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Relatório Final Análise das Emissões de Gases de Efeito Estufa do Setor Elétrico Brasileiro e Papel das Termelétricas a Carvão Mineral Amaro Pereira Juliana Marreco

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Relatório Final

Análise das Emissões de Gases de Efeito Estufa do Setor Elétrico Brasileiro e Papel das

Termelétricas a Carvão Mineral

Amaro Pereira

Juliana Marreco

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Índice

1. Introdução .............................................................................................................................................. 4 1.1 Perspectivas para expansão do uso do carvão ................................................................................................ 6 1.2 O Setor Elétrico Brasileiro ....................................................................................................................................... 9

2. Análise da competitividade do carvão para geração de energia elétrica no Brasil 12 2.1 Descrição das Tecnologias .................................................................................................................................... 15 2.2 Premissas téncnico-econômicas .......................................................................................................................... 41

3. Cenários ............................................................................................................................................... 45 3.1 Cenário de Referência ............................................................................................................................................. 45

3.2 Cenários Alternativos............................................................................................................................................... 48 3.3 Expansão da Capacidade de Geração .............................................................................................................. 55 3.4 Comparações Internacionais ................................................................................................................................ 60

4. Considerações Finais ........................................................................................................................ 62

5. Referências Bibliográficas ............................................................................................................... 63

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Índice de Figuras

Figura 1 – Novos investimentos em capacidade e preços de carvão .......................................................... 5

Figura 2 – Desenvolvimento das tecnologias de carvão .............................................................................. 6

Figura 3 – Redução das emissões com aumento da eficiência .................................................................... 7

Figura 4 – Eficiência das plantas a carvão ..................................................................................................... 8

Figura 5 - Comparativo da flexibilidade das plantas a gas natural e a carvão .......................................... 9

Figura 7 – Potencial Hidrelétrico .................................................................................................................. 15

Figura 8 – Mapa das Principais Ocorrências de Carvão Mineral do Brasil ............................................ 17

Figura 9 – Reatores em construção no final de 2011. ................................................................................ 22

Figura 10 – Reservas de Urânio no Brasil ................................................................................................... 23

Figura 11 – Produção de Cana-de-Açúcar ................................................................................................... 27

Figura 12 - Potencial eólico brasileiro por região ....................................................................................... 30

Figura 13 – Insolação Total (Média Anual)................................................................................................. 32

Figura 14 – Representação das Cadeias Energéticas no MESSAGE ....................................................... 52

Figura 15 – Cadeias Energéticas Consideradas no Estudo ........................................................................ 53

Figura 16 – Sistema Interligado Nacional .................................................................................................... 54

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Índice de Gráficos

Gráfico 1 – Evolução da geração termelétrica .................................................................................... 20

Gráfico 2 – Custos de Combustível ..................................................................................................... 43

Gráfico 3 – Custo Médio de Geração .................................................................................................. 44

Gráfico 4 – Formação dos Custos de Geração .................................................................................... 45

Gráfico 5 – Emissões de Gases de Efeito Estufa por atividade ........................................................... 47

Gráfico 6 – Detalhamento das emissões relacionadas à energia no Brasil entre 2015-2030 .............. 48

Gráfico 7 – Comparação com Outros Estudos no ano 2030 .............................................................. 57

Gráfico 8 – Comparativo de emissões de gases de efeito estufa entre os cenários desenvolvidos e o

cenário de referência adotado. ..................................................................................................... 59

Gráfico 9 – Emissões de gases de efeito estufa em tCO2/MWh por MWh ........................................ 60

Gráfico 10 – Emissões de gases de efeito estufa em kgCO2/MWh por unidade de PIB .................... 61

Gráfico 11 – Emissões de gases de efeito estufa em tCO2/MWh per capita ..................................... 61

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Índice de Tabelas

Tabela 1 – Oferta de Biomassa (2005) ................................................................................................ 26

Tabela 2 – Dados de Irradiação Solar ................................................................................................. 36

Tabela 3 – Número de domicílios segundo classe de renda familiar .................................................. 39

Tabela 4 – Dados Técnico-Econômicos das Usinas ............................................................................ 42

Tabela 5 – Custos dos Combustiveis adotados ................................................................................... 43

Tabela 6 – Expansão da capacidade instalada de Geração no cenário de referência (MW) ............... 46

Tabela 7 – Evolução dos Custos de Investimento ............................................................................... 51

Tabela 8 – Projeção da Demanda de Energia Elétrica – MWmed ...................................................... 53

Tabela 9 – Expansão da Capacidade (MW) – cenário com Carvão .................................................... 55

Tabela 10 – Expansão da Capacidade (MW) – cenário Restritivo Carvão ........................................ 56

Tabela 11 – Comparação com Outros Estudos no ano 2030 (MW) .................................................... 56

Tabela 12 – Geração Mwmed – Cenário com Carvão ........................................................................ 57

Tabela 13 – Geração Mwmed – Cenário Restritivo Carvão................................................................ 57

Tabela 14 – Emissões MtCO2 – Cenário com Carvão ........................................................................ 58

Tabela 15 – Emissões MtCO2 – Cenário Restritivo Carvão ............................................................... 58

Tabela 16 – Indicadores de Emissões referentes ao setor elétrico ...................................................... 59

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SUMARIO EXECUTIVO

O carvão se tornará a principal fonte de energia do mundo nos próximos cinco anos,

sendo extremamente importante para aumentar o acesso à energia de milhões de pessoas e

permitir o desenvolvimento de diversos países, conforme aponta relatório da Agência

Internacional de Energia divulgado no final de 2012. O uso do carvão nas economias em

desenvolvimento pode reduzir sua exposição aos riscos da volatilidade dos preços dos

combustíveis fósseis e também se beneficiar do desenvolvimento de tecnologias de carvão

limpo.

A produção de syngas, o aumento da eficiência na geração termelétrica, tecnologias

mais eficientes tais como as modernas supercríticas e ultrasupercríticas e usinas mais

flexíveis, contribuindo com a qualidade da energia, e atuando como importante backup para

as energias renováveis permitirão a expansão do uso do carvão sem comprometer metas de

redução de gases de efeito estufa.

No Brasil, os Planos Decenais de Energia – PDE têm incorporado metas de

reduções de emissões adotadas na Conferência do Clima em Copenhague, limitando as

emissões do setor de energia em 634 MtCO2-eq. Ainda que exista espaço para expansão do

carvão sem que esse limite seja ultrapassado, o governo não tem permitido a participação

do carvão nos leilões de energia nova. Se por um lado esta medida mantém um baixo nível

de emissões, por outro, pode comprometer a segurança no abastecimento. No longo prazo,

o esgotamento do potencial hidrelétrico demandará uma maior participação de termelétricas

e uma restrição agora pode comprometer a continuidade do investimento no futuro.

O presente estudo apresenta uma análise da competitividade do carvão na matriz

energética brasileira, a luz dos compromissos e metas de redução de gases de efeito estufa

assumidos pelo governo federal.

A análise foi feita a partir do custo médio de geração (levelized cost of electricity),

considerando diversas fontes possíveis dadas as condições nacionais e considerando as

premissas técnicas e econômicos apresentadas na tabela 1 a seguir:

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Tabela 1 – Dados Técnico-Econômicos das Usinas

Fonte: EIA/DOE. 2010; IEA. 2010; EPE. 2007. Bloomberg New Energy Finance. 2012

Com base nessas premissas os resultados em termos de custo médio de geração para as

tecnologias analisadas para diferentes taxas de desconto, 6%, 8% e 10%, são ilustrados no

gráfico 1. Hidrelétricas grandes e médias são as tecnologias mais baratas no Brasil. Eólica

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onshore, biomassa da cana e PCH já são competitivas, quando se compara com as

termelétricas a gás natural e a carvão mineral.

Gráfico 1 – Custo Médio de Geração

Fonte: Elaboração própria

Para avaliação dos impactos da expansão do carvão na geração de energia elétrica

no Brasil, foram elaborados dois casos: um que considera um cenário restritivo às novas

usinas a carvão e outro que permite a expansão do carvão.

O cenário A não considera expansão de fontes renováveis, sendo o crescimento da

demanda atendido por gás natural. No setor transportes supõe que a proporção de mistura

de etanol na gasolina deverá ser reduzida para 20% até 2020, permanecendo neste patamar

após 2020. Não haveriam ganhos advindos de programas de eficiência energética e o mix

de consumo de energia permaneceria praticamente inalterado.

O segundo cenário de referência adotado neste estudo baseia-se no cenário B

apresentado em La Rovere et al (2013), que assume que o país irá implantar medidas

mitigadores conforme estabelecido no Plano Nacional de Mudança Climática para o

período 2010-2020.

Para a análise do impacto da inserção da geração a carvão no país no horizonte até

2030 foram considerados dois cenários alternativos: um cenário mais restritivo à entrada

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desse combustível e um cenário que permitiria a entrada de novas usinas a carvão no

parque gerador brasileiro visando a diversificação da matriz em que se entende a

importância dessa fonte para aumentar a segurança do suprimento de energia nacional.

Em ambos os cenários adotou-se a taxa de crescimento da demanda considerada no

PDE 2021 e uma taxa de desconto de 8% a.a.

Os cenários foram construídos com base em projeções de queda nos custos de

investimento das diferentes tecnologias de geração. Tais projeções se basearam em curvas

de aprendizagem, estimadas pela Agência Internacional de Energia.

A projeção da expansão da geração por tipo de tecnologia foi feita através do

MESSAGE (Model for Energy Supply System Alternatives and their General

Environmental impacts). A demanda de energia elétrica (energia final) de cada subsistema

(Sudeste/C.Oeste – SE. Sul – S. Nordeste – NE. Norte – N) foi assumida como exógena e é

considerado como dados de entrada para as simulações com o MESSAGE. Os valores

foram estimados nas projeções do Plano Decenal de Energia (PDE), para o período 2010-

2020, e do Plano Nacional de Energia 2030 (PNE), para o restante do horizonte.

O resultado é apresentado nas Tabelas 9 e 10 a seguir.

Tabela 9 – Expansão da Capacidade (MW) – cenário com Carvão

MW 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2035

Hidrelétricas 84.459 105.443 125.255 133.858 148.646 170.152

Nuclear 2.007 2.007 3.412 3.412 5.861 7.412

Gás Natural 9.142 12.697 12.697 12.697 12.697 14.602

Carvão 1.765 3.205 5.565 7.665 14.665 18.265

Óleo 3.244 7.853 7.853 7.853 7.853 7.853

Biomassa 8.000 10.704 11.969 11.969 20.937 24.500

Eólica 250 6.947 8.510 8.510 8.510 20.524

TOTAL 108.867 148.856 175.261 185.964 219.170 263.308

Fonte: Elaboração própria

Tabela 10 – Expansão da Capacidade (MW) – cenário Restritivo Carvão

MW 2010 2015 2020 2025 2030 2035

Hidrelétricas 84.459 105.443 125.605 134.208 154.803 170.152

Nuclear 2.007 2.007 3.412 3.412 7.412 7.412

Gás Natural 9.142 12.697 12.697 12.697 12.697 25.585

Carvão 1.765 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205

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Óleo 3.244 7.853 7.853 7.853 7.853 7.853

Biomassa 8.000 10.704 11.969 13.590 20.937 24.500

Eólica 250 6.947 8.510 8.510 16.181 27.724

TOTAL 108.867 148.856 173.251 183.476 223.088 266.431 Fonte: Elaboração própria

A análise da geração e das emissões de gases de efeito estufa resultante de cada

cenário mostra que as emissões geradas pelo carvão mostra que o aproveitamento do carvão

para geração de energia elétrica no país não compromete as metas assumidas, e tão pouco

gera impacto significativo em termos ambientais, enquanto pode efetivamente contribuir

com a expansão da capacidade instalada e com a segurança de suprimento.

Em termos gerais devido à pequena participação do setor elétrico nas emissões

totais do país, a inserção mais acentuada do carvão trará pequeno aumento das emissões

totais, mesmo quando considerando a participação relativa do setor elétrico nas emissões.

O mesmo se verifica quando se avalia o impacto das emissões totais por unidade do

PIB. Como os valores de emissões do setor elétrico são muito pequenos frente às emissões

totais, a variação é mínima quando comparamos o cenário de restrição de carvão na matriz

com o cenário que permite a participação do carvão na expansão do parque gerador.

Em termos de participação de renováveis na matriz a perda é muito pequena quando

comparada ao benefício de segurança advindo da diversificação com uma fonte que não é

intermitente.

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Gráfico 9 – Comparativo de emissões de gases de efeito estufa

Fonte: Elaboração própria

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

2015 2020 2025 2030

MtC

O2eq

Cenário Restritivo Carvão Cenário com Carvão

Cenário de Referência B Cenario de Referência A

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Gráfico 10 – Participação de renováveis na matriz por cenário

Fonte: elaboração própria

80%

81%

82%

83%

84%

85%

86%

87%

88%

89%

90%

80%

81%

82%

83%

84%

85%

86%

87%

88%

89%

90%

2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040

% R

en

ováveis

na G

era

ção

% R

en

ováveis

na C

ap

acid

ade Insta

lad

a

Geração Com Carvão Geração Restritivo Carvão

Cap Instalada Com Carvão Cap Instalada Restritivo Carvão

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Introdução

O carvão é o mais abundante e disponível combustível fóssil no mundo. Constitui a

base da geração de energia elétrica mundial, suprindo 42% da demanda global em 2008 de

acordo com o World Coal Association – WCA. É ainda um componente chave na produção

de aço e concreto, materiais vitais para a construção civil e projetos de infraestrutura.

Adicionalmente, existem atualmente 1,3 bilhões de pessoas sem acesso à

eletricidade no mundo, o que demonstra a importância deste energético para o

desenvolvimento das nações e, dessa maneira, levou a Agência Internacional de Energia a

afirmar que o carvão será responsável para atender mais da metade dessa população sem

acesso a energia nos próximos anos. O uso das chamadas tecnologias limpas de carvão

(“clean coal technologies”) tais como tecnologias de geração que utilizam caldeiras de

pressão supercríticas e ultrasupercríticas, bem como, o uso da captura e armazenamento de

carbono tornarão possível conciliar o uso do carvão com os objetivos climáticos e

ambientais.

O carvão se tornará a principal fonte de energia do mundo nos próximos cinco anos,

conforme aponta relatório da Agência Internacional de Energia divulgado no final de 2012.

Ainda de acordo com este relatório, o consumo do combustível crescerá em quase todas as

regiões do planeta e chegará a 4,32 bilhões de toneladas de óleo equivalente (btoe) em

2017, ultrapassando o petróleo, cuja demanda prevista pelo estudo é de 4,4 bilhões de btoe.

China e Índia vão liderar a expansão desse mercado nos próximos anos. Até 2017,

os chineses consumirão, sozinhos, mais do que todo o resto do mundo, enquanto os

indianos ficarão em segundo lugar e se tornarão os maiores importadores do combustível. A

expectativa é que a demanda global aumente 1,2 bilhão de btoe no período, o equivalente

ao consumo atual da Rússia e dos Estados Unidos.

O Banco Mundial, por sua vez, reconhece a importância fundamental do carvão

para assegurar o suprimento de energia elétrica, especialmente para as nações em

desenvolvimento. Isso pode ser comprovado com a decisão de financiamento da

Termelétrica de Medupi na África do Sul, quando o presidente do Banco Mundial afirmou:

“o carvão ainda é a opção de menor custo mais viável técnica e economicamente disponível

capaz de atender aos requistos de energia da maior economia da África”.

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O aumento do uso do carvão especialmente nas economias em desenvolvimento em

processo de industrialização acelerado pode reduzir sua exposição aos riscos da volatilidade

dos preços dos combustíveis fósseis e também se beneficiar do desenvolvimento de

tecnologias de carvão limpo. Com isso entre 2007 e 2010 países como Brasil, China, Índia,

Indonésia, México, Polônia e África do Sul desenvolveram estudos visando identificar

oportunidades técnicas, financeiras e políticas para tecnologias de baixo carbono, conforme

apontado no relatório “Planning for a Low Carbon Future”.

O relatório da Agência Internacional de Energia, Tracking Clean Energy Progress

aponta que na Europa e nos EUA a expansão termoelétrica preferencial tem sido através da

geração a gás natural. O mesmo relatório aponta que a Índia deverá implantar de 50% a

60% das novas plantas de carvão supercríticas. A manutenção do preço do carvão em

patamares elevados favorece investimentos em tecnologias de maior eficiência, como

ilustram as figuras 1 e 2 a seguir.

Figura 1 – Novos investimentos em capacidade e preços de carvão

Fonte: IEA. Tracking Clean Energy Progress Report. 2012

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Figura 2 – Desenvolvimento das tecnologias de carvão

Fonte: IEA. Tracking Clean Energy Progress Report. 2012

No Brasil, os Planos Decenais de Energia – PDE agora têm incorporado as metas de

reduções de emissões adotadas na Conferência do Clima em Copenhague, que limita as

emissões de todo o setor de energia em 634 MtCO2-eq. De acordo com o PDE, as emissões

em 2020 provenientes do setor elétrico devem atingir 56 MtCO2-eq. Em 2010, as emissões

do setor elétrico representavam 8,4% do setor energético e 1,5% das emissões totais,

considerando florestas, agricultura etc. Atingindo as metas assumidas para 2020, as

proporções passam para 7,9% e 2,5%, respectivamente.

A reversão do crescimento da emissão de gases de efeito estufa e com isso da

redução dos riscos da mudança climática é provavelmente um dos maiores desafios da

humanidade no século 21. Considerações ambientais no âmbito internacional reforçam a

necessidade de desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono. Políticas de redução de

emissões e controles de poluição têm sido utilizadas forçando o descomissionamento de

plantas ineficientes, desacelerando a demanda por carvão e limitando as emissões da

geração térmica a carvão.

O Plano Quinquenal Chinês (2011-2015) prevê o descomissionamento de plantas

pequenas, antigas e ineficientes a carvão e sinaliza com a introdução de um mercado de

carbono na China depois de 2020. Na Índia, o Plano (2012-2017) apresenta uma meta de

que 50% a 50% das plantas a carvão utilizem tecnologia Supercrítica. Na Europa o

esquema de comercialização de emissões combinado a fortes estímulos governamentais

para energias renováveis tem praticamente eliminado a construção de novas plantas a

carvão. Nos EUA se for adotada a regulação de emissões de carvão pela Agência de

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Proteção Ambiental combinado à substituição por plantas a gás natural, o crescimento da

geração a carvão estará limitado.

1.1. Perspectivas para expansão do uso do carvão

De acordo com o Roadmap do carvão mineral elaborado pelo CGEE, a produção de

syngas ampliará as aplicações do carvão mineral, além de torná-lo mais eficiente e rentável

tanto para geração de energia como para outros segmentos.

A eficiência na geração termelétrica a carvão terá um papel fundamental na

produção de eletricidade no futuro. Um ponto percentual de acréscimo na eficiência de uma

tecnologia de carvão pulverizado pode representar uma redução de 2-3% na emissão de

gases de efeito estufa. Tecnologias mais eficientes tais como as modernas supercríticas e

ultrasupercríticas emitem quase 40% menos CO2 do que as plantas subcríticas, tal como

ilustrado na figura 3 abaixo.

Figura 3 – Redução das emissões com aumento da eficiência

Fonte: IEA “Focus on Clean Coal”(2006)

Nota: 1% de aumento na eficiência – 2-3% de redução nas emissões

Melhorias de eficiência consistem nas medidas de redução de gases de efeito estufa

mais econômicas e de menor tempo de implementação nas térmicas a carvão.

Particularmente nos países em desenvolvimento e nas economias de transição em que as

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eficiências das plantas existentes é geralmente baixa e o uso do carvão é crescente. A média

da eficiência global nas plantas a carvão atualmente é de 28% comparado com 45% das

plantas mais eficientes.

Ainda de acordo com o Roadmap do carvão mineral, as termelétricas a carvão no

Brasil, com exceção de Candiota Fase C e Jorge Lacerda IV, são antigas e, segundo o PNE

2030 (EPE/MME. 2007), atingem um rendimento máximo de 35%. A adoção de novas

tecnologias, como caldeiras supercríticas ou IGCC, poderia proporcionar um rendimento

acima de 40% com menores índices de emissões. A adoção de tecnologias de limpeza de

gases, permite equiparar ou mesmo superar os níveis de emissões de combustíveis mais

limpos e também mais caros, como o gás natural.

Uma das metas propostas pelo Roadmap prevê que horizonte até 2022 as novas

usinas termelétricas nacionais estejam operando com 40% de eficiência; e até 2035 a

eficiências dessas usinas atinja 45%. De fato é possível observar eficiência crescente nas

plantas a carvão como ilustra a figura 4 a seguir.

Figura 4 – Eficiência das plantas a carvão

Fonte: IEA – Tracking Clean Energy Progress Report. 2012

As usinas a carvão não apenas deverão se tornar mais eficientes como também serão

mais flexíveis, contribuindo com a qualidade da energia, e também atuando como

importante backup para as energias renováveis (intermitentes tais como solar e eólica).

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Desta forma, o papel da geração fóssil deverá desempenhar um papel complementar às

renováveis, considerando que tais tecnologias terão prioridade no despacho. Esta mudança

de papel exige que as plantas de geração a carvão passem a operar de forma flexível.

Atualmente já existem usinas a carvão que funcionam a uma carga parcial funcionando

como reserva de capacidade competindo com plantas a gás natural. Plantas modernas

podem alternar da capacidade plena para 50% em menos de 15 minutos com pequenas

perdas de eficiência como pode ser visto na figura 5 abaixo.

Figura 5 - Comparativo da flexibilidade das plantas a gas natural e a carvão

Fonte: EURACOAL

1.2. O Setor Elétrico Brasileiro

O setor elétrico brasileiro é sistema hidrotérmico, caracterizado pela forte presença

de usinas hidrelétricas, com grandes reservatórios de regularização plurianual, localizadas

em diferentes bacias hidrográficas, que ficam afastadas dos centros consumidores. O

sistema, por isso, é interligado por extensas linhas de transmissão. A capacidade hidráulica

é complementada por usinas térmicas convencionais e nucleares, além disso, há uma

crescente expansão de usinas eólicas. O Sistema Interligado Nacional (SIN) é operado pelo

ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que gerencia o SIN de forma otimizar a

utilização de todas as fontes, em especial a hidráulica, dada a sua característica estocástica.

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De acordo com o último Balanço Energético Nacional (BEN) publicado (ver

https://ben.epe.gov.br/downloads/Relatorio_Final_BEN_2012.pdf), no ano de 2011 o Brasil

possuía um parque instalado de geração de energia elétrica com capacidade de

aproximadamente 117 GW, sendo 82,5 GW de hidrelétricas, 31,2 GW de termelétricas

convencionais, 2 GW de nucleares e 1,4 MW de usinas eólicas.

Pode-se notar, dessa maneira, que as emissões de gases de efeito estufa (GEE)

provenientes do setor elétrico são relativamente baixas e são provocadas por usinas a gás

natural, a carvão mineral e a óleo diesel e combustível. Em 2010, as emissões de GEE

foram inferiores a 32 MtCO2-eq.

Esse perfil, entretanto, pode mudar bastante, em função do crescimento da demanda

de energia elétrica e da disponibilidade de recursos para a geração, bem como dos custos do

aproveitamento desses recursos.

Se por um lado, o país possui uma grande variedade de recursos naturais, por outro,

a sua exploração pode implicar em grandes investimentos e em significativos impactos

ambientais. É necessário, portanto, que haja um planejamento energético que, ao mesmo

tempo em que assegure a expansão da oferta com o menor custo econômico e ambiental,

formule medidas pelo lado da demanda que garantam que o consumo de energia seja feito

da maneira mais eficiente possível.

No Brasil, o Estado, através do Ministério de Minas e Energia (MME), é executor

do Planejamento Energético Nacional. O MME, por sua vez, promove, através da Empresa

de Pesquisa Energética (EPE), diversos estudos e análises que respaldam a formulação de

políticas energéticas. Dentre eles, podem-se destacar planos de expansão da geração e

transmissão de energia elétrica de curto, médio e longo prazos.

A complexidade do sistema hidrotérmico brasileira, os prazos de maturação dos

projetos e os estudos que antecedem sua concepção exigem que o planejamento da

expansão seja desenvolvido em três horizontes de tempo, a saber:

- Estudos de Longo Prazo - com horizonte de até 30 anos, onde se procura analisar

as estratégias de desenvolvimento do sistema elétrico, a composição futura do parque

gerador e os principais troncos e sistemas de transmissão, Sua periodicidade deve ser de 5 a

6 anos e se constitui na base para a elaboração dos Planos Nacionais de Energia Elétrica.

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- Estudos de Médio Prazo – com horizonte de 15 anos. Neste, se estabelecem os

programas de geração e de transmissão de referência e se estimam as necessidades de

recursos financeiros para investimentos e a demanda de serviços de construção de usinas,

de sistemas elétricos (linhas de transmissão e subestações) e de equipamentos. Sua

periodicidade deve ser de 2 a 3 anos.

- Estudos de Curto Prazo - tem horizonte de 10 anos. Devem ser apresentadas as

decisões relativas à expansão da geração e da transmissão, definindo os empreendimentos e

sua alocação temporal, sendo realizadas as análises das condições de suprimento ao

mercado e calculados os custos marginais de expansão. Sua periodicidade deve ser anual e

resulta no Plano Decenal de Expansão do Setor Elétrico.

Atualmente, esses estudos vêm sendo desenvolvidos em duas etapas principais: os

Estudos de Longo Prazo, foco deste trabalho, consolidados no Plano Nacional de Energia –

PNE; e os Estudos de Curto Prazo, consolidados no Plano Decenal de Energia – PDE e no

Plano Determinativo da Expansão da Transmissão – PDET.

Os Planos Decenais de Energia – PDE agora têm incorporado as metas de reduções

de emissões adotadas na Conferência do Clima em Copenhague, que limita as emissões de

todo o setor de energia em 634 MtCO2-eq.

No Brasil, a intensidade das emissões em 2008 foram de 1,48 tCO2 por unidade de

oferta interna de energia (OIE), enquanto a média mundial é de 2,39 tCO2/OIE e dos países

da OCDE 2,37 tCO2/OIE. Em 2021, o PDE projeta que este valor será de 1,71 tCO2/OIE,

ou seja, ainda bem abaixo da média mundial atual. De acordo com o PDE 2021, a expansão

da oferta e do consumo de energia visualizadas no PDE 2021 atende a meta expressa em

termos do valor absoluto das emissões no ano 2020, com a projeção das emissões situando-

se abaixo do limite inferior do intervalo. Mesmo assim, a entrada de novas usinas

termelétricas tem sido bem restrita. O governo não tem permitido nem mesmo a

participação destas tecnologias nos leilões de energia nova. Se por um lado esta medida

mantém um baixo nível de emissões, por outro, pode comprometer a segurança no

abastecimento, visto que as termelétricas aumentam a energia assegurada do sistema.

Adicionalmente, em uma perspectiva de longo prazo, o esgotamento do potencial

hidrelétrico demandará uma maior participação de termelétricas e uma restrição agora pode

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comprometer a continuidade do investimento no futuro.

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2. Análise da competitividade do carvão para geração de energia elétrica no Brasil

A análise será feita a partir de base de dados oficiais de instituições como a

Empresa de Pesquisa Energética – EPE, Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis – ANP, Agência Internacional de Energia – IEA, Bloomberg New Energy

Finance e o Departamento de Energia Americano – EIA/DOE. Em especial, serão

verificados dados técnicos e econômicos como os custos de operação e manutenção, de

investimento, o tempo de construção, a vida útil, o plano de desembolso, o heat rate, a

potência, o fator de capacidade, entre outros. Com esses dados será calculado o custo médio

de geração de cada tecnologia e permitirá a correta comparação entre elas.

A metodologia utilizada para o cálculo do custo médio de geração (levelized cost) é

a mesma adotada no estudo “Projected Costs of Generating Electricity: 2005 Update” (IEA.

2005). Através dessa metodologia com base nos valores do investimento, nos custos

operacionais, na eficiência, e na vida útil dos ativos calcula-se qual seria o custo da energia

(US$/MWh ou R$/MWh) para a remuneração do acionista para um dado custo de capital

ou taxa mínima de atratividade do capital.

Os custos serão expressos, sempre que possível, em Reais. Caso seja necessária a

conversão para a moeda corrente, será utilizada a taxa de câmbio de 2,00 R$/US$.

Outra informação importante para o estudo é a taxa de desconto considerada, pois

mostra o retorno obtido nos investimentos feitos em usinas de geração de energia elétrica.

A estimativa da taxa de retorno baseia-se no custo médio ponderado de capital das

empresas de geração de energia no Brasil. Analisando as taxas de empresas tais como a

Tractebel, da AES, da CEMIG Geradora, e de Furnas pode-se notar que os valores variam

entre 6% e 9%. Não é objetivo deste trabalho entrar nesta discussão. Portanto, neste

capítulo, serão adotadas três taxas diferentes: 6%, 8% e 10%. Nos capítulos que apresentam

os cenários, será adotada a taxa 8%.

O custo médio de geração (CMG) é expresso em R$/MWh e é calculado da seguinte

maneira:

onde:

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CI é o custo de investimento por MWh gerado de energia; e

CO é o custo de operação por MWh gerado de energia.

O CO é composto pelo custo variável de operação e manutenção – O&M (CVO&M)

mais o custo do combustível (Ccomb). Este, por sua vez é dado pelo preço combustível, em

unidade comercial, multiplicado pelo correspondente heat rate (HR). Assim:

sendo,

Para obter o CI na unidade requerida, é necessário anualizar o investimento total.

Normalmente, o custo de investimento de uma usina é informado pelo valor do kW

instalado, sem considerar os juros incorridos durante a construção (overnight cost). Assim,

antes de anualizar o custo de investimento é necessário considerar os juros durante a

construção (jdc) e trazer todos os desembolsos a valor presente.

onde,

CIc/jdc é o custo de investimento com jdc

CIs/jdc é o custo de investimento sem jdc

Dn é o percentual de desembolso no ano n

i é a taxa de desconto

n é o número de anos que ocorrem desembolsos

O valor obtido deve ser adicionado ao custo fixo de O&M (CFO&M), pois este é

informado com a mesma unidade do custo de investimento com jdc. Assim, o custo

anualizado (CA) será dado por:

onde,

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POT é a potência da usina

T é a vida útil do empreendimento

Com esses valores pode-se obter facilmente o CI, dividindo CA pela geração média

anual da usina (em MWh), que pode ser estimada pelo fator de capacidade (FC) médio da

usina.

Assim, foram levantados os dados técnicos e econômicos necessários para o cálculo

dos custos médios de geração das seguintes tecnologias:

Termelétrica a carvão mineral nacional - Leito Fluidizado;

Temelétrica a carvão mineral Nacional – Ultrasupercritica;

IGCC – Geração Integrada em Ciclo Combinado carvão mineral Nacional;

Termelétrica a carvão mineral importado (carvão pulverizado - PCC);

Termelétrica a carvão mineral importado – Ultrasupercritica;

IGCC – Geração Integrada em Ciclo Combinado carvão mineral importado;

Termelétrica a gás natural ciclo aberto;

Termelétrica a gás natural ciclo combinado;

Termonuclear geração III;

Termelétrica a biomassa – plantas reformadas (retrofit);

Termelétrica a biomassa – plantas novas (greenfield);

Termelétrica a biogás – motores ciclo Diesel;

Usinas eólicas em terra (onshore);

Usinas eólicas no mar (offshore);

Usina solar fotovoltaica;

Usina termo solar concentradora (CSP);

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Hidrelétricas grandes (potência superior a 1.000 MW);

Hidrelétricas médias (potência entre 30 e 1.000 MW);

Pequenas centrais hidrelétricas – PCH (potência inferior a 30 MW); e

Linhas de transmissão.

2.1. Descrição das Tecnologias

Hidrelétricas

A principal fonte de energia elétrica no Brasil é a geração hidráulica. Contudo, de

todo potencial, apenas 30% é explorado. O grande problema é que, do potencial

remanescente, uma parte importante se localiza na Região Amazônica e no Cerrado, onde a

questão ambiental é bastante sensível. Por isso, as novas usinas hidrelétricas estão sendo

projetadas para minimizar os impactos ambientais. Muitas delas sem reservatório de

regularização (ou seja, a fio d’água), de forma a reduzir a área alagada.

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Figura 6 – Potencial Hidrelétrico

Fonte: EPE

Adicionalmente, no desenvolvimento de novas hidrelétricas é considerada a

possibilidade de aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos. Assim, além da geração

elétrica os rios podem ser aproveitados para abastecimento d’água (urbano, industrial,

Rural, animal), irrigação, transporte, lazer, turismo, pesca e outros usos. Os recursos

hídricos são, portanto, considerados como vetor de desenvolvimento regional e devem ser

planejados considerando os interesses de uso dos diversos agentes.

Dessa maneira, no horizonte de tempo considerado no estudo, é razoável assumir

que a base da expansão ainda será hidrelétrica. A evolução da capacidade instalada,

contudo, depende capacidade industrial para produção de equipamentos. Entendeu-se como

razoável um limite médio de 5.000 MW por ano de expansão da capacidade de geração

hidrelétrica.

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- Termelétricas a carvão

O Brasil possui reservas significativas de carvão mineral. De acordo com o BEN

2012, elas somavam mais de 32,3 bilhões de toneladas em 2011, o que possibilitou a

produção de aproximadamente 6 milhões de toneladas do minério. Este volume, entretanto,

representa em torno de 1,4% da energia primária produzida no país. Praticamente toda a

produção nacional é de carvão vapor que alimenta as usinas termelétricas nacionais.

Na década de 70, 20% da produção de carvão eram destinados à fabricação de

coque para a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), de acordo com um Decreto do

Presidente Getúlio Vargas de 1946. Com a construção das usinas termelétricas de Candiota,

no Rio Grande do Sul, e de Jorge Lacerda, em Santa Catarina, o perfil da produção

começou a mudar. A partir da década de 90, com a desregulamentação do setor, o carvão

metalúrgico nacional, que é de qualidade inferior, foi sendo substituído pelo importado.

As reservas brasileiras de carvão mineral estão localizadas na região Sul, nos

estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, como mostra a figura 5 a seguir. O

grande teor de cinzas in natura com camadas de pequenas espessuras; as condições

geológicas adversas; a capacidade de produção subutilizada e; os contratos de suprimento

com o setor elétrico por curtos períodos (em torno de três anos) e a falta de política para o

setor são fatores que aumentam os custos de produção e não estimulam esforços financeiros

para implantação de novas tecnologias de lavra e beneficiamento.

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Figura 7 – Mapa das Principais Ocorrências de Carvão Mineral do Brasil

Fonte: CPRM

Ainda que o carvão nacional tenha elevado teor de cinzas e de enxofre, a

disponibilidade de reservas dessa fonte fóssil conjugada com o desenvolvimento de

tecnologias menos poluentes (clean coal tecnologies) e a crescente demanda por energia

elétrica no país poderá fazer com que não se descarte a expansão das termelétricas a carvão

no Brasil. De qualquer forma, com o atual conhecimento geológico o aproveitamento do

carvão nacional para geração elétrica está restrito à Região Sul do país.

Para as outras regiões existe a possibilidade de importação do mineral,

aproveitando-se da sinergia dos portos. Na verdade, esta já é uma realidade no Porto de

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Pecém, em Fortaleza; e no Porto de Açu, no Rio de Janeiro.

Assim, não havendo restrições à penetração de fontes com grande potencial de

emissão de gases de efeito estufa no Brasil, a geração a carvão tem significativas

possibilidades de expansão no país, até porque o preço deste combustível no mercado

internacional é estável em comparação ao do gás natural e ao do petróleo, o que

proporciona segurança energética ao país. Neste estudo, não se considerou este tipo de

restrição.

Plantas Ultrasupercríticas de carvão pulverizado

São plantas termelétricas de ciclo Rankine, em que o vapor na saída da caldeira está

acima da pressão de 35MPa e temperatura de 720°C. Para a viabilização desta tecnologia

deverá ser considerada a mistura com carvões importados (blendagem) visando o ajuste das

melhores características para maximizar a eficiência das plantas.

Embora a tecnologia ainda seja considerada embrionária no Brasil, no mundo já está

em estágio de desenvolvimento mais avançada podendo ser considerada madura.

Plantas de Geração de Energia Integrada em Plantas de Ciclo Combinado – IGCC

De acordo com o Roadmap do Carvão Mineral, entre as tecnologias disponíveis e

adequadas para o carvão nacional destaca-se a gaseificação em leito fluidizado, tanto para a

geração de energia integrada em plantas de ciclo combinado – IGCC, como pela sinergia

possível com os demais aproveitamentos do carvão: siderurgia e carboquímica. Existem

atualmente 160 usinas tipo IGCC no mundo.

O principal parâmetro que impacta a eficiência do IGCC é a temperatura do gás da

turbina. Algumas usinas existentes atualmente utilizam turbinas antigas com temperaturas

que variam entre 1100-1260 °C. As turbinas mais recentes já atingem temperaturas até

1600 °C. A expectativa é que a partir de 2015 uma nova classe de turbinas (classe H) possa

aumentar ainda mais a eficiência.

Plantas termelétricas IGCC a carvão possuem níveis de emissões muito inferiores

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aos apresentados por plantas a carvão pulverizado e similares às do gás natural (GN). O uso

integrado da gaseificação com o ciclo combinado pode reduzir o consumo de água pela

metade, fazendo com que essas plantas apresentem consumo de água semelhante ao das

termelétricas a gás natural.

No entanto, atualmente a tecnologia IGCC ainda não é muito usada na indústria de

geração e a planta de gaseificação ainda não é uma tecnologia familiar para maioria das

empresas geradoras de energia. O risco tecnológico ainda é considerado moderado. Os

custos de capital ainda são muito elevados e ainda precisam ser reduzidos com o

desenvolvimento comercial e lições aprendidas com a escala e melhorias de design e

eficiência que advém da escalabilidade também.

De acordo com o relatório da Agência Internacional de Energia, Tracking Clean

Energy Progress, a tecnologia do IGCC é a que oferece maior potencial em termos de

eficiência, mas ainda requer uma redução de custos considerável para decolar.

No Brasil, há atualmente tecnologia desenvolvida apenas para gaseificadores de

pequeno porte, com plantas de demonstração em operação, além de gaseificadores de

biomassa para ciclo combinado (BIGCC) e cogeração. Mondal et al., 2011, salienta que a

gaseificação, tanto de carvão como de biomassa, está se desenvolvendo rapidamente no

mundo todo, despontando como uma tecnologia limpa para o carvão.

De acordo com o National Energy Technology Laboratoty em dezembro de 2012

haviam anunciadas 11 plantas de IGCC nos EUA. E atualmente existe apenas uma em

operação.

- Termelétricas a gás natural

As usinas termelétricas, de um modo geral têm aumentado a sua participação no

parque de geração nacional. Como principais fatores, podem ser apontados: o prazo menor

de maturação dos investimentos que estas usinas demandam, o custo de capital mais baixo

e o menor risco para o setor privado. O Gráfico 1 mostra a evolução da produção

termelétrica por fonte, onde a biomassa representa a soma da produção de eletricidade a

partir da lenha, do bagaço de cana e da lixívia e outras secundárias representam a produção

a partir das outras recuperações, das outras secundárias e do gás de coqueria.

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Gráfico 1 – Evolução da geração termelétrica

Fonte: BEN 2010

Nota-se que, ao lado da geração à biomassa, as termelétricas a gás natural foram as

que tiveram maior ganho de participação no setor, desconsiderando-se as hidrelétricas.

Pode-se verificar também que o crescimento foi significativo a partir de 1998. As razões

que explicam este aumento passam pelo Programa Prioritário das Termelétricas (PPT), que

previa inicialmente a implantação de quarenta e nove usinas térmicas, sendo quarenta e três

a gás natural. O PPT também tinha como objetivo aumentar a confiabilidade do sistema, já

que o nível dos reservatórios as hidrelétricas, no referido ano, estava abaixo do adequado.

A análise da participação de tais usinas no sistema hidrotérmico brasileiro deve

levar em consideração aspectos de natureza econômico-financeira, técnica, sócio-ambiental

e operacional para o sistema interligado. No caso específico das termelétricas a gás natural,

outros aspectos necessitam ser considerados, como a participação do referido combustível

na matriz energética nacional em seus diferentes usos e o abastecimento do produto no

horizonte de 2030.

A recente descoberta de jazidas de gás natural offshore na camada do pré-sal dá a

indicação de que haverá grande disponibilidade deste recurso. Tanto que nos leilões de

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energia nova organizado pelo governo, gás natural é a única fonte de geração fóssil que está

sendo considerada. Portanto, há grande perspectivas de expansão da geração a partir desta

fonte.

- Termelétricas a Óleo

A participação das térmicas a óleo combustível e a diesel no parque de geração

brasileiro é relativamente pequena. Seu uso é caracterizado pelo atendimento da demanda

de ponta (principalmente no caso das térmicas a óleo combustível) e pelo atendimento da

demanda dos sistemas isolados (térmicas a óleo diesel, principalmente).

As usinas que geram energia elétrica a partir de derivados de petróleo no Brasil são

localizadas principalmente na região Sudeste e na região Norte. Na região Sudeste tais

usinas são importantes para garantir a complementaridade térmica do sistema interligado

nacional e, no Norte, elas atendem à demanda de sistemas isolados.

Nos primeiros leilões de energia nova, várias térmicas a óleo (diesel e combustível)

foram bem sucedidas. O principal motivo do sucesso era a metodologia de cálculo da

garantia física que privilegiava usinas com baixo fator de capacidade, favorecendo a que

elas tivessem baixas tarifas. O governo, entretanto, corrigiu esse problema e novamente se

verifica que pouca expansão prevista de tais tecnologias no Brasil. Adicionalmente,

algumas usinas que conseguiram contratos nos leilões não saíram do papel por conta de

preço do combustível, reforçando a dificuldade de expansão da geração a partir de

derivados de petróleo.

- Usinas Nucleares

A geração termonuclear apresenta fases sucessivas de boom e de retração. A

consolidação da tecnologia se deu com os choques do petróleo em que vários países

apostaram nesta solução para reduzir a dependência do óleo. Os eventos de Three Miles

Island – TMI (1979) e Chernobyl (1986), entretanto, deram um freio na expansão, pois

fizeram com que investimentos em segurança fossem elevados de forma a reduzir o risco de

novos acidentes. Assim, a geração nuclear vinha perdendo competitividade frente a outras

fontes.

O quadro de baixa competitividade se reverteu com o desenvolvimento de novas

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tecnologias de geração nuclear e pelo fato de que esta energia não emite gases de efeito

estufa. Assim, na primeira década deste século, conheceu-se o renascimento da energia

nuclear. Tal expansão, entretanto, parece não se manter no longo prazo devido ao aumento

nos custos de investimento, resultante da alta demanda de matéria-prima da China e do

acidente ocorrido este ano em Fukushima. no Japão.

Apesar disso, conforme aponta o relatório da Agência Internacional de Energia

Tracking Clean Energy Progress, a maioria dos países que adotam geração nuclear

permanecem comprometidos com esta tecnologia, conforme ilustra a figura 8 a seguir:

Figura 8 – Reatores em construção no final de 2011.

Fonte: IEA. Tracking Clean Energy Progress. 2012

O Brasil possui duas usinas nucleares (Angra I e II) e uma terceira está em fase de

construção, devendo entrar em operação em 2015. No PNE 2030, publicado em 2007,

considerou-se a entrada de mais quatro usinas, pois se levou em consideração as condições

internacionais e o fator de que o país possui a sexta maior reserva de urânio do mundo (ver

Figura 9 a seguir), além de dominar a tecnologia de todo o ciclo do combustível.

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Figura 9 – Reservas de Urânio no Brasil

Fonte: PNE 2030

O quadro atual, entretanto, mostra que o custo de capital que já estava alto,

conforme citado anteriormente, deve aumentar ainda mais por conta do aumento do

investimento em segurança das usinas, devido ao evento ocorrido em Fukushima. Sem

contar que ficará mais difícil encontrar uma seguradora disposta a fazer contratos com tais

usinas. Assim, a geração nuclear deve perder a competitividade no curto e médio prazo.

- Termelétricas a Biomassa

O Brasil tem vasta e diversificada disponibilidade de biomassa, o que permite que

haja grande aproveitamento como recurso energético. Dessa maneira várias rotas

150,000

150,000

50,000 t

50,000 t

80,000 t

80,000 t

30,000 t

30,000 t

Itataia

70,000 t

120,000 t

Lagoa Rea - 70,000 t

70,000 t

160,000

70,000 t

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120,000 t

120,000 t

Lagoa Rea - 70,000 t

Lagoa Rea - 70,000 t

70,000 t

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160,000

160,000

Pitinga

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tecnológicas podem ser aplicadas nas diversas fontes, que vão desde os resíduos agrícolas,

industriais e urbanos até as culturas dedicadas, como mostra o Quadro 1 abaixo.

Quadro 1 – Rotas tecnológicas para conversão da biomassa em produtos e serviços energéticos

Fonte: PNE 2030

Segundo Lora e Nascimento (2004), a biomassa como recurso energético pode ser

apresentada em três grupos principais, diretamente relacionados com a origem da matéria

que constitui os biocombustíveis. Estes grupos seriam:

a) Biomassa energética florestal: são os biocombustíveis provenientes dos recursos

florestais seus produtos e subprodutos, que incluem basicamente biomassa lenhosa.

produzida de forma sustentável a partir de florestas cultivadas ou de florestas nativas.

obtida por desflorestamento de floresta nativa para abertura de áreas para agropecuária, ou

ainda originada em atividades que processam ou utilizam a madeira para fins não

energéticos, destacando-se a indústria de papel e celulose, indústria moveleira, serrarias

etc.

O conteúdo energético desta classe de biomassa está associado à celulose e lignina

contidas na matéria e seu baixo teor de umidade. Seu aproveitamento no uso final

energético se realiza, principalmente através das rotas tecnológicas de transformação

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termoquímica mais simples, como combustão direta e carbonização, mas rotas mais

complexas também são empregadas para a produção de combustíveis líquidos e gasosos

como metanol, etanol, gases de síntese, licor negro (um subproduto da indústria de

celulose), entre outros;

b) Biomassa energética agrícola: são os biocombustíveis provenientes das plantações não

florestais, tipicamente originados de colheitas anuais, cujas culturas são selecionadas

segundo as propriedades de teores de amido, celulose, carboidratos e lipídios, contidos na

matéria. em função da rota tecnológica a que se destina. Podem ser divididos em duas

subcategorias:

i. Culturas agroenergéticas: utilizando principalmente rotas tecnológicas de

transformações biológicas e físico-químicas, como fermentação, hidrólise e

esterificação, empregadas para a produção de combustíveis líquidos, como o etanol, o

biodiesel e óleos vegetais diversos. Integram estas culturas a cana de açúcar, o milho, o

trigo, a beterraba, a soja, o amendoim o girassol, a mamona e o dendê, existindo uma

grande variedade de oleaginosas a serem exploradas;

ii. Subprodutos das atividades agrícolas, agroindustriais e da produção animal: uma

expressiva quantidade de subprodutos resultantes das atividades agrícolas,

agroindustriais e da produção animal é tratada como resíduo, porém possui potencial

energético importante, que varia segundo a rota tecnológica empregada, que pode

variar desde a transformação termoquímica, com combustão direta, pirólise ou

gaseificação, passando pelas transformações biológicas e físico-químicas, incluindo a

digestão anaeróbica. Como exemplos destas culturas, temos a casca de arroz, a

castanha de caju e esterco animal;

c) Rejeitos urbanos: a biomassa contida em resíduos sólidos e líquidos urbanos tem

origem diversa, e se encontra no lixo e no esgoto. O lixo urbano é uma mistura

heterogênea de metais, plásticos, vidro resíduos celulósicos e vegetais, e matéria orgânica.

As rotas tecnológicas de seu aproveitamento energético são: a combustão direta, a

gaseificação, pela via termoquímica, após a separação dos materiais recicláveis, e a

digestão anaeróbica, na produção de biogás pela via biológica. O esgoto urbano possui

matéria orgânica residual diluída, cujo tratamento é uma imposição sanitária, que através

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da rota tecnológica de digestão anaeróbica encontra aplicação energética.

Para a geração de energia elétrica, as tecnologias de aproveitamento são muito

similares, variando principalmente em escala, e em alguns parâmetros de integração da

unidade termelétrica com o sistema produtivo. O aspecto de maior significância é a

disponibilidade da fonte, seja como resíduo ou produção dedicada, tanto para a escolha do

sistema quanto para a sua viabilidade. A Tabela 1 a seguir mostra a oferta de biomassa no

Brasil por fonte.

Tabela 1 – Oferta de Biomassa (2005)

Milhões de Toneladas

Total 570

Resíduos Agrícolas 478

Soja 185

Milho 176

Arroz (palha) 57

Cana-de-Açúcar (palha) 60

Resíduos Industriais 79

Cana-de-Açúcar (bagaço) 58

Arroz (palha) 2

Líxivia 13

Madeira 6

Florestas Energéticas 13

Madeira Excedente 13

Fonte: PNE 2030

Pode-se notar a grande disponibilidade de bagaço de cana-de-açúcar. Trata-se de um

resíduo da produção de açúcar e de álcool combustível, utilizado nas caldeiras para

cogeração, ou seja, para geração de vapor, utilizado no processo de fermentação do caldo

de cana; e para geração de energia elétrica, tradicionalmente para auto-consumo dos

produtores de cana.

Como o volume de produção tanto de açúcar quanto de álcool, vem aumentando

significativamente nos últimos anos, a disponibilidade de bagaço de cana proporciona um

excedente que permite que parte da geração de energia elétrica seja comercializada no SIN,

fator que pode ser comprovado nos leilões de energia em que a geração a bagaço sempre

apresenta bons resultados em termos de contrato de geração de energia.

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A geração a partir do bagaço ainda apresenta grandes perspectivas, pois é esperada

significativa expansão da produção de cana-de-açúcar, não somente em São Paulo (maior

produtor), mas principalmente nas regiões Centro-Oeste e Nordeste. A figura 10 a seguir

mostra a expansão da cultura no país.

Figura 10 – Produção de Cana-de-Açúcar

Fonte: PNE 2030

Adicionalmente, a melhoria da eficiência da queima do bagaço nas caldeiras, com o

retrofit das usinas existente e com a construção de novas usinas com tecnologias mais

eficientes (usinas greenfield), possibilitará uma expansão ainda mais significativa da

geração a bagaço no SIN.

Embora seja expressiva a disponibilidade dos demais resíduos agropecuários e

agroindustriais apresentados na Tabela 1, a recuperação e aproveitamento para fins

energéticos ainda é incipiente. Para viabilizar o aproveitamento dos resíduos agrícolas das

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culturas diversas, como soja, milho e arroz, deve-se adotar abordagem semelhante à do

aproveitamento dos resíduos agrícolas da cultura da cana-de-açúcar, qual seja, a

determinação de rotas econômicas e adequadas de recuperação, transporte e

disponibilização da biomassa na unidade de industrial, de geração de energia elétrica ou

outra.

No que diz respeito à silvicultura, o Brasil possui atualmente a melhor tecnologia de

implantação, condução e exploração de florestas de eucalipto, com ampla utilização para

produção de produtos florestais diversos, inclusive para exportação. Entre os principais

consumidores industriais de madeira em tora oriunda de florestas plantadas no Brasil estão

os painéis reconstituídos, compensados, serrados, papel e celulose, carvão vegetal e outros.

Além disso, o país possui extensas áreas cultiváveis, clima favorável, escolas de

formação de profissionais de nível internacional, mão-de-obra barata e abundante,

conferindo-lhe um imenso potencial para se tornar líder mundial na geração de energia a

partir da biomassa originária da silvicultura. A utilização para fins energéticos, no entanto,

também é pouco difundida no Brasil. Entretanto, considerando as perspectivas de

crescimento da demanda mundial de produtos florestais, principalmente aqueles originários

em sistemas florestais certificados, e a competitividade desta indústria no Brasil, acredita-se

que esta situação pode modificar bastante no médio e longo prazos.

- Termelétrica a Biogás

A avaliação do potencial de geração a partir do biogás no Brasil, resultante

principalmente de resíduos sólidos urbanos, requer primeiramente a identificação da

quantidade e composição do lixo, que é função do tamanho da população de seu poder

aquisitivo e de aspectos culturais bem como das tecnologias que permitem o

aproveitamento destes resíduos com seus parâmetros técnicos e requisitos operacionais.

O aproveitamento energético do lixo gera algumas externalidades positivas como a

redução da emissão de gases de efeito estufa, a criação de emprego e renda para população

de baixa qualificação profissional, a menor poluição por chorume (pois haverá menos lixo

sendo decomposto de maneira tradicional), a redução da necessidade por áreas para

disposição final dos resíduos e o aumento da reserva de recursos naturais. que serão

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utilizados de maneira mais racional.

A avaliação do potencial energético do lixo requer também que se assumam

algumas hipóteses com respeito a sua produção e sua composição. Atualmente, conforme a

II Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE (2000) e o Manual de Gerenciamento

Integrado do Lixo do IPT-SP (1998), estima-se que a produção per capita de resíduos

urbanos no Brasil seja da ordem de 0,54 kg por dia, pouco mais de um terço da produção

norte-americana, sendo que 47,5% é material orgânico e 30% é material reciclável. Nos

Estados Unidos, a proporção de recicláveis atinge 65%. Como efeito do crescimento da

renda e da melhoria em sua distribuição, haveria tanto aumento na produção de resíduos

como alteração em sua composição. Assim, pode-se considerar que, até 2030, devem-se

atingir índices de produção e proporção de recicláveis correspondentes à metade da

diferença atual entre os índices norte-americanos e brasileiros.

O principal gargalo ainda está no custo de produção de energia elétrica, que ainda

supera o das outras fontes. Na verdade, isso acontece, pois não se incorpora os benefícios

adicionais (externalidades positivas) proporcionados pelo gerenciamento do lixo. Assim,

dada a devida importância a esses benefícios, a geração a biogás desempenhará um papel

significativo no Brasil. Nesse caso há necessidade ainda de estímulos governamentais para

incentivar a geração a partir de biogás. Um exemplo disso é o que acontece no Reino Unido

onde há uma sobretaxação para os resíduos que são simplesmente dispostos em aterros e

um pagamento para o uso dos mesmos como combustível.

- Energia Eólica

A extensão territorial do Brasil favorece ao aproveitamento da energia eólica. Por

isso, várias iniciativas têm sido levadas a cabo para o levantamento do potencial de geração

eólica. Na primeira delas nos anos 1970, dados anemométricos mostravam velocidades

médias anuais da ordem de 4m/s a 10m de altura e já indicavam a viabilidade técnica do

aproveitamento eólico com equipamentos de pequeno porte para sistemas isolados e

apontavam o litoral do Nordeste e o arquipélago de Fernando de Noronha como sítios mais

promissores para a geração eólio-elétrica. Outras iniciativas foram implementadas ao longo

da década de 1980, mas o primeiro atlas eólico nacional só foi publicado em 1988 e, através

de um mapeamento por isolinhas das velocidades em altura de 10m. possibilitou identificar

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locais com velocidades médias anuais entre 5 e 6 m/s. Este trabalho indicou a tendência de

velocidades maiores de vento no litoral brasileiro e também em áreas no interior

favorecidas pelo relevo e pela baixa rugosidade.

Esses estudos, entretanto, foram prejudicados porque consideravam somente a

velocidade do vento abaixo de alturas de 10m. Dessa maneira, a maioria dos dados

anemométricos eram mascarados pela rugosidade e obstáculos próximos, além não serem

necessariamente representativos das áreas geográficas onde os equipamentos

anemométricos estavam instalados. Somente a partir da década de 1990 as medições

começaram a ser feitas em alturas superiores a 20m. Mais recentemente, com o avanço

mundial do aproveitamento da energia eólica e com a instalação das primeiras usinas no

Brasil, iniciaram a primeiras medições para anemométricas para estudos de viabilidade,

com uso de torres de 30 a 50m e equipamentos de maior precisão, adequados para esse fim.

Essas medições foram utilizadas para a publicação do Atlas do Potencial Eólico do Ceará,

em 2001, onde se destacaram áreas de dunas com baixíssima rugosidade com velocidade

médias anuais de 9 m/s.

O referido Atlas mostra que os melhores potenciais para aplicações em energia

eólica no Brasil são encontrados no Nordeste, embora haja potenciais significativos no

Sudeste e Sul e um pouco no Norte. O potencial técnico de geração total soma 143 GW,

como mostra a figura 11 a seguir.

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Figura 11 - Potencial eólico brasileiro por região

Fonte: Atlas do Potencial Eólico Brasileiro

O primeiro instrumento adotado no país para viabilizar o aproveitamento da energia

eólica no país, além de outras fontes renováveis, foi o PROINFA, instituído pelo governo

através da lei nº 10.438 de 2002. Como foi visto anteriormente, tal mecanismo não atingiu

completamente seus objetivos. A geração elétrica a biomassa, por exemplo, não apresentou

projetos suficientes para completar a cota de 1.100 MW, pois os empreendedores

entendiam que poderiam conseguir preços melhores para a energia gerada em outras

modalidades de contratação. Assim, a capacidade instalada necessária para completar os

3.300 MW do PROINFA foi atingida a partir da contratação de outros empreendimentos

eólicos e baseados em PCH´s. Dos 3.299,40 MW contratados na primeira etapa do

programa, 1.191,24 MW são de 63 PCHs; 1.422,92 MW são de 54 usinas eólicas; e 685.24

MW são de 27 usinas a base de biomassa.

No caso da energia eólica, vem se notando atrasos na entrada em operação da maior

parte das usinas devido a uma série de fatores. Em termos de legislação, a demora na

regulamentação do programa pelo governo gerou incertezas sobre a divisão de

competências, condições de aquisição de energia e prazos de contratação. Houve também

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problemas relacionados à obtenção de licenças ambientais por conta de fatores jurídicos,

técnicos e financeiros. Já em termos de mercado, os principais problemas foram o

financiamento e o acesso de empreendedores ao crédito, o valor econômico dos projetos, a

falta de segurança para investidores e o índice mínimo de nacionalização.

Dentre as fontes renováveis contempladas pelo PROINFA, a eólica era a única que

não havia sido bem sucedida em nenhum dos LEN. Dando a indicação que seriam

necessárias condições especiais no Brasil. A maneira encontrada pelo governo para

incentivar a geração eólica no Brasil foi através de Leilões de Energia de Reserva (LER),

conforme mencionado no início deste relatório, um mecanismo bem sucedido que irá

possibilitar uma significativa expansão no SIN no curto e médio prazos.

- Energia Solar

O Brasil recebe elevada incidência de radiação solar ao longo de quase todo o ano,

principalmente na região Nordeste, seguida da região Centro-Oeste e grande parte das

regiões Sudeste e Sul. Segundo o Atlas Solarimétrico Brasileiro apresentado na figura 12 a

seguir, a radiação solar no país varia de 8 a 22 MJ/m² durante o dia, sendo que as menores

variações ocorrem nos meses de maio a julho, quando a radiação é varia de 8 a 18 MJ/m².

Em média, o Brasil tem 280 dias de sol por ano, ou seja, a incidência de radiação é de mais

de 2.200 horas por ano, o que equivale a um potencial teórico de geração anual de 15

milhões de TWh se toda a superfície do país fosse utilizada para captação de energia solar.

Figura 12 – Insolação Total (Média Anual).

Fonte: Pereira et al. (2006)

A radiação solar que incide sobre toda a região do espectro visível é composta por

diversos comprimentos de onda uma parte do ultravioleta próximo de 0,3 a 0,4 m, e o

infravermelho no intervalo de 0,7 a 5m. As medições padrão são a radiação total, a

componente difusa no plano horizontal e a radiação direta normal (EPE, 2007).

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As principais aplicações da solar são a geração heliotérmica (Concentrated Solar

Power – CSP), fotovoltaica e solar térmica. Para o aproveitamento da energia heliotérmica

é necessário dispor de um local com alta incidência de radiação solar direta, ou seja onde

não haja muita intensidade de nuvens, com baixos índices pluviométricos, como no

nordeste brasileiro, por exemplo. A tecnologia fotovoltaica, por sua vez, não precisa do

brilho do sol para gerar energia. Ela também opera em dias nublados, todavia, a quantidade

de energia gerada depende da densidade das nuvens. A energia solar térmica é obtida

através de coletores planos ou de concentradores solares, com o objetivo de gerar calor e

não eletricidade.

Por essas características, cada uma destas tecnologias tem aplicações específicas em

diferentes setores da economia e em diferentes regiões do país, como poderá ser observado

nos detalhamentos a seguir.

- Solar Fotovoltaica

Embora o Brasil disponha de grande potencial para o uso da energia solar

fotovoltaica (PV) e tenha elevados níveis de radiação solar, o papel dessa fonte de energia

na matriz energética brasileira ainda é irrelevante, devido ao alto custo de geração dessa

fonte.

Historicamente a energia solar fotovoltaica sempre esteve associada a programas de

desenvolvimento rural e acesso a energia elétrica em localidades isoladas. O PRODEEM –

Programa de Desenvolvimento Energético dos Estados e Municípios é um dos principais

exemplos disso. Lançado em 1994 pelo Governo Federal, tinha como objetivo atender as

comunidades isoladas não supridas de energia elétrica pela rede convencional de modo a

promover o desenvolvimento social e econômico dessas localidades. O programa foi divido

em fases e totalizou um investimento de US$ 37,2 milhões para instalação de 8.956

sistemas fotovoltaicos totalizando 5.112 kWp.

O PRODEEM se deparou com vários problemas durante a sua execução,

principalmente relacionados com a manutenção dos sistemas e mostrou a necessidade de

uma revisão do programa por parte do Governo.

Desde 2002 o PRODEEM encontra-se em fase de revitalização e reestruturação, e

foi incorporado ao Programa “Luz para Todos”, lançado em 2003 pelo Governo Federal.

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Uma vez incorporado ao referido programa, os sistemas fotovoltaicos do PRODEEM, após

revitalizados, passaram para a responsabilidade das concessionárias de energia elétrica, que

ficarão encarregadas pelo atendimento das comunidades em suas áreas de concessão e,

portanto, responsável pela manutenção e operação dos módulos fotovoltaicos. Vale, no

entanto comentar, que fica a cargo da concessionária escolher qual fonte de energia será

melhor em determinada comunidade. Somente comunidades onde o custo de conexão a

rede elétrica é mais alto, estão sendo eletrificadas com energia fotovoltaica, incorporando

os sistemas fotovoltaicos do PRODEEM.

O PRC-PRODEEM até o momento firmou convênio com as concessionárias do

sistema Eletrobrás (Eletrosul. Eletronorte, CHESF, Furnas e CPRM), e está investindo

cerca de 35 milhões para a revitalização dos sistemas fotovoltaicos e capacitação dos

agentes

O uso da energia solar fotovoltaica em comunidades isoladas foi um importante

marco para a ampliação do conhecimento na área de instalação e montagem de sistemas

fotovoltaicos. Paralelamente, a importação de módulos fotovoltaicos para atender o

PRODEEM fomentou projetos de pesquisa e desenvolvimento em universidades e centros

de pesquisas sobre tecnologias fotovoltaicas - e pavimentou o caminho para que alguns

stakeholders desejassem um programa de incentivo para esta fonte a exemplo do que ocorre

na Europa (como por exemplo. Espanha e Alemanha).

No entanto, esse fato sempre encontrou muita resistência dos reguladores e agentes

governamentais. Se por um lado energia solar fotovoltaica sempre foi reconhecida como

uma fonte limpa e cujo conhecimento tecnológico e ganhos de escala futuros tornariam sua

geração viável, por outro lado o Brasil sempre teve uma matriz de geração elétrica

renovável e, portanto, incentivar e subsidiar fonte renovável mais cara ficou em segundo

plano. O mesmo ocorria com a indústria que sem ter um mercado estável nacional não teve

maiores interesses para investir nesta fonte de energia.

Fora do sistema isolado, a maioria dos projetos de energia fotovoltaica foram

implementados como projetos demonstrativos ou piloto, e segundo dados do IEE, USP

(Zilles. 2008) totalizam cerca de 145 kWp. No entanto, não existem maiores dados para

informar o que ainda está em funcionamento ou não.

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Apenas recentemente algumas iniciativas de energia fotovoltaica conectada a rede

foram observadas no Brasil. conforme segue:

- Usina Solar de Tauá – está usina é um projeto da MPX empresa de geração do

setor elétrico brasileiro. O projeto prevê a instalação de 5 MW, dividido em duas fases. O

primeiro MW (1MW) foi instalado em julho de 2010, com módulos importados (silicio

policristalino) da China (Yingli). A segunda fase, de mais 4 MW dependerá das condições

de mercado para a venda dessa energia. Mas a MPX possui um terreno de 204 ha no

município de Tauá e a empresa cogita chegar até 50 MW se houver mercado (selo verde

por exemplo), incentivos/subsídios do governo, ou se o preço dos módulos fotovoltaicos

atingir patamares próximos ao da energia convencional, o que não parece ser o caso no

curto e médio prazos.

- Usina de 1 MW da Eletrosul em parceria com a Universidade Federal de Santa

Catarina. e apoio da GTZ e financiamento do KFW (Banco Alemão de Fomento). O projeto

consiste de 1 MW a ser instalado sobre o telhado do prédio da Eletrosul, utilizando a

tecnologia de filmes finos. A energia solar gerada será interligada a rede elétrica e

pretende-se comercializar a energia gerada para os consumidores livres e especiais

interessados em vincular a sua imagem à produção de energia limpa. Não foi possível

identificar o prazo para a instalação desse primeiro MW.

Em abril de 2012 a ANEEL publicou a resolução normativa 482, voltada para o

estabelecimento de condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração

distribuída. regulamentando o “net metering ”, sistema que permite a compensação de

energia elétrica quando a unidade consumidora gera energia através de microgeração e

minigeração distribuída.

Tudo isso tende a acelerar o desenvolvimento da energia solar no país, abrindo boas

perspectivas de investimento no setor.

- Solar Concentrada (CSP)

O desenvolvimento da tecnologia de energia solar concentrada no Brasil se resume

algumas iniciativas no sentido de avaliar o potencial solar de irradiação direta sendo

conduzidas por algumas concessionárias e a uma planta piloto de 10 kW desenvolvido

pelas Centrais Elétricas de Minas Gerais (CEMIG) e pelo Centro Federal de Educação

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Tecnológica de Minas Gerais (CEFET/MG), com recursos de P&D da Agência Nacional de

Energia Elétrica (ANEEL).

A grande barreira para penetração desta tecnologia ainda é o custo de implantação.

Os projetos envolvem, desde a concepção até os testes efetivos de protótipos, grandes

somas de recursos. A planta piloto do CEMIG-CEFET/MG teve um custo total de R$ 500

mil, mesmo usando alumínio de alta refletância, ao invés de espelhos.

Das tecnologias conhecidas, o custo de investimento varia de 2.000 a 3.000

US$/kW, no caso dos cilindros parabólicos; 3.000 a 6.000 US$/kW, no caso de torre

central; e 10.000 a 12.000 US$/kW, no caso de disco parabólico. A energia pode custar no

mínimo 150 US$/MWh, na melhor das hipóteses, mais do que o dobro do valor da energia

mais cara negociada atualmente nos leilões de energia nova. Assim, não se considera que

ela possa se tornar competitiva em um horizonte de tempo menor do que 10 anos.

De qualquer forma, estudos de longo prazo, como o Plano Nacional de Energia

(PNE) 2030 publicado recentemente pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), mostram

que nas próximas décadas será necessário lançar mão de todos os recursos energéticos no

país para fazer face ao crescimento da demanda de energia. Assim, é importante dar

incentivos a tal tecnologia para torná-la comercialmente viável no Brasil.

A aplicação da tecnologia exige alta incidência de irradiação solar direta, ou seja,

pouca intensidade de nuvens, baixos índices pluviométricos. Tal característica somente

encontra potencial na região do semi-árido, no Nordeste brasileiro, que representa 10% do

território nacional. A região possui índices de irradiação solar comparável às médias anuais

das melhores regiões do mundo, como a cidade de Dongola, no deserto do Sudão, e a

região de Dagget no Deserto de Mojave, Califórnia, como mostra a tabela 2abaixo.

Tabela 2 – Dados de Irradiação Solar

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Fonte: Atlas Solarimétrico

Como se vê, o Nordeste brasileiro reúne boas condições técnicas para o

desenvolvimento da energia solar concentrada, porém, não encontra situações de

competitividade frente ao preço da energia elétrica negociada atualmente no Brasil. Seria

preciso que seus custos reduzissem pela metade para que se tornasse comercialmente viável

no país. Entretanto, com os intensos esforços de P&D em todo o mundo, é razoável

imaginar que nas próximas décadas será uma realidade no mundo. Antes de 2030, nenhum

estudo vê tal tecnologia como comercialmente viável no Brasil.

O Atlas Solalimétrico Brasileiro indica 2,1 MWh/m2-ano de irradiação direta ao

nível do solo. Considerando que 10% da extensão territorial da região do semi-árido

nordestino possa ser utilizada para geração de energia solar concentrada e que a eficiência

das plantas seja de 15%, então o potencial técnico pode ser estimado em 27 TWh.

- Solar Térmica

O aquecimento de água por energia solar apresenta algumas particularidades que

precisam ser destacadas ao ser comparado com outras fontes. Primeiramente, o

aquecimento solar exerce um importante papel na redução da demanda de pico que ocorre

entre os horários de 17 e 21 horas. Durante esse período, a indústria e o comércio reduzem

as suas atividades e, portanto, o consumo de energia. Os trabalhadores retornam aos seus

domicílios e há um aumento expressivo no consumo de eletricidade devido ao hábito

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comum dos brasileiros de tomar banho nesse horário. A demanda de pico equivale a cerca

de 5 vezes a demanda média diária.

Em 67% dos domicílios brasileiros, o aquecimento de água é feio por chuveiros

elétricos de alta potência (de 4.400 W a 8.800 W), sendo que nas regiões sul e sudeste,

praticamente todas as residências possuem aquecimento de água. Isso significa dizer que o

sistema elétrico como um todo deve estar preparado para suportar uma carga elevada,

porém momentânea, em suas instalações, desde a geração, passando pela transmissão e

distribuição de eletricidade e chegando ao usuário final.

Segundo a Abrava (2008), 18% da capacidade instalada de geração de eletricidade

no Brasil são acionados por chuveiros elétricos nos momentos de pico. Em termos de

geração de eletricidade, o aquecimento de água responde por 8% do consumo total de

eletricidade no Brasil.

Por essas informações, conclui-se que o aquecimento solar de água é uma opção que

visa não apenas a redução do consumo de eletricidade da rede, mas, sobretudo modula a

curva de carga do sistema, reduzindo, assim, a necessidade de investimentos na ampliação

da capacidade instalada de geração, transmissão e distribuição de energia. Além disso, se

usinas térmicas não são acionadas no período de pico, evitam-se emissões de gases que

poluem o ambiente local, bem como gases de efeito estufa.

Um segundo ponto importante para se destacar refere-se ao custo das tecnologias.

Enquanto um chuveiro elétrico custa a partir de US$ 15 (4.400 W) e é de fácil instalação e

manutenção, o aquecedor solar apresenta custo elevado e sua instalação e manutenção não

são triviais, apesar do rápido tempo de retorno, de 2 a 3 anos, a depender do consumo.

À primeira vista, poder-se-ia supor que as classes mais abastardas teriam maiores

condições de substituir o aquecimento elétrico por solar, pois consomem mais energia e

pagam uma tarifa mais elevada. Porém, observa-se que em regiões habitadas por população

de baixa renda, as instalações de muitas distribuidoras estão sobrecarregadas e, em muitos

casos, há uma grande incidência de furtos de energia. Nestes contextos, as distribuidoras

têm interesse de instalar aquecedores solares em domicílios de baixa renda, de forma que as

necessidades de investimento na rede se reduzam.

A Tabela 3 apresenta o número de domicílios em 2008 segundo o rendimento

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mensal das famílias. Note-se que as classes menos favorecidas, com rendimento mensal de

até 2 salários mínimos ou sem declaração, residem em mais de 20 milhões de domicílios.

Este público pode ser alvo não apenas de campanhas de distribuidoras. mas também de

programas de governo. Por exemplo, o governo federal acaba de lançar a segunda etapa do

programa de aceleração do crescimento (PAC 2) e há a previsão de se construir 2 milhões

de domicílios até 2014. Todas as unidades serão equipadas com aquecedores solares.

Embora as estimativas populacionais indicarem que até 2030 o crescimento da

população deva ser de apenas 10%, é importante notar que uma parte significativa da

população habita em instalações precárias. Segundo o estudo Déficit Habitacional 2007, há

uma carência de 6.273 milhões de domicílios no Brasil (Brasil. 2009). Uma simples

estimativa com base no déficit habitacional atual e no crescimento populacional leva a crer

que será necessário construir ou reformar 12 milhões de domicílios.

Tabela 3 – Número de domicílios segundo classe de renda familiar

Classes de rendimento

mensal domiciliar

Domicílios particulares

(1 000 domicílios)

Total Urbana Rural

Total 57 656 48 983 8 674

Até 1 salário mínimo 7 033 4 880 2 153

Mais de 1 a 2 salários mínimos 12 385 9 639 2 746

Mais de 2 a 3 salários mínimos 9 816 8 264 1 551

Mais de 3 a 5 salários mínimos 11 580 10 353 1 227

Mais de 5 a 10 salários mínimos 9 084 8 539 545

Mais de 10 a 20 salários mínimos 3 761 3 627 133

Mais de 20 salários mínimos 1 558 1 524 34

Sem rendimento (2) 739 618 121

Sem declaração 1 702 1 539 162 Fonte: IBGE. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios 2008. (1) Exclusive as informações dos domicílios sem declaração do valor do rendimento domiciliar. (2) Inclusive os domicílios cujos moradores recebiam somente em

benefícios.

Portanto, há um grande nicho de mercado para aquecedores solares tanto nos

domicílios de baixa renda como nos de alta renda. Os principais usos finais são

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aquecimento de água para banho e aquecimento de piscinas. Além das residências

aquecedores solares têm sido instalados em hotéis, hospitais, clubes etc.

O terceiro ponto que merece ser ressaltado refere-se à estrutura do mercado no qual

o setor está inserido. No passado, quando o modelo do setor era centralizado, baseado no

monopólio estatal, o planejamento dos recursos poderia ser realizado de forma integrada. É

de se supor que o modelo centralizado permite mais facilmente que se realizem ações do

lado da demanda (Demand side management - DSM), de modo a reduzir desperdícios e a

evitar investimentos em geração, transmissão e distribuição.

Nos anos 1990, iniciou-se a desregulamentação do setor elétrico, tomando-se como

pressuposto a necessidade de desmembramento das empresas, segundo as áreas de atuação

(geração, transmissão e distribuição), de forma a viabilizar a venda de ativos para a

iniciativa privada. A privatização iniciou-se em 1995 pelas empresas de distribuição, mas a

transição não chegou a ser concluída. As tarifas de energia elétrica se elevaram a partir de

então, principalmente no setor residencial, o que deve ter contribuído para a penetração do

aquecimento solar.

O país atravessou um período de racionamento em 2001, colocando em xeque o

modelo baseado apenas nas forças de mercado. O setor residencial teve que reduzir em

20% o seu consumo de energia elétrica em relação ao ano anterior, provocando uma corrida

para alternativas à energia da rede como a energia solar.

Em 2004, um novo modelo foi adotado, retomando o planejamento coordenado do

setor. O novo modelo colocou em evidência a necessidade de desvinculação entre

vendedores e compradores de energia. No mercado cativo, as distribuidoras compram

energia de todos os geradores vencedores dos leilões. não sendo permitida a verticalização

do setor. A desverticalização tem dificultado a adoção de medidas de DSM porque nem

sempre as distribuidoras (agentes intermediários) têm interesse em ações desta natureza,

principalmente quando há uma restrição imediata de perda de receita.

Apesar de haver esta restrição, em alguns casos as distribuidoras podem se

interessar em realizar investimentos em aquecimento solar em usuários finais, pois estas

são obrigadas, pelo contrato de concessão, a investirem 1% de sua receita em projetos de

eficiência energética e pesquisa e desenvolvimento. As distribuidoras com concessões nos

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estados do Rio de Janeiro (Light), em São Paulo (CPFL) e Minas Gerais (Cemig e Cohab-

MG) decidiram aplicar esses recursos em instalação de aquecedores solares em áreas

habitadas por população de baixa renda.

A despeito do aprimoramento já realizado no marco regulatório do setor elétrico e

das iniciativas empreendidas por algumas distribuidoras no sentido de promover a difusão

do aquecimento solar, há ainda o que se fazer para melhorar a regulação do setor no que se

refere à promoção de medidas de DSM. Deveria haver algum incentivo adicional para as

distribuidoras, de forma que estas em vez de comprar energia dos geradores nos leilões,

pudessem realizar ações de DSM como se elas tivessem participado dos leilões ofertando

uma geração virtual de energia.

Em quarto lugar, deve-se destacar que se houvesse alguma exigência para instalação

ou preparação para instalação de coletores solares em novas construções, isso

provavelmente facilitaria a penetração de aquecedores solares. Como o construtor

geralmente não é o proprietário do domicílio, o primeiro tenderá a reduzir custos e o

segundo encontrará dificuldades para instalar coletores solares se a residência não possuir,

por exemplo, instalações separadas de água fria e água quente.

Por isso, torna-se importante haver alteração nos códigos de obras municipais. Há

uma série de iniciativas nos legislativos de estados e municípios no sentido de incentivar ou

obrigar a instalação ou preparação de instalações de aquecimento solar. O número de

projetos de leis em tramitação e leis aprovadas vem crescendo nos últimos anos. Soares e

Rodrigues (2010) contabilizaram que, entre 2001 e 2009, foram elaborados 84 projetos de

lei regulando o aquecimento solar de água em diferentes estados e municípios. sendo que

28 leis foram aprovadas até o fim de 2009. Alguns dos projetos de lei foram vetados e

arquivados, principalmente sob os seguintes argumentos: (i) não se pode impor ao usuário

final uma única opção, devendo este ter o direito de livre escolha entre os energéticos; e (ii)

o aumento do custo da construção com a introdução de instalação ou pré-instalação para

aquecimento solar tem de ser uma opção do usuário final.

A despeito do esforço que vem sendo empreendido por alguns políticos, a

promulgação de uma lei obrigando ou incentivando a instalação ou pré-instalação para

aquecimento solar não será efetiva se o poder executivo não der a importância que o tema

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merece se não houver cobrança nem fiscalização. Também, deve-se observar que o poder

executivo municipal, principal ator para implementar essas medidas de promoção do

aquecimento solar, não recebe nenhuma contrapartida para incentivar a energia solar. Por

isso, a importância de articulações de políticas públicas nas diversas esferas

governamentais, bem como a necessidade de implementação de ações do governo federal

via aperfeiçoamento do marco regulatório para incentivar as distribuidoras a investirem em

ações de DSM ou via programas de construção de domicílios para baixa renda com

recursos do governo federal.

2.2. Premissas técnico-econômicas

Para fins de análise da inserção das tecnologias a carvão no Brasil foram

consideradas as tecnologias descritas acima, assumindo os seguintes dados técnicos e

econômicos, conforme detalhamento é apresentado na tabela 4 abaixo.

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Tabela 4 – Dados Técnico-Econômicos das Usinas

Fonte: EIA/DOE. 2010; IEA. 2010; EPE. 2007. Bloomberg New Energy Finance. 2012

Cabe ressaltar que não foi calculado o custo médio de geração da transmissão, pois

tal tecnologia não gera energia. No caso das termelétricas, considerou-se também os

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seguintes custos de combustíveis em R$/MWh, como mostra o gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2 – Custos de Combustível

Fonte: EIA/DOE

Os custos dos combustíveis utilizados na confecção do gráfico 2 foram os seguintes:

Tabela 5 – Custos dos Combustíveis adotados

Combustível Unidade Preço

Carvão Nacional R$/t 70,00

Carvão Importado R$/t 180,00

Gás Natural US$/MMBTU 12,00

Nuclear US$/MMBTU 2,90

Fonte: Elaboração própria

O preço do carvão mineral nacional é, na verdade, inferior ao importado, quando

considerado em $/t, unidade em que normalmente é comercializado, entretanto, como o

importado possui poder calorífico bem maior do que o nacional, o custo de geração deste

em $/MWh torna-se mais caro que o do importado.

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Não foi feita nenhuma evolução nos preços dos combustíveis, pois se entendeu que

a relação entre eles será razoavelmente constante ao longo do tempo.

O gráfico a seguir apresenta os resultados em termos de custo médio de geração

para as tecnologias analisadas para diferentes taxas de desconto, 6%, 8% e 10% (full

equity). Considerou-se para todos os projetos uma estrutura de capital de 100% do capital

próprio, de modo que os resultados obtidos não são contaminados por diferenças na

alvancagem. Pode-se notar que as hidrelétricas grandes e médias são as tecnologias mais

baratas no Brasil. Eólica onshore, biomassa da cana e PCH já são competitivas, quando se

compara com as termelétricas a gás natural e a carvão mineral.

O gráfico 3 a seguir mostra os resultados, obtidos com as premissas da tabela 4 para

o custo médio de geração para cada tecnologia (Levelized cost).

Gráfico 3 – Custo Médio de Geração

Fonte: Elaboração própria

O resultado mostra claramente também que as usinas mais intensivas em

investimento, como as hidrelétricas, as nucleares, as eólicas e as solares, são mais sensíveis

à variação da taxa de desconto. Por outro lado, o custo médio de geração das usinas a gás

natural é pouco afetado, pois mais intensiva nos custos variáveis (como o combustível).

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Assim, as condições macroeconômicas do país podem afetar à expansão do seu parque de

geração. O gráfico 4 abaixo mostra as usinas mais e menos intensivas em investimento para

o caso analisado com taxa de desconto de 10% ao ano.

Gráfico 4 – Formação dos Custos de Geração

Fonte: Elaboração própria

A partir destas premissas foram elaborados dois casos para avaliação dos impactos

da expansão do carvão na geração de energia elétrica no Brasil: um que considera um

cenário restritivo à novas usinas a carvão e outro que permite a expansão do carvão.

Estes cenários são comparáveis aos cenários elaborados por La Rovere et al (2013),

que demonstram como seriam as emissões futuras conforme compromissos voluntários

assumidos pelo país e como ficariam caso medidas mitigadoras fossem assumidas. Uma

síntese destes dois cenários é apresentada no capítulo a seguir.

3. Cenários

3.1. Cenários de Referência

Na 15a Conferência das Partes em Copenhagen (COP15), o Brasil assumiu

compromissos voluntários para redução da emissão de gases do efeito estufa, que mais

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tarde foram incorporados na Política Nacional de Mudança Climática através do Decreto

7390 de 9 de Dezembro de 2010, que foi regulamentado pela Lei no 12187. As metas

estabelecidas neste compromisso foram da redução entre 36,1 e 38,9% das emissões

projetadas para 2020. Os estudos de inventário de emissões no Brasil mostram que a

principal fonte de emissões atualmente é o desflorestamento causado em grande parte pela

expansão da fronteira agrícola do país, principalmente na região amazônica, respondendo

por 56,5% das emissões nacionais em 2005. O setor agrícola fica em segundo lugar

representando 22,1% das emissões. O setor energético responde por 16,4% das emissões do

país. No entanto boa parte destas emissões do setor energético advém da queima de

combustíveis fósseis no setor de transportes, graças à predominância hidrelétrica do parque

gerador nacional.

Para fins de comparações com os cenários elaborados neste trabalho foram

utilizados dois cenários de referência, conforme apresentados em La Rovere et al (2013).

O primeiro, denominado cenário A, assume que nenhuma medida mitigadora é

adotada no sentido de desacelerar o processo de desmatamento no Brasil. Representa

portanto, um cenário em que a linha de tendência de crescimento das taxas de

desmatamento são mantidas. Desta forma, o cenário A assume desmatamento de 19,535

Km²/ano na região amazônica, de 15,700 Km²/ano no Cerrado e 17.081 Km²/ano nas

demais regiões.

No que diz respeito à expansão do parque gerador, o cenário A não considera

expansão de fontes renováveis, sendo o crescimento da demanda atendido por gás natural.

No setor transportes supõe que a proporção de mistura de etanol na gasolina deverá ser

reduzida para 20% até 2020, permanecendo neste patamar após 2020. Não haveria ganhos

advindos de programas de eficiência energética e o mix de consumo de energia

permaneceria praticamente inalterado.

Tais premissas resultariam em emissões de gases de efeito estufa conforme ilustrado

no gráfico 5 abaixo.

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Gráfico 5 – Emissões totais por atividade no cenário A

Fonte: La Rovere et al, 2013.

O segundo cenário de referência adotado neste estudo baseia-se no cenário B

apresentado em La Rovere et al (2013), que assume que o país irá implantar medidas

mitigadores conforme estabelecido no Plano Nacional de Mudança Climática para o

período 2010-2020. Tais medidas incluem redução do desmatamento na Amazônia e no

Cerrado bem como expansão das florestas plantadas.

Em síntese as ações para mitigação consideradas neste cenário envolvem:

Redução do desmatamento da Amazônia em 80% até 2020 em relação aos 19.535

Km2/ano da linha de base;

Redução do desmatamento do Cerrado em 40% em 2020 em relação aos 15.700

Km2/ano da linha de base;

Expansão das florestas plantadas em 3 milhões de hectares em 2020 (saindo de 6.3

milhões em 2009 para 9.3 milhões em 2020)

Após 2020 estes níveis deverão permanecer constantes com relação ao

desmatamento, mantendo as taxas de desmatamento constantes nos dois biomas até 2030. A

expansão das florestas plantadas, especialmente de eucalipto que deverão atingir 11,2

milhões de hectares em 2030.

No que diz respeito ao setor elétrico o cenário considera:

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Expansão da geração hidrelétrica em quase 34 GW;

Expansão de fontes alternativas em torno de 20 GW, com instalação de 10.8 GW de

eólicas, 6,1 GW de biomassa e 3,38GW de pequenas centrais hidrelétricas.

Essas premissas são detalhadas na tabela 6 abaixo:

Tabela 6 – Expansão da capacidade instalada de Geração no cenário de referência (MW)

Baseado no PDE 2019 Baseado no PNE 2030

MW 2010 2015 2020 2025 2030

Hidrelétrica 83.169 94.656 120.391 143.977 165.153

Nuclear 2.007 3.412 3.412 4.316 5.316

Gas Natural 8.860 11.533 11.533 16.033 22.783

Carvão 1.765 3.205 3.205 4.465 6.465

Oleo Combustível 3.380 8.864 8.864 8.864 8.864

Oleo Diesel 1.728 1.149 1.149 1.551 1.551

Outras não renováveis 687 687 687 687 687

PCH 4.043 5.566 8.966 12.966 16.966

Biomassa 5.380 7.421 11.459 14.159 20.209

Eólicas 1.436 4.441 10.868 12.068 15.368

Total 112.455 140.934 180.533 219. 085 263.361

Fonte: La Rovere, et al (2013)

Quanto ao consumo de combustíveis o cenário considera que a taxa de crescimento

do consumo de etanol entre 2010 e 2020 é de 13,9% ao ano. Para o período de 2020-2030,

a demanda continua crescendo, mas a taxa de 5,6% ao ano. O consumo de gasolina C foi

calculado pela diferença entre a demanda total de energia e o consumo de etanol,

considerando que o percentual de etanol na gasolina permanece de 25%.

Na indústria considerou-se que a intensidade energética e o mix final de energia

serão os mesmos considerados no PDE 2019 e mantidos até 2030.

Com base nestas premissas foram estimadas as emissões de gases de efeito estufa

conforme apresentado nos gráficos 6 e 7 a seguir.

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Gráfico 6 – Emissões de Gases de Efeito Estufa por atividade

Fonte: La Rovere et al, 2013.

Gráfico 7 – Detalhamento das emissões relacionadas à energia no Brasil entre 2015-2030

Fonte: LA ROVERE et al, 2013.

3.2. Cenários Alternativos

Para a análise do impacto da inserção da geração a carvão no país no horizonte até

0

1000

2000

3000

4000

5000

2015 2020 2025 2030

MtCO2-eq

Waste

IPPU

Energy

Agriculture

LULUCF

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

2010 2015 2020 2025 2030

MtCO2-eq

Emissões Fugitivas

Industrial

Rodoviário

Agropecuário

Público

Comercial

Residencial

Setor Elétrico

Setor Energético

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2030 foram considerados dois cenários alternativos: um cenário mais restritivo à entrada

desse combustível e um cenário que permitiria a entrada de novas usinas a carvão no

parque gerador brasileiro visando a diversificação da matriz em que se entende a

importância dessa fonte para aumentar a segurança do suprimento de energia nacional.

No cenário com carvão, até 2030 entrariam em operação as usinas a leito fluidizado

no Sul (carvão nacional) e duas usinas supercríticas, sendo uma no Sudeste e outra no

Nordeste (carvão importado). Entre 2030 e 2035, foi considerada a entrada de uma usina

ultra-supercrítica.

Em ambos os cenários adotou-se a taxa de crescimento da demanda considerada no

PDE 2021 e uma taxa de desconto de 8% a.a.

Os cenários foram construídos com base em projeções de queda nos custos de

investimento das diferentes tecnologias de geração. Tais projeções se basearam em curvas

de aprendizagem, estimadas pela Agência Internacional de Energia.

Curva de aprendizagem é um conceito que denota a relação entre custo unitário e

produção cumulativa em processos estáveis, sugerindo que o custo dos insumos, ou tempo,

por unidade produzida decresce a uma percentagem fixa sempre que o nível de produção

dobra. As raízes desta concepção remontam há mais de um século a estudos que mostraram

que a desempenho individual aumenta com a experiência adquirida.

Wright (1936) introduziu a concepção ao ambiente industrial ao mostrar que o

decréscimo direto do custo do trabalho caiu 20% toda vez que a produção cumulativa

dobrava na estrutura fabril aeronaval. Desde a publicação deste estudo, efeitos similares

têm sido mostrados no caso de grupos pequenos, organizações e indústrias (Argote et al.

1990 para referências).

As curvas de aprendizagem possibilitam a descrição de padrões de melhoria no

longo prazo e ajudam a responder perguntas relacionadas à melhoria da produtividade e

suas limitações. A equação que descreve a curva é a seguinte:

onde, C(X) é o custo unitário que varia em função da produção acumulada X. O parâmetro a

é uma constante, que pode ser determinada pelo custo e pela produção inicial. O termo E,

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conhecido como parâmetro de experiência, caracteriza a inclinação da curva e representa o

progresso tecnológico, possibilitado pelo ganho de experiência no processo produtivo. A

relação entre a taxa de progresso técnico (TP) e o parâmetro de experiência é dada por:

A definição de uma taxa de progresso técnico não pode ser feita de forma arbitrária.

mas decorrente de uma função do próprio processo de produção. Afinal, é razoável afirmar

que a melhoria de um processo decorre de sua paulatina modificação, a qual visa eliminar

as limitações existentes. Para o presente estudo os valores do progresso técnico foram

estimados com base nos valores estimados para os custos das diversas tecnologias em 2050

conforme o relatório Energy Technology Perspectives elaborado pela Agência

Internacional de Energia.

Neste sentido, frequentemente essas iniciativas requerem investimentos, capazes de

elevar a capacidade produtiva e habilidades dos trabalhadores por meio de treinamento; e a

atualização de ferramentas e infraestrutura, com objetivo de elevar a produtividade da mão-

de-obra.

Os referidos gastos devem ser genuinamente voltados para o melhoramento dos

processos. Adicionalmente, podem ser criados mecanismos de incentivo para acelerar o

processo de progresso técnico e, portanto, aumentar a TP.

Em relação à curva de aprendizagem das tecnologias consideradas neste trabalho,

considerou-se que a geração a carvão através de IGCC não chegaria a atingir o estágio de

viabilidade comercial antes do final do horizonte estudado. De fato diversos estudos

apontam que os custos desta tecnologia não vêm caindo conforme era esperado e que

poucos projetos têm sido implantados. Já a tecnologia de carvão ultrasupercrítica poderia

ser comercialmente viável antes de 2035, e neste caso, consideramos a entrada de uma

usina entre 2030 e 2035.

As tecnologias renováveis devem ser beneficiadas por mecanismos de incentivo tais

como as eólicas onshore e offshore; e a energia solar fotovoltaica e CSP. A Agência

Internacional de Energia estima os níveis de custo de investimento para que as referidas

tecnologias atinjam estágios comerciais e ano em que este custo é atingido com base em

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projeções utilizando curvas de aprendizagem.

Dessa maneira, pode-se fazer uma estimativa da evolução destes custos com base na

projeção da expansão de cada uma destas tecnologias do cenário de referência mundial

(current policies) do World Energy Outlook (WEO) 2050, da Agência Internacional de

Energia, que permite que se calcule a nova taxa de progresso técnico, como mostra a tabela

7 a seguir.

Tabela 7 – Evolução dos Custos de Investimento

Tecnologia Custo de Investimento (US$/kW)

Estágio

Comercial

(US$/kW)

Taxa de

Progress

o

Técnico

2012 2020 2025 2030

Carvão USC 2.800 2.165 1.986 1.827 1.700 11%

Carvão IGCC 3.500 2.202 2.070 1.928 1.850 6%

Eólica Onshore 1.700 1.020 919 850 1.700 19%

Eólica Offshore 3.000 1.686 1.498 1.371 1.600 21% Solar

Fotovoltaica 2.500 1.175 938 805 1.000 20%

Solar CSP 4.800 2.603 2.376 2.171 1.500 10%

Fonte: Elaboração própria com base em IEA (2010)

Como se vê, a energia eólica onshore atualmente já é considerada comercial no

Brasil. As eólicas offshore deverão se tornar comerciais antes de 2025. O mesmo é

esperado da fotovoltaica. Das tecnologias a carvão a expectativa é que o IGCC seja

comercial antes de 2030, enquanto as ultrasupercríticas não deverão ser viáveis no

horizonte estudado. O mesmo acontece com a solar concentrada.

A projeção da expansão da geração por tipo de tecnologia foi feita através do

MESSAGE (Model for Energy Supply System Alternatives and their General

Environmental impacts). O modelo foi desenvolvido originalmente no IIASA

(International Institute for Applied System Analysis) para a otimização de um sistema

energético (com suas demandas e suas ofertas). A IAEA adquiriu a última versão do

modelo e diversas atualizações vêm sendo realizadas, especialmente a introdução de uma

interface amigável de forma a facilitar a sua aplicação.

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O princípio matemático do MESSAGE é a otimização de uma função-objetivo

sujeita a um conjunto de restrições que definem a região viável que contém as soluções

possíveis do problema. O valor da função objetivo ajuda a escolher a melhor solução, de

acordo com um critério específico, usualmente, a minimização do custo. Em uma

classificação mais geral, o MESSAGE é um modelo de programação inteira mista (permite

que algumas variáveis sejam definidas como inteiras), utilizado para a otimização de um

sistema de energia. O modelo foi projetado para formular e avaliar alternativas de

estratégias para o suprimento de energia, em consonância com restrições tais como limites

de investimentos disponibilidade e preço de combustíveis, regulação ambiental e taxas de

penetração de mercado para novas tecnologias, dentre outras. Aspectos ambientais podem

ser avaliados contabilizando-se e, se necessário, limitando-se, as emissões de poluentes por

diversas tecnologias em vários níveis da cadeia energética. Isso ajuda a avaliar o impacto

de regulações ambientais no desenvolvimento do sistema energético.

As informações no modelo estão organizadas em:

Variáveis: fluxos, capacidades de produção e estoques; e

Restrições: balanços de fluxos (extração, conversão, transporte, distribuição, uso

final), limites (absolutos ou relativos) para as atividades, dinâmicas (intertemporais)

e contábeis.

A representação do sistema energético no MESSAGE se dá pelo conceito de cadeia de

produção da energia, que envolve a representação do processo de produção de energia

desde a extração, passando pelos processos de conversão de energia (geração de energia.

transmissão e distribuição), conforme ilustra a Figura 13 a seguir.

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Figura 13 – Representação das Cadeias Energéticas no MESSAGE

Fonte: IAEA. 2006

Como se vê, o MESSAGE pode ser utilizado para todo o sistema energético. Essa

abordagem, entretanto, foge do escopo do trabalho. Portanto, manteve-se o foco no setor

elétrico, destacando, porém, a representação da extração e processamento de petróleo, gás

natural e carvão mineral, além de outros usos desses combustíveis fora do setor elétrico. A

Figura 14 a seguir mostra as cadeias energéticas consideradas neste estudo.

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Figura 14 – Cadeias Energéticas Consideradas no Estudo

Fonte: Autores

A demanda de energia elétrica (energia final) de cada subsistema (Sudeste/C.Oeste

– SE. Sul – S. Nordeste – NE. Norte – N) foi assumida como exógena e é considerado

como dados de entrada para as simulações com o MESSAGE. Os valores foram estimados

nas projeções do Plano Decenal de Energia (PDE), para o período 2010-2020, e do Plano

Nacional de Energia 2030 (PNE), para o restante do horizonte. A Tabela 8 a seguir

apresenta os dados de demanda de energia elétrica considerados neste estudo.

Tabela 8 – Projeção da Demanda de Energia Elétrica – TWh

SE S NE N SIN 2010 298 81 73 38 491 2015 371 99 93 64 627 2020 450 121 117 84 771 2025 538 146 145 106 936 2030 638 175 176 134 1.123 2035 665 190 181 137 1.173

Fonte: Elaborado pelos autores com base no PDE 2020 e no PNE 2030

Os subsistemas são conectados atualmente por extensas linhas de transmissão e

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formam o Sistema Interligado Nacional – SIN que atende aproximadamente 98% da

demanda de energia elétrica no país. As regiões ainda não cobertas pelo SIN são

denominadas Sistemas Isolados. Para este estudo as usinas hidrelétricas do Rio Madeira

foram consideradas como integrantes do subsistema Sudeste/C.Oeste, pelo fato de a energia

destas usinas serem direcionadas quase totalmente para o referido subsistema. Por sua vez,

as usinas do Rio Tapajós e a Usina de Belo Monte foram consideradas como integrantes do

subsistema Norte. A figura 15 a seguir ilustra tal estrutura.

Figura 15 – Sistema Interligado Nacional

Fonte: ONS

Em relação à demanda (energia final) por outros usos fora do setor elétrico dos

derivados de petróleo e gás natural foram utilizadas as projeções consideradas no estudo

“Development First: Linking Energy and Emission Policies with Sustainable Development”

preparado recentemente para o centro de pesquisa holandês RISOE Centre no âmbito do

projeto “Development First”. Neste estudo estima-se que a demanda de gás natural (exceto

para o setor elétrico) irá crescer a uma taxa de 6,8% ao ano até 2030, enquanto que o

crescimento demanda de derivados neste mesmo período será de 3,8% ao ano.

Para atender à demanda de energia elétrica projetada neste estudo, foram

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consideradas como usinas candidatas: hidrelétricas, pequenas centrais hidrelétricas,

termelétricas a carvão, termelétricas a gás natural, termelétricas a óleo, usinas nucleares,

termelétricas a bagaço de cana-de-açúcar, termelétricas a biogás, usinas eólicas e usinas

solares CSP. Considerou-se também a possibilidade de expansão das linhas de transmissão

de energia para intercâmbio entre os subsistemas, além da redução da demanda de energia

pela introdução de geração de energia solar fotovoltaica e solar térmica para aquecimento

de água.

3.3. Expansão da Capacidade de Geração

Com base nessas projeções de custos de investimentos, construíram-se dois cenários

alternativos: um limitando a geração a carvão; outro, mais flexível que permitia a entrada

de novas usinas a carvão no parque gerador brasileiro. Ou seja, cenário com e sem carvão.

Para obter a expansão do parque de geração, correspondente aos cenários estudados,

foram feitas simulações com o modelo MESSAGE, considerando as hipóteses de cada

fonte descritas anteriormente. As gerações a partir da energia solar fotovoltaica, solar

térmica, CSP e geração a partir do biogás não foram consideradas na expansão da oferta,

apenas como abatimento de carga, ou seja, uma opção pelo lado da demanda. O resultado é

apresentado nas Tabelas 9 e 10 a seguir.

Tabela 9 – Expansão da Capacidade (MW) – cenário com Carvão

MW 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2035

Hidrelétricas 84.459 105.443 125.255 133.858 148.646 170.152

Nuclear 2.007 2.007 3.412 3.412 5.861 7.412

Gás Natural 9.142 12.697 12.697 12.697 12.697 14.602

Carvão 1.765 3.205 5.565 7.665 14.665 18.265

Óleo 3.244 7.853 7.853 7.853 7.853 7.853

Biomassa 8.000 10.704 11.969 11.969 20.937 24.500

Eólica 250 6.947 8.510 8.510 8.510 20.524

TOTAL 108.867 148.856 175.261 185.964 219.170 263.308

Fonte: Elaboração própria

Tabela 10 – Expansão da Capacidade (MW) – cenário Restritivo Carvão

MW 2010 2015 2020 2025 2030 2035

Hidrelétricas 84.459 105.443 125.605 134.208 154.803 170.152

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Nuclear 2.007 2.007 3.412 3.412 7.412 7.412

Gás Natural 9.142 12.697 12.697 12.697 12.697 25.585

Carvão 1.765 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205

Óleo 3.244 7.853 7.853 7.853 7.853 7.853

Biomassa 8.000 10.704 11.969 13.590 20.937 24.500

Eólica 250 6.947 8.510 8.510 16.181 27.724

TOTAL 108.867 148.856 173.251 183.476 223.088 266.431 Fonte: Elaboração própria

Para verificar a consistência do resultado, comparou-se o cenário de referência com

o de outros estudos publicados recentemente (ver Tabela 11 a seguir, como PNE 2030 e o

World Energy Outlook, feito pela Agência Internacional de Energia (IEA. 2010).

Tabela 11 – Comparação com Outros Estudos no ano 2030 (MW)

Tecnologia Cenário com Carvão Cenário

Restritivo

Carvão PNE 2030 WEO

Hidro 148.6 154.8 156.3 103.7a Gás Natural 12.7 12.7 21.0 25.3 Carvão 14.7 3.2 6.0 5.1 Óleo 7.8 7.8 2.9 4.6 Nuclear 5.8 7.4 7.3 6.1 Biomassa 20.9 20.9 6.4 7.6b Eólica 8.5 16.2 4.6 7.6 Total 219.00 223.00 204.50 161.5 a inclui PCH

b inclui biogás

Fonte: Elaboração própria

Para os dois cenários também foram geradas tabelas com a geração anual e as

emissões conforme apresentado nas tabelas 12 a 15 a seguir.

Tabela 12 – Geração Mwmed – Cenário com Carvão

MWmed 2010 2015 2020 2025 2030 2035 Hidrelétricas 42.230 52.722 62.628 73.622 81.755 93.584

Nuclear 1.706 1.706 2.900 2.900 4.982 6.300

Gás Natural 2.743 3.809 3.809 5.079 5.079 5.841

Carvão 794 1.442 3.116 4.292 8.212 10.228

Óleo 649 1.571 1.571 1.571 1.571 1.571

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Biomassa 4.800 6.422 7.181 7.181 12.562 14.700

Eólica 75 2.084 2.553 2.553 2.553 6.157

TOTAL 52.996 69.756 83.758 97.198 116.715 138.381 Fonte: Elaboração própria

Tabela 13 – Geração Mwmed – Cenário Restritivo Carvão

Mwmed 2010 2015 2020 2025 2030 2035 Hidrelétricas 42.230 52.722 62.803 73.815 85.142 93.584

Nuclear 1.706 1.706 2.900 2.900 6.300 6.300

Gás Natural 2.743 3.809 3.809 5.079 5.079 10.234

Carvão 794 1.442 1.442 1.602 1.602 1.602

Óleo 649 1.571 1.571 1.571 1.571 1.571

Biomassa 4.800 6.422 7.181 8.154 12.562 14.700

Eólica 75 2.084 2.553 2.553 4.854 8.317

TOTAL 52.996 69.756 82.259 95.674 117.110 136.308 Fonte: Elaboração própria

Tabela 14 – Emissões MtCO2 – Cenário com Carvão

MtCO2 2010 2015 2020 2025 2030 2035

Hidrelétricas 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Nuclear 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Gás Natural 10,81 15,02 15,02 20,02 20,02 23,02

Carvão Nacional 7,79 14,14 14,14 14,14 14,14 14,14

Carvão 35% 0,00 0,00 14,31 24,37 57,88 57,88

Carvão 42% 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 14,36

Óleo 5,06 12,25 12,25 12,25 12,25 12,25

Biomassa 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Eólica 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

TOTAL 23,66 41,41 55,72 70,78 104,30 121,66

Fonte: Elaboração própria

Nota-se que neste cenário as emissões geradas pelo carvão passam de 7,79 MtCO2-eq

para 86,38 MtCO2-eq, o que representa um aumento de 11 vezes. Ainda assim, não há

comprometimento das metas propostas.

Tabela 15 – Emissões MtCO2 – Cenário Restritivo Carvão

MtCO2 2010 2015 2020 2025 2030 2035

Hidrelétricas 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Nuclear 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Gás Natural 10,81 15,02 15,02 20,02 20,02 40,34

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Carvão 7,79 14,14 14,14 15,71 15,71 15,71

Óleo 5,06 12,25 12,25 12,25 12,25 12,25

Biomassa 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Eólica 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

TOTAL 23,66 41,41 41,41 47,98 47,98 68,31 Fonte: Elaboração própria

A comparação das emissões de gases de efeito estufa entre os cenários avaliados e

os cenários de referência A e B é ilustrada no gráfico 9 a seguir e mostra que o

aproveitamento do carvão para geração de energia elétrica no país não compromete as

metas assumidas, e tão pouco gera impacto significativo em termos ambientais, enquanto

pode efetivamente contribuir com a expansão da capacidade instalada e com a segurança de

suprimento.

Gráfico 9 – Comparativo de emissões de gases de efeito estufa

Fonte: Elaboração própria

A figura 16 ilustra a participação de cada fonte nas emissões totais do setor elétrico

para os cenários em análise.

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

2015 2020 2025 2030

MtC

O2eq

Cenário Restritivo Carvão Cenário com Carvão

Cenário de Referência B Cenario de Referência A

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Figura 16 – Comparativo das emissões de gases de efeito estufa 2015-2035 para os dois cenários

(MtCO2)

Fonte: Elaboração própria

O gráfico 10 apresenta a evolução da participação de fontes renováveis para os dois

cenários estudados tanto em termos de capacidade instalada quanto em termos de geração

de energia elétrica. A análise dos valores apresentados mostra que a variação percentual da

participação das renováveis atinge no máximo 5,87% no caso da capacidade instalada e no

máximo 4,72% no caso da geração. Ou seja, o que se perde em termos de participação de

renováveis na matriz é muito pouco comparado ao benefício de segurança advindo da

diversificação com uma fonte que não é intermitente.

15,02

14,14

2015

23,02

86,38

12,25

2035

Gás Natural

Carvão

Óleo

40,3415,71

12,25

2035

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Gráfico 10 – Participação de renováveis na matriz por cenário

Fonte: elaboração própria

Em termos gerais devido à pequena participação do setor elétrico nas emissões

totais do país, a inserção mais acentuada do carvão trará pequeno aumento das emissões

totais, mesmo quando considerando a participação relativa do setor elétrico nas emissões.

Isso pode ser visto através dos gráficos 11 a 14 que representam as emissões em 2030 por

setor para os quatro cenários discutidos neste tabalho.

80%

81%

82%

83%

84%

85%

86%

87%

88%

89%

90%

80%

81%

82%

83%

84%

85%

86%

87%

88%

89%

90%

2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040

% R

en

ováveis

na G

era

ção

% R

en

ováveis

na C

ap

acid

ade Insta

lad

a

Geração Com Carvão Geração Restritivo Carvão

Cap Instalada Com Carvão Cap Instalada Restritivo Carvão

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Gráfico 11 – Emissões por setor em 2030 no Cenário de Referência A

Fonte: Elaboração própria com dados de La Rovere et al (2013)

Setor Energético

11,16%

Setor Elétrico

26,47%

Residencial

5,24%

Comercial

0,68%Público

0,68%

Agropecuário

6,15%

Transportes

27,95%

Industrial

12,32%

Emissões Fugitivas

9,34%

Emissões por Setor em 2030 - Cenário A

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Gráfico 12 – Emissões por setor em 2030 no Cenário de Referência B

Fonte: Elaboração própria com dados de La Rovere et al (2013)

Setor Energético

15,61%

Setor Elétrico

7,97%

Residencial

7,33%

Comercial

0,96%

Público

0,96%

Agropecuário

8,60%Transportes

30,08%

Industrial

15,44%

Emissões Fugitivas

13,06%

Emissões por Setor em 2030 - Cenário B

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Gráfico 13 – Emissões por setor em 2030 no Cenário com Carvão

Fonte: Elaboração própria

Setor Energético

15,50%

Setor Elétrico

8,63%

Residencial

7,28%

Comercial

0,95%

Público

0,95%

Agropecuário

8,54%

Transportes

29,86%

Industrial

15,33%

Emissões Fugitivas

12,97%

Emissões por Setor em 2030 - Cenário Com Carvão

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Gráfico 14 - Emissões por setor em 2030 no Cenário Restritivo de Carvão

Fonte: Elaboração própria

O mesmo se verifica quando se avalia o impacto das emissões totais por unidade do

PIB. Como os valores de emissões do setor elétrico são muito pequenos frente às emissões

totais, a variação é mínima quando comparamos o cenário de restrição de carvão na matriz

com o cenário que permite a participação do carvão na expansão do parque gerador,

conforme ilustra o gráfico 15 a seguir.

Setor Energético

16,26%

Setor Elétrico

4,16%

Residencial

7,63%

Comercial

1,00%

Público

1,00%

Agropecuário

8,96%

Transportes

31,32%

Industrial

16,08%

Emissões Fugitivas

13,60%

Emissões por Setor em 2030 - Cenário Restritivo Carvão

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Gráfico 15 – Evolução do indicador Emissões em tCO2/PIB (mil US$) no país.

Fonte: Elaboração própria

Além disso, foram calculados alguns indicadores de emissões tais como toneladas

de CO2 por MWH, por unidade do PIB e per capita, mostrando a evolução dos mesmos

para os dois cenários considerados.

Tabela 16 – Indicadores de Emissões referentes ao setor elétrico

2010 2015 2020 2025 2030 2035

Cenário com Carvão

tCO2/MWh 0,051 0,068 0,076 0,083 0,102 0,100

tCO2/PIB (mil US$) 10,91 15,39 16,70 16,62 19,19 17,54

tCO2/cap 0,124 0,206 0,269 0,333 0,482 0,555

Cenário Restritivo Carvão

tCO2/MWh 0,051 0,068 0,057 0,057 0,047 0,057

tCO2/PIB (mil US$) 10,91 15,39 12,41 11,27 8,83 9,85

tCO2/cap 0,124 0,206 0,200 0,226 0,222 0,311 Fonte: Elaboração própria

tCO

2eq

/PIB

(m

il U

S$

)

Cenário de Referência A Cenário de Referência B

Cenário com Carvão Cenário Restritivo Carvão

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3.4. Comparações Internacionais

Considerando os valores obtidos para o ano 2030 nos dois cenários, foram feitas

comparações com outros países considerando os indicadores mais recentes de dados

mundiais, que apresentavam valores para 2009. Vale destacar que os indicadores

apresentados a seguir referem-se à emissões totais do país e não somente relativas aos

valores do setor elétrico.

Dessa forma, a análise dos gráficos a seguir permite concluir que mesmo

considerando o cenário que permite maior inserção de térmicas a carvão, o Brasil ainda

estará em uma posição privilegiada.

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Gráfico 16 – Emissões de gases de efeito estufa em tCO2/MWh Fonte: elaboração própria com dados da AIE

(2009)

1,31

1,55

1,03

1,04

1,84

1,10

0,73

1,17

1,00

1,62

1,51

2,37

0,79

1,95

1,27

2,29

1,65

1,73

1,18

1,12

0 0,5 1 1,5 2 2,5

EUA

Turquia

Espanha

Portugal

México

Japão

França

Chile

Canadá

Australia

Argentina

Bolivia

Brasil

China

Colombia

India

Africa do Sul

Venezuela

Brasil Cenário Carvão

Brasil Cenário Restritivo

tCO2/MWh

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Gráfico 17 – Emissões de gases de efeito estufa em kgCO2/ PIB

Fonte: elaboração própria com dados da AIE, 2009

0,46

0,32

0,27

0,28

0,36

0,32

0,21

0,33

0,51

0,56

0,27

0,46

0,20

0,56

0,14

0,35

0,70

0,81

0,22

0,21

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

EUA

Turquia

Espanha

Portugal

México

Japão

França

Chile

Canadá

Australia

Argentina

Bolivia

Brasil

China

Colombia

India

Africa do Sul

Venezuela

Brasil Cenário Carvão

Brasil Cenário Restritivo

kg CO2/PIB

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Gráfico 18 – Emissões de gases de efeito estufa em tCO2/ capita

Fonte: elaboração própria com dados da AIE, 2009

16,90

3,57

6,17

5,00

3,72

8,58

5,49

3,84

15,43

17,87

4,14

1,31

1,74

5,13

1,33

1,37

7,49

5,45

5,59

5,33

0 5 10 15 20

EUA

Turquia

Espanha

Portugal

México

Japão

França

Chile

Canadá

Australia

Argentina

Bolivia

Brasil

China

Colombia

India

Africa do Sul

Venezuela

Brasil Cenário Carvão

Brasil Cenário Restritivo

t CO2/cap

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4. Considerações Finais

Neste estudo procurou-se mostrar que o aproveitamento do recurso do carvão para

geração de energia elétrica no Brasil pode contribuir com a segurança do sistema, sem

comprometer o desenvolvimento das fontes renováveis e até mesmo contribuindo para a

expansão dessas tecnologias que são intermitentes aumentem sua participação na matriz de

geração de energia elétrica nacional. É possível demonstrar que os benefícios da expansão

da geração a carvão podem se obtidos sem comprometimento das metas voluntárias de

redução das emissões de gases de efeito estufa assumidas por ocasião da COP15.

O cenário que permite a expansão da geração a carvão emite praticamente a mesma

quantidade de gases de efeito estufa que o cenário de referência B considerado, e muito

menos do que o cenário de referência A, que é um cenário onde não se consideram medidas

mitigadoras de redução de gases do efeito estufa. Vale lembrar que o cenário de referência

B adotado considera que são implantadas medidas mitigadoras de redução das emissões de

gases de efeito estufa a fim de atender aos compromissos assumidos pelo país.

Desta forma, não haveria nenhuma necessidade de política energética restritiva a

entrada de novas usinas termelétricas a carvão no país, uma vez que o uso deste

combustível pode beneficiar o sistema sem comprometer questões ambientais.

O desenvolvimento das tecnologias a carvão limpo depende da expansão desta fonte e

poderá beneficiar muitos países, principalmente contribuindo para o aumento das taxas de

acesso à energia elétrica em muitas nações que contam com o carvão abundante.

5. Referências Bibliográficas

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On Their Allege Equivalence. Energy Economics. 7(4). pp. 279-288.

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Learning in Industrial Settings". Management Science Vol. 36 No. 2. pp. 140-154.

COSTA. Cláudia do Vale. “Políticas de Promoção de Fontes Novas e Renováveis para a

Geração de Energia Elétrica: Lições da Experiência Européia para o Caso Brasileiro”. Tese de

Doutorado. PPE/COPPE/UFRJ. 2006.

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