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  • RESUMO DO LIVRO DE FISIOLOGIA BERNE E LEVY

  • Captulo 1

    As vitaminas lipossolveis so absorvidas pelas clulas epiteliais do intestino delgado por

    difuso simples atravs das membranas plasmticas luminais. Em contraste, as vitaminas

    hidrossolveis no se difundem apreciavelmente atravs das membranas biolgicas, e, portanto,

    protenas especiais de transporte de membrana so necessrias para a absoro das vitaminas

    hidrossolveis.

    No intestino delgado, a glicose e a galactose so absorvidas por transporte ativo secundrio

    acoplado ao Na+. A presena de Na+ no lmen aumenta a absoro de glicose, e vice-versa. A

    terapia de reidratao oral frequentemente empregada nas diarreias graves. Os pacientes ingerem

    uma soluo contendo NaCl, glicose, K+ e HCO3-. A absoro de Na+ e glicose no intestino

    delgado promove a absoro osmtica de gua, o que facilita a reidratao do paciente.

    Captulo 2 - Equilbrios inicos e potenciais de repouso nas membranas

    Glicosdios cardacos, como os digitlicos e drogas relacionadas, so capazes de aumentar a

    fora da contrao do corao (captulo 16). Esses compostos inibem a ATPase Na+/K+. Como

    resultado dessa inibio, o nvel intra-celular de Na+ nas clulas cardacas se eleva. Cada contrao

    do corao iniciada por um aumento da concentrao citoslica de Ca2+ (captulo 15). Para o

    msculo cardaco relaxar, o Ca2+ deve ser removido do citosol. A remoo do Ca2+ do citosol das

    clulas cardacas realizada pelo bombeamento para o retculo sarcoplasmtico (RS) por uma

    ATPase-Ca2+, na membrana do RS< e para fora da clula atravs da membrana plasmtica, por

    uma ATPase-Ca2+ de membrana plasmtica, e por trocadores de Na+/Ca2+ na membrana

    plasmtica. A ATPase-Ca2+ bombeia Ca2+ para dentro do retculo sarcoplasmtico; os trocadores

    de Na+/Ca2+ bombeiam Ca2+ para fora da clula, atravs da membrana plasmtica (Esses

    transportadores de ons foram descritos no captulo 1). Pelo fato de os glicosdios cardacos

    aumentarem a concentrao citoslica de Na+, o trocador de Na+/Ca2+ no to efetivo em excluir

    Ca2+ da clula. Consequentemente, a ATPase-Ca2+ pode acumular mais Ca2+ no RS e, ento, mais

    Ca2+ liberado do RS para a prxima contrao cardaca, que ser mais forte que a normal por

    causa do pico maior de Ca2+ no citosol.

    Temos visto que a condutncia a K+ no repouso maior, e, assim, esse on tem a maior

    influncia no potencial de repouso da membrana. Por essa razo, mudanas que ocorram na

    concentrao de K+ no fluido extra-celular de um paciente iro afetar os potenciais de repouso da

    membrana de todas as clulas. Um aumento de K+ no meio extra-celular despolarizaro

    parcialmente as clulas (diminuio da magnitude do potencial de repouso da membrana), enquanto

    que uma diminuio do nvel de K+, no meio extra-celular, ir hiper-polarizar as clulas (aumento

    de magnitude do potencial de repouso das membranas). Tanto a despolarizao quanto a hiper-

    polarizao de clulas cardacas (captulo 37) podem levar a arritmias cardacas, algumas das quais

    ameaam a vida. Hipo-calemia (baixa concentrao srica de K+) pode ser resultado de um uso

    prolongado de diurticos. A hiper-calemia (elevada concentrao de K+) ocorre na insuficincia

    renal aguda e em um distrbio chamado de paralisia peridica hiper-calmica, que se caracteriza por

    episdios de fraqueza muscular e paralisia flcida.

  • Captulo 3

    Os ovrios de certa espcie de peixe, conhecido como baiacu, contm TTX. A carne crua

    uma iguaria muito apreciada no Japo. Os conhecedores apreciam o adormecimento dos lbios que

    a carne do peixe causa devido presena de minsculas quantidades de TTX. Os preparadores de

    sushi treinados na remoo dos ovrios com segurana recebem autorizao do governo para a

    preparao do baiacu., A despeito dessas precaues, algumas pessoas morrem anualmente por

    ingesto do peixe inadequadamente preparado.

    A saxitoxina outro bloqueador dos canais para Na+, produzida por dinoflagelados de

    colorao avermelhada que so responsveis pelas chamadas mars vermelhas. Mariscos se

    alimentos dos dinoflagelados e concentram a saxitoxina em seus tecidos. Uma pessoa que ingira

    esses frutos do mar podem experimentar uma paralisia potencialmente letal 30 minutos aps a

    refeio.

    Em um distrbio hereditrio, chamado paralisia primria hiper-calmica, os pacientes

    apresentam episdios de contraes musculares espontneas e dolorosas, seguidas por perodos de

    paralisia dos msculos afetados. Esses sintomas so acompanhados por nveis elevados de K+ no

    lquido plasmtico e extra-celular. Alguns pacientes com esse distrbio apresentam mutaes dos

    canais para Na+ dependentes de voltagem que resultam em velocidade reduzida de inativao por

    voltagem. Isso causa potenciais de ao de longa durao nas clulas musculares esquelticas e um

    efluxo aumentado de K+ durante cada potencial de ao. Isso pode elevar os nveis extra-celulares

    de K+.

    A elevao do K+ extra-celular causa a despolarizao das clulas do msculo esqueltico.

    Inicialmente, a despolarizao faz com que as clulas musculares fiquem mais prximas do seu

    limiar, de modo que os potenciais de ao espontneos e contraes so mais provveis. Conforme

    a despolarizao das clulas se torna mais acentuada, as clulas se acomodam por causa da

    inativao dos canais para Na+.; Consequentemente, as clulas se tornam incapazes de disparar

    potenciais de ao e de se contrair em resposta aos potenciais de ao nos seus axnios motores.

    Em algumas doenas, conhecidas como distrbios desmielinizantes, a bainha de mielina se

    deteriora. Na esclerose mltipla, uma desmielinizao esparsa e progressiva dos axnios do sistema

    nervoso central resulta em uma perda do controle motor. A neuropatia comum nos casos severos de

    diabetes mellitus causada pela desmielinizao dos axnios perifricos. Quando a mielina

    perdida, a constante de comprimento, elevada pela mielinizao, se torna muito menor.

    Consequentemente, o potencial de ao perde amplitude na sua conduo eletrotnica de um n de

    Ranvier para outro. Se a desmielinizao suficientemente severa, o potencial de ao pode chegar

    ao prximo n de Ranvier com amplitude insuficiente para disparar um potencial de ao. O axnio

    pode falhar em propagar os potenciais de ao.

    Captulo 4

    A importncia do influxo de Ca2+ na terminao nervosa para iniciar a liberao de

    transmissor ilustrada pela sndrome miastnica de Lambert-Eaton. Pacientes com essa sndrome

    tm fraqueza muscular e diminuio dos reflexos de estiramento. Esses pacientes produzem

    anticorpos contra os canais para Ca2+ em seus terminais nervosos motores. Consequentemente, o

    nmero de canais para Ca2+ decresce, havendo menor entrada de Ca2+ nas terminaes nervosas e

    menos neurotransmissor sendo liberado em resposta a cada potencial de ao.

  • As assim chamadas alfa-toxinas do veneno de serpentes so responsveis pela paralisao de suas

    presas. Essas toxinas se ligam a stios de ligao de acetilcolina no receptor e impedem a ligao da

    acetilcolina, inibindo sua ao. Flechas envenenadas por imerso das pontas em curare, uma alfa-

    toxina extrada de certas plantas, so usadas por alguns ndios sul-americanos para paralisar suas

    presas.

    Pacientes com uma doena chamada miastenia grave so incapazes de manter a contrao

    prolongada do msculo esqueltico. Esses indivduos tm anticorpos circulantes contra a protena

    do receptor para a acetilcolina. Paciente com essa doena tm um menor nmero de receptores para

    acetilcolina na membrana plasmtica ps-juncional e, consequentemente, os PPMs so menores. Os

    sintomas incluem fraqueza muscular e incapacidade de sustentar a contrao muscular. Tratamentos

    com anticolinesterase aumentam acentuadamente a capacidade desses pacientes em manter

    contraes musculares.

    Dficits em vias envolvendo acetilcolina (vias colinrgicas) no crebro tm sido implicados

    em algumas formas de demncia senil (e..g, doena de Alzheimer). Tratamento com drogas

    anticolinestersicas de ao prolongada, que penetram na barreira hematoenceflica, pode melhorar

    a funo cognitiva em alguns indivduos que sofrem dessa demncia.

    Neurnios que possuem altos nveis de dopamina so proeminentes nas regies

    mesenceflicas, conhecidas como substncia negra e tegumento ventral. Alguns dos axnios desses

    neurnios terminam no corpo estriado, onde participam do controle dos movimentos complexos. A

    degenerao de sinapses dopaminrgicas no corpo estriado ocorre na doena de Parkinson, e essa

    degenerao pode ser a maior causa do tremor muscular e rigidez que caracterizam essa doena.

    Tratamento de alguns pacientes com Parkinson com L-dopa, um precursor da dopamina, aumenta o

    controle motor.

    Em contraste, a hiper-atividade da sinapse dopaminrgica pode ser envolvida em algumas

    formas de psicose. Clorpromazina e drogas anti-psicticas relacionadas inibem os receptores de

    dopamina na membrana ps-sinptica e, assim, diminuem os efeitos da dopamina liberada pelas

    terminaes pr-sinpticas.

    Anestsicos gerais prolongam o tempo de abertura dos canais para cloreto dos receptores

    para GABA e, assim, prolongam a inibio de neurnios ps-sinpticos nas sinapses GABA-

    rgicas. Receptores para GABA podem ser o alvo principal dos anestsicos gerais.

    O pio e derivados so terapeuticamente teis como potentes analgsicos (alvio da dor).

    Eles exercem seus efeitos analgsicos pela ligao a receptores opioides especficos. A ligao a

    seus receptores inibida especificamente por um derivado da morfina, chamado naloxone.

    Receptores para GABA-A so os alvos de duas maiores classes de drogas:

    benzodiazepnicos e barbitricos. Benzodiazepinas (e.g., diazepam) so amplamente usadas como

    ansiolticos e drogas relaxantes. Barbitricos so usados como sedativos e anticonvulsivantes.

    Ambas classes de drogas se ligam a distintos stios nos receptores para GABA e aumentam a

    probabilidade de abertura de canais para Cl-, em resposta ao GABA.

  • Captulo 6

    Certos vrus e toxinas podem ser transportados, por transporte axonal, ao longo de nervos

    perifricos. Por exemplo, o herpes zoster, o vrus da varicela, invade as clulas do gnglio da raiz

    dorsal, pode ficar alojado por muitos anos e, eventualmente, tornar-se ativo por uma mudana do

    estado imunolgico do hospedeiro. O vrus pode ento ser transportado ao longo dos axnios

    sensoriais para a pele. Um novo surto de leses da pele ocorre e produz as bolhas, erupes

    dolorosas nos dermtomos de um ou mais nervos espinhais. Outro exemplo de transporte axonal o

    da toxina tetnica. A bactria Clostridium tetani pode crescer numa ferida infectada e se o indivduo

    no tiver sido vacinado contra a toxina tetnica, esta ser transportada retrogradamente nos axnios

    dos motoneurnios, podendo extravasar para o espao extra-celular do corno ventral da medula

    espinhal, e bloquear os receptores sinpticos para os aminocidos inibitrios. Esse processo pode

    resultar em convulses tetnicas.

    Um exemplo na diferena do limiar dos receptores sensoriais e para percepo est na

    codificao perifrica da dor. Os estmulos dolorosos ativam receptores sensoriais, conhecidos

    como nociceptores; registros foram feitos a partir de nociceptores nos nervos humanos. Uma tcnica

    denominada micro-neurografia utilizada, inserindo-se um micro-eletrodo em um nervo perifrico

    de um indivduo consciente. Os registros do axnio de um nociceptor individual indicaram que uma

    ativao mnima do axnio, sob observao, pode no causar dor. Isso pode ser explicado se mais

    que um axnio nociceptivo aferente precise ser ativado ao mesmo tempo para produzir dor, porque

    o processamento nociceptivo central requer somao espacial. Alternativamente, um nociceptor

    pode ter que ser ativado mais que uma vez, porque a somao temporal pode ser necessria. De

    fato, parece que um nico nociceptor cutneo necessita descarregar em uma frequncia de 3Hz ou

    mais antes que a dor seja percebida, e ela mais intensa quanto mais nociceptores forem ativados.

    O processamento da dor, nas vias nociceptivas do SNC, caracterizado por curvas de

    acelerao positiva. As funes estmulo-resposta de acelerao positiva dos nociceptores ajuda a

    explicar a urgncia que se sente na medida em que a sensao da dor aumenta.

    Clinicamente, a maneira usual de monitorar a atividade das unidades motoras a

    eletromiografia. Um eletrodo colocado dentro de um msculo esqueltico para registrar os

    potenciais de ao compostos das fibras musculares esquelticas de uma unidade motora. Se no

    notada nenhuma atividade espontnea, solicita-se ao paciente que contraia voluntariamente o

    msculo para aumentar a atividade das unidades motoras no msculo; se a fora de contrao

    voluntria aumenta, mais unidades motoras so recrutadas. Alm do recrutamento de mais

    neurnios motores, a fora de contrao afetada pela velocidade de descarga dos motoneurnios

    alfa ativos. A eletromiografia empregada para vrios propsitos, por exemplo, a velocidade de

    conduo dos axnios motores pode ser estimada, medindo-se a distncia entre as latncias dos

    potenciais das unidades motoras, quando um nevo perifrico estimulado em dois pontos separados

    por uma distncia conhecida. Outra aplicao a observao dos potenciais de fibrilao, que

    ocorrem quando as fibras musculares so desnervadas. Os potenciais de fibrilao so potenciais de

    ao espontneos que ocorrem em fibras musculares unitrias. Esses potenciais espontneos

    contrastam com os potenciais da unidade motora, que so maiores e de longa durao, porque eles

    representam os potenciais de ao de um conjunto de fibras musculares que pertencem unidade

    motora.

  • A sensibilizao dos nociceptores aferentes primrios ocorre quando substncias qumicas

    como K+, bradicinina, serotonina, histamina e eicosanoides (prostaglandinas e leucotrienos) so

    liberadas prximo aos terminais do nociceptor em resposta a uma leso do tecido ou inflamao.

    Por exemplo, um estmulo nocivo aplicado pele pode destruir as clulas prximo ao nociceptor.

    As clulas mortas liberam K+, que despolariza o nociceptor. Elas tambm liberam enzimas

    proteolticas que reagem com as globulinas circulantes para formar a bradicinina, que ento se liga

    ao receptor na membrana do nociceptor e ativa um sistema de segundo mensageiro, que por sua vez

    sensibiliza a terminao. Outros agentes qumicos, como a serotonina liberada das plaquetas, a

    histamina dos mastcitos e os eicosanoides de vrios elementos celulares, tambm contribuem para

    a sensibilidade, ou por abrir canais inicos ou por ativar sistemas de segundos mensageiros. Muitas

    dessas substncias tambm atuam em vasos sanguneos, clulas imunes, plaquetas e outros efetores

    que participam da inflamao.

    Captulo 7

    A maior parte da inervao dos dermtomos provm dos segmentos correspondentes da

    medula espinhal, no entanto, recebem inervao tambm dos ramos colaterais das fibras aferentes

    primrias de vrios segmentos espinhais adjacentes. Assim, a transeco de uma nica raiz dorsal

    causa uma pequena perda sensorial no dermtomo correspondente. A anestesia de um determinado

    dermtomo requer a interrupo de vrias razes dorsais consecutivas.

    Os indivduos idosos, s vezes, so suscetveis a uma condio de dor crnica, conhecida

    como nevralgia do trigmeo. Os indivduos nessa condio experimentam episdios de dor intensa,

    frequentemente lancinante, na distribuio de um ou mais ramos do nervo trigmeo. Geralmente a

    dor desencadeada por um estmulo mecnico fraco na mesma regio. O fator que mais contribui

    para esse estado doloroso parece ser uma leso mecnica do gnglio trigeminal por uma artria que

    empurra o gnglio. O deslocamento cirrgico da artria pode, frequentemente, resolver esta

    condio.

    Efeitos da interrupo das vias medulares dorsais. Uma leso que interrompe as vias que

    ascendem na regio dorsal da medula espinhal ir resultar em deficincias de discriminao ttil, de

    sentido vibratrio, do sentido de posio e da sensao visceral. A habilidade em reconhecer figuras

    desenhadas na pele (grafestesia) e o reconhecimento ttil dos objetos colocados na mo

    (estereognosia) estaro parcialmente afetados. Algumas funes tteis permanecem, e estas

    permitam a localizao de um estmulo ttil e a sensao de tremulao. A dor cutnea e as

    sensaes de temperatura no so afetadas, mas a dor visceral diminui substancialmente.

    Efeitos da interrupo das vias espinhais ventrais, incluindo o trato espino-talmico.

    Ambos os componentes discriminativo-sensorial e afetivo-motivacional da dor so perdidos do lado

    contra-lateral do corpo, quando o trato espino-talmico e as vias da medula espinhal ventral que o

    acompanham so interrompidos. Isso motivou o desenvolvimento de um procedimento cirrgico,

    conhecido como cordotomia ntero-lateral. Esse procedimento foi usado inicialmente para tratar dor

    em muitos indivduos, especialmente aqueles que sofrem de cncer. Essa operao agora utilizada

    esporadicamente, porque ocorreram aperfeioamentos na teraputica medicamentosa e porque a dor

    frequentemente retorna meses ou anos aps a cordotomia inicial bem-sucedida. O retorno da dor

    pode se dever a uma extenso da doena ou ao desenvolvimento de um estado de dor central. Alm

    da perda da sensao de dor, a cordotomia ntero-lateral produz a perda das sensaes de frio e

  • calor do lado contra-lateral do corpo. Testes cuidadosos podem revelar tambm uma deficincia ttil

    pequena, mas as vias sensoriais da poro dorsal da medula espinhal estando intactas, fornecero

    informaes tteis suficientes, tornando qualquer perda causada pela interrupo do trato espino-

    talmico insignificante.

    A destruio dos ncleo Ventral Pstero-Lateral ou Ventral Pstero-Medial no tlamo

    diminui a sensao do lado contra-lateral do corpo ou da face. As qualidades sensoriais que so

    perdidas refletem aquelas que so transmitidas principalmente pela via da coluna dorsal/lemnisco

    medial e sua equivalente trigeminal. O componente discriminativo-sensorial da dor tambm

    perdido. Contudo, o componente afetivo-emocional da dor est ainda presente se o tlamo medial

    estiver intacto. Presumivelmente, a dor persiste devido s projees espino-talmicas e espino-

    retculo-talmicas para essas regies do tlamo.

    Em alguns indivduos, a leso do tlamo somato-sensorial resulta em um estado de dor

    central conhecido como dor talmica, que um tipo de dor central. Contudo, a dor que

    indistinguvel da dor talmica tambm pode ser produzida por leses no tronco cerebral ou no

    crtex.

    Efeitos de leses no crtex somato-sensorial. Uma leso no crtex SI de seres humanos

    causa alteraes sensoriais semelhantes quelas produzidas por uma leso no tlamo somato-

    sensorial. Contudo, frequentemente s uma parte do crtex est envolvida, e, com isso, a perda

    sensorial fica restrita, por exemplo, face ou perna, dependendo da localizao da leso com

    relao ao homnculo sensorial. As modalidades sensoriais mais afetadas so o tato discriminativo e

    o sentido de posio. A grafestesia e a estereognosia so particularmente afetadas. A dor e a

    sensao trmica so relativamente pouco afetadas, embora uma perda da dor possa acompanhar as

    leses corticais. Por outro lado, as leses corticais podem resultar em um estado de dor central que

    se assemelha dor talmica.

    Efeitos de uma leso no crtex parietal associativo. Uma leso no crtex parietal

    associativo do hemisfrio no-dominante com relao linguagem, causa deficincias na habilidade

    de se relacionar com o espao extra-pessoal. Quando se solicita a uma pessoa afetada que copie

    figuras geomtricas, as figuras so distorcidas. Por exemplo, os nmeros de um relgio podem ser

    todos desenhados do lado do relgio que corresponde ao lado normal de um indivduo com a leso

    (apraxia de construo). O indivduo nega a existncia do lado contra-lateral do corpo (sndrome da

    negligncia) e apresenta dificuldade em vestir-se deste lado; ele tambm apresenta dificuldade para

    ler mapas, dirigir ou desempenhar outras atividades que requeiram orientao espacial.

    Captulo 8

    Os defeitos de focalizao so causados por uma discrepncia entre o tamanho do olho e o

    poder de refrao dos meios diptricos. Por exemplo, na miopia (viso para perto), as imagens dos

    objetos distantes so formadas frente da retina. Lentes cncavas corrigem esse problema.

    Inversamente, na hipermetropia (viso para longe), as imagens dos objetos distantes so formadas

    atrs da regina;]; esse problema pode ser corrigido com lentes convexas. No entanto, tambm

    possvel a focalizao temporria atravs da acomodao, o que pode fatigar os msculos ciliares e

    causar esforo visual. No astigmatismo, existe uma assimetria nos raios de curvatura de diferentes

    meridianos da crnea ou do cristalino (ou, por vezes, da retina). O astigmatismo costuma ser

    corrigido com lentes cilndricas que possuam os raios de curvatura adequados correo no plano

    afetado.

  • medida que o indivduo envelhece, a elasticidade do cristalino gradualmente declina.

    Como resultado, a acomodao do cristalino para a viso prxima se torna cada vez menos eficaz,

    patologia chamada presbiopia. Uma pessoa jovem pode mudar a potncia do seu cristalino em at

    14D. No entanto, quando a pessoa chega aos 40 anos de idade, o grau de acomodao cai metade,

    e, depois dos 50 anos, diminui para 2D ou menos. A presbiopia pode ser corrigida por lentes

    convexas.

    Como foi mencionado, os axnios das clulas ganglionares da retina atravessam a retina na

    camada de fibras pticas (camada 9) e entram no nervo ptico no disco ptico. Os axnios na

    camada das fibras pticas passam em torno da mcula e evitam a fvea, assim como os vasos que

    irrigam as camadas internas da retina. O disco ptico pode ser visualizado no exame fsico pelo uso

    de um oftalmoscpio. O disco ptico normal tem uma depresso discreta em seu centro. Alteraes

    no aspecto do disco ptico so clinicamente importantes. Por exemplo, a depresso pode ser

    exagerada pela perda de axnios de clulas ganglionares (atrofia ptica) ou o disco ptico pode

    fazer protruso no espao vtreo devido a edema (papiledema) causado por hipertenso craniana.

    A rodopsina contm um cromforo, chamado retinal, que o aldedo do retinol, ou vitamina

    A. O retinol derivado de carotenoides, como o beta-caroteno, o pigmento laranja encontrado nas

    cenouras. Como outras vitaminas, o retinal no pode ser sintetizado pelo homem; em lugar disso,

    derivado de fontes alimentares. Os indivduos com severa deficincia de vitamina A sofrem de

    cegueira noturna, patologia na qual a viso defeituosa com pouca iluminao.

    As observaes sobre cegueira para cores so compatveis com a teoria tricromtica. Na

    cegueira para cores, um defeito gentico (recessivo ligado ao sexo), um ou mais dos mecanismos

    dos cones so perdidos. As pessoas normais so tricromatas porque tm trs mecanismos dos cones.

    Os indivduos que perderam um dos mecanismos dos cones so chamados dicromatas. Quando se

    perde o mecanismo dos cones de comprimentos de onda longos, a patologia resultante chamada

    protanopia; a perda do sistema de comprimentos de ondas mdios causa deuteranopia; e a perda do

    sistema de comprimento de ondas curtas causa tritanopia. Os monocromatas perderam todos os trs

    mecanismos dos cones (ou, em alguns casos, dois destes).

    A interrupo da via visual em qualquer nvel causar uma falha na parte apropriada do

    campo visual. Por exemplo, uma leso da retina ou interrupo do nervo ptico num lado produz

    cegueira ou escotoma naquele olho. A leso das fibras do nervo ptico, quando essas cruzam no

    quiasma ptico, resulta em perda de viso em ambos os campos temporais de viso; essa patologia

    conhecida como hemianopsia bi-temporal. Ela ocorre porque as fibras cruzadas se originam nas

    clulas ganglionares das metades nasais de cada retina. Uma leso no trato ptico inteiro, no NGL,

    na radiao ptica ou no crtex visual num lado causa hemianopsia homnima, que uma perda de

    viso no campo visual contra-lateral inteiro. A leso parcial resulta em falhas parciais no campo

    visual. Por exemplo, uma leso da ala de Meyer causa quadrantanopsia homonima, que a perda

    da viso no campo visual superior contra-lateral. Uma leso do crtex estriado pode no destruir

    todos os neurnios que representam a mcula, e o resultado algumas vezes uma hemianopsia

    homnima poupando a mcula.

    Leses do crtex visual extra-estriado podem produzir vrios dficits. Leses bi-laterais do

    crtex nfero-temporal podem resultar em cegueira para cores (acromatopsia) ou na incapacidade de

    reconhecer faces, mesmo dos membros mais prximos da famlia (prosopagnosia). Uma leso na

  • rea MT ou na MST pode interferir com a deteco de movimento e com os movimentos oculares.

    De acordo com a escala, a fala tem uma intensidade de cerca de 65 dB. As principais

    frequncias usadas na fala situam-se na faixa de 300 a 3.500 Hz. Os sons que excedem 100 dB

    podem danificar o aparelho auditivo perifrico, e aqueles acima de 120 dB podem causar dor.

    medida que as pessoas envelhecem, sua capacidade de ouvir altas frequncias declina, uma

    patologia chamada presbiacusia.

    De acordo com a escala, a fala tem uma intensidade de cerca de 65 dB. As principais

    frequncias usadas na fala situam-se na faixa de 300 a 3.500 Hz. Os sons que excedem 100 dB

    podem danificar o aparelho auditivo perifrico, e aqueles acima de 120 dB podem causar dor.

    medida que as pessoas envelhecem, sua capacidade de ouvir altas frequncias declina, uma

    patologia chamada presbiacusia.

    O ouvido mdio tambm se presta a outras funes. So encontrados dois msculos no

    ouvido mdio: o tensor do tmpano (inervado pelo nervo trigmeo) e o estapdio (inervado pelo

    facial). Esses msculos se fixam, respectivamente, ao martelo e ao estribo. Quando se contraem,

    abafam os movimentos da cadeia ossicular e, assim, diminuem a sensibilidade do aparelho acstico.

    Essa ao pode proteger o aparelho acstico de sons prejudiciais que possam ser antecipados. No

    entanto, uma exploso sbita ainda pode danificar o aparelho acstico porque no ocorre a

    contrao reflexa dos msculos do ouvido mdio com a rapidez suficiente. O ouvido mdio ligas-e

    faringe atravs da tuba auditiva. As diferenas de presso entre os ouvidos externo e mdio podem

    ser equalizadas atravs dessa passagem. Se houver coleo de lquido no ouvido mdio, como

    durante uma infeco, a tuba uterina pode ficar bloqueada. A diferena de presso resultante entre

    os ouvidos externo e mdio pode produzir dor por deslocamento da membrana timpnica e, em

    casos extremos, por ruptura da membrana timpnica. Voar e mergulhar tambm podem causar

    diferenas de presso.

    Uma causa comum de surdez a destruio de clulas ciliadas por sons intensos. As clulas

    ciliadas podem ser destrudas, por exemplo, por exposio a rudo industrial ou por ouvir msica

    em alta intensidade. Tipicamente, as clulas ciliadas em certas partes da cclea so seletivamente

    danificadas e, desta forma, a audio pode ser perdida numa faixa de frequncias distinta. Tal perda

    auditiva seletiva pode ser diagnosticada por audiometria.

    Uma mistura de fibras ascendentes do sistema auditivo representa ambos ouvidos no nvel

    do lemnisco lateral. Dessa forma, a representao do espao auditivo complexo, mesmo no nvel

    do tronco enceflico. Consequentemente, pode ocorrer surdez uni-lateral com leses isoladas de

    ncleos cocleares ou de estruturas mais perifricas. As leses centrais no causam surdez uni-

    lateral, embora possam interferir com a localizao do som ou a discriminao dos tons.

    As leses bi-laterais do crtex auditivo tm pouco efeito sobre a capacidade de distinguir as

    frequncias ou a intensidade de diferentes sons, mas a capacidade de localizar o som e compreender

    a fala fica reduzida. Leses uni-laterais, contudo, tm pouco efeito, especialmente se estiver

    envolvido o hemisfrio no-dominante. Evidentemente, a discriminao de frequncias depende da

    atividade de nveis inferiores da via auditiva, presumivelmente o colculo inferior.

    Como j foi discutido, a surdez uni-lateral causada por danificao do aparelho auditivo

    perifrico ou dos ncleos cocleares, mas no por leses do SNC. Uma perda de audio distinta

  • para frequncias em particular pode ser decorrente de dano a uma parte do rgo de Corti (como na

    exposio a sons intensos, como particularmente ao ouvir msica com alta intensidade ou por rudo

    industrial). O grau de surdez pode ser quantificado para diferentes frequncias por audiometria.

    Nessa, apresentam-se tons de diferentes frequncias e intensidades a cada ouvido. Faz-se um

    audiograma para mostrar os limiares de cada ouvido para frequncias de sons representativas. A

    comparao com o audiograma de indivduos normais mostra o dficit auditivo (em decibeis). O

    padro de dficit auxilia no diagnstico da causa da perda auditiva.

    Dois testes simples costumam ser usados clinicamente para distinguir os tipos mais

    importantes de surdez, a de conduo e a neuro-sensorial. O teste de Weber usado para avaliar a

    magnitude de uma surdez de conduo. Neste teste, a base de um diapaso vibrando colocada

    contra a parte central da fronte e pede-se ao indivduo para localizar o som. Normalmente, o som

    no localizado num ouvido em particular. No entanto, se a pessoa tiver surdez de conduo (como

    por exemplo uma membrana timpnica perfurada, coleo lquida no ouvido mdio, otosclerose ou

    perda da continuidade da cadeia ossicular), o som ser localizado no ouvido surdo porque ele

    conduzido cclea atravs do osso. O som conduzido pelo osso pode ativar o rgo de Corti,

    embora no to bem quanto o som conduzido normalmente atravs da cadeia timpnica e da cadeia

    ossicular. Uma razo pela qual o som no teste de Weber no localizado no ouvido normal pode ser

    que a audio no ouvido normal seja inibida pelo nvel sonoro ambiente (mascaramento auditivo).

    No teste de Weber, a localizao do som no ouvido surdo por uma perda do mecanismo

    normal de conduo pode ser facilmente demostrada em indivduos normais aos quais se pea para

    colocarem um dedo em um dos ouvidos a fim de prejudicar a audio neste. Inversamente, nos

    indivduos com surdez neuro-sensorial (como nas leses do rgo de Corti, do nervo coclear ou dos

    ncleos cocleares), o som localizado no lado normal. No teste de Rinne, um diapaso vibrando

    colocado contra o processo mastoide e pede-se ao indivduo para indicar quando o som desaparece.

    O diapaso ento seguro perto do meato auditivo externo. Se o mecanismo de conduo estiver

    lesado, o som no ser ouvido. A conduo ssea, nesse caso, melhor do que a conduo area. Se

    a surdez for neuro-sensorial, o som no ser ouvido.

    A gustao no avaliada, de rotina, no exame neurolgico. No entanto, um exame

    detalhado pode incluir aplicao de substncias de teste nos dois teros anteriores e no tero

    posterior da lngua de cada lado. A lngua deve ser mantida em protruso para impedir a mistura das

    substncias de teste com a saliva e impedir a redistribuio subsequente para outras reas da lngua.

    A gustao tambm pode ser testada por aplicao de uma corrente galvnica lngua. A sensao

    de gustao pode ser perdida, por exemplo, depois de leso de um nervo craniano que contenha

    aferentes gustatrios.

    A olfao em geral no verificada num exame neurolgico de rotina. No entanto, pode ser

    testada pedindo-se ao paciente que inale e identifique um odorante. Deve ser examinada uma narina

    a cada vez, enquanto a outra narina ocluda. Os odorantes fortes, como a amnia, devem ser

    evitados porque tambm ativam fibras sensoriais do trigmeo. A sensao olfatrio pode ser perdida

    (anosmia) depois de uma fratura da base do crnio ou de leso de um ou de ambos os bulbos ou

    tratos olfatrios por tumor (como um meningioma do sulco olfatrio). Ocorre uma aura de odor

    desagradvel, muitas vezes odor de borracha queimada, durante crises uncinadas, que so crises

    epilpticas que se originam na regio do uncus.

    Captulo 9

    Leso da medula espinhal algo comum, especialmente em jovens do sexo masculino. Tais

    leses so causadas por colises de automveis, acidentes esportivos, ferimentos de guerra ou

  • ferimentos por arma de fogo. Dependendo do nvel e da magnitude da leso da medula espinhal, o

    indivduo afetado pode ter paraplegia (paralisia dos membros inferiores) ou tetraplegia (paralisia

    dos quatro membros). Muitas das pesquisas nesse campo concentram-se em desenvolver formas de

    amenizar as consequncias da leso da medula espinhal. Caminhos promissores incluem: (1)

    proteo contra dano secundrio pela administrao de agentes como a metilprednisolona pouco

    depois da leso; (2) procedimentos para auxiliar no movimento, como a estimulao eltrica dos

    nervos dos msculos dos membros inferiores; e (3) tratamentos na tentativa de promover a

    regenerao e o reparo das vias motoras descendentes interrompidas. Evidncias recentes sugerem

    que transplantes de clulas tronco embrionrias possam, no futuro, ser teis para restaurar alguns

    dos circuitos danificados.

    No homem, uma transeco abrupta da medula espinhal resulta em uma patologia chamada

    choque espinhal, que se caracteriza por uma paralisia flcida, arreflexia, perda da funo

    autonmica e perda de toda a sensibilidade abaixo do nvel da transeco. Numa paralisia flcida, a

    articulao no oferece resistncia ao movimento passivo quando dobrada por um examinador. Essa

    ausncia de resistncia resulta da perda dos reflexos de estiramento muscular, que normalmente

    causam contraes musculares que se opem a alteraes na posio da articulao. O choque

    espinhal geralmente dura 3 a 4 semanas. Depois que o choque espinhal se resolve, os reflexos

    gradualmente retornam e depois se tornam hiperativos. A hiperatividade dos reflexos espinhais

    demonstrada por maior resistncia que o normal quando se tenta dobrar uma articulao

    passivamente. O movimento voluntrio e a sensibilidade jamais retornam, e a paralisia muda da

    flacidez para a espasticidade. Alm disso, aparecem reflexos patolgicos (como o sinal de

    Babinski), o tono muscular aumenta e as funes intestinal e vesical retornam, mas numa forma

    alterada.

    A hiperatividade afeta os reflexos de estiramento e os reflexos de retirada. Reflexos de

    estiramento hiperativos associam-se no apenas a um aumento da resistncia ao estiramento

    passivo, mas tambm, muitas vezes, ao clono (uma contrao alterante de msculos agonistas e

    antagonistas em torno de uma articulao, como o tornozelo, depois de uma flexo inicial passiva

    rpida da articulao). Os reflexos de retirada hiperativos em resposta a um estmulo nociceptivo

    aplicado a um dos ps podem incluir no apenas flexo de uma ou ambas as extremidades

    inferiores, mas tambm mico, defecao e sudorese. A postura costuma ser de flexo sustentada

    das extremidades inferiores.

    Em animais, a transeco espinhal produz alteraes semelhantes, mas o perodo de choque

    espinhal geralmente breve. Portanto, nessa circunstncia os reflexos espinhais podem ser

    estudados na ausncia de controles descendentes.

    Os pacientes humanos com leso do tronco enceflico tambm podem desenvolver um

    estado descerebrado que tem muitas das caractersticas reflexas das preparaes animais. O

    prognstico, em tais pacientes, mau se os sinais de descerebrao aparecerem.

    Os potenciais de ao so desencadeados nas fibras aferentes do grupo Ia quando um

    mdico percute o tendo de um msculo, como o quadrceps, com um martelo de reflexos. O

    resultado uma breve contrao muscular rapidamente amortecida. Quando a excitabilidade dos

    motoneurnios alfa alterada patologicamente, o reflexo de estiramento fsico pode ficar hipoativo

    ou hiper-excitvel. No passado, esse tipo de reflexo era denominado reflexo tendinoso profundo.

    Esse termo no bom, contudo, porque os receptores responsveis pelo reflexo esto no msculo,

    no no tendo. A percusso do tendo apenas proporciona um estiramento rpido do msculo.

    A maneira mais comum para um mdico avaliar o nvel de excitabilidade dos

    motoneurnios espinhais com o uso do martelo de reflexos. No entanto, uma outra abordagem

  • seria estimular os axnios de fibras do grupo Ia eletricamente e examinar as alteraes nas respostas

    reflexas provocadas por um surto sncrono de atividade induzido nas fibras aferentes dos fusos

    musculares. O reflexo pode ser objetivamente monitorizado pela eletromiografia. O reflexo mono-

    sinptico desencadeado por estimulao do nervo tibial na fossa popltea e registrado a partir dos

    msculos trceps surais o chamado reflexo H (de Hoffmann, que descreveu essa tcnica).

    O crtex motor tem sido explorado em pacientes humanos submetidos a cirurgia para

    remover tecido cicatricial que tenha causado epilepsia ps-traumtica. Muitas vezes, a resseco do

    tecido cicatricial cura a epilepsia. No entanto, o cirurgio deve ser cuidadoso em no lesar reas

    normais do crtex motor poque isso paralisar a musculatura afetada.

    Uma causa comum de distrbio motor no homem a interrupo do trato crtico-espinhal

    na cpsula interna; tais interrupes ocorrem em acidentes vasculares capsulares. O distrbio

    resultante costuma ser denominado sndrome do trato piramidal ou doena do neurnio motor

    superior. As alteraes motoras caractersticas desse distrbio incluem (1) aumento dos reflexos de

    estiramento fsicos e tnicos (espasticidade); (2) fraqueza, geralmente dos msculos distais,

    especialmente os msculos dos dedos; (3) reflexos patolgicos, inclusive o sinal de Babinski (flexo

    dorsal do hlux e abertura em leque dos outros artelhos quando a planta do p estimulada com

    instrumento pontiagudo); e (4) reduo dos reflexos superficiais, como o abdominal e o

    cremastrico. No entanto, se apenas o trato crtico-espinhal tiver sido interrompido, como pode

    ocorrer com uma leso da pirmide bulbar, a maioria desses sinais estar ausente. Nessa situao, os

    dficits mais proeminentes so fraqueza dos msculos distais, especialmente dos dedos, e um sinal

    de Babinski positivo. No ocorre espasticidade, mas o tono muscular diminui. Evidentemente, a

    espasticidade depende do distrbio da funo do trato crtico-espinhal e de outras vias, como os

    tratos retculo-espinhais.

    Os efeitos da interrupo das vias do sistema medial so bem diferentes dos produzidos por

    leses do trato crtico-espinhal. Os principais dficits so uma reduo inicial do tono dos msculos

    posturais e perda dos reflexos de endireitamento. Os efeitos a longo prazo incluem

    comprometimento locomotor e quedas frequentes. No entanto, a manipulao de objetos

    perfeitamente normal.

    Quando h uma excitao labirntica de um dos lados, como na doena de Mnire, ou

    quando um labirinto se torna no-funcionante, como pode acontecer em decorrncia de traumatismo

    craniano ou doena do labirinto, os sinais transmitidos atravs das vias reflexas vestbulo-oculares

    dos dois lados se tornam desequilibrados. Resulta ento o nistagmo vestibular. Por exemplo, a

    irritao do labirinto do lado esquerdo pode aumentar as descargas dos aferentes que suprem o

    canal semi-circular horizontal esquerdo. O sinal produzido assemelha-se ao normalmente produzido

    quando a cabea rodada para a esquerda (o que causa um desvio relativo na endolinfa em direo

    cpula). Desse modo, o sinal desencadeia um nistagmo com fase lenta para a direita e fase rpida

    para a esquerda. A direo do nistagmo nomeada de acordo com o movimento rpido; portanto,

    esse nistagmo de batimento para a esquerda. A destruio do labirinto do ouvido interno direita produz efeitos semelhantes aos induzidos por irritao do labirinto esquerdo.

    Os exames clnicos da funo labirntica so feitos comumente por rotao do paciente

    numa cadeira de Brny para ativar os labirintos em ambos os lados ou por introduo de gua fria

    ou morna no canal auditivo externo de um dos ouvidos (teste calrico). Quando uma pessoa

    rodada na cadeira de Brny, desenvolve-se um nistagmo durante a rotao. A direo da fase

    rpida do nistagmo a mesma direo da rotao. Quando a rotao da cadeira suspensa,

    desenvolve-se um nistagmo na direo oposta (nistagmo ps-rotatrio). Se for feita uma tentativa

  • para o indivduo ficar em p, ele se sentir tonto e tender a cair.

    O teste calrico mais til porque consegue distinguir entre disfuno dos labirintos nos

    dois lados. A cabea curvada para trs cerca de 60, de modo que os dois canais horizontais

    fiquem essencialmente verticais. Se for introduzida gua morna no ouvido esquerdo, a endolinfa no

    canal semi-circular esquerdo tende a elevar-se medida que a gravidade especfica da endolinfa

    diminui devido ao aquecimento. Como resultado, os quinoclios das clulas ciliares da crista

    ampular esquerda so defletidos em direo ao utrculo, a descarga dos aferentes que suprem esse

    epitlio aumenta e ocorre um nistagmo com a fase rpida para a esquerda. O nistagmo produz uma

    sensao de que o ambiente est girando para a direita, e o indivduo tende a cair para a direta. Os

    efeitos opostos so produzidos se for colocada gua fria no ouvido. Uma expresso mnemnica que

    pode ajudar a lembrar a direo do nistagmo no teste calrico FOMM (fria, oposto; morna, mesmo). Em outras palavras, a gua fria resulta em fase rpida do nistagmo para o lado oposto, e a gua morna causa fase rpida para o mesmo lado.

    O crtex parietal posterior costuma ser chamado crtex de associao parietal. Essa regio

    recebe informaes somato-sensorial, visuais, vestibulares e auditivas das reas receptoras

    sensoriais primrias. Uma leso do crtex parietal posterior no homem resulta em distrbios da

    linguagem, mas quando a leso est no lado direito, o indivduo apresenta uma negligncia em

    relao a estmulos somticos ou visuais contra-laterais. Os pacientes com leses no lobo parietal

    direito tm dificuldade em reconhecer ou desenhar objetos tridimensionais e em reconhecer relaes

    espaciais. Dificuldades semelhantes podem ser experimentadas por pacientes com leses do lobo

    parietal esquerdo, mas essas podem ser mascaradas pelo distrbio da linguagem.

    A preparao para esses movimentos voluntrios exige vrias centenas de mili-segundos. O

    tempo exato depende da dificuldade da tarefa. Leses das reas pr-motora, motora suplementar e

    parietal posterior podem atrapalhar a capacidade de preparo para movimentos voluntrios. Quando

    tais leses so produzidas experimentalmente, os resultados se assemelham apraxia, a qual

    representa a falha dos pacientes com leses do lobo frontal ou parietal para realizar movimentos

    complexos apesar da reteno da sensibilidade e da capacidade de fazer movimentos simples.

    Leses cerebelares comprometem a funo motora do lado correspondente do corpo. A

    razo para esse comprometimento que o cerebelo d origem a conexes cruzadas que regulam um

    sistema eferente motor de projeo contra-lateral, o trato crtico-espinhal lateral. Os dficits

    motores especficos que resultam das leses cerebelares dependem de qual componente funcional

    do cerebelo seja mais afetado. Se o lobo floculonodular for danificado, os distrbios motores sero

    semelhantes aos produzidos por uma leso do aparelho vestibular; os distrbios incluem dificuldade

    de equilbrio e marcha e, muitas vezes, nistagmo. Se o verme for afetado, o desequilbrio motor

    afetar o tronco e, se a regio intermediria ou o hemisfrio for envolvido, ocorrero distrbios

    motores nos membros. A parte das extremidades afetada depende do local da leso; leses

    hemisfricas afetam os msculos distais mais que as leses para-vermais.

    Tipos de disfuno motora em doena cerebelar incluem distrbios da coordenao, do

    equilbrio e do tono muscular. A falta de coordenao chamada ataxia e costuma ser expressa

    como dismetria, afeco em que os erros na direo e na fora dos movimentos impedem que um

    membro se movimento suavemente at uma posio desejada. A ataxia tambm pode ser expressa

    como disdiadococinesia, na qual supinaes e pronaes repetidas da mo so difceis de executar.

    Quando movimentos mais complicados so tentados, ocorrer uma decomposio do movimento,

    caso em que o movimento efetuado em uma srie de etapas distintas, e no como sequncia suave.

    Aparece um tremor intencional quando se pede ao indivduo para encostar o dedo num alvo; a mo

    afetada (ou p) desenvolve um tremor que aumenta em magnitude medida que h aproximao do

    alvo. Quando uma postura mantida perturbada, poder ser visto comprometimento do equilbrio; o

    indivduo tende a cair para o lado afetado e ter uma marcha caracterstica com a base de sustentao

  • alargada. A fala pode ser lenta e indistinta, um defeito chamado de fala escandida. O tono muscular

    pode diminui (hipotonia); a diminuio do tono pode estar associada a um reflexo patelar pendular.

    Isso pode ser demonstrado por desencadeamento de um reflexo de estiramento fsico do msculo

    quadrceps por percusso do tendo patelar; a perna continua a oscilar para frente e para trs devido

    hipotonia, contrastando com a oscilao altamente amortecida numa pessoa normal.

    Os dficits vistos nas vrias doenas associadas aos gnglios da base incluem movimentos

    anormais (discinesias), aumento do tono muscular (rigidez em roda dentada) e lentido para iniciar

    movimento (bradicinesia). Os movimentos anormais incluem tremor, atetose, corea, balismo e

    distonia. O tremor das doenas que afetam os gnglios da base do tipo que faz as pessoas

    parecerem estar contando moedas e ocorre quando a extremidade est em repouso. A atetose consiste em movimentos lentos serpenteantes das partes distais dos membros, enquanto a corea se

    caracteriza por movimentos rpidos e chicoteantes das extremidades e dos msculos faciais. O

    balismo se associa a movimentos violentos e globais dos membros (movimentos balsticos).

    Finalmente, os movimentos distnicos so lentos e ocorrem no tronco, distorcendo as posies

    corporais.

    A doena de Parkinson distrbio comum caracterizado por tremor, rigidez e bradicinesia.

    Essa doena causada por perda de neurnios na parte compacta da substncia negra.

    Consequentemente, h uma reduo intensa da dopamina no estriado. H uma perda, tambm, de

    neurnios do locus cereleus e dos ncleos da rafe, bem como de outros ncleos monoaminrgicos.

    A reduo da dopamina no estriado provoca uma diminuio da atividade da via direta e aumento

    da atividade da via indireta. O efeito resultante um aumento na atividade dos neurnios no

    segmento interno do globo plido. Isso resulta numa inibio maior dos neurnios nos ncleos VA e

    VL e a uma ativao menos pronunciada das reas corticais motoras. A consequncia a lentido do

    movimento (bradicinesia).

    Antes de os neurnios dopaminrgicos serem completamente perdidos, a administrao de

    L-dopa pode aliviar uma parte dos dficits motores da doena de Parkinson. A L-dopa um

    precursor da dopamina e pode atravessar a barreira hemato-enceflica. Atualmente, est sendo

    explorada a possibilidade de transplantar neurnios que sintetizam dopamina para o estriado.

    Pesquisas futuras, sem dvida, iro se concentrar no potencial das clulas-tronco embrionrias

    humanas em desempenhar tal papel teraputico.

    Outro desequilbrio dos ncleos da base a doena de Huntington. Ela resulta de um defeito

    gentico que envolve um gene autossmico dominante. Esse defeito leva perda de neurnios

    GABArgicos e colinrgicos do estriado (e tambm degenerao do crtex cerebral, com resultante

    demncia). A perda de inibio do globo plido externo presumivelmente diminui a atividade dos

    neurnios do ncleo sub-talmico. Por isso, a excitao dos neurnios do segmento interno do

    globo plido seria reduzida. Isso desinibir os neurnios dos ncleos VA e VL. O resultante

    aumento de atividade nos neurnios das reas motoras do crtex cerebral pode ajudar a explicar os

    movimentos coreiformes da doena de Huntington. A rigidez da doena de Parkinson pode, num

    certo sentido, ser uma sndrome oposta da corea porque o tratamento dos pacientes com doena de

    Parkinson usando doses excessivas de L-dopa pode resultar em corea.

    O hemi-balismo causado por uma leso do ncleo sub-talmico em um lado encfalo.

    Nesse distrbio, movimentos involuntrios violentos dos membros podem ocorre contra-

    lateralmente leso. Como o ncleo sub-talmico excita neurnios do segmento interno do globo

    plido, uma leso do ncleo sub-talmico reduziria a atividade desses neurnios palidais. Portanto,

    os neurnios nos ncleos VA e VL do tlamo seriam menos inibidos, e a atividade dos neurnios no

    crtex motor aumentariam.

  • Em todos esses distrbios dos gnglios da base, a disfuno motora contra-lateral ao

    componente doente. Isso compreensvel porque a eferncia final principal dos ncleos da base

    mediada pelo trato crtico-espinhal.

    Captulo 10

    As funes dos diferentes lobos do crtex cerebral tm sido definidas a partir dos efeitos de

    leses produzidas por doenas ou intervenes cirrgicas para tratar doenas no homem e por

    experimentos em animais. Em uma outra abordagem, as manifestaes fsicas de crises epilpticas

    foram correlacionadas com as localizaes cerebrais que do origem s crises (focos epilpticos).

    Por exemplo, focos epilpticos no crtex motor causam movimentos contra-laterais; os movimentos

    exatos se relacionam com a localizao somatotpica do foco epilptico. As crises que se originam

    no crtex somato-sensorial causam uma aura epilptica, na qual se experimenta uma sensao. Da

    mesma forma, crises que se iniciam no crtex visual causam uma aura visual (cintilaes, cores), as

    do crtex auditivo causam uma aura auditiva (zumbido, zunido, tilintar) e as do crtex vestibular

    causam uma sensao de girar. Comportamentos complexos decorrem de crises que se originam do

    lobo temporal; ademais, uma aura com odor ftido pode ser percebida se o crtex olfatrio estiver

    envolvida (crise uncinada).

    Os potenciais evocados so usados clinicamente para avaliar a integridade de uma via

    sensorial, pelo menos no nvel da rea receptora sensorial primria. Esses potenciais podem ser

    registrados em indivduos comatosos, bem como em lactentes jovens demais para permitir um

    exame clnico de sensibilidade. As partes iniciais do potencial evocado auditivo realmente refletem

    atividade no tronco enceflico; portanto, esse potencial evocado pode ser usado para avaliar a

    funo de estruturas do tronco enceflico.

    A finalidade do sono ainda no est clara. No entanto, ele deve ter um alto valor biolgico

    porque grande parte da vida passada dormindo e porque a falta de sono pode ser debilitante.

    Distrbios clinicamente importantes de ciclo sono-viglia incluem insnia, enurese, sonambulismo,

    apneia do sono e narcolepsia.

    O EEG torna-se anormal sob vrias circunstncias patolgicas. Por exemplo, durante o

    coma, o EEG dominado por atividade delta. A morte cerebral definida por um EEG iso-eltrico

    mantido.

    A epilepsia comumente causa anormalidades do EEG. H vrias formas de epilepsia, e as

    crises epilpticas podem ser parciais ou generalizadas.

    Uma forma de crise parcial se origina no crtex motor e resulta em contraes localizadas

    dos msculos contra-laterais. As contraes depois podem propagar-se para outros msculos; a

    propagao segue a sequncia somatotpica do crtex motor. Crises parciais complexas (que podem

    ocorrer na epilepsia psicomotora) originam-se no lobo lmbico e resultam em iluses e atividade

    motora semi-intensional. Durante e entre as crises focais, os registros eletroencefalogrficos podem

    revelar espculas no EEG.

    Crises generalizadas envolvem amplas reas do crebro e perda da conscincia. Dois tipos

    mais importantes de crises so o pequeno mal e o grande mal. Na epilepsia do tipo pequeno mal, a

    conscincia perdida transitoriamente, e o EEG exibe atividade de espculas e ondas. Nas crises do

    tipo grande mal, a conscincia perdida por um perodo mais longo, e o indivduo pode cair ao

    cho se estiver em p quando a crise comear. Ela comea com um aumento generalizado do tnus

  • muscular (fase tnica), seguida por uma srie de abalos musculares (fase clnica). O intestino e a

    bexiga podem ser evacuados. O EEG mostra atividade epilptica amplamente distribuda.

    As espculas do EEG que ocorrem entre crises completas so chamadas espculas interictais.

    Eventos semelhantes podem ser estudados experimentalmente. Essas espculas se originam de

    despolarizaes abruptas e de longa durao, chamadas mudanas de despolarizao, as quais

    desencadeiam potenciais de ao repetitivos nos neurnios corticais. Essas mudanas de

    despolarizao podem refletir vrias alteraes nos focos epilpticos. Tais alteraes incluem

    potenciais de ao dendrticos regenerativos mediados por Ca2+ nos neurnios corticais e uma

    reduo das interaes inibitrias nos circuitos corticais. Os potenciais de campo e a liberao de

    K+ e de aminocidos excitatrios por neurnios hiperativos tambm podem contribuir para o

    aumento da excitabilidade cortical.

    Vrias reas do hemisfrio esquerdo esto envolvidas com a linguagem. A rea de Wernicke

    uma grande rea centralizada na parte posterior do giro temporal superior, perto do crtex

    auditivo. Outra rea de linguagem importante a rea de Broca, que est na parte posterior do giro

    frontal inferior, perto da representao da face do crtex motor. Dano rea de Wernicke resulta

    numa afasia sensorial, na qual a pessoa tem dificuldade de compreender a linguagem falada e

    escrita; entretanto, a produo da fala continua fluente. Inversamente, uma leso da rea de Broca

    causa afasia motora. Os indivduos com afasia motora tm dificuldade para falar e para escrever,

    embora possam compreender relativamente bem a linguagem.

    Uma pessoa com afasia sensorial pode no ter comprometimento auditivo ou visual, e uma

    pessoa com afasia motora pode ter controle motor normal dos msculos responsveis pela fala ou

    escrita. Desse modo, a afasia no depende de uma alterao da sensibilidade ou do sistema motor;

    na realidade, um dficit de recepo ou planejamento da expresso da linguagem. No entanto,

    leses no hemisfrio dominante podem ser grandes o suficiente para resultar em formas mistas de

    afasia, bem como em alteraes sensoriais ou paralisia de alguns dos msculos usados para a

    expresso da linguagem falada.

    Um experimento semelhante foi feito em pacientes humanos que tinham passado por uma

    transeco cirrgica do corpo caloso para impedir a propagao inter-hemisfrica de epilepsia. O

    quiasma ptico permaneceu intacto. Foi possvel direcionar a informao para um ou outro

    hemisfrio pedindo ao paciente para fixar a viso num ponto de uma tela. Projetava-se ento a

    figura de um objeto para um dos lados do ponto de fixao para que a informao visual sobre a

    figura chegasse ao hemisfrio contra-lateral. Uma abertura abaixo da tela permitia ao paciente

    manipular objetos que no podia ver. Os objetos incluam aqueles mostrados nas figuras projetadas.

    Os indivduos normais seriam capazes de localizar o objeto correto com qualquer das duas mos.

    No entanto, os paciente com uma transeco do corpo caloso conseguiam localizar o objeto correto

    somente com a mo ipsi-lateral imagem projetada (contra-lateralmente ao hemisfrio que recebeu

    as informaes visuais). A informao visual precisaria ter tido acesso s reas somato-sensoriais e

    motoras do crtex para a mo explorar e reconhecer o objeto correto. Com o corpo caloso cortado,

    as reas visual e motora so inter-conectadas somente no mesmo lado do crebro.

    Outro teste era pedir ao paciente para identificar verbalmente qual objeto era visto na

    figura. O paciente daria uma resposta verbal correta a uma figura que fosse projetada direta do

    ponto de fixao, de modo que a informao visual chegasse somente ao hemisfrio esquerdo

    (dominante para a linguagem). No entanto, o paciente no conseguia identificar verbalmente uma

    figura que fosse apresentada ao hemicampo visual esquerdo, uma vez que a informao visual foi

    projetada para o hemisfrio direito.

    Observaes semelhantes podem ser feitas em pacientes com um corpo caloso

    transeccionado quando diferentes formas de estmulo so usadas. Por exemplo, quando tais

    pacientes recebem um comando verbal para levantarem o membro superior direito, podero faz-lo

  • sem dificuldade. Os centros da linguagem no hemisfrio esquerdo enviam sinais para as reas

    motoras no mesmo lado, e esses sinais produzem o movimento do membro superior direito. No

    entanto, os mesmos pacientes no conseguem responder a um comando de elevar o membro

    superior esquerdo. As reas da linguagem no lado esquerdo no conseguem influenciar as reas

    motoras no lado direito, a menos que o corpo caloso esteja intacto. O resultado um tipo de apraxia

    (incapacidade de controlar movimento voluntrio).

    Estmulos somato-sensoriais aplicados no lado direito do corpo podem ser descritos por

    pacientes com um corpo caloso transeccionado. No entanto, esses pacientes no podem descrever os

    mesmos estmulos aplicados ao lado esquerdo do corpo. Informaes que chegam s reas somato-

    sensoriais direitas do crtex no conseguem chegar aos centros de linguagem se o corpo caloso tiver

    sido cortado.

    As capacidades funcionais dos dois hemisfrios podem ser comparadas pela explorao do

    desempenho de indivduos com transeco do corpo caloso. Tais pacientes resolvem quebra-cabeas

    tridimensionais melhor com o hemisfrio direito do que com o esquerdo, sugerindo que o

    hemisfrio direito se especializa em funes espaciais. Outras funes que parecem estar mais

    associadas ao hemisfrio direito que ao esquerdo so a expresso facial, a linguagem corporal e as

    entonaes da fala. O corpo caloso promove coordenao entre os dois hemisfrios. Os pacientes

    com um corpo caloso transeccionado no possuem coordenao entre atos motores. Quando esto

    se vestindo, por exemplo, uma das mos pode abotoar uma camisa, enquanto a outra tenta

    desaboto-la.

    Uma concluso admirvel dos experimentos nesses pacientes que os dois hemisfrios

    podem operar de forma independente quando j no esto interconectados. No entanto, um dos

    hemisfrios pode se expressar com linguagem, enquanto o outro se comunica apenas de maneira

    no-verbal.

    Uma consequncia da privao visual durante o desenvolvimento das vias visuais pode ser

    a ambliopia do olho privado. A ambliopia a capacidade visual reduzida e pode ocorrer, por

    exemplo, em crianas com estrabismo devido a uma fraqueza relativa de um dos msculos extra-

    oculares. Efeitos semelhantes podem ser produzidos por uma catarata ou por miopia no corrigida.

    Captulo 11

    Uma via nociceptiva visceral importante que tem origem nos rgos plvicos faz sinapse

    com neurnios no corno posterior das pores lombo-sacrais da medula espinhal, cujos axnios se

    projetam via coluna dorsal ao ncleo grcil. Os sinais nociceptivos viscerais so ento transmitidos

    ao ncleo ventral pstero-lateral do tlamo e, da, presumivelmente, ao crtex cerebral. A

    interrupo dessa via responsvel pelos efeitos benficos de leses cirurgicamente induzidas da

    coluna dorsal em nveis torcicos inferiores para aliviar a dor produzida por cnceres dos rgos

    plvicos.

    O controle simptico da pupila algumas vezes afetado por doenas. Por exemplo, a

    interrupo da inervao simptica da cabea e pescoo resulta na sndrome de Horner. Essa se

    caracteriza por constrio pupilar, ptose palpebral parcial causada por paralisia do msculo tarsal

    superior, perda de sudorese na face, vasodilatao da pele facial e retrao do olho para a rbita

    (enoftalmia). A sndrome de Horner pode ser produzida por uma leso que: (1) destrua os neurnios

    pr-ganglionares simpticos na medula espinhal torcica alta, (2) interrompa a cadeia simptica

    cervical ou (3) lese a parte inferior do tronco na regio da formao reticular, atravs da qual as vias

    descem medula espinhal para ativar neurnios pr-ganglionares simpticos.

  • O reflexo pupilar luz algumas vezes est ausente em pacientes com sfilis, que pode afetar

    o SNC (na tabes dorsalis). Embora a pupila deixe de responder luz, continua presente, ainda, a

    resposta de acomodao normal. Essa patologia conhecida como pupila de Argyll-Robertson. O

    mecanismo ainda controverso. Uma explicao que as fibras do trato ptico que passam para a

    rea pr-tectal atravs do brao do colculo superior so interrompidas pela meningite sifiltica. A

    interrupo causada pela presena de espiroquetas no espao sub-aracnoide. Embora a aferncia

    para o ncleo pr-tectal olivar esteja interrompida, a conexo do trato ptico para o ncleo

    geniculado lateral mantida, e a pupila capaz de responder ao reflexo de acomodao visual.

    Tambm existe uma via reflexa espinhal para a mico. Essa via operacional no recm-

    nascido. No entanto, com a maturao, as vias de controle supra-espinhais assumem um papel

    dominante no desencadeamento da mico. Depois da leso da medula espinhal, os adultos

    humanos perdem o controle da bexiga durante o perodo de choque espinhal (incontinncia

    urinria). medida que a medula se recupera do choque espinhal, recupera-se um certo grau de

    funo vesical devido a um aumento do reflexo de mico da medula espinhal. No entanto, a bexiga

    tem um aumento do tono muscular e deixa de se esvaziar completamente. Essas circunstncias

    frequentemente levam a infeces urinrias.

    Na febre, o ponto de ajuste para temperatura corporal est elevado. Isso pode ser causado,

    por exemplo, por pirognios liberados por microrganismos. O pirognio muda o ponto de ajuste,

    levando ao aumento da produo de calor pelos tremores e conservao de calor pela

    vasoconstrio cutnea.

    As leses bi-laterais do lobo temporal podem produzir a sndrome de Klver-Bucy, que se

    caracteriza por perda da capacidade de detectar e reconhecer o significado de objetos por indcios

    visuais (agnosia visual), uma tendncia para examinar os objetos oralmente, ateno a estmulos

    irrelevantes, hiper-sexualidade, alterao dos hbitos alimentares e diminuio da emocionalidade.

    Os componentes dessa sndrome podem ser atribudos leso de diferentes partes do neo-crtex e

    do crtex lmbico. Por exemplo, as alteraes do comportamento emocional so amplamente

    decorrentes de leses da amgdala, enquanto a agnosia visual causada por leso das reas visuais

    neo-crtex temporal.

    Captulo 12 - Fisiologia do msculo esqueltico

    Doenas genticas causando distrbios na homeostase do Ca2+ no msculo esqueltico

    incluem hipertermia maligna (HM), doena do ncleo central (DNC) e doena de Brody (DB). HM

    um trao autossmico dominante que tem consequncia ameaadoras vida em certas interveno

    cirrgicas. Anestsicos como o Halotano ou ter e o relaxante muscular succinilcolina podem

    produzir liberao descontrolada de Ca2+ do retculo sarcoplasmtico, resultando em rigidez do

    msculo esqueltico, taquicardia, hiperventilao e hipertermia. Essa condio letal se no tratada

    imediatamente. Existe atualmente uma srie de testes (usando respostas contrteis de bipsias

    musculares) para avaliar se um paciente tem HM. A incidncia de HM de aproximadamente 1 em

    15.000 crianas, ou 1 em 50.000 adultos tratados com anestsicos. HM o resultado de um defeito

    no canal liberados de Ca+ do retculo sarcoplasmtico (RYR) que ativado na presena dos

    anestsicos acima, resultando na liberao de Ca2+ para dentro do sarcoplasma, e portanto,

  • contrao muscular prolongada (rigidez). O defeito no RYR no restrito a um nico locus. Em

    alguns casos, HM tem sido associada a um defeito no RDHP do tbulo T.

    Doena do Ncleo Central (DNC) uma caracterstica rara, autossmica dominante, que

    resulta em fraqueza muscular, perda de mitocndrias no centro da fibra muscular esqueltica, e

    alguma desintegrao dos filamentos contrteis. DNC em geral associada estritamente HM, e os

    pacientes com DNC tratados como suscetveis HM em situaes cirrgicas. A hiptese corrente

    que as regio centrais, desprovidas de mitocndrias, so reas de Ca2+ elevado, devido mutao

    no RYR, do que resulta a captao mitocondrial do Ca2+, e, por sua vez, produz uma sobrecarga

    das mitocndrias com Ca2+ e a perda delas.

    Doena de Brody (DB) caracterizada por espasmo muscular indolor e relaxamento

    muscular prejudicado durante exerccio. Numa corrida escada acima, por exemplo, os msculos

    podem se enrijecer, ficando temporariamente fora de condies de uso. Essa anormalidade no

    relaxamento ocorre nos msculos das pernas, braos e plpebras, e a resposta piora no frio. DB

    pode ser autossmica dominante ou recessiva e pode envolver mutaes em at 3 genes. DB,

    contudo, uma ocorrncia rara (afetando 1 em 10.000.000 de nascimentos). Parece que DB resulta

    de atividade reduzida da bomba de Ca2+ SERCA 1 encontrada nos msculos esquelticos rpidos.

    O decrscimo da atividade da SERCA 1 tem sido associada mutao no gene SERCA 1, embora

    possa tambm haver um fator acessrio que contribua para a reduo na captao do Ca2+ pelo

    retculo sarcoplasmtico no msculo esqueltico rpido de indivduos com DB.

    Captulo 13 - Fisiologia do msculo liso

    A contrao inapropriada do msculo liso est associada a vrias situaes patolgicas. Um

    exemplo o vasoespasmo mantido de uma artria cerebral que se desenvolve vrias horas aps uma

    hemorragia sub-aracnoide. Supe-se que radicais livres gerados pela hemorragia elevam a [Ca2+]

    citoplasmtica nas clulas do msculo liso arterial nas vizinhanas. A elevao da [Ca2+]

    citoplasmtica ativa a CCLM, o que leva fosforilao das pontes e contrao. A vasoconstrio

    priva outras reas do crebro do suprimento de oxignio e pode levar a uma leso permanente ou

    morte dos neurnios na vizinhana. Durante alguns dias a artria cerebral permanece sensvel a

    agentes vasoativos, e portanto o tratamento com vasodilatadores pode restaurar o fluxo. Entretanto,

    aps vrios dias, as clulas do msculo liso no respondem mais aos vasodilatadores, perdem as

    protenas contrteis e secretam colgeno extra-celular. O lmen da artria permanece constrito em

    consequncia de alteraes estruturais e mecnicas que no envolvem a contrao ativa.

    Captulo 14 - Sinopse do corao, vasos sanguneos e sangue

    Ativadores exgenos do plasminognio, como a estreptoquinase e ativador tecidual do

    plasminognio (tPA), so usados clinicamente para dissolver cogulos intra-vasculares. Esse

    tratamento utilizado especialmente para dissolver cogulos nas artrias coronrias de pacientes

    com infarto agudo do miocrdio (o dano ao msculo cardaco mais frequentemente causado por um

    cogulo em um artria coronria importante).

    A heparina usada nos circuitos de perfuso artificial, durante cirurgia cardaca a cu

    aberto, e para prevenir a extenso de cogulo intra-vascular. Para a anticoagulao prolongada usa-

    se o dicumarol. Essa droga inibe a sntese de fatores dependentes da vitamina K e usada no

    tratamento de condies como tromboflebites (inflamao de uma veia associada ao cogulo

    sanguneo intra-vascular).

  • Captulo 15

    Ordinariamente, a frequncia de disparo do marcapasso controlada pela atividade das duas

    divises do sistema nervoso autonmico. Aumento na atividade nervosa simptica, atravs da

    liberao de norepinefrina, eleva a frequncia cardaca principalmente pelo aumento da inclinao

    da despolarizao diastlica lenta. Esse mecanismo de aumento da frequncia cardaca ocorre

    durante o exerccio fsico, ansiedade ou determinadas doenas, como doenas infecciosas febris.

    Aumento na atividade vagal, atravs da liberao de acetilcolina, diminui a frequncia

    cardaca pela hiperpolarizao da membrana das clulas de marcapasso, e reduo da inclinao da

    despolarizao diastlica lenta. Esse mecanismo de reduo da frequncia cardaca ocorre quando a

    atividade vagal predomina sobre a atividade simptica. Um exemplo extremo a sncope vasovagal,

    um breve perodo de vertigem ou de perda de conscincia causada por um intenso surto de atividade

    vagal. Esse tipo de sncope uma resposta reflexa dor ou a certos estmulos psicolgicos.

    Mudanas na atividade neural autonmica geralmente no alteram a frequncia cardaca por

    modificar o nvel limiar de Vm nas clulas nodais do marcapasso. Contudo, certas drogas

    antiarrtmicas, como a quinidina e procainamida, elevam o potencial limiar das cadeias automticas

    para valores menos negativos.

    Captulo 16

    Se o corao for distendido demasiadamente com sangue durante a distole, como pode

    ocorrer na insuficincia cardaca, ele funcionar menos eficientemente. Mais energia necessria

    (maior tenso na parede) para o corao distendido ejetar um determinado volume de sangue por

    batimento do que para o corao normal, no distendido. O bombeamento menos eficiente do

    corao distendido um exemplo da lei de Laplace, que declara que a tenso na parede de um vaso

    ou de uma cmara (nesse caso, os ventrculos) igual presso transmural (presso atravs da

    parede ou presso de distenso) vezes o raio do vaso ou da cmara. A relao de Laplace

    comumente aplica-se a vasos de paredes infinitamente finas, mas pode ser aplicada ao corao uma

    vez que se faa uma correo para a espessura parietal. A equao envolve estresse parietal, presso

    transmural, raio e espessura da parede.

    Um paciente com insuficincia cardaca geralmente tem o corao dilatado, dbito cardaco

    baixo, reteno de fluido, presso venosa elevada e um fgado aumentado, e edema perifrico, e

    frequentemente tratado com digitalina e um diurtico. O digitalina aumenta o clcio intra-celular

    do cardiomicito e, portanto, aumenta a fora contrtil. O diurtico reduz o volume de lquido extra-

    celular e, portanto, diminui a carga de volume (pr-carga) sobre o corao, a presso venosa, a

    congesto heptica e o edema.

    Em raras instncias, os pacientes receberam doses excessivas de epinefrina sub-

    cutaneamente para o tratamento de ataques asmticos severos. Esses pacientes desenvolveram

    acentuada taquicardia e aumento na contratilidade miocrdica, dbito cardaco e resistncia

    perifrica total. O resultado desse tratamento uma presso arterial perigosamente alta.

  • Nos corao com sobrecarga, como na insuficincia cardaca congestiva, quando o volume

    ventricular muito grande e as paredes ventriculares so estiradas at o ponto onde a

    distensibilidade mnima, pode ser ouvida uma terceira bulha cardaca. Uma terceira bulha cardaca

    em pacientes com doena cardaca geralmente um sinal grave.

    A insuficincia mitral e a estenose mitral produzem, respectivamente, sopros sistlicos e

    diastlicos que so mais bem audveis no pice cardaco. A insuficincia artica e a estenose

    artica, por outro lado, produzem, respectivamente, sopros diastlicos e sistlicos que so mais bem

    audveis no segundo espao intercostal logo direita do esterno. As caractersticas dos sopros

    servem como um guia importante para o diagnstico de doena valvular.

    Quando a terceira e a quarta (atrial) bulhas so acentuadas, como ocorrem em certas

    condies anormais, sons triplos (chamados ritmos de galope) podem ocorrer, assemelhando-se ao

    som do galope de um cavalo.

    Um aumento na contratilidade miocrdica como o produzido pelas catecolaminas ou pelos

    digitlicos, em um paciente com o corao em falncia, pode diminuir o volume ventricular residual

    e aumentar o volume de ejeo e a frao de ejeo. Com coraes severamente hipodinmicos e

    dilatados, o volume residual pode tornar-se muito maior que o volume de ejeo.

    A contrao atrial no essencial para o enchimento ventricular, como pode ser observado

    em pacientes com fibrilao atrial ou bloqueio atrioventricular. Na fibrilao atrial, as miofibras

    atriais contraem-se de uma maneira contnua e desordenada e, portanto, os trios no podem

    bombear sangue para dentro dos ventrculos. No bloqueio atrioventricular completo, os trios e os

    ventrculos batem independentemente uns dos outros. No entanto, o enchimento ventricular pode

    ser normal em pacientes com essas duas arritmias.

    Em certos estados patolgicos, as vlvulas atrioventriculares podem estar acentuadamente

    estreitadas (estenticas). Em tais condies, a contrao atrial exerce um papel muito mais

    importante no enchimento ventricular do que no corao normal.

    Captulo 17

    Na insuficincia cardaca congestiva, o NaCl e a gua so retidos, principalmente porque a

    estimulao do sistema renina-angiotensina-aldosterona aumenta a liberao de aldosterona do

    crtex da adrenal. O nvel plasmtico do PAN (Peptdeo atrial natriurtico) tambm est

    aumentando na insuficincia cardaca congestiva. Pelo aumento da excreo renal de NaCl e da

    gua, esse peptdeo gradualmente reduz a reteno de lquidos e as consequentes elevaes na

    presso venosa central e na pr-carga cardaca.

    Efeito inibitrio primrio idntico tambm opera em humanos. Um eletrocardiograma de

    paciente tetraplgico ilustra essa situao, quando o paciente no pode respirar normalmente e

    precisa de intubao traqueal e respirao artificial. Quando o cateter traqueal era brevemente

    desconectado para permitir cuidados de enfermagem, o paciente rapidamente desenvolvia uma

    profunda bradicardia. A sua frequncia cardaca era 65 batimentos por minutos logo antes da

    desconexo do cateter traqueal. Menos de 10 segundos aps a interrupo da respirao artificial, a

    sua frequncia cardaca caa para aproximadamente 20 batimentos por minuto. Essa bradicardia

  • podia ser evitada pelo bloqueio dos efeitos da atividade vagal eferente com atropina, e o seu incio

    podia ser retardado consideravelmente hiperventilando-se o paciente antes de se desconectar o

    cateter traqueal.

    Os receptores ventriculares foram implicados no incio da sncope vasovagal, que uma

    sensao de vertigem ou de breve perda da conscincia que pode ser desencadeada por um estresse

    psicolgico ou ortosttico. Supe-se que os receptores ventriculares so estimulados por um volume

    de enchimento ventricular reduzido combinado com uma contrao ventricular vigorosa. Em uma

    pessoa que permanece em p imvel, o enchimento ventricular diminudo, pois o sangue tende a

    acumular-se nas veias do abdome e das pernas. Consequentemente, a reduo no dbito cardaco e

    na presso sangunea arterial leva a um aumento generalizado na atividade neural simptica do

    reflexo barorreceptor. A atividade simptica intensificada no corao evoca uma contrao

    ventricular vigorosa, que, deste modo, estimula os receptores ventriculares. Supe-se que a

    excitao dos receptores ventriculares inicia as alteraes neurais autonmicas que evocam a

    sncope vasovagal, isto , a combinao de uma bradicardia profunda, mediada pelo vago, e uma

    vasodilatao arteriolar generalizada mediada por uma reduo na atividade neural simptica.

    O corao parcial ou completamente desnervado em vrias situaes clnicas: (1) o

    corao transplantado cirurgicamente totalmente desnervado, embora fibras intrnsecas, ps-

    ganglionares parassimpticas persistam; (2) a atropina bloqueia os efeitos vagais sobre o corao e

    o propanolol bloqueia as influncias beta-adrenrgicas simpticas; (3) certas drogas, como a

    reserpina, depletam as reservas cardacas de norepinefrina e, portanto, restringem ou abolem o

    controle simptico; (3) na insuficincia cardaca congestiva crnica as reservas de norepinefrina

    cardaca com frequncia esto severamente diminudas e, portanto, qualquer influncia simptica

    atenuada.

    A presso atrial esquerda maior do que a direita responsvel pela observao que, em

    indivduos com defeitos congnitos no septo atrial, nos quais os dois trios se comunicam entre si

    via um forame oval patente, a direo do fluxo pela comunicao geralmente da esquerda para a

    direita.

    Problemas cardiovasculares so comuns na insuficincia adrenocortical (doena de

    Addison). O volume sanguneo tende a cair, o que pode levar a uma hipotenso severa e colapso

    cardiovascular, a chamada crise addisoniana.

    A atividade cardaca reduzida em pacientes com funo tireoidiana inadequada

    (hipotireoidismo). O inverso verdadeiro em pacientes com glndulas tireodianas hiperativas

    (hipertireoidismo). Caracteristicamente, os pacientes hipertireoideos exibem taquicardia, dbito

    cardaco elevado, palpitaes e arritmias, como a fibrilao atrial. Nos indivduos hipertireoideos, a

    atividade neural simptica pode estar aumentada ou a sensibilidade do corao a ele pode estar

    aumentada. Estudos mostraram que o hormnio tireoidiano aumenta a densidade dos receptores

    beta-adrenrgicos no tecido cardaco. Em animais experimentais, as manifestaes cardiovasculares

    do hipertireoidismo podem ser simuladas pela administrao de tiroxina.

    Captulo 18

  • Traados de presso podem ser obtidos a partir de dois transdutores de presso inseridos no

    ventrculo esquerdo de um paciente com estenose artica, uma condio na qual o orifcio artico

    estreito. Os transdutores estavam localizados no mesmo cateter e estavam a uma distncia de 5 cm

    um do outro. Quando ambos os transdutores estavam bem no interior da cavidade ventricular

    esquerda, ambos registravam as mesmas presses. Contudo, quando o transdutor proximal era

    posicionado no orifcio valvar artico, a presso lateral medida durante a ejeo era muito menor do

    que a registrada pelo transdutor na cavidade ventricular. Essa diferena de presso estava associada

    quase que inteiramente velocidade de fluxo, muito maior no orifcio valvar estenosado do que na

    cavidade ventricular. A diferena pressrica reflete principalmente a converso de alguma energia

    potencial em energia cintica. Quando o cateter era retirado ainda mais, de modo que o transdutor

    proximal estivesse na aorta, a diferena pressrica era ainda mais pronunciada, pois havia perda

    substancial de energia atravs do atrito (viscosidade) medida que o sangue flua rapidamente

    atravs do orifcio estenosado.

    A reduo na perda lateral na regio do orifcio valvar artico estenosado pode influenciar o

    fluxo sanguneo coronariano em pacientes com estenose artica. Os orifcios das artrias coronrias

    direita e esquerda esto localizados nos seios de Valsalva, imediatamente posteriores s pregas

    valvares. Os segmentos iniciais desses vasos esto, portanto, orientados em ngulos retos com

    relao direo do fluxo sanguneo atravs das valvas articas. Portanto, a presso lateral aquele

    componente da presso que impele o sangue atravs das duas grandes artrias coronrias. Durante a

    fase de ejeo do ciclo cardaco, a presso lateral diminuda pela converso de energia potencial

    em energia cintica.

    Estudos angiogrficos em pacientes com estenose artica revelaram que a direo do fluxo

    frequentemente se reverte nas grandes artrias coronrias no final da fase de ejeo sistlica (isto ,

    o sangue flui em direo aorta, e no em direo aos capilares miocrdicos). A reduzida presso

    lateral na aorta estenosada sem dvida um importante fator causador dessa reverso do fluxo

    sanguneo coronariano. Uma caracterstica importante que agrava essa condio que a demanda

    do msculo cardaco por oxignio est aumentada. Portanto, a queda pronunciada da presso lateral

    durante a ejeo cardaca pode contribuir para a tendncia de os pacientes com estenose artica

    severa apresentarem angina pectoris (dor torcica anterior associada a um suprimento sanguneo

    inadequado para o msculo cardaco), que pode levar morte sbita.

    A turbulncia geralmente acompanhada por vibraes audveis. Quando existe fluxo

    turbulento dentro do sistema cardiovascular, ele pode ser detectado atravs de um estetoscpio,

    durante o exame fsico, como um murmrio. Os fatores enumerados acima, que predispem

    turbulncia, podem produzir murmrios ouvidos durante o exame fsico. Na anemia severa,

    murmrios cardacos funcionais (murmrios no causados por anormalidades estruturais) so

    frequentemente detectveis. A base fsica para tais murmrios reside (1) na reduzida viscosidade do

    sangue na anemia e (2) nas altas velocidades de fluxo associadas ao alto dbito cardaco que

    geralmente prevalecem em pacientes anmicos.

    Cogulos sanguneos, ou trombos, desenvolvem-se muito mais provavelmente no fluxo

    turbulento do que no laminar. Um dos problemas com o uso de valvas artificiais, no tratamento

    cirrgico da doena cardaca valvar, que os trombos podem ocorrer em associao com a prtese

    valvar. Os trombos podem ser desalojados e ocluir um vaso sanguneo crucial. Assim, importante

    projetar tais valvas para evitarem turbulncia.

    Em certos tipos de doena arterial, particularmente em pacientes com hipertenso, as

    camadas subendoteliais dos vasos tendem a degenerar-se localmente e pequenas regies do

    endotlio podem perder a sua sustentao normal. O arraste viscoso na parede arterial pode causar

    uma ruptura entre uma regio normal e uma regio de suporte anormal do revestimento endotelial.

    O sangue ento pode fluir no lmen do vaso atravs da fenda do endotlio e dissecar as vrias

  • camadas da artria. Tal leso chamada de aneurisma dissecante. Ele ocorre com maior frequncia

    nas pores proximais da aorta e extremamente srio. Uma das razes pela sua predileo por esse

    local a alta velocidade do fluxo sanguneo, com a associao de grande valores de diferena de

    presso na parede endotelial. O estresse de cisalhamento na parede do vaso tambm influencia

    muitas outras funes vasculares, tal como a permeabilidade das paredes vasculares a grandes

    molculas, a atividade biossinttica das clulas endoteliais, a integridade dos elementos no sangue e

    a coagulao do sangue. Um aumento no estresse de cisalhamento sobre a parede endotelial

    tambm um estmulo efetivo para a liberao de xido ntrico (NO) a partir de clulas endoteliais

    vasculares. O NO um potente vasodilatador.

    Uma elevao da razo do hematcrito de 45% para 70% (tal como a que ocorre na doena

    sangunea policitemia vera) aumenta a viscosidade aparente do sangue em mais de duas vezes. Essa

    alterao na viscosidade tende a exercer um efeito proporcional sobre a resistncia ao fluxo

    sanguneo. A alterao na resistncia vascular perifrica, que ocorre com um aumento da

    viscosidade sangunea, pode ser apreciada quando se verifica que, mesmo nos casos mais severos de

    hipertenso essencial, que o tipo mais comum de hipertenso, a resistncia vascular perifrica

    raramente se eleva por um fator maior que dois. Nesse tipo de hipertenso o aumento da resistncia

    vascular perifrica se d por vasoconstrio arterial.

    Captulo 19

    Em pessoas idosas, as curvas de presso-volume dos seus sistemas arteriais se deslocam

    para baixo e a inclinao delas diminui. Desse modo, para qualquer presso acima de 80mmHg, a

    complacncia diminui com a idade. Essa mudana na complacncia a manifestao do aumento da

    rigidez (arteriosclerose) do sistema, causado por progressivas mudanas nos contedos de colgeno

    e elastina das paredes arteriais.

    A presso de pulso arterial prov uma valiosa informao sobre o dbito sistlico de uma

    pessoa, desde que a complacncia arterial esteja essencialmente normal. Pacientes qe tm

    insuficincia cardaca congestiva severa, ou que tiveram uma hemorragia severa, tm

    provavelmente presso de pulso arterial muito baixa, porque seus dbitos sistlicos so

    anormalmente baixos. Contrariamente, indivduos com elevados dbitos sistlicos, como na

    regurgitao pela vlvula artica, tm, provavelmente, aumento na presso de pulso arterial.

    Similarmente, atletas em repouso tendem a ter dbitos sistlicos elevados porque suas frequncias

    cardacas so usualmente baixas. O tempo de enchimento ventricular prolongado nesses indivduos

    induz os ventrculos a bombearem um grande dbito sistlico, e consequentemente suas presses de

    pulso so altas.

    Na hipertenso crnica, uma condio caracterizada por uma elevao persistente de RPT, a

    curva Pa:Va encontra-se alterada. A mudana na inclinao que existe nessas curvas em relao ao

    padro revela que as artrias so menos complacentes nas presses arteriais altas que nas baixas.

    Qualquer aumento do volume arterial produzir uma elevao na presso (i.e., uma presso de pulso

    maior) quando as artrias so mais rgidas do que quando elas so mais complacentes.

    Consequentemente, o aumento na presso arterial sistlica (exceder o aumento na presso arterial

    diastlica. Desse modo, se as artrias se tornam substancialmente menos complacentes quando a

    presso arterial aumenta, um aumento na resistncia vascular perifrica elevar a presso sistlica

    mais do que a presso diastlica.

    Essas mudanas hipotticas na presso arterial assemelham-se muito quelas encontradas

  • em pacientes com hipertenso. A presso diastlica de fato elevada nesses indivduos, mas

    ordinariamente no mais que 10 a 40 mmHg acima do nvel mdio normal de 80 mmHg. No

    incomum, todavia, encontrar presso sistlica elevada de 50 a 100 mmHg acima do nvel mdio

    normal de 120 mmHg. A combinao da resistncia aumentada e complacncia arterial diminuda

    pode ser representada por um deslocamento do painel esquerdo superior para o direito inferior num

    grfico de presso por complacncia; isso , a presso mdia e a presso de pulso aumentariam

    significativamente. Esses resultados tambm coincidem com as mudanas das presses arteriais

    sistlica e diastlica previstas nos grficos alterados de volume por presso de pacientes

    hipertensos.

    Captulo 20

    O aneurisma artico sifiltico, que agora raro, e o aneurisma abdomina