quinta-feira 21 de dezembro de 2017 Jesus é o verdadeiro Natal · OL’ S S E RVATOR E ROMANO...

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00 L’O S S E RVATORE ROMANO EDIÇÃO SEMANAL Unicuique suum EM PORTUGUÊS Non praevalebunt Ano XLVIII, número 51 (2.495) Cidade do Vaticano quinta-feira 21 de dezembro de 2017 y(7HB5G3*QLTKKS( +/!=!?!,!#! Jesus é o verdadeiro Natal No dia do seu aniversário o Papa encontrou-se com as crianças antes da recitação do Angelus Vigésimo quinto aniversário da Populorum progressio Em prol dos marginalizados da sociedade latino-americana Durante a tradicional audiência à Ação católica italiana para os bons votos de Natal, realizada no Vaticano no passado dia 16 de dezembro, as crianças e os jovens promoveram uma oração especial pelo Papa para o seu aniversário celebrado no dia seguinte. A esta oração, que o Pontífice pede quotidianamente e que reuniu no mundo inteiro muitíssimas pessoas, crentes e não-crentes, junta-se com afeto «L'Osservatore Romano». Apelo à Europa De um mundo que rejeita ser relegado às margens HÉLDER CÂMARA NA PÁGINA 9 Sete novos embaixadores O papel construtivo da diversidade Os lugares da nova evangelização LUCETTA SCARAFFIA NA PÁGINA 13 Iémen, Nova Zelândia, Suazilân- dia, Azerbaijão, Chade, Liech- tenstein e Índia são os sete paí- ses cujos embaixadores apresen- taram ao Papa Francisco nesta manhã de quinta-feira, 14 de de- zembro, as cartas com as quais são acreditados junto da Santa Sé. Recebendo-os em audiência na Sala Clementina, o Pontífice su- blinhou a diversidade das nações representadas e as diferentes tra- dições culturais e religiosas que caraterizam a história de cada uma delas, enfatizando «o papel positivo e construtivo» desta di- versidade, sobretudo numa situa- ção como a atual em que a co- munidade internacional enfrenta «uma série de complexas amea- ças à sustentabilidade ambiental e à ecologia social e humana de todo o planeta, como as ameaças à paz e à concórdia derivantes de ideologias fundamentalistas vio- lentas e dos conflitos regionais, que muitas vezes se apresentam disfarçados de interesses e valo- res opostos». PÁGINAS 6 E 7 Mensagem do Santo Padre A dignidade do doente PÁGINA 5 São 4.400 os projetos realizados na América Latina e no Caribe para «me- lhorar as condições dos povos au- tóct0nes, mestiços e afro-americanos» graças ao apoio da fundação Populo- rum progressio, frisou o Papa na men- sagem enviada aos participantes na conferência que foi inaugurada em Ro- ma no dia 12 de dezembro, no XXV aniversário da instituição. Organizados pelo Dicastério para o serviço do desenvolvimento humano integral, os trabalhos precedem a reu- nião anual do Conselho de administra- ção que leva a cabo o estudo das ini- ciativas apresentadas. PÁGINA 8 Festa de aniversário do Papa com as crianças. Na manhã de domingo 17 de dezembro, na sala Paulo VI, qua- se quatrocentas crianças assistidas pelos voluntários que trabalham no dispensário Santa Marta no Vatica- no apresentaram as felicitações ao Pontífice pelos seus 81 anos. Com elas e com os seus familiares, Fran- cisco passou quase uma hora, num clima de familiaridade e festa. «A alegria das crianças é um te- souro», frisou, dirigindo-se aos pre- sentes. E, exortou, «devemos fazer tudo para que continuem a ser jubi- losos, pois a alegria é como uma ter- ra boa». De alegria o Papa falou também no Angelus recitado logo a seguir na praça de São Pedro. Aos fiéis — entre os quais havia numero- sas crianças dos oratórios, das paró- quias e das escolas católicas roma- nas, que trouxeram as pequenas imagens do Menino para a bênção — recordou que «a alegria do cristão não se compra, não se pode com- prar; vem da fé e do encontro com Jesus Cristo, razão da nossa felicida- de». E «quanto mais estivermos ra- dicados em Cristo, quanto mais pró- ximos estivermos de Jesus, tanto mais encontraremos a serenidade in- terior, até no meio das contradições diárias». Isto significa que a alegria deve ser alimentada continuamente pela oração e pela ação de graças, «isto é, o amor reconhecido a D eus». No final da oração, depois de ter lançado um apelo a favor da liberta- ção das religiosas sequestradas na Nigéria, o Papa saudou as crianças presentes, dirigindo-lhes uma reco- mendação especial: «Quando rezar- des em casa, diante do presépio com os vossos familiares — disse — dei- xai-vos atrair pela ternura do Meni- no Jesus, nascido pobre e frágil no meio de nós, para nos dar o seu amor». Este, afirmou, «é o verdadei- ro Natal. Se tirarmos Jesus, o que permanece do Natal? Uma festa va- zia. Não tiremos Jesus do Natal! Je- sus é o centro do Natal, Jesus é o verdadeiro Natal!». PÁGINA 3

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Preço € 1,00. Número atrasado € 2,00

L’O S S E RVATOR E ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suum

EM PORTUGUÊSNon praevalebunt

Ano XLVIII, número 51 (2.495) Cidade do Vaticano quinta-feira 21 de dezembro de 2017

y(7HB5G3*QLTKKS( +/!=!?!,!#!

Jesus é o verdadeiro NatalNo dia do seu aniversário o Papa encontrou-se com as crianças antes da recitação do Angelus

Vigésimo quinto aniversário da Populorum progressio

Em prol dos marginalizadosda sociedade latino-americana

Durante a tradicional audiênciaà Ação católica italiana

para os bons votos de Natal,realizada no Vaticano

no passado dia 16 de dezembro,as crianças e os jovens

promoveram uma oração especialpelo Papa para o seu aniversário

celebrado no dia seguinte.A esta oração, que o Pontífice

pede quotidianamentee que reuniu no mundo inteiro

muitíssimas pessoas, crentese não-crentes, junta-se com afeto

«L'Osservatore Romano».

Apelo à Europa

De um mundo que rejeitaser relegado às margens

HÉLDER CÂMARA NA PÁGINA 9

Sete novos embaixadores

O papel construtivo da diversidade

Os lugaresda nova evangelização

LU C E T TA SCARAFFIA NA PÁGINA 13

Iémen, Nova Zelândia, Suazilân-dia, Azerbaijão, Chade, Liech-tenstein e Índia são os sete paí-ses cujos embaixadores apresen-taram ao Papa Francisco nestamanhã de quinta-feira, 14 de de-zembro, as cartas com as quaissão acreditados junto da SantaSé.

Recebendo-os em audiência naSala Clementina, o Pontífice su-blinhou a diversidade das naçõesrepresentadas e as diferentes tra-dições culturais e religiosas quecaraterizam a história de cadauma delas, enfatizando «o papelpositivo e construtivo» desta di-versidade, sobretudo numa situa-ção como a atual em que a co-munidade internacional enfrenta«uma série de complexas amea-ças à sustentabilidade ambientale à ecologia social e humana detodo o planeta, como as ameaçasà paz e à concórdia derivantes deideologias fundamentalistas vio-lentas e dos conflitos regionais,que muitas vezes se apresentamdisfarçados de interesses e valo-res opostos».

PÁGINAS 6 E 7

Mensagem do Santo Padre

A dignidade do doente

PÁGINA 5

São 4.400 os projetos realizados naAmérica Latina e no Caribe para «me-lhorar as condições dos povos au-tóct0nes, mestiços e afro-americanos»

graças ao apoio da fundação Populo-rum progressio, frisou o Papa na men-sagem enviada aos participantes naconferência que foi inaugurada em Ro-ma no dia 12 de dezembro, no XXVaniversário da instituição.

Organizados pelo Dicastério para oserviço do desenvolvimento humanointegral, os trabalhos precedem a reu-nião anual do Conselho de administra-ção que leva a cabo o estudo das ini-ciativas apresentadas.

PÁGINA 8

Festa de aniversário do Papa com ascrianças. Na manhã de domingo 17de dezembro, na sala Paulo VI, qua-se quatrocentas crianças assistidaspelos voluntários que trabalham nodispensário Santa Marta no Vatica-no apresentaram as felicitações aoPontífice pelos seus 81 anos. Comelas e com os seus familiares, Fran-cisco passou quase uma hora, numclima de familiaridade e festa.

«A alegria das crianças é um te-souro», frisou, dirigindo-se aos pre-sentes. E, exortou, «devemos fazertudo para que continuem a ser jubi-losos, pois a alegria é como uma ter-ra boa». De alegria o Papa faloutambém no Angelus recitado logo aseguir na praça de São Pedro. Aosfiéis — entre os quais havia numero-sas crianças dos oratórios, das paró-quias e das escolas católicas roma-

nas, que trouxeram as pequenasimagens do Menino para a bênção— recordou que «a alegria do cristãonão se compra, não se pode com-prar; vem da fé e do encontro comJesus Cristo, razão da nossa felicida-de». E «quanto mais estivermos ra-dicados em Cristo, quanto mais pró-ximos estivermos de Jesus, tantomais encontraremos a serenidade in-terior, até no meio das contradiçõesdiárias». Isto significa que a alegriadeve ser alimentada continuamentepela oração e pela ação de graças,«isto é, o amor reconhecido aD eus».

No final da oração, depois de terlançado um apelo a favor da liberta-ção das religiosas sequestradas naNigéria, o Papa saudou as criançaspresentes, dirigindo-lhes uma reco-mendação especial: «Quando rezar-des em casa, diante do presépio comos vossos familiares — disse — dei-xai-vos atrair pela ternura do Meni-no Jesus, nascido pobre e frágil nomeio de nós, para nos dar o seuamor». Este, afirmou, «é o verdadei-ro Natal. Se tirarmos Jesus, o quepermanece do Natal? Uma festa va-zia. Não tiremos Jesus do Natal! Je-sus é o centro do Natal, Jesus é overdadeiro Natal!».

PÁGINA 3

página 2 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 21 de dezembro de 2017, número 51

L’OSSERVATORE ROMANOEDIÇÃO SEMANAL

Unicuique suumEM PORTUGUÊSNon praevalebunt

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Com os hóspedes do dispensário pediátrico Santa Marta

O tesouro das criançastas coisas bonitas que a história fez,sem memória dos valores. E quemajudará as crianças a fazer isto? Osavós. Que elas falem com os avós,com os idosos. Vós falais com osavós? [“Sim!”]. Tendes a certeza?[“Sim!”]. Para pedir um caramelo?[“Não!”]. Não? Dizei-me... Às vezes,muitas vezes, os avós faleceram, nãoé verdade? Mas existem outros ido-sos que são como avós. Falai semprecom os idosos. Faço-vos uma per-gunta, respondei bem: são tediososos avós, os idosos? [“Não... Sim!”].Tu... [“Enchem-nos de presentes”].É um interesseiro: enchem-nos depresentes! Não são tediosos, sãobons. Dizei-me... [“Gostam muitode nós”]. Gostam muito de nós.Que as crianças aprendam a falarcom os idosos, com os avós.

Eis o terceiro conselho que vosdou: ensinai-lhes a falar com Deus.Que aprendam a rezar, a dizer o quesentem no coração.

Alegria, falar com os avós, com osidosos, e falar com Deus. Entendi-do? Todos concordam? Também vósconcordais? Desejo-vos um bom dia,com muita festa. E comei os quatrometros de pizza: comei-os todos,porque vos farão bem, vos farãocrescer. Ide avante. Obrigado, obri-gado!

Agora oremos todos a Nossa Ne-nhora para que nos conceda a Bên-ção: Ave Maria...

[Bênção].E rezai por mim!

Além das barreirasda indiferença

Discurso aos artistas do concerto natalício

Pequenos príncipes

«Remover as barreiras daindiferença», e «encorajar a aberturaao outro»: eis o núcleo da mensagemde Natal que o Papa propôs aosartistas do concerto que teve lugar nodia 16 de dezembro, na sala PauloVI, recebendo-os no dia anterior nasala Clementina.

Prezados irmãos e irmãs!Recebo-vos neste encontro, que mepermite manifestar-vos o meu apre-ço pela participação no Concerto«Natal no Vaticano», cujo lucro se-rá destinado ao financiamento dedois projetos a favor das crianças

da República Democrática doCongo e dos jovens da Argentina.Saúdo e agradeço aos promotoresdeste evento e a quantos se exibi-rem amanhã à noite, assim comoaos que nele participarem, manifes-tando deste modo sensibilidadediante das necessidades dos maiscarenciados e desfavorecidos, quepedem ajuda e solidariedade.

O Natal — bem sabemos — éuma festa sentida e participada, ca-paz de aquecer os corações maisinsensíveis, de remover as barreirasda indiferença em relação ao próxi-mo, de encorajar a abertura ao ou-tro e ao dom gratuito. Por isso,também hoje há necessidade de di-fundir a mensagem de paz e frater-nidade própria do Natal; é necessá-rio representar este acontecimento,expressando os sentimentos autên-ticos que o animam. E a arte é ummeio formidável para abrir as por-tas da mente e do coração ao ver-dadeiro significado do Natal. Acriatividade e a genialidade dos ar-tistas, através das suas obras, mastambém com a música e os cânti-cos, conseguem alcançar os registosmais íntimos da consciência. A arteentra precisamente no âmago daconsciência.

Formulo os melhores votos a fimde que o Concerto de Natal no Va-ticano possa constituir uma ocasiãopara semear a ternura — uma pala-vra tão esquecida hoje! “Vi o l ê n c i a ”,“guerra”... não, não, ternura — parasemear a ternura, a paz e o acolhi-mento, que brotam da gruta de Be-lém. Renovo a cada um o meu re-conhecimento e, enquanto transmi-to os cordiais bons votos de sere-nas Festividades natalícias, ricas dealegria e paz, abençoo cada um devós, as vossas famílias e os vossosentes queridos.

E, por favor, não vos esqueçaisde rezar por mim. Obrigado!

O Papa quis festejar os seus oitenta e um anos com os «pequenos prín-cipes». Com aqueles pequenos que são príncipes, não segundo as lógi-cas do poder e da riqueza, mas no critério cristão sugerido por Antoinede Saint-Exupéry. Porque, na manhã de 17 de dezembro, na sala PauloVI, o “motor” do dispensário vaticano de Santa Marta, a irmã Antoniet-ta Collacchi, apresentou a Francisco trezentas e oitenta crianças, cuida-das por muitos voluntários, com o estilo do Pequeno Príncipe criadopelo escritor francês: «Só se vê bem com o coração. O essencial é invisí-vel aos olhos». «E nós aplicamos este critério acolhendo os nossos “p e-quenos príncipes” de todas as cores do mundo — disse ao Papa a reli-giosa da congregação das Filhas da caridade de São Vicente de Paulo,no início da festa de aniversário — indo além das diferenças culturais ereligiosas». Com efeito, o dispensário Santa Marta tem como ponto deforça o «acolhimento que põe em primeiro lugar a ternura», juntamentecom a consciência de que «hoje mais do que nunca as pessoas que vi-vem em necessidade são descartadas, vistas com desconfiança e até comaborrecimento». Por isso, «a um mundo obcecado pelas aparências odispensário responde com uma simplicidade que todos os dias se tornadiligente entre as muitas urgências de quantos batem à nossa porta».Acrescentou a irmã Antonietta: «Devemos fitar aquelas pessoas nosolhos e não ter medo de tocar as suas feridas».

Mas precisamente eles, «os descartados», receberam o convite para oaniversário de Francisco. De resto, observaram os voluntários, esta é alógica do Evangelho. E para o Papa realmente não poderia haver umafesta mais adequada, pelo estilo simples e pela proveniência dos convi-dados. Foi possível ver isto claramente quando Francisco não conseguiureprimir a comoção, no momento de agradecer a ideia da «festa em fa-mília», com um breve discurso improvisado.

Os primeiros que transmitiram asfelicitações a Francisco no dia do seu81º aniversário foram as criançasassistidas pelo dispensário SantaMarta no Vaticano. O Pontíficeencontrou-se com elas na manhã de 17de dezembro, na sala Paulo VI. Aseguir, as palavras de saudação que oPapa lhes dirigiu.

Bom dia!A alegria das crianças... O júbilo dascrianças é um tesouro. As criançasalegres... E devemos fazer tudo paraque continuem a ser jubilosas, pois aalegria é como uma terra boa. Umaalma jubilosa é como uma terra boaque faz crescer bem a vida, com fru-tos bons. É por isso que se faz estafesta: procuramos sempre a proximi-dade do Natal para nos reunirmos afim de fazer esta festa para elas.

Escutai bem. Primeira coisa: con-servai a alegria das crianças. Não asentristeçais. Elas sofrem quando ve-em que há problemas em casa, queos pais discutem. Não entristeçais ascrianças. Elas devem crescer semprecom alegria. Vós sois alegres?

[“Sim!”]. Não acredito: sim ou não?[“Sim!”]. Muito bem! Eis a alegria.

A segunda coisa, para que ascrianças cresçam bem: fazei com queelas falem com os avós. Os dois ex-tremos da vida. Porque os avós têmmemória e raízes; serão os avós quedarão raízes às crianças. Por favor,que as crianças não sejam erradica-das, sem memória de um povo, semmemória da fé, sem memória de tan-

número 51, quinta-feira 21 de dezembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 3

Jesus é o verdadeiro NatalNo Angelus do terceiro domingo de Advento

Júbilo, oração e gratidão são as «trêsatitudes que nos preparam para viver oNatal de maneira autêntica», disseFrancisco no Angelus recitado ao meio-dia de 17 de dezembro, terceirodomingo de Advento, com os fiéisreunidos na praça de São Pedro.

Amados irmãos e irmãs, bom dia!Nos domingos passados a liturgiafrisou o que significa pôr-se em ati-tude de vigilância e o que comportaconcretamente preparar o caminho doSenhor. Neste terceiro domingo deAdvento, chamado “domingo da ale-gria”, a liturgia convida-nos a sentiro espírito com o qual tudo isto acon-tece, ou seja, precisamente, o júbilo.São Paulo convida-nos a preparar avinda do Senhor assumindo três ati-tudes. Ouvi bem: três atitudes. Pri-meira, o júbilo constante; segunda, aoração perseverante; terceira, a açãode graças contínua. Alegria constan-te, oração perseverante e ação degraças contínua.

A primeira atitude, alegria constan-te: «Regozijai-vos sempre» (1 Ts 5,16), diz São Paulo. Isto significapermanecer sempre na alegria, atéquando as coisas não correm segun-do os nossos desejos; mas há aquelejúbilo profundo, que é a paz: tam-bém ela é júbilo, está dentro. E apaz é um júbilo “a nível terreno”,mas é um júbilo. As angústias, as di-ficuldades e os sofrimentos atraves-sam a vida de cada um, como todossabemos; e muitas vezes a realidade

que nos circunda parece ser inóspitae árida, semelhante ao deserto noqual ressoava a voz de João Batista,como recorda o Evangelho de hoje(cf. Jo 1, 23). Mas precisamente aspalavras do Batista revelam que onosso júbilo se baseia numa certeza,que este deserto é habitado: «nomeio de vós — diz — está um a quemvós não conheceis» (v. 26). Trata-sede Jesus, o enviado do Pai que, co-mo frisa Isaías, «leva a boa nova aosque sofrem, cura os de coração des-pedaçado, anuncia a amnistia aoscativos, e a liberdade aos prisionei-ros; proclama um ano de graça daparte do Senhor» (cf. 61, 1-2). Estaspalavras, que Jesus fará suas no ser-mão da sinagoga de Nazaré (cf. Lc4, 16-19), esclarecem que a sua mis-são no mundo consiste na libertaçãodo pecado e das escravidões pessoaise sociais que ele causa. Ele veio àterra para restituir aos homens a dig-

nidade e a liberdade dos filhos deDeus, que só Ele pode comunicar, edar júbilo para isto.

O júbilo que caracteriza a expeta-tiva do Messias baseia-se na o ra ç ã op e rs e v e ra n t e : esta é a segunda atitude.São Paulo diz: «rezai sem cessar» (1Ts 5, 17). Por meio da oração pode-mos entrar numa relação estável comDeus, que é a fonte da verdadeiraalegria. A alegria do cristão não secompra, não se pode comprar; vemda fé e do encontro com Jesus Cris-to, razão da nossa felicidade. Equanto mais estivermos radicadosem Cristo, quanto mais estivermospróximos de Jesus, tanto mais en-contraremos a serenidade interior,mesmo no meio das contradiçõesdiárias. Por isso o cristão, tendo en-contrado Jesus, não pode ser umprofeta de desventura, mas uma tes-temunha e um arauto de alegria.

Uma alegria a partilhar com os de-mais; uma alegria contagiosa quetorna menos cansativo o caminho davida.

A terceira atitude indicada porPaulo é a ação de graças contínua, ouseja, o amor grato a Deus. Com efei-to, Ele é muito generoso connosco, enós somos convidados a reconhecersempre os seus benefícios, o seuamor misericordioso, a sua paciênciae bondade, vivendo assim numa in-cessante ação de graças.

Júbilo, oração e gratidão são trêsatitudes que nos preparam para vi-ver o Natal de maneira autêntica.Júbilo, oração e gratidão. Digamostodos juntos: júbilo, oração e grati-dão [as pessoas na praça repetem].Outra vez! [repetem]. Nesta últimafase do tempo de Advento, confie-mo-nos à materna intercessão daVirgem Maria. Ela é “causa do nossojúbilo”, não só por ter gerado Jesus,mas porque nos reconduz continua-mente a Ele.

No final da oração o Pontífice fez umapelo a favor da libertação das seisreligiosas raptadas na Nigéria e detodas as pessoas sequestradas. Emseguida benzeu as imagens do MeninoJesus levadas pelas crianças dosoratórios paroquiais e das escolascatólicas romanas e saudou um grupode lobitos de Portugal.

Amados irmãos e irmãs![Os jovens de Roma cantam “Pa r a -béns a você”]. Muito obrigado, mui-to obrigado!

Uno-me de coração ao apelo dosBispos da Nigéria pela libertaçãodas seis Religiosas do Coração Euca-rístico de Cristo, raptadas há cercade um mês do seu convento emIguoriakhi. Rezo sem cessar por elase por todas as outras pessoas que seencontram nesta dolorosa condição:que elas possam, por ocasião do Na-tal, voltar finalmente para casa. Re-zemos juntos por elas: Ave-Maria...

Saúdo todos vós, famílias, gruposparoquiais e associações, que viestesa Roma, da Itália e de muitas partesdo mundo. Em particular saúdo ogrupo de Lobitos de Portugal e osperegrinos bolivianos.

E agora uma saudação afetuosa àscrianças que vieram para a bênçãodas imagens do Menino Jesus, orga-nizada pelo Centro dos OratóriosRomanos. É bonito o que eu leiodaqui: o oratório é precisamente pa-ra cada um de nós. “Há sempre umlugar para ti”, diz o cartaz. Há sem-pre um lugar para ti! Quando rezar-des em casa, diante do presépio comos vossos familiares, deixai-vos atrairpela ternura do Menino Jesus, nasci-do pobre e frágil no meio de nós,para nos dar o seu amor. É este overdadeiro Natal. Se tirarmos Jesus,o que resta do Natal? Uma festa va-zia. Não tireis Jesus do Natal! Jesusé o centro do Natal, Jesus é o verda-deiro Natal! Compreendestes?

Por isso desejo a todos bom do-mingo e bom caminho rumo ao Na-tal de Jesus. Por favor, não vos es-queçais de rezar por mim. Bom al-moço e até à vista.

Bons votos dos jovens da Ação católica italiana

Olhos atentos a quem foi esquecidoO convite a ter «olhos atentos e vigilantes» sobre quemvive «relegado às margens da sociedade» foi dirigido peloPapa aos jovens da Ação católica italiana (Acr), durantea tradicional audiência para os votos de Natal, que tevelugar a 16 de dezembro, na sala do Consistório.

Prezados meninos e meninas!

Também este ano, em representação da Ação católicados jovens de toda a Itália, viestes para apresentar osvotos de Natal ao Papa. Para mim, são votos particu-larmente jubilosos, que quisestes acompanhar com osfrutos das vossas iniciativas de solidariedade a favordos pobres e das pessoas mais desfavorecidas. Obriga-do de coração pelo vosso gesto!

Agradeço-vos também porque, nesta feliz circunstân-cia, me atualizais sobre as vossas atividades e iniciati-vas, que demonstram a vitalidade da ACR. A este pro-pósito, quero dizer-vos que aprecio muito os encontrosde conhecimento e proximidade que neste ano — 150°aniversário da fundação da Ação católica — p ro m o v e i scom os “avós” da Associação. Isto é muito bom e im-portante, porque os idosos são a memória histórica de

cada comunidade, um património de sabedoria e de féque deve ser ouvido, conservado e valorizado.

No vosso percurso formativo, com o slogan «Prontospara fotografar», através da metáfora da fotografia es-tais comprometidos a prestar atenção aos momentos de-cisivos da vida de Jesus, para procurar assemelhar-voscada vez mais a Ele, o vosso maior e mais fiel amigo.Olhando para a vida e a missão de Jesus, compreende-mos que Deus é Amor. Portanto, sede bons “fotógra-fos”, quer daquilo que Jesus fez, quer da realidade quevos circunda, tendo olhos atentos e vigilantes. Muitasvezes há pessoas esquecidas: ninguém olha para elas,ninguém as quer ver. São os pobres, os mais frágeis, re-legados às margens da sociedade porque consideradosum problema. Ao contrário, eles são a imagem do Me-nino Jesus rejeitado e que não encontrou hospitalidadena cidade de Belém, são a carne viva de Jesus sofredore crucificado. Então, este pode ser um vosso compro-misso; antes de tudo, perguntai-vos: mas eu, a quempresto mais atenção? Somente aos mais fortes, que têmmais sucesso na escola, no jogo? A quem prestei poucaatenção? Quem fingi que não vi? Aquele olhar para ooutro lado... Eis quais são as vossas “p eriferias”: procu-rai fixar o objetivo sobre os companheiros e as pessoasque nunca se veem e ousai dar o primeiro passo para irao seu encontro, para lhes dedicar um pouco do vossotempo, um sorriso, um gesto de ternura.

Amados jovens, sede amigos e testemunhas de Jesus,que em Belém veio entre nós. Nesta festividade doSanto Natal, já próxima, sois chamados a dá-lo a co-nhecer cada vez mais entre os vossos amigos, nas cida-des, nas paróquias e nas vossas famílias. Mais uma vez,obrigado pela vossa visita. Abençoo-vos com carinho,juntamente com os vossos entes queridos, com os edu-cadores, com os assistentes e com todos os amigos daACR. Não vos esqueçais de rezar por mim. Feliz Natal!

Agora, conceder-vos-ei a Bênção. Antes, oremos aNossa Senhora, todos juntos: Ave Maria...

página 4 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 21 de dezembro de 2017, número 51

Mensagem às academias pontifícias

Encorajamento à pesquisa

De Agostinhoa Floro de LiãoPor ocasião da XXII solene sessão públicadas Pontifícias Academias, forampremiados ex aequo Pierre Chambert-Protat, francês, pela sua tese dedoutorado sobre Floro de Lião; eFrancesco Lubian, italiano, pelapublicação crítica dos Disticha atribuídosa Santo Ambrósio. Além disso, receberama medalha pontifícia Shari Boodts, belga,pela edição crítica dos Sermones de SantoAgostinho; e o grupo de professores delatim da universidade de Tolosa 2, pelapublicação de um precioso manual destalíngua, destinado a estudantesuniversitários. A sessão pública foiintroduzida pela saudação do cardealRavasi, presidente do Pontifício Conselhopara a cultura e do Conselho decoordenação entre as pontifíciasAcademias, e pela intervenção doprofessor Ivano Dionigi, presidente daPontifícia Academia Latinitates. Emseguida, o secretário de Estado, cardealPietro Parolin, leu a mensagem pontifíciae entregou o prémio, conferido pelo Papaa jovens estudiosos, artistas ou instituiçõesque se distinguem pela sua contribuiçãopara o “humanismo cristão”.

gar os itinerários de investi-gação expressos pelos auto-res latinos, clássicos e cris-tãos, com uma temática deabsoluta centralidade nãoapenas na experiência cristã,mas também na simplesmen-te humana. Com efeito, o te-ma da interioridade, do co-ração, da consciência e doconhecimento de si encon-tra-se em cada cultura, assimcomo nas várias tradições re-ligiosas e, significativamente,reapresenta-se com grandeurgência e força também nanossa época, muitas vezescaraterizada pela aparência,pela superficialidade, pelaseparação entre coração emente, interioridade e exte-rioridade, consciência e com-portamentos. Os momentosde crise, de mudança e detransformação, não apenasdas relações sociais, mas an-tes de tudo da pessoa e dasua mais profunda identida-de, evocam inevitavelmentea reflexão sobre a interiori-dade, sobre a essência íntimado ser humano.

Uma página do Evange-lho ajuda-nos a meditar so-bre esta questão: trata-se daparábola do Pai misericor- CO N T I N UA NA PÁGINA 5

Defendente Ferrari«Santo Agostinho» (1525 aprox.)

Ao Venerado IrmãoCardeal GIANFRANCO RAVA S I

Presidente do Pontifício Conselhopara a Cultura

e do Conselho de Coordenaçãoentre as Pontifícias Academias

É com alegria e gratidão que me di-rijo a Vossa Eminência, por ocasiãoda XXII Solene Sessão Pública dasPontifícias Academias, a manifesta-ção que se renova anualmente desde1995, e que constitui o ponto de re-ferência do caminho das sete Ponti-fícias Academias, reunidas no Con-selho de Coordenação, presidido porVossa Eminência. A esta manifesta-ção está associada a entrega do Pré-mio das Pontifícias Academias, orga-nizado alternadamente por uma de-las, segundo o setor de competência,para promover e sustentar o compro-misso de quantos, de modo particu-lar jovens ou instituições que traba-lham com os jovens, se distinguemnos respetivos campos por oferecercontribuições significativas para oprojeto que poderíamos definir co-mo “humanismo cristão”.

Portanto, gostaria de dirigir a mi-nha cordial saudação a todos vós,Cardeais, Bispos, Embaixadores,Académicos e amigos que participaisnesta Solene Sessão Pública, dese-jando profundamente que esta oca-sião represente para todos, mas es-pecialmente para os vencedores doPrémio, um encorajamento a favorda pesquisa e do aprofundamentodas temáticas fundamentais para avisão humanista cristã.

Esta edição vê como protagonista,pela primeira vez, a Pontifícia Acade-mia Latinitatis, que foi inserida noConselho de Coordenação entre asPontifícias Academias, depois da suainstituição, desejada pelo meu vene-rado Predecessor, Bento XVI, com oMotu proprio Latina lingua, de 10de novembro de 2012, com a finali-dade de «apoiar o compromisso emprol de um maior conhecimento ede um uso da língua latina maiscompetente, quer no âmbito eclesial,quer no mais vasto mundo da cultu-ra» (n. 4).

Portanto, dirijo uma saudação es-pecial ao Presidente da Academia, oProfessor Ivano Dionigi, e a todosos Académicos, agradecendo-lhes oseu esforço diligente, testemunhadosobretudo pela revista Latinitas, quese propõe como um qualificado ecompetente ponto de referência paraos estudiosos e cultores da língua eda cultura latina.

Além disso, congratulo-me con-vosco pela escolha do tema destaSessão Pública: «In interiore homine.Percursos de pesquisa na tradição la-tina». Com efeito, ele tenciona conju-

dioso. No seu centro le-mos a afirmação referidaao “filho pródigo”: «Inse autem reversus dixit:(...). “Surgam et ibo adpatrem meum”», «Então,voltou a si e disse: (...).“Levantar-me-ei e ireiter com meu pai”» (Lc15, 17-18). O itinerárioda vida cristã e da pró-pria vida humana podeser resumido por estedinamismo, primeiro in-terior e depois exterior,que enceta o caminhoda conversão, da mu-dança profunda, coeren-te e não hipócrita, e porconseguinte do autênti-co desenvolvimento in-tegral da pessoa.

Muitas figuras, pertencentes tantoao mundo clássico greco-romano,como ao mundo cristão — penso so-bretudo nos Padres da Igreja e nosescritores latinos do primeiro milé-nio cristão — refletiram a respeitodeste dinamismo, sobre a interiorida-de do homem, propondo-nos nume-rosos textos que ainda hoje são degrandíssima profundidade e atuali-dade, e que não merecem cair no es-quecimento.

Entre todos, um papel de absolu-ta preeminência compete sem dúvidaa Santo Agostinho que, partindo dasua experiência pessoal, testemunha-da nas suas Confissões, nos oferecepáginas inesquecíveis e sugestivas.No De vera religione, por exemplo,ele interroga-se no que consiste averdadeira harmonia e, resumindo,quer a sabedoria antiga — da máxi-ma «Conhece-te a ti mesmo», grava-da no templo de Apolo em Delfos,às afirmações análogas de Séneca —quer as palavras evangélicas, assimafirma: «Noli foras ire, in teipsum re-di; in interiore homine habitat veritas;et si tuam naturam mutabilem invene-ris, trascende et teipsum». «Não saiasde ti. Volta-te para ti mesmo. A ver-dade reside no homem interior e, sedescobrires que a tua natureza estásujeita à mudança, supera-te a timesmo» (39, 72).

Em seguida, a sua reflexão torna-se um apelo urgente no Comentárioao Evangelho de João (18, 10): «Redi-te ad cor: quid itis a vobis, et peritisex vobis? Quid itis solitudinis vias?».«Voltai para o vosso coração! Paraonde desejais ir, afastando-vos devós mesmos? Perder-vos-eis, se vosafastardes de vós próprios. Por quepercorreis caminhos desertos?». De-pois, renovando o convite, ele indicaa meta, a pátria do itinerário huma-no: «Redi ad cor; vide ibi quid sentiasforte de Deo, quia ibi est imago Dei.In interiore homine habitat Christus, ininteriore homine renovaris ad imaginemDei, in imagine sua cognosce auctoremeius». «Volta para o teu coração; aliexamina aquilo que talvez entendasde Deus, porque é ali que se encon-tra a imagem de Deus; é na interio-ridade do homem que Cristo habita;

é na tua interioridade que és renova-do segundo a imagem de Deus; é nasua imagem que reconheces o teuCriador» (ibidem).

Estas afirmações sugestivas são deinteresse extraordinário também nosnossos dias, e deveríamos repeti-las anós mesmos, àqueles com os quaispartilhamos o nosso percurso huma-no, principalmente aos mais jovens,que começam a grande aventura davida e muitas vezes permanecempresos nos labirintos da superficiali-dade e da banalidade, do sucessoexterior que esconde um vazio inte-rior, da hipocrisia que mascara a se-paração entre as aparências e o cora-ção, entre o corpo bonito e cuidado,e o espírito vazio e árido.

Estimados amigos, assim comoSanto Agostinho, também eu gosta-ria de dirigir um apelo a vós, Acadé-micos, aos participantes na SessãoPública e especialmente a quantosdesempenham a tarefa do ensino, datransmissão da sabedoria dos Padres,encerrada nos textos da cultura lati-na: sabei falar ao coração dos jo-vens, sabei valorizar a riquíssima he-rança da tradição latina a fim de oseducar para o caminho da vida e pa-ra os acompanhar ao longo de vere-das cheias de esperança e confiança,haurindo da experiência e da sabe-doria de quantos tiveram a alegria ea coragem de “voltar a si mesmos”para seguir a própria identidade evocação humana.

Agora, desejando encorajar e aju-dar aqueles que, no âmbito dos estu-dos sobre a língua e a cultura latina,se esforçam por oferecer uma contri-buição séria e válida para o huma-nismo cristão, é com prazer que atri-buo o Prémio das Pontifícias Acade-mias, ex aequo, ao Doutor PierreChambert-Protat pela sua tese dedoutorado sobre Floro de Lião, e aoDoutor Francesco Lubian, pela pu-blicação crítica dos Disticha atribuí-dos a Santo Ambrósio.

Além disso, para encorajar o estu-do do património da cultura latina,sinto-me feliz por conferir a Meda-

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CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 4

lha do Pontificado à DoutoraShari Boodts pela edição críticados Sermones de Santo Agosti-nho, e ao Grupo de Professoresde Latim da Universidade de To-losa 2, pela publicação de umprecioso manual de latim paraestudantes universitários.

Finalmente, desejo aos Acadé-micos e a todos os participantesno encontro um compromisso ca-da vez mais fecundo nos respeti-vos campos de pesquisa, e confiotodos e cada um de vós à VirgemMaria, modelo de interioridade,que no Evangelho de Lucas nosé proposta, por duas vezes, comoAquela que «conservabat omniaverba haec conferens in corde suo»(Lc 2, 19). Que Ela vos ajude aconservar sempre a Palavra deDeus no vosso coração, para fa-zer dela a nascente luminosa einesgotável de todos os vossosc o m p ro m i s s o s .

Concedo a todos vós e às vos-sas famílias, do fundo do cora-ção, uma especial Bênção apos-tólica.

Vaticano, 5 de dezembro de 2017

No centro dos cuidados médicosa dignidade do doente

O Papa frisou o trabalho das estruturas católicas e pediu para não penalizar os pobresA pessoa que sofre deve ser «respeitadana sua dignidade e mantida sempre nocentro do processo de tratamento»,recordou o Papa Francisco namensagem divulgada em vista dovigésimo sexto dia mundial do doente,que será celebrado a 11 de fevereiro de2018. Publicamos em seguida o textoda mensagem pontifícia.

Mater Ecclesiae: «“Eis o teu filho!(...) Eis a tua mãe!”.

E, desde aquela hora, o discípuloacolheu-a como sua» (Jo 19, 26-27)

Queridos irmãos e irmãs!O serviço da Igreja aos doentes e

a quantos cuidam deles deve conti-nuar, com vigor sempre renovado,por fidelidade ao mandato do Se-nhor (cf. Lc 9, 2-6, Mt 10, 1-8; Mc 6,7-13) e seguindo o exemplo muito

eloquente do seu Fundador e Mes-t re .

Este ano, o tema do Dia doDoente é tomado das palavras queJesus, do alto da cruz, dirige a Ma-ria, sua Mãe, e a João: «“Eis o teufilho! (...) Eis a tua mãe!”. E, desdeaquela hora, o discípulo acolheu-acomo sua» (Jo 19, 26-27).

1. Estas palavras do Senhor ilumi-nam profundamente o mistério daCruz. Esta não representa uma tra-gédia sem esperança, mas o lugaronde Jesus mostra a sua glória e dei-xa amorosamente as suas últimasvontades, que se tornam regras cons-titutivas da comunidade cristã e davida de cada discípulo.

Em primeiro lugar, as palavras deJesus dão origem à vocação maternade Maria em relação a toda a huma-nidade. Será, de uma forma particu-lar, a mãe dos discípulos do seu Fi-lho e cuidará deles e do seu cami-nho. E, como sabemos, o cuidadomaterno de um filho ou de uma fi-lha engloba tanto os aspetos mate-riais como os espirituais da sua edu-cação.

O sofrimento indescritível da cruztrespassa a alma de Maria (cf. Lc 2,35), mas não a paralisa. Pelo contrá-rio, lá começa para Ela um novo ca-minho de doação, como Mãe do Se-nhor. Na cruz, Jesus preocupa-secom a Igreja e toda a humanidade, eMaria é chamada a partilhar estamesma preocupação. Os Atos dosAp ó s t o l o s , ao descrever a grande efu-são do Espírito Santo no Pentecos-tes, mostram-nos que Maria come-çou a desempenhar a sua tarefa naprimeira comunidade da Igreja.Uma tarefa que não mais terá fim.

2. O discípulo João, o amado, re-presenta a Igreja, povo messiânico.Ele deve reconhecer Maria como suaprópria mãe. E, neste reconhecimen-to, é chamado a recebê-la, contem-plar n’Ela o modelo do discipuladoe também a vocação materna que Je-sus lhe confiou, incluindo as preocu-pações e os projetos que isso impli-ca: a Mãe que ama e gera filhos ca-pazes de amar segundo o manda-mento de Jesus. Por isso a vocaçãomaterna de Maria, a vocação de cui-dar dos seus filhos, passa para Joãoe toda a Igreja. Toda a comunidadedos discípulos fica envolvida na vo-cação materna de Maria.

3. João, como discípulo que parti-lhou tudo com Jesus, sabe que oMestre quer conduzir todos os homensao encontro do Pai. Pode testemu-nhar que Jesus encontrou muitaspessoas doentes no espírito, porquecheias de orgulho (cf. Jo 8, 31-39), edoentes no corpo (cf. Jo 5, 6). A to-dos, concedeu misericórdia e perdãoe, aos doentes, também a cura física,sinal da vida abundante do Reino,onde se enxugam todas as lágrimas.Como Maria, os discípulos são cha-mados a cuidar uns dos outros; masnão só: eles sabem que o Coração deJesus está aberto a todos, sem exclu-são. A todos deve ser anunciado oEvangelho do Reino, e a caridadedos cristãos deve estender-se a todos

quantos passam necessidade, sim-plesmente porque são pessoas, filhosde Deus.

4. Esta vocação materna da Igrejapara com as pessoas necessitadas e osdoentes concretizou-se, ao longo dasua história bimilenária, numa sérieriquíssima de iniciativas a favor dosenfermos. Esta história de dedicaçãonão deve ser esquecida. Continuaainda hoje, em todo o mundo. Nospaíses onde existem sistemas de saú-de pública suficientes, o trabalhodas congregações católicas, das dio-ceses e dos seus hospitais, além defornecer cuidados médicos de quali-dade, procura colocar a pessoa hu-mana no centro do processo terapêu-tico e desenvolve a pesquisa científi-ca no respeito da vida e dos valoresmorais cristãos. Nos países onde ossistemas de saúde são insuficientesou inexistentes, a Igreja esforça-sepor oferecer às pessoas o máximopossível de cuidados da saúde, eli-minar a mortalidade infantil e debe-lar algumas pandemias. Em todo olado, ela procura cuidar, mesmoquando não é capaz de curar. A ima-gem da Igreja como «hospital decampo», acolhedora de todos os quesão feridos pela vida, é uma realida-de muito concreta, porque, nalgu-mas partes do mundo, os hospitaisdos missionários e das dioceses sãoos únicos que fornecem os cuidadosnecessários à população.

5. A memória da longa história deserviço aos doentes é motivo de ale-gria para a comunidade cristã e, demodo particular, para aqueles queatualmente desempenham esse servi-ço. Mas é preciso olhar o passado,sobretudo para com ele nos enrique-cermos. Dele devemos aprender: agenerosidade até ao sacrifício totalde muitos fundadores de institutosao serviço dos enfermos; a criativida-de, sugerida pela caridade, de mui-tas iniciativas empreendidas ao lon-go dos séculos; o empenho na pes-quisa científica, para oferecer aosdoentes cuidados inovadores e fiá-veis. Esta herança do passado ajudaa projetar bem o futuro. Por exem-plo, a preservar os hospitais católi-cos do risco de uma mentalidadeempresarial, que em todo o mundo

quer colocar o tratamento da saúdeno contexto do mercado, acabandopor descartar os pobres. Ao contrá-rio, a inteligência organizativa e acaridade exigem que a pessoa dodoente seja respeitada na sua digni-dade e sempre colocada no centrodo processo de tratamento. Estasorientações devem ser assumidastambém pelos cristãos que traba-lham nas estruturas públicas, ondesão chamados a dar, através do seuserviço, bom testemunho do Evan-gelho.

6. Jesus deixou, como dom à Igre-ja, o seu poder de curar: «Estes sinaisacompanharão aqueles que acredita-rem: (...) hão de impor as mãos aosdoentes e eles ficarão curados» (Mc16, 17.18). Nos Atos dos Apóstolos, le-mos a descrição das curas realizadaspor Pedro (cf. At 3, 4-8) e por Paulo(cf. At 14, 8-11). Ao dom de Jesuscorresponde o dever da Igreja, bemciente de que deve pousar, sobre osdoentes, o mesmo olhar rico de ter-nura e compaixão do seu Senhor. Apastoral da saúde permanece e sem-pre permanecerá um dever necessá-rio e essencial, que se há de vivercom um ímpeto renovado, começan-do pelas comunidades paroquiais atéaos centros de tratamento de exce-lência. Não podemos esquecer aquia ternura e a perseverança com quemuitas famílias acompanham os seusfilhos, pais e parentes, doentes cró-nicos ou gravemente incapacitados.Os cuidados prestados em famíliasão um testemunho extraordináriode amor pela pessoa humana e de-vem ser apoiados com o reconheci-mento devido e políticas adequadas.Portanto, médicos e enfermeiros, sa-cerdotes, consagrados e voluntários,familiares e todos aqueles que se em-penham no cuidado dos doentes,participam nesta missão eclesial. Éuma responsabilidade compartilha-da, que enriquece o valor do serviçodiário de cada um.

7. A Maria, Mãe da ternura, que-remos confiar todos os doentes nocorpo e no espírito, para que os sus-tente na esperança. A Ela pedimostambém que nos ajude a ser acolhe-dores para com os irmãos enfermos.A Igreja sabe que precisa de umagraça especial para conseguir fazerfrente ao seu serviço evangélico decuidar dos doentes. Por isso, una-mo-nos todos numa súplica insisten-te, elevada à Mãe do Senhor, paraque cada membro da Igreja vivacom amor a vocação ao serviço davida e da saúde. A Virgem Maria in-terceda por este XXVI Dia Mundialdo Doente, ajude as pessoas doentesa viverem o seu sofrimento em co-munhão com o Senhor Jesus, e am-pare aqueles que cuidam delas. A to-dos, doentes, agentes de saúde e vo-luntários, concedo de coração a Bên-ção Apostólica.

Vaticano, 26 de novembro de 2017Solenidade de Nosso Senhor

Jesus Cristo Rei do Universo.

Macha Chmakoff, «Aos pés da cruz»

Às academiasp ontifícias

página 6 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 21 de dezembro de 2017, número 51

Sete novos embaixadoresIémen, Nova Zelândia, Suazilândia, Azerbaijão, Chade, Liechtenstein e Índia sãoos sete países de proveniência dos novos embaixadores que na manhã de quinta-feira, 14 de dezembro, apresentaram ao Papa Francisco as cartas com as quaissão acreditados junto da Santa Sé. Durante a audiência, que teve lugar na SalaClementina, o Pontífice recebeu as credenciais de cada representante diplomático;depois, dirigindo-se a eles, aos seus colaboradores e familiares, pronunciou o dis-curso que publicamos na página seguinte. Aos novos embaixadores, no momentoem que se preparam para desempenhar o seu elevado cargo, transmitimos as felici-tações do nosso jornal.

ção científica (2011-2012). Voltou no-vamente a ser professor de químicaanalítica (2012-2016) na faculdade deciências da Universidade de Sana’a,desde 2016 é embaixador em Berlim,onde reside.

NO VA ZELÂNDIA

Sua Excelência o senhor AndrewJenks, novo embaixador da NovaZelândia junto da Santa Sé, nasceuem 1968. É casado e tem três filhos.Obteve a licenciatura em Direito naUniversidade de Otago e, em segui-da, um mestrado na Victoria Univer-sity of Wellington. Desempenhou,entre outros, os seguintes cargos: USDesk Officer, divisão Américas noministério dos Negócios estrangei-ros, Wellington (1993-1994); consul-tor jurídico, divisão jurídica no mi-nistério dos Negócios estrangeiros,Wellington (1994-1996); consultor ju-rídico, bureau direito ambiental, de-partamento dos Negócios estrangei-ros, Ottawa (1996-1997); segundo se-cretário e, sucessivamente, terceirosecretário da Embaixada em Jacarta(1997-2000); consultor jurídico se-nior, divisão jurídica no ministériodos Negócios estrangeiros e do co-mércio, Wellington (2001); conse-lheiro de política comercial, EconA-nalys AB, Estocolmo (2002-2003);analista de política na Câmara na-cional do comércio, Estocolmo(2003-2004); responsável de alto ní-vel das políticas, divisão jurídica doministério dos Negócios estrangeirose do Comércio, Vice Wellington(2005-2006); vice-diretor, divisão ju-

estrangeiros e do Comércio, Wel-lington (de 12 de outubro de 2008 a15 de junho de 2009); diretor de uni-dade, divisão Europa, ministério dosNegócios estrangeiros e do Comér-cio, Wellington (de 15 de junho a 16de outubro de 2009). Desde outubrode 2016 é embaixador designado deEspanha, Andorra, Malta e Marro-cos.

SUA Z I L Â N D I A

Sua Excelência o senhor Sibusi-siwe Mngomezulu, novo embaixadordo Reino da Suazilândia junto daSanta Sé, nasceu em Manzini a 25de dezembro de 1973. É casado etem dois filhos. Obteve a licenciatu-ra em ciência social (economia) naUniversidade de Natal, Pietermaritz-burg, África do Sul em 1996; ummestrado em business administration

cios estrangeiros da Federação Russa(2003-2006). Desempenhou, entreoutros, os seguintes cargos: adito noministério dos Negócios estrangeirosda União das Repúblicas socialistassoviéticas — URSS (1987-1991); aditode embaixada no Sudão (1991-1992);diretor do departamento das relaçõesinternacionais no jornal «Azadliq»(Liberdade), em Baku (1992-1993);conselheiro do departamento para oServiço de informação da Adminis-tração presidencial da República doAzerbaijão (1993-1994); primeiro se-cretário de embaixada na FederaçãoRussa (1994-1997); chefe de departa-mento das relações internacionais nocomité de Estado para a questão dapropriedade (1997-1999); conselheirode embaixada na Federação Russa(2000-2006); vice-diretor (2006) edepois diretor (2006-2009) da dire-ção da Europa e das Américas noministério dos Negócios estrangei-ros; embaixador na Grécia (2009-2017). Desde 23 de junho passado éembaixador na França.

CHADE

Sua Excelência o senhor AmineAbba Sidick, novo embaixador doChade junto da Santa Sé, nasceu emAbéché no dia 30 de junho de 1953.É casado e tem sete filhos. Douto-

IÉMEN

Sua Excelência o senhor YahiaMohammed Abdullah Al-Shaibi, no-vo embaixador do Iémen junto daSanta Sé, nasceu em Aden a 27 deabril de 1952. É casado e tem cincofilhos. Licenciou-se em didática daquímica na Al-Fateh University deTrípoli na Líbia em 1977, e sucessiva-

rídica, ministério dos Negócios es-trangeiros e do comércio, Wellington(2006-2008); vice-representante per-manente na Ocse, Paris (de 8 de ju-nho a 12 de julho de 2008); diretorde unidade, divisão das negociaçõescomerciais, ministério dos Negócios CO N T I N UA NA PÁGINA 7

(finanças) na Us International Uni-versity de San Diego, Estados Uni-dos da América, em 2000; e um di-ploma de pós-graduação em projectmanagement (escola de administra-ção de empresas) na universidade deWitwatersrand, Joanesburgo, Áfricado Sul, em 2003. Depois de ter de-sempenhado algumas atividades noâmbito industrial, financeiro e co-mercial (2000-2013), exerceu os se-guintes cargos: conselheiro do altocomissariado na Malásia (2014-2016);alto comissário na Malásia (2016-2017). Desde o passado mês de maioé embaixador junto da União euro-peia em Bruxelas, onde reside.

AZERBAIJÃO

Sua Excelência o senhor RahmanSahiboglu Mustafayev, novo embai-xador da República do Azerbaijãojunto da Santa Sé, nasceu em Bakua 26 de setembro de 1963. É casadoe tem dois filhos. Licenciou-se emrelações económicas internacionaisno Instituto de Estado das RelaçõesInternacionais de Moscovo (1985).Obteve um doutoramento em histó-ria (1993) e frequentou a academiadiplomática do ministério dos Negó-

mente frequentou um mestrado emquímica física em Tuskegee Instituteem Alabama, Estados Unidos daAmérica, em 1980, e obteve um dou-toramento de pesquisa em químicaanalítica na University of South Ca-rolina, EUA , em 1984. Desempenhou,entre outros, os seguintes cargos naUniversidade de Sana’a: demonstra-dor no departamento de química, fa-culdade de ciências (1978); professorassistente no departamento de quí-mica, faculdade de ciências (1980);professor assistente de química analí-tica, faculdade de ciências (1984);consultor científico na faculdade deciências (1984-1986); presidente doslaboratórios centrais de investigação(1985-1988); vice-decano para os as-suntos dos estudantes (1986-1988);professor associado de química ana-lítica, faculdade de ciências (1989);vice-reitor assistente (1988-1992); vi-ce-reitor assistente para os assuntosacadémicos (1992-1993). Depois dese ter tornado adito cultural no Egi-to (1993-1995), voltou para a Univer-sidade de Sana’a como vice-decanopara os assuntos dos estudantes(1996-1997) e professor de químicaanalítica na faculdade de ciências(1998). Foi ministro da Educação(1997-2001) e também da Instruçãosuperior e da Pesquisa científica(2001-2003), governador de Aden(2003-2006), ministro de Estado egovernador de Sana’a (2006-2008),ministro da Função Pública e Segu-ro (2008-2011), e de novo ministroda Instrução superior e da Investiga-

número 51, quinta-feira 21 de dezembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 7

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 6

O papel construtivoda diversidade

«O compromisso em prol do diálogo eda cooperação deve ser o sinaldistintivo de cada instituição dacomunidade internacional, assim comode qualquer instituição nacional elocal», sublinhou o Pontífice nodiscurso dirigido aos novosembaixadores que na manhã dequinta-feira, 14 de dezembro,apresentaram as cartas com as quaissão acreditados junto da Santa Sé.

Excelências!Dou as calorosas boas-vindas a to-dos vós para a apresentação das Car-tas, com as quais sois acreditadosEmbaixadores Extraordinários e Ple-nipotenciários junto da Santa Sé porparte dos vossos respetivos países:Iémen, Nova Zelândia, Suazilândia,Azerbaijão, Chade, Liechtenstein eÍndia. Peço-vos, por favor, quetransmitais aos Chefe de Estado dosvossos países os meus sentimentosde apreço e estima, e que lhes garan-tais as minhas orações por eles e pe-lo povo que servem.

No início da vossa nova missão,estou ciente da diversidade dos paí-ses que vós representais e das dife-rentes tradições culturais e religiosasque caraterizam a história de cadauma das vossas Nações. Isto oferece-me a oportunidade de enfatizar opapel positivo e construtivo que estadiversidade desempenha no concertodas Nações. A comunidade interna-

cional enfrenta uma série de comple-xas ameaças à sustentabilidade am-biental e à ecologia social e humanade todo o planeta, como por exem-plo as ameaças à paz e à concórdiaderivantes de ideologias fundamen-talistas violentas e dos conflitos re-gionais, que muitas vezes se apresen-tam disfarçados de interesses e valo-

res opostos. Todavia, é importanterecordar que a diversidade da famí-lia humana não é por si só uma cau-sa destes desafios à coexistência pa-cífica. Na verdade, as forças centrí-fugas que gostariam de dividir ospovos não devem ser procuradas nassuas diferenças, mas na incapacidadede estabelecer um percurso de diálo-

go e de compreensão como o meiomais eficaz de resposta a estes desa-fios.

A vossa própria presença aqui éum exemplo do papel-chave que odiálogo tem em permitir que a diver-sidade seja vivida de forma autênticae em benefício recíproco para a nos-sa sociedade cada vez mais globali-zada. Uma comunicação respeitado-ra leva à cooperação, especialmentefavorecendo a reconciliação onde elaé mais necessária. Esta cooperação,por sua vez, ajuda aquela solidarie-dade que é a condição para o cresci-mento da justiça e para o devidorespeito da dignidade, dos direitos edas aspirações de todos. O compro-misso em prol do diálogo e da coo-peração deve ser o sinal distintivo decada instituição da comunidade in-ternacional, assim como de qualquerinstituição nacional e local, dadoque todas são responsáveis pela bus-ca do bem comum.

A promoção do diálogo, da recon-ciliação e da cooperação não podeser dada como certa. A delicada arteda diplomacia e o trabalho árduo daconstrução de uma nação devem sersempre aprendidas novamente porcada geração. Nós partilhamos a res-ponsabilidade coletiva de educar osjovens sobre a importância destesprincípios que sustentam a ordemsocial. Transmitir esta herança pre-ciosa aos nossos filhos e netos, nãosó garantirá um futuro pacífico epróspero, mas satisfará também asexigências da justiça intergeracionale daquele desenvolvimento humanointegral ao qual cada homem, mu-lher e criança tem direito.

Queridos Embaixadores, no mo-mento em que assumis as vossas al-tas responsabilidades ao serviço dasvossas nações, garanto-vos a assis-tência dos vários Departamentos daSanta Sé. Formulo os meus melhoresvotos para o vosso importante traba-lho e invoco de bom grado sobrevós, sobre as vossas famílias e sobretodos os cidadãos dos vossos países,a abundância das bênçãos divinas.O brigado.

Sete novos embaixadores

rou-se em matemática no Senegal(1985), e foi professor universitáriono Senegal, Costa de Marfim e Ga-bão. Desempenhou, entre outros,os seguintes cargos: conselheiro napresidência da República (1996-1997); diretor de Gabinete civil napresidência da República (1997-2000); embaixador no Egito (2000-2004); secretário-geral da comissãointerparlamentar da Comissão eco-nómica e monetária da África cen-tral — Cemac (2007-2010); secretá-rio-geral do Parlamento comunitá-rio da Cemac (2010-2015). Desde opassado mês de março é embaixa-dor na França.

LIECHTENSTEIN

Sua Excelência o príncipe Stefanvon und zu Liechtenstein, novoembaixador do principado de Lie-chtenstein junto da Santa Sé, nas-ceu em Klagenfurt, na Áustria, a 14de novembro de 1961. É casado etem quatro filhos. Licenciou-se como grau de magister em administra-ção de empresas na Universidadede Innsbruck (1987), desempenhouos seguintes cargos: diretor naUnion Bank of Switzerland (Ubs)em Zurique (1988-1991) e em Frank-furt (1991-1995); responsável de umprojeto turístico familiar na Áustria(1995-2001); embaixador na Suíça(2001-2007); embaixador na Alema-nha (março de 2007 — julho de

2017). Em 2015 fundou e, atualmen-te, é presidente de LiechtensteinLanguages, projeto que visa melho-rar os cursos de línguas e a integra-ção para os refugiados e migrantesna Europa, introduzindo um méto-do de aprendizagem eficiente.

ÍNDIA

Sua Excelência o senhor SibiGeorge, novo embaixador da Índiajunto da Santa Sé, nasceu a 20 demaio de 1967. É casado e tem trêsfilhos. Obteve uma licenciatura e,sucessivamente, um mestrado emciências políticas. Desempenhou,entre outros, os seguintes cargos:funcionário no ministério dos Ne-

gócios estrangeiros (1993-1995); ter-ceiro secretário e, sucessivamente,segundo secretário de embaixadano Egito (1995-1998); primeiro se-cretário de embaixada no Qatar(1998-2001); vice-secretário no mi-nistério dos Negócios estrangeiros(2001-2004); primeiro secretário e,sucessivamente, conselheiro de em-baixada no Paquistão (2004-2007);conselheiro de embaixada emWashington Dc, Estados Unidos daAmérica (2007-2010); vice-chefe demissão de embaixada no Irão(2010-2012); ministro e, sucessiva-mente, vice-chefe de missão de em-baixada na Arábia Saudita (2012-2014); subsecretário no ministériodos Negócios estrangeiros (2014-2017). Desde o passado mês de no-vembro é embaixador na Suíça.

número 51, quinta-feira 21 de dezembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 8/9

No vigésimo quinto aniversário da fundação Populorum progressio

Em prol dos marginalizadosda sociedade latino-americana

Foram 4.400 os projetos realizados naAmérica Latina e no Caribe para«melhorar as condições dos povosautóct0nes, mestiços e afro-americanos»graças ao apoio da fundação PopulorumProgressio. Frisou o Papa na mensagemenviada aos participantes na conferênciainaugurada em Roma no dia 12 dedezembro, no XXV aniversário dainstituição.

Ao Senhor CardealPeter K. A. Turkson

Prefeito do Dicastériopara o Serviço

do Desenvolvimento Humano Integrale Presidente

da Fundação Populorum Progressio

Por ocasião do XXV aniversário da insti-tuição da Fundação Populorum Progres-sio, peço-lhe que transmita a minhasaudação a todos os membros do Con-

americana e caribenha. Desejava queesta instituição mostrasse a proximida-de do Papa às pessoas desprovidas atédo indispensável para viver e que comfrequência a sociedade ou as suas auto-ridades descuidam. As iniciativas leva-das adiante por este organismo preten-dem ser uma manifestação do amor deDeus e da presença materna da Igrejano meio de todos os homens, em parti-cular dos mais pobres entre os pobres(cf. Lc 7, 22).

Desde então a Fundação apoiou cer-ca de 4.400 projetos, graças à generosi-dade de tantos católicos e pessoas deboa vontade, que ofereceram generosa-mente o que possuíam para que outrospudessem melhorar as próprias condi-ções de vida.

É importante recordar que as Igrejasparticulares da América Latina partici-pam na realização dos projetos e noConselho de Administração, formadopor seis Ordinários da região, e que le-va por diante o estudo das iniciativasapresentadas pelos Bispos e pelos res-ponsáveis pastorais.

Contudo, a situação da América La-tina requer um compromisso mais sóli-do, a fim de melhorar as condições devida de todos, sem excluir ninguém, lu-tando de igual modo contra as injusti-ças e a corrupção, a fim de obter o me-lhor resultado dos esforços envidados.Com efeito, não obstante as potenciali-dades dos países latino-americanos —habitados por povos solidários com osoutros e que dispõem de uma granderiqueza sob o ponto de vista da históriae da cultura, assim como de recursosnaturais — a atual crise económica e so-cial, agravada pelo flagelo da dívidaexterna que paralisa o desenvolvimento,atingiu a população e fez aumentar apobreza, o desemprego e a desigualda-de social, e ao mesmo tempo contri-buiu para a exploração e o abuso danossa casa comum, a um nível quenunca teríamos imaginado antes.

Quando um sistema económico põeno centro unicamente o deus dinheiro,desencadeiam-se políticas de exclusão edeixa de haver lugar para o homem epara a mulher. Então o ser humano criaaquela cultura do descarte que compor-ta sofrimento, privando tantos do direi-to de viver e de ser felizes (cf. CartaEncíclica Laudato si’, 44).

A Fundação nasceu para ser um sinalda proximidade do Papa e da Igreja atodos, sobretudo às comunidades quepermanecem marginalizadas e às quesão consideradas descartáveis, desprovi-das dos direitos humanos fundamentaise da participação na mesa do bem co-mum, como infelizmente acontece comos povos autóctones, mestiços e afro-americanos da América Latina. A Igrejaé chamada a estar próxima e a tocar noirmão a carne de Cristo, que é tambéma medida do juízo de Cristo (cf. Mt25).

Apelo à EuropaDe um mundo que rejeita ser relegado às margens da história

Desenho realizado por crianças do Terceiro Mundo representando os direitos humanos para uma exposição da associação Constellation

HÉLDER CÂMARA

Finalmente livre das correntes co-loniais, o Terceiro Mundo emergecom a sua diversidade, a sua

imensidão, a sua grande riqueza naturale humana, depauperado por um desen-volvimento tecnológico e económicoatrasado. Os seus povos querem ser ou-vidos: agora têm a possibilidade de ofazer e começam, eles mesmos, a adqui-rir a consciência acerca disto. Rejeitamo papel de “m a rg i n a i s ” da história e,

e do desperdício, nos quais se baseia asua riqueza e a sua superioridade, eque eles exportam utilizando as técni-cas de propaganda mais sofisticadas emais seguras, permanecerão incompre-ensíveis e inaceitáveis os vossos esfor-ços, como Comunidade europeia, a fimde contribuir para fazer entender e res-peitar as reivindicações do TerceiroMundo.

grandes empresas compram vastas par-celas de terra: às vezes estes terrenoschegam a ter as dimensões de paísescomo a Holanda ou a Bélgica.

Nas terras adquiridas residem desdehá muitos anos famílias pobres ou ín-dios, naturalmente sem documentosoficiais: com a chegada dos proprietá-rios — que dispõem de tais documentos— os pobres ou os indígenas devempartir. Eles vão à procura das nossas ci-

prazo, garantir o poder de compra dosprodutos de exportação do TerceiroMundo, tão necessários para a econo-mia dos países industrializados?

Dou porventura pouca importânciaao papel das multinacionais? Sem dúvi-da, com uma tecnologia tão avançadacomo a atual, com os meios de comuni-cação extremamente rápidos, a produ-

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Corria o ano de 1979Apresentamos a sinopse de um artigo daautoria do teólogo brasileiro, na épocaarcebispo de Olinda e Recife (1909-1999),publicado no número 1 de 1979 de «Vita ePensiero». Este ensaio acabou de serrepublicado pela newsletter quinzenal destarevista italiana.

Oliviero Pagliaroli, «Amazônia»

A Fundação, não obstante os meioslimitados de que dispõe, encarna nosseus projetos a opção preferencial pelosmais pobres, evidenciando a sua digni-dade (cf. Carta Encíclica Laudato si’,158), através do testemunho da carida-de de Cristo que se torna ajuda, mãoestendida ao irmão e à irmã para quese levantem, voltem a esperar e a teruma vida digna. Só assim poderão serde novo protagonistas do seu desenvol-vimento humano integral, recuperandoa sua dignidade de seres humanos ama-dos e desejados por Deus, a fim de po-derem contribuir também para o pro-gresso económico e social do seu paíscom toda a riqueza que têm no seu co-ração e na sua cultura. E este desenvol-vimento humano será obra de todosporque será fruto de um esforço que,através dos meios fornecidos com tantagenerosidade pelas comunidades ecle-siais, transforma o descarte num recur-so autêntico, em benefício não só de

um país mas também de toda a huma-nidade.

A Fundação, que financia muitosprojetos a favor dos povos nativos, po-derá encontrar na Assembleia Especialdo Sínodo dos Bispos para a regiãoPan-Amazônica, que terá lugar em Ro-ma no mês de outubro de 2019, umafonte de inspiração para o futuro e paraa evangelização do Continente.

Permiti-me agradecer aos represen-tantes da Conferência Episcopal Italia-na, que acompanham com tanta gene-rosidade e fidelidade a Fundação, assimcomo às Organizações católicas e aosbenfeitores que ofereceram a sua pre-ciosa contribuição para o financiamentodos projetos. Unindo-me à gratidão dequantos beneficiaram desta ajuda tãoimportante, desejo pedir a Deus a fimde que os recompense com abundantesbênçãos espirituais. Por fim, saúdo oscolaboradores da Secretaria em Bogotáe do Dicastério, agradecendo-lhes o seucompromisso concreto a favor dos ir-mãos e irmãs mais necessitados.

Encorajo-vos no vosso trabalho a fa-vor do desenvolvimento humano inte-gral e do bem comum no nosso Conti-nente americano, a fim de que a cola-boração entre todos contribua paracriar um mundo cada vez mais justo ehumano, que veja o rosto de Cristo emcada irmão e irmã das populações maismarginalizadas da América Latina, se-guindo o exemplo que Santa Teresa deCalcutá nos deixou.

Confio as celebrações deste aniversá-rio à materna intercessão da Virgem deGuadalupe, venerada em todo o Conti-nente americano, e que o Senhor aben-çoe os membros da Fundação e os seusb enfeitores.

Vaticano, 20 de novembro de 2017

por isso, estão decididos a utilizar assuas capacidades, a colocar em comumas suas potencialidades, a unir as suasvontades. O prazo esgota-se, porquemais de metade deste povo, aproxima-damente um bilião de pessoas, vive àbeira da «miséria absoluta», como defi-niu o presidente do Banco mundial. As“nações proletárias” estão decididas aconquistar o direito de existir, o direitode participar na definição e na gestãoda ordem económica mundial.

Eis o método que tenciono seguir:interpelar a Europa em nome do Ter-ceiro Mundo. Para mim, trata-se deuma ocasião privilegiada para fazer ou-vir a voz daqueles países que, com umbonito eufemismo, orgulhosos do vossoprogresso, denominastes “países emvias de desenvolvimento”.

Peço perdão à Europa, se a identificocom a Comunidade europeia. Talvezestas graves interrogações que vos ma-nifesto possam estimular fraternalmenteos vossos futuros representantes no Par-lamento europeu.

Gostaria de chamar a vossa atençãopara a ideologia da segurança nacional,vista como um valor supremo: a Améri-ca Latina paga todos os dias um preçoelevado a esta idolatria. Evidentemente,cada povo tem o direito, aliás o dever,de se defender. Mas quando a seguran-ça nacional é posta acima de qualquercoisa, tudo pode ser útil para a susten-tar: ditaduras, raptos, torturas... E nãopenseis que as ditaduras são o mono-pólio dos países subdesenvolvidos: te-nho a impressão de que, diante de ce-nas horrendas de terrorismo, às vezesrenasça em determinados países euro-peus una certa nostalgia do fascismo edo nazismo.

Fizestes o esforço de aprofundar oproblema da violência? Nos nossosdias, a violência número um, a violên-cia mãe de todas as violências, não éporventura a miséria, que consegue ma-tar muito mais do que as guerras maissanguinolentas? Quando, por vezes, osopressores reagem, então chega a fortís-sima resposta dos governos e começa aespiral da violência.

Deveis abrir os olhos perante asáreas de Terceiro Mundo que existem

também no seio dos países mais ricos.Deveis envidar o esforço de examinar oproblema complexo, mas profundamen-te humano, dos imigrantes e daquelesque são chamados “ilegais”: eles certa-mente não chegam aos vossos paísescomo turistas, mas sobretudo porquena sua terra as condições de vida setornaram impossíveis. E tudo isto sedeve também às terríveis injustiças quese verificaram na política comercial in-ternacional.

A facilidade com que deixamos os

Em segundo lugar, o problema dasmassas de jovens do Terceiro Mundo.Ingenuamente, os países industrializa-dos pensam em resolver aquilo a quechamam «explosão demográfica» atra-vés de uma invasão teleguiada de pílu-las anticoncecionais. Reagimos a estaintervenção num campo que para nós érepleto de mística e de amor. Se os ho-mens responsáveis, tanto no Norte co-mo no Sul, não prestarem uma atençãocorajosa à pressão crescente das massasjuvenis que procuram um trabalho nospaíses subdesenvolvidos, e não conse-guirem integrá-los num verdadeiro de-senvolvimento portador de porvir, eleslançarão as premissas para uma revolu-ção e para uma guerra civil.

O terceiro problema consiste na fo-me. Os países industrializados são leva-dos a reconhecer que na época doscomputadores e das viagens espaciais,principalmente por causa das suas in-justiças na política comercial interna-cional, dois terços da população mun-dial sofrem de fome.

Contudo, mais uma vez, é o egoísmoo motivo condutor da tentativa de darde comer ao mundo. Na Europa ou naAmérica do Norte, podeis facilmenteobter informações seguras a propósitodas operações levadas a cabo pelos paí-ses industrializados nos nossos paísesdo Terceiro Mundo. Muitas vezes, paramodernizar a agricultura dos países doTerceiro Mundo — escolhidos para setornar os celeiros da humanidade —

dades, transformando as periferias emenormes favelas; mas nem sequer aí es-tão certos de poderem permanecer.Com efeito, os governos têm os pró-prios planos de urbanização para atrairos turistas; e deste modo, os pobres sãomandados embora, para lugares cadavez mais distantes.

Quando, na América Latina, a Igrejaempresta a sua voz aos sem-voz, é acu-sada de ser subversiva e comunista.

Parece impossível iludir-se: aquiloque for produzido pela agricultura mo-dernizada dos futuros celeiros da hu-manidade, será destinado antes de tudoaos supermercados, e o interesse mani-festado pela melhoria do nível de vidadas populações rurais dos nossos paísessubdesenvolvidos deve ser em funçãodas empresas agrícolas, permitindo-lhesbeneficiar, no lugar, de um suplementode mercado interno. Mas esta proble-mática da fome exige uma solução dife-rente, mais humana e mais equitativa.

Outro problema, igualmente grave, érepresentado pelo endividamento cres-cente, e muitas vezes definitivo, dospaíses pobres em relação aos vossospaíses industrializados. Não pode a Eu-ropa agir para reduzir o endividamentocrescente do Terceiro Mundo? Todosnós sabemos que a inflação mundial évantajosa para os ricos e anula todos osesforços envidados por certos países doTerceiro Mundo, para sair do subde-senvolvimento. Então, não poderia aEuropa, mediante contactos a longo

selho de Administração da supracitadainstituição, aos seus colaboradores e atodos os que se reunirem para celebrareste evento em Roma.

A 13 de novembro de 1992, o meupredecessor São João Paulo II instituiua Fundação Populorum Progressio a fimde contribuir para melhorar as condi-ções dos povos autóctones, mestiços eafro-americanos na América Latina, quese encontram entre os grupos maismarginalizados da sociedade latino-

trabalhos mais humildesaos imigrantes não vos le-va, por acaso, a pensar noracismo que existe dentrode nós? Numa noção bas-tante difundida do Tercei-ro Mundo, não há talvezum racismo insuspeitado?O Terceiro Mundo parece-nos pobre, porque a Áfricaé negra, a Ásia é amarela,a América Latina é morenae mulata... e as pessoas decor parecem-nos de nature-za inferior em termos deinteligência, de vontade detrabalhar, de honestidade.

Para além das dúvidas levantadas,contudo, gostaria de voltar a evocar ospontos principais sobre os quais se de-ve fundamentar o diálogo Norte-Sul.Antes de tudo, a luta ao consumismo.Enquanto os países industrializadosnão sararem da prática do consumismo

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CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 8

Apelo à Europa

ção adquire muito facilmente dimen-sões mundiais. Eis então que as em-presas maiores engolem as mais pe-queninas, se associam e estabelecemalianças entre si. Eisenhower já tevea oportunidade de denunciar aaliança entre o poder económico e opoder militar.

Se pensarmos no balanço de umamoderna universidade americana enas enormes despesas para a pesqui-sa, ou naquele dos grandes meios decomunicação social, damo-nos contade que alcançam números astronó-micos: as multinacionais são as úni-cas que os podem sustentar.

O lobbying, uma experiência bemsucedida, merece ser internacionali-zado, e as multinacionais sabem ma-nobrá-lo muito bem. As multinacio-nais têm pouco interesse pelos siste-mas políticos: não obstante elas se-jam filhas prediletas do mundo capi-talista, sentem-se à vontade na Urss

e, para pôr o pé na China, tiveramque esperar a morte de Mao Tse-Tu n g.

Naturalmente, elas dispõem doseu próprio serviço de informações epor vezes não sabem resistir à tenta-ção de provocar a queda dos gover-nos aos quais tiveram a coragem dese opor, ou de preparar a ascensãode governos favoráveis.

Talvez ainda seja difundida naEuropa a ideia de que as multinacio-nais levem moedas fortes aos paísessubdesenvolvidos e que facilitem oprogresso destas nações, criando oudesenvolvendo a industrialização e oemprego. As multinacionais têm in-teresse pelos nossos países como«paraísos» para os seus investimen-tos. Unem-se aos nossos grupos pri-vilegiados, que já exercem uma des-pesa de colonialismo interno, aos ri-cos dos nossos países que conservamas suas riquezas oprimindo os pró-prios concidadãos. As multinacionaischegam sobretudo para sugar as

nossas matérias-primas, indispensá-veis para a manutenção da sociedadeconsumista, ou melhor, da sociedadedo desperdício.

Para manter a concorrência, asempresas criadas ou recriadas pelasmultinacionais devem ser automati-zadas ou semiautomatizadas, redu-zindo portanto enormemente o nú-mero de postos de trabalho.

Então, interrogar-se sobre aquiloque podemos fazer para mudar demodo pacífico, mas corajoso, as es-truturas injustas sobre as quais sefundamentam as multinacionais po-de recordar a imagem de uma formi-ga diante de uma barreira. Todavia,as estruturas injustas que oprimemmais de dois terços da humanidadenão podem deixar de ser abatidas. Epara fazer isto, seria uma loucura re-correr às armas, fabricadas pelosnossos próprios opressores.

É o próprio Espírito que encorajaa libertação dos filhos de Deus, con-finados numa condição sub-humana,

tratados como objetos ou animais.Aqui, no Terceiro Mundo, o Espíritode Deus ensina-nos a não trabalharsomente para o povo. Leva-nos adespertar nos nossos pobres, junta-mente com a graça, também a fé, aesperança e o amor. Eles encontram-se numa condição sub-humana, masnão são sub-homens. Não existemsub-homens, assim como não exis-tem super-homens: só existem ho-mens, filhos do Pai criador e irmãosem Cristo. Nas nossas comunidadesde base, encorajamos o nosso povo,ensinando-lhe que deve unir-se nãopara espezinhar os direitos do próxi-mo, mas para defender os próprios,que estes direitos não são favores re-cebidos dos governos, nem dos ri-cos, mas são dádivas que o Senhornos conferiu. Ensinamos aos nossospovos que, unidos na defesa dos di-reitos que Deus nos concedeu, sere-mos invencíveis. Nenhuma força po-de esmagar uma comunidade inteira.

Primeira pregação de Advento

Ecologismo cristãoTodos, crentes e não-crentes, deveriam compro-meter-se num «ideal de sobriedade e de respeitopela criação; mas nós “cristãos” devemos fazê-lopor um motivo e com uma intenção a mais», por-que somos chamados, na adesão a Cristo, a parti-cipar na sua obra de criação e redenção do mun-do. Em síntese, foi esta a exortação que o padreRaniero Cantalamessa fez na primeira pregaçãode Advento proferida na manhã de 15 de dezem-bro na Capela Redemptoris Mater, na presençado Papa.

Uma exortação que, partindo de bases teológi-cas e da meditação espiritual, se tornou muitoconcreta declinando-se em sugestões práticas paraa vida de todos os dias. Entre as quais o facto dese comprometer a «não desperdiçar o papel» e a«não ser ladrão de recursos, usando-os mais doque é necessário, subtraindo-os assim a quem vierdepois de nós». Precisamente no tempo de prepa-ração para o Natal, reconsiderando como o pró-prio Criador, «fazendo-se homem, se contentoucom um estábulo para nascer», cada um de nósdeveria ouvir a «chamada a esta forte sobriedadee moderação no uso das coisas».

Considerações às quais o pregador da casapontifícia chegou através de uma linha de pensa-mento que, nas duas pregações previstas para esteperíodo de Advento, pretende «colocar novamen-te a pessoa divino-humana de Cristo no centrodos dois grandes componentes que, juntos, cons-tituem “o real”, ou seja, o cosmo e a história».Sempre com uma finalidade «prática», isto é, ade «colocar Cristo antes de tudo “no centro” danossa vida pessoal e da nossa visão do mundo».Um objetivo fundamental dado que, frisou o pa-dre capuchinho, «não obstante se fale muito dele,Cristo é um marginalizado da nossa cultura».

Na primeira meditação o padre Cantalamessaanalisou o vínculo entre Cristo e o universo, emparticular analisando a «relação que existe entrecriação e encarnação». Com efeito, «segundo acompreensão cristã da realidade, o destino da in-teira criação passa através do mistério de Cristo,que está presente desde a origem», tal como é re-cordado por Paulo na carta aos Colossenses (1,16) e por João no prólogo do seu Evangelho (1, 1-18). E saber «que lugar ocupa a pessoa de Cristoem relação ao universo inteiro», reafirmou o ca-puchinho, «é hoje uma tarefa mais urgente doque nunca». Em particular, observou o pregador,

segundo João «o elo que une criação e redenção éo momento em que “o Verbo se fez carne”»; aocontrário, segundo Paulo, é «o momento dac ru z » .

Deve-se observar, frisou o padre Cantalamessa,que a reflexão patrística, tendo que fazer face àsseduções das heresias, se concentrou sobretudo naobra de Cristo para a salvação do homem, descui-dando o «significado de Cristo para o resto dacriação». Por conseguinte, naqueles textos «o al-cance cósmico do Logos na criação não encontrauma correspondência adequada na redenção». Háuma «perspetiva antropológica» predominante,que leva quase a fazer depender a vinda de Cristosó do pecado do homem que necessitava de umaintervenção de redenção.

Foi Duns Scoto o primeiro que objetou e pen-sou que «Cristo se teria encarnado mesmo seAdão não tivesse pecado, porque Ele é a própriacoroação da criação, a obra suprema de Deus».

Mas o passo decisivo, alguns séculos mais tar-de, foi dado por Teilhard de Chardin, «preocupa-do em evitar que, numa cultura dominada peloevolucionismo», Cristo acabasse «por ser visto co-mo “um acidente histórico isolado da criação”».Na sua opinião, ao contrário, «Cristo não só nãoé alheio à evolução da criação, mas, misteriosa-mente, a guia a partir de dentro e dela constitui,no momento da parusia, o cumprimento final e atransfiguração». Eis que com Teilhard de Char-din, observou o pregador da casa pontifícia, «pelaprimeira vez na história do pensamento cristão,um crente compõe um “hino à matéria” e um “hi-no do universo”». Um «clarão de otimismo» que,acrescentou, fez sentir «a sua influência» tambémna Gaudium et spes: «Há uma reavaliação das ati-vidades terrenas, primeira entre todas o trabalhohumano. As obras que o cristão realiza têm umvalor em si mesmas, como melhoramento domundo, não só pela intenção piedosa com que ocristão as cumpre».

Contudo, é verdade que neste passo em frentedado por Teilhard de Chardin, na sua ideia evo-lutiva «da ascensão da criação para formas cadavez mais complexas e diversificadas», ainda faltaa «preocupação pela salvaguarda da criação». Deresto, na sua visão «segundo a qual a ação finalda história será uma “c o ro a ç ã o ” da evolução quealcança o seu apogeu», não há a ideia de que «aação final poderia ser o seu contrário, ou seja,

uma interrupção brusca da história, uma crise, umjuízo». Ele, explicou o padre Cantalamessa, nãoconseguiu integrar «o aspeto negativo do pecadoe, por conseguinte, nem sequer a visão dramáticade Paulo segundo a qual a reconciliação e a reca-pitulação de todas as coisas em Cristo acontece-rão na sua cruz e morte».

Mas então, questionou-se o pregador, o quenos permite evitar o perigo de fazer de Cristo, co-mo dizia Blondel, «um intruso ou um desorienta-do na imensidão esmagadora e hostil do univer-so»? A resposta é «o Espírito Santo» e a sua «re-lação com Cristo ressuscitado». É o Espírito, ex-plicou, «a força misteriosa que impele a criaçãopara o seu cumprimento». É o Espírito que «ten-de a fazer passar a criação do caos para o cosmo,a fazer dela algo belo, ordenado, puro, precisa-mente um “mundo”». E «o que o Espírito deDeus realizou no momento da criação, agora rea-liza-o o Espírito de Cristo na redenção».

Mas como age hoje Cristo na criação? «Tem al-go a dizer também acerca dos problemas práticosque o desafio ecológico apresenta à humanidade eà Igreja?». E sobretudo: «Em que sentido pode-mos dizer que Cristo, o qual age através do seuEspírito, é o elemento-chave para um ecologismocristão sadio e realista?».

Segundo o padre Cantalamessa, a respostaabrange em primeira pessoa cada crente: Cristoage «de modo indireto, atuando no homem e —através do homem — na criação». Repropõe-se as-sim o que aconteceu nas origens: «Deus cria omundo e confia a sua custódia e salvaguarda aohomem». E foi precisamente Jesus quem revelou«o verdadeiro sentido da palavra “domínio”, co-mo ele é entendido por Deus, isto é, como servi-ço». Um serviço no qual o “próximo” «é aqueleque, agora e aqui, vive ao nosso lado», mas étambém «o que vem depois de nós, começandopelas crianças e jovens de hoje, ao qual estamos anegar da possibilidade de viver num planeta habi-tável».

Igor Paley, «A criação»

número 51, quinta-feira 21 de dezembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 11

Aos jornalistas o Papa pediu para não cair na parcialidade e no sensacionalismo

Uma informação moderada e completa

Estimados irmãos e irmãs!

Dou as minhas boas-vindas a vós,representantes dos três mil jornaiseditados ou transmitidos, tanto empapel como em forma digital, porpequenas e médias editoras e porentidades e associações sem fins lu-crativos, e agradeço ao padre Gior-gio Zucchelli as amáveis palavrasque me dirigiu em vosso nome.

Vós tendes uma tarefa, ou melhoruma missão, entre as mais importan-tes no mundo de hoje: informar cor-

retamente, oferecer a todos uma ver-são dos acontecimentos o mais pos-sível aderente à realidade. Sois cha-mados a tornar acessíveis a um vastopúblico problemáticas complexas, demaneira a realizar uma mediação en-tre os conhecimentos à disposiçãodos especialistas e a concreta possi-bilidade de uma sua ampla divulga-ção.

A vossa voz, livre e responsável, éfundamental para o crescimento dequalquer sociedade que queria defi-nir-se democrática, a fim de que seja

assegurado o intercâmbio constantede ideias e um debate profícuo, fun-damentado em dados reais e correta-mente divulgados.

Na nossa época, muitas vezes do-minada pelo anseio da velocidade,pelo impulso ao sensacionalismo emdetrimento da exatidão e da exausti-vidade, da emotividade exacerbadadeliberadamente, em vez da reflexãoponderada, sente-se de modo urgen-te a necessidade de uma informaçãoconfiável, com dados e notícias ave-riguados, que não vise surpreender eemocionar mas, ao contrário, que seproponha fazer aumentar nos leito-res um sentido crítico saudável, quelhes permita levantar interrogaçõesadequadas e chegar a conclusõesmotivadas.

Deste modo, evitar-se-á estarconstantemente à mercê de fáceis

slogans ou de campanhas de infor-mação extemporâneas, que deixamtransparecer a intenção de manipulara realidade, as opiniões e as própriaspessoas, originando com frequênciainúteis “polémicas mediáticas”.

A estas exigências, as pequenas emédias editoras podem respondermais facilmente. Na sua configura-ção, elas possuem vínculos salutaresque as ajudam a gerar uma informa-ção menos massificada, menos sujei-ta à pressão das modas, tanto passa-geiras quanto invasivas. Com efeito,elas são geneticamente mais ligadasà sua base territorial de referência,mais próximas da vida quotidianadas comunidades, mais ancoradas naessencialidade e concretude dosacontecimentos. Trata-se de um jor

Viver como verdadeiros filhosPrefácio do Pontífice

Aquele sorriso autêntico

Comento ao Pai-nossoNo dia 23 de novembro saiu o livroQuando pregate dite Padre Nostro [“Quandorezardes dizei Pai nosso”], copublicadopelas edições Rizzoli e pela Libreria editricevaticana (Segrate, Cidade do Vaticano,2017, 144 páginas). Damos a conhecero prefácio, escrito pelo Santo Padre,e uma parte das conclusões, redigida pelocapelão do cárcere de Pádua.

«P ai»: não se pode rezarsem pronunciar, sem sen-tir esta palavra. A quem

rezo? Ao Deus Todo-Poderoso? De-

Meu, sem dúvida, mas tambémdos outros, dos meus irmãos. E seeu não estiver em paz com os meusirmãos, não O poderei chamar

«Pai» e como dizer «nosso». Peça-mos ao Espírito Santo que nos ensi-ne a dizer «Pai» e a poder pronun-ciar «nosso», fazendo as pazes comtodos os nossos inimigos.

Este livro contém o meu diálogocom o padre Marco Pozza sobre oPai-nosso. Jesus não nos ofereceu es-ta oração para que fosse simples-mente uma fórmula com a qual nosdirigir a Deus: com ela convida-nosa dirigir-nos ao Pai para nos desco-brirmos a nós mesmos e vivermoscomo seus verdadeiros filhos e comoirmãos entre nós. Jesus mostra-nos oque significa sermos amados peloPai, e revela-nos que o Pai desejaderramar sobre nós o mesmo amorque, desde a eternidade, tem peloseu Filho.

Então, espero que cada um denós, ao dizer «Pai nosso», se descu-bra cada vez mais amado, perdoado,molhado pelo orvalho do EspíritoSanto e assim, por sua vez, seja ca-paz de amar e perdoar cada irmão eirmã. Deste modo teremos uma ideiado que é o paraíso.

MARCO POZZA

Eu parti do cárcere de Pádua com um punhado de pa-lavras nas mãos: as do P a t e r. O inferno da prisão é anossa terra de periferia, o sorriso do Papa Francisco é anossa consolação. Quando o comboio reduz a veloci-dade, as boas-vindas da Cidade Eterna são um grafiterabiscado no muro de um viaduto: «Sem a base, es-queçam-se das alturas».

É o dia 4 de agosto de 2017. Tenho que entrevistar oPapa para uma transmissão televisiva sobre o Pai-nos-so. Quando, em Santa Marta, o elevador se abre, oPapa já está ali: nenhuma alegria, entre aquelas quefazem rejubilar o coração, supera o facto de saber quesomos esperados: «Senta-te aqui. Tira o casaco: hojeestá calor». Falo-lhe de mim, deles: Enrico, Marzio,todos arruinados e arruinadores. Àquele ambiente cir-cunscrito de Santa Marta levo-lhe a emoção emudeci-da, o afeto, o riso e o sorriso dos meus saltimbancosde prisão. Derramo sobre ele, como um filho sobre opai, a minha história. Ele, com o rosto relaxado,acompanha-me ao passado, encoraja-me: «Não há gra-

ça maior do que a vergonha pelos próprios pecados,padre Marco».

Na mesa do Papa estão as folhas da nossa corres-pondência. Ali descubro-as enriquecidas com anota-ções: alegro-me ao ver as palavras de um simples sacer-dote conviver com as minúsculas e proféticas de umPapa. «Vamos» diz-me. «Falta pouco para as cinco ho-ras, estão à nossa espera lá em baixo. Como orienta-mos a conversa sobre o Pai-nosso?». Vem-me esponta-neamente ao pensamento uma proposta arriscada: dei-xar ali os apontamentos e improvisar.

Sorri. É um sorriso de pai, que tem sabor de autenti-cidade, como o pão. Quando nos sentamos para dialo-gar, dou-me conta que a conversa já tinha começado.

O seu modo de ser meu pai pôs-me nas melhorescondições para narrar o nosso Pai. No final da entre-vista, o Papa Francisco põe nas minhas mãos um pre-sente. «Toma: leva-o para casa. Reza-lhe quando senti-res inquietações». É uma pequena estátua de gesso deSão José que dorme. É a sua imagem preferida do car-pinteiro que, único entre os seres humanos, pode orgu-lhar-se de ter assumido Deus como aprendiz de ofici-na. De ter sido pai de Cristo.

masiado distante, não consigo senti-lo próximo: nem sequer Jesus o sen-tia. A quem oro? Ao Deus cósmico?Nos dias de hoje está na moda rezarao Deus cósmico: é a modalidadepoliteísta típica de uma culturalight...

Tu deves rezar ao Pai! É uma pa-lavra forte, «pai». Tu deves oraràquele que te gerou, que te deu a vi-da. Ele deu-a a todos, sem dúvida;mas «todos» é demasiado anónimo.Deu-a a ti, deu-a a mim. E é tam-bém aquele que te acompanha noteu caminho: conhece toda a tua vi-da, aquilo que é bom e o que não étão bom. Se não começarmos a ora-ção com esta palavra, pronunciadanão pelos lábios mas pelo coração,não poderemos rezar «em cristão».

Nós temos um Pai, muito próxi-mo, que nos abraça. Todas estas in-quietações, todas as preocupaçõesque podemos ter, deixemo-las aoPai: Ele sabe do que temos necessi-dade. Mas «Pai» em que sentido?

Meu Pai? Não: Pai nosso! Porqueeu não sou filho único, nenhum denós o é, e se eu não puder ser irmão,dificilmente poderei tornar-me filhodeste Pai, porque Ele é o Pai de to-dos.

Mas Jesus prometeu-nos o EspíritoSanto: é Ele que nos ensina, a partirde dentro, do coração, como dizer

«Pai». Não se poderezar tendo inimigosno coração, com ir-mãos e inimigos nocoração. Bem sei quenão é fácil. «“Pa i ”, eunão posso dizer“Pa i ”, não consigo».É verdade, entendo-o.«Não posso dizer“nosso”, porque omeu irmão, o meuinimigo me fez isto,aquilo e... Devem irpara o inferno, nãosão dos meus!». Éverdade, não é fácil.

CO N T I N UA NA PÁGINA 12

«A desinformação, ou seja, dizer só uma parte, a calúnia, que é sensacionalista,ou a difamação»: eis os «pecados da comunicação», contra os quais alertou oPapa Francisco no discurso que dirigiu aos membros da União da imprensaperiódica italiana (Uspi) e da Federação italiana de semanários católicos (Fisc).O Sumo Pontífice recebeu-os em audiência na manhã de 16 de dezembro, na salaClementina, e nessa ocasião proferiu as seguintes palavras.

página 12 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 21 de dezembro de 2017, número 51

CO N T I N UA Ç Ã O DA PÁGINA 11

Uma informação moderada e completa

Encerrada a reunião do Conselho de cardeais

Dicastério para os leigos, a família e a vida

Boas notícias«Um pequeno instrumento de comunicação que esperamos seja útil paraquantos estão engajados no apostolado dos leigos»: assim o cardeal pre-feito Kevin Farrell anunciou o nascimento de Good News, noticiário que oDicastério para os leigos, a família e a vida publica mensalmente, em cin-co línguas, no canal Youtube para dar a conhecer as próprias atividades anível internacional. Na realidade, explicou o purpurado na mensagem ví-deo de apresentação, são precisamente «os leigos e as famílias a “boa no-tícia” para a Igreja e para toda a humanidade».

O primeiro número já está disponível na rede e no site www.laityfami-lylife.va. Apresenta uma gráfica especial e oferece excepcionalmente o re-sumo de dois meses de atividade do dicastério, a partir da visita do PapaFrancisco à sua sede no dia 30 de outubro. Naquela ocasião o Pontíficedeixou um quirógrafo no qual escreveu: «Não tenhais medo, ampliai oshorizontes e saí para ouvir a realidade das pessoas e anunciar Jesus Cris-to». O novo instrumento informativo, nas intenções dos agentes, é preci-samente uma resposta a este convite. O cardeal Farrell acrescentou: «Seencontrar acolhimento e simpatia, poderá pôr em movimento um circuitovirtuoso de troca informativa e formativa sobre as boas práticas do povode Deus, com uma atenção privilegiada às famílias e ao complexo temada vida, desde a sua concepção até à morte natural».

Uma nova reflexão sobre a Cúria co-mo instrumento de evangelização ede serviço ao Papa e às Igrejas lo-cais, caracterizou os trabalhos da vi-gésima segunda reunião do Conse-lho de cardeais, que teve lugar de 11a 13 de dezembro, referiu o diretorda Sala de imprensa da Santa Sé,Greg Burke, durante um briefing.

Nele participaram todos os mem-bros do Conselho, exceto o cardealGeorge Pell, enquanto que o cardealLaurent Monsengwo Pasinya só con-seguiu chegar no final da tarde desegunda-feira porque o seu voo foicancelado por mau tempo. O PapaFrancisco esteve presente em todasas reuniões, exceto na de quarta-fei-ra de manhã devido à audiência ge-ral. As sessões de trabalho foramrealizadas das 9h00 às 12h30 e das16h30 às 19h00, mas a reunião deterça-feira à tarde foi mais breve pa-ra consentir que os purpurados par-ticipassem na missa presidida peloPontífice na festa litúrgica de NossaSenhora de Guadalupe. Os cardeaisaprofundaram questões relativas aquatro dicastérios: Clero, Evangeli-zação dos povos, Educação católicae Cultura. Uma grande parte dostrabalhos foi dedicada aos relatóriosexpostos pelos superiores do Dicas-tério para os leigos, a família e a vi-da; da Secretaria para a Comunica-ção (Spc) e da Secção migrantes erefugiados do Dicastério para o ser-viço do desenvolvimento humano in-tegral.

O prefeito do Dicastério para osleigos, a família e a vida, cardeal Ke-vin Farrell, referiu acerca da forma-ção do novo dicastério, instituído a 1de setembro de 2016, com uma aten-ção especial à relação com os jovens.

A última etapa do percurso da re-forma dos meios de comunicação foiexposta por monsenhor Dario

Edoardo Viganò, prefeito da Spc.Foi apresentada a organização do di-castério e das diferentes direções, daqual será elaborada a tabela orgâni-ca a ser submetida à aprovação daSecretaria de Estado. Além disso, re-tomando o projeto apresentado noinício da reforma, foi mostrado queaté agora foram respeitados: os tem-pos, a redução dos funcionários (namedida do possível) e a diminuiçãodas despesas. Foram ilustrados aindao novo procedimento de produçãomultimédia e o novo portal, o qualserá apresentado nos próximos diasem versão beta, primeira expressãovisível e concreta da reforma. De-pois, foram dados a conhecer tam-bém os novos logótipos, que mostra-rão a unidade na diferença.

Foi reafirmado que a Spc não éuma secção mas um dicastério daSanta Sé e foram tratadas as ques-tões relacionadas com os aspetoseconómico-administrativos. Por fim,foi confirmado que a partir de 1 dejaneiro de 2018 começarão a fazerparte da Spc a Tipografia vaticana,«L’Osservatore Romano» e o Servi-ço fotográfico. A este propósito umanota difundida pela Spc explica queconfluirão progressivamente para oCentro editorial multimédia cerca de350 unidades entre redatores e técni-cos provenientes das 40 redações lin-guísticas e das 9 instituições que fa-zem parte da Secretaria. Parte-secom um team de 70 pessoas distri-buídas em 6 divisões linguísticas —italiano, inglês, francês, alemão, es-panhol e português — e em 4 áreastemáticas: Papa, Vaticano, Igreja,mundo.

Por fim, — concluiu Burke — oscardeais ouviram o jesuíta MichaelCzerny e o scalabriniano Fabio Bag-gio: os dois subsecretários da secçãomigrantes e refugiados do Dicastério

para o serviço do desenvolvimentohumano integral explicaram o pro-cesso de organização da Secção co-locada ad tempus sob a guia do San-to Padre. Conta actualmente 21 pes-soas entre funcionários efetivos e vo-luntários. Todas as atividades pro-movidas em 2017 são emanação dasua missão no âmbito do Dicastério,que consiste em dar assistência àsIgrejas locais na elaboração e reali-zação de uma resposta pastoral efi-caz e adequada aos desafios domundo contemporâneo, concernentea migrantes, refugiados e vítimas dotráfico. Entre as atividades princi-pais: recolha e codificação de infor-mações sobre as questões migratóriasdiretamente da base, realização dediversas campanhas de mídia a favor

de uma narrativa positiva acerca dosmigrantes e refugiados, produção deum documento (20 Action Points)em vista dos Global compacts sobremigrantes e refugiados de 2018 e ela-boração de uma estratégia globalcom os principais agentes católicos(Secretaria de Estado, Conferênciasepiscopais, Ongs católicas e congre-gações religiosas), e assistência diretaa algumas conferências episcopais.

O cardeal Sean Patrick O’Malleyinformou os demais membros doConselho no respeitante aos traba-lhos da Pontifícia comissão para aproteção dos menores, sobretudo emrelação ao trabalho de assistência àsIgrejas locais.

A próxima reunião terá lugar de26 a 28 de fevereiro de 2018.

nalismo estreitamente relacionadocom as dinâmicas locais, com as pro-blemáticas que nascem do trabalhodas várias categorias, com os interes-ses e as sensibilidades das realidadesintermédias, que não encontram fa-cilmente canais para se poder ex-pressar adequadamente.

Participam nesta lógica tambémos semanários diocesanos inscritosna Federação italiana de semanárioscatólicos (FISC), que nestes dias cele-bra o cinquentenário. Eles podemrevelar-se instrumentos úteis deevangelização, um espaço no qual avida diocesana pode expressar-se demaneira válida e os vários compo-nentes eclesiais podem facilmentedialogar e comunicar. Trabalhar numsemanário diocesano significa “sen-tir” de modo particular com a Igrejalocal, viver próximos da populaçãoda cidade e das aldeias, e sobretudoler os acontecimentos à luz do Evan-gelho e do Magistério da Igreja. Es-tes elementos são a “bússola” do seumodo peculiar de fazer jornalismo,de contar notícias e de expor opi-niões.

Por conseguinte os semanáriosdiocesanos, integrados com as novasformas de comunicação digital, per-manecem instrumentos preciosos eeficazes, que precisam de um com-promisso renovado por parte dosPastores e de toda a comunidadecristã, bem como da atenção bené-vola das autoridades públicas.

Sente-se a urgente necessidade denotícias comunicadas com serenida-de, exatidão e exaustividade, comuma linguagem moderada, de modoa favorecer uma reflexão profícua;palavras ponderadas e claras, que re-jeitem o excesso do discurso alusivo,gritado e ambíguo.

É importante que, com paciênciae método, se ofereçam critérios de

juízo e informações, de tal maneiraque a opinião pública seja capaz deentender e discernir, e ao contrárionão seja atordoada e desnorteada.

Além disso, a sociedade tem ne-cessidade de que o direito à infor-mação seja respeitado de maneira es-crupulosa, juntamente com o direitoà dignidade de cada pessoa humanaenvidada no processo informativo,de modo que ninguém corra o riscode ser danificado, na ausência de in-dícios de responsabilidade reais ecircunstanciais. Não devemos cairnos “pecados da comunicação”: adesinformação — ou seja, dizer sóuma parte — a calúnia, que é sensa-cionalista, ou a difamação, procuran-do notícias superadas, velhas, e di-

vulgando-as hoje: trata-se de peca-dos gravíssimos, que prejudicam ocoração do jornalista e as pessoas.

Por todos estes motivos é desejá-vel que não venha a faltar o compro-misso da parte de todos para garan-tir a existência e a vitalidade a estaspublicações periódicas, e que sejamtutelados o trabalho e a dignidadeda retribuição a quantos neles pres-tam o seu serviço.

Na conclusão deste nosso encon-tro, gostaria de encorajar todos vós,membros da USPI e da FISC, a conti-nuar o vosso trabalho com determi-nação e confiança; e convido a socie-dade civil e as suas instituições a fa-zer o possível para que as editoraspequenas e médias possam desempe-nhar a sua tarefa insubstituível, emdefesa de um autêntico pluralismo edando voz à riqueza das diversas co-munidades locais e dos seus territó-rios.

A vós aqui presentes e às vossasfamílias, assim como a todos aquelesque prestam serviço no âmbito dosvossos jornais, concedo de coração aminha Bênção e transmito os meusvotos para o Natal, já próximo. Porfavor, não vos esqueçais de orar pormim. Obrigado!

número 51, quinta-feira 21 de dezembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 13

Os lugaresda nova evangelização

Mensagem do Papa para a inauguração da cátedra ecuménica de Loppiano

Diálogo e amizade fraterna

Subsídio da Penitenciaria apostólica para a confissão e as indulgências

Festa do perdão

LU C E T TA SCARAFFIA

Hoje, nas áreas secularizadasdo mundo, em países comoa Itália nos quais o número

de matrimónios religiosos está a di-minuir, assim como o de batismos, oúnico momento em que as pessoasnão crentes ou indiferentes partici-pam numa cerimónia religiosa é porocasião de um funeral. De facto,também para pessoas que já não fre-quentam a igreja há décadas é difícilrenunciar ao funeral cristão, dada aausência de qualquer outra formacultual alternativa. Enfrentar a mortenão é fácil para ninguém, e todosprecisamos de um rito.

Assim acontece que nos encontra-mos cada vez com mais frequência aassistir a cerimónias religiosas nas

quais o sacerdote celebrante não co-nhece o falecido, nem os seus fami-liares, e os participantes são quasena totalidade não-crentes, ou não-praticantes. Certamente nestes casosé difícil para o sacerdote pronunciaruma homilia digna, conseguir en-contrar palavras confortadoras e aomesmo tempo de reflexão profunda,que a circunstância exige. Depois,difundiu-se o costume de falar sobreo falecido familiarmente, usando onome próprio, como se se tivesse ti-do com ele um vínculo de proximi-dade e amizade, até quando se tornaclaro que não existia relação alguma,torna o discurso pouco sincero aosouvidos dos presentes.

Esta situação não é fácil, repeti-mos, contudo seria uma ocasião ex-cecionalmente favorável para dar aconhecer as palavras de Jesus, parafazer compreender o seu modo detratar e vencer a morte. Todavia, pa-ra o fazer é preciso ter a coragem depronunciar a palavra morte, de dizera verdade sobre o sentido de angús-tia e de desânimo que domina todosdiante de um féretro que não só re-presenta o fim de uma relação hu-mana, talvez profunda e vital, mastambém nos obriga a confrontar-noscom a nossa própria morte.

E hoje parece que nem sequermuitos homens de igreja possuemesta coragem, que até diante de um

féretro falam só de amor, de alegria,de continuidade. Mas nunca demorte, abandono, solidão. Por con-seguinte, não comovem o coraçãodos presentes, que assim se veemconfirmados na sua escolha de per-manecer fora da esfera religiosa eque portanto procuram fugir o maisrapidamente possível para esquecerque também eles devem morrer.

É necessário compreender a reali-dade na qual vivemos e reconhecerque os lugares da nova evangeliza-ção, hoje, com frequência são preci-samente os funerais. Então, é neces-sário preparar os sacerdotes, e agoratambém os leigos, como acontecenalgumas regiões da Europa, para osreconhecer e enfrentar com instru-mentos espirituais e pastorais ade-quados.

O perdão é uma festa. E parao pecador não pode haver feli-cidade maior do que aquelaque sente quando recebe a ab-solvição sacramental. Este é ofio condutor que atravessa todaa publicação da Penitenciariaapostólica La festa del perdonocon Papa Francesco. Sussidio perla confessione e le indulgenze (Li-breria editrice vaticana, Cidadedo Vaticano, 100 páginas, 8 eu-ro s ) .

Trata-se de um instrumentoútil para nos podermos aproxi-mar do sacramento da reconci-liação com humildade, sereni-dade e boa preparação. Nas in-tenções dos editores — comoescrevem na apresentação ocardeal Mauro Piacenza, peni-tenciário-mor e monsenhor Kr-zysztof Nykiel, regente — estesubsídio quer encorajar o fiel arepor a confissão no centro davida cristã. Ajudado nisto pelaspalavras do Papa Francisco,que foram reunidas e ordena-das no livrete de modo a cons-tituir um auxílio válido tantopara o penitente como para oconfessor, a fim de que «a nin-guém sinceramente arrependi-do se impeça de aceder aoamor do Pai que espera a suavolta, a todos seja oferecida a

possibilidade de experimentara força libertadora do perdão».

Ao percorrer as páginas oleitor é introduzido no coraçãoda misericórdia de Deus, ex-pressa através do sacerdote queconcede a absolvição. Trata-sede um caminho pessoal e co-munitário acompanhado pelasexortações do Pontífice, tiradasdas homilias e discursos pro-nunciados em várias ocasiões.O leitmotiv é sempre fazer en-tender que «o Senhor nunca secansa de perdoar». E nestesentido deve ser compreendidatambém a missão da Peniten-ciaria apostólica: «É o tipo detribunal de que gosto deveras— frisou Francisco a 17 de mar-ço passado, falando aos partici-pantes no curso sobre o foroíntimo — porque é um “tribu-nal da misericórdia”, ao qualnos dirigimos para obter aque-le remédio indispensável para anossa alma que é a misericór-dia divina».

Por conseguinte, não é só ofiel que encontrará inspiraçãopara a reflexão e a formaçãosobre o sacramento da reconci-liação: também os sacerdotespoderão enriquecer a sua expe-riência pastoral e espiritualcom o apoio do magistério doPontífice. «A confissão — re -

cordou a 12 de março de 2015— não deve ser uma “tortura”mas todos devemos sair doconfessionário com a felicidadeno coração, com o rosto ra-diante de esperança, mesmo seàs vezes, sabemos, molhadopelas lágrimas da conversão eda alegria que derivam disto».As indicações de Francisco reu-nidas no subsídio visam favore-cer o encontro entre o Pai e opecador arrependido. Não po-dia faltar uma referência à in-dulgência, com a qual o cristão— disse o Papa — é chamado a«experimentar a santidade daIgreja que participa em todosos benefícios da redenção deCristo, para que o perdão sejaestendido até às extremas con-sequências com as quais alcan-çar o amor de Deus».

O subsídio termina com ocomentário de Francisco a trêsparábolas particularmente sig-nificativas na ótica da reconci-liação: da pecadora que lavaos pés de Jesus, como narraLucas no seu Evangelho; daadúltera perdoada, segundo anarração de João, e do servosem piedade, como refere Ma-teus. Um único hino à miseri-córdia divina modulado emtrês tons.

O «diálogo» e a «amizade fraterna» entre católi-cos e ortodoxos são dois dos principais frutos doencontro, ocorrido há cinquenta anos, entre o pa-triarca ecuménico Atenágoras e Chiara Lubich,realçou o Papa Francisco no telegrama enviado aogrão-chanceler do Instituto universitário Sophia,cardeal arcebispo de Florença, Giuseppe Betori,por ocasião da inauguração da cátedra ecuménicainternacional intitulada precisamente ao patriarcaortodoxo e à fundadora do movimento dos Foco-lares. Ao alegrar-se pela «louvável iniciativa» quevisa fazer memória daquele encontro, o Pontíficefaz os votos a fim de que o instituto universitáriode Loppiano, «seguindo o próprio carisma eaberto à ação do Espírito, continue a ser lugar deencontro e diálogo entre diversas culturas e reli-giões».

A ideia de uma “cátedra ecuménica”, explicaum comunicado dos Focolares, nasceu a 26 deoutubro de 2015, quando o instituto universitárioSophia conferiu o primeiro doutoramento honoriscausa em Cultura da unidade ao patriarca ecumé-nico de Constantinopla, Bartolomeu. «Este proje-to académico — realçou a presidente Maria Voce— representa um momento importante nas rela-ções ecuménicas entre as Igrejas irmãs do Orientee do Ocidente e abre perspetivas fascinantes paraum estudo centrado no diálogo respeitoso, que seapresenta ainda mais enriquecedor no dom recí-proco a nível de reflexão teológica e de uma an-tropologia de comunhão».

A cátedra, da qual são cotitulares o decano doinstituto, monsenhor Pietro Coda, e o metropolitade Selyvria, Maximos Vgenopoulos, foi inaugura-da pelo metropolita ortodoxo da Itália e Malta,Gennadios Zervos, que proferiu o discurso com otítulo: «O Patriarca Atenágoras e Chiara Lubich,protagonistas da unidade». Aos presentes o pa-triarca Bartolomeu enviou uma mensagem, queexprime «alegria» e «comoção» por uma iniciati-va dedicada «ao encontro profético entre doisgrandes pioneiros do hodierno movimento ecumé-nico».

As relações de amizade e cooperação com opatriarcado ecuménico remontam ao mês de ju-nho de 1967, quando Chiara Lubich se encontroupela primeira vez com Atenágoras. Aquele en-contro, sublinhou Bartolomeu na mensagem,«não foi um evento casual», mas «uma obra dagraça de Deus, que selou entre o nosso patriarca-do ecuménico e o movimento dos Focolares umacomunhão de amor cristão, de amizade autênticae de colaboração fraterna, que continuam até aosdias de hoje».

Todo o ciclo das lições da nova cátedra, queserá realizado no próximo mês de março, terá co-

mo tema «A eclesiologia da Igreja ortodoxa e ocaminho do diálogo ecuménico com a Igreja ca-tólica» e proporcionará um percurso de formaçãoqualificado a quantos desejarem preparar-se paraoferecer a própria contribuição para a promoçãoda plena unidade, ao serviço do encontro entreos povos e as culturas. Uma iniciativa que adqui-re uma relevância especial também no plano in-ternacional sobretudo à luz da crise dos equilí-brios políticos, sociais e religiosos no MédioO riente. Atenágoras e Chiara Lubich

página 14 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 21 de dezembro de 2017, número 51

Missas matutinas em Santa MartaSegunda-feira

11 de dezembro

Deixemo-nos consolar

O homem, apegado como é ao «ne-gativo», às «feridas do pecado», quetraz dentro de si, muitas vezes teminclusive dificuldade até de se «dei-xar consolar» por Deus. Ao contrá-rio, a Igreja, neste tempo de Adven-to, convida todos a reagir, a levan-tar-se dos próprios erros e a ter «co-ragem» porque Jesus vem, e vemprecisamente para trazer «consola-ção».

Esta foi a mensagem que o PapaFrancisco evidenciou na liturgia dodia. Com efeito, a reflexão do Pontí-fice começou exatamente do trechodo profeta Isaías (35, 1-10) no qual,«de uma forma um pouco bucóli-ca», se antecipa a parte dedicada à«consolação de Israel», ao Senhorque, «consola o seu povo, promete aconsolação, o faz regressar do exílio,onde há tristeza, escravidão...». Aeles que «não podem cantar, nãoconseguem cantar, choram...», o Se-nhor «promete consolação».

Refletindo sobre quanto Deus rea-lizou para os israelitas, o Papa recor-dou que Santo Inácio dizia «que ébom contemplar o ofício consoladorde Cristo nosso Senhor, comparan-do-o com o modo como alguns ami-gos consolam os outros». E relativa-mente ao facto de que «o Senhorveio para nos consolar», sugeriu, porexemplo, que pensemos «na manhãda ressurreição na narração de Lu-cas, quando Jesus apareceu aosapóstolos: “Mas era tanta a alegria —diz o Evangelho — que não podiama c re d i t a r ”, a alegria impedia queacreditassem». Assim, disse, «muitasvezes, a consolação do Senhor pare-ce-nos uma maravilha, algo irreal».

Contudo, observou, «não é fácildeixar-se consolar; é mais fácil con-solar os outros». De facto, «muitasvezes, estamos apegados ao negati-vo, à ferida do pecado dentro de nóse, frequentemente, preferimos per-manecer ali, sozinhos. Como o para-lítico do Evangelho que ficava noleito. Em determinadas situações, apalavra de Jesus é: “Levanta-te!”».Contudo, sublinhou Francisco, «te-mos medo». Aliás, acrescentou, «nonegativo, somos donos, porque te-mos a ferida dentro, do negativo, dopecado; ao contrário, no positivo so-mos mendigos e não gostamos depedir esmolas, de mendigar a conso-lação».

A este respeito, o Pontífice deudois exemplos de situações em que ohomem prefere «não se deixar con-solar». Há, em primeiro lugar, «aatitude de ressentimento». Ou seja,quando «preferimos o ressentimento,o rancor», e nós ficamos a remoernos nossos sentimentos. Naquelas si-tuações, o homem tem «um coraçãoamargo, como se dissesse: “O meutesouro é a minha amargura: ali es-tou eu, com a minha amargura”».Um exemplo encontra-se no Evan-gelho, no episódio do paralítico dopiscina de Siloé: «trinta e oito anosali, com a sua amargura, e sempreexplicando: «Mas a culpa não é mi-nha, porque logo que a água se agi-ta não tenho ninguém que me ajude

a entrar no tanque”». Raciocinavasempre «de forma negativa». Co-mentou o Papa: «Para estes coraçõesamargurados é melhor o amargo doque o doce. A amargura como expli-cação». Do mesmo modo, muitagente prefere esta «raiz amarga» que«nos leva com a memória ao pecadooriginal, ao pecado que nos feriu».E é um modo «de não se deixarconsolar». Preferem dizer: «“Não,não, não me incomode, deixe-meaqui”. Derrotado».

Depois, há a atitude das «lamen-tações». O homem e a mulher «quereclamam sempre; em vez de louvara Deus lamentam-se diante de Deus.E as lamentações são a música queacompanha aquela vida». A este res-peito, o Papa recordou que SantaTeresa de Ávila dizia: «Ai da freiraque diz: “Cometeram uma injustiçacontra mim, algo inaceitável”, ai». Eevocou também a vicissitude bíblicado profeta Jonas, «o prémio Nobeldas lamentações». Jonas, com efeito,«fugiu de Deus porque se lamentavaque Ele lhe teria feito algo de erradoe foi-se embora, depois afogou-se, opeixe engoliu-o. Em seguida, voltouà missão e depois de ter cumprido aprópria missão, em vez de se alegrarpela conversão, sobressai a amargurae lamenta-se: “Eu sabia que tu erasassim e sempre salvavas as pes-soas...”, e lamentava-se porque Deussalva as pessoas». Porque, acrescen-tou, «também nas lamentações exis-tem algumas contradições».

Uma atitude que o Pontífice rele-vou também no homem contempo-râneo: «Nós vivemos muitas vezesrespirando lamentações, somos incli-nados às lamentações e podemosdescrever muitas pessoas deste tipoque se lamentam». E deu o exemplode um sacerdote que conheceu nopassado: «um bom sacerdote, bom,bom, mas era o pessimismo personi-ficado e queixava-se sempre, tinha asqualidades de “encontrar a mosca noleite”. Tratava-se, continuou, de umbom sacerdote, considerado «muitomisericordioso no confessionário».Mas tinha este defeito de reclamarsempre, a ponto que os seus compa-nheiros de presbitério brincavam di-zendo que quando, no momento damorte, «subisse ao céu», a primeiracoisa que teria dito a São Pedro,«em vez de o cumprimentar», seria:«Onde está o inferno?». E dizia quedepois de ter visto o inferno, teriaperguntado a São Pedro: “Masquantos são os condenados?” — “Sóum” — “Ah, que desastre a reden-ção...”. Só lamentações, só o negati-vo.

Mas diante da «amargura, do ran-cor, das lamentações», explicou oPapa, hoje «a palavra da Igreja é“coragem”». Uma palavra reiteradapelo profeta Isaías: «Coragem! Nãotemais; eis o vosso Deus, chega avingança, a recompensa divina. Elevem para vos salvar». Uma mensa-gem clara para cada crente: «Cora-gem, será ele quem te consolará.Confia nele. Coragem».

E é também, disse Francisco, «amesma palavra de Jesus: “Cora-gem”». Por exemplo, repete-a àque-les homens que queriam que o seuamigo fosse curado. Estes, não obs-tante as dificuldades («Mas não sepode entrar, Senhor, há tanta gen-

te... como podemos fazer....»), «su-biram ao teto e, telha após telha,uma por uma, abriram o buraco e fi-zeram-no descer. Naquele momentonão pensaram: “Mas há os escribas,há polícias, se nos prenderem levar-nos-ão para a prisão...”. Não, nãopensaram nisto. Queriam apenas acura, queriam que o Senhor conso-lasse o seu amigo e a eles».

A fim de reafirmar o conceito, oPontífice retomou as palavras deIsaías: «Coragem! Coragem, não te-mais, fortalecei as mãos fracas: asmãos são frágeis, enrobustecei-as,coragem. “Tornai firmes os joelhosi n s e g u ro s ”: coragem, em frente, hájoelhos inseguros... sim, mas emfrente, coragem. “Dizei aos desorien-tados de coração — a quantos sen-tem rancor, que vivem nas lamenta-ções: “Eis o vosso Deus que vem pa-ra vos salvar”».

A mensagem da liturgia de hoje,disse o Papa, «é muito bonita emuito positiva: deixar-se consolarpelo Senhor». Mesmo se não é fá-cil, «porque para se deixar consolarpelo Senhor» é necessário «despo-jar-se dos egoísmos, daquelas coisasque são o próprio tesouro, quer asamarguras, quer as lamentações,muitas coisas». Portanto, acrescen-tou, «seria bom que hoje, cada umde nós, fizesse um exame de cons-ciência: Como está o meu coração?Tenho qualquer amargura? Sinto al-guma tristeza?», e questionar-se:«Como é a minha linguagem? É delouvor a Deus, de beleza ou semprede lamentações?». E também «pe-dir ao Senhor a graça da coragem,pois na coragem Ele vem para nosconsolar».

Quinta-feira14 de dezembro

Ter em consideraçãoas pequenas coisas

Precisamente como uma mãe e comoum pai, que se faz chamar terna-mente com um termo carinhoso,Deus está ali a entoar ao homem acanção de embalar, talvez imitando avoz de criança para ter a certeza deser compreendido e sem medo de setornar até «ridículo», porque o se-gredo do seu amor é «o grande quese faz pequeno». Este testemunhode paternidade — de um Deus quepede a cada um que lhe mostre assuas chagas para as poder curar,exatamente como faz o pai com o fi-lho — foi relançada pelo Papa.

Inspirando-se na primeira leitura,tirada «do livro da consolação de Is-rael, do profeta Isaías» (41, 13-20), oPontífice observou que ela salienta«uma caraterística do nosso Deus,um aspeto que é a definição própriadele: a ternura». De resto, acrescen-tou, «já o dissemos» também no sal-mo 144: «A sua ternura difunde-sesobre todas as criaturas».

«Este trecho de Isaías — explicou— começa com a apresentação deDeus: “Eu sou o Senhor, teu Deus,que te pego pela mão e te digo: na-da temas, Eu venho em teu auxí-lio?”». Mas «uma das primeiras coi-sas que impressiona deste texto» é o

modo como Deus «diz isto a ti»:«Nada temas, pequeno verme de Ja-cob, larva de Israel». Em síntese,afirmou, Deus «fala como o pai aofilho». E no entanto, observou,«quando o pai quer falar ao filho,abaixa a voz e até procura torná-lamais semelhante à da criança». Eainda, «quando o pai fala com o fi-lho parece ser ridículo, porque se fazcriança: esta é a ternura».

Por isso, prosseguiu, «Deus fala-nos assim, acaricia-nos assim: “Nadatemas pequeno verme, larva”». A talponto que «parece que o nossoDeus quer entoar-nos uma cançãode embalar». E, garantiu, «o nossoDeus é capaz disto, a sua ternura éassim: é pai e mãe».

De resto, afirmou Francisco, «dis-se muitas vezes: “Se uma mãe se es-quecer do filho, Eu não me esqueçode ti”. Leva-nos nas suas entranhas».Portanto, «é o Deus que, com estediálogo, se faz pequeno para que en-tendamos, confiemos nele e lhe di-gamos com a coragem de Paulo, quemuda a palavra e diz: “Papá, aba,papá». Esta é a ternura de Deus».

Estamos perante, explicou, «umdos maiores mistérios, uma das coi-sas mais bonitas: o nosso Deus temesta ternura que nos aproxima e nossalva». Sem dúvida, prosseguiu, «àsvezes castiga-nos, mas acaricia-nos».É sempre «a ternura de Deus». E«Ele é o grande: “Nada temas, ve-nho em teu auxílio, o teu redentor éo santo de Israel”». E assim «é oDeus grande que se faz pequeno ena pequenez não deixa de ser gran-de, e nesta dialética o grande é pe-queno: há a ternura de Deus, ogrande que se faz pequeno, e o pe-queno que é grande».

«O Natal ajuda-nos a entender is-to: naquela manjedoura está o Deuspequeno», reiterou dizendo: «Vem àminha mente uma frase de S. To-más, na primeira parte da Suma. De-sejando explicar, “o que é divino,qual é a coisa mais divina?”, diz:Non coerceri a maximo contineri tamena minimo divinum est», ou seja: oque é divino é ter ideais que não sãolimitados nem sequer pelo que existede maior, mas ideais que sejam con-tidos e ao mesmo tempo vividos nascoisas mais pequeninas da vida. Emsíntese, explicou, é um convite a«não se assustar com as coisas gran-des, mas a ter em consideração ascoisas pequenas: isto é divino, asduas juntas». E os jesuítas conhecembem esta frase porque «ela foi usadapara fazer uma das lápides de SantoInácio, para descrever inclusiveaquela força de Santo Inácio e tam-bém a sua ternura».

«Deus grande tem a força de tudo— afirmou o Papa referindo-se aindaao trecho de Isaías — mas torna-sepequeno para se fazer próximo denós e para nos ajudar, prometendo-nos certas coisas: “Farei de ti umadebulhadora; debulharás tudo. Ale-grar-te-ás, gloriar-te-ás no Santo deIsrael”». Eis «todas as promessaspara nos ajudar a ir em frente: “OSenhor de Israel não te abandonará.Estou contigo”».

«Mas como é bom — exclamou —fazer esta contemplação da ternurade Deus! Quando queremos pensarnão só no Deus grande, esquecendo-

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número 51, quinta-feira 21 de dezembro de 2017 L’OSSERVATORE ROMANO página 15

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Missas em Santa Marta

INFORMAÇÕESAudiências

O Papa Francisco recebeu em audiên-cias particulares:

A 14 de dezembro

Os Senhores Cardeais Sean PatrickO’Malley, Arcebispo de Boston(E UA ); e Kurt Koch, Presidente doPontifício Conselho para a Promo-ção da Unidade dos Cristãos; D.Bernardito C. Auza, ObservadorPermanente junto das Organizaçõesdas Nações Unidas em Nova Iorquee da Organização dos Estados Ame-ricanos.

Membros da Presidência da AliançaEvangélica Mundial; e Membros daFundação Populorum Progressio.

A 15 de dezembroD. Aldo Cavalli, Núncio Apostóliconos Países Baixos; RepresentantePermanente da Santa Sé junto daOrganização para a Proibição dasArmas Químicas.Sua Ex.cia o Senhor Juan Evo Mo-rales Ayma, Presidente do EstadoPlurinacional da Bolívia, com o Sé-quito.O Senhor Cardeal Fernando Filoni,Prefeito da Congregação para a

Evangelização dos Povos; D. LuisFrancisco Ladaria Ferrer, Prefeito daCongregação para a Doutrina da Fé;D. Angelo Accattino, Núncio Apos-tólico na Bolívia, com os Familiares.

A 16 de dezembroO Senhor Cardeal Marc Ouellet,Prefeito da Congregação para osBisp os.Sua Ex.cia o Senhor Lenín BoltaireMoreno Garcés, Presidente da Re-pública do Equador, com a Ex.ma

Esposa e o Séquito.D. Hector Miguel Cabrejos Vidarte,Arcebispo de Trujillo (Peru).

A 19 de dezembroO Senhor Cardeal Angelo Amato,S.D.B., Prefeito da Congregação paraas Causas dos Santos.Sua Majestade Abdullah II, Rei daJordânia, com o Séquito.

Renúncias

O Santo Padre aceitou a renúncia:

No dia 15 de dezembroDe D. Christie A. Macaluso, ao car-go de Auxiliar da Arquidiocese deHartford (E UA ).

Nomeações

O Sumo Pontífice nomeou:

A 14 de dezembroMembro do Pontifício Comité deCiências Históricas, o Professor Ber-nard Dompnier, docente emérito dehistória moderna na Universidadede Clermont-Ferrand.

A 15 de dezembroBispo da Diocese de MacKenzie —Fort Smith (Canadá), o Rev.do Pe .

Jon Hansen, C.S S.R., até agora Páro-co de «Our Lady of Victory», emInuvik.

D. Jon Hansen, C.SS.R., nasceu nodia 18 de fevereiro de 1967, em Ed-monton (Canadá). Recebeu a Ordena-ção sacerdotal a 24 de abril de 2004.

A 16 de dezembro

Vigário Apostólico de Vientiane(Laos), o Senhor Cardeal Louis-Marie Ling Mangkhanekhoun,I.V.D., até esta data Vigário Apostóli-co de Paksé.

A 19 de dezembroAssessor da Administração do Patri-mónio da Sé Apostólica (Apsa), D.Gustavo Óscar Zanchetta, BispoEmérito de Orán (Argentina).

A 20 de dezembroBispo da Diocese de Caxias do Ma-ranhão (Brasil), D. Sebastião LimaDuarte, até hoje Bispo de Viana.

Prelados falecidos

Adormeceu no Senhor:

No dia 5 de dezembro

D. Elenito R. Galido, Bispo de Ili-gan (Filipinas).

O saudoso Prelado nasceu em Ma-nagok (Filipinas), a 18 de abril de1953. Recebeu a Ordenação sacerdotalno dia 25 de abril de 1979. Foi orde-nado Bispo em 8 de setembro de2006.

Início de Missãode Núncio Apostólico

D. Alessandro D’Errico, ArcebispoTitular de Carini, em Malta (14 des e t e m b ro ) .

Programa da viagem papal ao Chile e ao Peru

Esperança para o continenteO Papa visitará o Chile de 15 a 18de janeiro e o Peru de 18 a 22 de2018. «Dou-vos a minha paz» e«Unidos pela esperança» são os le-mas desta viagem apostólica doPontífice aos dois países latino-americanos.

A primeira etapa será o Chile:segundo o programa anunciado nodia 13 de novembro pela Sala deimprensa da Santa Sé, Franciscopartirá às 8h00 do dia 15 de janeirodo aeroporto de Roma-Fiumicinorumo a Santiago, onde chegará às20h10. Após a cerimónia de boas-vindas no aeroporto, o Pontífice irápara a nunciatura.

Na terça-feira, 16 de janeiro, às8h20, o Papa encontrar-se-á com asautoridades e os representantes dasociedade civil e do corpo diplo-mático no Palacio de la Moneda.Em seguida, terá um encontro como presidente no Salon azul. Às10h30 celebrará a missa no ParqueO’Higgins. Às 16h00 visitará oCentro penitenciário feminino San-tiago para saudar as prisioneiras.Às 17h15 está previsto o encontrocom sacerdotes, consagrados, reli-giosos e seminaristas na catedral, eàs 18h15 com os bispos na sacristia.O dia de Francisco concluir-se-ácom a visita ao santuário de SantoAlberto Hurtado, onde se encon-trará também com os irmãos dacompanhia de Jesus.

Na quarta-feira 17, o Pontíficeirá a Temuco: o voo está previstopara às 8h00. E às 10h00, no aero-porto de Maquehue, presidirá àmissa. Depois o Papa almoçarácom alguns habitantes da Arauca-nía, na casa Madre de la SantaCruz. Às 15h30 voltará a Santiago.Às 17h30 está previsto o encontrocom os jovens, no santuário deMaipu. Às 18h30 Francisco visitaráa sede da Pontifícia UniversidadeCatólica.

Na quinta-feira 18, o Pontíficeirá a Iquique: partirá de avião às8h05 e chegará às 10h35 ao aero-porto internacional e imediatamen-te transferir-se-á para o campus Lo-bito onde, às 11h30, celebrará amissa. Às 14h00 está previsto o al-moço na casa de retiros do santuá-rio Nuestra Señora de Lourdes,confiado aos padres oblatos. No

aeroporto de Iquique será realizadaa cerimónia de despedida do Chile.Às 17h05 o Papa partirá para Lima,capital do Peru. A cerimónia deboas-vindas terá lugar no aeropor-to.

Para sexta-feira 19, o programaprevê o encontro com as autorida-des e os representantes da socieda-de civil e do corpo diplomático nopátio de honra e o colóquio com opresidente no salão dos embaixa-dores do Palacio de Gobierno. Às9h55 Francisco partirá de avião pa-ra Puerto Maldonado, onde às12h00 se encontrará, no Colisco re-gional Madre de Dios, com os re-presentantes dos povos da Amazô-nia, com os quais almoçará no cen-tro pastoral Apaktone, depois desaudar a população no institutoJorge Basadre. Na parte da tarde,às 15h45, visitará o Hogar Principi-to e às 16h50 voltará para Lima.Na capital, às 19h00, encontrar-se-áde forma privada com os membrosda companhia de Jesus, na igrejade São Pedro.

No sábado 20, o Pontífice irá deavião a Trujillo, partindo às 7h40.Às 10h00 celebrará a missa no lito-ral de Huanchaco. Sucessivamente,visitará o bairro Buenos Aires, edepois a catedral. Às 15h30 terá lu-gar o encontro com sacerdotes e re-ligiosos do norte do Peru no Colé-gio de seminário Ss. Carlos y Mar-celo. Às 16h45 Francisco presidirá àcelebração dedicada à Virgen de laPuera, na Plaza de Armas. Em se-guida, voltará para Lima, ondechegará às 19h40.

O último dia da viagem, domin-go 21, começará com a oração dahora média, às 9h15, juntamentecom as religiosas contemplativas nosantuário do Señor de los Mila-gros. Às 10h30, na catedral, o Paparezará diante das relíquias dos san-tos peruanos. Às 10h50 encontrar-se-á com os prelados do país nopaço arquiepiscopal, para depoisrecitar o Angelus na Plaza de Ar-mas. Às 16h15 celebrará a missa nabase aérea Las Palmas. A cerimóniade despedida terá lugar no aero-porto com a partida prevista paraàs 18h45 e a chegada a Roma-Ciampino às 14h15 de segunda-fei-ra, 22 de janeiro.

nos do mistério da Encarnação, dacondescendência de Deus entre nós,da sua vinda ao nosso encontro: oDeus que não só é pai, mas é pa-pá».

A este propósito, o Papa sugeriualgumas linhas de reflexão para umexame de consciência: «Sou capazde falar com o Senhor assim, ou te-nho medo? Cada um responda.Contudo, alguém pode dizer, per-guntar: mas qual é o lugar teológicoda ternura de Deus? Onde podemosencontrar bem a ternura de Deus?Qual é o lugar onde se manifestamelhor a ternura de Deus?». A res-posta, observou Francisco, é «a cha-ga: as minhas e tuas feridas, quandoa minha chaga se encontra com atua. Fomos curados nas suas cha-gas».

«Gosto de pensar — confidenciouo Pontífice, repropondo o conteúdoda parábola do bom samaritano —no que aconteceu com aquele pobrehomem que caiu nas mãos dos sal-teadores ao ir de Jerusalém para Je-

ricó, no que ocorreu quando ele es-tava na cama e retomou a consciên-cia. Sem dúvida, perguntou ao hos-pedeiro: “Que aconteceu?”. Ele, po-bre homem, narrou: “Foste espanca-do, perdeste a consciência” — “Maspor que estou aqui?” — “Porque veioalguém que lavou as tuas feridas.Cuidou de ti, trouxe-te aqui, pagoua pensão e disse que voltará para fa-zer as contas, se houver algo maispara pagar”».

Precisamente «este é o lugar teo-lógico da ternura de Deus: as nossaschagas», afirmou o Papa. E, portan-to, «o que nos pede o Senhor? “Masvem cá: mostra-me a tua ferida,mostra-me as tuas chagas. Quero to-cá-las, quero curá-las”». E é «ali, noencontro da nossa ferida com a cha-ga do Senhor, que está o preço danossa salvação, ali está a ternura deD eus».

Concluindo, Francisco sugeriuque pensemos em tudo isto «hoje,durante o dia, procurando ouvir esteconvite do Senhor: “Vem cá: mostra-me as tuas feridas. Eu quero curá-las”».

página 16 L’OSSERVATORE ROMANO quinta-feira 21 de dezembro de 2017, número 51

Na audiência geral o Papa explicou o significado dos ritos introdutórios da celebração

A missa começacom o sinal da cruz

A missa «começa com o sinal da cruz», porque «toda a oração se move no espaçoda Santíssima Trindade», recordou o Papa Francisco na audiência geral de qua r t a - f e i ra ,20 de dezembro, na sala Paulo VI, explicando aos fiéis o significado dos ritos introdutórios dacelebração eucarística.

todos os membros da assembleia, conscientesde que o ato litúrgico se realiza «em nome doPai e do Filho e do Espírito Santo». E aquipasso para outro tema muito pequeno. Vistescomo as crianças fazem o sinal da cruz? Nãosabem o que fazem: às vezes fazem um dese-nho, que não é o sinal da cruz. Por favor:mãe e pai, avós, ensinai às crianças, desde oinício — desde pequeninos — a fazer bem o si-nal da cruz. E explicai-lhes que significa ter acruz de Jesus como proteção. E a Missa co-meça com o sinal da cruz. A oração inteiramove-se, por assim dizer, no espaço da Santís-sima Trindade — “Em nome do Pai e do Filhoe do Espírito Santo” — que é espaço de comu-nhão infinita; tem como origem e fim o amorde Deus Uno e Trino, manifestado e doado anós na Cruz de Cristo. Com efeito, o seu mis-tério pascal é dom da Trindade, e a Eucaristiabrota sempre do seu Coração trespassado.Portanto, fazendo o sinal da cruz, não só re-cordamos o nosso Batismo, mas afirmamosque a prece litúrgica é o encontro com Deusem Jesus Cristo, que por nós se encarnou,morreu na cruz e ressuscitou glorioso.

Em seguida, o sacerdote dirige a saudaçãol i t ú rg i c a , com a expressão: «O Senhor estejaconvosco», ou outra semelhante — existem di-versas — e a assembleia responde: «E com oteu espírito». Estamos em diálogo; estamosno início da Missa e temos que pensar no sig-nificado de todos estes gestos e palavras. En-tramos numa “sinfonia”, na qual ressoam vá-rios tons de vozes, e inclusive momentos desilêncio, em vista de criar o “a c o rd o ” entre to-dos os participantes, ou seja, de nos reconhe-cermos animados por um único Espírito e porum mesmo fim. Com efeito, «a saudação sa-cerdotal e a resposta do povo manifestam omistério da Igreja congregada» (O rd e n a m e n t oGeral do Missal Romano, 50). Exprime-se as-sim a fé comum e o desejo recíproco de estarcom o Senhor e de viver a unidade com a hu-manidade inteira.

Esta é uma sinfonia orante, que se vaicriando e apresenta imediatamente um mo-mento muito comovedor, pois quem presideconvida todos a reconhecer os próprios peca-dos. Todos somos pecadores. Não sei, talvezalgum de vós não seja pecador... Se alguémnão é pecador, levante a mão, por favor, assimtodos veremos. Mas não há mãos levantadas,está bem: tendes uma boa fé! Todos somospecadores; é por isso que no início da Missapedimos perdão. É o ato penitencial. Não setrata apenas de pensar nos pecados cometi-dos, mas muito mais: é o convite a confessar-nos pecadores diante de Deus e da comunida-de, perante os irmãos, com humildade e since-ridade, como o publicado no templo. Se ver-dadeiramente a Eucaristia torna presente oMistério pascal, ou seja, a passagem de Cristoda morte para a vida, então a primeira coisaque devemos fazer é reconhecer quais são asnossas situações de morte para poder ressusci-tar com Ele para a nova vida. Isto leva-nos acompreender como é importante o ato peni-tencial. E por isso retomaremos este tema napróxima catequese.

Vamos passo a passo na explicação da Mis-sa. Mas recomendo-vos: por favor, ensinaibem as crianças a fazer o sinal da cruz!

No final da audiência geral, o Sumo Pontíficesaudou os vários grupos de peregrinos presentesna sala Paulo VI, proferindo entre outras asseguintes palavras.

Queridos peregrinos de língua portuguesa, atodos vos saúdo, desejando-vos um encontropessoal com o Salvador. Nestes dias, vemo-lodeitado na manjedoura, mas é na Eucaristiaque Ele se deixa encontrar pessoalmente. Emcada Missa, prepara-se não só o Natal deDeus no mundo, mas também o nascimentodo ser humano no seio de Deus. Desejo umNatal assim a cada um de vós e às vossas fa-mílias, que de coração abençoo.

Dirijo uma saudação especial aos jovens,aos doentes e aos recém-casados. Amados jo-vens, preparai-vos para o mistério do Natal doSenhor com a obediência de fé e a humildadede Maria. Vós, estimados doentes, hauri delaaquela mesma força de amor a Jesus que vementre nós. E vós, caros recém-casados, con-templai o exemplo da Sagrada Família em Be-lém, para praticar as mesmas virtudes no vos-so caminho de vida familiar. E depois da Bên-ção, eu gostaria de ouvir este coro, que cantab em!

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!Hoje gostaria de entrar no vivo da celebraçãoeucarística. A Missa é composta por duas par-tes, que são a Liturgia da Palavra e a Liturgiaeucarística, tão estreitamente unidas entre si, aponto de formar um único ato de culto (cf.Sacrosanctum concilium, 56; Ordenamento Geraldo Missal Romano, 28). Portanto, introduzidapor alguns ritos preparatórios e concluída poroutros, a celebração é um único corpo e quenão se pode separar, mas para uma melhorcompreensão procurarei explicar os seus vá-rios momentos, cada um dos quais é capaz detocar e abranger uma dimensão da nossa hu-manidade. É necessário conhecer estes santossinais para viver plenamente a Missa e apre-ciar toda a sua beleza.

Quando o povo está reunido, a celebraçãoabre-se com os ritos introdutórios, que in-cluem a entrada dos celebrantes ou do cele-brante, a saudação — “O Senhor esteja con-vosco”, “A paz esteja convosco” — o ato peni-tencial — “Confesso”, no qual nós pedimosperdão pelos nossos pecados — o Kyrie eleison,o hino do Glória e a oração da coleta: chama-se “oração da coleta” não porque ali se faz acoleta das ofertas: é a coleta das intenções deoração de todos os povos; e aquela coleta daintenção dos povos eleva-se ao céu como pre-ce. A sua finalidade — destes ritos introdutó-rios — é fazer com «que os fiéis reunidos for-mem uma comunidade e se predisponham aouvir com fé a palavra de Deus e a celebrardignamente a Eucaristia» (Ordenamento Geraldo Missal Romano, 46). Não é um bom hábitoolhar para o relógio e dizer: “Estou a tempo,chego depois do sermão e assim cumpro op re c e i t o ”. A Missa começa com o sinal dacruz, com estes ritos introdutórios, porque alicomeçamos a adorar Deus como comunidade.E por isso é importante procurar não chegaratrasado mas, ao contrário, antecipadamente,a fim de preparar o coração para este rito, pa-ra esta celebração da comunidade.

Geralmente, enquanto se executa o cânticode entrada, o sacerdote com os outros minis-tros chega processionalmente ao presbitério, eaqui saúda o altar com uma inclinação e, emsinal de veneração, beija-o e, quando há in-censo, incensa-o. Porquê? Porque o altar éCristo: é figura de Cristo. Quando fitamos oaltar, olhamos precisamente para onde estáCristo. O altar é Cristo. Estes gestos, que cor-rem o risco de passar despercebidos, são mui-to significativos, porque exprimem desde oinício que a Missa é um encontro de amorcom Cristo o qual , «oferecendo o seu corpona cruz [...] se tornou altar, vítima e sacerdo-te» (Prefácio pascal V). Com efeito, sendo sinalde Cristo, o altar «é o centro da ação de gra-ças que se realiza com a Eucaristia» (O rd e n a -mento Geral do Missal Romano, 296), e toda acomunidade em volta do altar, que é Cristo;não para olhar na cara, mas para fitar Cristo,porque Cristo está no centro da comunidade enão longe dela.

Depois há o sinal da cruz. O sacerdote quepreside faz o sinal e de igual modo o fazem