ÁREA DE FIGURAS PLANAS Introdução · 2021. 1. 22. · comprimentos, áreas de superfícies...
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
DIRETORIA ACADÊMICA
CURSO DE MATEMÁTICA LICENCIATURA
TÓPICOS DE GEOMETRIA PLANA E ESPACIAL
ÁREA DE FIGURAS PLANAS
Carmen Teresa Kaiber 1
Introdução
Em capítulos anteriores trabalhamos com figuras planas e espaciais. Com
relação às figuras espaciais, como prismas, pirâmides, cilindros, cones, entre outros,
vimos que as mesmas podem ser planificadas. Quando nos referimos, por exemplo,
a um prisma, podemos distinguir tanto o volume que ocupa no espaço como a medida
da sua superfície. Quando nos referimos a uma superfície plana, como o polígono de
uma das faces de um prisma, além da medida da sua superfície podemos distinguir a
linha poligonal que a delimita e, também, atribuir-lhe um valor, a partir de uma
medição. São essas questões que vamos tratar aqui, ou seja, quantificar
comprimentos, áreas de superfícies planas e volume de sólidos. Nosso objetivo é
aprofundar o estudo sobre área e volume buscando operacionalizar o cálculo de áreas
de regiões planas simples e o volume de sólidos que se constituem em poliedros,
porém, sempre que possível, vamos buscar produzir algum tipo de prova que valide o
que está sendo afirmado.
Perímetro e área de regiões planas
Em capítulos anteriores trabalhamos com figuras planas e espaciais e vimos
que figuras como prisma, pirâmide e mesmo um cilindro podem ser planificadas. Ao
planificarmos uma figura espacial obtemos uma superfície plana que será constituída
1 Carmen Teresa Kaiber é doutora em Ciências da Educação pela Universidade Pontifícia de Salamanca e docente do curso de Licenciatura em Matemática e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da ULBRA.
por polígonos que compõem tanto a superfície lateral como a base do sólido, conforme
já estudado. Vamos considerar, na Figura 1, uma pirâmide de base quadrada
Figura 1 - Pirâmide reta de base quadrada e esboço da sua planificação
Vamos iniciar nosso estudo considerando uma das regiões triangulares que
delimitam a pirâmide da Figura 1. Trata-se de um triângulo isósceles (Figura 2), já que
a pirâmide é reta.
Figura 2 - Triângulo isósceles da superfície lateral de uma pirâmide
Uma região triangular, como a da Figura 2, pode ser definida como um conjunto
formado pela união de todos os segmentos cujas extremidades pertencem a um
triângulo. O triângulo é chamado de fronteira da região triangular. O conjunto de
pontos de uma região triangular que não pertencem a sua fronteira é chamado de
interior da região triangular.
Já uma região poligonal é um conjunto união de um número finito de regiões
triangulares que, duas a duas, não têm pontos interiores em comum, como ilustrado
nos exemplos da Figura 3.
Figura 3 - Regiões poligonais
Um ponto é interior a uma região poligonal se existe alguma região triangular
contida na região poligonal à qual o ponto pertença. O interior da região poligonal é o
conjunto dos pontos que lhe são interiores. A fronteira da região poligonal é constituída
pelos pontos da região que não pertencem ao seu interior. A soma das medidas dos
lados do polígono é chamada perímetro.
A continuidade do nosso trabalho vai estar baseada nos axiomas que vamos
enunciar, a partir dos quais vamos estabelecer relações que permitam determinar a
área de algumas regiões planas simples.
• A toda região poligonal corresponde um número maior do que zero. O
número a que se refere este axioma é chamado de área da região.
• Se uma região poligonal é a união de duas ou mais regiões poligonais, que
duas a duas não tenham pontos interiores em comum, então sua área é a
soma das áreas daquelas regiões.
• Regiões triangulares limitadas por triângulos congruentes têm áreas de
mesma medida.
• Se ABCD é um retângulo então sua área é dada pelo produto: 𝐴𝐵. 𝐶𝐷
Assim, no que segue, vamos determinar a área de algumas regiões planas
simples.
Área do paralelogramo
Dado um paralelogramo ABCD, seja b o comprimento do lado AB e h o
comprimento de um segmento que liga as retas que contém os segmentos AB e CD,
e que seja perpendicular a ambas. Esse segmento h é chamado de altura do
paralelogramo relativa ao lado AB.
Vamos admitir, aqui, a área de um paralelogramo como sendo o produto do
comprimento de um de seus lados pelo comprimento da altura relativa a este lado.
Assim, dado um paralelogramo ABCD como na Figura 4, vamos traçar, a partir
dos pontos A e B, dois segmentos, AE e BF, perpendiculares à reta CD.
Figura 4 – Paralelogramo ABCD
Na figura, os triângulos ADE e BCF formados são congruentes pelo caso da
hipotenusa e do cateto e o quadrilátero ABFE é um retângulo cuja área é dada por
𝐴𝐵. 𝐵𝐹, já que triângulos congruentes tem áreas com a mesma medida. Em termos
da notação, 𝐴𝐵. 𝐵𝐹, é exatamente b.h.
Assim, podemos escrever:
Área (ABCD) = Área (ABCE) + Área (ADE) = Área (ABCE) + Área (CFD) =
Área (ABFE) = b.h
Área do paralelogramo ABCD = b.h
Área do triângulo
A área de um triângulo é a metade do produto do comprimento de qualquer de
seus lados pela altura relativa a esse lado. Vamos observar o triângulo da Figura 5.
Figura 5 - Triângulo ABC
Dado um triângulo ABC, como na figura, vamos traçar, pelo vértice C, uma reta
paralela ao lado AB e, pelo vértice B, uma reta paralela ao lado AC. Estas duas retas
se interceptam em um ponto D e o polígono ABDC gerado é um paralelogramo
formado pelos triângulos ABC e DCB que são congruentes pelo caso LAL (𝐴𝐵̅̅ ̅̅ ≅ 𝐶𝐷̅̅ ̅̅ ,
𝐶𝐵̅̅ ̅̅ lado comum e 𝐴�̂�𝐶 ≅ 𝐷�̂�𝐵 já que são alternos internos formado pela reta 𝐵𝐶 ⃡ que
é transversal as paralelas 𝐴𝐵 ⃡ e 𝐶𝐷 ⃡ ). Assim, considerando a que a área do
paralelogramo ABDC é dada pela soma das áreas dos triângulos ABC e DCB e que a
área do triângulo ABC tem a mesma medida que a área do triângulo DCB, podemos
escrever que Área (ABC)= 1
2 Área (ABDC). Como a altura h do triângulo ABC e relativa
ao lado AB (b) é exatamente a altura do paralelogramo ABDC relativa ao lado AB,
podemos escrever que:
Área do triângulo ABC= 1
2 b.h
Exemplo 1: Determinar a área de um triângulo equilátero em função do seu lado
l.
Solução: Considerando o triângulo equilátero ABC da figura, de lado l e altura
h, a altura o divide em dois triângulos retângulos. Tomando o triângulo AHC e
aplicando o teorema de Pitágoras, podemos determinar a altura em função do lado l
e, em seguida, estabelecer a área do triângulo ABC.
Cálculo da altura do triângulo equilátero ABC:
𝑙2 = ℎ2 + (𝑙
2)
2
⟹ 𝑙2 = ℎ2 +𝑙2
4⟹ 𝑙2 −
𝑙2
4= ℎ2 ⟹ 4𝑙2 − 𝑙2 = 4ℎ2
⟹ 3𝑙2
4= ℎ2 ⟹ ℎ = √
3𝑙2
4⟹ ℎ =
𝑙√3
2
Cálculo da área do triângulo ABC em função do lado:
Exemplo 2: (PUCMG 2010) De uma placa quadrada de 16cm2 foi recortada
uma peça conforme ilustrado na figura. Queremos determinar a área da superfície da
peça.
𝐴∆ = 𝑙.
𝑙√322
𝐴∆ = 𝑙.
𝑙√322
𝐴∆ =𝑙2√3
4
Solução: Para determinar a área da peça, e considerando que a placa é
quadrada e tem 16cm2 de área, vamos dividir a peça em um quadrilátero (A1) e um
triângulo (A2) conforme representado na figura. A área da peça pode ser dada por: A
(peça)= A1+A2
Para o cálculo de A1, como temos dois triângulos de base 1 cm e altura 2cm e
um retângulo de 1cm por 2cm vamos utilizar: 2 (1.2
2) + 1.2 = 4𝑐𝑚2
Para o cálculo de A2, como temos um triângulo de base 1 cm e altura relativa a
essa base 2 cm vamos utilizar: 1.2
2= 1𝑐𝑚2
A (peça) = 4𝑐𝑚2 + 1𝑐𝑚2 = 5𝑐𝑚2
Exemplo 3: (UFRGS 2008) Na figura abaixo, a malha quadriculada é formada
por quadrados de área 1. Os vértices do polígono sombreado coincidem com os
vértices dos quadrados dessa malha. Queremos calcular a área do polígono
sombreado.
Solução: A área do polígono sombreado pode ser dada tomando-se a área total
(36) e dela subtraindo quatro vezes a área de um triângulo de base 6 e altura 2.
Apol=36 − 4 (6.2
2) = 36 − 24 = 12 u.a. (unidades de área)
Área do trapézio
A área de um trapézio é metade do produto do comprimento de sua altura pela
soma dos comprimentos de suas bases.
Seja ABCD um trapézio cujas bases são os lados AB e CD como na Figura 6.
Figura 6 - Trapézio ABCD
No trapézio ABCD vamos traçar a diagonal AC para dividir o trapézio em dois
triângulos, ABC e ACD. Vamos traçar, também, as alturas CE, do triângulo ACB, e
AF, do triângulo ACD. Assim, temos que a medida de 𝐴𝐹 é igual a medida de 𝐶𝐸, já
que os lados AB e CD são paralelos.
Como consequência temos que:
Área(ABCD)= Área (ACB) + Área (ACD) = 1
2. 𝐴𝐵. 𝐶𝐸 +
1
2. 𝐷𝐶. 𝐴𝐹 =
1
2(𝐴𝐵 + 𝐷𝐶). 𝐶𝐸
Um trapézio apresenta duas bases, as quais são denominadas, via de regra,
“base maior” e “base menor”, sendo que na notação usual são designadas,
respectivamente, por “B” e “b”. Assim, considerando h a altura (tanto dos triângulos
quanto do trapézio) podemos escrever:
Área do trapézio ABCD = 1
2 (𝐵 + 𝑏).ℎ
Exemplo 4: A altura de um trapézio retângulo mede x metros e suas bases
excedem a altura respectivamente em 4m e 2m. Queremos determinar as medidas
das bases desse trapézio, sabendo que sua área mede 18m2.
Solução: Vamos representar a situação posta no problema a partir de uma
figura.
Como a área do trapézio é dada por Área do trapézio=1
2 (𝐵 + 𝑏). ℎ, temos que:
Á𝑟𝑒𝑎 =1
2 ((𝑥 + 4) + (𝑥 + 2)). 𝑥 =18
1
2 (2𝑥 + 6). 𝑥 = 18
𝑥2 + 3𝑥 = 18
𝑥2 + 3𝑥 − 18 = 0
𝑥 =−3 ± √32 − 4.1. (−18)
2
𝑥 = 3 𝑜𝑢 𝑥 = −9
Como estamos nos referindo a medidas de lados de um polígono estas não
podem ser negativas, logo 𝑥 = 3𝑚 é a altura do trapézio e suas bases medem
respectivamente, 7m (base maior) e 5m (base menor).
Exemplo 5: Considerando o trapézio do exemplo anterior queremos, agora,
determinar o seu perímetro.
Solução: A partir da solução do exemplo anterior temos um trapézio de altura
3cm, e bases 7cm e 5cm faltando, portanto, a medida (y) do seu quarto lado para que
possamos calcular o perímetro (ver figura). Como se trata de um trapézio retângulo
cuja altura mede 3cm podemos, então, considerar um triângulo retângulo de lados
3cm e 2cm (diferença entre as medidas das bases) e hipotenusa y.
Aplicando o Teorema de Pitágoras, temos que:
𝑦2 = 32 + 22 ⟹ 𝑦2 = 9 + 4 ⟹ 𝑦 = √13𝑐𝑚
Como o perímetro é dado pela soma da medida dos lados temos que o
perímetro P é dado por:
P=3+5+7+√13 = 15√13cm
Área do losango
Um losango é um paralelogramo e, portanto, sua área também é dada como
sendo o produto do comprimento de um de seus lados pelo comprimento da altura
relativa a este lado. Porém, considerando as propriedades do losango (lados paralelos
e congruentes) é possível estabelecer uma fórmula para o cálculo de sua área a partir
das suas diagonais.
Assim, dado um losango ABCD com o da Figura 7, vamos traçar suas diagonais
e, pelos vértices, conduzir paralelas às diagonais.
Figura 7 - Losango
Tomando como referência a figura podemos considerar que a área do losango
equivale a metade da área dos oito triângulos gerados a partir da construção das
diagonais e das paralelas às diagonais. Assim, podemos escrever:
𝐴𝑙𝑜𝑠𝑎𝑛𝑔𝑜 =𝐴8 𝑡𝑟𝑖â𝑛𝑔𝑢𝑙𝑜𝑠
2
Área do losango ABCD = 𝑑1.𝑑2
2
Área do quadrado
Dado um quadrado de lado l, como o da Figura 8, temos que a área do
quadrado é dada por l2, pois o quadrado é um retângulo particular.
Figura 8 - Quadrado de lado l
Área do quadrado = 𝑙2
Perímetro e área do círculo
Dado um círculo de centro O e raio r (Figura 9), vamos destacar relações que
estabeleçam seu perímetro e sua área.
Figura 9 - Círculo de centro O e raio r
O perímetro C de um círculo de centro O raio r é dada pela relação:
𝐶𝑐í𝑟𝑐𝑢𝑙𝑜 = 2𝜋𝑟
Já a área A de um círculo de centro O e raio r é dada pela relação:
𝐴𝑐í𝑟𝑐𝑢𝑙𝑜 = 𝜋𝑟2
Observação: O perímetro do círculo corresponde ao comprimento do segmento que
obtemos ao retificarmos uma circunferência sendo, também, denominado de
comprimento da circunferência (ver representação na Figura 10).
Figura 10 – Comprimento da circunferência
Podemos agora calcular áreas de superfícies de alguns dos sólidos estudados.
Exemplo 6: Se quer construir uma embalagem com o formato de um
paralelepípedo reto cujas dimensões são 20 cm, 30 cm e 40 cm. Considerando que
essa embalagem deve ter uma tampa, qual a quantidade de material necessário para
construir as diversas faces dessa embalagem? Se comprarmos uma quantidade de
material que corresponde a área da superfície total da embalagem será possível
construí-la?
Solução: A embalagem que queremos construir tem dimensões são 20cm,
30cm e 40cm e podemos representá-la pela figura a seguir.
A área da superfície dessa figura é dada por:
A = 2(20x30) + 2(20x40) + 2(30x40) = 5200cm2 ou 0,52m2. Porém, se comprarmos
exatamente a quantidade de material que corresponde a área da superfície,
provavelmente não vamos poder construir a embalagem pois sempre há algum tipo
de desperdício ou há a necessidade de material para que se possa montar a
embalagem. Além disso é necessário conhecer o tipo de material e como o mesmo é
vendido.
Exemplo 7: Um silo de formato cilíndrico e cobertura em forma de um cone, tem
base circular de 5m de raio e 18m de altura. A superfície lateral desse silo vai ser
pintada com uma tinta vendida em galões de 18 litros suficiente para cobrir uma
superfície de 50m2. Qual o número mínimo de galões de tinta a serem comprados?
Solução: Para estabelecermos o número de galões de tinta a serem comprados
é necessário calcularmos a área da superfície a ser pintada. Como só a superfície
lateral do silo será pintada, estamos nos referindo a um retângulo de medidas 18m
por 10π m, como esquematizado na figura (usar π = 3,14).
𝐴 = 2𝜋. 5.18 = 565,2 𝑚2
Como cada galão tem cobertura de 50m2, temos 565,2 ÷ 50 = 11,304. Assim, são
necessários, no mínimo, 12 galões de tinta.
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Paulo Cezar Pinto. Introdução à Geometria Espacial. Rio de Janeiro: SBM, 1993.
EUCLIDES. Os Elementos. Tradução e introdução de Irineu Bicudo. São Paulo: UNESP, 2009.
NASSER, Lilian, TINOCO, Lucia Arruda de Albuquerque. Curso Básico de Geometria – Enfoque Didático. Módulos I, II, III. Rio de Janeiro: UFRJ, 2004-2006.
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL. Geometria I. Canoas/RS: ULBRA, 2014. UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL. Geometria Plana e Espacial. Canoas/RS:
ULBRA, 2014.