RELAÇÃO ENTRE RISCO, TRABALHO E MEIO AMBIENTE...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM RELAÇÃO ENTRE RISCO, TRABALHO E MEIO AMBIENTE PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Paola da Silva Diaz Santa Maria, RS, Brasil 2013

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    RELAO ENTRE RISCO, TRABALHO E MEIO

    AMBIENTE PARA OS PROFISSIONAIS DE

    ENFERMAGEM

    DISSERTAO DE MESTRADO

    Paola da Silva Diaz

    Santa Maria, RS, Brasil

    2013

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    RELAO ENTRE RISCO, TRABALHO E MEIO AMBIENTE PARA OS PROFISSIONAIS DE

    ENFERMAGEM

    Paola da Silva Diaz

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

    Enfermagem na rea de concentrao Cuidado, Educao e Trabalho em

    Enfermagem e sade da Universidade Federal de Santa Maria como

    requisito parcial para a obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem

    Orientadora: Profa Dra Silviamar Camponogara

    Santa Maria, RS, Brasil

    2013

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    Universidade Federal de Santa Maria

    Centro de Cincias da Sade

    Programa de Ps-graduao em Enfermagem

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada,

    aprova a Dissertao de Mestrado

    RELAO ENTRE RISCO, TRABALHO E MEIO AMBIENTE

    PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

    Elaborado por

    Paola da Silva Diaz

    como requisito parcial para a obteno do ttulo de

    Mestre em Enfermagem

    COMISSO EXAMINADORA:

    Profa Enfa Dra Silviamar Camponogara (UFSM)

    (Presidente/Orientadora)

    Profa Enfa Dra Dirce Stein Backes (UNIFRA)

    (1 Examinadora)

    Profa Enfa Dra Carmem Lcia Colom Beck (UFSM)

    (2 Examinadora)

    Profa Enfa Dra Tnia Solange Bosi de Souza Magnago (UFSM)

    (1 Suplente)

    Santa Maria, abril de 2013.

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    DEDICATRIA

    Dedico esta dissertao a minha me Marlei Cristina da Silva, a qual de um jeito nico

    e de maneira preciosa esteve comigo em todos os momentos de minha vida, enchendo

    meu caminho de amor e ternura, a ti dedico toda a minha gratido, por me ensinar o

    verdadeiro sentido da vida, da amizade e do amor. Nosso encontro sempre esteve

    marcado!

    Da mesma forma no posso deixar de dedicar este trabalho, minha av Glaci Corra

    da Silva, sempre a tive como exemplo de vida e de grande profissional, por realizar seu

    trabalho com tanta dedicao, perseverana e amor. Seus traos esto entrelaados em

    mim, pois s minha fonte de inspirao!

    Tenho a certeza que sou abenoada por vocs existirem em minha vida.

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    AGRADECIMENTOS

    Ao final de uma etapa to especial da minha vida, me pego pensando em todos aqueles que

    tornaram esse sonho realidade, bem como tornaram essa conquista cheia de significados que

    guardarei com todo carinho em meu corao. Por isso agradeo...

    Deus, por estar comigo em todos os momentos, iluminando meu caminho, me dando fora e

    perseverana nos momentos mais difceis,

    minha orientadora e amiga querida, Silviamar Camponogara, por passar a fazer parte da

    minha vida de uma forma decisiva e nica. No tenho palavras para agradecer seu

    profissionalismo, sua compreenso e acima de tudo a sua amizade, voc foi um presente que

    ganhei ao escolher a Enfermagem como profisso, com voc tenho f em uma educao e

    assistncia digna e humana, obrigada por tudo,

    minha me Marlei, por sempre acreditar em mim, me encorajar e me compreender nos

    momentos de ansiedade e preocupaes, sempre me apoiando incondicionalmente em tudo que

    sonhei, muitas vezes abrindo mo de seus sonhos em benefcio dos meus. Obrigada minha

    amada me,

    s minhas avs Glaci e Norma, por sempre terem um lugar aconchegante, terno e quentinho

    para me acolher, por me incentivarem, apoiarem, e mostrarem o caminho certo,

    compartilhando tantos aprendizados e f,

    Ao meu pai Adalberto por estar de alguma forma sempre presente na minha vida e dos meus

    irmos, s muito importante para todos ns,

    Aos meus irmos, Camile, Isabelle, Henrique e Nicolas por compartilharem comigo tanto

    amor, compreenderem meus momentos de ausncia, vocs so a luz da minha vida, por vocs

    eu movo montanhas,

    Ao meu namorado, amigo e companheiro de todas as horas Jaderson Prochinski, s tenho a

    agradecer por poder contar contigo, obrigado por ouvir minhas angstias, meus medos, e me

    proporcionar segurana e confiana para seguir em frente, sou to grata pelo amor sincero que

    compartilhamos, e por todos os momentos que vivemos. Obrigada por entender meus momentos

    de ansiedade, de inquietaes e de ausncia, estar sempre no meu corao,

    querida famlia de meu namorado, Sandra, Otomar e Jailson, por me acolherem to bem,

    me apoiarem e me cuidarem, os tenho com todo meu carinho,

    minha madrinha Glani Corra de Medeiros, pelo exemplo, pela preocupao comigo,

    ateno e dedicao,

    minha tia Daniela Ribeiro, por me apoiar, me incentivar e compartilhar o amor pela

    profisso,

    Aos meus primos-irmos, Rachel, Nathan, Ricardo, e s minhas queridas amigas Tais,

    Karine, Nani, Mila e Andrea, pelos momentos de descontrao e de amizade. Vocs so muito

    especiais em minha vida,

    minha professora e amiga Carmem Lcia Colom Beck, por ter me acolhido no Grupo de

    Pesquisa Trabalho, Sade, Educao e Enfermagem, ter me apresentado pesquisa, ter me

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    oportunizado tantos aprendizados, por me apoiar e por dividir tantos momentos decisivos

    comigo, obrigada por fazer parte de minha histria, voc fez toda diferena em minha

    trajetria,

    professora Tnia Magnago, por ser essa pessoa to especial que contagia a todos com sua

    dedicao, perspiccia e ateno. Obrigada pelo seu cuidado comigo, guardo cada conselho

    seu com muito carinho. Voc teve um papel fundamental e especial em minha caminhada,

    professora Irm Dirce, pela ateno e acolhimento carinhoso, desde o primeiro momento

    que a contatei para participar de minha banca de defesa, obrigada pela sua dedicao e

    exemplo de pessoa e profissional to significativos para todos que tem o privilgio de passar

    por sua vida,

    Ao curso Tcnico de Enfermagem do Centro Universitrio Franciscano, o qual tive a

    oportunidade de trabalhar junto aos professores e alunos da turma 27, os quais tambm me

    impulsionaram e me motivaram a seguir buscando uma carreira acadmica, um obrigada

    especial aos meus primeiros alunos, hoje j formados e muitos j atuando na enfermagem, os

    guardarei com muito carinho em meu corao,

    Aos meus colegas de mestrado e do grupo de pesquisa e Estudos Trabalho, Sade, Educao

    e Enfermagem, especialmente os que fazem parte do eixo temtico Sade, Enfermagem e

    Meio Ambiente da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), pelo convvio, parceria,

    amizades e crescimento mtuo,

    Universidade Federal de Santa Maria, pelo ensino de qualidade desde minha graduao

    ps-graduao,

    Aos acadmicos do curso de Enfermagem da (UFSM), que fizeram parte de minha caminhada,

    por meio da docncia orientada, atividades e orientaes de iniciao cientfica, vocs tiveram

    papel fundamental em meu crescimento profissional e pessoal,

    Ao Programa de Ps-Graduao em Enfermagem (PPGENF) da UFSM, especialmente

    professora Stela, professora Marlene e Girlei, por tornarem esse sonho possvel e por me

    apoiar e auxiliar em todos os momentos que precisei,

    Aos professores do PPGENF, pela imensa contribuio em minha qualificao profissional,

    Aos sujeitos deste estudo, trabalhadores da enfermagem do HUSM, sem os quais, no seria

    possvel a concluso desta dissertao,

    Cordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior do Ministrio da Educao

    (CAPES) pela concesso da bolsa de mestrado, que a partir disso me oportunizou dedicao

    exclusiva ao curso.

    Sou eternamente grata a todos os que, embora no mencionados, esto guardados em meu

    corao, pois de alguma forma passaram pela minha vida e contriburam para a construo de

    quem sou hoje.

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    Por vezes sentimos que aquilo que fazemos no seno uma gota de gua

    no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.

    (Madre Teresa de Calcut)

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    RESUMO

    Dissertao de Mestrado

    Programa de Ps-Graduao em Enfermagem

    Universidade Federal de Santa Maria

    RELAO ENTRE RISCO, TRABALHO E MEIO AMBIENTE

    PARA OS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

    Autora: Paola da Silva Diaz

    Orientadora: Silviamar Camponogara

    Local e Data da Defesa: Santa Maria, 25 de abril de 2013.

    Ao pensar-se no contexto hospitalar em que trabalhadores de enfermagem esto

    inseridos, especialmente quando consideramos que, esto em contato com algumas

    situaes de risco presentes neste cenrio, bem como com os produtos resultantes das

    aes necessrias para realizao da assistncia de enfermagem, muitas questes podem

    ser exploradas. Uma delas est relacionada busca pela compreenso que os

    trabalhadores de enfermagem inseridos nesse contexto, possuem sobre risco e que

    correlaes isso pode ter com a sade e com o meio ambiente. Nesse sentido, os

    objetivos deste estudo foram: conhecer o que os trabalhadores de enfermagem atuantes

    no contexto hospitalar entendem por risco; evidenciar a percepo de trabalhadores de

    enfermagem sobre a exposio a riscos no contexto do trabalho hospitalar; e conhecer

    as percepes dos trabalhadores de enfermagem sobre a interface risco e meio ambiente.

    A investigao realizada classifica-se como descritivo-exploratria, de abordagem

    qualitativa, tendo sido realizada com trabalhadores de enfermagem de um hospital

    universitrio do Sul do Pas. A coleta de dados ocorreu por meio de 13 entrevistas

    semiestruturadas, com questes norteadoras a respeito da temtica investigada, e de

    observao no participante junto a equipes de enfermagem. Os dados foram coletados

    durante os meses de maio a setembro de 2012 e analisados com base no referencial

    proposto para anlise de contedo. Para atender os preceitos ticos foi cumprida

    integralmente a resoluo 196/96. Os resultados esto apresentados em trs artigos. O

    primeiro artigo est organizado em duas categorias: risco: um conceito vago e

    impreciso; e uma definio restrita sobre risco. O segundo artigo composto pelas

    categorias: riscos relacionados profisso, a relevncia dos riscos qumicos e

    biolgicos, risco psicolgico risco ergonmico e limitaes do uso adequado dos

    Equipamentos de Proteo Individual. Por fim, o terceiro artigo composto pelas

    categorias: risco e meio ambiente: outra histria; Risco e meio ambiente: a questo dos

    resduos; e a responsabilidade da enfermagem frente a interface risco e meio ambiente.

    Diante dos achados, refora-se a ideia de que em se tratando de Riscos, ainda h muito

    que se avanar em termos de propagao de conhecimento e de apropriao sobre a

    temtica. O que denota algo que deve ser cuidadosamente atentado pelos trabalhadores

    de enfermagem, uma vez que eles tm participao e papel fundamental em diversas

    questes que englobam riscos, tanto para a sade do trabalhador, como para os

    pacientes por eles assistidos e para o meio ambiente.

    Palavras- chave: Risco; Sade do trabalhador; Meio Ambiente; Enfermagem.

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    ABSTRACT

    Masters Dissertation

    Nursing Pos-Graduation Program

    Federal University of Santa Maria

    RELATION BETWEEN RISK AND WORK ENVIRONMENT FOR

    PROFESSIONAL NURSING

    Author: Paola da Silva Diaz

    Orientator: Silviamar Camponogara

    Place and Date of the defense: Santa Maria, april, 25th

    of 2013.

    When we think of the hospital context in which nursing staff are inserted, especially

    when considering that they are in contact with some risk situations present in this

    scenario as well as the "products" resulting from actions necessary to perform nursing

    care, many questions can be explored. One is related to the quest for understanding that

    nursing workers, inserted in this context, have about risk and correlations that this may

    have on health and the environment. In this sense the goals of this study were: to know

    what the nursing staff working in the hospital context mean by risk; highlight the

    perception of nursing workers about exposure to risks in the context of hospital work,

    and understand the perceptions of nursing staff on the interface environment and risk.

    The investigation is classified as descriptive and exploratory, qualitative approach and

    was conducted with nursing staff of a university hospital in southern Brazil Data

    collection occurred through 13 semi-structured interviews with leading questions about

    the topic investigated, and non-participant observation. Data were collected during the

    months from May to September 2012 and analyzed based on the proposed benchmark

    for content analysis. To meet the ethical was fulfilled in full resolution 196/96. The

    results are presented in three articles. The first article is organized into two categories:

    risk: a concept vague and imprecise, and a narrow definition of risk. The second article

    is composed by categories: risks related to the profession, the relevance of chemical and

    biological hazards, ergonomic risk and psychological risk limitations proper use of

    Personal Protective Equipment. Finally, the third article consists of the categories: risk

    and environment: another story; Risk and environment: the issue of waste, and the

    responsibility of nursing risk facing interface and environment. Given the findings, it

    reinforces the idea that in the case of risks, there is still much to advance in terms of

    spreading knowledge and ownership on the subject. What denotes something that

    should be carefully attempt by nursing staff, since they have a stake and role in various

    issues that involve risks, both for the health of workers, and for patients assisted by

    them and for the environment.

    Keywords: Risk; Occupational Health; Environment; Nursing.

  • 11

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Descrio do cenrio do estudo.............................................................

    33

    Quadro 2 Lista de artigos cientficos originados a partir dos resultados do

    estudo......................................................................................................

    40

  • 12

    LISTA DE ANEXOS

    Anexo A Autorizao do Comit de tica e Pesquisa 140

    Anexo B Autorizao da Direo de Ensino e Pesquisa do HUSM 143

  • 13

    LISTA DE APNDICES

    APNDICE A Artigo cientfico encaminhado a revista Index de Enfermera... 123

    APNDICE B Roteiro da observao no participante..................................... 135

    APNDICE C Roteiro da Entrevista Semi-estruturada...................................... 136

    APNDICE D Termo de Confidencialidade dos dados..................................... 137

    APNDICE E Termo de Consentimento livre e esclarecido............................. 138

  • 14

    SUMRIO

    1 INTRODUO................................................................................................ 15 1.2 A aproximao com a temtica........................................................................... 18

    Objetivos do estudo ............................................................................................. 19

    2 FUNDAMENTAO TERICA............................................................. 20 2.1 Conceitos e correlatos de risco............................................................................ 20

    2.2 Trabalho de enfermagem..................................................................................... 23

    2.3 Trabalho, Risco e Meio ambiente........................................................................ 25

    2.4 Delineando as produes na rea da Enfermagem sobre os temas: Sade do

    trabalhador, Meio Ambiente e suas relaes com a concepo de

    Risco.......................................................................................................................

    27

    3 UM DESENHO DO MTODO DE PESQUISA.................................. 32 3.1 Tipo de Pesquisa.................................................................................................. 32

    3.2 Cenrio da Pesquisa......................................................................................... 32

    3.3 Sujeitos da Pesquisa.............................................................................................. 34

    3.4 Coleta de Dados.................................................................................................... 35

    3.5 Anlise dos Dados................................................................................................. 37

    3.6 Consideraes ticas............................................................................................ 38

    4 RESULTADOS................................................................................................. 40 4.1 ARTIGO 1 - Concepo de risco para trabalhadores de enfermagem

    hospitalar...............................................................................................................

    41

    4.2 ARTIGO 2 - A exposio aos riscos na viso de trabalhadores de

    enfermagem hospitalares.....................................................................................

    61

    4.3 ARTIGO 3 - A inter-relao risco e meio ambiente na viso de

    trabalhadores de enfermagem.............................................................................

    88

    5 DISCUSSO..................................................................................................... 111

    CONSIDERAES FINAIS....................................................................... 115

    REFERENCIAS............................................................................................... 117

  • 15

    1 INTRODUO

    Com o avano da humanidade, especialmente num contexto de globalizao, a

    consolidao da denominada sociedade moderna e industrial indiscutvel, e,

    juntamente com ela, uma srie de novas questes inerentes a vida social mostram-se

    incertas. Pode-se dizer, de acordo com Giddens (1997), que o mundo social tornou-se,

    em grande parte, organizado de modo consciente, e a natureza moldou-se conforme uma

    imagem humana, mas estas circunstncias, pelo menos em alguns setores, criaram

    incertezas maiores, a despeito de seus impactos, jamais vistos antes.

    Dessa forma, riscos complexos e incertos apresentam, s sociedades modernas, o

    desafio de tomarem decises em contextos nos quais a falta de conhecimento sobre os

    possveis efeitos dos riscos e o que fazer em relao a eles assume um papel central

    (PORTO, 2005). Diante desse panorama, muitas questes que tm reflexos na vida de

    todos os seres humanos, relacionados a aspectos sociais, econmicos, religiosos,

    polticos, ambientais, dentre outros, comeam a se delinear em algumas discusses,

    tanto entre estudiosos, como entre a populao em geral.

    Nesse sentido, vrios temas so trazidos para o debate, dentre os quais, os que

    dizem respeito aos riscos originados pelas novas demandas das sociedades modernas.

    Essa questo to marcante, que tem sido alvo de debate entre socilogos

    contemporneos, os quais apontam que vivemos, contemporaneamente, numa

    Sociedade de Riscos, que, por sua vez, no podem ser medidos e controlados, atingindo

    a todos os indivduos, indistintamente (BECK, 1992; GIDDENS, 1991).

    Nessa perspectiva, a abordagem sobre a Sociedade de Risco, que de acordo com

    Beck, Giddens e Lash (1997), compreende um conceito utilizado para designar uma fase

    no desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, polticos,

    econmicos e individuais tendem, cada vez mais, a escapar das instituies para o

    controle e a proteo da sociedade, se faz veemente necessria. Esse debate, tem o

    intuito de buscar-se uma compreenso sobre a representatividade das aes executadas

    pelo homem, tanto para si, como para o meio com o qual se inter- relaciona.

    Depreende-se que, nesse contexto de Sociedade de Risco, o desenvolvimento de

    quaisquer aes, pode implicar em riscos para si ou para outrem, em quaisquer

    contextos em que o indivduo materialize suas prticas. Deste modo, entendendo que o

    risco existe para a pessoa exposta a ele, mas tambm ao meio ambiente como um todo,

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    reflexes sobre novas concepes de risco se fazem necessrias. Contudo, destaca-se

    esta tarefa como sendo um desafio, tendo em vista, de acordo com Castiel (2010), que

    no costuma ser simples estar atento, de modo sustentado, a todos os riscos que nos

    ameaam ao vivermos nossas vidas, sendo possvel afirmar que viver implica correr

    riscos.

    Os riscos da exposio a substncias nocivas sade se encontram presentes nos

    espaos de vida e trabalho. As discusses sobre o assunto j emergem no cenrio

    pblico, especialmente quando se refere poluio do meio ambiente, como por

    exemplo, as relacionadas a contaminao do ar e da gua. (CASTIEL, 2010).

    Nesse contexto, ao voltarmos o olhar para os espaos designados ao trabalho em

    instituies de sade, devemos atentar que muitas podem ser as situaes de exposio

    a riscos, que envolvem os trabalhadores desta rea. Algumas normas e

    regulamentaes, estabelecidas pelo poder pblico, estabelecem limites de tolerncia

    dos organismos contra riscos da exposio a substncias nocivas no meio ambiente. No

    entanto, os limites de tolerncia no fazem ainda parte, veementemente, da cultura e das

    normas de proteo da sade do trabalhador. (BITTAR, ITANI E UMBUZEIRO, 2009).

    Dentre a gama de situaes de trabalho que confrontam o trabalhador com

    situaes de risco, as que se referem ao trabalho da enfermagem merecem especial

    ateno. Estes profissionais so expostos a uma srie de riscos a sade, pois a presena

    de riscos ocupacionais, nos ambientes de trabalho desta categoria, inevitvel uma vez

    que o contato com fatores qumicos, biolgicos, fsicos, mecnicos, ergonmicos e

    psicossociais se faz presente em seu trabalho. (MARZIALE E RODRIGUES, 2002).

    Dessa forma, a ampliao do debate sobre aspectos que inter-relacionam o trabalho

    da enfermagem e o conceito de risco imprescindvel. Contudo, para alm de uma viso

    meramente pontual sobre situaes/fatores de exposio, considerados, muitas vezes,

    isoladamente, destaca-se a importncia de uma forma ampliada de debate sobre a

    questo do risco, tendo em vista o pressuposto que a anlise isolada de um determinado

    risco pode determinar um enfoque fragmentado do estudo, descontextualizando-o de

    toda a complexidade que o envolve. (CAMPONOGARA, 2008).

    Assim, a concepo de risco abrange uma srie de fatores a serem considerados.

    Para Castiel (2003) a abordagem sobre risco deve ir alm do aspecto epidemiolgico,

    envolvendo assim questes econmicas, ambientais, scio-culturais em geral, tendo em

    vista que influenciam a formao de matrizes identitrias e de subjetividades. Desse

  • 17

    modo, acredita-se que, em se tratando de risco e concepo de risco, ainda h muito que

    se caminhar.

    Existem diferentes maneiras de se entender o que de fato o risco ou um risco,

    porm, no mundo globalizado em que vivemos, faz-se relevante olhar essa questo sob

    distintos aspectos. Um deles tem relao com a questo ambiental, que est cada vez

    mais em voga, tangenciando diferentes contextos de sade, e, por conta disso, exigindo

    dos sujeitos, um posicionamento diferenciado sobre a questo dos riscos

    (CAMPONOGARA, 2008).

    Assim, ao falarmos em risco imprescindvel compreender que, novos riscos se

    conformam com a sociedade moderna, tornando-se imperioso, recorrer-se a

    fundamentao terica da sociologia, para compreender esse contexto. A esse respeito

    Guiddens (1991) diz que a modernidade um fenmeno de dois gumes, que por um

    lado cria oportunidades bem maiores para os seres humanos gozarem de uma existncia

    segura e gratificante que qualquer tipo de sistema pr-moderno e, por outro, configura

    um lado sombrio, que se tornou muito aparente no sculo atual, tendo como destaque a

    degradao do meio ambiente.

    Ademais, neste contexto, torna-se premente a necessidade de acrescentar mais

    consistncia nas discusses sobre conceitos de risco, tendo em vista a complexidade do

    assunto. Gamba e Santos (2006) ao enfatizarem a importncia da enfermagem frente a

    abordagem sobre risco, afirmam que a contribuio das pesquisas em enfermagem que

    formulem hipteses utilizando o conceito de risco e correlatos, constituem eixo

    norteador para a busca de paradigmas que evidenciem valores, costumes, determinantes

    concretos para colaborar com a melhoria da assistncia de enfermagem, o bem-estar e a

    qualidade de vida de indivduos e coletividade.

    Neste sentido, ao pensarmos no contexto hospitalar em que trabalhadores de

    enfermagem esto inseridos, inclusive quando consideramos o contato com algumas

    situaes de risco presentes neste cenrio, bem como os produtos resultantes das

    aes necessrias para realizao da assistncia de enfermagem, muitas questes podem

    ser exploradas. Uma delas est relacionada busca pela compreenso que os

    trabalhadores de enfermagem, inseridos nesse contexto, possuem sobre risco e que

    correlaes isso pode ter com a sade e com o meio ambiente.

    Diante do exposto, a dissertao de mestrado ora apresentada, pretendeu

    explorar a questo da concepo do risco na viso de trabalhadores de enfermagem,

    numa perspectiva ampliada e contextualizada, no delimitando assim nenhum tipo de

  • 18

    risco especfico, mas sim explorando que concepo de risco cada trabalhador carrega

    em seu trabalho e em sua vida. Dessa forma, pretendeu-se evidenciar que concepo de

    risco possuem os trabalhadores de enfermagem hospitalar.

    Alm disso, tendo-se em mente que a questo do risco no tem relao nica e

    exclusiva com o prprio sujeito exposto a determinado agente, mas sim com o ambiente

    em geral, tornou-se pertinente perscrutar como esses trabalhadores percebem a inter-

    relao entre os riscos advindos do seu processo de trabalho e o meio ambiente.

    1.2 A aproximao com a temtica

    Particularmente, a temtica relacionada a concepo de risco, a partir do olhar dos

    trabalhadores de enfermagem, se mostrou de grande relevncia para mim, como objeto

    de pesquisa, pelo fato de minha insero desde a graduao no Grupo de Pesquisas e

    Estudos Trabalho, Sade, Educao e Enfermagem, no eixo temtico Sade,

    Enfermagem e Meio Ambiente da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o

    qual, por meio de um sub-grupo, discute acerca da interface sade e meio ambiente,

    bem como sobre questes relacionadas aos riscos ambientais.

    Dentre as questes levantadas pelo grupo citado surgem vrias inquietaes diante

    de pesquisas, leituras, reflexes e discusses sobre a relao sade e meio ambiente.

    Alm disso, com o intuito de conhecer o que tem sido produzido sobre a temtica

    que aborda sade, meio ambiente e risco foi realizada uma busca de produes

    cientficas disponveis online1 nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do

    Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO)

    e Bases de Dados em Enfermagem (BDENF), por meio da Biblioteca Virtual de Sade e

    posteriormente no portal da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel

    Superior (CAPES).

    Os dados emergidos da anlise qualitativa da busca realizada na Biblioteca Virtual

    de sade resultaram em trs eixos temticos que foram discutidos1: Dentre os temas

    esto os que se referem ao trabalhador hospitalar reflexivamente afetado pela

    problemtica ambiental; a necessidade da educao permanente referente temtica

    ambiental; e ao Gerenciamento de resduos hospitalares. A abordagem acerca do risco

    1 Um maior detalhamento das referidas buscas compem o artigo cientifico intitulado

    Concepcin de riesgo a la salud: subsidios para el debate de trabajadores de enfermeira, o qual foi encaminhado para a revista Index de Enfermera(APNDICE A).

    http://www.capes.gov.br/http://www.capes.gov.br/

  • 19

    que relacione a sade do trabalhador e o contexto de meio ambiente apontou-se como

    uma lacuna dentre as produes.

    E em relao busca realizada no portal CAPES os principais assuntos

    relacionavam-se biossegurana dos trabalhadores de enfermagem e ao gerenciamento

    de Resduos hospitalares. Ademais, corroborando com a busca anterior, evidenciou-se

    que as produes que abordam o meio ambiente ainda so escassas, e tratam o tema de

    maneira muitas vezes secundria, sem dar grande nfase. Da mesma forma, a

    articulao entre a questo do Risco, sade do trabalhador e meio ambiente apontou-se

    como uma lacuna na busca ora realizada.

    Dessa forma, evidenciou-se uma fragilidade na produo de conhecimento acerca

    de uma percepo mais densa sobre risco para trabalhadores de enfermagem hospitalar,

    bem como, se incluiu a necessidade averiguar se h uma concepo que envolva uma

    preocupao com o risco ambiental, advindo das aes realizadas por estes sujeitos.

    Nessa direo, diante de uma srie de peculiaridades inerentes ao trabalho da

    enfermagem, buscar compreender como estes trabalhadores percebem e se

    correlacionam com os riscos presentes em seu dia-a-dia torna-se de suma importncia,

    para buscar compreender situaes que envolvem a sade desses trabalhadores, dos

    sujeitos que com eles se inter-relacionam e algumas repercusses para o meio ambiente

    como um todo.

    Ademais, considera-se a importncia de uma viso ampliada sobre a concepo de

    risco, que beneficie a sade do trabalhador e tambm resulte em um cuidado ambiental

    por parte dos trabalhadores de enfermagem. Partindo dessas inquietaes, elegeu-se

    como objeto do estudo a inter-relao entre risco, trabalho de enfermagem e meio

    ambiente. E como questo norteadora: qual a relao entre risco, trabalho e meio

    ambiente para os profissionais de Enfermagem? De modo a responder esta questo,

    foram formulados os seguintes objetivos do estudo:

    Objetivo geral do estudo:

    - Conhecer as percepes dos trabalhadores de enfermagem sobre a interface risco e

    meio ambiente.

    E como objetivos especficos:

    - Conhecer o que os trabalhadores de enfermagem atuantes no contexto hospitalar

    entendem por risco.

    - Evidenciar a percepo de trabalhadores de enfermagem sobre a exposio a riscos no

    contexto do trabalho hospitalar.

  • 20

    2 FUNDAMENTAO TERICA

    A complexidade do tema requer que seja explorado a partir de um referencial

    que possa dar suporte as discusses e correlaes ligadas ao conceito de risco. Assim,

    didaticamente, este captulo pretende apresentar uma oportunidade de compreenso

    inicial sobre a contextualizao da temtica que se refere concepo de Risco,

    buscando trazer a luz suas possveis interligaes, diretas e/ou indiretas, com a sade

    dos trabalhadores de enfermagem e tambm com o meio ambiente.

    2.1 Conceitos e correlatos de risco

    Dentre as discusses referentes concepo de Risco, novas perspectivas sobre

    o que configura um risco englobam questes referentes sociedade moderna. Mas,

    afinal, o que seria o risco em seu conceito em si, considerando-se que ele vem sendo

    utilizado em diversos campos de saberes, e, destacadamente, no campo de saberes que

    abrange a cincias da sade?

    De acordo com Giampietro (2002), o conceito de risco aplica-se a situaes nas

    quais possvel estabelecer uma distribuio de probabilidades, para um dado conjunto

    de possveis consequncias, e h modelos vlidos para prever e representar o que ir

    ocorrer, em um ponto particular no tempo e no espao.

    Gamba e Santos (2006) discutem que, a compreenso da concepo de risco,

    imprescindvel para desvelar a determinao multifatorial do processo sade doena e

    cuidado. Os autores discorrem que Risco em sade concebido como um perigo

    potencial de ocorrer uma reao tida como adversa sade das pessoas expostas a ele

    ou, ento, a possibilidade de dano em diversas dimenses como, fsica, psquica, moral,

    intelectual, social, cultural ou espiritual do ser humano.

    Em relao aos riscos sade importante destacar a interface sade e meio

    ambiente, uma vez que, de acordo com Lieber e Lieber (2003) sade e ambiente esto

    inevitavelmente associadas s relaes de risco. Isto se deve ao fato de que o risco,

    enquanto ideia subjacente de mensurao de algo no totalmente estabelecido, vem se

    mostrando a forma mais adequada para se apresentar conhecimento cientfico relativo a

    um objeto por demais complexo, como o ambiente.

  • 21

    Em sua obra Correndo o Risco: Uma introduo aos riscos em sade, Castiel

    (2010) traz uma contribuio de grande importncia sobre a temtica e ressalta que

    preciso considerar que risco uma palavra com diferentes sentidos, que nem sempre

    convivem em harmonia. (CASTIEL, 2010, p. 15) Para o autor, a discusso sobre risco

    pode variar de acordo com o sentido que se atribui a ele. preciso ento ir mais a fundo

    em sua essncia, no cerne do que conforma, de fato, um risco sade.

    Para tanto, algumas inquietaes discutidas pela sociologia tendem a ser de

    grande valia para compreenso e construo de uma nova concepo de risco, que

    venha a valorizar tambm a sua interface com o meio ambiente. Nesse sentido, o

    socilogo Guiddens (1991) em sua obra As consequncias da modernidade discute

    acerca das implicaes que a modernidade traz para a sociedade, medida que a

    industrializao cada vez mais representativa e, de certa forma, influenciadora. O

    autor cita alguns fundadores clssicos da sociologia que pontuavam as possibilidades

    benficas da modernidade e suas caractersticas negativas, destacando que, para estes

    socilogos, tais possibilidades benficas superavam as caractersticas negativas.

    Contudo, de acordo com Guiddens (1991) o trabalho industrial moderno tinha

    implicaes degradantes, impondo, a muitos seres humanos, um labor maante,

    repetitivo. Ainda assim, no se chegou a prever que o desenvolvimento das foras de

    produo teria potencial destrutivo de larga escala em relao ao meio ambiente

    (GUIDDENS, 1991, p. 17). Dessa forma, seria este potencial destrutivo um

    desencadeante de novos riscos sade, originados substancialmente de um meio

    ambiente ecologicamente afetado por essa moderna sociedade.

    Para Giddens (2002) a modernidade uma cultura de risco. Neste sentido, o

    autor afirma que a aferio do risco requer preciso e quantificao, mas por sua prpria

    natureza imperfeita. Dado o carter mvel das instituies modernas, associado

    natureza mutvel e, muitas vezes, controversas dos sistemas abstratos, a maioria das

    formas de avaliao de risco se torna uma difcil tarefa.

    Nesse contexto de modernidade, o termo sociedade de risco enfatizado por

    Beck (1997) representando uma segunda Modernidade ou Modernidade reflexiva, que

    emerge de processos como a globalizao e a individualizao, tornando difusos os

    riscos globais, que se caracterizam por ter consequncias, de modo geral, de alta

    gravidade, desconhecidas em longo prazo e que no podem ser avaliadas com preciso.

    Nessa direo, Lieber e Romano (2002) reforam que o curso da modernizao originou

    inmeros perigos e inseguranas, e na tentativa de definir o momento presente surgiu o

  • 22

    termo sociedade de risco onde ocorrem transformaes tanto estruturais quanto das

    relaes sociais.

    Giddens (2002) ainda destaca que, em certas reas e modos de vida, h a

    reduo do risco em geral em funo da modernidade, contudo, ao mesmo tempo, essa

    modernidade introduz novos parmetros de risco, pouco conhecidos ou inteiramente

    desconhecidos em pocas anteriores. Tais parmetros incluem riscos de alta

    conseqncia, derivados do carter globalizado dos sistemas sociais da modernidade.

    Neste sentido, Porto (2005) diz que, ao mesmo tempo em que novos processos de

    produo e tecnologias geram riquezas e conforto, novos riscos ocupacionais e

    ambientais podem ser incorporados aos territrios e afetar certos grupos populacionais,

    em distintas escalas espaciais e temporais.

    No que tange a avaliao de riscos, Freitas (2002) enfatiza que constitui uma

    forma de aprofundamento da compreenso dos problemas ambientais, que ocasionam

    efeitos indesejveis sobre a sade. Pode ter incio quando dados ambientais e dados de

    sade indicam haver a presena de agentes perigosos (qumicos, fsicos ou biolgicos)

    no ambiente, cujos efeitos sobre a sade devem ser avaliados quantitativa e

    qualitativamente.

    No grupo de riscos ambientais, incluem-se os agentes fsicos, qumicos e

    biolgicos, existentes nos ambientes de trabalho, capazes de causar danos sade do

    trabalhador em funo de sua natureza, concentrao ou intensidade e tempo de

    exposio. O risco biolgico advm da exposio a vrus, bactrias, protozorios,

    fungos, parasitas e bacilos; o risco fsico, de radiaes ionizantes e no-ionizantes,

    rudos, vibraes, frio, calor, presses anormais e umidade; o risco qumico, a

    substncias, compostos ou produtos qumicos, gases, vapores, neblinas, nvoas,fumos e

    poeiras (IWAMOTO et al, 2008).

    Neste contexto importante destacar que, o processo produtivo inclui atividades,

    tais como: a extrao de matria-prima, sua transformao em produtos, o consumo

    desses produtos e a formao de resduos, e que em todas essas etapas pode haver riscos

    para a sade, tanto dos trabalhadores como das comunidades, e ainda riscos ao meio

    ambiente. (BITTAR, ITANI E UMBUZEIRO (2009).

    Assim, Segundo Freitas (2003), os problemas ambientais devem ser

    compreendidos tambm como problemas de sade, uma vez que atingem os seres

    humanos e as sociedades de maneira mltipla e simultnea. Deste modo, a discusso

    sobre risco se faz imprescindvel, porm ainda se encontra encapsulada dentro de outras

  • 23

    abordagens que buscam a preveno de riscos sem se aproximar, suficientemente, da

    concepo de risco em si.

    Camponogara, Kirchhof e Ramos (2008, p.555) enfatizam que: A concepo de

    risco como um fator estruturante da sociedade da alta modernidade,influenciando os

    processos sociais em vrias dimenses, no est difundida com a necessria amplitude,

    o que traz consequncias tanto no nvel terico como no prtico.

    Diante do exposto, refora-se a necessidade de associar os problemas ambientais

    aos problemas de sade, a partir de uma discusso mais ampla sobre a concepo de

    risco, no intuito de buscar-se um avano na preveno e promoo da sade das

    pessoas, inclusive na sade dos trabalhadores e na preservao do meio ambiente.

    2.2 Trabalho de enfermagem

    Considerando-se os atributos da profisso, Pires (2009, p.740) diz que podemos

    afirmar que a Enfermagem uma profisso desenvolvida por um grupo de trabalhadores

    qualificados e especializados para a realizao de atividades socialmente necessrias.

    Ao foco central do trabalho da enfermagem, pode-se atribuir o cuidado e a arte de

    cuidar que permeia o processo de trabalho da enfermagem como um grande diferencial

    dessa categoria de trabalhadores.

    A esse respeito Pires (2009), discute que, o cuidar em enfermagem, em termos

    genricos, tem o sentido de promover a vida, o potencial vital, o bem estar dos seres

    humanos na sua individualidade, complexidade e integralidade. Envolve ainda um

    encontro interpessoal com objetivo teraputico, englobando aes de conforto, de cura

    quando possvel e, tambm, quando inevitvel o preparo para a morte. Contudo, a

    prtica concreta da enfermagem nos espaos institucionais, muitas vezes, no

    corresponde a essa perspectiva.

    Enfatizando o debate sobre a sade do trabalhador de enfermagem e a questo

    ambiental, interligados a concepo de risco, destaca-se que, alm da necessidade de

    maximizar a qualidade de fatores internos dos servios de sade, pontualmente no

    contexto hospitalar, preciso olharmos, concomitantemente, para os fatores externos ao

    labor. Isso porque os trabalhadores, enquanto sujeitos, perpassam por ambos os espaos,

    interagindo, usufruindo e realizando aes de efeito que relacionam os ambientes

    internos e externos a estrutura de trabalho propriamente dita.

  • 24

    Neste contexto, ao analisar as condies de trabalho dos trabalhadores de

    enfermagem, pode-se ressaltar que estes esto em frequente exposio a fatores de risco,

    que podem repercutir em agravos relacionados ao trabalho.

    Paulino (2008) destaca que, entre os trabalhadores de sade, os que tm maior

    probabilidade de acidentes so os de Enfermagem, principalmente os que trabalham em

    hospital. Isso se deve ao fato do hospital ser um ambiente insalubre em que se

    aglomeram pacientes com vrias patologias transmissveis, alm de ser um local em que

    se lida, cotidianamente, com a morte e sobrecarga de trabalho. Assim, as implicaes do

    trabalho para os trabalhadores de enfermagem incluem todo o meio ambiente no qual

    ele est inserido, que refletir de maneira direta ou indireta em sua sade.

    Diaz (2010) destaca que para efetivar aes de interveno que previnam o

    adoecimento do trabalhador, preciso identificar os riscos existentes e, ento, a partir

    disso, traar estratgias que tornem o ambiente de trabalho mais adequado ao

    trabalhador, visando diminuir ou suprimir alguns fatores internos do servio que podem

    levar ao adoecimento destes trabalhadores.

    No que se refere sade dos trabalhadores de enfermagem, lembremos que, de

    acordo com a Lei N 8. 080 entende-se por sade do trabalhador, um conjunto de

    atividades que se destina, atravs das aes de vigilncia epidemiolgica e vigilncia

    sanitria, promoo e proteo da sade dos trabalhadores, assim como visa

    recuperao e reabilitao da sade dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos

    advindos das condies de trabalho (MINISTRIO DA SADE, 1990).

    Mendes e Dias (1991) salientam que, no Brasil, a implantao da Sade do

    Trabalhador, ocorreu a partir da dcada de 80, no contexto da transio democrtica no

    qual se iniciava uma nova forma de pensar o processo sade-doena e o papel do

    trabalho. Um momento caracterizado pela co-existncia de epidemias, doenas

    profissionais clssicas e o surgimento de novas formas de adoecimento pelo trabalho, as

    quais eram advindas das mudanas das prticas laborais, frente globalizao da

    economia e reivindicaes sindicais por melhores condies de trabalho.

    Em vigor desde 2004, a Poltica Nacional de Sade do Trabalhador do

    Ministrio da Sade (MS) visa reduo dos acidentes e doenas relacionadas ao

    trabalho, mediante a execuo de aes de promoo, reabilitao e vigilncia na rea

    de sade. Suas diretrizes, descritas na Portaria n 1.125 de seis de julho de 2005,

    compreendem a ateno integral sade, a articulao intra e intersetorial, a

    estruturao da rede de informaes em Sade do Trabalhador, o apoio a estudos e

    http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/proposta_pnst_st_2009.pdfhttp://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/proposta_pnst_st_2009.pdfhttp://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2005/GM/GM-1125.htm

  • 25

    pesquisas, a capacitao de recursos humanos e a participao da comunidade na gesto

    dessas aes. (BRASIL, 2004).

    No contexto da medicina ocupacional em seu pensamento clssico, conforme

    Oliveira e Murofuse (2001), a sade do trabalhador era entendida como relacionada

    apenas ao ambiente fsico, na medida em que o trabalhador est em contato com agentes

    qumicos, fsicos e biolgicos que lhe causem acidentes e enfermidades. No entanto,

    consideraes importantes que abordam a sade do trabalhador avanam numa proposta

    interdisciplinar, relacionando ambiente de trabalho e corpo do trabalhador e abarcando

    outros aspectos no menos importantes e no relacionados apenas a dimenso biolgica.

    A esse respeito Ribeiro et al (2012, p. 496) enfatiza que o relacionamento do

    homem com o trabalho e com ele mesmo vem passando incessantemente por alteraes,

    que se tornam cada vez mais complexas, profundas e sofisticadas. Nesse setido, faz-se

    relevante compreender a relao do trabalhador com o trabalho, tendo em vista que,

    muitas significaes e implicaes so atribudas a partir dos processos de trabalho.

    Dessa forma, de acordo com Dejours (2004) o trabalho implica o saber fazer, o

    engajamento do corpo, a mobilizao da inteligncia, o poder de pensar e de inventar, a

    capacidade de refletir, interpretar e reagir s situaes. Assim, o trabalho ultrapassa os

    limites de tempo dispensados ao turno de trabalho propriamente dito, mobilizando a

    personalidade do sujeito por completo.

    2.3 Trabalho, Risco e Meio ambiente

    Ao olharmos a questo ambiental, mister destacar que, a crise ambiental

    contempornea vem intensificando as discusses e a percepo pblica acerca dos

    efeitos dos processos de produo e consumo das sociedades industriais modernas sobre

    a sade humana e a dos ecossistemas. Especialmente para o campo da sade do

    trabalhador, o qual trata de condies e ambientes de trabalho que fazem parte e

    interagem com ambientes mais gerais e ecossistemas, no podemos menosprezar a

    importncia da questo ambiental para o futuro da humanidade como um todo,

    tampouco polariz-la com questes e demandas especficas dos movimentos de

    trabalhadores (PORTO, 2005).

    No contexto contemporneo, a atual problemtica ambiental tem exigido um

    posicionamento dos indivduos. fato incontestvel que vivenciamos uma crise

  • 26

    ecolgica, cujas propores ainda no so totalmente conhecidas, mas que tem exigido,

    da sociedade, em diferentes esferas, a adoo de medidas protetoras do meio ambiente.

    Embora diferentes setores da sociedade tenham relao com a problemtica

    ecolgica, o que se percebe que algumas reas do conhecimento e campos de atuao

    ainda tm uma aproximao muito limitada com a questo. Um dos campos de atuao

    profissional, que pode ser considerado nesse sentido o da sade, na medida em que,

    em poucos espaos, so visveis discusses a cerca da interface sade e meio ambiente.

    Estudo realizado por Camponogara (2008) revelou que uma srie de questes intervm

    sobre a relao entre o trabalhador hospitalar e a problemtica ambiental, sejam elas

    relacionadas ao contexto social contemporneo, as concepes de sade e meio

    ambiente, como a aspectos laborais especficos do setor hospitalar e da sade, as quais

    interferem na realizao de aes responsveis com o meio ambiente.

    Nesse sentido, faz-se relevante buscar compreender como se d a realizao ou a

    no realizao de aes responsveis com o meio ambiente no processo de trabalho da

    enfermagem, buscando, assim, apreender a existncia de um cuidado ambiental que

    parte da prtica de enfermagem. Para tanto, mostra-se premente aprender se estes

    trabalhadores reconhecem a existncia de risco para o meio ambiente nas aes

    realizadas em seu trabalho.

    Os riscos podem ser assumidos como perigos, mas na medida em que se

    presume que a sociedade atual aumenta a individualizao, os riscos so especialmente

    coisas que os indivduos assumem (BECK, GIDDENS E LASH, 1997, p. 169).

    Contudo, ressalta-se que, para assumir a existncia de riscos e, assim, agir

    conscientemente para com a sade e para com o meio ambiente preciso que uma

    relao de conhecimento, descoberta e reflexo sobre os riscos e suas inter-relaes

    acontea.

    Assim, acredita-se que exista a necessidade de uma interdisciplinaridade, que

    possibilite a valorizao e a compreenso da verdadeira interconexo existente entre o

    ser humano, a sade e o ambiente. Para que isso ocorra, h que se pensar na

    possibilidade de insero do tema, de modo transversal as aes realizadas pelos

    indivduos (CAMPONOGARA et al, 2011). Alam, Vaz e Almeida (2005) destacam que

    existem lacunas no processo educativo no ambiente institucional, no existindo uma

    viso interdisciplinar entre a mesma e os profissionais de sade, acerca do ambiente de

    trabalho.

  • 27

    Em pesquisa realizada por Peres (2011) ao abordar como sujeitos de pesquisa,

    docentes da rea da sade, observou-se que estes, quando instigados a refletir sobre a

    relao entre sade e meio ambiente, no cogitou outra resposta se no a de que h uma

    indissociabilidade entre esses dois temas, reforando assim a imprescindibilidade de que

    estes caminhem juntos na graduao em sade. Nesse sentido, para que ocorram

    avanos no processo educativo numa perspectiva ambiental no contexto dos

    trabalhadores da rea da sade, faz-se necessrio problematizar claramente a interface

    sade e meio ambiente, bem como os impactos das aes realizadas pelos trabalhadores

    para o meio ambiente e sua sade.

    Assim, parte-se da idia que a realidade de algumas instituies de sade ainda

    mostra-se muito limitada na viabilizao de estratgias que englobem o contexto

    ambiental e a prtica laboral dos trabalhadores. Para Camponogara, Ramos e Kirchhof

    (2009) quando so oportunizadas estratgias que viabilizem o conhecimento sobre a

    problemtica ambiental ou minimizao de impactos ambientais, os sujeitos tm

    maiores subsdios para reflexo sobre seus prprios comportamentos, motivando-os

    para a construo de aes responsveis com o meio ambiente.

    Em pesquisa realizada com enfermeiros hospitalares sobre o gerenciamento de

    resduos hospitalares e algumas interligaes com o meio ambiente, Soares (2011)

    constatou que, em relao responsabilidade ambiental, os enfermeiros tm noo de

    que essa inclui o desenvolvimento de aes de orientao sobre educao ambiental, o

    que envolve, antes de tudo, um comprometimento enquanto cidados.

    Neste contexto, devido s exposies a que esto submetidos os trabalhadores de

    enfermagem atuantes em contexto hospitalar, faz-se relevante considerar a relao

    sade, trabalho, risco e meio ambiente, no sentido de buscar compreender como se d a

    relao destas quatro esferas no ambiente de trabalho, e ento realizar reflexes sobre a

    influncia deste meio sobre a sade do trabalhador, bem como sobre a necessidade da

    conscientizao de um cuidado ambiental.

    2.4 Delineando as produes na rea da Enfermagem sobre os temas: Sade do

    trabalhador, Meio Ambiente e suas relaes com a concepo de Risco

    Neste item, ser apresentada uma busca realizada em bases de dados, que teve

    como inteno subsidiar o desenho do objeto de estudo da presente dissertao. A

  • 28

    referida busca compe um artigo cientfico encaminhado revista Index de Enfermera

    e pode ser acessado no (APNDICE A).

    Com o intuito de conhecer o que tem sido produzido sobre a temtica que aborda

    a relao entre a sade do trabalhador e o meio ambiente, foi realizada uma busca de

    produes cientficas disponveis on line nas bases de dados Literatura Latino-

    Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS), Scientific ElectronicLibrary

    Online (SciELO) e Bases de Dados em Enfermagem (BDENF), por meio da Biblioteca

    Virtual de Sade, no perodo de maio a junho de 2011, utilizando os descritores sade

    do trabalhador e meio ambiente.

    No utilizou-se delimitao temporal para a busca das produes, tendo em vista

    a perspectiva de abranger todas as publicaes disponveis acerca desta temtica. Foram

    utilizados como critrios de incluso para seleo dos artigos: artigos em portugus,

    ingls ou espanhol que estivessem disponveis online na ntegra e que apresentassem de

    maneira explcita no ttulo ou resumo a contextualizao da sade do trabalhador e o

    meio ambiente.

    Os critrios de excluso foram os artigos que no contemplassem a temtica,

    assim como outras produes que no fossem artigo cientfico, como, por exemplo,

    teses e dissertaes. A partir dos critrios de incluso e excluso acima descritos e,

    excluindo os artigos que se repetiam nas bases de dados utilizadas, totalizaram 18

    artigos a serem analisados. Sendo ento, esquematicamente selecionados, 16 referncias

    na LILACS e duas referncias na BDENF.

    Os dados emergidos da anlise qualitativa resultaram em trs eixos temticos a

    serem apresentados: O trabalhador hospitalar reflexivamente afetado pela problemtica

    ambiental; Necessidade da educao permanente referente temtica ambiental; e

    Gerenciamento de resduos hospitalares. A abordagem acerca do risco que relacione a

    sade do trabalhador e o contexto de meio ambiente apontou-se como uma lacuna na

    busca realizada.

    A abordagem sobre a atual problemtica ambiental cada vez mais discutida nos

    servios de sade, porm as discusses so limitadas, pois ainda no se pautam na

    interface da sade e meio ambiente. Nota-se, por meio dos artigos analisados, que os

    profissionais de sade pouco discutem sobre esta interface sade e ambiente. Eles

    refletem sobre a problemtica ambiental, porm esta reflexo acaba por esbarrar em

    lacunas de conhecimento sobre a interface sade, incluindo a a sade do trabalhador e

    meio ambiente.

  • 29

    Enfatiza-se a necessidade de oportunizar estratgias que viabilizem o

    conhecimento acerca da temtica para os profissionais de sade, tendo em vista que

    quando so oportunizadas estratgias que viabilizem o conhecimento sobre a

    problemtica ambiental ou minimizao de impactos ambientais, os sujeitos tm

    maiores subsdios para reflexo sobre seus prprios comportamentos, motivando-os

    para a construo de aes responsveis com o meio ambiente (CAMPONOGARA,

    KIRCHHOF E RAMOS, 2009).

    No meio laboral dos trabalhadores da sade de grande relevncia que se

    conhea este ambiente, que se reflita sobre e ele e, ento, partir para uma reflexo sobre

    a influncia deste meio ambiente sobre a sade do trabalhador. Para tanto, preciso que

    se oferea instrumentos que garantam uma reflexo seguida de aes que modifiquem

    as prticas para um agir responsvel para como meio ambiente.

    Neste contexto, destaca-se a existncia de lacunas no processo educativo no

    ambiente institucional, no existindo uma viso interdisciplinar entre a mesma e os

    profissionais de sade, acerca do ambiente de trabalho (ALAM, CEZAR-VAZ E

    ALMEIDA, 2005).

    Outra caracterstica das produes encontradas que falam sobre o gerenciamento

    dos resduos hospitalares, abordam muito mais enfaticamente os resduos slidos,

    salientado uma lacuna em estudos que abordem os resduos lquidos, os quais tambm

    esto muito presentes no cotidiano laboral dos trabalhadores da rea da sade.

    Em contrapartida ainda que se enfoque os gerenciamento dos resduos slidos

    em algumas produes, a compreenso e abrangncia de seu significado e importncia,

    se apresenta de forma restrita e limitada, tendo em vista que muitas vezes, o preparo dos

    profissionais para trabalhar com os resduos oriundos das suas atuaes precrio

    (CORRA ET AL, 2005). Desse modo, para que os profissionais tenham um melhor

    preparo, se faz necessrio, a implantao de polticas de gerenciamento de resduos nos

    diversos estabelecimentos de sade, objetivando a promoo da sade e a qualidade de

    vida do ambiente.

    Assim, posteriormente, com o objetivo de conhecer as tendncias da produo

    do conhecimento em enfermagem acerca da temtica que aborde Risco, utilizou-se de

    uma busca por teses e dissertaes no portal de uma agncia governamental do Brasil,

    vinculada ao Ministrio da Educao e Cultura (MEC) do Pas, que tem

    como objetivo promover a expanso, consolidao dos cursos de ps-graduao stricto

    sensu, ou seja, dos cursos de mestrado e doutorado, em todo o pas. Esta agncia

    http://www.infoescola.com/educacao/coordenacao-de-aperfeicoamento-de-pessoal-de-nivel-superior-capes/http://www.infoescola.com/educacao/pos-graduacao/http://www.infoescola.com/educacao/coordenacao-de-aperfeicoamento-de-pessoal-de-nivel-superior-capes/http://www.infoescola.com/educacao/coordenacao-de-aperfeicoamento-de-pessoal-de-nivel-superior-capes/

  • 30

    denominada Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES)

    responsvel por autorizar a abertura de novos cursos de ps-graduao, e avalia os

    cursos em funcionamento periodicamente.

    A busca foi realizada no perodo de setembro a outubro de 2011, utilizando-se

    das palavras-chave Risco, Meio ambiente e enfermagem. Na busca realizada foram

    encontradas 10 produes, os principais assuntos abordados incluem: Biossegurana

    dos trabalhadores de enfermagem e Gerenciamento de Resduos hospitalares.

    Destaca-se a existncia dos estudos que abordam a biossegurana como

    significativos nas discusses sobre riscos sade. A biossegurana uma rea de

    conhecimento relativamente nova, que se preocupa desde as boas prticas laboratoriais

    at questes mais globais, como a biodiversidade e a biotica apontando, com um

    enfoque social e ambiental, para a necessidade de adoo de medidas destinadas ao

    conhecimento e ao controle dos possveis riscos (ROCHA E FARTES, 2001).

    Segundo o Ministrio da Sade, setor governamental responsvel pela

    administrao e manuteno da Sade pblica do pas, a biossegurana consiste na

    condio de segurana alcanada por um conjunto de aes destinadas a prevenir,

    controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes s atividades que possam comprometer a

    sade humana, animal e vegetal e o ambiente (BRASIL, 2004). Contudo, apesar da

    noo de biossegurana ser tipicamente fundamentada na abordagem cientfica do risco,

    questes primordiais sobre os riscos no so respondidas por essa perspectiva

    (MULLIGAN APUD NEVES, 2007).

    Neste contexto, a biossegurana se mostra de suma importncia para a sade dos

    trabalhadores. No entanto, ressalta-se a necessidade de novos estudos sobre a concepo

    de risco em si, para que se compreenda melhor como as medidas de biossegurana vm

    sendo construdas. neste sentido que emerge a necessidade de construo de reflexes,

    por parte de cada sujeito, acerca da concepo de risco, entendendo que, deste modo,

    aes de promoo e preveno de riscos seriam muito mais efetivas e satisfatrias.

    As produes que abordam gerenciamento dos resduos focam mais a ateno

    hospitalar, imbricando este gerenciamento como sendo a separao dos resduos

    hospitalares, e ainda pouco contextualizando a temtica com a sade do trabalhador e a

    questo ambiental. Nesse sentido, deve haver maior reflexo a respeito das diferentes

    etapas do gerenciamento dos resduos e seu manejo para a sustentabilidade do ambiente

    e a sade das pessoas (CORRA ET AL, 2005).

    http://www.capes.gov.br/http://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_p%C3%BAblica

  • 31

    As produes que abordam o meio ambiente ainda so muito escassas, e tratam

    o tema de maneira, muitas vezes, secundria, sem dar grande nfase. Da mesma forma,

    a articulao entre a questo do Risco, sade do trabalhador e meio ambiente apontou-se

    como uma lacuna na busca ora realizada. Ademais, a questo que se apresenta

    conforma-se em desafio na construo de um conhecimento que englobe, fortemente, a

    relao da sade e meio ambiente. Para tanto, emerge a necessidade de discusso,

    reflexo e reconceptualizao dos conceitos de risco sade e ao meio ambiente.

  • 32

    3 UM DESENHO DO MTODO DE PESQUISA

    Este captulo pretendeu descrever os aspectos relacionados metodologia

    adotada para realizao deste estudo.

    3.1 Tipo de Pesquisa

    Esta pesquisa, por sua pretenso de descrever qual a relao entre risco, trabalho e

    meio ambiente para os profissionais de Enfermagem, foi mais bem respondida e mais

    apropriadamente interpretada sob a perspectiva e o referencial da abordagem

    qualitativa.

    A abordagem qualitativa a mais indicada para a busca de informaes

    relacionadas subjetividade dos sujeitos, captando os significados e significaes

    expressas a cerca dos fenmenos em estudo. A abordagem qualitativa se aplica no

    estudo da histria, das relaes, representaes, percepes, opinies, de como os

    humanos vivem, sentem e pensam. Este tipo de abordagem entende o indivduo como

    ser nico, com seus valores e significados (MINAYO, 2007).

    Este estudo se caracteriza como sendo do tipo descritivo- exploratrio. Segundo

    Gil (2006) as pesquisas descritivas tem como objetivo primordial a descrio das

    caractersticas de determinada populao, fenmeno ou a existncia de relaes entre

    variveis. Segundo esse autor, a pesquisa exploratria a mais adequada quando o tema

    abordado pouco explorado.

    As pesquisas de campo so desenvolvidas em cenrios naturais e procuram

    examinar em profundidade as prticas, comportamentos, crenas e atitudes das pessoas

    ou grupos na vida real, compreendendo um problema ou situao, com a possibilidade

    de aproximao com o evento e pela possibilidade de se criar conhecimento atravs da

    realidade (LEOPARDI, 2001).

    3.2 Cenrio da Pesquisa

    O cenrio da pesquisa foram as unidades de clnica mdica e clnica cirrgica do

    Hospital Universitrio de Santa Maria (HUSM). Justifica-se a escolha destes setores

    pelo fato de serem unidades que, em alguns pontos, so convergentes no que diz

  • 33

    respeito ao contexto de trabalho, como por exemplo, a realizao da assistncia voltada

    pacientes adultos, e que demandam diversos procedimentos de enfermagem.

    O Hospital Universitrio de Santa Maria, foi fundado em 1970, um rgo da

    Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que se localiza no campus da mesma, e

    constitui o maior hospital pblico do interior do Estado do Rio Grande do Sul. um

    hospital pblico federal que mantm atendimento primrio, secundrio e tercirio, sendo

    referncia em sade para a regio central do Rio Grande do Sul. um dos nicos

    hospitais da Regio Centro que atende totalmente pelo Sistema nico de Sade (SUS).

    A instituio atua como hospital de ensino, tendo sua ateno voltada para o

    desenvolvimento da assistncia, do ensino, da extenso e da pesquisa. Conta com um

    quadro de pessoal de 1355 servidores federais, alm de pessoal terceirizado, distribudos

    nas reas assistencial, administrativa e de apoio. O HUSM presta servios assistenciais

    em todas as especialidades mdicas e serve como laboratrio de ensino para alunos de

    graduao e ps-graduao em Medicina, Enfermagem, Farmcia, Fonoaudiologia e

    Fisioterapia, dentre outros.

    As unidades, onde se realizou a coleta de dados do estudo foram:

    Quadro 1 Descrio do cenrio do estudo*

    Clnica Cirrgica Clnica Mdica I Clnica Mdica II:

    - localizada no terceiro

    andar da instituio, onde

    so assistidos pacientes em

    situao pr-operatria e

    ps-operatria, dispe de

    42 leitos, sendo dois de

    isolamento, conta com oito

    Enfermeiros e 22 tcnicos

    de Enfermagem;

    - localizada no quarto

    andar, dispe de 24 leitos

    (18 destes para Hemato-

    oncologia e seis para

    Cardiologia), conta com

    sete Enfermeiros e 14

    tcnicos de Enfermagem;

    - localizada no quinto

    andar, dispem de 24 leitos

    divididos entre as clnicas

    de Medicina Interna,

    Infectologia, Pneumologia,

    Cardiologia, Neurologia e

    Gastroenterologia, conta

    com sete Enfermeiros e 20

    tcnicos de Enfermagem.

    Os dados descritos referem-se ao perodo de Novembro de 2011 a Fevereiro de 2012,

    ressalta-se que estes so valores aproximados, tendo em vista que o nmero de

    trabalhadores varivel em funo dos afastamentos legais e aposentadorias.

    Destaca-se que o HUSM tem como viso de futuro ser um referencial pblico

    de excelncia em assistncia sade, ensino e pesquisa, com preservao do meio

    ambiente. Neste sentido, desde o ano de 2003, o HUSM conta com uma Comisso de

    Gesto Ambiental (CGA), ligada diretamente Direo Geral, que tem como objetivo

  • 34

    discutir sobre questes ambientais que afetem o funcionamento dos servios, bem como

    elaborar e implementar estratgias de ao que permitam a assistncia em sade,

    minimizando impactos ambientais.

    A referida comisso rene-se, mensalmente, e tem carter multidisciplinar,

    contando com a participao dos seguintes profissionais/representantes de servios:

    representantes da Direo Geral da instituio, trs enfermeiros (dois ligados a

    Comisso de Controle de Infeco Hospitalar e um responsvel pelo Servio de Higiene

    e Limpeza), um mdico, um nutricionista, um farmacutico, dois docentes do

    Departamento de Qumica e de Engenharia Qumica da UFSM. Sempre que necessrio,

    a comisso solicita a participao de outros profissionais ou servidores, conforme a

    especificidade de determinado assunto a ser discutido.

    3.3 Sujeitos da Pesquisa

    Fizeram parte da pesquisa os trabalhadores de enfermagem atuantes nas

    unidades abertas do HUSM, incluindo assim as unidades de Clnica Cirrgica, Clnica

    Mdica I e Clnica Mdica II. Dentre os trabalhadores estavam enfermeiros e tcnicos

    de enfermagem.

    Destaca-se que os auxiliares de enfermagem foram excludos do estudo, por

    haver uma constatao emprica de que h um movimento de atualizao na instituio

    referente a essa categoria de trabalhadores. Por meio de uma abordagem prvia a coleta

    de dados realizada junto aos sujeitos, foi possvel perceber que a maioria dos

    trabalhadores que foram contratados como auxiliares de enfermagem, posteriormente

    buscaram e concluram a formao como tcnicos de enfermagem, e acabam por

    desempenhar praticamente a mesma funo.

    Ainda tendo em vista que as atribuies dos tcnicos e auxiliares de enfermagem

    no so iguais de acordo com o decreto N 94.406/87, que Regulamenta a Lei n 7.498,

    de 25 de junho de 1986, que dispe sobre o exerccio da Enfermagem, e d outras

    providncias, buscou-se garantir uma homogeneidade no que diz respeito aos sujeitos

    que tornaram possveis a obteno dos dados do estudo.

    Constituram-se em critrios de incluso: enfermeiros e tcnicos de enfermagem

    que atuassem h mais de trs meses nas unidades includas no estudo, tendo em vista o

    pressuposto de que este tempo viabiliza uma maior vinculao e aproximao do

    trabalhador com a dinmica laboral da unidade. Foram excludos da pesquisa os

  • 35

    trabalhadores que estivessem em perodo de frias, bem como, em qualquer tipo de

    licena no perodo de coleta de dados.

    Os sujeitos foram selecionados de forma aleatria (mediante sorteio),

    resguardando a proporcionalidade entre as diferentes unidades. O sorteio foi realizado

    pela pesquisadora que fez uso da listagem dos trabalhadores de cada unidade, onde foi

    atribudo um nmero para cada trabalhador e posterior sorteio manual.

    A amostragem aleatria, conforme Gil (2006) consiste em atribuir a cada

    elemento da populao um nmero para depois selecionar alguns desses elementos de

    forma casual. Aps o sorteio, os sujeitos foram abordados. Nessa abordagem foram

    especificados o objetivo e a finalidade da pesquisa, e logo aps foram convidados a

    participar da mesma. No caso de aceitao era marcada a entrevista, no horrio e local

    que o entrevistado achasse melhor, e que a pesquisadora, concordasse que era adequado.

    Em caso de recusa, que foram trs, foi realizado um novo sorteio para preencher o

    nmero amostral de trabalhadores.

    3.4 Coleta de Dados

    A coleta de dados foi realizada aps a aprovao do Comit de tica e Pesquisa

    da UFSM, por meio de observao no participante e entrevista semi-estruturada, entre

    os meses de maio e setembro de 2012.

    Anteriormente ao incio da coleta de dados, foi realizada uma aproximao com

    os cenrios da pesquisa, por meio de uma conversa de apresentao da pesquisadora.

    Primeiramente foi realizado contato com as enfermeiras chefes das unidades e,

    posteriormente, com os demais sujeitos que fazem parte das equipes de enfermagem,

    com o intuito de justificar a presena da pesquisadora no local, bem como explanar os

    propsitos da pesquisa.

    Para a obteno dos dados foi realizada uma observao no participante, onde

    foram observadas as equipes de enfermagem de cada setor. A referida observao

    contou com o auxilio de um roteiro que foi utilizado pela pesquisadora (APNDICE B).

    A observao no participante refere-se ocorrncia de situaes em que o

    pesquisador assume uma postura de espectador dos eventos observados ou do cotidiano

    dos grupos observados, sem participar ativamente do cotidiano que marca a realidade

    investigada. preciso que o observador esteja apoiado em conceitos que imprimam

    sentido ao que v, ao que ouve, ao que sente (LIMA, 2008).

  • 36

    Foi utilizado um dirio de campo durante as observaes realizadas, que de

    acordo com Minayo (2004), adequado a toda observao, sendo este dirio de campo

    um instrumento prprio do pesquisador, onde devem constar todas as informaes:

    observaes sobre conversas informais, comportamentos, gestos, expresses que digam

    respeito ao tema da pesquisa.

    O tempo total de observao foi de 33 horas, sendo aproximadamente 11 horas

    de observao em cada setor investigado, onde foram registradas, em um dirio de

    campo, as expresses corporais e comportamentais, verbais e no verbais, acerca da

    temtica em estudo, presentes no cotidiano laboral.

    As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas posteriormente a etapa de

    observao no participante ter sido iniciada. Essa modalidade de entrevista possui um

    roteiro apropriado e utilizado pelo pesquisador, partindo de certos questionamentos

    bsicos para um amplo campo interrogativo (MINAYO, 2007). O roteiro da entrevista

    utilizado na obteno dos dados pode ser acessado no APNDICE C.

    De acordo com Gil (2006) na entrevista semi-estruturada permitida uma

    relativa flexibilidade, pois as questes podem no seguir exatamente a ordem prevista e

    podero, inclusive, serem levantadas novas questes, alm das pr-estabelecidas, de

    acordo com o decorrer de entrevista.

    Como o estudo de natureza qualitativa o nmero amostral seguiu uma

    proporo ao nmero de trabalhadores, bem como das diferentes categorias

    profissionais. A anlise dos dados se deu, concomitantemente, a coleta dos dados, ento

    houve a possibilidade de novas incluses.

    As entrevistas foram previamente agendadas com os trabalhadores, assim

    garantindo um ambiente reservado, que fosse livre de movimentao e que tivesse a

    privacidade necessria para a realizao da entrevista. Os locais de entrevista variaram,

    sendo utilizadas as salas de lanche da enfermagem e a salas de educao em sade/

    reunies do terceiro andar. Foi utilizado um gravador, sendo que, posteriormente, as

    entrevistas foram transcritas e analisadas com referencial apropriado para a

    interpretao dos achados.

    Para o encerramento da coleta de dados obedeceu-se os critrios da amostragem

    por saturao dos dados que refere-se a um recurso conceitual frequentemente

    empregada nos relatrios de investigaes qualitativas em diferentes reas no campo da

    Sade, entre outras. utilizada para definir ou fechar o tamanho final de uma amostra

  • 37

    em estudo, interrompendo a coleta de novos componentes (FONTANELLA, RICAS E

    TURATO, 2008).

    Primeiramente foram realizadas trs entrevistas teste com uma enfermeira e duas

    tcnicas de enfermagem. Posteriormente as adequaes ps-teste, foram entrevistados

    treze trabalhadores de enfermagem, sendo: cinco enfermeiros e oito tcnicos de

    enfermagem, quando constatou-se a saturao dos dados e foi realizado o encerramento

    da coleta de dados. As referidas entrevistas tiveram durao mdia de 20 minutos.

    3.5 Anlise dos Dados

    Os dados foram analisados com base no referencial proposto para anlise de

    contedo. Neste caso, foi utilizado o referencial de Bardin (2009).

    Para Bardin (2009) tudo o que dito ou escrito suscetvel de ser submetido a

    uma anlise de contedo. A anlise de contedo visa analisar as caractersticas de uma

    mensagem atravs da comparao destas mensagens para receptores distintos, ou em

    situaes diferentes com os mesmos receptores, visa ainda, analisar o contexto ou o

    significado de conceitos sociolgicos e outros nas mensagens, bem como caracterizar a

    influncia social das mesmas e analisar as condies que induziram ou produziram a

    mensagem.

    Mensagens obscuras que exigem uma interpretao, mensagens com um duplo

    sentido cuja significao profunda s pode surgir depois de uma observao cuidadosa

    ou de uma intuio carismtica. Por de trs do discurso aparente, geralmente simblico

    e polissmico, esconde-se um sentido que convm desvendar. (BARDIN, 2009)

    Neste sentido, a anlise de contedo de Bardin (2009), organiza-se seguindo as

    seguintes etapas:

    - reunio do corpus de anlise (entrevistas transcritas e anotaes referentes as

    observaes);

    - pr-anlise: leitura flutuante dos dados coletados, esta etapa corresponde organizao

    do material pesquisado, com o intuito de tornar operacionais e sistematizar as ideias

    iniciais; compreendendo a escolha dos documentos a serem analisados, a formulao de

    hipteses/objetivos e a elaborao de indicadores que fundamentem a interpretao

    final. Ou seja, pretende conhecer as falas, e refletir sobre as situaes observadas

    possibilitando ao pesquisador instrumentalizar-se com impresses e orientaes, sem

    privilegiar a priori qualquer elemento do discurso. Destaca-se que nesse sentido,

  • 38

    necessrio ler e reler os materiais [entrevistas] at impregnar-se de seu contedo,

    buscando tambm as mensagens silenciosas (BARDIN, 2009).

    - categorizao de dados: a partir da leitura aprofundada do material de anlise,

    buscando-se o estabelecimento de categorias e/ou sub-categorias. A categorizao

    vista como uma operao de classificao de elementos constitutivos de um conjunto,

    por diferenciao (isolar) e, em sequncia, por um reagrupamento analgico e

    homogneo em funo de caracteres comuns, como temas, por exemplo (BARDIN,

    2009).

    - anlise interpretativa: quando as categorias foram trabalhadas com base nos autores da

    reviso de literatura, somando-se a interpretao de dados pelos pesquisadores. Nesse

    caso, para a reflexo e discusso das categorias apontadas neste estudo, utilizou-se dos

    referencias tericos, bem como dos artigos cientficos que contemplaram as temticas

    emergidas.

    3.6 Consideraes ticas

    Este estudo obedeceu aos preceitos ticos indicados para pesquisa com seres

    humanos. O projeto de pesquisa foi submetido a autorizao da instituio onde foi

    realizado o estudo e a aprovao do Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos

    (CEP), da Universidade Federal de Santa Maria (CAAE N 01901312.6.0000.5346).

    Somente aps a tramitao de todos os requisitos exigidos, foi iniciada a coleta de

    dados.

    Os sujeitos da pesquisa somente participaram do estudo, aps a leitura do Termo

    de Consentimento Livre e Esclarecido (APENDICE I) e concordncia com o mesmo,

    ficando (aps coleta de assinatura) de posse de uma via deste documento (a outra via

    ficar em posse da pesquisadora), tudo em conformidade com a Resoluo 196/96 do

    Conselho Nacional de Sade.

    Foi garantido aos participantes do estudo o anonimato dos mesmos. Os

    fragmentos dos depoimentos que fazem parte dos resultados do estudo foram

    identificados pela inicial da categoria profissional do participante, seguida do nmero

    correspondente ordem de realizao das entrevistas, por exemplo, (E1, E2, E3...) para

    os enfermeiros e (TE1, TE2, TE3...) para os tcnicos de enfermagem.

  • 39

    Foi garantida a possibilidade de desistncia de participao na pesquisa a

    qualquer momento e o acesso as informaes por eles obtidas e aos resultados do

    estudo.

    A pesquisa apresentava riscos, como mobilizar sentimentos ou desconfortos de

    quaisquer tipo frente a temtica proposta na entrevista. Neste caso, a pesquisadora

    esteve disponvel para prestar esclarecimentos ou fazer os encaminhamentos que fossem

    necessrios. A pesquisadora comprometeu-se a manter a confidencialidade dos dados,

    bem como a utiliz-los somente para fins dessa pesquisa, de acordo com o exposto em

    Termo de Confidencialidade (APNDICE D).

    A pesquisadora se comprometeu em compartilhar os achados com os gestores e

    trabalhadores de enfermagem dos servios estudados nesta pesquisa. Acredita-se que

    este estudo poder contribuir com subsdios para a construo de conhecimentos sobre

    sade do trabalhador e cuidado ambiental dos trabalhadores de enfermagem, bem como

    para novas perspectivas de concepo de risco para os trabalhadores da rea da sad

  • 40

    4 RESULTADOS

    Por meio deste tpico, pretendeu-se trazer a luz os principais significados e

    sentidos desvelados nesta pesquisa. Para melhor ilustrar os achados e otimizar sua

    divulgao, os resultados deste estudo foram elaborados na forma de artigos cientficos,

    o que permitido institucionalmente, conforme o Manual de Estrutura de Apresentao

    de Monografias, Dissertaes e Teses (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA

    MARIA, 2012).

    Posteriormente a arguio e contribuies que viro a serem realizadas pelos

    membros da banca da defesa da presente dissertao, pretende-se melhor adequar os

    artigos, conforme as normas de peridicos indexados com Qualis na rea da

    Enfermagem na CAPES. Dessa forma, seguindo os referidos passos, os artigos sero

    encaminhados para publicao.

    Os artigos que compem os resultados e discusso so apresentados a seguir:

    Quadro 2 Lista de artigos cientficos originados a partir dos resultados do

    estudo.

    4.1

    Artigo 1

    CONCEPO DE RISCO PARA TRABALHADORES DE

    ENFERMAGEM HOSPITALAR

    4.2

    Artigo 2

    A EXPOSIO AOS RISCOS NA VISO DE

    TRABALHADORES DE ENFERMAGEM HOSPITALARES

    4.3

    Artigo 3

    A INTER-RELAO RISCO E MEIO AMBIENTE NA VISO

    DE TRABALHADORES DE ENFERMAGEM HOSPITALAR

  • 41

    ARTIGO 1

    4.1 Concepo de risco para trabalhadores de enfermagem hospitalar

  • 42

    CONCEPO DE RISCO PARA TRABALHADORES DE

    ENFERMAGEM HOSPITALAR

    Paola da Silva Diaz

    Silviamar Camponogara

    RESUMO

    O objetivo deste estudo foi conhecer o que os trabalhadores de enfermagem atuantes no

    contexto hospitalar entendem por risco. Trata-se de um estudo descritivo-exploratrio

    com abordagem qualitativa. A coleta de dados se deu por meio de entrevista

    semiestruturada e observao no participante junto a trabalhadores de enfermagem de

    um hospital universitrio do Sul do Pas. Para a anlise dos dados utilizou-se referencial

    apropriado para anlise de contedo. Desvelou-se que os trabalhadores possuem um

    conceito vago e impreciso de risco, bem como apresentam uma noo restrita sobre o

    mesmo. A concepo de risco que possuem os trabalhadores de enfermagem hospitalar

    apresenta fragilidades que devem ser olhadas com ateno. Considera-se isso essencial,

    no s para suprir algumas lacunas do conhecimento relacionadas a conceitos de risco e

    compreenso de sua complexidade, assim como para transformar a prtica destes

    trabalhadores.

    Descritores: Risco, Enfermagem, Enfermagem do Trabalho, Sade do trabalhador.

    INTRODUO

    Quando falamos em modernidade, nos referimos a um etilo/costume de vida ou

    uma forma de organizao social que emergiu, na Europa, a partir do sculo XVII,

    tornando-se mundial em sua influncia e adquirindo consequncias cada vez mais

    universalizadas; tanto para o indivduo como para a sociedade em geral(1)

    .

  • 43

    Esse contexto tem sido amplamente debatido, no mbito da sociologia

    contempornea, de tal forma que, alguns estudiosos, atribuem sociedade atual, a

    denominao de Sociedade de Risco, uma vez que, os riscos tm sido tratados como

    sendo um componente introduzido por meio da modernidade, trazendo consequncias

    significativas para as pessoas. De uma forma geral, pode-se dizer que essa sociedade

    pe em risco a si mesmo(2)

    .

    Ao refletir-se sobre isso, pode-se afirmar que, diferentemente das pocas

    anteriores, a sociedade de risco caracteriza-se essencialmente por uma carncia, que se

    refere impossibilidade de prever externamente as situaes de perigo e, dessa forma,

    v-se confrontada consigo mesmo em relao aos riscos(2)

    .

    Assim, olhar as questes relacionadas aos riscos contemporneos,

    especialmente, do ponto de vista social necessrio, tendo-se em mente que muitos

    riscos foram surgindo juntamente com a modernizao das sociedades. Essa

    modernizao traz tona as desigualdades sociais, e evidencia que a globalizao dos

    riscos remete a ideia de que ningum pode eximir-se das transformaes provocadas

    pela modernidade, o que torna a sociedade, como um todo, exposta a diferentes

    riscos(3,4)

    .

    Sendo assim, estar nesse contexto significa viver num ambiente de novas

    oportunidades, mas tambm num ambiente de diferentes riscos, concomitantemente

    inevitveis, gerados de um sistema orientado para a dominao da natureza e para a

    leitura reflexiva da histria. Dessa forma, estar em contato com riscos inquietante para

    todos, e ningum escapa(4)

    .

    Logo, ao pensarmos em riscos foroso destac-los como sendo um conjunto de

    fatores determinantes para a sade dos seres humanos, da sociedade e do planeta.

    Ademais, existem diferentes maneiras de se entender o que de fato o risco ou um

  • 44

    risco, porm, no mundo globalizado em que vivemos, faz-se relevante abordar essa

    questo sob distintos aspectos.

    Nesse sentido, reconhecer a existncia de um risco ou de um conjunto de riscos

    aceitar, no s a possibilidade de que as coisas possam sair erradas, mas que essa

    possibilidade no pode ser eliminada1. preciso considerar que risco uma palavra

    com diferentes sentidos, que nem sempre convivem em harmonia. Assim, a discusso

    sobre risco pode variar de acordo com o sentido que se atribui a ele(5)

    . preciso, ento,

    ir mais fundo em sua essncia, no cerne do que conforma, de fato, um risco.

    Neste contexto, a concepo de risco pode se dar de diferentes maneiras

    dependendo do sujeito interpretador, e essa compreenso frente aos riscos que guiar o

    comportamento dos sujeitos. Nesse enredo, a Enfermagem pode ser vista como uma

    significante categoria de trabalhadores que pode atuar amplamente em questes que

    envolvem riscos. Isso porque vrios fatores so decisivos na maneira como estes

    trabalhadores lidam com os riscos a que esto expostos e com os riscos que produzem, a

    partir dos produtos resultantes das aes necessrias para realizao da assistncia de

    enfermagem. mister destacar que estas aes expe a outrem e a eles mesmos.

    Ao enfatizar-se a importncia da enfermagem frente a abordagem sobre os

    riscos, destaca-se que a contribuio das pesquisas em enfermagem que formulem

    hipteses utilizando o conceito de risco e correlatos, constituem eixo norteador para a

    busca de paradigmas que evidenciem valores, costumes, determinantes concretos para

    colaborar com a melhoria da assistncia de enfermagem, o bem-estar e a qualidade de

    vida de indivduos e coletividade(6)

    .

    Deste modo, entendendo que o risco existe para a pessoa exposta a ele, mas

    tambm ao meio ambiente como um todo, reflexes sobre novas concepes de risco se

    fazem necessrias. Em relao ao trabalho que exerce a enfermagem, h diversos riscos

  • 45

    relacionados ao labor desses trabalhadores, que podem ser causados por fatores

    qumicos, fsicos, mecnicos, biolgicos, ergonmicos e psicossociais, que podem

    causar doenas ocupacionais e acidentes de trabalho(7)

    .

    Diante do exposto, a ampliao do debate sobre aspectos que inter-relacionam o

    trabalho da enfermagem e o conceito de risco imprescindvel. Contudo, para alm de

    uma viso meramente pontual sobre situaes/fatores de exposio, considerados,

    muitas vezes, isoladamente, destaca-se a importncia de uma forma ampliada de debate

    sobre a questo do risco, tendo em vista o pressuposto que a anlise isolada de um

    determinado risco pode determinar um enfoque fragmentado e descontextualizado de

    toda a complexidade que o envolve(8)

    .

    Assim, considera-se a importncia de uma viso ampliada sobre a concepo de

    risco, que possibilite aos trabalhadores de enfermagem e a populao em geral,

    subsdios suficientemente plausveis para que se lide com os riscos existentes da melhor

    maneira possvel. Isso pode oportunizar a busca pela minimizao de situaes de

    exposio a riscos, assim como um controle de riscos que podem ser evitados.

    Desse modo, tendo em vista o pressuposto da importncia de compreender que o

    descaso ou meramente uma conscientizao fragilizada sobre os riscos pode vir a se

    tornar um problema de sade, surge emergncia do debate frente ao que se refere

    concepo e compreenso dos riscos que tem relao direta e/ou indireta com o trabalho

    da enfermagem.

    Diante do exposto, apresenta-se a seguinte questo de pesquisa: qual a

    concepo de risco para trabalhadores de enfermagem atuantes no contexto hospitalar?

    Partindo dessa inquietao, o presente estudo buscou conhecer o que os trabalhadores

    de enfermagem atuantes no contexto hospitalar entendem por risco.

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    METODOLOGIA

    Estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo-exploratrio, realizado com

    trabalhadores de enfermagem de um hospital universitrio do Sul do Pas. Os dados

    foram coletados entre os meses de maio e setembro de 2012.

    Constituram-se em sujeitos do estudo trabalhadores