RECANTO, ENCANTO, SAUDADE UM POUCO DO MUITO...

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PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL 3ª EDIÇÃO Categoria: Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental RECANTO, ENCANTO, SAUDADE... UM POUCO DO MUITO QUE TE DEI Unidade da Federação: SP

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PRÊMIO PROFESSORES DO BRASIL 3ª EDIÇÃO

Categoria: Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental

RECANTO, ENCANTO, SAUDADE...UM POUCO DO MUITO QUE TE DEI

Unidade da Federação: SP

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SUMÁRIO

Síntese do projeto .................................................................................................... p. 04

Contextualização ...................................................................................................... p. 05

Justificativa ............................................................................................................... p. 06

Objetivos .................................................................................................................. p. 07

Desenvolvimento ...................................................................................................... p. 08

Resultados obtidos ................................................................................................... p. 19

Avaliação .................................................................................................................. p. 20

Anexos ..................................................................................................................... p. 21

Anexo 1: Alunos participantes do projeto

Anexo 2: Relato inicial dos alunos

Anexo 3: Resultado das pesquisas de opinião

Anexo 4:Impressões deixadas pela música “Couro de boi”

Anexo 5: Entrevista com o dirigente do recanto “Casa do Caminho”

Anexo 6: Idosos asilados participantes do projeto

Anexo 7: Cartas enviadas aos moradores do recanto

Anexo 8: Carta-resposta enviada pelo idoso

Anexo 9: Aula de ginástica com a 3ª idade

Anexo 10: Estatuto do Idoso – estudo da legislação vigente

Anexo 11: Texto produzido a partir da reflexão sobre os artigos do Estatuto do Idoso

Anexo 12: Processo de produção de sabão reciclado

Anexo 13: Situações-problema contextualizadas

Anexo 14: Texto informativo “A ensaboada história do sabão”

Anexo 15: Reestruturação de receita – Queijadinha

Anexo 16: Letras das músicas cantadas no coral pelos alunos

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Anexo 17: Texto jornalístico “Mães querem apenas a presença dos filhos como presente”

Anexo 18: Apresentação do coral composto pelos alunos

Anexo 19: Atividades desenvolvidas pelos avós na escola

Anexo 20: Produção de texto coletivo: resgate das antigas tradições juninas

Anexo 21: Produção de texto em quadrinhos

Anexo 22: Confecção de Porta – receitas

Anexo 23: Campanha de arrecadação de agasalhos

Anexo 24: Entrega dos agasalhos doados pela comunidade escolar

Anexo 25: Presenteando os idosos com um porta-retrato

Anexo 26: Dinâmica de grupo “Caixa surpresa” – perguntas e respostas

Anexo 27: Dinâmica “Sentindo na pele”

Anexo 28: Produção de texto a partir da música “Utopia”

Anexo 29: Professor, adote um amigo da 3ª idade

Anexo 30: Listagem de livros lidos no recanto

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SINTESE DO PROJETO

A experiência pedagógica foi iniciada com reflexões individuais dos alunos acerca da velhice, do papel dos avós em suas vidas e da existência de asilos, casas de repouso e recantos destinados aos idosos.

A partir desse relato inicial, foram propostas atividades interdisciplinares abrangendo conteúdos relacionados aos Temas Transversais (Ética, Meio Ambiente e Pluralidade Cultural), Língua Portuguesa, Matemática, Educação Física, Arte e História.

Para tanto, foram usados recursos metodológicos diversos: músicas, entrevistas, confecção de mosaico, estatuto do idoso, livros de literatura, pesquisas, retroprojetor, dinâmicas em grupo, confecção de porta-retrato, leitura, exploração e produção de textos de diferentes tipologias, situações-problema, campanha de arrecadação de agasalhos, confecção de sabão reciclado, visitas, elaboração de gráficos, confecção de porta-receitas e envolvimento da comunidade local.

Toda a seqüência metodológica desenvolvida buscou a valorização do idoso no seio familiar e sua inclusão na sociedade atual, evidenciando aos alunos que o envelhecimento faz parte de nossa vida, que é um processo natural que se inicia no momento em que nascemos e que refletir sobre o idoso é, sabiamente, pensar sobre o passado, o presente e o futuro que queremos para nós e para as futuras gerações.

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CONTEXTUALIZAÇÃO

As pessoas envelhecem de forma coerente com a história de suas vidas. O idoso é um ser cultural, é o resultado de toda uma cultura e hábitos de vida de um país. No entanto, o envelhecimento ainda é muito contaminado por preconceitos e um dos motivos é que, num sistema capitalista, a pessoa deixa de ser interessante à medida que deixa de produzir. Nesse momento, muitos nem se lembram que se este país existe é em função das pessoas mais velhas que o construíram.

O educador Paulo Freire já ponderava que a sociedade pode tornar o idoso um encargo ou um patrimônio, dependendo das condições que lhe forem proporcionadas ao longo da vida, condições essas que não se limitam a satisfação das necessidades materiais, mas incluem oportunidades de desenvolvimento cultural e espiritual em cada estágio da vida. Envelhecer é um triunfo, mas para gozar a velhice é preciso dispor de políticas adequadas que garantam um mínimo de condições de qualidade de vida para os que chegam lá.

O Brasil passou a se preocupar com o envelhecimento da população muito tardiamente (a partir da década de 70), em função do significativo crescimento da faixa etária acima de 60 anos (a previsão é de que em 2025 o Brasil ocupe o 6º lugar mundial de população idosa). Diante disso, faz-se necessário estabelecer que a Política Nacional do Idoso cumpra o objetivo de assegurar os direitos sociais das pessoas idosas, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade.

Contudo, os currículos escolares precisam se adequar a essa nova realidade brasileira, incluindo conteúdos voltados ao processo de envelhecimento, valorização do idoso e o estudo do Estatuto do Idoso, transformado em Lei n° 10.741 em 1º de outubro de 2003. Só assim a formação do cidadão será voltada para um processo de mudança do comportamento com relação a pessoa idosa, de forma a eliminar os muitos preconceitos existentes.

O reconhecimento dos direitos do cidadão quando envelhece é um fato novo e precisa ser amplamente divulgado, debatido e compreendido dentro do espaço escolar, tornando a sala de aula um lugar dinâmico, vivo, de socialização de muitos saberes que conduzam a uma nova conscientização social e a uma nova mentalidade sobre o envelhecimento.

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JUSTIFICATIVA

O desenvolvimento desse tema surgiu, inicialmente, do interesse dos alunos pela vida dos idosos asilados. Conhecendo um pouco da realidade vivida por parte dos moradores do recanto “Casa do Caminho”, asilo próximo à escola, foi firmada uma parceria entre a escola e a direção dessa instituição, no intuito de colaboração mútua entre ambas as partes. Os alunos tiveram acesso livre a todas as dependências do recanto e aos idosos nele asilados, a fim de levar um pouco de conforto, afeto, solidariedade e alegria àquelas pessoas já tão marcadas pela vida.

A seqüência didática desenvolvida foi pautada no tema da inclusão social e da valorização da figura do idoso, tendo como princípio norteador o resgate do papel do idoso dentro da família e na sociedade em que está inserido, questão esta amplamente debatida pela sociedade brasileira em virtude do crescimento da população com idade mais avançada.

O Brasil, antes considerado o país dos jovens, agora precisa aprender a lidar com a nova condição da sua população e nada mais apropriado do que pensar sobre isso ainda na infância. Cabe a escola oferecer ao aluno uma educação transformadora e uma aprendizagem significativa, oportunizando a ressignicação dos seus conhecimentos, a reconstrução de seus valores e a (trans) formação do individuo em um cidadão pleno.

O que começou como mera curiosidade dos alunos da classe, aos poucos foi se transformando numa questão muito ampla para ser discutida em um único dia e, por esse motivo, a questão do idoso passou a fazer parte da rotina de aula dos alunos da 3ª série A durante um bom tempo...

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OBJETIVOS DO PROJETO

As situações de ensino-aprendizagem desenvolvidas objetivaram tornar o aluno capaz de:

- refletir, discutir e tomar ações direcionadas a vida digna da pessoa idosa, pautada no respeito a seus direitos;

- compreender a importância da sociedade atual de agregar novos papéis e significados para a vida na idade avançada;

- dignificar as pessoas idosas, assegurando-lhes sua participação na comunidade e defendendo sua liberdade e autonomia;

- respeitar, valorizar e difundir a riqueza da experiência acumulada pelos idosos;

- vivenciar na escola um espaço de socialização de saberes, envolvendo as famílias e a comunidade local;

- construir a consciência histórica alicerçada na perspectiva da continuidade e da transformação humana e social;

- vivenciar as diferentes formas de linguagem como instrumento de educação transformadora que ajude na formação de um indivíduo com liberdade de expressão, senso crítico, criatividade, solidariedade e ação na sociedade em que vive.

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DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

O projeto “Recanto, encanto, saudade... Um pouco do muito que te dei” foi desenvolvido no período de abril a junho de 2.007, tendo como público alvo os 28 alunos (anexo 1) da 3ª série A da EMEF “Prof. Antônio Ribeiro”, na cidade de Marília (SP), contando com a participação de suas respectivas famílias, da comunidade escolar e dos idosos moradores do recanto “Casa do Caminho”, localizado nas proximidades da escola, sito a Rua Benedito Mendes Faria, nº 43, bairro Vila Hípica Paulista.

A rotina diária das pessoas que habitavam o recanto para idosos começou a despertar o interesse de alguns alunos da classe que moravam nas proximidades e passavam por lá diariamente para vir à escola. Sensibilizados com o que viam (solidão, abandono, carência) trouxeram para a sala de aula essa problemática e questionaram o motivo daquelas pessoas estarem sujeitas àquela triste situação. Diante do crescente interesse da classe e do rumo que a discussão tomou, as ações para o projeto foram traçadas em parceria com o dirigente do recanto “Casa do Caminho”, Salomão Aukar, envolvendo atividades geradoras de reflexão teórica sobre o assunto e também atividades práticas, as quais serão descritas a seguir:

1º Relato inicial dos alunos

Com o objetivo de conhecer melhor o que pensava cada um dos alunos sobre a questão do idoso na sociedade atual, foram elaboradas perguntas acerca da relação que mantinham com seus avós ou bisavós. Com as respostas prontas (anexo 2) foi feita a socialização entre o grupo todo. O ponto mais marcante da atividade foi em relação ao alto índice de alunos que afirmaram que as pessoas deviam morar em um asilo quando velhinhas, conforme mostra o gráfico construído por eles (anexo 3). Questionados sobre isso, os motivos comuns foram: melhores cuidados médicos e falta de tempo da família.

Questões apresentadas:

1- Você tem avô, avó, bisavô ou bisavó? Você convive com eles com qual freqüência? Por quê?

2- O que você acha deles? Por quê?

3- Seus avós ou bisavós precisam de ajuda para fazer algo, como: ir ao banheiro ou tomar banho? Por quê?

4- Na sua opinião, seus avós ou bisavós dão trabalho? Por quê?

5- Você conhece alguém que more em um asilo? Quem? Sabe por que esta pessoa está morando lá?

6- Você acha que as pessoas devem ir morar em um asilo quando velhinhas? Por quê?

7- Na sua opinião, por que têm idosos morando em asilos?

8- Um asilo é como nossa casa? Por quê?

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9- Qual a sua opinião sobre os idosos?10- Você gosta de estar perto deles? Por quê?

2º Trabalho com música

Em continuidade ao assunto do dia anterior, os alunos receberam cópia da letra da música “Couro de boi” (interpretada por Tonico e Tinoco) para fazerem a leitura e acompanharem sua audição. Depois, foi proposta a discussão sobre o descaso, a intolerância, o desafeto e o desrespeito contra o idoso. Eles ficaram surpresos com o desfecho da história contada na música (o filho também quer mandar o pai embora de casa assim como esse fez com o avô). Para averiguar o impacto causado em cada aluno com essa música, foi solicitado um registro escrito ou desenhado da mensagem deixada (anexo 4) após a reflexão realizada.

Couro de Boi

Conheço um velho ditado desde os tempos dos zagais,Um pai trata deis fio, deis fio num trata um pai,Sentindo o peso dos anos, sem podê mais trabaiá,Um veio peão estradeiro, com seu fio foi morá,O rapaiz era casado e a muié deu de impricá,Você mande o veio imbora, se não quisé que eu vá,O rapaiz coração duro, com o veinho foi falá:

Para o senhor se mudáMeu pai eu vim lhe pediHoje aqui da minha casaO sinhô tem que saí

Leva esse couro de boiQue eu acabei de curtiPra lhe servi de cubertaDaonde o sinho durmi

O pobre véio caladoPegou o couro e saiuSeu neto de oito anoQue aquela cena assistiu

Correu atrás do avôSeu palitó sacudiuMetade daquele couroChorando ele pediu

O véinho comovidoPra não vê o neto chorandoCortou o couro no meioE pro netinho foi dando

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COURO DE BOI

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O menino chegou em casaSeu pai foi lhe perguntandoPra que você qué este couroQue seu avô foi levando

Disse o menino ao paiUm dia vou me casarO senhor vai ficar véioE comigo vem morar

Pode ser que aconteçaDe nóis num se cumbináEssa metade do couroVou dar pro senhor levar

3º Entrevista com o dirigente do recanto

Sendo os idosos do recanto “Casa do Caminho” o alvo de interesse dos alunos, foi marcada uma entrevista com o seu dirigente (Salomão Aukar). Para tanto, o rol de perguntas foi elaborado coletivamente pela classe, englobando as questões que gostariam de fazer para entender um pouco mais da vida das pessoas que moravam lá. Foram escolhidos três representantes dentre os alunos para irem até lá fazer a entrevista (anexo 5). De volta a classe, as respostas foram ouvidas com atenção e grande interesse por todos, mas o entusiasmo logo foi substituído pela tristeza no olhar de cada um ao conhecerem um pouco da realidade dos asilados no recanto.

Perguntas elaboradas pelos alunos:

1- Quantos idosos estão abrigados aqui atualmente?

2- Quantas são as mulheres e quantos são os homens?

3- Há alguém que possa ler ou escrever uma carta para aqueles que não são alfabetizados ou que não possuem condição para isso? Quem?

4- Quantas pessoas trabalham aqui para manter o recanto funcionando? O que fazem?

5- O que os idosos fazem durante o dia?

6- Eles participam de alguma atividade de lazer? Qual?

7- Qual a idade média dos abrigados no recanto?

8-Quais os motivos mais comuns que levaram esses idosos a se abrigarem aqui?

9- Quantos estão aqui por vontade própria?

10- A família deles está sempre presente? Faz visitas a cada quanto tempo?

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11- Como eles se sentem no dia-a-dia? Por quê?

4ª Trocando correspondência

A atividade seguinte consistiu na adoção simbólica de um amigo da 3ª idade. Frente à inquietação dos alunos diante da realidade vivida pelos idosos do recanto, foram apresentadas a eles fotos de alguns dos asilados (anexo 6) para que escolhessem aquele que mais se identificasse para trocarem correspondências.

Todos adoraram a proposta e se empenharam muito na escrita das cartas (anexo 7): contaram sobre sua vida, a escola, o que mais gostavam de fazer, sua família, seus avós, os amigos... e também fizeram muitas perguntas ao novo amigo para se conhecerem melhor. Confeccionados os envelopes, alguns representantes escolhidos pela classe levaram as cartas em mãos para os destinatários.

As cartas-respostas (anexo 8) começaram a chegar dias depois e os alunos foram ficando mais entusiasmados com essa estreita ligação com os idosos, demonstrando carinho ao se referirem a eles, principalmente porque algumas cartas revelavam fatos tristes de suas vidas, como a ausência dos filhos, o abandono completo da família e debilidades físicas que possuíam.

5º Ginástica com a 3ª idade

Para promover um maior contato da classe com pessoas de idade mais avançada, foi programada uma aula de ginástica (anexo 9) com os alunos e um grupo de 3ª idade. Em acordo com o professor de Educação Física desse grupo do bairro, a aula foi realizada no ginásio de esportes próximo à escola, às 7 horas da manhã, horário de início da aula.

Esse encontro de gerações foi muito gratificante para todos, pois os idosos puderam mostrar aos alunos que ainda têm muita disposição e força de vontade e auxiliaram muito as crianças na realização da ginástica. De volta à sala de aula, ainda nos foi possível discutir o problema do sedentarismo entre as crianças e a falta de atividades físicas no dia-a-dia delas.

6º Conhecendo os direitos dos idosos

Na seqüência didática planejada, foi apresentado aos alunos o Estatuto do Idoso. Por ser uma leitura complexa, foram trabalhados apenas os artigos mais importantes do estatuto: Art. 1º, Art. 3º, Art. 10, Art. 20, Art. 23, Art. 39, Art. 40, Art. 41, Art. 42, Art. 49, Art. 96 e Art. 105 (anexo 10).

Para dinamizar a aula, os alunos foram separados em pequenos grupos com a tarefa de lerem um dos artigos especificados pela professora e traçarem comentários que oportunizassem o entendimento de toda a classe em relação a legislação estudada.

Várias exemplificações foram feitas por eles, principalmente no que tange ao descumprimento da lei. Associaram também a fragilidade dos idosos asilados no recanto com a vivacidade daqueles com quem fizeram ginástica, observando que o auxílio, a convivência e o afeto da família são de suma importância para aqueles que tanto já fizeram por essa sociedade. Para finalizar a atividade, cada aluno elaborou um pequeno texto-resumo (anexo11) sintetizando o conteúdo discutido e as principais informações apreendidas sobre o Estatuto do Idoso.

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7º Confecção de sabão reciclado

Em conversa com funcionários do recanto “Casa do Caminho”, os alunos souberam que a despesa com materiais de limpeza e higiene pessoal era muito grande e que estavam precisando de doações de todos os tipos. A partir daí, foi sugerida por uma das alunas (Adrielly) que fosse feito sabão com óleo reciclado assim como sua avó fazia, idéia essa aceita imediatamente pela classe. Sua avó mandou a receita e a classe arrecadou os materiais necessários para a confecção do sabão.

Uma semana depois, com tudo organizado para a elaboração da receita, todos “colocaram a mão na massa” (anexo 12). Cada um ajudou no que pôde, medindo e misturando os ingredientes, cortando as caixinhas de leite que serviriam de forminhas, desenformando e embalando as 40 pedras de sabão produzidas por toda a classe.

Aproveitando o tema da aula, foram propostas atividades curriculares interdisciplinares. Na disciplina de Matemática, foi proposta a resolução de situação-problema (anexo 13) criada a partir da receita trabalhada, envolvendo noções de quantidade, medidas e números racionais. Na disciplina de História, foi feito um estudo sobre a origem do sabão baseado no texto “A ensaboada história do sabão”, extraído da Revista Ciências Hoje das Crianças do mês de maio de 2005. Para tanto, o texto foi entregue com os parágrafos desordenados (anexo 14) para os alunos montarem sua seqüência lógica a partir dos fatos lidos. Já na disciplina de Língua Portuguesa, o enfoque dado foi na tipologia textual, explorando as partes de uma receita e reestruturação de texto (anexo 15).

8º A primeira visita aos idosos do recanto “Casa do Caminho”

Extremamente ansiosos para conhecerem pessoalmente o idoso com quem se corresponderam e as dependências do recanto, os alunos se prepararam para sua primeira visita. Foi organizado um coral e ensaiadas duas músicas (anexo 16) para serem apresentadas aos idosos: “Criança Esperança” (interpretada por Sandy & Júnior) e “Velha infância” (interpretada pelos Tribalistas).

Em decorrência das comemorações para o Dia das Mães, que ocorreria dois dias após a visita dos alunos ao recanto, foi oportuno o trabalho de sensibilização da classe a partir do texto jornalístico “Mães querem apenas a presença dos filhos como presente” (anexo 17), publicado no jornal Comarca de Garça em 11 de maio de 2002.

Eis que chega o grande dia, afinal! Tudo organizado para a visita, a classe toda rumou para o recanto, à apenas algumas quadras da escola, levando consigo muito carinho, alegria, expectativa e, é claro, os presentes (o sabão reciclado que seria doado ao recanto).

A equipe de funcionários recebeu a todos muito bem, apresentou cada um dos idosos que lá residia e todas as dependências do recanto, deixando os alunos bem à vontade para circularem e conversarem com quem desejassem. A entrega da doação foi feita ao dirigente da instituição e o coral dos alunos foi lindamente apresentado (anexo 18). Alguns idosos se emocionaram com as crianças e foram afagados por elas.

9º Um dia de aula com os avós

Buscando integrar esse trabalho com a família dos alunos, foi proposta a visita dos avós na escola para terem um dia de aula ao lado do seu neto. Os convites foram feitos formalmente por cada aluno e, no dia e hora marcados, lá estavam eles chegando para alegrar nossa manhã.

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As atividades programadas para o dia foram: conhecer o laboratório de informática, realizar um mosaico das mãos, lanchar com os alunos e visitar a biblioteca da escola. Não se pode mensurar a satisfação contida no rosto de cada uma das pessoas envolvidas com essas atividades: netinhos, netinhas, vovós, vovôs e até uma bisavó, todos reunidos na realização das atividades propostas (anexo 19), ora ajudando ora sendo auxiliados em suas dificuldades de colagem, de leitura, de manuseio do computador... cada um mostrando suas habilidades e exibindo suas dificuldades sem receio.

Durante a Hora do Conto, feita na biblioteca, foi apresentado o livro “Bisa Bia, Bisa Bel”, da autora Ana Maria Machado, o qual deixou os mais velhos encantados com a leitura, fazendo-os retornarem ao passado e relembrarem seus tempos de infância, quando ainda ouviam as histórias contadas pelos adultos.

O livro chamou a atenção de todos, pois conta a história da relação de uma menina chamada Isabel com sua bisavó Bia. Sua autora (Ana Maria Machado) conta que escreveu esse livro pela saudade que sentia das avós e queria falar sobre elas para os filhos, não imaginando que estaria fazendo bem a tantas outras pessoas que, inevitavelmente, já perderam seus avós e bisavós pelos caminhos da vida.

10° Valorização do conhecimento construído pelo idoso

Novas atividades curriculares foram agregadas ao projeto em desenvolvimento. Em virtude da aproximação das festas juninas, foi proposta uma entrevista com pessoas mais velhas para sabermos como essas festas eram comemoradas antigamente pelos moradores aqui da cidade de Marília e, para tanto, uma entrevista foi montada pelos alunos, contando com questões relativas ao assunto trabalhado. Tudo isso no intuito de construir conhecimentos sobre a História da cidade a partir do resgate e da valorização do conhecimento acumulado pela comunidade, em especial pela pessoa idosa.

Questões elaboradas pelos alunos

Conte como eram as Festas Juninas na sua infância

1. Onde aconteciam as Festas Juninas de antigamente? Quem organizava essas festas?

2. No passado, as Festas Juninas eram realizadas a noite? Por quê?

3. Quais brincadeiras havia nas Festas Juninas que você freqüentava quando criança?

4. Quais as comidas típicas que havia? Eram vendidas durante a festa, assim como são hoje?

5. Descreva, detalhadamente, como eram os trajes usados na festa.

6. Quais as músicas que animavam as Festas Juninas de antigamente? Cite o nome daquelas que se lembrar.

7. Que tipo de dança tinha nas antigas Festas Juninas que freqüentava?

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8. Do que você sente saudade das Festas Juninas de antigamente? Por quê?

A partir da socialização das respostas trazidas pelos alunos, foi possível elaborar um texto coletivo resgatando as antigas tradições juninas (anexo 20) e também criar um texto em quadrinhos contando como as festas juninas eram comemoradas antigamente em nossa cidade (anexo 21), material que serviu de estudo e consulta para as demais terceiras séries da escola que também estudavam a história local.

Ainda trabalhando com as informações coletadas nessa entrevista realizada, a classe retornou ao estudo do tema junino, sendo proposta uma pesquisa on-line no laboratório de informática, a fim de encontrarem as receitas típicas das festas juninas, citadas pelos entrevistados. Com elas, cada um elaborou seu porta-receitas (anexo 22) para presentear a pessoa idosa entrevistada, como forma de agradecimento.

11° Campanha de arrecadação de agasalhos

Buscando envolvimento da comunidade escolar, os alunos organizaram uma campanha de arrecadação de agasalhos para doação aos idosos do recanto “Casa do Caminho”. Assim, solicitaram autorização da direção da escola e passaram em todas as classes pedindo a contribuição de todos. Diariamente, reforçavam o recado e recolhiam as doações feitas (anexo 23). A meta estabelecida por eles (100 peças arrecadadas) foi conseguida em duas semanas graças ao empenho de toda a comunidade escolar.

Agendada nova visita ao recanto, lá se foi a classe novamente, todos contentes por estarem entregando as doações conseguidas (anexo 24) e poderem diminuir um pouquinho da dificuldade passada pelos asilados queridos por eles.

Oportunamente, os alunos presentearam os idosos também com um porta-retrato (anexo 25) confeccionado por eles próprios, aproveitando as fotos usadas no início do projeto, quando escolheram um idoso para trocarem correspondências. O elo de amizade e de afeto estava cada vez mais forte entre as crianças e os idosos e lá no recanto, os alunos já se sentiam como se fossem “de casa”.

12° Novas reflexões sobre a velhice

Prosseguindo com o desenvolvimento do projeto, foi proposta à classe a audição da música “Velho pai” (interpretada por Jaine) com objetivo de despertar a sensibilidade dos alunos e exaltar as diferenças existentes entre o conteúdo trazido na letra dessa música e na letra da outra música já trabalhada “Couro de boi”.

MEU VELHO PAI

Meu velho paiPreste atenção no que eu lhe digoMeu pobre papai queridoEnxugue as lágrimas do rostoPor que papai que você chora tão sozinho?Me conta, meu papaizinho,O que lhe causa desgosto?

Estou notando que você está cansado

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Meu pobre velho adoradoSua filha está falandoQuero saber qual é a tristeza que existeNão quero ver você tristePor que é que está chorando?

Quando lhe vejo tão tristonho desse jeitoSinto estremecer meu peitoAo pulsar meu coraçãoMeu pobre pai, você sofreu pra me criarAgora eu vou lhe cuidarEssa é a minha obrigação

Não tenha medo, meu velhinho adoradoEstarei sempre a seu ladoNão lhe deixarei jamaisEu sou o sangue do seu sangue, papaizinhoNão vou lhe deixar sozinhoNão tenha medo meu pai

Você sofreu quando eu era ainda criançaNão me sai mais da lembrançaSeu carinho, seus cuidadosEu fiquei grande, estou seguindo meu caminhoE você ficou velhinhoMas estou sempre a seu lado

Meu pobre pai, seus passos longos silenciaramSeus cabelos branquiaramSeu olhar escureceuA sua voz quase que não se ouve maisNão tenha medo meu paiQuem cuida de você sou eu

Meu papaizinho, não precisa mais chorarSaiba que não vou deixarVocê sozinho, abandonadoEu sou seu guia, sou seu tempo e sou seus passosSou sua luz e sou seus braçosSua filha abençoada!

A partir dessa reflexão, foi realizada uma dinâmica de grupo chamada “Caixa surpresa”. Para tanto, foi solicitado aos alunos que escrevessem em um papel avulso uma pergunta para os colegas de classe que estivesse diretamente relacionada aos problemas enfrentados pelos idosos na sociedade atual, tal como a convivência familiar, o respeito, o afeto, o conhecimento, os direitos e a violência. Todas as questões foram colocadas em uma caixa surpresa para serem misturadas e sorteadas entre os alunos, de forma que cada um ficasse responsável por responder uma das perguntas elaboradas. A caixa surpresa foi passando de mão em mão e trazia realmente uma surpresa a cada resposta vinda dos alunos (anexo 26), demonstrando o quanto cresceram em conhecimento, ética e cidadania durante a execução do projeto.

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13° Sentindo na pele

Em continuidade às reflexões feitas acima, foi realizada mais uma dinâmica no quiosque da escola, agora com o intuito de fazer os alunos vivenciarem um pouco das dificuldades passadas pelos idosos no dia-a-dia, devido aos problemas causados por determinadas debilidades físicas. Diante disso, alguns alunos se dispuseram a participar das atividades preparadas (anexo 27): alguns tiveram a visão tapada, outros tiveram mãos, braços ou pernas imobilizados e ainda teve aqueles que se locomoveram usando cadeira de rodas.

O reultado foi surpreendente entre a classe, pois não imaginavam que tais problemas comprometessem e causassem tanta insegurança na vida de uma pessoa. O relato dos alunos voluntários serviu de reflexão para todos, principalmente em relação aos cadeirantes, pois muitos obstáculos foram encontrados pelo caminho, tais como pedras, buracos, grama, areia e rampas que dificultaram a locomoção, obstáculos esses que nem eram levados em consideração pela maioria da classe.

14° Trabalho com texto

Objetivando resgatar o sentido amplo da palavra “família”, foi apresentada aos alunos a letra da música “Utopia” (interpretada por Padre Zezinho). Primeiramente, foi feita a leitura silenciosa do texto pela classe e depois foi solicitado que recontassem a história em versos que acabaram de ler. Surgiram histórias bem interessantes, baseadas nos fatos apresentados no texto e outros criados por eles mesmos (alguns alunos até acrescentaram idosos no seio familiar). A seguir, foi feita a audição da música e os alunos cantaram juntamente com o intérprete.

Posteriormente, foi lançada a proposta de produção de um texto em prosa (anexo 28), a partir do que estava sendo cantado e contado na música em questão. O resultado foi muito bom, pois os alunos atenderam a proposta e elaboraram histórias de vida que anseiam viver hoje em dia, haja vista o alto índice de famílias desestruturadas que nos deparamos diariamente.

UTOPIA

Das muitas coisas do meu tempo de criançaGuardo vivo na lembrança O aconchego do meu lar

No fim da tarde, quando todos se aquietavam,A família se ajuntava lá no alpendre a conversarMeus pais não tinham nem escola e nem dinheiroTodo dia, o ano inteiro, trabalhavam sem pararFaltava tudo, mas a gente nem ligavaO importante não faltavaSeu sorriso e seu olhar

Eu, tantas vezes, vi meu pai chegar cansadoMas aquilo era sagradoUm por um ele afagavaE perguntava quem fizera estripulia

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E mamãe nos defendiaE tudo aos poucos se ajeitava

O sol se punha, a viola alguém traziaTodo mundo então pediaPro papai cantar com a genteDesafinado, meio rouco e voz cansadaEle cantava mil toadasSeu olhar no sol poente

Correu o tempo e hoje eu vejo a maravilha De se ter uma família Quando tantos não a têmAgora falam do desquite ou do divórcioO amor virou consórcioCompromisso de ninguém

Há tantos filhos que bem mais do que um palácioGostariam de um abraçoE do carinho entre seus paisSe os pais amassem O divórcio não viriaChamam a isso de utopiaEu a isso chamo paz

15° Adote um amigo da 3ª idade

Assim como os 28 alunos da classe envolvidos nesse projeto, outras pessoas da comunidade escolar também contribuíram para o bem-estar dos abrigados do recanto.

Em uma das reuniões pedagógicas, três representantes da classe expuseram o trabalho que estava sendo feito com a turma e algumas das dificuldades pelas quais os asilados passavam. Feito isso, os alunos propuseram aos professores a adoção simbólica dos idosos. Cada um “escolheu” uma das pessoas moradoras do recanto através de um painel de fotos e se preparou para a visita que faria na semana seguinte, junto ao grupo de docentes.

Os alunos não puderam acompanhá-los nessa visita, mas as fotos (anexo 29) revelaram que foi um acontecimento importante e raro na vida de muitos, basta analisar a expressão de cada pessoa envolvida nessa atividade. Não restam dúvidas que essa foi uma lição de vida para todos que, embora hoje sejam jovens, independentes e saudáveis, não estão livres desse processo natural de envelhecimento e, conseqüentemente, das suas mazelas.

16º Revendo valores e atitudes

Depois do desenvolvimento de toda a seqüência didática planejada, os alunos foram novamente questionados acerca da possibilidade de uma pessoa morar em um asilo quando velhinha. Surpreendentemente, mas já esperado devido o elevado grau de envolvimento dos alunos durante o projeto, a segunda pesquisa de opinião (anexo 3) revelou a mudança quase que hunâmine de postura entre os alunos, os quais

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falavam com segurança sobre esse problema que envolve toda a sociedade, pautados num conhecimento adquirido na prática e na teoria, dentro e fora da sala de aula.

17° Hora do Conto

Partindo do pressuposto que a leitura abre portas para um novo mundo, foi organizada com a classe a “Roda da Leitura”, tendo o objetivo de divulgar as leituras realizadas dentro da escola e levá-las para além de seus muros, adentrando as dependências do recanto “Casa do Caminho” e na alma de cada um dos seus moradores.

Assim, abrindo esse círculo de leitura, foi apresentado aos alunos o livro de literatura infantil intitulado “Guilherme Augusto Araújo Fernandes”, do autor Mem Fox. Os alunos adoraram as ilustrações, os personagens (a maioria eram pessoas idosas ou de idade já avançada que moravam em um asilo) e o enredo da história, que tratava da amizade entre um jovem menino e uma velha senhora.

Após essa leitura, os alunos foram convidados à participação mais ativa nessa atividade, sendo solicitado a cada um deles que selecionasse o livro que mais lhe despertou o interesse durante suas leituras realizadas na biblioteca da escola ou em casa, no intuito de divulgá-lo entre a classe e lê-lo para as pessoas asiladas.

Excitados com a idéia de nova visita ao recanto, todos se dedicaram a leitura dos livros selecionados (anexo 30) e ensaiaram bem a leitura antes do dia combinado, lendo em voz alta para a classe, para os colegas, para si próprio, para os familiares e até frente ao espelho.

Novamente os alunos saíram em visita aos idosos no recanto e, em cantinhos improvisados e espalhados por várias dependências do prédio onde os idosos residem, fizeram a leitura dos livros a todos aqueles que se interessaram por essa atividade. Muitos idosos resistiram a leitura no início, mas logo foram enredados por essa força invisível que traz encantamento, alegria e esperança ao mundo: a leitura.

De volta a escola, foi lida para os alunos a mensagem para reflexão individual:

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RESULTADOS OBTIDOS

Durante o desenvolvimento do projeto, os alunos demonstraram maior sensibilidade e respeito com as pessoas mais velhas. Até mesmo dentro da escola, com os funcionários de idade mais avançada, o relacionamento mudou e surpreendeu a todos pelo novo comportamento da turma, agora mais calma, paciente e tolerante com a fragilidade do ser humano.

A segunda pesquisa de opinião feita já no final do projeto também evidencia que os alunos passaram a compreender melhor a importância da convivência familiar para as pessoas idosas, destarcando a possibilidade de abrigarem os idosos em um asilo, recanto ou casa de repouso, como acreditavam ser o melhor para essas pessoas logo no início do projeto.

Os alunos aprenderam ainda a se colocar mais no lugar do outro, a refletir melhor sobre as conseqüências de seus atos, a cooperar com aqueles que necessitam, a respeitar o limite físico de cada um e a dar mais importância à saúde e às pequenas alegrias da vida.

Muitos alunos criaram vínculos afetivos com o idoso que trocaram correspondência, como é o caso dos alunos Mariane e Lucas, que passaram a ser tratados como netinhos dos idosos Maria da Conceição e Sebastião, trocando afeto e confidências.

Também a família dos alunos foram envolvidas com o trabalho realizado em sala de aula e, além da participação dos avós, muitos pais foram incentivados por seus filhos a visitarem os idosos do recanto nos finais de semana. Alguns pais parabenizaram e valorizaram muito o trabalho realizado com os alunos, agora mais conscientes e preocupados com os problemas enfrentados pela população idosa de hoje que, se não resolvidos adequadamente, serão grande empecilho também na velhice de nossa geração.

Esse trabalho desenvolvido com os alunos, a escola e a família também gerou mais frutos: foi ganhador do “Selo Escola Solidária 2007” e se encontra divulgado no site do “Instituto Faça Parte” (www.facaparte.org.br), mais uma forma de mostar a todos que é possível mudar a educação e, por conseqüência, a sociedade em que vivemos.

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AVALIAÇÃO

Ainda que muitos teçam comentários e elaborem conclusões pessimistas que invalidam o sistema educacional brasileiro, há aqueles que lutam por sua melhoria e validação. Ao deslumbrarmos os fracassos, por vezes nos esquecemos de atentar para os pequenos gestos e atitudes que fazem da escola um espaço vivo, dinâmico e múltiplo.

O projeto descrito aqui atingiu os objetivos propostos e cumpriu com as ações planejadas, tornando possível um trabalho interdisciplinar voltado para a formação ética e cidadã dos indivíduos, baseada na compreensão da importância da construção de uma sociedade capaz de agregar novos papéis e significados para a vida na idade avançada.

O grande envolvimento da comunidade escolar na arrecadação de agasalhos e na adoção simbólica de um dos idosos mostra que a sociedade não está alheia a essa problemática, mas que faltam ações mais concretas de todos para que a realidade mude. Investir no processo de formação e conscientização dos alunos é o que temos de mais urgente e prudente a se fazer hoje, objetivando uma mudança social a partir da base da sociedade: as crianças.

O fato de a população estar envelhecendo pode significar uma possibilidade de amadurecimento dos atos e das relações sociais, econômicas, culturais e espirituais da humanidade em geral, o que pode contribuir em muito para paz e o desenvolvimento globais no século XXI e a escola não pode ficar alheia aos problemas que influenciam a formação dos alunos.

Sendo a sala de aula um espaço complexo, contraditório, cultural, histórico e múltiplo, é fundamental que a nova geração seja engajada em causas sociais como esta, sendo o professor o intermediário entre o aluno e o processo de apropriação-produção do saber como condição indispensável a uma participação organizada e ativa na sociedade a qual pertence.

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ANEXOS

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