Simone elkeles [ruin 01] - como arruinar as férias de verão
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SIMONE ELKELES
How to Ruin a Summer Vacation
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Como é que uma adolescente moderna termina em uma fazenda no
meio de Israel, com seu pai quase desconhecido? Bem, nem vem ao caso
descrevê-lo.
Moshav? O que é um Moshav? Será que é shopping em hebreu?
Quero dizer, pelo que Jéssica me disse, as lojas de Israel têm as melhores
roupas da Europa. Esse vestido preto que tem é realmente lindo. Sei que
seria terrível sair para comprar com o doador de esperma, mas continuo
pensando em todas as roupas incríveis que podia trazer quando voltasse.
Infelizmente para Amy Nelson de 16 anos, Moshav está longe de
ser um shopping. Pense em cabras, não em Gucci. Ir a Israel com seu pai
quase desconhecido é a última coisa que Amy quer fazer neste verão. Amy
tem um grande rancor de seu pai a quem chama de “Doador de Esperma”
por quase não estar presente na sua vida. E que agora a está arrastando a
uma zona de guerra para que conheça uma família que nem sabia que tinha,
onde provavelmente será alistada no exército. Finalmente será presa em
uma casa sem ar condicionado e com apenas um banheiro para sete pessoas,
sem melhor amiga, sem namorado, sem shopping, sem telefone celular...
Adeus orgulho, olá Israel.
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Capítulo 1
Em questões de segundos os pais podem mudar o curso da
sua vida.
Como uma garota de 16 anos relativamente inteligente é presa em
uma situação da qual não pode sair? Bem, penso nisso enquanto estou
sentada no aeroporto internacional O’Hare em Chicago na tarde de uma
segunda-feira, durante uma hora e quarenta e cinco minutos de atraso,
pensando nas últimas 24 horas da minha nova “ferrada” vida. Estava sentada
no meu quarto ontem, quando meu pai biológico, Ron, ligou.
Não, você não entende... Ron nunca liga. Bem, a não ser que seja meu
aniversário, e isso foi há oito meses. Veja, depois de sua aventura na
universidade, minha mãe descobriu que estava grávida. Ela vinha de uma
família com dinheiro, e Ron.. Bom, ele não. Com seus pais pressionando-a,
minha mãe disse a Ron que seria melhor se não tivesse um papel importante
nas nossas vidas. Pessoal, estavam errados. Mas o pior é que ele desistiu,
sem sequer tentar.
Eu sei que ele coloca dinheiro numa conta para mim. Ele também
vem pra me levar para jantar no meu aniversário. Mas e daí? Eu quero um
pai que está sempre lá pra mim.
Ele costumava vir um pouco mais, mas finalmente lhe disse pra me
deixar em paz, assim minha mãe poderia encontrar um verdadeiro pai. Não,
sério, suponho que só estava apenas tentando testá-lo. Ele falhou
miseravelmente.
Bem, o cara ligou desta vez para dizer a minha mãe que quer me
levar a Israel. Israel! Você sabe aquele pequeno país do Oriente Médio que
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causa tanta controvérsia. Você não tem que assistir às notícias no TiVo1 para
saber que Israel é um foco de hostilidade internacional.
Sei que estou me distraindo, assim, vamos voltar ao que sucedeu.
Minha mãe me deu o telefone sem ao menos dizer “é seu pai” ou “é o tipo
com quem tive uma aventura de uma noite, mas não me casei”, para me
advertir que era ele.
— Olá , Amy. É Ron.
— Quem? — pergunto.
Não tento ser uma sabe-tudo, simplesmente não registro que o cara
que me deu 50% dos meus genes está ligando.
— Ron... Ron Barak — diz um pouco mais forte e mais lento, como se
eu fosse uma completa imbecil.
Congelo e acabo dizendo nada. Acredite ou não, às vezes dizer nada
realmente funciona a meu favor. Aprendi com o decorrer dos anos. Isso
normalmente deixa as pessoas nervosas, mas antes elas do que eu. Bufo com
força para que saiba que ainda estou na linha.
— Amy?
— Sim?
— Hum, só queria que soubesse que sua avó está doente — diz com
seu sotaque israelense.
Uma imagem anônima de uma pequena mulher de cabelos brancos
que cheira a talco de bebê e mofo, e qual objetivo na vida é assar biscoitos
com lascas de chocolate, passa brevemente pela minha mente.
1 Aparelho de vídeo que permite aos usuários capturar a programação televisiva para
armazenamento em disco rígido.
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— Não sabia que tinha uma avó — digo, acentuando o “ó” porque
Ron, como todos os outros israelenses que conheci, não podem dizer “ó”
porque esse som agudo não está na sua língua.
A minha avó materna morreu pouco depois que eu nasci, assim que
fui uma dessas garotas sem avó. Uma pontada de dor e pena de nunca saber
que tinha uma avó e agora saber que está “doente” fez-me sentir doente.
Porém empurro esses sentimentos na parte de trás da minha mente, onde
estão seguros.
Ron pigarreia.
— Ela vive em Israel. Estou indo para lá pra passar o verão. Gostaria
que fosse comigo.
Israel?
— Não sou judia — deixo escapar.
Um pequeno som, como um de dor, escapa da sua boca antes que
diga.
— Não tem que ser judia para ir à Israel, Amy.
Não é preciso ser um gênio pra saber que Israel está no meio de uma
zona de guerra. Uma zona de guerra!
— Agradeço a oferta, mas vou para o acampamento de tênis este
verão. Diga à avó que espero que melhore de sua doença. Adeus — digo e
desligo.
Quando faço isso, menos de quatro segundos se passam e o telefone
toca de novo. Sei que é Ron. Um pouco irônico, quando ele liga duas vezes
por ano e aqui está ligando duas vezes em questão de segundos.
Minha mãe atende ao telefone na sala de estar. Trato de escutar
através da porta do meu quarto. Não posso escutar muito. Só sussurros,
sussurros, sussurros. Depois de cerca de quarenta minutos, ela bate na
minha porta e me diz para fazer as malas para ir à Israel.
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— Está brincando, não é?
— Amy, não pode evitá-lo pra sempre. Não é justo.
Não é justo? Cruzo os braços na frente do meu peito.
— Desculpe, o que não é justo é vocês dois nem tentarem viver como
pais. Não fale sobre justiça.
Eu sei que tenho dezesseis anos e deveria ter superado isso, mas não.
Nunca disse que era perfeita.
— A vida não é simples, saberá quando for mais velha — disse —
Todos cometemos erros no passado, mas é tempo de repará-los. Você irá.
Está resolvido.
O pânico começa a me dominar e decido tomar o caminho pelo
sentimento da culpa.
— Vão me matar. A não ser que isso não seja a última coisa que
queira.
— Amy, pare o drama. Ele me prometeu que te manterá segura. Será
uma grande experiência.
Trato de falar por mais duas horas pra sair disso, realmente tento.
Deveria saber que tentar argumentar com minha mãe não ganharia nada,
tirando uma dor de garganta.
Decido ligar pra minha melhor amiga, Jessica. Procurando apoio e
compreensão de Jessica.
— Hey Amy, o que aconteceu? — responde uma voz alegre do outro
lado da linha. Você tem que amar o identificar de chamadas.
— Meus pais decidiram arruinar minha vida — digo.
— O que quer dizer com seus pais? Ron ligou?
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— Oh, sim, ele ligou. E de alguma maneira convenceu minha mãe a
cancelar meus planos de verão para poder me levar pra Israel. Posso
morrer?
— Hm, realmente não quer escutar minha opinião, Amy. Confia em
mim.
Franzo minhas sobrancelhas enquanto lentamente começo a
entender Jessica, minha mais querida amiga no mundo, não vai me apoiar
110%.
— É uma zona de guerra! — digo lentamente para que ela receba o
impacto.
É uma risada que escuto do outro lado da linha?
— Está brincando? — Jessica diz — Inferno, minha mãe vai à Tel
Aviv2 todo ano para fazer compras. Disse que eles têm os diamantes mais
caros que alguma vez já cortaram. Sabe aquele vestido preto que amo? Ela
comprou pra mim lá. Eles têm os melhores estilos europeus e...
— Necessito ajuda aqui, Jess, não dou a mínima para os diamantes e
as roupas — digo, cortando seu discurso de “Israel é tudo”. Deus!
— Sinto muito. Têm razão — diz.
— Nunca vê as notícias?
— Claro que Israel tem seus problemas. Mas meus pais dizem que
muito do que vemos na TV é propaganda. Simplesmente não vá a um ponto
de ônibus e lojas de café. Ron te manterá salva.
— Ah! — digo.
— Está brava comigo? — pergunta Jess. — Podia mentir e dizer que
sua vida está arruinada definitivamente. Isso faria se sentir melhor?
Jessica é a única pessoa que pode tirar sarro de mim e sair intacta.
2 Cidade de Israel.
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— Você apenas riu por um instante, Jess. Sabe que nunca poderia
ficar brava com você, é minha melhor amiga.
O que dizer da nossa relação de amizade, quando minha melhor
amiga não tem problema em me enviar para uma zona de guerra?
E, menos de vinte e quatro horas depois, estou sentada no aeroporto
esperando nosso vôo da El Al Israel Airlines iniciar o embarque.
Olho meu pai biológico, o homem quase inexistente na minha vida,
que está lendo o jornal. Ele tentou falar comigo no caminho até o aeroporto.
Eu o cortei, colocando meus fones e escutando meu iPod.
Como se sentisse que estou olhando-o, ele abaixa o jornal e olha para
mim. Seu cabelo é curto. É espesso e escuro, como o meu. Sei que se fosse
maior seria encaracolado, também. Tão difícil como é, desembaraçar meus
cabelos todas as manhãs. Não gosto do meu cabelo.
Os olhos da minha mãe são verdes, os meus são azuis. As pessoas
dizem que meus olhos são de um resplendor azul brilhante. Considero que
meus olhos são o meu melhor recurso. Infelizmente, o mais importante que
herdei da minha mãe foram peitos grandes. Além de mudar meu cabelo,
gostaria de ter peitos menores. Quando jogo tênis, eles ficam no caminho.
Alguma vez já tentou um revés a dois3 com peitos grandes? Eles seriamente
deveriam ter vantagens no tênis para pessoas com peitos grandes.
Quando for mais velha talvez consiga uma redução. Jessica me disse
uma vez que durante uma redução de mama, o médico corta e retira toda a
auréola.. Você sabe, essa parte rosada no meio do seio, e então, depois de
tirarem todo o excesso, eles a colocam de volta no lugar. Não creio que goste
de minhas partes rosadas separadas do restante.
Enquanto penso em auréolas separadas, me dou conta que Ron ainda
me olha. Olhando para a expressão do seu rosto provavelmente pensa que
estou chateada com ele. Provavelmente não posso explicar que estou
pensando em partes rosadas separadas.
3 Passe de jogo de tênis. É quando, por exemplo, um jogador segurando a raquete com a mão direita tem
que rebater uma bola ao seu lado esquerdo, tendo que posicionar a raquete em frente ao peito.
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De toda forma, ainda estou brava com ele por me trazer para esta
viagem estúpida em primeiro lugar. Graças a ele, tive que abandonar o
acampamento de tênis neste verão. O que significa que possivelmente não
estarei na equipe do colégio quando as audições começarem em outubro.
Totalmente quero participar da equipe do colégio.
Para piorar a situação, Mitch, meu namorado, nem sequer sabe que
fui embora. Ele foi acampar com seu pai por algumas semanas em umas
férias “livres de celulares”. Todavia, ainda é um relacionamento novo. Se não
estivermos juntos o resto do verão, ele poderá encontrar alguém que esteja
lá para ele.
Não sei por qual razão Ron quer que eu vá com ele. Eu nem gosto
dele. Provavelmente minha mãe me queria fora de casa para que ela pudesse
ter privacidade com seu último homem. Seu atual namorado, Marc com “c”,
acredita que é o único. Como se fosse. Não se dá conta de que uma vez que
ela encontrar alguém maior, ou melhor, ele estará fora do jogo?
— Vou ao banheiro — digo a Ron.
Realmente não tenho que ir, mas pego minha bolsa e caminho pelo
corredor. Quando saio da visão de Ron, pego meu telefone celular e continuo
andando. Mamãe me deu um telefone “só para emergências.”
Definitivamente sinto uma emergência chegando.
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Capítulo 2
Ficar dentro de um avião durante doze horas deveria ser
proibido.
Caminho pelo corredor e ligo para Jessica.
— Por favor, você tem que estar em casa. — Rezo enquanto vejo
através das janelas aviões parados no estacionamento. Normalmente não
rezo, não está na minha natureza. Porém tempos desesperados pedem
medidas desesperadas e eu sou flexível. Bem, às vezes.
— Amy?
Sinto-me melhor ao escutar sua voz.
— Sim, sou eu. Meu vôo está atrasado.
— Diga-me, você ainda está louca?
— Sim. Diga-me outra vez, porque eu não deveria estar preocupada?
— Amy, não vai ser tão ruim. Se houver algo que eu possa fazer...
É a hora de dizer a Jess meu plano. Acabo de pensar nisso.
— Tem uma coisa...
— O que é?
— Venha até o aeroporto. No Terminal Internacional. Eu estarei
escondida ali, hm, vem ao Air Ibéria. Espere-me ali.
— Então, o quê?
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— Depois de algum jeito conseguirei ir ao acampamento de tênis e..
Oh, não sei se Ron quer que eu seja uma filha perfeita, mas ele é o pai mais
horrível que alguma vez...
O celular é arrancando da minha mão, cortando o discurso de “pai de
merda”. O ladrão, é claro, não é outro a não ser o próprio pai de merda.
— Hey, me devolva ele! – digo.
— Olá. Quem é? – Ron grita no telefone como um comandante do
exército com um impedimento de fala.
Não posso ouvir Jessica. Espero que ela não fale para ele.
— Jessica, ela te ligará quando puder — diz, e em seguida desliga o
telefone.
Nem sequer me deu a oportunidade de ligar pra Mitch para que
saiba aonde fui no verão.
— Por quê? Por que quer estragar meu verão me levando pra Israel?
Ele guarda o telefone no bolso de trás da sua calça.
— Porque quero que conheça sua avó antes que seja tarde demais.
Por isso.
Assim, isso não tem nada a ver com Ron querer me conhecer e
passar algum tempo comigo. Não, de agora em diante, quero que seja o pai
que sempre deveria ter sido.
Não deveria estar desapontada, mas estou.
— Dirijam-se para o vôo 001 de El Al à Tel Aviv com escala em
Newark. — Uma voz com sotaque israelense continua falando através do alto
falante.
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— Os passageiros das fileiras trinta e cinco e quarenta e cinco
tenham seus cartões de embarque e passaportes para mostrar aos
funcionários, por favor.
— Te direi algo – diz Ron. — Devolverei o telefone se cooperar e
entrar no avião. Pode tentar? — Como se tivesse outra opção.
— Ok — digo e estendo minha mão. Pelo menos tenho minha
pequena conexão com a sabedoria e a independência.
Ele me entrega o telefone, e relutantemente, eu o sigo até o avião.
Ron e eu somos resignados para a fila sessenta, a última fila. Tenho um
minuto de felicidade, porque ninguém sentará atrás de mim, assim posso
descansar confortavelmente durante dozes horas até chegar a Tel Aviv. A
menos, é claro, que uma bomba seja plantada no avião ou terroristas nos
assaltem e nos matem antes que cheguemos à zona de guerra. Quando penso
em terroristas no avião, olho pra Ron.
— Ouvi falar que chefes da polícia aérea estão em todos os vôos da El
Al — digo e empurro minha mala embaixo do banco a minha frente. — É
verdade?
Não lembro de alguma vez ter começado uma conversa com Ron
antes, e ele parece aturdido. Olha ao redor para ver se estou falando com
outra pessoa antes de responder.
— El Al sempre tem chefes de polícia aéreos.
— Quantos? — Porque se houver apenas um chefe de polícia aéreo
contra cinco terroristas, a polícia aérea estará perdida.
— Muitos. Não se preocupe, a segurança da El Al é insuperável.
— Uh huh — digo não muito convencida. Quando olho à minha
esquerda, vejo um cara com uma sobrancelha levantada que parece muito
suspeito. O Sr. Apenas-uma-sobrancelha sorri para mim.
Seu sorriso desaparece quando percebe que Ron o está olhando.
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Depois de tantos anos com Ron agindo como uma figura de “apenas
aniversários”, sinto que não tem nenhum direito de dizer que é meu pai.
Quando era pequena e vinha para me levar para a minha saída de
aniversário anual, adorava o chão que ele pisava. Era como um super-herói
que concedia cada um dos meus desejos e me tratava como uma “princesa
por um dia”.
Porém quando me dei conta que um pai na realidade deveria estar
ali para você todos os dias, comecei a ressentir-me dele. No ano passado eu
realmente explodi com ele. Fugi de casa, deixando um bilhete pra minha mãe
avisando que tinha saído com amigos, e que voltaria à noite.
Minha mãe não é fácil. Ela descarta homens por esporte. Mas o que
eu sei de Ron, é que ele já foi uma vez comandante das Forças de Defesa
Israelense. Um comandante que foi covarde demais para lutar pelo
casamento com uma mulher que engravidou não vale muito no meu livro.
Eu não vou ser como minha mãe quando for mais velha. Não serei
como Ron tampouco.
Pouco depois aterrissamos em Newark para pegar mais passageiros.
Eu nunca havia comido sardinha, mas quando as pessoas começaram a
ocupar cada espaço vazio do avião, os pequenos peixes asquerosos vieram à
minha memória. Minha mente estava perturbada por ver quantas pessoas
entravam no avião para voar pra um lugar que está na lista de alerta aos
cidadãos americanos.
Enquanto decolamos, empurro aquele pequeno botão para reclinar
meu banco porque começo a ficar cansada. Percebo rapidamente que desde
que estamos na última fileira, os bancos não se reclinam. Bem, agora isto não
é engraçado. Este não é um vôo curto para Orlando. Este é um vôo de doze
horas para um lugar que não quero ir, em primeiro lugar, para encontrar
uma avó doente que eu nem sequer sabia de sua existência, em primeiro
lugar. (Estes são dois pontos, eu sei, mas neste momento da minha vida, tudo
o que me incomodava e estava em segundo lugar... especialmente agora,
tomou o primeiro lugar.)
Continuo tentando e forço o banco para reclinar-se pela quinta vez e
a pessoa na minha frente se reclina totalmente, agora praticamente só tenho
espaço para as minhas pernas, esse sentimento na boca do meu estômago
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me fez querer chorar. Eu não posso fazer nada. Odeio este avião, odeio
minha mãe por me obrigar a ter essa viagem estúpida, e odeio Ron por quase
todo o resto.
Depois de algumas horas consigo me levantar para ir ao banheiro,
esta vez de verdade. Infelizmente, pelo menos uma centena de pessoas já
havia utilizado e o chão estava coberto de pedaços de papel higiênico. Além
do mais o chão está cheio de pequenas gotas. Será urina ou água? Meus
sapatos Dansko4 não estão acostumados a serem submetidos a tais abusos.
Volto ao meu lugar e, para minha surpresa, sou capaz de pegar no
sono mesmo que em posição vertical. O sonho é o momento de felicidade
pura. O capitão apaga as luzes e logo fecho meus olhos.
Alguém grita, e de repente sou acordada do país dos sonhos. Justo na
minha frente, praticamente na minha cara, está um judeu hassídico5. Você
sabe, um daqueles caras que vestem um chapéu preto e um casaco, cabelos
longos, bigode e costeletas no rosto quase chegando ao pescoço. Jessica (ela
é judia) me disse uma vez que são ultra, ultra religiosos e que tratam de
seguir as seiscentas, ou algo assim, regras de Deus. Custa-me muito seguir as
regras da minha mãe, pra não falar das seiscentas de Deus.
Demoro um minuto para perceber que seus olhos estão fechados e
que está orando. Porém ele não está orando no seu assento, está orando
praticamente à direita do meu assento. Se balança, com os olhos fechados, e
seu rosto está totalmente concentrado. Na verdade, quando meus olhos se
ajustam à escuridão, me dou conta de que todos os judeus hassídicos
reuniram-se na parte de trás do avião para orar.
Percebo, porém, que as orações de todos soam mais como uma
música mesclada com sussurros. Eles podem até não estar orando. Mas,
então, um dos homens, que acredito ser o líder, diz algumas palavras em voz
alta e todos respondem e seguem fazendo sua canção entre dentes. Sim,
estão orando.
Será que todos têm que fazer ao mesmo tempo?
4 Marca de sapato.
5 Membro do hassidismo, um movimento religioso ortodoxo e místico dentro do judaísmo.
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E o que são essas listras ao redor de suas mãos e braços ou aquele
quadro na frente?
Agora que olho com mais atenção, admiro esses homens por serem
tão dedicados a sua religião, orando ao invés de dormir. Não me entendam
mal, os admiro, mas não faria isso.
Olho Ron, dormindo profundamente. É um homem bonito, se você
gosta do tipo escuro, um tipo mediano. Embora para mim não seja. Minha
mãe é de pele clara com cabelos loiros e olhos verdes. Possivelmente estava
na sua fase “oposta” quando ela e meu pai se conheceram naquela fatídica
noite.
Pergunto-me se Ron desejava que eu não nascesse. Se ele tivesse
optado por ficar no dormitório do seu primo na Universidade de Illinois, ao
invés de seguir minha mãe para sua casa de irmandade há dezessete anos
atrás, então, não teria sido preso com uma garota que o incomodava.
Seus olhos se abrem de repente e me recosto no meu banco, fingindo
que estou tentando ver algo na televisão que está na minha frente sem os
fones de ouvido nas orelhas. Tenho algo de bom pra dizer do avião de El Al
Israel, eles têm telas de televisão integradas na parte de trás de cada
assento. Um milagre mesmo.
— Penso que gostará – diz Ron. — Mesmo que eu tenha vivido nos
Estados Unidos durante dezessete anos, Israel sempre será parte de mim.
— E... — digo.
— E sua avó vai querer ser parte de você também. Não a desaponte.
Viro-me e lhe dou minha famosa encarada, a qual meu lábio superior
se torce na quantidade certa.
— Deve estar brincando. Não desapontá-la. Eu não sabia que ela
existia até antes de ontem. E se eu me decepcionar? Se você não se esqueceu,
ela não foi uma avó amorosa.
Acredite, conheço pessoas que tem avós carinhosas. A avó de Jessica,
Pearl, gastou quatro anos tecendo uma manta. Quatro anos! E logo depois
começou a sofrer de artrite.
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Eu me pergunto o que a avó Pearl pensaria se soubesse que Jessica
perdeu sua virgindade com Michael Greenberg sob a manta que ela gastou
trabalhando quatro anos com os dedos tortos.
Ron suspira e volta à atenção a pequena tela de televisão pessoal.
Noto que não está usando os fones, também. Encosto-me. Há um largo
silêncio, acho que se eu olhar o encontrarei dormindo novamente.
— Como a chamo? — pergunto, sem deixar de olhar a tela na minha
frente.
— Ela gostará que a chame de Safta. Significa avó em hebraico.
— Safta — digo a mim mesma em voz baixa, vendo com o som da
palavra sai da minha boca. Olhando para o doador de esperma, me dou conta
que está assentindo com a cabeça. Levanta seu queixo e me dá um pequeno
sorriso, como se estivesse orgulhoso. Ugh!
Olhando para frente, coloco minha televisão pessoal no canal que
mostra quanto tempo falta para chegar a Israel. Quatro horas e cinqüenta e
cinco minutos.
Neste momento os judeus hassídicos já voltaram aos seus lugares.
Fecho novamente meus olhos, agradecendo que foram dormir. Antes que eu
perceba, a aeromoça diz algo em hebraico. Espero que a informação se
repita em inglês.
— Daqui a pouco estaremos aterrissando em Tel Aviv, por favor,
coloquem seus bancos em posição vertical.
Notícia de última hora, meu assento já tem estado em posição
vertical todo o vôo de doze horas!
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Capítulo 3
Não sou grosseira, apenas sou uma
adolescente com atitude.
A oficial de Imigração do aeroporto Bem Gurion em Tel Aviv
pergunta a Ron (que tem dupla nacionalidade: israelense e americana) quem sou.
— Minha filha — diz.
— Está registrada como cidadã israelense? — pergunta.
A mulher está brincando? Eu? Uma cidadã israelense? Embora
quando olhe para o rosto sério da oficial de Imigração, entre em pânico. Já
ouvi falar de casos de garotos americanos que são pegos nos países do
Oriente Médio e que não são permitidos voltarem. Não quero ser israelense.
Quero ir para casa, agora mesmo!
Dou a volta, andando em direção ao avião. Esperando que o capitão
me permita voltar... Irei dentro do avião, dentro de uma mala, dentro de uma
maldita mala que carrega animais. Só me tire daqui!
Quase estou na porta. A liberdade está na minha frente quando sinto
uma mão em meu ombro.
— Amy — diz o familiar tom melancólico da voz de Ron atrás de
mim.
Viro e o enfrento.
— Não vão me deixar voltar pra casa, certo? Você me sequestrou pra
este país que quer que eu seja uma cidadã. Oh, Deus. Eles fazem com que
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todos, inclusive garotas, sejam mandadas para o exército com dezoito anos,
certo? Escutei isso, não tente me enganar.
Sei que estou soando como uma louca de dezesseis anos agora
mesmo, minha voz está um oitava mais alta que o normal. Não posso evitar e
continuo falando.
— Vai me fazer ficar aqui e serei recrutada no exército, não?
Eu posso vê-los trocando as minhas Abercrombie & Fitch6 por
uniformes. Meu coração está batendo rápido e pequenas gotas de suor
começam a escorrer pelo meu rosto. Juro que não são lágrimas e sim gotas
de suor.
— Ron, para ser honesta, nem tenho certeza que seja sua filha.
Alguma vez fez um teste de paternidade? Porque vi uma foto de um cara com
quem minha mãe saiu na Universidade, que era quase igual a mim.
Ron mira o teto e solta um suspiro. Quando volta a me olhar, seus
olhos marrons estão mais escuros que o normal. Sua mandíbula se aperta
com firmeza.
— Não se preocupe Amy. Está fazendo uma cena.
— Amigo — digo duro, tentando controlar minha voz. Agora sou
como Angelina Jolie, na parte do filme onde ela chuta a bunda de todo
mundo que cruza com ela. — Nem sequer comecei a fazer uma cena.
Um soldado com uma metralhadora muito, muito grande caminha
entre as pessoas. Tem a cabeça quase raspada e posso dizer somente o
olhando que tem um dedo no gatilho. Fantástico, minha vida está acabada,
vou ser presa num país de terceiro mundo pelo resto dos meus dias... que
provavelmente estão contando desde agora.
— Mah carrah? — fala o soldado a Ron em hebraico. Soa mais como,
“Macarena” ou “Mata a Amy?” para mim.
— há’kok b’ seder — responde Ron.
6 Marca de roupas.
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Nunca pensei que lamentaria não saber hebraico. No colégio, peguei
espanhol.
Meu coração, no entanto está batendo acelerado quando pergunto:
— O que está dizendo? O que está acontecendo? — Tenho medo da
resposta, mas trato de ser valente para poder dizer aos Agentes do Serviço
Secreto toda a informação que obtiver antes de escapar. O Governo
Americano vai querer saber o que está acontecendo aqui, estou segura disso.
— Não é uma cidadã israelense — diz Ron. — E não será recrutada
em nenhum exército.
— Então, o que disse o soldado?
— Perguntou-me o que está errado e lhe disse que tudo estava bem.
Isso é tudo.
História provável, acredito. Porém volto ao encontro da senhora da
Imigração, sobretudo porque ele agarrou meu braço com força. Ele fala com
a mulher em hebraico desta vez, provavelmente para assegurar que eu não
entenda. Pelo que sabemos, está negociando um acordo para me vender
para ser escrava infantil. Às vezes me considero bastante atualizada sobre os
acontecimentos mundiais, na verdade nunca ouvi falar da escravidão infantil
israelense.
Pouco depois, a mulher pega meu passaporte (minha mãe havia
conseguido com propósitos de emergência havia um ano e a tonta aqui,
aceitou, pensando que ela estava secretamente planejando me levar à
Jamaica ou às Bahamas) e nos dirigimos à área de bagagens. Só temos que
caminhar doze passos antes de chegarmos lá.
— Venha, irei conseguir um carro — ordena Ron.
— Esperarei aqui — digo, por que quero que ele saiba que me recuso
a seguir as ordens dele.
Ele cruza seus braços sobre o peito.
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— Amy, com o drama que acaba de fazer ali atrás não vou interpretar
um pai que confia em você neste momento.
Estou sem saída, mas não posso resistir.
— Não tem sido bom interpretando um amoroso pai, tampouco. —
digo, as palavras passando pela minha língua como se alguém estivesse me
fazendo dizê-las. Que tipo de pai pode interpretar Ron? Você sabe, para que
eu possa reconhecer quando o vir.
Ron não se mostra muitas vezes irritado, mas mesmo com a pequena
quantidade de tempo que passei com ele, sei os sons que faz ou as mudanças
respiratórias quando algo está entalado na sua garganta.
— Não acredite que é velha demais para ser castigada, mocinha.
Tenho meu famoso ar depreciativo preparado.
— Uma pista, Papai Querido. Estar aqui com você já é castigo
suficiente.
Na maioria das vezes não sou tão grosseira, de verdade, não sou.
Porém meu ressentimento em relação à Ron e a insegurança a respeito do
seu amor paternal me fazem atuar como uma cadela. Eu nem sequer sou
consciente disso metade do tempo. Suponho que se sou grosseira com ele,
estou dando uma razão para não me amar.
Mudança no padrão respiratório.
— Espere. Aqui. Ou. Do. Contrário... — diz.
Ele vai embora, mas eu não posso ficar aqui. Olho o aeroporto e meus
olhos se concentram em uma das coisas que a maioria dos adolescentes não
consegue resistir: Uma máquina de Coca-Cola. (Insira música de Harpa aqui,
porque é isso que está tocando na minha cabeça).
Caminho no meio das pessoas como se estivesse em transe. Coca-
Colas geladas estão me chamando. — Amy, Amy, Amy. Sei que você está
irritada e quente. Amy, Amy, Amy. Sei que está suando como um porco
nojento. Amy, Amy, Amy. Resolverei seus problemas.
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Toco a máquina de Coca-Cola e imediatamente me tranquilizo. Estou
pronta pra colocar meu dinheiro na abertura e pela primeira vez em vinte e
quatro horas sinto um sorriso vindo. É reconfortante que até mesmo a Coca-
Cola está disponível no Oriente Médio. Logo, olho o preço. Meu vício de
Coca-Cola está a ponto de custar-me uma quantidade considerável de
dinheiro.
Minha boca se abre e dou um pequeno grito.
— Sete dólares e oito centavos?! Isso é um roubo!
— Esse preço é em shekels7 — diz uma mãe com acento israelense e
dois filhos pendurados nela. — Sete shekels e oito ah-goo-roat.
— Shekels? Ah goo-roat? — Não tenho shekels. E estou segura como
o inferno que não tenho ah-goo-roats. Ou cabras8 se foi isso que ela disse.
Tenho apenas dólares americanos, mas encontro um cartaz que
indica que um banco se encontra no aeroporto. Sigo o cartaz, andando
diretamente a ele. Ele é do outro extremo do terminal. Se me apressar, Ron
nem sequer notará que saí.
No entanto quando chego ao banco, há uma fila. Para piorar a
situação, o maior grupo de preguiçosos está na minha frente. Deveria
retornar para a área de bagagem, mas não quero perder meu lugar na fila. Se
somente essas pessoas fossem um pouco mais rápidas, teria meus shekels e
ah-goo-roats para minha Coca-Cola rapidamente.
Quando olho no relógio, me pergunto quantos minutos estou
esperando. Dez? Vinte? É tão fácil perder a noção do tempo. Finalmente, sou
a próxima. Pego minha nota de vinte dólares e entrego ao amigo banqueiro.
— Passaporte? — diz.
— Só quero trocar esse dinheiro — digo.
7 Dinheiro israelense.
8 Cabra em hebraico é “goats”. Por isso a confusão com o “ah-goo-roats”.
23
— Sim, entendo. Preciso do seu número de passaporte para trocá-lo.
— Meu... Pai o tem. — digo. Ron pegou depois que não era mais
necessário para que não perdesse. — Não pode simplesmente dar-me
shekels sem ele?
— Não. Próximo — diz, enquanto devolve minha nota de vinte
dólares e olha atrás de mim para o próximo cliente.
Minha boca fica aberta. Perdi todo esse tempo por uma Coca-Cola e
mesmo assim não terei uma. Incrível.
Caminho de volta à área de bagagens e encontro Ron. Está falando
com dois soldados e quando me vê, minha primeira reação é correr na
direção contrária. Não fiz nada de errado. Sim, ele disse que esperasse, mas
juro que pensei que seria apenas um minuto.
Chame de intuição adolescente, mas de alguma maneira não penso
que Ron escutará minha explicação com uma mente aberta. Diz algo aos
soldados e logo caminha na minha direção, deliberadamente lento. Penso
que está demorando tanto porque é muito provável que esteja pensando nas
maneiras que pode me desmembrar e matar. Ensinam Desmembramento
101 na escola de comando?
Ron finalmente me alcança e preparo a mim mesma. Soa como “arrr”
e “yuh” saindo da sua boca, mas depois se volta dando alguns passos para a
esteira de bagagens pegando as nossas malas. Percebo que nossas malas são
as últimas que sobraram. Ele as pega e coloca num carrinho como se
pesassem dois quilos.
Minha mala estava acima do peso permitido. Sei disto porque ele
teve que pagar mais de cem dólares pelas malas extras para que subisse no
avião. Nota para mim mesma: Ron é muito forte.
Continuo olhando-o, esperando sua ira chegar. Acredite, sei que está
chegando. O que dá medo é que está demorando pra chegar. Um pai
previsível é bom. Por outro lado, um pai imprevisível é o pior pesadelo de
um adolescente.
24
Agora Ron vai em direção à área marcada com “saída” empurrando o
carrinho com nossas malas. E eu, no entanto estou parada aqui, meus pés
plantados no chão deste aeroporto estranho. Justo agora percebo que meu
querido pai simplesmente me deixou pra trás.
Maldição.
Normalmente esperaria tanto quanto pudesse e o faria suar.
Deixaria-o pensar que nunca iria segui-lo. Porém quando olho os soldados
que agora estão andando na minha direção, viro as costas e ando em direção
à saída.
Adeus orgulho, olá Israel.
25
Capítulo 4
Mudanças me dão coceiras.
Vejo Ron através dos carros parados. Ele nem ao menos está
preocupado comigo ou vendo se o estou seguindo. Paro na frente dele, mas
ele não reconhece minha presença.
Bufo com força.
Ele continua sem notar-me.
A mulher do departamento lhe entrega uma chave e fala algo em
hebraico. Ele lhe sorri, dizendo.
— Todah.9 — E começa a puxar o carrinho com nossas malas dentro.
— Desculpe-me ok? — digo. — Agora pare de me ignorar.
Ele se detém.
— Alguma vez te ocorreu que eu poderia estar preocupado com
você?
Podia mentir, mas que bem isso faria?
— Francamente, não — digo.
Ele passa as mãos pelo seu cabelo. Porque homens fazem isso
quando estão frustrados? Por acaso pensam que serão mais homens? Eu sei
por que as mulheres não fazem. Elas desarrumariam os cabelos que
9 Obrigado em hebraico.
26
demoraram meia hora para arrumar, por isso. E também as mulheres não
têm pretensões de serem homens.
— Vamos — diz. — No momento que alcançarmos Moshav estará
escuro.
— Moshav? O que é um Moshav? Será que é shopping em hebraico?
Quero dizer, pelo que Jéssica me disse, as lojas de Israel têm as melhores
roupas da Europa. Esse vestido preto que tem é realmente lindo. Sei que
seria terrível sair para comprar com o doador de esperma, mas continuo
pensando em todas as roupas incríveis que podia trazer quando voltasse.
É engraçado, quando penso no shopping, esqueço as bombas
terroristas que poderiam estar lá.
À medida que passamos pela avenida em nosso Subaru10 alugado, é
fácil esquecer que esta é uma zona de guerra. Parece uma avenida no meio
do Novo México ou algo assim.
Quando chegamos à área de Tel Aviv, o caos no trânsito começou. Eu
olho pela janela os edifícios. Ron aponta para a direita.
— Essa é a torre Azrieli. É o edifício mais alto no Médio Oeste — diz
orgulhosamente.
Talvez seja bom ter um bom olho de boi11 sobre ele.
— Que ótimo alvo terrorista — murmuro, mas logo percebo que Ron
me olha de lado.
— Bem, isso é. — Espero que esteja bem protegido, porque 11/912
mudou todos os americanos que conheço. Eu olho para fora enquanto
passamos os edifícios de alta tecnologia com nomes de companhias
americanas neles.
— Israel não se parece com um país de terceiro mundo — digo.
10
Marca de carro. 11
Acho que ela quer dizer sobre aquela lâmpada no alto do prédio para sinalizar a altura do edifício. 12
Referindo-se ao ataque terrorista aos EUA em 11 de setembro de 2001.
27
— Ela não é um país de terceiro mundo.
Ela? Israel é “ela”? Bom, ela é muito moderna. Na verdade, o tráfego
parece como se estivéssemos voltando para casa. Enquanto isso, dou-me
conta rapidamente que os israelenses precisam ir à escola por esse caminho
feio.
Todos estavam gritando pelas janelas e mostrando o dedo uns para
os outros. Eu grito quando uns grupos de pessoas que estão em scooters e
motocicletas entram no meio dos carros. Eles nem sequer estão andando na
linha; eles estão dirigindo sobre elas!
— Estamos neste carro há uma hora. Quando vamos chegar? — lhe
digo.
— Daqui uma hora ou algo assim.
— Não me respondeu. O que é um moshav? É um shopping ou algo
assim?
Ele ri e começo a achar que um moshav não é um shopping.
— Já escutou alguma vez sobre um kibutz? – me pergunta.
— Você se refere às comunidades onde vivem pessoas e
compartilham tudo? Escuta, se está me levando à uma dessas comunidades
saudáveis...
— Por que sempre faz isso?
— Isso o quê?
— Exagerar.
— Para sua informação, eu não exagero. Mamãe exagera,
especialmente quando trato de chegar em casa logo depois do meu toque de
recolher. Oh, sim, você não sabe disso porque não está lá — digo
sarcasticamente.
Silêncio.
28
— Então, porque não vem viver comigo por um tempo? — Me
desafia.
Eu, viver com ele?
— Tem namorada? — pergunto. Quero que diga que não porque
tenho planos pra ele e minha mãe. E será mais fácil se não houver restrições.
— Não. Você tem namorado?
Ok, espere um segundo. Quando ele começou a fazer perguntas?
— Talvez.
— Amy, quando vai aprender a confiar em mim? Não sou seu
inimigo, você sabe.
— Então, me diga o que é um moshav.
— Um moshav é uma comunidade muito unida. É similar ao kibuts,
mas cada um possui seu território e propriedades. O dinheiro tampouco se
compartilha ou não.
Ainda soa como uma comunidade para mim.
— Espero que não fiquemos lá por muito tempo — digo. — Eu tenho
que tomar um banho de hotel e desfazer minhas malas. Tenho coisas nela
que provavelmente estão derretendo nesse calor.
— Não iremos ficar num hotel – diz.
Agora eu vou exagerar.
— O quê? — digo muito alto.
— Nós ficaremos com sua tia, tio, primos e Sofia. — Faz uma pausa.
Sei o que vê, eu sei. Porém não estou mentalmente preparada quando ele
acrescenta. — No moshav.
29
— Vamos esclarecer as coisas Ron. Sou uma garota completamente
americana com sangue vermelho, branco e azul correndo pelas minhas veias.
Eu não fico em lugares chamados moshavs. A menos que tenha me inscrito
para as garotas Scouts(bandeirantes), o que eu nao fiz. Eu preciso de
serviços. Serviços! Sabe o que é isso?
— Sim. No entanto não espere muito de onde vamos. A última vez
que visitei, só uma família tinha eletricidade e era a minha.
Abro o porta-luvas do carro.
— O que está fazendo? — pergunta Ron.
— Buscando um mapa para assim saber que direção tomar quando
escapar do moshav — respondo.
Ele ri.
— Ha, Ha, engraçado, muito engraçado. Não acredito que parecerá
engraçado quando acordar um dia e se dar conta de que eu voltei à
civilização.
Ron me deu uns tapinhas no joelho.
— Estava brincando, Amy. Eles têm eletricidade.
Brincando? Ron estava brincando comigo?
— Sabia que era brincadeira. Acredita que sou tão crédula?
Ele não responde, mas sei que sabe a verdade pelo modo que sua
boca se move.
— Vai dar-me as chaves para que possa ir sozinha ao shopping?
— Me desculpe. Mas a idade para dirigir aqui é somente com dezoito.
— Quê?!
30
— Eu te levarei aonde quiser. Não se preocupe. E também, se você se
perder não saberá como voltar.
Ótimo, penso comigo mesma. Perder soa como uma grande ideia.
Concordo e olho pela janela. De um lado do carro está o mar mediterrâneo e
no outro lado há montanhas com casas construídas ali. Se estivesse de
melhor humor talvez pensasse que essa paisagem era bonita, porém estou
irritada, cansada e minha bunda está dormente.
Começo a fazer meus exercícios de glúteos. Estava vendo um show
tarde da noite, há alguns anos atrás, quando uma estrela de ação, talvez
Seagal ou Antonio Banderas, estava falando como fazia exercícios de glúteos
quando estava em um carro. Apenas apertar, logo relaxar. Apertar. Relaxar.
Apertar. Relaxar. Estou “sentindo que queima”, mas logo depois de dez
minutos minhas nádegas começam a doer por estar apertando e relaxando,
assim deixo de fazer.
Por agora, damos uma distância do mar e tudo que nos cerca são
pequenas árvores enfileiradas.
— O que é isso? — pergunto.
— Oliveiras.
— Odeio oliveiras.
— Eu as amo.
Eu imagino.
— Espero que não seja desses cuspidores.
— Huh?
— Você sabe, essas pessoas que cospem as sementes na mesa na
frente de todos. É totalmente desagrádavel.
Ele não responde. Poderia apostar a roupa de baixo da mãe de Ron
que ele era um desses.
31
— Gosta de que tipo de comida? — me pergunta — Estou seguro que
posso consegui-la.
— Sushi.
— Se refere ao peixe cru? – pergunta, fazendo uma careta.
— Sim.
Eu costumava odiar. Quando minha mãe me deu pra provar, tive
nauseas e cuspi. (Em um guardanapo, muito discretamente tenho que dizer,
bem diferente daqueles que cospem as sementes de azeitonas).
Minha mãe ama sushi. Eu acredito que é como o álcool. Quer vomitar
a primeira vez que experimenta, mas logo você cresce e gosta. É por isso que
dizem que há uma linha tênue entre o amor e o ódio. Agora não só gosto de
sushi, como o desejo. Ron definitivamente precisa ser apresentado ao sushi
com uma comedora profissional como eu.
Agora estamos dirigindo através das montanhas em uma estrada
com várias curvas e estou ficando tonta. A última vez que vi a civilização foi
há cerca de quinze minutos. Descemos um morro e paramos em uma estrada
que nos leva à outra. Eu li um cartaz com as palavras “Moshav Menora” em
inglês e outras palavras em hebraico.
Ron toma a estrada para Moshav Menora. Agora o local se parece
com a Suíça, com algumas montanhas cobertas de relva que nos cercam por
todos os lados. Ele para em uma parada de descanso cênica construída na
montanha.
— Isso é tudo? — pergunto.
Ele se vira para mim e tira a chave da ignição.
— Estes são os Altos de Golan, um lugar muito especial e bonito.
Vamos apreciar a vista.
— Tenho que fazer? — pergunto. — Tenho que ir ao banheiro.
32
— Pode aguentar um pouco mais? Realmente preciso falar com você
antes que conheça a minha família.
Eu tinha que ouvi-lo. Abri o carro e saí. Caminhamos em silêncio até
a borda da montanha. Quando olho ao longo da borda, me lembro de uma
cena de cartão postal.
— Eles não sabem de você — Ron exclama.
Huh?
— Quem não sabe sobre mim?
— Minha mãe, meu irmão e sua esposa...
Uma pontada de dor se crava no meu peito como se o estivesse
atravessando. Meu coração começa a bater mais rápido e minha respiração
se torna pesada.
— Por quê? — sussurro, apenas pra que entenda as palavras.
— É complicado — diz, então olha pra longe de mim. — Você sabe,
quando fui para a América queria provar a todo mundo que tinha
conseguido. Você sabe, o sonho americano.
— E você não esperava que eu chegaria e arruinaria seu sonho —
falo.
— Conheci a sua mãe na primeira semana que estive nos EUA,
quando era um arrogante israelense que só queria passar um bom tempo.
Poucos meses depois eu descobri que ia ser pai.
Começo a andar para longe dele. O que queria de mim, um pedido de
desculpas por ter nascido?
— Te odeio — eu digo enquanto volto para o carro. Eu seco as
estúpidas lágrimas que estão no meu rosto.
— Amy, por favor. Apenas uma vez deixe-me explicar as coisas.
33
— Basta abrir a porta. — Ouço o clique dentro do carro. Ele me olha
como se quisesse explicar mais coisas, mas não quero ouvi-lo.
— Vamos logo! — grito.
Ele entra no carro e dirige entre as montanhas. Pensei que estava
pronta pra conhecer a família de Ron, mas agora tudo o que quero fazer é
cavar um buraco.
Porque ele não só vai apresentar-me pra eles, como vai dizer pela
primeira vez que tem uma filha ilegítima.
34
Capítulo 5
Se eu fechar meus olhos, a vida deixará de girar fora de
controle?
Chegamos à frente de uma porta e um cara com uma metralhadora
se aproxima do nosso carro. Nunca tinha visto uma metralhadora antes e
tremo cada vez que penso para quê serve.
Ron diz algo em hebraico. O homem sorri e acena para que abramos
a porta. Dirigimos por uma estrada de terra no meio da montanha e
passamos por seis fileiras de casas. Há entre sete a dez casas por estrada em
ambos os lados. Ron vai para uma delas e se detém em frente a uma casa.
— Não entrarei até que você diga quem sou — digo.
Penso que irá discutir e me preparo para uma briga. Porém Ron
simplesmente diz:
— Ok.
Passado o estado de choque fico parada. O observo entrando na
pequena casa térrea.
As janelas do carro estão abertas, mas não há brisa. Não está apenas
quente, eu acho que o próprio diabo deve ter vivido nessa montanha, porque
o suor escorre pelo meu rosto, pescoço e peito. Minha camiseta da
Abercombrie & Fitch tem marcas repugnantes de suor.
Como pode essas pessoas suportarem esse calor? Eu olho para
minha unha antes de roê-la.
35
O que Ron está falando? Estará suando tanto como eu? Espero que
sim.
Saio do carro e me apoio contra ele, tentando ouvir a repreensão que
Safta deveria estar dando em Ron. O cara vai conseguir. Se eu fosse Safta lhe
rasgaria em dois por negar, bem, a mim. No entanto eu não o ouvi gritar. Na
verdade, você não ouve quase nada vindo daquela casa.
Em seu lugar, algo golpeia meu braço. Com força.
— Hey! — grito me assustando.
Não sou estúpida. Sei que não é uma bala. Não que ficaria
surpreendida se a família de Ron decidisse “acabar” com sua filha ilegítima
uma vez que escutassem a verdade.
Logo que acabo de pensar nisso, olho para baixo e vejo o objeto de
ofensa.
Uma bola de futebol.
— Tizreki le’kan.13 — Uma voz fala atrás do carro. Como se eu
pudesse entender. Contudo eu não posso, assim o ignoro. Além disso, eu já
sinto uma contusão formando-se no meu braço.
O som de passos correndo ressoa antes que esteja cara a cara com
um garoto israelense da minha idade.
— Shalom14 — diz ele.
Ele usa jeans, está com uma camiseta branca rasgada e empoeirada e
usa sandálias gregas. Porém isso não é a pior parte. O garoto usa meias
brancas com sandálias. Meias com sandálias! Vendo que me faria rir, olho
para o seu rosto em vez dos seus pés. Não queria insultá-lo.
— Olá — digo.
13
“Jogue desta forma” em hebraico. 14
Oi em hebraico.
36
Fala inglês? Não sei, por que está aqui em silêncio.
Dois garotos chegam correndo em nossa direção. Um começa a falar
com esse garoto em hebraico, mas fica em silêncio quando me percebe.
— Eu, Estados Unidos — digo devagar e em voz alta como se
estivesse falando com um chimpanzé. Estou esperando por um milagre pra
que ele me entenda.
Eles se olham com um olhar confuso nos seus rostos e me dou conta
que os próximos três meses vão ser como viver em uma bolha.
Uma bolha com pessoas que não entendem uma palavra do que
estou dizendo, à exceção do Doador de Esperma. Poderiam minhas férias de
verão estarem mais arruinadas?
O primeiro garoto dá um passo na minha direção. Seu cabelo é loiro
escuro e tem um áspero sorriso jovial. Eu sei, eu sei, áspero e jovial
realmente não combinam. Mas esse tipo é assim, acredite em mim.
— Fala inglês? — pergunta com um sotaque pesado.
Hein?
— Sim. E você?
— Sim. No entanto o que significa “Eu, Estados Unidos”?
— Nada. Só esqueça.
— É uma amiga dos outros, não? — pergunta.
Huh? É evidente que seu inglês não é bom. Estava perguntando se eu
sou uma amiga ou não? Tenho quase medo de dizer que não.
— Sim.
O segundo garoto se vira para mim.
— Como se chama?
37
— Amy.
— Oi Amy, sou Doo-Doo – diz. Em seguida aponta para os outros
garotos. – E estes são Moron e O’Dead.
Agora, nunca tinha dito essas quatro palavras numa linha antes. Na
verdade eu não acho que alguém com menos de sessenta anos dissesse, mas
saíram da minha boca automaticamente.
— Você quer pedir desculpas? — digo. Meus olhos se estreitam como
se isso limpasse meus ouvidos para poder ouvir melhor.
Todos me olham como seu eu fosse a pessoa com problema. Tenho
esse desejo de rir. Contudo suprimo porque eles provavelmente não
entendem a brincadeira. O que na verdade torna tudo isso mais engraçado.
Bem, algumas partes da minha viagem serão realmente divertidas.
Entretanto minha surpresa acaba quando outro garoto se aproxima
de nós. Ele tem o cabelo castanho escuro que combina com seus olhos. É
alto, bronzeado, e não está com camisa. Os jeans modelam seus delgados
quadris, um tanquinho, e olhando pra ele, é o adolescente mais forte que já
vi alguma vez.
— Americayit15 — Moron, diz apontando.
O garoto sem camisa diz algumas coisas a Doo-Doo, Moron e O’Dead
em hebraico e me ignoram por completo. O que só demonstra uma das
minhas muitas teorias... Os garotos bonitos sempre são os mais idiotas. Pelo
menos os outros garotos sorriram e se apresentaram. Esse garoto sem
camisa só falou algumas palavras aos seus amigos e se afastou.
— Quanto tempo você ficará? — Moron pergunta, olhando as malas
no banco traseiro do carro. Por um fodido tempo, mais do que eu quero,
penso.
— O verão inteiro.
15
Americana em hebraico.
38
— Vamos para a praia amanhã à noite. Quer se juntar a nós? — Doo-
Doo pergunta.
— Claro — digo.
Olho para a porta aberta e há uma multidão de quatro estranhos com
Ron de pé. Todos me olham fixamente. Como posso ter esquecido porque
estava aqui, em primeiro lugar?
Ron se aproxima de mim. Quero perguntar: — Como foi? — Contudo
não pergunto.
Então, agora me encontro caminhando por este caminho lamacento,
em direção a essa pequena casa que será minha residência durante os
próximos três meses. Como a cereja em cima do bolo da minha vida, vou
viver com membros de uma família que nunca havia conhecido antes e um
pai biológico que não conheço.
— Amy, este é meu irmão, Chaim.
Meu tio estende a mão e estendo a minha. É um tipo alto, com uma
semelhança clara com Ron. Ambos têm a mesma estrutura forte e
musculosa.
O homem ri, mas posso dizer que há tensão por trás dessa fachada.
Raiva também, só não sei se dirigida a mim ou ao DE(simplifiquei Doador de
Esperma, estou com muito calor e suando para pensar em algo mais do que
DE).
— Me chame de Dodor tio Chaim — diz ele.
Como se pudesse dizer este nome. A pronúncia de C-h é como se
estivesse a ponto de cortar o catarro. Juro que não posso fazer esses sons de
novo com a garganta na minha vida sem fazer de mim uma completa idiota.
Só irei chamá-lo de Tio Chaim e deixar de fora o barulho borbulhante de
volta na minha garganta.
A senhora ao lado de Tio Chaim dá um passo pra frente.
Surpreendentemente quando se aproxima e me abraça com força. Meu
primeiro instinto é empurrar os braços, mas seu abraço é tão cálido e
39
amoroso. Me encontro apoiada em seus braços. Em seguida me libera após
um largo tempo, coloca suas mãos sobre meus ombros, e se sustenta com um
braço estendido.
— Garota bonita — diz com um profundo sotaque israelense.
Ela tem aqueles brincos parecendo sinos e nenhuma maquiagem no
rosto. Minha mãe não seria pega nem morta fora de casa sem maquiagem.
Ou com brincos parecendo sinos. A verdade é que esta mulher é bonita sem
maquiagem e os sinos só fazem seus olhar parecer angelical ao invés de
estúpido.
Ela me solta e diz com um sorriso.
— Eu sou sua tia Yikara. Só me chame de doda Yucky, de acordo?
— Okay — digo em uma voz cantante para alertar ao DE que não me
sinto confortável em chamar a esta mulher de Yucky.
— Doda é “tia” em hebraico. — DE explica como se isso fosse parte
deste intercâmbio conjunto que necessita explicação.
Há mais duas pessoas de pé ali. Uma delas é um menino pequeno,
provavelmente por volta de três anos, com cachos louros em espiral na sua
cabeça como se fosse as serpentes de Medusa. Estava usando nada mais que
um par de cuecas do Power Rangers.
— Shalom, ani Matam — diz com uma voz graciosa. Não tenho ideia
do que está falando, mas é tão adorável e seus cachos balançam enquanto
fala. Dou um passo e sacudo sua pequena mão carinhosamente.
A última, uma adolescente loira um pouco mais alta que eu, está ali
com os braços cruzados sobre o peito. Ela está usando a calça jeans mais
apertada que já vi alguma vez em um ser humano e uma camisa vintage que
mostra a maior parte da sua barriga lisa. Eu não preciso de um sexto
sentindo para saber que está claramente chateada.
— Esta é sua prima, O’snot.
Desta vez, meu riso sai sem aviso prévio. No entanto quando me dou
conta que ninguém mais ri, eu paro rapidamente. O’snot não está apenas
40
chateada, ela obtém MINHA famosa piada “uma de um tipo” como se ela
mesma tivesse inventado.
Não ofereço minha mão em sinal de comprimento, porque estou
bastante segura de que minha prima ignorará. Assim que simplesmente
digo.
— Oi.
— Oi — diz ela entre dentes. Genial.
— Vamos entrar para que conheça sua SAFTA – diz Tio Chaim.
Consigo um pequeno pedaço de satisfação quando me dou conta que
as axilas de Ron estão úmidas através da camisa. Minhas axilas estão
molhadas do tamanho de uma toranja16, enquanto as de Ron são do tamanho
de melancias pequenas. Ele também é o que está mais nervoso por causa de
eu conhecer minha avó.
Ha!
16
É o cruzamento entre um pomelo e uma laranja. É igual uma laranja só que com o interior
avermelhado.
41
Capítulo 6
Pode escapar de alguns problemas, mas logo encontrará
outros.
Entrei vagarosamente na casa. Uma cozinha está na minha frente.
Sigo Ron na direção esquerda quando encontro uma mulher sentada junto a
uma janela. Tem cabelos grisalhos.
Ela me olha com olhos azuis tão claros que quase brilham. Nossos
olhares se encontram e sinto que estou olhando meus próprios olhos em um
espelho. Estou tão emocionada que quase me sufoco. O ar está mais pesado?
Começo a respirar pesadamente, tratando de levar ar aos meus pulmões.
Minha avó.
Minha avó doente.
Parece pequena e fraca. Será que está morrendo?
Olho novamente para o resto da família, e me dou conta que todos
estão me olhando. Parece que estou sendo julgada em algum tipo de
programa de televisão pelo modo que me olham. A voz de um apresentador
animado está na minha cabeça, “Amy cometerá algum erro, arruinando o
primeiro encontro? Assistam na próxima semana o episódio de Filhos
Ilegítimos e descubra se a avó doente a aceitará ou negará na frente de
milhares de espectadores.
Antes mesmo de me dar conta, dou a volta e corro para fora da casa
para que ninguém note minhas lágrimas. Continuo correndo até minhas
pernas quererem parar. Passo em frente a uma fileira de casas, celeiros,
42
cavalos, vacas e ovelhas como se estivesse em alguma fazenda produzida em
Hollywood.
Quando paro de correr e começo a andar, penso que Safta deve achar
que sou uma estúpida. Queria abraçá-la, de verdade, queria. No entanto não
em frente ao resto da família. Sentia que estavam analisando cada
movimento que fazia.
Continuo andando chateada com DE fazer meu primeiro encontro
com Safta um espetáculo. Uma pequena cerca me detém, e enquanto eu
tento passar por cima dela, uma voz me para.
— Não pode fazer isso.
Congelo e dou a volta para encontrar a áspera voz. É o garoto sem
camiseta de pé num palheiro de três andares. Uma camada de suor faz com
que seu peito brilhe no sol, mas eu tento não prestar atenção nisso. Em vez
disso, penso em algo repugnante. Como por exemplo que está fedendo a
ovelhas e suor e como necessita desesperadamente de um banho. Porém, se
esse for o caso, eu também preciso. Eu enxugo as lágrimas que caem pelo
meu rosto com meus dedos.
— Não é um país livre? — digo com atitude.
A última coisa que preciso é um adolescente detestável pensando
que eu sou fraca.
Ele se vira e lança um feixe de feno nos alimentadores das ovelhas.
— O letreiro diz que atrás da cerca há um campo minado. Se quiser
arriscar-se, não a deterei — diz o idiota-lindo-sem-camiseta quando entra no
curral de ovelhas.
A esse ponto, entretanto estou na borda da cerca. Diabos. Está é uma
zona de guerra. Olho meu pé do outro lado da cerca, me sentindo sortuda de
que não passei. Levanto meu pé lentamente e volto para o campo sem minas.
— Não sabe onde está, certo? — Pergunta bruscamente enquanto
pega outro feixe de feno.
43
—Claro que sei — digo — Estou no topo de uma montanha no meio
de Israel. – Duh.
— Na verdade, está na parte norte de Israel, não no centro. Em Golan
Heights.
— E..?
— Americanos — sussurra, logo sacode lentamente a cabeça em
desgosto.
— Ok, o que tem de especial Golan Heights?
— Só digamos que a Síria está a dez quilômetros de distância – diz,
apontando. — Para uma garota judia, você não parece saber muito sobre a
terra judaica.
Sim, mas não sou judia. Não lhe digo isto, provavelmente tenha algo
para me dizer sobre o assunto. Fico encantada quando dá a volta e retorna
ao curral de ovelhas.
— Argh!
Pulo ao escutar um som perto dos meus pés. Um filhote de cachorro
peludo e cheio de sujeira, que eu acho que alguma vez já foi branco, está
abanando o rabo furiosamente contra mim. Uma vez que fazemos contato
visual, tenta pular deixando suas patas no ar.
— Sinto muito – digo ao animal — Não sou uma pessoa de cachorros.
Ache outro idiota que passe suas mãos por esse pêlo sujo e cheio de
pulgas e por sua barriga. Não sou uma pessoa de gatos, tampouco. Na
verdade, eu não gosto de nenhum animal específico. E estar rodeada por um
ambiente cheio de animais me dá coceira.
Começo a me afastar. Infelizmente o cachorro me persegue.
— Argh! – diz a coisa de novo.
Continuo andando.
44
— Não sabe que os cães dizem “ruff”, não “argh”? – pergunto — Está
tentando ser um pirata?
O cachorro responde com outro “Argh”, esta vez mais forte que a
última, como se estivesse tratando de me chatear de propósito. Hey, depois
do dia que estou vivendo, não duvidaria.
— Ruff! Ruff! Ruff!
Pensaria que o cão está de verdade brincando comigo, certo? No
entanto quando dou a volta, profundos latidos me fazem dar conta que a
pequena praga tem amigos. Muitos amigos.
Em primeiro lugar, estava equivocada ao pensar que o cão estava
sujo. Estes cinco cães estão cobertos de lama e definitivamente mais sujos
que o cachorro praga. Também (em primeiro lugar) são muito, muito
grandes.
Estão correndo em direção a mim, latindo como se eu tivesse
sequestrado seu pequeno filhote.
Pânico não é a palavra para descrever como me sinto nesse
momento. Enquanto minha vida passa diante dos meus olhos, reviso minhas
duas opções rapidamente. Podia andar ao campo de minas ou pular dentro
do curral de ovelhas.
Não tenho tempo para perder, então só posso correr tão rápido
quanto minhas suadas, cansadas e sentidas pernas podem correr. Enquanto
corro, nem sequer estou ciente da opção que escolhi.
Corro mais e mais rápido, apenas posso notar os sons “argh” aos
meus pés e os incansáveis latidos não muito longe de mim. Só um pouco
mais, digo à minha mente nublada. Acredito que estou gritando e xingando
obscenidades, mas não estou muito segura porque estou muito ocupada
preocupando-me com o que minhas pernas estão fazendo e eu não posso ser
incomodada para me preocupar com a minha boca, também.
Parece ter passado muito tempo, assim quando alcanço o curral meu
ritmo não muda. O Sr. Haraldson, meu professor de educação física, estaria
muito orgulhoso do meu ritmo. Não estava certa de conseguir um prêmio
45
presidencial em atividade física no ano passado, mas provavelmente estou
fazendo um recorde mundial de salto.
Realmente não estou prestando atenção pra onde estou indo, tudo
está nublado. E quando aterrisso, fecho meus olhos. Espero não ter
esmagado uma ovelha durante minha aterrissagem forçada.
No entanto ao invés de colidir com uma ovelha, algo duro e macio
aguenta minha queda.
Tenho medo de abrir os olhos, assim não posso ver, mas meu sentido
de olfato está intensificado. Eu sei, porque a essência de suor de um garoto
me rodeia. Não é um odor ruim, este odor almiscarado me faz querer inalar
mais profundamente.
Tudo bem, agora me dou conta do que estou fazendo, onde estou, e a
quem estou sentindo – como se fosse uma maldita pétala de rosa —
entretanto na realidade é só um garoto. Abro finalmente meus olhos.
Não me perguntem como terminei sobre este idiota-lindo-sem-
camiseta. Suas mãos estão ao meu redor. Para ser específica, uma delas está
nas minhas costas e a outra no meu quadril. Fico surpresa olhando para
estes olhos surpresos que poderiam colocar qualquer uma em transe.
Estou a ponto de levantar-me, quando escuto a voz de alguém
caminhando pelo gramado ao lado do curral de ovelhas. Olho para ver quem
é. Estou plenamente consciente de que a posição que estou se vê realmente
promíscua e provavelmente me colocará em muitos problemas.
Quando finalmente me separo dele, consigo ver quem presenciou
minha luta. Dou-me conta que é a última pessoa que quero ver.
O’snot.
Quando vejo seus lábios apertados numa linha fina e suas mãos
acusadoramente paradas no seu quadril chego à única conclusão que
consigo.
O idiota-lindo-sem-camiseta é namorado da minha prima O’snot.
Oh, merda.
46
Capítulo 7
Eu nunca me acostumarei a ser humilhada.
— Eu juro Ron, não é minha culpa.
— Você tem falado muitas vezes essas palavras ultimamente, Amy –
diz. — Agora, me explique de novo por que fugiu antes de se encontrar com
Safta e logo em questão de quinze minutos, acaba em cima de um garoto. No
meio de um monte de feno, nada menos que isso.
Eu tiro um pouco da sujeira que está nas minhas unhas, enquanto o
Doador de Esperma está falando muito sério.
— De fato, tecnicamente caí sobre ele — digo, limpando uma parte
do meu cabelo que estava com barro. — Na verdade não recordo exatamente
como caí sobre ele.
Estamos sentados no gramado da frente da casa da minha
avó/tio/tia/primos. Ron faz essa coisa novamente de passar as mãos no
cabelo.
Há um silêncio interminável. Devo explicar o que aconteceu? Não
tenho medo de admitir que tenho o controle da minha vida.
Não me pergunte o porquê, eu só sei.
— Senti como se todos estivessem me observando e me analisando,
me cansei disso e fugi.
— Beijou o Avi?
47
— Quem é Avi?
Ele me olha com aquela cara de você-deve-estar-brincando.
Levanto-me.
— Não! Por quê? A prima Snotty disse que eu o fiz? Escuta, havia
cachorros me perseguindo...
Olho para baixo, Mutt não tinha se dado conta que meus pés não são
seu pátio particular de diversão.
— Como este? – diz.
Sacudo para que saia da minha perna.
— Não. Sim. Bom, parecia com ele, mas eram bem maiores. E, então,
corri e caí em cima do namorado de Snotty.
— Seu nome é O.S.N.O.T. O’snot. É um nome bonito.
— Não sei de onde veio.
— Só... apenas lhe dê uma oportunidade. Não a julgue antes de
conhecê-la.
Eu realmente gostaria de argumentar, dizer ao DE que foi Snotty que
me odiou antes de conhecer-me, no entanto fico em silêncio. Agora mesmo
vou atribuir a minha falta de capacidade de argumentar à privação do sono,
porque normalmente estou pronta para uma boa guerra verbal.
— Ok — digo.
— E pare de chamá-la de Snotty.
Deus, você dá ao cara um pouco e como um aspirador ele quer
absorver toda a sujeira, não só os pequenos pedaços de pano.
— Ok. Onde está Safta? Estou pronta pra conhecê-la agora, já que
não tem mais expectadores.
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— Está descansando no seu quarto. Sem expectadores, eu prometo.
Este deveria ser o momento que eu ganho um abraço do DE.
Entretanto, me sentiria estranha porque não o abraço em anos. O DE se
levanta e eu o sigo pra dentro de casa. Uma vez que entramos, o cheiro de
pão recém saído do forno está em toda a cozinha fazendo com que meu
estômago ronque.
— Venha comer — Dodo Yucky diz. Ela perdeu um pouco do seu
caráter alegre. Será porque pensa que beijei o namorado de O.S.N.O.T?
— Obrigada, mas não estou com fome. – Estou muito nervosa pra
comer.
Ron me leva a uma pequena habitação de madeira na parte de trás
da casa, eu dou uma olhada através da porta.
Safta está deitada na sua cama. Quando me vê entrar, se senta.
Respiro fundo quando a porta se fecha atrás de mim. O quarto é pequeno, o
piso é como se fosse de telhas, e as paredes de cimento branco estão
marcadas. As cortinas foram fechadas, então estava um pouco escuro. No
entanto foi essa a maneira que eu queria, porque não quis que o mundo
ficasse olhando secretamente minha conversa.
— Oi, Safta. Sou Amy – digo. Minha voz se quebra enquanto digo e
me sinto um pouco tonta. Ela concorda com a cabeça e acaricia o espaço ao
lado dela na cama.
— Venha aqui, Amy. Sente ao meu lado.
Dou pequenos passos lentos até sua cama. Quando alcanço,
cuidadosamente me sento na beirada. Para minha surpresa, ela pega minha
mão entre as suas.
— Está realmente doente? – pergunto timidamente.
— Vou ficar bem. Você sabe que os médicos gostam de fazer um
grande alarde por nada.
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— Ron pensa que está muito doente — digo, e logo quero empurrar
essas palavras de volta para minha boca.
Ela nega com a cabeça.
— Necessitam examinar a cap do seu pai. Isto significa “cabeça” em
Yiddish. Imagine, manter distante de mim minha neta durante dezesseis
anos.
— Sim — falo, a apoiando. Imediatamente gosto da minha Safta.
— Como é sua mãe? — pergunta, mudando de assunto.
Como descrever minha mãe?
— Ela é bonita, para uma mãe – digo — E tem um trabalho onde
ganha bem. Não tem muitos amigos, por sempre estar trabalhando.
Estou observando como Safta recebe isto.
— E o que me diz de você?
— Vou bem na escola, acredite. O nome da minha melhor amiga é
Jessica... é judia — falo para fazer uma conexão com Safta em relação à
religião. — Gosto de jogar tênis, esqui, e ir às compras.
Assente com a cabeça.
— Vou gostar de conhecê-la Amy. Aparenta ser uma garota muito
enérgica e interessante.
— Devo adiantar que não tenho uma atitude muito positiva – digo
nervosa enquanto mordo meu lábio inferior. Quero dizer, a menina que
imagina irá sumir mais cedo ou mais tarde, assim tinha que mostrar
diretamente a ela.
— Talvez essa viagem sirva para mudar isso.
Duvido muito, mas não digo.
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— Acredito que sim – Apenas para fazê-la crer que esta viagem
poderia milagrosamente mudar minha visão da vida.
— Eu era como você na sua idade – diz.
— Como assim? Era ilegítima, também?
— Não – diz ela, segurando minha mão — Porém minha família
passou por momentos difíceis e não tivemos uma casa por alguns anos.
— Onde viveram?
— Na praia. Já faz muito tempo. A vida te surpreende quando menos
espera.
Essa informação ainda está em processamento no meu cérebro,
quando Safta me diz para ir relaxar e desfazer as malas. Eu sorrio como se
tivesse sido minha avó desde sempre. Não posso continuar culpando-a por
não estar para mim nos últimos dezesseis anos. A pobre mulher nem sequer
sabia da minha existência.
— Onde está minha mala? — pergunto a Ron depois da minha
conversa iluminadora com Safta.
— No quarto de O’snot – diz.
Talvez não tenha escutado bem. Ele não podia ter dito isso.
— Está brincando, não é?
— Existem poucos quartos aqui – explica o DE — Irá dormir no
quarto de O’snot. E eu ficarei no sofá.
— E onde fica o menino?
— Matan? Dorme em uma cama no quarto dos seus pais.
Estava a ponto de sugerir dormir no chão, mas vi três formigas no
azulejo. Asqueroso. E quando olho Doda Yucky, tem esse olhar patético no
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seu rosto como se ela fosse ganhar na loteria se meu medidor de felicidade
alcançasse certo nível.
Dou-lhe um pequeno sorriso e ao que parece funciona porque se
dirige à cozinha cantando uma canção alegre.
Agora falando sério, se há uma coisa que uma adolescente americana
necessita, é privacidade. Eu posso pedir a O’snot que saia do quarto? Sim, de
fato é seu quarto, assim, não creio. Graças a Deus eu não tenho uma gêmea.
Por exemplo, existem estas gêmeas na minha escola, Marlene e Darlene, elas
não só tem que compartilhar o mesmo quarto, como também o dividem com
sua irmã mais velha, Charlene. Não pergunte.
O DE me leva a um quarto na parte de trás da casa. Caminho pro
quarto enquanto Snotty está maquiando-se na sua cama. Ela sabia que
estava ali, mas fingiu, como se não tivesse me reconhecido.
O Doador de Esperma fica ao meu lado.
— Precisa de ajuda?
— Não, estou bem – respondo.
Ele toma isso como um sinal para sair. Gostaria que tivesse ficado.
Apenas para passar por essa barreira entre mim e Snotty.
— Olhe, sinto muito pelo seu namorado – digo.
Ela levanta a cabeça e me olha e eu vejo como está exagerada a
maquiagem nos seus olhos. É como se tivesse delineado seus olhos com
carvão e agora minha prima parece ter vinte anos ao invés de parecer uma
adolescente. Que idade têm, de todo modo? Poderia utilizar alguns conselhos
sobre aplicação de maquiagem.
Um dos clientes de mamãe é de uma empresa de cosméticos. De fato
me usaram em um dos lançamentos da sua linha para adolescentes. Aprendi
muito sobre como a maquiagem deve ressaltar suas melhores características
e não parecer Gloppy e escura (como Snotty). Depois que minha foto
apareceu na maioria das revistas para adolescentes, meu grupo me apelidou
de guru da maquiagem.
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Coloco minha mala na cama, supondo que é aquela que seria minha
pelos próximos três meses e escolho alguma roupa para trocar-me por algo
que não esteja coberto de barro e palha.
— Avi não é meu namorado.
Não estava segura se foi Snotty que falou, ou se minha imaginação
estava brincando comigo.
Encaro minha prima.
— O quê?
Ela olha com seus olhos de carvão na minha direção.
— Eu não tenho namorado.
Escolho um par de shorts curtos roxos iguais à cor da minha mala. A
palavra “CADELA” está escrita na parte da frente com grandes letras
brancas. Jessica me deu esses shorts em razão do meu aniversário como uma
brincadeira, junto com uma tornozeleira que não era uma brincadeira.
Nunca pensei que alguma vez os colocaria de novo, mas também nunca
pensei que estaria em um sítio em cima de uma montanha no meio de uma
zona de guerra.
No entanto, para ser honesta comigo mesma, Israel na realidade não
se parece como uma zona de guerra. Bom, exceto pelos guardas fortemente
armados no aeroporto e o campo de minas que eu quase pisei.
Olho para baixo, vendo meus shorts curtos. Acreditava que ninguém
aqui seria capaz de falar inglês, assim o levei. Estive tentada a oferecê-lo a
Snotty em vez de perguntar.
— Avi tem uma namorada?
Bem, me desculpe pela minha grosseria, acabei de “meter os pés pela
cabeça”. Não me importo se esse garoto tem uma namorada ou não, mas
aqui estou eu perguntando a Snotty sobre ele.
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Às vezes minha boca vai numa direção, a qual não tinha intenção de
ir.
O pior é que minha prima faz caso omisso da minha pergunta. Assim
mesmo que eu não tivesse intenção de fazer essa pergunta, estou mais
curiosa do que nunca pra saber a resposta. Porém nunca lhe daria a
satisfação de perguntar sobre Avi duas vezes. Ela havia inventado falsos
rumores sobre eu estar em cima de um garoto. Seria um porre se realmente
pensasse que me interessava se tinha namorada.
Coloco minha roupa sobre a cama, e penso no ÚNICO banheiro de
toda a casa. Estou tratando de não pensar sobre o que acontecerá nos
próximos três meses em uma casa com sete pessoas e apenas um banheiro.
Assustador, não? Em casa temos três banheiros... E só eu e minha mãe
vivemos ali (junto com Marc com “c” às vezes).
Tenho uma amiga, Emily. Ela está obcecada com o cheiro de TUDO.
Como quando você cheira a comida antes de colocá-la na boca. Eu odeio
almoçar com ela porque cada vez que escuto seus sons para comer, me irrito
extremamente. E eu não gosto de nada quando estou irritada, exceto talvez
Jessica. Ao entrar no banheiro, meu medidor indicava leituras baixas de
qualquer cheiro estranho que emanava do meu próprio corpo. Cara, Emily
terá um dia de campo comigo.
Estou TÃO ansiosa para conseguir ficar limpa. Se pensar no tempo
que passou desde que eu tomei um banho, dá pra ficar tonta. Fecho a porta
do banheiro e olho para a maçaneta buscando uma fechadura. O problema é
que não existe uma. Apenas um buraco, como se houvesse um buraco no
tempo.
Isso não é legal. Há sete pessoas que vivem nessa casa e não tem
fechadura na porta do banheiro. E a maldita porta tem uma rachadura onde
deveria estar a fechadura.
Tenho que ir para a cama rápido antes que este dia piore. Não queria
que existisse a visão de eu ficar nua, então fecho a cortina e tiro minha
roupa. Fico imaginando como ligar a água. Afortunadamente, um pouco de
água quente sai forte e rápido. Não posso deixar escapar um gemido da
minha boca. As duchas de água quente são as melhores. Estou tão cansada
que apenas suporto, assim rapidamente me lavo.
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Depois do banho vou em direção ao quarto, perguntando-me porque
não levei a muda de roupa comigo ao banheiro-que-não-fecha. Estou segura
que não quero me trocar na frente de Snotty. Enquanto penso em como
colocar meu pijama, envolvo uma toalha firmemente ao meu redor.
Não quero fazer contato visual com ela, porque quero evitar ter que
fazer gestos faciais alegres, como um sorriso. Não tinha nenhum gesto
positivo, pelo menos por hoje. De fato, todos meus gestos positivos amanhã
também estarão esgotados.
Então eu olho para o chão quando entro no quarto, fecho a porta e
vou diretamente para a mala. Sabia que Snotty se encontrava no quarto,
podia ouvir sua respiração. Pego uma camiseta e a roupa íntima da minha
bolsa. Não poderia voltar ao banheiro porque seria uma grande idiota por
estar envergonhada de me trocar na frente dela ou podia suportar e me
trocar aqui, de costas.
Deixo cair a toalha e coloco minha roupa íntima, depois os shorts
curtos que dizem “CADELA”. Quando pego minha camiseta branca, a porta
abre. Rapidamente cubro com minha camiseta meus grandes seios e me
preparo para gritar com o intruso. O intruso suponho que não seja outro
além do DE.
— Se importa? – digo. No entanto a pessoa que entra no quarto não é
DE. É Snotty. O que significa que tem alguém mais na sua cama. Viro minha
cabeça e encontro Avi sentado ali.
— Aaahhhh! – grito com toda a força dos meus pulmões.
Avi acaba de escutar um grande grito protagonizado sinceramente.
Desafortunadamente, meu grito apenas avisa o DE e o tio Chime, que entram
no quarto. Os olhos do DE vão de Avi pra mim, meio nua com meus shorts
que dizem “CADELA”.
— O que está acontecendo aqui? – grita DE, acusando-me com os
olhos.
Com certeza Avi me viu nua... minha bunda, meus seios, minhas
coxas, minhas celulites. Minha língua está em estado de choque, igual o resto
de mim. Mesmo se pudesse falar, não saberia o que dizer.
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Salvo que estou cheirando bem.
Olho Snotty, que tem um pequeno sorriso de satisfação no seu rosto.
Ela é uma ratazana, não há dúvidas sobre isso.
Tio Chime olha acusadoramente para Ron. Sei que não disse nada,
mas me sinto horrível, de verdade. Pelo canto dos meus olhos me dou conta
que Avi se levantou. Ele diz algo em hebraico para DE que não posso
entender.
Ron lhe responde com irritação.
Snotty começa a discutir com Ron.
Tio Chime está tão reto como um soldado, bloqueando a porta, com
as mãos na cintura. E eu só estou aqui em pé, meio nua. Empurro tio Chime e
corro para o banheiro. Depois de colocar a camiseta, ainda escuto as altas
conversas que vem do quarto de Snotty.
Sento na borda da banheira até que parem de discutir.
Se este é meu começo em Israel, tenho medo de descobrir o que
acontecerá nos próximos três meses aqui.
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Capítulo 8
Você pode atrair abelhas com mel, mas porque você gostaria de fazer isso?
A desculpa do fuso horário serve para enganar Doador de Esperma e
continuar sonhando no meu segundo dia em Israel, com o benefício adicional, consigo dormir quase o dia inteiro. Porém agora está bem tarde e já estou totalmente descansada.
Depois de comer alguma coisa, coloco minha roupa de corrida pego o
meu Ipod e vou pra fora. Enquanto subo a estrada, vejo Safta sentada numa cadeira à beira da montanha. Quando me vê, move as mãos para me cumprimentar.
Ando pelo caminho de terra e paro ao lado dela, olhando as
montanhas, o lago ao lado, e as montanhas ao longe, me fazendo perder o fôlego.
— Chicago é tão reta quanto... – Estou a ponto de dizer “Snotty”, mas
não digo. Ao invés falo outra coisa. — Não tem montanha onde vivo. Eu acho que é por isso que fazemos
arranha-céus, são como as montanhas de Chicago. — Nunca estive em Chigaco. – diz Safta.
— Bem, você tem que ir me visitar. Poderia te levar à Sears tower17.
Pode ver quatro estados do último andar. É totalmente genial. E tem também o Lago Michigan. É tão largo que não pode ver através dele.
Emociono-me só de pensar em dar um passeio com ela em Chicago
quando for me visitar. Ela vai amar o parque Millennium, onde pode ver várias pessoas e almoçar no parque justo no centro da cidade. Aposto que
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É um arranha-céu localizado em Chicago, nos Estados Unidos, sendo o mais alto edifício da
América do Norte desde 1974, quando foi inaugurado.
http://www.eluniversal.com.mx/img/2009/07/Nue/torreSears.jpg
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gostaria do instituto de Arte de Chicago e o Museu de Ciência e Indústria. O museu tem exposições geniais. Minha favorita é do bebê morto.
Na verdade é chamado de exibição Neonatal, mas a chamo do que ela
é. É muito real, bebês mortos em todas as etapas, todos envolvidos em formol e outros líquidos. Têm por volta de trinta embriões e fetos que vão de uma semana de vida até nove meses. Ainda mais, mostram embriões de gêmeos idênticos. É a coisa mais genial que já vi.
Sim, isso seria adicionado à lista quando Safta me visitar. Eu olho, tentando aproveitar o momento. — Sinto como se pudesse olhar o país inteiro daqui. — No entanto,
logo penso sobre os shoppings que estão tão longe daqui – Mas aqui é tão longe de tudo.
— É uma garota da cidade, não? — Do começo ao fim. Dê-me uma bolsa Kate Spade e um jeans Lucky
e sou uma garota feliz. Ela ri, o som é suave e cálido no ar. — Amo estar aqui. Longe de ruídos, longe da multidão. É o lugar
mais perfeito em todo o mundo para uma mulher velha como eu. Também, na minha idade não preciso de uma bolsa Kate Spades e jeans Lucky.
— Estou segura que foi uma mãe quente quando era adolescente –
digo, e imediatamente desejo não ter falado estas estúpidas palavras. Falar com ela como se fosse uma das minhas amigas é algo estúpido de fazer.
— Me casei com seu avô quando tinha dezoito anos. — Foi amor à primeira vista?
— Não. Não, suportava nem olhá-lo. Até o dia em que me levou
flores.
Flores? É o truque mais velho do livro. — Então te levou algumas rosas e se apaixonou? É uma linda
história, só que algo chato. Safta segurou minhas mãos.
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— Não, motek me levou por toda a floresta e o pobre homem era
alérgico a pólen. — Wow. — Estaria vendida se um homem me levasse à minha
própria loja de Abercombrie&Fitch. Agora, isso deveria ser amor verdadeiro. Safta começou a ficar de pé, então agarrei seu cotovelo para ajudá-la.
Mesmo quando me disse que estava bem, tive um sentimento que não estou sabendo toda a história.
— Vou me deitar — me diz quando para — Vá e explore o moshav,
seu pai já deve estar chegando com a comida. Fico observando-a enquanto toma o caminho de casa. Respirando
fundo, me dirijo à entrada do moshav. É um sinuoso caminho para correr. Enquanto chego com segurança a casa, um garoto enfia a cabeça pra fora da janela.
— Vou correr — digo.
Ele assente com a cabeça e abre a porta. Quando começo a correr, o
ar fresco nos meus pulmões me dá energia. A vista das montanhas é como se tivesse saído de um filme, e a música nos meus ouvidos me lembram de casa. Eu estou no céu quando meus passos se sintonizam com a canção que estou escutando.
Se apenas Mitch pudesse me ver agora, correndo abaixo de uma
montanha. É um louco por natureza. Minha melhor amiga Jessica também é. Ela provavelmente estaria com inveja de mim.
Enquanto penso em Mitch e Jess, passo por uns sacos brancos. Depois de passar por eles me dou conta do que eram. Colmeias.
Que diabos estão fazendo as colmeias ao lado da estrada? Penso que estou segura, até ver que uma das abelhas está me
seguindo. — Vá embora — digo correndo mais rápido. A abelha me segue, e
está fazendo círculos ao meu redor. Eu paro tão quieta como posso, assim como os guardas de Londres
que ficam do lado de fora dos palácios, esperando que vá embora. No entanto ela não vai, isso só atrai outra abelha. E outra. E outra. Sinto como se
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o tempo tivesse parado, exceto porque meu Ipod segue tocando nos meus ouvidos.
— Socorro! — grito. Estou movendo minhas mãos como uma mulher
louca, tratando de manter as abelhas longe de mim. Desagradável, penso quando uma delas entra no meu cabelo.
Estou correndo.
Movendo minhas mãos.
E movendo minha cabeça.
Quando vejo um carro vindo pela estrada, estou esperando que seja
Ron. Porém como estou movendo minha cabeça de um lado para outro não consigo ver quem é. O carro me passa, então ouço o carro frear. Corro para onde o carro está, até que vejo quem sai do lado do condutor.
Avi.
A última pessoa do mundo que queria ver. — Entra — me diz abrindo a porta do passageiro. Tenho duas opções: entrar no carro com um idiota que me viu quase
nua ou ser picada por sete abelhas. Chame-me de louca, estúpida, mas eu escolho a opção número dois.
— Vai pro inferno — digo enquanto corro para baixo pela montanha. Mais ou menos depois de três quartos do caminho, as abelhas
finalmente me deixam só. Por algum milagre, consegui evitar ser picada. No entanto agora
estou presa no meio da montanha. E eu não quero voltar e passar pelas colmeias novamente. Tenho uma ideia brilhante. Vou esperar o Doador de Esperma. Safta disse que chegaria logo. Assim que espero. E espero.
Quarenta e cinco minutos e continuo esperando.
Juro que estas férias estão sendo um total desastre. Se estivesse em minha casa estaria jogando tênis e saindo com meus amigos. Demora uma hora antes que um carro passe na estrada. Reconheço que é Doo-Doo. Movo meus braços no ar como um desses tipos que controlam o tráfico, para fazê-
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lo parar. Há uma garota dentro do carro com ele. A garota coloca a cabeça pra fora da janela.
— Precisa de uma carona?
— Uh, sim.
— Entra. Doo-Doo me apresenta a garota enquanto entro no banco de trás.
Seu nome é Ofra, e também vive em Moshav. Inclino-me para trás e desfruto o ar condicionado do carro.
— O’Dead disse que você vai à praia com os outros esta noite — Ofra
se vira e me encara — É uma ocasião especial.
— Seu aniversário? – adivinho.
— Não. Moron vai para o exército.
Isso é algo que tenha que se comemorar? Ofra parece emocionada quando diz.
— Tem que levar algo seu para dar a ele, e logo oferecer um
conselho. É um ritual do Moshav. Ritual?
Creio que sou alérgica a rituais.
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Capítulo 9
Antes de falar, assegure-se de saber o que diz.
A praia que vamos é arenosa, e está rodeada por um lago que
segundo me disseram se chama Kineret. Somos sete essa noite: Ofra, Snotty, Avi, Moron, Doo-Doo, O’Dead e eu. Os garotos fizeram uma grande fogueira e estamos sentados ao redor dela.
Avi guia Moron para uma cadeira que está colocada na areia. Logo
tira uma camiseta do bolso com letras hebraicas escritas nela. Quando a mostra, todos riem. Exceto eu, claro, porque não tenho a mínima ideia do que está escrito na camiseta.
— O que diz? – pergunto a Ofra. — Onde é o banheiro? – fala. — Não sei – digo — Suponho que vai ter que esperar ou urinar na
areia. Todos riem ainda mais forte. E me dou conta que estão rindo de
mim. — O quê? — pergunto. Ofra me dá um tapa nas costas. — Não estava te perguntando aonde é o banheiro, estava te dizendo
o que é que diz a camiseta. Oh, Deus.
— Avi, fale em português para que a Amy possa entender — diz Ofra. Ele fica parado ali, totalmente intimidante.
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— Beseder18 — diz relutante — Meu amigo aqui presente, Moron, se
perdeu em muitas ocasiões. Seu senso de lugar é lendário, se não o pior. Assim com esta camiseta, pode não ser capaz de encontrar o caminho de casa, mas será capaz de encontrar o sheruteem mais próximo. — Então me olha e diz — Isso significa banheiro.
Todos riem e aplaudem.
— E meu conselho é.. Não flerte com nenhuma das instrutoras
femininas. Todas elas têm acesso a uma arma maior que a sua.
Isso entretém a todos. Assumo que Moron tem uma reputação por flertar com garotas. Depois que Avi se senta, Ofra e Snotty param na frente de Moron para dar um presente que está embrulhado. Ele o abre e segura um par de shorts tipo boxer na frente de todos. Na frente é todo branco, mas atrás tem um mapa de Israel desenhado.
— Desta maneira — diz Snotty — Quando se perder poderá
encontrar seu caminho de volta para casa. — Sim, mas ele precisará ficar nu para ver o mapa – diz Doo-Doo,
rindo.
Eu rio também. Imaginando Moron ocioso no meio do deserto, perdido, vestindo uma camiseta que diz Onde está o banheiro? Enquanto está nu da cintura pra baixo examinando o mapa na sua cueca, é bastante hilário.
Ofra se senta em uma das pernas de Moron e Snotty na outra.
— Nosso conselho é... Deixe-nos raspar sua cabeça ao invés de
alguém no exército fazer isso. Vejo Ofra tirando um barbeador do seu bolso. Moron sorri nervoso
para nós. Para ser honesta, tem um cabelo grande. É marrom arenoso, quase chegando aos seus ombros e é realmente fino. Permitirá que raspem?
Ofra liga o barbeador, logo Snotty se move e fica atrás dele.
— Tire a camiseta – sugere Doo-Doo. Moron tira a camiseta sobre a cabeça e logo levanta a cabeça.
18
Significa Ok em hebraico.
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— Sejam gentis comigo, garotas – brinca.
— Fique com as calças – brinca Ofra e todos, inclusive eu, riem. Snotty faz a primeira linha justa no meio da cabeça de Moron quando
ele fecha seus olhos. O’dead tira fotos quando Snotty termina com uma linha. Logo Ofra toma o barbeador e faz outra linha. Todos estão passando um bom momento. Até eu, tenho que admitir.
—Dê uma oportunidade a Amy – sugere Doo-Doo, logo me dá um
empurrão de animo. Nego com a cabeça.
— Não sou muito boa com barbeadores – digo. Especialmente não
sou bom com os elétricos.
Ofra e Snotty terminam de raspar a cabeça de Moron. Divertem-se fazendo desenhos em sua cabeça enquanto fazem o trabalho.
Depois de terminado, O’Dead se move pro lado de Moron.
— Temos sido amigos desde os três anos, e sei o quanto tem medo
do escuro. –O’Dead pega uma pequena lanterna. – Assim, agora, quando estiver no deserto Negev, não terá nada a temer.
— Exceto as serpentes venenosas — diz Doo-Doo, fazendo com que
todos riam novamente. — Contanto que sempre tenham mulheres na minha unidade — diz
Moron — Não precisarei de nenhuma luz, se é que me entende.
— O que nos leva ao meu presente — diz Doo-Doo, que logo tira um pequeno urso cor de rosa. — Isto é para você dormir com ele e abraçá-lo quando se sentir solitário à noite e necessitar alguém para abraçar.
— Nosso conselho é... Quando dormir armado, tenha certeza que a arma esteja travada.
Moron assente com a cabeça. — Bom conselho, garotos.
— Agora é a vez da Amy — diz Ofra.
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Olho para Snotty. A garota nem sequer me olha. Logo volto para Ofra. — Em frente — diz me oferecendo a mão para ficar de pé. Caminho nervosa até Moron, sustentando um pedaço de pano. — É uma bandana – explico — Com um signo de paz nela. Ele a pega da minha mão e observa.
— Todah, obrigado. — Disseram-me que deveria lhe dar um conselho – digo. Logo limpo
minha garganta. Todos estão me olhando, até Snotty. Sinto que estou suando. Nem fale de pressionada.
— Meu conselho é...
Juro que tinha algo para dizer, mas esqueci. Minha mente está em
branco. Merda. Olho para longe, onde o sol está refletindo na água. A primeira coisa que penso é o que falo.
— Não nade depois de comer.
Oh meu Deus. Não acredito que acabei de dizer isso. O garoto vai pro
deserto pra seu treinamento básico. Quais são as probabilidades de que irá nadar no deserto em pleno treinamento militar?
Meu conselho é recebido com silêncio.
— Isto foi muito... Profundo, Amy – diz Snotty, claramente brincando
com a minha cara. — Está brincando?
Se soubesse como voltar ao Moshav, iria agora mesmo. Porém, não
posso, assim me sento e trato de me esconder o melhor possível. — Bom, suponho que deveria dizer algo – diz Moron, colocando-se
de pé — Obrigado por essa festa, pelos presentes e os conselhos. A amizade de vocês significa muito para mim. Agora, se supõe que vocês têm que me jogar no Kineret, mas nem sequer tentem.
— Você tem que se molhar – diz Avi como se fosse um fato,
apontando para o lago.
65
Doo-Doo e O’Dead estão prontos para enfrentar Avi enquanto ele
está perseguindo Moron pela praia. Assombro-me quando vejo que o alcançam e o jogam na água, salpicando muita água. Moron está completamente molhado, mas não está bravo. Eu estaria se meus amigos me jogassem, com roupa e tudo, dentro de um lago. No entanto ele ri junto com os outros.
Ofra oferece a mão para ajudar Moron a sair da água, mas ele pega
seu braço e a puxa para dentro também. Snotty se une ao grupo. Observo como envolve seus braços ao redor de Avi dentro do lago. Que seja. Estas pessoas não sabem que para nadar precisam de roupas de banho ao invés de roupa normal? Claro que não estou com inveja de que eles estejam na água, rindo e divertindo-se. Estou absolutamente feliz de estar aqui sozinha.
— Amy, venha com a gente — Moron me chama.
— Sim — diz Ofra — A água está ótima.
— Não, obrigada — digo.
A primeira a sair do lago é minha prima. Para em frente à fogueira, se
aquecendo. Trato de evitar contato visual, com medo de que minha boca me meta em problemas.
No entanto deveria tentar conhecê-la como disse Ron. Apesar de ter
sido rude, poderia não saber o quanto sou grandiosa e divertida. Suponho que não dei uma oportunidade de me conhecer. Tratei de tentar corrigir algumas coisas em primeiro lugar.
— Osnat, de verdade gostei de conhecer seus amigos — digo,
lembrando como Ron disse que pronunciava seu nome. Juro que mereço uma medalha por ser tão amável. Ela
provavelmente irá dizer que está encantada que tenha tentado criar laços entre nós. Provavelmente no final do verão, ela será a irmã que nunca tive. Meus pensamentos são afastados quando a vejo me olhando, balançando seu cabelo.
— Só se lembre Amy. São meus amigos, não seus.
E desta maneira volta a ser a mesma Snotty.
66
Capítulo 10
Às vezes temos que demonstrar aos outros que somos
muito mais fortes do que na realidade.
Estou em Israel há três semanas até agora. Felizmente sou capaz de
evitar Snotty e Avi. Isso significa que estou passando muito tempo em casa
com Safta, que é muito boa comigo.
Ela me contou histórias sobre quando era criança aqui em Israel e
sobre meu avô, que morreu antes que eu nascesse. Também me disse que
seus pais escaparam da Alemanha durante Segunda Guerra Mundial.
Aprender sobre minha extensa família tem aberto meus olhos pra outro
mundo.
No entanto, enquanto eu acordo uma manhã, Ron me diz
alegremente.
— Acorde e brilhe dorminhoca! — Só quero voltar a dormir.
Que hora é, de todo modo?
As palavras do DE giram ao redor da minha cabeça como uma
daquelas abelhas que não queriam me deixar sozinha. Olho de relance pro
meu relógio.
— Seis e meia! — digo com uma voz vacilante. — Por favor, tem que
haver uma boa razão para que esteja me acordando antes que o brilho do sol
atravesse a janela.
Agora, sei que estou de mau humor, mas não sou uma madrugadora.
Nunca fui, nunca serei. Na minha opinião, seis e meia da manhã nem pode
ser considerado manhã, acredito que continua sendo o meio da noite.
67
— Amy, temos estado aqui há algum tempo e te deixei sozinha. Se
continuar dormindo todo o dia, nunca superará o fuso horário. Além do que,
existe trabalho para fazer por aqui e todos trabalham. Quero que ao menos
atue como minha filha e me ajude.
Sento-me e digo.
— Escute, ainda estou cansada e de mau humor. Só volte hein,
digamos daqui a algumas horas e podemos discutir qualquer coisa que
deseje.
— Sempre está cansada e de mau humor, e precisa sair da cama para
que Yucky possa lavar os lençóis. Provavelmente tem algo crescendo sobre
eles.
— Muito engraçado.
— Prometi ajudar seu tio a vender algumas das ovelhas nestas
semanas. Depois disso quero te mostrar meu país.
— Sim, vamos fazer isso. Daqui a algumas semanas — digo apenas
para que me deixe em paz.
Deito de novo e coloco a coberta por cima da cabeça. Eu só preciso
dormir um pouco mais, não trabalhar durante minhas férias ou passear.
Deixo escapar um suspiro quando peço para que saia do quarto.
Olhando a cama de Snotty, vejo que está vazia. Provavelmente está na casa
de Avi.
Não que eu seja ciumenta, não sou. Apenas não sei por que ele é
amigo dela. Ela pode ser bonita, mas é má.
Ou apenas comigo seja má, o que me faz odiá-la ainda mais.
Fecho meus olhos e trato de pensar em coisas boas, como voltar para
casa.
Nada realmente me faria mais feliz agora. É disso que se trata ter
dezesseis anos? Se for assim, posso entender porque os adolescentes se
68
expressam de muitas maneiras diferentes. Não é como se fôssemos
estúpidos, só estamos tratando de descobrir aonde pertencemos.
Eu? Não pareço encaixar em nenhum lugar esses dias. Sou como um
pino quadrado tentando me encaixar em uma sociedade redonda. Agora que
penso mais, não sou quadrada ou redonda. Mais como um octógono. E eu
não me encaixo em nenhum lugar agora. Eu pensei no que havia dito, mas
meu bonito e super-ditado mundo tem complicado tudo isso. Pergunto-me
como está Mitch sem mim. Será que sente saudades?
Durmo de novo, e quando acordo meu estômago grunhe, então vou
pra cozinha. Todo mundo já saiu e a casa está em completo silêncio.
Olho de relance pra Sofia, que está sentada em uma cadeira de
veludo lendo algum livro.
— Boker Tov, Amy — diz com uma voz solene enquanto abro a
geladeira procurando alguma coisa.
— Sinto muito — digo. — Não sei o que isso significa.
Finalmente aprendi que shalom significa três coisas: oi, adeus e paz.
Meu conhecimento de hebreu é patético, na melhor hipótese.
— Boker Tov significa “bom dia”.
— Oh. Boker Tov pra você também.
A avó parece estar tranquila esta manhã. Sentarei com ela e
conversarei enquanto tomamos café da manhã, talvez isso a anime. De fato,
vou preparar algo especial pra ela.
Enquanto pego um prato de frutas, tomo meu tempo e corto
pequenos pedaços de banana e melão com formas que a mãe de Jessica me
ensinou. Jessica chama essas coisas de delírios das pessoas sobre “prazeres
da multidão”. Um pouco de fruta picada em forma de uma cara de palhaço é
um deleite ao público definido.
Coloco o prato diante dela em uma mesa ao lado.
69
— Todah — diz ela.
— De nada — Olho minha obra. — É uma cara de palhaço.
— Muito criativo. Gosta de cozinhar?
— Na verdade não. Gosto de comer. Vamos a todos os restaurantes
perto de casa.
— Seu pai não cozinha pra você?
Sei o que está pensando. Essa é uma grande oportunidade para eu
dizer a Sofia o que realmente acontece em casa. No entanto, quando olho
seus brilhantes olhos azuis de uma velha mulher, me sinto protetora com
ela. Por mais que gostaria que minha avó tivesse vergonha do Doador de
Esperma, não posso lhe dar um mal-estar.
— Bom, quando vai me ver faz uma grande lasanha — digo, minha
boca movendo-se sem que meu cérebro pense muito tempo nisso. — E sua
picatta de frango19 é de outro mundo. Até faz muffins de blueberry assados
para mim nas manhãs de domingo.
— Picatta de frango, huh? — diz.
Oh, merda. Ela está me olhando. Provavelmente deveria ter deixado
de lado os muffins ou deveria ter dito churrasco ao invés de Picatta.
Entretando continuo com minha história para o bem ou para o mal.
— Sim. Estou segura que se pedir te fará alguns – digo enquanto olho
meus pés e vejo que meu esmalte está descascado.
Ouço a porta abrir e Doda Yucky vem entrando pra dentro de casa.
— Amy, Safta começa seu tratamento de quimioterapia em uma hora
— diz. Ambas ajudamos minha avó a se levantar. — Todo mundo está com
as ovelhas — diz Doda Yucky. — Estão te esperando.
19
Piccata é um método de preparação de alimentos: a carne é cortada, empanadas, douradas, servidos
em um molho
70
Sou lançada para uma terrível sensação de preocupação por Safta.
Quimioterapia? Oh, não... isso significa câncer.
— Posso ir com você? — pergunto. — Posso, se você quiser.
Safta acaricia as costas da minha mão suavemente.
— Não se preocupe, estarei bem. Vá com os jovens e desfrute de sua
estadia aqui. Não quer ficar dando voltas por um hospital durante o dia todo.
Está bem?
— Ok.
Quero ir com ela para assegurar que o médico saiba que ela é minha
Safta e necessita da melhor atenção possível. Sabem como ela é importante?
Doda Yucky sai com Safta pela porta e estou sozinha de novo.
Continuo evitando as ovelhas hoje. Ron quer me ajudar, mas por que me dá
um trabalho que não posso fazer?
Não quero lhe dar uma razão para se ressentir de sua filha. E se
ocorre o contrário, se é que presume a todos o quão ótima eu sou, não quero
que a verdade apareça, que sou tudo, menos perfeita.
Na verdade, apesar de que tenhamos problemas importantes para
superar, quero que se orgulhe de mim. Sei que é uma ideia boba, mas é
verdade.
Passo a hora seguinte reorganizando meu lado do armário. Meu olho
vê a pouca roupa do outro lado. Seguramente Snotty gosta de mostrar muita
pele.
Caminho para fora sem saber que um filhote de cachorro me
esperava na porta. Genial, o único que gosta de mim aqui é um cachorro.
— Arg!
— Estúpido Mutt — murmuro.
— Arg!
71
O ignoro, mas ele continua seguindo os meus pés. Meu estado de
ânimo aumenta um pouco quando o vejo na frente de casa, justo debaixo de
uma grande árvore, uma rede. Sento-me nela e coloco minhas mãos detrás
da minha cabeça como uma almofada.
— Arg!
Olho pelos buracos da rede e observo Mutt debaixo de mim.
— O que quer? — pergunto.
— Arg! Arg! Arg!
Grunho. Os cachorros não são meus. No entanto apenas para calá-lo,
abaixo a rede e me rendo ao aborrecimento. Volto para rede com a coisa em
meus braços. Tive que colocá-lo sobre mim porque podia cair através dos
buracos. Ele encontra um lugar cômodo em meu estômago e suspira
satisfeito.
Contra meu bom juízo, me encontro acariciando-o. Provavelmente
tem pulgas e outros insetos que vivem em seu corpo, mas é suave e
esponjoso, como um edredon.
— I-me!
Olho pra baixo e descubro uma cara angelical que sorri para mim. É
meu pequeno primo Matan. Ele não consegue dizer meu nome e me chama
de “I-me”. Acredito que é lindo, assim não o corrijo.
Mutt sai do meu colo e me sento. Vejo que Matan recolheu flores, e
são para mim. Meu coração gelado começa a derreter-se e as flores silvestres
que me dá são de cores amarela, púrpura e branco(ou ervas daninhas,
mesmo assim fico olhando).
Seu sorriso se amplia quando pego as flores, as cheiro, e digo.
— Mmmm.
72
É surpreendente o pouco esforço que se necessita para fazer um
garoto feliz. Por desgraça, todos crescem e se convertem em cínicos
adolescentes de dezesseis anos, como eu.
Levanto Matan e o coloco ao meu lado na rede. Ele ri quando nos
balançamos. Pego uma das flores e coloco no seu cabelo, ela se sobressai
sobre seus cabelos longos e encaracolados.
— Bonito — digo, rindo.
Eu sei que ele não entende uma palavra em inglês, mas ri de novo,
logo toma uma flor das minhas mãos e coloca no meu cabelo. Ficamos
fazendo isso durante uns dez minutos, até que nós dois estamos cheios de
coloridas flores silvestres em nossos cabelos.
Ele fala em hebreu pra mim e eu falo inglês de novo. Não importa
que nós dois não saibamos o que o outro está dizendo, estamos nos
divertindo. E diversão é universal em qualquer idioma.
Uma senhora que eu não tinha visto antes se aproxima e diz algo a
Matan. Ele salta da rede e corre de volta pra ela.
— Yucky o deixou comigo, mas ele queria te ver. Espero que esteja
tudo bem — diz.
— Está bem — digo. — O que significa o nome Matan em hebreu?
— Significa “presente” — explica antes de levá-lo.
Ele olha pra trás, corre até mim, e me dá um grande abraço.
— Shalow, I-me — diz, movendo seu cabelo.
— Shalow, Matan.
Quando olha para trás com o cabelo cheio de flores e acenando para
mim, me dou conta que acabo de fazer meu segundo amigo em Israel(Mutt é
o primeiro).
73
Capítulo 11
Não confie em homens, humanos ou outra forma.
Entrando em casa, pego meu esmalte e o fico segurando. “Coton
Candy” é o nome da cor dele. É um brilhante e reluzente rosa que se destaca
na luz do sol. Acredito que será genial quando refletir na luz do sol.
Decido pintar minhas unhas do lado de fora, no sol, depois de acabar
com um esmalte velho. Sentada na frente de casa, abro o vidro. Sinto-me
melhor. Suponho que fazer algo que estou acostumada a fazer em casa me
ajuda.
Mutt se aproxima de mim e fica ao meu lado, usando-me como sua
árvore de sombra. Deixo, apenas porque me irritará de qualquer jeito. Pinto
as unhas dos pés até que escuto um som vindo de trás de Mutt que parece
surpreendentemente como um peido.
— Eww — digo.
Ele não se levanta, só me olha como se eu estivesse irritando ele.
— Escuta. Se for ficar ao redor de mim, há regras. Regra número um:
latir como um cão. Regra número dois: tomar um banho antes de aparecer
na minha frente. Regra número três: não quero um cachorro, então pode ir
atrás de quem perdeu você. Regras números quatro, cinco e seis: sem peidar.
Entendeu?
Mutt se move vagarosamente e vai. Eu disse algo ruim? Talvez
devesse brincar com ele mais tarde. Só pra não haver ressentimento.
Volto a pintar minhas unhas quando escuto alguém caminhar dentro
de casa. Eu olho e vejo que é Avi, o último garoto do universo que eu gostaria
de ver. E ele está me olhando.
74
Molho o pincel no vidro de esmalte.
— O que está olhando? Você já me viu sem roupa — digo, tentando
não olhar na sua direção. É muito difícil, porque ele parece um modelo da
Abercrombie.
Entretanto, logo que recordo que me viu seminua, quero-o longe da
minha linha de visão. Não posso andar porque minhas unhas dos pés ainda
não estão secas e não quero borrá-las. De todo modo, por que tenho que ser
eu a ir embora?
Mutt decide voltar nesse momento. Espero que venha em minha
direção, mas vai para perto de Avi.
Traidor.
— Não tocaria nessa coisa — digo. — Está mais sujo que meu tio
Bob.
Tio Bob trabalha numa fábrica. Se limpa bem, mas não importa
quantas vezes lave as mãos, sempre estão pretas com sujeira debaixo das
unhas.
Avi se agacha e o cachorro traidor balança o rabo com tanto
entusiasmo que poderia pensar que é uma bandeira em um desfile. Logo, me
olha. Não o traidor, e sim Avi.
— Você não é de muita ajuda, não é verdade? — diz.
Nem sequer tento rir. Seu comentário me faz apertar os lábios.
— Que seja — digo.
Em seguida volto a aplicar uma segunda mão na unha dos pés.
Porém agora estou com tanta raiva do que Avi me disse que minha mão
começa a tremer e estou passando esmalte em toda a pele do dedo do pé.
Parece agora como se cada pincelada tivesse sido feito por uma criança de
dois anos.
75
O cachorro começa a andar ao meu redor e enterra seu nariz úmido
debaixo da minha mão.
— Vai embora — digo.
Não me deixa, apenas fica na minha frente. Olho para Avi outra vez,
que continua olhando para mim. Por que está fazendo isso?
— Arg!
— Traidor — me queixo com os dentes apertados pra Mutt.
— Arg!
Se eu disser o que Mutt fez depois não vai acreditar. Começa a
balançar o rabo como se estivesse tratando de brincar comigo ou algo assim.
Quando não mordo a isca, pega meu sapato com os dentes e sai correndo.
Agora veja, não é um sapato. É meu primeiro e único par de sandálias
de Ferragamo20.
— Devolve-me — digo. — Tem uma ideia do quanto custa?
Tento agarrá-lo, mas o pequeno diabo começa a sacudi-lo como se
fosse um brinquedo mastigável.
— Para — digo, com um ruidoso tom de aviso.
No entanto ele não obedece. Começa a correr. Levanto-me, tentando
não arruinar minhas unhas dos pés no processo. Porém não adianta nada. À
medida que chego mais perto do cachorro, ele começa a ir na direção oposta.
Agora é guerra.
À maioria das vezes corro em um ritmo relativamente lento, mas isso
não quer dizer que não posso correr mais rápido de vez em quando. O único
problema é que meus seios movem-se pra cima e pra baixo quando corro
20
marca de um estilo de sandália
76
rápido. Entretanto tento não pensar nisso. Estou concentrada em salvar
minha sandália de Ferragamo.
Mutt para ao lado de uma das casas e faço como se eu não estivesse
vendo ele. Escondo-me atrás de um limoeiro com os limões mais grandes
que já vi na vida. São tão grandes como a cabeça de um bebê.
Quando acredito que deve ter se esquecido que estou atrás da
árvore, o olho escondida. Seu rabo está no ar outra vez e começa a correr a
mil por hora. Está olhando diretamente para mim.
E minha sandália continua na sua sarnenta e babada boca.
— Deveria ser castrado — digo, e dou um passo para frente da
árvore. Talvez ele tenha um pouco de respeito por Ferragamo.
— Grrr.
— O quê? Não é “arg”? — Enquanto estou falando, continuo
escondida dele. — Deixa de abanar esse rabo para que eu possa ter onde
agarrar quanto te pegar Mutt sarnento.
— Grrr.
— Não tenha medo – continuo, cada vez mais perto. Estou quase o
alcançando. Grrr.
Minha concentração é unicamente na sandália até que dou um passo
e sinto algo pressionando contra a sola dos meus pés. Olho para baixo e me
dou conta que acabo de pisar em um pepino podre. Porém dando uma
segunda olhada, me dou conta que não é um pepino e sim uma COBRA
MORTA. É negra, mas parece verde florescente na luz do sol.
Nunca havia me sentido tão asquerosa como estou agora, correndo
em direção à casa de meus tios. Obscenidades completas saem da minha
boca. Tentando ser forte e não pensar nas tripas da serpente que deviam
estar entre os dedos dos meus pés, corro tão rápido quanto minhas pernas
permitem.
77
— Man... — digo a Avi entre náuseas. Por favor Deus querido, me
deixe dizer mais uma palavra antes da próxima náusea. — Man... — Náusea.
— Mangueira! — Aponto para meus pés caso ele não estiver entendendo.
Escuto uma risada curta (atrás de mim) e o sigo até atrás da casa.
Quando vejo a mangueira, corro até ela tão rápido quanto os resquícios da
cobra no meu pé permitem.
Avi abre a água e rapidamente um jato de água é apontado aos meus
pés descalços. Pequenos pedaços negros de tripa fibrosa estão no meio dos
dedos dos meus pés. As unhas estão secas agora, com rastros de grama e
feno nelas permanentemente.
Todavia tenho náuseas, não posso evitar. Acho que se parar de olhar
meus pés, posso sair disso. Quando a água começa a sair da mangueira, a
pego e molho meus pés. Meu olhar vai em direção a Avi.
— Obrigada por tudo que está fazendo pra ajudar com minha
sandália — digo sarcasticamente.
— Obrigado por tudo que está fazendo pra ajudar com os rebanhos
— diz.
— É rebanho, não rebanhos. Não importa se é uma ovelha ou mil,
continua sendo rebanho.
Avi caminha na minha direção e tira a mangueira das minhas mãos.
Vejo com olhos totalmente abertos como se ajoelha e levanta meu pé
descalço e o coloca em suas mãos. Então, mesmo que não acredite, lava meu
pé totalmente.
Estou a ponto de perder o equilíbrio. E não é porque quero que Avi
me sustente ou algo. Não gosto de bancar a donzela em perigo cada vez que
está perto de mim.
Estou aturdida porque o calor não tem piedade conosco e porque
machuquei a parte de trás depois que Mutt me roubou o Ferragamo. Tirando
tudo isso, o garoto que estou decidida a odiar tem um dos meus pés em suas
mãos.
78
— Pode parar com as náuseas, qualquer coisa que tinha no seu pé
não existe mais.
— Era uma cobra!
Encolhe os ombros, como se não fosse muito importante.
— Alguma vez já pisou numa cobra?
— Normalmente olho por onde caminho.
Tiro de uma vez meu pé das suas mãos.
— Bom, onde vivo não existem cobras, mortas ou de outro modo.
Avi levanta-se, o que não é tão legal já que estava me sentindo
superior quando estava ajoelhado. Porém provavelmente tem cerca de
1,83m e quando baixa o olhar pra mim, me sinto pequena. Em vez de
responder, tira gentilmente uma flor do meu cabelo.
— Lindo – diz, girando o talo da flor em suas mãos.
— Hein? — esqueci que Matan colocou flores silvestres no meu
cabelo. Brancas, roxas, amarelas. Devo parecer como um pássaro.
— Teu pai quer que te diga que todos estão em minha casa comendo
o que chamamos de almoço. Se quiser ir, me siga.
Dou um passo ao seu lado enquanto está caminhando, e logo paro.
— Por que ele mesmo não me disse?
Avi me olha com desdenho.
— Também queria que me desculpasse por te olhar quando estava
se trocando na primeira noite que esteve aqui.
— Então?
79
— Os israelenses não se desculpam por algo que não estão
arrependidos.
Agora de verdade estou ficando irritada.
— Não vai se desculpar?
Ele olha diretamente nos meus olhos.
— O que eu vi foi bonito e natural, assim qual a razão que deveria
dizer que sinto muito?
80
Capítulo 12 Garotos são idiotas ou sem noção. Escolha.
— Ron, preciso ligar para casa. Meu celular não funciona. — Já estou
em Israel há quase seis semanas e preciso ligar para casa mais uma vez. Em
primeiro lugar, Mitch voltou de sua viagem de acampamento e preciso falar
com ele. Em segundo lugar, preciso ligar para mamãe e Jessica.
Ron está sentado no sofá vendo algum canal de notícias em hebraico.
O tio Chime está com ele, junto com Matan.
Matan está semi nu e vem estado assim durante a maior parte da
minha viagem até agora. Quem sou eu para levantar a questão de que seu
filho não está vestido, e que seu amiguinho está aparecendo pra que todo o
moshav veja? Poderiam se dar conta que não estamos vivendo em uma
colônia nudista.
— Acho que sua mãe iria sair da cidade — disse Ron, com seu rosto
ainda mirando a TV.
— Então, ligarei pra um amigo.
— Qual é o número? — diz, enquanto vai em direção ao telefone da
cozinha.
Obviamente, como em todo canto aqui, não existe privacidade.
Falo o número de Mitch e então ele me passa o telefone. Acabo me
aproximando do refrigerador, e me encosto ali pra falar.
— Olá — responde uma voz áspera.
— Mitch? — digo.
81
— Sim?
— É Amy.
— Ahn?
— Você sabe, sua namorada – digo começando a me envergonhar.
— Hey, carinho. Lamento não ter ligado antes. Sabe que horas são?
— diz, sua voz, no entanto chega cortada.
— Estou em Israel, Mitch. E não, não sei que horas são em Chicago
porque estou praticamente do outro lado do mundo.
— Espera, acabei de me perder. Israel?
— Está dormindo ou me escutando? Porque aqui eu só posso fazer
uma chamada e escolhi você. É como uma prisão.
Ouço Mitch bocejar e posso dizer que está tratando de se sentar ao
invés de deitar na cama. Espero que agora preste alguma atenção ao que
estou dizendo.
— Mitch?
— Espera, tenho que mijar.
Tenho vontade de bater minha cabeça na parede.
— Não pode esperar?
— Não.
Estou tratando de disfarçar minha raiva na frente do restante da
família.
— Bom, pode se apressar um pouco? É uma ligação de longa
distancia, sabe?
82
— Estou tentando, carinho.
Ao fundo ouço um barulho de urina golpear a água e Mitch deixa
escapar um satisfatório e longo suspiro. Não sei se deveria me sentir
estranha de que ele esteja suficientemente cômodo para que urine quando
está no telefone comigo, ou enojada.
— Terminou? — pergunto depois de escutar a descarga.
— Sim – diz. — Estou de volta ao meu quarto.
— Não lavou as mãos.
Quero dizer, se o ouvi urinar e apertar a descarga, definitivamente
teria que ter escutado lavar as mãos.
— Acabo de dizer que terminei. Se lavar as mãos tenho que baixar o
celular. Quer esperar?
— Suponho que não. Só lembre-se de lavá-las quando se livrar de
mim — digo. — E depois, desinfete seu telefone com um spray
antibacteriano.
— Deixo isso para você, diga as coisas como estão, Amy.
Por desgraça Snotty abre a porta e caminha pra dentro de casa com
Ofra. Avi, Doo-Doo, e Moron as seguem pra dentro. Ótimo. Que sorte a
minha. Agora tenho uma plateia maior para escutar a conversa com meu
namorado.
Olhando de relance vejo Avi me olhando com a mandíbula tensa. Não
tenho falado com ele desde que deliberadamente não se desculpou por me
olhar quase nua. Na realidade, acredito que estamos nos evitando. O que eu
considero uma boa ideia.
Volto-me para que eu fique cara a cara com a parede e digo com voz
mais baixa no telefone.
— Sabe que eu gosto de você, certo?
83
— Merda — diz Mitch. — Acabo de bater o dedo do pé na tábua do
skate.
Não é a resposta que esperava.
— Está bem? — pergunto, tentando não perder a paciência.
— Acho que estou sangrando. Espera um minuto.
Fico me perguntando quanto custa um minuto numa chamada
Israel/EUA, e então começo a enrolar o cabo de telefone no meu dedo.
Enquanto espero é difícil não me virar e dar uma olhada no que
fazem os demais. Estão falando em hebraico em voz alta.
Não posso suportar mais. Dou uma olhada em Avi. Ele está vestindo
uma camiseta preta com algumas palavras em hebraico e jeans desgastados
com buracos em ambos os joelhos. Ele também está usando uma corrente de
prata em volta dos pulsos.
Agora, já vi garotos usando joias antes, e nunca imaginei que
realçava sua masculinidade, ao contrário. Porém Avi levava a pulseira como
se fosse um acessório másculo. Com certeza faz com que outros garotos
pareçam tontos por não ter uma pulseira de prata em volta do pulso.
Quando olho para cima, me sinto uma voyerista quando me dou
conta que estava o olhando de cima a baixo. Avi levanta a mão com a
pulseira, me dá um oi irônico.
Sinto que meu rosto começa a ficar vermelho e que meu sangue
começa a golpear com força na minha cabeça. Ele me viu o olhando. Quero
morrer agora, ainda mais quando Snotty se aproxima e lhe agarra a mão.
Essa mão que sustenta a mão de Snotty é a mesma que segurou meu pé
coberto de tripas de serpente há algumas semanas.
— Bem, voltei — diz Mitch. — Não há sangue, no entanto dói que é
uma merda.
Esqueci que ainda estava esperando, e que para ser honesta não
estava prestando atenção no que Mitch acabara de dizer. Voltando-me à
84
parede, dou algumas risadas baixas. Avi está tentando se concentrar em
Snotty, mas eu sei com uma olhada que está escutando o final da minha
ligação.
— O que é tão engraçado? — pergunta Mitch. — Estou sentindo dor
aqui e tudo que pode faz é rir?
Já tentou alguma vez fingir aos demais que está passando por um
momento quando não está? É uma merda quando a outra pessoa não capta.
Necessito seguir no jogo, mas eu não posso lhe dizer por medo de ser
descoberta. Acompanhe-me no jogo Mitch.
— Não posso esperar pra ir ao acampamento com você — digo.
Deixemos que Snotty e todos eles se deem conta que tenho alguém
me esperando quando voltar pra casa. Por alguma razão, me sinto menos
perdedora por sair sozinha desde que cheguei aqui.
— O que está acontecendo com você? — Odeia acampar.
As risadas veem naturalmente, no entanto faço um trabalho bastante
decente fazendo-as soar como autênticas.
Embora agora meu namorado pense que sou estranha.
— O que acontecerá com nossas entradas para o concerto de
BoDeans em Ravinia no próximo fim de semana? — diz. — Gastei quatorze
dólares nos boletos, junto com os trinta extra que gastei nos boletos de
Renaissance Faire21. Você disse que iria comigo.
Afortunadamente o grupo se dirige pra fora, assim posso ser eu
mesma novamente.
Olho novamente na sala e observo uma coisa em formato de aranha
que está presa no teto.
21
Fertival Renascença é um encontro de fim de semana ao ar livre, geralmente realizada nos Estados
Unidos, aberto ao público e, normalmente de natureza comercial, que imita um período histórico para a diversão de seus convidados.
85
— Sim, bem, isso foi antes que fosse obrigada a vir pra um país
infestado de cachorros roubadores de Ferragamos e aranhas voadoras.
— O quê?
— Esqueça. Gostaria de estar aí com você, de verdade.
Deus, espero que não peça a Roxanne Jeffries que vá com ele. É sua
vizinha e tem estado flertando com ele durante todo o ano. Até me disse que
ela se troca com as cortinas abertas.
— Olha, tenho uma ideia genial. Leve a Jessica. Ela não está fazendo
nada este verão, tirando trabalhar em um acampamento de dia para
meninos. Irá com você — E te vigiará pra mim.
— Não acha que seria estranho que fosse com sua melhor amiga?
— Não é como se fosse ser romântico ou algo assim.
Jessica nem sequer pensa que Mitch é lindo. Ela disse que ele lembra
um caniche empastelado22. Todo mundo tem direito a uma opinião. Mamãe
sempre disse: “As opiniões são como bundas, todo mundo tem uma e todo
mundo pensa que a do outro fede. — É correto.
— Suponho que posso chamá-la — diz finalmente.
— Diga que sinto saudades.
— Claro. Quando vai voltar?
Se puder manipular Ron, bem rápido.
— Antes que comecem as aulas, mas quem sabe. — Ambos
estudamos na Academia Chicago, uma escola preparatória privada.
Ele boceja.
— Divirta-se.
22
Como um cachorro felpudo amontoado
86
Como se pudesse.
— Você também. Não sinta muitas saudades de mim.
Dou uma pequena risada antes de dizer.
— Adeus, Amy.
Parece que ouço o click de ligação caiu antes que eu pudesse
responder.
87
Capítulo 13
Uma estrela é só uma estrela. O que significa?
São nove da manhã do dia seguinte e estou irritada, como de
costume. Tomo o café da manhã, quando estou prestes a comer novamente
vejo Safta sentada na sua cadeira. Snotty voltou tarde da noite ontem, com
todos os seus amigos rindo e fazendo barulho em plenas duas da manhã.
Odeio admitir, mas estou arrependida de ficar em casa. Com exceção de
Snotty e Avi, ficar com o grupo é divertido.
— Seu aba quer que vá ao curral das ovelhas. Está te esperando —
diz Safta.
— Não quero.
Sei que isso me faz parecer uma criança, mas por que entrar em
detalhes e feri-la?
— Ele sente sua falta.
O quê? Ele não sentiria minha falta mesmo que eu desaparecesse da
Terra.
— Não acredito — digo enquanto como um pedaço de comida com
homus23.
— Ele ama sua pátria, e quer compartilha-la com você.
Estou com a boca cheia de homus, mas deixo escapar.
23
pasta de grão de bico
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— Por que não volta a morar aqui se ama tanto esse lugar?
— Aposto que sabe a resposta dessa pergunta Amy. Ele continua
longe daqui por você. Você é a sua família. Seu futuro. Seu sangue. Onde você
estiver essa será sua casa.
Aproximo-me e fico ao seu lado enquanto escuto sua voz. É calmante,
e quando ela fala quase parece uma cantiga. Eu sou ruidosa. Minha mãe é
ruidosa. Eu falo alto.
Caminho pesadamente. Sou apenas uma pessoa ruidosa. No entanto
esta mulher mais velha é como algodão, tudo nela é suave e silencioso. Então
ela se inclina e tira algo do seu bolso.
— Abra sua mão Amy — diz.
A estendo. Vejo algo cair algo dentro dela e ela fechando suavemente
meus dedos sobre minha palma.
— O que é? — pergunto.
— Olhe.
Abro minha mão e vejo uma pequena estrela judia de diamantes e
ouro brilhando no centro dela. Está unida a uma corrente de ouro fino. A
estrela é menor que uma moeda, mas grande o suficiente pra que eu saiba o
que é, porém suficientemente pequena para ser quase... Particular.
Não sei o que dizer. Ser judia não é uma parte de mim. Mamãe não
acredita em religião então eu nunca tinha estado numa igreja a não ser pela
boda do meu primo. Tampouco fui a uma sinagoga, exceto para o bar
mitzvah de Jessica.
— Gostaria que ficasse — diz Safta. — É chamada Magen David, a
estrela de Davi.
Sério, eu quero. Não sei por que a quero, mas não posso. Não sou
judia e me sentiria como uma grande farsante se aceitasse. Quero dizer,
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nunca poderia usá-la ou algo assim. É que é tão brilhante e resplandecente, e
realmente significa algo para Safta.
— Não posso ficar — digo. Quando noto a decepção em seus olhos
que são uma réplica dos meus, continuo. — É muito bonito.
— Tem algo mais que quer dizer, não?
— Como sabe?
Paro e digo.
— Não sou judia.
Não posso vê-la. Se o faço, poderia ver que está brava porque uma
garota não-judia é sua neta. Não sei como se sentem os israelenses sobre os
não-judios. Por alguma razão não quero que fique brava comigo. Porque
gosto de Safta. Muito.
— Olha-me, minha querida Amy.
Eu? Querida? Levanto meus olhos e a olho diretamente.
Está sorrindo, as rugas ao redor de seus olhos fazem pregas
profundas enquanto pega minha mão na sua, a mesma que segura o colar
com a pequena estrela judia.
— Ser judia é mais algo de seu coração do que sua mente. Para
alguns ser judeu é seguir fielmente as leis e costumes de nossos
antepassados. Para outros é ser parte de uma comunidade. A religião é
muito pessoal. Sempre estarei ali para você se precisar. Pode escolher adotar
o judaísmo, ou decidir que não é necessário. Nada pode impor a religião em
você ou ela não será verdadeira.
Olhando para o colar na minha mão, digo.
— Então, posso ficar com ele? Só por um tempo. Devolverei,
prometo.
Ela acaricia minha cabeça.
90
— Eu sempre me perguntava por que meu filho continuava longe de
Israel por tanto tempo, mas eu vejo a maneira que te olha. Ele quer te
proteger, evitar que seja ferida ou machucada enquanto tenta respeitar esse
fogo interior que possui. Esse fogo é genuíno e puro. Pegue o colar — diz,
enquanto afasta a mão. — Fique o tempo que quiser com ele.
Olhar esta mulher – que tem olhos parecidos com os meus e que diz
palavras que põem meu mundo ao contrário – perturba meu eu interior.
Aperto o colar em minha mão. Logo me viro e caminho até a geladeira
buscando um pouco de água. Embora ela esteja na frente do meu rosto
quando abro a porta, meus membros se sentem paralisados.
Fecho a geladeira e me volto a Safta enquanto caminho pra porta.
— Acho que vou dar um passeio — digo.
Dou mais uma olhada no colar antes de colocá-lo gentilmente no
bolso de trás da minha calça.
Encontro-me andando a caminho das ovelhas. Quando me aproximo
dos currais, o ladrão-sujo-de-Ferragamo se move na minha direção. Sua
cauda suja está se movendo furiosamente, ventilando suas partes de trás.
Recordo meus pés cheios de tripas de serpente, e caminho passando por ele
e o ignorando, fazendo caso omisso das suas tentativas patéticas de fazer as
pazes.
— Arg!
Olho para baixo pra ver a coisa.
— Arg para você. Onde está minha sandália?
— Arg! — Continua — Arg!
Ele vai para fora onde há uma área de colinas além dos currais, e
penso no quão afortunado é esse cachorro por ser livre e fazer o que quiser.
Mesmo roubando o sapato dos outros, não há repercussões.
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Caminho em direção aos currais, o som de gemidos de ovelhas e o
barulho das máquinas de tosar me levam a acreditar que estou na direção
correta. Vejo Ron, e vou na sua direção. Tento me convencer de que quanto
mais tempo fique por aqui, não há razão de que Ron pense que sou
incompetente e lamente que seja sua filha.
— Amy, carinho, por aqui!
Meus olhos vagam na direção da voz de Ron. Ele nunca me tinha
chamado de ‘carinho’ antes e isso me surpreende. De todo modo, que
significa isso? Carinho. É doce, mas também pegajoso e não deixa tuas mãos
facilmente. Molestamente doce. Essa sou eu? Não nesta vida.
Ele está se inclinando, e seus joelhos se fecham sobre uma ovelha
enquanto tosa seu pelo. Para as ovelhas não parece importante, mas pra
mim sim.
— Ron, isso é desumano.
Ele termina de passar a máquina de tosar através da pelagem da
ovelha enquanto os tufos caem ao seu lado. Por último libera ao pobre e
desnudo animal e me olha.
— Existe uma maneira melhor? – pergunta.
É então que me dou conta que Ron não é o único tosando ovelhas.
O’dead está ao lado de Ron, Doo-Doo ao lado de O’dead, Tio Chime ao lado de
Doo-Doo, e Avi ao lado do meu tio. Todos estão esgotados, posso dizer pela
forma que estão respirando com dificuldade e suas camisetas estão
molhadas por causa do suor. Não apenas nas suas axilas e peitos, suas
camisas inteiras estão empapadas de suor.
E todos estão me olhando, tirando O’dead. Ele está olhando Snotty do
outro lado do curral. Hmmm.
Os sons das máquinas de tosar param e sinto como se o mundo
também o fizesse. Penso em algo rápido pra dizer.
Algo vem a mim como um raio e deixo escapar.
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— Por que não as deixam com sua pelagem?
Duh. Isso parece tão simples que dou uma breve risada curta.
As risadas do meu lado direito me alertam de minha prima e Ofra.
Snotty está com uma camisa justa de cor escura, e sua maquiagem escura
está correndo por suas bochechas enquanto alimenta um cordeiro com uma
mamadeira. Nunca ouviu falar de rímel à prova d’água? Ou o termo de que
menos é mais?
— Estarão com muito calor durante os meses de verão — explica
Ron.
Sento-me numa das grades de metal e observo. Há cães no meio do
curral, comendo alguma coisa vermelha e pegajosa que está no chão. Meus
lábios tremulam.
— O que os cães estão comendo? – pergunto. Talvez eu não queira
saber, mas minha curiosidade leva a melhor.
— Uma das ovelhas teve um bebê esta manhã.
— Eles estão comendo um cordeiro?
— Não, a placenta. É muito nutritiva.
— Ewww! — digo.
Não deveria ter perguntado. Se não tivesse perguntado não saberia.
ASQUEROSO! Placenta de um bebê ovelha. Urg! Deixa de pensar nisso Amy,
deixa de pensar nisso.
No entanto quanto mais trato de deixar pensar nisso não posso tirar
os olhos. Bem parecido como nessas cenas de crimes sangrentos que
mostram na TV. Não quero vê-las, mas não posso evitar.
Pelo rabo de olho vejo Mutt entrando no recinto. Ele é
suficientemente pequeno pra passar debaixo das barras de metal. Quando
me olha, me aproximo dele.
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— NÃO coma placenta de ovelha — digo.
Ele assente, como se entendesse o que eu digo. Logo anda até a
placenta e começa a lambê-la, então pega uma parte da coisa pegajosa e
sangrenta em sua boca e tira de lá. Não posso olhar mais.
Se apenas Jessica estivesse aqui poderíamos rir pela situação
asquerosa. Mas ela não está.
Aproximo-me do lugar onde as ovelhas recém-nascidas estão. Um
cordeiro bebê tropeça em mim e o acaricio.
— Oi, carinho — digo.
Acho que é a primeira vez que sorrio desde que Matam colocou as
flores no meu cabelo.
— Não fique muito apegada, ele vai morrer logo.
Meu coração se funde e meu sorriso some tão rápido como apareceu.
Volto-me pra Snotty enquanto seguro o cordeiro bebê.
— O que? — digo.
— Temos que matá-los aos três meses de idade. Esse é um macho,
assim será o primeiro.
Olho nos olhos do recém-nascido pequeno e indefeso e o aproximo
de mim protetoramente.
Sou carnívora. Ver de tão perto e pessoalmente o animal que vou
comer me faz sentir dor de estômago. É tão lindo. Como sequer posso pensar
que o pobre será sacrificado? Talvez não corte os carboidratos depois de
tudo.
Matan vem andando em nossa direção com Doda Yucky detrás dele.
Está desnudo, como de costume. O engraçado é que estou me acostumando a
ver o garoto sem roupa que nem sequer me importo.
94
Então ele entra no curral e corre ao redor dos cordeiros. Está
brilhando de alegria enquanto corre e trata de pegá-los.
Depois de um minuto os cordeiros começam a correr atrás dele. Mas
não é para brincar, me dou conta de que eles pensam que seu pequeno
‘passarinho’ é outro bico de mamadeira. Ele estava rindo e fugindo dos
cordeiros que estavam tentando obter leite de sua pequena coisa como se
fosse um jogo. Olhando ao redor, noto que Doda Yucky está rindo, assim
como o resto das pessoas que pararam de tosar as ovelhas.
Corro até Matan e levanto seu pequeno corpo desnudo para protegê-
lo dos cordeiros pervertidos.
Depois de levá-lo de volta em segurança, digo em voz alta pra que
qualquer um possa me escutar.
— Isso. Não. Está. Bem.
Matan não se importa, e mais ninguém também. Na verdade eles
estavam rindo. Doda Yucky conversa com tio Chime antes que ela e Matan
caminhem felizmente de volta pra casa. Graças a Deus.
As máquinas de tosar são ligadas de novo, e todos os homens exceto
Ron estão inclinados sobre as pobres ovelhas. Ele diz algo a tio Chime em
hebreu antes de vir em minha direção.
— Tenho um trabalho pra você — diz.
95
Capítulo 14
A determinação e a habilidade fazem a metade do trabalho.
A estúpida da sorte faz a outra metade. O sigo ao outro extremo do curral, que felizmente está na sombra. — Quando terminarmos de barbear as ovelhas, traz o rebanho até
aqui. Olho aos finos e nus animais. Céus, pareciam tão gordos, acolhedores
e grandes com esse pelo suave, é incrível o quão vulneráveis e pequenos que se viam depois de serem tosquiados. Posso perceber como se sentem enquanto um calafrio corre pelos meus ossos.
Mas estou determinada a ajudar. Acredito. Não arruíne Amy. Meus
olhos procuram Snotty, que alimenta os bebês com garrafas de leite. Isso sim parece divertido. Porque eu estou levando as ovelhas sem pelo até um curral?
O que acontece se ficam rudes comigo? Pior, o que acontece se ficam
rudes entre elas? Ugh! — É capaz de fazê-lo? — Ron pergunta. — Claro — digo com mais convicção do que sinto. — Moleza—
adiciono. Se fizer isto, ele talvez fique orgulhoso de mim. O tio Chime deixa uma das ovelhas ir e esta corre. É um macho, me
certifico pelas coisas pendurada que tem entre suas pernas. E está me olhando fixamente desde o outro canto do curral.
— Vamos — lhe digo. Mas com todo o som ao redor posso apostar que não me escutou.
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A ovelha me olha com seus grandes e assustadores olhos cinza.
Pergunto-me se está me cobrando algo. Movo-me um passo mais próximo. Ela não se move.
— Vamos — lhe digo um pouco mais forte desta vez. Sinceramente espero que ninguém esteja me olhando, me aproximo
do animal outro passo mais. Ele afasta-se. — Por aqui tontinho — digo. O animal não quer me escutar. Maldição. Olho para Ron, mas
felizmente ele não está prestando atenção. Sou eu contra a ovelha. Mencionei que a coisa parecia mais
vulnerável e pequena depois de ser tosquiada? Pois retiro o que disse. Antes de me aproximar da ovelha barbeada, ameaçadora, com quatro patas e com umas coisas penduradas entre suas patas, vejo que outra ovelha se levanta e se aproxima da primeira. Agora tenho que lidar com duas.
Avi se levanta e vai em busca de outra ovelha peluda e gordinha para
ser tosquiada. Nisso, nossos olhos se encontram. Ainda não o perdoei pelo incidente com as tripas de serpente. É incrível que ele não pense em se desculpar por me ver tão nua como as ovelhas sem pelo. Um pouco irônico certo? Eu supliquei com os olhos, me ajuda.
Olhou-me com desprezo. Não nessa vida Amy. Está sozinha. Idiota,
não é que ele pronunciou essas palavras, mas sei que as estava pensando. Que apodreça. Dou mais outro passo para a ovelha. Talvez se
canalizar suas emoções, elas fariam o que eu quisesse. Meus olhos se abrem ao máximo e olho fixamente a ovelha maior intensamente. Entra no curral, lhe insisto com minha mente. Concentre-se Amy, digo a mim mesmo. Coloco meus dedos em minhas têmporas para canalizar meus pensamentos até a maldita criatura de quatro patas que me olha como se eu houvesse me tornado louca.
Sinto uma presença ao meu lado. Viro-me abruptamente e quase me
choco com Avi. A confusão em seu rosto, o cenho franzido e seus olhos cor de chocolate me dizem que ele pensa que sou purê de batatas (apenas no caso de que não está familiarizado com a expressão, significa que sou um humano sem cérebro).
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— Yah! — grita batendo seu pé contra o chão. Isto vem de um garoto que pensa que sou um purê de batatas.
Virei-me para a ovelha, que correu para o curral adjacente pelo
comando. Avi agora tem esse arrogante sorriso em seu rosto como se houvesse feito uma grande coisa.
— Aposto que seu namorado não pode fazer isso — disse. Como se atreve a mencionar Mitch nisso... Nisso... Nisso... — Aposto que ele nem sequer se daria ao trabalho — respondi. Pelo resto da tarde, copiei a técnica de bater-gritar que Avi me
ensinou e me converti em uma verdadeira pastora. Em um momento Ron disse. — Bom trabalho carinho. — Nunca saberá o quanto essas palavras
significaram para mim. Logo depois que os adultos abandonaram os currais pelo dia, olhei
os jovens juntarem-se sobre as pilhas de feno com mais de dois metros de altura.
Caminho perto deles até que Ofra grita. — Amy, vem aqui. — Snotty a olha, mas Ofra a ignora. — Não, obrigada — digo. Avi estava ali em cima, sentado como se houvesse nascido para estar
desta altura. — Ela teme subir até aqui — disse. — Tem muitas palavras, mas
pouca coragem. Incrível. Um minuto ele está tentando me ajudar e no outro está
sendo o maior idiota me insultando. Não faz mais nada para me fazer subir a amarelada e áspera palha.
Quando chego lá em cima, não sei aonde me sentar. Deixo meus pés
pendurados na borda do feno e dou um passo atrás. Todos os olhos estão sobre mim. Volto-me para Avi para lhe dar algo em que pensar.
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— Porque me odeia? — pergunto. Sei que não deveria jogar essa acusação em público, mas não pude
evitar. Preciso saber, preciso saber já. Avi não responde e todos estão olhando para qualquer parte longe
dele. — Não leve como pessoal — Doo-Doo disse. — Tem estado assim
por um tempo. — Por quê? — dirijo minha pergunta a Doo-Doo, mas continuo
olhando para Avi. Ninguém diz nada. A tensão está tão intensa como o sol batendo em
minhas costas. Avi joga umas palavras em hebreu e eu obviamente não entendo nada. Meu hebreu está limitado a aproximadamente cinco palavras. Ele sabe disso. Snotty sabe. Diabos, todos eles sabem.
O que me faz sentir como uma aranha-voadora olhando ao interior
de uma casa sem poder entrar. Não é uma aranha, nem uma mosca. Apenas uma mistura das duas.
Todos começam a discutir. Ao mesmo tempo. Muito forte. Soa como
se fosse um festival de catarro porque ao que parece cada palavra em hebreu tem esse som com “ch” saindo da garganta.
Seria genial saber o que estão falando. Estão discutindo porque Avi
me odeia? Parece que sim. Mas estão discutindo. É óbvio que Avi e Snotty me odeiam, estou encantada com os outros
garotos que são gentis. O´dead se aproxima mais de Snotty quando fala. Uma observação interessante que guardei para depois. Pergunto-me, o que tem ela que atrai todos os garotos? Todas poderiam ter excesso de maquiagem no rosto.
Levantei-me, pronta para descer desta pilha de feno. Sinto-me tão
incomodada ao redor de Avi e Snotty. — Quer acampar conosco? — Doo-Doo pergunta. Minhas sobrancelhas se levantaram. Antes de poder responder Avi
me interrompe. — Mah-pee-tome! — Avi disse a Doo-Doo.
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— Lama-low? — Doo-Doo responde a seu amigo. — Olá? Porque não falam inglês? — disse finalmente. — Não sabem
que é de má educação falar em particular enquanto estou de frente a vocês? Ofra cruza seus braços e assente. — Ela tem um ponto. Meus olhos pestanejam. Poderia beijar essa garota nos lábios por me
apoiar tanto. Embora eu não vou por esse lado. Mas se o fizesse a beijaria. Avi grunhiu. — Eu não acampo — digo. — Disse que iria com seu namorado. A escutei ao telefone — Avi me
desafia. Pensa rápido Amy. Ele te pegou. — Sim, bom, vou apenas com ele. Mitch tem sido parte dos
exploradores desde que tinha cinco anos ou algo assim. Snotty assovia. — Amy, você inventa coisas para tentar ficar bem. O que é real e o
que não é? Avi tem razão sobre você. Silencio. Até que sinto que minha paciência se quebra dentro de
mim. Sei que não deveria começar com a que compartilho o quarto. E sei
que não é o mais inteligente atacar minha prima na frente de uma audiência. Ela talvez não entenda o que direi por questões de idiomas. Mas não posso evitar, estou sobrecarregada de adrenalina correndo por meu cérebro.
Mesmo quando digo a mim mesma para manter minha boca fechada,
me escuto dizer: — Não se cansa de ser toda uma puta? Porque desde que te conheci
tem me tratado como um pedaço de merda. — Estou feito um pacote e minha boca trabalha além da conta. — Não te suporto, suas saias curtas,
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suas calças apertadas... Ou sua triste desculpa de peitos. Isso não pode ser real, certo?
Apontei com meu dedo para Avi. — E você, tudo o que tem a oferecer é uma má atitude e ser um peso
em meus ombros. Irei acampar, apenas para... Te incomodar! Se não gosta, não vá. Dessa maneira pode ser um Israelense com muitas palavras e pouca coragem.
— Você acredita que é valente? — Avi me desafia. — Maldito seja. Poderia lhe empurrar dessa pilha de feno sem
pensar duas vezes. Levanta-se, sua boca esconde um sorriso. — A desafio. Está bem, eu penso. Mas apenas por um momento. Depois o empurro
pelo peito com toda a força que tenho. Não se balança, o garoto é como uma rocha. Quando o escuto rir, me viro e salto a pilha de feno até estar em terra
firme. Não imaginam o sentimento de racionalidade que me oprimiu. Eu penso.
Não sei por que as lágrimas caem por minhas bochechas. Não sei por que incomodei as duas pessoas com as quais terei que
viver o mês seguinte. E estou tão certa como o inferno que não sei por que aceitei acampar
com ele no meio de uma zona de guerra com gente que me odeia. Deus estou em Israel, a Terra Sagrada. Onde você está?
101
Capítulo 15
Quando tem pouco onde escolher, pega o que pode. Essa noite, depois da cena, estava vendo televisão com Doda Yucky
quando os amigos de Snotty irromperam pela porta. Porque o povo daqui não fecha as portas?
Snotty e Ofra saíram do quarto vestidas com vestidos curtos. Avi,
Doo-Doo e O´dead estavam usando jeans com camisetas de manga comprida. Não pergunto aonde vão essa noite, porque não me importa. Sou
muito feliz sentada diante da televisão todo o dia. Tenho ficado gratamente surpreendida, tem um montão de shows na televisão americana em Israel. Isso é provavelmente porque os israelenses sabem tanto inglês.
Ron, que estava falando no telefone a maior parte da tarde, se
aproxima de mim. — Os garotos vão a uma disco. Uma disco? Disco, isso soava como os anos setenta. — Bom para eles — lhe digo. — Não quer ir? — Não. — Pode ser divertido sair do moshav. Se soubesse o que disse a O´snot antes. Insultei sua roupa e seus
peitos. Não vou admitir esses pequenos fatos a Ron. — Vou lhes pedir que te leve — disse, e antes que pudesse detê-lo
se levantou e se aproximou de Snotty. Ele disse algo em hebreu para ela.
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Ela disse algo em troca. Neste ponto Doda Yucky a interrompeu, sua voz um tom de censura.
Então minha tia se aproximou e pegou minha mão. — O´snot quer lhe levar com seus amigos. Sim, claro. Mas a senhora apenas lutou em meu nome, e não tenho o
coração para discutir com ela. Em troca dei um olhar furioso para Ron, a pessoa que me meteu nessa bagunça em primeiro lugar.
Dez minutos mais tarde me encontro no carro de Avi, conduzindo
pela montanha. Avi e Snotty me ignoram, mas não os culpo. Os odeio, eles me odeiam. Trata-se de uma mutua relação de ódio-e-ódio.
Quando paramos na “disco”, saí do carro e segui Snotty, Ofra, Doo-
Doo, O´dead e Avi para a entrada. Parece como um grande armazém. A música é forte, a todo o volume desde o lugar e colorido, as luzes intermitentes estão brilhando através de grandes janelas.
Paro logo que posso examinar a longa fila de pessoas esperando
para entrar. — É seguro? — pergunto. — Prometo que não há serpentes no interior para que
acidentalmente as pise. — Snotty diz, em seguida ri de mim. Meus olhos brilharam com tanta indignação que me concentrei em
Avi. Como podia ter dito a Snotty sobre o acidente com as tripas da serpente? Que traição. Agora me sinto humilhada por ele.
— Vamos — Ofra disse, pegando o meu braço com o dela quando me
levou para a fila. Jogo meu cabelo para trás e faço o rabo. Quando chego à parte
dianteira, um guarda do exército me faz abrir minha bolsa e comprova o conteúdo. Espero que me peça identificação, mas não o faz. Suponho que em Israel não há restrição de idade para os clubes de dança. Quando os militares fazem sinais para que avance, tenho que passar por um detector de metais para entrar na “disco”.
Garoto, eles não estão permitindo nenhum risco. Se tivéssemos um
soldado na entrada de cada cidade, cada centro comercial em um bar nos
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Estados Unidos estaríamos sem soldados. Não teria ninguém a quem proteger nosso país.
Entrei o chão vibrando ao ritmo da música porque é muito forte.
Snotty, Ofra, O´dead e Doo-Doo vão diretamente a pista de dança e começam a dançar. Avi está apoiado em um corrimão, melancólico como de costume. Mas está rodeado de garotas enquanto está ali de pé, assim não se parece como um solitário.
Eu? Bom, estou aqui sozinha porque não tenho vontade de dançar
neste momento. De parede a parede há gente, mas me disponho a passar através da multidão, em direção ao bar. Preciso de uma Coca-Cola, ou ao menos algo em mão, assim não fico de pé olhando ao redor das pessoas.
Por sorte, pego uma banqueta vazia, antes que alguém mais pudesse
por seu traseiro nela. Levei um momento para assimilar tudo dentro. As pessoas da
discoteca estão usando roupa muito da moda. Também estão dançando, rindo e bebendo. O ar cheira a cigarros, obviamente não há leis anti-fumo aqui.
Não vou a clubes perto de casa porque tenho apenas dezesseis anos
e não me deixam entrar até que tenha vinte e um. Mas quando puder, vou ter tanta diversão como os Israelenses.
O garçom me diz algo em hebreu e coloca uma garrafa de cerveja
diante de mim com o líquido amarelado interior. — Falo inglês — digo a cima com meus pulmões para que possa me
escutar acima da música. Inclina-se para frente e diz ao meu ouvido. — O garoto ali te pagou uma bebida. Assinala o outro lado do bar, onde um homem com uma camisa
branca e a maioria dos botões sem fechar está sentado. Está brincando? O homem olha como se estivesse na idade de Avi, e tem o cabelo longo. E não está bem o cabelo longo, parece que tem sido engraxado atrás com muito gel para cabelo. É provavelmente o tipo menos genial em todo lugar.
Grandioso. Sou um ímã para o garoto menos genial.
104
Para o meu horror, o homem está caminhando para mim como algum tipo machista. Tem um enorme sorriso em seu rosto, parece que não se barbeou a uma semana.
Preciso de ajuda aqui. Snotty e os demais estão na pista de dança o que não seria de muita
ajuda. Procuro na sala por Avi, que obviamente se afastou do corrimão. Se o encontrasse poderia fingir que é meu encontro para que este cara me deixe em paz.
Quando meus olhos finalmente pousam em Avi, me dou conta que já
não está melancólico. Está dançando com alguma imitação de Hilary Duff. Para piorar as coisas, é um bom dançarino. Não como esses tipos que
apenas se movem de um lado a outro. Não, Avi se move como se houvesse nascido para dançar com uma garota em seus braços.
Vejo com desgosto que se inclina para frente e diz algo ao ouvido,
depois os dois riem. Por alguma razão gostaria que não houvesse tanto barulho assim não teria que estar tão perto dela para falar. Não me importa, apenas estou incomodada que ele esteja passando um bom momento e eu não.
— Alio, cusit ay zeh. — O garoto menos genial me diz uma vez que
abriu passo entre a multidão e agora está de pé diante de mim. — Falo inglês — lhe digo, dando de ombros como desculpa. — Meu inglês não tão bom — disse. — Você Americana? — Sim. Seus olhos se iluminaram. — Quer dançar comigo? Minha dança é melhor que meu inglês. O olho cuidadosamente e lanço um olhar para Avi que continua
dançando com sua loira idiota. Pego a mão do tipo e o levo até o meio da pista de dança.
Tenho tido aulas no Estúdio de Dança de Julie desde que tinha
quatro anos, assim não tenho medo de me dar rédea solta. Hoje, não escolheria esse tipo de dança, mas nesse momento não posso ser exigente.
105
Ao escutar a música, finjo que estou dançando com meu namorado. Quando o tipo põe suas mãos ao redor da minha cintura, quero pensar que são as mãos de Mitch que me sustentam contra ele.
Fecho os olhos. E o único problema é que na minha imaginação não
são as mãos de Mitch. São as de Avi. O tipo que odeio está rondando meus pensamentos puros meus e do meu namorado.
Espera um minuto. Acredito que o tipo com o que estou dançando
está tocando minhas costas, tentando localizar o fecho do meu sutiã. Abro os olhos e golpeio a cara do pervertido. Por sorte para mim, meu sutiã se fecha na parte da frente.
Deixo de dançar. O pervertido se inclina para frente para falar
comigo, está muito alto para escutar a menos que a pessoa esteja gritando em seu ouvido. Acredito que está a ponto de pedir desculpas, até que sinto essa coisa úmida e viscosa tentando subir pelo meu canal auditivo.
Que diabos é isso? Quando me dou conta que o tipo menos genial está tentando deslizar
sua língua de Gene Simmons ao redor do meu ouvido e tentando empurrar por meu condutor auditivo esterno, grito e o empurro para trás. Qualquer coisa para conseguir sua língua tão longe de meu ouvido como seja possível.
Por infelicidade, eu o empurrei em algumas pessoas que estavam
dançando. Eles não estavam muito contentes comigo ou o lambedor e o empurraram para trás. Este começou a empurrar mais, e logo o lugar estava fora de controle.
Oh merda. Estou perdida na multidão, incapaz de me mover porque as pessoas
se converteram em uma multidão. Quando alguém pegou minha mão e me levou para a saída, estou agradecida.
Até que reconheço a pulseira de Avi atada a essa mão. Tropeço fora com Avi e o resto da multidão. Estão limpando o clube.
Quando veio um carro de polícia com suas luzes brilhantes, me assusto. Porque alguém perto do carro de polícia está falando com os soldados e policiais, enquanto me assinalam.
— Merda. Amy não diga nada — Avi disse. — Me deixa falar.
106
Quando os soldados e um policial chegam até nós, mantenho a boca fechada.
— Mah aseet — o soldado disse. Quando Avi começa a falar, o homem levanta uma mão e me assinala. Queria manter a boca fechada, realmente o queria. Minha intenção
era ficar aqui e permanecer em silêncio. — Falo inglês — deixo escapar. — Você começou a empurrar as pessoas na pista de dança? — O
soldado pergunta bruscamente. — Apenas por culpa do lambe-ouvidos. Quero dizer, em primeiro
lugar tentou me tocar, mas depois, bom, pensei que ia pedir desculpas. Pelo contrário, meu ouvido começou a ser lambido e me dei conta que não estava se desculpando, ele estava dando um banho de língua no meu ouvido.
Sei que estou divagando. Tenho medo, e sei que mereço ser castigada
por ter causado tudo, desocuparam o clube por minha culpa. Um nó frio estava se formando em meu estômago e tento agarrar a mão de Avi fortemente.
Então de repente, pelo canto do meu olho avisto ao tipo com a língua. — Ali está! — gritou. O lambedor retrocedeu e desapareceu atrás de um carro. O soldado gritou ordens a Avi e se foi. — O que disse? — Que a leve para casa agora ou do contrario a prenderá. Vamos —
disse. — Tem um Q-tip? — lhe pergunto. — Porque? Duh! — Assim posso desinfetar os germes desse tipo fora do meu ouvido.
Aposto que já tenho uma infecção nele devido a esse otário.
107
Está caminhando tão rápido que posso apenas me manter com ele. — Não me culpa pelo que passou ali atrás, verdade? Quando chegamos ao carro, Avi se vira para mim. — Estava atiçando esse tipo com sua dança. O que esperava? Encontrei seus olhos acusadores sem pestanejar. — Ele sabia que era Americana, talvez os Israelenses gostem de
línguas úmidas na orelha, mas na América... — Sabia que era Americana? — Sim. Eu disse quando me comprou uma cerveja. — Cerveja? Estava bebendo álcool com esse tipo? Não é de estranhar
que pensasse que era fácil. As garotas Americanas tem essa fama por aqui. — Deixa de me usar como prova dos seus estereótipos Avi. Não é
justo. Além disso, você estava se sacudindo muito essa noite. Está ciumento porque sua loira idiota não queria chupar sua orelha.
Snotty e seus amigos estavam caminhando para nós. Cruzei os
braços na frente do meu peito, esperando que pudéssemos voltar para casa. — Alguém começou uma luta dentro da discoteca — Ofra me disse,
oferecendo sua explicação para a comoção. Mordo a língua e me calo, mas Avi me olha de lado. — Você — Snotty disse. — Você começou, não? Deveria ter
adivinhado. Não pode fazer nada direito. — Deixa-a em paz — Doo-Doo disse. Quero lhe dar um beijo agora
mesmo por dar a cara por mim. Sentindo como se tivesse seu apoio, eu digo a Snotty desafiante. — Posso fazer qualquer coisa que você pode fazer. — E logo, devido
a adrenalina que flui através do meu corpo posso adicionar — E posso fazer melhor.
108
A expressão do seu rosto não tem preço. Está pensando. Quase posso escutar seu cérebro oxidado, crepitando como se estivesse trabalhando.
— Tosquiar uma ovelha — deixa escapar. — Amanhã pela manhã. — Não tem problema — lhe digo com confiança, apesar de que no
interior estou tremendo ante a ideia de prender uma pobre ovelha indefesa enquanto corto a lã até que fique nua.
Mas o farei, apenas para provar a cada um que não me saio mal em
tudo. Apenas espero não fazer-me ficar como uma total idiota.
109
Capítulo 16
Posso fazer qualquer coisa que você possa fazer, e posso fazê-lo melhor. Acredite.
Somente tem que me chamar de Amy, a Tosquiadora de Ovelhas. Isso
é o que tenho estado tentado me convencer a manhã toda, depois que encontrei o recado de Snotty. Quer se encontrar comigo depois do café da manhã para nosso pequeno desafio? É isso.
Infelizmente, a noite não foi um pesadelo. Realmente e
verdadeiramente desafiei Snotty, e nem sequer tinha tido algo de cerveja que me acusou de consumir. Bom, me dou conta que sou a única estúpida aqui, mas ainda estou decidida a demonstrar-lhe que não estou à margem de tudo.
Vesti-me com jeans e uma camiseta de manga longa para uma
proteção total. Não tenho óculos de proteção, mas coloco meus óculos esportivos. Caminho para fora, vejo Mutt brincando para mim.
— Não encontrou minha sandália favorita ainda? Para me responder, roda sobre suas costas. Sua língua está
pendurada em sua boca como um pedinte. — Não se humilhe — lhe digo. — Não é atraente. Recolho o vira-lata e o levo comigo. Poderia se voltar útil quando se
está tentando acurralar as ovelhas. — Está bem — lhe digo. — Vamos ter um plano de jogo. Faz-me
parecer bem, e esquecer o incidente da sandália. De acordo? A resposta de Mutt é um grande peido. Este não vai ser o meu dia.
110
Ao chegar aos currais de ovelhas, Ofra é a primeira pessoa que vejo. — Não tem que fazer isso — ela diz. Oh sim, tenho que fazer. Por mim. Por Mutt. Pelos americanos em
todo o mundo. A falta de confiança de Ofra em mim apenas favorece minha resolução.
— Isso está bom. Quero fazê-lo. — lhe asseguro. Doo-Doo se aproxima e me dá conselhos. — Mantém a ovelha pressionada. Mantém seus olhos nela. Não deixe
cair a máquina de tosquiar em seu pé. Ele é como um treinador de boxe, e o ringue é o meu oponente. Tem colocado uma ovelha no curral, junto com uma máquina de
tosquiar pendurada no teto. Doo-Doo me ajuda a pegar a correia da máquina em minha mão.
Analiso a minha volta. Snotty está sentada em cima de um corrimão
com O´dead a seu lado. Ofra e Doo-Doo, meus apoios, estão ao meu lado. Avi não está à vista. Surpreende-me que não veio me ver ser comida
viva por uma ovelha. Do outro lado do curral está outra ovelha. A de Snotty. Juro que
parece muito menor que a minha. Tomando uma respiração profunda, entro no curral com o animal
desprevenido. É ainda maior do que pensava. Alguém pensaria que Snotty teria compaixão o suficiente para me dar um cordeiro como a da canção infantil, mas não.
Este definitivamente não é o pequeno cordeiro de Maria. E sua lã é
tão suja quanto à de Mutt, e não é branca como a neve. Snotty entra no outro curral. Pula exatamente dentro, como o faz
todos os dias. Depois se vira para mim. — Vai realmente passar por isso?
111
— Claro que sim. — Uma vez vi um adesivo que mostrava a foto de uma bandeira estadunidense e o título abaixo Estas Cores Não Correm. Não estou a ponto de sair como uma galinha. Mesmo que realmente o queira.
— Está bem — disse com pura incredulidade no rosto. — No três
começaremos. Quem terminar primeiro ganha. — Muito bem. — Um. Dois. Três. Coloquei Mutt para baixo e sussurrei. — Vá fazer o seu. Imediatamente Mutt começou a latir e as ovelhas escapuliram para o
canto. Ligando a máquina me encaminho para o animal ameaçador. Até que me olha com esses grandes olhos de cor cinza. Continuo
pensando no que Ron me disse, que é muito quente para eles todo esse pelo espesso.
Entendo e concordo. Bom, estou tentando convencer a mim mesma
que entendo e concordo. Não está funcionando. Olho para baixo, para Mutt, que me olha como se dissesse. Faz! Ele
tem razão. Não vou me acovardar agora. Tenho que enfrentar meus medos e apenas fazê-lo. Tenho a máquina como uma espada e a cabeça em batalha.
Exceto que a ovelha estúpida foge com medo. Quando me passa
seguro a máquina feito uma idiota. Agora a coisa tem uma risca calva em suas costas.
Tento não escutar ou ver o progresso no outro curral. Estou
tentando me concentrar unicamente em minha missão. Mutt está latindo um montão, por isso as ovelhas estão nervosas.
— Luta contra ele no chão e o mantenha ali. — escuto da minha
seção de animadores. Devo lhes dar a notícia que nunca tive um irmão que me ensinasse a
lutar? Ou uma irmã por acaso.
112
— Mutt, tem que me ajudar aqui. Mutt é um grande pastor de ovelhas. Dou-me conta disto quando o
animal tenta se mover. Mutt espertamente o encurrala no canto de novo. Com um movimento rápido, tenho meu peso contra a criatura de lã e
começo a tosquiar. Não tem sentido ou razão para isso, estou tão feliz quando a lã suja começa a voar.
Escuto um monte de risos, alguns aplausos e varias instruções de
Doo-Doo. Não paro, sou como uma animada sineta de ovelhas selvagens. Dou um passo para trás e olho ao pobre animal. Bom, não tenho feito
um trabalho tão quente. Tem um penteado mohawk e seu corpo parece como se fosse um mapa de rotas. Mas o fiz e me sinto vitoriosa.
Até que escuto o grito de Ron. — Que demônios está acontecendo aqui?
113
Capítulo 17
Essa montanha-russa chamada vida está me deixando tonta.
— Amy, precisamos conversar.
Eu odeio quando os pais pensam que eles podem se sentar e dizer o
que você tem feito de errado, e eles esperam que você fica quieta como uma
estátua de boneco bobblehead24.
— O que você quer?
Agora eu estou sentada para fora de casa acariciando Mutt. Estou
orgulhosa dele, ele é um grande pastor de ovelhas. Eu posso ouvir o tio
Chime gritando para Snotty dentro da casa. Ele não parecia muito feliz
quando Ron explicou a nossa pequena competição.
— Eu quero saber o que está acontecendo com você. — diz Ron,
sentando ao meu lado.
— Nada, eu digo.
Ele coloca uma das mãos no meu braço.
— Acredite ou não, eu quero que você seja feliz. Você não tem que
tosar as ovelhas para provar nada para mim.
Eu dou de ombros com sua mão de cima de mim.
24
Aqueles bonequinhos que mechem a cabecinha.
114
— Se você quer que eu seja feliz, me dê a passagem para ir embora
agora. Eu não pertenço aqui — eu digo. Então eu acrescento, — e eu não
pertenço a você.
Eu não sei por que eu disse isso. Eu sabia que as palavras que saíram
da minha boca iriam machucá-lo. Talvez no fundo eu quisesse magoá-lo por
não estar lá para mim nos últimos dezesseis anos de minha vida. Eu
continuo olhando para Mutt e esfregando sua barriga para que eu não tenha
que olhar para a maior decepção da minha vida.
— Está bem.
Espere. Será que ele acabou de dizer "Está bem?" Eu acho que ele
disse, mas a palavra não se processou ainda.
Quando eu olho para cima, Ron está de costas para mim. Ele está
voltando para dentro da casa. Minhas pernas estão um pouco dormentes por
ter segurado o vira-lata no meu colo por muito tempo, mas eu o tiro e
levanto e começo a segui-lo.
Quando eu entro na casa, eu vou até ele. Ele está vasculhando sua
mala.
— O que você disse? —Eu pergunto.
Ele olha de soslaio para mim antes de vasculhar sua mala
novamente. — Eu disse 'Está bem,' Amy.
— Bem como em...
— Em me excluir de sua vida, se isso vai fazer você feliz, então isso é
o que eu quero para você.
Ele tira os papéis para fora da mala e os estende para mim.
— Aqui está sua passagem de volta para os EUA.
Eu hesito por um momento. Então minha mão alcança e pega o papel
da sua mão.
115
Uma onda de tristeza e confusão me faz congelar. Então eu corro
para longe da casa e vou para o lugar onde Safta e eu conversamos sobre seu
amor por este lugar.
Sento na beira da montanha, eu penso sobre tudo o que vou deixar
para trás se eu for embora. Como Matan. Como a minha tia e tio, que eu
acabei de conhecer. E Mutt.
Mas acima de tudo, eu quero estar aqui por Safta. Eu a amo, e não
pode simplesmente ir embora enquanto eu sei que ela está passando por
tratamentos de quimioterapia.
Abraço os meus joelhos junto a mim, penso sobre minha vida aqui
em Israel. É uma parte de mim, mas ao mesmo tempo não é.
Voltando para casa, eu olho para Ron. Eu tenho que dizer a ele que
eu quero ficar aqui por outra razão, também: para descobrir onde eu me
encaixo em sua vida. Quando eu o vejo falando no telefone, eu me sento na
cadeira da cozinha, e espero.
Ron me dá o telefone. — É sua mãe. Eu liguei para ela.
— Nós precisamos conversar, está bem? — eu digo a Ron antes de
pegar o telefone da mão dele.
Eu observo que ele balança a cabeça, põe as mãos nos bolsos, e sai.
Eu coloco o telefone ao meu ouvido.
— Olá?
— Amy, você está bem? Ron apenas me disse que você quer voltar
para casa.
— Eu disse, mas não vou mais.
— Você mudou de ideia?
— Sim, eu acho. — eu digo.
116
Eu a ouvi sair da cama e fechar uma porta. Aposto que ela se trancou
no banheiro, porque Marc com um "c" está em sua cama e ela não quer
acordar o nerd idiota.
Depois de um minuto ela me diz com uma voz muito borbulhante —
Eu tenho uma grande notícia.
— Você terminou com Marc? — Eu digo com um suspiro de alívio.
Finalmente.
— Não, sua boba. Marc me pediu em casamento na noite passada. E
eu disse que sim.
—O quê! — Eu digo e meu coração se afunda em meu peito. Isso não
está acontecendo comigo.
— É tão emocionante. — ela diz, ignorando o fato de que eu estou
totalmente pirando aqui.
— Ele fez um jantar especial. O anel estava no fundo da minha taça
de champanhe.
— Ele é um idiota, mãe. Definitivamente ele NÃO é original. O anel na
parte inferior da taça champanhe é tão cliché.
— Ele é uma das principais incorporadoras imobiliárias do país. O
novo projeto na Gold Coast, o local mais procurado em Chicago, está sendo
feito por sua empresa.
— Então? Nós só temos uma vaga de estacionamento no nosso
condomínio. Não há espaço para sua Mercedes. — eu digo.
— Eu pensei em dar uma olhada no Subúrbio. Você sabe, algo
maior... Com um quintal e tudo mais.
Huh?
— Como, você vai mudar para o subúrbio?
— Isso não é maravilhoso?!
117
— E como eu fico? Sem teto?
— Claro que não, querida. Não seja ridícula. Sua casa é comigo e
Marc.
Desde quando "você e eu" se converteu em "você, eu, e Marc"?
É bom saber que sou importante o suficiente para ser consultada.
— Marc me odeia, mamãe. — Agora eu sinto como se todo mundo
me odiasse.
— Ele não te odeia. Você não tem dado a ele uma chance.
Eu engulo em seco e tento não chorar.
— Eu sei que é uma surpresa para você, mas eu juro que é a melhor
coisa para nós. Nós vamos ser uma família.
Eu juro que eu vou vomitar. Uma família? Mas Marc não é a minha
família.
— Eu pensei que você ficaria feliz. Depois de voltar de Israel, você
pode me ajudar a planejar o casamento e procurar uma nova casa. Nós
vamos fazer um novo começo, nós três.
Eu não quero um novo começo, eu quero uma nova idade.
— Eu te amo. — ela diz.
Se ela me amasse tanto, ela teria pensado antes de seguir em frente e
estragar meus planos.
Eu sinto um caroço enorme na minha garganta quando eu digo: —
Parabéns. Eu também te amo.
— Tchau, querida. Me liga na próxima semana, ok? — ela diz. — Eu
só quero que sejamos felizes.
118
Eu saio para fora de casa e vejo Ron em um trator velho, verde
estacionado na parte de trás da casa.
— Você estragou tudo! — Eu grito.
Ele tem a audácia de olhar para mim sem dizer nada.
Eu cruzo os braços na frente do meu peito.
— Apenas fique parado em silêncio, Ron. Você faz isso muito bem.
— O que você está falando?
— Eu só fui informada de que o namorado idiota da mamãe a propôs
em casamento e você não pode fazer nada? Teria sido bom ter meus pais
juntos casados! Pelo menos para dizer que meus pais se casaram depois de
um longo tempo. Mas você é muito egoísta e preocupado sobre garantia do
sonho americano enquanto se desfruta de ser solteiro. Você nunca lutou por
nós. Pior, você nunca lutou por mim.
Ali, eu finalmente disse. Pode ter me levado dezesseis anos e como
uma atitude para cobrir as minhas inseguranças, mas eu finalmente
derramei a verdade.
Ele pisca várias vezes, então diz:
— Ela vai se casar?
— Eu disse isso, não disse?
Ele respira fundo, depois senta no pára-choque do trator.
— Não pense que eu não lutei, Amy. Pedi para se casar comigo. E não
apenas uma vez. Antes de você nascer e praticamente toda vez que eu a vi
após o seu nascimento eu me ajoelhei. Você estava muito ocupada fugindo
de mim para perceber isso.
— Se, e eu quero dizer se, você a propôs, por que não se casaram?
Você estava num comando, pelo amor de Deus. Você foi especialmente
treinado para cumprir missões.
119
Ele dá um suspiro longo e profundo.
— Ela disse que não queria que você crescesse vendo um casamento
sem amor. Ela queria encontrar um cara sólido para ser seu pai, e não um
imigrante israelense. Toda vez que eu vinha vê-la, eu recebia uma carta de
seu pai ameaçando entrar em contato como INS para cancelar meu visto. Ele
me acusou de tê-la engravidado de propósito, para proteger a minha
cidadania americana ao me casar com ela. Não era verdade, mas eu temia
nunca mais ver você de novo. Ele era um homem poderoso, Amy.
Ele olha para mim com uma expressão de dor.
— Eu não espero que você entenda.
— Eu, eu não entendo. — eu digo, confusa.
— Quando você me disse que iria parar de vir aqui, eu não sabia o
que eles tinham dito sobre mim. Eu só queria um relacionamento com você,
mesmo que fosse uma vez por ano.
— Você é uma verdadeira decepção. — eu digo.
Espero a palestra me respeitam-porque-sou-o-seu-pai, mas em vez
disso, Ron diz:
— Você está certa.
Estou chocada, mas digo:
— Dane-se se não estou certa. Talvez ainda haja uma chance com a
minha mamãe. Você pode chamá-la e...
— Não vai mudar nada — ele diz, — e você sabe disso. No fundo,
você sabe que ela não vai se casar comigo.
— Eu me sinto tão sozinha. — digo, quase num sussurro.
120
— Eu te amo — ele diz. — Não importa que você não me chame de
"pai" ou queira me abraçar. Eu queria isso, mas eu quero a sua amizade e
confiança ainda mais.
Isto é muita informação para mim em um dia. Eu preciso de algum
tempo para digeri-lo.
— Eu vou ficar em Israel para o verão. — eu finalmente digo. —
Talvez possamos, oh, eu não sei.
O começo de algum sorriso aparece no canto de sua boca.
Com um aceno de cabeça eu digo:
— Não fique muito entusiasmado, eu ainda estou chateada.
— Estou feliz que você vai ficar.
Eu me viro e volto para a casa e vou para o meu quarto.
Snotty está lá.
Sinceramente, ela é a última pessoa que eu quero ver. Eu lembro que
eu lhe disse algo sobre ter peitos pequenos ou algo parecido, mas parece que
foi há muito tempo. Eu me atiro na minha cama.
— Você tem embalagens? — ela pergunta, curvando-se sua mochila
enquanto colocar as coisas dentro.
Eu me inclino para trás em meus cotovelos.
— Para quê?
Ela se vira, esses círculos de carvão-preto dirigem-se diretamente
para mim.
— Acampar. Você disse que estava indo.
Deitada na cama, eu digo. — Eu menti.
121
— Assim como um americano.
— Desculpe-me? O que isso quer dizer?
— Os israelenses dizem o que querem dizer. Vocês americanos
apenas falam sem querer qualquer coisa que dizem querer.
— Nós não fazemos! — Nossa, todo mundo está no meu pé
ultimamente. — Para sua informação, tenho orgulho de ser americana. Nós
não podemos sempre fazer ou dizer a coisa certa, mas o que se pode
esperar? Ninguém quer policiar o mundo, porque eles querem que façamos
por ele. Nós salvamos a bunda de todos do mundo e depois culpam-nos por
isso. Não é realmente justo?
Agora eu sou como uma embaixadora dos EUA.
Snotty levanta a mochila por cima do ombro e sai da sala.
— Shalom, Amy. Estamos saindo em dez minutos.
Ela me deixa com duas opções: provar a Snotty que ela está errada e
ir ao acampamento para salvar a cara. Ou ficar no moshav sem nada para
fazer, exceto ovelhas carecas com Ron e tio Chime.
Eu ando no quarto de Safta e sento na beira da cama. Minha vida
ferrou-se por inteiro e eu estou completamente confusa.
— Eu preciso de seus conselhos.
Ela sorri calorosamente para mim, como sempre. Estou tão feliz de
tê-la em minha vida, mesmo que foi um início tardio em conhecer uns aos
outros.
— Você vê, é assim. — eu digo. Eu respiro fundo e boto tudo para
fora quando eu falo. — Minha mãe quer se casar com seu namorado, esse
cara que eu particularmente não gosto. Ron... Você sabe, seu filho, tem sido
uma decepção para mim, porque para ser honesta, ele não tem sido um
elemento permanente em minha vida. Eu me ressinto dos dois, e estou
confusa sobre quem eu sou e onde eu me encaixo. E ainda por cima, O'snot
122
está indo em uma viagem com os seus amigos, e eu meio que quero ir e
provar a ela que sou capaz, então eu estou pensando.
Safta acena com a cabeça pensando, obviamente tentando entender
minha situação e me dar um conselho certo. — Para uma menina de 16 anos
de idade, você tem muito com que lidar.
Soltei outro longo suspiro.
— Isso não é verdade. Talvez você precise de algum tempo afastada.
Eu acho que o acampamento é uma boa ideia. Israel é um lugar mágico, Amy.
Você simplesmente pode achar o que está procurando.
Ela está certa. Eu preciso fugir da realidade por um tempo. Eu beijo
Safta na bochecha e coloco a cabeça para fora do quarto. Mas eu paro na
porta, viro e digo:
— Estou feliz que você é a minha Safta.
Ela inclina a cabeça e sorri.
— Eu também.
123
Capítulo 18 Você já se sentiu em menor número?
Meu coração está disparando enquanto observo uma mochila vazia
nos pés da minha cama. Eu talvez não tenha percebido que estava ali. Foi,
provavelmente, deixada por mim. Apresso-me e soco algumas roupas na
bolsa e vou para fora.
Quando chego à frente da casa, todos os adolescentes estão subindo
na parte de trás de um Jeep. É como uma caminhonete com caçamba, mas
não. O carro tem uma parte de táxi na frente e atrás, é como uma caçamba,
mas tem bancos nos dois lados e corrimãos em cima da caminhonete.
Avisto Snotty e ela me dá esse meio-sorriso. Tá, tá. Eu sei. Ela
percebe agora que tem vantagem porque ela meio que me enganou para ir
nessa viagem. Meio que. Foi realmente minha decisão vir.
Ron me alcançou. — Eu não quero que você vá. — ele disse. — Você
é muito nova e está passando por muita coisa agora.
Percebendo que todos já estão no carro e nos observando, congelo.
— Você está me dizendo que não posso ir?
— Eu não estou dizendo isso… exatamente.
— Eu quero ir.
Avi, que estava no banco do motorista, sai do carro e caminha até
Ron. Ele leva Ron até o lado da casa, longe do meu campo de visão. Quero
saber o que ele está dizendo. Quero saber o que os dois estão dizendo.
Eu vejo como Ron e Avi apertam as mãos depois de alguns minutos.
124
Então Avi caminha até mim. Posso dizer que ele não está de bom humor.
— O quê? — eu digo.
— Avi me assegurou que cuidará de você. — Ron diz, então volta
para casa, pois Doda Yucky o está chamando.
— Eu posso cuidar de mim mesma. — Eu asseguro a Avi, quando
Ron está fora do campo de visão.
— Entra no carro — Avi manda.
— Eu não gosto de receber ordens de você.
— E eu não gosto de uma vadia Americana mimada atrasando
minhas férias. — ele diz baixo o suficiente para que apenas eu possa ouvir.
Se meu olhar matasse, eu estaria encarando um garoto morto agora
mesmo. Vadia Americana uma ova. Eu não sou mimada. Sei disso porque tive
dois pais que querem destruir minha vida. Eu explico isso. Um me colocou
nessa viagem para que pudesse provar para mim que é um bom pai. Mas
aposto que, depois da viagem, voltará para sua confortável vida de solteiro.
A outra quer se livrar de mim no verão para que possa ficar noiva de um
babaca.
Se eu fosse mimada, estaria cercada por pessoas que me amam.
Como Jessica. Os pais dela estragam seus podres. E eu digo podres com P
maiúsculo. Ela não só tem dois irmãos e uma irmã, ela tem dois pais que
vivem juntos. Eles gostam um do outro, tanto que até dão as mãos enquanto
assistem TV. Eu até já os vi se beijando. E isso depois de terem quatro filhos.
E eles são velhos, em seus quarenta e poucos anos.
Para completar, a mãe de Jessica faz aqueles cookies fofinhos de
baixa caloria que derretem na boca. E você sabe por que ela os faz? Eu lhe
direi por que. Pelo simples motivo de que Jessica gosta deles. Eu não só não
tenho cookies fofinhos de baixa caloria que-derretem-na-boca, mas também
Mamãe nunca comprará nada de baixa caloria nas lojas. Por quê? Porque
minha mãe não acredita em dietas de baixas calorias.
Como Avi se atreve a me chamar de mimada?
125
Avi caminha de volta para frente do carro e acho que ele pode
apenas partir sem esperar por mim. É como um teste.
Odeio testes.
Pior, eu sinto como se essa viagem inteira estivesse cheia de testes.
Ponho a mão no bolso e sinto a estrela judia que Safta me deu. Ela
me disse que o guerreiro ancião judeu, Judah Maccabbee, pôs uma estrela de
seis-pontas em seu escudo. As seis pontas fincam em minha palma. Eu estou
guardando isso em meu bolso onde quer que eu vá… como meu próprio
escudo.
Quando escuto a caminhonete dar a partida novamente, não leva
muito tempo até jogar a mochila na caçamba e subir.
Dentro de minutos, estamos numa estrada suja, a sujeira atrás de nós
é prova da nossa jornada. Tenho que segurar nas laterais da caminhonete, as
pedras na estrada fazem o caminho parecer uma montanha-russa
acidentada.
E meus peitos estão rodopiando como loucos. Como se não
estivessem presos em meu corpo. Pensei que fosse ruim o suficiente eu ter
uma mochila e ser responsável por não atirá-la para fora da caminhonete.
Agora tenho que ter certeza de que meus peitos fiquem dentro da
caminhonete, também.
Pelo menos, é o que parece. Um rodopia de um jeito, um, de outro.
Toda vez que cruzo meus braços na frente do peito para mantê-los em um
lugar, perco meu equilíbrio e bato em Doo-Doo (que está de um lado) ou
Ofra (que está no outro).
Avi não consegue dirigir um pouco devagar? Parece que essa estrada
suja e empedrada nunca foi viajada antes.
O Sol está se pondo além das montanhas. É muito bonito ver os
vermelhos, laranjas e amarelos descolorirem atrás das montanhas,
contornando a paisagem antes de, finalmente, desaparecerem para a noite.
Está ficando escuro enquanto dirigimos, a luz sumindo com cada minuto que
passa. Logo, está escuro.
126
Uma hora depois, nós finalmente paramos. Não há nada por aqui,
embora eu possa ver luzes brilhantes das cidades distantes como estrelas na
noite.
Eu me esqueci, desde que comecei essa jornada selvagem, de que
estou em Israel. Também conhecida como zona de guerra.
Ninguém parece se importar enquanto se empilham atrás da
caminhonete. Sondo a área o tanto que consigo, o que não é muito. Ainda
estou na caminhonete quando Avi vem para a parte de trás dela.
Nossos olhos se encontram. — Você vem? — pergunta.
Ainda tenho um sentimento ruim, como se houvesse algo que eu não
entendesse. E ainda não superei o fato de que ele me chamou de vadia
americana mimada.
Quando não respondo, ele dá de ombros e começa a caminhar. Não
consigo ver para onde ele está indo, pois está muito escuro. Mas sei que está
caminhando, porque posso ouvir o cascalho moer sobre seus pés.
— Espere! — digo.
Ouço o cascalho parar. Então o ouço se aproximar da caminhonete.
Está me encarando, posso sentir.
— Eu, ah, preciso de ajuda para descer da caminhonete — digo
desajeitadamente.
Sinto sua mão aparecer e procurar pela minha. Agarro-a e ele me
leva gentilmente até a ponta da caminhonete. Antes que eu perceba, está
soltando minha mão e sinto as suas envolverem minha cintura então me
levanta da caminhonete e me deixa cuidadosamente no chão.
Nós dois estamos lá, em pé, cara a cara, enquanto ele mantém as
mãos em minha cintura e não me solta. Sua força quase parece carícia e não
quero que ele me deixe. Sinto-me segura com seu toque, mesmo que no
fundo da minha cabeça, ainda posso ouvi-lo me chamar de vadia americana
mimada.
Apenas pensar nisso me faz endireitar e dou um passo para trás.
127
— Você se importa de deixar suas mãos com você? — me encontrei
dizendo.
Ele deixa cair suas mãos e diz: — Cuidado com as cobras.
— Cobras?
Como se eu não estivesse tensa o bastante no momento. Ele vai para
longe de mim e o ouço dar uma pequena risada. Cobras? Ele está brincando?
— Não se preocupe. — Doo-Doo diz enquanto me entrega uma
lanterna. — Ele está apenas tentando te assustar.
— Bem, ele está fazendo um bom trabalho — resmungo sob minha
respiração.
Olho as meninas se sentarem, perto de onde os garotos tentam
acender um fogo. E estou aqui, de pé, perto do Jeep.
Eu deveria ter trazido Mutt, ele me protegeria das cobras e de
garotos estúpidos. Ficar apegada ao cachorrinho não era minha ideia, ele
meio que entrou em mim. Mesmo que ele seja um animal irritante, ladrão de
Ferragamo.
128
Capítulo 19
Odeio quando outros sabem mais de mim do que eu.
— Você está bem, Amy? — perguntou Ofra. Sentando perto da
fogueira.
— Super. — eu disse.
Guardei minha mochila na parte de trás do jipe e me juntei às
meninas. Estão falando em hebraico. Estou acostumada a isso, mas ainda me
incomoda.
Eu tenho que sentar lá e sorrir quando sorriem e como uma idiota
gargalhar quando elas gargalham. Sou como uma mímica idiota, porque nem
mesmo sei o que estão falando!
Pelo que sei, estão dizendo. — Amy tem uma meleca pendurada no
nariz. — Então vou e sorrio junto, tornando mais divertido para elas, mas
fazendo de mim e meu muco pendurado grandes perdedores. Quando penso
nisso, cada vez que sorriem finjo coçar meu nariz e procuro algo estranho
pendurado nele.
— Então, me diga sobre os rapazes americanos? — perguntou Ofra,
eu poderia beija-la só por começar uma conversa comigo. — São tão lindos
como eu vejo na televisão? Eu gosto dos que aparecem no The young and the
restless 1325.
Acredite ou não, eu vejo The young and the restless 13. Talvez eu
tenha algo em comum com uma garota Israelense depois de tudo.
25
13“The young and the restless”: Série de televisão.
129
Depois de todas as primeiras novelas. Não posso acreditar como
estão tão atrasados com os episódios aqui.
— Gosto muito — disse Ofra.
Sinto-me um pouco melhor agora, graças a Ofra. Até mesmo Snotty
parece estar escutando sem o famoso desprezo em sua cara.
Depois de uma hora de rir, conversar, beber e comer, Ofra e eu
estamos indo encontrar um lugar para urinar. Como não há banheiros no
meio do nada, temos que nos abaixar. Felizmente Ofra trouxe um pouco de
papel higiênico, ou não saberia o que fazer.
Deixamos o grupo para encontrarmos um bom lugar para ficarmos
em privado. Nós duas com nossas lanternas acesas. Estou com tanto medo
de pisar em uma cobra ou em outro animal que mantenho a luz se movendo
de um lado para o outro.
Agora que estamos um pouco separadas do grupo, deveria apagar
minha lanterna para que Ofra não tenha que assistir ao espetáculo de me ver
agachada? O que importa? Eu seguro a lanterna entre meu queixo e pescoço,
para poder ver o que estou fazendo.
Percebo rapidamente que não sou boa abaixada, muito menos com
uma lanterna debaixo do meu queixo. Na verdade, sou péssima. Claro que,
com um banheiro eu não tenho problemas. As meninas não foram feitas
biologicamente para isso.
Enquanto me ponho de joelhos tanto quanto posso, tento relaxar.
Porém posso sentir a urina escorrendo por minhas pernas, então me coloco
rapidamente em uma posição de caranguejo, com minhas mãos e pés no
chão. Pelo menos assim a gravidade pode trabalhar ao meu favor.
Será que da para ver a Ofra? Ela pode me ver? Deveria apagar minha
lanterna, mais é impossível na posição que estou e estou me sentido um
pouco tonta. Eu sei o que está pensando, que provavelmente vou cair justo
sobre a urina, porque estou em uma posição de caranguejo e estou me
sentindo um pouco desequilibrada.
130
Porém para minha surpresa, sou capaz de manter minha posição de
caranguejo-urinando muito bem. E quando acabo de me limpar o melhor
que posso, coloco de novo meus shorts.
Estou absolutamente orgulhosa de mim mesma por esta realização.
Provavelmente agora poderia fazer uma audição para o programa Survive26,
agora que consegui ficar sem um banheiro apropriado.
— Por que O”snot me odeia? — pergunto a Ofra enquanto nós
caminhamos de volta para o acampamento. Eu não quero saber, mas eu acho
que pensando bem, sim eu quero.
Ela para e olha para mim pensativa.
— É uma coisa de orgulho.
— Poderia ser mais específica.
— Bom, Avi e O”snot tem uma história...
— Eu sabia! — digo em voz alta.
— Não, não como isso. Bom, é como, uh...
Eu fico esperando pacientemente para que ela termine. Bom, não
tão pacientemente. Acho que ela nem se deu conta.
Ofra começa a morder uma unha.
— Me matará se eu lhe disser — disse
— Eu vou te matar se você não me falar.
— Eles sempre foram mais do que apenas amigos. Eles eram como
irmãos. Avi sempre saiu com muitas meninas, mas não tem feito por um ano.
— E...
26
Survive: Programa de sobrevivência.
131
— Avi está passando por um momento difícil agora. Tem sido um
idiota com todos. O”snot pensou que se ela e Avi fossem um casal, ele
superaria o que for que o está roendo por dentro. Ele a rejeitou e acho que
ela ainda está magoada com isso.
— Me odeia sem sequer me conhecer.
— Bem, não esteve planejando dividir um quarto para o verão com
uma Americana.
— Que há de errado em ser Americana? Eu pensei que os Estados
Unidos e Israel eram aliados.
— Nós somos — ela diz quando começamos a voltar para o fogo. —
Eu acho que nos incomoda um pouco que as crianças americanas não
tenham que entrar para o exército, enquanto que nós temos que ir assim que
completamos 18. As meninas por 2 anos, os meninos por 3. Não me
interprete mal, eu quero ir. Porém vocês judeus americanos se sentam em
suas lindas casas, seus lindos pedaços de terra e fazem parte em suas
universidades, enquanto os judeus de Israel colocamos nossas vidas em
risco, para evitar a destruição de nossa gente e nossa pequena parte de
terra.
— Sério? É tão pequeno?
— Todo o estado de Israel é do tamanho de New Jersey.
— Não está brincando?
— Não.
Homem, como parece, estou começando a pensar que as crianças
americanas realmente levam a maior parte do palito.
Ofra e eu caminhamos de volta para a fogueira, onde o resto do
grupo está colocando sacos para dormir.
Agora eu estou com medo.
132
Eu não fiz planos para sacos de dormir. Onde estão as tendas?
Quando as pessoas vão acampar em casa há tendas. Ou cabanas. Ou
teepees27.
— Não trouxe um saco de dormir. — digo suavemente a Ofra.
— Está bem — disse ela. — Tenho certeza que Avi compartilhará
com você.
Pisco, como se assim eliminasse meu problema de audição.
— Vamos, Amy — disse Ofra empurrando meu ombro para trás. —
Sabe que Avi gosta de você.
Avi? Gosta de mim? Acho que não.
— Odeia-me — digo.
Olho ao tipo, e está sentado sobre seu saco de dormir em estilo
indiano, com uma guitarra descansando sobre sua perna.
— Ele me chamou de vadia americana mimada — digo para provar
meu ponto.
— Talvez ele goste das vadias mimadas americanas — ela disse
antes de sair caminhando para se juntar com Snotty, Doo-Doo e O”dead.
— Claro — murmuro em resposta, quando sei que não pode me
ouvir.
E pela primeira vez desde que cheguei a Israel, estou realmente
confusa, ao ponto de ter essa estranha sensação em meu estômago cada vez
que vejo Avi.
Sim, ele é sexy tanto quanto possível.
27
teepees : Tenda em forma cônica feita de pele de animais, típicos
das tribos africanas e nativas norte-americanas durante o período colonial.
133
Sim, me ajudou com as entranhas da serpente e pastoreando as
ovelhas.
Porém também é arrogante, grosseiro e totalmente ignorante.
Poderia um cara assim se sentir atraído por mim.
Por outro lado, eu poderia realmente ser atraída por uma cara como
ele?
134
Capítulo 20
Fingindo... É uma outra maneira de manipular as pessoas
para fazer o que queremos.
Estamos todos sentados em frente à fogueira, que está acesa agora,
graças aos três garotos. E nós estamos ouvindo Avi tocar seu violão. Eu
tenho que admitir, sua voz é muito reconfortante. Claro que eu não tenho a
menor ideia do que ele está cantando porque é em hebraico. Quem sabia que
o idioma catarro poderia realmente se tornar um som harmonioso na
música?
Ele não está olhando para mim enquanto canta. O'dead e Snotty
estão cantando a música, tudo muito suave devido ao clima da noite. Doo-
Doo e Ofra estão de mãos dadas e estão balançando ao som do violão.
Snotty e O'dead estão sentados perto um do outro. Ele está olhando
para ela com olhos carinhosos enquanto canta. Ela é indiferente.
Quando a música acabou, eu pergunto para Avi. — Essa é uma bela
canção. Você escreveu isso?
Ainda posso ouvir o zumbido da última nota quando Avi responde:
— Sim.
— É sobre o quê? — Eu pergunto.
Sua expressão fica séria. — Um cara que perde uma pessoa
importante em sua vida.
Eu automaticamente presumo quem seja essa menina e uma onda de
ciúme toma conta de mim. Eu não respondo. O silêncio enche o ar. Eu acho
135
que ele me odeia, mas de alguma forma tenho a estranha sensação de que há
um pouco de dor por trás de suas palavras.
Pensando sobre o que Ofra disse, não posso deixar de me perguntar
como eu posso descobrir sobre seus verdadeiros sentimentos para mim. Não
que eu me importe com o que são, mas escute, uma menina informada é uma
garota inteligente.
Todas as indicações até agora dizem que ele se ressente da minha
presença em Israel e ele pensa que eu sou mimada (que eu não sou).
Silêncio ainda paira no ar. É como se todo mundo estivesse
esperando que algo aconteça entre mim e Avi. Amar ou odiar. Paz ou guerra.
Eu não vou dar-lhe a satisfação de saber o que eu estou sentindo. Heck, eu
nem sei o que estou sentindo metade do tempo ou onde minha vida está
indo, graças a meus pais.
Eu venho tentando colocar para fora da minha mente o fato de que
minha mãe quer se mudar para os subúrbios. A próxima coisa que você sabe
é que ela vai querer ter bebês com esse cara. Eu posso ser apenas uma
garota de dezesseis anos de idade, mas eu sei uma coisa: eu não vou, repito,
não vou trocar fraldas sujas.
Apenas o pensamento de mudar faz meu estômago ficar fraco. Talvez
os pais de Jéssica me deixem ficar em seu condomínio para o ano júnior e
sênior. Eu poderia até pagá-los com o dinheiro que Ron coloca no banco para
mim. Normalmente eu não tocaria no dinheiro, mas o orgulho não tem sido
uma palavra no meu vocabulário desde que cheguei em Israel. Por que
deveria haver algo diferente quando eu voltar para casa?
Enquanto eu estive sonhando acordada, percebo o resto do grupo
começou a entrar em seus sacos de dormir.
Só que eu não tenho um. Eu faço a varredura da área. Há três rapazes
e três meninas, agora que Moron foi embora para o serviço militar. Eu podia
dormir com Ofra, mas ela e Doo-Doo encontraram um lugar um ao lado do
outro e têm fechado seus sacos de dormir juntos. Eu nem sabia que eles
eram um casal até esta noite.
136
Avi está colocando seu violão de volta em sua capa. Não há nenhuma
maneira de eu pedir para Snotty se eu podia dormir com ela, ela é a pessoa
que me manipulou para vir aqui nessas pequenas férias estilo sobrevivente,
em primeiro lugar.
Avi sabe que eu estou de pé aqui assistindo todos. Isto é uma droga,
porque eu quero fazê-lo se contorcer. Oh, ótimo. Agora ele está caminhando
até mim. Em vez de esperar por ele, uma lâmpada acende-se no meu
cérebro.
Agora eu tenho um plano.
Ok, não é bem pensado e exige alguma manipulação, mas eu acho
que vai ter o resultado desejado.
Ignoro Avi chegando perto de mim e às pressas eu agacho ao lado de
O'dead.
— O'dead. — eu digo docemente. Imagino Avi observando cada
movimento meu. Seus olhos são como os lasers na parte de trás da minha
cabeça.
O'dead finalmente olha na minha direção. — Huh?
Agora que eu estou fazendo isso eu bocejo bem alto e alongo o braço
e tudo. Isso pareceu autêntico, eu acho. E começa definitivamente despertar
a atenção de todos, exceto Ofra e Doo-Doo. Eles ainda estão dentro dos sacos
e provavelmente não vai sair por um tempo.
— Estou muito cansada e eu esqueci de trazer um saco de dormir. —
eu digo, certificando-se-sabe-quem ouve. — Você se importaria em
compartilhar o seu?
O'dead agora se parece com um rato encurralado por um gato. Por
outro lado, eu sou o gato. Meow! O'dead olha através de mim para Avi.
Estou tão tentada a olhar para trás para ver a expressão de Avi. Eu
também estou querendo saber o que pensa Snotty, ela parece estar alheia a
tudo por aqui.
137
Antes que o pobre rapaz possa me responder, eu digo: — Obrigada.
— e volto para o carro onde há um pouco de privacidade para colocar os
meus PJs (pijamas).
Eu tenho um enorme sorriso no meu rosto e eu nem sei por quê. Eu
sei que Avi ia oferecer seu saco de dormir para mim, como ele estivesse
bancando o herói ou algo assim. Então, ele poderia ter mais munição e eu
sou uma cadela mimada americana que está arruinando suas férias. Confuso
isso. Eu vou ficar longe dele, tanto quanto possível nesta viagem.
Começando a dormir com O'dead.
Claro que eu não estou realmente dormindo com O'dead. Apenas
dormir com ele. Embora, eu penso sobre como quão pequeno o saco de
dormir é, eu provavelmente não vou conseguir dormir muito esta noite.
Eu não posso acreditar que está ficando tão frio. É muito quente
durante o dia eu poderia fritar um ovo em uma pedra em segundos. Mas
agora, quando eu tiro o meu sutiã debaixo da minha blusa e rapidamente
troco para uma outra blusa, eu tenho arrepios por todo meu corpo. Brr! Eu
gostaria de ter trazido blusa e calças compridas.
Eu amarro o meu cabelo em um rabo de cavalo alto, escovo os dentes
com água mineral da parte de trás do caminhão, e percorro rapidamente de
volta ao saco de dormir de O'dead. Estou esfregando meus braços com as
mãos para me aquecer, mas não adianta.
— Está tão frio. — eu digo para ninguém em particular.
Avi está sozinho com seu saco de dormir. O resto foi para quem sabe
onde.
Eu abro o saco e examino por dentro.
— O que você está fazendo? — Avi pergunta.
— Verificando se tem cobras. — digo antes de ter certeza que o saco
está seguro e começo fechar de volta.
138
— Você sabe, você deve fazer o mesmo. Eu não quero que você
receba uma mordida ou algo assim.
Ele se senta e encara-me com aqueles grandes olhos escuros.
— Aposto que você gostaria eu recebesse uma mordida.
— Não. O que eu gostaria é que você me deixasse sozinha. Você tem
18. Você não tem que se juntar ao exército ou algo assim? — Eu digo quando
eu resolvo entrar no saco de dormir do O'dead.
De repente percebo que tento me deitar, mas estou sem travesseiro.
Isso significa sem nenhum. Avi lança um para mim, o que me bate no rosto.
Eu sorrio e o pego enquanto Avi vira e deita, com a cabeça apoiada no braço
dobrado. Eu deveria me sentir culpada por tomar seu travesseiro, mas eu
não sinto.
— Em dois meses. — ele murmura.
Sento-me. — O quê?
Ele não responde. Em vez disso, ele diz: — Lyla tov, Amy.
Eu não sei muito hebraico, mas eu estive em Israel tempo suficiente
para saber lyla tov significa "boa noite". Ele está tentando me irritar. Eu sei
disso.
Eu descompacto o saco de dormir e me levanto. Então eu estou de pé
perto de Avi e agacho ao lado dele. Seus olhos estão fechados. Falso.
— Oláaaaaaa?
Ele abre um olho. — O quê?
Suspiro alto. — Um segundo atrás, você disse dois meses. O que tem
em dois meses, além de ser eu a deixar este lugar horrível que é tão quente
como o inferno de dia, mas gelado como o Pólo Norte à noite.
139
Ele não se mexe, diz apenas com os olhos fechados como se ele
estivesse falando em seu sono. — Eu começo o treinamento básico para o
IDF, em setembro.
— O que é o IDF? — Eu pergunto.
— Forças de Defesa de Israel.
A formação básica das Forças de Defesa de Israel? Eu me sinto um
pouco mal por Avi, ele tem que ir se juntar ao exército, ele queira ou não.
— Sinto muito. — eu digo.
Desta vez, ele abre os olhos. — Por quê? Tenho orgulho de ser capaz
de proteger o meu povo, meu país. O que você faz para proteger o seu?
Que cara amargo, amargo.
— Eu faço o suficiente. — digo. — Se Israel não irritasse todos os
seus vizinhos, em seguida, talvez...
Ele se inclina para frente, sua expressão é dura. — Não se atreva a
julgar o meu país. Até que você ande em nossos sapatos — ele diz, — você
não tem ideia o que é ser israelense.
Eu estou tentando não ficar nervosa, mas do jeito que ele está
falando faz-me tremer um pouco.
— Sim, bem, não julgue o meu país também. — eu digo de volta.
Eu começo a levantar. Ele agarra meu pulso e me puxa de volta para
baixo.
— Essa é a diferença entre nós. Eu sou do meu país. Você é apenas
um produto do seu.
Puxo meu braço eu digo: — Essa não é a única diferença, Avi. Eu vou
para a faculdade e serei bem sucedida após o colegial. E você, você
provavelmente vai ser apenas um criador de ovelhas de Israel pelo resto de
sua vida.
140
Piso de volta ao saco de dormir de O'dead, sinto melhor em pensar
que agora eu realmente provei para ele que eu sou uma cadela.
Eu desfaço o saco de dormir mais uma vez para verificar se há
criaturas com presas que decidiram fazer ninho no lugar que eu vou dormir.
Felizmente, não há nada, eu fecho a coisa e volto para cima e entro dentro.
Olhando para trás, vejo Avi virado de costas é para mim. Boa.
Infelizmente, assim que eu estou ficando confortável O'dead e a
turma voltam. Eu estou tentando pegar o mínimo de espaço possível, mas
não adianta. Este saco não foi feito para duas pessoas.
O'dead se ajoelha e entra no saco comigo. Dou-lhe um pequeno
sorriso. Eu não quero que ele pense que eu não sou grata por ele concordar
em compartilhar o seu saco de dormir quente comigo. Mas eu
definitivamente não quero que ele pense que eu estou tendo uma queda por
ele também.
Ele pode suspeitar que eu vá rasgar suas roupas ou algo assim. Como
se eu fosse. Eu nem sequer fiz mais do que beijar o meu próprio namorado.
Eu sou o que vocês chamam de uma garota sexualmente lenta. Porque eu sei
que o que eles ensinam na educação sexual é realmente verdade. Há
consequências na vida e em ter relações sexuais antes do casamento.
Como a AIDS.
Como outras doenças sexualmente transmissíveis que duram para
sempre.
Como um bebê indesejado – como eu!
Não há nenhuma maneira no inferno que eu vou correr o risco de
trazer um bebê ao mundo sem ser casada com o homem que eu amo. Ao
contrário de meus pais. Quer dizer, o que eles estavam pensando? Não me
interpretem mal, eu estou feliz por estar viva. Mas a merda que eu tive que
passar por toda a minha vida, incluindo a viagem e a mente de vento da
minha mãe, ao concordar em se casar com Marc e arruinar a minha vida.
141
Quero dizer, se fôssemos uma família normal eu estaria no céu - e
não em Israel.
Ótimo. Agora eu estou descansando em estilo com um cara que eu
não estou nem remotamente interessada. Na verdade, eu sei que ele gosta da
minha prima.
Como faço para me meter nessas situações, em primeiro lugar? Este
saco de dormir é muito pequeno para nós dois. E eu estou dolorosamente
consciente que meus peitos grandes estão sendo pressionados contra as
costas de O'dead.
Fechando os olhos, rezo para o sono venha rápido. Mas agora que eu
não posso ver, os meus outros sentidos estão intensificados. Como o som do
fogo crepitando, os grilos cantando. Como o cheiro almiscarado e másculo de
Avi impregnado em seu travesseiro. Como meus peitos cutucando as costas
de O'dead, porque está um frio maldito lá fora. É tudo para me manter
acordada, o que me dá uma ótima ideia.
Espero cinco minutos antes de eu começar a roncar.
Claro que eu estou acordada, mas eu preciso fazer soar autêntica. Eu
certifico se minha boca está perto da orelha de O'dead antes de eu começar.
Primeiro, eu faço um ronco bem lento que realmente não soa como um
ronco, mais como um chiado.
Mantenho os olhos fechados, eu respiro e expiro em voz alta com as
costas da minha língua vibrando contra o teto da minha boca.
O'dead se move, provavelmente tentando me acordar. Só que eu
realmente não estou dormindo para que isso funcione.
Eu ronco um pouco mais alto, e dessa vez adiciono um pouco de
nariz e alguns ruídos extras com um toque certo.
E continuou por vários minutos, ignorando sua agitação e
movimentação pelo saco de dormir por mais da metade. Na verdade, eu
deveria ganhar até um Oscar por este desempenho. Alguns diriam que não é
bom enganar as pessoas. Mas ouça, o sono é mais importante do que
142
qualquer coisa. E se não dormir o suficiente, eu vou estar mais
temperamental do que eu sou normalmente no período da manhã.
Respiração pesada. Expire alto. Combinando nariz e garganta. Expire
mais suave. Nariz apenas. Expire alto. Respiração pesada. Expire normal.
Eu estou misturando a ordem para que o som seja autêntico. Genial,
certo?
O fim está próximo. Eu sei, mas ninguém mais sabe.
Respiração pesada. Expire suavemente.
Lá vai...
Imitando o tipo de apneia do sono tão forte quanto possível... Expiro
normal. Eu sei como fazer isso porque Marc ronca. Mamãe acha que eu não
posso dizer quando ele dorme porque ele sai às cinco da manhã ou algo
parecido. O cara ronca mais alto do que um desastre de trem. Pergunto-me
como minha mãe pode suportar, isso me mantém acordada até a metade da
noite e meu quarto fica no caminho do corredor.
Faço mais um som daqueles de apneia de sono e ronco desagradável
e O'dead começa a se contorcer para fora do saco de dormir.
Missão cumprida.
Eu ouço O'dead ficar de pé e eu abro um olho para espiá-lo. Eu sei
que ele vai pedir para Snotty para dormir em seu saco de dormir. Ha! Eu sou
tão inteligente...
Mas, como meu olho passa a área discretamente, eu percebo um
sentimento estranho de que alguém está me observando. Então eu percebo
porque me sinto assim. Avi está me olhando diretamente, e ele me dá aquele
olhar de eu-sei-que-você-é–uma- fingida com apenas a profundidade de seus
olhos castanhos.
Ele está começando a se tornar um verdadeiro pé no saco.
143
Eu dou um harrumph, e rapidamente fecho meus olhos e volto a
fingir que estou dormindo.
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Capítulo 21 Se os seres humanos estivessem destinados a estar na água,
teríamos nascido com barbatanas. — Amy, acorda. Olhei de soslaio em direção ao som da voz da minha prima e para o
sol da manha. — Estou dormindo — lhe digo, então fecho os olhos e dou a volta. — Pode dormir mais tarde — Snotty disse. — Partimos em cinco
minutos. Reclamo, porque como disse antes não sou uma pessoa
madrugadora. Eew, às vezes nem sequer sou uma pessoa diurna. Virei de novo e olhei de soslaio, abrindo os olhos de novo quando a olho.
— Pensei que isso de acampar supunha-se serem umas férias. — Sim. E daí? — Sim, assim que... Porque me despertar tão cedo? — digo. Snotty se agacha e desliza a almofada debaixo da minha cabeça. O
qual, diga-se de passagem, me atira na pedra debaixo dela. — Ai! — grito. — Devolve! Mas não me escuta, porque as costas da minha querida prima estão
de frente a mim enquanto se afasta. Com, certamente, minha almofada debaixo de sua axila fedida.
Bom, não é exatamente minha almofada. Mas foi por hoje à noite e
era muito macia e esponjosa e cheirava muito reconfortante. Sei que provavelmente não é possível. Mas é assim como me sentia.
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De má vontade me levanto e me dirijo para o jeep onde o resto do grupo passa o tempo.
— É muito cedo — digo em um gemido, com voz de idiota. Ninguém me responde, todos estão empacotando suas coisas. E estão
todos vestidos. O que acontece com essa gente, de se levantar e se vestir ao amanhecer?
— Pronto para ir — me disse Avi. Abro os braços, lhe mostrando meu pijama. — Pareço preparada? — Talvez tenha falta de comunicação. Não lhe perguntei se estava
preparada para ir. Estou dizendo que vamos. Agora. Não é sempre sobre você Amy.
Dou-lhe minha famosa olhada de desprezo. — Não acredito que se trate de mim — lhe digo. Vejo como uma de suas sobrancelhas se levanta com divertido
desprezo. Então ele tem a audácia de buscar minha mochila e jogá-la para mim.
— Te aconselho a colocar um traje de banho — disse. — Porque, aonde vamos? — lhe pergunto. — Remar de caiaque. Abaixo no rio Jordão. Quando devo lhe dar a notícia de que não vou navegar de caiaque
pelo rio Jordão ou qualquer outro rio por acaso? Não faço caiaque. Não vou à canoagens. Nem sequer sei nadar bem.
Mas apenas para lhe mostrar que não acredito que tudo se trata de
mim, furtivamente decido me trocar atrás de alguns arbustos. Quando volto, tudo está empacotado e no caminhão. O´dead está
conduzindo e próximo dele na parte dianteira está O´snot. Claro, Ofra se aconchega próxima a Doo-Doo. E isso significa que tenho que me sentar perto de Avi.
146
Super, somente o que eu precisava na primeira hora da manhã. Sento-me junto a ele e me asseguro de não fazer contato visual. Está começando a fazer calor lá fora, mas estou de shorts e a parte superior de um biquíni.
Mas à medida que começamos a nos mover, me dou conta de que
minha escolha na parte superior não é a melhor. Maldito seja, se me esqueci de que o caminho rochoso pelo que estamos conduzindo não pressagia nada de bom para os meus peitos.
A parte superior do biquíni que uso não é um sutiã com sustentação,
nem sequer está próximo. E quando O´dead começa a conduzir mais rápido, não tenho mais remédio do que me segurar no corrimão. O que significa que meus peitos estão pulando como boias em um dia de ventania. Talvez vá fazer uma redução de peitos, depois de tudo, partes rosadas a separar ou não.
Suponho que Avi se dá conta de que estou incomoda, porque muda
para mais próximo de mim e coloca seu braço ao redor dos meus ombros. Ele me tem com tanta força que não tenho mais que segurar em qualquer coisa e meus seios são esmagados com tanta força que não se movem.
Afasto-me dele. Devia lhe dar uma bofetada por me sustentar como
se lhe pertencesse. Mas me sinto tão bem... Estável estando contra ele. Nada pula fora do controle e isso é algo bom. Assim fico onde estou.
Até que, minutos mais tarde, finalmente nos desviamos para um
caminho pavimentado. Saio de seu abraço e empurro os ombros para trás de uma maneira digna. Ou, o mais digna que posso enquanto estou usando esse biquíni.
Por sorte, quando olho Ofra e Doo-Doo, estão muito envolvidos
olhando-se nos olhos para se darem conta do que está acontecendo. Bem. Em pouco tempo entramos em um grande estacionamento. Todo
mundo sai do Jeep e se dirige para a entrada do lugar. Exceto eu. — Vamos — Snotty diz enquanto coloca sua mochila. — Eu não vou. — Por quê? — Vou esperar até que voltem.
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— Vai ficar esperando muito tempo Amy. Moron vai se encontrar conosco no final do rio. Não vamos voltar aqui por vários dias.
Meu coração começa a bater rapidamente. — Disse um par de dias? — Sim. Não tenha medo. Fazer caiaque é divertido. Dou-lhe um ligeiro bufar quando penso nas rápidas águas brancas e
todas as diferentes formas que poderia morrer na água. — Não tenho medo. Apenas... Bom, não gosto muito de água. Talvez
tenha um telefone por aqui e posso... Ela colocou suas mãos nos quadris e me interrompeu dizendo. — Tem medo, mas não quer admitir. Se for tão covarde, vou viajar
com você. Pego minha mochila e pulo da caminhonete, meus pés aterrissam no
estacionamento de cascalho com um ruído surdo. Coloco meus óculos de sol e olho para ela.
— Não sei do que fala. — Sei que acredita que é forte, mas realmente não é. Começo a caminhar para a entrada do lugar de caiaque e digo. — E eu sei que gosta de O´dead muito mais do que como amiga. Ela corre para me acompanhar. — O que disse? — Que gosta de O´dead. — Apenas como amiga. Puxo minha mochila sobre meu ombro. — Vejo a forma que lhe olha. É definitivamente mais que amizade.
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— Pode se saber a ciência exata? — pergunta com esperança em sua voz.
Dou de ombros. — É israelense — lhe digo — Porque não vai diretamente a ele e
pergunta? Mantenha na lembrança que os israelenses não mentem ou não se vão pelas filiais.
— Eu... Não posso. Irrito-me em voz alta, zombando dela como ela zomba de mim o
tempo todo. — Está bem, eu vou perguntar por você. — Começamos a caminhar
para o rio juntas. — Claro, não acredito que sou forte — lhe digo — Sou forte.
149
Capítulo 22
Ser um bom beijador tem uma conexão direta com o quanto
você gosta da pessoa que está beijando.
Caminhar com determinação para o lugar onde o caiaque está é
difícil, enquanto eu tenho um sentimento afundando em meu estômago de
que eu não vou sair desta situação viva. Mas pelo menos Snotty vai vir em
meu caiaque, eu vejo que eles são feitos para dois.
Escuta, eu sei, se eu afundar todos ficarão felizes, incluindo minha
prima. Será muita ruindade com ela que se eu cair, ela vai comigo.
Eu observo atentamente como Doo-Doo e Ofra entram no caiaque
primeiro. Parece instável, para dizer o mínimo. O caiaque não é feito por
aqueles plásticos duros, é uma borracha inflável. Quem diabos pensou em
um caiaque inflável é um otário idiota. Eles não sabem que um pedaço de
madeira afiado ou uma piranha com fome fará o caiaque estourar?
— Você está bem? — Avi pergunta. Eu olho para ele e ele está
vestindo um traje de banho azul da Nike com uma listra branca dos lados.
Eu dou-lhe um olhar. — Claro que eu estou bem. — eu digo. — O que
faria você pensar que eu não estou bem?
Eles estão todos olhando para mim como se fosse um puré de batata.
— Entre. — Snotty diz enquanto joga as mochilas para o caiaque.
150
Meus olhos giram de um lado e do outro entre ela e o cara que está
lançando os caiaques infláveis. Parece que ele vai me empurrar em um se eu
não andar mais rápido.
— Você precisa de um colete salva-vidas? — o cara me pergunta.
Sim. — Não. Mas esse caiaque está com problemas. — eu digo
apontando para a coisa flutuante. — Eu acho que tem um buraco no meio.
O cara do caiaque tem a audácia de achar graça maliciosamente de
mim até Avi tirar o colete salva-vidas da mão do cara e me dizer: — Entre, eu
vou te ajudar.
— O'snot vai comigo. — eu aponto. Então eu olho para Avi por cima
dos meus óculos de sol. —Você vai com O'dead.
Digo isso eu coloco os meus óculos de sol de volta.
Antes de eu perceber o que ele está fazendo, Avi me pega e me joga
como um fardo de feno por cima do ombro. Em seguida, ele pula direto para
o caiaque. É instável e eu estou assustada e eu estou agarrando-o e eu estou
gritando obscenidades.
Ele me deixa de lado no fundo do caiaque e empurra com um dos
remos.
— Por que você fez isso? — Eu grito, obviamente, recuperando um
pouco de tempo para controlar o meu medo.
Ele me ignora e mantém o nosso caiaque rio abaixo, deixando O'dead
e O'snot passar por nós.
— Coloque o colete. Vai ficar difícil. — diz ele depois de ter remado
por alguns minutos.
Eu enfio os braços através dos buracos, mas não posso fechar o cinto.
— Meus seios são grandes demais para isso. — eu digo irritada. —
Ela não encaixa.
151
Ele dirige o caiaque para o lado do rio e se agarra a um ramo para
nos impedir de avançar. — Incline-se para mim. — Avi diz.
Eu espero que ele faça algum comentário sobre meu decote agora
que graças ao colete salva-vidas, se assemelha a um bumbum. Mas ele não
faz. Em vez disso, ele se inclina para frente e solta a corrente, e volta a remar.
Quando percebo que não estamos em movimento e ainda estamos
contra a margem do rio, eu olho para cima. Avi ainda está perto de mim, seu
rosto a centímetros do meu.
De repente eu começo a sentir alguma coisa na boca do meu
estômago. Como se fosse ficar doente, mas não.
Ele está me olhando intensamente e sua proximidade está me
deixando tonta. Em seguida, ele se inclina cada vez mais perto.
— O que você está fazendo? — Eu pergunto.
Ele toca com os dedos levemente em meu rosto e tudo o que posso
pensar é a suavidade de seus dedos na minha pele.
— Eu vou te beijar. — ele explica.
No início, eu fico sem ar.
— Eu tenho um namorado. — eu deixo escapar suavemente.
— Eu sei. — ele diz, enquanto esfrega o meu lábio suavemente com o
polegar.
— E... E você é um idiota a maior parte do tempo.
Seus lábios estão tão perto que eu posso sentir o calor deles.
— Amy?
— Sim — eu digo nervosa.
— Pare de falar para que eu possa te beijar.
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Antes que eu possa responder com algum comentário inteligente, os
seus lábios estão nos meus. E se eu disser que é algo que eu já senti antes,
estarei mentindo.
Eu tenho que detalhar isso para que você obtenha toda a imagem.
Então, uma mão dele está no meu rosto, colocando-a suavemente
como se eu fosse de porcelana e pudesse quebrar ao menor toque. Então ele
lentamente esfrega seus lábios contra os meus, quase como se estivesse
pintando cada parte da minha boca com a sua.
É maravilhoso. É inebriante. E é totalmente intenso ao ponto de que
minha mente está ficando fora de controle. Mitch nunca me beijou assim.
Como se ele apreciasse e memorizasse os meus lábios para sempre.
Quando ele me puxa lentamente para trás e os dedos saem do meu
rosto, eu digo: — Por que você fez isso?
Sua boca torce-se num sorriso irônico. — Por que eu te beijei ou por
que eu parei de beijar você?
— O primeiro.
Ele se instala em seu lugar no caiaque e se inclina para trás. Eu ouço
os pássaros cantando nas árvores e o vento balançando as folhas. Como se
eles estivessem sussurrando sobre o que aconteceu entre mim e Avi. Eu me
pergunto o que estão dizendo.
— Você precisava disso. — ele finalmente diz.
Em algum lugar em tudo isto meus óculos de sol caíram e estão
sobre a parte inferior do caiaque. Eu os pego, os coloco de volta antes que ele
possa dizer o que eu estou realmente sentindo.
— Desculpe-me? — Eu digo. Eu precisava ser beijada? Que
comentário é esse?
Ele empurra o caiaque para longe da margem do rio, pega um remo,
e começa a remar. Então ele me entrega o outro remo. O que eu realmente
153
quero fazer é bater-lhe na cabeça com isso. Em vez disso, eu arranco meu
remo de suas garras e digo estupidamente: — Você me beijou.
Ele encolhe os ombros e a pá um pouco mais, os músculos em seus
braços flexionando cada vez que ele pincela contra a corrente pequena. —
Apenas esqueça sobre isso.
Como se eu pudesse. Isso não era apenas algum beijinho - era como
um gol de placa nos jogos playoffs da NBA. E não era um beijo francês, mas
era mais íntimo. Eu não sei exatamente o que eu estava sentindo durante.
Todo o meu ser, meu espírito inteiro, estava envolvido. Não apenas os meus
lábios. Eu sei que estou soando como uma nerd, mesmo assim. E antes que
você pense nisso, não era a palavra de quatro letras chamada amor.
— Espere.
— Como em espere, eu tenho algo a lhe dizer? — Eu pergunto.
— Como em segure o caiaque, estamos atingindo as corredeiras.
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Capítulo 23 Se você começar uma briga, eu a terminarei.
Se eu te contar que minha vida simplesmente reluziu diante dos
meus olhos, estaria lhe contando a verdade. Até o beijo de Avi parece que foi
há um milhão de anos quando me viro e vejo as ondas correntes, a água
borbulhante e o topo branco, espumoso das corredeiras.
— Não quero morrer! — grito.
— Você não vai morrer — ele diz alto sobre o som pesado da
agitação da água. — Só fique naquele lado do caiaque para que não viremos.
— Eu não sei nadar. — admito a ele.
— Você está vestindo um colete salva-vidas. Relaxe. Se virarmos,
você estará segura.
— Estou com medo. — E tudo que quero fazer é que ele me abrace
para que me sinta segura. Fecho meus olhos com força enquanto agarro com
um aperto mortal os lados do caiaque.
— Não se preocupe, eu nunca deixaria algo acontecer com você. Fale
comigo e isso estará acabado antes que você perceba.
— O que você quer que eu fale? — digo.
Ele quer que eu lhe diga onde eu queria ser enterrada ou quem que
eu gostaria que fizesse minha homenagem depois que MORRERMOS nesse
rio? Acho que ele talvez não esteja conseguindo me ouvir porque sei que
está trabalhando duro pela forma como o caiaque é manobrado em torno
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das corredeiras.
— Conte-me sobre sua mãe.
Não é o melhor começo de uma conversa no momento. Acho que é
melhor do que falar sobre meu enterro.
— Ela vai se casar com o namorado.
— Você não gosta do cara?
— Não muito. — digo enfaticamente.
— Então se mude com seu aba.
Abro meus olhos. — Meu aba?
— Você sabe... Ron. Aba é pai em hebraico.
— Eu sei disso. Mas eu com certeza não me mudarei com ele.
— Ele não mora em Chicago?
— Sim.
— Então qual é o problema?
— O problema é que ele não é meu pai. Biologicamente falando,
talvez. Temos muito que melhorar entre nós antes que possa ser
considerado um pai de verdade.
— Se você diz. — ele diz com naturalidade.
De repente, estou consciente que passamos das corredeiras e
estamos agora deslizando pelo rio.
— Não me diga que Moisés sobreviveu indo por esse rio numa cesta
quando recém-nascido. — digo.
Ele jogou a cabeça para trás e deu uma risada alta, a primeira que eu
vejo e ouço dele.
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— Aquele seria o Rio Nilo, Amy.
— Sim, bem, eu vou ficar com as banheiras. Elas são muito menos
perigosas.
Nós vamos pelo resto do caminho em silêncio e descanso minha
cabeça no aro do caiaque. Espero que alguns raios de Sol me deem um
bronzeado dourado e não queimem minha pele como uma batata-frita.
Acredite ou não, estou tentando não pensar sobre aquele comentário que
Avi me disse depois de nosso beijo. Mas, na verdade, estou obcecada por
isso.
Você precisava disso. Sim, foi o que ele disse. Você acredita?
Talvez ele precisasse. De qualquer maneira, não vai acontecer de
novo. O que eu diria para Mitch? Talvez eu não devesse nem dizer que beijei
outro cara. Não é como se ele fosse descobrir sozinho ou qualquer coisa; foi
só uma vez inocente.
Se comida caindo no chão tem a regra dos cinco segundos, não
deveria um beijo inocente ter a regra do uma vez? É claro que sim, embora
eu ache que exista essa partezinha do meu cérebro me resmungando que
não foi um beijo inocente.
E estou definitivamente ignorando o fato que exista essa partezinha
de mim que quer tentar de novo. Mas não porque eu precise, isso é pela
minha maldita certeza.
Eu me sento. Quando eu estou quase perguntando a Avi o que ele
quis dizer com seu comentário sobre o beijo, aproximamo-nos dos outros
dois caiaques.
— O que fez vocês demorarem tanto? — Sotty pergunta.
Instantaneamente, ruborizo quando todos focam em nós. Meus olhos
correm de Avi para o resto do grupo culposamente.
Um sorriso manhoso atravessa o rosto de O’dead e ele ergue as
sobrancelhas algumas vezes.
Ao invés de admitir que nos beijamos e pensando em maneiras de
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desviar da atenção dos outros, pego meu remo (o qual até agora não usei) e
bato na água para molhar Snotty e O’dead.
Batida certeira!
Minha prima e O’dead estão chocados, e me sinto triunfante. Há! Isso
os ensinará por se intrometer nos meus negócios.
Snotty e O’dead tentam remar perto de nós e eu remo
freneticamente para longe deles. Olhando para o meu parceiro de caiaque,
percebo que seu remo nem está na água.
— Ajude-me! — grito, rindo.
— Essa é sua briga, não minha. — ele diz.
Em resposta, enfio meu remo na água e bato em sua direção. Avi está
agora ensopado com a água do Rio Jordão.
Mostro a língua para ele, então digo — Agora é sua briga.
Oh, eu sei o que está por vir. Eu não sou estúpida o suficiente para
pensar que ficarei seca por muito tempo. Quando o remo de Avi entra na
água e longe do canto do meu olho, vejo o caiaque de O’dead e Snotty se
aproximar, só fico batendo meu remo no rio como louca.
Água de todos os lados está vindo para mim. Ofra e Doo-Doo devem
estar participando do caos. Não que eu pudesse ver qualquer coisa, na
verdade, porque meus olhos estão fechados com força. Pelo que sei, poderia
estar batendo toda a água sobre mim com todos os outros.
De repente, está quieto, exceto pelo meu remo batendo na água.
Então paro e abro os olhos.
Claro que quando abro, percebo que esse é o truque mais velho do
livro. Porque assim que abro meus olhos, água me molha com a vingança de
todos.
— Trégua! — grito, especialmente quando percebo quanta água está
no fundo de nosso caiaque. — Vamos afundar!
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A água para e percebo que estamos todos rindo juntos. E isso me faz
pensar que eu sou realmente parte do pequeno clube de amigos deles.
Quando Avi e eu alcançamos o trapiche, nosso caiaque está
milagrosamente ainda flutuando. E esperando por nós está um soldado com
uma metralhadora sobre seu ombro.
Primeiramente, estou chocada. Então percebo quem o soldado é... É
Moron, amigo de Avi do moshav. E a bandana que dei a ele com o símbolo da
paz está enrolada em volta da ponta de sua arma.
Wow. Meu presente significa alguma coisa para ele.
— Oi, Moron. — digo quando saio do caiaque.
Ele sorri para mim. — Oi, Amy.
Desejo poder tirar uma foto dele sorrindo assim, em seu uniforme e
arma com um símbolo da paz. Ele parece tão... Legal e sem maldade, não
como alguém que atiraria com aquela arma em pessoas. Eu poderia ver
agora a legenda em alguma revista nacional: Moron, soldado israelense.
Do jeito que a mídia gosta de distorcer as coisas por aí, a legenda
provavelmente seria assim: soldado israelense Moron. Como se ele fosse um
completo idiota ao invés de perceber que esse é o nome do cara.
Moron caminha até mim e diz: — Serei a escolta militar de vocês
pelo resto da viagem.
Escolta militar? Por que precisamos de escolta militar?
— Você está brincando, né?
— Não.
Não quero que ninguém ria de mim, então não faço as outras
perguntas que estão correndo pela minha cabeça. Olha, eu só comecei a me
sentir confortável com essas pessoas e não quero fazer de mim uma excluída
de novo.
Pegamos um micro-ônibus e dirigimos por horas e horas. A paisagem
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dessa ilha bonita é de tirar o fôlego... Num minuto estamos dirigindo pelas
montanhas gramadas que se assemelham com as colinas onduladas de O
Som da Música e então estamos no meio de uma cidade grande e populosa.
Se aquele não fosse contraste suficiente, em outra hora estamos bem no
meio do deserto sem nenhuma árvore ou casa à vista.
Da janela, vejo o pastoreio dos Beduínos Árabes no deserto. É como
se eu estivesse olhando um pedaço de vidro em centenas de anos no
passado.
Meio hora depois, vejo tanques militares no chão do deserto,
atirando.
— O que eles estão fazendo com aqueles tanques? — pergunto,
nervosa.
— Prática de alvo. — Avi diz
Espero que a mira deles seja precisa.
Em menos de dois meses, Avi será um soldado, também, aprendendo
a atirar com uma arma. E ele é menos de dois anos mais velho que eu.
É a coisa mais estranha. Estou, na verdade, acostumando-me em ver
soldados à volta e armas e tanques diariamente... Isso confunde minha
cabeça com o quão diferente a vida é aqui.
Paramos numa pequena loja para pegar Cocas (graças ao poderoso
Deus) e lanches.
Eu vejo pela janela da loja Avi sair do estacionamento sozinho. Pago
pelo meu Kit Kat com os poucos shekels que Snotty me deu e vou atrás dele.
— Ok, vamos resolver isso. — digo.
Ele se vira para mim como se, surpreso, estou o encurralando. — O
que quer dizer?
— Dã! Por que você me disse no caiaque que me beijou porque eu
precisava? Se isso não fosse o maior blefe, não sei o que é.
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— O que é um blefe?
Reviro os olhos. — Você sabe, usar o caminho fácil ao invés de
admitir que gostou de me beijar. Admite, Avi.
— Eu disse ao seu aba que cuidaria de você nessa viagem e que nada
aconteceria a você.
— Sim, você pode jogar essa promessa pela janela.
— Desculpe-me se te conduzi além, mas isso não vai acontecer
novamente entre nós.
Estou cansada de discutir. Em vez disso, para provar minha teoria, o
alcanço e agarro a parte de trás de sua cabeça e o puxo para frente de mim.
Instantaneamente, nossos lábios tocam e é como se estivesse naquele
caiaque com ele de novo. Fecho os olhos e envolvo meus braços em volta de
seu pescoço, feliz quando seus braços vão para minha cintura e ele me puxa
para mais perto. Não me importo com quem está olhando. Eu não mudaria
isso por nada.
Mas, de repente, ele deixa cair suas mãos da minha cintura e se
afasta. Então assisto com horror quando ele bate em sua boca com as costas
da mão, como se quisesse apagar o beijo de seus lábios.
— Eu não posso fazer isso, Amy. Não dificulte para mim.
Lágrimas estão brotando dos meus olhos e nem estou tentando
impedi-las ou enxugá-las.
— Não chore. — ele diz, estendendo a mão para enxugar uma
lágrima escorrendo pelo meu rosto. — Você é uma ótima garota
— Não diga isso apenas para me fazer sentir melhor. Na verdade,
não diga nada para mim. Eu entendi, alto e claro.
Começo a me afastar dele e vou para o micro-ônibus.
— Amy, deixe-me explicar. — ele diz, segurando-me pelo braço.
Eu fico lá, esperando por palavras que, com certeza, não quero ouvir.
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Olho seu rosto e, pela primeira vez, vejo algo que nunca tinha visto antes
nele. Aflição. Está tão prevalecente que me deixa com medo.
Ele fecha os olhos por um segundo, como se as palavras saindo de
sua boca causassem dor só por serem ditas.
— Meu irmão Micha morreu ano passado num bombardeio.
Ele olha para mim pela minha reação, mas estou muito atordoada
para dizer qualquer coisa. Em vez disso, abraço Avi forte, desejando que eu
conseguisse tirar parte de sua dor, ainda que, no meu coração, eu não posso.
— Sinto muito. — sussurro em seu peito.
Ficamos assim por muito tempo. Quando ele se afasta, percebo que
seus olhos estão vermelhos. Ele os cobre com a palma das mãos.
— Odeio ser emocional. — diz.
— Sou, provavelmente, uma das pessoas mais emocionais que
conheço. — admito.
Ele me dá um de seus raros sorrisos, então sua expressão fica séria.
— Gosto de você, Amy. Provavelmente mais do que quero admitir,
até mesmo para mim. Mas não quero ter nada sério com ninguém agora.
Tenho um sobrinho sem pai e uma cunhada que fica em casa de luto pelo seu
falecido marido. Vou estar no exército mês que vem. Se alguma coisa
acontecer...
— Se eu prometer não ficar de luto se você morrer, você ficará
melhor? — digo.
Ele balança a cabeça. — Não é engraçado, Amy. Vou ser treinado
como um comando.
— Ouça, estou falando apenas de um lance de verão, não um caso de
amor para vida toda. — Não estou nem pensando em Mitch agora. E tenho a
sensação de que Mitch não está pensando em mim, também. Avi e eu temos
uma conexão. Não posso ignorar.
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— Você está muito emocional para não se envolver. Você nunca
poderia ter um lance de verão. Não da maneira que tem sido entre nós, pelo
menos.
— Então que tal terminarmos isso quando essa pequena viagem de
aventura acabar. Se você quer ser um covarde pelo resto de sua vida,
continue. Mas se você quer ter um tempo ótimo com uma garota foda, você
terá que enfrentar seus medos. — Eu quero dizer por favor, por favor, por
favor, mas não faço. Olha, uma garota precisa ter um pouco de dignidade se
ela é rejeitada pelo cara de quem ela gosta.
— Quem é a garota foda? — ele pergunta, fingindo procurar por
uma.
Brincando, soco-o no estômago.
Nada mais é dito sobre nosso não-relacionamento, mas ele me beija e
diz: — Você está pronta para isso?
Eu pisco para ele e digo, brincalhona: — Absolutamente.
Quando ele segura minha mão e me leva para o resto do grupo, não
estou surpresa que os olhos deles estejam cheios de espanto. Olha, se eu
estivesse no lugar deles, acharia que o mundo girou sobre seu eixo um pouco
rápido demais para ver a mim e a Avi tentando um relacionamento de
verdade. Mesmo que seja apenas um não-compromisso, um lance rápido.
A única coisa me incomodando no fundo da mente é... Como serão os
acampamentos de dormir hoje à noite?
Avi tem dezoito, e mais experiência que eu.
Ele espera de mim mais do que estou disposta a dar?
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Capítulo 24
Fazendo coisas más algumas vezes nos sentimos tão bem.
Moron nos conduziu a um hotel. Para ser honesta, não sei como ele
encontrou este lugar. É no meio do deserto com nada em quilômetros ao
redor, pelo menos isso é o que parece.
Todo o caminho a Beersheva, Avi e eu ficamos realmente próximos,
é como se uma parede invisível tivesse sido levantada de entre nós.
Descansei comodamente em seus braços e até dormi em seu colo durante a
viajem. E adivinhem? Acariciou meus cabelos, como se lhe agradasse. Senti-
me tãooooooo bem, quase bem demais, porque tinha aquela sensação de
formigamento em todo o meu corpo só de pensar que logo nos beijaríamos
outra vez.
Porém quando estávamos no hotel e estávamos na recepção do hall
de entrada, eu fiquei um pouco nervosa. Dormindo junto com o O’dead eu
estava segura e tranquila. Para ser justa, nunca dormimos juntos, por isso o
meu falso ronco.
Olhei para Avi. Sei que com ele não poderia fingir um falso ronco,
sabe quando estou fingindo. Além disso, eu não quero ser falsa com ele.
Estou nervosa do que ele espera de mim. Não quero ser uma dessas
garotas que se envolvem com um garoto e logo diz “Sim, dormi na cama com
ele, mas não esperava que ele se descontrolasse...” Eu sempre penso “Não
deveria ter dormido na cama com ele em primeiro lugar, idiota”.
— Quais são os arranjos para dormir? — eu perguntei a Ofra.
— Com quem você quer dormir? — diz com um tom de sarcasmo em
sua voz.
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Snotty balança três chaves em nossos rostos e diz.
— As meninas vão dormir com as meninas e meninos com meninos.
Estou aliviada que os meninos e as meninas vão dormir em quartos
separados. De algum modo tenho um pressentimento de que as coisas
podiam se descontrolar comigo e Avi. Nosso relacionamento é tão explosivo
em outras maneiras, que tenho certeza que vai seguir esse caminho se
estivermos sozinhos.
Estabelecemos-nos em nossos quartos, tiramos uma soneca e fomos
para o restaurante do hotel para jantar à noite.
Depois do jantar, fui sentar perto de O’dead que estava no lobby do
hotel.
— O’dead, você poderia me ajudar com algo? — eu perguntei.
Ele encolheu os ombros.
— Claro.
Pisquei o olho para O’snot e o levei para meu quarto de hotel. O qual
estou compartilhando com Ofra e O’snot . Quando chegamos ao quarto me
movi para a cama e disse.
— Sente-se.
Ele arrastava os pés, desconfortável.
— Amy, eu não estou interessado em você dessa maneira.
Apoiei-me contra a parede.
— Existe alguém em quem você está interessado? Como O’snot ?
Ele ficou boquiaberto.
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— Como você sabe?
Revirei os olhos.
— É óbvio. E você precisa de um chute na bunda para que algo
aconteça entre vocês dois.
Uma batida na porta nos interrompe. Quando abriu, era Avi. E ele
não parecia muito feliz.
— O que está acontecendo aqui? — pergunta Avi.
Coloco meus braços ao redor de Avi e o beijo nos lábios para
acalmar-se.
— Está com ciúmes?
Só ficou olhando em meus olhos sem dizer nada.
— Tento corrigir algo com O’dead e O’snot. — eu explico.
Os olhos de Avi vão de mim a O’dead, cujo o gesto confirma o que eu
disse.
Eu digo a O’dead.
— O’snot quer saber como você se sente, então vá atrás dela e
desembucha. — Quando apareceu sulcos em sua testa me dei conta que meu
modismo o deixou confundido. — Vá atrás dela e lhe diga o que você sente.
Agora, antes que ela encontre a outro rapaz.
Ele saiu do quarto mais rápido do que eu já tinha visto alguém se
mover antes.
Avi sorriu.
— O que? — eu perguntei.
— Você fez algo muito bom, Amy. Totalmente desinteressada.
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Eu fico longe dele.
— Não, não o fiz. Só estava doente e cansada de ver como ele a vê,
como se fosse morrer se ela não prestasse atenção nele. — Deus me livre de
ser vista como caridosa.
Ele ficou atrás de mim e colocou os braços em volta da minha
cintura.
— Vamos dar um passeio?
Concordo.
Ele pega minha mão e saímos do hotel, caminhamos sem rumo
através de um caminho de cascalho. Eu tenho uma doce sensação que vibra
no meu coração apenas por estar perto de Avi.
— Conte-me mais de seu irmão.
O ritmo de Avi se desacelera e toma um profundo suspiro.
— Não falo muito sobre ele.
— Por quê?
Ele duvida antes de dizer.
— Dói. Aqui no fundo. — ele aponta para o coração. — Eu sei, não é
o melhor.
Aperto sua mão.
— Não, é o melhor. Quero dizer, isso mostra que você quer. Mas tem
que falar sobre isso. Se não, parte do espírito do seu irmão morre com ele.
Ele para e pensa sobre isso por um minuto. Logo assente lentamente
com a cabeça.
— Amava jogar futebol. Era muito melhor que eu, mas ele me
deixava ganhar a maioria das vezes para aumentar meu ego.
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— Soa como um irmão maravilhoso. Você tem sorte.
— Sim. — Sacode a cabeça e suspira. — Preferia que eu estivesse
morto em seu lugar.
— É por isso que é o Sr. Furioso todo o tempo?
— Eu não sei — disse. — Eu acho.
— Não pode mudar o passado, Avi. Acredite, eu tentei. Não funciona.
— Essa conversa é profunda.
Eu sorrio.
— Tem razão.
— Vamos falar de outra coisa. Como quanto eu gosto de você.
Quero dizer que gosto dele completamente, mas em vez disso, digo
isso:
— Ofra disse que já namorou com um monte de meninas. É verdade?
Este sentimento em meu coração me dá medo e acho melhor não
pensar. Se eu encontrar suas outras namoradas, será mais fácil para
proteger-me, porque eu estou indo para me distanciar emocionalmente com
ele.
— Já namorei — responde. — Porém não desde algum tempo. Tive
medo de que no caiaque fosse um beijo ruim, já faz muito tempo.
— Seu beijo estava bom — digo. Mais que bem. Começamos a subir
uma rochosa colina perto do hotel. — Quero saber mais de você — digo
enquanto me ajuda a alcançar uma grande rocha que fica no topo da colina.
Avi se sentou vendo através do deserto escuro de um lado e luzes piscando
como diamantes do outro, das pessoas na distância. É um lugar muito
romântico e me pergunto se Avi trouxe outras garotas aqui. Ele me guia e me
senta na frente dele, entre suas pernas estendidas.
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— O que quer saber? — pergunta ele.
Muito, para ser honesta. Mas devo fazer as perguntas mais comuns
que uma garota faz a um rapaz, odeio que não consigo pensar em algo
original ou que soe mais maduro.
— Com quantas meninas você já esteve?
— Estive? — disse atrás de mim. Sinto sua respiração quente atrás
em minha cabeça enquanto se inclina para mais perto de mim. Resisto à
tentação de curvar e fechar os olhos. — Beijado?
Não quero pensar em outras coisas que ele fez com as meninas então
eu digo.
— Sim. Beijando.
— Incluindo minha mãe?
— Não, bobo, não tua mãe. Sabe ao que me refiro. Um beijo
verdadeiro.
— Um cara não pode sair falando com quantas garotas ele beijou. Só
direi que se você me disser, eu o digo.
Dou-lhe um olhar como se eu fosse matá-lo se ele não abrisse a boca.
— Você primeiro.
— Acho que cerca de oito — admite finalmente.
— Oito! — digo, atordoada.
— Por quê? — ele pergunta, eu posso sentir o alarme em sua voz. —
Com quantos você beijou? Aposto que é muito mais pela forma que me
beijou no caiaque.
Sorrio pelo elogio, mas disse.
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— Menos que você.
São dois, embora o primeiro não devesse contar, porque esse foi
durante um acampamento para mochileiros e aconteceu acidentalmente no
escuro.
Pode perguntar-se como alguém acidentalmente beija. Bom, pensei
que estava beijando um menino que eu gostava, durante “sessão de
acasalamento com as luzes apagadas” e provou ser o rapaz que beijou
metade das meninas em todo acampamento. Ainda me lembro do gosto de
sabão na minha boca quando lavei para tirar os germes. Sabem o que
dizem... É como haver beijado a todas que ele beijou. Asqueroso!
Infelizmente, quando as luzes voltaram novamente, durante a
“sessão de acasalamento com as luzes apagadas” eu estava lábio com lábio
com o Sr. Equivocado, porém o Sr.Correto nos olhou e terminou com Jessica
em vez de comigo.
— Sete?
— Não, não sete, prostituto — falo.
— Sabe o que, não fale. Não quero pensar em outros meninos que te
beijaram. Eu não sou o que vocês chamam de prostituto. Além disso, só
quero que concentre seus pensamentos em mim... Em nós.
— Pensei que você me odiava.
— Eu só queria te afastar porque não conseguia deixar de te ver. —
Sua voz era rouca e cheia de emoção. — Às vezes não consigo dormir à
noite, só fico pensando em você — disse com seu acento mais profundo que
o normal.
— Pensa em mim todas as noites? — Pergunto e por erro digo
pensa em vez de pensava. — Por quê? — Por favor, não diga por causa de
meus seios.
— Primeiro de tudo — disse enquanto acariciava os cachos no final
de meu cabelo que tinha começado a enrolar pelo calor do deserto. — Você
é linda. Mas é a maneira que você lida com cada situação com seu próprio
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estilo é que me fascina. Você é forte, é exageradamente honesta, tem essa
personalidade de espírito que eu nunca sei o que você vai fazer ou falar.
Você é inquietante. E ainda por cima, tem um coração enorme, embora não
abra com frequência.
Virei para olhar para ele.
— Nunca ninguém me descreveu assim.
— Quando você tentou me empurrar no palheiro no moshav, isso me
impressionou completamente.
— Sim, exceto que não funcionou. Você é quase uma massa de
músculo.
Ele começou a rir.
— Não alimente meu ego. Agora me diz o que te atrai em mim. Além
da minha grande massa de músculos.
— Tá, tá. É sério. — digo, então levantei meu dedo e lentamente
traço uma rota a partir do canto do olho, para a barba no queixo e
terminando nos seus lábios grossos. — Além de que você é um belo
exemplar masculino, eu gosto que você sempre esteja ali por mim quando
me torno louca. Apesar de que você fez isso parecer uma tarefa, me ajudou
com todos os desafios que tive aqui. Deixou-me cair sobre você quando os
amigos de Mutt estavam a ponto de atacar-me. — eu digo e beijo
suavemente sua boca. — Me ajudou com o rebanho de ovelhas — continuei
e o beijei outra vez. — E foi meu herói tirando as tripas da cobra.
Antes de poder beijá-lo outra vez e continuar lhe dizendo as coisas
incríveis agora que vejo e que não podia ver antes, ele esmaga seus lábios
contra os meus.
— Amy — disse contra meus lábios. — Acho que vamos entrar em
problemas. Quantos anos você tem?
— Em breve terei dezessete — falo sem conseguir respirar.
Ele disse algo em hebreu que obviamente não consegui entender.
171
— Não deveríamos estar fazendo isso.
— Não estamos fazendo nada exceto nos beijarmos.
— Sim, mas...
— Podemos nos beijar, não? — digo passando meus lábios em seu
pescoço.
— Sim — disse com voz tensa e baixa. — Podemos nos beijar.
Não quero que ele pense sobre minha idade agora. Quero que
desfrute do momento e dos beijos. Especialmente os beijos. Pressiono meus
lábios com os deles, porque não posso imaginar ficar sem tocar seus lábios
nos meus. Ele intensifica o beijo e eu o sigo, sou apenas consciente de que
trocamos de posição e agora estamos deitados lado a lado.
Bem, nunca em meus dezesseis (quase dezessete) anos me senti
assim antes. É como se houvesse cruzado o ponto de ser uma menina, a uma
mulher só experimentando a sensação estranha e desconhecidamente
quente e profunda do meu corpo. Minhas reações corporais aumentaram
dez vezes, quando o meu cavalheiro israelense com sotaque, acariciou
minhas costas. Sinto que vou morrer se parar e eu tenho a sensação de que
ele sente o mesmo.
— Vou lembrar desta noite quando eu estiver no treinamento básico
— disse beliscando o nódulo da minha orelha. — Quando me porem à prova
e estiver exausto, vou lembrar desse momento e vou superar tudo.
Meu corpo parece uma tortura doce e quer assimilar tudo sobre Avi
e seu corpo agora mesmo. Agarro sua cabeça para mais perto de mim e
depois acaricio seu corpo com as mãos. Nossos lábios e bocas se explorando
uns aos outros e as nossas mãos estão fazendo o mesmo.
Quando eu o toco de volta, seus músculos tensos contra meus dedos.
Minha mão se move ao redor da frente de sua camisa e puxa para cima pra
sentir sua pele suave e seu abdômen bem formado contra minha mão. Seu
coração estava batendo rápido, eu podia sentir bombear em um ritmo
irregular.
172
Baixando minha mão, cheguei ao cós da calça jeans e deslizei o dedo
indicador dentro do cinto. Pouco a pouco, meus dedos se moveram mais
para baixo.
Avi reclamou em voz baixa e gentilmente pega a minha mão.
— Não podemos... — ele disse.
— Porque não? — pergunto sem fôlego, ainda agitada pelos nossos
beijos intensos. Sinto-me bêbada (embora eu nunca estive bêbada, tenho
certeza que é assim como se sente) e fora de controle.
— Além de seu aba me matar?
Grande, o meu pai nem sequer está aqui e ainda pode arruinar minha
vida.
— Não me importa o que Ron pensa.
— Talvez você não. — ele diz e se senta. — Mas eu sim. Não quero
nenhum de nós nos arrependendo amanhã.
Sento-me também.
— Não me arrependerei de nada. — Nunca.
Ele beija minha testa.
— Deixa eu te levar para o seu quarto. Já está ficando tarde.
173
Capítulo 25
Aproxime-me de seu próprio risco.
— Boker tov. — Avi diz bom dia para mim na fila do café-da-manhã.
Ele se inclina para me beijar, mas eu me afasto.
— O que há de errado? — ele pergunta.
Duh! Ele totalmente me rejeitou ontem à noite.
— Nada.
Eu continuo colocando o que está na minha frente em meu prato. Eu
mal percebo que essa coisa cremosa com pedaços inteiros de sardinhas
pequenas - como peixes dentro (com as escamas de prata conectados, muito
obrigada) DEFINITIVAMENTE, não é como sushi. É nojento, mas agora que
eu já o coloquei no meu prato, eu vou ter que ficar olhando enquanto eu
como.
Antes que eu possa acrescentar mais na minha bandeja, Avi toma o
prato da minha mão e coloca na mesa mais próxima.
Eu coloco minhas mãos em meus quadris. — Hey! Esse é o meu café-
da-manhã.
Eu percebo que eu estou fazendo uma cena. Eu não me importo.
Ele agarra a minha mão e me leva para a saída. — Ele vai esperar.
Nós precisamos conversar.
174
Ele me leva para fora. Uma lufada de ar quente do deserto me dá um
tapa na cara.
— Ok, fale. Antes que eu me derreta, por favor.
Ele esfrega seus olhos em frustração. A próxima coisa pra você saber
que eles terão de enfrentar a frustração é que ele está correndo os dedos
pelos cabelos.
Ele olha diretamente para mim e diz: — Você acha que a noite
passada eu parei para pensar antes que as coisas ficassem fora de controle
porque eu não queria ter mais intimidade com você?
— Bingo. — eu digo sarcasticamente. — Mas eu estou mais sábia
esta manhã e não me atirei em você. Além disso, não é como se nós fôssemos
fazer sexo ou qualquer coisa.
— Onde você e eu estamos fisicamente, nossas emoções estão fora
do controle. Eu não posso lidar com isso.
— Você está certo. Deus me livre, devemos ser pessoas racionais.
Devemos apenas nos chamar ‘amigos com benefícios’. Ou, melhor ainda,
porque não simplesmente acabamos com tudo isso para que você possa
encontrar outra garota que você não se emocione? — eu digo quando eu
volto para dentro antes que minhas axilas comecem a molhar a camisa que
estou usando. Em retrospecto, eu estou feliz por ter decidido pedir a
blusinha de alças de Snotty.
— Você é tão teimosa. — ele diz.
Eu me viro e o enfrento antes de eu chegar à porta. — Eu não sou.
— Amy, você é a pessoa mais teimosa que já conheci. Você joga em
sua mente e cria um drama que não existe, só para irritar todo mundo,
incluindo você.
Acabo olhando incrédula para ele.
Ele toma minhas mãos nas suas. — Olhe para mim. — Quando eu não
olho, ele diz novamente: — Olhe para mim.
175
Eu levanto os meus olhos e olho para os seus, que são grandes e
sinceros.
— Eu queria mais na noite passada. — diz ele. — Não minta para si
mesma achando que não te quero. Eu me bati cerca de um milhão de vezes
depois que eu deixei você ir. Acredite em mim, eu quero fazer isso com você.
Mas essa coisa entre nós é mais séria do que podemos admitir. Você está
indo embora em algumas de semanas querendo ou não. E eu vou ficar no
exército durante três anos.
Eu não posso discutir os seus pontos, então eu fico ali parada
olhando em seus olhos castanhos.
Ele deixa minhas mãos de lado e diz: — Você quer acabar com isso,
basta dizer.
Então ele simplesmente volta para o hotel e me deixa aqui no quente
calor do deserto, axilas suadas e tudo.
Porra. Por que Avi tem que ser tão lógico sobre tudo? Eu odeio ser
lógica. Mas eu estou muito quente para ter uma atitude realista e Avi está
certo. Estamos ficando muito apegados já.
Lentamente eu ando de volta para o hotel e entro no restaurante. Avi
está sentado em uma mesa, conversando com seus amigos. Há um lugar
vazio ao lado dele com o meu prato na mesa em frente a ele.
Eu sei que é um fato que eu não quero terminar com ele agora. Eu
quero manter isso o maior tempo possível.
Nossos olhos se encontram e ele me dá um pequeno sorriso. O
problema é que todo mundo está olhando para mim, também. Ok, eu acho
que eu mereço por causar uma cena. Quero me encolher de vergonha, mas
eu mantenho minha cabeça erguida e sento ao seu lado.
Eu desvio meus olhos de todos ao nosso redor, incluindo Avi. Mas
quando ele pega a minha mão debaixo da mesa e dá um aperto, eu aperto de
volta. Eu posso lidar com essa relação, eu digo a mim mesma. Mesmo com
seus altos e baixos.
176
— Você já foi a uma fazenda de alpaca? — Ofra me pergunta.
— O que é um alpaca? — Eu pergunto.
— Parece como uma espécie de lhama. — Avi responde.
— Legal.
Ofra dá um tapinha nas minhas costas. Saímos depois do almoço
para ter certeza de eu estar pronta.
Por volta das dez da manhã, estamos estacionados na entrada da
fazenda de alpaca. Então, nós compramos sacos de comida para alimentar os
altos animais peludos com pescoços longos. Espero que as alpacas estejam
em gaiolas, mas estão todas abertas. Na verdade, entramos no grande salão
com eles.
Examino as Alpacas com cuidado. Eles são todos com tons de
marrom, vermelho, preto e castanho. E seus dentes inferiores são tão
grandes que parecem caipiras de alpaca.
Eu assisto avidamente como Avi detém um punhado de comida para
um grande salpicado cinza e preto. Ele come direto da sua palma da mão.
— Cuidado. — advirto. — Ele poderia arrancar sua mão fora com os
seus dentes salientes e maciços.
— Eles são inofensivos. — ele diz. — Eles não te morderão. Tente
isso.
Eu olho para o saco marrom de comida que eu acabei de pagar dez
sheckels (nome do dinhiero de israel ). Dez sheckels para o risco de ter um
enorme dente de alpaca na palma da mão. Não muito obrigado. Eu ando até
um bebê alpaca e apenas o acaricio. Sua pele é macia, mas um pouco dura. E
dou uma risada quando ele me olha com seus grandes olhos e grandes
dentes tortos. Meu ortodontista, Dr. Robbins (também conhecido como
Milagre de seus pacientes), poderia ter um dia de campo com este animal.
177
Eu sinto que eu posso tentar alimentá-lo, porque ele é pequeno. E ele
olha para a minha bolsa marrom do mesmo jeito quando eu vejo um bom
restaurante de sushi. Pego meu saco e retiro alguma 'Comida'. O pestinha
não pode mesmo esperar eu colocá-los em minha mão antes de enfiar todo o
seu rosto e pegar tudo com sua língua.
— Ei, você não tem boas maneiras?
A alpaca começa a mastigar a comida de uma forma muito vulgar;
pequenos pedaços de alimentos estão caindo fora de sua boca a cada
mastigação.
— Cuidado. — diz Ofra andando atrás de mim.
— Com o quê? — Eu passo para trás em várias etapas, longe do
animal. — Avi... Avi me disse que eles são inofensivos.
— Eles são. — Moron advertiu. — Mas eles cospem.
— O que você quer dizer em 'cospem'? — Eu digo, me movendo mais
para trás longe do cuspidor dentuço.
— Bem. — diz Snotty. — É mais parecido com um grunhido, um
arroto, depois cuspe. Pelo menos você receberá um aviso.
Como se alimentando um alpaca pequeno com todo o saco de comida
não fosse suficiente, uma vez que eles ouviram eu fechar a minha bolsa, ouço
o som de alerta de uns 10 vindo atrás de mim, também.
— Eu não sou uma pessoa animal — eu digo quando eu corro para
Avi. — Eu não sou uma pessoa animal. — Eu grito várias vezes até eu chegar
a ele.
— Eles te amam. — diz Avi. — Olhe, eles estão todos seguindo você.
Eu coloco o saco de papel pardo com 'Comida' (o que é exatamente
que tem dentro desse material para torná-lo 'Comida'?) na sua mão e me
escondo atrás dele.
178
O destemido Avi pega o saco inteiro e despeja-o em uma de suas
mãos. Quando ele os alimenta, eu ouço o que Snotty estava falando... Este
som de um grunhido alto, como um arroto. Eu agacho mais atrás de Avi com
medo.
— Merda. — Eu o ouço dizer.
— O quê? — Eu não posso ver nada, porque eu ainda estou atrás
dele.
— Ele me pegou.
— Quem tem você?
Ele se vira e eu o vejo, preso no cabelo Avi, uma baba de catarro com
pequenos pedaços de algo mastigado no cabelo dele.
— Eca, nojento! — Eu digo, afastando-me dele.
— Cuspiram-me por tentar protegê-la.
— Você é meu herói, agora fique longe de mim. Você está nojento. —
eu digo, então sorrio para ele.
— Não foi há muito tempo eu tirei a serpente de seu pé. Isso foi
muito desagradável. Agora me dê um beijo. — ele diz, se movendo em
direção a mim.
Eu me escondo atrás de uma Ofra rindo. — Eu não lhe pedi para me
beijar depois do incidente de cobra.
Ele para. E parece tão bonito mesmo com toda a 'alimentação'
pegajosa nele. Eu ando até ele, mantenho a distância, e arco e só toco os
meus lábios nos dele. Então, me puxo de volta.
— Agora você tem que lavar o cabelo. — Então eu acrescento —
Duas vezes.
179
Capítulo 26 A história é para ser lembrada, mas não para ser repetida.
Nossa seguinte parada (depois que Avi lavou o cabelo na pia da
fazenda de lhama) é um lugar chamado Monte Masada. Nunca tinha escutado sobre ele e me perguntava por que um “monte” podia ser um lugar onde muita gente queria ir.
Mas enquanto dirigíamos (me dei conta de que a maioria de Israel é
um deserto. Realmente me pergunto por que é muito procurado) e chegamos ao Monte Masada, eu perguntei a Avi.
— Porque vamos a esse lugar? — Para lhe mostrar uma parte da história da sua gente. Imagino que
gostará. Minha gente? Exatamente quem é minha gente? Não estou muito
segura, mesmo se os demais pensam que sou judia. O interessante é que fui criada como nada. Mamãe não acredita em religião como nem mesmo acredita nas dietas de baixa caloria.
Decorávamos a árvore de natal até que me dei conta de que Papai
Noel não existe. Deveriam dizer aos mais velhos que no ônibus da escola não lhes diga aos menores sobre Papai Noel ou a Fada dos dentes. Poderia se surpreender com o que se aprende nesses ônibus amarelos.
Bom, depois de descobrir que Papai Noel não existia, eu pedi para
minha mãe que já não o colocasse. A árvore não simbolizava o cristianismo ou o Natal. Simbolizava o Papai Noel. E como a crença em Papai Noel tinha ido, não havia razão para ter a árvore. Isso era toda a minha experiência religiosa, que não era religiosa em primeiro lugar.
180
Olhei para essa coisa vermelha de massa que chamavam de Monte Masada enquanto saía do carro. Todos estavam tirando suas garrafas de água do carro e me perguntei por que ninguém estava olhando o monte.
— Quantos anos têm? — perguntei a ninguém em particular. Moron com sua arma que sempre trazia no ombro disse. — A guerra aqui foi em setenta e três. O olhei. — Mil novecentos e setenta e três? — Tentei adivinhar. — Não. Antes. — Mil quatrocentos e setenta e três? — Não — Doo-Doo disse. — Simplesmente em setenta e três. Simplesmente em setenta e três? — Se refere a, como, há quase dois mil anos? — Sip. A olhei outra vez, desta vez mais cuidadosamente, este importante
monte em meio ao deserto de Israel. Tentei imaginar aqui uma guerra faz dois mil anos antes entre os judeus e seus inimigos.
— Pergunto-me como se sente ali em cima — disse. — Bom, está a ponto de descobrir — Avi disse enquanto me
entregava uma garrafa de água. — Precisa tomar água regularmente ou se desidratara durante a subida.
— Imagina que posso subir essa coisa? — perguntei. — Sei que pode Amy. Como seus ancestrais antes de você. Vê esse
caminho em forma de serpente? — O chama de caminho da serpente porque tem serpentes? —
Porque sou rude, mas já tive o suficiente de serpentes por uma viagem, muito obrigada.
181
— É chamado assim por sua forma — disse apenas temporariamente tranquilo.
Caminhamos próximos da parte inferior do monte e pude ver o
caminho longo e sinuoso que conduzia para cima. Estava vendo como Doo-Doo, Snotty, Ofra, O´dead e Moron começavam sua subida para a montanha. À minha esquerda vi um cabo grande que ia para cima na parte superior. Sigo até onde conduz e no final era um teleférico, localizado ao pé da montanha.
— Porque não pegamos o teleférico? Avi começou sua caminhada para o não-infectado caminho da
serpente. — Porque então, perderia o sentimento de vitória ao ter chegado lá
em cima por sua conta. Eu o fiz muitas vezes, e se sente grandioso. Segui Avi até o início da rota da serpente. No princípio é fácil...
Apenas coloco um pé diante do outro e chegarei lá em cima em muito pouco tempo.
Mas vinte minutos mais tarde, estou arquejando e meus músculos
das coxas começam a tremer. Dizem-me que em Illinois não tem muitos montes, apenas colinas, e eu não estou acostumada a isso. Paro, e Avi fica comigo. Sei que ele pode subir mais rápido ao monte.
— Continua — lhe digo quando chegamos perto do meio ponto da
coisa. — Se não morro de cansaço, vou morrer afogada em meu próprio suor.
Nega com sua cabeça. — Digo a sério. — Sei que o faz, assim, mova esses pés para chegar antes do
anoitecer. O faço, somente porque ele agarra minha mão e me guia. — A quem os judeus combateram aqui? — perguntei. — Os
palestinos. — Não. Os romanos.
182
Porque os romanos queriam vir aqui? — Então, porque os judeus odeiam aos palestinos? Ele para e vira para me ver. — Não odiamos a todos os palestinos. Bufou com incredulidade. — Pensei isso quando o vi na CNN — lhe digo. Finalmente, o topo do Monte Masada está à vista e somente levou
uma hora para subir a coisa. Não posso acreditar que na realidade cheguei a escalá-la.
Quando chego lá em cima, as ruínas antigas me surpreendem. — Aqui mesmo que os judeus ganharam a batalha contra os
romanos? — pergunto. O´dead disse. — Não realmente, os judeus cometeram suicídio aqui. — Eh? — disse em choque e um pouco assustada. Ofra se coloca diante dele. — Nossos antepassados subiram ao Masada e viveram aqui durante
a guerra. Os romanos iam perder, eles não podiam subir a montanha sem ser atacados de cima do Masada.
Avi me leva para uma das ruínas. — Se diz que novecentos e dezesseis judeus viveram aqui. Eles
lutaram o melhor que puderam, mas sabiam que com o tempo as armas dos romanos seriam capazes de chegar aqui em cima. Se fossem capturados pelos romanos, os teriam matado ou vendido como escravos.
Olhei para Moron que olhava para baixo, ao colorido mosaico dentro
de uma das casas construída no Monte. Era absolutamente lindo e comoveu meu coração que as pessoas vivessem no Monte para salvar a si mesmos e suas famílias.
183
— Assim cometeram suicídio? — perguntei. Avi continuou. — Eles concordaram que os judeus somente deviam servir a Deus e
somente a Deus. Ser vendidos como escravos não era uma opção. Preferiram morrer com orgulho, como pessoas livres a serem convertidos em escravos pelos romanos.
— Destruíram todas as suas coisas, exceto sua comida, assim os
romanos saberiam que a fome não os levou à morte, mas sim lhes mostrar que preferiam a morte a serem escravos.
Meus joelhos se debilitaram pela história e um calafrio percorreu
meu corpo. Não podia acreditar quão forte os judeus tinham sido... E continuavam sendo. Eu continuo sem rumo caminhando o Monte e desfrutando as meias paredes de pedra que meus antepassados construíram.
Toquei o azulejo com meus dedos, imaginando as mulheres e
homens que faz dois mil anos conheceram que suas probabilidades de sobreviver eram escassas, mas tiveram coragem o suficiente para construir casas lindas para eles que durariam milhares de anos.
Enquanto examinava o Monte, vi um grupo de soldados chegarem à
cima e felicitar. Fixei-me que tinha uns pequenos bolsos nas laterais de suas botas.
— O que são esses pequenos bolsos em suas botas? — perguntei a
Moron. — Os Americanos têm identificações ao redor do pescoço dos
soldados? — Sim. — Bom, os soldados de combate Israelenses levam a identificação no
pescoço e em suas botas. No caso de partes do seu corpo sejam separadas durante o combate e possam identificá-las. É um costume judeu que cada pessoa seja enterrada com todas as partes do seu corpo, mesmo que seja impossível ocorrer com nossos soldados.
Wow. Que coisa tão sombria é pensar nisso.
184
— O que estão fazendo? — lhe perguntei, enquanto os via junto recitando umas palavras em hebreu.
— Eles estão fazendo um juramento para que o Masada não volte a
cair outra vez — Moron me explica. — Este é um lugar muito espiritual para a gente judia.
Como se a rocha que estivesse queimada me retirei. — Oh meu Deus. — digo e tropeço para trás. — O que? — Avi diz consternado. — Nada. — Não quero admitir que Masada fosse um lugar espiritual
para mim também. E pela primeira vez desde que cheguei em Israel sei porque estou aqui e me assusta.
Lembrei o que Safta disse. Ser judeu está mais em seu coração que em sua mente. A religião é
pessoal. Sempre estará ali para quando a queira e a necessite. Pode escolher segui-la...
Meu passado talvez seja borrado e está com sombras, mas meu
futuro está claro, graças a esta horrível, maravilhosa viagem a uma terra muito diferente, mas uma parte dela também é parte de mim.
Olhando montanha abaixo e tentando entender como os judeus...
Meus antepassados... Se sentiram com os poderosos soldados romanos estando abaixo, e me dou conta de que esta terra tem sido uma zona de guerra desde o início dos tempos.
Porque o século vinte e um deve ser o primeiro diferente?
185
Capítulo 27
Às vezes, nossos inimigos são nossos amigos mais próximos.
— Onde você está me levando? — Eu pergunto a Avi.
Enquanto os outros estavam tomando café da manhã na nossa última
manhã no sul de Israel, ele alugou um carro no hotel e está me levando para
um passeio. Ele não vai me dizer para onde estamos indo, embora, por isso
estou nervosa.
— Para encontrar um amigo.
Nós dirigimos pela estrada de terra estéril, ele olha para mim com
aqueles olhos escuros e misteriosos.
— Está com medo?
— Eu deveria estar? — Eu pergunto.
— Não. Você nunca deve ter medo de mim.
Deus, a maior parte do tempo eu estou com medo de estar com ele.
Mas principalmente é porque eu tenho medo de meus próprios sentimentos,
que ficam fora de controle quando estou com ele.
Eu coloquei minhas mãos no meu colo e olho para a bela paisagem.
Quem adivinharia que rochas e a paisagem do deserto poderiam ser tão
bonitas e tão diferentes das montanhas verdejantes do moshav.
Estamos ouvindo uma música israelense no rádio, mas eu preciso me
livrar da minha energia nervosa. Eu começo meus exercícios de glúteo.
Aperte. Solte. Aperte. Solte.
186
— O que você está fazendo? — Avi pergunta.
Olho para ele e digo casualmente. — Exercícios de glúteo.
Ele me olha por um segundo, então começa a rir.
— Não é engraçado. — Eu me oponho. — Se você ficar sentado por
um longo tempo, a sua bunda vai parecer como uma bolha enorme de geleia.
— Nós não queremos isso, queremos? — ele diz.
Mostro o dedo para ele. — Vá em frente e tire sarro de mim. Você vai
se arrepender quando você tiver a maior bunda do moshav. — Eu me inclino
para trás no assento do carro. — Antes de tirar sarro de mim você deve
experimentá-lo primeiro.
— Você tem um bumbum legal. — Os lábios de Avi se contorcem em
diversões. — Ok, me diga como fazê-lo.
— Não, se você vai tirar sarro de mim. — Eu não quero fazer um
papel de tola novamente.
— Vamos lá. — ele insiste. — Eu não vou tirar sarro de você. Eu
prometo.
— Tudo bem. — eu digo.
Eu respiro fundo e percebo que estou prestes a dizer a um menino
muito masculino como fazer exercícios de glúteo. Estou morrendo de
vergonha, mas ele realmente parece sério.
Eu digo logo: — Você vai só apertar os músculos do glúteo assim e
depois solta. Quanto mais você segurar a parte interna, mais duro ficará.
Tento demonstrar a ação sem me sentir como uma idiota completa.
Mas então eu olho para ele e ele está realmente tentando o exercício.
Eu posso dizer pelo olhar concentrado em seu rosto.
187
— Você já pode variá-la, apertar uma bochecha depois a outra? —
ele pergunta.
Eu tento reprimir uma risadinha, mas não posso. Na verdade, eu não
consigo parar de rir quando vejo Avi tentando apertar cada bochecha no
ritmo da música tocando no rádio. Ele está tirando sarro de si mesmo,
enfatizando cada movimento de sua bunda junto com o ritmo da música.
Tento, também, e não posso parar de apertar o ritmo da música. É
contagiante, e eu estou tendo um dos melhores momentos da minha vida.
— Eu não sabia que você podia ser tão engraçado. — digo-lhe, ainda
tentando manter meus risos parecerem mais sérios para ele.
— Sim, bem, você me pegou desprevenido.
— Seja desprevenido com mais frequência. — eu digo de uma forma
muito sedutora e sorrio para ele quando ele olha para mim.
Ele balança a cabeça e suspira, resignado. — Você vai me causar
problemas com Ron. Eu lhe disse que ia cuidar de você.
— Você está.
Eu quero dizer isso. Avi era realmente um pé na minha bunda (com o
perdão do trocadilho) quando cheguei a Israel. Mas agora que ele abriu e me
deixou entrar em sua vida pessoal, eu me sinto mais perto dele do que eu
senti com ninguém há muito tempo. Mesmo Mitch.
E agora percebo que Mitch e eu não somos compatíveis. Na verdade,
ele provavelmente nem me conhece. Eu mantenho uma parede sobre mim
para não me machucar. Eu gosto de Mitch. Mas eu achava que se ele me
conhecia, eu quero dizer REALMENTE achava, ele nem sequer considera ser
meu namorado.
Por quê? Porque eu sou de alto sustento, em primeiro lugar. E em
segundo lugar eu preciso de um cara forte para pegar minhas merdas e
entregar de volta corrigido para mim. Acho Avi um pouco parecido com Ron
a esse respeito. Poderia ser compatível com um cara que é igual ao meu
doador de esperma?
188
Voltamo-nos para um pequeno caminho pavimentado e
movimentação por mais de quinze minutos.
— Onde estamos? — Eu pergunto quando ele estaciona o carro na
frente de uma casa pequena.
Ele abre a porta do carro. — Aqui.
— Onde é aqui?
Ele sorri aquele sorriso bem grande, vem para o meu lado do carro, e
abre a minha porta. Eu sei que é considerada a coisa cavalheiresca de fazer,
mas vamos ser honestos. Eu não sou uma dama, e Avi... Vamos, ele não é
nenhum cavalheiro. Ele é um áspero, áspero israelense que pode chicotear
fardos de feno com pouco de esforço. Do jeito que eu gosto.
Eu saio do carro e olho em volta. Eu estava errada antes - moshav é o
Pólo Norte em relação a este lugar no meio do deserto. Acredito seriamente
que se eu quebrasse um ovo na rua, vai ficar cozido no sol quente em menos
de dez segundos.
Há casas em frente a mim, feitas de cimento, e elas são todas iguais.
Com isso, quero dizer as casas são todas brancas. Sem tijolos, sem pintura...
Apenas cimento todo branco.
— Quem mora aqui? — Eu pergunto silenciosamente. É como uma
pequena aldeia no meio do nada.
Ele caminha em direção à entrada para uma das casas primitivas, e
eu sigo em silêncio.
— Palestinos. — ele responde.
O QUE?!
Por que um israelense me leva para uma casa de pessoas palestinas?
Eu quero fazer perguntas, mas eu não tenho tempo suficiente, porque a
porta da frente da casa começa a se abrir.
189
Um adolescente, de nossa idade, abre a porta. Sua pele é mais escura
que a minha, com o mesmo tom de Avi. Na verdade, se Avi não tivesse me
dito que este cara era um palestino, eu teria pensado que ele era israelense.
Eu sei os eventos atuais. Você teria que viver em uma caverna para
não saber que palestinos e israelenses não veem olho no olho em qualquer
coisa. E isso é dizer pouco.
Mas enquanto eu assistia esse cara palestino apertar a mão de Avi e
puxá-lo para um abraço curto, mais uma vez o que eu sei está inclinado em
seu eixo.
— Tarik, esta é minha amiga, Amy Barak. Ela é uma americana.
Ninguém nunca me chamou Amy Barak antes e eu estou surpresa. Eu
nasci com o nome de Amy Nelson, porque esse era o nome de solteira de
minha mãe. Eu sou Amy Barak?
Alguma parte de mim, bem no fundo, gosta do jeito como isso soa. Ou
talvez eu goste do jeito que soa saindo dos lábios carnudos de Avi.
De qualquer maneira, não importa. Estou nervosa. Eu faço tudo ao
meu alcance para não roer as unhas ou agir tão chocada quanto eu sinto por
dentro.
Mas Tarik sorri para mim, pondo-me um pouco à vontade. E é um
sorriso verdadeiro, e não um daqueles falsos que as pessoas fazem apenas
para ser educado (como Marc faz). Não, este sorriso de Tarik chega a seus
olhos.
—Venha! — Tarik diz ansiosamente. — Tem sido um longo tempo,
amigo. — ele diz para Avi que lhe dá um tapinha no ombro.
— Como está a caça à universidade? — Avi pergunta.
Tarik ri. — Não vale a pena falar. Apesar de eu receber uma carta do
UCLA e Northwestern. Então me diga, Amy, o que a traz aqui? — ele
acrescenta enquanto nos leva a uma pequena sala.
190
Há almofadas no meio do chão e na parede revestida. Tarik nos
indica para sentarmos. Eu assisto Avi quando ele se senta em um travesseiro
laranja e eu sigo o seu exemplo, sentando em uma luz azul.
— Eu vim com meu pai para o verão. — eu digo.
Eu vejo uma mulher, com a cabeça coberta e em traje tradicional
muçulmano completo, trazendo uma bandeja de frutas e entrega para Tarik.
Ela não diz nada, apenas entrega e sai.
Tarik pega uma laranja e as indica para mim. — Da nossa árvore.
Aposto que é melhor do que na América.
Eu olho para Avi, que tira um cacho de uvas da bandeja e começa a
comê-los. Só depois que eu comecei a descascar a minha laranja Tarik
começou a comer a sua. É costume, deixar seus convidados comer primeiro?
Eu simplesmente não posso acreditar que estou sentada em uma
casa de palestinos e ele está alimentando um judeu israelense e uma
estranha americana. Com um sorriso no rosto, nada menos.
— Vocês dois estão namorando? — Tarik pergunta.
— Somente no verão — Eu gritei e meu rosto fica quente com
embaraço. — Isso é tudo.
Tarik ri. — E depois do verão?
Ele dirige a pergunta para mim, mas Avi diz: — Depois do verão, ela
vai voltar para seu país. Ela tem um namorado lá.
— Ah, a história fica mais interessante agora. Eu acho que eu gosto
destas mulheres norte-americanas.
Avi com uma uva verde grande em sua boca fala. — Por favor, Tarik,
não deixe ela te enganar. Amy Isanha Taweel.
— Desculpe-me? — Eu digo. — Se você vai falar de mim, fale em
Inglês para que eu possa me defender.
191
Tarik olha para mim com um olhar malicioso no rosto. — Ele diz que
você tem uma língua afiada, como uma cobra.
Minha boca se escancara e eu digo: — Eu não tenho. Como é que é?
— digo a Avi.
— Amy, você deve saber que este cara não pede desculpas — diz
Tarik. — Não está em sua natureza.
Avi ri e coloca outra uva verde em sua boca, terminando o último. —
Tarik, você tem que ser um advogado, em vez de um médico. Você gosta de
argumentar ambos os lados, confundindo a todos.
Um arranhar da porta interrompe-nos quando duas garotas entram
no quarto com xícaras e um bule. Elas estabeleceram os copos na frente de
nós.
— Estas são as minhas irmãs, Madiha e Yara.
Meu Deus, minha vida é tão diferente dessas meninas. Elas sorriem e
se curvam ligeiramente em saudação e eu levanto e faço o mesmo, embora
eu me sinta um pouco mal vestida. Eu me pergunto o que elas pensam de
mim. Eu não cubro a cabeça ou uso roupas compridas como elas fazem e
imagino o quão diferente as nossas vidas são.
Depois que saem, eu me sento para baixo e dou uma mordida da
minha laranja. Ela é tão doce como se eu tivesse lambido uma colher de
açúcar. Yum!
Quando as irmãs nos deixam sozinhos, Avi diz a Tarik : — Amy acha
que todos os israelenses odeiam os palestinos.
A última coisa que quero fazer é começar uma discussão política com
estes dois. Avi iluminou-se. Eu quase engasguei com a minha laranja.
Quando eu finalmente fui capaz de engolir, eu abro minha boca para dizer
alguma coisa. Não sai nada.
Tarik se inclina para trás e diz: — Os palestinos tem o mesmo direito
à terra que os israelenses. Não há maneira de contornar esse fato.
192
— Mas — Avi continua — nem todo palestino odeia todos os
israelenses e não todos os israelenses odeiam todos os palestinos.
— Como vocês podem ser amigos? — Eu pergunto. Viro-me para
Tarik e digo: — Ele vai para o exército israelense!
Tarik encolhe os ombros. — Esta é a sua vida, a minha não é tão
diferente, mas o meu povo escolheu lutar de uma maneira diferente. É a
única maneira que meu povo achou ser mais eficaz.
— Ninguém ganha. — eu digo. — Por que você não pode
simplesmente chegar a algum tipo de acordo e ficar com ela?
— Esperamos que no futuro as coisas vão mudar. — Tarik admite. —
Para alguns, a paz com os israelenses não é uma opção. Para mim? Eu quero
paz, mas também quero o meu povo vivendo suas vidas com respeito.
Avi olha para mim e diz: — Muitos israelenses querem a mesma
coisa, Amy. Paz, mas com a garantia de nossas mulheres e crianças possam
andar nas ruas e ônibus de passeio sem ter que se preocupar com sua
segurança.
— Mas o que vem primeiro? — Tarik pergunta.
— No Oriente Médio, nada jamais foi simples — diz Avi.
— Certo. — Tarik concorda. — Nós dois somos pessoas fortes em
nossas crenças.
Eu me movi desconfortavelmente sobre o travesseiro. — Se você
visse Avi no campo de batalha, você o mataria?
Tarik olha diretamente para Avi e diz com uma voz sombria: — Sim.
E eu não poderia esperar nada menos dele.
Avi se inclina e pega a minha mão na sua. — Eu trouxe você aqui
para lhe mostrar que não estamos todos cheios de ódio e você está aqui
perguntando se dois amigos se matariam. Boa forma de fazer esse encontro,
193
querida. Ouça, nós dois fazemos o que tem que fazer para sobreviver. É a
nossa forma de vida.
Ficamos na casa de Tarik um pouco mais, os caras sorriam sobre a
escola e suas famílias e me perguntaram sobre meus amigos de casa. Eles
pararam o debate político, parece que eles sabem seus limites em falar sobre
isso. É bom discutir coisas sem pensar como se eu não tivesse que agir de
determinada maneira ou responder a uma determinada maneira para me
encaixar.
Eu gosto de Tarik. E eu tenho novo conceito por Avi, porque eu sei
que ele deixa de lado suas crenças políticas e é amigo de Tarik, porque ele é
um cara com um bom coração e cabeça. A notícia soa tão diferente da
realidade, acho que programas de notícias devem mostrar os lados positivos
das pessoas ao invés de se concentrar no negativo.
Quando estamos prontos para sair, Tarik me dá um abraço de adeus
e diz: — Cuide do meu amigo.
Deus, eu me sinto um peso sobre meus ombros agora. A vida em
Israel é difícil em comparação com a vida de um adolescente na América.
Nossas maiores preocupações de volta para casa são o filme que veremos ou
que roupa vamos comprar. E depois do colégio, ficamos obcecados por qual
faculdade vamos entrar. 11 de Setembro mudou nossas vidas, mas ainda é
mais fácil do que para as pessoas no Oriente Médio.
Israelenses nem sequer vão para a faculdade após o ensino médio.
Eles têm de colocar suas vidas em risco e entrar para o exército. Cuide do
meu amigo, Tarik acabou de dizer.
Não é tão fácil como se poderia pensar, especialmente quando essa
afirmação vem de um cara que está do outro lado.
Minha própria vida e a maneira que separei de Ron passa diante dos
meus olhos e me sinto um pouco doente. Eu tenho uma família aqui em
Israel, talvez eu devesse agir como se me preocupasse com eles. Se Avi e
Tarik podem cuidar uns dos outros, talvez eu possa encontrar um pedacinho
do meu coração para amar Ron. E Safta. E me atrevo a pensar até em Snotty.
Quero dizer, Osnat.
194
Mas e se eles me decepcionarem?
Eu vejo como Avi e Tarik dão tampinha nas mãos e batem nas costas.
Um sorriso atravessa em meu rosto. Porque eu sei que, mesmo se não o
fizerem, iriam proteger um ao outro com toda a sua força, mesmo que
estiverem cara a cara no campo de batalha. Ambos os meninos têm alma
pura e verdadeira.
Paz entre israelenses e palestinos? Quem sabe? Tudo é possível.
Talvez, apenas talvez, a forte amizade entre esses dois caras seja um sinal de
esperança para o futuro.
195
Capítulo 28 Há muito o que aprender por se aventurar fora do caminho
planejado.
— Como você conheceu Tarik? — pergunto quando estamos no
carro, voltando ao hotel.
— Vamos apenas dizer que eu o ajudei quando ele precisava de um
amigo, e ele fez o mesmo.
— Estou feliz que você me fez conhecê-lo. — digo.
— E estou feliz que você esteja aqui comigo — ele diz, então
completa, — eu sabia que você não acreditaria em mim se eu lhe dissesse
que nem todos os israelenses odeiam os palestinos. Você é do tipo de garota
que precisa de provas. Você não deveria acreditar tanto na televisão.
— Não confio nas pessoas em geral.
— Aposto que se você confiasse, abriria seus olhos para um mundo
mais colorido lá fora.
— Provavelmente, mas ao menos eu não me decepciono, porque já
sei que as pessoas vão me decepcionar.
Ele diminui a velocidade e para no acostamento. Então se vira para
mim. — Quero lhe agradecer.
De repente, minha boca está seca. — Pelo o quê?
— Por me lembrar que há um mundo aí fora que vale a pena viver.
196
— Como eu fiz isso? — pergunto.
— Você é a primeira pessoa que fez a dor da morte do meu irmão
suportável. — Ele me beija aqui mesmo no carro ao lado de um uma estrada
deserta e improdutiva. — Quando estou com você, estou inteiro novamente.
Sorrio, por dentro e por fora. Mas estou envergonhada, então olho
para baixo e coloco o dedo na corrente de prata suspensa em seu pulso.
— Você quer? — ele pergunta.
— Se você quiser me dar. — respondo, timidamente.
Ele tira e prende a corrente no meu pulso.
— É como se você dissesse para todo mundo que é minha. — ele diz.
— Pelo menos por enquanto.
Inclino-me para Avi e retomo seus lábios com os meus. Como antes,
seus beijos estão me drogando e me sinto sonhadora e delirante.
Antes que eu perceba, estou deitada em cima dele. Posso sentir seu
corpo forte debaixo de mim, o calor e a força de seus músculos sob os meus.
— Devemos parar. — ele diz.
Mordisco sua orelha e digo. — Aham.
Ele joga a cabeça para trás e geme. — Quero dizer, Amy. Estamos
num carro alugado no meio da estrada.
Dessa vez eu lambo o caminho do lóbulo de sua orelha até sua boca.
— Aham.
— Você quer me consumir, não quer?
— Aham.
Gosto do jeito como eu o faço se sentir quando estamos juntos.
Também gosto muito das sensações selvagens correndo pelo meu corpo
agora mesmo, também, quando movo meu corpo contra o dele.
197
Quando o sinto começar a se entregar a minhas mãos e boca, paro e
sento. Quero dizer, estamos em público e qualquer um poderia espiar pela
janela. Será que as janelas se embaçariam se continuássemos? Não acho que
ficaria mais quente dentro do carro do que fora, mas estou me sentindo
muito quente, mesmo com o ar condicionado ligado.
Ele lambe os lábios lentamente e abre os olhos. — Não consigo me
mover.
Eu rio. — Eu fiz você se esquecer de estar com raiva o tempo todo?
— Definitivamente.
— Bom. Posso fazer isso para sempre se isso o faz feliz.
Seus dedos se movem para o meu ombro e deslizam a alça da minha
blusinha para baixo. — Eu gostaria... — diz, inclinando a cabeça para frente e
beija meu ombro lentamente.
Eu sei o que ele quer dizer. Quero que ele diga, mas então me lembro
de nosso pequeno acordo. Não se envolver demais.
Muito ruim, eu já estou tão na dele que assusta.
Mas sei que ele se arrependeria se fôssemos longe demais. E
estamos, na verdade, estacionados no acostamento da estrada. — Se você
não parar de me beijar assim, vou rasgar todas as suas roupas. — digo.
Um pequeno gemido escapa de sua boca e ele se inclina para trás. —
Sou louco por você.
— Que bom. Lembre-se disso quando alguma garota israelense
bonita olhar você depois de eu ir embora. Agora vamos voltar para os
outros, ou eu realmente vou seguir minha promessa.
Meia hora depois, quando nós voltamos para a estrada que leva ao
hotel, Avi diz: — Então, qual é a história dos seus pais? — ele me faz essa
pergunta pesada e me viro para a janela. — Não quero falar sobre isso.
— Por que não? Muitos pais se divorciam.
198
Sim, só que meus pais nunca foram casados, para começar. Tente
contar essa história para seus colegas na escola. Eu sempre acho que eles
pensam que minha mãe dormiu com um cara qualquer na faculdade e
engravidou. E a pior parte é que isso não está muito longe da verdade.
— Conte-me sobre os seus pais. — oponho-me. — Eu nunca escuto
muito sobre eles de Ron ou meus tios.
— Não há muito a dizer. Minha mãe trabalha como professora no
moshav e meu pai é sócio de seu tio. Ok, sua vez.
Respiro fundo. — Meus pais nunca se casaram e eu nunca deveria ter
nascido. Eu fui, digamos, um erro. Um erro muito grande de dezesseis anos.
Pronto, eu disse. Meu rosto está quente e meus olhos estão úmidos.
Estou me segurando junto da melhor forma possível sob as circunstâncias.
Pensei sobre a minha vida e que erro ela é mais um milhão de vezes. Eu
nunca tinha dito isso alto antes, na verdade.
Chegamos ao hotel e Avi estaciona o carro no estacionamento. — Eu
não sou um cara muito religioso — ele diz, — mas eu sei que existe uma
razão muito importante para você ter nascido.
— Você soa como um rabino. — digo.
— Não, sou apenas um criador de ovelhas.
— Avi, você é MUITO mais que isso e você sabe. — inclino-me para
trás no banco do passageiro e suspiro. — Não quero que hoje acabe.
Ele me reluz um de seus sorrisos deslumbrantes. — Eu também não.
Olho em seus olhos e ele segura meu olhar por um longo minuto. Não
dizemos mais nada, não existem palavras que possam dizer o que quero
dizer a ele. Ou existem? — Avi...
— Shh. — ele sussurra, cobrindo meus lábios com seus dedos. — Eu
sei.
Eu relutante saio do carro e sigo para o saguão do hotel.
199
O resto do grupo está esperando por nós.
Quando reconheço Snotty... Corrijo para Osnat... Sentada sozinha no
canto, vou até ela. — Desculpe-me por eu ter dito que você veste saias
curtas, calças apertadas e tem uma lamentável desculpa para peitos.
Osnat mexe a cabeça, em confusão.
Mudo meus pés e olho para o chão. — Quero dizer, você realmente
usa calças apertadas... E seus peitos são menores que os meus. Mas são
peitos atraentes. Tenho certeza de que é estiloso em Israel ter calças
apertadas.
Suas sobrancelhas estão levantadas e ela diz: — Você está tentando
pedir desculpas a mim? Se estiver, você está fazendo um péssimo trabalho.
Abro meus braços largamente e digo: — Dê-me um tempo aqui, não
estou acostumada a ser sentimental e pedir desculpas.
Osnat se levanta e diz: — Desculpe-me por dizer que seus peitos são
caídos. Seus seios caídos não são ruins, também. — Então ela levanta a mão
para eu apertar. — Trégua?
Espero só um segundinho.
— Você nunca me disse que meus peito são caídos! — digo,
ignorando sua trégua falsa.
— Na sua frente, não. — ela admite.
Acho que mereci esse insulto. E vou guardar para mim mesma que
eu a chamava de Snotty desde que a conheci.
Nós duas começamos a rir histericamente e todos estão olhando
para nós como se fôssemos purê de batatas. Duas primas purês de batata.
— Podemos dar uma volta? — ela pergunta, chateada.
Saímos do hotel e começamos a caminhar sem rumo no
estacionamento.
200
Chuto uma pedra na estrada enquanto ando. — Eu não quis vir a
Israel neste verão. — digo. — E não quis gostar de ninguém aqui.
Ela chutou a mesma pedra, continuando seu caminho pela estrada.
— E eu fiquei chocada que Ron tivesse uma filha secreta. Acho que, de
alguma maneira, eu tive ciúmes de você.
Eu? Uma filha secreta? Ser pensada como um segredo com certeza
bate ser pensada como ilegítima. — Acredite, você não tem nada do que
sentir ciúmes. Ao menos você tem pais que se amam.
— Mas Ron tem o melhor emprego de todos. Você deve estar tão
orgulhosa dele.
Ok, você deve estar imaginando o que Ron faz da vida. Tudo que sei é
que ele está em negócios de segurança.
— Não é grande coisa. — digo. Afinal, todo mundo está nos negócios
de segurança nesses dias.
Osnat puxa meu ombro para trás e me impede de caminhar. — Você
está brincando? — ela diz. — Minha mãe me disse que ele foi contratado
como consultor do Diretor de Segurança dos E.U.A.
O quê? Eu não sabia disso. Acho que nunca tinha perguntado a ele, ao
menos. Estive muito ocupada estando chateada com ele por não ser um
Superpai.
— Sim, bem, ele não fala muito sobre isso.
— Ele provavelmente não pode porque isso é secreto.
Estou tendo um tempo difícil pensando em Ron como um super
consultor de segurança contratado pelo governo dos E.U.A... Afinal, estou
acostumada e pensar nele como um Doador de Esperma.
Osnat se vira para mim e diz: — Você não sabia o que ele fazia até eu
lhe contar, né?
— Eu não sou chamada de garotinha do papai, se é isso que quer
dizer. — digo. — Na verdade, não sou chegada a ninguém em minha família.
201
Minha mãe meio que está em seu próprio mundo e Ron não é exatamente o
melhor pai. Eu nem ao menos tenho um primo que goste de mim. Bem, além
do seu irmão, mas porque ele nem fala inglês. Se ele falasse, provavelmente
não gostaria de mim, também.
— Você não é exatamente a pessoa mais divertida por aí. — Osnat
diz.
— Você está brincando? Eu tenho muito a oferecer. — digo. — Por
exemplo, posso lhe mostrar como colocar maquiagem e não vai parecer
exagerado nem manchar. Sou um gênio quando se trata de penteados. Posso
até fazer uma trança francesa. E posso bater a maioria das pessoas que
conheço em tênis. O que você tem a oferecer? — pergunto, colocando
minhas mãos na cintura enquanto esperava por uma resposta.
— Posso andar de cavalo sem sela e sou muito boa em dança. E sou
uma pessoa ótima uma vez que você me conhece. — ela diz, absolutamente
certa de que me conquistou.
Posso imaginar que andar a cavalo sem sela não é muito diferente do
que andar naquele jeep sobre as pedras, mas tem seu mérito.
— E?
— E posso dizer que Avi mudou desde que conheceu você. Ele sorri
agora... Algo raro desde que seu irmão morreu. Acho que não me importo
que vocês estejam juntos, desde que você o faça feliz.
Nós nos abraçamos e me senti com sorte em ter uma prima que
consegue andar de cavalo sem sela. E ser uma amiga, também.
202
Capítulo 29 A ameaça de perder alguém, nos faz apreciarmos mais um
ao outro.
Dois dias depois, sete de nós voltamos para o jipe de moshav. Estou
ansiosa para ver Ron e dizer a ele que quero começar de novo.
Entramos na casa de Osnat e parecia que todas as pessoas do bairro
estavam lá dentro. E todos tinham seus olhos na tela da televisão. Vi a cabeça
cacheada do meu pequeno primo Matan e a Doda Yucky. Não vi o Ron nem o
tio Chime.
O clima é sombrio.
— O que está acontecendo? — pergunto. Eu não consigo entender o
apresentador, obviamente, está cobrindo uma notícia muito importante.
A casa explode em hebraico, todo mundo explicando a Osnat, Ofra,
Avi, Doo-Doo, O’dead e Moron o que eles estão tão irritados. Só que eu não
entendo nada disso.
— Houve um atentado — Avi me explica depois de escutar os outros.
— Em Tel Aviv.
— Onde está meu pai? — entro em pânico. — Onde está Ron? Eu
preciso dele agora mais do que nunca.
Avi me dá um abraço.
— Amy, vai ficar tudo bem.
As lágrimas enchem meus olhos e volto a dizer, desta vez dirigindo a
203
pergunta a Doda Yucky.
— Onde ele está? — Não tenho nenhuma resposta e sinto o aumento
da bílis em minha garganta. Saio do abraço de Avi. — Quero vomitar.
— Seu aba foi com Chime a Tel Avi para entregar carnes em alguns
restaurantes — explica.
— Eles estão bem, Doda Yucky? — digo, chorando totalmente agora,
sem me preocupar por isso. Lágrimas escorrem pelo seu rosto também.
— Eu não sei. Está uma grande confusão. Depois do bombardeio, as
pessoas correram para ajudar um terrorista... Uma segunda bomba...
— Oh meu Deus — digo.
Eu não posso saber se Ron está bem, mas eu definitivamente sei que
se alguém ficou ferido, ele é um dos primeiros a correr para ajudar. A
segunda bomba... Não posso pensar nisso.
— Não sabemos onde estão. — disse. — O telefone celular não
funciona.
Vou ao quarto de Osnat e freneticamente mecho em minha mochila.
Em um dos bolsos da minha calça jeans pego a estrela judaica que Safta me
deu. Os diamantes estão brilhando para mim, quase como se me dissessem
que sou judia como o resto de minha família. Temos sobrevivido a milhares
de anos, embora tenhamos sofrido a maior parte deles, recordo a mim
mesma.
Caminhando de volta à sala principal, coloco as mãos sobre meu
rosto. Não quero que ninguém olhe para mim agora. Sinto-me tão impotente.
Quantas pessoas foram feridas ou mortas hoje? Fico doente só de pensar.
Tento afastar a imagem de Ron estendido na rua da minha mente. Porém e
se estiver e eu não estar lá para ajudá-lo? Preciso de forças, pois acredito
que perdi as minhas. Abaixo as mãos e olho para Avi.
Eu preciso dele.
204
Eu preciso tanto que não sei o que fazer comigo mesma.
— Avi — eu digo, correndo ao seu encontro para que me abrace em
seu peito e me mantenha apertada. — Por favor não me deixe, não acho que
posso lidar com isso sem você.
— Eu estou aqui — me assegura com uma voz suave e acaricia meus
cabelos. — Eu não te deixarei.
Ele perdeu seu irmão em um atentado. Deve estar sofrendo pela dor
de sua própria perda. Podemos ajudar um ao outro nisso.
— Posso ter isso? — eu digo, segurando o colar.
Esperamos pelo tempo mais longo de minha vida, por sua vez, Avi e
eu nos sentamos ao lado de Safta em seu quarto e evitamos ver a cobertura
das notícias. Ela me contou de sua infância em Israel e de sua experiência
quando chegou ao que chama de “Terra Santa”. Posso dizer que tem medo. A
perda de dois filhos a assombra.
Quando o telefone toca, pulo e corro para a cozinha.
Doda Yucky pega o telefone e me olha diretamente enquanto
responde. Meu coração acelera.
— Amy — disse e me apoio em Avi, me preparando para as más
notícias. — É a tua mãe.
Minha mãe! Corro ao telefone e o coloco no meu ouvido.
— Mamãe!
— Oi, querida. Ouvi no noticiário que houve um atentado em Israel.
Liguei para me certificar que você estava bem. Jessica ligou, também está
preocupada.
— Estou... Estou bem — eu digo, mal capaz de fazer que as palavras
saiam através de meus soluços. — Porém... Eu estava viajando e Ron estava
em Tel Aviv... E não sabemos nada dele e eu estou ficando louca. Não sei o
que fazer. Estamos esperando um telefonema, mas...
205
— Oh, não. Isso é terrível, nunca pensei...
— Mamãe, tenho que desligar, se ele ligar.
— Está bem, está bem — diz em pânico. — Vou desligar. Ligue para
mim assim que você souber algo... Qualquer coisa? Certo? E fique em casa.
Eu preciso de você de volta em um único pedaço.
— É o que eu quero, mamãe — digo.
Assim que desligo, o telefone volta a tocar. Eu passo para Osnat, que
está tão ansiosa e assustada como eu.
— Ze aba! — Grita para a multidão depois de falar com a pessoa do
outro lado da linha. — Hakol beseber!
Avi me pega em seus braços e me gira ao redor.
— Estão bem!
Eu não posso acreditar. Volto ao quarto de Safta para contar as boas
notícias. Sei por Doda Yucky que o tio Chime e Ron ficaram no local de
bombardeio para ajudar os mais de quarenta feridos.
Há um monte de abraços e alegria, apesar de que todos sofrermos
pelas pobres almas que perderam as vidas no atentado. É uma coisa
estranha ficar feliz e triste ao mesmo tempo. Eu não sei como tratar com os
israelenses o tempo todo.
Avi espera na porta de entrada do moshav comigo, junto com Mutt. O
pequeno está encostado junto comigo, como se fosse meu protetor.
— Não posso acreditar no que aconteceu. Foi um pesadelo — digo.
— Eu quase perdi o meu pai. Antes de sequer realmente conhecê-lo.
É muito aterrorizante para pensar.
— Porém você tem uma segunda chance — disse Avi pensativo.
206
Eu me inclino sobre ele.
— Sim, eu tenho. E a partir de agora vou aproveitar cada segundo.
— Eu também — disse e me dá um de seus incríveis beijos para
comprovar.
Quando a porta se abre e eu vejo os faróis de um carro, me coloco de
pé. O carro para e meu pai, cuja camisa tem sangue salpicado, salta para fora
e me aperta em seus braços.
— Você está bem? — Estou olhando sua camisa manchada.
— Não se preocupe, estou bem.
— Aba — digo em hebraico. — Eu te amo tanto.
— Oh, Amy, eu também te amo.
Aperta-me de novo e limpa minhas lágrimas com as costas de sua
mão.
— Sinto muito por não haver dito antes. Eu sei que tenho te tratado
mal. Quero que seja uma parte importante da minha vida agora. Quero ser
judia também. E quero aprender hebraico. Pode me ensinar?
— Reduz a velocidade, não posso te alcançar. Ainda estou
desfrutando do “Te amo, Aba” — Eu vejo que seus olhos estão vermelhos e
lacrimejantes. — Não quero que pense que não lutei para estar com você,
querida. Eu errei em muitas maneiras.
Ele enxuga uma lágrima escorrendo pelo rosto e estou chocada.
— Tinha a esperança que esta viagem a Israel iria mudar tudo. Não
quero te perder para Marc. Você é minha filha, não dele — diz enquanto me
abraça.
Está chorando como um bebê. E eu também.
207
— Eu pensei que tivesse perdido você — digo, enquanto
caminhamos de volta para casa, deixando o tio Chime conduzindo.
Avi nos deixou sozinhos também, dando a mim e meu pai
privacidade.
— Te perdi há muito tempo, filha. Fico feliz que finalmente nos
encontramos.
— Será que pode encontrar um quarto em seu apartamento para
mim?
— O que você quer dizer? Eu amaria que você se mudasse comigo.
Durante um ano. Os finais de semana. Para sempre. Vou receber o que você
quer me dar.
— Isso é, se não estiver muito ocupado como o Diretor de Segurança
dos Estados Unidos.
Ele ri e coloca o braço ao redor de meus ombros.
— Sempre terei espaço em minha casa para minha filha número um
e eu não vou esquecer.
— Certeza que não tem namorada? — pergunto.
— Ninguém importante o suficiente para trazer para casa, filha.
— Eu acho que você precisa de alguém... Que tire essa infelicidade de
você.
— E a quem devo agradecer por tirar infelicidade da minha filha de
tão longe?
— Ele tem sido um perfeito cavalheiro.
— Quem? Doo-Doo?
— Você pode me imaginar com um cara chamado assim?
208
— Seu verdadeiro nome é David.
— Huh?
— Doo-Doo é um apelido para David.
Apelido estúpido se você me perguntar.
— É o Avi.
O rosto de Ron se torna sério agora.
— Tem dezoito anos, Amy. E perdeu a seu irmão...
— Sei tudo isso. Temos nos ajudado um ao outro durante a viagem e
eu... O amo.
Papai aperta a mandíbula e o músculo começa a tremer.
— Não é assim. Ele me respeita e eu o respeito. Talvez até demais.
— Tenho que me acostumar em ter uma filha adolescente — diz.
Olho fixamente em seus olhos.
— Não. Tem que se acostumar comigo.
209
Capítulo 30 Você nem sabe o que quer até que ele é colocado em seu colo.
Bem, é o penúltimo dia antes de ir para Chicago. Avi e eu estamos
indo em um encontro duplo com Osnat e O'dead.
Olho para a minha prima, que parece ótima agora que eu mostrei
como colocar uma maquiagem, para que ela não se pareça com um alvo.
Ela está me olhando a escolher roupas para vestir. Eu posso dizer
pelo jeito que ela está olhando ansiosamente para o meu vestido de verão da
Ralph Lauren que ela gosta.
— Eu não gosto desse vestido. — eu digo. — Você o quer?
Seus olhos se iluminam. — Sério?
— Absolutamente. Não faz meu olhar ficar chocado. — eu digo, e
jogo para ela.
Eu estou vestindo uma saia curta e apertada e uma blusa azul
marinho com branco e mangas e babados... É a primeira vez que eu o visto
desde que eu estive em Israel. Espero que Avi goste - tudo no que ele me viu
foi em jeans e shorts.
Quando eu ouço a voz de Avi no corredor, meu corpo inteiro fica
cheio de expectativas e eu não aguento.
Mitch realmente vai ficar puto quando ele perceber que eu me
apaixonei por outro cara, mas seria impossível ignorar a emoção que eu
sinto quando sequer penso em Avi.
210
Assim que eu estou prestes a sair pela porta do quarto, meu aba
entra no quarto. Ele se senta na minha cama e me agarra de surpresa. —
Você está linda. — diz ele. — Como sua mãe. Isso me assusta.
— Você prefere que eu seja feia?
Sua boca se curva em um sorriso torto. — Talvez.
— Você quer que eu cancele o meu encontro para fazer você se
sentir melhor? — Pergunto séria.
Ele olha para cima. — Não, não é claro.
— Bom. Porque eu não iria.
— Amy... — ele diz em um tom de aviso.
— Controle-se, papai. Eu não vou fazer qualquer coisa que você não
faria na minha idade.
Ele se levanta e diz: — É isso. Você está cancelando esse encontro.
Osnat sai da sala e volta com sua mãe. Doda Yucky diz algo para o
papai em hebraico. Ele se senta novamente, obviamente derrotado, e, em
seguida, Doda Yucky leva-me para o vestíbulo.
Avi dá uma olhada para mim, sorri, e coloca a mão em seu coração.
— Wow.
Grande reação.
Então ele pega a minha mão, e a aperta e me leva até seu carro. Osnat
e O'dead já estão esperando no banco de trás.
— Aonde vamos? — Eu pergunto.
— Na discoteca. — ele responde.
Na discoteca? Eu realmente não tenho visões de passar minha última
noite em Israel em um alto, bar, lotado de fumaça. Mas eu guardo as minhas
opiniões para mim mesma. Ele está tentando, mesmo que meu coração
211
esteja um pouco vazio no momento.
Quando chegamos ao lugar, percebo que a fila está ainda maior do
que a última vez que estivemos aqui. Ótimo, agora eu vou passar a maior
parte desta noite em uma fila. Que lástima.
Avi dirige-se para frente do clube. Osnat e O'dead saem, e eu abro a
porta do carro.
— Onde você vai? — Avi pergunta.
— Uh, esperar na fila como o resto das pessoas que querem entrar.
— eu digo sarcasticamente.
— Vou levá-la em outro lugar.
Eu ergo minhas sobrancelhas. — Você disse que nós estávamos indo
para a 'discoteca'. Eu ouvi você dizer especificamente a palavra 'discoteca'.
Ele diz: — Nós estávamos. Mas só deixar e Osnat O'dead.
Quando Avi pisca para mim, eu resolvo voltar para o carro e fecho a
porta. Eu realmente tenho borboletas no estômago, porque agora eu estou
sozinha com ele. Eu nunca me senti assim com mais ninguém na minha vida.
Ele segura minha mão quando afastamos do clube e fomos até uma
estrada de terra sinuosa que provavelmente não foi percorrida em séculos.
Ele para o carro, se vira para mim, e me mostra um lenço.
— O meu nariz está escorrendo? — Eu pergunto. — Quero dizer, é
uma dica ou o quê?
— É para vendar você, Amy. Feche os olhos.
Eu fecho, apoio-me nele e sinto-o amarrar a venda em torno de
minha cabeça, enquanto ele esfrega um beijo suave em meus lábios. Depois
que ele me ajuda a sair do carro, ele me leva a algum lugar.
Isso é emocionante, é emocionante. Eu não posso esperar para todas
as surpresas que ele planejou para mim.
212
Ele desamarra o lenço. — Abra seus olhos.
Eu pisco algumas vezes antes que eu possa focar no escuro.
Velas. Muitas delas. Dois travesseiros. E entre os travesseiros está
um prato vazio.
— Sente-se.
Eu sigo as suas instruções.
— Ok, espere aqui. — Ele parece nervoso, o que é tão fofo.
Normalmente ele é tão calmo e tranquilo.
Eu olho ao meu redor. Estamos no meio do nada, em um terreno
estéril, deserto com grilos cantando para nós. Sento-me em uma das
almofadas e espero. Avi volta com uma caixa de isopor.
Ele hesita antes de abrir. — Você está com fome?
— De quê?
Uma de suas sobrancelhas levanta. — Você sabe que tem comida
aqui, mas se você está com fome de algo mais...
— Comida está ótimo. — eu digo, interrompendo-o.
Ele me dá um de seus sorrisos impressionantes, senta ao meu lado, e
abre a embalagem. Quando vejo o que está lá dentro, eu fico tão emocionada
que eu tenho de engolir um caroço na minha garganta.
— Você comprou sushi! Minha comida preferida no mundo inteiro.
Como você sabia?
Os rolos de sushi são pequenos, redondos com rostos felizes
sorrindo para mim.
Ele me entrega um conjunto de pauzinhos. — Ron me disse.
— Desejei comer sushi nestes últimos meses. — eu explico. — Você
sabe o que um peru frio pode fazer a uma pessoa?
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Ele está olhando para mim como se eu fosse louca. Mas eu não me
importo.
— Quer um pouco? — Eu pergunto, minha boca já está cheia com um
rolo de atum picante. Eu estou gemendo de prazer enquanto eu como o rolo,
doce e picante, o som vem da minha garganta automaticamente.
Avi admite que nunca comeu sushi, então eu irei treiná-lo. Nós
compartilhamos da refeição, Avi provisoriamente tenta dar pequenas
mordidas, enquanto eu estou devorando em minha boca. Vou ter que
lembrar Jessica de dizer aos israelenses para fazerem sushi.
Quando termino a refeição, Avi se levanta. — Tenho outra surpresa
para você.
— O que é? — Eu pergunto, totalmente animada. Até agora, esta
noite está absolutamente perfeita.
— Pô, eu esqueci alguma coisa. — Ele sai e volta com um pequeno
buquê de flores.
Ok, eu não estou tentando ser uma cadela. Mas Safta ganhou uma
floresta inteira do meu avô. E o que Avi espera que eu faça com flores
quando eu vou pegar um vôo de 12 horas amanhã? Eu tento não mostrar
minha decepção quando ele coloca na minha frente, então eu sorri tão
docemente quando pude.
— Você não gosta de flores?
— Eu gosto. — eu digo.
Ele pega uma rosa vermelha para fora do bouquet e quebra parte do
tronco. Em seguida, ele se ajoelha ao meu lado e coloca a rosa no meu cabelo.
— Eu queria ter algo para se lembrar de mim, mas eu não sabia o que você
gostaria.
— Então você me dá flores. Isso é bom.
Ele ri. — As flores eram da minha mãe. Ela é antiquada. Para ser
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honesta, ela comprou para eu dar a você.
Este não é o cara romântico que eu achava que ele era.
— O sushi foi ótimo. — eu digo. — Mas você está perdendo pontos
rapidamente, amigo.
— Espere aqui. — diz ele. —Eu tenho uma última surpresa. —
Quando ele volta e vejo que ele está segurando, eu não posso acreditar.
Avi está segurando Mutt. O cachorro tem uma fita azul no pescoço. E
ele está lindo.
— Você o lavou. — eu digo, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Ele é oficialmente seu agora. — ele diz, e coloca Mutt no meu colo.
— Eu tenho arranjado para você levá-lo de volta para os EUA.
Eu não posso acreditar o quão fofo e macio, ele está agora que está
limpo.
— Arg!
— Posso realmente levá-lo para casa?
— Sim. Ele provavelmente vai ter que passar por um período de
quarentena, mas...
Eu abafo suas palavras com meus lábios, porque esta é a noite mais
perfeita da minha vida.
Passamos o resto da noite conversando, beijando, sendo boba, e
brincando com Mutt.
Logo antes de arrumar as almofadas e velas, eu sei que temos que ter
a conversa.
— Então... Eu acho que nosso caso de verão é longo. — eu deixo
escapar, dedilhando a sua pulseira ainda no meu pulso. Eu desfaço o fecho e
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seguro para ele.
Avi se inclina para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos
dobrados.
— Fique com ele. Então você não se esquecerá de mim.
Como se eu fosse.
— Eu nunca vou te esquecer. E eu percebo que eu sou uma cadela
mimada americana.
— Amy, eu sinto muito, eu nunca disse que...
— Não. — eu digo. — Eu sou mimada porque eu quero que nós
mantenhamos contato e talvez um dia, depois de terminar o exército,
poderíamos, você sabe, ficar juntos novamente.
— Está muito longe. — ele diz. — E se você estiver namorando com
alguém?
— E se você estiver? — Eu me oponho.
Ele ri.
— Você me ensinou muito sobre mim.
Ele delicadamente pega o cabelo perdido no meu rosto e enfia atrás
da minha orelha, seus dedos remanescentes na minha orelha. Quando seus
dedos arrastam até a estrela judaica ainda em torno de meu pescoço, ele diz:
— Você realmente é um dom de Deus, Amy.
— Não, você é.
Quando ele se inclina para me beijar pela última vez, eu sei de fato
que em algum lugar, algum dia, em algum lugar, eu vou estar beijando Avi
novamente.
E da próxima vez, ele só poderá estar no topo do Monte Massada.
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Epílogo O fim de uma coisa é apenas o começo de outra.
Estou voltando para minha casa em Chicago... Yep, papai e eu
fazemos a longa viagem de volta no avião.
Estava um pouco nervosa em dizer a Mitch sobre Avi, mas quando
Jéssica derramou as favas e me disse que ela e Mitch meio que ficaram
juntos depois de sua noite na Ravinia me senti muito melhor. Claro que fiz
ambos suarem um par de horas. Então derramei minhas próprias favas e
lhes falei sobre Avi.
Meu não-namorado israelense está no exército agora, treinando para
estar em um comando estúpido. Escreve quando pode, o que é
aproximadamente uma vez por semana.
Dou-me conta em suas cartas que o nome de O´dead se escreve Oded
e Moron se escreve na realidade Moran (graças a Deus por eles). Doo-Doo
ainda vai por seu apelido, mas espero que mude no próximo verão.
Avi nunca disse que me amava, mas ele não tem que dizê-lo. Sei que
se preocupa por eu estar preocupada por ele e me ama. Tem algo difícil dizê-
lo em voz alta.
Meu pai e eu vamos passar minhas férias de verão em Israel no
próximo ano. Desta vez estou planejando uma viagem de acampamento de
duas semanas de duração em todo o país. Posso ensinar ao papai um par de
coisas desta vez, como quando uma lhama começa a fazer ruídos de
gorgolejo. Avi será capaz de pegar duas semanas de descanso logo, não
posso esperar para vê-lo. Safta está bem, começa sua seguinte série de
tratamentos de quimioterapia no mês que vem. Estou enviando-lhe um
pacote de cuidados hoje em dia.
O casamento de minha mãe e Marc com “c” estava bem. Marc e eu
tivemos uma conversa antes do casamento. Ele disse que poderia ser um
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amigo para mim, mas eu já tenho um pai. Levou a notícia melhor do que o
esperado. Ron estava no casamento, era um parceiro de dança para mim.
Tenho vivido no apartamento do meu pai até que Marc e a nova casa
de mamãe nos subúrbios (a que decidiu construir do zero) esteja pronta, já
passaram meses até agora. Enquanto estou aqui, tenho muito trabalho por
fazer... Como ensinar Ron a se vestir para impressionar uma mulher. Não
está pronto ainda, mas está no caminho para se converter em um
aposentado graduado. Tudo o que tenho que fazer é encontrar a mulher
adequada para ele. Enquanto isso, está me ensinando hebreu e jura a seus
amigos que tenho um dom natural quando se trata da criação de ovelhas.
Eu e minha religião? Bom, estou tendo aulas de conversão com o
rabino Glassman mais a Bait Chaverin (que para você que não fala hebreu
significa casa de amigos). Mamãe se surpreendeu quando lhe disse que estou
me convertendo em judia. O fato é que me prometeu se assegurar que não há
produtos com carne de cervo ou mariscos na comida para mim. Manter-me
assim é parte do que sou agora.
— Arg!
Sim, esse é o Mutt. E sim, meu cachorro tem um impedimento de fala.
Não pude deixar de amar ao pequeno filhote. Come a maior parte dos
sapatos de mamãe, mas sabe deixar apenas os meus. Também acredita que é
um cachorro de colo, apesar de que vai estar perto dos noventa quilos
quando estiver maior. Temos passado por muitas coisas juntos e ele me
ensinou a amar os animais.
Meu nome é Amy Nelson Barak e fui a Israel para minhas férias de
verão. Eu aprendi o significado minha família, minha herança, uma linda
terra cheia de rica história e o amor. Você não sabe, mas as arruinadas férias
de verão resultaram ser os melhores três meses da minha vida.
Fim…
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Próximo Livro:
How to Ruin My Teenage Life Nesta sequência de How to Ruin, toda a vida de Amy Nelson de
dezesseis anos de idade vai mal. Sua mamãe se casou e se mudou para os
subúrbios, e agora vai ter um bebê. Amy se mudou com seu papai para
Chicago e lhe contratou um serviço de encontros por telefone. Seus
primeiros quatro encontros eram essa noite...
O que mais? Seu cachorro Mutt deixou grávida a preciosa poodle do
seu vizinho resmungão, assim Amy teve que encontrar tempo para
conseguir um trabalho de meio período para pagar a metade do veterinário.
E agora este garoto totalmente chato, Nathan Rubin, se mudou ao seu
edifício de apartamentos. Felizmente Amy tem um namorado lindo chamado
Avi. Apesar de que mais parece sem namorado considerando que Avi estará
no exército israelense durante os próximos três anos.
O que pode fazer uma jovenzinha, quando todo o mundo está
conspirando para arruinar sua vida?
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Tradução
PatiPlm Micaah
Anju Cris
Kitten
Revisão Inicial Lud
Revisão Final
Leidy
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Sobre o Autor:
Simone Elkeles nasceu e cresceu em Chicago. Foi designada Autora
do Ano pela Associação de Professores de Língua de Illinois. Entre seus
livros publicados destacam-se: Leaving Paradise, How to Ruin a Summer
Vacation e How to Ruin My Teenage Life.
Em Química Perfeita, para dar vida a Fairfield, Simone se inspirou
em um subúrbio próximo a sua casa, onde duas comunidades muito
diferentes compartilham um mesmo instituto.
Atualmente Simone reside com sua família em Illinois.
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