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No’ mais, Musa, no’ mais,

que a Lira tenho

Destemperada é a voz

enrouquecida,

E não do canto, mas de ver

que venho.

Camões, Os Lusíadas.

O mercado editorial direciona a

leitura do público. Muitas vezes

lemos por impulso de modismos,

os grandes campeões de vendas

não necessariamente são os

melhores escritos. Acreditamos

que a busca pelo lucro influencia

na qualidade/diversidade.

É nesse cenário, pouco

heterogêneo, que surge a Tessa.

Nossas publicações visam

apresentar escritos que não

figuram entre os mais

conhecidos, grandes nomes

esquecidos ou pouco divulgados

e conteúdos didático-

pedagógicos aplicados à

aprendizagem.

Tessa - books.

Velhos conceitos que inovam.

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Tessa - books

Velhos conceitos que inovam

Ficha catalográfica

____________________________________________

FREITAS, Alexandre de. Cravinhos: contribuições históricas e

geográficas. São José do Rio Preto: Tessa, 2012.

____________________________________________

1. História e geografia. 2. Cravinhos. 3. Educação.

CDD 900.910.370

__________________________________________

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Alexandre de Freitas

Cravinhos: contribuições históricas e

geográficas

1ª edição.

São José do Rio Preto

Alexandre de Freitas

2012

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AGRADECIMENTOS:

Ao povo de Cravinhos, que me recebeu de braços abertos;

Aos meus filhos: Pablo e Alícia, eternos tesouros.

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Sumário INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 9

PARTE I. ANÁLISES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS. ......................................................................... 11

CAPÍTULO I. BASES HISTÓRICAS DO SURGIMENTO. ....................................................................... 12

CAPÍTULO II. A REORGANIZAÇÃO REGIONAL IMPULSIONADA POR MUDANÇAS NACIONAIS E

INTERNACIONAIS. .................................................................................................................. 20

CAPÍTULO III. A INSERÇÃO DE CRAVINHOS NA HIERARQUIA URBANA REGIONAL E NACIONAL. .............. 24

CAPITULO IV. GEOGRAFIA DE CRAVINHOS. ................................................................................ 27

PARTE II. SUBJETIVIDADE E IMAGÉTICA DE LUGARES EM CRAVINHOS. ............................................. 34

CAPÍTULO V. PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E SUBJETIVIDADE DO ESPAÇO URBANO CRAVINHENSE. ........ 35

CAPÍTULO VI. A IGREJA SÃO BENEDITO. .................................................................................... 37

Capítulo VII. A Igreja São José - a matriz de Cravinhos. .................................................... 39

CAPÍTULO VIII. RUA XV DE NOVEMBRO. ................................................................................... 41

CAPÍTULO IX. PRÉDIOS NA REGIÃO CENTRAL DE CRAVINHOS: OS RESQUÍCIOS DE UM PASSADO............ 43

CAPÍTULO X. O CEMITÉRIO DE CRAVINHOS. ............................................................................... 46

CAPÍTULO XI. ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DE CRAVINHOS. ............................................................... 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS. ......................................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA. ...................................................................................................................... 53

SOBRE O AUTOR. ................................................................................................................... 55

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INTRODUÇÃO Normalmente os livros sobre cidades são escritos por moradores destas que se sentem atraídos pela aventura de resgatar histórias e fazer referências às pessoas mais conhecidas da localidade. Essas pessoas, na maioria das vezes, são moradores antigos que guardam vínculos e têm uma estrutura familiar enraizada na cidade. Algumas vezes esses escritores são chamados de memorialistas.

Livros assim surgem principalmente resgatando histórias daquelas cidades que não figuram entre as grandes capitais e os grandes centros, ou seja, aquelas cidades pequenas pelas quais guardamos grande afeto, cidades onde as pessoas se conhecem melhor e existe um contato mais próximo entre seus moradores.

Particularmente eu dou grande valor a essas pessoas, graças a elas é que muitas histórias não se perdem. Há quem diga que muitas dessas histórias não possuem um apurado contato com a ciência, isso é o que eu não posso afirmar. Suponhamos que não tenham mesmo. Será que o valor desses trabalhos fica diminuído? Creio que não. A ciência é uma das formas de conhecimento e também possui suas limitações.

O mais importante nessas obras é a preservação da memória, tão importante para um povo. As grandes nações sempre fazem referências à sua memória, aos seus antepassados, a sua história.

Quando cheguei a essa cidade, com meu antigo hábito de ler, percebi que existia pouca coisa escrita a respeito dela. Mais precisamente um único livro escrito em 1922, apresentando sinais de deterioração. A bibliotecária da biblioteca municipal, na sua infinita gentileza, confiou-me o livro por alguns dias e eu fiquei encantado. Logo pensei: muita coisa dessa cidade precisa ser resgatada.

Depois de muitas leituras no livro e de posse de algumas informações, embrenhei-me num árduo caminho pelos sites do IBGE, algumas revistas de edições históricas e muita observação. O resultado está nestas humildes páginas. A luta do dia-a-dia, que vem acontecendo há muito tempo, não me deu longas horas para pesquisar mais a fundo e fazer um trabalho mais digno para resgatar a história dessa cidade. Acredito que o resultado tenha sido mediano. Faltaram muitas coisas. Posso ter falhado em muitos aspectos. Mas, já é um começo.

Aviso o caro leitor que meus vínculos por essa cidade estão se construindo. Não tenho raízes aqui e me mudei para cá para trabalhar. O maior incentivo para escrever essa obra veio da percepção da necessidade de registrar a história e a geografia de uma cidade muito antiga que possui poucos escritos sobre ela. Se um dia eu voltar para minha cidade natal, que fique esse livro como presente a todos os cravinhenses que me

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receberam de braços abertos, pelos quais me dignifico da amizade que por eles venho construindo.

Por esses motivos que venho explicando, talvez, esse livro tenha uma abordagem um pouco diferente dos demais. Não foi meu interesse preservar alguns de críticas e exaltar outros onde eu poderia ter algum proveito em agradar. Não que o livro é desprovido de análises críticas, essas aparecem sutilmente e despretensiosamente.

O eixo central do livro é resgatar, selecionar e organizar algumas informações históricas e geográficas sobre Cravinhos. A primeira parte foi elaborada com base em bibliografias, usando o único livro sobre a cidade, duas revistas, outros livros que nos deram subsídios para tal feito e sites que contribuíram para termos contado com alguns dados e outros escritos online. A segunda parte, onde eu tento explicar melhor oportunamente, é mais subjetiva. Leva-se em conta mais a observação, porém tomei cuidado para não sair dos padrões mínimos aceitos para se escrever algo que possa servir ao público em geral.

Um dia, não me lembro se li ou me falaram, tive a informação de que um livro não tem começo nem fim. Ou seja, se alguém quiser escrever mais coisas que remete a um passado anterior ao que eu escrevi será possível, ou se alguém quiser aumentar os escritos que estão contidos aqui com mais dados e mais informações também será possível.

Esse pequeno livro está muito longe de encerrar as possibilidades de registrar a História e a Geografia sobre Cravinhos, pelo contrário, eu o vejo como um incentivo para aqueles que, com melhor capacidade e mais astúcia, poderão honrar a cidade com escritos realmente dignos de louvores pelo povo cravinhense.

Por enquanto, essa humilde obra vem ao público para cumprir seu papel de informar e registrar fatos e dados sobre essa cidade. Que minhas palavras possam dar a contribuição necessária para que esse objetivo seja alcançado e que o povo cravinhense não se indigne das limitações contidas aqui.

Prof. Alexandre de Freitas.

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PARTE I. ANÁLISES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS. Nossa intenção nesta parte é fazer um levantamento histórico e geográfico sobre o município de Cravinhos. Para isso, faremos um levantamento de fontes bibliográficas: livros, revistas, sites, jornais, etc. O objetivo principal é capturar, analisar e divulgar informações e dados sobre o município, colaborando, dessa forma, para preservação/divulgação da História e Geografia dessa localidade.

O trabalho realizado aqui tem embasamento. Se mais pessoas desejarem confirmar as informações para contestá-las ou ratificá-las bastará seguir a bibliografia. Não é trabalho isento de ideologia, até porque, talvez trabalhos desse tipo não existam, mas não é o intento principal fazer críticas e generalização profundas e contestadoras, daremos as informações necessárias àqueles que quiserem prosseguir por caminhos mais complexos.

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CAPÍTULO I. BASES HISTÓRICAS DO SURGIMENTO. O contexto regional em meados do século XIX e início do século XX.

Neste capítulo analisaremos a estrutura econômica que prevalecia no interior do estado de São Paulo, em especial na região de Ribeirão Preto onde se localiza a cidade de Cravinhos. Esta região se destacou com a cultura do café do final do século XIX até meados do século XX, alcançando um considerável progresso econômico e se tornando uma região conhecida nacionalmente pelo agronegócio.

Por volta de 1850 o café já ocupava destaque na pauta de exportações brasileiras. Já havia alcançado as terras férteis do interior de São Paulo principalmente Campinas, Limeira, Itu, Jundiaí, Sorocaba e Ribeirão Preto.

A cultura cafeeira entrou no estado de São Paulo pelo vale do Paraíba fluminense, o Rio de Janeiro já apresentava certas dificuldades para tal cultura, o solo cansado e o relevo acidentado eram fatores que contribuíam para isso. No vale do Paraíba paulista o café foi responsável pelo surgimento de muitas vilas e dinamizou a economia local. Porém, foi o interior de São Paulo com solo e relevo favoráveis que possibilitou a grande expansão do produto, alcançando projeção no mercado internacional tendo o Brasil como principal produtor.

A mineração já havia contribuído para a interiorização do povoamento brasileiro no século XVIII. Por esse século, várias regiões paulistas estavam sendo cortadas por rotas de comércio que tinham a finalidade de chegar à região das Gerais levando mantimentos e outras mercadorias. Muitas localidades como Itu, Sorocaba, Porto Feliz e Taubaté começaram a se tornar movimentadas; caminhos cruzavam a serra da Mantiqueira e para o nordeste, em direção a região de Goiás, havia uma trilha que ficou conhecida como caminho do Anhangüera, essa provavelmente contribuiu para fixação de pessoas pelas regiões onde hoje se localizam cidades próximas a Cravinhos. Porém, foi o café no século XIX iria marcar decisivamente a economia do sudeste brasileiro e de toda região de Ribeirão Preto.

Foi no século XIX que o Brasil presenciou o surgimento de muitos núcleos urbanos que se tornaram importantes cidades, em especial na região sudeste. Esse surto foi possível, principalmente, por fatores como a independência do Brasil, a cultura cafeeira que dinamizou toda a economia do sudeste e do norte do Paraná, a oligarquia agrária que concentrava muito poder nas vilas e municípios1 e, além desses fatores de ordem nacional, a segunda etapa da revolução industrial na Europa

1 Ver. LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 3ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

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espalhava seus produtos para o mercado internacional e com isso aquecia o comércio.

Na região sudeste, o café, que provocou a expansão da malha ferroviária, foi de suma importância para o surgimento de cidades, entre 1832 e 1900 muitas cidades hoje consideradas importantes foram fundadas. O interior de São Paulo, o sul de Minas Gerais e o norte do Paraná foram os mais beneficiados. Porém, o grande destaque foi para o interior de São Paulo, os solos bons, o clima, as condições favoráveis do relevo deram condições que colocariam o estado numa situação privilegiada em relação ao Brasil.

Muitas das cidades surgidas com a expansão cafeeira hoje se tornaram importantes centros que concentram indústrias produtos e serviços, polarizam áreas de abrangência local, regional e até nacional. De todas as cidades que se beneficiaram com o café algumas merecem ser mencionadas, dentre elas Campinas é um exemplo de dinamismo tanto em São Paulo como no Brasil, figurando entre as maiores cidades brasileiras é pólo tecnológico e faz parte da megalópole brasileira que se estende da sua área metropolitana até Niterói no Rio de Janeiro, é uma cidade conectada com as metrópoles nacionais e globais. Ribeirão Preto que hoje é considerada capital nacional do agronegócio e polariza uma vasta região no norte do estado. São José do Rio Preto que se beneficiou não só do café como também da ferrovia que durante 10 anos ficou com os trilhos parados na cidade fazendo com que ela se tornasse um pólo de atração comercial, hoje é uma dinâmica cidade que polariza toda a região noroeste de São Paulo exercendo influências em cidades do sudoeste de Minas Gerais e sul de Mato Grosso do Sul. São Carlos, na região central do estado que se destaca por ser um pólo tecnológico e concentrar instituições de pesquisa; dentre outras cidades, merecem ser lembradas: Araraquara, Bauru, Presidente Prudente e, em especial, Londrina, no Paraná, que surgiu como cidade impulsionada pelo café em 1938 e nos dias atuais possui uma população de 497.833 mil habitantes.

As condições para o desenvolvimento dessas cidades foram lançadas em meados do século XIX por fatores que já expomos. Cada cidade que citamos, entre outras, surgiram e se desenvolveram em regiões onde havia muitos outros núcleos urbanos, em suas redondezas existiam várias fazendas de café e com complicados jogos de interesses e influências políticas alguns desses núcleos foram mais privilegiados politicamente que outros2. Foge das pretensões desse trabalho se embrear nesses aspectos, próximos trabalhos podem se aprofundar nesses complicados temas, mas de modo geral, não podemos lidar com a possibilidade do acaso e da sorte como genuínos colaboradores do desenvolvimento de certos núcleos em detrimento de outros, apesar de

2 Ainda a obra de Victor Nunes Leal nos permita muitas reflexões sobre esses aspectos. LEAL, Victor Nunes. Op. cit.

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não ser objeto direto de nossa pesquisa é comum encontrar na literatura questões de ordem política onde munícipes influentes, através de seus contatos, atuam para que seus interesses sejam atendidos. E é fato que, no início da expansão cafeeira, as condições de solo, ferrovia e produção se assemelhavam entre os povoados e vilas, umas se desenvolveram mais que outras criando assim uma hierarquia entre elas e estabelecendo a base para o crescimento econômico e populacional que consolidaria a condição dos centros de influência regional.

No segundo quartel do século XIX a fama das terras de São Paulo propícias ao café já se espalhavam para outros estados, Minas concentrava significativo contingente populacional e diante dessas notícias muitos vieram para região, com eles os fluminenses também vieram seguindo o caminho da expansão cafeeira e com o advento da entrada de migrantes para trabalhar nas lavouras as condições estavam estabelecidas para o desenvolvimento do interior do estado.

A região de Ribeirão Preto, com sua terra roxa, era uma das que mais apresentava as características necessárias para a produção do café, com a chegada dos trilhos entre o final do século XIX e início do século XX toda região estava lidada ao porto de Santos e daí em diante as plantações de café só aumentaram e trouxeram progresso.

Vejamos as datas da chegada dos trilhos em algumas localidades: Pirassununga em 1.878, São Simão em 1.882, Cravinhos em 1.883, Ribeirão Preto em 1.883, Batatais em 1.886, Jardinópolis em 1.899, Orlândia em 1.901, São Joaquim da Barra em 1.902.3 É de se notar que os trilhos foram chegando primeiro nas cidades mais próximas da capital, ou seja, seguiam a caminho da concessão que a Mogiana conseguiu: “Após longas discussões com os representantes da Província de São Paulo, do Governo Imperial e da Companhia Paulista, obtém o privilégio de estender seus trilhos até Ribeirão Preto, desviando a linha tronco de seu curso original.” 4 A Mogiana inicialmente obteve concessão para levar os trilhos até o Rio Grande passando por Casa Branca e Franca, essa autorização para estender os trilhos até Ribeirão Preto pode ter definido o futuro da região. Resta pensar o que foi acertado nas “longas discussões”. Outro fator, no mínimo estranho, é a inauguração dos trilhos que se deu no mesmo dia, mês e ano tanto em Ribeirão Preto como em Cravinhos segundo fontes por nós consultadas.5

3 Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/j/est-j.htm. Acessado em 12/04/2008. 4 Fonte: http://www.cmef.com.br/pp_fundacao.htm. Acessado em 12/04/2008.

5 http://www.estacoesferroviarias.com.br/j/est-j.htm. Acessado em 12/04/2008. Esse site, o qual consultamos,

deixa claro suas fontes: Fontes:” História de Ribeirão Preto, de Rubem Cione, 1987; Relatórios da Mogiana e da

Fepasa, vários anos; Hélio Fávaro, ferroviário de Jurucê, abril de 2000; jornal "Diário da Manhã", de Ribeirão

Preto, diversas edições, 1967/76; Rodrigo Cabredo; Jornal A Cidade, 8/11/2006; Álbum da Mogiana, anos

1910; Antonio C. Belviso; revista Horizonte Geográfico, nº. 55, 1998; Memórias de Ribeirão Preto, 2000; Ivan

Roberto de Siqueira Jr., Ribeirão Preto; Celso Frateschi, Ribeirão Preto; Dirceu Baldo, 2002)” essas consultadas

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Foi no âmbito dessas transformações econômicas, principalmente, mas imbricadas com a política, e, provocadas pela expansão do café, que vários núcleos urbanos sugiram na região de Ribeirão Preto, sendo que esta se tornou hoje a cidade principal com 547.417 habitantes, polarizando toda uma região que se estende até Minas Gerais em todo norte paulista e perdendo um pouco de influência em direção a outros centros de relevante importância como Campinas, São Carlos, Araraquara e São José do Rio Preto.

A situação da região no ano de 1.900 não possibilitava uma análise do futuro sem o risco de errarmos quanto o desenvolvimento econômico e populacional de certas cidades, de modo geral, elas se assemelhavam. Eram locais que concentravam uma população ocupada, principalmente, na cultura do café e que tinham nas cidades de então suas bases de compra, diversão e religiosidade. Numa análise do censo disponível on-line no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 1.900 percebemos dados interessantes quanto a população da época.

Sinopse do recenseamento do Brasil de 31 de dezembro de 1900.

Cidades População em 1900 População em 2008 Ribeirão Preto 59.195 547.417 Cravinhos 30.050 29.377 São Simão 24.850 13.781 Batatais 19.164 53.525 Jaboticabal 17.395 69.624 Franca 15.491 319.094 Jardinópolis 14.579 34.611 Cajuru 10.850 22.695 Sertãozinho 10.940 103.558 Pirassununga 10.556 67.787 Fontes: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/visualiza_colecao_digital.php?titulo=Synopse do recenseamento do Brazil de 31 de dezembro de 1900&link=Synopse_Recen_do_Brazil1900. Para o ano de 1900. http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 Para o ano de 2008.

A observação dessa tabela nos possibilita inúmeras reflexões. A população de Cravinhos em 128 anos regrediu, Ribeirão Preto manteve sua posição de liderança se consolidando como grande centro regional, a população de São Simão regrediu quase pela metade, Franca obteve a posição de cidade média com relativo destaque estadual e até nacional, Sertãozinho se posicionou relativamente bem se consolidando como um

no caso de Ribeirão Preto e quanto a Cravinhos a fonte do site foi o livro: GOMES, F. Cravinhos: Historico,

Geographico, Commercial, Agricola. Ribeirão Preto: Tipographia Selles, 1922.

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centro industrial sendo considerada como cidade de porte médio e as demais cidades, sem maiores análises, mas com hipóteses coerentes, foram ofuscadas pelo crescimento de Ribeirão Preto.

O núcleo que deu origem a Cravinhos.

A região onde hoje se localiza a cidade de Cravinhos por volta do último quartel do século XIX era ocupada por várias fazendas de café, em especial uma que se chamava Cravinhos com extensão de 800 alqueires. Foi essa fazenda que deu nome ao município.

O professor Francisco Gomes em seu livro escrito em 1922 “Cravinhos: historico, geographico, commercial, agricola”; talvez tenha dado a maior contribuição para resgatar a história do município. Muitas publicações que se seguem sobre Cravinhos a fonte principal é esse livro, o qual também dele nos serviremos.

Segundo o professor Francisco Gomes quem deu início ao núcleo urbano que se tornou a cidade de Cravinhos foi o Dr. Luiz Pereira Barreto. Intelectual fluminense formado na Bélgica e de família possuidora de importantes propriedades em Resende-RJ onde se plantava café, veio residir em Jacareí por volta de 1869 com a intenção de procurar propriedades para iniciarem a cultura do café em terras do oeste paulista.

Depois de seis anos que o Dr. Luiz Pereira Barreto estava em Jacareí outros membros da mesma família vieram do Rio de Janeiro para auxiliá-lo na busca por terras onde pudessem iniciar com sucesso a plantação do café. Dentre os nomes que o acompanharam temos: Cel. José Pereira Barreto o decano dos irmãos, os irmãos, também da família dos Barreto, Miguel e Francisco, os filhos desses, Luiz e Bizinho e o sobrinho Antônio de Paulo Ramos. Essas pessoas ao se encontrarem com o Dr. Luiz iniciaram uma longa jornada por terra de São Paulo e Minas Gerais a procura de terras que lhes proporcionasse o empreendimento desejado. Nessa jornada passaram por várias localidades como: Camanducaia, Ribeirão do Fundo, povoado das Antas e Ouro Fino essas em Minas Gerais, depois, em território paulista, passaram por Espírito Santo do Pinhal e ficaram por um tempo em Casa Branca.

Em Casa Branca saíram à procura de terras em companhia de José Hippolito de Carvalho, apesar de conhecerem muitas fazendas de café na região e terem constatado a qualidade da terra que proporcionava excelente produção resolveram seguir para região de Ribeirão Preto, aconselhados pelo mesmo José Hippolito, que lhes disse para procurar a fazenda conhecida como Cravinhos. E assim fizeram.

Partiram de Casa Branca e foram para São Simão onde conheceram mais propriedades constatando a fertilidade do solo da região. Dali foram

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conduzidos por Joaquim Negrão até a fazenda Cravinhos indicada por José Hippolito. Ao chegarem a dita fazenda ficaram deslumbrados com as terras que viram, entram em contado com Antônio Caetano iniciando as negociações que não tardaram, adquiram os 800 alqueires da fazenda Cravinhos por 36:000$000. As terras adquiridas compreendiam as fazendas Cravinhos e Jandaia, onde se assenta o sítio urbano da cidade, em suas redondezas havia a fazenda Canta Gallo, com 80 alqueires inexplorados, que não entrou na primeira negociação, mas foi adquirida depois por 600$000. Os documentos da aquisição dessas propriedades foram passados em Franca e após as negociações os Barreto dirigiram-se para sua terra natal.

Os Barreto voltaram para a fazenda Cravinhos em novembro de 1876 e iniciaram, agora com um maior número de escravos, a derrubada das matas para dar início a plantação de café. Segundo o Prof. Francisco Gomes, esse mês e esse ano são os marcos do surgimento de Cravinhos. Porém, ainda o autor referido, ressalta que desde 1862 havia gente plantando café nas fazendas da região.

Em agosto de 1879, segundo nossa fonte, a fazenda Cravinhos já possuía muitos pés de café plantados pelos Barreto e nessas fazendas já havia alguns prédios. No ano de 1881 a localidade já era cortada por uma estrada de rodagem e muitas pessoas chegaram à região atraídas pelos artigos que Dr. Luiz Pereira Barreto escrevera na capital do estado, onde destacava a fertilidade das terras da região. No mesmo ano, com a chegada do engenheiro Dr. Santos Lopes, da Mogiana, responsável pelo traçado da ferrovia, Miguel Barreto mandou construir um prédio, que seria o primeiro da cidade e serviria de moradia para o Dr. Lopes, e uma olaria. Essas construções ficavam onde hoje se encontram as ruas 15 de novembro, Bernardino de Campos, Cesário Motta e Tiradentes.

Os Barreto se empenharam em contribuir com a picada que levariam os trilhos até Cravinhos, com oito escravos e até a estação foi construída por eles e foi em 1883 que:

“ Finalmente a 23 de novembro [...] entre calorosos vivas dos primeiros habitantes, estruge demoradamente o silvo da locomotiva, anunciando triunfalmente a ligação de Cravinhos á capital do Estado, pela Estrada de Ferro Mogiana.

A estação construída às expensas do Dr. Luiz Pereira Barreto, resumia-se num pequeno e acanhado prédio [...]” (GOMES, F. p.16)

Uma região que vinha se definindo como grande produtora de café quando se liga à capital e ao principal porto de exportação do país está plantada a célula inicial para o surgimento da cidade.

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Pelo que vimos até agora sobre Cravinhos, foi com a chegada dos trilhos que realmente começaram a aparecer algumas construções que iriam caracteriza-se como um povoado que se tornaria cidade.

Ainda diante de nossas análises, percebemos que Cravinhos não surgiu como povoado de uma doação de patrimônio como muitas cidades surgiram por essa época. Ribeirão Preto e São José do Rio Preto são exemplos, entre tantos, de cidades que surgiram ao redor de uma capela cuja área fora doada para a igreja. Parece que apesar de haver alguns prédios nas fazendas que formaram o município, o núcleo central, que caracteriza (ou pelo menos incentiva) o surgimento de uma cidade, deu-se em torno de uma estação ferroviária. Uma capela, a mais antiga da cidade (1888), serviu de primeiro centro religioso da localidade, essa capela era particular e a estudaremos em linhas adiante neste livro.

Tudo indica que depois da estação Cravinhos caminhou com passos mais longos. Vejamos algumas datas significativas elencadas pelo Prof. Francisco Gomes:

“27 de abril de 1893 – criação do Distrito de Paz, por lei nº 125.

22 de julho de 1897 – Elevação a município por lei 511.

[...]

30 de janeiro de 1898 – Instalação da primeira câmara.

18 de março de 1898 – Criação da Paróquia de Cravinhos.

2 de outubro de 1900 – Lançamento da primeira pedra da Igreja Matriz.

12 de março de 1904 – É instalada a fábrica de macarrão de Sylvio Aldinucci.

21 de fevereiro de 1905 – Inaugura-se a imprensa com a publicação de „O Cravinhos‟.

23 de junho de 1905 – Inauguração da Igreja Matriz.

12 de outubro de 1909 – É instituído o grupo escolar João Nogueira.

[...]

20 de dezembro de 1913 – Inaugurado o Eden Theatro.

1 de novembro de 1914 – Foi inaugurado o mercadão municipal.

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[...]”

(GOMES, F. pp.20-21).

Oportunamente abordaremos mais datas que possam nos parecer significativas, as selecionadas por nós acima, dão uma idéia do progresso alcançado pelo município após a chegada dos trilhos. Em apenas quatro anos Cravinhos passou da condição de Distrito de Paz para município e, talvez, o que mais impressiona e que será objeto de análises posteriores neste trabalho, é o fato de em 1900 a cidade ter alcançado a chifra de 30.050 habitantes. Número que a colocava à frente de muitas cidades da região.

O café contribui decisivamente com o progresso de Cravinhos até os anos de 1930, onde a cidade figura entre as maiores produtoras de café da região, disputando lugar com Ribeirão Preto, Franca, São Simão e Sertãozinho. O que parece é que a cidade detinha grandes produtores, aqueles que possuíam mais de 500 mil pés de café. Grandes proprietários e grandes empresas agrícolas atuaram no município em 1924, dentre elas: Companhia Agrícola de Ribeirão Preto com 1.138.000 pés em produção, Coronel Joaquim da Cunha Bueno com 1.050.000 pés em produção, Fazenda das Flores com 906.000 pés em produção; dentre outras, como J.D. Martins, D. Rita Cândia Nogueira, Júlio Pedro Pontes e Josphina Coutinho de Freitas. Em 1933 os proprietários que tinham mais de 500 mil pés produzindo por safra haviam diminuído: Joaquim Victor de Souza Meirelles 800.000 pés em produção, Júlio Pedro Pontes com 630.000 pés em produção, Banco do Estado de São Paulo com 552.000 pés em produção e Companhia Agrícola Chimborazo S/A com 540.00 pés em produção.6

Tudo leva a crer que Cravinhos padeceu da crise mundial de 1929, a quebra da bolsa de valor de Nova Iorque afetou demais a economia brasileira atingindo toda região produtora de café do estado de São Paulo. A população cravinhense diminui com a crise do café, de 30.050 em 1900, vai para 26.551 em 1920 e cai para 19.780 em 1934.7

Estava inaugurada uma outra etapa da vida de Cravinhos. Agora regida por outros fatores que vão dar outras características à cidade.

6 BACELLLAR, Carlos de Almeida Prado; ABIOSCHI, Lúcia Reis (orgs.)Na Estrada do Anhangüera: uma visão

regional da história paulista.São Paulo: Humanitas FFLCH/USP, 1999. pp. 128-127.

7 BACELLLAR, Carlos de Almeida Prado; ABIOSCHI, Lúcia Reis (orgs.) Op .cit. p. 153.

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CAPÍTULO II. A REORGANIZAÇÃO REGIONAL IMPULSIONADA POR

MUDANÇAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS. Novos rumos da economia entre 1930 e 1980.

A economia da região de Cravinhos, como não poderia ser diferente, sofreu influência da conjuntura econômica nacional e mundial. A crise de 1929 e a tomada de poder por Getúlio Vargas em 1930 anunciam mudanças significativas.

A partir de 1930 começa um processo de industrialização no Brasil que ficou conhecido como substituição de importação. A principal característica desse processo é a atuação do estado em infraestrutura e indústrias de base, o estado atua no sentido de “preparar o terreno” para investimentos externos.

A região acompanhou as mudanças do atual momento político-econômico e gradativamente começou a diminuir a produção de café e ampliar a produção de uma maior variedade de produtos agrícolas e outras atividades urbanas industriais.

“O crescimento da economia cafeeira em Ribeirão Preto e Alta Mogiana, ocorrido com particular intensidade nas quatro décadas anteriores a 1930, permitiu o desenvolvimento significativo de um a agricultura mercantil de alimentos e todo um conjunto de atividades urbanas de suporte à agricultura, bem como a consolidação de uma razoável infraestrutrura de transporte, energia e comunicação. Tais elementos mostraram-se fundamentais para atenuar o impacto da crise do café no início dos anos 30 sobre a região e, posteriormente, permitiu sua recuperação econômica, assentada agora em um conjunto mais amplo de atividades.” (BACELLLAR, Carlos de Almeida Prado; ABIOSCHI, Lúcia Reis (orgs.) pp.168-169)

Dentre as variedades agrícolas da região percebe-se uma produção razoável de algodão, arroz, milho e feijão e, numa menor proporção, a pecuária também apresentou crescimento no período. Em 1920 Cravinhos produzia 1.995 (ton.) de algodão, aumentando para 2.567 (ton.) em 1939 e diminuindo para 625 (ton.) em 1949. Em 1.939, Cravinhos produzia 861 (ton.) de arroz, mais que os municípios de Brodósqui, Altinópolis, Orlândia, São Simão, Sertãozinho, Guaíra, dentre outros da região. A fruticultura na Alta Mogiana correspondia, em meados de 1930, a 3,7% do total do estado e Cravinhos aparece juntamente com Ribeirão Preto, Franca, Santa Rosa do Viterbo e Igarapava como os municípios que mais produziam na região.

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A indústria, apesar de estar presente na região desde a primeira década do século XX, começa a se intensificar a partir de 1930. Ribeirão Preto é o grande destaque possuindo mais de uma dezena de indústrias de significativa relevância no estado de São Paulo, dentre elas podemos destacar Cia. Antártica Paulista, Cia. Cervejaria Paulista, S.A. Ind. Reunidas F. Matarazzo, Anderson Clayton & Cia. Ltda. Em Cravinhos notamos: Irmão Biagi-Açúcar e Álcool, fundada em 1936 e possuindo em 1945 50 funcionários; Manoel Nascimento Júnior-Açúcar e Aguardente, fundada em 1939 e possuindo em 1945, 24 funcionários e Junqueira Almeirda & Cia. ltda.- Beneficiamento de Algodão, fundada em 1944 e possuindo, em 1945, 12 funcionários.8 Como podemos notar a maior parte das indústrias era ligadas ao ramo alimentício e ligadas ao setor agropecuário, característica presentes até nos dias de hoje. No geral, Cravinhos possuía em 1945 65 estabelecimentos industriais que empregavam 171 pessoas.9

Pelos anos de 1930-1950, o estado de São Paulo possuía quatro núcleos principais de industrialização, sendo, respectivamente: A região de São Paulo, de longe a região mais concentrada; Campinas, Sorocaba e Ribeirão Preto.

A cana-de-açúcar.

A produção de cana-de-açúcar ganhou o impulso decisivo após a II Guerra Mundial. Esse produto que era produzido na região desde o início do século XX, nas áreas onde o solo não era tão propício ao café, foi ganhando destaque e se projetando nos cenários regionais, nacionais e até internacionais. Até se tornar nos dias de hoje a maior região produtora do mundo.

Entre as décadas de 1930 e 1960 a produtividade da cana-de-açúcar aumentou significativamente graças a fatores como: pesquisas por institutos científicos permitindo o desenvolvimento de variedades que produziam mais por hectare e um certo histórico da região que já possuía muitos engenhos que foram se transformando em usinas, muitas presentes até hoje. Convém assinalar que por essas épocas a mecanização do campo ainda incipiente, existia uma reduzida quantidade de maquinários e as lavouras tinham uma significativa dependência de trabalhadores braçais e animais de tração.

8 BACELLLAR, Carlos de Almeida Prado; ABIOSCHI, Lúcia Reis (orgs.) Op. cit. p. 190. 9 BACELLLAR, Carlos de Almeida Prado; ABIOSCHI, Lúcia Reis (orgs.) Op. cit. p.189.

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Nordeste Paulista: os 10 municípios com maior produção de cana-de-açúcar ( em mil ton.) – 1960-1985.

1960 1970 1975 1980 1985 Morro Agudo

0,01 75 141 1.274 3.204

Ribeirão Preto

304 637 584 2.196 3.031

Sertãozinho 728 1.225 1.333 1.915 2.343 Jardinópolis 11 21 14 592 1.927 Pontal 306 612 936 1.505 1.284 Pradópolis - 403 1.067 322 1.192 Guaíra - - - 23 1.011 Sta. Rosa do Viterbo

0,07 379 477 850 935

Luís Antônio

- 0,23 13 391 857

Orlândia - 62 135 394 782 BACELLLAR, Carlos de Almeida Prado; ABIOSCHI, Lúcia Reis (orgs.) Op. cit. p.211. Adaptado.

Programas como o Pró-Álcool na década de 1970 e as tecnologias dos motores automotivos bicombustíveis contribuíram significativamente para a expansão das usinas de álcool na região.

Nos dias atuais a região de Ribeirão Preto se destaca na produção de álcool e açúcar. As usinas, apesar de estar se espalhando por todo o estado de São Paulo e até para o Brasil, tem seu foco principal nessa região. Esse avanço da cana-de-açúcar é assunto polêmico e as discussões em torno do tema estão distantes de achar um denominador comum. Alguns acham que traz benefícios, outros dizem que é um processo no mínimo perigoso para o meio ambiente e para a produção de alimentos.

Apenas para ilustrar, pois não nossa intenção realizar análises mais abrangentes sobre esse tema, o jornal Folha de São Paulo do dia 20 de julho de 2008, no caderno de Ribeirão Preto, p. G1, traz uma reportagem onde destaca: “Cana faz Ribeirão trazer alimento de longe.”. Situação fácil de ser constatada por qualquer pessoa que reside na região. Isso acontece basicamente porque agricultores lucram mais arrendando suas terras para as usinas do que plantando gêneros alimentícios como frutas, legumes e cereais. A agropecuária também passa por processo semelhante. Quem mais acaba sofrendo com isso é o consumidor que paga mais caro pelos produtos vindos de longe, às vezes, de outros estados.

De modo geral, Cravinhos se insere numa região que a partir de 1970 começa a participar de uma lógica capitalista de mecanização da agricultura. Em linhas gerais, esse processo desloca a população rural

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para as cidades, o campo expulsa e a cidade atrai. A população do campo deslocada para a cidade fornece os trabalhadores que voltam a trabalhar no campo na condição de “bóia-fria”.

Esse processo, dotado de certa complexidade, baseia-se no desenvolvimento do processo capitalista inserido numa realidade mundial onde se observa o desenvolvimento do processo industrialização-urbanização em que as indústrias e a agricultura compartilham de um mesmo processo. 10

10 Ariovaldo Umbelino de Oliveira faz abordagens mais profundas sobre a agricultura brasileira.

OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. Agricultura Brasileira: transformações recentes. In. ROSS, Jurandir

Luciano Sanches (org.). Geografia do Brasil.2ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,

1998.

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CAPÍTULO III. A INSERÇÃO DE CRAVINHOS NA HIERARQUIA

URBANA REGIONAL E NACIONAL. A rede urbana brasileira é fruto de transformações ocorridas principalmente a partir de 1950, quando a população brasileira movida pelo processo industrialização-urbanização, começou a se transferir para as cidades.

Podemos entender como rede urbana ou hierarquia urbana o conjunto de cidades onde uma é influenciada por outra, ocorrendo, dessa forma, uma polarização de certas cidades sobre outras. Isso se dá basicamente pela oferta de produtos e serviços, pela estrutura que certas cidades dispõem e por isso é capaz de produzir, armazenar e distribuir produtos, tanto materiais como imateriais, serviços e informações.

As cidades são interligadas por redes de transportes rodoviários, aéreos, aquaviário e ferroviário que quanto mais eficiente mais fácil é dessa cidade participar numa posição de destaque nessa hierarquia. Mas, também, há uma rede virtual onde a conexão dessa cidade com outras através de redes de comunicação e informação permite a sua ligação com outros centros possibilitando sua integração.

A posição de uma cidade na hierarquia urbana depende de fatores como esses que expomos. Resumidamente podemos estruturar a seguinte hierarquia urbana no Brasil:

Metrópoles globais; São Paulo e Rio de Janeiro, suas influências têm abrangência mundial. Essas cidades formam a Megalópole brasileira, uma região com várias cidades que exercem influência recíproca entre elas, sendo interligadas por vários tipos de transportes e vários meios de comunicação, interdependentes em serviços, comércios, indústrias, etc., essa região se estende de Campinas-SP até Niterói-RJ. Sendo a região mais industrializada do Brasil e da América Latina.

Metrópoles nacionais; as principais capitais brasileiras se enquadram nessa categoria: Brasília (capital nacional), Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza essas metrópoles nacionais influenciam vastas áreas do território com abrangência nacional.

Centros regionais; essas cidades abrigam importantes comércios e serviços, shopping centers, instituições de ensino superior, etc., sofrem influência das outras metrópoles, mas influenciam importantes regiões dentro de seus estados, sendo que, algumas delas exercem influência entre áreas interestaduais e até nacionais, algumas capitais como: Cuiabá, Campo Grande, João Pessoa e Vitória figuram entre elas e algumas cidades como Ribeirão Preto e Londrina se enquadram nessa categoria.

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Centros sub-regionais de ordem 1 e 2; os primeiros se ligam diretamente com os centros regionais e, em algumas ocasiões, disputam influência com eles, os centros sub-regionais 2 se ligam diretamente com os centros sub-regionais 1 e também têm significativa influência dentro de uma região. Dentre os centros sub-regionais 1 temos: São José do Rio Preto, Uberlândia, Maringá e Caxias do Sul; dentre os centros sub-regionais 2 temos: Governador Valadares, Teófilo Otoni, Sobral e Rio Verde.

A hierarquia que acabamos de expor não é fixa, existe uma dinâmica nessa relação entre as cidades. Fatores de várias ordens podem interferir nessa dinâmica e fazer com que as cidades percam posições que conquistaram ou ascendam a um nível superior. Exemplo clássico é a ascensão de São Paulo sobre o Rio de Janeiro depois da inauguração de Brasília.

Pelo que vimos nota-se que Cravinhos está sobre influência direta de um Centro regional, Ribeirão Preto. Sua ligação com esse centro se faz via rodovia com bom fluxo de circulares suburbanos interligando-a.

Cravinhos também tem acesso a São Paulo via transporte rodoviário diretamente, pela rodovia Anhangüera, que também a liga com Campinhas uma importante cidade, pólo tecnológico pertencente à megalópole Rio - São Paulo. Pela mesma Anhangüera liga-se com a capital nacional e outras importantes cidades como Uberlândia e Uberaba e pela rodovia Antônio Machado Santana liga-se as cidades como Araraquara e São Carlos que possuem posições importantes na região central do estado de São Paulo.

Via Ribeirão Preto, Cravinhos pode fazer uso do aeroporto Leite Lopes, e através desse ir até São Paulo e daí ter conexão como o mundo. Cravinhos tem acesso à internet e a comunicação via tevê, rádio e jornais o que permite uma integração mais ampla.

Na tabela a seguir vemos a distância entre Cravinhos e algumas cidades do estado de São Paulo. O percurso sugerido é o do site oficial do Departamento de Estradas de Rodagens (DER) que nos mostra a melhor rota e nos dá a quilometragem segundo a rota sugerida.

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Tabela de distâncias.

Distância entre Cravinhos e algumas cidades de do estado de São Paulo Cidades Distânci

as Cidades Distâncias

Ribeirão Preto (via Anhangüera)

22 Km Bauru (via Rod. Antônio Machado Santana/Rod. Com. João Rib. de Barros/

202 Km

Campinas (via Anhangüera)

205 Km São José do Rio Preto (via Anhangüera/Rod. Armando Sales de Oliveira/ Rod. Assis Chateaubriand)

207 Km

São Paulo (via Anhangüera)

291 Km Serrana (via Rod. Ângelo Cavalheiro)

22 Km

Santos (via Anhangüera/Bandeirantes)

363 Km Porto Ferreira (via Anhangüera)

67 Km

São Carlos ( via Rod. Antônio Machado Santana)

93 Km Pirassununga (via Anhangüera)

85 Km

Araraquara (via Rod. Antônio Machado Santana)

79 Km Jaboticabal (via Anhangüera/ Rod. Attilio Balbo/ Rod. Carlos Tonani)

79 Km

Franca (via Anhangüera/Rod. Cândido Portinari)

108 Km Sertãozinho (via Anhangüera/ Rod. Attilio Balbo)

43 Km

Bebedouro (via Anhangüera/ Rod. Armando Sales de Oliveira

102 Km Barretos ( via Anhangüera/ Rod. Attilio Balbo/ Rod. Armando Sales de Oliveira)

143 Km

Fonte: http://www.der.sp.gov.br/home.aspx

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CAPITULO IV. GEOGRAFIA DE CRAVINHOS. “É preciso que o geógrafo perceba que ele é, de fato, não um espectador impotente, mas um agente de informações, quer queira, quer não, a serviço do poder, e suas proclamações revolucionárias ou sua preocupações morais não mudarão nada aí. É preciso que ele perceba que sua pesquisa pode ter graves conseqüências, mesmo se ela apresenta um caráter parcial (...) mesmo se ela só aborda as características físicas de um espaço (...) o geógrafo deve se lembrar constantemente que a geografia é um saber estratégico, e que um saber estratégico é perigoso.” (LACOSTE, 1997)

Quando o geógrafo Yves Lacoste escreveu o livro: Geografia- Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, na década de 1970, estava decretado a fim da Geografia neutra. Os argumentos do geógrafo só vieram confirmar uma posição que a Geografia ocupava desde a antiguidade. Ou seja, uma ciência de extrema estratégia para as nações. Um conhecimento capaz de elucidar o espaço em toda sua complexidade, tanto físicas: montanhas, vales, depressões, hidrografia; como humanas: características populacionais, cultura, economia etc. De posse desse saber, governantes do mundo inteiro impuseram seus planos de governo ou suas estratégias de guerras e conquistas.

Talvez, a conquista do Continente Americano pelos europeus esteja, em partes, ligada a uma capacidade destes pensar e atuar melhor num espaço para eles desconhecido. Então, escrever sobre a Geografia de uma cidade, sempre envolve abordagens que, mesmo com aparência de neutra, guardam informações que podem ser trabalhadas, analisadas e processadas para os mais variados fins.

Localização.

Cravinhos localiza-se no nordeste do estado de São Paulo, na região de Ribeirão Preto e faz divisa com os seguintes municípios: Ribeirão Preto, Luiz Antônio, Serrana, Serra Azul e Guatapará. Suas coordenadas geográficas são: latitude 21° 20’ 25’’ Sul, longitude 47° 43’ 46’’ Oeste.

O sítio urbano de Cravinhos é formado por terrenos que remontam 500 milhões de anos. Pertencia ao antigo continente chamado Gondowana, esse terreno passou por muitas glaciações e períodos de desertos e de clima semi-árido, houve também nessas regiões grandes derrames de basaltos, rocha magmática extrusiva que deu origem a “terra roxa”. Esse derrame ocorreu através de vulcanismos de fissuras onde as lavas saem através de falhas e fraturas na crosta terrestre. Esse evento, considerado maior do mundo, apesar de apresentar descontinuidades, inundou de lavas vastas regiões do sudeste e do sul do Brasil.

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A região também foi afetada com a separação da Gondwana há 200 milhões de anos, quando a América do Sul começou a se separar da África. Foi nessa época que surgiu muitas das serras que se localizam próximas ao litoral do Brasil, dentre elas a Serra do Mar que direcionou a hidrografia do estado de São Paulo rumo interior. Esses rios, surgidos nas partes altas, Serra da Mantiqueira e Serra do Mar, foram responsáveis por esculpir a região onde se encontra Cravinhos. A cidade acha-se numa crista de cuesta, ou seja, na parte mais alta de um relevo que tem por características um lado de rebaixamento íngreme e outro, chamado reverso, mais ameno. Cravinhos, no topo desse relevo, está a 782m do nível do mar, Ribeirão Preto a 517m no nível do mar, está no seu reverso.

Clima.

Falar de forma descontraída sobre clima é um ocorrido normal, de uso do senso comum não há necessidade de abordagens mais pormenorizadas, basta falarmos como estamos sentido ou percebendo o clima. Quando nos propomos a escrever sobre o clima com algum fundamento devemos ter algum cuidado. Não faremos uso de algumas classificações oficias, nossa base será o livro: “Geografia do Brasil” uma publicação da USP obra escrita por vários autores e organizada por Jurandir L. Ross e o Atlas Geográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Vale lembrar que as classificações climáticas sofrem alteração de uma para outra e até de autor para autor. Além do mais, a Climatologia é uma ciência dinâmica e pode sofrer variações com o incremento de novas tecnologias e novas abordagens, deve-se considerar também as mudanças naturais que um clima sofre no decorrer dos anos, essas mudanças podem ser maximizadas pela atuação do ser humano no meio ambiente.

Vejamos com era o clima descrito pelo Prof. Francisco Gomes no seu livro sobre Cravinhos escrito em 1922:

“ (...) colocada numa posição geográfica admirável, o clima raras vezes desce a 0° no inverno, ou sobe a 32° no verão, não havendo excesso de frio ou de calor.O clima temperado e seco, é de extraordinária salubridade, atestado seguidamente por inúmeras pessoas que aqui aportam em busca dos seus ares sobejamente conhecidos de primeira ordem” (GOMES, F. 1922)

Pelo que se vê houve algumas mudanças na condição climática da cidade nos últimos 86 anos. O que não é de se admirar, pois o desmatamento e as características de ocupação do solo contribuíram para isso.

Em nossas análises bibliográficas vimos que o clima de Cravinhos encontra-se numa derivação do clima tropical chamado – clima tropical

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de altitude - com médias de temperatura anuais em torno de 15° a 18° C, com precipitações em torno de 1.500 mm anuais e com um período mais seco durante três meses do ano. Esse clima é conseqüência, principalmente, da altitude e da latitude na qual a cidade se encontra. O fato de a cidade estar a 782m a coloca numa característica climática diferenciada em relação a Ribeirão Preto, a percepção térmica de Cravinhos é de um clima mais fresco que o de Ribeirão Preto, condição perceptível até por leigos.

Numa observação apenas empírica, ou seja, sem levar em conta o fator científico, a sensação é de um clima agradável, nos meses de inverno ocorrem alguns nevoeiros e os ventos são constantes. Essa agradabilidade é interrompida com as freqüentes queimadas da cana-de-açúcar que lança sólidos no ar e prejudica a respiração.

Vegetação.

O fator principal que condiciona a vegetação é o clima. Ele não é o único fator de influência, mas a vegetação acompanha o tipo climático. A vegetação original de toda região está muito devastada, pois vem sendo degradada desde o século XIX, esse fator altera todo ecossistema, forma-se um ciclo onde o desmatamento interfere no clima que por sua vez interfere na vegetação. A vegetação remanescente é composta por Floresta Estacional Semi Decídua (Mata Atlântica) e Cerrado, ambos muito fragmentados, existindo apenas, na região, em torno de 8% da cobertura original.

Características urbanas.

Numa primeira análise sobre os aspectos urbanos de Cravinhos percebemos que o centro da cidade se desenvolveu no fundo de um vale, ocupando as cabeceiras da nascente do córrego Ribeirão Preto. A rua XV de Novembro, que corta o centro da cidade, nos dá a impressão mais nítida desse fundo de vale. Essa característica trouxe vários problemas de enchentes que impôs ao poder público alguns desafios para saná-las. Nos dias atuais observa-se que tais obras atingiram o objetivo principal e conteve as enchentes, mas na década de 1970 a Revista Elo relatava que: “com a expansão das ruas e a pavimentação, faz com que todas as águas das chuvas rolem para o centro sem encontrar nenhum empecilho, acumulando-se nas ruas centrais (...). Enchentes que são na atualidade o mais problema da cidade”.

O córrego Ribeirão Preto corre sentido noroeste, obedecendo à topografia mais baixa, nas demais direções percebe-se que a topografia vai ganhando altitude em direção aos bairros.

Ao norte da zona urbana de Cravinhos, sentido Ribeirão Preto via rodovia Anhangüera, temos os setores industriais. Em direção ao

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sudeste, temos vários bairros residenciais bem equipados com supermercados, centros esportivos, comércio e escolas; dentre eles: Jd. Bela Vista, Jd. Primavera e Jd. Alvorada. Contíguo ao centro, em direção noroeste, localiza-se o Jd. das Acácias e Alto Acácias compostos por moradores de classe média alta e se destacando na cidade pelo padrão das residências. Em sentido noroeste, seguindo a avenida Pedro Amoroso, que é saída para Ribeirão Preto via rodovia José Fregonesi, observa-se que é o lugar onde a cidade mais cresce, nessa direção existem vários bairros formados por COHABS e outros que ainda estão surgindo e se desenvolvendo; dentre eles: Vila Cláudia, Jd. Itamarati, Jd. Itapuã, Nova Cravinhos, Conjunto habitacional Francisco Castilho e Residencial Jd. Santana.

O comércio de Cravinhos.

Há dois pontos bem nítidos quanto a concentração comercial na cidade. Um é a rua XV de Novembro, a mais antiga e tradicional rua comercial. Nela e nas suas imediações além de um comércio tradicional há também o centro financeiro e econômico, onde estão localizadas as agências bancárias e a única casa lotérica11. Outro é a avenida Pedro Amoroso, rota de saída para Ribeirão Preto, nela se percebe facilmente uma maior quantidade de estabelecimentos comerciais: mercados, lojas de acessórios, matérias de construção, farmácias, lojas de roupas, etc. Por ser o setor da cidade que mais cresce esse comércio vem ganhando espaço e se ampliando.

Além dos dois pontos que citamos, vale mencionar a avenida Manoel Gomes dos Santos que margeia a rodovia Anhangüera, nela encontra-se muitos estabelecimentos ligados ao ramo automotivos como oficinas e lojas de acessórios, há, também, algumas indústrias. Os demais pontos da cidade apresentam estabelecimentos mais isolados, porém, apesar de não haver concentrações como as que já citamos acima, a maioria dos bairros são servidos pelo menos de supermercados, farmácias, bares e padarias.

A industrialização em Cravinhos.

Para quem chega a Cravinhos, vindo de Ribeirão Preto via Anhangüera avista um grande painel luminoso com uma frase que incentiva empresários a montar suas indústrias no município. Uma iniciativa que vem ocorrendo em muitos municípios pequenos, onde através de incentivos o governo municipal tenta atrair indústrias para gerar emprego no município.

No caso de Cravinhos, a proximidade com Ribeirão Preto e o acesso através de boas rodovias, torna-se um atrativo inquestionável. É justamente nas marginais da via Anhangüera onde se percebe a maior 11 Notem que o livro foi escrito em 2008, hoje há uma outra lotérica na av. Pedro Amoroso.

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concentração de indústrias em Cravinhos. Dentre elas: Dow AgroSciences, multinacional dos Estados Unidos com sede em Indianápoles, atua no ramo de genética de plantas e biotecnologia; Renk-zanine, empresa de capital binacional germano-brasileira, atua no ramo de fabricação de redutores de velocidade; Ouro Fino, fabricante de produtos veterinários, empresa brasileira com filial no México, seus produtos estão presentes em mais de 27 países da América, África e Ásia; Paletrans, empresa nacional, fabricante de produtos para movimentação de cargas, empilhadeiras, transpaletes, etc., é a maior fabricante destes produtos na América Latina exportando-os para mais de 20 países e presença marcante no continente europeu.

Por essas empresas que citamos percebemos uma significativa importância industrial que Cravinhos vem alcançando. Cremos que não há exagero no site oficial da prefeitura de Cravinhos quando se lê: “Localizada a 15km de Ribeirão Preto e a 292km de São Paulo o município de Cravinhos se consolida como um dos centros industriais mais importantes da região.” Um procedimento acertado da administração municipal que soube explorar a proximidade com Ribeirão Preto e a ligação por meio da Anhangüera que liga a cidade à capital estadual e capital nacional.

A título de esclarecimento, o setor que mais emprega atualmente é o terceiro setor, comércio e serviços, a indústria incorporou muita tecnologia, faz uso de mão-de-obra qualificada e o “chão de fábrica” é ocupado por máquinas. Porém, a indústria gera receita para os cofres públicos e movimenta outros setores da economia.

Cravinhos em números.

Os dados estatísticos posicionam e indicam onde se faz necessário os investimentos nas diversas áreas, os números também ajudam a entender a economia e facilitam análises indicando tendência que o município possui para este ou aquele tipo de investimento. Em algumas situações eles podem sofrem pequenas distorções na sua produção e no seu levantamento.

De todo modo, eles são indispensáveis para qualquer pessoa ou órgão público ou privado que queira entende melhor a cidade. Nossa base de dados nesse trabalho foi retirada do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), eles representam a realidade do ano de 2008, hoje, com os meios de acessos à internet as estatísticas ganham uma dinâmica diferenciada, podendo ser acessada imediatamente após as constantes atualizações. Por isso, a intenção principal em divulgar os dos dados expostos aqui não é tecer comentários e reflexões sobre eles, mas

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sim posicionar o leitor no contexto atual do município, sendo que, o próprio leitor tirará suas conclusões.

Tabela de dados estatísticos sobre Cravinhos.

População 29.377 PIB da indústria 66.864 mil reais PIB da comércio e serviços

150.016 mil reais

PIB da agropecuária 23.413 mil reais PIB per capita 8.18 mil reais Escolas estaduais 03 (ensino

fundamental e médio) Escolas municipais 04 (ensino

fundamental e infantil)

Escolas particulares 02 (ensino fundamental e médio)

Estabelecimentos de saúde

03 (Sta. Casa e dois postinhos)

Instituições financeiras 05 agências

Fonte: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1

Questões ambientais em Cravinhos.

Não temos dúvida em afirmar que a questão ambiental precisa ser observada com mais prioridades e critérios no município. O rio que dá nome à cidade de Ribeirão Preto, como já falamos anteriormente, nasce no centro da cidade de Cravinhos. Por estar canalizado em uma parte do município, dificulta um pouco analisar o local exato da nascente, em análise visual, e ouvindo relatos de moradores antigos, percebe-se que o provável lugar da nascente fica nas esquinas da rua Cesário Motta com a Saldanha Marinho12, na esquina onde fica o velório municipal. A análise topográfica comprova os relatos, neste ponto a rua Cesário Motta começa a apresentar uma elevação no sentido centro-bairro e a rua Saldanha Marinho está no seu ponto mais baixo, formando um verdadeiro fundo de vale.

Este rio, o córrego Ribeirão Preto, recebe toda carga de esgoto da cidade de Cravinhos, o município coleta 100% do esgoto mas não o trata em nenhuma porcentagem13, em áreas do município mais próximas ao bairros populares, por onde o rio corta, não há matas ciliares, observa-se que há um projeto de recuperação em andamento.

12 O livro do Prof. Francisco Gomes, usado por nós, também faz referência a esse local. 13 Essa informação pode ser constatada no Relatório de Qualidade das Águas Interiores no Estado de São Paulo-2007. Disponível on-line no site: http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/publicacoes.asp

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Em análise visual verifica-se a eutrofização de boa parte do rio no percurso urbano da cidade, é bem possível essa ocorrência é devido a cargas poluentes. Os lixos difusos pela cidade: panfletos, diversos tipos de plástico e papéis, material químico líquido, dentre outros que a população joga nas ruas, acaba caindo no leito do rio, fato facilmente identificável na rua XV de Novembro quase na esquina com a Cesário Motta, onde o córrego Ribeirão Preto aparece pela primeira vez fora da canalização14.

Outra questão ambiental urgente é o lixão da cidade15. Localizado nas margens da rodovia José Fregonesi, sentido Cravinhos-Ribeirão Preto, percebe-se que é um depósito de lixo que não segue as normas sanitárias, há no local grande quantidade de urubus e cachorros que se alimentam dos restos. Não há tratamento. Ao menos é o que parece16. Fator que compromete totalmente o meio ambiente, pois o chorume que esse lixo produz pode contaminar o lençol freático.

Apesar do clima agradável que a cidade possui, como já falamos, a queima da cana-de-açúcar deixa o ar, principalmente na época mais seca do ano, com partículas sólidas identificáveis a olho nu. Podemos incluir essa questão como um dos problemas ambientais a ser resolvido, sendo um dos que apresenta mais complexidade. Pois envolve grandes empreendimentos agropecuários que exercem poder político na região.

14 Essas informações, apesar de ter por base observações próprias do autor, possuem correspondência com a matéria que trata dos 151 anos de Ribeirão Preto. Que pode ser acessada no site: http://www.ddilha.com.br/wharton/index.php?option=com_content&task=view&id=3&Itemid=27. 15 Atualmente (2011) o lixo da cidade é levadoa para aterro sanitário. 16 Não fomos pesquisar em fontes para dar essa informação, estamos aqui relatando apenas nossa observação. Se há algo sendo feito no sentido de tratar o lixo na cidade, essa informação não se tornou pública.

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PARTE II. SUBJETIVIDADE E IMAGÉTICA DE LUGARES EM

CRAVINHOS. Se consultarmos o Dicionário Houaiss da língua portuguesa, notamos os seguintes significados que nos interessam para as palavras acima: subjetividade; realidade psíquica, emocional e cognitiva do ser humano. Imagético, que exprime por imagens, que revela imaginação. De posse desses significados dá para se perceber que esta parte está mais ligada à observação e à sensação do que com a análise científica propriamente dita.

As ciências humanas ultimamente vêm se preocupando com esses aspectos, porém não são tão normais de serem achados nas obras mais populares. Assim sendo, a base de dados sobre esses temas, apesar de existir, não é tão divulgada. O que dificulta uma análise bibliográfica mais profunda.

Por outro lado, pelas características dessa obra, temos a intenção de produzir algo a esse respeito sobre alguns lugares de Cravinhos. Essa produção se baseará mais na observação, como o próprio título indica e menos na consulta de outras obras do gênero em pauta.

Como lugar, usaremos uma categoria aplicada em Geografia, não que ela não seja usada por outras ciências, mas que faz parte da estrutura conceitual da Geografia. Assim, para nossas abordagens lugar é a parte do espaço geográfico que guarda laços de sentimentos, vínculos, é uma unidade sensível. Para esclarecer melhor, podemos dar um exemplo: uma pessoa que passou a infância numa cidadezinha e brincava na praça todas as tardes até que sua mãe ia chamá-lo para tomar banho, guardará por esse lugar um vínculo sentimental incompreendido por outros que não viveram as mesmas situações. Em outras situações, uma velha estação ferroviária pode despertar saudades de provocar lágrimas em um idoso que ali pegava o trem para ir à capital com o seu pai, enquanto um jovem analisa aquela velha estação como um prédio velho sem significado nenhum.

Serão abordagens desse tipo que estarão presentes nessa parte, para isso usaremos alguns lugares selecionados por nós, e aí já começa a subjetividade, talvez aquilo que tem algum sentido aos nossos olhos para outros não faz muita diferença.

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CAPÍTULO V. PRESERVAÇÃO DA MEMÓRIA E SUBJETIVIDADE DO

ESPAÇO URBANO CRAVINHENSE.

Para quem chega a Cravinhos pela primeira vez com um olhar atento ao centro da cidade, percebe que existem muitos prédios antigos que foram construídos por volta da primeira metade do século XX, guardam um estilo que nos remete a Belle Époque17.

Sugerimos que a proximidade com Ribeirão Preto e o crescimento urbano da cidade que se estagnou tenham sido os principais responsáveis pela permanência desses prédios. Há construções em Cravinhos com mais de 100 anos. São exemplos: a igreja matriz de São José com suas praças, a igreja São Benedito, vários túmulos no cemitério municipal; dentre outras que veremos.

Notamos através dos censos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que o auge da população de Cravinhos foi no ano de 1900, apenas 24 anos depois do surgimento do núcleo inicial que deu origem à cidade, depois desse ano, os outros censos nos mostram que a população só foi ultrapassar a marca dos 20 mil habitantes no ano de 1991. Vejamos a tabela da evolução populacional de Cravinhos:

Evolução populacional de Cravinhos.

Ano População 1900 30.050 1920 13.968 1940 18.336 1950 11.551 1960 13.771 1980 16.942 1991 22.561 1996 23.984 2008 29.377

Fonte: www.ibge.gov.br

Essa tabela nos possibilita muitas reflexões. O que mais impressiona e a diferença entre o censo de 1900 e 1920, quando a população cai para menos da metade. O que teria acontecido? O Prof. Francisco Gomes, em seu livro de 1922, já citado por nós, nos diz que a população de Cravinhos por aqueles anos era de 20.445, composta da seguinte forma: urbana 3.442, rural 13.569; urbana de Serrinha 662 e

17 Período entre as últimas décadas do séc. XIX e as primeiras do séc. XX, onde houve uma grande modernização das cidades em que os governantes se preocupavam com a estética das construções, a higienização, praças, etc. A capital da França, Paris, foi o grande centro difusor dessa tendência. FOLIS, Fransérgio. Modernização urbana na Belle Époque paulista. São Paulo: Editora Unesp, 2004. No caso de Cravinhos, não estamos afirmando que ela é uma representante genuína dessa tendência, mas apenas nos faz lembrar sutilmente.

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rural 2.771. Diz-nos que está baseada no último recenseamento federal. Seria possível um erro na contagem?

Na impossibilidade de darmos respostas a tantas perguntas ficamos com a possibilidade que nos parece mais coerente no momento: Cravinhos foi perdendo população para Ribeirão Preto. E a proximidade de Ribeirão ofuscou um possível crescimento de Cravinhos. Com isso, defendemos que muitos prédios foram preservados.

Cidades como Ribeirão Preto, já não possuem mais sua primeira igreja, ou seu primeiro cemitério. Como exemplo conhecido, podemos citar a cidade de São José do Rio Preto, em 1900 a população dessa cidade era em torno de 10.000 habitantes, em 1920 saltou para 67.386 habitantes, impulsionada pela chegada da ferrovia em 1912. O súbito crescimento dessa cidade deslocou o cemitério municipal por duas vezes conforme a cidade ia crescendo, a primeira igreja matriz deu lugar a uma segunda, que foi demolida na década de 1970 para dar lugar a atual. Com Ribeirão Preto se nota casos semelhantes. Além disso, nesses dois exemplos de cidades que citamos, houve grande perda de prédios com significados históricos devido à valorização do espaço urbano dessas localidades.

A estagnação do crescimento de Cravinhos pode ter contribuído para preservação do seu patrimônio arquitetônico. A primeira e a segunda igreja católica de Cravinhos ainda existem, ambas com mais de um século. O cemitério secular ainda está no mesmo lugar no qual foi projetado no final do século XIX. Dentre outros imóveis como o primeiro grupo escolar, a cadeia municipal, a Santa Casa18, o Mercadão, etc.

18 A Santa Casa foi muito descaracterizada por sucessivas reformas.

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CAPÍTULO VI. A IGREJA SÃO BENEDITO.

Vista do largo da Igreja São Benedito. Foto: Alexandre de Freitas (2008).

“As capelas isoladas começaram a surgir na paisagem das fazendas de café principalmente na década de 1890, alguns anos após a extinção do trabalho escravo e quando a mão-de-obra se torna majoritariamente constituída por imigrantes. Até então predominava capelas, ou oratórias, na parte interna dos casarões (...)” (BENINCASA, Vladimir. 2006, p.177)

Segundo Vladimir Benincasa, em sua tese de doutorado, esse interesse dos fazendeiros em construir capelas próximas da sede da fazenda, era para manter os migrantes mais próximos possível do local de trabalho para que não conhecessem muito coisa do “mundo lá fora” e se preocupassem mais em trabalhar de um modo mais obediente, sem contestações. Provavelmente a construção da Igrejinha São Benedito tenha obedecido essa lógica.

Essa igreja foi a primeira de Cravinhos, era uma capela particular que pertencia a Francisco Rodrigues dos Santos Bonfim, construída em 1888 e posteriormente doada para a paróquia e entregue a irmandade São Benedito. A igreja de 120 anos não apresenta boas condições. Segundo reportagens de jornais locais há uma certa dificuldade em reformá-la, apesar da vontade de alguns prefeitos os padres não autorizam.19

O lugar possui uma das melhores vistas de Cravinhos, por ser um ponto alto nota-se perfeitamente o relevo semi-acidentado onde se ergueu a cidade. Ali foram rezadas as primeiras missas, namorados se encontravam na praça ao seu redor e hoje resta o quase total esquecimento. Não raro se nota algumas pessoas que vão à praça para usar drogas, uma vez ou outra alguma família se posta ali nos finais de tarde que oferecem um dos melhores por do sol de Cravinhos. E, conforme o

19 No começo de 2009 esta igreja foi ao chão. O fato foi noticiado nacionalmente, nos dias atuais (2011) sua

reconstrução está em fase final.

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jornal folha de Cravinhos: “para muitos, um dos motivos da „Igrejinha‟ ter caído no esquecimento da sociedade foi a construção da Igreja Matriz São José.”

Em conversa com moradores antigos ouvimos que ali se formou um núcleo comercial e habitacional, havia a estrada de rodagem que levava até a capital, o trem também passava nos arredores da igreja, contornando-a. Observando os prédios nas proximidades vemos que eram prédios comerciais que possivelmente abrigavam mercearias ou outros comércios e muitas casas apresentam características bem antigas. O que confirma as palavras dos moradores antigos.

O esquecimento dessa igrejinha, pelo que vimos, não é coisa nova, em 1922 era esse o comentário que o Prof. Francisco Gomes fazia da Praça Annita Garibaldi, largo da igrejinha em que: “outrora era o ponto principal dos festejos religiosos, onde se reunia grande massa de povo e tudo mis que essas festas atraem, e onde ainda em nossos dias, uma ou duas vezes ao ano, realizam-se os festejos em homenagem a S. Benedito.” (GOMES, F. 1922. pp. 86-87).

A função desse lugar passou por alterações. Primeiramente uma função religiosa que não se separava de uma função de contenção de trabalhadores. Depois, quando a igreja foi incorporada à paróquia, a função religiosa passou a ser predominante, mas juntamente com essa havia as festas, os namoros, ou seja, era um ponto de encontro. Atualmente não existe mais a função religiosa, algum casal de namorado pode ser visto no local esporadicamente, à noite percebe-se que alguns usuário de drogas frequentam o local e, bem provável, que o lugar é propício para praticar atos sexuais, pois não raro, é fácil encontrar preservativos usados nas imediações.

De todo modo, enfatizamos que os vínculos com esse lugar permanecem de uma maneira ou de outra. Não entrando aqui no juízo de valor sobre como o lugar está sendo usado, se poderia ser diferente, etc. A questão é que para alguém que vai ao local seja com a família esporadicamente, ou para usar drogas, ou praticar atos sexuais o lugar é propício para se adquirir algum vínculo.

De nossa parte, pensamos que o poder público deveria dar uma maior atenção a essa igrejinha. Ela faz parte inseparável da história da cidade, foi a primeira igreja e, juntamente com seu largo, merece receber as reformas devidas, com posteriores manutenção do patrimônio arquitetônico e histórico que ela representa.

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Capítulo VII. A Igreja São José - a matriz de Cravinhos.

Igreja São José, ao cair da tarde, quando as luzes da praça já começavam a se acender. Foto Alexandre de Freitas (2008).

“Em 2 de outubro de 1900, no meio de grande concurso o povo, presente o revmo. vigário da paróquia, revmos. cônegos Joaquim Antônio Siqueira e Victor Fabiane, foi solenemente lançada a benta a primeira pedra fundamental da nova matriz inaugurada à 24 de junho de 1904 pelo mesmo vigário.” (GOMES, F. 1922. pp. 38-39)

Igreja São José. Por volta d 1922. Fonte: (GOMES, F. 1922. p.38).

A análise dessas duas fotos com aproximadamente 86 nos de diferença entre elas, nos revelam algumas surpresas. Nota-se que houve modificações na fachada da igreja. No mínimo os responsáveis pelas reformas foram mal assessorados, pois não acompanharam o projeto original, descaracterizando-a.

Na foto de 1922, percebe-se que a torre termina em formato de cone e nas duas extremidades da fachada frontal não há cruzes, enquanto na foto de 2008 na torre não há mais o cone e as laterais ganham duas

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cruzes. Outros detalhes podem ter sofrido mais modificações que se tornam difíceis de perceber devido a ausência de fotos antigas.

A igreja São José está assentada num corte de relevo e tem uma praça em sua volta. Um seguimento de rua passa em frente à porta principal da igreja e liga esta à avenida Rita C. Nogueira. Outra praça é a do coreto, que fica de frente para a entrada principal da igreja São José. Nela todos os domingos apresenta-se uma banda de música, a avenida Rita C. Nogueira fica com uma das faixas, a do quarteirão da igreja, interditada e ali um “trenzinho” que circula a cidade com crianças, redes pula-pulas e um pequeno comércio ambulante de cachorro-quente, pipocas, bexigas, etc., completam o cenário local embalado pelo serviço de alto falantes, que possui altos falantes localizados nos postes da praça, anunciam as músicas e dão alguns recados.

A característica típica de pequena cidade do interior se expressa plenamente nessas locais. Só mesmo quem a freqüenta sabe que ainda é realmente um ambiente familiar onde crianças correm ao redor do coreto acompanhados de seus pais, os mais velhos ficam no banco da praça proseando com os amigos e os adolescentes um pouco mais distantes, nos demais bancos em busca de alguma paquera.

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CAPÍTULO VIII. RUA XV DE NOVEMBRO.

Aspecto da rua XV de Novembro por volta de 1922. Foto: GOMES, F. 1922.p. 79

Como já dissemos em páginas anteriores, hoje a rua XV de Novembro ainda possui grande variedade de comércio, sendo ela e suas proximidades o centro financeiro da cidade, quatro das cinco agências bancárias estão nela, a única lotérica da cidade está nesta rua e a única agência dos correios também. À noite, principalmente aos finais de semana, bares, lanchonetes e sorveterias atraem um considerável público que varia entre jovens, crianças e adultos.

Está rua possui vários prédios antigos, por ter sido o principal núcleo de comércio da cidade, a obra do Prof. Francisco Gomes nos mostra que a maioria absoluta do comércio nas primeiras décadas do século XX ali se concentrava. E essa rua com: “Seus prédios, de construção moderna, com as fachadas altas e sólidas, recomenda-se pela pintura sóbria e alegre que lhe imprime bonita aparência.” (GOMES,

F. 1922. p. 49), ainda sustenta muitos prédios do início do século passado, alguns com notáveis alterações em suas fachadas, outros ainda guardam características da época. De nossa parte, a recomendação é para que o poder público se prontifique em estabelecer uma política que vise à preservação dos patrimônios históricos da cidade, pois muitas de suas construções guardam parte incontestável da história do município.

Propomos uma política patrimonial que leve em conta os arredores da rua XV de Novembro, esse é um principio presente na literatura que trata do assunto, pois permite constatar no campo visual as características de todo contexto e não de um único prédio.

Não temos formação específica na área para elaborarmos de fato uma política nesses moldes, o conhecimento que temos sobre o assunto nos permite apenas fazer uma identificação da atual situação e chamar a

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atenção dos caros leitores a respeito da necessidade de preservação desse patrimônio histórico20.

Equacionar uma possível demanda no sentido de novas construções e adaptações para abrigar comércios, talvez seja a parte mais difícil. Mas essa dificuldade deve ser superada. As gerações futuras têm o direito de ter um contato direto com esses prédios que fazem parte do passado da cidade pela qual possuem vínculos sentimentais. O novo, o progresso e o moderno não têm o direito de apagar o passado tão importante para compreendermos o presente.

20 Atualmente há uma ação do Projeto Cre-ser visando a implantação de um instituto histórico-geográfico e cultural na cidade.

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CAPÍTULO IX. PRÉDIOS NA REGIÃO CENTRAL DE CRAVINHOS: OS

RESQUÍCIOS DE UM PASSADO.

Aspectos de um antigo prédio na rua XV de Novembro, centro de Cravinhos. Foto: Alexandre de Freitas (2008)

A seguir faremos uma pequena relação dos prédios que supostamente21 são de interesse histórico por suas características ou por sua idade. Eles estão localizados na região central, alguns na rua XV de Novembro, outros em ruas próximas a ela.

Esse prédio localiza-se na esquina da rua XV de Novembro com a rua Floriano Peixoto. Ainda mantém muita coisa da sua fachada original, nota-se portas e janelas de madeira, mas um cobertura de metal em forma de “puxadinho” tira um pouco sua originalidade. Apesar disso, ainda é imponente.

As fotos abaixo com diferença aproximada de 95 anos entre elas, mostra-nos o antigo teatro Eden. Inaugurado no dia 20 de dezembro de 1913 por uma companhia teatral italiana que tinha como atriz principal Clara Della Guardia. Mais uma vez notificamos alterações na fachada original do prédio. Esse teatro também funcionou como cinema e animou a juventude por várias décadas.

Antigo teatro Eden. Anexo ao bar Eden. O bar ainda existe nos dias de hoje, o teatro, como se vê na outra foto, transformou-se em igreja.

21 Usamos um termo que expressa dúvida porque, pelo menos não é de nosso conhecimento, ou falhamos em

nossas pesquisas, não há registros em fontes escritas que trazem abordagens sobre o passado de tais construções.

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Foto: Alexandre de Freitas (2008)

Prédio do antigo teatro Eden. Com visíveis modificações na fachada original e abrigando uma igreja evangélica. Nota-se ao lado uma parte do bar Eden, com menos alterações em sua fachada.

Antigo Cine-teatro Eden e ao lado Bar Eden. Foto: GOMES, F. 1922. p. 153.

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Esse prédio em estado precário na rua Epitácio Pessoa, pequena rua entre a XV de Novembro e a rua Maestro J. da Fonseca, nos dá uma Idéia de má conservação. Por suas característica foi construído nas primeiras décadas do século XX.

A citada rua onde está o prédio visto anteriormente, segundo consta no livro do Prof. Francisco Gomes, foi aberta por volta de 1922, em homenagem ao então presidente da república, Epitácio Pessoa, em ocasião de sua visita a Ribeirão Preto. Na época ela ligava a rua XV de Novembro à rua Prudente de Morais.

Prédio da antiga cadeia. Hoje abriga uma delegacia de polícia, talvez o prédio antigo mais conservado de Cravinhos. Foto: Alexandre de Freitas (2008).

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CAPÍTULO X. O CEMITÉRIO DE CRAVINHOS.

Aspecto do cemitério de Cravinhos por volta de 1922. Foto: GOMES, F. 1922. p. 142.

“Partindo da praça Dr. Luiz Pereira Barreto, quase em linha reta pela estrada de rodagem, recentemente inaugurada (...) encontramos em sua margem esquerda, o recanto silencioso onde repousam na eternidade, prateados e saudosos mortos.” (GOMES, F. 1922.p. 141)

Vista do cemitério que tem mais de um século, inaugurado em 1880. A foto é de aproximadamente 1922. Os mausoléus do foto ainda existem.

A estrada de rodagem descrita foi aberta em 1922, informação também constatada na Revista Tribuna, e ligava Cravinhos a Ribeirão Preto. Hoje no percurso dessa estrada está a avenida Pedro Amoroso, a que abriga o maior número de estabelecimentos comerciais da cidade. O espaço urbano da cidade já alcançou o cemitério, hoje ele é rodeado de bairros populares inserido totalmente no espaço urbano.

O cemitério pode se considerado, sem sobra de dúvida, um museu a céu aberto. Figurando juntamente com a estação ferroviária e a igreja São Benedito, como uma das obras mais antigas da cidade. Ali nota-se túmulos do século XIX, verdadeiras obras de arte que comprovam o poder aquisitivo do povo de Cravinhos daquela época.

Um cemitério que sempre foi o único da cidade e tem 128 anos guarda muitas histórias e lembranças. Há uma história, facilmente ouvidas entre os populares da cidade, sobre um coqueiro que existe no cemitério, ele é único, não havendo outros nas proximidades, assim quando uma pessoa quer brincar com a possibilidade de uma morte iminente diz que vai acabar no coqueiro. A Revista Tribuna relata uma história sobre o tal coqueiro, diz que uma pessoa morreu asfixiada com o caroço de um coquinho e a ser enterrada no cemitério nasceu ali o famoso coqueiro.

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O coqueiro solitário já tinha sido notado em 1922, na obra do Prof. Francisco Gomes que estamos usando, nela ele nos diz que o cemitério possui: “Ciprestes esguios e austeros, pinheiros, casuarinas, um coqueiro, único e antiqüíssimo e grande quantidade de flores (...)” (GOMES, F. 1922. p.141-142). Se em 1922, o coqueiro já tinha sido considerado antiqüíssimo, podemos ter uma idéia da força dos mitos que o tal coqueiro é capaz de produzir.

A mortalidade infantil era bem maior no início do século XX, vemos no cemitério muitos túmulos de crianças com frase que comovem, fazendo referência à pouca idade em que elas partiram.

Duas das construções mais antigas de Cravinhos foram idealizadas por Francisco Rodrigues dos Santos Bonfim, a igrejinha São Benedito e o cemitério. Túmulo de Francisco Rodrigues dos Santos Bonfim, o cemitério foi construído por sua iniciativa e 18 anos depois veio a ser sepultado ali. Este túmulo apresenta muita deterioração, a cruz está pensa e pode desmoronar a qualquer hora.

Foto: Alexandre de Freitas (2008)

No detalhe do túmulo vê-se do dia do nascimento e do falecimento de Francisco Rodrigues dos Santos Bonfim. Nasceu em 8 de maio de 1849 e faleceu em 2 de junho de 1898, portanto com 49 anos. Muito novo.

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Foto: Alexandre de Freitas (2008)

O cemitério centenário possui 200x200 metros e duas ruas principais cortam-no formando uma cruz. Outras ruas secundárias existem entre as principais. A riqueza história desse lugar é fantástica, dá para se fazer inúmeras abordagens com as inscrições e os aspectos de inúmeros túmulos com características interessantes.

Constatamos um problema no planejamento dos túmulos nas quadras do cemitério, em alguns lugares de maior densidade eles estão muito próximos não permitindo a circulação de pessoas. Para andar por meio desses temos que tomar cuidado para não pisá-los.

Aqui, nos arriscamos em registrar, que é o cemitério de Cravinhos que guarda a história mais completa da cidade. Dentro dele, em alguns lugares mais antigos, temos a impressão de regressar no tempo. Tempo onde a grafia da língua portuguesa era diferente, tempo onde o café imperava, onde muitas crianças morriam por falta de recursos tecnológicos e tempo onde as classes mais abastadas ornamentavam os túmulos de seus entes queridos com os mais caros mármores e obras de arte.

Um lugar que merece mais atenção de todos cravinhenses que dão valor no passado da cidade.

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CAPÍTULO XI. ESTAÇÕES FERROVIÁRIAS DE CRAVINHOS. Esse último capítulo do livro faz referências às estações ferroviárias do município de Cravinhos. Depois de percorrermos um pouco da história da cidade notamos que o surgimento de Cravinhos se deve em muito pelo surgimento de uma estão ferroviária. Como já falamos, no final do século XIX, no estado de São Paulo, as ferrovias chegam onde havia plantações de café com o objetivo de escoar a produção até o porto de Santos.

No caso de Cravinhos havia estações pelo município que, provavelmente, estavam estrategicamente localizadas nos lugares onde se produzia mais café. Em 1922, o município:

“É servido pela estrada de Mogiana, tendo as seguintes estações: Cravinhos, Tibiriça e Buenópolis na linha tronco; Bifurcação, Manoel Amaro, Alvarenga e Serrana, no ramal Cravinhos; Fagundes e Arantes no Ramal de Jandaia, Serrinha da S. Paulo-Minas.” (GOMES, F. 1922. P. 137)

Nota-se, inegavelmente, um número expressivo de estações e como veremos adiante muitas delas foram inauguradas por volta de 1910. Isso só vem comprovar a grande produção de café da região. Graças ao digníssimo trabalho de Ralph Mennucci Giesbrecht, que tem uma visão histórica das mais apuradas, conseguimos em páginas do site:<http://www.estacoesferroviarias.com.br/index.html> analisar imagens e dados de praticamente todas as estações que existiram no município de Cravinhos. Vale lembrar, que o livro de Francisco Gomes sobre Cravinhos, muito utilizado por nós nesta obra, também serviu de fonte para o referido pesquisador.

Cravinhos se torna emblemática pelo número de estações. O que vem comprovar a grande importância do café para região.

Além da estação principal que hoje está no centro da cidade e que foi inaugurada em 1883, Cravinhos teve as seguintes estações relacionadas abaixo.

Nova Cravinhos.

“A estação foi aberta em 1964, na linha nova da Mogiana (variante Bento Quirino-Alto), e inicialmente era chamada apenas de "E2". Alguns anos mais tarde, recebeu o nome de Cravinhos, mas fica a nove quilômetros do centro da cidade, chegando-se hoje a ela por uma variante da rodovia Cravinhos-Serrana. Com o fim do trem de passageiros, em fins de 1997, foi abandonada de vez.” (Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/c/fotos/cravinhos-nova2.jpg)

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Esta estação, segundo o site que consultamos, surgiu quando o traçado dos trilhos da Mogiana mudou. Essa mudança no traçado deixou outras estações isoladas, muitas em propriedades particulares e muito mal conservadas.

Nova Cravinhos, antiga “E 2”. Observa-se uma placa onde se lê propriedade particular. Bem menor do que a estação central de Cravinhos. O prédio visivelmente parece bem conservado. As estações que se seguem estavam no ramal Cravinhos-Serrana.

Bifurcação.

“A estação de Bifurcação foi inaugurada pela Mogiana em 1910, de acordo com seus relatórios, mas não consegui saber se a estação já existia antes de a Cia. ter adquirido a E. F. Vicinal de Ribeirão Preto, ferrovia particular que operava a linha antes disso.” (Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/bifurcacao.htm)

Estação Manoel Amaro.

Também inaugurada pela Mogiana em 1910. Fica do lado oeste da Rod. Cravinhos-Serrana, próximo a um pesqueiro. Segundo nossa fonte: “Esta ficava na fazenda Posse da Figueira, em terras cedidas elo sr. Manuel Amaro, daí o nome da estação.”

Estação Alvarenga.

Segundo nossa fonte, só sabemos que foi inaugurada em 1910. Não conseguimos saber sua localização. Há um relato pessoal, na nossa fonte, que se localiza ao lado do rio Tamanduazinho. Percebe-se que está muito descaracterizada.

A última estação desse ramal, Estação Serrana, foi destruída. No seu lugar há um ginágio de esporte.22

Vejamos as estações do sub-ramal Jandaia.

“O ramal de Jandaia teve o nome derivado da Fazenda Jandaia, situada logo após a Fazenda Cravinhos, pelas quais o leito do ramal passava. Foi aberta em 1910, e ainda nesse ano, a Cia. estudou o seu prolongamento do ramal, chegando até Jatobá, além do rio Pardo e local não identificado. O ramal saía da estação de Bifurcação, no ramal de Cravinhos, e chegava até Arantes, com quase 16 km.” 23

Fagundes.

22

http://www.estacoesferroviarias.com.br/s/serrana.htm 23 http://www.estacoesferroviarias.com.br/a/alvarenga.htm

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Foi aberta em 1910, ficava na fazenda União, de propriedade da Empresa Irmão Fagundes & Cia. Ficava no Km 10 sub-ramal de Jandaia.

Estação Arantes.

Situada no final da linha, inaugurada em 1910. Ficava no km 16 do sub-ramal de Jandaia.

As estações que se seguem ficavam no tronco principal da Mogiana, aproximadamente entre Serra Azul e Ribeirão Preto, passando por Cravinhos.

Estação Tibiriça.

Está estação ficava na Fazenda Tibiriça que pertencia à Cia. Agrícola Chimborazo uma das que mais produzia café na região. A ponto de possuir linhas próprias com locomotivas e vagões. Ficava entre Serra Azul e Cravinhos e foi inaugurada em 1892.

Estação Buenópolis.

Inaugurada em 1897, ficava parte no município de Ribeirão e parte no Município de Cravinhos. Nas terras da Fazenda de mesmo nome. (Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br/b/buenopolis.htm).

Estação Cravinhos.

Em foto de 1910, a estação já tinha ganhado a configuração atual. Lembramos que a primeira foi construída em 1883 e era bem singela.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS. Não temos por objetivo concluir esse livro, entraríamos em contradição com aquilo que dissemos no começo. A intenção aqui é apenas fazer algumas considerações gerais a respeito de Cravinhos, um breve comentário geral para que possa ser comparado com outras formas de entender e análises diversas da nossa.

Cravinhos foi uma cidade que nasceu grande! Surgida em 1876, 24 anos depois possuía em torno de 30.000 habitantes. Vale lembrar que, nesta época, a população rural era expressiva e essa população não refletia na malha urbana da cidade. A título de comparação Ribeirão Preto no mesmo ano possuía em torno de 60.000 hab., Porto Alegre 73.000 hab., Fortaleza 48.000 hab., Manaus 50.300 hab.

Com essas comparações podemos dizer que Cravinhos possuía muita gente. A população de 1900, só foi alcançada na projeção populacional do IBGE em 2006, já em 2007, tornou a cair. Durante esses 132 anos a população vem oscilando, mas nunca ultrapassou consideravelmente a marca dos 30.000 habitantes.

Se tivéssemos a intenção de trabalhamos com explicações semi-acabadas, diríamos que foi a proximidade com Ribeirão Preto que fez com que Cravinhos estagnasse. Episódios semelhantes são constatados em várias cidades que se formam próximas umas das outras, onde uma atrai maiores investimentos que outra e prejudica o desenvolvimento de sua vizinha. Provavelmente esse teria sido o fator principal. Mas são assuntos para mais escritos e análises que nesta obra são despropositais.

Cravinhos, ofuscada pelo crescimento de Ribeirão, aliou-se a ela. E hoje atrai indústrias e até moradores que querem fugir da cidade que cresceu muito, tornando-se mais perigosa e mais agitada, para ir se estabelecer numa cidade mais calma, próxima de Ribeirão e interligada por meios de transportes.

Se a pouca violência, a boa forma de morar com espaços adequados ao público, entre outros serviços públicos de qualidade, estiverem presentes em Cravinhos, com certeza a cidade se desenvolverá explorando as condições que o destino (ou as circunstâncias) lhe reservou. Inteligência e habilidade política podem ser grandes aliados. O fator proximidade, que nas primeiras décadas após seu surgimento, pode ter contribuído para a sua estagnação, hoje pode ser um aliado. A estagnação do crescimento urbano não deve ser encarada somente de forma negativa. Há nela bons presságios para se vislumbrar o futuro.

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SOBRE O AUTOR. Alexandre de Freitas, nasceu em 1972 na cidade de São José do Rio

Preto-SP. Formou-se em Geografia pela Faculdade Dom Bosco de Monte

Aprazível e em Pedagogia pela UFSJ (Universidade Federal de São João

del-Rei), é Especialista em Cidadania e Cultura pela UNICAMP

(Universidade Estadual de Campinas). Escreve contos, crônicas, poemas

e romances. Tem poesia publicada em antologia e escreveu “O Distrito”,

romance histórico. Morou em Cravinhos de janeiro de 2008 a fevereiro

de 2012.

Este pequeno livro foi elaborado com a intenção de resgatar algumas

partes da história de Cravinhos e contribuir para uma atualização parcial

de dados sobre a cidade.

Acredito que a função principal é apresentar o município,

principalmente, mas não unicamente, para jovens que às vezes não

encontram fontes para pesquisar sobre a história e geografia de sua

localidade.

Prof. Alexandre de Freitas.