Resenha: Karl Marx - Mercadoria, Processo de Trabalho e Prod.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
CURSO DE LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS
DISCIPLINA DE ECONOMIA POLÍTICA
DISCENTES: VITOR BRITO DE ALMEIDA; DAVID CARVALHO
MARX, K. A mercadoria; O processo de trabalho e processo de produzir mais valia. O
Capital: Crítica da Economia Política, livro I: O processo de produção do capital. 15ªed.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1957. p.41-48, 54-93, 201-223.
A Mercadoria
Marx inicia O Capital indicando o acúmulo de mercadoria como a forma elementar
da riqueza onde rege a produção capitalista. A mercadoria é um objeto externo de satisfação
das necessidades humanas (vindas do estômago ou da fantasia). A mercadoria, assim,
apresenta-se como elemento de grande importância na sua análise do capital e desvelamento da
economia burguesa.
O elemento mercadoria possui duplo aspecto: qualitativo e quantitativo (
respectivamente, valor-de-uso e valor). Nessa relação de duplicidade, valor-de-uso e valor
[valor-de-troca], o valor-de-uso é inerente à mercadoria pois não depende da quantidade de
trabalho empregado; o valor-de-uso só se realiza com a utilização ou consumo. Contudo, valor-
de-uso e valor estão em inter-relação dialética, onde o valor-de-uso diz respeito à utilidade e à
qualidade de transmutação que possui, e o valor-troca diz respeito à expressão de valor de um
produto com relação a outro permutável. “Os valores-de-uso são, ao mesmo tempo, os veículos
materiais do valor-de-troca” (p.42-43).
Dentro dessa análise da mercadoria, “o valor-de-troca revela-se, de início na relação
quantitativa entre os valores-de-uso de espécimes diferentes, na proporção em que se trocam,
relação que muda constantemente no tempo e no espaço” (p.43). Para que se efetue a troca, os
produtos se permutam numa relação quantitativa, exauridos de valor-de-uso: “como valores-de
-uso, as mercadorias são, antes de mais nada, de qualidade diferente; como valores de troca, só
podem diferir na quantidade, não contendo portanto nenhum átomo de valor-de-uso” (p.44). A
análise da mercadoria, a partir disso, seria baseada no valor impresso pelo trabalho humano
abstrato, comum a todas as mercadorias, expresso no valor, da “quantidade da ‘substância
criadora de valor’” contida no produto. O trabalho é impresso no produto de forma concreta. O
valor de um produto varia diretamente com relação ao tempo de trabalho dispendido em sua
produção e inversamente às suas condições de produtividade (quanto maior a produtividade,
menor o preço). O trabalho cria valor [de troca].
A mercadoria apresenta uma forma natural (objeto útil) e veículos de valor (forma
de valor), e encontra um ponto comum, como já apresentado: o trabalho humano. Com isso,
Marx inicia o destrinchar do fenômeno mercadoria, até chegar ao elemento dinheiro; revelar a
coisa-valor por detrás do valor-de-troca. A mercadoria, enquanto valor, se estabelece como
troca. A mais simples relação de valor é na permutação entre duas mercadorias diferentes (x da
mercadoria A = y da mercadoria B).
Marx inicia sua análise partindo da forma mais simples de valor às relações de
trocas entre múltiplas mercadorias.
Existem dois polos da expressão de valor das mercadorias: a forma relativa e a
forma equivalente. Todo estabelecimento de valor tem como pressuposto essas duas
polaridades (equivalência e relatividade: forma simples do valor – forma elementar), pois o
valor se estabelece na relação.
A forma equivalente é a expressão do valor (mercadoria referência para a
atribuição). A forma relativa é equacionada tendo a forma equivalente como referência. Por
exemplo, na relação entre o linho e o casaco – supondo o linho como forma relativa e o casaco
como equivalente, atribui-se um valor ao linho observando a quantidade “y” de casacos que o
valor “x” de linho pode produzir.
Da forma simples de valor deriva-se a forma total ou extensiva do valor. Na
forma extensiva do valor relativo, torna-se possível independentemente da forma corpórea
assumida pelos trabalhos, a extensividade do valor com relação a mercadorias distintas.
A forma de equivalente particular é caracterizada pela forma natural de cada
mercadoria.
Porém, a forma extensiva apresenta insuficiências de padronização, apresentando
um mosaico multifário de expressões de valor díspares, desconexas.
Na forma geral do valor as mercadorias apresentam uma forma de valor simples,
comum a todas as mercadorias, tendo uma mercadoria como referência: “o valor de uma
mercadoria só adquire expressão geral porque todas as outras mercadorias exprimem seu valor
através do mesmo equivalente. E toda nova espécie de mercadoria tem de fazer o mesmo.
Evidencia-se, desse modo, que a realidade do valor das mercadorias só pode ser expressa pela
totalidade de suas relações sociais, pois essa realidade nada mais é que a ‘existência social’
delas tendo a forma do valor, portanto, de possuir validade social reconhecida” (p.75).
O desenvolvimento da forma equivalente é apenas a expressão e resultado do
desenvolvimento da forma relativa. A forma de equivalente desenvolve-se em correspondência
com o grau de progresso da forma relativa de valor.
Quando determinada mercadoria assume o papel da forma unitária do valor relativo
do mundo das mercadorias, com validade social universal, esta mercadoria se comporta como
dinheiro.
Na forma dinheiro do valor há a identificação da forma de direta permutabilidade
geral ou forma de equivalente geral. No caso estudado, o ouro ocupa esse papel de mercadoria-
dinheiro, caracterizando o monopólio da função de expressar o valor do mundo das
mercadorias. O preço derivaria dessa forma, então, como derivação da forma simples do
valor.
Nessa permutabilidade equivalente da mercadoria criou-se um véu de mistério
perceptível e impalpável que esconde o caráter social do produto do trabalho (fetichismo da
mercadoria).
“A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho
dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos
produtos do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos
produtores e o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, à margem deles, entre os
produtos do seu próprio trabalho. [...] Uma relação social definida, estabelecida entre os homens,
assume forma fantasmagórica de uma relação entre coisas” (p.81)
A troca, no sistema capitalista transforma, através desse processo, dá aos produtos
do trabalho humano, enquanto valores, uma realidade socialmente homogênea, distinta de sua
heterogeneidade de objetos úteis, perceptível ao sentidos. Então, a mercadoria, através desse
fenômeno se apresenta como um hieróglifo a ser decifrado em sua totalidade de relações, por
ser ao mesmo tempo a forma mais geral e mais elementar da produção burguesa.
O Processo de Trabalho e o Processo de Produzir Mais Valia
Marx nesse capítulo irá discorrer sobre os elementos componentes do processo de
trabalho, incluindo a mais-valia.
Na forma de economia capitalista, inserida dentro do processo de desenvolvimento
da força humana de trabalho, a força do trabalho é transformada, também, em mercadoria, pois
o proletário vendendo sua força de trabalho, produz um excedente agregador de riqueza para o
proprietário dos meios de produção. O produto é propriedade do capitalista, não do trabalhador.
Como o trabalho agrega valor, através da ação do homem sobre a natureza, esse
trabalho-valor contido na mercadoria é transferido ao proprietário, gerando mais valia.
Nessa relação, os valores-de-uso são subjugados aos valores-de-troca, pois o
capitalista visa produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das
mercadorias necessárias para produzi-la. O objetivo é produzir mercadoria com alto valor-de-
troca. O processo de produzir valor passa a ser o processo de produzir mais-valia.
“O processo de produção, quando unidade do processo de trabalho e do processo de produzir valor,
é processo de produção de mercadorias quando unidade do processo de trabalho e do processo de
produzir mais valia, é processo capitalista de produção, forma capitalista da produção de
mercadorias” (p.222)
Assim, o trabalho humano dispendido na produção é velado e fragmentado em sua
qualidade. Marx aponta que o trabalho deve ser medido não qualitativamente, mas
quantitativamente dentro do tempo de trabalho socialmente necessário, pois todo trabalho
possui igualdade qualitativa.