Salgados ao abandono com dívidas de Carlos Saraiva · mas, além dos projetos em de-senvolvimento....

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Salgados ao abandono com dívidas de Carlos Saraiva Eie

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TURISMO

_A decadência é visível nos empreendimentos de Carlds%4lttßn@ Algarve, que contlftuam efiitixadM

Um Algarve de terceiro mundo junto à Praia dos Salgados, perto de Armação de Pêra: blocos de apartamentos vazios e degradados com milhares de palmeiras secas à volta e lixeira a céu aberto

expresso.impresa.pt

O campo de golfe continua aber-to, um sinal de vida bizarro noempreendimento fantasma emque se tornou a Herdade dos

Salgados. A propriedade no Al-garve, perto de Armação de Pê-

ra, já pertenceu ao grupo Espíri-to Santo e durante anos funcio-nou como destino turístico decinco estrelas ligado ao grupoCS. É agora um cemitério de ho-téis encerrados com milharesde palmeiras secas à volta, lixei-ras a céu aberto, entulhos e

construção inacabada."É uma aberração, um cenário

indescritível da miséria a quechegou o planeamento no Algar-ve", considera Domingos Lei-tão, coordenador do programaterrestre da Sociedade Portu-

guesa para o Estudo das Aves

(SPEA), organismo que se batecontra a construção de outrogrande empreendimento turísti-co da Finalgarve na margem oci-

dental da Lagoa dos Salgados(ver texto em baixo). "Este é o

último pedaço de natureza queexiste entre Albufeira e Arma-ção de Pêra. Já destruíram me-tade da lagoa, o resultado é ummegaempreendimento falido.Agora, querem fazer o mesmodo outro lado", faz notar Domin-

gos Leitão.A degradação da Herdade dos

Salgados tem vindo a agravar--se com o arrastar das negocia-ções relativas às dívidas do gru-po CS do empresário Carlos Sa-raiva. Após adquirir a herdadedo Algarve ao grupo EspíritoSanto, Carlos Saraiva erigiu,num curto espaço de tempo,um empreendimento nos Salga-dos totalizando mais de 2600camas, que integra dois hotéisde cinco estrelas (Suite Dunas eGrande Hotel), uma série deunidades de imobiliária turísti-ca com apartamentos e mora-

dias (CS Vila Golf Palm Village,CS Vila das Lagoas, CS Flamin-gos), além de um campo de gol-fe e do Palácio de Congressosdo Algarve. O avolumar das dívi-

das de Carlos Saraiva à banca e

a fornecedores (atualmente cal-culada em €1116 milhões) ditouo encerramento destas unida-des, à exceção do campo de gol-fe, que continua a ser gerido pe-lo grupo CS.

ECS quer recuperarSalgados até ao verãoNuma primeira fase, o processopassou pelo fecho dos hotéis e asua entrega aos bancos, e poste-riormente a dívida foi compradapela ECS Capital, empresa defundos de recuperação de em-presas liderada por António deSousa e Fernando Esmeraldo.

A ECS Capital já criou um fun-do de €800 milhões destinadoa acomodar parte do patrimó-nio do grupo CS. Reconhecen-

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do que o empreendimento dos

Salgados está "muito degrada-do", fonte da ECS adianta que,logo que se fecharem as nego-ciações com Carlos Saraiva, se-rão avançadas obras de recupe-ração, na "expectativa de quepossa abrir antes do verão".

Um dos problemas são os milha-res de palmeiras secas (segun-do foi noticiado na época, fo-ram plantadas 15 mil e nunca fo-ram pagas na totalidade) que so-freram a praga do escaravelhovermelho e terão de ser arranca-das. No pacote das negociaçõescom a ECS Capital passaram aestar incluídos todos os ativosdo grupo de Carlos Saraiva no

Algarve, Alentejo, Lisboa e Dou-

ro, totalizando mais de 8 mil ca-

mas, além dos projetos em de-senvolvimento.

Enquanto duram as negocia-ções, os blocos de apartamentosabandonados continuam a dar àHerdade dos Salgados uma vi-são de pós-holocausto. "Está va-zio, é mau para todos", desabafaa proprietária de um café juntoaos Salgados. "É esta a imagemque se quer dar do Algarve?"

CONCEIÇÃO ANTUNES

e ISABEL VICENTE

cantunes®

Carlos Saraivasó irá ficarcom dois hotéisO empresário Carlos Saraivadeverá ficar apenas com doishotéis do anterior portefólio(na Madeira e no Algarve),quando se concluíremas negociações com a ECS

Capital. Os dois hotéissó permanecem na posse deCarlos Saraiva por estarem

fora do perímetro do grupoCS (recorde-se que o hoteldo Funchal já mudou o nomede CS Madeira Atlântico paraVidamar). Inicialmente, as

negociações contemplavamsó ativos da Hersal, empresado grupo CS, mas face àdimensão da dívida passarama englobar todos os hotéis(incluindo o CS Lisboa e o CS

Vintage no Douro), camposde golfe, imobiliária turísticae projetos em carteira.

Portas fechadas no complexo do grupo CS com 2600 camas

Megaprojeto ficou suspensona outra margem da lagoa

A Finalgarve, da dona doex-BPN, tem um projeto de€232 milhões nos Salgados,que foi sujeito a avaliaçãode impacto ambiental

Do outro lado, podem ver-se os

blocos de edifícios degradados e

as palmeiras secas do empreen-dimento de Carlos Saraiva — os

"mamarrachos", como lhe cha-mam os locais. É nesta margemocidental da Lagoa dos Salga-dos, a norte da Praia Grande, nafreguesia algarvia de Pêra, que

está aprovado um novo projetoturístico de €232,4 milhões do

grupo Galilei/Finalgarve, quenasceu ligado ao BPN.

O projeto prevê a construçãode três hotéis, cinco aldeamen-tos, campo de golfe de 18 bura-cos e espaços comerciais numaárea de 247 hectares. A Final-

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garve anunciou o início dasobras em 2013, numa sessão

que decorreu em junho na câma-ra de Silves, tendo-se assinado

por essa altura o contrato de de-senvolvimento da Praia Grande.Na ocasião, foram ainda divulga-das as receitas diretas a arreca-dar pela câmara de Silves com o

projeto da Finalgarve: €4 mi-lhões em taxas e licenças, €11 mi-lhões de IMI (no acumulado dedez anos), além de €20 milhõesde IMT (ex-Sisa).

Os sucessivos protestos de am-bientalistas culminaram na con-centração da plataforma dos

Amigos da Lagoa dos Salgadosno Terreiro do Paço (Lisboa) a 8de janeiro, e a entrega no Minis-tério do Ambiente de uma peti-ção com mais de 20 mil assinatu-ras exigindo a suspensão do pro-jeto da Finalgarve em defesa da-quela zona húmida do litoral al-

garvio, para "não repetir os er-ros do passado". Nesse mesmodia, o secretário de Estado doAmbiente emitiu um comunica-do anunciando que o empreendi-mento previsto para os Salgadosterá de ser sujeito a avaliação de

impacto ambiental. Segundo oministério de Assunção Cristas,

houve apenas uma coincidên-cia de datas", pois já a 8 de outu-bro tinha solicitado por sua ini-ciativa um parecer neste senti-do, apesar do projeto da Final-

garve não estar, por lei, sujeito a

avaliação de impacto ambiental.Numa altura em que os gran-

des projetos estão parados, deonde vem o financiamento? Se-

gundo fonte da Finalgarve, nãoestá ainda garantido, havendocontactos "para arranjar parce-rias nacionais e internacionais"

para o projeto nos Salgados, on-de uma "mais-valia será o seu

Parque Ambiental". CA. e I.v.