REFLEXOS DA CULTURA NORDESTINA NA TOPONÍMIA ACREANA:

download REFLEXOS DA CULTURA NORDESTINA NA TOPONÍMIA ACREANA:

If you can't read please download the document

description

Este artigo apresenta as contribuições culturais que os nordestinos, especialmente cearenses, deixaram para a formação sócio-cultural do Acre, refletidas no acervo toponímico.

Transcript of REFLEXOS DA CULTURA NORDESTINA NA TOPONÍMIA ACREANA:

Alexandre Melo de Sousa Universidade Federal do Acre UFAC [email protected] Consideraes Iniciais A Toponmia um dos ramos da Onomstica que trata do estudo dos nomes prprios de acidentes geogrficos fsicos e humanos mostra que, atravs do levantamento, da classificao e da anlise dos topnimos, possvel recuperar caractersticas scio-histrico-culturais e/ou fsico-geogrficos que, possivelmente, motivaram o denominador no ato do batismo de um determinado espao geogrfico. Alm disso, possibilita identificar estratos lingsticos de outros grupos tnicos. Assim, o topnimo assume valores que transcendem a funo identificadora, simplesmente. Sabe-se, tambm, que a anlise da cultura e do conjunto de valores de uma sociedade exige, precipuamente, um estudo centrado na lngua j que por meio dela que so revelados os pensamentos e os costumes dos diferentes grupos humanos. A lngua traduz toda uma cultura, traduz todo um universo peculiar com suas implicaes psicolgicas e filosficas que preciso alcanar para enriquecimento da experincia (BORBA, 1984, p. 07). Diante dessas consideraes, neste artigo objetivamos discutir alguns aspectos referentes toponmia dos seringais e colocaes acreanas, num enfoque etnolingstico. Prioriza-se investigar as marcas da cultura nordestina que possivelmente estejam refletidas nos topnimos selecionados. Essa escolha no fortuita, uma vez que a histria da formao acreana revela, como um de seus principais personagens, o grupo humano (a maior parte proveniente do Cear) nordestino, que chegou ao territrio para trabalhar na extrao do ltex, favorecendo a formao dos seringais, do Estado e da prpria cultura do lugar. 1 O Acre: aspectos histricos e culturais O Estado do Acre, a conhecida Amaznia Ocidental Brasileira, est situado a sudoeste da Regio Norte do Brasil e se limita com: Amazonas (N); Rondnia (L); Bolvia (SE); e Peru (S e O). O Estado, cuja capital Rio Branco, tem, como cidades mais populosas, alm da capital: Cruzeiro do Sul, Tarauac, Sena Madureira e Brasilia. Revelar a histria acreana, especialmente no tocante formao espacial e humana, contar a histria do descobrimento da hevea brasilienses a seringueira: elemento que melhor representa a gnese do referido local, pois, foi a partir do produto extrado dessa rvore o ltex que contingentes, cada vez maiores, de imigrantes foram ocupando a regio, com a finalidade de trabalhar como extratores do ouro branco, cobiando grandes lucros e uma vida digna. Com a chegada dos primeiros exploradores, a regio foi, aos poucos sendo demarcada, dando origem aos seringais e s colocaes que se formavam s margens das principais bacias hidrogrficas acreanas o Rio Juru e o Rio Purus. Para essas populaes, os rios eram de extrema importncia scio-econmica, pois eram utilizados para a locomoo, para a comunicao, para a alimentao. Enfim, para o habitante amaznico, de um modo geral, o rio significava (e significa) a prpria existncia humana (Cf. Tocantins, 1984, p. 32). A migrao para terras acreanas adquiriu maior impulso entre 1877 e 1879, quando houve a maior crise scio-econmica na Regio Nordeste (sobretudo no Cear), decorrente da forte seca que assolou a regio. Essa crise, somada ao incentivo e financiamento pelo Estado do Amazonas , favoreceu a migrao desses povos para a regio. Lima (s/d, p. 24) registra que [...] a primeira expedio a chegar em terras acreanas, foi a do cearense de Uruburetama, Joo Gabriel, com sua gente, no navio vapor Anajs, aportando nas barrancas do Acre (Aquiri), fundando os primeiros seringais e formando os primeiros ncleos populacionais. Os imigrantes nordestinos, a partir de um rduo trabalho nos seringais,

favoreceram que a economia da borracha desenvolvesse de forma acelerada, e a grande presena dos brasileiros no Acre comeou a inquietar a Bolvia que, por inmeras vezes, tentou expuls-los do territrio, sem sucesso. Embora o governo brasileiro reconhecesse a regio acreana como parte do territrio boliviano, muitos brasileiros insistiam em permanecer l. Lutas foram travadas em diversas ocasies entre os pases vizinhos, segundo Calixto (1985, p. 119-129), na tentativa de incorporar o Acre ao territrio brasileiro, o Governo do Brasil acabou por convidar o gacho Plcido de Castro, para treinar seringueiros para prticas militares e liderar o movimento contra os inimigos bolivianos. Apesar da inexperincia dos seringueiros, as tropas de Castro, aps sucessivas batalhas, foram vitoriosas, derrotando o ltimo foco de resistncia boliviana em Puerto Alonso. Com a chegada dos primeiros exploradores, a regio foi, aos poucos sendo demarcada, formando os seringais e as colocaes s margens das principais bacias hidrogrficas acreanas Rio Juru e Rio Purs de extrema importncia scioeconmica para a locomoo, para a comunicao, para a alimentao, enfim, para a prpria existncia dessas novas populaes (Cf. Tocantins, 1984, p. 32). O processo migratrio para a regio acreana tem maior impulso entre 1877 e 1879, quando houve a maior crise scio-econmica na Regio Nordeste (sobretudo no Cear), decorrente da forte seca que assolou a regio. Essa crise, somada ao incentivo e financiamento pelo Estado do Amazonas , favoreceu a migrao desses povos para a regio. Lima (s/d, p. 24) registra que [...] a primeira expedio a chegar em terras acreanas, foi a do cearense de Uruburetama, Joo Gabriel, com sua gente, no navio vapor Anajs, aportando nas barrancas do Acre (Aquiri), fundando os primeiros seringais e formando os primeiros ncleos populacionais. Pode-se dizer que, particularmente para o povo acreano, seringueira, seringal, seringueiro e seringalista configuram elementos imprescindveis no perfil sciohistrico-cultural de seu lugar e de sua gente: traduzem o principal motivador (seringueira) da formao espacial (seringal) e dos elementos humanos (seringueiro e seringalista) que favoreceram o surgimento do Estado do Acre que conhecemos atualmente. Assim, torna-se evidente que sem a atuao dos seringueiros, possivelmente, o Acre no pertenceria ao Brasil. No entanto, como lembra Sousa (2007, p. 45), apoiado em Tocantins (1979) e Calixto et al. (1985), a formao humana da referida rea no se deu to somente com a entrada dos desbravadores nordestinos. Pelo menos dois outros momentos devem ser destacados: um momento anterior: a existncia no territrio de sociedades indgenas; e um posterior: a chagada de grupos familiares provenientes do Sul e do Sudeste do Brasil. [...] a regio onde hoje est situado o Estado do Acre j estava ocupada muito antes da chegada de colonizadores, por ndios pertencentes a grupos diversos. Antes da descoberta da borracha havia 50 grupos indgenas. Hoje, calcula-se a presena de apenas doze etnias (SOUSA, 2007a, p. 45). As naes indgenas existentes no Acre podem ser distribudas em dois troncos lingsticos: a) Pano (Naes: Kaxinaw, Yawanaw, Poyanaw, Jaminaw, Nukini, Arara, Shanenaw, Kutukina, Nawas); e, b) Aruak (Naes: Kulina, Ashaninka, Manchinery) (Cf. SOUZA, 2005, p. 25-26). Os ndios pertencentes aos referidos troncos tm procedncia peruana e chegaram ao Acre motivados pela intensa perseguio espanhola. Chegando regio, os ndios do Tronco Pano passaram a dominar a regio do Rio Juru, e os do Tronco Aruak, a regio do Rio Purus. O elemento indgena ou caboclo amaznico, como prefere chamar Lima (s/d, p. 62-63) constitui o primeiro ramo tnico formador do homem acreano. O nordestino, por sua vez, constitui o segundo ramo tnico. Como j foi dito anteriormente, esse grupo humano abrigava-se em terras acreanas em busca de uma vida de farturas, riquezas. Outras vezes, buscava na floresta um alvio para o

sofrimento favorecido pela intensa seca que castigava impiedosamente sua regio de origem. O povoamento da regio acreana, desde a primeira fase migratria, resultou, inicialmente, do encontro do elemento indgena com o elemento nacional nordestino. Os nativos transmitiram aos imigrantes conhecimentos e habilidades imprescindveis para a sobrevivncia e o trabalho no meio florestal que era absolutamente adversa da sua terra de origem. O seringueiro, isto , o grupo social representante da Amaznia, trouxe um conjunto de traos culturais dos lugares de onde emigrou e, em contato com o novo ambiente, sofreu um processo de aculturao, surgindo assim novos valores na indstria extrativa da borracha (COLHO, 1982, p. 45). A influncia do nativo sobre o conquistador, segundo Rancy (1992, 51-53) est refletida: a) na alimentao: aproveitamento dos recursos naturais; b) na habitao: adequada utilizao dos produtos florestais na confeco das barracas; c) nos meios de locomoo: abertura de caminhos na selva, ou mesmo na fabricao e utilizao de pequenas embarcaes; entre outros. Enfim, para garantir sua sobrevivncia naquele ambiente, o rude seringueiro assimilou muitos hbitos e valores dos nativos, alm dos j citados, acrescente-se a) o vocabulrio utilizado para a identificao de espcies animais e vegetais, ou para os elementos geogrficos que integram o ambiente onde viviam; b) as crenas e lendas existentes na regio que, de algum modo, passaram a orientar a vida e o trabalho dos desbravadores da selva. J o terceiro ramo tnico, segundo Lima (s/d, p. 64-65), teve uma participao menor nesse processo de miscigenao. Eram srios, libaneses, turcos, judeus e outros comerciantes de tradio. Eles vinham para o Acre em busca do enriquecimento, atravs da comercializao da borracha e da castanha. As marcas do branco eurasiano, contudo, podem ser percebidas em certas caractersticas fsicas do homem genuinamente acreano, bem como no processo civilizatrio dessa populao nortista. Boa parte desses estrangeiros integrava o sistema de exportao da borracha, outros atuavam como seringalistas, seringueiros, marreteiros chegando, at, a possuir navios e grandes casas comerciais na regio. H que se acrescentar, ainda, um quarto ramo tnico que participou da formao humana do Acre: os paulistas denominao genrica atribuda, pela populao, aos imigrantes provenientes da regio centro-sul do Brasil, na dcada de 1970, que aportaram na regio acreana com o propsito de estabelecer fazendas e desenvolver atividades pecurias. Esses quatro grupos tnicos justificam o carter multicultural da populao acreana, misto de tradies indgenas locais com as tradies dos migrantes nordestinos que povoaram a regio, a partir do incio do sculo XX, dos estrangeiros e dos migrantes de outras regies do Brasil. A presena de tribos indgenas, de outras nacionalidades e de brasileiros de vrias regies, se manifesta nas crenas e valores, nos hbitos e costumes, nas variaes do falar acreano e o jeito de sentir e agir da gente da cidade (BEZERRA, 1993, P. 26). Ao se acreanizarem, esses grupos foram, pouco a pouco, perdendo uma parcela de sua identidade cultural original, mas, ao mesmo tempo, absorvendo costumes, comportamentos e crenas da cultura nativa, exigidos pelas prprias condies ambientais e sociais. 2 Aspectos Metodolgicos da pesquisa Os dados apresentados e analisados neste trabalho, selecionados do corpus do Projeto Atlas Toponmico da Amaznia Ocidental Brasileira, uma das pesquisas em operacionalizao no CEDAC/UFAC (Centro de Estudos Dialetolgicos da Universidade Federal do Acre), tem como fontes principais: a) folhas cartogrficas do Estado do Acre (2006) e da Amaznia Legal,

disponibilizadas pelo IBGE/AC; b) mapas cartogrficos (1990): Microrregio do Alto Juru (escala 1:2000 000), Cruzeiro do Sul (escala 1:660 000), Feij (escala 1:750 000), Mncio Lima (escala 1:400 000), Tarauac (escala 1:800 000), Microrregio Alto Purus (escala 1:2000 000), Assis Brasil (escala 1:330 000), Brasilia (escala 1:330 000), Manuel Urbano (escala 1:750 000), Plcido de Castro (escala 1:300 000), Rio Branco (escala 1:600 000), Senador Guiomard (escala 1:300 000), Sena Madureira (escala 1:800 000), Xapuri (escala 1:500 000); fornecidos pela Fundao de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC); c) dados do Programa Estadual de Zoneamento Ecolgico-Econmico do Estado do Acre (2000), fornecidos pela Secretaria de Estado de Cincia, Tecnologia e Meio Ambiente (SECTMA); d) inquritos (corpus) do Centro de Estudos Dialectolgicos do Acre (CEDAC), da Universidade Federal do Acre. Para a catalogao e a anlise dos dados seguem-se as orientaes de Dick (1992, 1996), que leva em considerao dois critrios analticos: o taxionmico (que envolve as 27 classificaes taxionmicas), e o aspecto lingstico (que envolve o campo etno dialetolgico e o histrico cultural). As categorias taxionmicas so distribudas em dois grandes grupos: a) Taxes de Natureza Fsica e b) Taxes de Natureza Antropo-Cultural. 2.1 Taxionomias de Natureza Fsica: definies e exemplificaes a) Astrotopnimos: topnimos relativos aos corpos celestes em geral. Ex. Estrela (RS); b) Cardinotopnimos: topnimos relativos s posies geogrficas em geral. Ex. Nortelndia (MT); c) Cromotopnimos: topnimos relativos escala cromtica. Ex. Branquinha (AL); d) Dimensiotopnimos: topnimos relativos s dimenses dos acidentes geogrficos. Serra Alta (SC); e) Fitotopnimos: topnimos relativos aos vegetais. Ex. Flores (PE); f) Geomorfotopnimos: topnimos relativos s formas topogrficas. Ex. Morros (MA); g) Hidrotopnimos: topnimos relativos a acidentes hidrogrficos em geral. Ex. Cachoeirinha (RS); h) Litotopnimos: topnimos relativos aos minerais ao constituio do solo. Ex. Areia (PB); i) Meteorotopnimos: topnimos relativos a fenmenos atmosfricos. Ex. Chuvisca (RS); j) Morfotopnimos: topnimos relativos s formas geomtricas. Ex. Volta Redonda (RJ); l) Zootopnimos: topnimos referentes aos animais. Ex. Cascavel (CE) 2.2 Taxionomias de Natureza Antropo-Cultural: definies e exemplificaes a) Animotopnimos (ou Nootopnimos): topnimos relativos vida psquica, cultura espiritual. Ex. Vitria (ES); b) Antropotopnimos: topnimos relativos aos nomes prprios individuais. Ex. Barbosa (SP); c) Axiotopnimos: topnimos relativos aos ttulos e dignidades que acompanham nomes prprios individuais. Ex. Coronel Ezequiel (RN); d) Corotopnimos: topnimos relativos a nomes de cidades, pases, estados, regies e continentes. Ex. Seringal Quixad (AC); e) Cronotopnimos: topnimos relativos aos indicadores cronolgicos representados pelos adjetivos novo(a), velho(a). Ex. Nova Aurora (GO); f) Ecotopnimos: topnimos relativos s habitaes em geral. Ex. Chal (MG); g) Ergotopnimos: topnimos relativos aos elementos da cultura material. Ex. Jangada (MT); h) Etnotopnimos: topnimos relativos aos elementos tnicos isolados ou no (povos, tribos, castas). Ex. Capixaba (AC); i) Dirrematopnimos: topnimos constitudos de frases ou enunciados lingsticos. Ex. Passa e Fica (RN); j) Hierotopnimos: topnimos relativos a nomes sagrados de crenas diversas, a efemrides religiosas, s associaes religiosas e aos locais de culto. Ex. Capela (AL). Esse categoria subdivide-se em: i. Hagiotopnimos: nomes de santos ou santas do hagiolgio catlico romano. Ex. Santa Luzia (BA) ii. Mitotopnimos: entidades mitolgicas. Ex. Exu (PE); l) Historiotopnimos: topnimos relativos aos movimentos de cunho histrico, a seus membros e s datas comemorativas. Ex. Plcido de Castro (AC); m) Hodotopnimos: topnimos relativos s vias de comunicao urbana ou rural. Ex. Ponte Alta (SC); n) Numerotopnimos: topnimos relativos aos adjetivos numerais.

Ex. Dois vizinhos (PR); o) Poliotopnimos: topnimos relativos pelos vocbulos vila, aldeia, cidade, povoao, arraial. Ex. Vila Nova do Mamor (RO); p) Sociotopnimos: topnimos relativos s atividades profissionais, aos locais de trabalho e aos pontos de encontro da comunidade, aglomerados humanos. Ex. Pracinha (SP); q) Somatopnimos: topnimos relativos metaforicamente s partes do corpo humano ou animal. Ex. Brao do Trombudo (SC). Vale ressaltar que esse mesmo modelo de anlise utilizado no Projeto ATB (Atlas Toponmico do Brasil) e em suas variantes regionais: Projeto ATESP (Atlas Toponmico do Estado de So Paulo), Projeto ATEMG (Atlas Toponmico do Estado de Minas Gerais), Projeto ATEMT (Atlas Toponmico do Estado de Mato Grosso) entre outros. 3 Anlise dos dados Como o objetivo deste trabalho mostrar reflexos da cultura nordestina na toponmia acreana, deter-nos-emos aos topnimos includos nas taxionomias de Natureza Antropo-Cultural. Destacamos as seguintes taxes: Corotopnimos e Hierotopnimos. 3.1 Os corotopnimos Os topnimos selecionados do corpus e includos entre os corotopnimos deixam transparecer dois aspectos possveis: o primeiro est relacionado motivao sofrida pelo denominador (o seringueiro) no ato do batismo. Neste caso, transparece o sentimento de saudade da terra de origem (no caso dos topnimos destacados, as cidades localizadas no nordeste brasileiro) e, que, a partir dessa homenagem ele consegue manter um vnculo com sua terra natal. O segundo aspecto diz respeito ao do processo de miscigenao tnica, que constitui a gnese da formao populacional acreana. Embora os topnimos apresentados a seguir sejam apenas os que fazem referncia a cidades nordestinas, vlido esclarecer que outros topnimos foram encontrados no corpus referindo-se a cidades de outras regies e at de outros pases, como: Seringal Mato Grosso, Seringal So Paulo, Seringal Bolvia, Seringal Venezuela. So esses os topnimos que fazem referncia a cidades nordestinas: Altamira Redeno Morada Nova Apudi Cajazeira Canind Fortaleza Lavras Pernambuco Quixad Viosa 3.2 Os hierotopnimos Nesses topnimos h reflexos, talvez, de uma das maiores caractersticas culturais nordestinas: o misticismo religioso. Dadas as condies de vida dos seringueiros acreanos, solitrios, na maioria das vezes, num meio florestal, sujeito aos perigos advindos da prpria natureza ou as doenas tpicas desses meios, como a malria; justificvel o sentimento de f e crena religiosa nos seringueiros e em seus familiares. Eis os topnimos desse grupo: Santa Ana So Jos So Filismino

Santa Cruz SantaF Santa Jlia Santa Maria Santa Quitria Santo Antnio So Bento So Joo da Barra So Domingos So Joo So Pedro So Raimundo Vale apresentar alguns topnimos includos na categoria taxionmica Dirrematopnimos, mas que marcam a religiosidade dos seringueiros: Colocao Deus Bom Colocao Livre-nos-Deus CONSIDERAES FINAIS O perfil cultural da sociedade acreana, num sentido amplo e generalizante, constitui uma mescla de valores, atitudes, costumes, crenas, conhecimentos etc., que foi sendo construdo (e ainda est) desde os primeiros contatos dos imigrantes com os ndios que j ocupavam a regio. E, em seguida, com o branco eurasiano, e com os paulistas. A cultura acreana, em sntese, foi formada atravs das trocas de saberes, de prticas e de comportamentos entre esses referidos grupos humanos, especialmente. Na anlise dos topnimos de Natureza Antropo-Cultural: corotopnimos e hierotopnimos foi perceptvel, a priori, a valorizao dos aspectos scioculturais no ato de nomear as colocaes e os seringais acreanos. O valor atribudo aos referidos aspectos pode ser justificado pela prpria histria do grupo humano que formou o referido lugar (e que no difere da dos outros seringais acreanos): famlias que migraram para o local fugindo da seca (no caso dos nordestinos), na esperana de uma vida melhor, para si prprios e para os filhos, deparando-se com uma realidade fsico-geogrfica absolutamente diversa daquela de onde migraram, e no s isso, decepcionados com a realidade econmico social a que estavam sujeitos, chegando quase escravido. Para os seringueiros, portanto, os espaos onde, agora, moravam eram uma espcie de prolongamento da regio de onde tinham sado. Esse resultado confirma a tese sapiriana (1969) de que o ambiente (seja fsico, seja social) reflete-se na lngua. No caso do estudo aqui apresentado, o enunciador do topnimo, no ato do batismo dos acidentes analisados, condicionado por fatores fsico-ambientais, transformou uma unidade da lngua em um nome prprio, ou seja, de unidade virtual o signo adquiriu a estatuto de fato lingstico, condicionado for fatores extralingsticos. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ARAJO, M. G. J. de. Entre almas, encantos e cip. Campinas, SP: 1998. Dissertao (Mestrado) - Unicamp. BEZERRA, M. J. (org). Cidade de Rio Branco a marca de um tempo: histria, povo e cultura. Rio Branco: Globo, 1993. CALIXTO, V. de O. et al. Acre uma histria em construo. Rio Branco: Fundao de Desenvolvimento de Recursos Humanos, da Cultura e do Desporto/ Secretaria de Educao, 1985. COLHO, E. M. Acre: o ciclo da borracha (1903 1975). Niteri: 1982. Dissertao (Mestrado) UFF, 1982.

DICK, M. V. de P. do A. O problema das taxeonomias toponmicas. Uma contribuio metodolgica. Separata de Lngua e Literatura. n. IV, p. 373-380, 1975. __________. A motivao toponmica e a realidade brasileira. So Paulo: Arquivo do Estado, 1990. __________. Toponmia e Antroponmia no Brasil. Coletnea de estudos. So Paulo: Grfica da FFLCH/USP, 1992. __________. Atlas toponmico: um estudo de caso. Actas del XI Congreso Internacional de la Asociacin de Lingustica y Filologia de la Amrica Latina. Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, 1996. __________. Atlas toponmico: um estudo dialetolgico. Revista Philologus. Rio de janeiro, v. 10, 1998. DOSSE, F. Histria do estruturalismo. O campo do signo. Rio de Janeiro: Editora Ensaio, 1993. GUIRAUD, P. A semntica. So Paulo: DIFEL, 1973. ISQUERDO, A. N. O fato lingstico como recorte da realidade scio-cultural. So Paulo: 1996. Tese (Doutorado) Universidade Estadual Paulista. MARTINELLO, P. A. A batalha da borracha na segunda guerra mundial e suas conseqncias para o vale amaznico. Cadernos da UFAC. Rio Branco: EDUFAC, 1988. MOULY, G. J. Psicologia educacional. So Paulo: Pioneira, 1970. RANCY, C. M. D. Razes do Acre (1870 1912). Rio Branco: M. M. Paim, 1992. SALAZAR-QUIJADA, A. La toponmia em Venezuela. Caracas: Universidad Central de Venezuela, 1985. SOUSA, A. M. de. Desbravando a Amaznia Ocidental Brasileira: estudo toponmico de acidentes humanos e fsicos acreanos. Fortaleza, 2007. Tese (Doutorado) Universidade Federal do Cear. SOUZA, C. A. de. Histria do Acre: novos tempos e novas abordagens TOCANTINS, L. Formao histrica do Acre. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1979. ULLMANN, S. Semntica: uma introduo cincia do significado. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1964.