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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq 24 a 28 de outubro de 2016 R EVITALIZAÇÃO E PATRIMÔNIO : O CASO DO 4 º DISTRITO DE P ORTO A LEGRE Autores: Jânerson Coelho, Rochelle Costa1 RESUMO Com o objetivo de valorizar e reinserir o 4º Distrito de Porto Alegre, antiga área industrial atualmente degradada e abandonada, este trabalho apresenta diretrizes estratégicas de intervenção para a requalificação desta área urbana de grande potencial na cidade. As diretrizes propostas foram desenvolvidas a partir de um estudo macro da região em questão com recorte em área específica de menor escala a fim simular a aplicação das diretrizes de reestruturação. O objetivo principal da intervenção consiste em estabelecer estratégias para a preservação e valorização do patrimônio construído através da reabilitação urbana com conceitos de: mix de atividades com ênfase no uso residencial, de conectividade entre os tecidos urbanos adjacentes e de priorização da circulação de pedestre, no sentido de promover novas oportunidades para viver, morar e trabalhar tendo como finalidade recuperar a dinâmica econômica e social associada a preservação e valorização da memória do bairro. As diretrizes propostas fundamentam-se nos princípios de grandes teóricos urbanísticos e estruturam-se na legislação em vigor, assim como nas normas em relação à edifícios patrimoniais, presentes intensamente na área em estudo. PALAVRAS-CHAVE: Área degradada, patrimônio histórico, requalificação urbana. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O desenvolvimento e o crescimento das cidades em seu processo histórico configuram novas características morfológicas e funcionais de acordo com cada período de evolução. Fato registrado pelas atuais grandes metrópoles com a presença de áreas portuárias e industriais abandonadas e degradadas na paisagem urbana devido a desativação dos portos e a descentralização das industrias. O 4º Distrito de Porto Alegre compreende a antiga área industrial que proporcionou o desenvolvimento econômico da cidade, mas que, com o êxodo industrial juntamente com outros fatores, transformou-se em área sem atrativos e decadente.Neste contexto, este trabalho visa reconhecer a história e a memória do local e estabelecer estratégias para a preservação e valorização do seu patrimônio construído assim como recuperar o sentido de lugar através da reabilitação urbana. 1 Arquitetos e Urbanistas. Mestrandos em Arquitetura e Urbanismo no Programa de Pós- Graduação Stricto Senso UniRitter / Mackenzie. E-mails: [email protected]; [email protected]

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REVITALIZAÇÃO E PATRIMÔNIO: O CASO DO 4º DISTRITO DE

PORTO ALEGRE

Autores: Jânerson Coelho, Rochelle Costa1

RESUMO

Com o objetivo de valorizar e reinserir o 4º Distrito de Porto Alegre, antiga área industrial atualmente

degradada e abandonada, este trabalho apresenta diretrizes estratégicas de intervenção para a

requalificação desta área urbana de grande potencial na cidade. As diretrizes propostas foram

desenvolvidas a partir de um estudo macro da região em questão com recorte em área específica

de menor escala a fim simular a aplicação das diretrizes de reestruturação. O objetivo principal da

intervenção consiste em estabelecer estratégias para a preservação e valorização do patrimônio

construído através da reabilitação urbana com conceitos de: mix de atividades com ênfase no uso

residencial, de conectividade entre os tecidos urbanos adjacentes e de priorização da circulação

de pedestre, no sentido de promover novas oportunidades para viver, morar e trabalhar tendo como

finalidade recuperar a dinâmica econômica e social associada a preservação e valorização da

memória do bairro. As diretrizes propostas fundamentam-se nos princípios de grandes teóricos

urbanísticos e estruturam-se na legislação em vigor, assim como nas normas em relação à edifícios

patrimoniais, presentes intensamente na área em estudo.

PALAVRAS-CHAVE: Área degradada, patrimônio histórico, requalificação urbana.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O desenvolvimento e o crescimento das cidades em seu processo histórico configuram novas características morfológicas e funcionais de acordo com cada período de evolução. Fato registrado pelas atuais grandes metrópoles com a presença de áreas portuárias e industriais abandonadas e degradadas na paisagem urbana devido a desativação dos portos e a descentralização das industrias.

O 4º Distrito de Porto Alegre compreende a antiga área industrial que proporcionou o desenvolvimento econômico da cidade, mas que, com o êxodo industrial juntamente com outros fatores, transformou-se em área sem atrativos e decadente.Neste contexto, este trabalho visa reconhecer a história e a memória do local e estabelecer estratégias para a preservação e valorização do seu patrimônio construído assim como recuperar o sentido de lugar através da reabilitação urbana.

1 Arquitetos e Urbanistas. Mestrandos em Arquitetura e Urbanismo no Programa de Pós-

Graduação Stricto Senso UniRitter / Mackenzie. E-mails: [email protected]; [email protected]

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2 O 4º DISTRITO DE PORTO ALEGRE

O 4º Distrito é um território localizado na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, formado pelos bairros Farrapos, Humaitá, Navegantes, São Geraldo, Floresta e Marcílio Dias (Figura 1). Historicamente industrial e operário sofreu processo de êxodo das indústrias que preferiram seguir rumo à Região Metropolitana e a outros polos industriais onde o custo do solo era mais atrativo, maior oferta de mão-de-obra e incentivos fiscais.

Figura 1: Mapa de localização do 4º Distrito, Porto Alegre.

Fonte: Ilustração dos autores.

Este esvaziamento das atividades industriais, somado aos constantes alagamentos e conflitos viários decorrentes das barreiras físicas originadas pelos corredores de ônibus, dique e linha de trens urbanos, transformaram o 4º Distrito em uma região de pouca atratividade imobiliária e comercial, e de dinâmicas sociais decadentes.

O processo histórico e o desenvolvimento da cidade promoveu transformações nessa área, dentre as quais se destacam o aterro e das obras de infraestrutura como a construção da travessia Regis Bitencourt, do dique Navegantes, da Av. da Legalidade e Democracia – antiga Av. Castelo Branco –, e das vias férreas que atendiam ao porto e que posteriormente foram transformadas em Linha de Trens Metropolitanos.

3 RECONHECIMENTO

Além da importância histórica desta região para o desenvolvimento da cidade de Porto Alegre, analisar alguns aspectos de sua estruturação, tais como: conectividade, sistema de proteção contra cheias, TRENSURB e futuro metrô, e relação com a água, nos permite um melhor reconhecimento da área de intervenção.

3.1 Conectividade

O 4º Distrito está localizado próximo a entrada e saída da cidade além da proximidade ao centro histórico, a rodoviária e ao aeroporto. A região possui boa infraestrutura viária sendo atendida por três grandes radiais históricas da cidade: Av. Cristóvão Colombo, Av. Farrapos e Av. Castelo Branco, atual Av. da Legalidade e da Democracia (Figura 2).

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Entretanto os bairros da região enfrentam problemas de circulação gerados por três fatores básicos: primeiro, dificuldade de transposição do Dique Navegantes. A Av. da Legalidade e da Democracia possui apenas dois acessos em nível inferior que são fundamentais para ligação com o centro e o porto da cidade; segundo, impossibilidade de transposição das vias férreas na parte norte do bairro Navegantes, existem apenas dois pontos de transposição que são na Av. Voluntários da Pátria e Av. A J Renner; terceiro, quarteirões demasiadamente grandes no Bairro Navegantes. Este fator está ligado diretamente à história da expansão do bairro Navegantes em que a implantação de fábricas em grandes lotes acabou por inviabilizar a continuidade de algumas avenidas como Av. Rio Grande e Av. Missões.

3.2 Sistema de Proteção Contra Cheias

Um dos fatores para a migração das industrias da região foram os alagamentos. Com um solo argiloso e de baixa absorção os bairros São Geraldo, Humaitá e Farrapos historicamente enfrentam problemas de drenagem e o sistema de proteção contra cheias da capital agrava a situação promovendo um confinamento das águas pluviais dependendo exclusivamente da elevação mecânica do volume ao seu destino final (Figura 2). Medidas que busquem retardar a velocidade de escoamento superficial, armazenar água em bacias de detenção contribuem para mitigar os alagamentos na região.

Figura 2: Diagrama do sistema viário e do sistema de proteção contra cheias.

Fonte: Autores.

3.3 TRENSURB e futuro Metrô

A Linha 1 operada pela Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (TRENSURB) atende os municípios do eixo norte da Região Metropolitana e foi implantada ao longo da faixa de domínio da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), na década de 1970, iniciando sua operação no início dos anos 1980. Dois aspectos importantes podem ser relacionados à estratégia de implantação deste sistema: a proximidade com a borda do Guaíba acabou anulando um dos lados de sua zona de influência e a consolidação do forte limite imposto pelo dique uma vez que a linha de desenvolve em superfície. Uma alternativa subterrânea ao longo do eixo da Av. Farrapos foi considerada na época sem se concretizar por questões econômicas.

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A TRENSURB desenvolveu planos de expansão do sistema lançando o projeto da Linha 2 que tinha o objetivo de ligar a Zona Norte ao centro da Capital absorvendo a demanda de transporte dos municípios de Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Viamão. O traçado se desenvolvia basicamente ao longo do eixo das avenidas Assis Brasil e Cristóvão Colombo tendo implantação em via elevada na primeira e subterrânea na segunda. O projeto não foi executado por uma série de razões dentre elas o impacto de uma via elevada na Av. Assis Brasil e o alto custo com desapropriações ao longo da Av. Cristóvão Colombo.

O projeto da Linha 2 desencadeou uma série de estudos que passaram a considerar o sistema de transporte no âmbito da região Metropolitana. Passou-se a considerar todos os modais de transporte e não apenas o modal metroferroviário, dentro de um plano Integrado de mobilidade, o chamado PITMUrb2. Esses estudos resultaram no atual projeto para o Metrô de Porto Alegre que propõem um traçado semelhante em boa parte ao da Linha 2: se desenvolve ao longo da Av. Assis Brasil e da Av. Farrapos e prolongando-se até o parque Marinha do Brasil pela Av. Borges de Medeiros conforme demonstrado na (Figura 3).

Figura 3: Esquemas da Linha 1 da TRENSUR e o futuro Metrô de Porto Alegre.

Fonte: Ilustração dos autores.

O cenário futuro da implantação do metro resulta em uma situação que por um lado pode se tornar um problema do ponto de vista operacional e de outro uma grande oportunidade para a cidade. De um lado teremos dois sistemas de transporte de alta capacidade operando muito próximos um ao outro, gerando desde competição entre os sistemas a deslocamentos negativos3 e de outro uma possível conexão física entre as duas linhas no terminal Cairú o que sugere a desativação do trecho da Linha 1 compreendido entre a Estação Aeroporto e a Estação Mercado permitindo assim a reconexão dos tecidos urbanos e a possibilidade de uma relação mais franca com o Guaíba.

2 Plano Integrado de Transporte e Mobilidade Urbana 3 Situação em que o usuário que deseja ir de Novo Hamburgo ao Terminal Triângulo, tenha que

ir até o centro pela Linha 1 e voltar com o Metrô, por exemplo.

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3.4 Relação com a água

A área possui forte apelo paisagístico pela proximidade com a água, o belo pôr do sol, a presença das elevadas da travessia Regis Bitencourt que reforçam a imagem de avanço e modernidade da grande metrópole, Capital do Estado. Em função dessas características a área tem sido palco para frequentes gravações cinematográficas e filmes publicitários e associar essa imagem ao grande desejo por parte dos porto-alegrenses em aproveitar uma das suas mais belas paisagens naturais, pode se tornar uma grande oportunidade para potencializar a requalificação do 4º Distrito principalmente nos bairros Navegantes e São Geraldo que carecem de praças e espaços abertos para a apropriação e convívio da sociedade.

4 DIAGNÓSTICO

Ao fazer o reconhecimento e análise da região verificamos que compreende uma área de grande potencial de crescimento e de localização estratégica da cidade. Caracterizada por antiga área industrial, atualmente degradada e com entorno marginalizado, ocupações predominantemente de pequeno porte e de caráter comercial, além de galpões industriais abandonados, edificações obsoletas, lotes vazios e a forte presença de edifícios patrimoniais. A área carece de investimentos públicos e privados e, a interação e apropriação pela sociedade, quando há, é mínima e em horário comercial, um dos fatores que resulta na insegurança da zona.

O processo de diagnostico revelou disparadores para o desenvolvimento das estratégias de intervenção, reconhecendo suas fragilidades e potencialidades e, uma grande área de oportunidade para crescimento e desenvolvimento da cidade ao reinserir esta área estratégica e de valor histórico na vida da cidade ao promover oportunidades de apropriação, além de preservar e valorizar o patrimônio histórico existente e, atualmente, desvalorizado.

5 CONTEXTO ATUAL

Reconhecido como área nobre e privilegiada da cidade o 4º Distrito espera, há pelo menos 30 anos, por uma revitalização. O grande interesse, tanto por parte do poder público como por iniciativa privada, por essa transformação não tem conseguido sintonia e as poucas ações que observamos são iniciativas pontuais, não fazendo parte de um planejamento específico para área. Neste contexto, obras de mobilidade iniciadas pela prefeitura como a duplicação da Av. Voluntários da Pátria e iniciativas como Projeto Distrito C (Distrito Criativo)4, que compreende um programa ligado a indústria criativa que visa promover atividades cultuais relacionadas a arte e a música, manifestam a preocupação da comunidade e do poder público pela transformação, mas não garantem uma continuidade sustentável.

4 O Projeto Distrito C, com início em 2013, foi organizado pela UrbsNova Porto Alegre –

Barcelona, agência de inovação social, cujo trabalho é propor formas inovadoras de organização às comunidades e que tenham impacto social.

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A elaboração de um planejamento claro e especifico para a área é necessária para garantir ações integradas, em um prazo alargado, que estabeleçam novas regras que promovam o equilíbrio entre os interesses dos investidores e a preservação e valorização do patrimônio e evite que o poder público tenha que estabelecer regras caso a caso de acordo com os interesses do mercado imobiliário como ocorrido nos casos do complexo da Arena do Grêmio e o empreendimento Rossi Fiateci.

6 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Fatores como localização estratégica, boa conectividade são importantes para o grande interesse em revitalizar o 4º Distrito, porém um fator é aqui considerado como determinante: a imagem característica e presente no consciente coletivo do “antigo setor industrial da cidade”. Esta imagem, materializada nos edifícios históricos remanescentes, nas chaminés, na volumetria horizontal predominante e na conformação do traçado viário, se constitui como peça chave para a elaboração das estratégias e em torno das quais serão elaborados o conceito da intervenção.

As diretrizes baseiam-se no conceito da metástase positiva, que se refere a intervenções em pontos estratégicos que irradiam energia para o entorno e potencialidades da área e criam incentivos capazes de atrair investimentos e promover a valorização dos edifícios patrimoniais. Essas intervenções se dariam intencionalmente em bens de estruturação visando sua refuncionalização ao abrigar novos programas como equipamentos culturais, educacionais, comerciais, etc.

O patrimônio histórico está presente no processo de transformação das cidades, deve ser preservado e valorizado, tendo como norte as normativas nacionais e internacionais. Preservar a matéria original do bem patrimonial, sendo ele um testemunho de uma época que revela sua história, métodos e técnicas, em respeito ao bem busca-se reconhecê-lo, preservá-lo com o mínimo de intervenção possível e, valorizá-lo através da apropriação e interação da comunidade com a sua refuncionalização, sendo o uso um meio de preservar a edificação e não como finalidade da intervenção. A noção de ruptura entre o passado e o presente, reconhecer o antigo e o novo e ainda o conceito de reversibilidade devem nortear as ações.

Essa postura de intervenção se afilia aos pensamentos de Camilo Sitte (1843-1903) e Gustavo Giovannoni (1873-1947), grandes personagens da teoria do urbanismo que deixaram grandes contribuições para o planejamento urbano e a preservação do bem patrimonial e suas relações com o meio urbano. Com o conceito do diradamento de respiro público – praças com centros livres como entidades fechadas - e na relação largura via altura prédios, Camilo Sitte aborda intervenções que otimizem as relações urbanísticas e vivenciais da comunidade valorizando e preservando as edificações patrimoniais e a memória local. O arejamento das quadras através da configuração de pequenas praças, sempre considerando a quadra como unidade e não apenas a edificação é um conceito importante explorado por Giovannoni.

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7 ÁREA DE INTERVENÇÃO

A área integra o Bairro Navegantes e se localiza próximo à entrada da cidade. A justificativa para a delimitação da área se dá na presença de importantes bens de estruturação e compatibilização de grande relevância tanto pelo porte, podendo oferecer boa estrutura para equipamentos culturais ou educacionais como pela qualidade arquitetônica de suas construções. Apresenta também vazios urbanos potenciais, a Capela Nª Senhora dos Navegantes e área portuária junto ao Guaíba. Esses componentes do tecido urbano, presentes invariavelmente ao logo de todo o 4º Distrito, tornam o recorte representativo da realidade da região e apto para a simulação proposta por esse trabalho.

A área apresenta desafios de várias naturezas como de conectividade, com grandes limites físicos como o Dique Navegantes, a linha de trens e os corredores de ônibus, e ainda com carência de dinâmica urbana muito ligada à baixa população residente.

Figura 4: Delimitação dá área de estudo.

Fonte: Desenho dos autores.

8 ESTRATÉGIAS E INSTRUMENTAÇÃO

As estratégias de intervenção compreendem três conceitos principais, que apresentam respectivas diretrizes como instrumentação à viabilidade.

8.1 Atividades e volumetria

A ideia é estabelecer um regime de usos baseado na combinação de funções visando promover dinâmica urbana em diversos horários. Constitui um conceito importante que necessariamente deve abranger, não apenas a região do 4º distrito, mas também os tecidos adjacentes. Neste aspecto a atividade residencial, combinada a outros usos, assume um papel central no sentido de garantir uma intensidade funcional contínua e, além de gerar controle social, atua como motor de financiamento de equipamentos cívicos.

Promover o mix de usos no âmbito do bairro já é um conceito consagrado no urbanismo contemporâneo, no entanto essa ideia se potencializa quando contamina o programa dos edifícios ao estabelecer uma nova tipologia híbrida. A capacidade dos edifícios híbridos de gerar dinâmica ao negociar a combinação de funções que se complementam e agregar em vez de segregar. Embora a função de habitar é a de mais difícil inserção em programas híbridos, devido às crescentes demandas dos usuários em termos de privacidade e segurança, o

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equilíbrio entre intimidade e comunidade requer um consenso de interesses compartilhados, um pacto que permita a diversidade sem violar a individualidade. Outras vantagens que se viabilizam com programas híbridos em um contexto urbano diverso e denso é a possibilidade de diminuir a demanda de deslocamentos já que os desejos da população se encontram próximos podendo ser realizados de bicicleta ou a pé.

Assumir a característica histórica do 4º Distrito como bairro industrial e promover atividades industriais limpas como montadoras eletroeletrônicas, webfactory, etc., são medidas que também contribuem para um entorno vibrante.

O mapa abaixo (Figura 5), ilustra a proposta de setorização para a área de estudo dando clara predominância para o uso misto, representado pela cor roxa. Atividades como comércio e serviço, representados pela cor ciano, são definidas pela proximidade aos eixos de maior movimento como as avenidas Farrapos, Sertório e Voluntários da Pátria. Os bens de estruturação, classificados como de maior relevância anteriormente, aqui abrigam atividades culturais, educacionais e institucionais.

Figura 5: Distribuição das atividades na área de estudos.

Fonte: Ilustração dos autores.

Densidade é sinônimo de intensidade. Não basta promover a mescla de usos e atividades em um contexto urbano que se pretenda dinamizar sem que haja uma ação contundente no sentido de densificar a região. Se não há pessoas não haverá quem realize essas atividades. Naturalmente essa premissa implica diretamente em questões de infraestrutura e volumetria o que demanda a esta ação um senso de proporcionalidade e compatibilidade em cada situação específica visando preservar a paisagem tão cara para a manutenção da imagem da área.

A proposta toma como base os bens de estruturação para estabelecer o regime de alturas para a área de intervenção. Entende-se por bens de Estruturação os imóveis protegidos, isto é, não podem sofrer alterações nas fachadas e na volumetria. Os bens de compatibilização são imóveis que estão relacionados com os bens de estruturação por vizinhança ou conformação de conjunto edificado. Estes imóveis podem sofrer qualquer tipo de intervenção desde que se harmonize com o bem de estruturação. Nas demais áreas se

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estabelece um limite de seis pavimentos como representado pela mancha amarela na imagem abaixo (Figura 6). No entanto os imóveis que se relacionem diretamente com bens de compatibilização cujo bem de estruturação o qual está vinculado possuam altura inferior ou superior a seis pavimentos, este deverá respeitar a altura máxima deste bem de estruturação. Assim se preserva a paisagem no entorno imediato dos bens de estruturação.

Figura 6: Regime volumétrico. Fonte: Ilustração dos autores.

8.2 Reconectar.

Paradoxalmente a oferta de infraestrutura de transporte e malha viária são os grandes responsáveis pela falta de conectividade de boa parte do tecido urbano do 4º Distrito. Confinada entre as Av. da Legalidade e Democracia e Av. farrapos, a área depende de vias locais e algumas coletoras como a Av. Presidente Roosevelt para sua fluidez. A leste temos o corredor de ônibus da Farrapos que interrompe o livre fluxo das ruas transversais da avenida permitindo travessias em apenas alguns. Ao Norte a linha de trens que inviabiliza a conexão entre os tecidos do bairro navegantes permitindo apenas a transposição em dois pontos: sob a estação Farrapos e através de um viaduto na Av. Voluntários da Pátria. A oeste o Dique Navegantes impões dificuldades de relação com a orla do Guaíba.

Todas essas debilidades, em grande medida, se devem à presença da via férrea. A supressão desse limite como sugerido anteriormente viabilizaria uma série de melhorias de mobilidade na região. Uma mudança clara seria a eliminação do corredor de ônibus da Av. Farrapos, já que esta, receberia uma linha de metrô subterrâneo, absorvendo toda a demanda do transporte rodoviário. Outra possibilidade imediata seria o prolongamento de várias ruas ao norte do bairro navegantes.

A proposta sugere a desativação de trecho da linha de trens urbanos, porém não depende exclusivamente dela para propor algumas modificações importantes para a área. O prolongamento das avenidas Missões, Rio Grande e da rua Santos Pedroso, além da criação de praças no interior de mega-quadras, conforme ilustrado nos diagramas abaixo (Figura 7), são ações que, nessa área específica, conduzem à um sistema de movimentos mais dinâmico e fluido e que podem contaminar as demais zonas do 4º Distrito.

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Figura 7: Diagramas das intervenções viárias.

Fonte: Desenho dos autores.

Os diagramas acima ilustram também a intenção de criar um parque urbano capaz de desempenhar um papel no âmbito regional e injetar energia na própria ação revitalizadora que se pretende no 4º Distrito. O próprio parque como metástase positiva, aproveitando uma área de grande apelo paisagístico pela relação com a água e o belo pôr do sol. A ideia de um parque nesta área enfrenta o desafio de garantir uma transposição mais franca do Dique Navegantes, nesse caso, dotar as atuais passagens de nível com passeios mais generosos e boa iluminação além de novos pontos de conexão seriam possíveis alternativas como mostram as ilustrações abaixo (Figura 8).

Figura 8: Alternativa de qualificação das atuas passagens de nível do Dique Navegantes.

Fonte: Desenho dos autores.

8.3 Priorização da circulação de pedestre e ciclistas

Temos visto ultimamente, em várias cidades do mundo, ações que priorizam a circulação de pedestres e de ciclistas. Esta tendência é uma reação aos efeitos nocivos que o uso massivo do transporte individual tem produzido nas grandes cidades. Oferecer alternativas assim como impor medidas restritivas ao uso de automóveis são ações iniciais que visam recuperar o espaço perdido. No entanto um aspecto importante dessa relação reside nos desejos de deslocamentos das pessoas. Morar longe do trabalho ou da escola não é definitivamente a única razão para os problemas de mobilidade, congestionamentos e poluição, mas certamente contribuem contundentemente para tal. A ideia da cidade compacta que encurta distâncias, abre possibilidades para o uso mais franco de modais não motorizados. Nesse espirito, a proposta se

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baseia em conceitos de transito calmo ou Trafic Calming que preconiza um sistema de movimentos compartilhado priorizando pedestres e ciclistas.

Dentre as opções viáveis para a área estão redesenho das esquinas (Figura 9), definição de vias exclusivas para pedestres, destinação de pontos para parklets nas adjacências dos estabelecimentos comerciais.

Figura 9: Diagrama genérico para o tratamento dos cruzamentos.

Fonte: Desenho dos autores.

9 ÂNCORAS

Ao reconhecer e valorizar a importância das edificações patrimoniais, gerar praças em seu entorno e promover ambientes de convivência e contemplação da paisagem urbana, definimos dois pontos que também atuarão como metástases positivas, a afim de exemplificar de maneira efetiva as intenções deste trabalho. São ações que buscam encadear transformações evolutivas no 4º Distrito como um todo e, consequentemente, recuperar a dinâmica econômica e social da área associada a preservação e valorização da memória do bairro.

Aqui, intencionalmente, escolhemos dois bens de estruturação que possuem grande relevância arquitetônica e porte capaz de abrigar programas potentes como centros universitários, centros comerciais ou até mesmo combinar funções como visto anteriormente no tema dos edifícios híbridos.

Como forma de sintetizar todos os conceitos e estratégias exploradas neste trabalho, definimos um desses bens para simular a aplicação direta do conceito das metástases positivas. A área está localizada em um grande quarteirão conformado pelas ruas Comendador Tavares e Dr. João Inácio – a norte e sul respectivamente –, e entre as avenidas Voluntários da Pátria e Pres. Roosevelt – a oeste e leste respectivamente. A escolha se justifica pelo fato de a área reunir: bem de estruturação, vazio urbano, mega-quadra e ruas interrompidas, o que a torna um excelente caso para esta simulação.

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Figura 10: Área escolhida como caso para a simulação das Metáteses positivas. Fonte: Captura de tela do Google Earth.

Basicamente, ao prolongar a Av. Rio Grande, a proposta configura junto ao patrimônio uma área pública de lazer com diversidade de serviços, tais como: restaurantes, pubs, bar café e comercio em geral (Figura 11), valoriza-se na paisagem a edificação histórica e incentiva-se a apropriação da comunidade deste novo complexo multiuso constituindo um lugar que irradia energia e promove o avivamento e a reabilitação urbana.

Figura 11: Simulação

Fonte: Fotomontagem dos autores

10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O patrimônio está diretamente relacionado a memória da área em que se insere. É um legado da história, costumes e técnicas exploradas. Infelizmente, com o desenvolvimento e crescimento das cidades, estes bens não são reconhecidos pela sua importância histórica e arquitetônica e sua inserção no tecido urbano não é valorizada.

As edificações patrimoniais devem participar da dinâmica da vida urbana com usos que promovam sua apropriação e interação com a sociedade.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ACOSTA, Daniela. CUSTODIO, Bianca. TATA, Juan Pablo. 22 @ Barcelona: el plan. Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona, Barcelona, 2015.

KÜHL, Beatriz Mugayar. Gustavo Giovannoni: textos escolhidos. Ateliê Editorial, São Paulo, 2013. 208p.

PORTO ALEGRE. L.C. 434/99, atualizada e compilada até a L.C. 667/11, incluindo a L.C. 646/10. PDDUA Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre. Secretaria do Planejamento Municipal, Porto Alegre, 2010.

Sitte, Camillo. A construção das cidades segundo seus princípios artísticos. Ática, São Paulo, 1992. 208p.