Ruy Mesquita, obituário Estadão, H5

1
O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2013 Especial H5 Dilma Rousseff Presidente da República Ruy Mesquita foi um homem de convicções. Diretor do jor- nal O Estado de S. Paulo, cria- dor do inovador Jornal da Tar- de, Doutor Ruy - como era co- nhecido - foi símbolo de uma geração da imprensa brasileira. Neste momento de dor, presto a minha solidariedade à família e amigos. Geraldo Alckmin Governador do Estado de São Paulo Com a morte de Ruy Mesquita, o Brasil perde um de seus ho- mens públicos mais indispensá- veis. O Dr. Ruy, como era cha- mado, lutou ao longo de déca- das por um país verdadeira- mente livre e republicano. Era um homem culto e honrado, um jornalista talentoso que enxergava como poucos os pe- rigos do populismo e de todas as outras forças, veladas ou confessas, que emperram a transformação do Brasil em uma nação moderna. Nos últi- mos anos, foi o responsável direto pelos melhores edito- riais da imprensa brasileira, balizando, com seu bom senso avassalador, o debate político e econômico. Seguindo uma tradição muito cara à família Mesquita, teve reconhecida em vida sua coragem em favor da liberdade de imprensa. É grande a nossa perda no dia de hoje. Em meu nome, no de mi- nha família e do Governo do Estado de São Paulo, presto homenagem a este grande pau- lista e transmito à sua família nosso sentimento, solidarieda- de e orações. Luiz Inácio Lula da Silva Ex-presidente da República Ruy Mesquita era um desses raros exemplos de dono de jor- nal apaixonado pelo jornalis- mo. Pelo jornalismo e pela polí- tica, com a qual conviveu des- de menino, ao acompanhar o pai no exílio. Ele deixa no jorna- lismo brasileiro uma marca fun- damental: a criação do Jornal da Tarde, que revolucionou a imprensa nos anos 60. Pessoal- mente guardo dele uma boa lembrança. Em 1978, no início da minha trajetória como líder sindical, Ruy Mesquita me en- trevistou por 4 horas. Não reve- lou qualquer preconceito e con- duziu a entrevista com o espíri- to aberto de um bom repórter. Nessa hora de tristeza, presto minha solidariedade à família e a seus amigos. Fernando Haddad Prefeito de São Paulo São Paulo e o Brasil se enlutam pela morte de um notável jor- nalista que promoveu o emba- te franco de ideias e que fará falta ao País. José Serra (PSDB-SP), Ex-governador de São Paulo A primeira vez que vi o Ruy, eu era estudante, presidente da UEE. Estávamos num debate no Sedes Sapientiae, num audi- tório com mais de 500 pessoas, todos jovens entusiasmados com a Revolução Cubana e de posições bastante radicais. E o Ruy estava lá sozinho, no cen- tro da mesa, expondo ideias contra a corrente do local. Nós dois debatemos de forma vee- mente, mas sempre educada. Três coisas me deixaram muito impressionado: a coragem com que encarou a situação, a tole- rância com opiniões divergen- tes, e a fala fácil, clara, e com uma ironia até gostosa, mesmo para quem fosse alvo dessa iro- nia. Eu já fazia algo que sempre faço, que é avaliar com quem estou debatendo, e essa primei- ra impressão sobre o Ruy foi marcante. Isso foi no segundo semestre de 1962. No ano seguinte, voltamos a debater, dessa vez em uma TV, creio que na TV Paulista. Ele na mesa, e eu em pé, com um grupo de estudantes, ao vivo. Ele falava sobre a invasão da Hungria pelos soviéticos em 56 e sobre a construção do Muro de Berlim. E eu argumentava, como muitos de nós fazíamos, questionando qual era a rela- ção entre o muro e a pobreza no Brasil, a desigualdade, a mortalidade infantil. Até por- que eu não era admirador dos soviéticos, não acreditava que o Brasil pudesse se transfor- mar em um regime comunista. Com o tempo, vi que muito do que o Ruy dizia nessa época fazia sentido. Quando eu voltei ao Brasil, após 14 anos de exílio, nos en- contramos num bar que havia na Oscar Freire, por intermé- dio de um amigo em comum. Desde então, com alguma fre- quência nos encontrávamos para conversar, ou melhor, pa- ra discutir o Brasil. Com ele, você obrigatoriamente discutia o Brasil. Ele era um homem de espírito público, com bandei- ras sobre o Brasil, análise sobre o mundo. Do exílio eu me lem- bro de ter ficado impressiona- do com a resistência à censura feita pelo Estadão e pelo JT,e sabia que isso tinha envolvi- mento do Ruy. Era um jornalis- ta com muita capacidade inte- lectual, de visão e análise sobre o Brasil e sobre o mundo. Odilo Scherer Arcebispo de São Paulo Recebo com pesar a notícia da morte de Ruy Mesquita, e ex- presso minha solidariedade à sua esposa, aos filhos e familia- res neste momento de dor. Ao longo de sua vida longa e opero- sa, Dr. Ruy deu registro à me- mória histórica do nosso País. Como responsável pelo conteú- do de opinião do jornal, ele abriu no Estadão um espaço para a diversidade de opiniões e também convicções religio- sas. Foi um convicto e ardoro- so defensor da liberdade. Tive a oportunidade de visitá-lo em sua enfermidade e de rezar por ele. Deus, que sonda os pensa- mentos e conhece os corações, agora seja-lhe misericordioso. Antonio Patriota Chanceler É com muito pesar que recebo a notícia do falecimento de Ruy Mesquita. Defensor incan- sável dos ideais republicanos, o jornalista iniciou suas ativida- des no Estadão na seção Inter- nacional e, em 65 anos de traba- lho, fez o Grupo Estado voltar os olhos para o mundo, antes mesmo de a globalização con- solidar-se como fenômeno nos meios de comunicação. Graças a seu ofício diário, contribuiu de modo concreto para a inclu- são da diplomacia e da política externa no debate nacional. Marta Suplicy Ministra da Cultura É um dos grandes jornalistas brasileiros que se vai. É o fim de uma era. Henrique Meirelles Ex-presidente do Banco Central Como um grande jornalista, o Dr. Ruy Mesquita construiu história pautada pelo rigor inte- lectual e ético, pela paixão sem concessões ao seu ofício e pela dedicação total ao grande jor- nal que comandou. Foi um dos homens mais influentes do Bra- sil das últimas décadas. Paulo Skaf Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) O Brasil e a imprensa perde- ram hoje um homem corajoso e inovador, um grande jornalis- ta, um grande democrata, um grande brasileiro. Carlos Fernando Lindenberg Neto Presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) Ruy Mesquita foi um entusias- ta do jornalismo, mas, acima de tudo, um lutador incansável pela liberdade, que ele sinteti- zava com seu pensamento dire- to como “essencialmente a li- berdade de dissentir”. Francisco Mesquita Neto Diretor-presidente do Grupo Estado É uma grande perda para O Es- tado. Nos últimos 17 anos, Dr. Ruy conduziu com muita com- petência a opinião do jornal. Otavio Frias Filho Diretor de redação da ‘Folha de S. Paulo’ Ruy Mesquita foi uma das mais expressivas personalidades do pensamento liberal-conserva- dor no Brasil, apegado a princí- pios rigorosos e comprometido com a excelência jornalística. A liberdade de expressão perde um inestimável defensor. Giancarlo Civita Vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Abril O Brasil e o jornalismo perdem um grande defensor da demo- cracia, da livre iniciativa e da liberdade de expressão. Nesse momento de dor, que toda a família Mesquita e a equipe do Grupo Estado recebam nossa solidariedade e nosso incenti- vo para que possam levar adian- te os ideais que moveram o Dr. Ruy Mesquita durante toda a sua vida. Jayme Sirotsky Presidente emérito do Grupo RBS Ruy Mesquita deixa exemplo de integridade, com destaque na defesa da liberdade de ex- pressão e da liberdade de im- prensa como sustentáculos da democracia. Suas posições co- mo jornalista sempre foram reconhecidamente retas. É uma perda importante para todos, que lutamos na mesma trincheira, e para o jornalismo brasileiro. Luiz Carlos Trabuco Cappi Presidente executivo do Bradesco O jornalista Ruy Mesquita se notabilizou por suas ideias fir- mes, diariamente compartilha- das com os leitores do Estado, um espaço nobre do jornalis- mo brasileiro. Foi um homem de convicções sólidas em defe- sa dos valores democráticos, da livre iniciativa e da liberda- de de imprensa. Ruy Mesquita consolidou, com sua família, um modelo de jornalismo que se caracteriza pela retidão e pela ética. É o seu legado. O Brasil perdeu uma de suas refe- rências. Roberto Setubal Presidente executivo do Itaú Unibanco Com pesar, nós, do Itaú Uni- banco, recebemos a noticia sobre o falecimento de Ruy Mesquita. Uma perda irrepará- vel para a imprensa e a demo- cracia brasileiras. Ruy Mesqui- ta deixa um legado brilhante para o País e para o Grupo Es- tado. Um pujante conglomera- do da comunicação que, sem duvida, tem grande importân- cia para o jornalismo e a demo- cracia, graças também à lide- rança e inspiração de Ruy Mes- quita. Joseph Safra Banqueiro O Dr. Ruy foi um talentoso e determinado brasileiro que exerceu com brilhantismo o jornalismo e deu uma contri- buição inestimável para a vida política e empresarial do país. A história de vida, visão inova- dora e ética do Dr. Ruy são um legado para todos nós. Um jor- nalista brilhante, um grande brasileiro. Pedro Moreira Salles Presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco Ruy Mesquita reunia todas as virtudes que queremos ver em um grande jornalista: indepen- dência, firmeza, correção, pro- fundidade, capacidade de mu- dar de opinião frente ao espíri- to do tempo e, não menos im- portante, um texto de extraor- dinária qualidade. Um texto que, durante décadas a fio, aju- dou a formar a opinião dos for- madores de opinião no país. Se a página 3 do Estadão cons- truiu sua reputação como a mais bem escrita e influente do jornalismo brasileiro, esse legado se deve em grande par- te ao seu esforço. Jose Roberto Ermírio de Moraes Grupo Votorantim O Dr. Ruy sempre foi um exemplo de integridade como jornalista e empresário. Como homem público, sempre defendeu a liberdade de expressão, a livre iniciativa e colocou os interesses do País à frente dos interesses pessoais. Além disso, nunca lhe faltou coragem de assumir posições, à frente do Esta- dão, sempre que houvesse con- frontos de ideias sobre temas envolvendo a sociedade. A im- prensa brasileira perde um grande empreendedor e o Bra- sil perde um defensor da demo- cracia. Abilio Diniz Presidente do Conselho de Administração da BRF e Grupo Pão de Açúcar Conheço o Dr. Ruy há muitas décadas. Sempre tive por ele uma profunda admiração. Seus editoriais contribuíram na de- fesa de democracia do povo brasileiro. E sua luta pela im- prensa livre jamais será esque- cida. Vai fazer falta. Miguel Jorge Ex-ministro Amigo de todo mundo, admira- do pelos que o conheciam, res- peitado mesmo pelos inimi- gos, Ruy sempre foi um jorna- lista 24 horas por dia, 7 dias por semana. Era um pauteiro de primeira. Dava ideias de ma- térias que se tornaram antoló- gicas, como a série República Socialista Soviética do Brasil, publicada no início dos anos 80. Aprendi com ele pratica- mente tudo sobre ética, corre- ção, honestidade, senso do de- ver, respeito à verdade, tam- bém sobre jornalismo. Porque Ruy foi jornalista, sempre. José Tadeu Jorge Reitor da Unicamp É uma perda muito grande. Ele foi uma pessoa que sempre es- teve muito ligada à defesa do papel das universidades públi- cas. Nos encontramos poucas vezes, mas sempre foram em momentos marcantes, em que ele defendia as universidades como produtoras do conheci- mento e formuladoras de políti- cas públicas. Julio Cezar Durigan Reitor da Unesp Registramos a nossa homena- gem ao jornalista Ruy Mesquita pela sua relevante contribuição para o jornalismo brasileiro, em especial para a construção e manutenção da linha editorial de O Estado de S. Paulo. Ricardo Patah Presidente nacional da União Geral dos Trabalhadores - UGT A UGT, e os 7,5 milhões de tra- balhadores que ela representa, manifestam seu pesar pela morte do jornalista Ruy Mes- quita, um dos maiores defenso- res da liberdade de imprensa e da democracia no País. Os tra- balhadores brasileiros têm uma dívida de gratidão com o “Dr. Ruy” que, nos anos mais sombrios da história do Brasil, no comando do jornal O Esta- do de S. Paulo, manteve viva a chama da liberdade de expres- são em defesa da verdade e dos direitos fundamentais da sociedade brasileira, não se curvando à sanha daqueles que tomaram de assalto a de- mocracia. Paulo Brossard Jurista Era um jornalista nato, que nas- ceu para a missão. Era capaz e firme e aprendeu desde crian- ça os padrões de responsabili- dade que uma empresa jornalís- tica tem com a democracia. Paulo Sotero Jornalista Guardo a lembrança do editor dedicado e inteligente, sempre pautado pelo espírito público que herdou do pai e do avô. Fernando Mitre Jornalista A marca de Ruy Mesquita se am- plificava na redação. Sucesso não parecia ser o que Dr. Ruy mais procurava. Sua priorida- de era a solução dos problemas do Brasil e a isso se dedicava com obsessão. É assim que ele entra definitivamente para a história do seu país, como um dos grandes nomes do jornalis- mo. O sucesso foi inevitável. Sandro Vaia Jornalista O jornalismo, a vida e a histó- ria acabam de perder o teste- munho implacável de Ruy Mes- quita. Fernando Pedreira Jornalista O Estadão continuará a ser, como tem sido, o mais forte polo moral da imprensa brasi- leira. Lygia Fagundes Telles Escritora A figura que vai ficar eterna é a do grande jornalista e cidadão exemplar. Mas gosto de me lembrar do amigo, com quem dividi o palco do Municipal, na montagem da peça Heffman. Ruy tinha uma voz linda, que sempre me encantou.” Maria Adelaide Amaral, Escritora e teledramaturga O nome de Ruy Mesquita sem- pre estará associado à criação do Jornal da Tarde, que foi um dos melhores jornais da imprensa brasileira. Roberto DaMatta Sociólogo Ouvi falar do Dr. Ruy quando comecei a fazer uma coluna no Jornal da Tarde. Eu estava dando aulas em Notre Dame, Indiana, EUA; e sempre que vinha ao Brasil, eu visitava o Estadão. Foi, pois, como um estranho no ninho, que ouvi de Fernando Mitre o nome de Ruy Mesquita pronunciado com reverência. Logo, o antropólogo dentro de mim viu que o nome “Dr. Ruy” representava um ideal. Paulo Markun Jornalista Em outubro de 1975, saí da prisão. Fora demitido retroativamente pela direção da TV Cultura, que teve a indelicadeza de apontar minha demissão quando Vladimir Herzog ainda dirigia o jornalismo da emissora, onde eu chefiava a reportagem. Minha mulher à época, Dilea Frate, também foi demitida. Passamos momentos complicados. Luis Fernando Mercadante sugeriu que eu procurasse o Dr. Ruy Mesquita, a quem não conhecia. O Dr. Ruy me recebeu, expliquei a situação e pedi uma chance. Ruy Mesquita não fez qualquer comentário. Simplesmente autorizou a abertura de uma vaga no Jornal da Tarde, onde fiquei um ano. Nesse tempo, tive poucos contatos com ele. Nunca mencionou o fato. Mais de uma vez, o entrevistei. Até mesmo no Roda Viva, onde fiz questão de registrar o gesto, que o Dr. Ruy fez com muitos outros perseguidos pelo regime. Sem alarde. DEPOIMENTOS 25/3/1940 Soldados invadem a redação do Estado sob a falsa acusação de conspiração armada. Armas são colocadas no forro do pré- dio pela própria polícia política para forjar provas. Francisco Mesquita é preso e levado para o Rio de Janeiro, onde fica por 40 dias. Como nada foi prova- do, ele é solto. Mas fica impedi- do de reassumir suas funções no jornal, que passa a ser geri- do pela ditadura. 1943 Em abril, Julio e Marina retor- nam ao Brasil. Vão morar em uma quitinete. Ruy e os irmãos continuam morando com os tios. Aos 18 anos, Ruy participa- va de um grupo de estudantes de Direito que conspiravam contra o governo. 3/10/43 Hélio Mota, presidente do Cen- tro Acadêmico XI de Agosto, discursa contra Getúlio e é pre- so, juntamente com outros es- tudantes. Ruy, que ainda não estuda na Faculdade de Direi- to, leva do Clube Harmonia um mimeógrafo e faz manifes- tos contra o governo, junto com seu primo José Vieira de Carvalho Mesquita e o amigo Celso Medeiros. 9/11/43 Ruy participa de passeata con- tra a ditadura. Repressão poli- cial deixa 1 morto e 11 feridos. Seu pai, que não sabia da mani- festação, é preso e confinado em sua fazenda, em Louveira, por quase dois anos. 1944 Atua na peça Heffman, escrita e dirigida por Alfredo Mesquita e encenada no Teatro Munici- pal. 17/5/1945 Depois de voltar a São Paulo no início do mês, Armando Salles morre no hospital. 1925 2013 Ruy Mesquita

Transcript of Ruy Mesquita, obituário Estadão, H5

Page 1: Ruy Mesquita, obituário Estadão, H5

%HermesFileInfo:H-5:20130522:

O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 22 DE MAIO DE 2013 Especial H5

Dilma RousseffPresidente da RepúblicaRuy Mesquita foi um homemde convicções. Diretor do jor-nal O Estado de S. Paulo, cria-dor do inovador Jornal da Tar-de, Doutor Ruy - como era co-nhecido - foi símbolo de umageração da imprensa brasileira.Neste momento de dor, prestoa minha solidariedade à famíliae amigos.

Geraldo AlckminGovernador doEstado de São PauloCom a morte de Ruy Mesquita,o Brasil perde um de seus ho-mens públicos mais indispensá-veis. O Dr. Ruy, como era cha-mado, lutou ao longo de déca-das por um país verdadeira-mente livre e republicano. Eraum homem culto e honrado,um jornalista talentoso queenxergava como poucos os pe-rigos do populismo e de todasas outras forças, veladas ouconfessas, que emperram atransformação do Brasil emuma nação moderna. Nos últi-mos anos, foi o responsáveldireto pelos melhores edito-riais da imprensa brasileira,balizando, com seu bom sensoavassalador, o debate políticoe econômico. Seguindo umatradição muito cara à famíliaMesquita, teve reconhecidaem vida sua coragem em favorda liberdade de imprensa. Égrande a nossa perda no dia dehoje. Em meu nome, no de mi-nha família e do Governo doEstado de São Paulo, prestohomenagem a este grande pau-lista e transmito à sua famílianosso sentimento, solidarieda-de e orações.

Luiz Inácio Lula da SilvaEx-presidente da RepúblicaRuy Mesquita era um dessesraros exemplos de dono de jor-nal apaixonado pelo jornalis-mo. Pelo jornalismo e pela polí-tica, com a qual conviveu des-de menino, ao acompanhar opai no exílio. Ele deixa no jorna-lismo brasileiro uma marca fun-damental: a criação do Jornalda Tarde, que revolucionou aimprensa nos anos 60. Pessoal-mente guardo dele uma boalembrança. Em 1978, no inícioda minha trajetória como lídersindical, Ruy Mesquita me en-trevistou por 4 horas. Não reve-lou qualquer preconceito e con-duziu a entrevista com o espíri-to aberto de um bom repórter.Nessa hora de tristeza, prestominha solidariedade à família ea seus amigos.

Fernando HaddadPrefeito de São PauloSão Paulo e o Brasil se enlutampela morte de um notável jor-nalista que promoveu o emba-te franco de ideias e que faráfalta ao País.

José Serra (PSDB-SP),Ex-governadorde São PauloA primeira vez que vi o Ruy, euera estudante, presidente daUEE. Estávamos num debateno Sedes Sapientiae, num audi-tório com mais de 500 pessoas,todos jovens entusiasmadoscom a Revolução Cubana e deposições bastante radicais. E oRuy estava lá sozinho, no cen-tro da mesa, expondo ideiascontra a corrente do local. Nós

dois debatemos de forma vee-mente, mas sempre educada.Três coisas me deixaram muitoimpressionado: a coragem comque encarou a situação, a tole-rância com opiniões divergen-tes, e a fala fácil, clara, e comuma ironia até gostosa, mesmopara quem fosse alvo dessa iro-nia. Eu já fazia algo que semprefaço, que é avaliar com quemestou debatendo, e essa primei-ra impressão sobre o Ruy foimarcante. Isso foi no segundosemestre de 1962.No ano seguinte, voltamos adebater, dessa vez em uma TV,creio que na TV Paulista. Elena mesa, e eu em pé, com umgrupo de estudantes, ao vivo.Ele falava sobre a invasão daHungria pelos soviéticos em 56e sobre a construção do Murode Berlim. E eu argumentava,como muitos de nós fazíamos,questionando qual era a rela-ção entre o muro e a pobrezano Brasil, a desigualdade, amortalidade infantil. Até por-que eu não era admirador dossoviéticos, não acreditava queo Brasil pudesse se transfor-mar em um regime comunista.Com o tempo, vi que muito doque o Ruy dizia nessa épocafazia sentido.Quando eu voltei ao Brasil,após 14 anos de exílio, nos en-contramos num bar que haviana Oscar Freire, por intermé-dio de um amigo em comum.Desde então, com alguma fre-quência nos encontrávamospara conversar, ou melhor, pa-ra discutir o Brasil. Com ele,você obrigatoriamente discutiao Brasil. Ele era um homem deespírito público, com bandei-ras sobre o Brasil, análise sobreo mundo. Do exílio eu me lem-bro de ter ficado impressiona-do com a resistência à censurafeita pelo Estadão e pelo JT, esabia que isso tinha envolvi-mento do Ruy. Era um jornalis-ta com muita capacidade inte-lectual, de visão e análise sobreo Brasil e sobre o mundo.

Odilo SchererArcebispo de São PauloRecebo com pesar a notícia damorte de Ruy Mesquita, e ex-presso minha solidariedade àsua esposa, aos filhos e familia-res neste momento de dor. Aolongo de sua vida longa e opero-sa, Dr. Ruy deu registro à me-mória histórica do nosso País.Como responsável pelo conteú-do de opinião do jornal, eleabriu no Estadão um espaçopara a diversidade de opiniõese também convicções religio-sas. Foi um convicto e ardoro-so defensor da liberdade. Tivea oportunidade de visitá-lo emsua enfermidade e de rezar porele. Deus, que sonda os pensa-mentos e conhece os corações,agora seja-lhe misericordioso.

Antonio PatriotaChancelerÉ com muito pesar que receboa notícia do falecimento deRuy Mesquita. Defensor incan-sável dos ideais republicanos,o jornalista iniciou suas ativida-des no Estadão na seção Inter-nacional e, em 65 anos de traba-lho, fez o Grupo Estado voltaros olhos para o mundo, antesmesmo de a globalização con-solidar-se como fenômeno nosmeios de comunicação. Graçasa seu ofício diário, contribuiu

de modo concreto para a inclu-são da diplomacia e da políticaexterna no debate nacional.

Marta SuplicyMinistra da CulturaÉ um dos grandes jornalistasbrasileiros que se vai. É o fimde uma era.

Henrique MeirellesEx-presidente doBanco CentralComo um grande jornalista, oDr. Ruy Mesquita construiuhistória pautada pelo rigor inte-lectual e ético, pela paixão semconcessões ao seu ofício e peladedicação total ao grande jor-nal que comandou. Foi um doshomens mais influentes do Bra-sil das últimas décadas.

Paulo SkafPresidente da Federaçãodas Indústrias do Estadode São Paulo (Fiesp)O Brasil e a imprensa perde-ram hoje um homem corajosoe inovador, um grande jornalis-ta, um grande democrata, umgrande brasileiro.

Carlos FernandoLindenberg NetoPresidente da AssociaçãoNacional de Jornais (ANJ)Ruy Mesquita foi um entusias-ta do jornalismo, mas, acimade tudo, um lutador incansávelpela liberdade, que ele sinteti-zava com seu pensamento dire-to como “essencialmente a li-berdade de dissentir”.

Francisco Mesquita NetoDiretor-presidentedo Grupo EstadoÉ uma grande perda para O Es-tado. Nos últimos 17 anos, Dr.Ruy conduziu com muita com-petência a opinião do jornal.

Otavio Frias FilhoDiretor de redação da‘Folha de S. Paulo’Ruy Mesquita foi uma das maisexpressivas personalidades dopensamento liberal-conserva-dor no Brasil, apegado a princí-pios rigorosos e comprometidocom a excelência jornalística. Aliberdade de expressão perdeum inestimável defensor.

Giancarlo CivitaVice-presidente doConselho de Administraçãodo Grupo AbrilO Brasil e o jornalismo perdemum grande defensor da demo-cracia, da livre iniciativa e daliberdade de expressão. Nessemomento de dor, que toda afamília Mesquita e a equipe doGrupo Estado recebam nossasolidariedade e nosso incenti-vo para que possam levar adian-te os ideais que moveram o Dr.Ruy Mesquita durante toda asua vida.

Jayme SirotskyPresidente eméritodo Grupo RBSRuy Mesquita deixa exemplode integridade, com destaquena defesa da liberdade de ex-pressão e da liberdade de im-prensa como sustentáculos dademocracia. Suas posições co-mo jornalista sempre foramreconhecidamente retas. Éuma perda importante paratodos, que lutamos na mesmatrincheira, e para o jornalismobrasileiro.

Luiz Carlos Trabuco CappiPresidente executivodo BradescoO jornalista Ruy Mesquita senotabilizou por suas ideias fir-mes, diariamente compartilha-das com os leitores do Estado,um espaço nobre do jornalis-mo brasileiro. Foi um homemde convicções sólidas em defe-sa dos valores democráticos,da livre iniciativa e da liberda-de de imprensa. Ruy Mesquitaconsolidou, com sua família,um modelo de jornalismo quese caracteriza pela retidão epela ética. É o seu legado. OBrasil perdeu uma de suas refe-rências.

Roberto SetubalPresidente executivodo Itaú UnibancoCom pesar, nós, do Itaú Uni-banco, recebemos a noticiasobre o falecimento de RuyMesquita. Uma perda irrepará-vel para a imprensa e a demo-cracia brasileiras. Ruy Mesqui-ta deixa um legado brilhantepara o País e para o Grupo Es-tado. Um pujante conglomera-do da comunicação que, semduvida, tem grande importân-cia para o jornalismo e a demo-cracia, graças também à lide-rança e inspiração de Ruy Mes-quita.

Joseph SafraBanqueiroO Dr. Ruy foi um talentoso edeterminado brasileiro queexerceu com brilhantismo ojornalismo e deu uma contri-buição inestimável para a vidapolítica e empresarial do país.A história de vida, visão inova-dora e ética do Dr. Ruy são umlegado para todos nós. Um jor-nalista brilhante, um grandebrasileiro.

Pedro Moreira SallesPresidente do Conselhode Administração doItaú UnibancoRuy Mesquita reunia todas asvirtudes que queremos ver emum grande jornalista: indepen-dência, firmeza, correção, pro-fundidade, capacidade de mu-dar de opinião frente ao espíri-to do tempo e, não menos im-portante, um texto de extraor-dinária qualidade. Um textoque, durante décadas a fio, aju-dou a formar a opinião dos for-madores de opinião no país.Se a página 3 do Estadão cons-truiu sua reputação como amais bem escrita e influentedo jornalismo brasileiro, esselegado se deve em grande par-te ao seu esforço.

Jose RobertoErmírio de MoraesGrupo VotorantimO Dr. Ruy sempre foi umexemplo de integridade comojornalista e empresário. Comohomem público, sempredefendeu a liberdade deexpressão, a livre iniciativa ecolocou os interesses do Paísà frente dos interessespessoais. Além disso, nuncalhe faltou coragem de assumirposições, à frente do Esta-dão, sempre que houvesse con-frontos de ideias sobre temasenvolvendo a sociedade. A im-prensa brasileira perde umgrande empreendedor e o Bra-sil perde um defensor da demo-cracia.

Abilio DinizPresidente do Conselho deAdministração da BRF eGrupo Pão de AçúcarConheço o Dr. Ruy há muitasdécadas. Sempre tive por eleuma profunda admiração. Seuseditoriais contribuíram na de-fesa de democracia do povobrasileiro. E sua luta pela im-prensa livre jamais será esque-cida. Vai fazer falta.

Miguel JorgeEx-ministroAmigo de todo mundo, admira-do pelos que o conheciam, res-peitado mesmo pelos inimi-gos, Ruy sempre foi um jorna-lista 24 horas por dia, 7 diaspor semana. Era um pauteirode primeira. Dava ideias de ma-térias que se tornaram antoló-gicas, como a série RepúblicaSocialista Soviética do Brasil,publicada no início dos anos80. Aprendi com ele pratica-mente tudo sobre ética, corre-ção, honestidade, senso do de-ver, respeito à verdade, tam-bém sobre jornalismo. PorqueRuy foi jornalista, sempre.

José Tadeu JorgeReitor da UnicampÉ uma perda muito grande. Elefoi uma pessoa que sempre es-teve muito ligada à defesa dopapel das universidades públi-cas. Nos encontramos poucasvezes, mas sempre foram emmomentos marcantes, em queele defendia as universidadescomo produtoras do conheci-mento e formuladoras de políti-cas públicas.

Julio Cezar DuriganReitor da UnespRegistramos a nossa homena-gem ao jornalista Ruy Mesquitapela sua relevante contribuiçãopara o jornalismo brasileiro,em especial para a construção emanutenção da linha editorialde O Estado de S. Paulo.

Ricardo PatahPresidente nacionalda União Geral dosTrabalhadores - UGTA UGT, e os 7,5 milhões de tra-balhadores que ela representa,manifestam seu pesar pelamorte do jornalista Ruy Mes-quita, um dos maiores defenso-res da liberdade de imprensa eda democracia no País. Os tra-balhadores brasileiros têmuma dívida de gratidão com o“Dr. Ruy” que, nos anos maissombrios da história do Brasil,no comando do jornal O Esta-do de S. Paulo, manteve viva achama da liberdade de expres-são em defesa da verdade edos direitos fundamentais dasociedade brasileira, não securvando à sanha daquelesque tomaram de assalto a de-mocracia.

Paulo BrossardJuristaEra um jornalista nato, que nas-ceu para a missão. Era capaz efirme e aprendeu desde crian-ça os padrões de responsabili-dade que uma empresa jornalís-tica tem com a democracia.

Paulo SoteroJornalistaGuardo a lembrança do editordedicado e inteligente, semprepautado pelo espírito públicoque herdou do pai e do avô.

Fernando MitreJornalistaA marca de Ruy Mesquita se am-plificava na redação. Sucessonão parecia ser o que Dr. Ruymais procurava. Sua priorida-de era a solução dos problemasdo Brasil e a isso se dedicavacom obsessão. É assim que eleentra definitivamente para ahistória do seu país, como umdos grandes nomes do jornalis-mo. O sucesso foi inevitável.

Sandro VaiaJornalistaO jornalismo, a vida e a histó-ria acabam de perder o teste-munho implacável de Ruy Mes-quita.

Fernando PedreiraJornalistaO Estadão continuará a ser,como tem sido, o mais fortepolo moral da imprensa brasi-leira.

Lygia Fagundes TellesEscritoraA figura que vai ficar eterna é ado grande jornalista e cidadãoexemplar. Mas gosto de melembrar do amigo, com quemdividi o palco do Municipal, namontagem da peça Heffman.Ruy tinha uma voz linda, quesempre me encantou.”

Maria Adelaide Amaral,Escritora e teledramaturgaO nome de Ruy Mesquita sem-pre estará associado à criaçãodo Jornal da Tarde, que foi umdos melhores jornais daimprensa brasileira.

Roberto DaMattaSociólogoOuvi falar do Dr. Ruy quandocomecei a fazer uma coluna noJornal da Tarde. Eu estavadando aulas em Notre Dame,Indiana, EUA; e sempre quevinha ao Brasil, eu visitava oEstadão. Foi, pois, como umestranho no ninho, que ouvi deFernando Mitre o nome deRuy Mesquita pronunciadocom reverência. Logo, oantropólogo dentro de mimviu que o nome “Dr. Ruy”representava um ideal.

Paulo MarkunJornalistaEm outubro de 1975, saí daprisão. Fora demitidoretroativamente pela direçãoda TV Cultura, que teve aindelicadeza de apontar minhademissão quando VladimirHerzog ainda dirigia ojornalismo da emissora, ondeeu chefiava a reportagem.Minha mulher à época, DileaFrate, também foi demitida.Passamos momentoscomplicados. Luis FernandoMercadante sugeriu que euprocurasse o Dr. Ruy Mesquita,a quem não conhecia. O Dr.Ruy me recebeu, expliquei asituação e pedi uma chance.Ruy Mesquita não fez qualquercomentário. Simplesmenteautorizou a abertura de umavaga no Jornal da Tarde, ondefiquei um ano. Nesse tempo,tive poucos contatos com ele.Nunca mencionou o fato. Maisde uma vez, o entrevistei. Atémesmo no Roda Viva, onde fizquestão de registrar o gesto,que o Dr. Ruy fez com muitosoutros perseguidos peloregime. Sem alarde.

DEPOIMENTOS

25/3/1940Soldados invadem a redaçãodo Estado sob a falsa acusaçãode conspiração armada. Armassão colocadas no forro do pré-dio pela própria polícia políticapara forjar provas. FranciscoMesquita é preso e levado parao Rio de Janeiro, onde fica por40 dias. Como nada foi prova-do, ele é solto. Mas fica impedi-do de reassumir suas funçõesno jornal, que passa a ser geri-do pela ditadura.

1943Em abril, Julio e Marina retor-nam ao Brasil. Vão morar emuma quitinete. Ruy e os irmãoscontinuam morando com ostios. Aos 18 anos, Ruy participa-va de um grupo de estudantesde Direito que conspiravamcontra o governo.

3/10/43Hélio Mota, presidente do Cen-tro Acadêmico XI de Agosto,discursa contra Getúlio e é pre-so, juntamente com outros es-tudantes. Ruy, que ainda nãoestuda na Faculdade de Direi-to, leva do Clube Harmoniaum mimeógrafo e faz manifes-tos contra o governo, juntocom seu primo José Vieira deCarvalho Mesquita e o amigoCelso Medeiros.

9/11/43Ruy participa de passeata con-tra a ditadura. Repressão poli-cial deixa 1 morto e 11 feridos.Seu pai, que não sabia da mani-festação, é preso e confinadoem sua fazenda, em Louveira,por quase dois anos.

1944Atua na peça Heffman, escrita edirigida por Alfredo Mesquitae encenada no Teatro Munici-pal.

17/5/1945Depois de voltar a São Paulono início do mês, ArmandoSalles morre no hospital.

1925 2013✝★Ruy Mesquita