Reboco caído nº26 versão digital

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Pag 1 REBOCO CAÍDO #26Editorial 1

Fiquei muito feliz em receber amensagem de Michel Sanches oferecendoalgumas ilustrações para o Reboco Caído.Claro que tratei logo de aceitar e ele meenviou algumas. A logo também foi obradesse grande cara. Já que a capa e as ilus-trações do interior ficaram por sua conta,nada mais justo que apresentá-lo como oentrevistado desta edição. Para os que ain-da não conhecem o trabalho dele, será umaboa oportunidade.

Pronto. Segundo parágrafo come-çado e apagado algumas vezes. Foi descri-ção de conteúdo das páginas que virão, foifilosofia, foi viagem... Foi, foi, foi e aca-bou não sendo. Então tá na hora de pararesse editorial por aqui e procurar outracoisa para fazer. Talvez diagramar as pági-nas que ainda faltam, talvez dar uma olhadanas que já estão prontas, talvez talvez, tal-vez não sei.

Ah, sim... Aproveitarei a ocasião paramais uma vez agardecer aos que apoiamesta publicação enviando material, divul-gando, colaborando com uma graninha paraa repordução e o correio ou seja como for.Ainda bem que existem loucos como vocês.

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Editorial 2

Do editorial anterior até a finalização des-te número, muita coisa entrou e muitasaiu... Tudo diferente do que estava fican-do. Bem... Nem tudo. Michel Sanches con-tinua presente e nos presenteando. O fatoé que acabou saindo outro editorial. Vamosa ele que o espaço é curto.Começamos com um texto da grande He-lena Ortiz. Uma reflexão sobre o extermí-nio dos excluídos, que, por linhas, nos levaalém. Seguindo a ideia, um escrito de Pa-blo Villaça que encontrei no face da revistaVírus Planetário e achei bem interessante.Na sequência um texto que, comparandodois casos ocorridos em Porto Alegre esuas conclusões, trata sobre a perseguiçãoaos ativistas no Brasil (focando no casodo Vincent), sobre o que pesa mais nabalança da justiça, sobre conceitos epreconceitos... Enfim... Mais um queencontrei e não pude deixar de largar poraqui. Depois David Beat mandando umpapo reto em uma poesia torta. Seguementão alguns dos meus escritos para osdoidos que gostam. Passando a entrevistacom Michel que já tinha comentado noeditorial anterior, Fano chega com asituação das crianças abandonadas,esquecidas, abusadas... das crianças queserão cobradas daquilo que nem sabem aexistência... dos que já nascem mortos...Depois um cara que já faz algum tempoque não aparece em nossas páginas, masnesse número retorna. Se não sabem dequem falo, estou falando do mano PandaReis. Passando para o seguinte temos umótimo poema de Samuel da Costa que nosdá o que pensar e uma entrevista que fizcom a banda WarKrust. Para fechar, maisuma ilustração de Michel Sanches (penaque não deu espaço para usar todas que eleenviou) e um pouco do que tem rolado poresse mundo caos.

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REBOCO CAÍDO #26 Pag 2

Por Helena Ortiz

Entre os mortos de hoje há um menino de10 anos, Eduardo. Ontem uma menina per-deu a mãe, Elisabeth, que estava dentrode casa quando o polícia entrou atirandosem saber pra onde.Hoje morreu Silvia, 49, que andava pelocomércio na Tijuca.Quem são essas pessoas que se vão, quemorrem assim, sem que possamos guar-dar-lhes ao menos o nome? Amanhã ha-verá outras mortes com outros nomes, al-guns sem sobrenome, que desaparecemnum estampido. Às vezes lembramos de-les, quando sabemos que os policiaisindiciados foram absolvidos, como acon-teceu recentemente no caso Raíssa ecomo acontece sempre.Mas hoje foi diferente. Hoje tambémmorreu o filho mais moço de Alckmin,num acidente de avião. Desse saberemostudo, em breve. Para essa morte há alvo-roço. Com essa morte de gente impor-tante a mídia fica consternada, como naexpressão de William Waack, da Globo,ao dar a notícia. Afinal, tinham lá as suascoisas em comum. A presidente Dilma la-mentou, todo o mundo lamentou. Mes-mo que seja um lamento social.No Rio, o governador Pezão diz que la-menta muito os episódios, mas que nãohaverá recuo.Dessa maneira informa que vão continu-ar essas mortes sem consolo.A mãe de Eduardo, Terezinha, diz que mar-cou bem o PM que matou seu filho.Talvez Terezinha também morra, breve ebravamente._______________________________

Por Pablo VillaçaF o n t e : w w w . f a c e b o o k . c o m /virusplanetario

Eduardo tinha dez anos de idade.Eduardo tinha pais, irmãos e amigos.Eduardo gostava de correr, de brincar, de vertelevisão, de rir de desenho animado e decomer bobagem antes do almoço.Eduardo queria ser bombeiro quando cres-cesse.Mas Eduardo não vai crescer. Ele começouo dia criança e terminou cadáver. Tinha so-nhos e agora é carne machucada e sem vida.Seus verbos agora são no passado.Sonhou. Riu. Brincou. Viveu.Eduardo foi executado por um policial mi-litar no Morro do Alemão. Sua morte nãofoi o principal destaque dos portais e jor-nais. Quando foi noticiada, ele se transfor-mou apenas em um “menino do Morro doAlemão”, em uma estatística da violência.Eduardo nasceu sem chances e sem chancesmorreu.Talvez Eduardo tivesse medo do escuro. Demonstros. De trovão. Talvez. Por outro lado,provavelmente tinha da polícia. E estava cer-to em ter. Se eu fosse pobre e morasse nafavela, também teria - porque saberia que,para boa parte da sociedade e dos agentesda lei, eu não seria apenas uma criança; se-ria um criminoso à espera de meu primeirocrime.Eduardo teve sua cabeça de criança destruídapela bala de um policial militar. E nos por-tais que noticiaram sua morte sem destaque,comentaristas agiram com escárnio e dis-seram que, se pudessem, ajudariam a polí-cia militar a matar 50 por dia. E gritam pelaredução da maioridade penal em um país quejá condena à morte crianças de dez anos.Você está morto, Eduardo, e eu preciso irali abraçar meus filhos bem apertado en-quanto penso na dor da sua mãe cujos bra-ços vão para sempre sentir a falta do calorde seu corpinho de criança.Desculpa esse mundo, Eduardo. Desculpaesse mundo.

Pátria Aterradora

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Pag 3 REBOCO CAÍDO #26Ricardo e Vicente

Por MarceloFonte: https://vadebici.wordpress.com/2015/02/13/ricardo-e-vicente/

Ricardo atropelou propositalmente deze-nas de pessoas, ferindo pelo menos 20,pois não gostou de ter de esperar algunsminutos atrás de um grupo de ciclistas queprotestava por uma cidade mais humana.

Vicente danificou alguns objetos enquan-to lutava por aquilo que acreditava, ummundo mais igual onde uns poucos nãolucrem em cima do trabalho de muitos.

Mais de 6000 pessoas assinaram um abai-xo assinado condenando a atitude deRicardo Neis, o atropelamento repercu-tiu mundialmente, aconteceram homena-gens em diversos países em solidarieda-de com as vítimas de Neis.

Mais de 2400 pessoas assinaram umapetição pedindo a absolvição de Vicentee outros cinco réus, que eram apenas al-guns entre milhares de manifestantes quelutavam contra o aumento da tarifa emPorto Alegre.

O crime de Ricardo Neis foi gravado emvídeos de vários ângulos, dezenas de pes-soas testemunharam dando o mesmo re-lato.

As únicas evidências contra Vicente fo-ram o depoimento de um policial militare fotos onde aparecia segurando uma ban-deira.

Vicente participava de uma manifestaçãopopular e não machucou ninguém.

Ricardo atacou uma manifestação popu-lar e pelo menos oito de suas vítimas fo-

ram parar no Hospital.

O crime de Ricardo foi cometido em feve-reiro de 2011. Acusado de 11 tentativas dehomicídio triplamente qualificado, passa-ram-se quatro anos e ele ainda não foi a jul-gamento.

O suposto crime de Vicente teria sido co-metido em junho de 2013. Um ano e meiodepois, ele já foi julgado e condenado a umano e meio de prisão por “dano aopatrimônio público e crime ambiental”.

Ricardo usou um carro como arma, Vicentefoi fotografado com um mastro de uma ban-deira.

Ricardo é bancário. Vicente é anarquista.

Ricardo tem dinheiro para pagar bons ad-vogados. Vicente não.

Ricardo é branco. Vicente não.

Ricardo está livre. Vicente não.

No KarmaPor David Beat

Diariamente o mesmo déjà vuOs traços irregulares insistemPercorro algo indefinidoTentando alcançar nada!

E a dor latente e angustiaUm karma pertinenteEscravo de uma realidade insípidaCenas gritantes de suicídio

Desgosto de tudo, ainda respiroSem nenhuma vontade do presenteEstou secular em plena juventude

Até quando prisioneiro deste corpo?

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Pag 4REBOCO CAÍDO #26É tão violento e sinistro o despertarMomentos efêmeros em ciclo constante...

Findo/DesapercebidoPor Fabio da Silva Barbosa

Cansaço físico e mentalFadigaDesânimoNão consegue mais pensarNão consegue caminharArrastando pelo deserto do nadaArrastado pelo nadaNada a declararArrasado pelo nadaNada a declarar

Universos paralelos nem tão paralelosPor Fabio da Silva Barbosa

BebêsViciadosLoucosVelhosExcluídos

Bebês viciadosLoucos velhosVelhos excluídosLoucos viciadosBebês excluídos

Viciados excluídosBebês velhosLoucos excluídosVelhos bebêsBVLVE

Bebês bebêsViciados viciadosLoucos loucosVelhos velhosExcluídos excluídos

MarcadaPor Fabio da Silva Barbosa

E as pessoas corriam gritando.- Pega! Bate! Mata! Ladra! Vagabunda!E ela corria como nunca. Mas eram mui-tas pernas a lhe perseguir. Muitas vozes.Cada vez se multiplicavam mais. Seus pésfalharam no momento em que a pedra atin-giu sua cabeça. O chão se fez próximo. Osperseguidores a cercaram. As vozes au-mentaram.- Segura! Bate! Agora vai ver! Mata! Agoravai aprender! Vagabunda!Os golpes vinham de toda parte. Tentoulembrar-se da mãe que morrera na prisão,do pai que nunca conhecera. Eram lem-branças que nunca existiram. Não tinha deonde tirar. Tentou se levantar, se arrastar.Tentou pensar em um lugar onde já se sen-tira segura. O cérebro falhava. Todo esfor-ço era inútil. Lembrou os tempos de rua,das meninas da gangue. Lembrou os tem-pos de abrigada, dos monitores e educa-dores carrancudos. Lembrou dos poucosque tentaram entender e ela mandou to-mar no cu. Era impossível aceitar que qui-sessem oferecer ajuda. Isso beirava oinacreditável naqueles tempos sombrios.Tempos que sempre foram assim e são atéo momento.- Não deixa fugir! Bate! Segura! Vai apren-der! Vai ver!O cérebro falhando cada vez mais. A vistaescurecendo. O sangue cobrindo o corpo.O sangue cobrindo a terra. A fúria descen-do sobre o cadáver que já não respondiaaos golpes. O cadáver que já nascera mor-to. A morta que já nascera morta.

o fim chegouPor Fabio da Silva Barbosa

florestas devastadaságuas poluídas>>>>>>>>>><<<<<<<<<

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Pag 5 REBOCO CAÍDO #26

lâminaPor Fabio da Silva Barbosa

seu rosto derretianum constante agonizaro sofrimento trancadona caixa do seu corposei bem o gosto cortantedessas lágrimas ácidascaídascomo anjos

fome declaradapopulação desesperada

o tempo acabouo tempo acabou

cegueira coletivaradiação destrutivaegoísmo em massaguerra que não passa

o tempo acabouo tempo acabou

só pó e pedralamento e apatiamortes maquiadasrealidades disfarçadas

o tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabouo tempo acabou

que viraram demôniosestar completamente sósem ninguém pra dar a mãosem carinho ou proteçãocontra esse mundo toscoquando não há lugarpara onde irnão há nadapara sentiras escolhas parecem mortasfolhas secascaindopovoando o soloe indo pra baixoprovavelmente você também não vai enten-dernão sabem o que é perderno labirinto da dorsentindo a lâmina cortandosó para aliviaressa existênciaessa penitênciaa raiva e a mágoao flagelo infinitoda desumanização contínuadesses corpos e mentes que se vão

Marionetes do consumo

Por Fabio da Silva Barbosa

comprou comprou comprou

fez prestação

parcelas pra pagar

no carnê e no cartão

compre compre compre

não precisa nem pensar

quando chega o fim do mês

fome vai passar

gaste gaste gaste

o negócio é possuir

não ser você mesmo

nem precisa existir

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Pag 6REBOCO CAÍDO #26

Por Fabio da Silva Barbosa

Michel Sanches faz parte dos nomes quedoam sua arte para a cultura alternativa,acrescentando cada vez mais ao meio.Tendo passado por zines, jornais, feito capasde livro e cd, o cara não para por aí. Na ânsiade falar mais, compartilho um rápido papo.

Como foram os primeiros traços?Foram ainda mulecote, não lembro a idade.Lembro de comentários do tipo ‘nossa, sódesenha estes monstros’. Até hoje é assim(Só um pouco mais bizarro). Fiz fanzinescomo Staphylococcus (13 números),Prozac e, pra mim, o mais importante foi OVIAJANTE COSMICO, com PetterBaiestorf. Colaborei com zines, jornais efiz capa de CD e livro

E de lá para cá, o que mudou na produção?Produzo pouco. Quando mais novodesenhava mais. Com os fanzines melhoreie criei personalidade no traço. Preciso mededicar mais aos desenhos. Admiro carascomo o Henry que parece se multiplicar pracolaborar com tantas publicações mundo afora com máxima qualidade.

Curte sons ou silêncio enquanto desenha?Depende do dia... ajuda na criação. Pode serACDC, Black Sabath, DK, Biquini Cavadão,Olho Seco, SOAD e por vezes o silêncio.

Quais as principais influências?Peguei a época que era fácil importar mate-

rial via DEVIR, vi muito Image e Marvel,depois de mais velho fui procurando artis-tas mais clássicos. Gosto de Moebius,Claudio Castellini, Mignola... Os nacio-nais: Deodato, Watson Portela, Colin...Dos mais novos: Rafael Albuquerque, San-toloco, Tocchini (Estamos com uma safraincrível de artistas e publicações tops!!!!).Dos zines: Os Jaepelt’s, Edgar Franco,Luanda... Tem tanta gente bacana pra falarque encheria uma penca de folhas.

Se não fosse o desenho, qual outramaneira teria para se expressar?Já fiz Graffiti, gosto de pintura, arte finale cores. Profissionalmente não sobre-viveria. Me acho preguiçoso.

Qual material prefere usar nas produções?Sulfite, lápis e pra finalizar pincel e nan-quin. Cores com lápis de cor aquarelávelFaber Castell. Estou pesquisando outrasmarcas pra fazer um trabalho mais top nascores.

Dica para a galera que curte fazer unsrabiscos:Muito treino. Desenhe cada vez mais. Có-pias não trazem muita evolução. Use re-ferências fotográficas, bonecos e objetos.Conversar com outros desenhistas, sejahumilde, cursos auxiliam a conhecernovas técnicas... Fanzines são excelentespara divulgar e desenvolver seu estilo.

O desenhista e os monstros

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Pag 7 REBOCO CAÍDO #26INFÂNCIA

SOLIDÃO E ABANDONOPor: Fano

Anomalia socialSociedade estúpidaMentes afastadasNatureza lançada à própria sortePense nas crianças tristes, isoladas dentrode seu universo.Universo criativo perdidoAfeto escondidoPense na dor não sentidaPense na dor sentidaAnomalia socialAlém do bem e do malAlém da solidão e da dorMentes afastadasPense no sorriso, no abraço forte e carenteNão, não pense nas razões do afetoPense apenas no que está perdidoNão, não pense nas razões da vidaPense nas razões do abraço, doacolhimento.Bem querer sorriso!Onde estará o bem querer humano?O bem querer social?Infância, solidão e abandono.Onde estará o bem querer?O mundo possui, hoje, em torno de 150milhões de crianças abandonadas. Em nosso país a estatística é extremamentepreocupante. O abandono de crianças éuma anomalia social tão profunda que deixaa percepção coletiva bloqueada.Vejam! Coletivo adulto, socialmentedominante do alto de seu “status quo”consumista e individualista, esquece queum dia foi criança. Sensível, amorosa,criativa, dependente de carinho, estímulos eoportunidades. Esquece que uma criança éuma nova vida, assim como ele já o foi.Pense outra vez!

INFÂNCIA, SOLIDÃO E ABANDONO.

Por Panda Reis

Então começaram a cobrar pelas sacoli-nhas que os mercados usam para empaco-tar as compras de seus clientes. Os em-presários do ramo alegaram que com amudança das sacolas de plástico comumpara biodegradáveis, o custo dessas saco-las deveria cair no bolso dos clientes. Tá.Vamos por partes. Eles já tentaram co-brar pelas sacolas algum tempo atrás enem eram essas ditas biodegradáveis... Eoutra: Qualquer assistente contábil da á-rea de custos sabe que as embalagens es-tão contabilizadas e esse custo já está noplanejamento de rateamento dos custosde todas as mercadorias do mercado.Então, essa cobrança, ou melhor, esse re-passe, seria apenas lucro, ou melhor,roubo ao consumidor. Mas o Procon fezum acordo com os mercados. No primei-ro momento suspenderão a cobrança dasmesmas e em um segundo (previsto parao 2º. Semestre) limitarão a duas sacolas“gratuitas”, as demais serão cobradas. Emum terceiro momento... Bom, acho quedá pra imaginar o que vai acontecer e pa-ra quem vai sobrar o pagamento dessasdespesas, ou melhor, o custo de pro-dução.Mas o que eu queria chamar atenção nãoé para esse caso em particular, mas a pas-sividade da população, que assim comono caso das sacolas, aceitam os abusosmonetários, consumindo tudo de manei-ra tão acéfala que me faz lembrar o Brasilde 1808, quando Dom João VI abriu osportos e os mercadores europeus, seden-tos para desovar suas mercadorias em ummercado consumidor novo, mandou pracá todo tipo de mercadorias. Teve nobreno Rio de Janeiro que comprou tudo quepodia e que nem usaria. Na lista de com-pras dos nobres cariocas, em uma cidade

Síndrome das Sacolinhas

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Pag 8REBOCO CAÍDO #26que já fazia 40 graus no verão, teve aquisição de casacos de pele, esqui para neves eetc... tudo comprado pelos brasileiros.Todo Mercado capitalista, seja qual ramo e onde for, utiliza do roubo na cara dura dis-farçado de lucro, despesas e custos. Mesmo assim, pacificamente, os consumidorescompram... e compram... Isso para parecerem cada vez mais esteticamente com os bur-gueses! Engraçado que no passado, no pré- capitalismo os burgueses compravam paraparecerem mais esteticamente com o nobre. Tempos depois compravam títulos de nobre-za. Assim pareciam com os nobres e agora tinham os mesmos títulos. Mas não eramvistos assim. O tempo passou e eles, sedentos pelo “novo capital”, derrubaram o sistemavigente e instaram um novo que os favorecesse.Alguns dizem que a libertação do povo proletário deve passar pelas mãos da burguesiapara criar um campo favorável para a revolução proletária. O que vejo é o fortalecimentoda alta burguesia e um nivelamento monetário ideológico feito por baixo. As sacolinhassão uma prova clara, explícita, da mais valia burguesa e da apatia popular em simplesmenteaceitar e deixar todo o lucro nas mãos das elites. A síndrome da sacolinha é embaçadapela indústria ecológica que já foi ideologicamente capturada e serve hoje ao sistema,o mesmo sistema que destrói a natureza. É tanta contradição que não sei como assacolinhas ainda não estão amarradas nas cabeças da nossa elite ??!

Por Samuel da CostaPara Maura Pataxó Hã hãe hãe

Entre as luzes e as trevas!Tem o Griot...Que corre em desespero.Pela mata-fechada sem fim. O som a trovejar na relva...O ladrar selvagem dos cães...O silvo de ódio do capitão do mato.A sede...E a fome...***Entre as luzes e as trevas...Tem a minha vida e a tua... O olhar frio da Era da razão!Tem o meu olhar...Perdido no vazio.***Entre as luzes e as trevas!Peço a misericórdia de todos os Deuses.Nessa hora extrema...Que eles tenham piedade de nós...Pois a alma do inocente arde em chamas.

***Entre as luzes e as trevas.Tem um frio olhar postado em mim.E o dedo em riste...Na minha face...Mandando-me calar***Tem um corpo em chamasAlma inocente imolada...A queimar em praça pública***Entre risos insanosEntre verdades e mentirasTem um inquisidor... Tem um olhar bestial em mim.*** Tem um fogo que queima alto!Entre a minha vida...E a tua...Tem um abismo infindo.Uma fossa abissalSão vidas separadas.Entre mentiras e verdades!

As luzes e as trevas

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apresentação, troquei uma rápida ideia, deixei uns zines e adquiri um cd. No mesmo mo-mento marquei de enviar umas perguntas para sair nessa edição do Reboco. Cheguei emcasa, mandei os lances e no dia seguinte estava tudo respondido. Lá vai o resultado.Quanto tempo de estrada e o início: A primeira formação começou a ensaiar em 2013.Era o Alemão na guitarra que convidou a Anne pra fazer baixo, mas não rolou. Co-mo o negócio dela é goela e nisso ela manda bem, foi pro vocal. Aí o Ricardo entrouno baixo e tentamos alguns bateristas que não deram certo. Então o Ricardo convidouo Matheus e as primeiras músicas surgiram. No final do ano já tínhamos 8 sons gra-vados, mas que só saíram oficialmente em 2014. Ano passado fizemos alguns showse continuamos nesse ano. A ideia é gravar o segundo registro em 2015.Como é a produção do som poderoso que vocês fazem? Como nasce? Cara, normalmentetudo nasce com um riff. O Alemão (guitarra) ou o Ricardo (baixo) vem com algumaideia e a gente trabalha a partir daí, da ideia de alguém. Mas fica livre pra todosacrescentarem com algo.E a cena pela cidade? A sensação é a de que poderia ser melhor, mais forte, mais uni-da! Mas está legal. Tem bandas interessantes ativas e espaços - ainda escassos -dando apoio para que shows aconteçam, junto com organizadores - também poucos- que se esforçam pra que o circuito de shows não pare. Porto Alegre e a regiãometropolitana estão ainda bem atrás de centros maiores e outros países onde a cenaPunk tem tradição, mas tá no caminho certoComo foi a participação no evento de 1 de maio e o evento como um todo? Foi a pri-meira vez da Warkrust no evento. Apoiamos a causa e eventos desta natureza, ondemúsica é levada gratuitamente ao público - grande parte dele que não teria acessode outra forma - e também informação e mensagem política que não podem se perder.A receptividade e interação do público foi excelente, também a procura por materialapós o show. Foi muito bom rever amigos e o pessoal que acompanha os shows dabanda desde o início. Outro ponto positivo que vale ressaltar é o contato com pessoasnovas, como foi o caso que possibilitou essa entrevista!Para conhecer o som: O material está disponível no warkrust.bandcamp.com. Tem ví-deo clipe oficial da música Ódio Antigo rolando no YouTube. Mas o principal canalpara comunicação com a banda é a página do Facebook: www.facebook.com/Warkrust, pra quem quiser entrar em contato e adquirir material. Pra quem nãoutiliza as redes sociais, o e-mail é [email protected]. Parabéns pelo traba-lho com o zine e muito obrigado pela oportunidade de falarmos sobre a Warkrust!

Pag 9 REBOCO CAÍDO #26Warkrust

Por Fabio da Silva Barbosa

No dia primeiro de maio, o Manifesto Cultu-ral novamente mostrou porque veio. Muitabanda boa rolando, troca de material e ideias.O evento organizado pela união COB/FORGS/Sindivários Porto Alegre/ Centro Cultural eArtístico de Porto Alegre, povoou a pista deskate do IAPI de pura energia. Pude assistirótimos shows, como o do WarKrust Após a

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REBOCO CAÍDO #26 Pag 10

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Manifesto contra o massacre de Richa

Associação Brasi-leira de SaúdeColetiva lançadossiê sobre oimpacto dosAgrotóxicos

Professores param em 15 estados contramassacre de Richa

Em Porto Alegre, trabalhadorescondenam PL das terceirizações emato cultural do 1º de maio

Revoltante ver as cenas de professores sendo es-

pancados na rua e ainda mais ver a comemora-

ção de dentro do palácio do governo.

A cobertura do Jornal Nacional aomassacre no Paraná não é tendenci-osa; é imunda, desonesta, obscena.

Movimentos sociais questionamatuação violenta da polícia nasfavelas do Rio de Janeiro

Marcha Contra Monsanto

Cola essa de porrador de professor nos tu-canos só não fera, teve porrada no Ceará(PSB) e Rio de Janeiro (PMDB/PT) também

Rappers gravam vídeos

contra a redução da maio-

ridade penal

Em audiência na Câmara Municipal, Garifaz denúncias contra Paes (PMDB),Adilson Pires (PT) e Comlurb por

violações

-Cadê os professo-res de portuguêspara explicar a dife-rença entre con-fronto e massacre?- Estão na enfer-maria, estancandoo sangramento

Repressãoinaceitávelaos profes-sores

"Depois de 23 anos comoprofessora é isso que eumereço? Uma bomba na

cara!?"Já chega a grande imprensa distorcendo osfatos: privilegiando lado, criminalizandomanifestante, defendendo PM e chaman-do violência de confronto.

vai até no automático. morreu negro na pe-riferia? fala que tinha envolvimento comtráfico. espancou manifestante? fala quetinha black bloc

professores massacrados e o JNempolgadíssimo com uma nave per-dida no espaço

o "confronto" entre o rosto e a bala, entre a perna e o dente do cão maltratado, entre a pele e abomba, entre a esperança e a violência.

Uma mãovai na cabe-çaA do PM norevólverO regimen-to é sexyO regimen-to é sexy

Beto Richa, só para lembrar, é o governa-dor que declarou que “policiais com nívelsuperior poderiam não aceitar receber or-dens”.Muito eficaz a ação da PM do Paraná: em poucomais de uma hora, ela deixou bem claro do que aignorância é capaz.O governador do “quanto mais ignorante, melhor opolicial” deve estar satisfeito com mais de 200 feridos.Solidariedade aos feridos e aos policiais que se recusaram a integrar ocerco (e que foram presos).

Fim do rótulo obrigatório emproduto transgênico.E o consu-midor, que perdeu o direito desaber o que come, como fica?

Como resposta à morte de pessoas (incluindo cri-anças) por PMs da UPP, o Governo do RJ criamais UPPs e manda mais policiais.

Por que os ruralistas querem esconder a

informação da existência de transgênicos

em um produto? Retirar o

símbolo dos transgênicos

é sonegarinformação

CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL!!

Governo fecha casa de teatro voltadapara pacientes da saúde mental

Mais imagens da PM de São Pau-lo batendo em professor

Aumenta a quantidade deagrotóxicos consumido por

cada brasileiro:7,3 litros

Educadores agredidos na prefeitu-ra de Goiânia

Professores em greve são agredidos noPaço Municipal de Goiânia.

P R E F E I T OE D U A R D OP A E S :MEDALHISTADE OURO EMC R I M EAMBIENTAL

Mais uma ocupação ameaçadade despejo.

Infe

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Socia

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Da Proibição Nasce o Tráfico

Todo apoio às ocupações

“Nãop r o t e g e m ,matam”

DESABRIGADOS SOB ATAQUE DAPREFEITURA

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