SacerdoteS 01 (1-2)

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Ataque aos Domínios do Tempo

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Introdução

Gardwen

A história de Sacerdotes se passa no mundo de Gardwen. É por esse mundo e por toda a vida que nele habita que muitas batalhas são tra-vadas, desde o princípio dos tempos. Como deve ser, Gardwen é um mundo de equilíbrio, onde bem e mau obrigatoriamente existem lado a lado. E é para tentar manter este equilíbrio que surgem os Sacerdotes.

Os Elementos da Vida O mundo de Gardwen é completamente regido por três Elementos da vida. Três Elementos sem os quais Gardwen não existiria. O primeiro deles é a Alma, que propicia toda a vida que habita o pla-neta, alma que está presente desde o menor inseto ao maior dos dra-gões. É a Alma também que garante o ciclo da vida, onde o indivíduo nasce, morre e aguarda o momento certo para reencarnar em um novo corpo. O segundo Elemento é o Tempo, que garante a continuidade e a histó-ria de Gardwen. Tempo que traz mudanças, que preserva um passado de grandes mistérios e reserva um futuro desconhecido. O Tempo é fundamental para qualquer ciclo, pois marca o inicio e o fim de cada um deles. E o último dos três Elementos da vida é a Magia, responsável pelos maiores poderes e mistérios que perduram sobre a face do mundo.

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Os Protetores

Juntos esses três Elementos vêm trazendo prosperidade à Gardwen ao longo dos séculos. Mas com o passar do tempo, inclusive os Elementos da Vida precisaram de proteção, e foi nesse momento que nasceram os protetores. Cada Elemento escolheu, dentre os humanos, aqueles que julgou serem os portadores de capacidades e habilidades essenciais para a sua pró-pria proteção. Esses humanos receberam o nome de protetores e foram abençoados com a magia de seus Elementos. Cada protetor possui um colar, e é esse colar que lhes propicia poder. Sem este objeto, o protetor fica incapacitado de usar magia do seu Elemento, sendo assim, um simples humano novamente. Mas esses co-lares não servem apenas como fonte de poder; ele também representa o protetor e o identifica dentro da hierarquia elementar, que vai desde o Aprendiz, o protetor mais simples ainda em treinamento, até o Guar-dião, o mais importante e poderoso representante de um Elemento. A cada nível de habilidade e conhecimento que um protetor atinge, ele ganha um novo pingente para seu colar e, quanto mais pingentes, mais forte e sábio é o protetor. Com nove pingentes, o protetor ganha um novo colar e sobe na hierarquia elementar. Cada Elemento conta com um certo número de protetores e é neles que confia inteiramente a sua segurança e também a de Gardwen.

Domínios de um Elemento Cada um dos três Elementos tem os seus próprios Domínios, e é nesses Domínios que vivem os seus protetores. É uma dimensão paralela à

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Gardwen, que não pode ser mapeada em nenhum lugar do mundo, pois não está nele. A única forma de se chegar a um Domínio é se uti-lizando de portais mágicos, mas somente os protetores é que podem usar esses portais. Ainda há muita coisa a ser dita sobre Sacerdotes, muitas coisas a se-rem explicadas e reveladas, mas todas elas serão trabalhadas e apre-sentadas no decorrer da história…

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Capítulo 1 – Ataque aos Domínios do Tempo Parte 1

“Concentrar, bloquear e manter. Concentrar, bloquear e manter…”. Há duas horas Mifitrin repete estas três palavras em pensamento. Analisa cada uma delas junto com o procedimento necessário para atingi-las, assim como seu tutor lhe ensinou hoje. Estamos nos Domínios do Tempo. Tempo. Este é o primeiro Elemento da Vida aqui mencionado. É ele que determina o agora, o que foi e o que será. É o Tempo que marca o inicio e o fim de cada ciclo e é também o que garante a continuidade de qualquer coisa que exista sobre Gardwen, inclusive ela própria. As-sim como os demais, o Tempo é um Elemento tão poderoso quanto misterioso, e não é menos fundamental para Gardwen que os outros. Na verdade os três Elementos devem coexistir em harmonia para que o mundo e a vida que nele habita sejam preservados. Nem mesmo os seus protetores conhecem o verdadeiro potencial do poder que este Elemen-to pode lhes conceder e talvez esse poder nem chegue a ser revelado nessa história. Talvez. Nem mesmo o destino já escrito garante o que irá acontecer, pois o destino, assim como tudo que existe, está sujeito a transformações… transformações que inclusive o Tempo desconhece. Mifitrin é uma Aprendiz do Tempo, com três ciclos de tempo de vida, sendo que cada ciclo equivale a cinco anos. Em seu rosto triangular carrega olhos grandes e azuis, olhos que são ao mesmo tempo infantis e severos. Tem um corpo alto, meio desengonçado, sem nenhum traço de delicadeza. Apesar de seus quinze anos apenas, sua infância há muito tempo fi-cou pra trás, uma infância que lhe foi brutalmente arrancada quando se tornou uma protetora do Tempo, recebendo uma carga em seus om-

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bros cujo peso até mesmo ela desconhece. Ao menos por enquanto. Is-so pode parecer cruel, e de fato o é, mas é a conduta de todo e qualquer protetor. Mifitrin é obstinada em aprender sempre mais, cada dia mais, e sua capacidade de superação é o que lhe garantirá um grande poder. Ela criou para si mesma uma conduta e um modo de vida que a dife-rencia de qualquer outro Aprendiz. É muito severa, principalmente consigo mesma, e tão orgulhosa que não se permite perder e desistir. Mas esse seu modo de vida diferenciado também lhe trás sofrimento. Tanto sofrimento que já perdeu a conta do número de vezes que se surpreendeu chorando, chorando sozinha. Sempre sozinha… Ela pretende tornar-se uma Feiticeira do Tempo e seu tutor é o respei-tado Mago do Tempo Morton. Mifitrin é muito persistente e corajosa, mas sabe que terá problemas com o que Morton lhe ensinou hoje. Somente protetores que tenham um colar do Tempo podem entrar nos Domínios do Tempo e manterem-se ali, e Mifitrin sabe muito bem dis-so. Mas o que ela aprendeu hoje se refere exatamente a como levar al-guém sem colar e mantê-lo dentro dos Domínios do Tempo. Primeiro deve concentrar-se em seu colar e na pessoa que pretende le-var para os Domínios; a concentração é fundamental para que se pos-sa controlar corretamente o fluxo de poder necessário para a realiza-ção do feitiço. Depois deve dizer algumas palavras em pensamento para bloquear o portal e assim impedir que a pessoa seja expulsa dos Domínios e, por último, deve manter o portal bloqueado. Em teoria é extremamente fácil, mas Mifitrin sempre teve problemas com a con-centração. A concentração é o seu grande ponto fraco, e talvez conti-nue sendo por muitos anos. Suas costas já estavam doendo, mas ela persistia com a postura reta de sempre. Sentia o chão de tijolos bem trabalhados sobre o qual esta-

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va sentada há duas horas. Suas mãos repousavam sobre as pernas cruzadas e seus olhos mantinham-se insistentemente fechados e assim ficariam até que Morton viesse ao seu encontro, assim como costuma-va fazer e também dissera que faria hoje. Mas duas horas era tempo suficiente para que todo o seu corpo, que continuava imóvel, começas-se a se queixar de dor e cansaço, mas sua persistência era muito maior que isso. Ficaria dias na mesma posição caso Morton se atrasasse, mas ela conhecia a pontualidade de seu tutor. Morton não costumava di-zer quanto tempo a deixaria meditando, mas sempre chegava no mo-mento ideal. Ela, como muitos outros Aprendizes, está no Pátio da Antúnia, medi-tando sobre os ensinamentos recebidos. Todos se sentam à volta da Antúnia, que é uma árvore de beleza in-comparável (ao menos para os protetores do Tempo), frondosa, com grandes galhos e folhas que emitem uma suave luz quando se escurece. Ela floresce no começo de cada ciclo de tempo, de cinco em cinco anos, e então é feito um grande ritual em sua homenagem, pois ela enche de coragem e esperança os corações dos protetores do Tempo. A Antúnia fica no centro do pátio, num espaço de terra não muito grande no in-terior de uma mureta feita dos mesmos tijolos do chão sobre o qual Mifitrin estava sentada. O pátio fica numa pequena depressão exa-tamente no centro dos Domínios, e cinco escadas sobem em direções opostas para a saída do pátio. Os Aprendizes do Tempo ficam meditando até que escureça e as folhas se iluminem, e quando eles se retiram, o Guardião do Tempo vem de seu palácio e usa o seu colar para realizar o feitiço da Antúnia. Isso é feito porque o poder dos colares do Tempo é extraído da Antúnia e quando o feitiço não é realizado os colares enfraquecem. Se o feitiço não for realizado por algum tempo, os colares definham e morrem.

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Já fazia alguns minutos que a concentração de Mifitrin havia se evaporado sem que ela se desse conta. Seus pensamentos vagavam por dias de treinamento, dias em que ela e Morton saíam dos Domínios do Tempo para treinar, sob sol ou chuva. Era disso que ela gostava, da ação, da prática, e não da meditação e teoria. Na verdade ela odiava a meditação ainda mais do que odiava as aulas teóricas de simbologia, mesmo reconhecendo que ambas eram importantes para ela. Estava se lembrando de um dos dias em que ela e Morton treinaram um duelo de protetores quando… — Mifitrin! – chamou uma voz e ela abriu os olhos assustada. – Per-cebo por sua respiração que não está concentrada. Já dominou o feiti-ço que lhe ensinei? Era Morton. Ela encarou aqueles olhos azuis, muito mais intensos que os dela. Olhos que enxergavam além, olhos que lhe passavam a impressão de que o seu dono soubesse mais dela que ela mesma. Aquele olhar de Morton era penetrante, quase como se conseguisse penetrar em sua mente e saber o que ela estava pensando. Isso apenas com o olhar. Morton tinha a aparência de um verdadeiro Mago. Cabelos compridos e aquele olhar… suas vestes e os adereços e símbolos que carregava também não deixavam mentir sobre ele. Aquele era, de fato, um dos protetores mais respeitados e influentes de toda Gardwen, e alguém que, com certeza, merecia todo esse respeito. Morton era muito sábio, era a ele que muitos recorriam em busca de conselhos, inclusive os Guardiões dos três Elementos da Vida. A determinação que Mifitrin tinha, de certa forma, foi herdada do Mago, pois ela sempre se espe-lhou nele, na pessoa tão importante que era seu tutor. Morton já ti-nha muitos anos de vida, talvez quase dez vezes a idade de Mifitrin, ela não sabia ao certo, mas não havia nenhum traço sequer de velhice

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em seu rosto ou seu corpo. Na verdade ali só eram visíveis a experi-ência e a sabedoria conquistadas durante toda uma vida. Essa era uma dádiva do Tempo para os protetores, uma vida além das expecta-tivas de um simples humano. Morton pode perfeitamente ser muito mais velho que o mais antigo ancião de Gardwen, e mesmo assim car-rega a força e determinação de um jovem. Assim são os protetores. — Sim senhor – Mifitrin respondeu a pergunta de seu tutor ficando em pé. Seu corpo agradeceu à mudança de posição após duas horas sentada como uma estátua. – Analisei e memorizei todos os procedi-mentos. — Bom, vamos ver. Aguarde um momento – dizendo isso Morton to-cou seu colar sobre o peito e desapareceu instantaneamente. Ali no Pátio da Antúnia é onde fica o portal que liga os Domínios do Tempo à Gardwen; Morton havia usado o portal para sair dos Domínios, por isso havia desaparecido tão repentinamente. Mas Mifitrin não enten-deu o que ele faria. Aprendizes como ela só podem sair dos Domínios com autorização de seus tutores, por isso raramente os Aprendizes sa-em. Mas Mifitrin é uma exceção, pois Morton a treinou diferente do modo como os outros são treinados. Freqüentemente Morton a treina fora dos Domínios, e a leva para lugares incríveis. Mifitrin duvidava que qualquer Aprendiz, mesmo dentre os mais experientes, conhecesse Gardwen como ela conhecia. Para os Aprendizes, o mundo lá fora é sinônimo de desejo. Um Aprendiz que sai dos Domínios passa dias contando suas histórias para os colegas, e eles as ouvem com admira-ção, mas Mifitrin não ligava para elas, pois sabia que as histórias eram inventadas. E ela podia afirmar isso com certeza, pois ela sim podia dizer que conhecia Gardwen; ao menos acreditava nisso. Poucos segundos se passaram e Morton reapareceu no mesmo lugar em que estava antes, tão repentinamente quanto desaparecera.

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— Olhe Mifitrin – disse ele abrindo sua mão e lhe mostrando uma pedra. Ela tentou compreender o que a pedra significava, mas não tardou em perceber que a pedra era simplesmente isso: uma pedra sem qualquer importância. – Esta pedra não pertence aos Domínios do Tempo, portanto será expulsa assim que eu me desconcentrar dela. Vou contar até três e então anularei o feitiço que a mantém aqui. Mas você não deve permitir que ela seja expulsa, está bem? – Mifitrin con-cordou com a cabeça, então Morton voltou a falar: – Prepare-se! Um… – Mifitrin concentrou-se em seu colar e na pedra nas mãos de Morton. – Dois… – começou a enunciar mentalmente as palavras para bloquear o portal. – Três! – exatamente nesse instante Mifitrin iniciou o feitiço para manter a pedra dentro dos Domínios do Tempo. Ela sentiu uma magia se manifestar em torno da pedra para expulsá-la dali e isso a desconcentrou, fazendo assim com que a pedra fosse praticamente expulsa. Ela olhou para a pedra e viu que os contornos dela estavam enfraquecendo e logo estava transparente. Significava que o feitiço não foi forte o suficiente para manter a pedra ali e o por-tal não estava completamente fechado. A pedra não estava nem den-tro nem fora dos Domínios, e lá fora com certeza era possível ver os fracos contornos da pedra também. Estava num meio termo, entre um e outro, oscilando entre as dimensões; hora lá, hora cá, mas nem com-pletamente lá nem cá. Estava no meio termo. Concentre-se Mifitrin, dizia ela para si mesma. Concentre-se! Logo os contornos da pedra foram ficando cada vez mais fortes e em poucos segundos a pedra estava completamente ali. — Consegui senhor – disse ela contente, embora exausta. O feitiço es-tava consumindo muita energia sua e isso a enfraquecia. Não sabia que a prática era tão difícil.

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— Não Mifitrin, você ainda não conseguiu – disse Morton contra-riando-a. – Você concretizou apenas os dois primeiros passos do feiti-ço, e agora vem a parte que julgo ser a mais difícil para você. A tercei-ra parte do feitiço requer concentração e, se você concentrou-se o bas-tante no primeiro passo, será fácil manter a pedra aqui mesmo que seus pensamentos não estejam completamente voltados para ela. Faça o seguinte: ataque-me com uma esfera de energia. — Mas se eu utilizar meu colar para outro propósito o primeiro feiti-ço não será interrompido? – perguntou Mifitrin duvidando de que se-ria capaz de realizar o que seu tutor lhe ordenou. — Os feitiços simultâneos são uma prática muito difícil – disse Mor-ton – mas é uma das virtudes dos grandes protetores. Se você se con-centrou o suficiente durante o primeiro passo do feitiço para manter a pedra aqui, poderá me atacar sem grandes dificuldades. Mifitrin, sem acreditar que seria capaz, concentrou-se em seu colar e conjurou uma esfera de luz anil. Aquela esfera representava um feiti-ço de ataque, uma simples acumulação de magia; é uma técnica fácil de aprender, tanto que até mesmo Aprendizes conseguem dominá-la, mas são usadas inclusive em grandes batalhas; o poder da esfera varia de acordo com quem a usa e com o quanto de energia que gasta com ela. É algo como um ataque padrão. Mifitrin concentrou-se em seu colar e passou a transformar a energia do seu corpo em magia, através do poder de seu colar, e logo a seguir acumulou essa magia criada formando a esfera que pairou diante dela. Enquanto criava a esfera, os contornos da pedra voltaram a enfraque-cer, mas quando a esfera foi concluída os contornos voltaram ao nor-mal. Mais com um movimento de sua mão do que com o seu próprio pensamento, ao contrário do que Morton exigia que ela fizesse, Mifi-trin atirou a esfera contra seu tutor. Não houve explosão, pois a esfe-

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ra sequer chegou a tocar Morton; ele a fez desaparecer apenas to-cando-a com uma das mãos, dissipando-a no ar, transformando-se em flocos de luz que voaram para longe como se fossem levados pelo ven-to. Mifitrin alegrou-se ao realizar o que Morton lhe pediu, mas abaixou a cabeça e fechou os olhos, pois estava completamente exausta. Por mais simples que fosse o feitiço, como este mesmo que fizera, era sempre muito exaustivo ao fazê-lo pela primeira vez e Mifitrin sabia disso. Enquanto recuperava o fôlego, Mifitrin ouviu Morton rindo, então ergueu a cabeça e olhou para ele. Morton estava rindo porque seu co-lar estava brilhando e não tardou para que um pequeno objeto fosse materializado desse brilho. Mifitrin sorriu, pois sabia o que aquilo significava. Já havia visto aquele brilho outras quatro vezes antes. — Parabéns Mifitrin – disse o Mago parando de rir e pegando o pe-queno objeto que ainda flutuava a sua frente. – Este é o teu quinto pingente de Aprendiz e é muito merecido, pois se esforçou bastante. Sempre que os Aprendizes, ou qualquer outro protetor, atingem um novo nível de aprendizado e experiência, eles ganham pingentes que são concedidos pelos colares de seus tutores. Mifitrin pegou o pingente e colocou-o na pedra de safira do seu colar. Havia outros quatro pin-gentes no colar. Com mais quatro pingentes estaria a um passo de tor-nar-se uma Feiticeira do Tempo, assim como sempre desejou. — Obrigada, senhor Morton – Mifitrin agradeceu finalmente. – Se não fosse pelo senhor jamais haveria conseguido chegar até aqui. — Não Mifitrin. Eu apenas lhe ofereci meus ensinamentos. A pessoa responsável por você ser quem é hoje é você mesma. Você chegou até aqui pelo seu próprio esforço… Neste instante chegou mais alguém no Pátio da Antúnia e interrom-peu a conversa entre Morton e sua pupila. Era Arkas, o Mensageiro

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do Tempo. Arkas era mais velho que Mifitrin, mas não muito. Era alguém de pouca confiança em si próprio, Mifitrin já percebera, mas tão determinado quanto ela. Morton sempre demonstrou uma confi-ança especial por Arkas e, sempre que precisava dos serviços de um Mensageiro, era a ele que Morton recorria, diferente dos outros prote-tores que sempre procuravam a ajuda de outro Mensageiro mais expe-riente que o jovem e inseguro rapaz. E Arkas reconhecia e admirava Morton por isso, e sempre executou as missões que o Mago lhe pedira com sucesso e eficiência. — Senhor Morton – disse ele ao se aproximar. – Vim assim que recebi sua mensagem. Estava fora dos Domínios e vim o mais rápido que pude. Desejas algo de mim? — Sim Arkas – respondeu Morton e Mifitrin percebeu um leve tom de preocupação em sua voz. – Se não for pedir muito, peço que você vá até os Domínios da Alma e traga o Mestre da Alma Nai-Kalimuns. É de extrema importância e precisa ser rápido. — Farei isso – disse Arkas alegrando-se por receber mais uma missão de Morton, mas tentando inutilmente não demonstrar essa alegria, querendo parecer um pouco mais sério ao fazer isso. – E o que digo para o Mestre Nai-Kalimuns? — Apenas diga que já está acontecendo, ele saberá o que é, e peça pa-ra ele trazer algo que já combinamos. Arkas olhou curioso para Morton, mas não perguntou nada. Deu às costas para Morton e seguiu para a saída do Pátio da Antúnia, orgu-lhoso pelo Mago continuar a confiar nele, mas antes de sair parou e olhou novamente para o Mago. — Morton – ele começou. – Há sete dias me pediu para ficar vigian-do as redondezas do portal fora dos Domínios. Não me contou o mo-tivo de vigiar e nem o que eu deveria esperar, mas hoje vi algo estra-

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nho… Foi um pouco antes de receber sua mensagem; vi um grupo de demônios. Nunca vi uma espécie de demônio que se organize tão bem em manadas grandes e, além do mais, eles são… diferentes. Têm for-mas praticamente humanas e são formados por uma espécie de névoa negra. Nunca vi nada igual; senti-me estranho quando tentei me aproximar deles, cheguei a sentir dor com a presença deles. Parece que de algum jeito eles conseguem sugar nossa magia, fiquei fraco… — Onde estão? – perguntou Morton, desta vez um tom de nervosis-mo estava explícito em sua voz e inclusive o Mensageiro percebeu. — Um pequeno grupo de uns trinta demônios já está atravessando o rio Arman, e estão vindo em direção ao portal. Mas outro grupo muito maior está vindo atrás. Estão perto da Colina Amiga. Se continuarem na direção que estão, chegarão ao portal em algumas horas. Morton não disse nada. Ficou apenas meditando, olhando para o va-zio. Mifitrin raramente via aquele olhar em seu rosto, mas já sabia o que significava. Alguma coisa realmente importante, e provavelmente perigosa, estava prestes a acontecer. Algo que não era surpresa para ele, mas que mesmo assim o fazia sentir um pouco de medo. — MORTON! – chamou Arkas após alguns segundos, interrompendo os pensamentos do Mago do Tempo; parecia muito mais preocupado agora. – O grupo maior deve ter ao menos uns duzentos demônios. É um verdadeiro exército! Morton refletiu por mais alguns segundos, mas então finalmente fa-lou: — Obrigado Arkas por me avisar sobre os demônios. Já não é necessá-rio que vigie o portal. Agora sei que estão chegando… Mas agora vá, por favor. Conte à Kalimuns o que me contou e assim que ele estiver pronto para vir você deve trazê-lo o mais rápido possível.

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— Sim – respondeu Arkas prontamente. – Utilizarei o portal para-lelo que fica na Nascente Brilhante. Assim sairei no Vale das Almas Perdidas, perto de onde está o portal principal para os Domínios da Alma. Dizendo isso Arkas saiu do Pátio da Antúnia. O colar de um Mensa-geiro permite que ele utilize os portais paralelos, e eles são os únicos protetores capazes de usá-los. Além do portal principal, cada Domínio Elementar tem quatro portais paralelos que podem ser usados pelos Mensageiros para diminuir a distância entre um Domínio e outro. Os Mensageiros também são os únicos protetores capazes de entrar em um Domínio que não seja o seu sem que ninguém o leve ou o mantenha lá, mas esta habilidade também é exclusiva deles. — O tempo é mais curto do que imaginei – disse Morton pensativo, e Mifitrin percebeu que não estava falando com ela. Sentiu-se triste por não poder ajudar, mas também chegou a sentir pena de seu tutor, pois, de alguma forma, percebia a enorme responsabilidade que Morton es-tava assumindo para si mesmo. — Senhor, eu não queria dizer nada – começou Mifitrin sem saber exatamente o que dizer – mas hoje percebi que o senhor esteve um pouco nervoso. Tem alguma relação com os demônios que Arkas nos contou ter visto? Morton forçou um sorriso e disse: — Você me conhece como ninguém, não é Mifitrin? – ficou um ins-tante mirando sua querida pupila, um olhar que Mifitrin não reconhe-ceu o verdadeiro significado, então respondeu sua pergunta: – Saberá Mifitrin, logo. Mas agora preciso que você pratique mais o feitiço pa-ra manter algo nos Domínios. Talvez você precise manter alguém aqui hoje!

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Morton colocou a mão sobre seu colar e mais uma vez desapareceu. Mifitrin ficou imaginado quem Morton disse que ela manteria nos Domínios do Tempo. Pensou que fosse o Mestre da Alma que Morton chamou, mas não fazia sentido. Com certeza ele seria mantido pelo co-lar do Mensageiro Arkas. Morton reapareceu e novamente trazia algo nas mãos, mas desta vez eram três folhas de alguma árvore de fora dos Domínios. — Senhor – começou Mifitrin assim que ele chegou. – Já sou capaz de manter objetos, mas creio que meu colar não seja forte o suficiente para manter alguém nos Domínios. Não ainda, não com apenas um dia de treino. — Não se preocupe com isso Mifitrin, apenas treine. Essas folhas são parte de um ser vivo, portanto será mais difícil mantê-las. Como o tempo é curto, estarei manipulando o tempo para que ele não passe para nós dois. Preciso resolver uns assuntos e não poderei ficar com você. Lancei um feitiço do Tempo nas folhas e, se você falhar, ele será ativado e você terá tempo para recomeçar o seu feitiço antes que as fo-lhas sejam expulsas. Dizendo isso ele colocou a mão sobre seu colar. Duas faixas de luz anil foram expelidas do colar; uma delas atingiu Mifitrin e a outra voltou a Morton. Tudo a volta ficou parado, inclusive os outros Aprendizes que ali estavam, ainda meditando à volta da Antúnia. O tempo estava travado para todos e, enquanto Morton não encerrasse o feitiço, não escureceria, pois o tempo continuaria parado. Ele fez sinal para ela iniciar o feitiço para manter as folhas ali, então se retirou do Pátio da Antúnia deixando-a com seu novo treinamento. Mifitrin passou a concentrar-se nas folhas. Realmente era muito mais difícil com as folhas do que com a pedra. O feitiço falhou logo no se-gundo procedimento e, como Morton disse que ocorreria, o tempo tra-

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vou para as folhas, dando tempo para Mifitrin reiniciar o feitiço. Durante as quatro tentativas seguintes Mifitrin não passou do se-gundo procedimento. Passou a concentrar-se mais, e tirou de sua men-te todos os pensamentos. Logo conseguia chegar ao terceiro procedi-mento mantendo uma das três folhas. Ela treinou durante horas até que conseguisse manter as três folhas pelo tempo que quisesse. Agora sim havia dominado o feitiço com perfeição. Duvidava que seu colar já tivesse poder para manter alguém nos Domínios, mas sentia que ela tinha esse poder. De repente sentiu o colar esquentar-se em seu peito e se assustou, mas logo ouviu Morton comunicando-se telepaticamente com ela. Em sua mente, ele a pediu que fosse até o pé da escadaria do Templo das esfe-ras, que fica no topo da montanha Arguelse. Era uma das poucas montanhas dentro dos Domínios do Tempo, mas era a maior de todas. Mifitrin levantou-se e obedeceu ao seu tutor, saindo do Pátio da An-túnia e deixando todos os outros Aprendizes imóveis para trás. Correu o mais rápido que pôde em direção à montanha, mesmo isso não sendo necessário já que o tempo continuava travado. Contornou as Ruínas Milenares (grandiosas construções que se interligavam e se sobrepunham umas às outras, onde os protetores do Tempo tinham seus aposentos) e seguiu até a montanha mais alta que havia ali. En-quanto corria, Mifitrin se chocava com aglomerações de flocos de luz que flutuavam no ar. Esses flocos são vestígios de magia que não se dissolveram completamente e ficam vagando pelos Domínios. Por ha-ver tanta magia sendo realizada a todo instante dentro de um Domí-nio, os vestígios acabam não se dissolvendo por completo e assumem a forma de flocos de luz que ficam vagando pelo ar até se dissolverem definitivamente. Quando chegou ao pé de Arguelse, Morton já estava esperando por ela.

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— Vamos Mifitrin – disse ele. – Temos que chegar ao templo rapi-damente. Você precisa saber o que está acontecendo, por isso lhe con-tarei no caminho. Começaram a subir correndo pelos inúmeros degraus que davam voltas pela montanha, e Morton começou a contar a Mifitrin o que estava ocorrendo. — Escute-me com atenção Mifitrin. Há alguns anos, o Mestre da Alma Nai-Kalimuns e eu começamos a pesquisar sobre uma lenda que falava sobre uma espada. Lembra-se o que lhe ensinei sobre as lendas? — Sim – respondeu Mifitrin prontamente. – Muitas delas são conhe-cimentos que antigos sábios transformaram em lendas para que nunca fossem esquecidos. Transformados em lendas, muitos saberiam, mas poucos chegariam a pesquisá-las profundamente para se tirar alguma conclusão. — Isso mesmo – Morton confirmou. – Alguns acontecimentos nos le-varam a pesquisar sobre essa espada. A lenda diz que essa espada “ti-ra a vida da vida”. Chegamos à conclusão de que se trata da espada Kentairen, e Nai-Kalimuns interpretou o trecho “tira a vida da vida” como se a espada fosse capaz de assassinar almas. Com absoluta cer-teza ela é um artefato mágico perigosíssimo. “A lenda não foi feita somente para dizer o quão perigosa é a espada Kentairen. Um trecho no final da lenda é um código e, após tempo tentando decifrá-lo, finalmente conseguimos. O código revela onde e quando ela foi vista pela última vez e, possivelmente, é onde está es-condida. O problema é que, há algum tempo, descobrimos que o inimi-go também pesquisou sobre a lenda e, assim como nós, também conse-guiu decifrar o trecho final. Porém, para nossa sorte, Kentairen foi se-lada sob um poderoso feitiço e só há uma maneira de cancelar o feitiço e pegar a espada. Para cancelá-lo é necessário fazê-lo ao inverso, mas

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qualquer possível testemunha há muito tempo está morta, e ninguém sabe qual ou quais feitiços foram usados para selar a espada”. — Mas então qual é o problema senhor? – perguntou Mifitrin. – Nunca descobrirão quais feitiços foram utilizados. — É ai que você se engana Mifitrin. Pense bem, o problema está exa-tamente no local para o qual estamos seguindo. — Entendi – disse Mifitrin sem precisar de muito tempo para desco-brir a resposta. – Esferas do Tempo… No Templo das esferas é onde ficam as esferas do Tempo. Cada uma delas guarda um ciclo de tempo e com elas é possível voltar a qualquer ano que corresponda ao ciclo dela. Há inúmeras esferas, pois desde que o homem passou a dominar a magia do Tempo, ele fecha cada ciclo de tempo esferelizando-o. Sabendo o ano que a espada foi selada, o ini-migo pode roubar a esfera correspondente, voltar no tempo e descobrir quais feitiços foram utilizados. — Mas quem aqui dos Domínios do Tempo seria capaz de roubar a esfera e entregar ao inimigo? – perguntou Mifitrin ainda sem enten-der o perigo. — Ninguém aqui pode roubar uma esfera. Os colares não permitem que seus donos façam isso. Nem mesmo o Guardião do Tempo pode fazer isso. – respondeu o Mago Morton. — Então por que se preocupar? — Alguém que não tenha um colar pode roubar uma esfera se conse-guir passar pela segurança do templo. Lembra-se daqueles demônios de que Arkas nos falou? Eles estão vindo roubar a esfera! — Como entrarão? — Temos um traidor – respondeu Morton. – Aqui nos Domínios do Tempo. Um poderoso traidor e é ele que tentará trazer todos aqueles demônios aqui para dentro…

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Mas Morton parou de falar de repente. Eles sentiram um vento ge-lado batendo em seus rostos e isso só podia significar que o tempo vol-tou a correr normalmente. Eles então pararam de subir pelos degraus. — Senhor Morton, por que parou a manipulação do tempo? – per-guntou Mifitrin assustada. — Mifitrin, fique atrás de mim – disse o Mago, demonstrando-se muito mais nervoso do que antes. – Não fui eu que cancelei a manipu-lação. Alguém mais poderoso que eu forçou a interrupção do meu fei-tiço. Ele é o traidor! Alguns degraus acima, uma esfera de luz anil se materializou de re-pente e, inesperadamente, foi arremessada em direção à Morton. Era o mesmo golpe com o qual ele pediu que Mifitrin o atacasse enquanto estavam treinando, mas aquela esfera era muito mais poderosa. Com certeza não havia sido conjurada por um Aprendiz, devia ser alguém muito mais poderoso que um simples Aprendiz. Morton apenas fez um gesto com as mãos e a esfera desviou-se para longe, mas ele sabia que o traidor só estava brincando com ele. Logo outras esferas foram conjuradas e disparadas contra Morton, mas o Mago não teve dificuldades para jogá-las para longe assim como fez com a primeira. Os ataques então foram cessados e Mifitrin, muito assustada com o ataque surpresa do desconhecido traidor, deu alguns passos em direção ao seu tutor. — Não Mifitrin – disse Morton fazendo um gesto para ela parar. – Fique onde está. Ainda não acabou. E era verdade, pois logo ela sentiu uma nova magia se manifestando. No mesmo lugar onde surgiram as esferas, agora passaram a se mate-rializar inúmeras fagulhas anis. Fagulhas finíssimas, perfeitamente criadas para matar. Mifitrin reparou na perfeição daquele feitiço que,

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apesar de simples, foi conjurado com uma incrível habilidade. Após alguns segundos havia centenas de fagulhas no ar, prontas para ata-car. Morton apenas fechou os olhos e sorriu: — Ainda não entendeu, não é? Mifitrin foi perguntar o que ele queria dizer, mas então percebeu que novamente Morton não estava falando com ela. Estava falando com o traidor. Mifitrin procurou por ele, mas devia estar usando algum feitiço para manter-se invisível. — Pode me atacar quando estiver pronto – disse Morton abrindo os olhos, mas ainda sorrindo. Ele abriu os braços e ficou parado, espe-rando pelo ataque. – Prometo que não farei nada para me proteger… Seja lá quem fosse o traidor, ele havia se irritado, pois atacou Morton imediatamente com as centenas de fagulhas. — NÃO! Mas não havia nada que a Aprendiz pudesse fazer. As fagulhas dispararam a toda velocidade contra Morton, mas ele permaneceu-se imóvel com os braços abertos. Quando as fagulhas atingiram seu tutor, Mifitrin fechou os olhos, pois não queria ver Morton ferido. As fagulhas atravessariam todo o corpo de Morton e, se alguma delas atingisse o coração, o ataque seria letal. Quando Mifitrin abriu os olhos, porém, não viu Morton ferido. Ele continuava do mesmo jeito, imóvel, com os braços abertos e um sorriso confiante estampado no rosto; nenhuma fagulha havia atravessado seu corpo. As últimas fagulhas ainda continuavam atacando-o quan-do ela olhou, mas Mifitrin percebeu que elas se desintegravam antes de atingirem o Mago, apesar de ele não estar fazendo nada para se proteger. Mifitrin tentou entender o que aquilo significava, mas por mais que pensasse não conseguia encontrar uma resposta. Com certeza

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Morton poderia se proteger daquelas fagulhas, mas ele não fez nada para isso, não realizou feitiço algum, sequer tocou seu colar. Assim que todas as fagulhas se desintegraram, ela se preparou para ver qual seria o próximo ataque, mas ele não aconteceu. Eles apenas ouviram uma gargalhada. Uma gargalhada insana que gelou o cora-ção da Aprendiz. No exato local de onde os ataques foram conjurados, um homem apareceu. Suas vestes anis e majestosas e seu belo colar in-dicaram quem ele era. Ao vê-lo, Mifitrin colocou automaticamente a mão direita sobre seu colar, abaixou a cabeça e se curvou. Era Mirun-dil, o Guardião do Tempo. Após cessar sua gargalhada insana, Mirundil olhou para Morton e disse: — Faça como sua Aprendiz, Mago do Tempo, curve-se para mim. Sem dar ouvidos ao que Mirundil disse, Morton olhou para sua pupi-la e ordenou: — Levante-se Mifitrin. Ele não é digno do seu respeito. Ele é o trai-dor! Mifitrin ficou confusa. Lentamente ela se levantou, parecendo nem reparar no que fazia, olhando confusa de Morton para Mirundil. O Guardião do Tempo é o protetor mais importante de todos os Domí-nios do Tempo. É ele quem controla tudo ali dentro e lá fora que te-nha relação com o Tempo. Se ele é o traidor, então está tudo perdido, pois ninguém se compara aos poderes dele, nem mesmo Morton. Mifi-trin não sabia o que fazer ou dizer, então continuou olhando do Ma-go para o Guardião. — Saia da nossa frente Mirundil – ordenou Morton com um tom de voz autoritário. O Guardião riu mais ainda.

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— Acha que pode me dar ordens, Mago? – perguntou ele ironica-mente, mas então acrescentou num tom ameaçador, sibilante: – Ajoe-lhe-se aos meus pés e implore por perdão. — Pela última vez ordeno que saia de nossa frente – disse Morton desafiando-o. — E se eu não sair, vai me atacar? – desta vez ele riu mais ainda. Nenhum protetor pode atacar seu Guardião, pois os colares não fun-cionam contra eles. Morton não poderia utilizar nenhum feitiço que causasse prejuízo à Mirundil, quanto mais feri-lo. Aquela era uma ba-talha perdida. O Guardião era completamente invulnerável à eles. Mirundil olhou profundamente nos olhos desafiadores de Morton, en-tão se irritou e gritou: – NÃO SAIO! Assistirei a sua morte aqui nes-ses degraus. Morton deu um discreto sorriso, o que deixou Mirundil ainda mais ir-ritado, então disse calmamente, num sussurro quase inaudível: — Por que não me mata você mesmo? Vai se acovardar e chamar seus nove Cavaleiros? Mifitrin ainda estava atrás de Morton, mas estava ficando cada vez mais nervosa. Morton estava provocando Mirundil cada vez mais, e ela sabia que essa não era a coisa mais sábia a se fazer. Se Mirundil resolvesse atacar, nenhum dos dois seria capaz de se defender. Os dois seriam mortos ali mesmo, pois com toda certeza era isso o que Mirun-dil pretendia fazer: matá-los. Acalme-se Mifitrin, a Aprendiz ouviu em sua mente. Era Morton, e ele estava se comunicando telepaticamente com ela. Conversar através de telepatia era algo muito simples, mas exigia calma. Mirundil pode-ria ouvir a conversa dos dois facilmente, mas Morton estava conse-guindo deixá-lo irritado a ponto de nem perceber que os dois estavam se comunicando. Então essa era a razão para Morton querer deixá-lo

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irritado, para que ele não percebesse que o Mago e sua pupila esta-vam se comunicando telepaticamente. Mesmo em tal situação, Mifi-trin não conseguiu deixar de sentir orgulho pelo seu tutor. — Você é um covarde Mirundil. Não é digno de seu colar – Morton continuou provocando-o, mas Mifitrin tentava concentrar-se e man-ter-se calma para poder ouvir o que Morton pretendia dizer. — Implore por perdão, Mago – disse Mirundil materializando novas fagulhas de luz anil, tão perfeitamente afiadas quanto as anteriores – ou sua Aprendiz pode sofrer as conseqüências… Mifitrin, ela ouviu em sua mente. Estava fazendo um esforço enorme para manter o mínimo de calma que conseguisse; felizmente podia ou-vir claramente a voz de Morton em sua mente. Terei de atacar Mirundil. Meu colar não me permite atacá-lo, então irei jogá-lo para você. Quando eu fizer isso serei expulso dos Domínios, pois estarei sem colar. Você não pode permitir que eu seja expulso, deve me manter aqui com o feitiço que lhe ensinei hoje. Utilize o meu colar para fazer isso, será mais fácil. Então Mifitrin compreendeu o motivo dos treinamentos daquele dia. Com Morton tudo tinha uma motivo, ela já havia aprendido isso. E mais uma vez recebera uma prova de seu tutor. Mifitrin queria dizer à Morton para não fazer isso, mas não disse na-da, pois ficou com medo de Mirundil ouvir e estragar o plano de seu tutor. Mas ela sabia que não conseguiria mantê-lo ali dentro, mal conseguiu manter as três folhas no Pátio da Antúnia, levou horas pa-ra conseguir isso. Logicamente que com um colar tão poderoso quanto o dele seria mais fácil, mas o colar forneceria apenas uma parte da magia necessária. O resto da magia e a essência do feitiço deveriam vir de Mifitrin, além de ela duvidar que conseguisse se concentrar em um momento de tanta tensão.

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Mirundil ainda olhava para Morton, esperando que ele se ajoelhasse e pedisse perdão. As centenas de fagulhas ao seu lado estavam prontas para atacar Mifitrin. Mas Morton não se preocupou com isso. Ele deu às costas para Mirundil e, nesse exato momento, o Guardião dis-parou as fagulhas. Morton tirou seu colar do pescoço e atirou-o para Mifitrin num movimento rápido. A Aprendiz segurou o colar firme-mente com uma das mãos, mas não teve tempo de fazer nada para se proteger das fagulhas; apenas levantou a mão que continha o colar, instintivamente tentando proteger o rosto. Mas nenhuma fagulha atravessou seu corpo. Ela sequer sentiu algu-ma fagulha tocar nela, pois realmente nenhuma fagulha a atingiu. As fagulhas se desintegraram antes de atingi-la, assim como aconteceu com Morton. Ela ficou muito confusa, novamente sem entender o que aconteceu. Por que os ataques de Mirundil não estavam funcionando? O Guardião também estava olhando intrigado para a Aprendiz que deveria estar morta. Morton olhou para ele e sorriu, então uma ex-pressão de compreensão passou pelo rosto de Mirundil. — Um colar ancestral! – sussurrou ele assustado e admirado ao mes-mo tempo. – Nunca imaginei que os colares ancestrais ainda existis-sem… — Isso mesmo Mirundil – Morton sorria, triunfante, confiante de que tinham uma chance. – Creio que eu seja o único portador de um colar ancestral atualmente, pois quase todos os outros foram destruí-dos ou perdidos. Como você já deve ter percebido, esse é o colar ances-tral da proteção. Você não poderá ferir minha Aprendiz enquanto ela estiver em posse do meu colar. Mas a expressão assustada de Mirundil logo foi substituída por uma expressão de alegria. Um sorriso malicioso crispou em seu rosto e as-sim Morton percebeu que estava sendo expulso dos Domínios do Tem-

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po. Seus contornos estavam enfraquecendo e em poucos segundos ele estaria fora dos Domínios. Seus olhos azuis enxergavam um misto da escadaria do templo e de uma floresta que ficava fora dos Domínios. Estava sendo expulso; estava dentro e fora dos Domínios, mas tam-bém não estava em nenhum dos lugares. Estava num meio termo, nem dentro nem fora, mais fora que dentro. — MIFITRIN! – ele gritou assustado. A garota estava com os olhos fechados, concentrando-se o máximo que podia no colar de Morton, mas não estava conseguindo mantê-lo nos Domínios do Tempo. Não conseguia passar do segundo passo do feitiço, pois não conseguia blo-quear o portal para que Morton não fosse expulso. Mirundil ria doen-tiamente do esforço vão de Mifitrin. As palavras, Mifitrin, disse Morton telepaticamente tentando ajudá-la. Concentre-se nas palavras para bloquear o portal. Mifitrin tirou todos os pensamentos de sua mente. A única coisa em que pensava era no feitiço para manter Morton. Esqueceu-se de todo o resto e direcionou toda a sua concentração apenas para o feitiço. Muntai Karren Litui Letuaren. Mifitrin repetia essas palavras men-talmente na tentativa de bloquear o portal. Ela lembrou-se de que to-dos dependiam de Morton para proteger a esfera do Tempo dos demô-nios que estavam vindo. Lembrou-se que Morton dependia dela para poder ficar ali, então percebeu que na verdade tudo dependia dela nes-te momento. Todos dependiam de Morton, mas agora Morton depen-dia exclusivamente dela. Muntai Karren Litui Letuaren. Muntai Ka-rren Litui Letuaren… Muntai Karren Litui Letuaren… Mifitrin abriu os olhos. Havia conseguido passar pelo segundo passo do feitiço e Morton estava completamente visível. Agora ele só seria expulso se Mifitrin deixasse de se concentrar nele, coisa que ela estava determinada a não fazer, nem que isso consumisse toda a sua força.

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A coisa mais lógica para Mirundil fazer agora era matar Mifitrin. Assim ninguém estaria mantendo Morton ali e ele seria expulso, mas agora ele sabia que era impossível ferir a Aprendiz enquanto ela esti-vesse em posse do colar do Mago. Mas apesar de tudo isso, a situação não deixava de ser cômica e Mirundil riu mais do que antes. Morton estava sem colar, portanto sem condição de se defender ou de atacar. Sem seu colar, um protetor é incapaz de usar a magia do seu Elemen-to. — O que pretende fazer agora, Mago? Render-se e esperar pela mor-te? Ou ainda pretende me atacar? Sem o seu colar está impedido de usar magia, portanto o máximo que poderá fazer é me dar um soco, is-to é, se eu permitir. Mifitrin entrou em pânico. Mirundil estava certo. Agora que estava sem colar, nada podia impedir Morton de atacar o Guardião, mas sem o colar não poderia utilizar feitiços do Tempo para atacar. Estava completamente indefeso e inofensivo. Mas desta vez foi Morton quem riu. Riu tão alto que o riso de Mirundil foi abafado, e o Guardião ficou confuso pela atitude sem sentido de Morton. — Pensa que sou tolo? – o Mago perguntou seriamente, embora ain-da sorrisse. – Pensa que sou tolo como todos vocês? Sou um protetor do Tempo, mas não me limitei aos ensinamentos oferecidos por ele. Fui além, muito além. Dizendo isso Morton levantou suas duas mãos para o alto e sobre elas surgiu uma grande esfera de luz. Não era uma esfera anil, como a rea-lizada pelos protetores do Tempo, era uma esfera branca. Morton não estava utilizando magia do Tempo, estava utilizando magia pura, coisa que Mifitrin nunca viu alguém fazer.

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— A Magia é um dos três Elementos da vida – explicou Morton – portanto qualquer um pode utilizar magia pura. Qualquer pessoa, mesmo que não seja um protetor, pode utilizar magia, embora seja uma técnica muito difícil de ser aprendida. Eu nunca fui escravo do meu colar, nunca dependi exclusivamente dele, e, como você pode ver agora, isso se provou muito útil. Morton era capaz de usar magia pura! Mifitrin estava tão surpresa quanto Mirundil, mas ela sentia alegria, ao contrário dele, que se frustrara com a nova revelação. Morton sempre tinha controle sobre a situação, por mais desesperadora que fosse. Ele sempre tinha uma car-ta na manga, sempre estava um passo a frente. Morton abaixou os braços e os apontou para Mirundil; a grande esfe-ra de energia branca voou a toda velocidade contra o Guardião. Mirundil apenas tocou seu colar e ativou uma manipulação do tempo, e, tanto Morton quanto seu ataque, ficaram imóveis, travados no tempo. Mirundil sorriu, mas inesperadamente o tempo voltou a correr normalmente, e a esfera alva atingiu-o no peito, explodindo, jogando-o vários degraus acima com o seu poder. Ele levantou-se e olhou assustado para Morton. Como a sua manipu-lação foi cancelada? — Como eu te disse antes – disse Morton calmamente – não sou tolo. Sabia que você manipularia o tempo a seu favor e, por isso, antes de eu entregar o meu colar para Mifitrin, ativei um feitiço. Você estava tão confiante de sua vitória e tão insano que nem percebeu. O feitiço que eu ativei impede que manipulações sejam feitas por algum tempo, coisa de Mago, se é que você me entende. O que importa é que agora estamos lutando de igual para igual. Mirundil recuperou-se do golpe recebido. Em seu rosto Morton reco-nheceu toda a fúria que sentia por ele, toda a fúria que foi obrigado a

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esconder nos últimos anos para não ser desmascarado. Já fazia al-guns anos que Mirundil estava ajudando o inimigo e, desde que Mor-ton percebeu, passou a frustrar todos os seus planos em segredo. Ago-ra que as máscaras haviam caído, porém, Mirundil poderia fazer com o Mago tudo o que desejou ter feito a muito tempo. Desafiando-o com o olhar, disse: — Agora é a minha vez de atacar. Ele tocou seu colar e conjurou dois jatos de luz anil. Os jatos dispara-ram, dando voltas graciosas pelo ar, mas sempre retomando seu curso e seguindo contra Morton. O Mago esperou até que os jatos estives-sem perto o bastante e conjurou um espelho em suas mãos. Não era um espelho comum, era um espelho feito por magia pura. Um espelho de luz branca e, ainda assim, maciço. Era como se fosse formado por luz sólida. Mirundil soube o que Morton pretendia fazer, mas os jatos de luz estavam tão próximos do Mago que ele não teve tempo de impedi-los; os jatos bateram no o espelho de Morton e foram refletidos de vol-ta para ele. Mas com um simples aceno de mão, Mirundil fez com que os jatos se chocassem no ar e, após uma explosão, os dois desaparece-ram. Haviam se consumido um ao outro. Morton e Mirundil se encararam por algum tempo, estudando-se como dois inimigos mortais no combate final, depois de longos anos. Final-mente estavam ali, frente a frente, e somente um sairia vitorioso. Ti-nha de ser assim, não havia mais como adiar este momento. Anos de preparação e ali estavam. Se Mirundil triunfasse, o Tempo seria ape-nas o primeiro Elemento a sucumbir, pois os outros seriam os próximos alvos; Gardwen seria subjugada à vontade do inimigo; tudo o que co-nheciam, tudo que mais amavam e prezavam, tudo pelo que lutavam para manter, seria reduzido às cinzas. Somente assim ele poderia ter Gardwen em suas mãos, tê-la da maneira como ele queria. Mas se

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Morton fosse o vencedor deste embate, mesmo que as chances esti-vessem contra ele, teria uma chance de impedir isso; teria a chance de frustrar o plano do inimigo e, desta forma, manter a paz em Gardwen por um tempo indeterminado. Este era o embate final e Mago e Guar-dião colocavam todas as suas cartas na mesa. Quando uma expressão de triunfo passou pelo rosto de seu adversário, porém, Morton soube que Mirundil colocaria suas melhores cartas na mesa. O jogo estava se complicando para o Mago… O Guardião fechou os olhos e concentrou-se em seu colar. Morton dis-parou vários feitiços alvos contra Mirundil, mas o Guardião bloqueou todos eles criando uma simples barreira de luz anil a sua frente. Mifi-trin viu o medo nos olhos de Morton enquanto ele atacava desespera-damente e inutilmente seu rival. De repente Mifitrin sentiu uma pontada de dor em seu coração, e quase se desconcentrou do feitiço que mantinha Morton nos Domínios do Tempo. A dor foi rápida, mas foi muito intensa. Mifitrin queria saber se a dor era conseqüência do feitiço que Mirundil estava se con-centrando, mas logo se lembrou que enquanto estivesse com o colar de seu tutor, nada poderia feri-la. Aquela estranha dor era gerada por outra coisa. Então Mirundil abriu os olhos e, sorridente, disse: — Eles já estão aqui, Mago. Não há mais nada que você possa fazer. Nem mesmo você será capaz de impedi-los… Morton ficou imóvel por alguns segundos, o horror petrificando seu rosto. — CORRA MIFITRIN – ele gritou após algum tempo. Mifitrin olhou confusa para ele. Correr para onde? Ela não entendia o que estava acontecendo. Não tinha idéia do que estava em jogo.

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— Eles estão aqui, Mifitrin – Morton explicou, ainda muito assus-tado. – Os demônios de que te falei. Mirundil acabou de trazê-los pa-ra dentro e nesse momento estão no Pátio da Antúnia. Estão vindo para cá! Mifitrin lembrou-se de um comentário feito por Arkas num momento em que ela ainda acreditava que aquele era um dia comum, um dia como todos os demais. Mas agora ela percebia que estava errada. Muita coisa aconteceu nesse dia, e muita coisa ainda iria acontecer. Definitivamente não era um dia comum. O comentário feito por Arkas se referia aos demônios que ele avistou e esse foi o comentário: “Nunca vi nada igual; senti-me estranho quando tentei me aproximar deles, cheguei a sentir dor com a presença deles”. Agora ela compreendia o motivo da dor que sentira ainda há pouco. Os demônios realmente estavam ali dentro. Não havia dúvidas quanto a isso. — Mas o que eu faço senhor? – perguntou ela assustada. Sua voz tremia, assim como suas pernas. Mas o que mais lhe metia medo não eram os demônios, tampouco Mirundil. O que fazia suas mãos suarem de medo era o próprio medo de Morton. Era isso o que a atemorizava: a visão da pessoa mais confiante e segura do mundo, a pessoa que en-frentava todos os problemas sorrindo, com medo. O medo de Morton era o seu medo. — Corra até o Templo das esferas – ele disse, sem muita convicção de que isso era o ideal. Teve de tomar uma decisão num segundo: optar por tirar Mifitrin dali e salvá-la, abrindo mão de tudo e deixando os outros à mercê do caos, ou colocá-la de uma vez por todas naquela história e correr o risco de perdê-la antes que estivesse pronta. Mas es-ta decisão já estava tomada há muito tempo, desde o dia em que a viu pela primeira vez. Aquele era o destino de Mifitrin, o destino que ele

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próprio lhe impôs; não poderia tirá-la dali, não poderia salvá-la. Já havia tomado sua decisão e sabia dos riscos. – Avise Tarandil que es-tamos correndo um grave perigo. Peça que ele reúna o máximo de Guerreiros do Tempo que conseguir e fique com ele. Corra Mifitrin, mas não se desconcentre de mim. Preciso que continue me mantendo nos Domínios. Com esforço Mifitrin recomeçou a subida pela escadaria. Quando pas-sava por Mirundil ele tentou bloquear seu caminho, mas Morton o atacou e ela teve tempo de seguir correndo. Estava fraca, pois o feiti-ço para manter Morton nos Domínios estava sugando sua energia, mas a sua determinação não permitiria que caísse enquanto houvesse o mínimo de forças em seu corpo. Subindo correndo rumo ao topo da montanha Arguelse, Mifitrin ou-viu a batalha entre Morton e Mirundil recomeçar atrás dela, mas nem se deu ao trabalho de olhar, pois não queria correr o risco de se descon-centrar. Logo escureceu, mas Mifitrin somente percebeu quando ficou com di-ficuldades para enxergar os degraus a sua frente, tropeçando em um deles e caindo nos degraus acima. Iria utilizar seu colar para emitir luz, mas ficou com medo de se desconcentrar do colar de Morton e por isso continuou correndo no escuro. E mais uma vez estava chorando sem que tivesse percebido. Chorando sozinha, sempre sozinha.

♦ Bem abaixo dela, Morton e Mirundil ainda batalhavam. — Como foi que te convenceram a nos trair, Mirundil? – perguntou Morton. – Logo seu colar despertará e perceberá o que você está fa-zendo, então você receberá a devida punição.

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Os colares também funcionam como observadores, juízes das ações de seus donos. Um colar pode perceber quando seu protetor está utili-zando seus poderes para causas impróprias e ele pode ser punido por isso, punido pelo próprio colar. — Dane-se Mago maldito – gritou Mirundil com raiva, enquanto desviava-se de um feitiço de Morton. – Quando meu colar despertar será tarde demais. Não haverá mais nada para governar e ele não terá poder algum. — Você acha que agora que os trouxe para dentro eles o deixarão vi-vo? –Morton perguntou, se referindo aos demônios. – Você não sabe como eles pensam ou agem. Como sabe que manterão seja lá qual foi o acordo que fizeram? — Não fiz acordo algum com os demônios – Mirundil continuava rindo, embora a raiva ainda estivesse estampada em seu rosto; ataca-va Morton com todas as suas forças numa fúria praticamente insana. – Os demônios são apenas peões. Eu jurei lealdade ao senhor daqueles demônios. Ele me mostrou a verdade Morton, e me mostrou o que terei assim que ele reconquistar o poder sobre este mundo. Gardwen e os Elementos estarão à mercê dele. — De quem está falando? – perguntou Morton assustado, embora já soubesse a resposta. Sempre soube; havia anos que ele sabia disso. Mas seria a primeira vez que ouvia Mirundil dizer seu nome em voz alta e teria a confirmação que tanto lhe cobraram. — Dele – respondeu o Guardião rindo loucamente. – Mon! Mifitrin olhou para baixo. Já fazia muito tempo que ela estava cor-rendo. Ela não podia mais ver a batalha entre Morton e Mirundil, pois a escadaria a conduziu para outro lado da montanha. Ela olhou para baixo e viu que já estava bem à frente da metade da escadaria,

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então não faltava muito para chegar até o Templo das esferas. Mas ela quase não conseguia mais correr, estava muito fraca. Tentava manter sua respiração ritmada, sob controle, ignorando o suor que es-corria por sua testa, ignorando a dor em suas pernas que logo se recu-sariam a continuarem correndo, ignorando que seu próprio coração es-tivesse batendo tão rápido quanto as asas de um beija-flor, prestes a explodir em seu peito. Continuou correndo, ignorando seu desespero e ignorando que seus olhos continuassem derrubando lágrimas. Enquanto olhava para baixo viu muitas luzes, que pareciam vir de outra batalha. Percebeu que a batalha era no Pátio da Antúnia, onde supostamente havia Guerreiros do Tempo enfrentando os demônios que Mirundil trouxera para dentro dos Domínios. Mifitrin não sabia se os demônios eram fortes, mas se eles derrotassem os Guerreiros lá embaixo, viriam diretamente ao encontro dela e, com a velocidade que ela corria, era bem provável que os demônios a alcançassem antes de ela chegar ao Templo das esferas. Se isso acontecesse, ela morreria ali mesmo, na escadaria da montanha, pois não teria forças nem mesmo para lutar. Devido suas condições físicas e emocionais no momento, lutar estava fora de cogitação. — Separem-se Guerreiros – ordenava Mikerinus lá embaixo. Ele é um General do Tempo e neste momento está comandando a batalha contra os demônios no Pátio da Antúnia. – Ataquem pelos lados para cercá-los. Os demônios eram fortes e ágeis, mas isso era compensado quando os Guerreiros usavam o tempo a seu favor, ficando ainda mais velozes que os demônios. Mikerinus é um dos melhores forjadores dos Domínios do Tempo, por isso seus homens estavam usando umas das melhores armas e armadu-

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ras dentre todos os Guerreiros do Tempo. As armaduras eram resis-tentes, mas sua leveza era incrível. As armas eram enormes clavas que Mikerinus forjou com um dos mais nobres metais mágicos: o arkio. Com toda certeza esses eram uns dos melhores Guerreiros dos Domí-nios do Tempo, mas agora eram os únicos ali. O Guardião Mirundil mandou todos os outros Guerreiros e Generais em missões longe dos Domínios, pois sabia que se todos estivessem ali os demônios teriam menos chance de roubar a esfera do Tempo. Com exceção desses Guer-reiros, havia somente os Guerreiros que faziam parte da segurança do Templo das esferas. Mas eram apenas sete e não seriam capazes de en-frentar os quase trinta demônios caso Mikerinus e seus homens fossem derrotados. A força com que os Guerreiros atacavam com suas pesadas clavas era impressionante, e os demônios eram arremessados longe cada vez que eram atingidos, além de soltarem um doloroso guincho de dor. Mas eles estavam em um número duas vezes maior que os Guerreiros, e ata-cavam sem piedade. Eles procuravam derrubar os adversários, e, assim que conseguiam, tentavam estrangular-lo até a morte; isso só não acontecia porque outro Guerreiro vinha em auxilio. Mikerinus recebeu uma rápida visita de Morton há mais ou menos uma hora. Morton lhe pediu para reunir seus homens e ficar de guarda no Pátio da Antúnia. Mikerinus não entendeu o motivo imediata-mente, mas agora entendia porque precisavam ficar de guarda no pá-tio. Numa situação comum, eles deveriam chamar o Guardião, pois ele é o único que pode expulsar algo ou alguém que esteja sendo mantido nos Domínios. Ele poderia fazer isso livremente com os demônios, mas não pode fazer com Morton porque ele é um legítimo protetor do Tempo e não pode ser expulso por Mirundil. Mas Mikerinus não chamou o

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Guardião para expulsar os demônios, pois, segundo Morton, o pró-prio Guardião era um traidor. Por isso precisavam vencer os demônios sem qualquer ajuda. Morton contava com a ajuda de Mikerinus e este não estava disposto a decepcioná-lo. O respeito que sentia pelo Mago era tão grande que estava disposto a sacrificar todas as suas forças para manter a promessa que fizera. Como ele disse para seus homens assim que os reuniu, um pedido de Morton é uma ordem! Mas após alguns minutos de batalha Mikerinus percebeu que algo es-tava dando errado. Percebeu que talvez não conseguisse manter sua palavra, que talvez sua promessa fosse quebrada sob a presença da Antúnia e daqueles malditos demônios. Seus homens estavam muito cansados e não conseguiam realizar feitiços corretamente. Logo ele en-tendeu que de alguma forma os demônios iam sugando toda a magia que havia à volta e eles ficavam cada vez mais fracos. Três de seus homens foram derrubados e Mikerinus os salvou antes que fossem es-trangulados pelos demônios, mas isso não adiantou, pois logo outros quatro homens foram derrotados. A batalha estava saindo do contro-le, mas Mikerinus ainda insistia na guerra já perdida. Fizera uma promessa. Mais alguns de seus homens foram derrotados e Mikerinus decidiu que estava na hora de agir. Ele concentrou-se em seu colar e travou o tempo à sua volta; tudo fi-cou imóvel, inclusive seus homens e os demônios. Os demônios esta-vam completamente imóveis, alguns estrangulando homens, outros pulando contra Mikerinus. Tudo parecia estar na mais perfeita calma, nenhum som, nenhum grito; mas era preciso apenas abrir os olhos para perceber que aquilo estava longe do sentido real da palavra calma. Era exatamente o oposto. Enquanto tudo estava imóvel à sua volta, na falsa paz, Mikerinus fechou os olhos e concentrou-se na Antúnia que estava diante dele. A

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árvore que era tão importante para os protetores do Tempo estava testemunhando o esforço de Mikerinus e seus homens. O General ele-vou sua concentração o máximo que pôde, tentando extrair magia até mesmo da Antúnia para a realização de um último feitiço. Precisava manter sua promessa, essa era a única coisa que tinha em sua mente agora. Precisava manter a promessa que fizera ao Mago Morton. Utilizando toda a reserva de energia do seu corpo e transformando-a em magia de uma única vez, Mikerinus executou o feitiço que tinha em mente: — FÚRIA DE DRAGÃO! Várias luzes explodiram do colar de Mikerinus instantaneamente, juntando-se no ar e tomando a forma de um colossal dragão alado. O dragão de luz voou sobre a Antúnia, então deu meia volta e regressou contra a batalha, atacando a todos com uma fúria sem igual. En-quanto atacava furiosamente, e com uma velocidade incrível, o dragão soltou um urro ameaçador. Tanto os demônios quanto os Guerreiros foram atingidos pelo ataque mais poderoso de Mikerinus. Seus ho-mens resistiriam ao ataque, já haviam passado pelo teste, mas Mikeri-nus torcia para que os demônios fossem derrotados de uma vez por to-das. Tão rápido quanto o dragão surgiu, ele também se consumiu, e as lu-zes que o formaram explodiram uma última vez antes de desaparece-rem por completo, enchendo o Pátio da Antúnia de flocos de luz. Esse é o ataque mais poderoso do General do Tempo a quem Morton confi-ou e recorreu em um momento tão delicado, o General de quem Morton recebeu uma promessa. Quando tudo se acalmou, Mikerinus viu que era o único em pé. Ficou feliz por um momento, mas então viu um demônio levantando-se do chão. Em poucos segundos todos os demônios estavam em pé, mas ne-

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nhum Guerreiro tinha mais forças para se levantar. Os trinta demô-nios passaram por Mikerinus e seguiram a toda velocidade em direção à montanha Arguelse; O General então caiu de costas no chão e não mais se levantou. Mikerinus sacrificou todas as suas forças para derrotar os demônios, mas seu sacrifício foi em vão. Agora apenas Morton e Mifitrin esta-vam entre os demônios e o Templo das esferas, e nenhum dos dois era capaz de detê-los. Perdão meu amigo. Não fui capaz de cumprir a última promessa que fiz a você…

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♦ Morton ainda lutava bravamente contra Mirundil, mas suas forças estavam chegando ao fim, pois sem o seu colar não podia realizar fei-tiços para recuperar suas energias. Mirundil não estava usando nem metade do seu verdadeiro poder, mas ainda assim Morton estava em desvantagem. Ele era capaz de realizar muitos feitiços com magia pu-ra, mas nenhum deles era tão poderoso quanto os feitiços do Tempo que seu colar lhe permitia usar. Um protetor do Tempo pode ter um leve controle sobre uma força da natureza, mas Mirundil, sendo o Guardião do Tempo, conseguia ter controle sobre a tempestade. Nuvens negras se formaram sobre a mon-tanha Arguelse e logo uma grande tempestade caía. A chuva e o vento eram fortes, mas Morton ainda tinha que se proteger dos raios que Mirundil lançava sobre ele. A batalha estava ficando cada vez pior para o lado do Mago, e Mirundil contentava-se com seu desespero. O jogo já parecia perdido. Enquanto criava uma barreira para se proteger de um raio, Mirundil disparou um feixe de luz anil contra Morton e ele foi atingido no pei-to, sendo jogado vários degraus abaixo. O Guardião caminhou lenta-mente até ele e um relâmpago iluminou seu rosto, revelando um sorriso diabólico e um olhar completamente insano. — Chegou o seu fim, Mago Morton – disse ele triunfante. – Me cau-sou muitos problemas nos últimos anos, mas agora não entrará mais no meu caminho. Mas não se preocupe, pois logo sua Aprendiz se jun-tará a você. Já dei ordens para os nove Cavaleiros a matarem e, nesse momento, eles estão seguindo para o Templo das esferas, onde sei que a encontrarão.

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Morton não podia acreditar no que Mirundil dizia. Tempos atrás ele foi um dos homens mais respeitáveis dentro dos Domínios do Tempo, e esse foi um dos motivos por ser escolhido como Guardião do Tempo. Não podia acreditar que um homem pudesse arruinar-se tanto por dentro a ponto de mandar assassinar uma garota. Mifitrin era uma Aprendiz com apenas quinze anos; que perigo ela representa para o Guardião do Tempo? Mas ainda assim ele queria que a garota fosse morta, e agora Morton sabia que Mirundil foi completamente seduzi-do por Mon, sabia que agora não havia limites para ele. Mirundil tocou levemente seu colar e conjurou uma espada formada de luz anil. Lentamente colocou a ponta afiada da espada no pescoço de Morton, que continuava caído na escadaria, então sussurrou: — Você é apenas o primeiro de muitos, não se preocupe. Todos que fo-rem contra mim serão contra o meu senhor e terão o mesmo destino. Ele recuou a espada alguns centímetros, apreciando o desespero no rosto do adversário; se preparou para cravá-la de uma vez por todas no pescoço do Mago. Mas antes que fizesse isso, um mísero segundo antes que conseguisse eliminar o Mago, um abençoado segundo, uma esfera de luz anil foi disparada contra ele de alguns degraus abaixo. A esfera atingiu o peito de Mirundil, mas ele parecia não ter sofrido na-da. Ele não pôde ver quem o atacou, pois estava muito escuro, mas lo-go ele pôde ouvir passos subindo correndo pela escadaria. Pelo som de passos pôde deduzir que eram duas pessoas que corriam ao seu encon-tro, duas pessoas que teria o prazer de matar logo depois de acabar com Morton. Mas logo outro ataque veio em sua direção, mas ele não era anil como um ataque do Tempo, era rubro. Mirundil não teve tempo para se de-fender e foi atingido no peito. Morton esperava que Mirundil fosse jogado para trás, mas ele ficou imóvel. Completamente imóvel!

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— Morton – exclamou Arkas, o jovem Mensageiro do Tempo, es-tendendo uma mão trêmula e ajudando Morton a se levantar do chão. – Você está bem? — Por muito pouco – respondeu Morton contente, abrindo um since-ro sorriso. – Obrigado Arkas – e então olhou para o homem que dispa-rou o feitiço da Alma e disse: – Obrigado a você também, Kalimuns. Mifitrin estava completamente exausta. Já fazia mais de uma hora que ela havia se separado de Morton, e por mais que andasse não avistava o Templo das esferas. Sabia que o templo não devia estar longe, mas não sabia se teria forças o suficiente para chegar até ele. Ainda se concentrava no feitiço para manter Morton, mas estava muito cansada e com frio. Uma grande tempestade se formou de re-pente e Mifitrin temia que ela fosse resultado das forças do Guardião. Sabia que seu tutor ainda estava vivo, mas lá no fundo temia que es-tivesse se esforçando no feitiço apenas para manter o corpo de Morton nos Domínios do Tempo. Não queria pensar nisso, mas a imagem de Morton caído nos degraus da escadaria, sem vida, não lhe saia da ca-beça. Morton, Arkas e Nai-Kalimuns, o Mestre da Alma, deixaram o imó-vel Mirundil para trás e subiram correndo os degraus. Se Morton es-tivesse com seu colar poderia congelar o tempo e alcançar Mifitrin imediatamente, mas Arkas não tinha forças para tanto. Ele era um ótimo Mensageiro, mas ainda assim inexperiente. — O que fez a ele, Kalimuns? – perguntou Morton, referindo-se ao Guardião. — Não se preocupe Morton – respondeu Nai-Kalimuns. – Apenas congelei sua alma. Em pouco tempo ele voltará ao normal.

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— Não me preocupo se ele está bem – disse Morton. – Estando vivo é que basta. O que quero saber é se ele poderá dar ordens aos seus nove Cavaleiros, ou pior, se poderá trazer para dentro dos Domínios do Tempo o grupo maior de demônios que se aproxima. — Sinto te dizer Morton – respondeu Nai-Kalimuns – mas tenho certeza de que ele já deu ordens aos seus nove Cavaleiros. — Sim, isso eu sei – Morton respondeu, lembrando-se do que Mirun-dil lhe contou. – Os nove Cavaleiros já estão atrás de Mifi… – ele iria dizer que os nove Cavaleiros estavam atrás de Mifitrin para matá-la, mas foi então que se lembrou de algo óbvio. Mifitrin estava com o colar protetor e não poderia ser ferida, mas Mirundil também sabia disso, então ele acrescentou: – Não, eu é que estou sendo caçado pelos nove Cavaleiros. Primeiro Mirundil disse que mandou os Cava-leiros me matarem, depois disse que os mandou matar Mifitrin. Mas ele sabe que Mifitrin não pode ser ferida, então creio que a segunda ordem nem tenha sido dada. Os Cavaleiros ainda estão seguindo a primeira ordem… Eles continuaram subindo pelos degraus enquanto pensavam, mas en-tão Nai-Kalimuns continuou: — E quanto a sua segunda preocupação, quanto ao fato de Mirundil poder trazer os outros demônios, acredito que isso realmente seja pos-sível. Não sei quanto tempo a alma dele ficará congelada, pois depen-de muito do poder que ele tem, mas acredito que em menos de duas ho-ras, quando aqueles demônios chegarem, Mirundil já estará em condi-ções de trazê-los para cá. — Então por que não pegamos o colar dele? – perguntou Arkas como se fosse a coisa mais óbvia a se fazer. — Não podemos fazer isso, Arkas – respondeu Morton de forma simples. – Sabe por que você não conseguiu feri-lo quando lançou

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aquela esfera? Porque ele é o Guardião e nenhum protetor do Tempo pode feri-lo. Ele nem chegou a sentir o seu ataque. — Mas ainda assim poderíamos tê-lo matado – disse Arkas cheio de ódio. – Seria a morte dele em troca da vida de muitos inocentes. — Nenhum protetor é treinado para matar, Arkas – respondeu Mor-ton repreendendo-o de forma um tanto quanto severa, mas ainda as-sim num tom de quem está ensinando algo importante – e você deve saber disso. Só podemos matar quando não há outra coisa a se fazer. E além do mais, não poderíamos tê-lo matado nem que quiséssemos. Quando um Guardião fica incapacitado de lutar, um feitiço automá-tico é ativado, criando um escudo de proteção invisível em torno dele. Ninguém pode fazer mal a ele enquanto ele estiver incapacitado de se defender, nem ao menos roubar seu colar. De repente Morton parou de correr e os outros dois também pararam. Nai-Kalimuns ia perguntar o motivo, mas usou suas habilidades de Mestre e viu esse pensamento de Morton facilmente, então ficou quie-to. Morton olhou atentamente para Arkas, o jovem Mensageiro em quem sempre acreditou e estimou, então fez sua pergunta: — Você sabe o que estamos fazendo, Arkas? Sabe para onde estamos indo e sabe o que enfrentaremos? — Não senhor – respondeu Arkas prontamente. – Não sei exatamen-te o que estão fazendo, mas sei que estão indo para o Templo das esfe-ras para enfrentar os demônios que avistei. — Então sabe o perigo que está correndo – disse Morton. – Ainda assim quer ir? Arkas encarou aqueles olhos tremendamente azuis, penetrantes. Es-tava com medo, muito medo. Teria dito que não, era a resposta mais lógica. Tinha que dizer não… mas não disse. Não conseguia dizer não

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quando estava encarando aqueles olhos, não para a pessoa que sem-pre acreditou nele. — Sim senhor – respondeu após meditar brevemente, mal acreditando no que dizia. – A guarda do templo está com apenas sete Guerreiros e sei que eles não poderão deter os demônios. Não sei o quanto posso ajudar, mas vou dar o máximo de mim. Morton não disse nada. Apenas sorriu e voltaram a correr. Precisa-vam encontrar Mifitrin…