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RELIGIÃO OS EVANGELHOS , APOCRlFOS Aumenta, hoje em dia, o Intere••• pela pesquisa dos textos blbllcos ap6crlfos, especialmente os que se referem ao perlodo englobado pelo Novo Testámento. Em suas origens, o termo ap6crlfo significava "coisa escondida", "oculta", servindo na antlgOldade para designar livros de uso privado de adeptos de seitas Inlclétlcas e das escolas de mlst6rlo da Grltela e de Roma, como, por exemplo, os livros Slblllnos eo lus PontH/cum. Posteriormente, os cristãos paliaram a designar com este termo certos livros de autores desconhecidos e temas amblguos, ainda que considerados de caréter sagrado. Somente tempos depois é que a palavra velo a significar algo suspeito de heresia, sendo, portanto, pouco recomendével. Entre os primeiros cristãos, contudo, não existia um consenso a respeito desses livros hoje considerados não-canônicos, que eram divulgados por uns e condena- dos por outros. São Lucas já dizia que - "muitos empreenderam narrar os fatos que entre nós se verificaram ... " (Lc 1,1), mostrando que a vida e o ensinamento de .Jesus sempre foram objeto de escrituras .• diversas. Assim como os livros canônicos, os apó- crifos dividem-se em quatro grupos: evangelhos, atos, epístolas e apocalipses. Os dois primeiros são os mais numerosos, e ainda hoje encontram-se em sua língua original, o grego, além de várias traduções latinas ou orientais, por exemplo em copto, siríaco, armênio, árabe e eslavo. Os Evangelhos Apócrifos Neotestamentários Tratam da vida e doutrina de Jesus, bem como de seus antecedentes familiares. Dividem-se geralmente em cinco tipos principais: a) Textos fragmentados: restos de apó- crifos perdidos que nos legaram os escrito- res eclesiásticos dos primeiros séculos, bem como coleções de ágrafas, frases atri- buídas a Cristo mas que não constam nos evangelhos canônicos. b) Apócrifos do nascimento: Proto- -evangelho de Santiago e suas reelaborações latinas, chamadas de Pseudo Mateo e De Nativitate Mariae. c) Apócrifos da infância: Pseudo Tomás Grego (o principal), Evangelho Árabeda In- fância, História de José, o carpinteiro, Evan- gelho Latino da Infância, etc. d) Apócrifos da paixão: narram a des- cida aos infernos e a ressurreição de Cristo. Existem os fragmentos do Evangelho de Pedro e do Evangelho de Bartolomeu. e) Apócrifos da Assunção, que tratam da Virgem, como o Livro de São João Evan- gelista, a Homilia de João de Tessalônica. Narrações de José de Arimatéia, etc. Além destes livros, existe a correspon- 28 THOT

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OS EVANGELHOS,APOCRlFOS

Aumenta, hoje em dia, o Intere ••• pela pesquisa dostextos blbllcos ap6crlfos, especialmente os que se referem

ao perlodo englobado pelo Novo Testámento. Em suasorigens, o termo ap6crlfo significava "coisa escondida","oculta", servindo na antlgOldade para designar livros deuso privado de adeptos de seitas Inlclétlcas e das escolas demlst6rlo da Grltela e de Roma, como, por exemplo, os livros

Slblllnos e o lus PontH/cum. Posteriormente, os cristãospaliaram a designar com este termo certos livros deautores desconhecidos e temas amblguos, ainda que

considerados de caréter sagrado. Somente tempos depois éque a palavra velo a significar algo suspeito de heresia,

sendo, portanto, pouco recomendével.

Entre os primeiros cristãos, contudo,não existia um consenso a respeito desseslivros hoje considerados não-canônicos,que eram divulgados por uns e condena-dos por outros. São Lucas já dizia que

- "muitos empreenderam narrar os fatosque entre nós se verificaram ... " (Lc 1,1),mostrando que a vida e o ensinamento de.Jesus sempre foram objeto de escrituras

.•

diversas.Assim como os livros canônicos, os apó-

crifos dividem-se em quatro grupos:evangelhos, atos, epístolas e apocalipses. Osdois primeiros são os mais numerosos, eainda hoje encontram-se em sua línguaoriginal, o grego, além de várias traduçõeslatinas ou orientais, por exemplo emcopto, siríaco, armênio, árabe e eslavo.

Os Evangelhos Apócrifos Neotestamentários

Tratam da vida e doutrina de Jesus, bemcomo de seus antecedentes familiares.Dividem-se geralmente em cinco tiposprincipais:

a) Textos fragmentados: restos de apó-crifos perdidos que nos legaram os escrito-res eclesiásticos dos primeiros séculos,bem como coleções de ágrafas, frases atri-buídas a Cristo mas que não constam nosevangelhos canônicos.

b) Apócrifos do nascimento: Proto--evangelho de Santiago e suas reelaboraçõeslatinas, chamadas de Pseudo Mateo e DeNativitate Mariae.

c) Apócrifos da infância: Pseudo TomásGrego (o principal), Evangelho Árabeda In-fância, História de José, o carpinteiro, Evan-gelho Latino da Infância, etc.

d) Apócrifos da paixão: narram a des-cida aos infernos e a ressurreição deCristo. Existem os fragmentos doEvangelho de Pedro e do Evangelho deBartolomeu.

e) Apócrifos da Assunção, que tratamda Virgem, como o Livro de São João Evan-gelista, a Homilia de João de Tessalônica.Narrações de José de Arimatéia, etc.

Além destes livros, existe a correspon-

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dência apócrifa mantida entre Jesus e Ab-gero, rei de Edesa, e a chamada Carta deDomingo.

A influência dos apócrifos foi grande namentalidade dos povos orientais, em vir-tude de preencherem um vazio deixadopelos evangelhos canônicos no que se re-fere à vida e à doutrina de Jesus. Com opassar do tempo, foram sendo enriqueci-dos.

Entre os Santos Padres observavam-seduas atitudes distintas, uma liderada porSão Jerônimo, o qual, percebendo as con-tradições, extravagâncias e até frases demau gosto em alguns apócrifos, optavapela abolição direta de todos eles; a outra,mais tolerante, de Santo Agostinho, admi-tindo que, embora não fossem canônicos,encontrava-se neles algo de verdadeiro.Não obstante, alguns escritores orientaiscomo Clemente de Alexandria, Eusébio,Santo Epifânio, Santo André Cretense,São João Damasceno e mesmo as Igrejasocidentais e orientais, valeram-se diversasvezes de citações dos textos apócrifos.Muitas das várias festas e liturgias cristãsnão encontram o seu porquê fora dessestextos apócrifos.

A antigüidade de alguns deles remontaao século lI, e refletem o sentir maravi-lhoso das primeiras comunidades cristãsem relação a Cristo, a sua pessoa e família.

Sua influência foi enorme. Os nomesatribuídos aos pais da Virgem, Joaquim eAna, cujas festas respectivas celebra a li-turgia romana a 16 de agosto e 26 de julho;a festa da apresentação da Virgem menina,fixada no calendário bizantino e romanoem 21 de novembro; o nascimento deCristo numa caverna, em que nunca fal-tam o boi e o asno; a fuga ao Egito com osídolos que se derrubam; os três reis magos,com seus nomes de Melchior, Gaspar eBaltazar; a história dos ladrões Dimas eGestas, o nome do soldado que atravessoucom sua lança a Cristo, a quem chamamde Longinos; a história de Verônica, queenxugou com seu lenço a testa de Cristona rua da Amargura ... são detalhes tão li-gados à nossa maneira de sentir que muitasvezes resistimos à idéia de que nao têm ou-tro fundamento histórico a não ser os apó-crifos.

Os artistas revelaram a influência dosapócrifos nas igrejas e catedrais. O papaSixto 11I, em 435, fez decorar o arco triun-fal de Santa Maria com motivos tirados emsua maior parte do Proto-evangelho deSantiago e do Pseudo Mateus. Na IdadeMédia tivemos esta influência através de

Foi grande a Intluimc/a dos apócrlfosna mentalidade dos povos orientais, emvirtude de preencherem um vazio dei-xado pelos evangelhos candn/cos noque se refere é vida e a doutrina de Je-sus.

Fra Angélico e Giotto, assim como a senti-mos na "Divina Comédia" de Dante, no"Paraíso Perdido", de Milton, entre ou-tros. Após o Concílio de Trento, esta lite-ratura passou a ter menor influência naIgreja ocidental.

Tendo em vista a limitação de espaçoque um artigo nos impõe, apresentaremosapenas um resumo e trechos de dois dosprincipais apócrifos, o Proto-evangelho deSantiago e o Evangelho do Pseudo Tomás.

Exemplo de pergaminho; neste caso, o C6dice Vaticano,em grego, datado de 350 d.C: onde se reproduz Me 10,24-46.

Proto-evangelho de Santiago

É o mais antigo de que se tem notícia e,ao mesmo tempo, no que se refere ao nas-cimento de Maria e de Cristo, o mais di-fundido. O título se deve a Guilhermo Pos-tal (1581), o qual, ao constatar que omesmo era lido nas igrejas do Oriente,pensou falsamente que ali fosse conside-rado canônico, tomando-o primeiramente

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como prólogo ao Evangelho de S. Marcos,vindo daí o título de Proto-evangelho. Orí-genes conhecia-o pelo nome de Livro deTiago (Tiago, São Tiago, Santiago), cujaautoria é atribuída a Santiago, o me-nor, irmão de Jesus, mais conhecido comofilho de Zebedeu.

E recebeu-a o sacerdote, que, depois de havê--Ia beijado, bendisse-a e exclamou: "O Se-nhor engrandeceu teu nome por todas as ge-rações, pois ao fim dos tempos manifestaráem ti uma redenção aos filhos de Israel". EMaria permaneceu no templo como umapombinha, recebendo alimento das mãos deum anjo (7, 1-8, 1).

Porém, ao chegar aos doze anos, os sacer-dotes se reuniram para deliberar, dizendo:"Eis que Maria cumpriu seus doze anos notemplo do Senhor ... que haveremos de fa-zer?" E disseram ao sumo sacerdote: "Tuque tens o altar a teu cargo, entra e ora porela ... " E o sumo sacerdote entrou e oroupor ela. Mas eis que um anjo do Senhor apa-receu, dizendo-lhe: "Zacarias, sai e reúne to-dos os viúvos do povo ... aquele sobre quem oSenhor fizer um sinal estranho, desse seráMaria mulher." Saíram os arautos por toda aregião de Judéia ... (8, 2-8, 3).

E José, deixando [eu machado, uniu-se aeles ... e se puseram a caminho, em busca dosumo sacerdote. Este ... pôs-se a orar, ... eeis que saiu uma pomba que se pôs a voar so-bre sua cabeça (José). Então, o sumo sacer-dote disse: "A ti coube a sorte de receber sobtua custódia a Virgem do Senhor". José res-pondeu: "Tenho filhos e sou velho, enquantoque ela é menina; não quisera ser objeto deriso por parte dos filhos de Israel". Ao que osacerdote replicou: "Teme ao Senhor teuDeus, e tem fresente o que fez com Datan,Abiron e Core: como abriu a terra eforam se-pultados nela por sua rebelião ". E ele, cheiode temor, recebeu-a sob sua proteção ... edisse-lhe: 'Tomei-te do templo, agora deixo--te em minha casa e vou continuar minhasconstruções ... O Senhor te guardará" (9,1-3).

Certo dia, tomou Maria um cântaro e foienchê-lo d'água; mas eis que se deixou ouviruma voz que dizia: "Deus te salve, cheia deGraça. o Senhor é convosco, bendita sois vósentre as mulheres ... " Logo um anjo do Se-nhor apresentou-se-lhe e disse: "Recebestegraça ante o Senhor Onipotente e vais conce-ber por sua palavra . . . o fruto santo que háde nascer de ti será chamado filho do Altis-simo" (11, 1-3).

. . .E dia a dia seu embaraço ia aumen-tando, e, cheia de temor, marchou para suacasa a se esconder dos filhos de Israel.Quando sucederam estas coisas, tinha ela 16anos (12,3).

Ao chegar ao sexto mês de gravidez, voltouJosé de suas edificações, e ao entrar em casadeu-se conta de que ela estava prenhe ... vi-rou o rosto e lançou-se à terra e chorou amar-gamente ... E levantando-se José chamou

Segundo contam as histórias ... havia umhomem muito rico chamado Joaquim, que fa-zia suas oferendas em quantidade dupla. Che-gou a grande festa do Senhor ... e Rubemplantou-se frente a Joaquim dizendo-lhe: Nãote é licito oferecer primeiro, pois não tivesteum descendente em Israel". Joaquim ficouaflito e não compareceu frente a sua mulhermas retirou-se para o deserto... e jejuouquarenta dias e quarenta noites, pensandoconsigo mesmo: "Não sairei daqui nem se-quer para comer e beber, enquanto não mevisite o Senhor, meu Deus; que minha oraçãome sirva de comida e bebida" (1,1-1,4).

E Ana, sua mulher, lamentava-se ... di-zendo: "Chorarei minha viuvez e minha este-rilidade. Oh, Deus de nossos pais, ouve-me ebendize-me, da mesma maneira como ben-disseste o seio de Sara, dando-lhe como filhoIsaac" (2, 1-1, 4).

"Ai de mim! A quem me assemelho? Nãoàs aves do céu, pois elas são fecundas em tuapresença, Senhor. Ai de mim? Com quemposso me comparar? Nem sequer com essaságuas, pois ainda elas são férteis ante Ti, Se-nhor ... " (3, 1-3, 3).

E eis que se lhe apresentou um anjo deDeus dizendo: "Ana, Ana, o Senhor escutouos teus rogos: conceberás e darás à luz e detua prole se falará em todo o mundo ", Anarespondeu: "Se chego a ter algum fruto debendição, seja menino ou menina, o levareicomo oferenda ao Senhor, e estará a seu ser-viço todos os dias de sua vida" (4,1).

E cumpriu-se a Ana o seu tempo, e ao nonomês deu à luz. E perguntou à parteira: "Aquem dei à luz?" E a parteira respondeu:"Uma menina". Então Ana exclamou: "Mi-nha alma foi hoje enaltecida". E reclinou amenina no berço. Havendo transcorrido otempo marcado pela lei, Ana purificou-se, deuo peito à menina, e colocou-lhe o nome deMaria (5,2).

... E ao chegar aos dois anos, disse Joa-quim a Ana: "Levemo-Ia ao templo do Se-nhor para cumprir a promessa que fize-mos ... " Ana respondeu: "Esperemos aindaaté que cumpra os três anos, para que a me-nina não tenha saudades de nós ... " Ao che-gar os três anos, disse Joaquim: "Chama asdonzelas hebréias que estão sem mancha eque tomem caminho ... " E assim fizeram ...

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Maria e disse-lhe: "Predileta como és deDeus, como fizeste isto? Esqueceste do Se-nhor, teu Deus?" E ela chorou dizendo:"Pura eu sou e não conheço homem algum"(13,1-3).

Mas eis que um anjo do Senhor lhe apare-ceu em sonhos, dizendo: "Não temas por estadonzela, pois o que leva em suas entranhas éfruto do Espírito Santo. Dará à luz umfilho elhe colocarás o nome de Jesus ... " (14, 2).

E veio uma ordem do imperador Augusto,para que se fizesse o censo de todos os habi-tantes de Belém da Judéia ... e, aparelhandoseu asno, fez acomodar-se Maria sobre ele,enquanto seu filho ia adiante, levando a bestapelo cabresto ... E ao chegar à metade do ca-minho (de Belém), disse Maria a José:"Baixa-me porque o fruto de minhas entra-nhas está por vir a luz ". E ajudou-a a

Tomás, suposto autor deste evangelhoda infância, não foi identificado como oapóstolo de mesmo nome senão no séculoIH, quando seu culto já se estendia portodo o Oriente. Segundo alguns estudio-sos, seu autor deveria ser um cristão hele-nizado, mas outros vêem neste apócrifofortes influências hindus, sobretudo em al-gumas narrações semelhantes às deKrishna e Buda, e mesmo em certos estilosliterários comuns ao Oriente. A redaçãodeste texto remonta ao século H.

Eu, Tomás Israelita, tendo julgado neces-sário dar a conhecer a todos os irmãos prece-dentes da bondade da infância de Nosso Se-nhor, e quantas maravilhas realizou depois denascer na nossa terra. O princípio é como sesegue. . . (1, 1).

Este menino Jesus, que contava com cincoanos, encontrava-se um dia brincando numriacho. .. depois fez uma massa mole debarro, com a qual modelou doze passari-nhos ... Jesus bateu palmas e, dirigindo-seàs figuras, disse-Ihes: "Marchem". E os pas-sarinhos voaram todos, gorgeando (2, 1-5).

Já outra vez, atravessando um povoado,um menino que vinha correndo chocou-se emseu costado. Irritado, Jesus disse-lhe: "Nãocontinuarás teu caminho" e imediatamente orapaz caiu morto. Alguns que presenciaram oacontecido, disseram: "De onde terá vindoeste rapaz, que todas as suas palavras termi-nam em fatos consumados?" (4, 1).

... Certo rabino de nome Zaqueo ...

Evangelho de Pseudo Tomás

apear ... dizendo: "Onde poderia eu levar-tepara resguardar teu pudor?" (17, 1-3).

E encontrando uma gruta introduziu-a, e,havendo-a deixado com seus filhos, foi-se embusca de uma parteira hebreia, na 'região deBelém (18, 1).

Ao chegar ao lugar da gruta parara, e eisque esta estava sombreada por uma nuvem lu-minosa . .. de repente brilhou uma luz tãogrande que os olhos não lhe podiam resistir(19,1 ).

Então sobreveio um grande tumulto emBelém, pois vieram uns magos dizendo:"Onde se encontra o nascido Rei dos Judeus?Porque vimos uma estrela no Oriente, e vie-mos para adorá-Io ". E naquele momento aestrela ... voltou de novo a guiá-los até quechegaram à gruta, e pousou-se na entradadesta (21,1-4).

chegou-se a José e lhe disse: "Vejo que tensum filho sensato e inteligente. Confia-o amim para que aprenda as letras. Eu lhe ensi-narei toda classe de sabedoria e a arte de sau-dar aos mais velhos ... "

E lhe disse as letras com grande esmero eclareza, desde o alfa até o ômega. Mos Jesusfixou sua vista no rabino e disse-lhe: "Comote atreves a explicar aos demais o Beta, se tuignoras a natureza do Alfa? Hipócrita! Ex-plica primeiro o Alfa, se o sabes, e logo acre-ditaremos no que disseres em relação aoBeta". Depois começou a interrogar acercada primeira letra, mas o rabino não pôderesponder-lhe (6, 1-3).

E enquanto os judeus se entretiam emaconselhar Zaqueo, o menino começou a rircom muita vontade e disse: "Frutifiquemagora tuas coisas e abram à luz os olhos doscegos de coração. Eu vim desde cima paramaldizê-los e chamá-Ios depois para o alto,pois esta é a ordem d'Aquele que por vocês meenviou". Quando o menino acabou de falar,sentiram-se imediatamente sãos todos aque-les que tinham caído sob sua maldição (8,1-2).

Estes pequenos excertos podem pôr derelevo a importância de que estão revesti-dos os textos apócrifos para a história doCristianismo. Devemos ver neles não ape-nas alguns dados conceituais, mas tambémperceber, ainda que vagamente, o espíritoque existia na época, misto de religiosi-dade e crenças, mas que apontava parauma única direção: o Reino dos Céus.

DAVID COHEN

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