S I T U A Ç Ã O D E V I D A CADA UM TEM O DESTINO QUE ... fileCaixa do Café Teatro ......
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ROTEIRO DO LONGA-METRAGEM
S I T U A Ç Ã O D E V I D A
CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
Roteiro de: Gilson Santos De Oliveira
Personagen Principais:
Humberto – Garoto ambicioso, tem pretensão de ser m odelo,
quer vencer na vida.
Daniel – Vem para a Capital para melhorar de vida, mas não
consegue emprego, analfabeto, vai viver nas ruas, o nde
encontra Humberto e juntos vivem uma história de af eto e
esperanças.
Personagens por ordem de aparição:
Fotógrafo
Fábio, amigo de Humberto
Caminhoneiro
Dono do Bar
Secretária da Agência de Modelo
Três Pivetes
Travesti
Atendente da Agência de Modelo
Desempregado
Produtor Teatral
Caixa do Café Teatro
Três Beatas
Fiscal de Ônibus
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
Catador de Latas
Dona do Bar
Mendigo
Atendente do Restaurante
Vendedor do Shopping
Dono do Ferro Velho
Produtor de Filme Pornográfico
Vendedora de Cobertores
Aposentado
Atendente da Rodoviária
Evangélico
Apresentador de Televisão
Locações:
Universidade Federal do Paraná
Vila Rex
Praça Osório
Praça Rui Barbosa
Rua das Flores
Rua Vinte e Quatro Horas
Igreja da Ordem
Jardim Botânico
Shopping Müller
Ferro Velho
Praça do Homem Nu
Avenida Sete de Setembro
Desenvolvimento do Texto:
1.ª Parte
CENA 01 – ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. INTERIOR. DIA.
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Humberto faz umas fotos sensuais, deitado na cama. FOTÓGRAFO – Vire um pouco
mais para a direita, isso. Agora levante as pernas. Cruze-as. Entrelace os braços.
HUMBERTO – Assim está
bom? FOTÓGRAFO – Está
perfeito. Várias poses.
FOTÓGRAFO – Você pode retornar no sábado, Humberto, que as fotos estarão prontas.
HUMBERTO – (se vestindo)
Então está certo, nos veremos no sábado. Espero que com essas fotos, eu consiga o meu objetivo maior.
FOTÓGRAFO – Você tem
talento e é bem fotogênico, se não encontrar um profissional a sua altura, lher restará a sorte...
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HUMBERTO – É só no que
confio: a sorte, o destino e eu espero que o meu, que criei para mim se concretize a cada segundo.
Aperto de mãos. Corta para:
CENA 2 – QUITINETE. INTERIOR. DIA.
Humberto está brigando com Fábio, seu amigo, com qu em divide as despesas de uma quitinete e este manda-o ir embora e joga as suas malas pela janela, pois há do is meses Humberto não cumpre com as obrigações finance iras da casa.
FÁBIO – Até que enfim
você chegou! HUMBERTO – Qual é a
bronca, Fábio? FÁBIO – “Qual é a
bronca, Fábio?” Espero que você tenha boas notícias?
HUMBERTO – Tirei as
fotos e agora tudo ficará mais fácil.
FÁBIO – Cai na real,
Humberto. Eu estou falando de grana, tutu, money, dinheiro.../
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HUMBERTO – Eu sei que você tem me carregado nas costas nesses íltimos meses, mas agora as coisas estão melhorando pro meu lado.../
FÁBIO – Melhorando?
Eu estou na pior, cara, e do jeito que está não dá para ficar.
HUMBERTO – Aguenta mais
um pouco, eu já prometi que vou te pagar cada centavo, assim que eu conseguir um trampo legal.
FÁBIO – Não dá mais
Humberto. HUMBERTO – Como não dá
mais, você não é meu amigo, meu camarada, meu irmão?
FÁBIO – São dois
meses que você não cumpre com suas obrigações financeiras dentro desta quitinete. Então eu decidi colocar esse anúncio no
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jornal. HUMBERTO – (lendo)
Precisa-se de um rapaz, de preferência universitário, para dividir uma quitinete no Centro de Curitiba, interessados entrar em contato com a redação deste jornal. (olhando para Fábio) Você quer que eu arrume as minhas malas e caia fora?
FÁBIO – Não! (pausa)
Eu mesmo já tive o prazer de fazê-las.
HUMBERTO – Mas eu não
vou sair daqui, não vou mesmo, eu tenho os meus direitos.
FÁBIO – Também tem os
seus deveres e não os cumpre. E eu estou sem dinheiro para água e para o gás. Não vou deixar de fazer o que eu gosto por causa de uma pessoa que
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não tem responsabilidades.
HUMBERTO – Me dê essas
malas! FÁBIO – Vá buscá-las
(joga as malas pela janela), mas deixe as chaves.
Humberto joga as chaves e sai. Do lado de fora, olh ando para a janela, no alto.
HUMBERTO – Você vai se arrepender profundamente do que está fazendo com seu chapa.
Corta para:
CENA 03 – RUA DA CIDADE. EXTERIOR. DIA.
Daniel chega de carona em Curitiba, com esperanças de encontrar sua prima, mas não a encontra, pois faz t empo que ela se mudou do local e ninguém sabe para onde. Daniel fala de sua viagem, que durou quase um ano.
DANIEL – Muito
obrigado! Deus lhe pague.
CAMINHONEIRO – Não tem de
quê, espero que tenha muito sucesso!
DANIEL – Desejo o
mesmo para o senhor e para a sua família.
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Corta imediatamente para:
CENA 04 – BAR. INTERIOR. DIA.
DANIEL – O senhor pode
me informar onde mora a dona Maria Linaura da Silva?
DONO DO BAR – Não conheço,
não senhor. DANIEL – Me dê uma
branquinha, para me dar um ânimo para procurar a minha prima.
DONO DO BAR – Num
momentinho só. DANIEL – Eu tinha o
endereço anotado num papel, mas acabei perdendo na viagem.
DONO DO BAR – Ah! O senhor
não é daqui. DANIEL – Que nada,
estou vindo do Norte do Estado.
DONO DO BAR – O senhor
pergunta aí em diante, que alguém deve conhecer a dona
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que o senhor procura.
DANIEL – Muito
obrigado (paga) Tchau!
Corta para:
CENA 05 – AGÊNCIA DE MODELOS. INTERIOR. DIA.
Humberto vai até a agência de modelos, mas não exis te nenhuma resposta positiva, ele se zanga com a secre tária e não sabe o que vai fazer.
ATENDENTE – Já averiguei
todas as propostas e...
HUMBERTO – E... ATENDENTE – E
infelizmente ainda não existe nenhuma proposta de trabalho que se encaixe com o seu perfil.
HUMBERTO – Mas desde qe
eu faço parte do casting desta agência, é só o que ouço.
ATENDENTE – Não posso
fazer nada. HUMBERTO – Também estou
cansado de ouvi-la dizer “não posso fazer nada”,
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“volte semana que vem”, “qualquer novidade eu ligo”. Diga para o seu chefe, que vive envolvido em reuniões, que eu tô quebrado, preciso de grana, de trabalho, o que pintar eu topo. O que eu não posso é ficar como você: inventando desculpas esfarradadas e de braços cruzados.
Ela descruza os braços. ATENDENTE – Mas
Humberto... HUMBERTO – Nem mais, nem
menos. Eu não quero saber, procurem, fucem, mas me arranjem qualquer anúncio, nem que seja para vender extintor de incêndio.
Ele sai. ATENDENTE – Vai entender
a cabeça e modelo
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princpiante.
Corta para:
CENA 06 – PRAÇA. EXTERIOR. DIA.
Ao começo do crepúsculo, cansado, Daniel senta-se n um banco de praça, onde irá adormecer.
DANIEL – E agora? O que eu vou fazer? O dinheiro acabando, nem sinal da minha prima. O jeito ai ser me encostar em qualquer canto e procurá-la amanhã.
Corta para: CENA 07 – PRAÇA. EXTERIOR. DIA.
Humberto liga para seus pais, mas este não querem s aber de sua situação, pois já mandaram dinheiro várias veze s para que retornasse para casa.
HUMBERTO – Coragem.
Teclas os numeros no orelhão.
HUMBERTO – (TEL.) Oi pai... sabe o que é... isso mesmo, tô precisando de grana... eu sei que a mamãe fica preocupada, mas eu não volto... tá papai, eu
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também sei que o senhor já mandou dinheiro várias vezes para que eu voltasse para casa, mas eu tenho dívidas aqui na capital, que devem ser supridas com o dineiro... pai, eu ainda não tô trabalhando, mas as coisas vão mudar, acredite em mim... tudo bem, não qur mandar, não mande, mas quando eu for famoso, direi em todas as reportagens que sou órfão de pai e de mãe! Mande um beijo para Giovana e muito obrigado pela compreensão... Ah, caso mude de idéia, o senhor já tem o número da conta... amanhã vou ao bao, tenho certeza que o senhor se sensibilizou com a minha situação.
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Corta para:
CENA 08 – PRAÇA. EXTERIOR. NOITE.
Enquanto dorme, os cobertores de Daniel são roubado s por meninos de rua, ele corre atrás de um deles, sem su cesso.
PIVETE – Corre!!! DANIEL – Devolve!!!
Seu moleque desgraçado.
Corta para:
CENA 09 – RUA. EXTERIOR. NOITE.
Humberto tenta se prostituir, mas acaba apanhando d os travestis e das prostitutas, onde foje e acaba se esbarrando em Daniel, que o convida para um lanche.
TRAVESTI – Cai fora
garoto. Humberto faz de conta que nem é com ele.
TRAVESTI – Eu já mandei você cair fora. Vai desaquenda, que esse ponto é meu.
HUMBERTO – Eu não vou
comer o seu ponto.
TRAVESTI – Não retruca
pirralho, esse ponto é meu. Vai catar macho noutra frequesia, seu uó.
HUMBERTO – Eh! Tá me
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estranhando maluca.
TRAVESTI – Eu não tô boa
oje. Some na reta seu michê desaforado, que eu vou meter a mão na tua fuça.
Humberto começa a fugir devagarinho e deois corre.
TRAVESTI – Que homem que é você que foge de uma mulher. Venha aqui seu viadinho de merda.
Corta para:
CENA 10 – RUA. EXTERIOR. NOITE.
DANIEL – Segura...
Daniel se bate com o Humberto. HUMBERTO – Não enxerga. DANIEL – O desgraçado
conseguiu fugir.
HUMBERTO – Quem
conseguiu fugir?
DANIEL – Um tromadinha
que roubou meu cobertor.
HUMBERTO – Pelo jeito
ele teve a mesma sorte que
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eu. DANIEL – Como assim? HUMBERTO – Eu também
estava fugindo: de uma travesti, mas devido ao salto alto, ela não me alcançou.
DANIEL – E agora você
vai para sua cama e eu fico passando frio em qualquer banco de praça.
HUMBERTO – Cama? (ri) Eu
também ando perambulando pela noite, igualzinho a você.
DANIEL – Mas você tem
um porte legal, não parece que vive perambulando pelas ruas. Que tal se nós tomássemos um suco naquela lanchonete e você me falar mais sobre a sua vida.
HUMBERTO – Pode ser, mas
vou logo avisando: quem convida dá banquete.
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Corta para:
CENA 11 – LANCHONETE. INTERIOR. NOITE.
HUMBERTO – Eu tô na luta
até hoje e tudo o que eu teno está nesta mochila.
DANIEL – Deixa eu ver. HUMBERTO – Pegue.
Um book.
Corta para:
2.ª PARTE CENA 12 – AGÊNCIA DE EMPREGOS. INTERIOR. DIA.
Daniel levanta-se e sai à procura de um emprego em uma agência de trabalho, mas não pode preencher a ficha por ser analfabeto e a recepcionista diz que não tem em prego para ele, e que, além do mais, ele perdeu todos os seus documentos na viagem.
DANIEL – Bom dia! ATENDENTE – Bom dia! DANIEL – Eu vim do
norte do Estado e estou procurando um emprego.
ATENDENTE – É só o senhor
preencher esse formulário!
DANIEL – Sabe o que é
dona, é que eu
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não sei escrever, sou analfabeto de pai e de mãe e a única coisa que eu sei escrever é o meu nome.
ATENDENTE – Infelizmente,
eu não posso preencher a ficha para o senhor. Eu tenho que continuar atendendo porque a fila está grande.
DANIEL – Então como é
que faz? ATENDENTE – O senhor leva
o formulário e na sua residência alguém pode preenchê-lo e depois o senhor retorna a agência e entrega.
DANIEL – Ah! Tá bom. DESEMPREGADO – Se o senhor
quiser eu posso prencher a sua ficha.
DANIEL – Ah! Muito
obrigado. DESEMPREGADO – Seu nome?
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DANIEL – Daniel. DESEMPREGADO – Daniel do
quê? DANIEL – Daniel da
Silva. DESEMPREGADO – Idade? DANIEL – 36 anos,
completados na semana passada.
DESEMPREGADO – O dia que o
senhor nasceu? DANIEL – 20 de
fevereiro de 1960.
DESEMPREGADO – Número dos
seu documentos. DANIEL – O CIC eu não
me lembro, mas o RG é 3.453.359-1.
DESEMPREGADO – Título de
eleitor, resevista e carteira de trabalho. O senhor te aí para que eu possa copiar os números.
DANIEL – Não. Esses
documentos eu perdi na viagem e não tive tempo de tirar
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a segunda via. DESEMPREGADO – Então é só
assinar aqui e voltar para o final da fila.
DANIEL – Muito
obrigado seu moço!
DESEMPREGADO – Não tem de
que. Alguns minuto depois. ATENDENTE – O próximo. DANIEL – Já está tudo
assinado mina filha.
ATENDENTE – O senhor pode
me emprestar a sua carteira profissional?
DANIEL – Sabe o que é
moça, é que eu perdi na viagem que eu fiz, quando vim do norte do Estado aqui pra capital.
ATENDENTE – É que aqui
nós só cadastramos candidatos que tenham experiência na profissão que exerce. Qual é a sua?
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DANIEL – Do jeito que
as coisas andam, eu faço qualquer coisa: sirvo cafezinho, lavo, passo, conserto...
ATENDENTE – A única coisa
que eu posso fazer, caso o senhor tenha uma carta de recomendações, é mandar sua ficha para as empresas, mas só se o senhor tiver a carta de recomendações.
DANIEL – Tenho não,
filha, eu trabalhava na roça e lá não tem dessas coisas não.
ATENDENTE – Dessa forma,
a única coisa que eu posso garantir para o senhor é que aqui não existe emprego para o senhor. Próximo.
Corta para:
CENA 13 – CAFÉ DO TEATRO. INTERIOR. DIA.
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Humberto toma um café da anhã e reconhece um produt or teatral, que não lhe dá a mínima. Quando vai pagar a conta, percebe que está com pouco dinheiro, o sufic iente para pagar o que consumiu e ainda lhe sobra alguns trocados, aproximadamente R$ 20,00.
HUMBERTO - Bom dia, o senhor não é aquele produtor teatral que trabalhou no espetáculo Cálice de Sangue, no ano passado?
PRODUTOR – Sim, sou eu. HUMBERTO – Adoro
conhecer pessoas que lidam com a arte, a cultura...
PRODUTOR – Que bom! HUMBERTO – Eu adoraria
entrar num elenco, fazer teatro, cinema, televisão...
PRODUTOR – Ah! Você é
ator. HUMBERTO – Não, quem me
dera, mas esse é o meu grande sonho, ser astro de novela, dar entrevistas, ser assediado pelas fãs.
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PRODUTOR – E você já fez
algum curso de interpretação?
HUMBERTO – Já fiz
vários. Até me apresentei no teatrinho na escola.
PRODUTOR – Teatrinho na
escola?
O produtor levanta e sai. HUMBERTO – Prepotente
esse produtor, quem ele pensa que é? Se ele tem cacife pra frequentar o Café Teatro, eu também tenho, pois aqui estou.
Para o graçon.
HUMBERTO – A conta por favor.
GARÇON – São R$ 5,20. HUMBERTO – Pena que o
sistema de cartão de crédito está fora do ar. Bom, aqui está.
GARÇON – Vou pegar o
seu troco. HUMBERTO – Não há
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necessidade, pode ficar de gorgeta.
Coloca os óculos e sai.
Corta para:
CENA 14 – FACHADA DA IGREJA. EXTERIOR. DIA.
Daniel encontra uns óculos escuros na praça em fren te a Igreja da Ordem e sem querer, acaba se passando por cego. Com isso, recebe algumas moedas das beatas.
DANIEL – (Para um
cachorro) Vem cá Totó, vem...
Sinos, indicando o fim da missa e Daniel fica acari ciando o cão.
BEATA 1 – Tome meu filho.
Joga umas moedas.
BEATA 2 – Que pena, não pode enxergar, que Deus te ilumine, pobre cego.
Joga mais moedas.
BEATA 3 – Confie em Deus, assim como Jesus fz o cego de Jericó enxergar, você tendo fé também poderá ser beneficiado com esse milagre divino.
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Joga outras moedas e corta para:
CENA 15 – AGÊNCIA DE MODELOS. INTERIOR. DIA.
Humberto retorna à agência de modelos e a secretári a lhe diz que ele é muito baixo para as propostas disponí veis que existem. Então ele sai do local e joga o seu bo ock no lixo. Ele avista o Daniel na igreja, como está com uma lata de refrigerante e a joga no chão, Daniel resol ve catar latas e vender ao ferro-velho para poder sobr eviver.
ATENDENTE – Que bom revê-
lo, Daniel. HUMBERTO – Será muito
melhor se existir alguma proposta de trabalho.
ATENDENTE – Hoje é o seu
dia de sorte: temos três.
HUMBERTO – Não acredito. ATENDENTE – Calma, deixa
eu falar... trabalhos publicitários... e eu estou dando um jeito de encaixá-lo em algum.
HUMBERTO – Você é
maravilha, me onta quais são?
ATENDENTE – Tem uma que é
de langerie, outra de rações para gatos e a terceira de um
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novo energético.
HUMBERTO – Posso ver as
releases? Ela oobserva-o de cima abaixo, como se estivesse me dindo-o.
ATENDENTE – Calma... HUMBERTO – Como calma? ATENDENTE – É que eu
estou achando que existe um erro na sua ficha.../
HUMBERTO – Como assim,
um erro na minha ficha.
ATENDENTE – Se eu estiver
enganada. Você poderá se encaixar perfeitamente numa delas.
HUMBERTO – Fala logo.
Olhando a ficha dele.
ATENDENTE – Aqui diz que você mede 1,63. Isso não é verdade? É?
HUMBERTO – Claro que é.
Não está aí? ATENDENTE – Juro que eu
pensei que você medisse 1,68, e
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por.../ HUMBERTO – E por eu ser
baixinho não me encaixo nas propostas de trabaho. É isso?
ATENDENTE – Hum-hum. HUMBERTO – Eu já tô de
saco cheio de vocês.
Sai e corta para:
CENA 16 – FACHADA DA AGÊNCIA DE MODELOS. PRAÇA. EXT ERIOR. DIA.
Humberto joga o boock no lixo.
HUMBERTO – Esse é o
local ideal pra você, seu fracassado.
Humberto avista o Daniel, que está na praça, do out ro lado da rua, ele atravessa-a e senta-se no banco e Danie l vai falar com ele.
DANIEL – Você parece
que está nervoso, hein.
HUMBERTO – Eu tive um
dia de merda, cara. As pessoas me olham como se eu não existisse. Como se eu fosse qualquer um. Como se cinco
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centímetros fosse a coisa mais importante do mundo.
Humberto joga uma latinha de refrigerante no chão.
DANIEL – Essa cidade é ecológica, cara.
HUMBERTO – Eu quero que
essa cidade se exploda, cara.e eu não vou ficar jogando as latinhas no lixeiro para que os garis percam também os seus empregos e consequentemente o seu salário.
DANIEL – Latinhas....
garis... empregos... salário... Que ideia ótima você me deu!
HUMBERTO – Que idéia!
Você está louco?
DANIEL – Claro! Eu vou
vender as latinhas no ferro-velho para poder sobreviver.
HUMBERTO – Eu morro de
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fome, mas taí uma coisa que eu nao faço!
Corta para:
CENA 17 – RUA DE CURITIBA/ESTAÇÃO TUBO. EXTEIOR. ANOITECENDO.
Os dois resolvem dormir na estação tubo, e deitados , falam sobre o passado, futuro e presente,ondem adormecem e são acordados por um fiscal de ônibus.
DANIEL – Mais um dia vai se indo...
HUMBERTO – E eu quebrado
de dormir naquele banco duro de praça.
Daniel avista uma estação tubo.
DANIEL – Que tal se nós dois dormíssemos naquela estação tubo?
HUMBERTO – Só espero que
lá seja menos duro que o banco da praça, mas pelo menos estaremos protegidos do vento e da chuva.
DANIEL – Eu preferiria
estar protegido da desfeita das pessoas. Desde que cheguei nesta cidade,
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você foi a única pessoa que me entendeu.
HUMBERTO – De fato, você
também é um cara super-legal, mas o mundo em que vivemos, pedimos uma informação e as pessoas nos atacam, como se fôssemos marginais.
Neste momento já estão deitados.
DANIEL – Que mal eu fiz para estar nessa cidade quase mendigando.
HUMBERTO – Os piores são
os familiares, esses sim, culpados maiores. Sabem das minhas necessidades e fecham os olhos para os meus desejos, mas um dia provarei para todos que vim ao mundo para vencer.
Olha para Daniel.
HUMBERTO – Coitado, dormiu.
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Corta para:
CENA 18 – ESTAÇÃO TUBO. EXTERIOR. DIA.
FISCAL DE ÔNIBUS – Tá na hora
pessoal. Vamos levantando.
HUMBERTO – Já vai, só
mais um pouquinho...
DANIEL – Vamos,
levanta que tá na hora.
Corta para:
3.ª PARTE
CENA 19 – ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. INTERIOR. DIA.
Humberto vê as fotos que tirou para o filme erótico , que ficaram de boa qualidade, mas ele não tem dinheiro e o fotógrafo não as entrega.
FOTÓGRAFO – Aqui estão. HUMBERTO – Que ótimas, a
cor, a luz, tudo do jeito que eu pensei. Você é um fotógrafo de mão cheia.
FOTÓGRAFO – Fico feliz em
saber que oê gostou.
HUMBERTO – Eu adorei o
seu trabalho. Vou levar agora mesmo ao
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produtor. FOTÓGRAFO – São R$ 364,00 HUMBERTO –
(desconversando) Sabe o que é.../
FOTÓGRAFO – Eu já te
quebrei o maior galho. Te dei um bom desconto e não te cobrei os 50% antes do serviço.
HUMBERTO – Mas eu
fui.../ FOTÓGRAFO – Agora você
não quer levar o produto sem me pagar, não é?
HUMBERTO – Pois é.../ FOTÓGRAFO – Nada feito.
Primeiro você me paga o serviço e depois eu te entrego o material.
HUMBERTO – Tá certo,
creio que até amanhã eu levanto essa grana.
Corta para: CENA 20 – PRAÇA. EXTERIOR. DIA.
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Daniel já tem quase meio saco de latas e acaba se desentendendo com outro catador de latas, devido a concorrência.
CATADOR – É melhor você
ir catar as suas latas noutro lugar.
DANIEL – Essa praça é
pública. CATADOR – Mas já faz
tempos que só eu cato as latas dessa praça.
DANIEL – Essa praça é
grande o suficiente e apartir de agora você terá que dividi-la comigo.
CATADOR – Se você não
cair fora agora, te meto a mão na fuça.
DANIEL – Ah, mas não
mete mesmo. Hoje eu cato as latas aqui e amanhã eu cato noutro ponto da cidade.
CATADOR – Pô cara, você
não entende, eu tenho mulher e cinco filhos pra criar e
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agora vem você, sei eu de onde, pega as latas com que eu sustento a minha família. Cai fora duma vez!
DANIEL –
(sensibilizado)Tudo bem, vou pegar as minhas latas noutro canto da cidade.
Corta para: CENA 21 – BAR. INTERIOR. DIA. Para não gastar o pouco dinheiro que tem, Humberto pede para lavar copos em troca de um prato de comida.
DONA DO BAR – Boa tarde,
deseja alguma coisa?.
HUMBERTO – Desejo sim,
sabe o que é, eu tô desempregado há alguns dias e ainda não comi nada. A senhora não teria nada para me servir?
DONA DO BAR – Aqui nós não
damos nada para vagabundos, não.
HUMBERTO – Mas eu
poderia lavar a
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louça, sei lá, varrer a calçada.
DONA DO BAR – É assim que
se fala, desculpe o jeito, mas tem muita gente que gosta de se aproveitar da bondade alheia.
HUMBERTO – Não é o meu
caso e eu posso até fazer o serviço aiantado.
DONA DO BAR – (olhando-o
com simpatia) Que tal antes uma coxinha com um suco?
HUMBERTO – Seria
perfeito. Corta para: CENA 22 – FACHADA DO RESTAURANTE/RESTAURANTE. EXTERIOR/INTERIOR. DIA. Daniel decobre um restaurante popular, financiado pelopoder público, onde se vende refeições bem bara tas e lá faz uma refeição.
DANIEL – Pode me dizer
se a comida aqui é por quilo?
MENDIGO – Que nada,
aqui é prato feito.
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DANIEL – E quanto que
custa cada prato feito?
MENDIGO – Noventa e
nove centavos. DANIEL – Mas esse é só
o preço do prato, eu quero saber da comida.
MENDIGO – Pois então, o
prato com a comida e tudo custa noventa e nove centavos, mas o refresco é a parte.
DANIEL – Então é?
Obrigado, vou provar.
Daniel entra no estabelecimento.
DANIEL – Eu queria um
prato feito? ATENDENTE DO RESTAURANTE – De mistura
tem frango e carne.
DANIEL – Carne. ATENDENTE DO RESTAURANTE – São noventa e
nove centavos. DANIEL – Não é que é
mesmo. (Dá um real) Pode ficar com o troco.
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Daniel procura um lugar, senta-se, faz uma prece, s ina da cruz, come e corta para: CENA 23 – LOJA DE SHOPPING CENTER. INTERIOR. DIA. Numa loja de marca, dentro de um shopping center, H umberto prova várias roupas, mas diz ao vendedor que não va i ficar com nenhuma delas, mas caso mude de ideia irá retor nar.
HUMBERTO – Não tem
melhor lugar para passar o tempo do que no shopping.
Ele entra numa loja, fala em off com o vendedor e p rova várias roupas.
HUMBERTO – Acho que nenhuma caiu bem em mim.
VENDEDOR DO SHOPPING – Não quer
provar mais essas?
HUMBERTO – Já estou
estresado de tantas roupas, acho que não vou ficar com nenhuma mesmo, talvez eu volte na semana que vem levo aquele lenço. Achei o máximo e al´m do mais, acabei de lembrar que esqueci o meu cartão de crédito na minha outra
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carteira. Sai da loja e olha para a praça de
alimentação. HUMBERTO – Pensando bem,
tem lugar melhor para passar o tempo.
Corta para: CENA 24 – FERRO VELHO. INTERIOR. ENTARDECER. Daniel vende cinco sacos d latinhas no ferro-velho, o que lhe rende um bom dinheiro.
DANIEL – Tudo isso? Se
eu juntar todo esse tanto, todo dia, logo vou para um hotel com o Humberto.
DONO DO FERRO-VELHO – Então, até
amanhã. DANIEL – Juntar
latinha deve dar dinheiro mesmo. Um dinheiro honesto e fácil de ganhar.
Corta para: CENA 25 – PRAÇA. EXTERIOR. NOITE. Humberto está na praça e Daniel chega conndo sobre a venda das latinhas. Eles jantam um sopão, que é destribui do por uma organização não-governamental e saciam a fome. Humberto rouba todo o dinheiro de Daniel.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
DANIEL – Humberto, peciso te contar. Rapaz, juntei pra lá de 30 sacos de latinhas, o dia todo e consegui uma grana boa.
HUMBERTO – (irônico) Que
interessante... DANIEL – Eu tava até
pensando da gente se mudar prum hotel aqui no centro, pelo menos pra gente poder dormir.
HUMBERTO – (irônico) Que
ótimo, meus problemas estão resolvidos.
DANIEL – Isso mesmo,
assim você não fica mais com tanta dores nas costas.
HUMBERTO – Isso... (tem
uma idéia) Dor nas costas. Você é um amigão e tanto, Daniel.
DANIEL – Vou até te
convidar pra jantar.
HUMBERTO – Não! Vamos
economizar e jantar aquele
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
sopão que é distribuído pelas ONG’s, que é uma delícia.
DANIEL – (inocente) Se
você prefere assim, então vamos.
Comem.
HUMBERTO – Agora vamos dormir, que amanhã cedo eu vou continuar a catar latinhas.
Corta para:
4.ª PARTE CENA 26 – CHAFARIZ DA PRAÇA. EXTERIOR. AMANHECENDO. Humberto escova os dentes num chafariz, junta o din heiro que tem com o que roubou de Daniel e vai para a cas a do fotógrafo.
HUMBERTO – Acabaram-se
os dias, onde eu miseravelmente terei que escovar os meus preciosos dentes numa fonte d’água de um chafariz. Vai dar para pagar as fotos e ainda me sobrar algum.
Corta para:
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CENA 27 – PRAÇA. EXTERIOR. DIA. Daniel acorda e sente falta de Humberto e muito mai s do dinheiro. Pega um saco e recomeça a catar as latas.
DANIEL – Humberto?
Humberto? Ué, cadê o Humberto? Ele não é de levantar ed. Vai ver ele gostou mesmo da idéia de catar latinhas. Cadê meu dinheiro. O meu dinheiro? Sacana!!!
Corta para: CENA 28 – ESTÚDIO FOTOGRÁFICO. INTERIOR. DIA.
HUMBERTO – Aqui está o dinheiro.
FOTÓGRAFO – (contando)
Agora sim, como havíamos combinado.
HUMBERTO – Agora é só
começar a trabalhar, tenho certeza disso.
Corta para: CENA 29 – FACHADA DO ESTÚDIO DE FILMES ERÓTICOS. EX TERIOR. DIA.
HUMBERTO – Seja o que Deus quiser.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
CENA 30 – ESTÚDIO DE FILMES ERÓTICOS. INTERIOR. DIA . Humberto, em poder das fotos que tirou com o fotógr afo, leva-as para um produtor de filmes eróticos/pornogr áficos, todo esperançoso. O produtor fala que irá analisar o trabalho. Ele diz que topa qualquer coisa com mulhe res, homens e até mesmo animais, só não pode ficar desempregado.
PRODUTOR – Você é bem fotogênico. Tenho certeza de que será chamado.
HUMBERTO – E quando
iniciamos?
PRODUTOR – Não sei bem ao certo ainda, mas creio que neste mês.
HUMBERTO – Eu não
aguento mais essa vida no anonimato.
PRODUTOR – Eu irei
analisar o trabalho com o diretor. Você me deixa o teu contato.
HUMBERTO – Não será
necessário. Sabe como é... Eu preciso desse trabalho e virei aqui a cada dez segundos, se isso for
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
preciso. PRODUTOR – Mas o filme
pode demorar para começar a ser rodado.
HUMBERTO – Isso pra mim
não importa. Se você quiser eu transo com mulher, com homem, com criança e até com cachorro se for necessário. O que eu quero é ganhar dinheiro que me dê prazer. Não sei se você entende, ms o me sonho é aparecer numa tela, independente do trabalho que eu esteja realizando.
PRODUTOR – Tudo bem
rapaz. Volte na semana que vem que eu já tenho uma resposta.
HUMBERTO – Só espero que
essa resposta seja positiva, pois eu não posso ficar desempregado.
Corta para:
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
CENA 31 – LOJA DE RUA. INTERIOR. ANOITECENDO. Com o dinheiro que recebe, Daniel compra outro cobe rtor, pois está muito frio. Toma sopão. O termômetro marc a 10.º, então ele cobre o chão com papelão e se cobre com o s dois cobertores. Ele avista o Humberto e vai até ele, br igam por causa do dinheiro e o Humberto fala de suas pretensões.
DANIEL – Eu queria um
cobertor.
VENDEDORA – Pode ficar à vontade.
DANIEL – Esse aqui tá
bom.
VENDEDORA – É só passar no caixa.
DANIEL – Que frio,
muito obrigado moça!.
VENDEDORA – Volte sempre.
Corta para: CENA 32 – FACHADA DA LOJA. EXTERIOR. NOITE.
DANIEL – Eu vou é tomar um sopão, pra vê se começo a esquentar.
Come o sopão e corta para:
CENA 33 – PRAÇA. EXTERIOR. NOITE.
DANIEL – O jeito vai
ser forrar o chão de papelão e me cobrir com
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
os dois cobertores, senão não vou aguentar. Fazem dez graus.
Deita-se e avista o Humberto encolhido num dos banc os da praça.
Corta para: CENA 34 – PRAÇA. EXTERIOR. NOITE. Daniel chama o Humberto para dormir com ele. Humber to fala que está muito frio e sabe de um lugar que poderão dormir nsa noite. Eles vão para uma igreja abandonada.
DANIEL – Como você
teve coragem de fazer aquilo comigo! (T) Humberto, você nem liga?
HUMBERTO – Você também
não liga para os meus interesses...
DANIEL – Mas nunca
mexi no que é seu...
HUMBERTO – É só um
empréstimo. Quando eu for famoso, te devolvo em dobro.
DANIEL – Aquele
dinheiro eu ia mandar pra minha família.
Roteiro do Longa-Metragem Situação De Vida Pág. : 45
CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
HUMBERTO – Te prometo que te devolvo! E vai deitar, que tá frio demais esta noite!
DANIEL – E você vai
ficar aí no relento?
HUMBERTO – É o jeito.
Vou fazer o quê?
DANIEL – Que nada vem
deitar comigo. Assim a gente se esquenta.
Corta para:
CENA 35 – FACHADA DA IGREJA ABANDONADA. EXTERIOR. N OITE. Daniel quer transar com Humberto, mas este fala que na igreja é pecado e que está muito frio para ficarem nus.
HUMBERTO – Aqui era o
templo de uma igreja qualquer
DANIEL – Pelo menos a
área é coberta. HUMBERTO – E não
corremos o risco de sermos acordados por um fiscal de ônibus.
Eles deitam.
DANIEL – Posso te abraçar?
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
HUMBERTO – Claro que
pode amigão. Daniel beija a nuca de Humberto.
DANIEL – Eu preciso
sentir o teu corpo.
HUMBERTO – Pára com
isso, cara. Eu também estou na necessidade. Faz anos que eu não sinto o corpo de uma mulher sob o meu, mas aqui não dá.
DANIEL – Porque não?
Aqui é um lugar como outro qualquer.
HUMBERTO – Na igreja é
pecado, e além do mis está muito frio para que fiquemos nus.
Corta para:
CENA 36 – FACHADA DO ESTACIONAMENTO. EXTERIOR. DIA. Amanhece e Daniel entra no banheiro de um estaciona mento e Humberto vai atrás dele, onde transam.
HUMBERTO – Você vai na
frente, entra no banheiro e eu vou atrás.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
DANIEL – Tudo bem.
Corta para:
CENA 37 – ESTACIONAMENTO. INTERIOR. DIA.
HUMBERTO – (para um frentista) Vou lavar o meu rosto.
Corta para:
CENA 38 – BANHEIRO DO ESTACIONAMENTO. INTERIOR. DIA .
DANIEL – Como eu queria acariciar esse seu corpo.
HUMBERTO – Tem certeza
de que a porta está trancada?
DANIEL – Claro que
tenho.
Os dois se beijam ardentemente, se acariciam e vão se despindo e corta para:
5.ª PARTE CENA 39 – FACHADA DO ESTACIONAMENTO. EXTERIOR. NOIT E. Daniel FALA PARA Humberto que pretende juntar dinhe iro e voltar para sua cidade, Pato Branco, e convida o Hu mberto, mas este não aceita, quer fazer carreira artística de qualquer jeito.
DANIEL – O meu destino
não é aqui, tenho certeza. Vou juntar mais dinheiro e ir de volta para
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
minha terra natal.
HUMBERTO – Como você
desiste rápido das coisas...
DANIEL – Não é bem
assim. Não encontrei minha prima, não consegui emprego. Fazer o que aqui nesta cidade imensa?
HUMBERTO – Você errou o
alvo. Eu não. DANIEL – Bem que você
podia ir embora comigo.
HUMBERTO – E largar
tudo? Você é louco: eu vou seguir carreira artística. Nem que para isso eu tenha que subir por cima de tudo ou de todos.
DANIEL – O convite
está feito, caso mude de idéia.
HUMBERTO – Pelos meus
objtivos já passei frio e fome. Já enfrentei pai e
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
mãe. E você acha que eu lrgaria tudo por causa de você? Mas isso nunca! Ouviu? Nunca! Eu vou cudar dos meus assuntos, que eu ganho mais.
Corta para:
CENA 40 – FACHADA DO ESTÚDIO DE FILMES ERÓTICOS. EX TERIOR. DIA. Humberto decepciona-se quando chega na produtora, p ois há uma placa avisando que a produtora se mudou, sem di zer para onde e ele conclui que foi uma pilantragem. Fi ca indignado, pois era sua única esperança.
HUMBERTO – (lendo)
Vende-se. Isso deve ser uma brincadeira de muito mau gosto. (chamando) Oh de casa. Alguém aí? (T) Desgraçados, arruinaram a minha vida, minhas fotos. O que vocês izeram, para onde vocês foram? Tem alguém aí? Ei pilantras, o que vocês fizeram comigo? Me sacanearam. Essa era a minha última
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
esperança.
Corta para:
CENA 41 – PRAÇA. EXTERIOR. DIA. Daniel já está com seis sacos cheios de lata, que n em onsegue carregar té ao ferro-velho.
DANIEL – Bom seria se
inventassem o saco de lixo com rodinhas, assim a gente perde tempo demais, tendo que levar os sacos pouco a pouco. Se eu deixar esses sacos escondidos, é bem capaz de qund eu voltar, não ter nem o saco.
Corta para:
CENA 42 – PRAÇA. EXTERIOR. ANOITECENDO. Humberto fala ao Daniel o que aconteceu e este conv ida-o para jantar no restaurante, chegam lá e um senhor p ede para o Daniel inteirar a sua refeição, ele prontame nte dá um real ao homem. Humberto não gosta da atitude do amigo e Daniel fala que as pessoas não podem ser egoístas. As pessoas que vivem na rua comem sem esperanças. Dani el divide seu refrigerante com todos.
HUMBERTO – Tô puto da
cara. Imagine que eu chego lá e uma placa imensa: VENDE-SE e nem sinal
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dos caras e muito menos das minhas fotos.
DANIEL – Não esquenta.
Quando tem que ser será.
HUMBERTO – Você não sabe
o sacrifício que foi para eu ter que fazer tudo aquilo.
DANIEL – Sei. HUMBERTO – Você pensa
que eu não tenho sentimentos. Doeu em mim ter tirado aquela grana de você, mas eu fiz tudo para fazer o que é o meu sonho se tornar realizade e agora eu o vejo sendo jogado pela janela.
DANIEL – Vamos jantar? HUMBERTO – Eu tô de saco
cheio desse sopão.
DANIEL – Hoje eu vou
te levar para jantar num restaurante popular que eu conheci noutro dia.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
HUMBERTO – Sendo assim,
é pra já.
Corta para:
CENA 43 – FACHADA DO RESTAURANTE POPULAR. EXTERIOR. NOITE.
HUMBERTO – Noventae nove centavos. Só isso, espero que seja comida de verdade.
DANIEL – Vamos entrar.
Corta para:
CENA 44 – RESTAURANTE. INTERIOR. NOITE.
APOSENTADO – Moço, o senhor podia inteirar minha janta.
DANIEL – (oferecendo
um real) Toma. HUMBERTO – Você é louco,
como é que vai soltando dinheiro assim, nas mãos dos outros, cara.
DANIEL – Humberto,
você tem que aprender que as pessoas não devem ser egoístas, eu poderia até deixar de comer para ver um sorriso e
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
qualquer boca aqui.
HUMBERTO – Dois pratos
feitos. GERENTE DO RESTAURANTE – Carne ou
frango? DANIEL – Frango. HUMBERTO – Carne. DANIEL – Vê também
dois refrescos. HUMBERTO – Vamos sentar
lá naquela ponta.
DANIEL – As pessoas
que vivem nas ruas comem sem esperanças.
Corta para:
CENA 45 – RUAS DE CURITIBA. EXTERIOR. NOITE. No retorno, eles passam na rodoviária e Daniel pegu nta o preço da passagem de retorno para Pato Branco e diz para Humberto que mais três dias de trabalho pesado, ret orna par a sua família.
DANIEL – Eu nunca
passei o que passei nessa cidade.
HUMBERTO – Eu também
não. DANIEL – Por isso eu
vou embora, pois se aqui
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
não está bom, devo mudar. Ah! Vamos aproveitar que estamos próximos da rodoviária, que eu quero saber se ainda há passagens para Pato Branco.
HUMBERTO – Você vai
embora mesmo? DANIEL – Não te disse
que iria?
Corta para:
CENA 46 – GUICHÊ DA RODOVIÁRIA. EXTERIOR. NOITE.
DANIEL – Quero uma passagem para Pato Branco.
ATENDENTE – O último
ônibus para Pato Branco está lotado. Agora só pela manhã.
DANIEL – E quanto é
que custa a passagem?
ATENDENTE – Custa
quarenta e um reais.
DANIEL – Então me vê
uma para depois de amanhã, no último ônibus.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
(para Daniel) Quer uma também? Essa pode ser a sua última chance.
HUMBERTO – Não, muito
obrigado. ATENDENTE – O troco. DANIEL – Muito
obrigado.
Corta para:
FINAL CENA 47 – RUAS DE CURITIBA. EXTERIOR. NOITE. Andando na rua recebem um panfleto evangélico e Dan iel quer que o Humberto leia para ele, este recusa-se, pois não acredita que Deus exista, pois se ele existisse não estaria naquela situação infame.
EVANGÉLICO – (estendendo o
folheto para os dois) Jesus te ama.
HUMBERTO – (amassa e
joga no chão) Grande coisa.
DANIEL – Lê pra mim. HUMBERTO – Pra que? DANIEL – Quero ouvir. HUMBERTO – Deixa pra lá. DANIEL – Lê! HUMBERTO – Não vou ler.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
DANIEL – Porque? HUMBERTO – Simplesmente
porque não creio no que diz aí.
DANIEL – Mas se não
leu, como é que sabe o que diz.
HUMBERTO – É sempre a
mesma bobeira de sempre.
DANIEL – Deus não é
bobeira. HUMBERTO – Pra você.
Porque pra mim, ele nem existe.
DANIEL – Não fale
assim.../ HUMBERTO – Eu falo do
jeito que eu quiser. Se ele existisse eu não estaria nessa situação infame qu me encontro.
DANIEL – Lê só um
pedaço por favor, enm que eu te pague para isso.
HUMBERTO – Só um
pedacinho. E porque está me pagando, porque
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
a minha von tade é de rasgar esse pedaço de papel. (lendo) Porque Deus amou o mundo de tal maneira que enviou o seu filho amado para todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pronto, agora chega.
Corta para:
CENA 48 – RUAS DE CURITIBA. EXTERIOR. NOITE. Humberto para disfarçar remexe um pacote de lixo e acha uma lâmina e faz a barba no banheiro de um bar, ond e Daniel toma uma cachaça.
DANIEL – Pare de
remexer nesse lixo e vamos tomar uma branquinha pra ver se esquenta?
HUMBERTO – Legal.
Corta para:
CENA 49 – BAR. INTERIOR. NOITE.
DANIEL – Vê duas branquinhas.
HUMBERTO – Já volto.
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CADA UM TEM O DESTINO QUE MERECE...
Corta para:
CENA 50 – BANHEIRO DO BAR. INTERIOR. NOITE. Humberto faz a barba e corta para:
CENA 51 – BAR. INTERIOR. NOITE.
HUMBERTO – Se não tivesse cega, ficaria perfeita.
HUMBERTO – Não amola
(toma a cachaça num gole só) e vamos embora.
Os dias se passam e corta para: CENA 52 – RODOVIÁRIA. EXTERIOR. NOITE. Os dias se passam e Daniel se despede de Humberto n a rodoviária, é noite e Humberto se deita num banco, sente frio, acha um jornal no lixo e se cobre, sonha que é famoso.
DANIEL – Tem certeza? HUMBERTO – Tenho certeza
que não quero ir com você. Se cuida.
DANIEL – Vou lembrar
de você com muito carinho.
HUMBERTO – Vai, senão
você vai perder o carinho.
DANIEL – Tudo bem. Te
cuida.
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HUMBERTO – Valeu te conhecer.
O ônibus parte e Daniel está lá dentro e observa o Daniel.
DANIEL – O jeito é eu me deitar por aqui mesmo e e cobrir com estas folhas de jornal. Andar até a praça agora não seria nada legal.
Corta para: CENA 53 – PALCO DO PROGRAMA DE TELEVISÃO. INTERIOR. NOITE.
APRESENTADOR – Agora eu vou chamar ele, que é recordista em cartas, por sua atuação n novela em horário nobre: Humberto Siqueira. Palmas para ele gente, porque ele merece. Afinal ele venceu pelo talento.
HUMBERTO – É ótimo estar
ao seu lado e um prazer imenso sentir o calor desse seu público.
Corta para: CENA 54 – BANCO DA RODOVIÁRIA. EXTERIOR. NOITE.