Relatorio Ornitouna Método de Mackinnon

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AMBIENTE BRASIL CENTRO DE ESTUDOS PLANO DE MANEJO DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO BRIGADEIRO EQUIPE DE CIÊNCIAS NATURAIS Grupo Temático Ornitofauna Caracterização da Ornitofauna do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, com vistas a Elaboração do Plano de Manejo ________________________________________________________________________ Relatório Parcial Coordenação: Prof. Rômulo Ribon Departamento de Ciências Biológicas Instituto de Ciências Exatas e Biológicas Universidade Federal de Ouro Preto Campus Morro do Cruzeiro Ouro Preto – MG Junho / 2006

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AMBIENTE BRASIL CENTRO DE ESTUDOS PLANO DE MANEJO DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO BRIGADEIRO

EQUIPE DE CIÊNCIAS NATURAIS

Grupo Temático Ornitofauna Caracterização da Ornitofauna do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, com vistas

a Elaboração do Plano de Manejo ________________________________________________________________________

Relatório Parcial

Coordenação: Prof. Rômulo Ribon Departamento de Ciências Biológicas Instituto de Ciências Exatas e Biológicas Universidade Federal de Ouro Preto Campus Morro do Cruzeiro

Ouro Preto – MG

Junho / 2006

Page 2: Relatorio Ornitouna Método de Mackinnon

1) INTRODUÇÃO

O presente documento relata as atividades realizadas até o presente momento

(março /2006) em duas campanhas de campo visando a coleta de dados sobre a avifauna

para subsidiar o Plano de Manejo do Parque estadual da Serra do Brigadeiro, na Zona da

Mata de Minas Gerais.

2) METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM, PERÍODO E DURAÇÃO DAS CAMPANHAS

As observações foram feitas em trilhas pré-existentes com binóculos Leica Trinovid

10 x 42 mm BA. A avifauna foi documentada com gravações em fita k7 utilizando-se

gravador Sony TCM 5000EV e microfone Sennheiser ME 66. A documentação dos locais de

amostragem foi feita através de fotografias com câmera digital. Em cada trecho amostrado

foram tomadas as coordenadas geográficas com GPS Garmin 12 e a altitude, com altímetro

barométrico Sunoh. Os dados foram anotados em caderneta de campo, seguindo-se o

método de Mackinnon e Philips (listas de 20 espécies), mas fazendo-se listas de 10

espécies. Ao final de cada dia de amostragem era preenchida uma lista das espécies

registradas durante do dia, registrando-se também o método de registro e, quando foi o

caso, documentação, além do hábitat em que a espécie foi observada.. Para o

preenchimento desta lista tomou-se aquela já publicada sobre a avifauna do Parque (Simon

et al. 1999), acrescentando-se a ela espécies potencialmente ocorrentes na área mas ainda

não registradas. Essas espécies potecialmente ocorrentes seriam aquelas ocorrentes a leste

do PESB, em particular na região serrana do Espírito Santo (Ribon 2004).

VISITA PRÉVIA A visita prévia visou um sobrevôo sobre o Parque Estadual da Serra do Brigadeiro, tendo

como base a Fazenda Brigadeiro (20° 36’ 23” S, 42° 24’ 34” O). Esse sobrevôo visava a

observação dos limites do parque in loco e a determinação de potenciais pontos de

amostragem na porção norte do parque, no dia 16 de janeiro de 2006. Para esse dia

também estava prevista a coleta expedita de dados em áreas de difícil a acesso.

A equipe de avifauna (R. Ribon – RR e Geraldo Theodoro de Mattos - GTM) não

pôde realizar o sobrevôo de reconhecimento porque o tempo gasto pelas demais equipes na

parte da manhã foi subestimado. O sobrevôo da equipe ficou então agendado para o início

da tarde, mas devido ao tempo que seria gasto para levar todas as equipes para a coleta

expedita no extremo norte do Parque (área conhecida como “cabeceiras do rio Matipó”). As

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observações nos arredores da sede da Fazenda Brigadeiro, compreendendo somente a

parte cercada da mesma, mas incluindo-se espécies ouvidas além da mesma, tiveram início

às 10:00 h e término às 11:30 h.

O acesso às cabeceiras do rio Matipó foi feito com o helicóptero do Instituto Estadual

de Florestas – IEF, alcançando-se o local de amostragem às 15:10 e deixando-o às 17:20

h. A área amostrada compreende afloramentos rochosos em meio a campos de altitude e

capões de floresta nativa. Na ocasião da amostragem a vegetação campestre encontrava-se

extremamente degrada em virtude do pisoteio e pastoreio por gado bovino e eqüino, ambos

inclusive visualizados e documentados.

Nesta campanha foram feitas 12 listas de 10 espécies, totalizando 79 espécies,

todas elas registradas por Simon et al. (1999).

PRIMEIRA CAMPANHA

A primeira campanha foi feita entre os dias 18 e 20 de janeiro de 2006 quando foram

registradas 138 espécies de aves. O dia 18 foi gasto deslocando-se de Ouro Preto até

Viçosa, realizando-se a organização de equipamentos e a compra de material de consumo

nesta cidade, e deslocando-se até da Fazenda Brigadeiro. Ainda no dia 18 decidiu-se, para

o dia seguinte, a amostragem da localidade denominada “Ararica”, tendo-se como guia o

biólogo e primatólogo Leandro Moreira Santana. Participaram dessa campanha as

estudantes de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, Liliane Souza

Dantas e Sueli de Souza Damasceno.

No dia 19 tomou-se a trilha em direção ao “Ararica” às 5:00 h, alcançando-se o

pequeno campo rupestre (20° 35’ 24” S, 42° 22’ 44” O) no sopé da pedra homônima às 7:00.

Até aí a vegetação é floresta secundária, com cerca de 20 anos de regeneração. Desse

ponto pode-se ter uma visão geral da paisagem, tendo a mata em primeiro plano e amplo

vale desmatado ao fundo. A área amostrada compreende uma encosta íngreme com trecho

de floresta primária a cerca de 500 m abaixo do campo rupestre. Neste trecho há um

retângulo de 100 ha formado por cinco trilhas de 1.000 m, paralelas 200 m entre si, onde

vêm sendo feitos censos de primatas, com altitude em torno de 1170 m. As amostragens

encerraram-se às 18:45, quando se alcançou a sede da Fazenda Brigadeiro. Neste dia

foram registradas 98 espécies, incluindo-se novos registros para o PESB: a juriti (Geotrygon

montana), o fruxu (Neopelma chrysolophum) e, no trecho de mata primária do Arararica, o

chibante (Oxyrunchus cristatus). A primeira espécie foi apenas ouvida e as duas últimas

foram documentadas por gravações, a última sendo visualizada. Ainda documentou-se a

presença de Phyllomyias virescens, registrada no PESB por Simon et al. (1999) mas ainda

não documentada.

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No dia 20 tomou-se a trilha que sai da sede da Fazenda do Brigadeiro em direção à

“Laje do Ouro”, começando-se amostragem a cerca de 100 m da sede (20° 36’ 33” S, 42°

24’ 36” O), percorrendo-se cerca de dois quilômetros da mesma até cerca de 250 m após o

trecho em que corta o córrego do Ouro (20° 37’ 35” S, 42° 24’ 35” O), a 1320 m de altitude.

Todo o trecho é dominado por floresta secundária. A amostragem teve início às 5:10 h e

término às 10:00 h. Neste dia foram registradas 80 espécies, incluindo-se a choquinha-

pintalgada (Myrmotherula axillaris), registrada por Marina Anciães em 2001, na Fazenda

Neblina, e documentada posteriormente por R. Ribon (um macho coletado, exemplar no

Museu de Zoologia João Moojen de Oliveira - UFV) no mesmo local. Ainda no mesmo dia foi

registrado acusticamente o negrinho-do-mato (Amaurospiza moesta), também inédito para o

PESB.

Durante as amostragens para o Ararica e a Laje do Ouro foram feitas cerca de 30

chamas-eletrônicas (play-back) para o entufado (Merulaxis ater) e para duas espécies raras

e ameaçadas de extinção (global e nacionalmente), potencialmente ocorrentes no PESB: o

papo-branco (Biatas nigropectus) e a saíra-apunhalada (Nemosia rourei). Nenhum indivíduo

das três espécies foi registrado mas obteve-se um relato da última, que deve ser melhor

verificado. Caso confirmado, o PESB seria a única unidade de conservação que,

comprovadamente, abrigaria a espécie.

SEGUNDA CAMPANHA

A segunda campanha foi feita entre os dias 15 e 17 de fevereiro de 2006 quando

foram registradas 119 espécies de aves. O dia 15 foi gasto deslocando-se de Ouro Preto até

a sede do PESB, na antiga fazenda Neblina, realizando-se a organização de equipamentos

e a compra de material de consumo. Ainda no dia 15 foram feitas observações no entorno

da sede e decidiu-se, caso as condições de tempo o permitissem, pela amostragem do Pico

do Campestre e da trilha que lhe dá acesso. Participaram dessa campanha as estudantes

de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, Marconi Campos Cerqueira

Júnior Sueli de Souza Damasceno.

No dia 16 de janeiro tomou-se a estrada que corta o parque, no sentido da ermida de

Antônio Martins, visando acessar a trilha que dá acesso ao Pico do Campestre. Nosso guia

foi o Sr. Abel da Rocha Neves, morador de propriedade limítrofe ao parque e funcionário

contratado do mesmo. As observações tiveram início às 5:40 h e forma interrompidas às

8:20 quando uma chuva torrencial começou a cair quando a equipe já havia percorrido cerca

de 300 m da trilha de acesso ao Pico do Campestre, abrigando-se sob grandes blocos de

pedra na mesma. Em vista da previsão de chuvas fortes para todo o dia e seguindo

orientações da administração do parque, via rádio, decidiu-se por adiar a subida ao pico

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para o dia seguinte, caso as condições meteorológicas o permitissem. Ao longo do dia,

forma feitas observações rápidas nos curtos intervalos de estiagem, entre as 11:00 e 13:20

h e entre as 18:00 e 19:00 h.

No dia seguinte (16/02)foi possível realizar a subida ao Pico do Campestre,

deixando-se a estrada principal e entrando-se na nova trilha que lhe dá acesso às 6:10 h. O

sopé do pico, de relevo plano, a cerca de 100 m do topo do mesmo, foi alcançado por volta

das 12:30. O topo (20° 44’ 58” S, 42° 28’ 15” O) foi atingido após parada para lanche e

descanso. Por cerca de duas horas foram feitas observações nos arredores, constituído por

campo de altitude e capões de vegetação arbustiva com até 2 m de altura. Foram feitas 20

chamas eletrônicas da garrincha-chorona (Oreophylax moreirae) típica dos campos de

altitude dos maciços do Caparaó e Itatiaia, sem se obter resposta. No entanto, o horário da

nossa procura, em torno do meio dia, coincidente com o horário de menor atividade das

aves, nos impede de afirmar que a espécie realmente não ocorra aí. Assim, uma maior

procura deve ser feita no início da manhã e final da tarde no período reprodutivo (outubro-

março).A espécie não foi registrada no PESB por Simon et al. (1999) que, no entanto,

amostraram muito pouco as porções de campos de altitude do PESB e a distância e

semelhança avifaunística entre este e o Caparaó nos levam a acreditar ainda na sua

ocorrência naquele.

A trilha para o Pico do Campestre percorre, na sua maior extensão, trechos de

floresta secundária, um pequeno trecho contíguo de floresta primária que sofreu, no

passado, corte seletivo de madeira e, mais próximo ao pico, trecho de campo de altitude.

Em alguns trechos a vegetação é dominada por densos taquarais, importantes para

espécies como a choquinha-da-serra (Drymophila genei), espécie ameaçada de extinção em

Minas Gerais. A espécie, é endêmica dos taquarais nativos acima de 1.200-1.300 m de

altitude. Considerada restrita ao complexo das serras do Caparaó e Itatiaia (Sick 1997), D.

genei não havia sido, inadvertidamente, incluída na lista de espécies de aves do PESB por

Simon et al. (1999) mas já era conhecida do mesmo (Ribon e Simon 1998). Em 2004 a

espécie foi registrada acima dos 1.200 m no Parque estadual do Forno Grande – ES (Ribon

2004).

No final do dia 16/02, após o regresso da equipe do Pico do Campestre, a mesma

regressou para Viçosa, com os estagiários indo para Ouro Preto.

Tanto na Fazenda neblina como na Fazenda do Brigadeiro forma feitos vários

registros acústicos da araponga (Procnias nudicollis), visualizada duas vezes na Fazenda do

Brigadeiro. O registro corriqueiro da espécie indica que a população do PESB está se

recuperando, uma vez que foi dada como muito rara por Simon et al. (1999). Além das

espécies citadas anteriormente foram registradas outras ameaçadas (inhambu-açu,

Penelope obscura; cuiú-cuiú, Pionopsitta pileata; araçari-banana, Pteroglossus bailloni;

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tovacuçu, Grallaria varia; corocochó, Carpornis cucullatus; tropeiro-da-serra, Lipaugus

lanioides e canário-da-terra, Sicalis flaveola) ou presumivelmente ameaçadas (pomba-

amargosa, Columba plumbea; tiriba-de-testa-vermelha, Pyrrhura frontalis; tucano-de-bico-

verde, Ramphastos dicolorus; trovoada, Drymophila ferruginea; tovaca, Chamaeza

meruloides, arredio-pálido, Cranioleuca pallida; vira-folhas, Sclerurus scansor; olho-falso,

Hemitriccus diops, quete, Poospiza lateralis, ) de extinção em Minas Gerais. Destas, o

araçari-banana, a choquinha-da-serra, o corocochó, além da araponga e do barbudinho

(Phylloscartes eximius) registrado ao lado da casa de hóspedes da Fazenda Neblina, são

consideradas “quase ameaçadas” em escala mundial (BirdLife International 2004).

TERCEIRA CAMPANHA

Os dados da terceira campanha já foram tabulados (conforme lista, em anexo), mas

sua consolidação está em fase de conclusão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BirdLife International. 2004. Threatened birds of the world. Lynx Edicions. Barcelona.

Ribon, R. e Simon, J. E. Drymophila genei (Filippi, 1847). 1998. In: Livro vermelho das espécies ameaçadas de extinção da fauna de minas gerais. Machado, A. B. M.,

Fonseca, G. A. B., Machado, R. B., Aguiar, L. M. de S. e Lins, L. V. (eds.). Belo Horizonte.

Fundação Biodiversitas. 321-323.

Ribon, R. 2004. Inventariamento e monitoramento da avifauna do Parque Estadual do Forno Grande e Fazenda Forno Grande – ES. Relatório Técnico. Programa das Nações

Unidas para o Desenvolvimento – PNUD / NPPP – Projeto de Execução Nacional

/Contrato Nº2003/000926 / Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais

Brasileiras – PPG-7 / Ministério do Meio Ambiente / Projeto Corredores Ecológicos.

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Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.

Simon, J. E.; Ribon, R, Mattos, G. T. e Abreu, C. R. M. 1999. A avifauna do Parque Estadual

da Serra do Brigadeiro, sudeste de Minas Gerais. Revista Árvore 23 (1):33-48.