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_____ Entrelinha _____ Revista-laboratório da disciplina Design de Nocia - 2016/4 Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo / UCS Gênero, história e luta página 14 Adoção: um cálculo que não fecha página 8 Quem são os tatuados no Brasil página 22

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Revista-laboratório da disciplina Design de Notícia - 2016/4Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo / UCS

Gênero, história e lutapágina 14

Adoção: um cálculo que não fechapágina 8

Quem são os tatuados no Brasilpágina 22

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ReitorDr. Evaldo Antônio Kuyava

Diretora do Centro de Ciências SociaisDra. Maria Carolina Rosa Gullo

Coordenador do Curso de JornalismoDr. Álvaro Benevenuto Júnior

DisciplinaDesign de Notícia

ProfessoraDra. Marlene Branca Sólio

Projeto GráficoRonaldo Bueno

AlunosAlana RodriguesAlana Fernandes

Alessandro ManzoniCaroline RosaCindy Joiner

Cristina RochaDaniela BassoFelipe Padilha

Felipe BrambattiIsabella Silocchi

Jerônimo Portolan FilhoJorge Rafael

Leonardo AmaralMarina Nunes

Milene RostirollaRafael Zanol

Rejiane de OliveiraRodrigo MoraesRodrigo FantinelRonaldo BuenoSarah Carvalho

Tatiana CruzVitória Gobbi

2016/4

Expediente

Endereço Campus-SedeRua Francisco Getúlio Vargas, 1130

Bairro Petrópolis - Caxias do Sul - RS95070-560

Telefone: (54) 3218-2100

EditorialMais uma turma cumpre sua mis-são na disciplina Design de notícia. O grupo, neste semestsre, foi maior do que costuma ser, o que multipli-cou modos de ver os diversos temas eleitos para mais uma edição da re-vista Entrelinha. Como de costume, um dos trabalhos foi o slecionado para publicação na plataforma Frispit, do Curso de Comunicação da UCS. A escolha foi difícil, porque todos os projetos cumpriram seu objetivo maior. É justo enfatizar aqui o interesse no desenvolvimento de boas pautas, assim como o cuidado com a inves-tigação e apuração de dados. Embora a essência da disciplina seja o design gráfico – o cuidado

com o layout, o aprendizado das técnicas adequadas para o fecha-mento de arquivos, o exercício da arte aplicada... –, a turma levantou pautas atuais, de peso na socie-dade contemporânea; pautas que deixam clara a preo cupação destes jovens cidadãos com reflexões e dis-cussões acerca do mundo em que estão inseridos.Transformar uma sociedade passa por olhar para ela sob os mais di-versos prismas e, nesse sentido, a turma que entrega o Entrelinha aos leitores cumpriu seu papel dupla-mente: com a construção de signifi-cação a partir do discurso gráfico e com a escolha e exploração de boas pautas.

Uma Caxias de muitos sotaquespágina 4

Talian, a língua de um povopágina 7

Espaço público sem público não existepágina 12

Agricultura orgânicapágina 13

A música clássica em Caxias do Sulpágina 21

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A rede social com mais de 100 milhões de downloads, além de entreter, informa. Jornalistas explicam a importância do veículo na transmissão de conteúdo

ção e, no jornalismo, pode ser usado para transmitir acontecimentos quase ao vivo, por exemplo. A professora Ana Laura Paraginski, do curso de Jornalis-mo da UCS, caracteriza o uso do snap no jornalismo como uma plataforma realtime, justificando sua utilização na cobertura de eventos.

A equipe do Zero Hora, no entanto, embora tenha, inicialmente, optado por utilizá-lo em cobertura de eventos e shows, acabou optando por mostrar os bastidores da redação, ou como de-fine Nathalie Córdova, coordenadora de redes do grupo, “mostrar o que nin-guém vê”. Ela conta, ainda, que o obje-tivo não é transformar o perfil no snap em mais uma marca do grupo, assim como ocorre com o ZH Tablet. “O snap serve como um reforço de marca, mais do que uma busca por audiência ou es-tratégia comercial”, explica a jornalista.

As redações jornalísticas usam essa ferramenta cada vez mais. Veículos in-ternacionais, principalmente, conse-guem transmitir um debate presiden-

cial, no mesmo momento em que ele ocorre, relata Nathalie. Ainda de acor-do com a coordenadora das redes do ZH, as histórias postadas no perfil do jornal no aplicativo são vistas por cerca de 400 pessoas, e o número de segui-dores cresce cada vez que é transmiti-do um evento ao vivo.

Para o futuro, Ana Laura espera, e todos nós também, que as tecnologias nos surpreendam, oferecendo conteú-do com qualidade, em um formato ain-da mais inovador.

Cada vez mais presentes em nossa vida, as redes sociais di-vertem, relacionam pes soas, entretêm e até informam. A

instantaneidade dessas novas mídias proporciona a rápida troca de informa-ções, e exemplo disso é o snap, ante-riormente chamado de snapchat.

O snap é uma rede social de mensa-gens instantâneas voltada para smart­phones, criada e desenvolvida por es-tudantes da Universidade de Stanford. Segundo João Kurtz, jornalista e cola-borador do site TechTudo, o aplicativo pode ser usado para enviar fotos, ví-deos e textos, e seu diferencial é que o conteúdo pode ser visto apenas uma vez, sendo deletado automaticamente em seguida.

O aplicativo, assim como as outras redes, é uma valiosa fonte de informa-

Leonardo [email protected]

Snap, um novomeio de comunicação

Crédito: Leonardo Amaral

Recentemente, o snapchat alterou seu nome para simplesmente Snap Inc. O motivo da mudança é o investimento da empresa na área de gadgets, com o lançamento dos Spectacles, óculos de sol capazes de gravar vídeos e enviá-los diretamente à rede social.

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Há pouco mais de cinco anos, Caxias ganhou um espaço que pretende valorizar e preservar suas raízes históricas, o Ponto de Cultura Casa das Etnias. O espaço é formado pelas associações ger­mânica, polonesa, italiana e suíça, mas tem atividades para toda a comunidade

idiomas, musicalização, técnica vocal (canto) e teatro. Frequentemente, o es-paço é usado para aulas de culinária, com pratos típicos de cada país representado pela sua associação.

O advogado Iraci Marin, 66 anos, in-tegrante do grupo polonês e membro Conselho Gestor da entidade, diz que a Casa das Etnias pode ser considerada um esforço de resistência. “Hoje, no mundo todo, a tendência da padronização está cada vez mais forte. A padronização de-sidentifica o grupo e o próprio indivíduo. E nós queremos o contrário: queremos manter a identidade cultural”, diz.

Recursos e voluntariado

O Ponto de Cultura Casa das Etnias surgiu de um convênio entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Ministério da Cultura, em agosto de 2011. A parceria possibilitou o apoio financeiro e, conse-quentemente, a melhora da estrutura e a compra de objetos.

O convênio com o órgão federal en-

cerrou-se em 2014 e, desde então, o espaço cultural é mantido com recursos municipais, leis de incentivo à cultura e doações. A Casa das Etnias é coordena-da por um conselho gestor, formado por voluntários de cada uma das associações que compõem o local.

As visitas ao espaço cultural são agen-dadas conforme a possibilidade dos vo-luntários, já que a Casa das Etnias não tem funcionários fixos. Segundo Marin, cerca de 150 pessoas circulam pelo Pon-to de Cultura mensalmente. Os visitan-tes são, na maioria, de grupos escolares. “Nós temos que fazer as atividades para a comunidade, e não só para os integrantes dos grupos. Por isso, também se faz necessária a divulgação do nosso traba-lho”, reforça o voluntário.

Associações preservam a cultura

Em comum as associações culturais têm o desejo de preservar e fortalecer as heranças deixadas pelos imigrantes que ajudaram a povoar a Serra gaúcha. Uma

A última estimativa populacio-nal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em agosto, indica

que Caxias do Sul tem 479.236 habitan-tes. Nesse mar de pessoas, dezenas de sotaques se misturam, bem como os tra-ços culturais de quem ajudou a construir a cidade. O objetivo do Ponto de Cultura Casa das Etnias, criado em 2011, é fazer com que a identidade cultural dos imi-grantes não se perca com o tempo.

As atividades se concentram em um imóvel pertencente à administração pú-blica, localizado no Bairro Panazzolo. No prédio de dois andares, com salas de aula, cozinha e teatro, as associações se reúnem semanalmente. No primeiro an-dar, há um teatro, com capacidade para 90 pessoas, construído por meio de doa-ções da Lei de Incentivo à Cultura (LIC).

Os encontros envolvem oficinas de

Alana [email protected]

Uma Caxiasde muitos sotaques

Crédito: Alana Fernandes

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Colonizada em sua maioria por descendentes de italianos, a Caxias do Sul de hoje mescla diversas culturas

das mais antigas, a Associação Cultural Miseri Coloni, surgiu em 1982. Ao todo, 90 pessoas estão associadas, porém, atual mente, apenas 20 ainda partici-pam ativamente, conforme a produtora cultural Clerí Ana Pelizza, vice-presidente do grupo e secretária do Conselho Gestor da Casa das Etnias. “As associações possi-bilitam a permanência do que é mais pre-cioso e importante ao ser humano: a sua história”, reforça Clerí.

Há pouco mais de dois meses, a As-sociação Cultural Germânica AllesGut (em português: Tudo bem) comemorou 10 anos de uma maneira bem especial: com um baile de Kerb, bastante tradicio-nal nos costumes alemães. Na festa, não pode faltar cuca, linguiça, chope e, claro, muitas danças típicas.

Atualmente, cerca de 60 participantes frequentam as aulas de danças folclóri-cas, idioma e dialetos e oficinas de gastro-nomia na Casa das Etnias. “A associação começou com um grupo de aventureiros e hoje se expandiu”, diz o vice-presiden-te do grupo Leonardo HollandLeiser, 18 anos.

Etnias se misturam

Embora seja uma cidade tradicio-nalmente italiana, Caxias do Sul não é habitada apenas por des-

cendentes desse país europeu. Poucos sabem, mas o município também abri-ga pessoas de etnias, como a alemã, a polonesa e até mesmo a suíça.

Segundo Iraci Marin, ainda não fo-ram realizados estudos sobre as cultu-ras presentes em cada bairro da cidade, mas é possível ter uma base. “Podemos citar como exemplo o Bairro Panazzolo, que é povoado por descendentes de alemães”, conta.

Nos últimos anos, Caxias do Sul é o destino escolhido por diversos imigran-tes, que buscam uma vida melhor e fixam residência na cidade. Com a mistura de várias culturas, podemos dizer que haitia-nos e senegaleses fazem parte do muni-cípio.

Várias são as dificuldades enfrentadas pelos imigrantes, quando se estabelecem em uma cidade diferente. Para auxiliá- los, Caxias possui o Centro de Atendi-mento ao Migrante (CAM), uma entidade filantrópica que realiza acolhimento e ajuda os estrangeiros no processo de in-tegração com o Brasil, com sede no Bairro Marechal Floriano.

Fundado em 14 de outubro de 1980, o Centro pertence à Congregação das Ir-mãs de São Carlos Borromeo, Scalabrinia-nas. Ele tem como objetivo promover e defender a vida; por isso, presta serviços de assistência social para apoiar os imi-grantes. Também desenvolve ações soli-dárias com a finalidade de responder aos desafios que Caxias e região têm.

A entidade ainda auxilia na promoção da cidadania, defesa dos direitos e inclu-são nas políticas públicas dos imigrantes e refugiados. Além disso, o Centro atua em parceria com várias organizações pre-sentes na sociedade, para melhor aten-der às necessidades dos imigrantes.

De acordo com a assistente social Va-nessa Perini Moojen, o CAM realiza de 10 a 25 atendimentos por dia. “A entidade recebe principalmente imigrantes oriun-dos do Haiti e do Senegal, mas também de países da América Latina, do Paquis-tão, Bangladesh, Afeganistão, Gana, Re-pública Dominicana, Cuba, Mauritânia, Portugal e Espanha”, relata. Vanessa acredita que para o futuro a quantidade de atendimentos aos imigrantes perma-neça igual ou até aumente, devido ao que ocorre.

Daniela [email protected]

Crédito: Alana Fernandes

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O ser humano, por natureza, é um ser nômade, sempre desterritorializando m busca de novas e condições para melhor

O apontamento que deve ser feito não é só o da aceitação dos imigrantes contemporâneos, como potenciais con-sumidores e parte de um fortalecimento do capital, mas também como seres car-regados de subjetividade e história, que devem ser analisadas com maior sensibi-lidade.

O psicólogo e pesquisador das discur-sivizações do estrangeiro, Ismael Pereira, ressalta que é necessário responsabilida-de social, “o estrangeiro precisa de luga-res especializados de escuta para suas de-mandas, onde possam falar em francês e inglês; quando morei na França, procurei fazer terapia, mas é necessário alguém que possa entender as especificidades; para isso o imigrante tem que se sentir confortável falando sua língua”.

Estabelecer essas relações de escu-ta especializadas é uma demanda ainda não discutida na cidade de Caxias do Sul, e um apontamento das lacunaem que a maioria da população, mesmo quando com acesso à formação superior, não está preparada para falar outra língua que não o português.

Cher Cheik, empresário senegalês,

fala sobre sua filha com a jornalista, Ka-mila Zatti, a Mame Diarra. “Estou feliz da família que construí, poder criar a Mame no Brasil; com certeza vai ser algo incrí-vel, espero que os brasileiros respeitem ela, pois ela também é brasileira.”.A pe-quena de menos de um ano, é uma das crianças que vivem esse processo de transição dos imigrantes contemporâne-os; mesmo não acessando a educação, já familiarizado com a língua dos pais.

O Brasil, nos últimos anos, vem recebendo imigrantes haitia-nos, ganeses, senegaleses, to-guenses, entre outros. Nesse

processo de transição, criam-se conflitos culturais.

Os últimos eventos mundiais, como as Olímpiadas Rio 2016, e a Copa do Mundo de 2014, abriu-se portas para os imigrantes contemporâneos, por tempo indeterminado, e sem perspectiva de volta para o país de origem. Tais pessoas chegam em busca de melhores condi-ções de trabalho, alimentação, moradia e necessidades básicas para o ser huma-no.

A discursivização do estrangeiro é tudo aquilo que é produzido discursiva-mente em relação ao estrangeiro, ima-gens, músicas, entrevistas, diálogos e tudo o que interage com o receptor de uma mensagem; é como as pessoas per-cebem o estrangeiro, e como o estran-geiro se percebe.

Rodrigo de Oliveira [email protected]

Discursivizaçãodo estrangeiro

Crédito: Rodrigo de Oliveira M

oraes

Está sendo disponibilizado intensivo de aulas de português para que os imigran-tes possam se integrar à sociedade de for-ma mais confortável. Mas, ainda aponta pistas de carem que as aulas de língua estrangeira são superficiais e não ofere-cem um preparo para a população, que não tem condições de pagar por ensino na rede particular.

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O agora idioma de origem italiana vivencia tempos de instabilidade, mas iniciativas podem auxiliar para a sobrevivência desse símbolo da cultura italiana no Brasil

Alessandro [email protected]

Perpetuar a cultura provinda dos imigrantes italianos. Essa é a gran-de e honrosa missão do Talian, lín-gua originária do Norte da Itália, a

partir de dialetos falados pelo povo local. Desde a imigração, a língua se faz presen-te em algumas regiões do Brasil e, devido a isso, a manutenção e a propagação desse idioma devem ser postas em prática, a fim de que se garanta a sobrevivência de um dos elementos mais importantes e emble-máticos das tradições italianas no Brasil.

Vários pesquisadores iniciaram um resgate histórico, a fim de obter uma pa-dronização dessa linguagem. Consequen-temente, os estudos foram avaliados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que, por meio da institui-ção do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), estimou que houvesse mais de 250 línguas faladas no País, e o Talian é umas das sete reconhecidas como Referência Cultural Brasileira, sendo a única língua de imigração.

Esse fato repercute nos municípios onde o idioma é falado pelos “nonnos” e pelas “nonnas” cotidianamente. Em Monte Belo do Sul, na Serra gaúcha, a maioria da população é composta por descendentes de italianos. Em vista disso, foi criado o Cen-tro de Tradições Italianas (CTI), que fomenta o desenvolvimento da cultura, por meio de reuniões e iniciativas artísticas, como o gru-po de dança típico italiano Ballo d’Itália e o grupo de teatro Fratelli di Cuore. A peça tea-tral é falada inteiramente no dialeto Talian e retrata a jornada dos imigrantes, desde sua partida da Itália até a árdua visão da tão so-nhada América.

O presidente do CTI, Nelso Uliana, enfa-tiza que esse tipo de iniciativa faz com que a população local perceba que não deve ficar envergonhada por falar o idioma, ao con-trário, deve sentir orgulho de fazer parte de algo tão grandioso para a história do nosso País. “Não podemos deixar que as pessoas parem de falar o Talian. Precisamos que elas encham o peito para dizer: Eu sou des-cendente e falo o Talian com muita satisfa-ção!”, reitera com entusiasmo.

Partindo para um cenário mais abran-gente, a pesquisadora, escritora e jornalista

italiana Giorgia Miazzo Cavinato, se dedica há 10 anos ao estudo do Talian no Brasil, além de pesquisá-lo ao redor do mundo. “Eu acredito na salvação do Talian no país, porém é necessário que se inicie agora um trabalho com as crianças nas escolas, pois não adianta trabalhar somente com os mais velhos”, afirma. Giorgia propõe que se in-troduza o ensino da língua juntamente com a história da imigração e com a geografia, para, em primeiro lugar, acabar com a ver-gonha e o desconhecimento dos jovens. Além disso, ela defende que busquemos o aprendizado do idioma, não apenas pela possibilidade de passaporte italiano. “Nós precisamos de cultura, pois com ela nós po-demos nos defender”, enfatiza.

O futuro, em sua essência, é incerto. Contudo, planejamento é fundamental. Assim ocorre com o Talian: um idioma que está vivo nos que receberam a influência italiana em seu desenvolvimento, mas que está se perdendo devido à falta de incentivo aos jovens. Projetos devem ser executados, com certa urgência. E o Talian? – Bem, fica no aguardo e na busca da mesma glória conquistada há 140 anos, como na imigra-ção.

Talian,a língua de um povo

Crédito: Merlo Fotografias

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ção dos processos de adoção em todo o País. Conforme o documento, a principal barreira é o perfil das crianças que os fu-turos pais desejam: um terço das famílias quer adotar somente meninas e quase 70% não aceitam ficar com irmãos.

A faixa etária e a etnia das crianças também são fatores determinantes. Mais da metade dos casais deseja que seu fu-turo filho tenha até 18 meses de idade e a cor da pele semelhante à da família adotiva. Dessa forma, meninos pardos de 12 a 17 anos ficam mais tempo à espera de um lar. Além disso, os dados mostram que 69% dos pretendentes somente acei-tam crianças sem doenças crônicas ou deficiências. Na fila de espera, no entan-to, uma em cada quatro crianças possui problemas de saúde. O resultado direto é a superlotação dos abrigos públicos.

A situação não é diferente em Caxias do Sul, na Serra. O Instituto Filhos, criado para atender a famílias no processo de adoção, contabiliza 17 crianças inscritas e mais de 250 famílias à espera, ou seja, para cada criança na fila, há 14 famílias

querendo adotar. De acordo com a presi-dente da entidade, Marta Mazzuchini, o que dificulta o processo é a exigência das famílias em relação às crianças. “A maio-ria dos casais que buscam o Cadastro de Adoção querem bebês recém-nascidos, de até um ano de idade. Além disso, as pessoas procuram características físicas semelhantes: famílias brancas querem filhos adotivos brancos”, afirma.

Quando o amor e a razão vencem

O autônomo Cláudio Silva tem 41 anos e é casado há dez. Ele conheceu seu companheiro em uma viagem de férias, ainda em 2004. “Na época, era muito di-fícil sonhar que eu e meu namorado con-seguiríamos adotar juntos, então resolve-mos que eu entraria no processo sozinho. Eu estava muito disposto, tanto que se nosso casamento não desse certo, falei para ele que a guarda seria só minha”, lembra descontraidamente.

O autônomo ainda ressalta que, após receber a sentença negativa na primeira

Os abrigos para recém-nasci-dos, crianças e pré-adolescen-tes em situação de abandono e vulnerabilidade social são o

retrato de uma das maiores mazelas do Brasil contemporâneo. Conforme dados do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), quase seis mil crianças estão inscritas atualmente. Já o número de pretenden-tes ultrapassa os 33 mil. A ferramenta di-gital, lançada há oito anos, evidencia um cálculo que não fecha. Para cada criança na fila de espera, existem pelo menos cin-co famílias dispostas a adotar.

O cenário preocupa juízes das Varas da Infância e da Juventude. Um levanta-mento realizado em maio deste ano, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ouviu os magistrados que trabalham na condu-

Cristina [email protected]

Ronaldo [email protected]

Para cada criança na fila, existem pelo menos cinco famílias dispostas a adotar. O perfil que os futuros pais desejam, no entanto, emperra o processo de adoção e faz com que pré­adolescen­tes de 12 a 17 anos fiquem por mais tempo em abrigos públicos

Um cálculoque não fecha

Crédito: Marcello Casals Jr. / Agência Brasil

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Rejiane de [email protected]

tentativa independente, o casal desani-mou por um período, mas resolveu não desistir e entrarou com um pedido oficial em Florianópolis, cidade onde residem atualmente. “O processo de adoção nun-ca foi algo simples. Eu vejo que tem muito casal cisgênero tentando adotar e demo-ra anos para conseguir. Talvez para nós as coisas sejam um pouco mais complicadas, mas nada que um pouco de luta e sabe-doria para usar as leis a nosso favor não resolvam.”

Silva avalia a situação como favorável, pois recentemente ele conheceu a meni-na que o casal quer adotar e que, segun-do ele, foge dos padrões mais procurados historicamente. “Ela não tem olhos azuis, muito menos cabelos lisos e loiros. Quero ter o prazer de explicar que esses padrões de beleza não são absolutamente nada e só servem para diminuir as pessoas. Ela vai ser nosso maior amor!”, idealiza.

O autônomo explica que está ansioso para receber a filha em casa e já está em busca de uma decoração especial para o quarto da menina. “Ela só tem quatro anos e já entendeu que terá dois pais. Está empolgada com a ideia. Disse que quando crescer terá orgulho de levar suas amigas para conhecer os dois papais dela”, conta ele, animado.

A maior parte das experiências de adoção resulta em laços de amor, que vão além da genéti-

ca. Neide Machado, 67 anos, é mãe de dois filhos e reside em Rosário do Sul, na fronteira oeste do estado. Há 26 anos, ela adotou Caroline, então com três meses de idade. “Ela possui atrofia cerebral e autismo, doenças que reque-rem atenção especial”, explica. Segun-do Neide, as dificuldades emocionais fortaleceram os laços familiares.

Atualmente com 24 anos, Caroline passou a fazer equoterapia, método terapêutico que utiliza cavalos para auxiliar na sociabilidade. Os resultados obtidos culminaram por melhorar o re-lacionamento familiar e social. “Nunca me arrependi da adoção de uma crian-ça com necessidades especiais; pelo contrário, este fato fez com que minha condição de genitora a acolhesse e de-

dicasse parte de minha vida a cuidar de outra, a de Caroline”, relata a mãe, emo-cionada.

Em outro caso, Ana Hélia de Castro Andrade, mãe de duas filhas e com 38 anos de idade, adotou Nataniely, filha de seu irmão, falecido tragicamente em um assalto. Na época, a criança tinha dois anos. Como as filhas biológicas de Ana tinham cinco e seis anos, a relação entre elas foi muito harmônica. Ana explica que a menina cresceu num ambiente muito mais familiar do que o de adoções con-vencionais, circunstância que diminuiu as dificuldades que circundam essas re-lações.

Depois de dez anos, a mãe biológica, que à época da morte do marido não po-dia sustentar a própria filha, se encontra-va em boa situação financeira e pediu de volta a guarda da menina, já com 12 anos. Por razões diversas, a adoção, mesmo sendo um ato de amor incondicionado, tornou-se uma relação transitória, segun-do Ana.

Experiência de amorCrédito: M

arcello Casals Jr. / Agência Brasil

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Qual é o tempo de demora para a adoção?Para essa pergunta não há uma resposta exata. O tempo de espera está bastante re-lacionado com o perfil de criança que o pre-tendente escolhe. Quanto maiores forem as exigências e restrições (por ex: idade, raça, sexo, nível de saúde…), maior será o tempo de espera. Portanto, o pretende que optar pela adoção de um bebê ficará muito mais tempo na fila de espera do que aquele que aceita crianças até 10 anos de idade.

Existem pré-requisitos?Os pré-requisitos são aqueles verificados no processo de habilitação: condições adequa-das para oferecer um ambiente saudável, para que uma criança cresça e se desen-volva; aspectos sociais e psicológicos que atendam às demandas na maternidade e paternidade, e nenhuma situação de vida

Em Farroupilha, o grupo DNA da Alma auxilia pretendentes a ado-tarem crianças, e o sistema não é complicado. Os interessados de-

vem ter mais de 18 anos, com diferença de 16 anos em relação ao adotado e sem antecedentes criminais, além de compro-var condições de oferecer um lar adequa-do para o desenvolvimento da criança. Os interessados devem encaminhar um pedido ao Fórum da cidade em que resi-dem. Depois disso, ocorre uma avaliação social e psicológica de habilitação, e o pretendente é inserido no Cadastro Na-cional de Adoção (CNA).

Para a criança, o processo é mais complexo. Já que os pais não abrem mão de seus filhos, é necessário um processo de destituição familiar. Quando isso se confirma, a criança pode ser cadastrada para a adoção. Depois desse passo e com o processo de habilitação deferido pelo juiz, os adotantes têm seus dados incluí-dos no CNA.

A psicóloga do grupo DNA da Alma, Rejane Comin, respondeu algumas das principais dúvidas das famílias quando o assunto é adoção.

Grupo presta auxílioem processos de adoção Jerônimo Portolan [email protected]

Crédito: Marcello Casals Jr. / Agência Brasil

pregressa dos adotantes, que possa colocar em risco a criança a ser adotada.

DNA da Alma faz que tipo de acompanha-mento às famílias que querem adotar e às que já adotaram?O trabalho de qualquer grupo de apoio à adoção, inclusive do DNA da Alma, é o de oferecer um espaço de reflexão sobre o tema adoção para todas as pessoas que têm inte-resse, mas especialmente para aquelas que estão aguardando seus filhos ou que já os receberam. Este trabalho se dá por meio de encontros coordenados por uma psicóloga e uma assistente social especialista no as-sunto, que trabalham aspectos relacionados ao processo de espera do filho por adoção (pré-natal) e questões que emergem, após a chegada do filho (pós-natal).

Crédito: Marcello Casals Jr. / Agência Brasil

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A inovadora alternativa de geração de trabalho e renda que conquista holofotes

Isabella Silochi de [email protected]

Um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Assim po-demos definir o tema que ganha

atenção nos últimos anos. A economia soli-dária é um modo de produção que se carac-teriza pela igualdade. Ao invés de estimular a competição, essa forma de economia traz um ideal de colaboração: todos buscam ob-jetivos em comum, e a união dos esforços traz resultados para o coletivo.

Como o esperado, é a ação econômica a motivadora das iniciativas da economia solidária; no entanto, há outro fator que impulsiona o ideal: a solidariedade. A pre-ocupação com o próximo está presente nas relações com a comunidade; na atuação em movimentos sociais; na preocupação com o bem-estar dos envolvidos, e na constan-te busca por um meio ambiente saudável e desenvolvimento sustentável.

Atualmente, diversas iniciativas de pro-jetos coletivos dinamizam as economias lo-cais; garantem trabalho e renda às famílias envolvidas, e promovem a preservação am-

biental. Dentre tantos exemplos, podemos citar o Recicla Luxo, um comércio eletrônico de itens de luxo seminovos, com 100% da renda revertida para instituições benefi-centes. A ideia do e­commerce é construir uma ponte entre pessoas que consomem produtos autênticos de grifes famosas e instituições que realizam trabalhos sociais. “O comprador tem a oportunidade de ad-quirir produtos de grandes marcas a preços competitivos e ainda contribuir com nobres causas” enfatiza a equipe do site.

Projetos que apoiam a economia so-lidária também vêm sendo desenvolvidos em Caxias do Sul. A 2ª Feira Municipal Ecos-solidária ocorreu em junho, no Parque de Eventos Festa da Uva, e arrecadou mais de três toneladas de resíduos. A feira é um espaço no qual os visitantes trocam seus detritos por diferentes produtos, através da moeda verde. O objetivo é promover o consumo sustentável, por meio da venda de alimentos orgânicos e artesanais. “A Feira foi um sucesso, assim como toda a Semana do Meio Ambiente. Essa participação dos caxienses demonstra que o município está empenhado em investir na qualidade de vida da população”, destaca Paulo Ballardin, diretor-presidente da Codeca.

Uma resposta a favorda inclusão social

Crédito: Divulgação Pexels

Escritórios colaborativos

Uma tendência que, cada vez mais, ga-nha destaque é a de escritório colaborati-vo, chamado coworking. O modelo surgiu nos Estados Unidos, e suas principais pro-postas são o compartilhamento de expe-riências e a mistura de habilidades como combustível para parcerias. “Somos um es-paço aberto que estimula a interação entre as pessoas; o ambiente facilita a troca de experiências, novos negócios, visibilidade e networking. Na hora de trocar uma ideia, é só olhar para o lado e cutucar o vizinho”, ressalta Elizandro Ferreira, CEO e idealiza-dor do One Coworking, escritório fundado em Pato Branco, Paraná.

Os espaços de coworking visam a atender a demanda de empreendedores e profissionais autônomos, iniciando suas empresas, sem muita previsão de quantas pessoas ou de qual espaço precisarão nos primeiros meses ou anos de negócio. To-dos trabalham em uma mesma área – ou várias áreas conjugadas – dividindo custos de um local que traz não somente facilida-des e serviços, mas também a chance de conhecer pessoas similares e fazer negó-cios internamente.

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Patrícia Del Rey, atriz e poetisa. Fazer isso com a cidade é tornar acessíveis a todos a arte e a cultura. É compartilhar.

Música na rua

No sentido de pertencimento e ocu-pação dos espaços públicos, surgiu o Ar-te Livre, projeto criado pela insatisfação de músicos de Caxias do Sul com o sempre mesmo circuito de apresentações. Para sair da monotonia, eles começaram a desbravar a cidade, usando a arte como combustível; aproximando o artista do público, e criando um novo desafio. O projeto cresceu e so-mente foi possível com o apoio de todas as pessoas que acreditam na arte, como fator positivo na mudança do cotidiano.

“A rua é o maior palco do mundo. Ocu-par os espaços públicos é um dever que as-sumimos com as pessoas da cidade e nada se torna mais gratificante do que o reconhe-cimento desse ato constitucional”, diz Bru-no Ortiz cofundador do projeto. Os músicos acreditam que é preciso coragem para ocu-par os lugares que são do cidadão. O proje-to ocorre de forma espontânea e itinerante. Os músicos envolvidos buscam legitimar a

música de rua com independência, mostrar que a mudança depende somente das pes-soas e não das instituições.

Dançar para ocupar

Geovani de Gregrori, idealizador de vá-rios projetos de inclusão e transformação social por meio da dança, faz sua parte no sentido de ocupar os espaços públicos com o projeto, no parque dos macaquinhos, des-de 2005. No local, juntamente com meninos e meninas da periferia, apresentam a arte da dança de rua, colorindo e alegrando o domingo de quem passa por lá. O local não é o ideal. Precisa de reformas, já solicitadas, mas não executadas. “São coisas simples, como uma tomada mais acessível, para evi-tar a utilização de extensão, ou o piso, com defeitos que já provocaram acidentes com os dançarinos”, diz Gregori.

Skate que une

Felipe Varela, representante da União do Skatistas de Caxias do Sul, relata que “existem muitas áreas de lazer abandona-das na cidade, as quais são construídas para

Resgatar a convivência pessoal, re-ligar o contato humano e ocupar os espaços públicos que são de to-dos é preciso. Vivemos em cidades

cada vez mais frias, com altos muros e tran-cas. Isolados em condomínios fechados, acreditamos que, para haver diversão com segurança, é preciso pagar. Nesse sentido, a cidade se fecha e se torna um local de passagem, uma rodovia sem cor. As pessoas da cidade precisam voltar a se encontrar, se reunir, como em outros tempos. Humanizar praças, ruas, calçadas é essencial para me-lhorar a qualidade de vida.

Existem espaços que precisam ser torna-dos públicos pela ocupação, com interven-ção de diversas formas: rodas de conversa, arte, cultura... “O objetivo da intervenção é o mesmo da composição da arte: você olha a cidade como uma tela e quer interagir com o lugar, colocar mais poe sia, mais arte, mais questionamentos. Por que a parede tem que ser branca? Toda parede branca tem fome de poesia, de cor, de respiro”, diz

Milene [email protected]

Ocupar os espaços públicos é o que nos torna parte da cidade. Não existe cidade sem cidadão. Deixar de ser refém das paredes de concreto e se misturar é um passo importante nas relações

Espaço públicosem público não existe

Crédito: Coolture Trip

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Carolina [email protected]

o bem comum, mas são esquecidas pelo Poder Público”. Segundo ele, é visível que houve um investimento considerável nos últimos anos em espaços de lazer, princi-palmente academias para a terceira idade e parques infantis. Mas, acredita ser neces-sário ampliar o leque de opções, para atin-gir todas as idades. Vemos Caxias ganhar muitos adeptos na prática de esportes e, por isso, precisamos de espaços adequados para cada prática, incentivando atividades: corrida, bicicleta, roller, skate, futebol, vô-lei, ou outros.

Na opinião de Varela, o estímulo para as ações de ocupação dos espaços públicos vem muito mais de ações sociais organiza-das por pessoas e grupos voluntários do que de projetos municipais. As ações dão sentido de pertencimento ao lugar, geram desejo de cuidado. Nesse contato, é esta-belecida a relação com a cidade, trazendo vida. Os lugares ficam mais interessantes, mais seguros, valorizados como espaços de convivência. Estudos mostram que pessoas não brigam, não vandalizam um lugar com o qual se identificam. Se elas sentem que de alguma forma esse lugar faz parte da rotina delas, nadafarão para estragar.

Ao alcance de todos

A arte de rua está presente no dia a dia de todos, por meio do gra-fite e também das pichações.

Pouco paramos para pensar na abran-gência social e nas possibilidades que as “artes de muro” proporcionam a mi-lhares de pessoas todos os dias.

O alcance, principalmente do grafite, cresce mais e chega até mesmo às gale-rias, que trazem muitos debates sobre o significado das manifestações mais popu-lares e sobre o que, de fato, as define.

O grafite que transforma

Um dos pontos mais positivos do gra-fite é o papel social que ele assumiu no País. Ele ajuda a transformar a vida de muitos jovens, que passam a ver na arte

uma opção para fugir da criminalidade. Em Caxias, a prefeitura promove eventos que utilizam o grafite como base para a educa-ção de crianças em vulnerabilidade.

Sobre como o grafite pode transformar a vida das pessoas, Gustavo Gomes, 27 anos, grafiteiro desde os 11 anos, responde da seguinte forma: “Quem muda a vida da gente é a gente mesmo, mas a linguagem do grafite possibilita a mudança. Ela é fá-cil de se inserir.” Assim, o grafite é apenas uma ferramenta, mas que permite que as pessoas expressem seus sentimentos. Boa parcela da sociedade se sente excluída jus-tamente por não ser ouvida, e o grafite é o que dá voz a essas pessoas.

Mas se engana quem pensa que a arte de rua muda apenas a vida de pessoas ca-rentes. O grafite muda todo o cenário urba-no, acrescentando cor ao que era para ser cinzento. Assim, o grafite ultrapassa os limi-tes da periferia e atinge milhares de outras pessoas que utilizam a vias públicas.

O pixo como manifestação social

São histórias contadas e documenta-das em muros e paredes. Além de expressão artística, também podem

e devem ser vistas como a voz dos excluí-dos. Os muros que dividem a sociedade são o papel para a tinta de um manifesto dos que ali não podem estar e que não identificam suas ideias representadas na mídia tradicional. As paredes das mora-dias, que dão o conforto e a individuali-dade a alguns, também são plataformas para os traçados que propagam nomes, grupos e pensamentos inconformáveis. A rapidez do risco e a semiótica dos símbo-los, ocasionadas pela repressão policial, que classifica o ato como “dano ao pa-

trimônio público”, muitas vezes tornam essa mensagem incompreendida e igno-rada pela grande massa.

Trata-se da pixação ou o pixo, que tem origem na França, para expressar contra-riedade ao conformismo e à homogenei-zação das ideias de ordem capitalista. Em Caxias, essas expressões situam-se em bairros mais afastados, populares, ricos e também no centro da cidade, com sig-nificados amplamente políticos e sociais.

O estudante de jornalismo Fábio Be-cker Lopes, 25 anos, desenvolveu uma pesquisa sobre a sociologia do pixo, com análise da ação em Caxias do Sul, e cons-tatou que os pixos são reflexos de uma desigualdade social. Ele ressalta, ainda, que “os principais grupos na cidade, que que se manifestam pelo pixo, são da pe-riferia, bem como as feministas, a popu-

Vitória [email protected]

lação contra a repressão policial e os gru-pos que guerrilham entre si”.

De acordo com Fábio, a assinatura, ou seja, o nome do pixador em fonte popu-lar, ou até mesmo mais elaborada, é um protesto dos excluídos do Centro, para mostrar que existem; pedir atenção espe-cial e deixar sua marca em um local onde ninguém os conhece ou também onde eles raramente têm acesso ao lazer.

Porém, os muros e as paredes são as plataformas que, mesmo vulneráveis às tintas do sprays, também estão à mer-cê de banhos de pintura, apagando o documento ou a mensagem registrada. Tal fato torna essa manifestação visivel-mente efêmera. Entretanto, mesmo que momentânea, essa força intervencionista vem para cumprir seu papel de propor re-flexões e dar voz aos que não têm.

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Quando uma comunidade transforma sua vida

colas, principal lugar de aprendizado e co-meço do convívio da criança com o mundo.

A luta é diária

Arthur tem 18 anos. É estudante de Jor-nalismo e compartilhou sua trajetória, con-tou os obstáculos que enfrentou desde a infância até os dias de hoje. “Minha infância foi solitária, sem amigos. Meu primeiro ami-go só conheci na 7ª série. Até aquela épo-ca, eu sempre fui muito distante das outras crianças, sofria muito bullying, agressão físi-ca. Acredito que tudo isso me moldou para a pessoa que eu sou hoje”, relata.

A batalha por aceitação foi a parte mais dolorosa, pelo fato de não seguir o padrão heteronormativo. A luta não é só dele, pois, no momento em que se aceitou, precisou lutar pela comunidade LGBT inteira. “É aí que vem tua obrigação moral de mudar a visão das pessoas, sobre o que é ser parte dessa comunidade”, complementa.

Durante esse processo, o apoio da co-munidade LGBT foi de extrema importância. “Tenho até um pouco de medo em contar para minha família, porque eu já vi algumas reações bastante negativas sobre a questão de gênero e de sexualidade”, afirma.

A dica mais importante que daria para si mesmo, quando ainda não se aceitava, é seguir em frente. “Tu podes ser tudo o que quiseres. O mundo é teu. Não deixe que ele te esmague antes de tu conseguires con-quistar ele”, finaliza.

Diversidade no teatro

O grupo de teatro (A)Temporal, cria-do em 2015, visa a mostrar a questão por meio de suas peças e espetáculos. Essa foi a forma que os atores e atrizes encontraram, para mostrar sua arte e poder expressar questões que consideram importantes.

Arthur é um dos atores do grupo. Con-ta que sente muita liberdade na atuação. É nessa hora que ele desabafa, joga o corpo em cena, sente essa energia no momento em que o grupo está se apresentando, e ainda pode criar um vínculo com o público. “Adoro ver a reação das pessoas com o tipo de arte que faço, pois sinto que o teatro é transformador”, declara.

O grupo já fez peças como, “Julgo”, “A menina da bolsa vermelha” e “A mulher, o homem e o guarda-roupa”, além de partici-pações em festivais e performances, nesse um ano e meio, desde que se formou.

Desde o momento em que nas-cemos, ensinam-nos o que de-vemos ou não fazer, de acordo com o nosso gênero. A distinção

entre menino e menina já é imposta des-de o começo: as meninas ganham roupas rosa, utensílios domésticos de brinquedo e bonecas para brincar, desenvolvendo ex-periências submetidas à maternidade. Já os meninos usam camisetas de super-heróis, fazem diferentes atividades físicas, e têm mais contato com o mundo exterior.

Esse tipo de doutrinação acaba causan-do reflexos à cultura de nossa sociedade. As crianças aprendem que meninos po-dem fazer mais coisas e meninas têm que ser submissas e obedientes. Essa forma de pensamento faz crescer cada vez mais o machismo que existe em nossa sociedade: homens aprendem a ser predadores e mu-lheres são vítimas da violência deles.

Gênero é um tema de extrema impor-tância, pois, de modo geral, a intolerância ainda existe, e é acentuada. Devemos de-batê-lo e discuti-lo, especialmente nas es-

Cindy [email protected]

Crédito: Pixels

Gênero, história e luta

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Alana [email protected]

Ato de conceder o poder de par-ticipação social às mulheres. Esta é a definição encontrada, ao se pesquisar, na internet, a

expressão “empoderamento feminino”. Entretanto, na prática, as mulheres sa-bem que isso tem uma relevância muito maior. Desde o auge da luta feminista, elas ocupam espaço cada vez maior na sociedade. Contudo, ainda são unânimes em afirmar que a luta está longe do fim e que há um longo caminho a percorrer.

A militante feminista Bruna Rodri-gues, compartilha essa opinião. “Sempre tive a certeza de que não estou abaixo de ninguém por ser mulher, mereço exata-mente o mesmo que qualquer outra pes-soa, e por isso o feminismo se encaixa no que eu acredito”, destaca. Ela concorda que existe muito a ser feito, e que as di-ferenças sociais entre os sexos ainda são gritantes, como a desigualdade salarial e a participação política; ressalta que esse momento político conturbado que o País vive não deve calar o movimento.

Já a estudante de História e ideali-

zadora do projeto Marias Lavrandeiras, Pâmela Cervelin Grassi, acredita que a atual conjuntura política não é favorável ao movimento. “A luta feminista caminha ao lado das bandeiras que combatem o capitalismo, o racismo e a homofobia. A situação política que enfrentamos no Bra-sil e no mundo, com o avanço de ideias conservadoras, não é favorável”, garan-te. Ela, que entendeu a importância do feminismo ainda jovem, percebe que há equívocos em como o movimento é visto. “Feminismo não é o contrário de machis-mo. Enquanto um violenta mulheres to-dos os dias, o outro parte da ideia de que mulheres, homens e LGBTs são sujeitos com acesso a direitos e liberdades equi-valentes”, relata.

Essa opinião também é aceita pelo sexo masculino. O técnico de informáti-ca Gustavo Costa, compartilha o mesmo ponto de vista. Exercendo uma profis-são que até há alguns anos era predo-minantemente masculina, ele percebe o aumento do número de mulheres na sua área, e destaca que ainda há muitos homens resistentes à presença feminina. “Tem muito cara que não aceita que as mulheres possam exercer as tarefas tão bem quanto nós, ou até melhor”, comen-

ta.

Empoderamento nas redes

Não é de hoje que as mídias sociais ocupam grande espaço em nosso cotidia-no. E é também através delas que se pode perceber o grande engajamento de pesso-as em torno de uma causa ou movimento, fato que não é diferente no feminismo. O uso das redes sociais como ferramenta de mobilização se tornou comum e essencial, até certo ponto.

Páginas de coletivos feministas no Face book, por exemplo, tornam-se um ca-nal de apoio e divulgação. É por meio de-las que muitas mulheres buscam reforço e informações acerca do movimento. Dali também surgem eventos e manifestações em prol da causa.

E, da mesma forma como as redes facilitam e agilizam o modo como as in-formações são repassadas, muitas vezes o que é difundido é um conceito invertido da causa. Bruna, por exemplo, acredita que a internet é uma via de mão dupla. “Do mesmo modo que contribui para divulgar o movimento, propaga o machismo e vá-rias ideias erradas da nossa luta”, finaliza.

A vez delas

Crédito: War Production

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Reportagem aborda como vivem famílias de presidiários, as humilhações que passam durante revistas íntimas, e o preconceito diário que sentem na pele, diante do olhar rigoroso da socie­dade

e preciso mostrar a ele que estou bem e feliz por encontrá-lo. Mas por dentro não posso demonstrar que me sinto acaba-da”, diz.

É nas primeiras horas da manhã de cada visita que Silvana costuma encon-trar dona Isolda (nome fictício), 54 anos, mãe de Eduardo (nome fictício) 30, preso há seis anos, acusado de tráfico de drogas e receptação de veículos. A partir daí, as duas trocam experiências e falam sobre as humilhações que passaram durante revistas íntimas, nos anos em que come-çaram a frequentar o presídio.

Isolda conta que, até 2012, a revista íntima era o que mais a deixava tensa, pois as mulheres ficavam nuas em fren-te às agentes penitenciárias. Naquele momento, tinham as regiões genitais in-vadidas pela luz de uma lanterna, além de terem que agachar-se e levantar-se algumas vezes e tossir. Atualmente, a adoção de detectores de metais portáteis e outros equipamentos eletrônicos, que auxiliam a revista, diminuíram o cons-trangimento.

Para Isolda, nada apaga as lembran-

ças de quando costumava levar para o filho bolos decorados e tortas salgadas, além de outras culinárias típicas da famí-lia, e as via sendo destruídas a ponto de quase virarem farelo. “Trazia um pouco do que ele comia em casa, para lembrar do conforto que tinha entre a família, mas via minha dedicação despedaçada, da mesma forma como a minha alma se sentia por ele estar naquele lugar”, con-fessa, com tristeza no rosto.

Sobre o preconceito que enfrentam da sociedade, tanto Silvana quanto Isolda concordam que vizinhos e parentes são os que mais criticam o momento difícil pelo qual passam, tratando o assunto de forma desprezível, sentimento contrárioa do que sentem quando vão ao presídio. “Acho que, com o passar dos anos, os agentes prisionais foram ficando mais humanos, diante da nossa situação. Eles sabem que a gente só vem aqui porque se importa e demonstra amor aos nossos homens e filhos que estão em situação desfavorável na vida”, conta Isolda, que se despede para entrar no presídio.

Ao amanhecer das quartas--feiras, sábados e domingos, em meio a conversas e troca de perfumes e maquiagem,

um grupo de mulheres aguarda ansio-so o início das visitas em frente a uma penitenciá ria da região. Muitas chegam cedo, por voltas das 6h 30min e, por con-ta de revistas, já vão formando fila, e evi-tando atrasos. A entrada está liberada a partir das 9 horas e todas querem estar bonitas e perfumadas, para encontrar o marido, namorados e filhos que lá cum-prem pena.

Segundo Silvana (nome fictício), 34 anos, que mantém uma união estável há oito com Luciano (nome fictício), 28, mostrar companheirismo, mesmo dian-te da dificuldade, é uma das formas de ajudá-lo a superar os quatro anos de re-clusão. Ele foi condenado por roubo à mão armada. “O vejo por poucas horas

Rafael [email protected]

Mulheres que sofrem em frente aos presídios

Crédito: Banco de Imagens

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Cursos e oficinas buscam a promoção e a valorização da vida para mulheres, que desejam evitar retorno ao mundo do crime, quando voltarem à sociedade

Felipe [email protected]

Superlotada, a Penitenciária In-dustrial de Caxias do Sul (PICS) padece com a crescente fuga de apenados: nove, até setembro de

2016. Na ala masculina, são 539. Já, na feminina, são 63 mulheres, milhares de sonhos e uma grade que bloqueia suas realizações. Ali, a maioria das reclusões está associada ao tráfico de drogas.

De acordo com o diretor da peniten-ciária, André Gomes, as mulheres são esquecidas pela própria família. Elas não são lembradas sequer pela comunidade. Muitos nem sabem que Caxias do Sul conta com ala penitenciária feminina. O próprio termo “penitenciária”, na prática, perdeu seu real significado.

Realidade dura e esperançosa

Nesse local, o Estado, ao mesmo tem-po que as submete à sanção das leis pu-nitivas, deveria ministrar-lhes instrução. No entanto, as casas prisionais brasileiras

não regeneram, tampouco ressocializam; ao contrário, o que se vê nos presídios é uma nova educação para o crime.

Nem tudo, entretanto, está perdido. Assistindo a uma matéria veiculada pela TV, com a jornalista Nana Queiróz, auto-ra do livro Presos que Mmenstruam, em meados de outubro de 2015, a bióloga Fabiana Ribas sentiu compaixão.

A bióloga, contatou a Pics e visitou o local com a intenção de doar absorven-tes, papel higiênico, sabonetes e afins. “Meu Deus, eu fiquei chocada”, relembra. Ao chegar lá, foi atendida por Gomes. O gestor, por sua vez, pediu que Fabiana fi-zesse algo a mais pelas mulheres que es-tão detidas. Foi então que surgiu a ideia de ministrar cursos profissionalizantes.

Assessoria é feita por voluntárias

Em 8 de dezembro de 2015, teve iní-cio a primeira turma do projeto “Profis-sionalização na Área da Beleza”. Coorde-nado pela vice-diretora da penitenciária, Rúbia Tschiedel e por Fabiana, a cada módulo concluído, as detentas recebem o certificado de participação. “Nós agra-

decemos à Fabiana, porque alguém está olhando por elas”, destaca Rúbia.

O aprendizado, além de ajudar na ressocialização, impacta na remissão da pena. A cada 12 horas de curso, é redu-zido um dia da pena. Essa iniciativa, além de atender à Lei de Execução Penal, hu-maniza o tratamento das detentas.

Cursos ajudam a recuperar vidas

Condenada a cinco meses de reclusão por furto, Helena (nome fictício), que já foi usuária de crack e cocaína, se recuperou; recaiu e voltou a recuperar-se. Agora pen-sa em sair do presídio e buscar ajuda para não voltar às drogas. “Fiz curso de LID e Metrologia, cursei Usinagem, mas não con-sigo emprego, porque todo mundo quer experiên cia”, diz.

Ao entrar na sala para iniciar o curso de depilação, Helena teve uma surpresa: uma das voluntárias foi sua amiga de infân-cia. “Ela sempre me dizia para eu parar de roubar e fazer cursos. Eu nunca quis ouvir”, disse. Sobre o embelezamento, ela respon-deu: “Quem sabe, me cuidando, eu possa conseguir algum trabalho.”

PICS aposta em projetos de ressocialização

Crédito: Felipe Padilha

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ram,” diz. O agricultor entende que os interessados devem buscar ajuda em associações de produtores, como a Rede Ecovida de Agroecologia, que au-xilia a iniciar na área e fornece o Selo de Fazenda Orgânica.

Consultada, a Secretaria de Agricul-tura de Caxias (Smapa) informa que já existiu suporte aos produtores, porém o serviço foi cancelado, em função da baixa procura. Atualmente, a secreta-ria disponibiliza locais para a realização das feiras ecológicas ou orgânicas. Elas ocorrem nas terças e nos sábados na Praça das Feiras e, nas quintas, na Feira Ecológica, na Universidade de Caxias do Sul (UCS).

PANCs: Uma nova tendência gastronômica

Além dos orgânicos, as flores, os cogumelos e mesmo ervas daninhas têm ganhado espaço no prato de algu-mas pessoas. São as PANCs ou Plantas Alimentícias Não Convencionais. Facil-mente encontradas na natureza, trazem inovação à mesa. O chef Gabriel Lou-renço, formado pelo UCS-ICIF - Italian

Culinary Institute for Foreigners, afirma que essas variedades são tão nutritivas e saborosas quanto os vegetais tradicio-nais.

“Ainda é meio restrito. Só quem gos-ta muito, ou precisa dos PANCs costuma procurar por eles”, reconhece o chef sobre a aceitação dessa nova forma de gastronomia. Ainda assim, é uma ten-dência que deve aumentar, pois esses alimentos podem ser utilizados por ve-ganos e vegetarianos em complemento à dieta, ressalta.

Em Caxias, o chef indica a Feira Or-gânica da Praça das Feiras para a aquisi-ção dos produtos e adverte em relação à coleta desses alimentos, sem o conhe-cimento prévio. “Para colher as PANCs, é preciso ler e conhecer as comestíveis. Existem muitas plantas nocivas à saú-de.”

Para os que querem saber mais so-bre o assunto, Gabriel recomendaa lei-tura do livro Plantas alimentícias não convencionais – Panc no Brasil, de Harri Lorenzi e Valdely Ferreira Kinupp. “É um bom livro para começar a entrar nesse universo tão rico”, destaca Lourenço.

A agricultura está presente em nossa vida há milênios. Com o passar dos anos, o modo de cultivar alimentos trans-

formou-se, por meio da utilização de aditivos para tornar a plantação imune a pragas e fazê-la crescer mais forte. Porém, agrotóxicos e fertilizantes inco-modam pessoas preocupadas com sua influência sobre a saúde.

A agricultura orgânica, ao produzir alimentos sem o uso de químicos, seria a saída. O produtor Leonardo Boscare cultiva orgânicos desde 2012, na Ser-ra gaúcha e afirma que esse mercado vem crescendo e irá crescer ainda mais: “Nunca faltou dinheiro; sempre sobrou; o pessoal gosta desses produtos.”

Vilson Pigato, agricultor caxiense, produz orgânicos há pouco mais de dois anos e reclama da falta de assistência da prefeitura do município. “Caxias dá assistência zero. Eu tive que ir atrás de tudo para começar a produzir. Ainda bem que outros produtores me ajuda-

Sarah [email protected]

Alimentação saudável em Caxias do Sul

Agriculturaorgânica

Crédito: Pixabay

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Presentes em refrigerantes a sorvetes, componentes artificiais podem ser responsáveis por do­enças graves, como o câncer, caso ingeridos em excesso

Rafael [email protected]

Os alimentos industrializados são cada vez mais protagonis-tas nas prateleiras dos mer-cados. Além de práticos, por

serem vendidos parcialmente prontos, o que facilita o trabalho do comprador, também recebem cada vez maior prazo de validade, devido aos aditivos que con-têm.

O tempo de conservação é maior, porém, no processo de industrialização, são necessários cuidados essenciais para que os aditivos não se tornem fatores iniciais de uma doença. De acordo com a engenheira de alimentos, Angela Bus-nello, o tempo do produto nas pratelei-ras é grande e favorece o mercado, mas a quantidade de adicionais não naturais pode ser prejudicial. “A química colocada nos alimentos deixa as pessoas mais sus-cetíveis a doenças. Quanto menos aditi-vos, melhor para a saúde, mas a indústria ainda caminha lentamente em direção a isso”, diz.

A engenheira alimentar conta que há um limite de utilização permitido para cada aditivo, definido na legislação bra-sileira. Os componentes podem trazer consequências aos consumidores, caso ingeridos em excesso. A nutricionista caxiense Cláudia Fogaça explica que a ex-posição aos aditivos pode causar doen-ças crônicas, rinites e agravamento da asma. Na infância, Cláudia explica que é indispensável um grande cuidado. “Estu-dos mostram que, entre 30% a 50% das crianças com hiperatividade há melhora nas condições de saúde quando alimen-tos ricos em aditivos químicos foram eli-minados.”

Hoje, são permitidos 12 tipos de aditivos pela legislação brasileira. Den-tre eles, Cláudia destaca os principais, que são a tartrazina (E102), o corante amarelo; o ácido carmínico (E120), utili-zado em bebidas energéticas; o corante vermelho (E124), usado em gelatinas; o corante azul (E133), encontrado em ba-las; o glutamato monossódico (E621), ingerido em pizzas; o aspartame (E951), encontrado em refrigerantes diet; e o acessulfame de potássio (E950), utilizado

em sucos de fruta. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o órgão responsável pela regulação da utilização dos aditivos.

Crédito: Rafael Zanol

Quanto menos aditivos, melhor para a saúde

Evitando a industrialização

Os perigos à saúde existentes, devi-do ao consumo de aditivos, podem ser evitados, desde que o consumidor tenha consciência ao escolher os produtos. Para Cláudia, o consumo pode ser realizado, mas de forma moderada. “Deve acontecer da mesma forma como se passa a consu-mir menos gorduras e mais proteínas”, instrui.

Outro hábito recomendado é o de se informar sobre os ingredientes que consti-tuem o produto, lendo seus rótulos. Cláu-dia ainda alerta que existem aditivos natu-rais, que não prejudicam a saúde e podem ser consumidos sem procupação, como o curcumina (E100), o betanina (E162) e o ácido cítrico (E330).

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radiche) e temperos (salsa, sálvia, cebo-linha).

Quais são os cuidados necessários na hora da irrigação? A irrigação deve ser realizada prefe-rencialmente pela manhã e, se for feita com a presença do sol intenso, além de causar choque térmico, causará evapo-ração mais rápida da água colocada. Prevê-se necessidade básica de 3 a 4 litros m2. Normalmente, no início do de-senvolvimento, as irrigações devem ser mais frequentes e com menor volume de água. No estágio de pré-florescimen-to e florescimento, a cultura tem maior necessidade de água.

Costumamos colocar restos de alimen-tos diretamente nas plantas sem mis-turar na terra, este seria um jeito certo de adubá-las? Precisa ser realizada a compostagem com os restos de alimentos, antes de co-locar diretamente nas plantas.

Qual a diferença entre hortas dentro de casa, externas e hidropônicas?Horta dentro de casa tem que usar re-cipientes para colocar a terra ou subs-trato para cultivo e deverá receber sol e água. Já a horta externa, no chão, tem o cultivo mais fácil, pois é só movimentar, efetuar o plantio e irrigar quando há es-cassez de chuva. O cultivo hidropônico é o mais complexo. Em qualquer sistema de cultivo, quando é fornecida água em excesso, ocorre lixiviação (perda de nu-trientes).

Quais alimentos são indicados para plantio nos espaços menores?As plantas recomendadas para espaços reduzidos são as de pequeno porte e vão exigir menos água. São exemplos: as folhosas (alface, chicória, almeirão,

Horta em casa,o engenheiro auxilia

Tatiana [email protected]

Crédito: Pixabay

Saúde em pequenos espaços

Neusa Maria Bandeira Caberlon, 55, que planta há mais de dois anos em sua casa, conta com cerca de 50 mudinhas, “os alimentos são mais saudáveis e sem agrotó-xico, pois sei o que estou comendo”. Ela lem-bra que, quando estudava, os alunos plan-tavam na escola, comiam no lanche e ainda levavam para casa. Hoje planta em casa em garrafas pet, baldes e vasos.

A estudante de jornalismo Caroline Rosa, 23, tem uma pequena plantação, pois gosta de mexer na terra. “É uma praticidade tu ter ali um temperinho, pois tu sabe que é uma coisa orgânica que não estará cheia de veneno, que não vai agredir tua saúde. Acho que a gente precisa, cada vez mais, ter essa consciência e trabalhar mais com a terra. Não é só uma questão de plantar e colher, mas também ter um convívio maior com a natureza.”

Produzir os próprios alimentos deixou de ser coisa somente dos mais velhos ou mesmo de pessoas que moram no campo. Hoje em dia, as pessoas montam sua própria horta, em es­paços reduzidos, pois é sempre bom: aumenta o contato com a natureza, além de manter uma alimentação mais balanceada. O engenheiro agrônomo José Taiarol, dá algumas dicas

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A Orquestra Municipal de Sopros e a Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (Osu­cs) mostram música clássica à população

Rodrigo [email protected]

dade concertista, tanto na música erudita como na música popular, dedicada aos instrumentos de sopro. A Orquestra parti-cipa do cenário internacional, tendo como solistas o trompetista canadense/norte- americano Fred Mills e os maestros Laszlo Marosi (Hungria) e Mark Whitlok (EUA).

Atualmente, conta com 50 músicos e, anualmente atinge um público de apro-ximadamente 35 mil pessoas. Aposta na interação da música orquestral com a co-munidade, tendo como meta agradar o público.

Da elite à popularização

Diego Schuck Biasibetti, violoncelista e maestro-assistente, da Orquestra Sinfôni-ca da UCS, fala como ela está sendo intro-duzida na sociedade, através dos eventos realizados.

“A música clássica sofre, mesmo hoje em dia, em ser tachada como elitista, não popular e outros termos do gênero. E isso é algo que tentamos, na verdade, desmi-tificar”.

Muitos são os fatores que, com o tem-

po, levaram a essa “não popularidade” da música clássica. Até recentemente, não existia uma discriminação na música por ser popular ou erudita, salienta Biasibetti. Com o passar do tempo, principalmente a partir das novas ideias difundidas durante o século XX, houve uma bifurcação na his-tória da música. Estabeleceram-se diferen-tes grupos, com instrumentos novos, com novas tecnologias, usos de amplificadores, e com a ascensão da guitarra e dos instru-mentos sintetizadores. “Daí não teve mais volta”, destaca o músico. A orquestra, que era uma instituição mais conservadora, não aceitava certas ideias praticadas por outros grupos. Um lado acabou então por ser mais “popular” e o outro mais “erudi-to”. Dividiram-se, assim, também os públi-cos.

Não nos damos conta, mas ela está inserida em várias formas de mídia, cine-ma, teatro. “A Osucs, por sua vez, faz um trabalho de reunificação do ‘erudito’ com ‘popular’, por meio de concertos com ar-ranjos ou mesmo peças compostas para o ‘novo gênero’, se é que posso assim cha-mar”, explica o músico.

A música clássicaem Caxias do Sul

A música clássica iniciou no sécu-lo IX, através da música secular e litúrgica ocidental. As normas da tradição foram codificadas

entre 1675 e 1900, tendo um intervalo de tempo para a prática comum. O dicioná-rio Grove comenta que o estilo é fruto da erudição e não das práticas folclóricas e populares.

O gosto do público por esse estilo mu-sical entra em declínio, a partir do final do século XX, por causa do imenso sucesso comercial da música popular, apesar do número de CDs vendidos, embora esse não seja o único indicador.

Em Caxias do Sul, a música clássica está em diversos grupos organizados, den-tre eles a Orquestra Municipal de Sopros e a Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (Osucs).

A Orquestra Municipal de Sopros está entre as mais importantes formações, por sua excelência no desempenho da ativi-

Crédito: Facebook / divulgação

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Desenhar, marcar algo na pele, uma homenagem. Essa prática tem crescido a cada dia. A tatua­gem é uma forma de gravar o próprio corpo. É uma arte muito antiga, que começou há mais de três mil anos, para inscrever na pele das pessoas de uma mesma comunidade

outras têm preconceito. Mas, para o tatuador Cássio Boff, 26, é um tan-to quanto estranho criminalizar uma forma de as pessoas se expressarem – “mas não posso falar muito sobre esse assunto porque eu nunca sofri com isso, ressalta”.

Cássio também conta que seu in-teresse pela tatuagem surgiu após ser convidado por um dono de estúdio de tattoo para aprender o ofício direta-mente no local. Ele já possuía um gos-to por desenhos e por tatuagens.

No estúdio, acabou conhecendo o body piercing, o que resultou em dei-xar as tattoos de lado por um tempo. “Depois de uns anos, quando me senti mais seguro na aplicação da perfu-ração corporal, voltei a desenhar e a vontade de aprender a tatuar voltou junto.”

Essa vontade que voltou fez com que Cássio se profissionalizasse como tatuador e body piercing. Assim pode-ria dar uma nova identidade ao corpo

Na Inglaterra, em plena Ida-de Média, o governo tatua-va as pessoas acusadas de crimes. Surgiu daí a fama de

que os tatuados são marginais, fama que vem até os dias de hoje. Já pela Igreja católica, a prática das tatuagens foi banida. Eles acreditavam que a ta-tuagem fazia parte de um pacto com o demônio.

No Japão, o indivíduo tatuado pre-cisa tomar cuidado, pois pode ser con-fundido com um membro de organiza-ção criminosa. Yakuza é a máfia mais conhecida naquele país e no mundo, pelo fato de seus integrantes terem o corpo tatuado.

A prática de tatuar-se ainda é vista com maus-olhos por parte da socie-dade. Algumas pessoas não gostam,

Felipe [email protected]

Quem sãoos tatuados no Brasil

Crédito: Felipe Brambatti

Em alguns casos, a tatuagem é liber-tadora. Exemplo disso é a jovem Bruna Antunes, 25 anos, que cursa Arquitetu-ra. Ela lembra que, com 18 anos, sofreu um acidente de carro. “Fiquei com uma cicatriz enorme na perna e não usava shorts ou saias por causa disso. Depois de muitas cirurgias, recebi alta para fa-zer plásticas e corrigir a cicatriz. Fiz uma só e decidi que não queria mais sofrer com anestesias e cirurgias. Preferi ‘so-frer’ ganhando um desenho lindo.”

Bruna tatuou em toda sua coxa di-reita dois deuses indianos que são suas paixões. Ela os mostra para todo mundo e não tem mais vergonha de usar saia! “A tatuagem me libertou.”

das pessoas, mostrar o que elas sen-tem e expor o que está dentro de cada uma delas, marcando a sua pele.

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Marina [email protected]

O objetivo era divulgar o livro, tirá-lo de dentro das lojas e o levar até onde as pessoas es-tavam. Essas foram as ideias

de três livrarias de Caxias do Sul, na déca-da de 70. Assim começou a Feira do Livro na cidade. A iniciativa surgiu de forma in-dependente, partindo primeiramente das livrarias Rossi, Paulinas (antiga São Paulo) e Sulina.

A proposta dos livreiros surgiu a partir da carência de público leitor em Caxias. De acordo com o presidente da Associa-ção dos Livreiros Caxienses (Alca), Cristia-no Bartz Gomes, a leitura ainda é um há-bito que poucas pessoas têm. A intenção era de que os livros estivessem na rua, nos locais de movimento do município.

No início, o evento se concentrava no antigo calçadão fechado que existia na Avenida Júlio de Castilhos, em frente à Praça Dante Alighieri. Foi somente anos mais tarde, com a expansão da Feira, que ela ocupou de vez os arredores do cha-fariz.

Segundo Gomes, o crescimento quali-tativo do evento iniciou no final dos anos 90 e início dos 2000. “Foi nessa época que aconteceu o grande salto qualitativo da Feira do Livro, nesses anos iniciaram as primeiras coberturas e nós começa-mos a crescer definitivamente”, relata.

Até os anos 80, as edições do espe-táculo literário ocorreram de forma inde-pendente, com iniciativa dos livreiros da cidade. Somente depois de dez anos de evento, a Prefeitura de Caxias começou a apoiar e auxiliar a Feira nos aspectos de infraestrutura e divulgação das ativida-des. Conforme o presidente da Alca, to-dos os anos, em torno de 40 livrarias par-ticipam do acontecimento e, em 2015, foram 48.

Na edição de 2016, o número de li-vreiros reduziu para 30. A maioria dos profissionais caxienses da área não quis participar do evento em função da mu-dança do local e a organização teve que recorrer a livrarias de outras cidades. “Desde o início, a finalidade do espetácu-lo literário foi de ser feito para a comu-nidade. Sem ela, o evento perde o sen-tido. Ele deixa de ter a sua função, o seu papel com a cidade, que é levar as obras

dos autores, o conhecimento, até onde o povo está”, afirma Gomes.

Nas primeiras edições, livreiros se concentravam no antigo calçadão fechado da Av. Júlio

Mais de 30 anos deFeira do Livro em Caxias

Crédito: Paulo Pasa / divulgação

32ª edição

A Feira do Livro 2016 ocorreu de 30 de setembro a 16 de outubro na Praça das Feiras na Estação Férrea. Mais de 120 mil pessoas visitaram o evento e cerca de 20 mil obras foram comercializadas, de acordo com dados da Prefeitura.

O hábito de ler

A leitura não afeta apenas o negócio do livro. Ela é uma questão que não permanece focada somente no mercado e em sua venda propriamente dita. O livro é abrangente e atinge todos os lugares, seja na área profis-sional seja na pessoal.

Segundo o presidente da Associação, no momento em que a pessoa aumenta o nível de leitura, ela aumenta o nível de consciên-cia crítica. “Quem lê torna-se mais partici-pante, mais atuante e é algo que nós preci-samos muito nesse período conturbado em que estamos vivendo no Brasil”, explica.

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