Série Espada da Verdade 03 - Sangue da Congregação

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    ESPADA DA VERDADE

    Livro Trs

    Sangue da Congregao

    ( Blood of The Fold )Terry Goodkind

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    Podia ouvir Kahlan gritando seu nome. Podia ver pequenos olhosbrilhantes por toda parte. No havia nada que ele pudesse fazer e nenhum lugar paraonde correr, mesmo se o quisesse. Sentiu a picada de lminas que chegaram pertodemais antes que conseguisse impedir. A quantidade deles era demais. Queridosespritos, simplesmente era demais...

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    xatamente no mesmo instante, as seis mulheres acordaram subitamente, osom prolongado de seus gritos ecoando ao redor da apertada cabine doCapito. Na escurido, Irm Ulicia podia ouvir a outras arfando para recuperar oflego. Ela engoliu em seco, tentando controlar sua prpria respirao, eimediatamente encolheu com a forte dor em sua garganta.

    Podia sentir umidade em suas plpebras, mas seus lbios estavam tosecos que teve que lamb-los, com medo que pudessem rachar e sangrar.

    Algum estava batendo na porta. Ela escutava os seus gritos apenascomo um leve zumbido em sua cabea. No se preocupou em tentar seconcentrar nas palavras ou no significado delas; o homem era irrelevante.

    Erguendo uma das mos trmulas na direo do centro da escurido no

    aposento, liberou uma onda do seu Han, a essncia da vida e do esprito,direcionando para um ponto de calor dentro da lamparina leo que sabia estarpendurada em uma viga baixa.

    O pavio acendeu obedientemente, soltando uma linha sinuosa queacompanhava o lento balano do recipiente para frente e para trs, enquanto o

    barco balanava no mar.As outras mulheres, todas nuas assim como ela, tambm estavam

    sentando, seus olhos fixos no fraco brilho amarelo, como se procurassem nele asalvao, ou talvez a certeza de que ainda estavam vivas e ainda houvesse luz

    para ser vista. Uma lgrima rolou pela bochecha de Ulicia tambm, com a visoda chama. A escurido tinha sido sufocante, como uma grande quantidade de

    terra negra mida lanada sobre si.Suas cobertas estavam molhadas e frias de suor, mas at mesmo sem o

    suor, tudo estava sempre mido no ar salgado, sem falar no jato queesporadicamente ensopava o convs e pingava em cima de tudo que estavaembaixo.

    Ela no conseguia lembrar qual era a sensao de ter roupas e cobertassecas. Odiava esse barco, sua umidade interminvel, o cheiro de sujeira, e oconstante balano que revirava o seu estmago. Pelo menos estava viva paraodiar o navio. Lentamente, engoliu o gosto de bile.

    Ulicia passou os dedos na umidade quente sobre os seus olhos eestendeu a mo; as pontas dos dedos brilhavam com sangue. Como se fossemencorajadas pelo exemplo dela, algumas das outras fizeram o mesmocuidadosamente. Cada uma tinha arranhes sangrentos em suas plpebras, acimadas sobrancelhas e nas bochechas, por tentarem desesperadamente, masfutilmente, abrir os olhos, acordar da armadilha do sono, em uma tentativa deescapar do sonho que no era sonho.

    Ulicia lutou para remover o nevoeiro de sua mente. Deve ter sidoapenas um pesadelo.

    Fez um esforo para desviar o olhar da chama, para as outras mulheres.Irm Tovi ficou encolhida em uma cama inferior na parede do lado oposto, comas espessas concentraes de carne nos seus flancos parecendo afundar,

    acompanhando a expresso carrancuda no rosto enrugado enquanto elaobservava a lamparina. O cabelo cinzento, ondulado, habitualmente arrumado daIrm Cecilia estava uma baguna, seu sorriso incessante substitudo por uma

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    plida mscara de medo enquanto ficava olhando para cima, de uma camainferior, perto de Tovi. Inclinando-se um pouco para frente, Ulicia olhou para acama acima. Irm Armina, nem de perto to velha quanto Tovi ou Cecilia, mascom idade prxima a de Ulicia e ainda atraente, parecia cansada. Com dedostrmulos, a geralmente tranquila Armina limpou o sangue das plpebras.

    Do outro lado do passadio estreito, nas camas acima de Tovi eCecilia, estavam sentadas as duas Irms mais jovens e controladas. Arranhesirregulares marcavam a pele perfeita das bochechas da Irm Nicci. Fios docabelo louro estavam grudados nas lgrimas, suor e sangue no seu rosto. IrmMerissa, igualmente bela, apertou um cobertor nos seios nus, no por vergonha,mas com grande temor. O seu longo cabelo er a uma massa emaranhada.

    As outras eram mais velhas, e controlavam o poder com a habilidadeforjada com a experincia, mas tanto Nicci quanto Merissa eram possuidoras deraros talentos sombrios inatos, um hbil toque que nenhuma quantidade deexperincia poderia gerar. Com astcia alm de sua idade, nenhuma delas sedeixava enganar pelos sorrisos gentis ou fingimento de Cecilia ou Tovi. Embora

    fossem jovens e cheias de confiana, ambas sabiam que Cecilia, Tovi, Armina, eespecialmente a prpria Ulicia eram capazes de despedaar as duas, pedao por

    pedao, se desejassem. Ainda assim, isso no diminua a habilidade delas; pordireito, eram duas das mais formidveis mulheres que j respiraram. Mas era

    pela singular determinao delas em prevalecer que o Guardi o as selecionara.Ver essas mulheres que ela conhecia to bem em tal estado era

    inquietante, mas foi a viso do terror descontrolado de Merissa que realmentemexeu com Ulicia. Nunca tinha conhecido uma Irm to calma, controlada,implacvel, to impiedosa, quanto Merissa. Irm Merissa tinha um corao degelo negro.

    Ulicia conhecia Merissa durante quase 170 anos, e em todo esse tempono conseguia lembrar ao menos ter a vistoela chorar. Ela estava chorandoagora.

    Irm Ulicia ganhou fora ao ver as outras em uma condio defraqueza to desprezvel e na verdade aquilo lhe agradou; era a lder e maisforte do que elas.

    O homem ainda estava batendo na porta, querendo saber qual era oproblema, de que se tratava toda aquela gritaria. Ela liberou sua raiva na direoda porta. Deixe-nos em paz! Se precisarmos de voc ns chamarem os!

    As pragas abafadas do marinheiro foram desaparecendo enquanto seafastava. O nico som, alm do ranger de madeira enquanto o barco balanava

    ao bater de travs no mar agitado, era o choro. Pare de choramingar, Merissa. Ulicia disparou.Os olhos escuros de Merissa, ainda vidrados pelo medo, focaram nela.

    Nunca foi desse jeito. Tovi e Cecilia assentiram mostrando queconcordavam. Tenho obedecido as ordens dele. Porque fez isso? No falheicom ele.

    Se tivssemos falhado com ele, Ulicia falou, estaramos l,junto com Irm Liliana.

    Armina comeou a falar. Voc a viu tambm? Ela estava... Eu vi. Ulicia disse, mascarando seu prprio horror com um tom

    calmo.

    Irm Nicci afastou um tufo de seu cabelo louro molhado do rosto.Recuperando a compostura, suavizou a voz. Irm Liliana falhou com oMestre.

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    Irm Merissa, com a tenso nos olhos desaparecendo, lanou um olharde frio desdm. Ela est pagando o preo do fracasso. O tom spero emseu prprio tom engrossou como o gelo do inverno em uma janela. Parasempre. Merissa quase nunca deixava a emoo evidente, mas agora elatocava seu rosto enquanto suas sobrancelhas arqueavam exibindo uma expresso

    de raiva, Ela foi contra suas ordens, Irm Ulicia, e as do Guardio. Arruinounossos planos. Isso culpa dela.Realmente Liliana havia falhado com o Guardio. Elas no estariam

    nesse maldito barco se no fosse por Irm Liliana.O rosto de Ulicia esquentou com o pensamento na arrogncia daquela

    mulher. Liliana pensou em ter a glria para ela mesma. Recebeu o que merecia.Mesmo assim, Ulicia engoliu em seco ao lembrar-se de ter visto o tormento deLiliana, e dessa vez nem mesmo notou a dor de sua garganta m achuc ada.

    Mas e quanto a ns? Cecilia perguntou. O sorriso dela retornoumais apologtico do que alegre. Devemos fazer como esse... Homem diz?

    Ulicia passou a mo no rosto. Elas no tinham tempo para hesitar, se

    isso fosse real, se o que ela viu realmente tivesse acontecido. No deveria sernada mais do que um simples pesadelo; ningum alm do Guardio haviaaparecido para ela no sonho que no era sonho. Sim, tinha que ser apenas um

    pesadelo. Ulicia observou uma barata rastejar dentro do penico. Os olhos delalevantaram subitamente.

    Esse homem? Voc no viu o Guardio? Viu um homem?Cecilia gemeu. Jagang.Tovi levantou a mo em direo aos lbios para beijar seu dedo anular,

    um antigo gesto pedindo a proteo do Criador. Era um velho hbito, iniciandona primeira manh do treinamento de uma novia. Cada uma delas aprendeu afazer isso toda manh, sem falta, ao levantar, e em tempos de tribulao.Provavelmente Tovi tinha feito isso, automaticamente, incontveis milhares devezes, assim como todas elas. A Irm da Luz era simbolicamente ligada com oCriador, e com Sua vontade. Beijar o dedo anular era um ritual de renovaodessa ligao.

    No havia como dizer o que o ato de beijar esse dedo faria agora, emvista da traio delas. A superstio dizia que resultaria em morte para algumque tivesse prometido sua alma para o Guardio, uma Irm do Escuro, beijaresse dedo. Enquanto no estava claro se isso realmente invocaria a ira doCriador, no havia dvida que invocaria a do Guardio. Quando a mo delaestava a meio caminho dos seus lbios, Tovi percebeu o que estava prestes a

    fazer e afastou-a. Todas vocs viram Jagang? Ulicia olhou para cada uma, e cadauma delas balanou a cabea confirmando. Uma leve centelha de esperanaainda cintilava nela. Ento vocs viram o Imperador. Isso no significa nada.

    Ela inclinou na direo de Tovi. O ouviu falar alguma coisa?Tovi levou a colcha at o queixo. Todas ns estivemos l, como

    sempre estamos quando o Guardio nos procura. Estvamos sentadas nosemicrculo, nuas, como sempre fazemos. Mas foi Jagang quem veio, no oMestre.

    Um leve choramingo saiu de Armina na cama acima. Silncio! Ulicia voltou sua ateno para a trmula Tovi.

    Mas o que ele disse? Quais foram suas palavras?Os olhos de Tovi procuraram o cho. Ele disse que agora nossasalmas eram suas. Disse que agora ramos dele, e que vivemos apenas por sua

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    vontade. Disse que devemos ir at ele imediatamente, ou teramos inveja dodestino da Irm Liliana. levantou os olhos, mirando dentro dos olhos deUlicia. Ele disse que nos arrependeramos se o fizssemos esperar. Lgrimas encheram-lhe os olhos. E ento me deu uma amostra do quesignificaria desagrad-lo.

    A carne de Ulicia tinha ficado gelada, e ela percebeu que tambm tinhapuxado seu lenol . Ela o colocou de volta em seu colo com esforo. Armina? Uma suave confirmao veio l de cima. Cecilia? Cecilia assentiu.Ulicia olhou para as duas nas camas superiores do lado oposto. A composturaque elas haviam trabalhado tanto para recuperar parecia ter se estabelecido. Bem? Vocs duas ouviram as mesmas palavras?

    Sim, Nicci falou. Exatamente as mesmas, Merissa falou sem mostrar emoo.

    Liliana jogou isso sobre ns. Talvez o Guardio esteja insatisfeito conosco, Cecilia falou, e

    nos entregou ao Imperador para que possamos servi-lo como uma maneira de

    merecer de volta nosso lugar.A costa de Merissa ficou ereta. Seus olhos eram uma janela para dentro

    de um corao congelado. Eu fiz meu juramento de alma para o Guardio. Sedevemos servir a essa besta vulgar para recuperar as graas de nosso Mestre,ento eu servirei. Lamberei os ps desse homem, se f or preciso.

    Ulicia lembrou de Jagang, pouco antes dele se despedir do semicrculono sonho que no era sonho, ordenando que Merissa levantasse. Ento ele haviase esticado casualmente, agarrado o seio direito dela em seus dedos poderosos, e

    pressionado at que os joelhos dela curvassem. Agora Ulicia olhou para o seiode Merissa, e viu marcas assustadoras.

    Merissa no fez esforo algum para se cobrir enquanto a expressoserena dela fixava nos olhos de Ulicia. O imperador falou que nosarrependeramos, se o fizssemos esperar.

    Ulicia tambm tinha escutado as mesmas instrues. Jagang haviamostrado o que acontecia com quem desobedecia o Guardio. Como eleconseguiu tomar o lugar do Guardio no sonho que no era sonho? Ele fezaquilo, isso era tudo que importava. Tinha acontecido com todas elas. No tinhasido um mero sonho.

    Um temor que causava formigamento cresceu na boca do estmago delaenquanto a pequena chama de esperana se extinguia. Ela tambm tinha recebidouma amostra do que significaria a desobedincia. O sangue que estava formando

    uma crosta acima dos olhos dela a fizeram lembrar do quanto desejou escapardaquela lio. Aquilo foi real, e todas sabiam disso. Elas no tinham escolha.No havia um momento a perder. Uma gota fria de suor desceu entre os seiosdela. Se elas estivessem atrasadas...

    Ulicia saltou para fora da cama. Faam meia volta nesse barco! ela gritou quando abriu a porta.

    Faam meia volta imediatamente!Ningum estava no corredor. Ela subiu rapidamente a escada, gritando.

    As outras correram atrs dela, batendo em portas de cabines enquanto aseguiam. Ulicia no se importou com as portas; era o timoneiro que apontava o

    barco para onde ele deveria seguir e comandava os marinheiros nas velas.

    Ulicia abriu a porta da escotilha para encontrar uma luz turva; oamanhecer ainda no havia chegado para eles. Nuvens escuras pairavam acimado escuro caldeiro do mar. Espuma brilhava logo alm da amurada enquanto o

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    barco deslizava descendo por uma onda enorme, fazendo parecer que elesestavam mergulhando dentro de um profundo abismo negro. As outras Irmssaram pela escotilha atrs dela para o convs molhado.

    Faam meia volta nesse barco! ela gritou para os marinheirosdescalos que viraram com grande surpresa.

    Ulicia grunhiu uma praga e corr eu para a popa, na direo do timo. Ascinco Irms seguiram nos calcanhares dela enquanto ela seguia pelo convsescuro. Com as mos segurando as lapelas de seu casaco, o timoneiro esticou o

    pescoo para ver qual era o problema. Lu z de lanterna apareceu atravs daabertura aos ps dele, mostrando os rostos dos quatro homens manuseando otimo. Marinheiros se juntaram perto do timoneiro barbado, e ficaram olhandocom grande surpresa para as seis mulheres.

    Ulicia engoliu ar tentando recuperar o flego. Qual o problemacom vocs idiotas de queixo frouxo? No escutaram? Eu falei para dar meiavolta nesse barco!

    Repentinamente, ela entendeu a razo para aqueles olhares: as seis

    estavam nuas. Merissa caminhou at o lado dela, altiva e sria, como seestivesse usando um vestido que cobria ela do pescoo at os ps.

    Um dos homens falou enquanto seu olhar contemplava a mulher maisjovem. Bem, bem. Parece que as moas saram para brincar.

    Fria e distante, Merissa observou o sorriso libidinoso dele com serenaautoridade. O que meu meu, e no de qualquer outra pessoa, mesmo paraolhar, a no ser que eu decida assim. Afaste os olhos da minha carneimediatamente, ou arrancarei eles.

    Se o homem tivesse o dom, e o domnio dele como Ulicia, seria capazde sentir o ar ao redor de Merissa estalando com o poder de forma ameaadora.Esses homens as conheciam apenas como ricas mulheres da nobreza querendoviajar para lugares estranhos e distantes; no sabiam quem, ou o qu, as seismulheres realmente eram. O Capito Blake as conhecia como Irms da Luz, masUlicia ordenara que ele mantivesse esse conhecimento em segredo dos homens.

    O homem zombou de Merissa com uma expresso lasciva e movimentoobscenos dos quadris. No seja to tmida, moa. Voc no sairia desse jeitoa no ser que tivesse em mente o mesmo que ns.

    O ar chiou em volta de Merissa. Sangue brotou nas calas, bem nomeio das pernas do homem. Ele gritou quando olhou para ela com olhosenlouquecidos. A lmina comprida cintilou no cinto dele quando ele a retirou.

    Gritando um juramento de vingana, ele moveu-se adiante com inteno letal.Um leve sorriso tocou os lbios de Merissa. Sua escria imunda, ela murmurou para si mesma. Entrego voc ao abrao frio do meu Mestr e.

    A carne dele despedaou como se fosse um melo podre golpeado poruma vara. Uma concusso no ar gerada pelo poder do dom lanou ele por cimada amurada. Um rastro sangrento marcou sua trajetria pelo assoalho. Quasesem emitir som, a gua negra engoliu o corpo. Os outros homens, quase umadzia, permaneceram de olhos arregalados e imveis como esttuas.

    Todos vocs vo manter os olhos em nossos rostos, Merissasibilou. e longe de todo o resto.

    Os homens assentiram, horrorizados demais para falar que

    concordavam. O olhar de um dos homens desceu at o corpo delainvoluntariamente, como se o fato dela ter falado que era proibido olhar tivessetornado o impulso de espiar impossvel de controlar. Com grande terror, ele

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    comeou a pedir desculpas, mas uma linha concentrada de poder to afiadaquanto um machado de batalha cortou atravs dos olhos dele. Ele caiu por cimada amurada da mesma maneira que o primeiro ti nha feito.

    Merissa, Ulicia falou suavemente, isso o bastante. Acho queeles aprenderam a lio.

    Olhos gelados, distantes por trs da neblina do Han, viraram na direodela. No permitirei que os olhos deles peguem o que no lhes pertence.Ulicia levantou uma sobrancelha. Precisamos deles para voltar.

    Voc lembra de nossa urgncia, no lembra?Merissa olhou para os homens, como se estivesse avaliando insetos

    debaixo das botas dela. claro, Irm. Devemos retornar imediatamente.Ulicia virou para ver o Capito Blake que acabara de chegar e estava

    parado atrs delas, sua boca aberta. Faa meia volta neste barco, Capito, Ulicia falou.

    imediatamente.A lngua dele se moveu para molhar os lbios enquanto seu olhar

    saltava entre os olhos das mulheres. Agora esto querendo voltar? Por qu?Ulicia levantou um dedo na direo dele. Voc foi muito bem pago,

    Capito, para nos levar aonde desejarmos ir, quando quisermos ir. Eu disse antesque perguntas no faziam parte da barganha, e tambm prometi que arrancariasua pele se violasse qualquer parte da barganha. Se me testar, descobrir queno sou to indulgente quanto a Merissa aqui; Eu no garanto uma morte rpida.Agora, faa meia volta nesse barco!

    O Capito Blake entrou em ao. Arrumou seu casaco e olhou para oshomens dele. Ao trabalho, seus preguiosos! Ele fez um gesto para otimoneiro. Senhor Dempsey, d meia volta. O homem parecia ainda estarcongelado pelo choque. Agora mesmo, Senhor Dempsey!

    Arrancando o seu chapu imundo da cabea, Capito Blake fez umareverncia para Ulicia, t endo cuidado para que seu olhar no desviasse dos olhosdela. Como queira, Irm. De volta ao redor da grande barreira, para o MundoAntigo.

    Trace um curso direto, Capit o. O tempo essencial.Ele achatou o chapu em um dos punhos. Curso direto! No

    podemos navegar atravs da grande barreira! Imediatamente ele suavizou otom. Isso no possvel. Todos seremos mortos.

    Ulicia pressionou uma das mos sobre a queimao no estmago dela. A grande barreira caiu, Capito. Ela no mais um obstculo para ns. Trace

    um curso direto.Ele ajeitou o chapu. A grande barreira caiu? Isso impossvel. Oque faz voc pensar...

    Ela se inclinou na direo dele. Voc me questionaria outra vez? No, Irm. No, claro que no. Se voc diz que a barreira caiu,

    ento ela caiu. Ainda que eu no entenda como aquil o que no poderia aconteceraconteceu, sei que no cabe a mim questionar. Que seja um curso direto ento.

    Ele esfregou o chapu na boca. Que o piedoso Criador nos proteja. eleresmungou, virando para o timoneiro, ansioso para se afastar do olhar dela. Vire a estibordo, Senhor Dempsey!

    O homem olhou para os homens no timo. Ns j estamos com tudo

    a estibordo, Capito. No discuta comigo ou farei voc volt ar nadando!

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    Sim, Capito. Voltem para as linhas! Ele gritou para homens quej estavam arrastando algumas linhas e puxando outras, Preparem-se paramudar de direo!

    Ulicia avaliou os homens olhando nervosamente por cima dos ombros. Irms da Luz possuem olhos atrs das cabeas, senhores. Providenciem para

    que os seus olhem para qualquer outro lugar, ou ser a ltima coisa que veronessa vida.Homens assentiram antes de se concentrarem em suas tarefas.De volta na cabine estreita delas, Tovi enrolou o corpo trmulo em sua

    colcha. Faz algum tempo desde que tive fortes homens jovens olhando comdesejo para mim. Olhou para Nicci e Merissa. Aproveitem essa admiraoenquanto voc ainda so merecedoras dela.

    Merissa tirou uma roupa do ba no fundo da cabine. No era paravoc que eles estavam olhando.

    Um sorriso maternal surgiu no rosto de Cecilia. Sabemos disso,Irm. Acho que a Irm Tovi quer dizer que agora que estamos longe do feitio

    no Palcio dos Profetas, vamos envelhecer como todos os outros. Vocs notero os anos que ns tivemos para aproveitar sua aparncia.

    Merissa endireitou o corpo. Quando ns conquistarmos de voltanosso lugar de honra com o M estre, serei capaz de manter o que eu tenho.

    Tovi ficou observando com uma rara aparncia perigosa. E eu queroe volta o que eu tive.

    Armina sentou em uma cama. Isso culpa de Liliana. Se no fosseela, no teramos que sair do Palcio e de seu feitio. Se no fosse ela, oGuardio no teria dado a Jagang o domnio sobre ns. No teramos perdido osfavores do Mestre.

    Todas ficaram em silncio durante um momento. Se espremendo epassando umas pelas outras, todas se moveram vestindo suas roupas deb aixo,enquanto tentavam evitar cotovelos.

    Merissa passou a camisa sobre a cabea. Pretendo fazer tudo que fornecessrio para servir, e recuperar os favores do Mestre. Pr etendo receber minharecompensa pelo meu juramento. Ela olhou para Tovi. Pretendo continuar

    jovem. Todas queremos a mesma coisa, Irm, Cecilia disse enquanto

    enfiava os braos pelas mangas do simples manto marrom. Mas o Guardioquer que prestemos servios para esse homem, Jagang, por enquanto. Elequer? Ulicia perguntou.

    Merissa agachou enquanto remexia nas roupas dentro do ba, e retirouseu vestido carmesim. Porque mais teramos sido entregues a esse homem?Ulicia levantou uma sobrancelha. Entregues? Acha mesmo? Acho

    que mais do que isso; acho que o Imperador Jagang est agindo por suaprpria vontade.

    As outras pararam de vestir as roupas e levantaram os olhos. Achaque poderamos desafiar o Guardio? Nicci perguntou. Atravs das

    prprias ambies dele?Com um dedo, Ulicia deu uma tapa no lado da cabea de Nicci.

    Pense. O Guardio falhou em vir at ns no sonho que no um sonho; issonunca aconteceu antes. Jamais. Ao invs disso apareceu Jagang. Mesmo se o

    Guardio estivesse descontente conosco, e desejasse que ns estivssemosservindo Jagang como penitncia, vocs no imaginam que ele mesmo poderia

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    ter vindo e ordenado isso, para nos mostrar o desgosto dele? No acho que issoseja um feito do Guardio. Acho qu e coisa de Jagang.

    Armina pegou seu vestido azul. Ele era mais claro do que o de Ulicia,mas no menos elaborado. Liliana ainda continua sendo a culpada por ter noscausado tudo isso!

    Um leve sorriso tocou os lbios de Ulicia. Foi ela mesmo? Lilianaera gananciosa, acho que o Guardio pensou em usar essa ganncia, mas elafalhou com ele. O sorriso desapareceu. No foi Irm Liliana que causoutudo isso para ns.

    A mo de Nicci fez uma pausa enquanto ela apertava o fio doespartilho de seu vestido negro. claro. O garoto.

    Garoto? Ulicia balanou a cabea lentamente. Nenhum garoto poderia ter feito a barreira cair. Nenhum simples garoto poderia ter causado aruna dos planos nos quais trabalhamos to duro durante todos esses anos. Nstodas sabemos o que ele , sobre as prof ecias. Ulicia olhou para cada uma dasIrms. Estamos em uma posio muito perigosa. Devemos trabalhar para

    devolver o poder nesse mundo para o Guardio, caso contrrio Jagang nosmatar quando tiver terminado conosco, e ns estaremos no submundo, e noteremos mais utilidade para o Mestre. Se isso acontecer, ento certamente oGuardio ficar descontente, e ele far o que Jagang nos mostrou parecer oabrao de um amante.

    O barco rangeu e grunhiu enquanto todas consideravam as palavrasdela. Elas estavam correndo para servir a um homem que as usaria, e ento asdescartaria sem pensar duas vezes, e muito menos dar alguma recompensa,mesmo assim nenhuma delas estava preparada para ao menos considerar desafi-lo.

    Garoto ou no, ele causou tudo isso. Os msculos na mandbulade Merissa ficaram tensos. E pensar que tive ele em minhas garras, todastivemos. Deveramos ter acabado com ele quando ti vemos a chance.

    Liliana tambm pensou em acabar com ele, para ter o poder delepara si mesma, Ulicia falou, mas ela foi descuidada e acabou com aquelaespada maldita dele enfiada no corao. Temos que ser m ais espertas do que ela;ento teremos o poder dele, e o Guardi o sua alma.

    Armina enxugou uma lgrima de sua plpebra inferior. Mas nessemeio tempo, deve ter algum jeito de ns evitarmos ter que retornar...

    E quanto tempo voc acha que conseguiramos permaneceracordadas? Ulicia disparou. Mais cedo ou mais tarde cair amos no sono.

    E ento? Jagang j mostrou que tem o poder para nos alcanar, noimporta onde estejamos.Merissa voltou a apertar os botes no espartilho do vestido carmesim

    dela. Faremos o que tivermos de fazer, por enquanto, mas isso no significaque no possamos usar nossas cabeas.

    As sobrancelhas de Ulicia se juntaram, enquanto ela p ensava. Levantouos olhos com um sorriso torto. O Imperador Jagang pode acreditar que estconosco onde ele quer, mas ns vivemos durante um longo tempo. Talvez, seusarmos nossas cabeas, e nossa experincia, no fiquemos to assustadasquanto ele pensa?

    Malevolncia cintilou nos olhos de Tovi. Sim, ela sibilou,

    realmente ns vivemos um longo tempo, e aprendemos a derrubar alguns ursosselvagens no cho, e retirar as tripas deles enquanto gritavam.

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    Nicci alisou as dobras da saia do vestido negro dela. Arrancar astripas de porcos muito bom, mas o Imperador Jagang nossa penitncia, e noresponsabilidade dela. Nem vantajoso desperdiar nossa raiva com Liliana; elafoi simplesmente uma tola gananciosa. Aquele que realmente nos causou todoesse problema quem devemos fazer sofrer.

    Muito bem colocado, Irm. Ulicia disse.Merissa tocou distraidamente o seio machucado. Vou me banhar nosangue daquele jovem, Os olhos dela saram de foco, abrindo novamente a

    janela para seu corao negro. enquanto ele observa.O punho de Ulicia fechou bem apertado enquanto ela balanava a

    cabea concordando. Foi ele, o Seeker, quem causou isso para ns. Juro queele pagar com o seu dom, sua vida, e sua alma.

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    ichard tinha acabado de tomar uma colher e sopa quente quando escutou oforte rosnado ameaador. Ele fez uma careta olhando para Gratch. Os olhosdo Gar brilhavam, acesos pelo fogo verde frio enquanto ele olhava na direodas sombras entre as colunas na base dos grandes degraus. Os lbios dele secontorceram em um grunhido, exibindo grandes presas. Richard percebeu queainda estava com a boca cheia de sopa, e engoliu.

    O rosnado gutural de Gratch aumentou, bem fundo em sua garganta,soando como uma porta velha de um antigo castelo enorme sendo aberta pela

    primeira vez depois de centenas de anos.Richard olhou para os grandes olhos castanhos da Senhora Sanderholt.

    A Senhora Sanderholt, a chefe das cozinheiras no Palcio das Confessoras,

    ainda ficava inquieta com Gratch, e no estava completamente confiante nasgarantias de Richard de que o Gar era inofensivo. O rosnado ameaador noestava ajudando.

    Ela havia levado po recm assado e uma tigela da saborosa sopa paraRichard l fora, pretendendo sentar nos degraus com ele e conversar sobreKahlan, apenas para descobrir que o Gar tinha chegado fazia pouco tempo.

    Independente do medo dela por causa do Gar, Richard conseguiuconvenc-la a juntar-se a ele nos degraus.

    Gratch tinha ficado muito interessado ao ouvir o nome de Kahlan; eletinha um tufo do cabelo dela que Richard lhe deu pendurado em uma correia emseu pescoo, junto com o dente de drago. Richard tinha falado para Gratch queele e Kahlan estavam apaixonados, e ela queria ser amiga de Gratch, assim comoRichard era, e ento o curioso Gar sentou para escutar, mas logo que Richardtinha provado a sopa, e antes que a Senhora Sanderholt pudesse comear, ohumor de Gratch tinha mudado repentinamente. Agora ele parecia concentradode forma selvagem, em algo que Richard no conseguia ver. Porque ele estfazendo isso? A Senhora Sanderholt sussurrou.

    No tenho certeza. Richard admitiu. Ele abriu um sorriso eencolheu os ombros rapidamente quando a expresso de preocupao no rostodela aumentou. Ele deve estar enxergando um coelho ou algo assim. Gars

    possuem uma viso excepcional, mesmo no escuro, e so excelentes caadores.

    A expresso de preocupao dela no aliviou, ento ele continuou. Ele no come pessoas. Nunca machucaria ningum. Ele reassegurou. Esttudo bem, Senhora Sanderholt, est mesmo.

    Richard olhou para o rosto de aparncia sinistra que rosnava. Gratch, ele sussurrou com o canto da boca, pare de rosnar. Est assustandoela.

    Richard, ela falou quando se inclinou chegando mais perto. Gars so bestas perigosas. Eles no so bichinhos de estimao. No podemosconfiar em Gars.

    Gratch no um bichinho de estimao, ele meu amigo. Conheoele desde que era filhote, desde que era da metade do meu tamanho. Ele to

    gentil quanto um gatinho.

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    Um sorriso pouco convincente surgiu no rosto da Senhora Sanderholt. Se voc diz, Richard. De repente o terror fez ela arregalar os olhos, Eleno entende nada que estou dizendo, entende?

    difcil dizer. Richard confidenciou. s vezes ele entendemais do que eu acharia possvel.

    Gratch parecia ter esquecido deles enquanto eles conversavam. Eleestava totalmente concentrado, parecendo ter sentido o cheiro ou visto algo queno gostava. Richard pensou j ter visto Gratch rosnando daquele jeito, mas noconseguia lembrar onde ou quando. Ele tentou lembrar da ocasio, mas aimagem mental continuava fugindo, ficando fora de alcance. Quanto mais eletentava, mas esquiva a lembrana obscura ficava, Gratch? Ele segurou o

    poderoso brao do Gar. Gratch, o que foi?Completamente imvel, Gratch no reagiu ao toque. Quando ele

    cresceu, o brilho em seus olhos verdes tinha se intensificado, mas nunca antescom essa ferocidade. Eles estavam cintilando com grande fora.

    Richard observou as sombras, onde aqueles olhos verdes estavam

    fixos, mas no viu nada fora do comum. No havia pessoa alguma entre ascolunas, ou pelos muros do terreno do Palcio. Deve ser um coelho, elefinalmente decidiu; Gratch adorava coelho.

    O amanhecer estava comeando a revelar filetes de nuvens prpuras erosadas no horizonte brilhante, deixando apenas algumas estrelas brilhandofracamente no cu a oeste. Com o leve brilho da primeira luz veio uma brisasuave, excepcionalmente quente para o inverno, que agitou o pelo da grande

    besta e abriu a capa negra de Mriswith de Richard.Quando ele estivera no Mundo Antigo com as Irms da Luz, Richard

    entrou na Floresta Hagen, onde espreitava o Mriswith, criaturas odiosas comaparncia de homens mesclados a um pesadelo reptiliano. Depois que ele lutou ematou um dos Mriswith, ele descobriu a coisa surpreendente que a capa dele

    podia fazer; tinha a habilidade de se misturar ao ambiente to perfeitamente,que fazia o Mriswith, ou Richard, quando ele se concentrava ao usar a capa,

    parecer invisvel. Ela tambm impedia que qualquer um com o dom sentisse apresena deles, ou dele. Por alguma razo, entretanto, o dom de Richardpermitia que ele sentisse a presena do Mriswith. Essa habil idade, de sentir operigo independente de sua capa mgica, tinha salvado a sua vida.

    Richard achou difcil concentrar-se no rosnado de Gratch para coelhosnas sombras. A angstia, a tristeza entorpecente, de acreditar que sua amada,Kahlan, tinha sido executada, evaporou num instante no dia anterior quando ele

    descobriu que ela estava viva. Ele sentiu uma alegria incrvel com o fato delaestar segura, e ficou exultante ao ter passado a noite com ela em um lugarestranho entre os mundos. Sua mente estava mergulhada na alegria dessa lindamanh, e ele descobriu que estava sorrindo sem perceber. Nem mesmo ainoportuna fixao de Gratch com um coelho poderia estragar seu humor.

    Porm, Richard realmente estava achando o som gutural perturbador, eobviamente a Senhora Sanderholt achava isso alarmante; ela estava sentadaimvel na ponta de um degrau ao lado dele, agarrando o xale dela com fora. Quieto, Gratch. Voc acabou de comer uma perna de carneiro e metade de um

    po. Ainda no poderia estar com tanta fome.Ainda que a ateno de Gratch continuasse fixa, seu rosnado diminuiu

    para um murmrio profundo em sua garganta, como se ele estivesse tentandoobedecer distraidamente.

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    Richard direcionou mais uma vez um rpido olhar para a cidade. Seuplano era encontrar um cavalo e rapidamente seguir seu caminho para encontrarcom Kahlan e seu av e velho amigo, Zedd. Alm de estar impaciente para verKahlan, ele sentia muita saudade de Zedd; f azia trs meses desde que tinha vistoele, mas pareciam anos. Zedd era um mago de Primeira Ordem, e havia muito

    que Richard, em vista de suas descobertas sobre si mesmo , precisava perguntar aele, mas ento a Senhora Sanderholt t rouxe a sopa e o po fresco. De bom humorou no, ele estava faminto, Richard olhou para trs, alm da elegncia branca oPalcio das Confessoras, l em cima, para a imensa e imponente Fortaleza doMago incrustada no lado ngreme da montanha, seus muros de rocha negra, seus

    baluartes, basties, torres, passagens conectadas, e pontes, tudo parecendobrotar da pedra de forma sinistra, de algum modo parecendo viva, como seestivesse observando ele l do alto. Uma larga faixa de estrada seguia ondulandoda cidade subindo na direo dos muros escuros, cruzando uma ponte que

    parecia fina e delicada, mas apenas por causa da distncia, antes de passar porbaixo de um porto cheio de pontas e ser engolida d entro da bocarra escura da

    Fortaleza.Deveria haver milhares de quartos na Fortaleza, se que havia algum.

    Richard fechou um pouco mais sua capa sob o olhar de pedra frio daquele lugar,e afastou os olhos. Esse era o Palcio, a cidade, onde Kahlan tinha crescido,onde tinha vivido a maior p arte de sua vida at o vero anterior qu ando cruzou afronteira para Westland procurando por Zedd, e encontrou Richard tambm.

    A Fortaleza do Mago era o lugar onde Zedd cresceu e morou antes departir para Midlands, antes de Richard nascer. Kahlan contou para ele histriassobre como ela havia passado a maior parte do tempo na Fortaleza, estudando,mas ela nunca tinha feito o lugar parecer ao menos um pouco sinistro. Massivanaquela montanha, agora a Fortaleza parecia assustadora.

    O sorriso de Richard retornou quando pensou em como Kahlan deveriaparecer quando era garotinha, uma Confessora em treinamento, perambulandopelos corredores desse Palcio, caminhando pelos corredores da Fortaleza, entreos magos, e l fora ent re as pessoas da cidade.

    Mas Aydindril havia cado diante da Ordem Imperial, e no era maisuma cidade livre, no era mais o centro do poder em Midlands.

    Zedd produziu um de seus truques de mago, magia, para fazer todospensarem que testemunharam a decapitao de Kahlan, permitindo que elesfugissem de Aydindril, enquanto todos aqui pensavam que ela estava morta.Agora ningum seguiria atrs deles. A Senhora Sanderholt conhecia Kahlan

    desde que ela nasceu, e ficou muito aliviada quando Richard contou que Kahlanestava bem e em segurana.O sorriso tocou os lbios dele outra vez. Como era Kahlan quando

    era pequena?Ela olhou para longe, com um sorriso em seus lbios tambm.

    Sempre estava sria, mas a criana mais preciosa que eu j vi, que cresceu paraser uma mulher forte e bela. Era uma criana no apenas tocada pela magia, mastambm com uma personalidade especial.

    Nenhuma das Confessoras ficou surpresa com a ascenso dela paraMadre Confessora, e todas estavam satisfeitas porque o costume dela erafacilitar o entendimento, no dominar, ainda que se algum erroneamente fizesse

    oposio a ela descobriria ela era forte como ferro assim como qualquer outraMadre Confessora que j nasceu. Jamais fiquei sabendo de uma Confessora quetivesse a mesma paixo que ela pelo povo de Midlands. Sempre me senti

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    honrada em conhec-la. Navegando nas lembranas, ela riu levemente, umsom no to frgil quanto o resto dela aparentava ser. Mesmo uma vezquando eu dei uma palmada no traseiro depois que descobri qu e ela havia levadoum pato recm assado sem pedir.

    Richard sorriu ao escutar uma histria sobre Kahlan comportando-se

    inadequadamente. Punir uma Confessora, mesmo uma jovem, no deixou vocpreocupada? No. ela riu. Se eu a tivesse mimado, sua me me mandaria

    embora. Ns deveramos trat-la com respeito, mas de modo correto. Ela chorou? ele perguntou, antes de arrancar um grande pedao

    de po com uma mordida. Estava delicioso, trigo grosso com um toque demelado.

    No. Ela parecia surpresa. Acreditava que no tinha feito nada deerrado, e comeou a explicar. Aparentemente uma mulher com duas crianasquase da idade de Kahlan estiveram esperando do lado de fora do Palcio poralgum que ela pensava que fosse fcil de enganar. Quando Kahlan estava

    seguindo para a Fortaleza do Mago, a mulher se aproximou dela com umahistria triste, dizendo que precisava de ouro para alimentar seus filhos maisnovos. Kahlan pediu a ela que esperasse, e ento levou para ela o meu patoassado, concluindo que era de comida que a mulher precisava, no ouro. Kahlansentou com as crianas... Com uma das mos enfaixadas, ela apontou para aesquerda. . . .bem ali naquele lado, e deu o pato para elas. A mulher estavafuriosa, e comeou a gritar, acusando Kahlan de ser egosta com todo aqueleouro do Palcio.

    Enquanto Kahlan estava contando essa histria, uma patrulha daGuarda Domstica entrou na cozinha arrastando a mulher e seus dois filhos.Aparentemente, quando a mulher estava gritando com Kahlan a Guarda tinha

    presenciado a cena. Nesse momento a mo de Kahlan apareceu na cozinhaquerendo saber qual era o problema. Kahlan contou sua histria, e a mulherficou apavorada por estar sob a custdia da Guarda Domstica, e pior, porencontrar-se diante da prpria Madre Confessora.

    A me de Kahlan escutou a histria dela, e a da mulher, e entofalou para Kahlan que se voc escolhe ajudar algum ento esse algum torna-sesua responsabilidade, e era sua obrigao ajudar at que essa pessoa estivessecaminhando com os prprios ps novamente. Kahlan passou o dia seguinte emKings Row, com a Guarda Domstica arrastando a mulher atrs, indo de umPalcio at outro, procurando por algum que precisasse de ajuda. No teve

    muita sorte; todos sabiam que a mulher era uma beberrona. Me senti culpada por dar uma palmada em K ahlan antes de ao menosouvir suas razes para pegar meu pato assado. Eu tinha uma amiga, uma mulhersria no comando das cozinheiras em um dos Palcios, e ento eu corri at l econvenci ela a aceitar a mulher como empregada quando Kahlan levasse ela.

    Nunca falei para Kahlan o que eu tinha feito. A mulher trabalhou l por umlongo tempo, mas ela nunca mais se aproximou do Palcio das Confessoras denovo. O filho mais jovem dela cresceu e entrou para a Guarda Domstica. Novero passado ele foi ferido quando os D'Harans capturaram Aydindril, e morreuuma semana depois.

    Richard tambm tinha lutado contra D'Hara, e no final matou seu

    governante, Darken Rahl. Ainda que ainda no conseguisse evitar sentir umapontada de pesar por ter sido gerado por aquele homem maligno, no se sentiamais culpado por ser filho dele. Sabia que os crimes do pai no passavam para o

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    filho, e certamente no era culpa de sua me que ela tivesse sido estuprada porDarken Rahl. Seu pai adotivo no amou a me de Richard menos por causadisso, nem mostrou menos amor por Richard pelo fato dele no ser do seu

    prprio sangue. Richard no teria amado menos o seu pai adotivo se soubesseque George Cypher no era seu pai verdadeiro.

    Richard tambm era um mago, agora ele sabia. O dom, a fora damagia dentro dele chamada Han, tinha sido passada por duas linhagens demagos: Zedd, seu av por parte de me, e Darken Rahl, seu pai. Essacombinao tinha produzido nele magia que nenhum mago havia possudo emmilhares de anos, no apenas Aditiva mas tambm Magia Subtrativa. Richardsabia pouco sobre ser um mago, ou sobre magia, mas Zedd o ajudaria aaprender, ajudaria ele a controlar o dom e us-lo para ajudar pessoas.

    Richard engoliu o po que estava mastigando. Essa parece a Kahlanque eu conheo.

    A Senhora Sanderholt balanou a cabea com tristeza. Ela sempresentiu uma profunda responsabilidade pelo povo de Midlands. Sei que machucou

    bem no fundo da alma dela que a mulher tivesse se voltado contr a ela por causada promessa de ouro.

    Nem todos fizeram isso, eu aposto, Richard falou. Mas porisso que no deve contar para ningum que ela ainda est viva. Para manterKahlan segura, e proteg-la, ningum deve saber a verdade.

    Voc sabe que tem minha promessa, Richard. Mas acho que agoraeles devem ter esquecido dela. Acho que se eles no conseguirem o ouro quelhes foi prometido, logo estaro brigando entre si.

    Ento por isso que todas aquelas pessoas esto reunidas d o lado defora do Palcio das Confessoras?

    Ela assentiu. Agora eles acreditam que possuem o direito, porquealgum da Ordem Imperial falou que eles receberiam. Ainda que o homem quedisse isso agora esteja morto, como se uma vez que suas palavras foram

    pronunciadas em voz alta, o ouro magicamente se tornasse deles. Se a OrdemImperial no comear logo a entregar o ouro, imagino que no vai demorarmuito para que aquelas pessoas nas ruas decidam invadir o Palcio e pegar ele.

    Talvez a promessa tivesse sido feita apenas como distrao, e astropas da Ordem estivessem com a inteno de ficar com o ouro, como

    pilhagem, e defendam o Palcio. Talvez voc esteja certo. Ela ficou com um olhar distante.

    Pensando nisso, nem mesmo sei o que ainda estou fazendo aqui. No pretendo

    ver a Ordem montar acampamento no Palcio. No pretendo acabar trabalhandopara eles. Talvez eu devesse partir, e ver se consigo encontrar um lugar paratrabalhar onde as pessoas ainda estejam livres daquele grupo. Mesmo assim,

    parece to estranho pensar em fazer isso; o Palcio tem sido meu lar durante amaior parte da minha vida.

    Richard afastou os olhos do esplendor branco do Palcio dasConfessoras, olhando para a cidade novamente. Ele deveria partir tambm, edeixar o antigo lar das Confessoras, e dos magos, para a Ordem Imperial? Mascomo ele poderia fazer alguma coisa a respeito? Alm disso, as tropas da Ordem

    provavelmente estavam procurando por ele. Seria melhor se eles escapulisseenquanto eles ainda estavam confusos e desorganizados depois da morte de seu

    conselho. Ele no sabia o que a Senhora Sanderholt deveria fazer, mas eledeveria partir antes que a Ordem o encontrasse. Precisava encontrar Kahlan eZedd.

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    O rosnado de Gratch ficou mais forte como um som primitivoretumbante que agitou os ossos de Richard, e tirou ele de seus pensamentos. OGar levantou lentamente. Richard escaneou a rea l embaixo novamente, masno viu nada. O Palcio das Confessoras ficava sobre uma colina, com vistaampla de Aydindril, e dessa posio ele podia ver que havia tropas alm dos

    muros, nas ruas da cidade, mas nenhuma delas estava perto dos trs na entradalateral para o ptio isolado do lado de fora da entrada da cozinha. No havianada vivo a vista onde Gratch estava olh ando.

    Richard ficou de p, seus de dos encontrando um pouco de segurana nocabo da espada. Ele era mais alto do que a maioria dos homens, mas o Garagigantava-se diante dele. Embora no fosse mais do que um jovem, para umGar, Gratch tinha quase sete ps de altura, Richard imaginava que o peso do Garfosse quase duas vezes o dele. Gratch ainda deveria crescer mais um p, talvezmais; Richard estava muito longe de ser um perito em Gars de cauda curta no tinha visto muitos, e aqueles que viu estavam tentando matar ele. Richard,na verdade, matou a me de Gratch, em autodefesa, e de forma no intencional

    acabara adotando o pequeno rfo. Com o passar do tempo, eles tornaram-segrandes amigos.

    Msculos sob a pele rosada do estmago e do peito poderosamenteconstrudos da besta tufaram formando salincias. Ele ficou imvel e tenso, suasgarras preparadas do lado do corpo, suas orelhas peludas moviam-se na direode coisas invisveis. Mesmo ao caar presas quando estava com fome, Gratchnunca tinha mostrado esse nvel de ferocidade. Richard sentiu os pelos da nucaficando eriados.

    Gostaria de conseguir lembrar quando ou onde tinha visto Gratchrosnando desse jeito. Finalmente ele colocou de lado seus agradveis

    pensamentos em Kahlan e, com crescente urgncia, concentrou sua ateno.A Senhora Sanderholt ficou parada ao lado dele, olhando nervosamente

    de Gratch, para o local onde ele estava olhando. De aparncia magra e frgil, elano era uma mulher tmida de modo algum, mas se as suas mos no estivessemenfaixadas, ele pensou que ela estaria apertando elas com fora; ela pareciaquerer fazer isso.

    De repente Richard sentiu-se bastante exposto nos largos degraus emcampo aberto. Seus olhos cinzentos aguados examinaram as sombras e lugaresocultos entre as colunas, muros, e diversas belvederes elegantes espalhadas

    pelas partes baixas do terreno do Palcio. Neve cintilante levantou com um jatode vento ocasional, mas nada mais se moveu. Ele observou com tanta ateno

    que isso fez os olhos dele arderem, mas ele no viu nada vivo, nenhum sinal dequalquer ameaa.Mesmo sem ver nada, Richard comeou a sentir uma crescente

    sensao de perigo, no apenas uma simples reao ao ver Gratch to irritado,mas vindo de dentro dele mesmo, de seu Han, vindo das profundezas do peitodele, fluindo dentro das fibras do msculos dele, deixando eles tensos e

    preparados. A magi a interior havia se transformado em outro sentido quegeralmente o avisava quando seus outros sentidos no faziam isso. Percebeu queera isso que estava enviando um aviso para ele agora.

    Uma vontade de correr, antes que fosse tarde demais, ardeu bem fundoem suas entranhas. Precisava alcanar Kahlan; no queria se envolver em

    nenhum problema. Poderia encontrar um cavalo, e apenas ir embora. Melhorainda, poderia correr, agora, e encontrar um cavalo depois.

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    As asas de Gratch abriram quando ele agachou em uma posioameaadora, pronto para atirar-se no ar. Seus lbios recuaram, vapor saindoentre suas presas enquanto o rosnado ficava mais profu ndo, fazendo o ar vibrar.

    A carne nos braos de Richard formigou. Sua respirao acelerouquando a sensao palpvel de perigo convergiu em pontos de ameaa.

    Senhora Sanderholt, ele falou enquanto seu olhar pulava de umasombra para outra, porque voc no entra. Vou entrar e conversarei com vocdepois...

    Suas palavras ficaram presas na garganta quando ele viu um levemovimento entre as colunas brancas uma ondulao no ar, como o calor no aracima de uma fogueira. Ficou olhando fixamente, tentando decidir se realmentetinha visto aquilo, ou apenas imaginado. Ele tentou freneticamente pensar o que

    poderia ser aquilo, se realmente tivesse visto algo. Poderia ter sido um jato deneve carregada por uma rajada de vento. Ele no viu nada enquanto seconcentrava forando os olhos.

    Provavelmente no era nada mais do que a neve no vento, ele tentou

    afirmar para si mesmo.Subitamente, a clara percepo surgiu dentro dele, como fria gua

    escura brotando por uma fenda em um rio congelado. Richard lembrou quandofoi que ouviu Gratch rosnar daquele jeito. Os cabelos da nuca dele ficarameriados como finas agulhas de gelo em sua carne. Sua mo encontrou o cabocom metal tranado da espada.

    V. ele sussurrou rapidamente para a Senhora Sanderholt. Agora.

    Sem hesitao, ela correu para os degraus e seguiu para a distantecozinha atrs dele enquanto o som do ao anunciou a chegada da Espada daVerdade no frio ar da manh.

    Como era possvel que eles estivessem aqui? No era possvel, mesmoassim ele tinha certeza disso; podia sentir eles.

    Dance comigo, Morte. Estou pronto. Richard murmurou, j emum transe com a fria da magia que vinha da Espada da Verdade fluindo dentrodele. As palavras no eram dele, vieram da magia da espada, dos espritosdaqueles que usaram a arma antes dele. Junto com as palavras veio umainstintiva compreenso do significado delas: era uma orao, que significavadizer que poderia morrer hoje, ento deveria se esforar para fazer o melhorenquanto ainda estava vivo.

    Do eco de outras vozes dentro dele surgiu a percepo de que as

    mesmas palavras tambm significavam algo completamente diferente: eram umgrito de batalha.Com um rugido, Gratch saltou no ar, suas asas erguendo ele depois de

    apenas uma batida. Neve rodopiou, girando no ar debaixo dele, movidas pelaspoderosas batidas de suas asas que tambm abriram a capa de Mriswith deRichard.

    Antes mesmo que ele pudesse ver eles se materi alizarem sado do ar doinverno, Richard conseguia sentir sua presena. Conseguia ver eles em suamente mesmo que ainda no conseguisse enxerg ar com seus olhos.

    Rugindo de fria, Gratch desceu em linha reta na direo da base dosdegraus. Perto das colunas, justamente quando o Gar os alcanou, eles

    comearam a ficar visveis, escamas, garras e capas, brancas contra a neve.Brancas to puras quanto a orao de uma criana.Mriswith.

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    s Mriswith reagiram contra a ameaa, materializando-se enquantolanavam-se at o Gar. A magia da espada, sua fria, inundou Richard comsua fora total quando ele viu seu amigo ser atacado. Ele saltou descendo osdegraus, na direo da batalha.

    Uivos chegaram at seus ouvidos enquanto Gratch cortava os Mriswithem pedaos. No calor do combate agora eles estavam visveis.

    Contra o branco da pedra e da neve, era difcil distingui-losclaramente, mas Richard podia ver eles bem o bastante; havia quase dez tantoquanto ele poderia afirmar no meio de toda a confuso. Debaixo das capas,usavam peles simples to brancas quanto o resto dos corpos deles. Richard tinhavisto eles negros, mas sabia que os Mriswith poderiam aparentar ter a cor do

    ambiente ao redor. Uma pele lisa firme cobria suas cabeas descendo at ospescoos deles, onde elas comeavam a transformar em escamas integradas.Bocas sem lbios se abriam para revelar pequenos dentes finos como agulhas.

    Nas suas garras ligadas por membranas, eles segu ravam facas com trs lminas.Pequenos olhos, brilhantes de dio, fixaram-se no Gar enfurecido.

    Com grande velocidade, eles se espalharam em volta da forma escurano meio deles, suas capas brancas ondulando enquanto deslizavam pela neve,alguns caindo com o ataque, ou se esquivando para fora do alcance, escapando

    por pouco dos poderosos braos do Gar. Com brutal eficincia, o Gar segu rou asgarras dos outros, rasgando-as, lanando jatos de sangue na neve.

    Eles estavam to concentrados em Gratch que Richard desceu nascostas deles sem enfrentar oposio. Nunca tinha lutado com mais de umMriswith ao mesmo tempo, e aquela tinha sido uma experincia formidvel, mascom a fria da magia pulsando atravs dele ele pensou apenas em ajudar Gratch.Antes que eles tivessem chance de se virar para a nova ameaa, Richard cortoudois. Gritos de morte penetrantes ecoaram no ar da manh, os sons eramdolorosos nos ouvidos dele.

    Richard sentiu outros atrs dele, na direo do Palcio. Ele girou bema tempo de ver mais trs surgirem repentinamente. Estavam correndo para entrarna luta, com apenas a Senhora Sanderholt no caminho deles. Ela gritou ao

    perceber que sua rota de fuga estava bloqueada pelas criaturas que avanavam.

    Virou e correu na frente deles. Richard podia ver que ela perderia a corrida, eele estava longe demais para chegar a tempo.Com um giro de sua espada, Richard cortou uma forma escamosa que

    se aproximava ele. Gratch! ele gritou. Gratch!Arrancando a cabea de um Mriswilh, Gratch levantou os olhos.

    Richard apontou com a espada. Gratch! Proteja ela!Gratch percebeu instantaneamente a natureza do perigo para a Senhora

    Sanderholt. Jogando para o lado a carcaa sem cabea, ele saltou no ar. Richardse abaixou. Rpidas batidas das asas de couro do Gar ergueram ele por cima dacabea de Richard e subindo os degraus.

    Esticando-se, Gratch agarrou a mulher em seus braos peludos. Os psdela saram do cho, ficando acima das facas dos Mriswith. Abrindo bem asasas. Gratch subiu antes que o peso da mulher pudesse reduzir o seu impulso,

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    descendo longe dos Mriswith, e ento, com um poderoso bater de asas,interrompeu sua descida para colocar a Senhora Sanderholt no cho. Sem pausa,ele voltou rapidamente para a luta e, evitando habilidosamente as lminas

    brilhantes, atacou com suas garras e presas.Richard virou para os trs Mriswith na base dos degraus. Permitindo

    que a fria da espada tomasse conta dele, uniu-se com a magia e os espritosdaqueles que empunharam a espada antes dele. Tudo se movia com a lentaelegncia de uma dana, a dana com a morte. Os trs Mriswith correram nadireo dele, circulando com fria graa, um violento ataque de lminas.Girando, eles se espalharam, deslizando nos degraus para cerc-lo. Com grandeeficincia, Richard acert ou uma das criaturas com a ponta de sua espada.

    Para a surpresa dele, as outras duas gritar am, No!Surpreso, Richard congelou. No sabia que os Mriswith podiam falar.

    Eles ficaram imveis nos degraus, observando ele com olhares semelhantes aosde serpentes. Eles quase conseguiram passar por ele nos degraus, na direo deGratch.

    Concentrados no Gar, ele presumiu, eles queri am passar por ele.Richard subiu os degraus rapidamente, bloqueando o caminho deles.

    Novamente eles se dividiram, cada um seguindo por um lado. Richard fingiuatacar o que estava na esquerda, e ento girou para golpear o outro. Sua espadadespedaou as lminas triplas em uma de suas garras. Sem pausa, o Mriswithgirou, evitando o golpe mortal da lmina de Richard, mas quando a criaturaaproximou, reduzindo a distncia para dar o seu prprio golpe, ele puxou aespada de volta, cortando o pescoo dela. Com um uivo, o Mriswith desmoronouno cho, contorcendo, espalhando sangue na neve.

    Antes que Richard pudesse virar para encarar o outro, ele atirou-se portrs. Os dois rolaram pelos degraus. Sua espada e uma das facas de trs lminascaram na pedra l embaixo, escorregando para fora de alcance, e desaparecendodebaixo da neve.

    Eles rolaram, cada um tentando obter vantagem. Com o seu braoescamoso comprimindo o peito dele, a forte besta tentou espremer o estmagode Richard. Ele podia sentir a r espirao ftida na sua nuca.

    Embora no pudesse enxergar a espada dele, ele podia sentir suamagia, e sabia exatamente onde ela estava. Tentou se esticar para alcan-la,mas o peso do Mriswith impedia. Tentou se arrastar, mas a rocha escorregadiacom a neve no fornecia apoio suficient e. A espada continuava fora de alcance.

    Fortalecido por sua raiva, Richard levantou cambaleante. Ainda

    agarrado nele com os dois braos escamosos, o Mriswith deslizou uma daspernas na perna dele. Richard caiu de cara no cho, o peso do Mriswith em suascostas tirando o ar de seus pulmes. A segunda faca do Mriswith pairava bem

    perto de seu rosto.Grunhindo por causa do esforo, Richard levantou o corpo com um dos

    braos e com o outro bloqueou o punho que segurava a faca. Com um veloz epoderosos movimento, ele empurrou o Mriswith para trs, mergulhou deb aixo dobrao, e, quando levantou novamente, torceu ele dando uma volta completa.Osso estalou. Com sua outra mo, Richard levou a faca que estava em seu cintoat o peito da criatura. O Mriswith, com capa e tudo, assumiu uma cor plidaesverdeada.

    Quem enviou vocs! Quando ele no respondeu, Richard torceu obrao dele, segurando ele atrs das costas da besta. Quem enviou vocs!O Mriswith fraquejou. O Andarilho dos Sonhosssss. ele sibilou.

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    Quem o Andarilho dos Sonhos? Porque vocs esto a qui?Ondas de cor amarela cobriram o Mriswith. Seus olhos arregalaram

    quando ele tentou novamente escapar. Olhos verdessssss!Um golpe sbito fez Richard recuar. Um raio de pelo negro agarrou o

    Mriswith. Garras curvaram a cabea dele para trs. Presas mergulharam nopescoo dele. Um poderoso puxo rasgou sua garganta. Assustado, Richardprocurava respirar.

    Antes que pudesse recuperar o flego, o Gar, com os olhos verdesselvagens, aproximou-se rapidamente dele. Richard jogou os braos para cimaquando a grande besta chocou-se contra ele. A f aca voou de sua mo. O tamanhodo Gar era sufocante, sua incrvel fora esmagadora. Richard parecia estartentando conter uma montanha que estava desmoronando nele. Presas gotejantesestavam perto do rosto dele.

    Gratch! Ele agarrou o pelo dele. Gratch! Sou eu, Richard! O rosto irritado afastou um pouco. Vapor soprava a cada respirao, espalhando

    o fedor ptrido do sangue do Mriswith. Os olhos verdes brilhantes piscaram.Richard bateu no peito dele. Est tudo bem, Gratch. Acabou.

    Acalme-se.Os msculos de ferro dos braos que o seguravam afrouxaram. O

    rosnado transformou-se em um sorriso. Lgrimas brotaram nos olhos dele,Gratch apertou Richard contra o peito.

    Grrratch luuug Raaaach aaarg.Dando tapinhas nas costas do Gar, Richard se esforou para conseguir

    que o ar entrasse em seus pulmes. Tambm amo voc, Gratch.Gratch, com o brilho vede de volta nos olhos, segurou Richard para

    realizar uma inspeo, como se desejasse ter certeza que seu amigo estavaintacto. Ele soltou um gorgolejo indicando seu alvio, se era por descobrir queRichard estava seguro ou por ter parado antes de rasg-lo em pedaos, Richardno tinha certeza, mas sabia que ele tambm estava aliviado que aquilo tivesseacabado. Seus msculos, com o medo, a raiva, e a fria desaparecendosubitamente, latejaram com uma leve dor.

    Richard respirou profundamente com a sensao de ter sobrevivido aoataque repentino, mas ele estava inquieto com a sbita mudana docomportamento gentil de Gratch para aquela ferocidade mortal. Olhou ao redor,

    para aquela assustadora quantidade asquerosa de sangue espalhado na neve.Gratch no tinha feito tudo aquilo. Quando ele afastou o ltimo vestgio da raiva

    da magia, lhe ocorreu que talvez Gratch enxergasse ele de uma forma parecida.Assim como Richard, Gratch havia r espondido a uma ameaa. Gratch, voc sabia que eles estavam aqui, no sabia?Gratch assentiu de maneira entusiasmada, adicionando um leve rosnado

    para deixar claro. Richard teve o pensam ento de que na ltima vez em que tinhavisto Gratch rosnando com tanto fervor, do lado de fora da Floresta Hagen,Deve ter sido porque ele sentiu a presena do Mriswith.

    As Irms da Luz disseram que ocasionalmente os Mriswith deixavam aFloresta Hagen, e que ningum, nem as Irms da Luz, feiticeiras, ou at mesmomagos, tinha sido capaz e perceber a presena deles, ou tinha sobrevivido a umencontro com eles. Richard conseguiu sentir eles porqu e era o primeiro em cerca

    de trs mil anos a nascer com os dois lados do dom. Ento como Gratch sabiaque eles estavam ali?

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    Gratch, voc conseguiu ver eles? Gratch apontou para algumasdas carcaas, como se estivesse mostrando onde eles estavam para Richard.

    No, eu consigo ver eles agora. Eu quero dizer antes, quando eu estavaconversando com a Senhora Sanderholt e voc estava rosnando. Conseguiu vereles? Gratch balanou a cabea dele. Conseguiu escutar eles, ou sentir o

    cheiro? Gratch ficou pensativo, suas orelhas agitadas, e ento balanou acabea novamente. Ento como sabia que eles estavam ali, antes quepudssemos ver?

    Grandes sobrancelhas se juntaram quando a besta franziu a testaolhando para Richard. Ele encolheu os ombros, parecendo perplexo com suafalha em fornecer uma resposta satisfatria.

    Quer dizer que antes que pudesse ver, voc conseguiu sentir eles?Alguma coisa dentro de voc avisou que eles estavam ali?

    Gratch sorriu e assentiu, feliz que Richard pareceu entender. Aquiloera parecido com o modo como Richard sabia que eles estavam l; antes que

    pudesse ver, ele conseguiu sentir, viu eles em sua mente. Mas Gratch no tinha

    o dom. Como ele poderia fazer isso?Talvez fosse apenas porque animais podiam sentir coisas antes que as

    pessoas pudessem. Lo bos normalmente sabiam que voc est ava ali antes quevoc soubesse que eles estavam. Geralmente, a nica vez em que voc sabia queum veado estava em um bosque era quando ele corria, por ter sentido sua

    presena antes que voc o enxergasse. Animais geralmente tinham os sentidosmais aguados do que as pessoas, e predadores eram alguns dos melhores.Gratch certamente era um predador. Aquele sentido pareceu ter servido a elemelhor do que a magia de Richard.

    A Senhora Sanderholt, que havia descido os degraus, colocou uma dasmos enfaixadas no brao peludo de Gratch. Gratch... obrigada. Ela virou

    para Richard, baixando a voz. Pensei que ele me mataria tambm. elaconfidenciou. Olhou para vrios dos corpos despedaados. Eu vi Garsfazendo isso com pessoas. Quando ele me agarrou daquele jeito, pensei quecertamente ele me mataria. Mas eu estava errada; ele diferente. Ela olhounovamente para Gratch. Voc salvou minha vida. Obrigada.

    O sorriso de Gratch mostrou todo o tamanho de suas presasensanguentadas A viso fez ela engolir em seco.

    Richard olhou para o rosto sorridente de aparncia sinistra. Pare desorrir, Gratch. Est assustando ela de novo.

    Sua boca baixou, seus lbios cobriram suas ameaadoras presas

    afiadas. Seu rosto enrugado mostrou uma expresso aborrecida. Gratch via a simesmo como adorvel, e parecia pensar que seria natural que todos os outros oenxergassem assim tambm.

    A Senhora Sanderholt passou a mo no brao de Gratch. Tudo bem.O seu sorriso sincero, e bonito da sua prpria maneira. Apenas no estou...acostumada com ele, s isso.

    Gratch sorriu para a Senhora Sanderholt outra vez, adicionando umrepentino bater de asas animado. Incapaz de evitar, a Senhora Sanderholt recuouum passo. Ela estava comeando a entender que esse Gar era diferente daquelesque sempre representaram ameaa para as pessoas, mas seus instintos aindagovernavam essa percepo.

    Gratch se aproximou da mulher, para dar um abrao. Richard tinhacerteza que ela morreria de medo antes que percebesse as boas intenes do Gar,ento ele colocou um brao na frent e de Gratch.

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    Ele gosta de voc, Senhora Sanderholt. Ele s queri a dar um abrao,s isso. Mas acho que sua gratido suficient e.

    Rapidamente ela recuperou a compostura. Bobagem. Sorrindocalorosamente, ela abriu os braos. Eu gostaria de um abrao, Gratch.

    Gratch gorgolejou de alegria e levantou ela. Suavemente, Richard

    pediu a Gratch para ser genti l . A Senhora Sanderholt sol tou uma risada abafada.Logo que estava de volta no cho, ela arrumou a forma magra no vestido eajeitou o xale nos ombros. Ela sorriu calorosamente.

    Voc tem razo, Richard. Ele no um bicho de estimao. umamigo.

    Gratch assentiu com entusiasmo, suas orelhas balanando enquantobatia suas asas novamente.

    Richard tirou uma capa branca, uma que estava quase limpa, de umMriswith que estava perto. Ele pediu permisso para a Senhora Sanderholt, equando ela concedeu, colocou-a na frente de uma porta de carvalho queconduzia at uma pequena construo de pedra com teto baixo. Ele colocou a

    capa nos ombros dela e colocou o capuz sobre a cabea dela. Quero que voc se concentre. ele disse. Concentre-se no

    marrom da porta atrs de voc. Segure as pontas da capa unidas debaixo doqueixo, e feche os olhos se isso ajudar a se concentrar. Imagine que voc faz

    parte da porta, que da mesma cor dela.Ela fez uma careta. Porque tenho que fazer isso?

    Quero ver se voc consegue parecer invisvel como el es estavam. Invisvel!Richard sorriu, encorajando-a. Pode apenas fazer uma tentativa?Ela deu um suspiro e finalmente concordou. Os olhos dela fecharam

    lentamente. Sua respirao ficou uniforme e lenta. Nada aconteceu. Richardesperou um pouco mais, mas ainda assim, nada aconteceu. A capa continuou

    branca, nem um pedacinho dela ficou marrom. Finalmente ela abriu os olhos. Eu fiquei invisvel? ela perguntou, parecendo estar com medo de

    que tivesse ficado. No. Richard admitiu. Achei que no. Mas como esses horrveis homens cobra conseguem

    ficar invisveis? Ela tirou a capa dos ombros e tremeu de repulsa. E o quefez voc pensar que eu conseguiria fazer isso?

    Eles so chamados Mriswith. a capa que permite que eles faamisso, ento pensei que talvez voc tambm pudesse.

    Ela observou ele com uma expresso de dvida. Veja, deixe que eumostre.Richard tomou o lugar dela di ante da porta e baixou o capuz da capa de

    Mriswith dele. Fechando a capa, ele concentrou sua mente na tarefa. No espaode um suspiro, a capa ficou exatamente da mesma cor que ela enxergava atrsdele. Richard sabia que a magia da capa, aparentemente com a ajuda da sua

    prpria magia, de algum modo envolvia as partes expostas dele tambm, assimele parecia desaparecer.

    Quando ele se moveu na frente da porta, a capa mudava paraacompanhar continuamente o que ela estava vendo por trs dele; quando eleandou na frente da pedra branca, os plidos blocos e as juntas sombreadas

    pareciam deslizar atravs dele, imitando a imagem de fundo como se elarealmente estivesse enxergando atravs dele. Richard sabia por experincia que

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    mesmo se o fundo fosse complexo, no fazia diferena; a capa podia reproduzirtudo atrs dele.

    Enquanto Richard se afastava, a Senhora Sanderholt continuavaolhando para a porta, onde tinha vist o ele pela ltima vez.

    Os olhos de Gratch, entretanto, nunca desviavam dele. Ameaa surgiu

    naqueles olhos verdes enquanto o Gar seguia os movimentos de Richard. Umrosnado cresceu na garganta do Gar.Richard deixou sua concentrao relaxar. As cores do fundo deixaram

    a capa, fazendo ela voltar a ficar negra quando ele jogava o capuz para trs. Ainda sou eu, Gratch.

    A Senhora Sanderholt tomou um susto, virando para descobrir a novalocalizao dele.

    O rosnado de Gratch desapareceu, e sua expresso abrandou, primeiromostrando confuso, e ento um sorriso. Ele riu do novo jogo soltando umgorgolejo baixo.

    Richard, a Senhora Sanderholt gaguejou, como voc fez isso?

    Como ficou invisvel? a capa. Na verdade ela no faz com que eu fique invisvel, mas de

    algum modo ela pode mudar de cor para combinar com o fundo, assim elaengana os olhos. Acho que preciso magia para fazer a capa funcionar, e vocno tem nenhuma, mas eu nasci com o dom ento ela funciona comigo. Richard olhou para os Mriswith cados ao redor. Acho que seria melhorqueimar essas capas, para evitar que elas caiam n as mos erradas.

    Richard disse a Gratch para buscar as capas no topo dos degrausenquanto ele se abaixava para pegar as que estavam ali embai xo.

    Richard, voc acha que poderia ser... perigoso usar a capa de umadessas criaturas malignas?

    Perigoso? Richard endireitou o corpo e coou atrs do pescoo. No vejo como. Tudo que ela faz e mudar de cor. Voc sabe, do mesmo jeitoque alguns sapos e salamandras podem mudar de cor para se misturar comqualquer coisa onde estejam, como uma pedra, um t ronco, ou uma folha.

    Ela o ajudou, o melhor que podia com suas mos enfaixadas, a dobraras capas formando um monte. Eu j vi um sapo desses. Sempre achei que ofato deles conseguirem fazer isso era uma das maravilhas do Criador. Elasorriu para ele.

    Talvez o Criador esteja abenoando voc com o mesma recurso,porque voc tem o dom. Que Ele seja louvado; Sua bno ajudou a nos salvar.

    Enquanto Gratch entregava o resto das capas, uma de cada vez, paraque ela pudesse colocar junto com as outras, a ansiedade apertou como braosem volta do peito de Richard. El e olhou para o Gar.

    Gratch, voc no sente mais nenhum Mriswith em lugar algum,sente?

    O Gar entregou a ltima capa para a Senhora Sanderholt e ento olhoupara longe, procurando atentamente. Finalmente, ele balanou a cabea. Richardsuspirou aliviado.

    Tem alguma ideia de onde eles vieram, Gratch? Qualquer direoem particular?

    Gratch olhou em volta outra vez, examinando os arredores. Durante um

    momento de silncio, sua ateno fixou na Fortaleza do Mago, mas depois elecontinuou. Finalmente, ele encolheu os ombros, parecendo pedir desculpas.

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    Richard escaneou a cidade de Aydindril, estudando as tropas da OrdemImperial que conseguia enxergar l embaixo. Elas eram formadas por homens devrias naes, ele ouviu dizerem, mas reconheceu a cota de malha, armadura, eo couro escuro usado pela maioria deles: D'Harans.

    Richard amarrou as pontas soltas da ltima capa, formando uma trouxa

    bem apertada, e ento jogou no cho. O que aconteceu com as suas mos?Ela esticou as mos, virando-as. As tiras de tecido branco estavammanchadas com pingos de gordura, temperos, e leos, e sujas de cinzas efuligem de fogueiras. Eles arrancaram minhas unhas com tenazes para meobrigar a testemunhar contra a Madre Confessora... contra Kahlan.

    E voc fez isso? Quando ela afastou os olhos, Richard ficouenvergonhado ao perceber como a sua pergunta deve ter soado.

    Sinto muito, saiu sem querer. claro que ningum poderia esperarque voc desafiasse as ordens deles sob tortura.

    A verdade no importa para pessoas como aquelas. Kahlan noacreditaria que voc tivesse trado ela.

    Ela encolheu os ombros quando baixou as mos. Eu no falaria ascoisas que eles queriam que eu fal asse sobre ela. Ela entendeu, assim como vocdisse. A prpria Kahlan ordenou que eu testemunhasse contra ela para impedirque eles fizessem mais. Mesmo assim, foi terrvel falar aquelas mentiras.

    Eu nasci com o dom, mas no sei como us-lo, ou veria o quepoderia fazer para ajudar. Sinto muito. Ele se encolheu mostrandocompaixo. Pelo menos a dor est comeando a diminui r?

    Com a Ordem Imperial no comando em Aydindril, eu temo que a doresteja apenas comeando.

    Foram os D'Harans que fizeram isso com voc? No. Foi um mago Kelteano que ordenou. Quando Kahlan escapou,

    ela o matou. Entretanto, a maioria das tropas da Ordem em Aydindril soD'Harans.

    Como eles esto tratando as pessoas da cidade?Ela esfregou as mos enfaixadas nos braos, como se estivesse com

    frio no ar do inverno, Richard quase colocou sua capa em volta dos ombros delamas ao invs disso, pensando melhor, ajudou-a arrumando seu xale.

    Ainda que D'Hara tenha conquistado Aydindril, no outono passado,e suas tropas fossem brutais na luta, desde que derrubaram toda oposio etomaram a cidade eles no foram to cruis, enquanto as ordens deles estavamsendo seguidas. Talvez eles simplesmente considerassem que o prmio deles

    tinha mais valor intacto. Poderia ser isso mesmo, eu suponho. E quanto a Fortaleza? Elestomaram conta dela tambm?

    Ela olhou por cima do ombro, para cima da montanha. No tenhocerteza, mas acho que no; a Fortaleza protegida por feitios, e pelo que ouvifalar, as tropas D'Haran temem a magia.

    Richard esfregou o queixo, pensativo, O que aconteceu depois que aguerra com D'Hara terminou?

    Aparentemente, os D'Harans, entre outros, fizeram pactos com aOrdem Imperial. Lentamente, os Kelteanos assumiram o comando, com osD'Harans que restaram sendo a maioria dos msculos mas aceitando o governo

    da cidade. Os Kelteanos no temem a magia do mesmo jeito que os D'Harans. OPrncipe Fyren, de Kelton, e aquele mago Kelteano comandaram o Conselho.Agora com o Prncipe, o mago, e o Conselho mortos, no tenho certeza de quem

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    est no comando exatamente. Os D'Harans, eu suponho, que ainda nos deixamsob o controle da Ordem Imperial.

    Sem a Madre Confessora e os magos, tenho medo de nosso destino.Sei que ela precisava partir ou seria assassinada, mas ainda assim...

    A voz dela sumiu, ento ele concluiu. Desde que Midlands foi

    criada e Aydindril fundada para ser o seu corao, ningum alm da MadreConfessora governou aqui. Voc conhece a histria? Kahlan me contou uma parte. Ela ficou muito triste por ter que

    abandonar Aydindril, mas eu lhe asseguro, no vamos deixar que a Ordem otenha, do mesmo jeito, no deixaremos que el a domine Midlands.

    A Senhora Sanderholt olhou para longe com resignao. O que era,no existe mais. Com o tempo, a Ordem vai reescrever a histria desse lugar, eMidlands ser esquecida.

    Richard, sei que est ansioso para encontrar com ela. Encontrem umlugar para viverem suas vidas em paz e li berdade.

    No fique amargo por causa do que foi perdido. Quando encontrarcom ela, diga que embora houvesse pessoas comemorando o que eles pensaramser a execuo dela, muitos mais ficaram desolados ao ouvir que ela estavamorta. Nas semanas desde que ela fugiu tenho visto o lado que ela no viu.Assim como em todo lugar, aqui t em pessoas ms, gananciosas, mas tambm tem

    pessoas boas, que sempre lembraro dela. Ainda que agora estejamos sujeitos Ordem Imperial, enquanto vivermos, a lembrana de Midlands viver em nossoscoraes.

    Obrigado. Senhora Sanderholt. Sei que ela ficar feliz em ouvir quenem todos se viraram contra ela e Midlands. Mas no desista da esperana.Enquanto Midlands viver em nossos coraes, h esperana. Vamos vencer.

    Ela sorriu, mas no fundo dos olhos dela ele conseguiu ver pelaprimeira vez o desespero. Ela no acreditava nele. A vida sob a Ordem, brevecomo tenha sido, foi brutal o bastante para extinguir at mesmo a centelha daesperana; foi por isso que ela no se pr eocupou em sair de Aydindril. Para ondeela iria?

    Richard tirou sua espada da neve e esfregou a lmina brilhantelimpando-a na roupa de pele de um Mriswith.

    Colocou a espada de volta em sua bainha.Os dois viraram ao escutar o som de sussurros nervosos para ver uma

    multido de trabalhadores de cozinha reunidos perto do topo dos degraus,

    observando incrdulos a carnificina na neve, e Gratch. Um homem tinha pegadouma das facas com trs lminas, e estava virando ela, examinando. Temendodescer os degraus, at perto de Gratch, ele fez gesticulou insistentemente parachamar a ateno da Senhora Sanderholt. Irritada, ela fez um sinal, pedindo queele se aproximasse.

    Ele parecia estar curvado mais por uma vida de trabalho duro do quepela idade, embora seu cabelo fino estivesse ficando cinzento. Ele desceu osdegraus com um andar arrastado como se estivesse carregando um pesado sacode gros em seus ombros arredondados. Ele fez uma rpida revernciamostrando respeito para Senhora Sanderholt enquanto seu olhar desviava dela,

    para os corpos, para Gratch, Richard, e voltava a ela.

    O que foi, Hank? Problema, Senhora Sanderholt.

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    Estou um pouco ocupada, no momento, com meus prpriosproblemas. Ser que vocs todos no conseguem tirar o po dos fornos sem queeu esteja presente?

    A cabea dele balanou. Sim, Senhora Sanderholt. Mas esseproblema sobre... Ele lanou um olhar para uma carcaa fedorenta de

    Mriswith ali perto. . . .sobre essas coisas.Richard endireitou o corpo. O que tem eles?Hank olhou para a espada na cintura dele, e ento evitou os olhos dele.

    Acho que... Quando olhou para Gratch, e o Gar sorriu, o homem perdeu avoz.

    Hank, olhe para mim. Richard esperou at ele obedecer. O Garno vai machuc-lo. Essas coisas so chamadas de Mriswith. Gratch e eumatamos eles. Agora fale sobre o problema.

    Ele esfregou as palmas das mos nas calas de l. Dei uma olhadanas facas deles, naquelas trs lminas delas. Parece que foram elas que fizeramisso. A expresso dele ficou sombria. As notcias esto se espalhando,

    gerando pnico. Pessoas esto sendo mortas. O detalhe que ningum viu o quefez isso. Todos que foram mortos tiveram seus estmagos cortados por algumacoisa com trs lminas.

    Com um suspiro angustiado, Richard passou uma das mos no rosto. desse jeito que os Mriswith matam; eles estripam suas vtimas, e voc nemconsegue ver eles se aproximando. Onde essas pessoas foram mort as?

    Por toda cidade, quase ao mesmo tempo, logo na primeira luz dodia. Pelo que ouvi falar, imagino que deveriam ser assassinos separados. Pelonmero dessas coisas Mriswith eu apostaria que estou certo. Os mortos formamrastros, como as marcas de uma roda, todos conduzindo at aqui.

    Eles mataram qualquer um que est ivesse no caminho deles. Homens,mulheres, at cavalos. As tropas ficaram alvoroadas, quando alguns de seushomens perceberam isso tambm, e o resto deles parece pensar que algum tipode ataque. Uma dessas coisas Mriswith entrou bem no meio da multido reunidana rua. O bastardo no se preocupou em dar a volta, simplesmente abriucaminho cortando atravs da multido. Hank lanou um olhar triste para aSenhora Sanderholt. Um entrou no Palcio. Matou uma empregada, doisguardas, e Jocelyn.

    A Senhora Sanderholt arfou e cobriu a boca com uma das mosenfaixadas. Os olhos dela fecharam enquanto ela fazia um orao.

    Sinto muito. Senhora Sanderholt, mas acho que Jocelyn no sofreu;

    encontrei ela bem ali, e ela j estava morta. Tem mais algum do pessoal da cozinha? S Jocelyn. Ela estava em uma misso, no estava nas cozinhas.Gratch olhou para Richard silenciosamente enquanto observava l em

    cima da montanha, os muros de pedra. A neve l em cima estava rosada sob aluz do amanhecer. Ele apertou os lbios de frustrao quando olhou para acidade outra vez, com bile subindo em sua garganta.

    Hank. Senhor?Richard virou. Quero que junte alguns homens. Carreguem os

    Mriswith para frente do Palcio e coloque-os em fila pela entrada. Faa isso

    agora, antes que eles congelem e fiquem rgidos. Os msculos em suamandbula tufaram enquanto ele cerrava os dentes. Coloque as cabeas soltas

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    em lanas. Coloque elas bem alinhadas, de cada um dos lados, para que qualquerpessoa que entre no palcio tenha que caminhar entre elas.

    Hank limpou a garganta, com se estivesse prestes a protestar, masento olhou para a espada na cintura de Richard e ao invs disso falou, Imediatamente, senhor. Ele balanou a cabea para a Senhora Sanderholt e

    correu at o Palcio para conseguir ajuda. Os Mriswith devem ter magia. Talvez o medo dela pelo menosmantenha os D'Harans longe do Palcio p or algum tempo.

    Rugas de preocupao surgiram na testa dela. Richard, como vocdiz, aparentemente essas criaturas tinham magia. Algum alm de voc poderiaenxergar esses homens serpente quando eles esto se esgueirando, mudando decor?

    Richard balanou a cabea. Pelo que sei, apenas a minha magiaespecial consegue sentir eles. Mas obviamente Grat ch tambm consegue.

    A Ordem Imperial prega a maldade da magia, e daqueles que apossuem. E se esse Andarilho dos Sonhos tiver enviado os Mriswith para matar

    aqueles que possuem magia? Parece razovel. Onde voc quer chegar?Com expresso sria, ela observou ele por algum tempo. O seu av,

    Zedd, tem magia, e Kahlan tambm.Calafrios subiram pelos braos dele ou escutar ela colocar em palavras

    os prprios pensamentos dele. Eu sei, mas acho que tive uma ideia. Porenquanto, preciso fazer alguma coisa a respeito do que est acontecendo aqui; arespeito da Ordem.

    O que voc pretende fazer? Ela soltou um suspiro e suavizou otom. No quero ofender, Richard.

    Ainda que tenha o dom, voc no sabe como us-lo. No ummago; no pode ajudar aqui. V, enquanto pode.

    Para onde! Se os Mriswith podem me alcanar aqui, podem mealcanar em qualquer lugar. No existe lugar onde se esconder por muito tempo.

    Ele olhou para longe, sentindo o calor no rosto. Sei que no sou ummago.

    Ento o que...Ele lanou um olhar firme para ela. Kahlan, como a Madre

    Confessora, em nome de Midlands, convocou Midlands para guerra contra aOrdem, contra sua tirania. A causa da Ordem exterminar toda a magia egovernar todos os povos. Se no lutarmos, todos os povos livres, e todos que

    possuem magia, sero assassinados ou escravizados. No pode haver paz algumapara Midlands, para qualquer terra, para qualquer povo livre, at que a OrdemImperial seja esmagada.

    Richard, tem muitos deles aqui. O que voc espera conseguir fazersozinho?

    Ele estava cansado de ser pego de surpresa e nunca saber o que viriaatrs dele em seguida. Estava cansado de ser mantido prisioneiro, torturado,treinado, de ouvir mentiras, de ser usado. De ver pessoas indefesas massacradas.Tinha que fazer alguma coisa.

    Embora no fosse um mago, ele conhecia magos. Zedd estava apenasalgumas semanas de distncia, ao sudoeste. Zedd entenderia a necessidade de

    livrar Aydindril da Ordem Imperial, e de proteger a Fortaleza do Mago. Se aOrdem destrusse essa magia, quem sabe o que ficari a perdido para sempre?

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    Se fosse preciso, havia outros, no Palcio dos Profetas no MundoAntigo, que poderiam estar dispostos, e capazes, para ajudar. Warren era seuamigo, e mesmo que no estivesse completamente treinado, era um mago, econhecia a respeito da magia. Mais do que Richard, de qualquer modo.

    Irm Verna tambm ajudaria. As Irms eram feiticeiras e tinham o

    dom, ainda que ele no fosse t o poderoso quanto o de um mago. Por m, ele noconfiava em nenhuma outra alm de Irm Verna. A no ser, talvez, a PreladaAnnalina. Ele no gostou do modo como ela escondeu informaes dele, edistorceu a verdade para servir as suas necessidades, mas no foi por maldade;tinha feito o que precisava fazer preocupando-se com os vivos. Sim, Ann

    poderia ajud-lo.E ento havia Nathan, o profeta. Nathan, vivendo sob o feitio do

    Palcio durante a maior parte de sua vida, tinha quase mil anos de idade.Richard no conseguia nem imaginar o que aquele homem sabia. Ele sabia queRichard era um mago guerreiro, o primeiro a nascer em milhares de anos, eajudou ele a entender e aceitar o significado disso. Nathan ajudou ele antes, e

    Richard estava razoavelmente certo que ajudaria novamente; Nathan era umRahl, ancestral de Richard.

    Pensamentos desesperados correram atravs de sua mente. Oagressor faz as regras. De algum modo, eu devo mud-las.

    O que voc vai fazer?Richard olhou para a cidade. Preciso fazer alguma coisa que eles

    no esperam. Passou os dedos sobre os fios de ouro que formavam a palavraVERDADE no cabo da espada, e ao mesmo tempo sentiu a efervescente texturade sua magia. Eu empunho a Espada da Verdade, entregue a mim por ummago verdadeiro. Tenho uma responsabilidade. Eu sou o Seeker. Em umaneblina de fria que crescia com o pensamento nas pessoas sendo assassinadas

    pelos Mriswith, ele sussurrou para si mesmo, Juro que farei o Andarilho dosSonhos ter pesadelos.

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    C A P T U L O 4

    eus braos estar mesmo coando como se tivessem formigas. Lunettareclamou. Ser mais forte aqui.Tobias Brogan olhou para trs, por cima do ombro. Pedaos e tiras de

    pano esfarrapado e desbotado sacudiam na luz fraca enquanto Lunetta se coava.Entre as fileiras de homens adornados com armaduras e cotas de malha

    brilhantes, guarnecidas com capas vermelhas, a forma encolhida e curvada delasobre o cavalo fazia parecer que ela estava espiando do meio de um monte detrapos.

    Suas bochechas rechonchudas formavam cavidades com um sorriso queexibia a falta de um dente enquanto ela ria e se coava novamente.

    A boca de Brogan torceu de desgosto, e ele virou para longe, alisando

    seu fino bigode enquanto seu olhar passava novamente sobre a Fortaleza doMago l em cima, no lado da montanha. Os muros de pedra cinza escurarecebiam os primeiros raios fracos do sol do inverno que avermelhava a nevenos pontos mais altos. A boca dele ficou mais tensa.

    Magia, eu digo, meu Lorde General Lunetta insistiu. Temmagia aqui. Magia poderosa. Ela continuou tagarelando, resmungando sobre omodo como isso fazia a pele dela fic ar arrepiada.

    Silncio, sua bruxa velha. Mesmo os menos inteligentes noprecisariam do seu talento desprezvel para saber que Ayd indril ferve com acorrupo da magia.

    Olhos selvagens cintilaram debaixo das sobrancelhas carnudas dela. Esta ser diferente de qualquer uma que voc j tenha visto. ela falou comuma voz fina demais para o resto dela. Diferente de qualquer uma que eu jsenti antes. E uma parte estar ao sudoeste tambm, no apenas aqui. Elacoou os antebraos com mais fora enquanto tagarelava novament e.

    Brogan olhou alm dos amontoados de pessoas apressadas descendo arua, lanando um olho crtico para os Palcios alinhados pela rua larga chamada,ele tinha sido informado, Kings Row. Os Palcios deveriam impressionar quemos via com a riqueza, poder, e o esprito do povo que representavam. Cada umadas estruturas competiam pela ateno com altas colunas, ornamentaoelaborada, e conjuntos de janelas chamativas, telhados, e entablamentos

    decorados. Para Tobias Brogan, eles pareciam nada mais do que paves depedra: um desperdcio de ostentao, se alguma vez ele tivesse visto um.Em uma distante elevao estendia-se o Palcio das Confessoras, suas

    colunas de pedra e pinculos impossveis de serem comparados com a elegnciade Kings Row, e de algum modo mais branco do que a neve ao redor dele, comose tentasse mascarar a profanao de sua existncia com a iluso de pureza. Oolhar de Brogan sondou os recessos do santurio de perversidade, o santurio do

    poder da magia sobre os humildes, enquanto seus dedos ossudos acariciavamdistraidamente o estojo de couro dos trofus no cinto dele.

    Meu Lorde General, Lunetta insistiu, inclinando-se para frente, escutou o que eu disse...

    Brogan deu um giro, suas botas polidas chiando contra o t ribo de courono frio. Galtero!

  • 7/27/2019 Srie Espada da Verdade 03 - Sangue da Congregao

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    Olhos que pareciam gelo negro brilharam sob um elmo polido, debaixode uma crista de pelo de cavalo tingida de vermelho para combinar com a capados soldados. Ele segurava suas rdeas com facilidade em uma das mos commanopla enquanto ele oscilava na sela com a graa fluida de um leo damontanha. Lorde General?

    Se a minha irm no conseguir ficar quieta quando eu mandar, lanou um olhar srio para ela amordace-a.Lunetta disparou um olhar inquieto para o homem de ombros largos

    que cavalgava ao lado dela, para sua armadura polida quase at a perfeio ecota de malha, para suas armas bem afiadas. Ela abriu a boca para protestar, masquando olhou novamente para aqueles olhos gelados fechou-a outra vez, e aoinvs disso coou os braos. Me perdoe, Lorde General Brogan. elaresmungou baixando a cabea com respeito na dire o de seu irmo.

    Galtero deu um passo para o lado com seu cavalo agressivamenteaproximando-se de Lunetta, seu poderoso cavalo cinzento emparelhando com agua baia dela. Silncio, Streganicha.

    As bochechas dela ficaram coradas