de-fi nal.

PASCAL GUYOT/AFP

Ténis Pedro Keul

O tenista português terá agora pela frente Rafael Nadal, actual número um mundial

43.ºAos 24 anos, João Sousa já sabe que vai tornar-se no 43.º melhor tenista mundial, a melhor posição alguma vez ocupada por um português

Michal Kwiatkowski (Omega Phar-

ma-QuickStep) deu ontem nova de-

monstração de força na 40.ª Volta

ao Algarve, convencendo até o se-

gundo classifi cado, o espanhol Al-

berto Contador, que diz que só uma

grande surpresa afastará o ciclista

polaco do triunfo fi nal.

O camisola amarela bateu tudo e

todos no contra-relógio (13,6km) da

terceira etapa e aumentou a diferen-

ça para os principais concorrentes

na geral a um dia da chegada deci-

siva ao alto do Malhão, última hipó-

tese de Alberto Contador (Tinkoff -

Saxo), segundo a 32 segundos, ou

Rui Costa (Lampre), terceiro a 38,

roubarem a liderança na geral.

Com apenas três etapas dispu-

tadas, Kwiatkowski, de apenas 23

anos, já leva duas vitórias, um re-

sultado que o deixa “muito feliz”.

No fi nal do percurso entre Vila do

Bispo e Sagres, e já depois de saber

da vitória, o polaco comentou o

seu desempenho: “Foi o primeiro

‘crono’ que fi z este ano. Sofri tanto!

Pensei que vinha demasiado rápido

na primeira parte do percurso e que

ia chegar a meio e quebrar, mas o

fi m foi muito técnico, com muitas

curvas, e deu para recuperar.”

Apesar de estar muito satisfeito,

o polaco não quis cantar vitória an-

tes da subida, que conhece “muito

bem”, parecendo genuinamente

surpreso quando soube que Conta-

dor, o quarto na etapa, a 20 segun-

dos dos seus 14m03s, garantiu que

fi caria muito admirado se o ciclista

da Omega Pharma-Quickstep não

vencesse a prova. “A sério que ele

disse isso? Que bom. É muito agra-

dável ouvir isso dele”, confessou.

Lusa

Kwiatkowski só vai surpreender se não

Ciclismo

O símbolo do Tasmânia

Em 1965, três equipas subiram de

divisão na Bundesliga. Uma delas,

o Borussia de Moenchengladbach,

seria uma das forças dominantes do

futebol alemão nos anos 1970, apre-

sentando jogadores como Jupp Heyn-

ckes, temível goleador, ou Berti Vog-

ts, um pilar da defesa, mantendo-se,

com algumas oscilações, no principal

campeonato germânico. Outra delas,

o Bayern Munique, dispensa apresen-

tações. É uma das melhores e mais

poderosas equipas da Europa, tendo

acumulado nos últimos anos múlti-

plos títulos germânicos e europeus.

Quanto à terceira, o seu único lega-

do é o de ser um termo de compa-

ração recorrente para equipas más.

Falamos do Tasmânia Berlim, a pior

equipa da história da Bundesliga.

Dois anos antes, em 1963, o futebol

alemão sofreu uma profunda remo-

delação nos quadros competitivos,

sendo criada a Bundesliga como

forma de unifi car os campeonatos

regionais. O Colónia venceu a primei-

ra Bundesliga, o Werder Bremen a

segunda e, para a época 1965-66, re-

solveu-se aumentar a I Divisão de 16

para 18 equipas. Não haveria despro-

moções e seriam promovidas duas

equipas para compor a mudança. Só

que um imprevisto obrigou a que fos-

sem três os benefi ciados — o Hertha

de Berlim sofreu uma despromoção

administrativa por pagar aos seus jo-

gadores por debaixo da mesa.

Mas tinha de haver uma equipa da

cidade dividida pelo muro e o lugar

foi parar ao colo do Sport Club Tas-

mânia 1900 Berlim. A liga regional

de Berlim era uma das mais fracas da

RFA e nenhuma das outras equipas

PlanisféricoTasmânia Berlim, a anedota da Bundesliga

da Bundesliga achava que a cidade

merecesse um representante entre

os grandes. Na verdade, Berlim nun-

ca foi uma grande cidade de futebol

e, depois do título do Hertha em

1931, nunca mais teve um campeão

na Alemanha unifi cada — a Oberliga

da RDA teve clubes como o Vorwarts

Berlim ou o Dínamo como campe-

ões, enquanto a RFA nunca teve um

campeão da cidade.

O Tasmânia não estava preparado

para esta promoção administrativa

com motivações políticas. Ainda as-

sim, conseguiu atrair Horst Szyma-

niak, um médio internacional ale-

mão que andava perdido no futebol

italiano, com passagens pelo Inter de

Milão e pelo Varese, e que exigiu co-

mo bónus uma percentagem das re-

ceitas de bilheteira. Szymaniak foi a

única contratação de peso para uma

época que muitos perspectivavam

como suicídio desportivo.

Tudo parecia correr pelo melhor

no arranque do campeonato. A 14 de

Agosto, na jornada inaugural, em ple-

no Estádio Olímpico e com mais de

80 mil pessoas a assistir, o Tasmânia

teve um início auspicioso — uma vitó-

ria sobre o Karlsruher (2-0).

Foi o momento alto de um per-

curso que quase imediatamente

teve uma queda vertiginosa rumo

a um fracasso espectacular. São do

Tasmânia quase todos os recordes

negativos da Liga alemã: menos vi-

tórias numa época (2); mais derrotas

numa época (28); menos pontos con-

quistados (8); menos golos marcados

(15); mais golos sofridos (108); menor

assistência num jogo em casa (827,

num jogo com o Moenchengladba-

ch). Tem também a maior série de

jogos sem vencer (32), só voltando

aos triunfos na penúltima jornada,

em casa frente ao Borussia de Neu-

nkirchen (que seria o penúltimo clas-

sifi cado) por 2-1.

Nesta época (1965-66) o campeão

seria o TSV Munique 1860 (o seu úni-

co título até hoje), enquanto o Tasmâ-

nia seguia sem surpresa para a II Divi-

são, onde se aguentou até 1973, quan-

do entrou em falência e foi refundado

com outro nome. Actualmente, an-

da pela VI Divisão alemã e só é lem-

brado como uma anedota para go-

zar com alguém que nunca ganha.

Futebol internacionalMarco Vaza

Quando o Bayern Munique subiu à I Divisão, teve a companhia de uma equipa que ficou famosa pelos seus recordes negativos

Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias e campeonatos de futebol periféricos

CLASSIFICAÇÃO3.ª etapa1.º Michal Kwiatkowski (Omega) 14m03s2.º Adriano Malori (Movistar) a 11s3.º Tony Martin (Omega) a 13s4.º Alberto Contador (Tinkoff-Saxo) a 20s5.º Alex Downsett (Movistar) a 25s6.º Jan Barta (netapp-Endura) a 28s7.º Rick Flens (Belkin) a 29s8.º Thomas De Gent (Omega) a 30s9.º Wilco Kelderman (Belkin) m.t.10.º Alexandre Geniez (FDJ.fr) a 33sGeral1.º Michal Kwiatkowski (Omega) 9h03m36s2.º Alberto Contador (Tinkoff-Saxo) a 32s3.º Rui Costa (Lampre-Merida) a 38s4.º Alexandre Geniez (FDJ.fr) a 01m00s5.º Sergei Chernetski (Katusha) a 01m03s6.º Wilco Kelderman (Belkin) a 01m08s7.º Ruben Fernandez (Caja Rural) a 01m20s8.º Simon Spilak (Katusha) a 01m23s9.º Chris Horner (Lampre-Merida) a 01m24s10.º Eduard Prades (OFM) a 01m25s

Ver mais emwww.publico.pt/planisferico

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | 47

ESPAÇOPÚBLICO

EDITORIAL

CARTAS À DIRECTORA

Quem tramou Viktor Ianukovich?

Más notícias? Só depois das eleições

A imprevisibilidade é uma característica

da política ucraniana. Os

acontecimentos dos últimos dias têm

sido a prova disso mesmo. O acordo

entre a oposição e o Presidente

Viktor Ianukovich, patrocinado pela União

Europeia, chegou no dia seguinte à jornada

mais sangrenta desde que os protestos

começaram, há três meses. Surgiu num

momento em que a violência parecia ir

engolir tudo. Mas ainda é cedo para medir

quanto vale esse acordo. Em primeiro lugar,

porque Viktor Ianukovich é um homem de

assinar compromissos, mais do que respeitá-

los. Mas sobretudo porque a rua, a Maidan,

onde se instalou a fronteira entre a liberdade

e a ditadura, não esquece os mortos e exige a

demissão do Presidente.

Sem o apoio dos oligarcas, o Presidente recuou e irritou Moscovo. Tudo está em aberto

Que motivos levaram Ianukovich a recuar?

Mais do que a pressão, tímida, dos ministros

da UE, foi a evidência de que a rua não ia

ceder. E, sobretudo, porque os oligarcas

que patrocinam o Presidente e do qual ele

depende deram sinais de que iriam deixar

de o apoiar. Compreender os oligarcas

é compreender o essencial da política

ucraniana. A maioria dos actores políticos

depende dos oligarcas, que construíram as

suas enormes fortunas com a desagregação

do aparelho produtivo soviético. Os oligarcas

ucranianos, mesmo os que são culturalmente

russófonos, não gostam da Rússia, por terem

medo de serem engolidos pelos oligarcas

russos. Gostam da União Europeia, mas

preferiam não ter de respeitar as regras e o

código de conduta comunitário. E têm medo

de vir a ser atingidos pelas sanções.

Ianukovich cedeu e irritou os seus aliados

russos. Moscovo não se revê no acordo e

cortou os fi nanciamentos dos quais a Ucrânia

depende para não entrar em bancarrota. No

imediato, alguém terá que pagar essa factura.

A crise ucraniana está longe do desfecho.

Abriu-se uma porta à mudança, mas esta

ainda está longe da consolidação.

A justifi cação que foi dada por

Agostinho Branquinho —

“desenvolvimentos informáticos” —

para explicar que os novos cortes

nas pensões de sobrevivência só

iriam ser aplicados a partir de Julho,

ou seja, depois das eleições europeias,

não convenceu. E esta semana veio-

se a saber pelos relatórios do FMI e da

Comissão Europeia que o Governo já terá

apalavrado com a troika novos cortes nos

suplementos e salários da função pública,

de forma permanente. É estranho que uma

decisão que afecta a vida de milhares de

portugueses seja combinada com a troika e

seja desconhecida a nível interno. E talvez

até fosse informação relevante para uma

decisão justa do Tribunal Constitucional,

que nesta altura está a analisar o corte

temporário de salários na função pública.

Talvez um problema informático tenha

impedido o Governo de comunicar

atempadamente o que vai acontecer aos

suplementos e à tabela remuneratória.

Um esclarecimento do Conselho Nacional de Ciência e TecnologiaNa sequência dos artigos de

opinião de José Vítor Malheiros

e Carlos Fiolhais, intitulados,

respectivamente, “A chatice

das pessoas que pensam

pela sua cabeça” e “Ciência à

deriva”, publicados nos dias 18 e

19 de fevereiro de 2014, no jornal

PÚBLICO, vêm os signatários,

membros do Conselho Nacional

de Ciência e Tecnologia,

esclarecer o seguinte:

1. Na sua reunião de 23 de

janeiro de 2014, em que recebeu

informações e esclarecimentos da

Secretária de Estado da Ciência

e do Presidente da Fundação

para a Ciência e a Tecnologia, o

Conselho acordou em publicar

um documento que veio a ser

designado por “Refl exão e

Recomendações do CNCT sobre

As cartas destinadas a esta secção

devem indicar o nome e a morada

do autor, bem como um número

telefónico de contacto. O PÚBLICO

reserva-se o direito de seleccionar

e eventualmente reduzir os textos

não solicitados e não prestará

informação postal sobre eles.

Email: [email protected]

Contactos do provedor do Leitor

Email: [email protected]

Telefone: 210 111 000

as recentes alterações às políticas

nacionais de recursos humanos

em ciência e tecnologia” (www.

cnct.pt).

2. Após a elaboração de

uma versão preliminar desse

documento, entendeu o

Conselho submetê-la a todos

os participantes da reunião de

23 de janeiro, sem exceção,

para que pudessem verifi car a

fi dedignidade da informação

contida no documento e

expressar sobre ele aquilo que

livremente entendessem.

3. Tendo recebido comentários

por parte de vários participantes

da reunião, incluindo

da Secretária de Estado da

Ciência, o Conselho reuniu de

novo presencialmente a 10 de

fevereiro com o fi m de os apreciar.

O Conselho estabeleceu então, por

unanimidade dos 16 membros

presentes, o texto defi nitivo,

onde se corrigiram, em relação

à primeira versão, pequenos

detalhes factuais e se clarifi caram

expressões que poderiam dar

origem a interpretações dúbias.

4. É entendimento unânime

dos signatários que os factos

acima descritos não autorizam a

interpretação de que o Conselho

terá sido indevidamente

pressionado por qualquer

membro do Governo, sujeito a

qualquer tentativa de censura

ou limitado na sua independência

de opinião e nas suas decisões de

Os artigos publicados nesta secção respeitam a norma ortográfica escolhida pelos autores

a manifestar, quando oportuno

lhe parece, ao Governo e à

opinião pública.

5. O Conselho reafi rma a

sua determinação em defender

os interesses da ciência e

da tecnologia em Portugal

e manifesta o seu repúdio por

suposições falsas que põem

em causa a sua independência

e a idoneidade de todos os

participantes neste processo.

Os membros do Conselho

Nacional de Ciência e Tecnologia:

José Miguel Caldas de Almeida,

André Azevedo Alves, Sebastião

Feyo de Azevedo, Miguel Castelo

Branco, António Coutinho,

Mónica Bettencourt Dias, Elvira

Fortunato, João Lavinha, Henrique

Leitão, Pedro Magalhães, Helder

Maiato, Maria Manuel Mota, Pedro

Portugal, João Rocha, Maria João

Valente Rosa, Luis O. Silva, José

Miguel Urbano, Francisco Veloso

48 | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

A ilusão

“As ilusões enlouquecem os homens”

(Máxima hassídica)

Vivemos numa crise provocada

pelo capitalismo fi nanceiro

dos mercados insaciáveis.

Os resgates serviram para

salvação da banca, que investe

nas dívidas soberanas. A

promiscuidade prejudica o

Estado e os cidadãos que pagam

com agonia a austeridade.

Intolerável e insultuoso.

A Islândia não resgatou a banca, mas com

moeda própria a economia recuperou e

cresce a 2,7%. O desequilíbrio e inércia da

zona euro com a política de austeridade

agravaram a crise europeia (UE).

A subversão do projecto europeu pela

deriva neoliberal acentuou assimetrias

e ameaças à coesão. Sem aprofundar a

integração e a democracia, é previsível a

desagregação.

Nas circunstâncias da crise, o discurso

político criativo — com liturgia do sucesso

— procura a mistifi cação da realidade para

iludir a opinião pública da política seguida

que conduz ao empobrecimento. Os

elogios da troika são um insulto à maioria

dos portugueses no país com mais

desigualdades da UE.

O debate político tem estado refém do

Programa de Assistência Económica e

Financeira (PAEF) e da luta partidária,

onde as pessoas são meros instrumentos

num sistema político bloqueado e numa

democracia sem cidadãos em que se violam

promessas eleitorais e direitos legítimos.

As elites autocráticas promovem

o discurso com dramatização da

inevitabilidade das opções sem alternativa e

factos políticos como manobra de diversão

das medidas de austeridade.

A distorção da linguagem criou nova

semântica sustentada no confl ito de

gerações e propaganda, com actos de

dissimulação e manipulação. Tornar o

inadmissível em aceitável para evitar a

contestação.

O desejado programa “além da troika” foi

aplicado como “revolução tranquila” (neo)

liberal sem justiça social. Contudo, a troika

é nefasta à salvação do “protectorado” —

com o profético relógio digital — criando

a ilusão de soberania. Mas é inevitável a

vigilância coerciva da UE

O Estado de “emergência fi nanceira”

sem duração — não declarado e sem força

de lei — tem gerado efeitos perversos

e prepotência com sobreposições de

competências de quem governa pela troika.

A falta de conformidade com a Constituição

enfraquece a legitimidade democrática e a

autoridade do Estado.

O fracasso da política seguida levou à

“recessão e ao incumprimento dos limites

para o défi ce e para a dívida” (Vítor Gaspar).

Foram feitas revisões do PAEF e previsões,

sem adesão à realidade, com degradação da

economia. A fl exibilidade da troika refl ecte-

se na cumplicidade da incompetência.

Todavia, a saída da troika não é o fi m da

austeridade, que passa a ser a fatalidade

da “nova normalidade” — moção da

recandidatura do presidente do PSD — e

exige habituação à pobreza. A excepção

é o crescimento e a prosperidade.

Anormalidade que reclama democracia.

Importante não é ter menos, mas partilhar

melhor, como assegura o Estado social.

Declarar sucesso antecipado do PAEF

é uma falácia deplorável. A ilusão de

não reconhecer o fracasso da política de

austeridade destrutiva — assumida por Vítor

Gaspar na carta de demissão —, que a débil

economia evidencia e os portugueses vão

sentir por muitos anos.

O Governo tem a conivência da Comissão

Europeia que, por conveniência eleitoral,

altera a retórica da crise, anunciando

Portugal como “caso de sucesso” para

disfarçar os erros. Ilusão do sucesso.

É imperativo falar verdade, sem

demagogia, explicando por que houve

mais recessão, trágico desemprego,

vaga de emigração e foi exigido o dobro

dos sacrifícios

necessários,

sem equidade

e subvenções

milionárias. E a

manutenção da

classifi cação de lixo

pelas agências de

rating.

Os cortes nas

pensões, com

efeito após as

eleições europeias,

não escondem o

crescente desespero

da sociedade

fragmentada e

sem confi ança

nos partidos.

Ignóbil encenação

eleitoralista.

O primeiro-

ministro ameaçou

com o segundo

resgate sobre um

acórdão do Tribunal

Constitucional (TC),

por não ser possível

a diminuição

da despesa de

forma sustentada.

Ainda assim, a

despesa cresce,

mesmo com um

enorme aumento

de impostos.

Inaceitável depredar os cidadãos e o Estado!

A previsível saída da troika, sem

programa cautelar, tem custos pelo

eleitoralismo irresponsável acima dos

interesses nacionais. Quem vai pagar o

fi nanciamento com taxas de juro da dívida

pública incomportáveis?

Alguns indicadores melhoraram.

Contudo, não signifi cam ainda a saída

da crise — como vozes autorizadas se

pronunciaram — nem o sucesso da

governação. O “milagre económico” é

ilusão que afronta.

A punição da austeridade inesquecível

— “sacrifício de mais para tão pouco

resultado” (Silva Peneda) — tem sugado a

“alma” lusitana com impostos e confi sco

dos salários e pensões. Mas são intocáveis os

interesses privados. Quais os “limites para

os sacrifícios” (Presidente da República)?

O país está mais endividado pelo peso dos

juros com uma economia mais fragilizada.

A saída da crise exige o equilíbrio entre

o rigor orçamental, a urgência do

investimento produtivo e o fi nanciamento

competitivo das empresas que assegurem

crescimento económico e emprego.

O primeiro-ministro sabe que o sucesso

do ajustamento é mistifi cação, por não

se atingirem os objectivos iniciais. Com a

excepção da correcção do desequilíbrio

externo, as contas públicas não estão

em ordem. O controlo da dívida falhou

pelo descontrolo do défi ce e do PIB

(rácio de 129%, devia ser 115%,) sendo

inexoravelmente insolvível. Só a

renegociação garante sustentabilidade.

Onde está o crescimento previsto de 2,5%?

A taxa de desemprego devia ser 12,5%,

mas é cerca de 20% com os inactivos

disponíveis, o subemprego e os que

emigraram. O “sucesso” do défi ce

não é a meta inicial (3%). Resulta do

empobrecimento, pesada carga fi scal,

receitas extraordinárias e excedente da

O risco grave vem do bloqueio do sistema político. E da ignorância, incompetência e falência ética do regime que degrada a relação entre o Estado e os cidadãos, gerando conflitos e tensões sociais

Por impossibilidade do autor, a crónica de José Pacheco Pereira não se publica hoje

Segurança Social. Haverá sucesso num

esforço brutal de 4,7 mil M€ para apenas 1,4

mil M€ de consolidação orçamental?

O desafi o é assegurar a consolidação

da redução do défi ce depois de repor os

cortes iníquos. E concretizar as reformas

estruturais por fazer ou falhadas,

anunciadas num Guião inconsequente sem

metas.

Porém, os novos desafi os não legitimam

a arrogância das elites do poder a reduzir

o Estado à irrelevância, afectando as suas

funções essenciais o que anuncia uma crise

de segurança.

Ao ouvir a liderança bicéfala do Governo,

tem-se a dolorosa sensação de falsa

convicção da representação da Pátria,

de quem fala em português, mas não

para Portugal. Reescrevem o passado e

projectam miragens do futuro. Fingem que

se decide sem decidir. A ilusão do poder.

Permanece o discurso incoerente

e calculista sobre os consensos e

compromissos — o primeiro-ministro

não precisava do PS, mas quer um

“memorando” —, que são a base de

entendimento para conseguir sustentar

o exigente “pós-troika”. O país reclama

concertação política e social alargada para

não hipotecar o futuro.

A oposição não se deve isentar de

alternativa patriótica e credível ao exercício

do poder. O que bloqueia a alternativa não

é a disponibilidade para governar, mas

as escolhas lúcidas, das grandes opções

para melhor governação de Portugal na

Europa. Ou seja, uma política que assegure

o crescimento económico e proteja os

interesses permanentes e públicos,

servindo os cidadãos.

Os dirigentes políticos não estão

interessados em compromissos, mas na

salvação do clientelismo da partidocracia.

Não se pode acreditar no que dizem nem

no que escrevem. Imaginável distorção dos

valores em que palavra do político não tem

valor. A honra e a dignidade também não. É

gente não-confi ável.

“Como é possível manter um Governo em

que o primeiro-ministro mente?” (Pedro

Passos Coelho em campanha). Resta utilizar

a força da razão, usando o voto como a

verdadeira “arma” da democracia.

O risco grave vem do bloqueio do sistema

político. E da ignorância, incompetência

e falência ética do regime que degrada

a relação entre o Estado e os cidadãos,

gerando confl itos e tensões sociais.

Nesta pesada encruzilhada como Nação e

Estado, é necessário manter a solidariedade,

no compromisso, para enfrentarmos com

coragem e patriotismo o desígnio nacional

que é lutar pelo futuro de Portugal.

Capitão-de-fragata SEF (Res.)

DANIEL ROCHA

Debate Crise e alternativasJosé Manuel Neto Simões

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | 49

BARTOON LUÍS AFONSO

Não é demagogia

Na quarta-feira, o PÚBLICO

online divulgava uma carta

do escritor João Tordo ao seu

pai, o cantor e compositor

Fernando Tordo, que aos 65

anos emigrou para o Recife,

no Brasil, para tentar a vida,

já que a reforma a que tem

direito em Portugal seria de

duzentos e poucos euros, a

que acresce um complemento de reforma

por ter toda a vida profi ssional descontado

dos direitos de autor para a Sociedade

Portuguesa de Autores.

No mesmo dia, o mesmo site do

PÚBLICO online noticiava que o vice-

primeiro-ministro, Paulo Portas, anunciara

que em Março serão apresentadas e

aprovadas em Conselho de Ministro

novas propostas de reformas nas áreas da

“sustentabilidade da Segurança Social”,

da “fl exibilização e requalifi cação da

mão-de-obra do sector público”, da

“racionalização das entidades do Estado,

assim como uma maior efi ciência na

Saúde e na Educação”. (PÚBLICO online

19/02/2014).

Em Novembro, Paulo Portas apresentou

um guião para a reforma do Estado em

que apenas eram manifestadas intenções,

afi rmadas convicções e enunciados

princípios — por exemplo, sobre a

Segurança Social então fi cava prometida

a constituição de uma comissão e o

relançamento do debate sobre introdução

de plafonds e sobre a privatização parcial.

Agora, e na véspera da chegada a Lisboa,

na quinta-feira passada, dos técnicos

da troika, para fazerem a 11.ª avaliação

do cumprimento do memorando por

parte do Governo português, Portas

vem anunciar reformas em que, além

de apontar para medidas que deverão

signifi car nova diminuição de rendimentos

globais dos pensionistas, fala também em

“fl exibilização” laboral dos funcionários

públicos. Mais uma vez, o que é apontado

como terreno para cortar facilmente na

despesa pública são os custos com as

pessoas, quer se trate das despesas com

salários de funcionários públicos, quer da

possibilidade de o sistema público garantir

os compromissos que assumiu com os

pensionistas.

A grandiloquência com que os

governantes em Portugal enchem a boca

com a expressão “reforma do Estado”

resvala depois para a percepção, fácil

à observação mais cuidada, de que

não há real intenção de reestruturar o

funcionamento do Estado, apenas há

intenção de baixar os custos sociais do

Estado. E a dúvida que se coloca a quem

governa, bem como as divergências

entre os partidos que desempenham à

vez a governação, é a de saber até onde

consegue cortar.

Ou seja, até onde podem diminuir as

despesas do Estado com os serviços sociais

sem que a sociedade portuguesa venha

a passar por situações de ruptura, sem

desencadear uma convulsão social e sem

que haja um gritante e clamoroso aumento

da miséria, numa sociedade em que cerca

de 40% da população vive em situação de

pobreza e em que essa percentagem tem

sido diminuída em cerca de 25% pelas

prestações sociais asseguradas pelo Estado.

Assim, a cada avaliação, a cada momento

negocial com os credores — representados

pela Comissão Europeia, o Banco Central

Europeu e o Fundo Monetário Internacional

— repetem-se as manifestações de intenção

e vão-se concretizando pequenos passos

na consumação do que é o desestruturar

do Estado-providência, construído em

Portugal nos últimos 50 anos, desde o

último Governo do Estado Novo, presidido

por Marcello Caetano, mas desenvolvido

sobretudo depois do 25 de Abril.

Pode parecer demagogia, pois o assunto

é tendente a provocar a comoção fácil,

mas parece-me gritante a necessidade

de relacionar o facto de no mesmo dia

ser divulgada a informação de que se

prepara mais cortes na Segurança Social —

eufemisticamente denominados “reforma

de Estado” — e a notícia de que uma fi gura

da música e da cultura portuguesa como

Fernando Tordo emigra para o Recife, pois

a pensão a que tem direito em Portugal é

impeditiva da sua sobrevivência.

Independentemente de o nome de

Fernando Tordo me trazer à memória

emoções associadas a canções simbólicas

como Cavalo à

solta e Tourada,

mesmo sabendo

que há “toneladas

de pessoas”

em Portugal a

tentar sobreviver

com pensões

desesperadamente

baixas, ainda que

saiba que não são

as actuais medidas

de austeridade as

responsáveis pelas

baixas reformas

em Portugal,

não deixa de me

ocorrer fazer duas

perguntas: por que

será que, 40 anos

depois do 25 de

Abril, a capacidade

de assegurar

um modelo de

desenvolvimento

viável em Portugal

tem de passar pelo

equacionar de cortes na despesa social do

Estado? Que têm os partidos da direita e

da esquerda, que integraram governos ou

que a eles se opuseram, a dizer sobre o

facto de ao longo de 40 anos a sociedade

portuguesa ter sido incapaz de assegurar

a sobrevivência digna de todos os

portugueses, incluindo os mais velhos?

Jornalista. Escreve ao sá[email protected]

Até onde podem diminuir as despesas do Estado com os serviços sociais sem que a sociedade venha a passar por situações de ruptura?

O herói dos gordos

Desde Julho de 2009, 4,5

milhões de pessoas viram

uma palestra de uma hora e

meia no YouTube. Em Sugar:

The Bitter Truth, Robert H.

Lustig mostra que a frutose é

um veneno, ao contrário de

outros açúcares. Não veja no

YouTube: vá directamente ao

site da University of California

Television, sem anúncios, sem problemas de

transmissão e cheio de outras coisas boas.

A palestra não é dirigida ao grande

público e ganha com isso. Sem

condescendência ou simplifi cações, Lustig

explica por que é que a obesidade está a

aumentar tanto em todo o mundo.

Estou a ler o livro dele, Fat Chance, de

2012, que, apesar de ser mais popularucho

e propagandístico, é o melhor livro sério

sobre a obesidade que li desde os livros de

John Yudkin: This Slimming Business, de

1958, Pure, White and Deadly: The Problem

of Sugar, de 1972, e Eat Well, Slim Well, de

1982. Este último foi o primeiro livro dele

que li, no ano em que foi publicado. Se hoje

sou obeso (tendo já sido morbidamente

obeso) foi por não ter sempre seguido os

sábios e efi cazes conselhos que ele me deu.

Lusting cita Yudkin, com razão, como

um profeta. Uma entrevista com Lustig

era o mais emalhado do New York Times

de quinta-feira. Vale a pena ler. Procure

“learning to cut the sugar” no Google e

aterrará lá imediatamente, grátis.

Engordar é cada vez mais barato, fácil e

automático. A culpa é do capitalismo e da

ignorância. A obesidade é infi nitamente

lucrativa para quem nada ganha — e só

perde — com ela.

Miguel Esteves CardosoAinda ontem

São José AlmeidaA semana política

50 | PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014

ERC: necessária e independente?

Genéricos de “pedra e cal”

Uma entidade reguladora para a comu-

nicação social é vista, por vezes, como

intrusiva ou mesmo desnecessária face a

alternativas como os mecanismos de au-

torregulação ou a intervenção dos tribu-

nais. A comissão que, em 2011, a pedido

do então ministro Relvas, estudou “o con-

ceito de serviço público de comunicação

social” propôs a sua extinção. Posterior-

mente, o presidente do Governo Regional

da Madeira seguiu o mesmo caminho.

Para contrariar esta opinião, não basta naturalmente

citar os exemplos estrangeiros. É verdade que,

embora com modelos diferentes, existem entidades

de regulação dos media em todos os países europeus.

E, entre muitos outros exemplos possíveis, nos EUA,

a FCC, que abrange os setores das comunicações e da

comunicação social, completa em breve 80 anos.

Na Europa, a regulação da comunicação social

por uma autoridade administrativa independente

surgiu, nos anos 70 e 80 do século passado, na

sequência de uma tendência emergente em outros

setores económicos, associada ao licenciamento, com

independência, dos operadores privados de televisão.

As entidades reguladoras assumiriam rapidamente

outras tarefas que não poderiam ser atribuídas aos

governos, à administração pública deles dependente

ou aos tribunais, como a fi scalização do cumprimento

pelos operadores de rádio e de televisão das suas

obrigações em matéria de conteúdos e de pluralismo,

a independência dos operadores públicos face ao

poder político, as queixas sobre incumprimento do

direito de resposta ou falta de rigor informativo, a

aplicação de coimas, entre muitas outras.

É verdade que, em alguns países onde as entidades

reguladoras não dispõem de competências no

domínio da imprensa, o que não é o caso de Portugal,

se têm desenvolvido experiências de regulação

conjunta dos media e das comunicações, como

acontece, por exemplo, na Grã-Bretanha e em Itália.

Em Espanha, o Governo de Rajoy criou mesmo

recentemente uma entidade reguladora única para

todos os setores económicos, mas a oposição já

anunciou que, quando regressar ao poder, porá

cobro a esta experiência insólita e profundamente

errada. De qualquer forma, a convergência entre

telecomunicações, media e Internet, com todas as

suas consequências, conduziu a uma progressiva

articulação entre a regulação das redes e a regulação

dos conteúdos. No entanto, tem sido entendido

que essas duas formas de regulação aconselham

uma separação das instituições, uma vez que nas

comunicações predomina uma lógica económica,

enquanto na comunicação social é reconhecida

prioridade a critérios relativos aos direitos,

liberdades e garantias dos cidadãos. Aliás, o CSA

(regulador francês do audiovisual) abrange mesmo

as competências relacionadas com as comunicações

eletrónicas que afetem exclusivamente os media.

Outra crítica frequentemente ouvida sobre a

ERC é a da sua alegada obediência a interesses

partidários, uma vez que, dos cinco membros da sua

direção, quatro são designados por maioria qualifi cada

de 2/3 dos deputados da Assembleia da República, e o

Oano de 2014 ainda vai no início, mas fi ca,

para já, marcado por um acontecimento:

o fi m da patente do Viagra. Após 20 anos

de exclusividade comercial, o mercado

abre as portas à introdução de genéricos

do afamado “comprimido azul”. Esta

alteração tem claras repercussões para

os utentes que carecem de tratamentos

de disfunção erétil e que, com isto,

estão a ver os preços da substância

ativa do Viagra baixar para metade. Porém, como

reage o mercado farmacêutico ao fi m da patente de

um medicamento? Através de estudos recentes, é

possível constatar que a quota de mercado da marca

patenteada tende a cair de forma pronunciada logo

nos primeiros meses. Esta queda não é homogénea,

varia entre fármacos e entre classes terapêuticas, mas

é claramente visível. Em alguns casos, e em menos de

um ano, a marca original vê a quota de mercado cair

para valores inferiores a 20 por cento.

De uma maneira geral, o mercado do medicamento

em Portugal tem-se contraído, valendo, em 2013, pouco

mais de 1,8 mil milhões de euros. De 2009 para 2013, o

setor perdeu 27 por cento do seu valor, com quebra de

apenas seis por cento no número de embalagens. Em

2013, 27 por cento das embalagens de medicamentos

vendidos em Portugal eram genéricos, valor que

corresponde a um aumento de 68 por cento desde

2009. Com o fi m da patente do Viagra, genéricos devem

somar ainda mais pontos e elevar a quota de mercado.

Para os laboratórios, o desenvolvimento de

novos fármacos é um negócio que dá resposta às

necessidades da humanidade. Porém, o caminho

é árduo: antes de poder lançar no mercado

uma molécula nova, que funcione e seja segura,

um laboratório tem que investigar milhares de

moléculas. Este processo é complexo, demorado

e repleto de incertezas. Depois, segue-se, ainda, o

processo de licenciamento.

Para benefi ciar de novos fármacos, a sociedade tem

que garantir que os laboratórios continuam a investir

no seu desenvolvimento. E isso tem-se conseguido

com a atribuição de direitos de patentes que conferem

aos seus detentores até 20 anos de exclusividade

comercial para os fármacos em questão, cobrando os

laboratórios o preço que maximizará o seu retorno.

Quando o período de exclusividade comercial

termina outros laboratórios podem comercializar

o mesmo princípio activo e, assim, surgem os

comummente designados “medicamentos genéricos”.

Os laboratórios de genéricos replicam fármacos

conhecidos, não incorrem no risco e incerteza

envolvidos no desenvolvimento e licenciamento

de novas drogas e, por isso, podem vendê-los

signifi cativamente mais baratos, logo mais acessíveis.

À medida que os genéricos conquistam quota, as

marcas têm usado a baixa do preço como principal

mecanismo para tentar contrariar a perda da quota

de mercado para os genéricos. Não lhes resta outra

alternativa: o consumidor começa, defi nitivamente,

a render-se aos preços dos genéricos e as marcas não

podem fi car indiferentes a este novo paradigma.

Professor universitário e vice-presidente do Conselho Regulador da ERC Docente do IPAM - The Marketing School

quinto é cooptado. Desta forma, sublinham os críticos

deste modelo constitucional, as decisões da ERC

resultariam da vontade das duas principais formações

políticas, que assim repartiriam o poder deliberativo.

A análise do funcionamento da ERC,

nomeadamente das deliberações aprovadas, permite,

no entanto, outras conclusões. Se tivermos em

conta dados do atual mandato, desde o seu início,

em novembro de 2011, até fi nal de 2013, o Conselho

Regulador da ERC já aprovou 1031 deliberações, das

quais 927 foram aprovadas por unanimidade, com

percentagens anuais todavia decrescentes (94,1% em

2011, 93,8% em 2012 e 85,6% em 2013).

Acresce que, se tomarmos apenas em consideração

os temas que não mereceram a unanimidade dos

dirigentes da ERC, poder-se-á concluir que, dessas

104 deliberações, a esmagadora maioria (97) foi

aprovada com votações com maiorias diversas entre

si e versavam temas como o direito de resposta,

as competências da ERC e da CNE para avaliarem

o pluralismo durante as campanhas eleitorais, as

alterações de domínio ou de perfi l de rádios locais,

as imagens violentas ou chocantes, os direitos dos

jornalistas, o rigor informativo e o pluralismo das

fontes, entre outros. Em contraste, apenas sete (em

1031!) dividiram os membros do Conselho Regulador

de acordo com as alegadas “origens partidárias”. No

entanto, os temas dessas deliberações relacionavam-

se com quatro casos de cessão das licenças de rádios

locais, uma admoestação a um operador televisivo por

incumprimento da programação anunciada, o contrato

de concessão da rádio pública no que respeita às

obrigações de emissão dos centros regionais e — aquele

que representou o caso mais polémico e o único destes

com contornos políticos — a queixa contra o ministro

Relvas por pressionar jornalistas do PÚBLICO.

Encarar a ERC como a expressão dos interesses

político-partidários é assim profundamente errado.

No anterior mandato, todos os casos mais polémicos

— queixa contra o Jornal Nacional de sexta-feira

da TVI, fi m deste serviço noticioso, acusações de

pressões políticas do Governo na cobertura noticiosa

dos incêndios pela RTP, artigo no jornal Expresso

acusando o Governo de interferir na comunicação

social, etc. — mereceram votações com maiorias

alargadas em que nunca existiu um suposto

alinhamento partidário. No atual mandato, em várias

queixas relativas a eleições autárquicas, os membros

do Conselho Regulador votaram quase sempre

unanimemente. A deliberação que condenava o

Correio da Manhã, após queixa do antigo primeiro-

ministro Sócrates, recentemente analisada, apenas

não obteve o voto favorável do presidente da ERC.

Nas congéneres europeias da ERC, a forma de

designação dos dirigentes varia entre a eleição pelo

Parlamento por maioria qualifi cada, a indicação pelo

Governo ou pelo Presidente da República e um modelo

misto em que se conjugam algumas destas formas.

Não há exemplos de representação ou de intervenção

das entidades reguladas, ou seja, das empresas e dos

grupos de comunicação social na escolha dos membros

da entidade reguladora. Precisamente porque é a

independência face aos regulados, face às empresas

do setor, que constitui, sem dúvida, o maior desafi o

da ERC e do Conselho Regulador que a dirige.

Debate Comunicação social Tribuna Mercado farmacêuticoAlberto Arons de Carvalho Filipe Sampaio Rodrigues

Não há exemplos de repre-sentação ou de intervenção das entidades reguladas na escolha dos membros da entidade reguladora. Precisa-mente porque é a indepen-dência face aos regulados que constitui o maior desafio da ERC e do Conselho Regulador que a dirige

PÚBLICO, SÁB 22 FEV 2014 | 51

MIGUEL MADEIRA

Representação nacional e hiperidentidade

Obstinada oposição

No quadro do esforço de difusão

da cultura feita em Portugal,

ou feita por portugueses, no

estrangeiro, a experiência tem-

me ensinado que a maneira

mais efi caz de promover

a cultura portuguesa, por

improvável que pareça, não é

acenar com a bandeira do país

de cada vez que um concerto

de um músico português se realiza, um livro

de um autor é editado no estrangeiro ou um

espectáculo é apresentado num teatro de

uma qualquer cidade do mundo.

Embaixadas culturais, festivais nacionais

e manifestações afi ns têm, a médio e longo

prazo, consequências limitadas. Não duvido

que sejam formas de fazer viajar artistas

e criadores que de outra forma teriam

difi culdade em o fazer, que servem para

mostrar o que “por cá” se vai fazendo. Para

um país que de forma bem objectiva se

encontra na periferia, todos os esforços são

válidos. De igual forma, invenções como

a “marca Portugal” traduzem o vazio de

uma certa visão do que o posicionamento

cultural de um país deve ser e do que a

criação artística contemporânea é hoje em

dia. Criar uma marca no domínio da cultura

mais não é do que simplifi car o que não é

simplifi cável. A cultura de um país, os seus

artistas e uma história acumulada não cabem

dentro de nenhuma marca.

A hiperidentidade de que Eduardo

Lourenço fala recorrentemente em

relação ao povo português parece assumir

dimensões inéditas. Referindo-se às

reacções hiperbolizadas aos sucessos de

Cristiano Ronaldo ou à morte de Eusébio,

este mecanismo de compensação poderá

igualmente explicar a avalancha de rubricas

na imprensa e na televisão dedicadas aos

portugueses de sucesso no estrangeiro

(já não são os estrangeirados que querem

mudar o país, são os que fi cam que querem

que os estrangeirados o venham mudar), aos

movimentos e “plataformas” dedicadas às

diferentes diásporas ou, mais recentemente,

a histeria em torno dos quadros de Miró.

As lógicas da representação nacional

mudaram nas últimas décadas, fruto da

maior facilidade de circulação, das novas

formas de difusão da informação, fruto da

multiplicação de redes, do efeito long tail

— que tem nas indústrias culturais uma das

suas mais interessantes expressões —, de um

mercado de trabalho global, da convergência

dos discursos artísticos ou de preocupações

geracionais transnacionais. Uma certa ideia

de representação nacional consubstanciou-se

no século 20 nas políticas de soft power dos

Estados Unidos no pós-guerra, na abertura

de delegações do British Council pelo mundo

ou até na visita de Mona Lisa, por empréstimo

Mais meia página dedicada

em 19/02/2014 ao cavaleiro

da ortografi a imutável.

Os mesmos fundamentos

que servem também para

fundamentar o contrário.

De novo o fantasma do

caos na ortografi a que não

se vê em lado nenhum.

Sobretudo o horror à

supressão das consoantes mudas com

o exemplo do aluno que leu — mal — a

palavra “conceção” parecida com a palavra

“concessão” que se escreve de modo

diferente. Ora a nossa ortografi a, com ou

sem acordo ortográfi co (AO), está prenhe

de palavras homófonas e homógrafas e não

vivemos no caos. Os brasileiros escrevem

“concepção” porque assim a pronunciam.

Escrevem “fato” e nós “facto”, porque não

usamos o seu vocábulo “terno” pois que,

por mais ternurento

que seja, os nossos

fatos já não incluem

o colete, mas

apenas casaco e

calças. A tese da

consoante abrir a

vogal antecedente

nem sempre valida

o argumento

(por exemplo,

“atriz”, “aptidão”,

“atividade”, etc.).

Não me sai

da memória há

décadas a cena de vergonha por que

passei numa aula da escola primária

ao ler em voz alta um texto indicado

pela professora e pronunciei “êchôdo”.

Risada geral e o ridículo perante toda

a turma e, desde então, interrogo-me

por que o vocábulo “êxodo” não se

escreve “éizodo”. Tal como a palavra

“quente” que não se pronuncia assim

em “frequente”. É a crítica que faço

ao AO por não ter simplifi cado mais.

Admito não haver ainda condições para

adotar carateres para os diferentes sons

representados pelas vogais “a”, “e”, e “o”.

Mas já se podia impedir que carateres

diferentes representem o mesmo som:

“ç”, “ch”, “s”, “x”, “z”.

O AO não se impõe a ninguém salvo nos

exames ofi ciais de português. Cada um

escreve como entender e se faça entender.

Fernando Pessoa recusou a revisão

ortográfi ca de 1911 e abominava que se

escrevesse “Rei” sem “y”. Nenhum mal

veio ao mundo, mas os opositores do AO,

numa atitude fundamentalista, querem

que este seja enterrado.

Bancário jubilado

do Governo francês, a Washington em

1963. Estes esforços eram ainda meras

apresentações, mostras, da produção cultural

destes países, no sentido mais restrito do

termo. Hoje em dia, este tipo de acções tem a

sua caricatura na anacronia que constituem

os pavilhões nacionais na Bienal de Veneza

(anacronia esta só ultrapassada pelo

esforço de alguns países em desconstruir

o princípio da representação nacional nos

seus próprios pavilhões).

No século 21, o esforço de representação

nacional ofi cial tem de ser feito de forma

bem mais inteligente e seguramente

menos identitária. O que me parece mais

importante neste momento é a necessidade

de as instituições responsáveis pela

representação assegurarem o carácter

universalista da sua actuação, no sentido

em que são veículos privilegiados de valores

partilhados entre diferentes países. Questões

como a integração social, as migrações e a

mobilidade, o diálogo intercultural, a relação

entre gerações são algumas das dimensões

que têm de ser acrescentadas à actuação

destas instituições. São dimensões que

têm de ser colocadas ao mesmo nível do

ensino e difusão da língua ou das propostas

artísticas e culturais em sentido restrito. É

esse carácter universalista que ultrapassa

estigmas, que pulveriza identidades

unidimensionais e que potencia as redes

de cidadãos, de artistas, organizações

culturais, de empresas ou de associações.

Nesse sentido será interessante observar

o que o British Council, o Goethe Institut

fazem, cuja actuação se estende bem para lá

da mera difusão da língua ou da promoção

da sua classe artística. De igual forma, a

importância dos

adidos culturais

qualifi cados

não pode ser

menosprezada.

Esta evidência, que

tem custos pouco

signifi cativos, pode

muito facilmente

fazer a diferença

necessária na

circulação e

passagem dos

artistas e criadores

portugueses nas

principais capitais

mundiais.

A um nível não

ofi cial, assistimos a

uma dinâmica bem

diferente e bem

mais entusiasmante.

Os curadores

portugueses que

começam a trabalhar

regularmente no

estrangeiro, que

são convidados

para dirigir museus

Universos artísticos singulares, competência, talento, são as razões que podem fazer de Portugal um país de sucesso e culturalmente relevante

O AO não se impõe a ninguém salvo nos exames oficiais de português

ou departamentos de museus prestigiados

um pouco por todo o mundo, as dezenas

de artistas visuais que todas as semanas

inauguram ou têm obras em exposições em

galerias e instituições internacionais — e em

França este ritmo é bastante respeitável —, as

pequenas companhias de dança ou de teatro

que vão conseguindo circular pela Europa,

os escritores portugueses traduzidos nos

principais mercados livreiros europeus,

assim como na América do Norte e do Sul,

são exemplos eloquentes de uma vitalidade

não menosprezável.

Vivemos hoje num país com uma

produção artística signifi cativa (com défi ces

de circulação), com uma classe artística

com imaginários plurais, ricos, com traços

identitários específi cos, num quadro cada

vez mais global e cosmopolita. Devemos

trabalhar, e acreditar, por uma normalidade

que, não tenho a menor dúvida, nos coloca

ao nível dos países mais interessantes e

dinâmicos. Obviamente, devemos continuar

a reclamar todos os apoios (fi nanceiros mas

também o acompanhamento qualifi cado

das nossas instituições culturais) que os

nossos artistas merecem. O Estado central,

as autarquias, as diferentes instituições

culturais têm um papel fundamental e

não podem jamais demitir-se das suas

responsabilidades. Gostaria de acreditar que

venho de um país que não tem que se pôr

em bicos de pés, que não nos obriga a acenar

permanentemente com a nacionalidade,

expressão de toda uma insegurança

identitária que não tem razão de existir.

Sem prejuízo de um pluralidade de oferta

e de realidades, não há situações em que me

sinta mais orgulhoso de ser português em

França como quando vejo um artista como

o Norberto Lobo a tocar numa pequena,

mas cheia, sala num concerto promovido

por um respeitado promotor alternativo de

música em Paris ou os Buraka Som Sistema

a encherem a Gaitê Lyrique ou o Teatro

Praga no MC93 em Bobigny. Estes artistas

enchem salas porque são grandes artistas,

porque souberam criar os seus próprios

universos artísticos, com certeza com

inúmeras referências portuguesas, mas

fundamentalmente porque o que têm para

propor é universal. Universos artísticos

singulares, competência, talento, são essas

as razões que podem fazer de Portugal um

país de sucesso e culturalmente relevante

— se é que já não o é.

Gestor cultural

Debate Cultura em Portugal Debate Acordo ortográficoMiguel Magalhães M. Gaspar Martins

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ESCRITO NA PEDRA

“Paz na terra aos homens de boa vontade. Isto é, paz para muito poucos”Millôr Fernandes (1923-2012), escritor e humorista brasileiro

SÁB 22 FEV 2014

Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: António Lobo Xavier, Cláudia Azevedo, Cristina Soares, Pedro Nunes Pedro E-mail [email protected] Lisboa Edifício Diogo Cão, Doca de Alcântara Norte, 1350-352 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA); Fax: Dir. Empresa 210111015; Dir. Editorial 210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Praça do Coronel Pacheco, nº 2, 4050-453 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade, Distribuição 226151011 Madeira Telef.: 934250100; Fax: 707100049 Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA. Sede: Lugar do Espido, Via Norte, Maia. Capital Social €50.000,00. Detentor de 100% de capital: Sonaecom, SGPS, S.A. Impressão Unipress, Travessa de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350 Arcozelo, Valadares; Telef.: 227537030; Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA, Estrada Consiglieri Pedroso, 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Telf.: 214345400 Distribuição Logista Portugal – Distribuição de Publicações, SA; Lisboa: Telef.: 219267800, Fax: 219267866; Porto: Telef.: 227169600/1; Fax: 227162123; Algarve: Telef.: 289363380; Fax: 289363388; Coimbra: Telef.: 239980350; Fax: 239983605. Assinaturas 808200095 Tiragem média total de Janeiro 35.772 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa do Controlo de Tiragem

Reclamações contra erros no exame de admissão travam reforço p16/17

Nomeados pela primeira vez cardeais do Burkina Faso e do Haiti p24/25

Apesar da quebra do mercado espanhol, os galeristas estão felizes p26

Mil inspectores tributários à espera para avançarem

Papa dá mais peso às periferias no Colégio dos Cardeais

A Arco está outra fez numa fase ascendente

Euromilhões

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OPINIÃO

A decadência: o paradoxo da imitação

Educados na hipocrisia

e na imoralidade pelo

Catolicismo, na resignação

e na dependência do Estado

pelo Absolutismo e no

desprezo pelo trabalho pelas

Conquistas, os portugueses não

se recomendavam à “geração de

70”. A “geração de 70”, que veio a

público numa época de recessão

— provocada pela diminuição

das remessas do Brasil —, não

encontrava nada de redentor na

sociedade que a Regeneração

(de 1851) fi zera. Para Eça ou para

Ramalho, Portugal não passava de

uma imitação da França, traduzida

em calão ou em vernáculo. A

grande obra de Eça, Os Maias,

acaba na Avenida da Liberdade,

uma triste cópia de um boulevard,

com amargas considerações sobre

o carácter postiço da civilização

indígena e da classe média que se

passeia na rua, ociosa e ridícula.

Mas se os romances eram

copiados da literatura francesa e

também a poesia, os costumes,

a moda e o próprio regime da

Carta e do Acto Adicional, vale a

pena dizer que desde o princípio

Vasco Pulido Valente

do século sempre o tinham

sido. A “inteligência” educada

e cosmopolita pedia um país

“forte” e, sobretudo, “original”,

mas não se lembrava (excepto

no caso muito particular de Eça)

que ela mesma se alimentava da

França e um pouco da Inglaterra

e da Alemanha. Sonhando com

arroz no forno e com o Portugal

típico do Senhor D. João VI,

“modernizado” ou “regenerado”,

queria simultaneamente um

Portugal que não fosse diferente

da Europa. O que hoje se chama

“identidade nacional” coincidia,

para ela, com uma “identidade”

que se procurava nas grandes

potências do século. A imitação

acabava assim por se tornar na

nossa principal fraqueza e na

única verdadeira via de salvação.

Este paradoxo continua a

acompanhar os portugueses. Por

um lado, não há um cantinho da

nossa vida que não se compare

com a Europa e não há triunfo

que não consista em encontrar

semelhanças entre as coisas de

lá e as coisas de cá. Por outro

lado, os governos proclamam a

nossa singularidade atlântica ou

(nos casos de incurável loucura)

mundial. O país balança entre

um “papel” na Europa, que não

encontrou, e um “papel” em

Angola, no Brasil ou numa selva

qualquer da África ou da Ásia,

que manifestamente o excede.

De qualquer maneira, como

lamentava Eça, nesta apregoada

época de “globalização”, Portugal

está “desempregado”. Ninguém

precisa dele e ele precisa

urgentemente de sair da sua velha

irrelevância. Imitando, sem imitar,

claro. Como de costume e com os

resultados do costume.

JOÃO GASPAR

A Fundação para a Ciência e a Tec-

nologia (FCT) vai atribuir mais 300

a 350 bolsas de doutoramento e

pós-doutoramento a candidatos do

concurso individual de 2013, diz um

artigo da newsletter FCT de ontem.

O aumento responde ao desejo de

Miguel Seabra, presidente da FCT, de

ter mais dinheiro, quando assumiu

há semanas que tinham sido atribuí-

das poucas bolsas.

“O reforço do número de bolsas

deverá compreender aquelas que

virem revertida a decisão de não-fi -

nanciamento, na sequência de uma

audiência prévia, e aquelas que vie-

rem a ser fi nanciadas em face das

novas disponibilidades orçamentais

da FCT”, lê-se no artigo. A novidade

está de acordo com os “12 milhões de

euros” que a FCT terá disponível pa-

ra aplicar já nas próximas semanas,

anunciados pelo ministro da Ciência,

Nuno Crato, no Jornal de Negócios.

Metade destes 12 milhões de euros

é proveniente do Ministério da Eco-

nomia, que se comprometeu a pagar

anualmente as quotas à Agência Es-

Haverá mais 300 a 350 bolsas de doutoramento e pós-doutoramento

pacial Europeia (ESA). Os outros seis

milhões vêm de fundos comunitários

e de outras verbas.

Segundo a FCT, seis milhões de eu-

ros deste pacote vão ser distribuídos

pelas 140 unidades de investigação

com melhores resultados (do uni-

verso de 293 unidades), para serem

aplicados em recursos humanos.

Desde Janeiro que o ministério e

a FCT são alvo de duras críticas da

comunidade científi ca devido aos re-

sultados preliminares do concurso

de 2013 das bolsas individuais.

Ao todo, somando as bolsas indivi-

duais de doutoramento e pós-douto-

ramento, foram atribuídas 531 bolsas

em Janeiro. Se a estas se somarem as

bolsas atribuídas no âmbito dos pro-

gramas de doutoramento FCT (431

bolsas), o total é de 961 bolsas. Para

o concurso de 2012, foram atribuídas

1875 bolsas individuais, quase o do-

bro. Agora, como os outros seis mi-

lhões de euros do pacote anunciado

por Crato, o número total de bolsas

atribuídas rondará as 1311.

Quando foi ouvido na comissão

parlamentar de Educação, Ciência

e Cultura a 24 de Janeiro, Miguel Se-

abra referiu que a taxa de atribuição

de bolsas individuais não tinha sido

sufi ciente e defendeu mais dinhei-

ro. “Os compromissos plurianuais

no passado [da FCT] tinham uma

previsão de orçamento que não se

verifi cou e houve um reequilíbrio”,

disse, o que obrigou a um corte em

alguns sectores como o das bolsas.

Política científicaNicolau Ferreira

FCT vai voltar a olhar para os resultados de candidaturas do concurso de 2013 e atribuir mais seis milhões de euros em bolsas

Colecção Canto&AutoresSão nomes como Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, Jorge Palma, Né Ladeiras, José Jorge Letria ou Amélia Muge que fazem a diversidade do nosso cancioneiro. A colecção Canto&Autores presta homenagem a artistas que criaram e interpretaram algumas das mais ricas obras musicais portuguesas. Ao todo são 13 volumes, compostos por um livro, com capas ilustradas por André Carrilho e enriquecidos com fotografias de época, acompanhado de um CD. Cada volume traz uma compilação inédita e preparada pelos próprios artistas, à excepção do volume de homenagem a Zeca Afonso, que constitui uma homenagem à sua obra, interpretada por José Mário Branco, Amélia Muge e João Afonso. Os volumes dedicados a Vitorino, Fernando Tordo e Janita Salomé incluem alguns temas inéditos dos artistas. Não perca uma selecção rigorosa de grandes nomes que fazem a história da música portuguesa, todos os Sábados, com o PÚBLICO, por mais €6,95

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Os que cantam sem medo

Adriano Correia de Oliveira

Cantor e compositor, Adriano Correia de Oliveira destacou-se como intérprete do fado de Coimbra e cantor de intervenção. Nasceu no Porto a 9 de Abril de 1942, mas ainda recém-nascido foi residir em Avintes, onde cresceu “entre videiras, cães domésticos e belas alamedas arborizadas com vista para o rio”. Estudou Direito na Universidade de Coimbra e foi aí que desenvolveu o seu gosto pela música, em particular pelo fado. Ligado ao movimento antifascista estudantil e membro do Partido Comunista Português, lançou, em 1963 o seu primeiro EP, Fados de Coimbra, que se tornaria um hino da resistência dos estudantes à ditadura. Os ideais da liberdade, da democracia e do socialismo estiveram sempre presentes nos cerca de noventa temas que gravou até 1980 e que constituem uma das mais ricas obras musicais do século XX português.

Vitorino

Vitorino Salomé Vieira, ou apenas Vitorino, como é mais conhecido, nasceu na vila alentejana de Redondo, a 11 de Junho de 1942, no seio de uma família de músicos. Aos 20 anos mudou-se para Lisboa, onde se associou à noite, às tertúlias e aos prazeres boémios. Presente em alguns momentos-chave da música popular portuguesa, como o célebre concerto de Março de 1974, I Encontro da Canção Portuguesa, que decorreu no Coliseu dos

Recreios, Vitorino foi companheiro de palco e de canções de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Fausto, Sérgio Godinho e outros nomes fundamentais da música portuguesa dos últimos trinta anos. O seu disco de estreia em nome próprio começou a rodar nas rádios em 1975, do qual fazia parte o êxito Menina Estás à Janela.

Fernando Tordo

Natural de Lisboa, onde nasceu a 29 de Março de 1948, Fernando Tordo é um verdadeiro homem das artes. Conhecido como cantor, compositor, músico e intérprete, dedica-se também à escrita e à pintura. Começou por aprender guitarra com apenas 12 anos, mas a sua carreira profissional começou, em 1965, no grupo Os Deltons. Três anos mais tarde, integrava o grupo Sheiks, onde substituiu Carlos Mendes, com funções de cantor e guitarrista. Foi, no entanto, a solo que mais se destacou. Em 1969, participou pela primeira vez no Festival RTP da Canção com o tema Cantiga. Não venceu mas conheceu José Ary dos Santos, poeta com que viria a trabalhar e compor algumas das músicas mais emblemáticas do nosso cancioneiro como Tourada, Estrela Tarde, Lisboa Menina e Moça ou Cavalo à Solta. Muitas das suas criações destinaram-se a outros intérpretes como Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, Simone de Oliveira ou Mariza.

Jorge Palma

Nasceu em Lisboa, a 4 de Junho de 1950. Tinha seis anos quando iniciou os estudos de piano ao mesmo tempo que aprendia a ler e a escrever, tendo realizado a primeira audição no Conservatório Nacional com oito anos. Foi durante a adolescência que se começou a interessar por rock n’ rol e no final da década de 1960 acabou por integrar o grupo Black Boys e, posteriormente, Sindikato. Em 1975, após regressar a Portugal, gravou o seu primeiro álbum, intitulado Com uma Viagem na Palma da Mão, com canções compostas durante o exílio político em Copenhaga. Mais tarde, durante a década de 90, suspendeu a gravação de composições originais para se dedicar à reinterpretação da sua obra, às colaborações e participações com diversos artistas e à realização de inúmeros concertos pelo país.

Luís Cília

Avante Camarada é talvez o tema mais conhecido de Luís Cília, uma vez que se tornou num segundo hino do Partido Comunista Português, mas este cantor e compositor, nascido em Nova Lisboa, Angola, em 1943, tem uma obra bastante extensa que conta com dezoito discos, alguns dedicados exclusivamente a poetas, tais como Eugénio de Andrade, Jorge de Sena ou David Mourão Ferreira. Exilado em França, onde viveu entre 1964 e 1974, Luís Cília foi um dos primeiros cantores a denunciar a guerra colonial e a

falta de liberdade em Portugal. Na capital francesa, estudou guitarra clássica com António Membrado e composição com Michel Puig. Durante este período, realizou recitais em vários países pela Europa e depois do seu regresso a Portugal, continuou a gravar discos, como compositor e intérprete e a realizar recitais. Nos últimos anos, tem-se dedicado apenas à composição, nomeadamente para teatro, bailado e cinema.

Amélia Muge

Maria Amélia Salazar Muge, conhecida por Amélia Muge, nasceu em Moçambique em 1952 e vive em Portugal desde 1984. Cantora, compositora e instrumentista, a sua música é caracterizada pela tradição e inovação, tendo como ponto de partida a música tradicional portuguesa e africana. Além do seu trabalho a solo, tem colaborado, ao longo do seu percurso, com diversos autores nacionais e internacionais e tem cantado, tanto poemas da sua autoria, como poemas de vários poetas da língua portuguesa, dos quais se destacam Fernando Pessoa e Grabato Dias. Em 1995, gravou o disco Maio, Maduro Maio – com João Afonso e José Mário Branco – dedicado à obra de Zeca Afonso, que lhe rendeu o Prémio José Afonso.

Uns emprestaram a voz ao povo. Outros encheram as ruas de músicas. Em comum, estes artistas têm a inegável marca que deixaram no panorama musical português

O ilustrador André CarrilhoDesigner, ilustrador e cartoonista, o português André Carrilho tem colaborado com algumas das mais prestigiadas publicações a nível mundial como o The New York Times, a Vanity Fair ou a New York Magazine. Já expôs individualmente no Brasil, na China, na República Checa, em Espanha, França e Portugal. Os seus trabalhos receberam já vários prémios a nível nacional e internacional, entre os quais o prémio da Society for News Design (EUA) para o Melhor Portfólio de Ilustração, em 2002, um dos mais conceituados galardões da área. Nos últimos anos tem explorado outras áreas. Em parceria como o músico e programador Nuno Correia criou o projecto de vjing Video Jack e realizou, em 2007, uma curta-metragem de animação intitulada Jantar em Lisboa, com argumento e música de JP Simões.

Janita Salomé

Cantador de fado de Coimbra nos anos 30, o pai de Janita Salomé fez questão de incutir nos filhos o gosto pela música. O seu esforço deu resultado pois dois deles acabariam por seguir a carreira musical. Irmão mais novo de Vitorino e dono de uma voz inconfundível, Janita Salomé estreou-se como baterista e vocalista do grupo de rock, Planície, em 1963, mas ao longo dos anos demonstrou ser um artista experimentalista multifacetado e versátil. Compositor e cantautor, passou pelo fado de Coimbra, pelo cantar alentejano, pela música popular e de intervenção e pela música tradicional árabe. Explorou ainda o teatro, tendo composto música para algumas produções e surgido como actor. Em 1980, lançou o seu primeiro disco, Melro, sendo que O Vinho dos Amantes, de 2007, é o seu último trabalho.

Zeca Afonso

Iniciou-se no fado de Coimbra mas acabou por ser uma figura central do movimento de renovação da música portuguesa que se desenvolveu na década de 60 e se prolongou na década de 70. José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, conhecido por Zeca Afonso, ficou indelevelmente associado não só à música de intervenção, com conteúdo de esquerda contra o regime como de facto ao derrube do próprio regime. Uma das suas composições, Grândola, Vila Morena, foi utilizada como senha pelo Movimento das Forças

Armadas, comandados pelos Capitães de Abril, que instaurou a democracia a 25 de Abril de 1974. O volume que lhe é dedicado na colecção Canto&Autores é antes uma homenagem ao autor, interpretada por José Mário Branco, Amélia Muge e João Afonso (sobrinho de Zeca Afonso), que data de 1995, aclamado por muitos como a grande homenagem à obra de Zeca Afonso.

Manuel Freire

Nasceu em Vagos, em Aveiro, a 25 de Abril de 1942, dia que, anos mais tarde, passaria a ter um significado especial para si. Ainda muito jovem, com apenas 16 anos, apoiou a candidatura do General Humberto Delgado, mas foi já como estudante em Coimbra que tomou contacto com Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira. A convite de Fernando Gusmão, entrou no Teatro Experimental do Porto, em 1967, onde fez a sua primeira actuação a sério no domínio da canção, tendo lançado no ano seguinte o seu primeiro EP. O cariz social e político dos temas, fez com que fosse alvo da censura que lhe proibiu canções como Lutaremos Meu Amor, Trova e Trova do Emigrante. Em 1969, canta no programa Zip-Zip, Pedra Filosofal, que se tornaria um ícone da canção de intervenção. Mais recentemente, colaborou com José Jorge Letria e Vitorino, num CD para crianças acerca da Revolução dos Cravos, intitulado Abril, Abrilzinho.

Pedro Barroso

António Pedro da Silva Chora Barroso nasceu em Lisboa, a 28 de Novembro de 1950, tendo crescido na terra natal do seu pai, em Riachos, Torres Novas. Aos quinze anos estreava-se na rádio, fazendo teatro radiofónico e, em Dezembro de 1969, era um dos cantautores revelados pelo programa Zip-Zip da RTP. Cantor, compositor e músico, com cerca de 30 álbuns gravados desde a década de 70, Pedro Barroso foi também docente e escritor. Autor da grande maioria das letras e músicas que interpreta, é possível encontrar entre as suas cantigas, trabalhos de autores como Cesário Verde, Sophia de Mello Breyner Andresen e até do Prémio Nobel da Literatura, José Saramago, no tema Afrodite ou Nasce Afrodite Amor, Nasce o teu Corpo, incluído no álbum Água Mole Em Pedra Dura, de 1978. A 3 de Dezembro de 2009, num concerto no Teatro São Luiz, Pedro Barroso despediu-se dos palcos, celebrando 40 anos de carreira.

José Jorge Letria

José Jorge Letria nasceu em Cascais, em 1951. Estudou Direito, História e História de Arte na Universidade de Lisboa mas foi como jornalista que começou a trabalhar em 1970. Passou pelo Diário de Lisboa, República, Musicalíssimo, Diário de Notícias e Jornal de Letras, tendo sido, igualmente, professor de jornalismo. Autor de vários programas de rádio e de televisão, tornou-se militante do Partido Comunista Português em 1972, tendo sido um dos nomes mais destacados da canção da resistência. Jornalista, poeta, dramaturgo, ficcionista e autor de uma vasta obra para crianças e jovens foi agraciado com a Ordem da Liberdade pelo Presidente Jorge Sampaio em 1997.

Né Ladeiras

O nome completo é Maria da Nazaré Azevedo Sobral Ladeiras mas ficou conhecida como Né Ladeiras. Né nasceu no Porto, a 10 de Agosto de 1959, numa família com grandes afinidades à música. A sua carreira começou em 1974, com a fundação da Brigada Victor Jara e a música latino-americana, tendo, mais tarde, passado para a música tradicional portuguesa. O seu primeiro trabalho a solo, Alhur, foi editado em 1982, com letras da autoria de Miguel Esteves Cardoso e participação dos Heróis do Mar como músicos de estúdio. Em 1986, participou no Festival RTP da Canção com Dessas Juras que se Fazem, um inédito de Carlos Tê e Rui Veloso. Colaborou igualmente com a rádio,

outra das suas paixões, em rádios de Coimbra, Antena 1 e TSF. Gravou mais 6 álbuns, com temas muito diversos, desde a cultura tradicional transmontana, à homenagem às canções de Fausto e participou em discos dos Heróis do Mar, Sétima Legião e UHF.

Francisco Fanhais

Mais conhecido por Padre Fanhais, Francisco Fanhais nasceu a 17 de Maio de 1941 na Praia do Ribatejo, entrou para o seminário aos dez anos e foi ordenado padre aos vinte e três. Apesar da sua actividade religiosa, assumiu desde cedo uma postura de luta contra a ditadura. Através da música tornou-se expoente máximo dos católicos progressistas, tendo lançado, em 1969, o seu disco de estreia Cantilenas, seguido de Canções da Cidade Nova, em 1970.

O carácter antifascista das suas músicas acabaria por fazer com que fosse impedido de cantar, de exercer o sacerdócio e de leccionar nas escolas oficiais. Francisco Fanhais acabaria por emigrar para França em 1971, tendo regressado a Portugal após o 25 de Abril de 1974 para colaborar nas campanhas de dinamização cultural do Movimento das Forças Armadas. Em 1995 recebeu a Ordem da Liberdade, por ocasião das comemorações do Dia de Portugal.

“Mas há sempre uma candeia

dentro da própria desgraça,

há sempre alguém que semeia

canções no vento que passa.” As

palavras de Manuel Alegre foram

cantadas por Adriano Correia de

Oliveira, o sempre alguém que

semeou canções no vento que

passa. Com ele, tantos outros

emprestaram a sua voz ao povo

que, amordaçado, não a tinha

durante o Estado Novo. Estavam

onde era preciso, sempre que

preciso. Eram os chamados

“cantores de intervenção” que

espalhavam poesia e palavras na

rua, bastando-lhes um microfone e

uma guitarra.

Começou com Adriano Correia

de Oliveira, José Mário Branco e

José Afonso. Seguiram-lhes tantos

outros cantores, músicos, poetas

e compositores empenhados em

fazer da cantiga uma arma. “A

canção foi, nessa altura, um veículo

de dinamização de pessoas”, disse

pela altura dos 25 anos do 25 de

Abril o ex-padre Francisco Fanhais,

que se juntou aos que cantavam no

exílio em 1969. “Nessa altura, o mais

importante eram mesmo as letras,

através das quais pretendíamos criar

uma força colectiva que ajudasse as

pessoas a tomarem consciência da

situação que se vivia no país”.

Os cantores de intervenção

marcaram fortemente o panorama

musical português até aos dias

de hoje, mas que nunca estaria

completo sem aqueles que

apareceram depois e também

contribuíram, como Jorge Palma,

Vitorino, Janita Salomé ou Né

Ladeiras.

De forma a homenagear os que

sempre cantaram a alma, com e sem

medo, o PÚBLICO edita agora uma

colecção que lhes é dedicada. São

13 volumes sobre grandes cantores,

compositores ou intérpretes que

deixaram a sua marca na música

portuguesa ao longo de mais de

quatro décadas. Uma colecção que

reúne artistas com carreiras muito

distintas, desde autores que se

tornaram conhecidos no período

pré-revolução a cantores com uma

vertente mais tradicional e popular,

com carreiras musicais consagradas

até aos dias de hoje. Une-os a

cultura e a história portuguesas que

reclamaram como suas.

Cada volume inclui um booklet

com CD e livro sobre o cantor,

escrito por um especialista.

O alinhamento do CD é uma

compilação inédita e preparada

pelos próprios artistas, à excepção

do volume de homenagem a Zeca

Afonso que não será um disco de sua

autoria, mas sim uma homenagem

à sua obra, interpretada por José

Mário Branco, Amélia Muge e João

Afonso. Já os volumes dedicados a

Vitorino, Fernando Tordo e Janita

Salomé incluem alguns temas

inéditos dos artistas.

Não perca, todos os Sábados por

mais €6,95 na compra do PÚBLICO.

Vera Monteiro

A colecção

Adriano Correia de Oliveira

Volume 11 de Março1. Trova do Vento que Passa2. E Alegre se Fez Triste3. Tu e Eu Meu Amor4. Canção com Lágrimas5. Lira6. Cantar para um Pastor7. Cantar de Emigração8. Tejo que Levas as Águas9. Canção do Linho10. O Sol Préguntou à Lua11. Fado da Mentira12. Fala do Homem Nascido

Vitorino

Volume 28 de Março1. Moda Revolta (inédito)2. Cantiga de Uma Greve de Verão3. Tango da Indiferença4. Abrilinho Volta ao Ninho5. Álbum dos Retratos6. Cantiga dum Marginal (Ao Vivo)7. Maria da Fonte (Ao Vivo)8. Ando à Noite à Trovoada9. Os Mortos dos Retratos10. Carta de Um Soldado da Armada11. Hino do 31 de Janeiro12. Fado da Liberdade Livre13. Vermelho e Verde14. Não Há Terra que Resista15. Viva a Rainha do Sul16. Saias da União Cooperativa do Redondo

Fernando Tordo

Volume 315 de Março1. Bem Querer, Mal Viver2. Windmills of Your Heart

3. Cavalo à Solta4. O Café5. Tourada6. A Invenção do Amor7. Para Que o Tejo Não Esqueça8. Se Digo Meu Amor9. Adeus Tristeza10. Lisboa de Feira11. Chegam Palavras12. O Meu Bairro13. Ele Há Lá14. Circo15. Amy (Winehouse)16. Caso Perdido17. 1879 (inédito)18. 1885 (inédito)

Jorge Palma

Volume 422 de MarçoIntitulado Com uma Viagem na Palma da Mão, este CD inclui as canções que o artista gravou durante o exílio político em Copenhaga.1. Deixem Voar Este Sonho2. Labirinto3. Monólogo De Um Cidadão Frustrado4. Dizem Que Não Sabiam Quem Era5. Enquanto O Sangue Se Torna Ouro6. Com Uma Viagem Na Palma Da Mão7. Giselle8. Já Chega De Ilusões9. A Onda (Para Mwandishi)10. Poema Flipão11. Outra Onda12. O Velho No Jardim13. O Fim

Luís CíliaVolume 529 de Março1. Sou Barco2. Música do filme “O Salto” de Christian de Chalonge3. Portugal Resiste4. Pátria Lugar de Exílio5. Voz Suspensa6. Romance do Lulu do Intendente7. Elegia por Antecipação à Minha Morte Tranquila8. Inventário 19839. Fecundou-te10. No Casto Promontório dos Teus Seios11. Domínio12. Ternura13. Encantados de Servi-lo

Amélia MugeVolume 65 de Abril

Janita SaloméVolume 712 de Abril

Maio, Maduro Maio – Uma homenagem a Zeca Afonso (José Mário Branco, Amélia Muge e João Afonso)Volume 819 de Abril

1. Maio Maduro Maio2. Utopia3. De Não Saber o que me Espera4. Canção de Embalar5. Que Amor Não me Engana6. Já o Tempo se Habitua7. Lá no Xepangara8. A Cidade9. Nefretite Não Tinha Papeira10. De Sal de Linguagem Feito11. Se Voaras Mais ao Perto12. Fura-Fura13. O que Faz Falta14. Zeca

Manuel FreireVolume 926 de Abril

Pedro BarrosoVolume 103 de Maio

José Jorge LetriaVolume 1110 de Maio

Né LadeirasVolume 1217 de Maio

Francisco FanhaisVolume 1324 de Maio

Fernando Tordo

Vitorino

Jorge Palma

Esboços de André Carrilho. As capas do volume 5 em diante não são apresentadas neste destacável devido ao facto de ainda estarem em execução Luís Cília

Janita Salomé

Adriano Correia de Oliveira