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#89 EDIÇÃO SHUTTERSTOCK OÁSIS MUNDOS DE MENTIRA PROMOVEM CURAS DE VERDADE MEDICINA VIRTUAL ELEFANTES Colossais e super inteligentes GUERRA NA SÍRIA Números que dão calafrios EU ESCUTO AS CORES Para Neil Harbisson, cor é música

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A medicinA virtuAl derivA diretAmente dA reAlidAde virtuAl, umA tecnologiA recente que, com o uso de computAdores,

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por

Editor

PeLLegrINILuis

Depois de invadir nossos lares, escolas e escritórios através da Internet e dos videogames, a realidade virtual (rV) penetra agora também nos hos-pitais e nos grandes laboratórios que buscam sem cessas novos métodos

e técnicas de cura. A tal ponto que, nas áreas das ciências médicas, já se emprega sem nenhum constrangimento a expressão “medicina virtual” (MV). ela é a mais recente filha da revolução da informática que hoje invade o mundo com o ímpeto de um maremoto eletrônico global.

relatos de tratamentos bem sucedidos com a medicina virtual começam a apare-cer nas páginas de publicações médicas especializadas, reacendendo as esperanças de casos até então considerados insolúveis. Uma criança quadriplégica aprende a manipular as imagens e figuras no vídeo de um computador unicamente usando o movimento dos olhos. Um homem paralisado pelo mal de Parkinson descobre que pode andar novamente. Uma mulher que sofre de acrofobia (medo de luga-res altos) consegue passar sozinha por uma ponte sobre um precipício. Uma outra,

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por

Editor

PeLLegrINILuis

cujo medo às aranhas a obrigava a viver com as portas e janelas da casa hermetica-mente trancadas, supera o problema e passa a desfrutar de um novo prazer, o de dormir em barracas no meio de florestas.

A medicina virtual deriva diretamente da realidade virtual, uma tecnologia recente que, com o uso de computadores, cria ambientes gráficos onde a pessoa pode entrar, mover-se em seu interior, e inclusive interagir com as coisas e as figuras que fazem parte daquele ambiente. e tudo isso, muitas vezes, sem que haja necessida-de de sair da própria cadeira.

As consequências desse tipo de experiência são numerosas e muitas vezes úteis para sanar desvios e desequilíbrios da nossa estrutura psíquica. Você poderá conferir tudo isso na nossa matéria de capa. As possibilidades dessa nova tecnologia médica são muitíssimas. Apesar disso, críticas ferozes à realidade virtual não faltaram. disseram que ela conduziria à de-sumanização por alienar as pessoas de si próprias, dos outros, e até da realidade concreta. disseram inclusive que ela produziria coisas como máquinas de sexo virtual, em que as pessoas - entregues a um delírio masturbatório eletrônico - não mais precisariam de parceiros para terem experiências sexuais completas. Mas, na prática, todos esses temores demonstraram ser em grande parte infundados. A realidade virtual, como qualquer outra descoberta humana, pode ser positiva ou negativa, criativa ou destrutiva, luminosa ou sombria, dependendo do uso que dela se faz. Como a tecnologia da eletricidade: pode acionar as brocas dos dentistas, mas também os aparelhos dos torturadores. Para a medicina, a realidade virtual se apresenta como um meio terapêutico dotado de grande potencial.

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MEDICINA VIRTUALMundos de mentira promovem curas de verdade

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inha amiga Alice sente pavor quando qualquer animal ala-do voa nas proximidades. Uma inofensiva mariposa que passa

sobre sua cabeça faz com ela perca comple-tamente o autocontrole, levando-a a gritar por socorro e procurar abrigo não importa onde esteja. Fui testemunha ocular: certa ocasião, num restaurante, um filhote de pas-sarinho entrou voando pela janela e pôs-se a dar voltas, desorientado, batendo nas pare-des do salão. Num piscar de olhos Alice foi

se esconder debaixo da mesa ao mesmo tem-po em que gritava: “Tirem esse bicho daqui, tirem esse bicho daqui!” Um escândalo que os demais presentes não poderão esquecer.

Fora essa fobia irracional, responsável por um sem número de vexames, Alice é uma mulher totalmente normal, alegre e muito inteligente. Ela sabe que um pobre animal-zinho voador não pode lhe fazer mal algum, mesmo que o queira. Não consegue, no en-tanto, conter o pânico que vem das profun-dezas do seu inconsciente.

MareMoto eletrônico globalPois bem: para o problema de Alice, e para uma grande quantidade de outras moléstias de fundo nervoso, psicológico, neurológico ou motor, existe agora uma nova possibili-dade de tratamento e cura. Trata-se da Me-dicina Virtual (MV), uma das mais recentes

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A medicina começa a fazer uso da moderna tecnologia da realidade virtual para o tratamento de males tão variados como fobias, autismo, paralisias, obesidade e outros distúrbios alimentares. os resultados são tão animadores que alguns especialistas já afirmam que, depois de incorporar a realidade virtual, a medicina nunca mais será a mesma. Por: luis Pellegrini

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filhas da revolução da informática que hoje invade o mundo com o ímpeto de um maremoto eletrônico global.

Relatos de tratamentos bem sucedidos com a medicina virtual começam a aparecer nas páginas de publicações médicas especializadas, reacendendo as esperanças de casos até então considerados insolúveis. Uma criança quadriplégica aprende a manipular as imagens e figuras no vídeo de um computador unicamente usando o mo-vimento dos olhos. Um homem paralisado pelo mal de Parkinson descobre que pode andar novamente. Uma mulher que sofre de acrofobia (medo de lugares altos) consegue passar sozinha por uma ponte sobre um preci-pício. Uma outra, cujo medo às aranhas a obrigava a vi-ver com as portas e janelas da casa hermeticamente tran-cadas, supera o problema e passa a desfrutar de um novo prazer, o de dormir em barracas no meio de florestas.

MV: filha da realidade VirtualA medicina virtual deriva diretamente da realidade vir-tual, uma tecnologia recente que, com o uso de compu-tadores, cria ambientes gráficos onde a pessoa pode en-trar, mover-se em seu interior, e inclusive interagir com as coisas e as figuras que fazem parte daquele ambiente. E tudo isso, muitas vezes, sem que haja necessidade de sair da própria cadeira.

Nessa tecnologia, computadores de alta resolução são dotados de sistemas óticos que permitem ao espectador ver e também “mergulhar” em mundos ou cenários vir-tuais tridimensionais. E, uma vez dentro desses mun-dos, não apenas o sentido da visão é estimulado. Aces-sórios especiais como luvas, auriculares, propagadores

“A medicina virtual deriva diretamente da realidade

virtual, uma tecnologia recente que, com o uso de computadores, cria

ambientes gráficos que representam o mundo real”

de odores, afetam respectivamente os sentidos do tato, da audição e do olfato. E o conjunto de sensações é com-pletado por cadeiras ou por plataformas móveis onde a pessoa, sentada ou em pé, tem a perfeita ilusão do movi-mento. Além disso, sensores eletrônicos extremamente aguçados, acoplados ao corpo da pessoa, captam todos os seus movimentos no mundo real - inclusive aqueles involuntários dos músculos, da respiração, dos olhos, das batidas do coração -, permitindo que o computador em resposta mude o mundo virtual. Ao mesmo tempo, instrumentos de “navegação” no mundo virtual, tais como joysticks (bastões de comando) e luvas informati-zadas permitem à pessoa explorar e provocar mudanças no mundo virtual.

indústria do entreteniMentoA tecnologia da realidade virtual foi inicialmente usada com finalidades militares, para o treinamento de pilotos em vôos simulados. Foi depois aproveitada pela indús-tria do entretenimento. Na Disneyworld, em Orlando, Flórida, um dos brinquedos favoritos é hoje o Back to

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the Future (De volta ao futuro) onde, pela realidade virtual, o espectador se sente literalmente transporta-do dentro de um veloz carro voador ao mundo ao mes-mo tempo belo e apavorante dos dinossauros e outros monstros pré-históricos.

Críticas ferozes à realidade virtual não faltaram. Dis-seram que ela conduziria à desumanização por alienar as pessoas de si próprias, dos outros, e até da realidade concreta. Disseram inclusive que ela produziria coisas como máquinas de sexo virtual, em que as pessoas - en-tregues a um delírio masturbatório eletrônico - não mais precisariam de parceiros para terem experiências sexuais completas. Mas, na prática, todos esses temores demons-traram ser em grande parte infundados. A realidade vir-tual, como qualquer outra descoberta humana, pode ser positiva ou negativa, criativa ou destrutiva, luminosa ou sombria, dependendo do uso que dela se faz. Como a tec-nologia da eletricidade: pode acionar as brocas dos den-

“A realidade virtual, como qualquer outra descoberta humana, pode ser positiva ou negativa, dependendo

do uso que se faz dela”

tistas, mas também os aparelhos dos torturadores. Para a medicina, a realidade virtual se apresenta como um meio terapêutico dotado de grande potencial.

cruzar ruas iMagináriasAs experiências parecem demonstrar que, ao nos imergir em mundos que nós mesmos criamos, a realidade virtual fortalece a imaginação, enriquece a capacidade de visu-alização, e nutre o espírito. À medida em que cruzamos ruas imaginárias, em que enfrentamos na virtualidade os objetos dos nossos medos, em que “voamos” soltos no espaço, nós nos proporcionamos mensagens positivas sobre aquilo que é ou que pode ser real. Essas mensa-gens podem transformar nossas formas de conexão com nós mesmos, com os outros e com o mundo.

Mensagens positivas podem literalmente nos transformar fisicamente, como descobriram os especialistas da mo-derna medicina corpo-mente, e comprovando aquilo que desde sempre afirmaram os mestres das grandes religiões e, mais recentemente, os sábios da psicologia e da psicos-somática. Ao nos visualizarmos como seres sadios, libera-mos em nosso organismo substâncias neuroquímicas que incrementam o sistema imunológico e restauram o equilí-brio hormonal. Como diz o médico e autor Deepak

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Chopra, “a maneira como você percebe a si mesmo pro-voca imediatamente imensas mudanças em seu corpo. Se você quiser mudar o seu corpo, comece por mudar a sua atitude consciente em relação a ele”. A medicina virtual, conforme indicam os seus primeiros resultados práticos, permite à pessoa sentir e experimentar a si própria em estado de plena saúde, possibilitando-a compreender e definir o objetivo a ser alcançado.

no níVel da Psique ProfundaGalen R. Brandt, artista performática americana que usa a realidade virtual em seus espetáculos, explica como a experiência virtual acontece no nível da psique profunda: “Esta é a realidade daquilo que é conhecido como ‘interação digital’: a sua imagem torna-se uma extensão da sua identidade. O que acontece a ela, acon-tece a você. Se nosso ser virtual toca em alguma coisa, nosso ser físico sente-se tocado. Os especialistas em re-alidade virtual chamam esse fenômeno de vídeo-toque. E quando nosso ser real se funde com nosso ser virtual, não apenas corpos, mas também corações, mentes e al-mas fundem-se igualmente”.

Tudo isso que Galen R. Brandt quer dizer baseia-se, na

“A obesidade tem muito a ver com autoimagem. Se você não gosta do que vê no espelho, pode desenvolver um problema alimentar”

verdade, numa das mais importantes descobertas da moderna psicologia: a psique humana não consegue dis-tinguir entre uma experiência objetiva, concreta, e uma experiência subjetiva, virtual. Para ela tanto faz se a ex-periência ocorre no plano da realidade objetiva, ou no plano subjetivo da fantasia, do sonho, da imaginação, da virtualidade. É por causa dessa descoberta fundamen-tal que as psicoterapias contemporâneas atribuem tanta importância às experiências subjetivas, e foram desen-volvidas técnicas psicológicas que trabalham com elas, como a análise dos sonhos e a técnica da imaginação ativa. A realidade virtual simplesmente potencializa e incrementa a experiência subjetiva, com o uso de apara-tos que estimulam concretamente as nossas capacidades sensoriais.

MV e obesidade A obesidade tem muito a ver com auto-imagem. Se você não gosta do que vê no espelho, pode desenvolver um problema alimentar. Existe uma ligação direta entre a insatisfação com o próprio corpo, com uma auto-ima-gem distorcida, e patologias alimentares como a ano-rexia nervosa e a bulimia. O tratamento convencional inclui tentativas cognitivas e comportamentais para me-lhorar a auto-imagem através da visualização, bem como abordagens visuais em que o paciente vê a si próprio em vídeos e filmes para que perceba como seu corpo real-mente é.

O tratamento desses distúrbios pela realidade virtual combina todas essas abordagens. Ao “mergulhar” em pro-gramas de computador especialmente criados para tais finalidades, o paciente tem a oportunidade de ver, experi

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mentar, e recriar o seu corpo de várias maneiras - como ele é na realidade concreta, como o paciente teme que ele seja, ou como ele deseja que seu corpo se transforme. Giuseppe Riva, médico do Laboratório de Tecnologia Aplicada à Psicologia, em Verbania, na Itália, desenvol-veu um programa para casos de desordem alimentar que está fazendo furor. Usando um capacete de realida-de virtual e bastões de comando, os pacientes entram no programa. Desenhos dos mais diferentes tipos e ta-manhos de corpos humanos lhes são apresentados, e eles devem inicialmente comparar esses desenhos com seus próprios corpos, em termos tanto dos tamanhos atuais quanto dos tamanhos ideais. Depois de pesar a si próprios numa escala virtual que marca o seu peso atu-al, são levados a uma cozinha virtual repleta de tenta-doras comidas virtuais que podem tocar e “comer”. São a seguir novamente pesados, e o computador calcula o seu novo peso baseado em suas escolhas alimentares.

São agora conduzidos diante de um grande espelho vir-tual que reflete a imagem do seu corpo real, previamen-te filmado e escaneado pelo computador. Chegam então diante de quatro portas de diferentes tamanhos; para

“Na realidade virtual, o corpo ideal deixa de ser uma abstração para se transformar num objetivo que pode ser alcançado”

seguir adiante, devem escolher a porta adequada para as suas medidas e o seu peso. Finalmente, observam ainda uma vez o seu corpo real e, a seguir, um segundo corpo, maleável, que eles podem mudar - ou “conformar”- em seu corpo ideal. Antes de abandonar o programa, os pa-cientes comparam ainda uma vez, lado a lado, os seus corpos atual e ideal. Homens e mulheres que passaram por essa terapia con-seguiram reduzir consideravelmente os seus níveis de insatisfação corporal. Além de aprender a melhor sele-cionar os tipos e quantidades de alimentos que lhes con-vêm, o simples fato de visualizarem claramente, na sua virtualidade, o seu corpo ideal, passa a constituir para eles um forte estímulo no sentido do autocontrole. O corpo ideal deixa de ser uma abstração obscura para se transformar num objetivo que pode ser alcançado.

MV e fobiasPavor das alturas (acrofobia), de lugares públicos e es-paços descobertos (agorafobia), de voar (aerofobia), de

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cobras (ofídio-fobia), de aranhas (aracno-fobia), de ambientes fechados(claustrofobia), são apenas alguns dos muitos tipos de medos mórbidos que acometem milhões de pessoas em todo o mundo. O tratamento convencional baseia-se na dessensibilização gradual através da exposição do paciente à situação ou ao obje-to que desencadeia a fobia - sempre dentro dos limites que lhe permitem enfrentar o estímulo calmamente. Mas trata-se de uma terapia difícil. Muitos pacientes sentem-se humilhados ou não conseguem controlar o pânico antes que a terapia surta qualquer efeito.

A medicina virtual aumenta as possibilidades de êxito. Nos casos de acrofobia e de claustrofobia, por exemplo, o paciente fóbico utiliza um capacete informatizado e “mergulha” em lugares virtuais fechados ou altos, como balcões suspensos, elevadores, pontes destituídas de proteção lateral, e até em cânions virtuais interligados por uma série de pontes. Ele é submetido a situações de risco e desencadeadoras de ansiedades cada vez mais fortes, mas meios de controle lhe são proporcionados. Pode, por exemplo, utilizar bastões de comando que permitem o controle do movimento dos elevadores vir-tuais. Os resultados são encorajadores. À medida em que aumenta a familiaridade com a situação, diminui a ansiedade do paciente fóbico.

Uma outra paciente tinha tanto medo de aranhas que, a cada noite, vedava com fita isolante todas as frestas das portas e janelas do seu quarto, guardava cada peça de roupa em sacos plásticos, desinfetava diariamente o carro e, nas raras vezes em que conseguia sair às ruas, só caminhava no meio da calçada, vigiando atenta-mente os dois lados em busca da presença dos temidos

“Poder tocar o objeto da sua fobia altera para sempre a relação mórbida que o paciente mantém com ele”

insetos. Desesperada, procurou o Human Interface Te-chnology Laboratory, na cidade de Seattle, e submeteu--se a uma terapia com o uso do programa de realidade virtual SpiderWorld (Mundo das Aranhas), criado pelos psicólogos Albert Carlin, Suzanne Weghorst e Hunter Hoffman. O programa é um pesadelo virtual onde ara-nhas de todos os tipos são programadas para subir pelas paredes, correr pelo chão, cair inesperadamente do teto, e saltar quando tocadas. “Mergulhada” naquele mundo virtual cheio de aranhas, a paciente podia manipulá-lo usando uma luva informatizada. Foi-lhe depois propor-cionado inclusive um outro estímulo, chamado de “re-alidade mista”, no qual ela tocava com a mão nua ob-jetos reais em posições que correspondiam aos objetos virtuais que via. Um desses objetos era uma aranha de brinquedo, uma réplica perfeita de uma tarântula come--pássaro da Guiana, que tem o tamanho de uma mão humana. “Acredito que o fato de poder tocar o objeto da sua fobia alterou para sempre a relação mórbida que a paciente mantinha com esses animais. Foi como apertar a mão do inimigo”, comenta Hoffman, um dos terapeu-tas que cuidaram dela. A paciente, ao ter alta, desenvol-veu inclusive um novo hobby: o camping.

MV e autisMoA Escola de Medicina da Universidade da Carolina do

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Norte desenvolve, no momento, um programa de tra-tamento de crianças autistas com o uso da realidade virtual. Essas crianças mostram sintomas clássicos de autismo: vivem isoladas, são quase incapazes de falar, desconectadas do mundo ao redor, sentem-se abaladas por qualquer mudança, e facilmente entram em agi-tação quando se defrontam com as complexidades do mundo. Muitas delas (bem como alguns adultos autis-tas) nunca conseguiram atravessar uma rua sozinhos. Não percebem a presença de um veículo a passar e que pode atropelá-las.

O programa de realidade virtual preparado para o seu treinamento é relativamente simples: uma rua plana, cinzenta (muitos autistas não conseguem sequer perce-ber as diferenças entre as cores), com uma calçada; um carro a passar lentamente; um único sinal de trânsito indicando “pare”. Os pacientes “mergulham” na rua vir-tual com o uso de um capacete informatizado (para sur-presa dos pesquisadores, ao cabo de algumas tentativas a maioria deles aceita o uso desse aparato). O capacete, além de introduzir a criança na rua virtual, capta os

“A medicina virtual pode ajudar pacientes paraplégicos que têm dificuldade para manejar sua cadeira de rodas e outros aparatos”

movimentos da cabeça e do corpo dela, e envia esses si-nais para o computador. Este, em resposta, altera o ce-nário virtual: à medida em que a criança se move para a frente, a rua e o carro parecem se aproximar. Depois de uma série de sessões de treinamento de curta duração, para não estressar a criança, muitas delas passaram a perceber a presença do carro virtual, e a esperar que ele passe para só então continuar se movendo à frente.

MV e ParaPlegiaPacientes paraplégicos, vítimas de acidentes ou de pa-ralisia cerebral, muitas vezes têm extrema dificuldade para aprender a manejar a cadeira de rodas elétrica, bem como para se situar e agir no mundo dentro dos limites máximos que lhes são possíveis. Programas de treinamento com o uso da realidade virtual para esses casos estão sendo desenvolvidos pelo Oregon Research Institute (Instituto de Pesquisas do Oregon), órgão do Departamento de Educação do Oregon, na cidade de Eu-gene, sob a chefia do cientista Dean Inman. São progra-mas complexos e extremamente sofisticados. Requerem tecnologia capaz, entre outras coisas, de captar todos os movimentos musculares voluntários do paciente,

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como eventuais movimentos dos membros superiores, dos músculos faciais e dos olhos. Esses movimentos são enviados ao computador e, pouco a pouco, o pa-ciente aprende a se mover no mundo virtual onde está “mergulhado”, bem como a modificar a paisagem desse mundo e as coisas que ele contem.

Os resultados, segundo Dean Inman, são mais do que animadores. Além do desenvolvimento das possibilida-des motoras do paciente, ocorre em geral uma notável melhora das suas condições psicológicas. “Crianças pri-sioneiras da imobilidade, confinadas a uma cadeira de rodas, podem tornar-se completamente passivas em re-lação à vida”, diz Dean Inman. “Quanto antes pudermos proporcionar a elas a alegria da liberdade, da mobili-dade independente, mais produtivas elas serão quando adultas. Essa alegria será o seu melhor professor, a sua maior aliada no futuro”.

realidade Virtual e MedicinaSe o desenvolvimento das tecnologias que fazem uso da re-alidade virtual para o treinamento e o tratamento de várias patologias encontra-se hoje em plena curva ascendente, o mesmo se pode dizer da sua utilidade para o treinamento de médicos de variadas especialidades. Usando a tecnologia da realidade virtual cirurgiões executam façanhas dignas dos

filmes de ficção científica. Podem “navegar” por dentro de um intestino virtual tridimensional e examinar seus tecidos pas-so a passo. Podem simular vários procedimentos cirúrgicos, inclusive tratamento de emergência em situações de grandes desastres ou acidentes. Podem operar usando óculos que lhes proporcionam “visão de raio-X”. Podem operar à distância, usando um braço robotizado conectado a instrumentos de comando como bastões ou luvas informatizadas.

No futuro não muito distante, prevê-se a criação de escanea-dores que fornecerão imagens tridimensionais instantâneas do interior dos corpos dos pacientes.

Ben Delaney, editor do Cyberedge Journal, uma das princi-pais publicações mundiais especializadas em realidade virtu-al, diz que “a realidade virtual está sendo usada como ferra-menta de cura, e a medicina nunca mais será a mesma. Em minhas viagens como editor pude avaliar meu potencial como cirurgião de laparoscopias, ajudar no planejamento de um ataque radiológico a um tumor cerebral, tocar um pulsante coração virtual, e testar várias alterações do meu rosto a partir de cirurgias plásticas. Robôs já estão realizando cirurgias de quadril. Simulações gráficas interativas - um outro nome para realidade virtual - permitem que você faça viagens tridimen-sionais no interior do seu próprio corpo dentro de uma “espa-çonave” ainda menor que um glóbulo vermelho!”

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LELEFANTESColossais e super inteligentes

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lefantes são capazes de transfe-rir informações e de ajudar seus companheiros. Eles se reconhe-cem com um bramido emitido

a mais de 2,5 quilômetros de distância. Cada indivíduo possui um caráter bem definido: alguns são dóceis e afetuosos, outros tempera-mentais e nervosos. Gostam de embriagar-se, possuem memória prodigiosa e, entre seus ta-lentos, está inclusive o de pintar quadros. Na galeria abaixo apresentamos aspectos curiosos e divertidos desses colossos do reino animal.

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poucos animais podem competir com os elefantes em termos de inteligência e sensibilidade. objetos de estudo de um sem número de zoólogos e etólogos, os maiores mamíferos terrestres da terra continuam a despertar nossa curiosidade e admiração Por: equiPe oásis

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Se a tromba de um paquiderme termina com dois “dedos” prênseis, trata-se de um elefante africano; se apresenta um único dedo, trata-se de um elefante indiano. Formada por mais de 100 mil músculos, a tromba é um instrumento poderoso capaz de levantar pesos superiores a 250 quilos. Ao mesmo tempo, é sensível a ponto de conseguir arrancar um único fio de grama. A tromba também serve para bramir, levar água e

alimento à boca, lançar lama, etc.

Nesta imagem, um elefante asiático mergulha nas águas do mar das ilhas Andaman, na Índia. Sua tromba agora serve como tubo de respiro, enquanto o paquiderme se desloca, com a cabeça submersa, abaixo da superfície das águas.

E tem mais: a tromba também é usada para que os elefantes se comuniquem usando uma espécie de linguagem de sinais: se ela forma um “S”, significa “quero conhecer você”. Se em vez disso duas trombas se cruzam, os animais estão se cumprimentando, como num aperto de mãos.

foto: Jeff Yonover / Wild plAnet

VANTAgENS DE UM NARIz bEM CoMpRIDo

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os elefantes africanos (Loxodonta africana) são os maiores e mais pesados mamíferos terrestres: a altura dos machos pode superar 3,75 metros, e as fêmeas chegam a 3 metros. Suas enormes orelhas são largas

pelo menos 1,20 metro. A tromba de um adulto tem 1,5 metro e chega a pesar 135 quilos (mas pode levantar 250 quilos). Somando tudo, um elefante adulto supera fácil o peso de 6 toneladas. Daí a dificuldade de se

transportar esses animais, como acontece na foto, tirada no parque Kruger, na África do Sul.

CARgA pESADA

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os mosquitos não dão sossego? os elefantes africanos sabem perfeitamente como se defender. Seu couro tem entre 2 e 3 centímetros de espessura. Mesmo assim, em seu habitat existem moscas, parasitas e vespas que conseguem picá-los.

Atrás das orelhas e em certas áreas dos flancos, peito e no abdomen ela é muito menos espessa. Além disso, essas áreas são muito mais sensíveis por causa da maior quantidade de nervos e vasos sanguíneos. Assim, para afastar os insetos indesejáveis, os elefantes descobriram um remédio

natural: cobrem a pele com uma fina camada de lama que, além de afastar os insetos, os protege do fortíssimo sol da savana.

LAMA ANTIpARASITA

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A julgar pela sua expressão aterrorizada, esse filhote de elefante asiático (Elephas maximus) não aprecia a hora do banho. Mas a verdade é que os elefantes, como outros grandes mamíferos, suportam mais facilmente o frio do que o calor excessivo. Quando a canícula não perdoa,

eles procuram um lugar sombreado e agitam as grandes orelhas a grande velocidade para dissipar o calor e baixar a temperatura do corpo. É necessário então que estejam perto de uma fonte de água: num único dia um desses animais chega a beber mais de 140 litros.

A adoção dos órfãos é comportamento comum entre os elefantes. Na maioria das espécies, quando a mãe morre há pouca esperança de sobrevivência para os filhotes. Mas entre os elefantes as coisas são diferentes. geralmente uma das irmãs mais velhas assume os cuidados

necessários aos pequenos, até mesmo quando elas já cuidam de um filho próprio. Mas a coisa mais surpreendente é que a adoção pode acontecer em relação a um filhote cuja mãe não pertencia àquela família ou bando.

SoCoRRo!

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Em tema de “drogas” consumidas por animais, a preferida pelos elefantes é o álcool: são capazes de esperar semanas pela maturação dos frutos de algumas palmeiras e de outras árvores frutíferas até que estejam prontos para serem comidos. Curioso é que esperam que a maturação

chegue ao ponto de fermentação, quando a fruta se torna alcoólica. Isso indica que a busca do álcool é intencional.

Muitas vezes os elefantes embriagados ficam hiperexcitados e, coisa ainda mais grave devido às suas dimensões, perdem a coordenação motora, amedrontam-se facilmente e se tornam agressivos. Um bando de elefantes embriagados é um sério perigo para o homem. por causa

dessa preferência, na Índia, os elefantes são utilizados para descobrir destilarias clandestinas.

EU bEbo SIM! EU bEbo SIM!

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Movidos pela fome ou pela inexperiência, as jovens garças (gênero Egretta) que aparecem na foto encontraram um método engenhoso – embora um tanto arriscado – de encontrar comida. Elas seguem de muito perto as pegadas do elefante para abocanhar os insetos que

surgem por causa do impacto do seu peso sobre o terreno. A cena foi fotografada na Tanzânia.

Na hora das refeições, os elefantes lançam mão de toda a sua esperteza para encher a barriga. Recente estudo feito por pesquisadores do Yerkes National primate Research Center (EUA) e da Universidade de Cambridge (grã-bretanha) com um grupo de elefantes asiáticos

demonstrou que esses animais são capazes de cooperar uns com os outros para encontrar comida: eles prestam atenção aos movimentos dos parceiros e os coordenam com os seus próprios movimentos.

Ô AbRE ALAS!

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Ratos pequeninos crescem e, com o tempo, tornam-se elefantes. Este é o resultado de um estudo publicado pela revista norte-americana pnas e conduzido por um grupo de pesquisadores coordenado pelo biólogo Alistair Evans, da Monash University, na Austrália.

A pesquisa, feita para avaliar a velocidade da evolução das dimensões dos mamíferos, envolveu 28 espécies (entre as quais elefantes, roedores e cetáceos) que possuem um antepassado comum e que viveram nos últimos 70 milhões de anos nos quatro continentes. Naquela época, com efeito, todos os mamíferos tinham as dimensões de um pequeno roedor. Só depois da extinção dos dinossauros surgiram os mamíferos maiores, como os elefantes e as baleias.

A velocidade de crescimento das dimensões corpóreas foi calculada em termos de gerações, ou seja, de número de antepassados, a fim de se comparar espécies com duração média de vida diversa (os elefantes vivem cerca de 80 anos, enquanto os ratos vivem entre 2 e 3 anos). Analisando os fósseis de mamíferos do Cretáceo foi possível estabelecer que, para se passar dos 20 gramas do rato às 6 toneladas do elefante africano adulto foram necessárias 24 milhões de gerações!

Na água, para tornar-se baleia, o tempo se reduz à metade, provavelmente porque a termorregulação das grandes massas em ambiente aquático é mais fácil, além de que elas não devem prestar contas à gravidade terrestre. A título de curiosidade, o mesmo estudo informa que a velocidade para que um grande corpo diminua o seu tamanho é dez vezes mais rápida.

QUERo SER VoCê QUANDo CRESCER!

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o trânsito de um grande paquiderme diante do balcão de recepção de um hotel não é coisa que se vê todos os dias (veja o vídeo). Mas os funcionários do Luangwa River Lodge, na zâmbia, não parecem particularmente assustados com a passagem de um

elefante africano que se dirige ao jardim onde está à sua mangueira preferida. Na época em que as frutas estão maduras, essas visitas acontecem todos os dias. Um elefante africano pode consumir, entre folhas, raízes, casca de árvores, ervas e frutas, entre

100 e 200 quilos de vegetais ao dia, sem falar nos cerca de 190 litros de água!

Durante a estação seca, esses animais se contentam com as folhas de arbustos espinhosos, como as acácias africanas. Nessas épocas, os terrenos pantanosos constituem o “ultimo recurso”, a ser procurado apenas em caso de extrema necessidade. Nessas

áreas é mais fácil encontrar elefantes idosos ou doentes, no final de suas vidas, porque a vegetação é mais macia e os exemplares idosos ou doentes quase sempre possuem poucos dentes.

VISITA à RECEpção Do hoTEL

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Um jovem leão tenta derrubar um filhote de elefante na grande reserva natural do parque Masai Mara, no Quênia. A brincadeira terminará sem maiores consequências.

os pequenos leões desmamam ao redor dos 5-6 meses de vida e serão as mães que lhes ensinarão a arte da caça. Quando as leoas percebem que seus filhotes já estão autônomos, elas os abandonam e os jovens leões terão de viver por sua própria conta.

os elefantes, diferentemente, aprendem uns com os outros. Isso foi demonstrado numa experiência realizada no Quênia. os elefantes aprenderam a reconheceram as roupas de dois grupos de pessoas que tinham em relação a eles atitudes diversas.

Quando viam um grupo de indivíduos da tribo masai, que são caçadores, fugiam para longe; quando o grupo era de camponeses, permaneciam tranquilos no mesmo lugar. Tais comportamentos eram praticados também por elefantes que nunca tinham

sofrido um ataque, o que mostra que, de alguma forma, tinham recebido a informação de seus congêneres mais experientes.

TIRA A Mão Do MEU TRASEIRo!

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Quanto come um elefante? para manter-se em boa forma cada elefante adulto come até 300 quilos de vegetais ao dia. Como consequência, produzem cerca de 250 quilos de excrementos diariamente. os machos podem chegar a 3 metros de altura e 7 toneladas de peso. Na foto, exercício de combate

entre dois jovens elefantes africanos machos.

ESSA bATATA É MINhA!

oásis . ANIMAL 13/19

Durante a gravidez é preciso manter-se em forma. Sobretudo quando a gestação dura um ano e meio e a futura mamãe – barrigão incluído – pesa 3 toneladas! por esse motivo, panang, elefanta asiática (Elephas

maximus) do zoológico Tierpark hellabrunn, de Munique, Alemanha, segue atentamente todas as instruções de Andi Fries, seu instrutor de ginástica pré-natal.

Tanto cuidado mereceu um prêmio: há pouco a elefanta deu à luz, sem maiores dificuldades, o “pequeno” Jamuna Toni – que já veio ao mundo com 112 quilos!

TERCEIRA poSIção... pLIê

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Num zoo belga, esse elefante foi flagrado no momento de um banho tonificante. Como muitos mamíferos de grande porte, os paquidermes sofrem muito com o calor. para combatê-lo, recorrem a um curioso estratagema: abanam

continuamente as grandes orelhas, dissipando o excesso de calor no corpo. Esse sistema é particularmente eficaz para o elefante africano, cujas orelhas podem alcançar dimensões extraordinárias, até 1,20 metro de largura.

FINALMENTE UM boM bANho!

oásis . ANIMAL 16/19

para resolver problemas digestivos, os filhotes do elefante de Sumatra (Elephas maximus sumatrensis), lançam mão de um método particular. Entre uma refeição e outra, comem um pouco das fezes da sua mãe, que contêm as bactérias necessárias para uma boa digestão do alimento. Esses indispensáveis bacilos “bons” se desenvolverão, com efeito, nos organismos dos elefantinhos apenas com o passar dos anos. Assim, o expediente lhes permite comer grandes quantidades de alimento sem passar mal. Na foto,

um filhote de elefante de Sumatra nascido no interior de um parque natural indonésio.

ESTÔMAgo DE FERRo

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Noppakhao, um elefante de 7 anos que vive na região de bangcoc, na Tailândia, começou sua carreira de pintor retratando flores e naturezas mortas. pouco a pouco começou a pintar coisas mais complexas – elefantes, por exemplo. Sua habilidade o tornou famoso em todo o mundo. Existe inclusive um site chamado Elephantart (www.elephantart.com) no qual paquidermes

de todo o mundo podem expor e vender suas obras de arte. Você está rindo? pois saiba que as obras de Noppakhao foram todas vendidas, por valores que alcançaram 600 dólares. Como o artista não demonstra nenhum interesse no lucro, os valores

arrecadados vão todos a um projeto para a conservação e tutela do elefante asiático.

RETRATo DE ELEFANTE

oásis . ANIMAL 17/19

Os elefantes machos periodicamente têm um ciclo chamado “murst” (que na língua híndi significa “intoxicado”, “doido”) no qual os altos índices de testosterona no sangue – até 60 vezes mais alto do que o normal – os fazem ficar tremendamente agressivos.

Embora muito estudado, o fenômeno ainda têm aspectos misteriosos. Não se sabe se ele está ligado exclusivamente ao impulso reprodutivo, já que frequentemente os machos, durante esse período, atacam e até matam as próprias fêmeas, independente do fato que elas estejam no cio ou não. Nada a ver com esse tranquilo indivíduo da foto que, em total relax, pratica automassagem contra o muro.

Se um elefante encontra-se em dificuldade, os outros do bando procuram ajudá-lo. O biólogo George Wittemyer recorda que uma ocasião,

quando havia sedado uma elefanta para colocar nela um radiotransmissor, “os outros elefantes do bando, vendo que a companheira dobrava as pernas e mal conseguia parar em pé, e acreditando que ela estivesse ferida, procuraram mantê-la em pé, sustentando-a com

as trombas e as presas”. para os elefantes a solidariedade grupal é um dos sentimentos mais importantes.

oS “DIAS DIFÍCEIS” DoS ELEFANTES MAChoS

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A foto foi realizada no parque Masai Mara, no Quênia, com o uso de um intensificador de luz estelar. As presas, ou seja os dentes caninos superiores modificados, são uma das características mais evidentes do elefante africano. Esses

dentes são fundamentais na vida desses animais, pois têm mil e uma utilidades. Servem, por exemplo, para escavar a terra em busca de água, para derrubar árvores, para transportar objetos pesados e inclusive para o combate. São também, infelizmente,

um azar na vida dos elefantes: o marfim de que são feitos atrai caçadores furtivos que anualmente matam um grande número de exemplares adultos para se apoderar das presas. os maiores clientes são comerciantes japoneses e chineses sem escrúpulos.

bANho DE LUA

oásis . ANIMAL 19/19

Sabu, uma elefanta de 26 anos outrora pertencente ao circo alemão Knie, fugiu duas vezes no mesmo mês de

junho 2010. A primeira fuga aconteceu em zurique, na Suíça: Sabu saiu correndo pelas ruas do centro

da cidade espalhando o pânico entre os passantes. A segunda evasão foi mais tranquila. poucos dias depois, na localidade suíça de Wettingen, Sabu escapou do seu

recinto sem que ninguém percebesse. Fazia calor e a elefanta queria apenas tomar um banho num riacho que passava ali perto... Foi facilmente recapturada e transferida para um zoológico. Um elefante, quando

aprende a fazer alguma coisa, não esquece nunca mais...

Existem algumas diferenças de comportamento entre os elefantes machos e as fêmeas. Estas últimas, por

exemplo, são capazes de distinguir um chamado específico entre mais de 100 indivíduos diversos.

E conseguem fazê-lo a mais de 2,5 quilômetros de distância! Isso serve tanto para reconhecer amigos e familiares, quanto para se proteger de inimigos.

Com efeito, se elas ouvem um chamado suspeito, imediatamente se reúnem, cerram fileiras e se preparam

para combater algum potencial intruso.

MINhA CASA É A RUA

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MU

ND

o

gUERRA NA SÍRIA Números que dão calafrios

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que ponto chegou a guer-ra civil na Síria? As notícias que chegam através dos te-lejornais são fragmentadas,

e não poderia ser diferente dados os rí-gidos controles existentes no país para a difusão da informação. Mas apesar de outros temas como o furacão Sandy e as eleições presidenciais norte-americanas terem mobilizado a mídia internacional nas últimas semanas, os canhões em Da-masco não pararam de atirar.

A

cerca de 40 mil morreram até agora por causa da guerra civil na síria. o conflito não dá sinal de arrefecer. mas alguns lucram alto com ele: desde o seu início, a rússia já vendeu armamentos no valor de 1 bilhão e 500 milhões de dólares ao governo de bashar el-Assad fontes: onu, bbc, reuters, al Jazeera, cbs news, the new York tiMes, agência france-Presse.

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A guerra entre o regime de Bashar el-Assad e seus opositores causou até agora 1 milhão e 200 mil fu-gitivos que tiveram de abandonar suas casas, des-truídas ou danificadas pelos bombardeios. o dobro desse número é o de cidadãos sírios – sobretudo mulheres, idosos e crianças – que, mesmo permane-cendo em suas casas, precisam de ajuda urgente – alimento, remédios, agasalhos - para sobreviver. O número de refugiados sírios nos países vizinhos também é altíssimo: entre 355 mil e 500 mil. Mui-tos solicitaram asilo político às nações europeias (17 mil só à Alemanha). Mas nem todos os governos responderam afirmativamente.

Até agora conta-se entre 30 mil e 40 mil as víti-mas fatais da guerra, metade das quais composta

“Até agora conta-se entre 30 mil e 40 mil as vítimas fatais da guerra, metade das quais composta de civis”

de civis (pelo menos 2.300 crianças). Vinte mil pessoas estão encarceradas nas prisões do regi-me ou em um dos 27 centros de tortura criados no país.

Enquanto isso, o governo de Assad já gastou um bilhão e 500 milhões de dólares na compra de ar-mamentos fornecidos pela Rússia. Alguém se es-panta, diante destes números, com o fato de ser a Rússia, junto com a China, o maior apoiador do regime de Bashar el-Assad?

a derrocada huManaDesde o seu início, em março 2011 como mais uma manifestação de protesto inspirada nos eventos da “Primavera Árabe” contra a tortura de estudantes pela produção de graffiti contra o governo do pre-sidente Bashar al-Assad, a revolta na Síria descam-bou para a guerra civil total. Com uma média de 125 mortos a cada dia e obrigando muitos milhares a buscar refúgio fora da Síria, o conflito arrasou o país e até agora não dá sinais de arrefecimento. Os números abaixo estão atualizados até o dia 15 de novembro de 2012.

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“As nações europeias receberam até agora cerca de 17 mil pedidos de asilo”

por civis, e a outra metade de militares pró-governo e guerreiros rebeldes.

Entre os números até agora acertados de vítimas fatais estão: 2.300 crianças; 369 estrangeiros; 3.696 militares que aban-donaram as fileiras das forças armadas sírias; 600 prisio-neiros; 9.000 soldados e policiais; 5 cidadãos turcos; 2 mili-tares turcos; 1 militar jordaniano.

Prisioneiros Políticos torturadosHá no mínimo 27 centros de tortura instalados na Síria pelo governo Assad. Calcula-se que desde o início dos conflitos neles foram torturados mais de 20 mil prisioneiros.

A guerra tem provocado grande impacto interna-cional e algumas doações de ajuda humanitária já foram feitas por alguns países. Os Estados Unidos doaram até agora U$ 200 milhões. A Austrália doou até agora U$ 20,4 milhões.

78% das armas usadas pelo governo sírio são supri-das pela Rússia; quase todo o restante, bem como importantes tropas de combate, é proveniente do Irã.

1 Milhão e 200 Mil deslocadosJá existem 14 grandes campos de refugiados distribuídos ao longo dois 910 quilômetros da fronteira entre a Síria e a Turquia. No momento calcula-se que cerca de 110 mil pesso-as habitam nesses campos, mas esse número cresce diaria-mente.2 milhões e 500 mil cidadãos sírios precisam de ajuda urgente para poder subsistir.

O número atual de sírios refugiados nos países vizinhos si-tua-se entre 355 mil e 500 mil.

As nações europeias receberam até agora cerca de 17 mil pe-didos de asilo, um terço dos quais à Alemanha, e o resto dis-tribuído sobretudo entre a Suécia, Áustria, Suíça e Grã-Bre-tanha. A maior parte dessas solicitações tem sido aprovada.

Hungria e Bulgária rejeitaram aproximadamente a me-tade das solicitações de asilo. A Grécia rejeitou todas elas, até julho de 2012.

Mortes estiMadasÉ extremamente difícil calcular-se o número de mortos na Síria devido à violência generalizada, pensando-se que esse número até agora varia entre 35 mil e 45 mil indivíduos. Desses, cerca de 10% foram mortos durante protestos políticos. Do restante, a metade é composta

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O valor do armamento de origem russa comprado pelo governo sírio supera U$ 1,5 bilhão.

Rússia e China foram os dois únicos membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas que até

agora vetaram todas as resoluções no sentido de incrementar a pressão internacional sobre a Síria e combater o derramamento de sangue promovido pelo governo de Assad. Na Síria existe um único par-tido político. Obviamente, ele apoia o governo Assad.

TEC

No

EU ESCUTo AS CoRESpara Neil harbisson, cor é música

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TEC

No

EU ESCUTo AS CoRESpara Neil harbisson, cor é música

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esprovido desde o nascimen-to da capacidade de ver as cores, Neil Harbisson usa um artefato protético – que

ele chama de “eyeborg”, olho eletrônico – que lhe permite ouvir o espectro das cores, até mesmo quando elas estão aci-ma ou abaixo dos limites da visão huma-na. A experiência singular que ele tem das cores determina a natureza da sua arte. No passado, antes de conhecer Alan Montandon, especialista em computa-

ção, Neil só trabalhava em preto e bran-co. Juntos, eles inventaram uma espécie de câmera para ser usada na fronte, ca-paz de transpor frequências luminosas de cor em frequências sonoras.

As obras de arte de Harbisson vão alem das fronteiras da visão e da audição. Na sua série Sound Portraits (retratos so-noros), ele ouve as cores dos rostos para criar acordes microtonais. Em City Co-lours, um outro projeto, ele expressa as principais capitais europeias em duas cores (Munique é azul e salmão rosado; Bratislava é amarelo e turquesa).

D

o artista neil Harbisson nasceu completamente cego para cores, mas atualmente um dispositivo preso a sua cabeça transforma as cores em frequências audíveis. em vez de ver o mundo em tons de cinza, Harbisson pode ouvi-lo como uma sinfonia de cores - e, sim, pode até mesmo ouvir rostos e pinturasVídeo: ted – ideas worth sPreading.

EU ESCUTO AS COREShttp://goo.gl/0Qkrv

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tradução para o português: raissa Mendes. revisão: Wanderley Jesus

Bem, eu nasci com uma condição visual rara chama-da acromatopsia, que é um daltonismo total, por isso, eu nunca vi cor, e eu não sei como são as cores, porque eu vivo num mundo de tons de cinza. para mim, o céu é sempre cinza, flores são sempre cinza, e a televisão ainda é em preto e branco.

Mas desde que eu tinha 21 anos, em vez de ver as cores, eu escuto as cores. Em 2003, eu iniciei um projeto com o cientista da computação Adam Mon-tandon, e o resultado, que mais tarde contou com a colaboração de peter Kese, da Eslovênia, e de Matias Lizana, de Barcelona, é este olho eletrônico. É um sensor de cores que detecta a frequência da cor que está na minha frente — (Sons de frequência) — e envia essa frequência para um chip instalado atrás da minha cabeça, e assim eu escuto a cor que está na minha frente através do osso, através da condução óssea. (Sons de frequência) Então, por exemplo, se eu tiver, tipo — Este é o som do roxo. (Sons de fre-quência) por exemplo, este é o som da grama. (Sons de frequência) Este é o vermelho, como tEd. (Sons de frequência) Este é o som de uma meia suja. (ri-sos) Que é como o amarelo, este aqui.

Então, eu ouço sons o tempo todo, há oito anos já, desde 2004, por isso eu acho perfeitamente normal agora ouvir as cores o tempo todo. No começo, no

entanto, eu tive de decorar os nomes de cada cor, depois eu tive de decorar as notas musicais, mas, depois de algum tempo, toda essa informação se tornou uma percepção. Eu não tinha de pensar sobre as notas. E, depois de algum tempo, essa percepção se tornou um sentimento. Eu comecei a ter minhas cores prediletas, e comecei a sonhar em cores.

Então, quando eu comecei a sonhar em cores foi que eu senti que o software e o meu cérebro estavam unidos, porque, nos meus sonhos, era meu cérebro criando sons eletrônicos. Não era o software, então foi quando eu comecei a me sentir como um cibor-gue. Foi quando eu comecei a sentir que o dispositivo cibernético não era mais um dispositivo. Ele tinha se tornado parte do meu corpo, uma extensão dos meus sentidos, e, depois de algum tempo, ele se tornou até mesmo parte da minha imagem oficial.

Este é meu passaporte de 2004. Ninguém está auto-rizado a aparecer na foto de um passaporte britânico com equipamento eletrônico, mas eu insisti com o setor de passaportes que o que eles estavam vendo era, na verdade, uma nova parte do meu corpo,uma extensão do meu cérebro. E aí finalmente eles aceita-ram me deixar aparecer com ele na foto do passapor-te.

dessa forma, a vida mudou radicalmente desde que eu escuto as cores, porque as cores estão em qua-se todos os lugares. Assim, a maior mudança, por

trAdução iNtEgrAL dA pALEStrA dE NEiL HArdiSSoN:

EU ESCUTO AS CORES

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exemplo, é ir a uma galeria de arte e poder ouvir um picasso, por exemplo. É como ir a uma sala de concertos,pois eu posso ouvir os quadros. E super-mercados, eu acho isso bem chocante. É muito, mui-to atraente andar num supermercado. É como ir a uma boate. É cheio das melodias mais diversas. (ri-sos) É verdade. Especialmente o corredor dos produ-tos de limpeza. É simplesmente fabuloso. (risos)

Além disso, a maneira como eu me visto mudou. An-tes, eu costumava me vestir para parecer bem. Agora eu me visto para “soar” bem. (risos)

por isso hoje eu estou vestido em dó maior, que é um acorde bem alegre. (risos) No entanto, se eu tivesse que ir a um velório, eu me vestiria em si menor, que poderia serturquesa, roxo e laranja. (risos)Além disso, comida, a forma como eu olho para a comida mudou, porque agora eu posso colocar a comida no prato de forma a comer minha canção favorita. (risos) Assim, dependendo da forma como eu a coloco, eu posso ouvir e posso compor música com comida. Então, imaginem um restaurante onde podemos ter, tipo, como entrada, salada Lady gaga. (risos) Quer dizer, isso provavelmente pode fazer os adolescentes comerem verduras. Sem contar alguns concertos para piano de rachmaninov como pratos principais, e algumas sobremesas Bjork ou Madon-na. Sem dúvida, esse seria um restaurante bem legal, onde a gente poderia, na verdade, comer canções.

Além do mais, a forma como eu percebo a beleza mudou, porque quando eu olho pra alguém, eu ouço

seu rosto. Assim, alguém pode ser lindo, mas soar terrível. (risos) E poderia acontecer o oposto, exata-mente o contrário. por isso, eu gosto demais de criar retratos sonoros das pessoas. Em vez de desenhar o rosto de alguém, de desenhar a forma, eu aponto para eles com o olho eletrônico e escrevo as diferen-tes notas que escuto, e daí eu crio retratos sonoros. Aqui estão alguns rostos.

(Acordes musicais)É, Nicole Kidman soa bem. (risos)

Algumas pessoas, que eu nunca achei que tivessem nada a ver, soam bem parecidas. o príncipe Charles tem algumas semelhanças com Nicole Kidman. Eles têm o som dos olhos parecido.

dessa forma, você encontra semelhança entre pes-soas que você acha que não têm nada a ver e dá até também para criar concertos olhando os rostos da audiência. Assim, eu conecto o olho eletrônico, e depois eu “toco” a música dos rostos da audiência. A coisa boa nisso tudo é que, se o concerto não soar bom, é culpa deles. Não é minha culpa — (risos)

E então outra coisa que acontece é que eu comecei a sentir esse efeito secundário de sons comuns começa-rem a se transformar em cores. Eu ouvia o toque do telefone e sentia o verde, porque ele soava exatamen-te como a cor verde. os bips da BBC soam turquesa, e ouvir Mozart se tornou uma experiência amarela.

daí eu comecei a pintar música e a pintar as vozes

EU ESCUTO AS CORES

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das pessoas, porque as vozes das pessoas têm frequ-ências que eu relaciono com as cores.

E aqui estão algumas músicas traduzidas em cores. por exemplo, “A rainha da Noite”, de Mozart, se parece com isso. (Música) Muito amarelo e colorido, porque ela tem muitas frequências diferentes. (Mú-sica) E essa é uma canção completamente diferente. (Música) É “Baby”, de Justin Bieber. (risos) (Música) É bastante rosa e bastante amarela.

Assim, vozes também, eu posso transformar discur-sos em cores, por exemplo, esses são dois discursos bem famosos. um deles é o discurso “Eu tenho um sonho”, de Martin Luther King, e o outro é de Hitler. E eu gosto de expor essas pinturas nas minhas expo-sições sem notas explicativas, e aí perguntar para as pessoas: “Qual delas você prefere?” E a maioria das pessoas muda a sua preferência quando eu lhes digo que o da esquerda é o de Hitler e que o da direita é o de Martin Luther King.

Então eu cheguei ao ponto de ser capaz de perceber 360 cores, exatamente como a visão humana. Eu me tornei capaz de diferenciar todos os graus da cartela de cores. Mas aí eu comecei a achar que essa visão humana não era boa o suficiente. Existem muito, mas muito mais cores ao nosso redor que não con-seguimos perceber, mas que olhos eletrônicos con-seguem. Então eu decidi continuar a ampliar minha percepção das cores, e adicionei infravermelho e ultravioleta à escala de cores traduzidas em som, de forma que agora eu posso ouvir cores que os olhos

humanos não conseguem perceber.

por exemplo, perceber o infravermelho é bom porque você pode descobrir se existem detectores de movi-mento numa sala. Eu posso ouvir se alguém apontar para mim com um controle remoto. E a coisa boa de perceber ultravioleta é que você pode ouvir se é um dia bom ou um dia ruim pra tomar um sol, porque ultravioleta é uma cor perigosa, uma cor que, na ver-dade, pode nos matar, então eu acho que todos nós deveríamos ter esse desejo de perceber coisas que não conseguimos perceber.Essa é a razão pela qual, dois anos atrás, eu criei a Fundação Ciborgue, que é uma fundação que tenta ajudar as pessoas a se tornarem um ciborgue, que tenta encorajar as pessoas a ampliar seus sentidos usando a tecnologia como parte do corpo.

todos nós deveríamos pensar que o conhecimento vem dos nossos sentidos, assim, se ampliarmos nos-sos sentidos, nós vamos, consequentemente, am-pliar nosso conhecimento. Eu acho que a vida vai ser muito mais emocionante quando pararmos de criar aplicativos para telefones celulares e começarmos a criar aplicativos para o nosso próprio corpo. Eu acho que esta será uma mudança importante, realmente importante, que nós vamos ver acontecer ainda neste século.

Assim eu queria encorajar todos vocês a pensar sobre quais sentidos vocês gostariam de ampliar. Eu queria encorajar vocês a se tornarem um ciborgue. Vocês não vão estar sozinhos. Muito obrigado. (Aplausos)

EU ESCUTO AS CORES