RESÍDUOS DE GESSO NA CONSTRUÇÃO CIVIL - REUTILIZAÇÃO E/OU ......

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RESÍDUOS DE GESSO NA CONSTRUÇÃO CIVIL - REUTILIZAÇÃO E/OU RECICLAGEM NO RN PEREIRA, Milena (1); FERREIRA, João (2); OLIVEIRA, Michelli (3) (1) UNIFACEX, (84) 9617-9595, e-mail: [email protected], (2) UNIFACEX, e-mail: [email protected], (3) UNIFACEX, e-mail: [email protected]. RESUMO A utilização do gesso na construção civil apresenta-se cada vez mais difundida devido a aspectos como baixo custo de produção e fino acabamento. Consequentemente problemas foram gerados com relação ao seu descarte, tanto ambientais quanto econômicos. A busca por uma logística reversa na reutilização do gesso levou a um projeto de pesquisa de caráter exploratório-descritivo, com o objetivo de investigar e avaliar a real destinação dos resíduos de gesso nas empresas do Rio Grande do Norte, assim como seu conhecimento e comportamento a respeito da temática, e, por conseguinte, verificar como pode e deve ser feito o efetivo reaproveitamento e reciclagem do material. Com base nisso, a metodologia utilizada fez uso da técnica de pesquisa bibliográfica a fim de entender e dominar as características físico-químicas do gesso, seu custo de processamento e de transporte, o preço da matéria prima natural, a gestão dos seus resíduos, dentre outras informações acerca dos projetos que vêm sendo desenvolvidos na área, por meio de levantamento de dados. De forma complementar, o uso da pesquisa de campo possibilitou a realização de visitas in loco, para realização de uma pesquisa quantiqualitativa. Diante disso, um questionário serviu de pré-teste e foi aplicado às empresas associadas ao SINDUSCON/RN, com intuito de analisar o seu grau de conhecimento, destinação, gerenciamento e reutilização do gesso. Os resultados alcançados apontam para uma nova fase da pesquisa, onde foi construído um instrumento de coleta de dados específico, de acordo com a realidade apresentada, a fim de se obter uma visão mais clara dos reais procedimentos adotados nas empresas para destinação do gesso. O questionário, fruto desta análise foi aplicado em 23 empresas, as quais apresentaram as primeiras evidências quanto ao comportamento de destinação do gesso. Palavras-chave: Construção civil, Reutilização, Gesso. ABSTRACT The use of plaster in construction presents increasingly diffused due to aspects such as low production and fine workmanship. Consequently problems were generated with respect to its both environmental and economic disposal. The search for a reverse logistics reuse of plaster led to research project descriptive exploratory study aiming to investigate and evaluate the actual allocation of plaster waste companies in Rio Grande do Norte, as well as their knowledge and behavior of the theme, check how can and should be made effective reuse and material recycling. Based on this, the methodology made use of the technique of literature in order to understand and master the physicochemical characteristics of the gypsum cost of processing and transport, the price of natural raw materials, the management of their waste, among other information about the projects being developed in the area through survey data. So we tried to make visits in loco, Quantiqualitative for performing a search. Therefore, a questionnaire served as the pretest and the companies associated to SINDUSCON / RN was applied, in order to analyze the degree of knowledge, disposition, management and reuse of plaster. The results obtained indicate a new phase of the research, which was built an instrument to collect specific data, according to the reality presented in order to obtain a clearer image of the actual procedures used by companies to dispose of plaster. The questionnaire, the result of this analysis was applied to 23 companies, which were the first evidence regarding the behavior of dispose of plaster. 3152

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RESÍDUOS DE GESSO NA CONSTRUÇÃO CIVIL -

REUTILIZAÇÃO E/OU RECICLAGEM NO RN

PEREIRA, Milena (1); FERREIRA, João (2); OLIVEIRA, Michelli (3)

(1) UNIFACEX, (84) 9617-9595, e-mail: [email protected], (2) UNIFACEX, e-mail:

[email protected], (3) UNIFACEX, e-mail: [email protected].

RESUMO A utilização do gesso na construção civil apresenta-se cada vez mais difundida devido a aspectos como

baixo custo de produção e fino acabamento. Consequentemente problemas foram gerados com relação ao

seu descarte, tanto ambientais quanto econômicos. A busca por uma logística reversa na reutilização do

gesso levou a um projeto de pesquisa de caráter exploratório-descritivo, com o objetivo de investigar e

avaliar a real destinação dos resíduos de gesso nas empresas do Rio Grande do Norte, assim como seu

conhecimento e comportamento a respeito da temática, e, por conseguinte, verificar como pode e deve ser

feito o efetivo reaproveitamento e reciclagem do material. Com base nisso, a metodologia utilizada fez

uso da técnica de pesquisa bibliográfica a fim de entender e dominar as características físico-químicas do

gesso, seu custo de processamento e de transporte, o preço da matéria prima natural, a gestão dos seus

resíduos, dentre outras informações acerca dos projetos que vêm sendo desenvolvidos na área, por meio

de levantamento de dados. De forma complementar, o uso da pesquisa de campo possibilitou a realização

de visitas in loco, para realização de uma pesquisa quantiqualitativa. Diante disso, um questionário serviu

de pré-teste e foi aplicado às empresas associadas ao SINDUSCON/RN, com intuito de analisar o seu

grau de conhecimento, destinação, gerenciamento e reutilização do gesso. Os resultados alcançados

apontam para uma nova fase da pesquisa, onde foi construído um instrumento de coleta de dados

específico, de acordo com a realidade apresentada, a fim de se obter uma visão mais clara dos reais

procedimentos adotados nas empresas para destinação do gesso. O questionário, fruto desta análise foi

aplicado em 23 empresas, as quais apresentaram as primeiras evidências quanto ao comportamento de

destinação do gesso.

Palavras-chave: Construção civil, Reutilização, Gesso.

ABSTRACT The use of plaster in construction presents increasingly diffused due to aspects such as low production

and fine workmanship. Consequently problems were generated with respect to its both environmental and

economic disposal. The search for a reverse logistics reuse of plaster led to research project descriptive

exploratory study aiming to investigate and evaluate the actual allocation of plaster waste companies in

Rio Grande do Norte, as well as their knowledge and behavior of the theme, check how can and should

be made effective reuse and material recycling. Based on this, the methodology made use of the technique

of literature in order to understand and master the physicochemical characteristics of the gypsum cost of

processing and transport, the price of natural raw materials, the management of their waste, among other

information about the projects being developed in the area through survey data. So we tried to make

visits in loco, Quantiqualitative for performing a search. Therefore, a questionnaire served as the pretest

and the companies associated to SINDUSCON / RN was applied, in order to analyze the degree of

knowledge, disposition, management and reuse of plaster. The results obtained indicate a new phase of

the research, which was built an instrument to collect specific data, according to the reality presented in

order to obtain a clearer image of the actual procedures used by companies to dispose of plaster. The

questionnaire, the result of this analysis was applied to 23 companies, which were the first evidence

regarding the behavior of dispose of plaster.

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anacuper
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anacuper
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http://doi.org/10.17012/entac2014.298
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Keywords: Building, Reuse, Plaster.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem o objetivo de investigar e avaliar a real destinação dos resíduos

de gesso nas empresas do Rio Grande do Norte, assim como seu conhecimento e

comportamento a respeito da temática, e, ainda, propor um melhor reaproveitamento e

reciclagem do material.

A metodologia de caráter exploratório-descritivo abrangeu uma pesquisa bibliográfica, a

fim de entender e dominar as características físico-químicas do gesso, seu custo de

processamento e de transporte, o preço da matéria prima natural, a gestão dos seus

resíduos, dentre outras informações acerca dos projetos que vêm sendo desenvolvidos

na área, por meio de levantamento de dados, além de uma pesquisa de campo quanto a

seus procedimentos,onde foram também realizadas visitas in loco e a aplicação de um

questionário nas empresas associadas ao SINDUSCON/RN.

Pôde-se verificar que entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva da construção

civil, o segmento gesseiro apresenta um grande potencial de contribuição para a

sustentabilidade da indústria da construção, devido ao baixo consumo energético do

processo de produção e da viabilidade de reciclagem dos resíduos gerados ao longo de

sua cadeia produtiva (JOHN, ANGULO, CINCOTTO,2002).

A experiência internacional mostra que a reciclagem do resíduo de gesso é viável, sendo

adotada nos EUA e Europa, especificamente, no setor de beneficiamento de chapas

acartonadas (PINHEIRO,2011).

O interessante é que desde 2001 a reciclagem desse resíduo teve início na Europa,

enquanto que no Brasil no mesmo período foi classificado pelo Conselho Nacional de

Meio Ambiente (CONAMA), 307/02 como classe “C”, ou seja, resíduos para os quais

não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis para

reciclagem ou recuperação. Só passou por uma reclassificação em 2011 sendo

considerada classe “B”, reciclável para outras destinações. Isso ocorreu em função de

pesquisas recentes que mostraram que o gesso pode ser reciclado diversas vezes e

reinserido em sua própria cadeia produtiva ou mesmo em outros tipos de uso e também

em função do interesse dos fabricantes.

Devido a isso, é necessário que a indústria da construção civil adote os sistemas de

logística reversa, que têm por objetivo desenvolver cadeias reversas para o

reaproveitamento dos produtos e resíduos originados nos processos produtivos e

estabelecer nos agentes que nela atuam o censo de responsabilidade por todo o ciclo de

vida do produto (QUERINO, 2013).

É importante saber que as características físico-químicas do resíduo exigem cuidados

especiais na sua disposição final, devido ao seu potencial tóxico, à liberação de gases

inflamáveis, ao risco de contaminação do solo e do lençol freático, bem como em razão

das restrições aos percentuais de uso em agregados reciclados oriundos dos resíduos da

construção civil (JOHN, ANGULO, CINCOTTO, 2002). Entretanto, a reversibilidade

de suas reações de transformação possibilita, por meio de um processo simples de

reciclagem, a inserção do resíduo nos diferentes setores da sua cadeia produtiva.

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A gipsita também conhecida como “gipso” se configura um mineral abundante na

natureza, cuja fórmula estequiométrica é CaSO4.2H2O.Pode-se dizer então que sua

constituição química é basicamente: 32,5% de CaO3; 46,5% de SO3 e 20,9% de H2O.

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Por ser um mineral pouco resistente, sob a ação do calor, em torno de 160ºC, sofre

desidratação parcial o que provoca a obtenção do material denominado gesso

(CaSO4.½H2O).

Sabe-se que a gipsita é facilmente encontrada em bacias sedimentares, o Brasil, por

possuir cerca de 60% do seu território recoberto por essa formação, possui vários

depósitos de gipsita, sendo os principais: Bacia Amazônica (Amazonas e Pará), Bacia

do Meio Norte ou Bacia do Parnaíba (Maranhão e Tocantins), Bacia Potiguar (Rio

Grande do Norte), Bacia Sedimentar do Araripe (Piauí, Ceará e Pernambuco) e Bacia do

Recôncavo (Bahia) (LYRA SOBRINHO et al. 2011).

Em 2010, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), foram

produzidas no Brasil cerca de 2750 mil toneladas de gipsita, enquanto foram

consumidas 2820 mil toneladas desse mineral. O estado de Pernambuco, principal

produtor do Brasil, foi responsável por 91,5% da produção nacional, tendo como

destaque o chamado “polo gesseiro do Araripe”, situado no extremo oeste

pernambucano e formado pelos municípios de Araripina, Trindade, Ipubi, Bodocó e

Ouricuri. Os demais estados produtores de gipsita são: Maranhão (4,9%), Ceará (2,4%),

Amazonas (1,1%) e Tocantins (0,1%) (LYRA SOBRINHO et al. 2011). Segundo o

próprio DNPM, a produção de gipsita no Brasil aumentou para 3223 mil toneladas em

2011 e para 3750 mil toneladas (dado preliminar) em 2012 (AMORIM NETO,

DANTAS, 2013).

No que se refere às empresas produtoras, as de maior destaque são: Votorantim

Cimentos N/NE, Mineradora São Jorge S/A, CBE - Companhia Brasileira de

Equipamento (Grupo João Santos), Mineradora Campevi Ltda e Holcim S/A, juntas elas

produzem mais de 60% de toda a produção nacional.

O gesso utilizado na construção civil é denominado gesso “beta”, que por possuir um

custo de processamento menor, tem características como resistência mecânica,

consistência e tempo de pega inferior ao ideal, tudo isso devido ao formato irregular dos

cristais obtidos.

Como o gesso é um dos materiais mais usados na construção civil, devido a sua ampla

variabilidade de uso (fabricação de blocos e placas, revestimentos, moldes cerâmicos,

forros, acabamentos) com o passar dos anos sua utilização tornou-se cada vez mais

acelerada, seu desenvolvimento e técnicas de aplicação foram se aperfeiçoando,

concomitantemente o seu descarte nos aterros de construção civil também, uma vez que

o quantitativo de resíduos provenientes do gesso equivale a 4% de todo resíduo gerado

nos canteiros de obra.

No entanto, aliado a isso começa a surgir à cultura do “reduzir-reusar-reciclar”,

influenciada sem dúvidas pela alteração do Conselho Nacional de Meio Ambiente

(CONAMA). Na resolução 307/02 o gesso era classificado como “classe C” (resíduos

para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente

viáveis para reciclagem ou recuperação), ou seja, era considerado como lixo. Hoje a

nova resolução do CONAMA 431/11 permite que o gesso passe a ocupar a “classe B”, e

consequentemente, possua tecnologia viável para sua reciclagem.

Segundo as informações da SINDUSGESSO e ABRAGESSO as principais fontes de

resíduos de gesso na construção civil são as atividades de revestimento (88%), chapas

de gesso acartonado (8%) e os componentes pré-moldados (4%) que são responsáveis

pelo consumo direto de 1.090.000 toneladas do minério por ano e produzem uma massa

aproximada de 120 mil toneladas de resíduos somente na grande São Paulo. Esses

resíduos, se devidamente gerenciados, poderiam minimizar o consumo de gipsita em

32.700 toneladas por ano (AGOPYAN, A. K. et al. 2005).

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3 METODOLOGIA

Foi realizado um estudo bibliográfico qualiquantitativo abrangendo as principais

informações sobre a aplicabilidade do gesso na construção civil, o preço da matéria-

prima natural e do transporte, seu custo de processamento, quantidade de resíduos de

gesso nas indústrias e a gestão desses resíduos.

Além disso, foi realizado um levantamento do número de construtoras norte-rio-

grandenses através do Sindicato da Indústria da Construção Civil (SINDUSCON), a fim

de coletar dados necessários para o desenvolvimento da pesquisa. O questionário

abordava os mais variados temas interligados à sustentabilidade empregada na

construção civil, dentre eles: gerenciamento do resíduo, práticas sustentáveis e sua

destinação.

Logo após, foi aplicado um questionário do tipo fechado a fim de obter a quantidade de

empresas que desenvolvem métodos e técnicas para minimizar os problemas causados

por suas obras, bem como o gerenciamento de resíduos, particularmente o caso do

gesso, e a economia gerada naquelas que possuíam programas sustentáveis.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A aplicação dos questionários sobre a utilização do gesso nas empresas do Rio Grande

do Norte permitiu investigar as práticas relacionadas ao consumo de gesso adotadas por

23 construtoras. Inicialmente, dentre as empresas pesquisadas, 59% alegam executar

atividades voltadas para a aplicação de forros, com e sem cortineiros, em áreas de

100m2

a 1000m2

diariamente, com uma redução de custo de 10% para até 57% das

empresas entrevistadas, em razão da utilização do gesso.

Para 91% das empresas participantes da pesquisa o desenvolvimento de uma obra

visando sua sustentabilidade é fator de diferencial competitivo. No entanto, o que se

observa é que, apesar das empresas defenderem este posicionamento, pouco se tem feito

para alcançar tal diferencial de forma prática.

Gráfico 1 – Empresas que empregam projetos de sustentabilidade

Fonte: Dados da pesquisa (Março, 2014).

A pesquisa também demonstrou que 61% das empresas desenvolvem algum projeto de

sustentabilidade, conforme Gráfico1. Considera-se por projeto com desenvolvimento

sustentável apresentar ações que busquem minimizar os impactos causados pela obra,

tais como: fiscalização dos canteiros, destinação correta dos resíduos, palestras com

seus funcionários, segregação de resíduos, dentre outros.

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Ao identificarmos as ações de sustentabilidade que busquem minimizar os impactos

ambientais implementadas nas obras, foi observado que 60% das empresas adotam

práticas relacionadas com o cumprimento da Resolução 306 do CONAMA, como

mostra o Gráfico 2 abaixo.

Gráfico 2 - Projetos empregados na obra

Fonte: Dados da pesquisa (Março, 2014).

Ao tratar do emprego de técnicas de reciclagem do gesso, 96% das empresas afirmam

que não empregam técnicas ou tecnologias de reciclagem e reutilização em nenhuma

atividade (Gráfico 3). O mais preocupante, em outra análise deste gráfico, é que 78% do

total destas empresas, desconhecem o que pode ser feito para um melhor

reaproveitamento do insumo, ficando somente na tentativa de aproveitar ao máximo o

gesso durante a execução das obras.

Gráfico 3 - Emprego de técnicas de reciclagem

Fonte: Dados da pesquisa (Março, 2014).

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Essa vertente permite visualizar a falta de consciência da importância aliada à ausência

de informações, pois apesar de existirem tecnologias, mesmo que poucas, para a

reutilização do gesso, o que foi apresentado pelas empresas, é que as mesmas

desconhecem os possíveis impactos causados pelos resíduos do gesso. Em uma escala

de 1 a 5 foi perguntado sobre o nível de impacto que julgavam ocasionar em suas obras,

e 57% responderam três, ou seja, um valor mediano, apesar da realidade ser bastante

diferente.

Já com relação à destinação dos resíduos do gesso, 78% das empresas afirmaram

conhecer seu encaminhamento final, além disso, informaram que esse processo é

realizado por mão de obra especializada, a qual se responsabiliza de depositá-los em

locais como: usinas (40%), aterros da construção civil (40%), dentre outros. Entretanto,

quando perguntados utilizando uma escala de 1 a 10 quanto do total aplicado de gesso é

depositado em locais adequados para resíduos da construção civil 48% apontam nível 2,

ou seja, depositam em locais inapropriados (Gráfico 4). Consequentemente, o que se

pode dizer é que a maioria das empresas ainda não possuem informações consistentes

relacionadas à destinação final dos rejeitos.

Gráfico 4 – Metodologia de descarte adequado

Fonte: Dados da Pesquisa (Março, 2014).

Com base no Gráfico 5, foi observado que 80% do material desperdiçado durante a

realização de uma obra, possui dois destinos, aterros de construção civil e usinas, o

restante é distribuído para lixões (8%) ou fica retido na obra (12%), ocupando um

espaço que poderia ser destinado a finalidade. Com isso, observa-se que boa parte das

obras possui um gerenciamento efetivo de seus resíduos, e com a orientação que as

empresas alegam dar aos seus instaladores na hora de segregar um material

corretamente, a chance desse resíduo vir a ser reaproveitado posteriormente aumenta.

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Gráfico 5 – Destinação dos resíduos de gesso da construção civil

Fonte: Dados da Pesquisa (Março, 2014).

Para atender a demanda quanto à destinação e obtenção da reciclagem de resíduos,

oriundos da construção civil foi aberta a ECOBRIT, usina de reciclagem situada no

município de São Gonçalo do Amarante/RN, com capacidade de reciclar de 80 a 120

toneladas por dia de rejeitos. Conforme Figura 1, o gesso está estocado esperando seu

processamento. O processo de reciclagem se dá através de uma limpeza manual, quebra

do material em pequenos pedaços, para então ser triturado por uma enchedeira capaz de

deixá-lo na forma de pequenos pedriscos. Esse gesso é destinado às cimenteiras que,

após moagem, reutilizam o gesso em seu processo produtivo. Este cimento produzido é

vendido na maioria das vezes para as mesmas construtoras, que o encaminharam à

ECOBRIT, formando um ciclo de logística reversa.

Figura 1 – Metodologia de descarte adequada

Figura 1 – Gesso aguardando processamento para ser encaminhado às empresas.

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Tabela 1 – Relação de entrada e saída gesso

Meses de recebimento Quantidade recebida (m³) Quantidade destinada (m³)

Janeiro 120 100

Fevereiro 80 70

Março 110 110

Abril 160 40

Total 470 320

Custo de frete por tonelada R$ 45,00

Fonte: Dados fornecidos pela ECOBRIT (Março, 2014).

A Tabela 1 apresenta o beneficiamento do resíduo de gesso recebido pela ECOBRIT

nos primeiros quatro meses de 2014. Pode–se observar que apesar da reciclagem do

material garantir a sua utilização para diversas aplicabilidades, essa prática ainda não é

comumente utilizada no Rio Grande do Norte, visto que menos da metade dos resíduos

de gesso da construção civil (cerca de 40%, segundo Gráfico 5) são destinados à

reciclagem. Falta de informações, aliado a falta de divulgação e estudos acerca do

assunto favorecem essa realidade.

A reciclagem do gesso é, como exposto acima, fácil e relativamente barata, já que o

principal custo refere-se ao transporte, e também é extremamente benéfica para o meio

ambiente. Por isso, faz-se necessário uma maior inserção da política do reduzir-

reutilizar-reciclar no Estado, tanto através de maior enfoque no que as empresas estão

desenvolvendo, quanto no desenvolvimento de pesquisas, a fim de sempre mostrar que

construção civil e sustentabilidade, podem sim permanecer juntas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A existência e consequente cobrança de uma legislação específica orientando a correta

destinação dos resíduos da construção civil, tem contribuído para um maior cuidado das

empresas construtoras do estado do Rio Grande do Norte, quando tratam esta situação.

Entretanto, segundo dados da pesquisa, ainda se verifica um estágio muito inicial de

consciência das empresas quanto à importância e benefícios de um gerenciamento

adequado desses resíduos, inclusive os do gesso, o que se configura em algumas

respostas contraditórias e na falta de dados consistentes sobre a geração e destinação de

tais resíduos. Outro fator a considerar é a falta de conhecimento quanto às

possibilidades e tecnologias de reciclagem disponíveis.

Quando se tem o resíduo de gesso, a conclusão que se pode ter é que, por ser muito

barata sua exploração e produção, o material também é muito barato e,

consequentemente, muito utilizado em obra. Isto tem gerado uma grande quantidade de

resíduo na região, mas o interesse na reciclagem e reutilização é quase nenhum. No

entanto, os maiores cuidados com a destinação têm gerado um resíduo mais limpo e

adequado à sua reciclagem e reutilização. Um quadro que é similar ao de muitos outros

estados do país e que precisa ser mudado.

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AGRADECIMENTOS

Ao UNIFACEX, pelo apoio financeiro, ao SINDUSCON/RN e suas empresas

associadas, que demonstraram interesse em participar deste trabalho e à ECOBRIT pela

disponibilização dos dados para a pesquisa e seus colaboradores que dedicaram tempo

para contribuir com a pesquisa de campo.

REFERÊNCIAS

AGOPYAN, A. K. et al. Resíduos de gesso: desafios e oportunidades. In: SEMINÁRIO

GESTÃO E RECICLAGEM DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO -

AVANÇOS RECENTES E DESAFIOS FUTUROS, Anais. São Paulo: Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo – EPUSP, 2005. p. 1-24.

AMORIM NETO, A. A.; DANTAS, J. O. C. Gipsita. Pernambuco: Balanço Mineral Brasileiro,

2013.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA. Resolução n. 307, de 5 de

julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da

construção civil. Disponível em:

<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>. Acesso em: 19 mar. 2014.

JOHN, V. M. ; ANGULO, S. C. ; CINCOTTO, M. A. A reciclagem de resíduos de construção

e demolição e o gesso. Noticias da Construção, p. 18 - 19, 01 set. 2002.

LYRA SOBRINHO, A. C. P. de et al. Gipsita. Pernambuco: Balanço Mineral Brasileiro, 2011.

PINHEIRO, S. M. de M. Gesso reciclado: avaliação de propriedades para uso em

componentes. 2011. 304 f. Tese (Doutorado) - Curso de Arquitetura e Urbanismo,

Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

QUERINO, B. D.C., et al. Cadeia de suprimentos de mármores e granito na construção

civil – um estudo de caso de logística reversa. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO E

ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO - INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE, 8., 2013,

Salvador.

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