Quilombos Do Sapé

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Quilombos do Sapé, Marinho e Rodrigues situados em Brumadinho COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MARINHOS Localizada no município de Brumadinho-MG (Figura 1), a comunidade Quilombola de Marinhos, nasceu da necessidade de duas viúvas que eram parentes do senhor Antônio Cambão (líder comunitário), que não tinham como se sustentar. Daí surge, em 1980, o grupo de roça “Quem planta e cria, tem alegria”, para que pudesse utilizar da agricultura como forma de sustento. Um dos grandes problemas enfrentados pela comunidade é a posse de terras. Atualmente, plantão numa terra “cedida” por um fazendeiro local. No entanto, metade do que é produzido tem que ser repassado como pagamento ao dono. Segundo senhor Cambão: ”Tá muito difícil, não sabemos o que fazer. Só podemos plantar até o fim desse ano, temos que procurar outro lugar... Só de pensar, tenho vontade de chorar...” O reconhecimento de Marinhos como comunidade quilombola, aconteceu no último semestre de 2010, em 04 de novembro, através de publicação no DOU- Diário Oficial da União, uma vez que a apenas a comunidade Sapé havia sido reconhecida em 2006. As requisições de reconhecimento de comunidades quilombolas são processadas pela Fundação Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministério da Cultura que visa à proteção, preservação e disseminação da cultura negra no país. Uma vez reconhecidas, as comunidades passam a existir dentro

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Quilombos do Sap, Marinho e Rodrigues situados em Brumadinho

COMUNIDADE QUILOMBOLA DE MARINHOSLocalizada no municpio de Brumadinho-MG (Figura 1), a comunidade Quilombola de Marinhos, nasceu da necessidade de duas vivas que eram parentes do senhor Antnio Cambo (lder comunitrio), que no tinham como se sustentar. Da surge, em 1980, o grupo de roaQuem planta e cria, tem alegria, para que pudesse utilizar da agricultura como forma de sustento.Um dos grandes problemas enfrentados pela comunidade a posse de terras. Atualmente, planto numa terra cedida por um fazendeiro local. No entanto, metade do que produzido tem que ser repassado como pagamento ao dono. Segundo senhor Cambo: T muito difcil, no sabemos o que fazer. S podemos plantar at o fim desse ano, temos que procurar outro lugar... S de pensar, tenho vontade de chorar...O reconhecimento de Marinhos como comunidade quilombola, aconteceu no ltimo semestre de 2010, em 04 de novembro, atravs de publicao no DOU- Dirio Oficial da Unio, uma vez que a apenas a comunidade Sap havia sido reconhecida em 2006.As requisies de reconhecimento de comunidades quilombolas so processadas pela Fundao Cultural Palmares, entidade vinculada ao Ministrio da Cultura que visa proteo, preservao e disseminao da cultura negra no pas. Uma vez reconhecidas, as comunidades passam a existir dentro das polticas nacionais de apoio e garantia dos direitos dos quilombolas, reunidas no programa federal Brasil Quilombola, criado em 2004. Nas palavras de Antnio Cambo, lder comunitrio de Marinhos,h muito tempo desejvamos o reconhecimento desses grupos, que existem na regio desde os anos 80. Com ele, temos mais condies para lutar pela comunidade.

ANLISE DOS DADOSInicialmente foi observada a grande variabilidade de plantas cultivadas pelos membros da comunidade. Esta variabilidade cultural, os membros da comunidade sentem-se orgulhosos em manter em seus quintais vrias espcies de plantas, com o cunho de subsistncia, plantas medicamentosas e msticas.Eles vivem da agricultura principalmente do feijo, arroz e milho, porm a comunidade no possui terras para este plantio, por este motivo eles acordaram com um fazendeiro da regio de forma a plantar nestas terras e como forma de pagamento, um tero da produo entregue ao dono da terra.A semente utilizada do plantio comprada, certa feita a EMATER promoveu a doao do feijo a ser plantado, porm, segundo os agricultores estas sementes no so ideais para o plantio, elas perdem muito rpido dizia o senhor Antnio Cambo, lder da comunidade e fundador do grupo de roa Quem planta e cria tem alegria. Para o plantio observada vrias questes msticas tais como a lua, alm de algo denominado por eles como fora magntica da terra ditando qual o melhor local para o plantio.A adubao para as plantas cultivadas em casa tambm seguem algumas tradies. A produo de um adubo feito do arroz cozido em gua de mina, sem cloro, e colocada em uma tala de bambu no solo de mata virgem, depois de um determinado tempo ele retirado e armazenado em uma garrafa criando assim um composto para as plantas do quintal um bom exemplo da cultura quilombola que, pelo observado em campo, funcionam provando assim que no s a cincia, mas tambm os saberes culturais de cultivos no podem ser subjugados.

COMUNIDADE QUILOMBOLA DE SAPNo entorno da Serra da Moeda h vrias comunidades remanescentes de quilombos. A Comunidade quilombola de Sap possui cerca de 50 casas e uma Capela dedicada a So Vicente de Paula.Foi fundada no sculo XVIII, localizada no Distrito de So Jos do Paraopeba, Brumadinho, reconhecida pela Fundao Cultural Palmares. Tm cerca de 200 habitantes, todos negros, e se manteve isolada do contexto cultural econmico das regies vizinhas, preservando seus costumes e seus troncos raciais, atravs de casamentos entre parentes .A comunidade teve origem no final do regime escravista quando os negros da regio, principalmente advindos da Fazenda dos Martins (foto no blog), reuniram-se sob a liderana do ex-escravo Joo Borges para viver em comunidade.Joo Borges, que era escravo da Fazenda do Carmo, em So Jos do Paraopeba, havia recebido de seu ex-senhor, o Major Jacinto Gomes do Carmo, um pequeno lote de terras para seu sustento e de sua famlia. Foi nesse pequeno lote de terras de Joo Borges que se implantou a Comunidade do Sap .Essas comunidades quilombolas tm como caracterstica principal a descendncia de escravos e a preservao de seus costumes e tradies. . Vale esclarecer que a denominao quilombo, neste caso, imprpria. Quilombo significa uma comunidade formada por escravos fugidos. Mas no foi o que ocorreu em Sap, uma vez que este teve origem em razo de escravos alforriados. Os negros libertos da regio, especialmente os da Fazenda dos Martins, reuniram-se sob a liderana de um escravo Joo Borges para viverem em comunidade; de outras fazendas vieram mais escravos em liberdade.Existem outras comunidade na regio que esto regularizando sua condio de quilombolas, como a comunidade de Marinhos, Ribeiro, Maangano, Rodrigues e Casinhas, todas sero impactadas pelo empreendimento da mina Serrinha.Baseado em textos publicados dos seguintes autores e/obras: Elisa Vignolo Silva, Luana Carla Martins, Maurcio Eustquio de Paula, Dcio Lima Jardim e Mrcio Cunha Jardim - Histrias e riquezas do municpio de Brumadinho (publ. Pref. Brumadinho em 1982) e site:http://www.portaldebrumadinho.com.br. A foto acima foi retirada no encontro de congado em Rodrigues acima representado pela da guarda de Congo e Moambique de Sap, maio de 2010 (Beatriz Vignolo Silva).