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César B. Gomes, Mery E.O. Couto & Regina M.D.G. Carneiro

Registro de Ocorrência de Meloidogyne mayaguensis em Goiabeirae Fumo no Sul do Brasil

César B. Gomes1*, Mery E.O. Couto2 & Regina M.D.G. Carneiro3

1Embrapa Clima Temperado, C. Postal 403, 96001-970 Pelotas (RS) Brasil.2Clínica Fitossanitária, convênio Emater RS e Embrapa Clima Temperado, C.Postal 403, 96001-970 Pelotas (RS) Brasil.

3Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, C.Postal 2372, 70849-970 Brasília (DF) Brasil.*Autor para correspondência: cbauer@cpact.embrapa.br

Recebido para publicação em 15 / 01 / 2008. Aceito em 12 / 05 / 2008Editado por Claudio Marcelo Oliveira

Resumo - Gomes, C.B., M.E.O. Couto & R.M.D.G. Carneiro. 2008. Registro de ocorrência de Meloidogynemayaguensis em goiabeira e fumo no Sul do Brasil.

Registrou-se pela primeira vez a ocorrência de Meloidogyne mayaguensis goiabeira (Psidium guajava) e fumo(Nicotiana tabacum) no Rio Grande do Sul (RS) e em Santa Catarina (SC), respectivamente. Plantas de fumo comfolhas amareladas e sistema radicular pobre, repleto de galhas e com muitas raízes apodrecidas, foram observadasnos municípios de Santa Rosa do Sul e Içara (SC). Sistema radicular severamente infestado foi encontrado emassociação com diversos graus de clorose e deficiência de nutrientes em seis pomares de goiaba em Roca Sales(RS). Após o processamento das amostras em laboratório, fêmeas foram extraídas e analisadas por eletroforese.Detectou-se apenas o fenótipo de esterase M2, típico de Meloidogyne mayaguensis, em ambos hospedeiros.Palavras-chaves: nematóide das galhas, Psidium guajava, Nicotiana tabacum, Santa Catarina, Rio Grande do Sul.

Summary - Gomes, C.B., M.E.O. Couto & R.M.D. Carneiro. 2008. Occurrence of Meloidogyne mayaguensis onguava and tabacco in South of Brazil.

Meloidogyne mayaguensis was reported for the first time on guava (Psidium guajava) and tobacco (Nicotianatabacum) in Rio Grande do Sul (RS) and Santa Catarina (SC) states, respectively. The tobacco plants collected inSanta Rosa do Sul and Içara (SC) showed yellowing leaves and poor root system, with root galling and decay.Roots of guava severally infected were associated with different levels of leaf chlorosis and nutrient deficiencysymptoms in six orchards in Roca Sales (RS). After the sample processing in the laboratory, females wereextracted and analyzed using electrophoresis procedure. The esterase phenotype M2, characteristic of M.mayaguensis was detected in both hosts.Key words: root-knot nematode, Psidium guajava, Nicotiana tabacum, Santa Catarina State, Rio Grande do SulState.

COMUNICAÇÃO

ConteúdoO fumo (Nicotiana tabacum L.) e goiabeira (Psidium

guajava L.) são culturas altamente suscetíveis aonematóide das galhas (Meloidogyne spp.). Prejuízosdecorrentes do parasitismo de ambas espécies vegetaispelo gênero Meloidogyne spp. têm sido freqüentementeassinalados nas regiões sul, sudeste e nordeste do

Brasil. De acordo com Sasser & Freckman (1987),perdas decorrentes do ataque de fitonematóides nacultura do fumo são estimadas em 14,7 %. Apesar denão existirem estudos mais detalhados sobre perdasno Brasil, Sudo (1997) enfatizou que um dos principaismotivos da queda da produtividade na cultura do fumoestá relacionado ao ataque por Meloidogyne spp. Já na

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cultura da goiabeira, infecções causadas por M.mayaguensis Rammah & Hirschmann têm sidofortemente associadas à redução drástica da produçãoe a morte das plantas atacadas, o que tem contribuídopara a diminuição do potencial produtivo dessa fruteiranas diferentes regiões brasileiras onde o nematóidefoi detectado (Carneiro et al., 2007).

Amostras de plantas de fumo e de goiabeira comsintomas de desequilíbrio nutricional e raízes altamenteinfestadas foram coletadas nos municípios de SantaRosa do Sul, Içara e Leoberto Leal, Santa Catarina, eRoca Sales, Rio Grande do Sul. Na ocasião da coletadas amostras de fumo, verificou-se que as plantasapresentavam-se com porte reduzido, intensoamarelecimento das folhas, além de exibirem raízescom elevado número galhas, associado à presença denecrose (Figura 1).

Por ocasião da coleta de amostras em seis pomaresde goiabeira (cultivares Paluma e Casca Dura) comaproximadamente oito anos de idade, foramobservadas plantas com sintomas de deficiêncianutricional, as quais exibiam: amarelecimento, seca dasextremidades da folha, área foliar reduzida, presençade ramos secos, morte parcial até a morte completada planta, sistema radicular reduzido, com poucasraízes secundárias e com muitas galhas grandes,necroses e apodrecimento das raízes (Figura 2).Durante a coleta, os proprietários dos pomaresamostrados informaram que os primeiros sintomasforam observados há dois anos e a produção haviasido reduzida em cerca de 50 % nesse período.

Imediatamente após a coleta de raízes de ambasespécies vegetais, o material foi processado emlaboratório para extração das fêmeas de Meloidogyne eposterior identificação específica por eletroforese, combase no polimorfismo de bandas esterásticas (Carneiro

& Almeida, 2001). Adicionalmente, foram feitos cortesda região perineal, para observação microscópica dospadrões perineais das fêmeas (Hartmann & Sasser,1985).

O perfil de esterase revelou o padrão M2 (Rm: 0,7;0,98), com duas bandas bem evidentes e duassuplementares (Rm: 0,8; 1,1), característico de M.mayaguensis (Carneiro et al., 2000), tanto nas amostrasde fumo, quanto nas raízes de goiabeira de seispomares do município de Roca Sales RS (Tabela 1,Figura 3). A análise das configurações perineais(Hartman & Sasser, 1985) não foi conclusiva devido àgrande variabilidade dos padrões. A introdução de M.mayaguensis no Rio Grande do Sul se deve muitoprovavelmente ao plantio de mudas de goiabeiracontaminadas provenientes de São Paulo. Entretanto,em Santa Catarina, não há registro de introdução deplantas goiaba nas áreas onde o nematóide foiencontrado, o que sugere a ocorrência natural dareferida praga nesse estado.

Convém ressaltar que M. mayaguensis está dizimandoa cultura da goiaba em Petrolina (PE), e já foi detectadaem diferentes estados do Nordeste e Sudeste, atacandodiferentes espécies vegetais além da goiabeira (Moura& Moura, 1989; Carneiro et al. 2001; Moreira et al.,2001; Lima et al., 2003, Torres et al, 2004, 2005, 2007;Almeida, 2006; Silva et al., 2006; Carneiro et al., 2006).Estima-se que essa praga já provocou redução de 70% da área plantada na região do Vale do São Franciscoem sete anos (Carneiro et al., 2007). Tentativas decontrole desse nematóide têm sido frustradas, devidoà indisponibilidade de porta-enxertos resistentes outolerantes no mercado, a ineficiência de nematicidasregistrados para cultura da goiaba e a morosidade dosórgãos de fiscalização competentes em vistoriar mudase conter a disseminação do nematóide. Dessa forma,

Tabela 1 - Locais de ocorrência e identificação das espécies de Meloidogyne sp. em goiabeira.

Pomar, município, estado Cultivar Espécie identificada

Três Pinheiros, Roca Sales RS Paluma M. mayaguensisTrês Pinheiros, Roca Sales RS Paluma M. mayaguensisTrês Pinheiros,Roca Sales RS Casca Dura M. mayaguensisMaracanã, Roca Sales RS Paluma M. mayaguensisMaracanã, Roca Sales RS Paluma M. mayaguensisVia Holanda, Roca Sales RS Paluma M. mayaguensis

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Figura 1 - Plantas de fumo infectadas com Meloidogyne mayaguensis, exibindo amarelecimento nas folhas, galhas e necrose nas raízes.

Figura 2 - Plantas de goiaba ‘Paluma’ em declínio causado por Meloidogyne mayaguensis: a) galhas nas raízes, b) amarelecimento, c)ramos secos.

Figura 3 - Fenótipos de esterase de M. mayaguensis (M2) provenientes de fêmeas obtidas de goiabeira (a) e fumo (b), e de M. javanica(J3).

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práticas preventivas são necessárias para evitar adisseminação dessa praga em áreas produtoras degoiaba nas quais não está presente.

AgradecimentosAo Técnico Agrícola Deoclésio Piccoli da Emater

de Roca Sales (RS) pelo auxílio na coleta das amostras.

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