Revista Cultural Novitas Nº5

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página – 1 Revista Cultural Novitas Nº 5 - Maio de 2010

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Revista Cultural da Editora Novitas.Neste número:Hyldon, Martha Medeiros, Letícia Losekann Coelho, Marcia Freddy, Caiocito, Maristela Bairros, David Nobrega e outros

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Revista Cultural

NovitasAno I Número V

Maio de 2010

Esta é uma publicação da Editora Novitas

em periodicidade bimestral, distribuída em forma

eletrônica e gratuita.

Todos os textos, imagens ou qualquer

outra forma de manifestação aqui publicados

foram devidamente solicitados a seus autores, que

autorizaram sua utilização por meio de mensagem

eletrônica.

Imagens não creditadas a outros são de

autoria de David Nobrega.

Editores:

Letícia Losekann Coelho

David Fordiani Nóbrega

Revisão de contos:

Carolina Machado

Isento de registro ISBN, conforme instrução

da Biblioteca Nacional.

Editorial Chegamos à 5ª edição de nossa Revista Cultural com recheio de gente grande: Martha Medeiros abriu uma brecha para aqui expor algumas de suas ideias e nos contar um pouco de seus projetos; Hyldon, ícone da MPB e trabalhando como nunca, lançando DVD e mesmo assim solícito em conversar conosco; contos, poesias, artigos, cinema, arte de forma ampla, geral e irrestrita, enfim. A cada edição conseguimos dar um passo adiante, seja em conteúdo ou em planejamento gráfico. Acredito que a cada dia que passa, as experiências passadas nos fazem trazer a vocês um veículo de informação, cultura e entretenimento cada vez melhor. Mesmo os erros, como na edição passada que troquei o nome de uma “colaboradora de olhos” (‘apelidei’ a Sandra M. Barros Soares de Sandra Melo - minhas desculpas!) nos forçam a cada dia ter mais cuidado e atenção. Como muitos sabem, esta Revista nasceu pura e simplesmente no prazer de reunir bons autores e o que pode-se notar agora é que realmente conseguimos nos inserir como divulgadores de cultura. Na edição passada os leitores online passaram do milhar (somando Scribd e em nosso site) e os downloads diretos (somente website) bateu a casa dos 300 acessos. Parece pouco, mas a partir do momento que você compara com outras iniciativas com mesmo foco, passamos perto de veteranos da rede. O projeto de fazer desta Revista uma publicação impressa ainda está no armário, pois precisamos de parceiros para tanto. Existiram já alguns contatos nesse sentido, mas nada ainda de concreto. Temos tempo e enquanto ficamos online vamos testando formatos. Espero que você leitor possa usufruir desta edição da mesma maneira que nos foi prazeroso editá-la.

Um abraço!

David Nóbrega

Foto da capa: Usina do Gasômetro - Porto Alegre

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HYLDON O casal que se paquera na noite engata uma conversa, sentados em um bar qualquer de uma cidade qualquer. No centro da mesa a cervejinha bem gelada é testemunha dos esforços dele em ser interessante, enquanto ela, fingindo ouvir atentamente, o observa. De vez em quando as mãos se tocam e aquele arrepio gostoso percorre seus corpos. As cadeiras antes dispostas frente a frente, lá pelas tantas cervejas e horas, agora encontram-se lado a lado e ele até arrisca, em um gesto modesto de carinho, colocar aquela mecha rebelde de cabelo que insiste em cair sobre os apaixonantes olhos que estão fixos nos dele. Em determinado momento a música ao fundo começa a ganhar corpo e da vitrola (do telão?, do disk-player?, do gravador k7?) vem o sinal:

“Na chuva, na rua, na fazenda, ou numa casinha de sapê-ê-ê...”

E acontece o primeiro beijo.

A historinha acima é ficcional, mas alguém duvida que já tenha acontecido?

“Na rua, na chuva, na fazenda”, há mais de 35 anos embala amores vindos ou perdidos, seja na voz de seu autor, o baiano radicado no Rio de Janeiro (Niterói, naqueles tempos) desde a década de 70, Hyldon de Souza Silva ou na de seus mais diferentes intérpretes, que vão de Tim Maia a Kid Abelha. De idade nova desde 17 de abril, Hyldon continua na ativa. Como ele mesmo comentou quando entramos em contato pelo twitter (É, ele tem uma conta. Sigam @hyldon) para a entrevista que vem a seguir, “o trabalho é o grande lance da vida e se o Oscar Niemeyer com 100 anos está produzindo, eu com 59 tenho muito que ralar”. E rala, assim como vários outros membros da elite de nossa música, que por falta de espaço na mídia acabam por virarem underground. Sorte a nossa que em tempos de internet, podemos encontrar e dar os devidos créditos àqueles que fizeram tanto por nossa MPB. A seguir Hyldon nos conta um pouco de si, do que andou fazendo e do que ainda está por vir.

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Editora Novitas: Durante anos o Hyldon conhecido por grandes composições e parcerias deu lugar a um outro profissional, com trabalho voltado para as crianças. O retorno do público foi bom? Hyldon: Fiz discos infantis de duas maneiras: da primeira eu trabalhei com personagens que eu inventava como “A Turminha do Bebê”. Eram as 24 horas de um bebê divididas em 10 músicas. Tinha música pra acordar, tomar banho, fazer ginástica, passear, até que finalmente, na hora de dormir, os pais participavam cantando, fazendo as atividades [do encarte]. Toda parte gráfica foi feita pela minha esposa Zoé Medina e alguns anos depois repetimos o projeto em desenhos animados. Foi o maior sucesso com pais, crianças e educadores. Tivemos uma vendagem por volta de 100.000 unidades, o que foi muito compensador. A segunda maneira foi com um personagem que já existia, o Seu Boneco da Escolinha do Prof Raimundo. Escrevi músicas, peças e viajamos o Brasil inteiro com a galera cantando o refrão que eu fiz: “Eô Eô ! O Boneco é o Terror”. Gosto muito de trabalhar com crianças. É pura intuição, é mais fácil enganar um adulto do que uma criança.Qualquer hora eu volto com um projeto desses, mas por enquanto sou voluntário há sete anos numa comunidade perto da minha casa no Recreio dos Bandeirantes e dou aula uma vez por semana pra meninos e meninas entre 7 e 14 anos. Eu adoro a todos eles e principalmente quando me chamam de professor.

EN: “Na rua, na chuva, na fazenda” poderia ser o teu sobrenome e em shows sempre tem a turminha do “toca raul”, no teu caso “toca casinha de sapé”. Isso incomoda ou te dá orgulho? Hyldon: Eu acho que são duas coisas bem diferentes. Até já pediram pra eu tocar Raul. Ele foi meu amigo mesmo e vizinho durante um bom período e o trabalho dele tá aí até hoje. O que acontece é que em shows em lugares underground tipo Circo Voador tem sempre um maluco que manda essa. O Zeca Baleiro – também amigo e parceiro – também já foi vítima desses malucos e fez então uma música que ficou show: “Toca Raul”. Então, no caso do Raul, não é uma música específica mas qualquer uma do repertório dele. Agora quanto a “Na rua, na chuva, na fazenda”

é uma música muito importante pra mim, não só pelo sucesso que ela fez e faz mas por que é fruto de uma história verdadeira, uma linda história de amor que aconteceu na minha adolescência e que por ser verdadeira as pessoas se identificam tanto. Tenho o maior orgulho de ter composto uma música que toca por aí há mais de 35 anos. EN: Vamos falar de black music. Há tempos não aparece um novo expoente. Onde foram parar os cabeças pensantes do vozeirão e do swing? Hyldon: Tem muita gente nova como Léo Maia, agalera do Hip Hop, do Funk, mas você não vai assistir na TV ou nos rádios, nem nos celurares. Vai ouvir muita musica américa que domina o mercado mundial inclusive o nosso. Não dá pra competir com todo aqueles clipes milionários e um marketing que já vem pronto, pago para detonar nos nossos

meios de comunicação. EN: A MPB mudou ou mudou quem ouve MPB? Hyldon: Quem ouve a MPB hoje em dia ou escuta os discos antigos em casa ou vai assistir os shows dos seus artistas, isso quando esse artista consegue montar um

show, pois pelo fato de você não estar na mídia, você não

consegue bons lugares pra tocar e se você tiver um pouquinho de discernimento não vai tocar em qualquer lugar. Aí vem o governo com essas leis de renúncia fiscal que só beneficiam quem está na mídia, então quem está mal continua mal, em casa, sem espaço pra trabalhar enquanto os que estão trabalhando em grandes casas de shows, rodeios e etc, são os beneficiados com esse dinheiro do Minc, que afinal é dinheiro do povo. Procure saber quem ganhou o último edital da Natura(1), por exemplo. Era melhor pegar essa grana e construir escolas e hospitais. EN: Quando conversamos por e-mail, estavas trabalhando em um novo DVD. Pode nos contar algo? Hyldon: Está em fase de fabricação. Estou muito feliz com o resultado, tem convidados, músicos de primeira, a nata do meu repertório e modéstia parte estou mostrando meu lado de músico que pouca gente conhece.

Hyldon e sua Filha MC Yasmin juntos no palco, clicados por Pedro

Gigante

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É um show gravado ao vivo ano passado, com muita qualidade tanto na captação de áudio e quanto no vídeo, dirigido pelo Robero de Oliveira, o mesmo que dirigiu o Chico Buarque naquelas famosas caixas. EN: O que se escuta nas rádios hoje reflete o gosto do público ou o investimento de gravadoras? Hyldon: As rádios estão mal das pernas pois as gravadoras ditavam as regras e pagavam pra isso. Hoje elas estão órfãs, as gravadoras estão sem verbas e vão precisar se ajustar aos novos tempos.

EN: Hyldon – o músico, produtor, compositor – já é verbete da MPB. O que ainda falta fazer? Hyldon: Fiz 59 anos dia 17 de abril e tenho me cuidado. Não bebo há 18 anos, jogo meu football pelo menos duas vezes por semana e pego uns ferros na academia. Mas o que me mantém animado é sempre um “novo trabalho”, um novo desafio, como um dia quem sabe terminar meu livro ou fazer um filme. EN: Você é um cara que, em entrevistas e atitudes, transparece simplicidade e opinião. Essa seriam as virtudes principais para quem faz arte? Hyldon: Acho que todo trabalho é importante, do maitre, do chef, do garçom até do cara que vai estacionar seu carro (citando um restaurante como exemplo). O trabalho do artista é como outro qualquer, só que com um pouco de glamour quando você está sob os holofotes. No banheiro, é todo mundo igual. Eu na vida real sou eu mesmo, no palco, no campo de football, em casa com a família, no estúdio e é a mesma coisa quando estou dando entrevista. Estou na expectativa do meu primeiro DVD. Tomara que o público tenha acesso e que gostem. Pretendo viajar com a mesma Banda que gravou comigo pra mostrar por esse Brasil a fora um pouco da nossa música. Para quem quer saber notícias minhas e de meus projetos, acessem meu site hyldon.com.br. Por falar em site acabamos de disponibilizar vários discos antigos que estavam fora de catálogo. Aproveitem que é grátis! Saúde e Salve a internet que nos proporcionou esse nosso encontro! Abraços, Hyldon ·

Para saber mais:

Hyldon - Site oficial - MySpace - TwitterMC Yasmin - MySpacePedro Gigante - LinkedIn

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Editora Novitas: Martha, tuas poesias e crônicas suscitam uma identificação com quem faz a leitura. Tu recebes manifestações dos leitores, comparando tuas histórias com as deles?

Martha Medeiros: Recebo inúmeros e-mails e muitos deles começam dizendo a mesma coisa: “Martha, parece que você lê meus pensamentos” ou “Parece que você adivinha o que se passa na minha vida”. Isso prova que quase todos nós temos a mesma história pra contar. Me sinto gratificada com essa sintonia. EN: Existe algum período que te faz ficar mais “poesia” e outros mais “crônica”?

Martha: Na minha intimidade, sim, às vezes estou mais poética, sensível, porém tenho prazos e compromissos a cumprir com jornais e revistas, e com isso não se brinca, a responsabilidade chama, e meu lado poético acaba cedendo espaço para a racionalidade da crônica - tem sido assim o tempo todo, profissionalmente. Não tenho tido tempo para me dedicar à poesia. Crônica e ficção tomaram conta. Mas não reclamo, tem sido uma fase igualmente

importante e produtiva. Os versos voltarão a me alcançar mais adiante.

EN: Conta um pouco de como foi ver teu livro “Divã” sendo adaptado para o cinema.

Martha: Antes do cinema teve o teatro, a peça ficou em cartaz três anos, viajou o Brasil inteiro, também com Lilia Cabral no papel principal. Até que o diretor José Alvarenga assistiu à peça e sentiu potencial para transformá-la em filme, e o Divã ganhou as telas e ainda mais projeção, literalmente. O filme é praticamente a peça filmada, porém ficou mais enriquecida, o elenco é maior, tem as locações, enfim, há mais recursos

técnicos. Eu já gostava da peça e gostei ainda mais do filme. Claro que sempre pinta um estranhamento ao assistir, o trabalho deixa de ser só meu para virar um trabalho de equipe, é um exercício de desapego. Mas curti bastante. EN: Teu poema “A morte devagar” foi atribuído há algum tempo atrás erroneamente a Pablo Neruda, tendo sido inclusive lido no Senado italiano como sendo dele, não teu. Tu consideras

Martha Medeiros Algo que é comum aos leitores da escritora gaúcha Martha Medeiros, é a identificação pessoal, seja com suas crônicas ou com suas poesias. Todos que a leem acabam, em algum momento, encontrando um “algo de seu”: um fato, uma ideia, um dito. Seus textos tem esse poder. Se faz clara em suas opiniões, escreve o que muitos gostariam de escrever e coloca o leitor para refletir. Poeta, cronista e ficcionistam, reside em Porto Alegre e escreve para os jornais Zero Hora e Globo. Atualiza quase que diariamente seu blog clicrbs.com.br/marthamedeiros. É autora de uma grande quantidade de livros, sendo que alguns tiveram destinações diferentes que as prateleiras e cabeceiras, sendo adaptados para teatro e mais recentemente com seu livro “Divã”, chegou às telas do cinema. Confira abaixo uma breve entrevista(*), amavelmente concedida em meio a inúmeros projetos aos quais Martha Medeiros se encontra envolvida atualmente:

“Hoje a divulgação de textos com autoria trocada é uma rotina, e não há como deter isso, não se conhece a fonte, onde o erro começou.”

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essa questão da troca de autoria um problema da internet ou isso sempre existiu, mas ninguém se dava conta?

Martha: Existia bem menos. Os textos não se propagavam com a velocidade e a facilidade que a rede proporciona. Hoje a divulgação de textos com autoria trocada é uma rotina, e não há como deter isso, não se conhece a fonte, onde o erro começou. Quando é apenas troca de autoria, me incomoda, mas sei que é fruto de desinformação, apenas. O que me enfurece é má-fé. Gente que pega um texto seu e enxerta no meio dele uma ideia que não é sua, e aí passa adiante sem que o leitor possa perceber a adulteração. Já fizeram propaganda política de um candidato no meio de um texto meu, e recentemente também adicionaram uma crítica ao Pedro Bial em meio a outro texto, e aí como você prova que aquilo é um enxerto, que não pertence ao texto original? É um estelionato autoral. EN: O Kindle foi lançado como a grande novidade em relação a literatura digital. Tu acreditas que esse meio de distribuição literária contribui para aumentar o número de leitores no Brasil?

Martha: Ainda é cedo pra dizer se aumentará o número de leitores, mas que essa nova tecnologia se firmará no mercado, não tenho dúvida, é uma evolução natural, ainda que eu não tenha nenhum interesse no livro eletrônico, sou muito conservadora nesse quesito, adoro livros impressos e não pretendo abandoná-los. EN: Tu escreveste, estes dias, sobre a peça de teatro A Arte de Escutar, texto de Carla Faour e direção de Henrique Tavares, que faz alusão aos dias atuais onde todos querem emitir sua opinião ( ser protagonistas) e poucos querem escutar ( ser coadjuvante). Na tua opinião, o que nos fez chegar a esse ponto, esse estilo de sociedade?

Martha: Acho que é pelo excesso de valorização do eu, esse individualismo exarcebado que faz com que as pessoas só levem a sério sua própria existência se existirem para os outros também: existir para si mesmo não conta mais. Isso vem também da overdose de informação que temos hoje. Há tanto espaço para ser preenchido na mídia

que já não são divulgados apenas fatos, mas muita fofoca também, e aí passamos a saber da intimidade de todos e achar que isso é relevante. E que os outros também precisam saber sobre nós. EN: Tu lês livros de autores iniciantes ou ainda desconhecidos para o mercado?

Martha: Sim, nem tanto por procurá-los, mas porque os recebo em casa: as editoras me mandam muito material. Claro que é impossível ler tudo que me chega, recebo livros todos os dias, estou soterrada. Faço muitas doações para bibliotecas, mas quando alguma resenha ou orelha me desperta a atenção, eu seleciono para leitura. EN: Quais são teus projetos atualmente?

Martha: Sigo escrevendo as crônicas para Zero Hora e o Globo, estou finalizando a revisão de um novo livro de ficção e selecionando crônicas para uma nova coletânea, e acompanhando duas peças de teatro baseadas em obras minhas: o “Doidas e Santas”, que acaba de estrear, com CissaGuimarães, e a peça “Tudo que eu queria te dizer”, que estreará em junho com Ana Beatriz Nogueira e Felipe Camargo. EN: Deixa alguma dica para os escritores iniciantes.

Martha: Paciência, humildade e dedicação. É preciso escrever muito e sempre. Ler muito e sempre também. Se puder fazer uma oficina de literatura, é um bom começo. E ter a consciência de que o mercado editorial não consegue absorver tanta gente boa que está por aí escrevendo. Infelizmente, há muitos talentos que não aparecem. Ah, e importantíssimo: mesmo que consiga editar um livro, é fundamental que se tenha uma outra profissão, uma outra fonte de sobrevivência. É preciso ser realista: poucos conseguem sobreviver apenas de literatura.

Boa sorte a todos!

*Entrevista concedida a nossa editora Letícia L Coelho, por e-mail.

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Inicio essa análise expressando a minha satisfação por existir filmes cuja proposta é 100% artística. Digo isso porque confirma a ideia a qual sempre defendi de que cinema (apesar do enorme crescimento da tal indústria) continua sendo arte. A propósito isso me remeteu a uma discussão que fazíamos na disciplina de História do Cinema III, onde levantávamos questões — “Será que o cinema alternativo (também considerado independente) é indústria?”, “Será que a indústria ‘engoliu’ essa opção do cinema para agradar os troianos já que os filmes de grande repercussão que ela mesma produz agrada somente os gregos?” — sobre o cinema alternativo mediante a indústria cinematográfica. Para mim em particular a própria indústria não “engoliu” essa opção de vez, contudo, existe a possibilidade se muitos produtores, diretores, roteiristas etc. não mudarem as suas visões perante o cinema. Hoje o tempo de produção de um roteiro e consequentemente de um filme foi reduzido de anos para meses e quem sabe semanas! Tudo se tornou vago, sem nenhum conteúdo e isso inclui o próprio cinema alternativo. Deixo claro que não se pode generalizar, mesmo porque ainda existem filmes de pouca ou quase nenhuma repercussão de onde é possível tirar algo, enriquecendo a sua mente, despertando a sua sensibilidade e humanidade.

Arca Russa (2002) é um tipo de filme que te suscita fortes admirações, talvez nunca sentidas antes. Geralmente ou quase sempre sentimos as mesmas sensações de um filme para o outro. Em Arca Russa (especificamente) de maneira indireta proporciona uma nova visão sobre as obras de artes e reflexões que elas podem criar.

A história se inicia com uma narrativa-off acompanhada por um fade in. Neste caso não sabemos fisicamente quem é a pessoa que está narrando o fato. Em seguida ocorre um corte seco. Um enorme e luxuoso ambiente com pessoas pertencentes à aristocracia do século XVII é- -nos apresentado. Dentre essa apresentação surge uma figura curiosa e questionadora que fala russo, porém, com um sotaque meio francês.

Este homem de vestimenta preta fala diretamente para a câmera como se a mesma fosse um personagem. Isso fica evidente por causa do uso da câmera subjetiva. Essa sensação não é por acaso, muito pelo contrário, é totalmente proposital, pois “esse personagem” é nada mais nada menos que o próprio diretor Sokurov. É natural que surja um certo questionamento sobre a proposta presente no filme. Se formos analisar o tempo (15 anos) que a idéia demorou a ser

Exemplo de Cinema AutoralA Arca Russa (2002)

Por Marcia Freddy

“Brincar com a linha do tempo é algo bastante interessante, mas a forma como isso é trabalhado que tornará um diferencial.”

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concluída saberemos que não se trata de um assunto qualquer. Com o uso da câmera subjetiva e do plano sequência começamos a fazer uma viagem de volta ao passado (mais precisamente três séculos de história russa) com o nosso mestre-de-cerimônias (um fantasma para ser precisa). Durante essa viagem passamos a entender, principalmente em relação ao a m b i e n t e , que não se trata de um local qualquer. O objetivo não é retratar como os aristocratas viviam (com suas riquezas, por exemplo) muito menos propagandear aquele ambiente apresentado inicialmente. Ambos ficam em segundo plano, pois a intenção é mostrar os importantes fatos históricos. A cada fato histórico percebemos uma variação de cores sobre o ambiente. Quando o fato está ligado ao poder nitidamente surgem cores quentes e intensas. Quando o mesmo está ligado ao fracasso as cores são opacas, sem brilho. Um detalhe que me impressionou bastante foi a naturalidade. Algumas vezes a sensação de encenação aparecia, todavia, de maneira passageira, o que não comprometia o andamento do filme. A maneira como a câmera caminha suavemente pelos diversos cantos do museu, mostrando as situações que estavam ocorrendo transmite uma certa credibilidade. Credibilidade não do real e sim do imaginário. Brincar com a linha do tempo é algo bastante interessante, mas a forma como isso é trabalhado

que tornará um diferencial. Na história o “diferente ajudou bastante”.Há momentos em que ocorre uma

transição temporal, ou seja, uma mudança repentina de tempo de uma sala para a outra: o século XVII presente em uma enquanto o século XXI estava presente em outra. Outro aspecto interessante no filme

é o plano detalhe usado quando o foco principal são as pinturas.

Passamos a conhecer seus minuciosos detalhes, como o próprio plano já sugere, ao mesmo tempo em que conhecemos a sua importância no contexto histórico. A sensação de mistério é sentida a todo instante, como se as próprias pinturas estivessem tentando passar uma mensagem para aqueles que a estão observando. Essa “suposta mensagem” não é sentida totalmente (o que explica a sensação de mistério), inclusive as próprias exalam um odor particular (como se estivessem vivas). À medida que o nosso guia vai entrando nas 35 salas, conhecemos personalidades importantes da história russa e que frequentavam aquele ambiente, como Catarina, a Grande, Pedro, o Grande, Catarina II, Nicolau e Alexandra. Tanto o baile como a última ceia dos Romanovs (que “eram encenadas”) representam simbolicamente os últimos dias do império. Das inúmeras reflexões que foram surgindo ao longo do filme, posso citar três que acredito que merecem destaques; (1°) sobre a arte feita na própria Rússia, (2°) as lembranças que as mesmas remetem para as pessoas e (3°) a época em que os czares estavam no poder. O curioso é que além de proporcionar tal reflexão, subliminarmente sentimos fortes críticas, como a falta de identidade da aristocracia e da própria arte russa (insistindo em dizer - indiretamente - que “os russos estão sempre a copiar”), o regime que gerou grandes artistas e o mal da opressão em relação ao povo. Uma crítica que ressalta contundentemente que a humanidade não aprendeu nada com seus erros e que estamos condenados a navegar para sempre... O filme como um todo é como a própria matéria e essência, onde a morte e a vida caminham juntas, assim como o passado e o presente.

Foto: Divulgação Marcia Freddy é estudante de Cinema e [email protected]

Foto: Divulgação

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Desde os tempos dos reinados e dos primórdios, a diversão vem do gueto. Os nobres sempre buscaram novas sensações de êxtase, de surpresa. Os bacanais e as grandes orgias não duram o dia inteiro, ninguém é de ferro. Através do humor dos bobos da corte, ou das batalhas dos gladiadores errantes, que arriscavam suas vidas nas arenas para entreter a nobreza, fazer entretenimento é algo complicado e de muito risco. Se a arte depende da dor e do caos, o entretenimento depende exclusivamente do tédio. O entretenimento tem compromisso apenas com a diversão, tomando a atenção e entretendo. O gueto criou o Jazz. A elite gostou e comprou. Comprou o Jazz e o gueto. O Jazz saiu do gueto, e o que sai do gueto perde o valor e se banaliza. É comercializado e vendido com uma indumentária adequada para todos os tamanhos e classes. O gueto se revolta contra a própria criação, volta e se recria. Inventa o Blues. Mas o Blues também é tomado de assalto pela elite, também vira produto. Não adianta chorar, o Blues e o Jazz agora fazem a elite sorrir. O Rock, o Funk e o Rap também seguiram esse caminho e essa lógica. Tudo vira produto rapidamente e

perde sua aura conceitual. No entanto é preciso sair dessa lógica, dessa estagnação. É preciso driblá-la. Coube a classe média criar um novo conceito. A atração pelo trash? Um gosto pelo estranho e exótico? A busca é pela aura própria, a busca continua sendo por uma ideologia. Uma identidade que o gueto vendeu.

Recebemos, então, essa herança. Um pouco de revolta, e um pouco fora de um contexto que legitimasse uma revolução cultural, a classe média passou a eleger seus representantes para tirá-la da monotonia. Tanto a plebe como a elite viraram alvos. A internet ajudou? Claro. A internet interferiu em tudo. Modificou tudo. Não se pode analisar nada sem o impacto cultural da internet. Mas vou me ater a isso e desprezar, aqui, a menção óbvia desse impacto.

O movimento do Bizarro Surgem nos anos 2000, ícones bizarros da nossa cultura. Como tem pouco material novo, e a criação de algo novo demanda um tempo, que a ansiedade e o tédio humano de hoje não suportam, porque não queremos e

A arte do guetoPor Caiocito

“Se a arte depende da dor e do caos, o entretenimento depende exclusivamente do tédio. O entretenimento tem compromisso apenas com a diversão, tomando a atenção e entretendo.”

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não podemos esperar. O desejo pelo diferente aumenta. Com isso a extravagância, a paródia, a trollagem e o plágio passaram a dividir as novas criações. Surgem os anônimos famosos e webcelebridades. O Lucas Brito, o Lucas Celebridade é uma delas. Com uma aparência longe da aceitável, pousa em seu blog de shortinho e faz ensaios eróticos caseiros. Faz pela extravagância? Sim. Mas por que ele é consumido? Porque Le é o antierótico. Porque o erotismo precisa entreter mais do que ser real. A realidade é lenta e cansativa às nossas retinas.

A paródia invertida Salvador Dali não precisaria pintar um bigode em Monalisa. Nem Duchamp precisaria desenhá-la caída no chão de pernas abertas. Não precisamos mais da paródia genuína. Basta colocar o Lucas Celebridade num ensaio fotográfico e está consumada a paródia invertida. O que dizer dos artistas que nascem com um gênero e vendem esse conceito para gente? Precisamos desenhar um bigodinho neles. Precisamos violentar a sua imagem. Na falta de direção, na impaciência de ruminar o porvir, vamos pegar o que já está pronto e entrar na moda da intervenção. Não como fizeram Andy Warhol ou Basquiat, a intervenção agora é moral. Quem não se lembra dos programas do Sergio Mallandro, com seu quadro “A Porta dos Desesperados”, que assustava até os adultos. Hoje o Mallandro é cult. É ídolo trash da juventude. O que dizer dos artistas que nascem com um gênero e vendem esse conceito para gente? Precisamos parodiá-los também. E ao contrário de Falcão e Tiririca que já nascerão bizarros, ou do Roberto Carlos que está num processo de transformação. Recriamos o Sidney Magal e Reginaldo Rossi. Então dissemos a esses artistas: “olha, vocês são bregas, bizarros e por isso tem que se apresentar assim. Não nos engane e nem

se enganem mais”. E assim, Sergio Mallandro, Reginaldo Rossi e Sidney Magal vão ao palco para nos fazer rir, para nos entreter e divertir.

O renascimento da tragédia: Troll Eu defendo muito o conceito que a volta do grupo de pagode Molejo tinha que vir com essa roupagem. Se para alguns o Molejo é o pagode tosco que não sairá do gueto, para outros eles já são cults e representam o que os artistas da paródia invertida, do parágrafo acima, são. Sem querer entrar no gosto musical. Queremos apenas nos divertir. Eu colocaria o Chico Buarque na prateleira de “música para pegar mulher”, por exemplo. Eu gosto do Molejo, eles são engraçados e eu até iria num show deles caso todos entendessem a piada. Mas eles continuaram no gueto. Não tiveram a sacada de fazer parte desse movimento bizarro. E fazerem espetáculos para uma platéia cult pagar caro e se divertir. Conceito explicado, agora todos podemos rir e ser feliz com o Molejão sem sermos agredidos por um fã do gueto, nem por um fã de Chico Buarque. A paródia invertida nada mais é que uma provocação. Precisamos nos entreter. Matar alguns mitos entediantes que permeiam nossa cultura. E se isso não te diverte, tem show do Roberto Carlos todo final de ano. Tem carnaval, futebol e azara zara zara zaração.

Webescritor e webfilósofo, mais conhecido como Caiocito. Está quase completando alguma coisa, sendo este quase, mínimo. Escreve para os sites mondobhz.com.br e opperaa.com e em seu blog dublesdepoeta.blogspot.com

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@palavratomica E tudo continua mais ou menos igual no mundo da superfície. Este mundo superficial. @r_glima Eu posso ter mil necessidades e no entanto somente uma razão para não fazê-las.@EuHoje Brasileiros! “Politicamente correto”, ou é ironia, ou é antítese@vanluchi O Silêncio foi uma das coisas mais importantes e reveladoras que eu aprendi comigo.@scriptusest Entre Deus e o Diabo a faca poética

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Anedotário

Samuel Vigiano

O anedotário humano, trigueiro e solitárioInocente, matuto. Um pequeno otário.De menino vadio, salientePara mancebo da palavra delinqüenteDe passos incertos, perversosConcerto de anedotas, fala rouca.Um “passo”, por não saber a respostaPlanos reversosBarro anforal, mãos deleitadas.Do toque cálido ao frio argilosoForma rotunda, daquelas mãos oriundas.Um sorriso contido ao segurar o receptáculo barrosoUm presente vazio que aguarda ser preenchido.Nas mãos do menino, um desejo mesquinho.Anedotas.

poéticas

Recolhimento

Isabel Jesus

Recolho-me e adormeço sob um tapete de estrelasembrulhada nas saudades que sinto de mim.Sonho com o meu eu perdido em ti. Roubaste-mede mim! Levaste-me para tua vida,os meus olhos nos teus,as minhas mãos nas tuas,o meu íntimo no teu.Este meu querer de te querer e não me quereresatirou-me para um vazio letal, voraz e permanente.Agora só sobra a vontade de voltar a mim, um dia.

não [ou] virá do céu [?]

Denison Mendes

Beber um chá no viaduto e depois vomitar em espasmos na cabeça dos jardins. No porongo dos pavões, dilúvios e orgasmos das distâncias de deus. Uma garoa que inunda a poça de nuvens cor de nada. Um féretro caminha sobre as águas mortas do rio, que transborda da menina-mãe da cidade, sem pai. Filhos-da-puta! Dizem ao pássaro gelado e cinza, abutre das circunstâncias solenes, que descasca a maçã podre à besta-serpente que gargalha e baba no odre que carrega nas mãos. Olhos de verde fauno nas fressuras do fausto caído, demônio imberbe das fissuras dos muros sem gentileza nem poesia.

Desliza sua voz

Francinne Amarante

Meu som mais apuradoGenuíno e misturadoFeito as cores e seus tons Que sua voz ecoe no sertão,Nos centros urbanosNa periferia e entre letrados Mas venha de dentroDa sua cicatriz que sanaMentiras, falsidades e tudo vira poesia Que transforma dinheiro em papelE pessoas em generosidadeCante Amor! Com toda sua verdade.

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Guerra

Camila Passatuto

Olhar tristeDeixa a criança no canto.Olhei triste,Era eu ali sentada.Não arme mais torturas.Qual será o objetivo da guerra?Mas não me deixe guerrear,Deixe a criança de canto, por favor.E as almas correm,Eu vi alguém no ínfimo do ser.Mas não me deixe aqui, não.Ando sentindo a dor deles, comum. Não arme mais torturas.Por mais ou por menosEu vi alguém no ínfimo do ser.Eu não quis e não queroEu não quero guerrearSaiam daqui tiranos de mimDe mim só olhares tristes.Triste era eu, sentada ali.Eu não quis e não queroE as almas correm...De mimSó de mim...Sentada ali.

Liberdade

Rogério Martins Simões

Quando as manhãs, as tardes, e as noites escondiam, desesperados esperámos, não chegavas, e de ti nada sabíamos...

Foram tão longas as noites, do tamanho dos dias, que nos esquecemos do sol na esperança que vinhas.

Foi por ti que chamámos, e de luto, lutando, morreríamos. Foi por ti que gritaram, aos que antes da morte a morte pediram...

E depois de tanto tempo, em que o tempo silenciado e o desânimo quase vencia, tu vieste de novo, com mais idade, aos olhos do dia.

Nossos olhos abertos quase cegos ficaram, quando as portas cerradas e os cimentos caíram...

Era tarde e tardaste quando finalmente chegaste na mais linda primavera que me recordo que vira...

É por ti que de felicidade te chamo sem ira... LIBERDADE!

Amor Distraído

Georgia Stella Você lamenta o dia nubladoE nem notaQuando estou na sua órbitaMe visto de solPra iluminar seu diaMe visto de luaPra enfeitar sua noiteMe visto de estrelaPra iluminar vocêE tudo isso teve inícioQuando eu...Me iluminei no teu abraço.

Significante (in)Sabedoria

Carolina Machado

Se ela soubesse o desentrelaçar das mãosOs desvios do olharOs abandonos dos braçosO começar dos suspiros

Se ela imaginasseOs cansaços e os sonosQue se viriam com o tempoTornar-se-iam desespero

Se ela soubesseQue a dúvida apaziguaTorna felizes os descrentesE deixa morrerem à mínguaOs sobreviventes.

Se ela soubesseQue ele se fez de contenteE que por não ter argumentoNão soube digerirO que a ignorância tem de melhor

Se ela imaginasseQue a vida é um exageroQue se trabalha o ano inteiroNão se tem o que se querNão se ama o que se temNão se realiza o que se sonha

Se ela soubesseQue o humano não tem preçoQue a escada é sempre descidaA porta é sempre saídaE nada se prende a nós

Se ela imaginasseQue a despedida é sempre o inícioO vício é a fita do avessoQue a cabeça encosta no travesseiroE dormir é o suicídio

Se ela soubesseSe ela imaginasseSe ela vivesseSe ela sonhasseTalvez ela não mais dormisse.

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Letícia Losekann Coelho

No latifúndio dos olhos…Aplico auto – lei – do – silêncioMas não esqueço.A boca grita o café,mumifico e desmaio em curva lenta…Eu quero e apresso.O enredo na língua afiada…Resguardo a pergunta no vácuoVolto ao começo.O grito estagnado no céua palavra descontrolada em ré…Juro, que emudeço.

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Felicidade Ritmada

Suzana Martins

Estou leve, sou leve, flutuando em mares, nadando em nuvens, correndo em alegrias... Eu sou feita de amor, sonhos, vida, planos, desejos e felicidade... Vida que é música, que é poesia, que é amor, que é romance, que é paixão, que traz sonhos, que é pura festa e que canta sem parar... Rabisco desejos em papéis amassados, em folhas rasgadas, inspirada nas minhas “platonices” que me fazem respirar, que me fazem compor, que arrancam sorrisos perfeitos... E a brisa leve toca meu rosto delicadamente trazendo para perto de mim o seu aroma suave, que aos poucos eu vou decifrando e te sentindo... Segredos escondidos, que são meus que são seus, amores reais num mundo imaginário cheio de sorrisos e de uma felicidade incontrolável! “Venha pra cá, venha comigo, a hora é pra já, Não é Proibido! Vou te contar: tá divertido, Pode Chegar!” É inspiração completa que transborda felicidade, é vontade de viver e de sorrir sempre, deixando a canção embalar todos os momentos e transformando tudo em festa... E me sinto livre como um pássaro, é como saltar de pára-quedas, olhar o mundo lá do alto e apenas: SENTIR e VIVER!!! “E toda gente tá convidado é pra dançar, toda tristeza deixa lá fora, chega pra cá!!” Isso é felicidade plena e cantarolada em músicas ritmadas e dançadas por mim... E toda alegria e leveza desse momento se unem a grande festa da vida, que eu canto, que eu danço, que eu transmito, que você sente, que você vive e que eu vivo... É vida, é alegria, é festa, é jujuba, é confete! São momentos, são sentimentos, felizes e leves, cheios de amor, vida, música e poesia!!!

Divagando

Lu Martins

Não sei se sinto saudades do que fui ou do que não fui.Porque se fui, significa que não sou mais.E se não fui (falhei), como sê-lo?

Nada volta. Em mão única, a vida segue em frente.

Por isso, cerro os olhos com força, tento dispersar o pensamento,varrer de vez essa reflexão de momentoe voltar à lucidez das ideias.

Nada volta. Em mão única, a vida segue em frente.

Melancolírio

Marcelo Soriano Melancolírio-me.E as lágrimas rolam,verdadeiramenteprofissionais,como se eu fosse um crocodilo shakespeareano.

Tarde

Nei Duclós

Lá longe no horizontenasce a força da vogal sem nomeVoz do sobrenatural encontroentre Deus e seu espelho

Imagem torta de espontâneo corpoque interrompe o vôo permanenteSombra não revelada pelo olhocolhida como flor para si mesmo

Surpresa do Criador quando se cansada infinita paz de estar atentoLá nasço eu na minha fonteDe janela aberta e rádio aceso

Poema do livro No Mar, Veremos (Ed. Globo, 2001)

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Promoção

David Nobrega

Corta, despedaça, mói. Bifes mais grossos para Dona Maria, costelas mais gordas para o infartado Joaquim e qualquer carne de segunda para a Zilá, cachorrinha de Dona Albertina. Genésio conhece todos os gostos de todos os fregueses que atravessam as portas do Açougue Boi Bravo. Afinal, já fazem mais de 35 anos que essas portas abrem exatamente às 5:30 e se fecham somente às 18:00, de segunda a segunda. Durante esse tempo todo só fechou as portas em horário comercial uma vez, quando sua filha se casou. A filha já voltou a morar com ele, assim o dia de féria perdida não valeu grande coisa. O homem que ela havia escolhido para marido era trabalhador e honesto, embora - sabe-se lá o motivo - fosse vegetariano. Um açougueiro com parente vegetariano chega a ser uma afronta, mas pensando bem, ao menos Genésio havia economizado um tanto com o rapaz. Contudo, essa dieta é que devia lhe dar aquela cara de doente esfomeado e por isso nunca lhe tenha dado um neto. Marina, Genésio sabia, era muito parecida com a mãe: voluntariosa e fogosa. Desde pequena havia dado trabalho com os garotos que moravam por perto e Genésio nem podia se lembrar quantas vezes a mãe lhe dera corretivos para “aprender a ser moça direita”. Assim, quando ela anunciou que se casaria com o fulaninho comedor de alface, para Genésio e sua esposa foi um alívio. Claro que eles não contavam que ela lhe seria infiel ao ponto de o pobre rapaz necessitar de cuidado até para passar por portas para não enroscar os chifres. Assim, quando sua filha não podia mais esconder que era o que era, uma puta sem um pingo de vergonha na cara, o marido a abandonou. E ela, feliz como se fosse a coisa mais natural do mundo, voltou para a casa dos pais.

Essa bagunça toda aconteceu há quase dois anos. Marta, sua mulher amada, morreu apenas três meses depois de sua filha retornar ao lar e ele nunca esquecerá esse dia. Genésio chegou em casa como sempre às 18:05, pois o açougue é exatamente ao lado de sua casa. Da cozinha podia-se ouvir o som de louça quebrada e gritos. A cena que tem gravada na mente é a de sua filha de pé, com dedo apontado para sua mãe que, sentada, cobria o rosto com as mãos enquanto chorava. “Você não tem direito de me dizer nada, velha vadia!”, gritava ela. “Se existe uma vagabunda aqui, é você. Por que não conta a seu marido?”. Aí perceberam que Genésio estava em casa, parado à porta. Ele entrou, sentou-se à mesa, encarando as duas que de súbito ficaram mudas, com os rostos como que petrificados. “Contar-me o quê?”, quis saber ele. “Nada demais. Sua filha que está muito nervosa”, respondeu Marta. Ao relembrar esses momentos, a única certeza que tem é que o que provocou a morte de Marta foi aquele sorriso cínico, maldoso, de sua filha. Era como se todo o prazer de uma alma ruim estivesse presente naquele esgar maldito! “Não tem nada para contar ao PAPAI, mamãe?”, disse Marta, que continuava de pé no mesmo lugar. “Papai, vamos brincar de adivinhação?”. Marta ficou de pé e esbofeteou-lhe o rosto, mas Marina, soltando uma gargalhada que ainda ecoa por aquelas paredes, encostou-se no balcão da pia e disparou: “Não, velho ensebado. Não vamos

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brincar. Vou dizer na sua cara: eu sou filha de outro. Ou de outros! Vê, velho broxa? Ser a puta da rua não é privilégio meu!”, e continuou rindo, enquanto Marta se atirou ao pescoço de Genésio, pedindo perdão, pois só acontecera algumas vezes, que ela era muito jovem, que todos os homens a haviam seduzido... Que ela o amava. Ele desvencilhou-se de seus braços e olhou para as duas pessoas que mais amou na vida. Estava totalmente calmo. Parecia que existiam chumaços de algodão em seus ouvidos e o amortecimento em seu corpo devia ser a pressão alta de novo. Suspirou, levantou-se da cadeira onde até aquele momento tinha estado sentado e saiu de casa, dizendo apenas que precisava pensar. Retornou apenas 15 minutos depois, com a faca de bife que tinha acabado de afiar mais uma vez, como fazia todos os dias há mais de 35 anos. Com apenas um golpe bem dado quase separara a cabeça de Marta de seu corpo. Mariana tentara fugir, mas, apesar de velho, ensebado e broxa, Genésio era acostumado ao trabalho pesado de carregar quartos e mais quartos de boi nas costas. E com sua força derrubou aquela que tinha como filha-problema até minutos atrás. O fio da faca retalhou seu corpo em pedaços pequenos, assim como também o de Marta depois. Durante quase uma semana Genésio havia sido caridoso com seus clientes. O meio quilo muitas vezes chegou perto do quilo completo, principalmente na carne moída e nas linguiças que ali fabricava. A todos contou que Marta e Marina haviam ido passar as férias na chácara que tinham no interior e, quando se passaram mais 20 dias, deu parte à polícia do desaparecimento de ambas. Foram feitas investigações que acabaram dando em nada. Elas simplesmente passaram a fazer parte do rol de pessoas que nunca serão encontradas.

David Nóbrega é autor e editor da Editora Novitas. “Promoção” é conto integrante de seu mais novo livro, “Humanidades, conto a conto”, em fase final de edição.

Do amor próprio e as ausências

Déa Paulino

Paixão é o pesadelo profundo de inúmeras noites infinitas. Maldosa, a paixão fere até que o amor, desperto, mande-a embora pela porta da frente, aos pontapés. Agarrei-me àquele homem como o doente que se sabe terminal agarra a vida. Com força, como quem toca a última, única e mais importante oportunidade, segurei-o entre as duas mãos. Não havia frestas por onde nós, ainda caudalosos, escorrêssemos; e nem arestas que não mantivéssemos aparadas como um roseiral. Não havia espaço entre meus dedos pelos quais ele pudesse escapar, ou vazio que, insaciáveis, não preenchêssemos. Sem barreiras que impedissem o curso do rio límpido em que nos transformamos, fluíamos harmoniosamente. Éramos água e oxigênio. Necessidade constante e chama incandescente. Éramos fogos de artifício a espocar. Se foi ele quem amarrou meus punhos e tornozelos e manteve-me amordaçada depois das quase cinco horas que se passaram entre o primeiro sorriso e a cama, não o fez sozinho. Fui eu a executora do crime quando, submissa, entreguei-me sem ressalvas. Aconteceu como se cada um dos nós, agora embebidos em sangue, tivessem sido dados pelas mãos que, atadas, não podem alcançá-los.Aprendi a suportar a ausência e distraio-me com o sol que, generoso, há três dias atravessa a janela por onde às vezes entram respingos da chuva que cai no final das tardes. Não conto as luas porque adormeço enquanto disfarço o frio e a fome que, insistentes, devoram o corpo que já não sou. Mantenho os olhos abertos e atentos ao espaço entre o chão e a porta fechada tão próxima do meu rosto. Não há movimento ou luz nos outros cômodos da casa. Compartilhamos todos o mesmo vazio que transforma os poucos metros quadrados em uma imensidão. Sinto-me traída pelos dedos das mãos que se tornaram incapazes de executar qualquer movimento. Traída pelos braços que, gelados, sucumbem à ausência de vida no sangue espesso que atravessa os ferimentos indolores. Não sei de onde virão as forças com as quais agarrarei meu homem quando ouvir os passos firmes anunciando sua chegada. Tenho as pernas estendidas e as mãos quase mortas num corpo que não me pertence. Sobrevivo porque tenho também uma certeza: ele vai voltar.

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A gente não sabia de nada

Tatiana Cavalcanti

A gente não sabia nada da gente. Ele não sabia se eu era loira, ruiva ou apática por ter escolhido não viver. Eu não sabia se ele era gordo, magro ou médio. Ou gostoso. Ou com aquele ombro fazendo, com aquela asa, a minha dupla de criação preferida. Eu não sabia se ele tinha pintas ou verrugas. Ele não sabia quem era minha mãe, eu nunca soube do pai dele. Ele provavelmente não sabia meu sobrenome e eu nunca soube onde ele se formou. Nem em que se formou. Mas alguma coisa na gente levava a gente para a gente com uma força que só a gravidade para explicar. Como de meu corpo fosse uma geladeira e o corpo dele fosse um ímã em formato de coração para ficar bem grudado, bem impregnado. Eu não tive tempo de perguntar, mas ele conseguiu dizer que era filho único, mas ele certamente não fazia ideia de que eu tinha irmão. E bravo. Ele tinha um óculos Ray Ban espelhado e, enquanto ele falava, eu me via tão de perna bamba e coração acelerado que dava vontade de rir de nervoso. Eu tinha um óculos preto grande que era para esconder, além das olheiras, todas as verdades que brotavam pelo meu par de olhos escuros. Ele não sabia que eu tinha todas as minhas tatuagens porque, ao invés de a gente rolar na grama arfando em nome de nada, a gente preferiu não fazer nada. E, apesar de não termos descido ladeira abaixo numa pegação geral, uma tarde ele me despiu quando passou o cotovelo na minha costela. Ele não sabia nada da minha costela e nem eu do cotovelo dele. Porque aquilo era motivo de percepção zero. Mas não. Meu corpo congelou naquilo que era só nosso. Era o nosso arrepio. Com aquele som mais rápido que a velocidade da luz, mas que era o suficiente para ele morrer de feliz. Era só eu perguntar qualquer bosta idiota sobre a vida dele e ele sorria de um jeito feliz. Porque ele falava que eu queria atenção, mas a solidão dele era tão absurda quanto a minha impaciência. A gente não sabia nada de gente. Ele passava no corredor, sempre com mil coisas nos braços curtos e pouco malhados. E eu estava com o estilo labrador mode on a toda. A gente fazia alguns projetos na mesma equipe. E era nisso que nossa relação se sustentava: projetos dentro do mesmo núcleo de trabalho. Eu nunca soube se ele comia comida japonesa. E ele nunca se interessou em saber o nome dos meus cachorros. A gente não sabia nada da gente. A gente não tinha hora e a gente se esperava sem qualquer expectativa, porque tudo que era o real dele era a

minha fantasia escondida entre minha fronha e meu cérebro. A gente não sabia absolutamente nada da gente. E só por isso que era tão bom.

Dia das mães

André Luiz Silva

Acordou mais cedo do que o de costume, tinha muitas coisas a fazer, afinal, por que no dias das mães justamente ela, a mãe, trabalha mais ainda? A pia tava entrincheirada de potes, travessas e tudo mais que serviria como “arma”, foi ao banheiro, escovou seus dentes, desamassou seu rosto, tirou os grampos do cabelo e tomou seu banho; pensou em voltar para a cama, pensamento logo abstraído, o assado e tudo mais a esperavam, lembrando-a que hoje veria todos seus rebentos e suas noras, que são descartáveis, porque tiraram seus meninos de suas asas, nenhuma delas cozinhava bem, teria que caprichar pra engordar um pouco seus bebês. Seus bebês eram três homens feitos, o mais velho tinha 35, o do meio 28 e o caçula 25; todos bem encaminhados na vida e casados, o caçula se casou faz um ano e seu quarto continua como ele deixou (como o quarto de todos os outros continuam). A campainha toca tirando-a de seu mundo-alimentar-paralelo: – Feliz dia das mães, gostosa! – Diz seu filho mais velho, com umas caixas de presente nas mãos. – Meu filho, ohhh brigada não precisava me dar presentes, sabe que sua presença é o meu maior presente. – E eu, minha sogra, não conto não? – Indagou sua nora, fingindo felicidade por estar ali. – Claro que conta, querida, você é a mulher do meu filho, é da família também. – Disse, quase escondendo a falsidade na frase. – Mãe, o que você tá fazendo hoje? Tem lasanha? A senhora sabe que eu amo sua lasanha – diz, atravessando a cozinha e mexendo nos potes –, até hoje a Marília não conseguiu fazer uma lasanha igual a sua, mãe! – Eu disse a ela como fazia, só não disse qual é o tempero-segredo. – Diz a mãe com um ar de vitória, como se estivesse numa guerra com sua nora. – A senhora parece meio abatida, não sei ao certo, acho que tem um cabelo branco nascendo aí. – Marília dispara um tiro de misericórdia em sua sogra. – Sentem-se os dois aí, Marília querida, venha me ajudar, não! Melhor não, fique aí com meu filho; prefiro preparar tudo sozinha. Voltou para a cozinha vitoriosa da guerra de alfinetadas entre nora e sogra, seus planos mudaram,

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agora faria uma lasanha também. Meia hora depois do acontecido, o telefone toca: – Alô? – Alô, mãe, sou eu, mãe, o Henrique. Liguei pra te desejar feliz dia das mães, tive um problema aqui, terei de ficar mais tempo viajando do que eu pensava, cê me perdoa? – Claro, filho, eu entendo, fica bem aí, você tá se agasalhando? Tomando cuidado na rua, sabe como as ruas andam perigosas, tem que se precaver, não tá dirigindo depois de beber não, né? Pelo amor de Deus, não me faça essa besteira, eu preferia que não bebesse, mas você puxou seu pai e adora um copo, então, se beber não dirige, volta de táxi, escutou menino!? – Podexá, dona Maria! Eu sei me cuidar, bom, vou desligar, ok? Feliz dia das Mães!! – E desligou o telefone. “Dois já deram sinal de vida, agora só falta meu caçula”. Voltando à cozinha, foi diminuindo a proporção de potes e derivados que lá havia e a comida foi ficando pronta, os preparativos sendo feitos, mesa posta, vinho comprado, lasanha pronta, arroz pronto, tudo pronto, mas, só faltava uma coisa, o caçula. A campainha toca e ela vai voando atender. – Meu filho... – Infelizmente não, mas se eu fosse me sentiria honrado. – Oi, querido, não é meu filho de sangue, mas é de coração. Você sabe disso, entre. Cadê o Júlio? – Não chegou ainda. – Não?? – Não, e eu estou preocupada, ele não é de se atrasar. – Disse a progenitora preocupada. – Ahhhh, tia Maria, ele chega logo, logo. As horas iam passando e nada de ele chegar, não se faz isso com uma mãe no dia das mães. A fome dos outros presentes aumentava e nada do caçula chegar. Até que o telefone toca: – Alô, mãe? – Diz seu caçula com voz de preocupação. – Fala, filho, onde você tá, por que tá demorando, aconteceu alguma coisa, você se esqueceu da sua mãe, eu tô preocupada, vem logo pra cá. – Calma, dona Maria – diz soltando uma gargalhada –, eu já cheguei, é só você abrir a porta.Ela voa até a porta mais rápido que foguete da NASA e abre-a se deparando com seu caçula rindo de orelha a orelha com uma caixa nas mãos. – É pra você, abre, você vai gostar. Ela abre a caixa e, no meio de panos, encontra um sapatinho de crochê. – Feliz dia das mães, vovó.

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Editora Novitas

Próximos Lançamentos

∆ “Humanidades, conto a conto” David Nóbrega

∆ “Numérica” Letícia Losekann Coelho

∆ “O Aniversário de Bruxameixa” Madalena Barranco

∆ “Meleca, a Bruxinha Sapeca” Marcos de Andrade

∆ “15 Poetas Para Todas as Crianças” Coletânea Infantil

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Conhecendo a história

O mangá é um gênero da literatura japonesa e é caracterizado por seus quadrinhos tendo suas raízes no período Nara (século VIII d.C.), com o aparecimento dos primeiros rolos de pinturas japonesas: os emakimono. Essas formas de expressão associavam pinturas e textos que juntos contavam uma história à medida que eram desenrolados. O primeiro desses emakimono, o Ingá Kyô, é a cópia de uma obra chinesa e separa nitidamente o texto da pintura. A partir da metade do século XII, surgem os primeiros emakimono com estilo japonês. O Genji Monogatari Emaki é um exemplar de emakimono mais antigo conservado, sendo preservado até hoje no templo de Kozangi em Kyoto. Uma das características desses últimos emakimonos estudados é a predominância de textos explicativos após longas cenas de pintura e essa prevalência da imagem assegurando sozinha a narração é hoje uma das características mais importantes dos mangás.

Estilos

Para os japoneses as histórias em quadrinhos são leituras comuns de uma faixa etária bem mais abrangente do que a infanto-juvenil. A sociedade japonesa é ávida por leitura e em toda parte vê-se desde adultos até crianças lendo as revistas. Portanto, o público-consumidor é muito extenso, com tiragens na casa dos milhões e o desenvolvimento de vários estilos para agradar a todos os gostos. Classificação: Shounen (para meninos): tratam normalmente de histórias de ação, amizade e aventura. Shoujo (para meninas): têm como característica marcante as sensações e sensibilidade da personagem e do meio, envolvendo romances. Gekigá: é uma corrente mais realista voltada ao público adulto (não necessariamente são pornográficos ou eróticos). Seinen: voltados para homens jovens. Josei: voltado para mulheres jovens. Hentai: Conteúdo erótico ou pornográfico. Yuri: São histórias que abordam a relação homossexual feminina.

Yaoi: trata da relação amorosa entre dois homens. (Vale lembrar que nas histórias do estilo yuri e yaoi não possuem necessariamente cenas de sexo explícito.)

Formato

A ordem de leitura de um mangá japonês é a inversa da ocidental, ou seja, inicia-se da capa do livro com a brochura à sua direita (correspondendo a contracapa ocidental), sendo a leitura das páginas feita da direita para a esquerda. Alguns mangás publicados fora do Japão possuem a configuração habitual do Ocidente. Além disso, o conteúdo é impresso em preto-e-branco, contendo esporadicamente algumas páginas coloridas, geralmente no início dos capítulos, e em papel reciclado tornando-o barato e acessível a qualquer pessoa.

No Brasil

Embora a primeira associação relacionada a mangá, a Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações, tenha sido criada em 3 de fevereiro de 1984, o “boom” dos mangás no Brasil aconteceu por volta de dezembro de 2000, com o lançamento dos títulos Samurai X, Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco pelas editoras JBC e a Conrad (antiga Editora Sampa). Esses, porém, não foram os primeiros a chegar ao território brasileiro. Alguns clássicos foram publicados nos anos 80 e começo dos anos 90 sem tanto destaque, como Lobo Solitário em 1988 pela Editora Cedibra; Akira, pela Editora Globo; Crying Freeman, pela Editora Sampa; A Lenda de Kamui e Mai - Garota Sensitiva, pela Editora Abril; Cobra, Baoh e Escola de Ninjas pela Dealer. Porém, a publicação de vários títulos foi interrompida e o público brasileiro ficou sem os mangás traduzidos por vários anos. A popularidade do estilo japonês de desenhar é marcante, também pela grande quantidade de japoneses e descendentes residentes no país. Já na década de 1960, alguns autores descendentes de japoneses, como Júlio Shimamoto, Minami Keizi e Claudio Seto, começaram a utilizar influências gráficas, narrativas ou temáticas de mangá em seus trabalhos. O termo mangá não era utilizado, mas a influência em algumas histórias tornou-se óbvia. Alguns trabalhos também foram feitos nos anos 80, como o Robô Gigante, de Watson Portela e Drácula, de Ataíde Braz e Neide Harue. Apesar da aceitação do estilo de história em

Mangá ou manga é a palavra usada para designar as histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês. No Japão, o termo designa quaisquer histórias em quadrinhos. Normalmente os mangás dão origem a animes para exibição na televisão, em vídeo ou em cinemas, mas também há o processo inverso em que os animes tornam-se uma edição impressa de história em sequência ou de ilustrações.

Por Márcio de Oliveira

MANGA!

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quadrinho japonês, a maioria das edições veem ao Brasil com determinadas alterações quanto ao número de páginas por edição. Muitas vezes, dividem pela metade cada edição, elevando demasiadamente o custo pela coleção.

Aprendendo a desenhar no estilo manga!

Para exemplificar o passo a passo na hora desenhar, vamos usar como modelo um personagem conhecido do público brasileiro chamado Vegeta, do mangá Dragon Ball. Primeiramente tenha em mãos o básico na hora de desenhar: papel, lápis e borracha. Agora “mãos á obra”!

O esboço

Vamos começar a fazer nosso personagem. Começando pela sua estrutura básica – o esboço. Muitos não têm paciência de começar por essa etapa e já passaram a fazer o personagem por completo, depois acabam se perdendo em algumas partes. O esboço serve para delimitar seu desenho, criar movimentos e posições novas, e também enquadra-lo melhor para não ficar deslocado na folha.

Nesse caso nosso personagem não está de frente, mas sim com o corpo levemente virado para o fundo, causando diferença no posicionamento dos olhos. Percebam as distâncias entre as pernas que podem influenciar mais tarde. Façam pequenos círculos nas articulações que ajudarão na criação de movimentos. Pronto, o esboço está completo.

Musculatura

Feito o esboço, vamos começar a acrescentar massa muscular. Cuidado para não exagerar nessa etapa e deixar seu personagem um pouco gordo. Reparem nos detalhes como, por exemplo, na distância entre a cintura e o cotovelo esquerdo, evitando que o braço fique um tanto afastado do corpo. Acrescentem dedos e comece a demarcar a posição dos cabelos, faça sempre traços leves para não prejudicar o papel quando for apagar. Cuidado com a inclinação,

evitem que isso aconteça fazendo uma linha-base abaixo dos pés, representando o chão. Continuem demarcando as articulações com pequenos círculos para ajuda-los mais tarde quando colocar as peças de roupas. Prestem atenção em todos os detalhes, vejam se as proporções estão certas, tamanho das pernas, braços e pés. Só assim passem para a próxima etapa, que é um pouquinho mais complicada.

Roupas e arte-final

Você já tem toda a estrutura do seu personagem pronta, mas está faltando algo importante: as roupas e os detalhes finais. Por mais complicada que seja a roupa do seu personagem, não se assuste, será apenas a vestimenta dele, e você deverá apenas “vesti-las” sobre ele. Olhe fixamente para o quadro 3 e tente ver o personagem sem roupa, como no quadro 2. Nesse caso o personagem está vestindo um kimono verde preso com um cinto, na altura dos ombros está sua capa que cobre todas as

suas costas. Preste atenção nos detalhes como as dobras das roupas, que ajudam a realçar a posição do personagem. Ao fazer a capa, utilize traços leves e soltos, para dar a impressão que ela está em movimento. Se não conseguir na primeira vez, não desanime, sem praticar muito não vai conseguir obter o resultado desejado. Na hora de fazer os olhos, repare que um olho está maior que o outro, isso se deve ao fato de o rosto do personagem estar virado, não se esqueça disso. Seguindo todos os passos, seu personagem está pronto para ser arte-finalizado, mas veja se não está faltando nada antes.

Colorização

Chegamos a etapa final, mas nada de pressa. Nessa etapa a paciência é fundamental, ou poderá pôr em risco todo o seu desempenho. Arte-finalize com calma, veja onde o traço engrossa dando mais volume ao personagem. Uma dica importante: sempre arte-finalize seus desenhos de cima para baixo e da esquerda para a direita. Caso seja canhoto, da direita para a esquerda. Isso evitará

que você borre seu desenho. Termine reforçando os contornos com nanquim ou material que achar mais acessível, após pinte-o. Mas não desanime se o resultado não lhe agradar, é praticando que se aprende.

*Todas as imagens são do próprio autor.

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opinião O que pode ser pior para uma menina de dois anos e alguns meses do que viver sem um colo de mãe, um beijo antes de dormir, cama cheirosa, comida gostosa e banho morno? São coisas aparentemente simples e básicas mas que não chegam a milhões de crianças mundo afora, aglomeradas em lares desequilibrados, instituições ditas sociais ou em campos de refugiados. A infância e a adolescência, com amor e cuidados, já são como um cristal fininho, que pode se estilhaçar ao menor vacilo. Sem amor e cuidados, é bomba relógio. E quando há a ilusão de um lar para o antigamente “menor abandonado” ou “menor carente” mas o tal anjo bom se revela um demônio de cargo importante, cabelo de bruxa oxigenado e coração de pedra? Vera Lúcia Sant’Anna Gomes é procuradora aposentada, mora num apartamento tido como “de luxo” (com sacada em que ela costuma deixar seu cachorro de estimação), e resolveu adotar uma criança. Levou o brinquedinho novo para casa onde, graças à sua situação econômica, mantém vários empregados. E, como o brinquedinho não funcionou como ela queria, Vera Lúcia passou a xingá-lo, humilhá-lo e a bater nele, sem piedade e certa da sua impunidade. Retomo aqui tudo o que já foi publicado porque preciso refazer este passo a passo para me convencer de que não, desgraçadamente, de uma novela ruim de emissora C de televisão que estamos falando. É da vida real. A vida real em que, depois – e só depois do escândalo revelado – de entregar uma criança de menos de três anos a uma mulher cruel e possivelmente demente, a Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, através de sua juíza titular, Ivone Caetano, declarou que a bruxa não poderia tentar novas adoções. Nos anos 90, e já relatei isso, em parte, no meu blog, ao comentar mais uma adoção de Madonna, investiguei três casos envolvendo adoção, para uma reportagem pautada pela revista Cláudia. Num dos casos, acompanhei as primeiras horas de um casal francês que, depois de filhos criados, veio a Porto Alegre para levar 3 irmãos (incluindo uma garota, já adolescente) que se encontravam num abrigo. Cheguei a manter contato com os pais adotivos mais tarde – eles me afirmaram que as crianças estavam muito bem. O outro caso envolvia um bebê encontrado numa lixeira e que era reivindicado por sua salvadora, a quem entrevistei e que considerei acima de tudo fascinada pela emoção do que havia feito, e que não queria enfrentar os procedimentos normais para se candidatar a ser mãe adotiva. O terceiro caso era mais dramático: envolvia gêmeas que haviam sido separadas ao nascer, criadas por mães diferentes e que deveriam, por determinação de determinado juiz, ser novamente unidas. O desespero de uma das mães, uma cozinheira de lanchonete, com quem conversei, pela possibilidade de perder a menina, não tem

como ser descrito. Considero a adoção uma decisão mais importante do que ter filho próprio. Quem decide adotar sabe (ou deveria saber) que vai mexer na vida de quem já sofre, ou porque foi abandonado ou porque foi retirado da família natural por motivos os mais diferentes. Esta pessoa tem feridas que precisam de mais que entusiasmo e aquele amor ilusório de “fazer caridade” para que ela seja menos infeliz: é um trabalho para sempre, pede dedicação, persistência e, muitas vezes, abnegação, porque nem sempre o adotado vai retornar os mesmos sentimentos e carinhos aos que o acolheram. Resumindo: adotar, não é para qualquer um. É para gente muito especial. Este tipo de pessoa não se enquadra em categoria profissional, social ou de gênero. Se enquadra num outro patamar, pontos acima do comum mortal. Cansei de ouvir histórias do tipo “fulana pegou uma criança para criar, está dando até estudo para ela”, e isso vindo de gente com instrução suficiente para saber que escravidão é crime. Também me horrorizei quando uma conhecida me confessou que não suportava mais a criança que havia adotado quando achava que não poderia engravidar porque havia tido a sua. Sei que não há como ter controle sobre as adoções “informais”, que são feitas ao arrepio da lei. Mas os processos que obedecem às normas legais precisam ser vigiados de perto pela sociedade. Antes, durante e depois do processo de adoção: não me conformo que um Juizado tenha oferecido uma criança em sacrifício a tal procuradora sem antes saber (e se sabia, é mais grave ainda o que fez) absolutamente tudo sobre o comportamento desta mulher.A voz rascante de Vera Lúcia Sant’Anna Gomes não sai da minha cabeça, na gravação divulgada de seu crime contra a menina que ela estava adotando. Pior é ouvir, ao fundo desta audição do inferno, o choro da criança, indefesa diante da agressão da mulher e até da passividade de testemunhas – os empregados, que afirmaram ter-se calado por temer o poder da procuradora. Vários medos me assaltam: que muitos casos estejam ocorrendo, neste momento, iguais a este, sem denúncia por causa do medo dos subalternos e, pior, que outras Vera Lúcia estejam saindo de abrigos com crianças embaixo do braço, como mercadoria, porque simplesmente têm dinheiro e um título que as torna fada madrinha, encobrindo sua real condição. O Juizado que permite isso também tem de ser responsabilizado. Esta menina, torturada, infelizmente, vai entrar e sair de

terapia. Mas a marca da brutalidade nela permanecerá.

opiniãoopiniãoopinião: maristela bairros

Maristela Bairros é jornalista, dois filho humor variável, atenta, dois cachorros.

Adotar, mais sério que parirpor Maristela Bairros

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Um dia li em algum lugar que “todo mundo é muita gente” e passei a usar essa frase para contestar quem gosta de generalizar. Exemplos clássicos acontecem em nosso dia – a – dia: todos os políticos não prestam, todos os brasileiros são burros e aceitam a corrupção, todos os padres são pedófilos, todos os professores são trabalhadores, todos os padeiros são gente boa e vários “todos”, “tudo”, “o mundo inteiro” que escutamos ou lemos por aí. Eu não me arrisco mais a generalizar, pois não conheço o mundo todo, nem todas as pessoas de uma classe ou profissão. Não arrisco, pelo simples fato de não ter o direito de classificar ou qualificar um grupo enorme, por pura opinião pessoal ou pelo “achismo”. Alguém pode se sentir lesado e é impossível que todas as pessoas de determinado grupo sejam iguais ou tenham as mesmas atitudes. Não posso afirmar que todos os jornalistas são hipócritas, porque conheço dois jornalistas hipócritas como também não posso dizer que todos os estudantes de fato estudam, porque conheço cinco que estudam. Um dos erros mais graves da generalização é acreditar que generalizando estamos emitindo nossa opinião. A “opinião” de quem generaliza é fácil, não necessita de pensamento e muito menos teoria, basta um adjetivo do bem ou do mal, para classificar uma montanha de gente. Quem generaliza, acaba criando a “sobra”. E dessa sobra, surgem os grandes “líderes” ou as mentes brilhantes, o que é um erro. Vou exemplificar, com a política: Muitos dizem que todos os políticos são corruptos e desonestos, fazem listas enormes com nomes de políticos

que não prestam e no meio disso tudo descobrem um que não rouba. Descobrem, porque ele discursa em televisão aberta contra a corrupção e tudo mais. Nos emocionamos com o discurso e elegemos aquele cidadão como o símbolo da ética e da postura parlamentar! Mas vem cá, meu amigo... Esse parlamentar é tudo isso porque não rouba e porque discursa bonito? O que foi que ele fez mesmo? Tu podes citar algum grande projeto dele? Eu pensava que não roubar seria a obrigação e não virtude! Sacaram a diferença? A “sobra” é o que destoa do grande grupo que sofreu a generalização e se pensarmos de verdade, a “sobra” pode notar que a coisa esta fedendo mesmo para sua categoria e discursar de forma brilhante na tribuna, para se distinguir dos demais. Assim é muito fácil criar líderes e ícones de uma geração, e no todo aquela pessoa não merecia todas as distinções, porque estava só cumprindo sua obrigação e não fez nada realmente plausível para tanto. Muito de quem generaliza é a falta de informação ou mesmo a preguiça mental. Grande parte das generalizações se tornam frases de efeitos usadas por várias pessoas, que na verdade, repassam porque acharam lindo aquilo ali escrito e não se preocupam se estão sendo injustos ou mesmo burros em seu julgamento. Posso dizer que todos que generalizam são burros? Não, como disse antes não conheço todos e “todo mundo é muita gente.”

Generalizaçõespor Letícia Losekann Coelho

Letícia Losekann Coelho é pedagoga, escritora e editora da Novitas.

Interessados em participar deste e-book devem enviar até 5 frases de sua autoria e que já tenham sido publicadas no twitter, até o dia 7 de junho. As frases serão selecionadas pela Editora e

o envio não garante a publicação. Frases de autoria de terceiros (citações, por exemplo) não serão aceitas. Não haverá qualquer custo aos participantes. A Editora Novitas se responsabiliza por todo processo

e-book “Apenas o necessário!”editorial, incluindo diagramação, arte de capa, ISBN, catalogação, etc. A distribuição deste e-book será de forma online e gratuita, sem distribuição de senhas ou qualquer outro meio de limitação de acesso. Os autores selecionados, receberão por e-mail um contrato de autorização para publicação de suas frases Aos interessados em participar do projeto, favor enviar-nos e-mail para [email protected]

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Olá leitores! Para quem não me conhece eu me chamo Suzana Martins e juntamente com a artista plástica Sandra Cajado (idealizadora do portal S.C. Arte e Cultura) estaremos aqui bimestralmente para falar um pouco sobre arte, cultura, literatura. E consequentemente, apresentaremos o portal A&C que se delicia em sonhos culturais e artísticos, tendo como principal objetivo despertar a arte escondida que está dentro de todos nós e nos remeter para um mundo imaginário e artístico, onde a poesia fala através dos talentos de cada um. É com grande satisfação que a família S.C. Arte eCultura fecha essa parceria maravilhosa com a Editora Novitas. É o início de uma nova etapa que será de grande sucesso para todos nós leitores, escritores e apreciadores da arte. Falar de arte, cultura não é uma tarefa fácil. Alguns usam as definições artísticas encontradas em dicionários, que são sim corretas, porém todas essas definições ou explicações concretas fogem em seu sentido e mergulham num silêncio metafórico e incondicional de aperfeiçoamento sensitivo. E o que nos resta é apenas o olhar, entender e sentir a alma encontrando-se com pinceladas, poesias, músicas... É o encontro do apreciador com o compositor. Mas afinal o que é arte? Pesquisando entre dicionários, Wikipédia, e conversando com artistas, poetas e as chamadas pessoas comuns, encontro diversas respostas para esse único questionamento. E as definições encontradas de certa forma têm o mesmo sentido. Para o dicionário uma das respostas é que, “arte é a capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical. Habilidade, engenho”. Sim, definições concretas para um mundo tão abstrato, mas mesmo assim não deixa de ser arte. Para a artista plástica Sandra Cajado, “arte é tecer de uma forma autêntica e intransferível. Arte é identidade pessoal”. E na sua definição de arte os pinceis dessa grande artista traduz a emoção de suas cores e ganha telas nas formas conotativas. Sim, isso é arte!

Para o portal S.C. Arte e Cultura, a definição é simples: “arte é a reunião de compositores, pintores, poetas que escorre em versos, poesias e pinta telas de sorrisos num mundo que é sim de sonhos...” Concretos e abstratos. Metáforas, conotações e definições. Arte é a miscigenação, e o encontro de artistas que cantam com a alma, que versa rimas misturadas em aquarelas. E enquanto Ângela Gullar traz em si a autencidade e o aprimoramento do grande Ferreira Gullar, nós encontramos Luis Lima e as suas palavras tão bem arrumadas. Porém quando ela, Célia Leite, a vista o mar encontra os versos e as canções traduzidas pela voz e violões do Carlos Berg. Quem são esses? Artistas, colunistas, cantores, compositores, arrumadores de palavras que entendem tão bem de arte e faz questão de compartilhar sonhos e histórias com os leitores do portal Arte e Cultura. Apenas esses? Não! Tantos outros que reunidos ali espalham versos... Venham conhecer as pinceladas, versos e canções do Arte e Cultura, e diga-nos qual seria a definição de cada um de vocês sobre arte? Um grande abraço e até a próxima.

Suzana Martins

Versando Arte em

Sandra Cajado

CORES